Poemas

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Poemas 4 poemas de autores portugueses Aluno

Efanor


Ă?ndice Retrato de uma princesa desconhecida ........................................................................................ 2 Amor ĂŠ fogo que arde sem se ver ................................................................................................. 3 Soneto ........................................................................................................................................... 4 Isto ................................................................................................................................................. 5


Retrato de uma princesa desconhecida Para que ela tivesse um pescoço tão fino Para que os seus pulsos tivessem um quebrar de caule Para que os seus olhos fossem tão frontais e limpos Para que a sua espinha fosse tão direita E ela usasse a cabeça tão erguida Com uma tão simples claridade sobre a testa Foram necessárias sucessivas gerações de escravos De corpo dobrado e grossas mãos pacientes Servindo sucessivas gerações de príncipes Ainda um pouco toscos e grosseiros Ávidos cruéis e fraudulentos Foi um imenso desperdiçar de gente Para que ela fosse aquela perfeição Solitária exilada sem destino

Sophia de Mello Breyner Andresen


Amor é fogo que arde sem se ver Amor é fogo que arde sem se ver; É ferida que dói e não se sente; É um contentamento descontente; É dor que desatina sem doer; É um não querer mais que bem querer; É solitário andar por entre a gente; É nunca contentar-se de contente; É cuidar que se ganha em se perder; É querer estar preso por vontade; É servir a quem vence, o vencedor; É ter com quem nos mata lealdade. Mas como causar pode seu favor Nos corações humanos amizade, Se tão contrário a si é o mesmo Amor? Luís de Camões


Soneto Sonetos garantidos por dois anos. E é muito já, leitor que mos compraste Para encontrar a alma, que trocaste Por rádios, frigoríficos, enganos... Essa tristeza sobre pernas faz-te Temeroso e cruel e tonto e traste. Nem pior nem melhor que outros fulanos, Não vês a Bomba e crês nos marcianos...

E é para ti que escrevo, é para ti Que um verso lanço - O mão! - como o destino, e nele ponho mesura, desatino,

Rasgo, invenção, lugar-comum, protesto? Antes para soldado ou para resto, Escroto de velho, ronco de suíno... Alexandre O’Neill


Isto Dizem que finjo ou minto Tudo que escrevo. Não. Eu simplesmente sinto Com a imaginação. Não uso o coração. Tudo o que sonho ou passo, O que me falha ou finda, É como que um terraço Sobre outra coisa ainda. Essa coisa é que é linda. Por isso escrevo em meio Do que não está de pé, Livre do meu enleio, Sério do que não é. Sentir? Sinta quem lê! Fernando Pessoa



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