Coimbra Medieva: Fragmentos de Memória

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cearte/ museu machado de castro Parceria virtuosa na formação em Património Luís Rocha Diretor do cearte centro de formação profissional do artesanato

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O cearte procura que a formação que ministra esteja próxima do contexto de trabalho e os formandos tenham contacto direto com o mesmo, desenvolvendo atividades praticas que os preparem e os qualifiquem para serem bons profissionais, saindo do curso não apenas com “bagagem” teórica e cientifica mas também com experiencia concreta do mundo do trabalho na sua área de especialização. É o que acontece com o curso de Técnico de Museografia e Gestão do Património que tem a grande mais-valia de usufruir da parceria com o museu nacional machado de castro (mnmc) onde inclusive decorre parte da formação - um valor acrescentado pois aproxima diariamente a formação da realidade do contexto de trabalho, sendo que o referencial do curso é suficientemente vasto para que os formandos não só se integrem como profissionais nas estruturas museológicas do Estado e sobretudo das autarquias e associações, como ainda enveredem pela criação do próprio emprego em empresas ligadas à animação, ao turismo e ao património. É neste trabalho que se enquadra a presente exposição totalmente preparada pelos formandos e formadores do curso, fruto de um longo trabalho de pesquisa e investigação. É uma honra para o cearte e para todos os colaboradores e formandos do curso ter a mesma integrada nas comemorações dos 100 anos do mnmc - mais que uma feliz oportunidade significa ver duas instituições de Coimbra a “deixar a sua marca” não só no registo dos caminhos, identidade e património de Coimbra, como sobretudo na sua transmissão e na Formação de Técnicos e profissionais qualificados para trabalharem neste sector tão importante para o país - a da Museografia, do Património e da Cultura. No ano do centenário da abertura do mnmc, um verdadeiro reservatório dinâmico de reminiscências materiais, os formandos do Curso Técnico de Museografia e Gestão do Património do cearte propuseram-se “dar voz às pedras” e, assim, desvendar alguns segredos artísticos de Coimbra medieva até aos finais do século XII. Trata-se do resultado de uma atividade da Formação, tecnicamente designada por “Atividade Integradora” cujo tema escolhido foi “Coimbra Medieva: Fragmentos de Memória”, onde se procura mostrar a temática medieval na cidade do século V ao Séc. XII, mostrando fragmentos e com isso contando um pouco da história da Coimbra Muçulmana, Coimbra Judaica, Coimbra Moçarabe e Coimbra Capital do Reino.

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A exposição e o catálogo em versão papel e digital, propõem uma viagem no tempo para dar a conhecer um período específico da história de Coimbra onde coexistiram atitudes de resistência e adaptação mas também de tolerância e de partilha, estendendo igualmente o nosso olhar pelas reminiscências materiais dos tempos medievos ainda existentes e que marcaram as faces desta cidade até ao final do século XII. Sublinhe-se que, para além desta exposição, a Atividade Integradora, tem outras iniciativas: • “Coimbra

Medieva: Caminhos, Identidade(s) e Património” Roteiro em versão digital e Papel. Medieva: Faces de Coimbra” Vídeo Documentário. • “www.cearte.pt/coimbramedieva” Quiosque multimédia, onde estão todos os conteúdos produzidos pelos formandos. • “Coimbra Medieva” Visitas Recriadas com a go!walks. • “Coimbra Medieva - Descobrir / Desbravar Memórias” Palestra/Conversa com convidados e exibição de documentários . • “Coimbra Medieva - Recriações Históricas” com a colaboração da companhia de teatro viv’arte: • “Coimbra

: Recriação da Inauguração do Museu, que faz uma ligação do passado com o presente, mostrando que há 100 anos atrás, o museu também se dedicava à formação profissional, cívica e cultural de todas as classes; : Recriação Coimbra Muçulmana do Arco da Almedina ao mnmc - Invasão de Coimbra pelos muçulmanos em 987, liderada por Al-Mansur, seguido de um cortejo comemorando a vitória. O cortejo deverá incluir música medieval ao estilo árabe, os soldados deverão mostrar entusiasmo entoando gritos de vitória. Ao invadirem a cidade deixam um rasto de destruição por onde passam, matam os homens, fazem escravas as mulheres e as crianças. : Recriação Coimbra Capital do Reino - do mnmc à Sé Velha - Perto do edifício do museu nacional machado de castro, o povo segue o cortejo para o coroamento de D. Sancho I que será na Igreja da Sé Velha, no final da coroação decorre a grande comemoração do coroamento sendo esta realizada no museu nacional machado de castro.

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Expressamos o reconhecimento do cearte a todos os formandos, formadores e mediador, coordenador do Curso de Técnico de Museografia e Gestão do Património e a toda a equipa do Centro pelo muito e qualificado trabalho realizado e pelo empenho que colocaram no mesmo, sem olhar a horas ou a esforços de qualquer tipo. Felicitamos o mnmc pelo Centenário - trata-se de um grande museu, preparadíssimo do ponto de vista das instalações e da equipa Técnica para cumprir a sua missão, como uma referência da museologia portuguesa, e pelo magnífico contributo que tem dado para a Formação e a educação cívica, profissional e cultural em Coimbra, de que é exemplo a disponibilidade para esta parceria com o cearte. Desde a sua abertura que o Diretor A. A. Gonçalves, assumia o Museu, não como mero local de repositório de obras artísticas, mas sim, um local dedicado para o ensino das artes industriais e do artesanato. Passados 100 anos a missão e o propósito continua quase inalterado. Dentro das celebrações do centenário do mnmc encontra-se um verdadeiro exemplo das responsabilidades de formação profissional e cívicas do museu. Esta exposição e as várias atividades complementares, fruto da parceria do Museu com o cearte - centro de formação profissional do artesanato, demonstra o papel que o Museu, na pessoa da Sua Diretora - Dra. Ana Alcoforado e da equipa que a acompanha, dedica à educação e à formação, seguindo um dos valores da sua génese. O reconhecimento do cearte ao Museu fica “gravado” na recriação histórica levada a cabo pelo Centro com a colaboração da companhia de teatro viv’arte no momento de inauguração desta exposição e que tem por tema: “MNMC - 100 anos de Formação, 100 anos a criar valores”.

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‘… Fragmentos de Memória’ Ana Alcoforado Directora do museu nacional de machado de castro

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Há 100 anos… o museu nacional machado de castro abria ao público como o centro de um projecto que corporizava as intenções republicanas, enunciadas ao longo de várias décadas, de garantir o acesso ao saber e à educação, por parte de todos os cidadãos. Os republicanos mais activos envolveram-se na criação de escolas, museus, associações de artistas e na vida política dos municípios! O criador e primeiro Director do Museu constitui, talvez, o exemplo mais acabado deste desafio. Mantendo em todos os projectos que protagonizou e dirigiu, como denominador comum, a educação geral e a formação artística e profissional destinada aos trabalhadores, o desafio de António Augusto Gonçalves era bastante ambicioso: criar um museu ao serviço da educação das pessoas. Na verdade, o professor de desenho, pintor, escultor e arqueólogo, quase autodidacta, sempre procurou associar o desenho aplicado às artes industrias e à ornamentação arquitectónica com outras actividades educativas, nomeadamente conferências sobre arte e história de arte e visitas comentadas a espaços patrimoniais. 100 Anos depois… o que se espera do museu, é que avoque a sua inspiração republicana inicial e assuma o essencial da função que presidiu à sua fundação, compaginando os fins e os meios da sua actividade com os desafios, as necessidades e os recursos da sociedade actual. É, assim, fundamental que o museu colabore com organizações educativas na formação de crianças e jovens, mas é, também, indispensável que envolva as pessoas adultas em processos transformativos. Assim, a apresentação deste projeto educativo, em toda a sua dimensão, não poderia ser mais feliz, sobretudo enquadrado no âmbito das comemorações do centenário da instituição. Antes de mais, por se tratar de um projeto de formação artística e profissional, desenvolvido no âmbito de uma parceria entre o mnmc e o centro de formação profissional do artesanato (cearte), mas sobretudo porque liga, no conceito de António Augusto Gonçalves, as artes a actividades educativas transversais, apresentando conferências, percursos, visitas e recriações históricas, complementadas com recursos actuais, e envolve a comunidade num processo que se espera transformador para todos quantos viverem este MUSEU!

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A Escultura da Alta Idade MĂŠdia em Coimbra Pedro FerrĂŁo museu nacional de machado de castro

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A escultura é uma das colecções de referência do museu nacional machado de castro, quer pela quantidade de peças, quer igualmente pela sua qualidade técnico/artística. Elas são o indício de uma tradição escultórica que transformou Coimbra num dos maiores centros de produção do país. A existência de matéria-prima nos arredores da cidade - como as pedreiras do brando e branco calcário de Ançã - criou condições favoráveis para o seu desenvolvimento. Na exposição mostram-se alguns elementos arquitectónicos, esculpidos em médio e baixo-relevo, vestígios de diferentes sensibilidades artísticas e religiosas, provenientes de mundos diversos. Com efeito, entre os séculos VIII e XI é visível a coexistência da matriz cristã e muçulmana, (muito diluída está a presença da comunidade judaica), combinada com a herança clássica tardia, o que originou uma arte miscigenada e classificada como de pré-românica. No século XII assiste-se ao triunfo da arte românica. O período de domínio islâmico da cidade conservou poucos testemunhos da sua cultura, mas ainda assim são perceptíveis certos sinais, como no caso de algumas de cerâmicas utilitárias - encontradas em escavações recentes na zona confluente do Beco das Condeixeiras com a Rua Borges Carneiro -, datáveis entre os séculos IX-XI. No entanto, a peça exposta que mais se destaca é o fragmento de medalhão em gesso, decorado com delicados elementos vegetais e geométricos. Atribuíveis ao mesmo período são alguns elementos decorativos moçárabes - denominação dos cristãos que se encontravam sob o domínio muçulmano -, pilastras e faixas esculpidas com símbolos eucarísticos (as videiras com cachos de uvas) e que se inspiram em protótipos produzidos na época visigótica. Coimbra regressa definitivamente à posse dos cristãos, após a conquista da cidade por Fernando Magno de Leão, no ano de 1064, com a decisiva ajuda do moçárabe D. Sesnando. Mas, a grande transformação urbana iria tomar forma no século seguinte. De facto, nos alvores da nacionalidade, e já sob o governo de D. Afonso Henriques, Coimbra constitui-se como a capital do novo reino de Portugal, afirmando-se também como centro de poder económico-social e, igualmente, como centro de saber cultural, artístico e religioso. Aqui e além despontam campanários marcando a paisagem intramuros e definindo paróquias S. Pedro, S. Salvador, S. João de Almedina, Sé e S. Cristóvão, todas conformadas ao austero estilo românico. Extramuros, tomavam forma Santa Cruz, Santa Justa, S. Bartolomeu e S. Tiago. A grandiosidade do século XII aparece expressa em evocativas lápides funerárias, em capitéis e noutros elementos escultóricos românicos, pertencentes a estas antigas igrejas, algumas das quais entretanto demolidas, chegando até ao presente apenas elementos avulsos, como são os casos de S. Pedro ou S. Cristóvão. Nelas podem-se contemplar motivos zoomórficos, antropomórficos ou ainda de cariz vegetal e geométrico, sinais evidentes de uma fé que, serena e silenciosamente, procura elevar o crente na direcção de Deus. 11


Coimbra Medieva: Fragmentos de Mem贸ria 11 de Outubro a 24 de Novembro . 2013 museu nacional de machado de castro

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No ano do centenário da abertura do mnmc, um verdadeiro reservatório dinâmico de reminiscências materiais, os formandos do Curso Técnico de Museografia e Gestão do Património do cearte propõem-se “dar voz às pedras” e, assim, desvendar alguns segredos artísticos de Coimbra Medieval até finais do século XII. Dentro desta premissa nasce a exposição Coimbra Medieva: Fragmentos de Memória, que apresenta os vestígios materiais e memórias medievais que sobreviveram aos desgastes do tempo e ao esquecimento da memória humana, perpetuando-se na nossa história coletiva e escapulindo-se da efemeridade dos anos. A linguagem museográfica seguida está intrinsecamente ligada aos dois tipos de registos que ajudam a compreender o quebra-cabeças medievo, que é a antiga cidade de Medina-Colimbrea. O entendimento desta urbe medieva é alcançado a partir de fontes escritas e arqueológicas, cabendo às últimas, dada a escassez das primeiras, um papel importante na compreensão dos tempos mais remotos, permitindo ultrapassar as sombras de um período temporal, especialmente conturbado para a colina banhada pelo Mondego, alvo de invasões por diferentes povos e de constantes mudanças no paradigma político. Efetivamente, um fragmento, por mais ínfimo que seja, é uma peça imprescindível no puzzle do conhecimento dos tempos pretéritos. A sua existência ajuda-nos a compreender os homens num meio em específico, reconstituindo as suas convicções religiosas e ideológicas, os diferentes modos de compreender e atuar em sociedade e os códigos estéticos utilizados para exprimir a sua arte. Por fim, é preciso relembrar que o património que nos foi legado pelos nossos antecessores, deve ser salvaguardado e divulgado para preservar a nossa entidade como cidade e nação, principalmente após a nomeação da Universidade de Coimbra, a Alta e a Rua da Sofia como património mundial da unesco, que resulta na universalização da nossa herança cultural. Coimbra Medieva: Fragmentos de Memória, enquadra-se dentro desta lógica, assumindo-se como um instrumento para a preservação e difusão deste espólio.

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Um fragmento, por mais ínfimo que seja, é uma peça imprescindível no puzzle do conhecimento dos tempos pretéritos. A sua existência ajuda-nos a compreender os homens num meio em específico, reconstituindo as suas convicções religiosas e ideológicas, os diferentes modos de compreender e atuar em sociedade e os códigos estéticos utilizados para exprimir a sua arte.

O entendimento do universo medievo conimbricense é alcançado a partir de fontes escritas e arqueológicas, cabendo às últimas, dada a escassez das primeiras, um papel importante na compreensão dos tempos mais remotos, permitindo ultrapassar as sombras de um período temporal especialmente conturbado para a colina banhada pelo Mondego, alvo de invasões por diferentes povos e de constantes mudanças no paradigma político. No ano do centenário da abertura do mnmc, um verdadeiro reservatório dinâmico de reminiscências materiais, os formandos do Curso Técnico de Museografia e Gestão do Património do cearte propõem-se “dar voz às pedras” e, assim, desvendar alguns segredos artísticos de Coimbra Medieval até aos finais do século XII.

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Vestígios de Colimbria A reconstituição deste “puzzle” medievo começa com os fragmentos de cerâmica e de decoração árabe (1 e 2) que comprovam a presença islâmica na cidade, iniciada em 714 após a conquista da cidade. Apesar do domínio muçulmano, o cristianismo continuou a ser praticado por uma comunidade - os moçárabes -, herdeira dos antigos rituais e do modo de vida dos povos bárbaros que ocuparam a península. Os fragmentos decorativos (3) de influência tardo-visigótica, são um excelente exemplo desta continuidade artística.

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Candil

Séc. IX-X

mnmc 12882

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Fragmento de Cerâmica Séc. IX-X

mnmc 12883


“Assim é que eu cônsul Sesnando a dita cidade com os seus termos e todas as coisas necessárias restaurei e todas as suas fortificações firmemente armei, por completo e não apenas em algumas partes e cuidei de trazer o povo dos cristãos para a habitar.” Livro Preto, doc. 578, Maio de 1085.

1.

1.

Fragmento de Cerâmica

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Fragmento de Cerâmica Séc. IX-X

Séc. IX-X

Séc. IX-X

mnmc 12884

mnmc 12885

Fragmento de Cerâmica mnmc 12886

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Séc. IX-X

Séc. IX-X

Séc. IX-X

Fragmento de Cerâmica mnmc 12887

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Fragmento de Cerâmica mnmc 12888

Fragmento de Cerâmica mnmc 12889


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Fragmento de Decoração Árabe Séc. XII

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Fragmento Decorativo Séc. IX-X

mnmc E1116

mnmc 612

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Vestígios de Colimbria Após a conquista da cidade por Fernando Magno, em 1064, o domínio cristão retorna,trazendo consigo ventos de mudança que alterariam a mentalidade peninsular. A chegada de nobres franceses para auxílio na reconquista, bem como de ordens religiosas (cluny e beneditinas), propagaram um novo modus artístico: o românico. Através deste estilo europeu encontramos, a nível escultórico, uma grande diversidade de temáticas: figuras fantasiadas (4, 5 e 6); representações zoomórficas (7); figuração antropomórfica(8) e representações do quotidiano (9 e 10).

4.

Fragmento de Pilastra Séc. XII

mnmc E477

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“Esta última cidade [Coimbra] está edificada sobre uma montanha rodeada de boas muralhas, rasgada por três portas e muito bem fortificada. Fica nas margens do Mondego que corre a ocidente da cidade até ao mar e cuja foz é defendida pelo forte de Montemor. Sobre o rio existem moinhos. No território da cidade abundam vinhedos e as hortas. Na parte que se estende até ao mar, do lado poente, existem campos cultivados onde criam gado. A população faz parte da comunhão cristã.” Edrisi, geógrafo islâmico, inícios do século XII.

5.

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Séc. XII

Séc. XII

Aduela mnmc E471

Capitel mnmc E372

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7. Capitel

8. Cachorro

Séc. XII

Séc. XII

mnmc E451

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mnmc E445


9. Capitel Séc. XII

mnmc 10076

10. Capitel Séc. XII

mnmc E505

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Mapa de Coimbra Medieva

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Marcas que o Tempo Fixou

Cronologia Séc. VIII - Séc. XII

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Memórias Registadas Memórias escritas chegaram até nós em pedra, na esperança de perdurarem para além da vida de quem a gravou. Um exemplo notável é a inscrição árabe (11), onde o autor, um escravo muçulmano, cravou o seu sofrimento num bloco de pedra que se encontra na fachada lateral da Sé Velha. Dos templos religiosos encontramos as lápides funerárias onzecentistas (12, 13 e 14) que inscrevem para a posterioridade o fim da vida de homens que habitaram a urbe.

11.

“Escrevi isto como recordação permanente do meu sofrimento. A minha mão perecerá um dia, mas a grandeza ficará.” Fotografia da Epígrafe Árabe da Sé Velha

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12.

Lápide Funerária da Mãe do Presbítero Gonçalo Mosteiro de Santa Cruz Séc. XII (1173, Março, 13)

mnmc 5722

13.

Lápide Funerária de Felix Súrio, filho de Pedro Lauzanes Igreja de São Tiago Séc. XII (1191, Maio, 12)

mnmc 657

14.

Lápide Funerária do Presbítero Cipriano Joanes e do seu tio, o Presbítero Cipriano Clemente Sé Velha Séc. XII (1182, Junho, 2)

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Memórias Registadas Acontecimentos e lugares permanecem registados na memória coletiva ou individual, dando-nos uma visão, muita das vezes fantasiada, das vivências da cidade. Dentro desta premissa encontra-se a reprodução da gravura de G. Braun e F. Hogenberg (15), que retrata Coimbra quinhentista. Apesar dos artistas nunca terem visitado a cidade, estes desenharam-na a partir de fontes orais, onde podemos observar os vários monumentos dos tempos medievos: Castelo, muralhas e portas; Sé Velha, Santa Cruz; São Cristóvão; São João de Almedina; Alcáçova; Santa Justa (primitiva); e a Rua Corpo de Deus, o local de fixação da comunidade judaica na cidade.

15.

“Illustris civitatis Conimbriae in Lusitania/ Ad flumen Mundam effigies” Gravura de Coimbra (reprodução) Séc. XVI (c.1598)

mnmc 12189

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“Tres dias despois do falecimento del Rey D. Afonso, foi levantado por Rey Dom Sancho com solenissima pompa, & aparato em a cidade de Coimbra, & dando volta pelas ruas publicas della, com as aclamações que em tais actos se costumão chegou à Sé aonde já estaua a Rainha, & assistindo ambos aos diunos officios forão coroados por mão do Bispo Dom Martinho que então presidia nesta Igreja, & tendo lhe beijadas as mãos, & feita a veneração deuida, os senhores que então se acharão em a Corte, se recolherão ao paço com grande alegria, & aplauso do pouo.” Frei António Brandão, in “Monarquia Lusitana”, 1632. 31


O restauro da Sé velha, iniciado nos finais do século XIX, sob a direção de António Augusto Gonçalves, pretendeu restituir o monumento à sua traça primitiva. Tal empreitada necessitou de um estudo aprofundado sobre o românico conimbricense, elaborado a partir de desenhos (16 e 17) que testemunham os pormenores esculpidos nos vários capitéis do templo. No mesmo período encontramos um registo gráfico de São Cristóvão (18) que inclui a representação da sua planta, capiteis e fachada principal, registando a lembrança de um monumento medievo que, naquele tempo, se desvaneceu da paisagem da cidade.

16.

17.

Séc. XIX

Séc. XIX

Desenho de Capitéis da Sé Velha mnmc 5999

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Desenho de Capitéis do Trifório da Sé Velha mnmc 5998


18.

Gravura da Fachada Principal, da Planta e de Capitéis da Igreja de São Cristóvão Séc. XIX-XX

mnmc AG97 33




Coimbra Medieva: Caminhos, Identidade(s) e Patrim贸nio Uma Cidade de Muitos Rostos

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A vida de um povo não é perceptível somente através das suas realizações artísticas e científicas. Nele encontramos pormenores que o quotidiano traz, que passam, por exemplo, pelos pequenos aspetos pessoais e pelas relações interculturais. Sobre os povos bárbaros que se terão instalado no nosso território existe pouca documentação disponível que explique como viviam e como se organizavam. Sabemos que os visigodos eram politicamente mais organizados do que os restantes povos que ocuparam o território. No entanto, esse facto pouco ilustra as suas dinâmicas internas, a sua organização social e o seu quotidiano. A ocupação da Península Ibérica pelos muçulmanos dá origem a um choque de culturas mas também dela nasce um modelo de integração tolerante, o al-Andalus, com comunidades diferentes entre si, quer nos usos e costumes, língua e religião, quer nos próprios aspectos económicos. O al-Andalus compôs-se a partir de três grupos religiosos: cristãos; muçulmanos e judeus. Os mouros, embora unidos ao nível religioso, tinham várias divisões étnicas. Os moçárabes eram essencialmente cristãos de origem visigótica que continuaram com os seus antigos rituais e os seus próprios dialectos românicos. Por fim, os judeus mantiveram vivos os seus ritos e a língua hebraica. Durante o século IX houve uma forte arabização da península, e o islâmico al-Andalus era sinónimo de requinte e erudição. Os muçulmanos não eram os únicos a estudar árabe, os moçárabes e os judeus, que viviam sob o seu domínio, falavam a sua língua e escreviam os seus caracteres. Essas comunidades participaram plenamente na vida pública do al-Andalus e cada uma teve um espaço específico no traçado urbano de então, habitando bairros distintos. Actualmente, com o Mondego controlado pelo açude, para quem não conhece a imagem de Coimbra constantemente inundada pelo rio, torna-se difícil imaginar as suas margens alargadas pelas cotas mais baixas de Santa Clara e do Arnado. Devido a essa inconstância fluvial, na margem norte, a malha urbana no vale do Arnado não teria grande densidade, compondo-se numa mescla de campos de cultivo, olivais, pomares e oficinas dos artesãos judeus. A cidade muralhada e os seus arrabaldes teriam a malha urbana mais densa em redor dos seus templos e nos aglomerados urbanos onde se instalaram a judiaria e a mouraria. A importância da convivência desta diversidade cultural e religiosa é primordial para a compreensão da fundação do Condado Portucalense e a instalação da primeira capital do reino. Este pequeno roteiro propõe uma viagem no tempo para dar a conhecer um período específico da história de Coimbra onde coexistiram atitudes de resistência e adaptação mas também de tolerância e de partilha, estendendo igualmente o nosso olhar pelas reminiscências materiais dos tempos medievos ainda existentes e que marcaram as faces desta cidade até ao final do século XII. 37


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A região de Coimbra foi conquistada pelos muçulmanos de ‘Abdal-‘Aziz em 714, surgindo como governador Alboacen Iben Mahomet Alhamar Iben Tarif. Inicialmente, os habitantes desta região não sofreram perseguições da parte dos novos senhores, mas a tranquilidade acabaria nos finais do século VIII (794-796), quando ‘Abdal-Malik, mandou saquear a cidade, matar os homens e tornar escravas crianças e mulheres. Após uma primeira reconquista cristã, em 878, a cidade entrega-se de novo ao domínio Muçulmano a partir das ofensivas comandadas, em 987, por Al-Mansur. Fernando Magno reconquista a cidade definitivamente em 1064, sendo facilitada pelo qa’ id, de nome Rando (Rãnduh), com o poder local a ser entregue nas mãos de D. Sesnando.

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Alcáçova de Coimbra Os primórdios da alcáçova deverão datar-se do século IX, na altura da primeira reconquista. Este palácio fortificado de planta quadrangular, com as suas torres respectivas (dez circulares, duas rectangulares e duas semi-circulares) foi estabelecido durante a permanência islâmica na cidade como residência do governador. Uma grossa muralha, larga e espessa, que defendia a alcáçova do lado Sul, dispôs-se desde a Ala de São Pedro até à Biblioteca Joanina. O lado nascente formou-se a partir de uma porta entre dois torreões semi-circulares, onde, actualmente se encontra uma pequena janela muçulmana. Do lado norte situar-se-iam as habitações onde se encontram, actualmente, torreões circulares. O Paço da Alcáçova foi cedido por D. João III, em 1537, para a instalação definitiva da universidade na cidade de Coimbra.

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Mesquita Aljama de Medina-Colimbria

A mesquita Aljama ou mesquita Maior é o templo islâmico principal da cidade, o equivalente às catedrais na religião cristã. Sobre esta edificação não resta qualquer documento ou vestígio material, o que leva muitos investigadores a especular a sua localização exata. A corrente mais tradicionalista acredita que após a conquista da cidade por Al-Mansur no século X, a antiga igreja de Santa Maria foi convertida em mesquita. Em oposição a esta teoria, outros estudiosos propõem que foi reedificado outro edifício ao lado da catedral primitiva, no atual claustro da Sé Velha.

Castelo

Coimbra outrora, ladeada por fortes muralhas e protegida por importantes torres, tinha no seu topo um castelo do qual hoje já não se encontram vestígios da sua existência. Situava-se na zona onde actualmente se localiza a Praça D.Dinis. O seu plano era de forma irregular e só se compreende bem a sua estrutura através de uma planta do séc. XVIII. Alguns metros adiante situava-se o Paço Real, onde posteriormenteveio a instalar-se a Universidade de Coimbra. A data da sua construção é referente à época da Reconquista Cristã, sendo uma prova de um tempo em que Coimbra usufruía do estatuto de Capital do Reino, até o ter perdido para Lisboa em 1255. Tanto a muralha como o castelo foram sofrendo largas alterações ao longo do tempo, não só pelo crescimento abrupto da população, como também pela necessidade de acrescentar elementos arquitetónicos como meio de defesa. A reconstrução urbanística que a cidade foi sofrendo com o passar dos séculos, deixou o castelo com crescentes sinais de ruína e tornou-se alvo de vandalismo e de roubo de pedras, nomeadamente da Torre de Hércules. Estes acontecimentos começaram a salientar-se mais propriamente a partir do século XVI, coincidindo com a construção dos grandes colégios religiosos. Apesar da demolição de algumas paredes circundantes, a parte central do castelo, bem como a Torre de Menagem e a Torre de Hércules, foram-se mantendo. A sua extinção deu-se definitivamente durante Reforma Pombalina por volta de 1774. Nesta altura foi então projectado um observatório astronómico no espaço onde se situava o castelo medieval. Tardiamente se chegou á conclusão de que o local escolhido para a construção do observatório não era o mais indicado, acabando por deixar o projecto inacabado.

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Nuralhas

Não se conhece uma data específica para a edificação da muralha da cidade de Coimbra. Alguns estudiosos atribuíram a sua construção à época romana e ao período suevovisigótico. Outros atribuíram-na a um período posterior à reconquista cristã de 878, e mais recentemente ligaram a sua construção época de Al-mansur. Coimbra, em tempos, ladeada por fortificações militares pertencentes a épocas diversas, marca a sua identidade no tempo e na História. A cidade já estaria muralhada aquando da reconquista da mesma por Fernando Magno em 1064, e só após esta data é que a muralha sofreu algumas alterações. Até então manteve o seu traço original. Estas fortificações que abraçavam o núcleo urbano da cidade, contavam também com um conjunto de torres, com funções defensivas ou apenas serviam como habitações nobres. Nas obras realizadas na década de 1940, foram encontradas partes do muro da alcáçova, na ala de S. Pedro do edifício do Paço das Escolas. Nesta descoberta pode-se observar que tanto nos muros da alcáçova como noutros pontos da muralha, foram reaproveitados grandes blocos romanos que já lá existiriam anteriormente. Pensa-se que no lugar da muralha medieval existia uma muralha romana, cujos silhares teriam sido supostamente reaproveitados em construções posteriores. • Nos documentos árabes recolhidos ao longo do tempo, pode constar-se que Coimbra naquela época era vista como uma terra fértil - onde se produziam excelentes colheitas (devido à sua proximidade do rio Mondego). • Segundo esses mesmos documentos, a cidade situava-se no topo de uma montanha rodeada de sólidas muralhas rasgada por 5 portas • A cidade situava-se num ponto estratégico, de excelente táctica defensiva devido à solidez e perfeição da sua muralha.

O Tombo da Câmara de 1532, mostra que a toda a volta da barbacã, bem como do arco e Torre de Almedina, existiam habitações que nessa época já não seriam muito recentes. A muralha encontrava-se ameaçada pelos próprios habitantes da cidade que aos poucos a iam destruindo. A Câmara viu-se então obrigada a intervir, determinando que ninguém poderia retirar da muralha ou da barbacã, as pedras que as constituíam.

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Nuralhas Não Existentes

Nas muralhas da cidade existiram, noutros templos, mais 3 torres e 2 portas, que o tempoe os homens fizeram questão de excluir da paisagem da cidade e, na actualidade, já não é possível observar os seus vestígios. São eles: a Torre Nova, a Torre Quinária, e a Torre de Menagem; a Porta do Sol e a Porta da Traição.

Torre Nova Ou Torre das Mulheres, foi mandada edificar por D. Fernando, a 24 de Julho de 1374. O topónimo Torre das Mulheres poderá estar relacionado com o factode esta ter sido residência da mulher do antigo alcaide, das suas filhas e respectivas criadas. Torre Quinária Ou Torre de Hércules, ou do “Castello Velho”, foi mandada construir por D. Sancho I, no ano de 1198. Esta torre teria planta pentagonal irregular, atingindo cerca de 26,5 metros de altura. Torre de Menagem Ou do “Castello Novo”, ficava situada no centro do castelo e ocuparia uma área superior a 250 m2. Na sua base existia uma cisterna. Porta do Sol Documentada do séc. XI, a origem do nome desta porta poderá estar relacionada com a sua posição, visto que se orientada para o lado onde nasce o sol. Foi a principal porta de entrada do castelo, e pensa-se que a sua demolição aconteceu no ano de 1836. Porta da Traição A Porta da Genicoca ou Porta da Traição/ IbnBodron teria funções essencialmente militares, sendo, o que se denomina em arquitetura militar, uma porta falsa. Localizou-se no topo da Couraça de Lisboa. O arco em ferradura da porta foi demolido em 1836. A cidade de Coimbra esteve debaixo do domínio muçulmano durante 300 anos e só foi tomada pelos cristãos quando estes, a mando de D. Fernando, se dirigiram à Porta da Traição usando trajes muçulmanos no intuito de enganarem os árabes. Esconderam armas por debaixo das suas vestes e assim conseguiram invadir a cidade. Este episódio poderá estar relacionado com a própria toponímia desta porta.

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Nuralhas Existentes

Estrategicamente bem localizada, a cidade situava-se no topo de uma colina, ladeada por sólidas muralhas, contituídas por 9 torres e 3 portas, que, nos dias de hoje, ainda podem ser contempladas. São elas: a Torre de Almedina; a Torre de Belcouce; a Torre do Anto; a Torre de D. Joana; a Torre do Trabuquete; a Torre do Muro; a Torre da Contenda e as Torres de Química. Em relação às portas de entrada na cidade, podemos observar: a Porta da Barbacã; a Porta da Almedina e a Porta Nova.

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Torre de Almedina Também conhecida como Torre da Relação por nela ter funcionado a edilidade municipal. Torre de Belcouce A Porta e Torre de Belcouce, situava-se em frente ao jardim do Governo Civil. Existe ainda hoje uma iscrição pertencente a esta torre, guardada no Museu Nacional Machado de Castro. Torre do Anto Inicialmente designada como Torre do Prior do Ameal, esta edificação unir-se-ia com a Torre da Contenda através de uma passagem no topo da muralha (adarve), usada pelos guardas para fazerem a ronda. O nome Torre do Anto foi atribuído no século XIX e está relacionado com a estadia, nos seus aposentos, do poeta António Nobre. Torre de D. Joana Situada entre a Torre de Belcouce e a Porta de Almedina. Actualmente, esta torre encontra-se dentro de uma casa particular. Torre do Trabuquete Situada também entre a Torre de Belcouce e a Porta de Almedina, e actualmente dentro de uma casa particular. O seu nome, “trabuquete”, está ligado ao facto de nesta torre com capacidades essencialmente defensivas, ter havido em tempos uma arma de guerra com este mesmo nome. Torre do Muro Situa-se na Couraça de Lisboa, perto da Torre de Belcouce. Esta torre foi transformada em mirante e existiriam três torres entra a Porta da Traição e a Porta de Belcouce Torre da Contenda Actual edifício do Instituto de Arqueologia. Torres de Química Actualmente essa propriedade pertence à Santa Casa da Misericórdia de Coimbra. Porta da Barbacã Erguida no tempo de D. Fernando, a Porta da Barbacã situava-se no muro que antecedia a muralha - barbacã - muralha mais pequena que normalmente se construía ao longo da principal cintura muralhada. Teve como função criar um fosso entre estes dois troços de muralha, para reforçar a defesa da cidade. A sua forma é em arco quebrado, elemento típico das fortalezas da época manuelina. Porta da Almedina O Arco e Porta de Almedina, era a principal porta de entrada para o interior da muralha. A porta encontra-se ladeada por dois cubelos e actualmente regista-se como uma das reminiscências de visibilidade que nos transporta para os tempos de Coimbra medieva. Porta Nova Situava-se na Couraça dos Apóstolos, sendo construída no segundo terço do século XII. Durante a época dos ataques de Al-Mansur esta porta não estava ainda aberta. Terá sido aberta posteriormente apenas para dar serventia ao Mosteiro de Santa Cruz. Actualmente ainda existem vestígios desta porta, que se encontram dentro de uma habitação privada.

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Não existem documentos que nos ajudem a determinar em que época os judeus se terão instalado em Coimbra, sendo o documento mais antigo, que atesta a sua presença nas imediações desta cidade, do ano 950 depois de Cristo. A comunidade judaica terá tido uma grande diversidade socioeconómica tendo-se dedicado maioritariamente à agricultura até ao século XV. Alguns terão sido ricos proprietários de olivais, pomares e vinhas, nos arrabaldes da cidade, perto das muralhas, na Ribela, na encosta de Montarroio, no vale do Arnado e ainda em Celas. Outros terão sido artesãos e uns poucos tiveram o privilégio de chegar a oficiais ao serviço real. A sua vivência foi marcada por vários episódios de animosidade da comunidade cristã. Com a mudança da capital do reino de Coimbra para Lisboa, a Peste Negra e as guerras fernandinas com Castela, no século XIV, a comunidade judaica deve ter decrescido em grande número, perdendo gradualmente importância relativamente a outras comunidades judaicas em Portugal. já na centúria seguinte, a intolerância semítica culminou no decreto que determinou a reconversão dos judeus ou a sua expulsão do reino português.

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Fonte dos Judeus

A fonte dos judeus terá sido uma das mais antigas da cidade, encontrando-se perto da Judiaria Velha. Mandada edificar no ano de 1137, por D. Afonso Henriques, servia para o abastecimento público. No século XVIII foi alvo de uma intervenção passando a ser designada por Fonte Nova. Já no século XX foi inserida na escadaria de Montarroio devido às obras de reabilitação efectuadas no local da antiga Torre de Santa Cruz, que se localizava em frente ao Jardim da Manga.

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Judiaria Nova

Esta judiaria iria da imediação da portaria do mosteiro de Santa Cruz e estender-se-ia pelo vale do Arnado até ao adro da antiga Igreja de Santa Justa, no actual Terreiro da Erva, e ainda até à encosta de Montarroio, antes da abertura da Rua da Sofia e a construção do Colégio das Artes, embora os seus limites sejam desconhecidos e tenham desaparecido na actual malha urbana. Esta judiaria seria encerrada pela porta Mourisca localizada na intersecção da Rua Direita com a Rua João Cabreira. A Rua Nova e a Travessa da Rua Nova terão sobrevivido com o mesmo traçado que remonta à época da instalação da judiaria Nova.

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Judiaria da Pedreira

Após a destruição parcial da judiaria Velha, resultado das guerras fernandinas com Castela, terá havido uma tentativa de instalação de famílias judaicas dentro de muralhas, no local designado por Pedreira. Sobre a extensão desta judiaria não se conhecem os seus limites, sabendo-se apenas que estaria entre a Igreja de S. Salvador e a muralha. Esta judiaria terá tido uma curta existência, como se depreende da contestação pública pela sua instalação intramuros e a posterior delimitação da judiaria Nova. No século XIV, perante o referido descontentamento e com o argumento da refortificação da muralha, D. Fernando delimitou na parte baixa da cidade uma área para a instalação das famílias judaicas

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Judiaria Velha

No local onde se erigiu esta capela terá existido a sinagoga da judiaria velha. Terá sido a mais antiga de Coimbra apesar de não haver documentos que datem o início da sua construção. O documento da delimitação da paróquia de Santa Cruz, de 1139, é o mais antigo que faz referência à Judiaria Velha, que perdurou até ao século XIV, época em que, após as guerras fernandinas com Castela, terão levado à sua destruição parcial. A referida judiaria localizava-se ao longo de toda esta encosta entre a Porta Nova e a Porta de Almedina. Supõe-se que a Rua Corpo de Deus apresente o mesmo traçado que a rua principal primitiva desta judiaria.

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Contemplando a cidade de Coimbra, sobranceira ao rio Mondego, é-nos facilmente perceptível compreender a importância geográfica e estratégica que teve ao longo da história para os diversos povos que ocuparam o seu território. Os Muçulmanos invadem a Península Ibérica no ano de 711 e passados três anos a cidade de Coimbra é conquistada, iniciando-se assim, uma convivência de vários séculos entre as diversas culturas, que deixará marcas profundas ao nível da cultura e modus vivendi de uma comunidade. Moçárabes são todos aqueles, que sendo estrangeiros, adoptaram os costumes, modos de viver e muitas vezes a língua árabe, durante a ocupação muçulmana da Península. A cidade de Coimbra surge como uma das cidades moçárabes mais importantes da península, na qual um famoso conde vai transformar por completo o seu tecido urbano. D. Sesnando Davides, moçárabe nascido em Tentúgal, depois da notável campanha ao serviço do al-Andalus, obtém o título de alvazir, título este que usará até à sua morte. Em circunstâncias desconhecidas, D. Sesnando passa a servir Fernando Magno, a quem terá aconselhado reconquistar a cidade de Coimbra, acto que ficou documentado no Foral de 1085 e na carta de confirmação de 1093.

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O governo da cidade e o seu vasto território é confiado ao alvazir, como forma de gratidão, mas também pela sua sabedoria e experiência política no al-Andalus. As suas origens e as suas qualidades enquanto governante foram importantes ao serviço da reconquista cristã, demonstrando ser um homem arguto, culto e inteligente, ao serviço de um ideal moçárabe de tolerância entre credos e culturas. Com plenos poderes de governação e uma total liberdade de usufruir das propriedades, D. Sesnando consegue conciliar a antiga ordem social existente e administra o território de uma forma tolerante. No aspecto religioso, a fidelidade aos princípios da reconquista ao ritual hispânico e a resistência ao rito romano permanecem, em Coimbra, até finais do século XII. Daqui surgem vários templos, de que alguns apenas se sabe da sua existência. Outros sofreram as mutações naturais do tempo e dos homens chegando até nós apenas parcos vestígios.

Igreja de São Pedro (Intramuros)

As primeiras referências escritas da igreja de S. Pedro são de finais do século XI, e alguns dos seus achados arqueológicos remetem-nos para um tempo anterior, durante o período visigótico conimbricense. No séc. XII verificou-se uma grande remodelação onde se aplicou uma linguagem românica, que, numa análise aos vestígios recolhidos, além da exuberância iconográfica, difere significativamente do mesmo estilo anteriormente aplicado na construção da Sé Velha e de Santa Cruz de Coimbra. Durante o século XVIII o templo sofreu modificações significativas tomando feições barrocas. A Igreja de S. Pedro faz parte dos monumentos que não resistiram às reformas da alta universitária da década de 40 do século XX. Situava-se nos espaços hoje ocupados pelos departamentos de Física e Química. Alguns dos seus vestígios foram poupados, encontrando-se à guarda do museu nacional de machado de castro.

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Igreja de São João de Almedina

No topo da colina da cidade muralhada situava-se a igreja de São João de Almedina, atenta espectadora do desenrolar da história e da cultura da cidade ao longo dos tempos. Sabemos que a igreja já existiria durante o domínio muçulmano da cidade, estando referida no testamento de D. Sesnando em 1087. As obras de beneficiação da igreja entre 1128 e 1131 não foram devidamente documentadas, embora se presuma que nesse período fosse edificado o claustro pré-românico com os seus capitéis vegetalistas, que hoje podemos observar in situ no Museu Nacional de Machado de Castro. O templo serviu de última morada do bispado conimbricense, dada a sua proximidade com o paço episcopal e onde se sepultaram alguns bispos moçárabes. Na segunda metade do século XII iniciou-se a reconstrução do templo sob a estética românica, tendo este sido consagrado entre 1192 e 1206. Aquando das obras de beneficiação do Museu Nacional de Machado de Castro de 1922 a 1938 foram encontrados os embasamentos dos primeiros pilares e uma porta embutida na parede, ainda hoje perfeitamente visíveis in situ. Supõe-se que a igreja românica teria uma largura superior à da Sé Velha, com três naves, pilares cruciformes e arcos longitudinais, numa disposição perpendicular ao templo actual, edificado nos finais do século XVII sob patrocínio de D. João de Melo.

Arco Moçárabe

Situado no ângulo Sudeste do edifício do museu nacional machado de castro, o célebre arco de influências da arquitetura árabe, também conhecido por Arco Moçárabe, foi edificado na primeira metade da centúria de duzentos, com a provável função de acesso principal ao paço dos bispos de Coimbra.

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Santa Maria de Colimbrae

No aspecto religioso, da fidelidade ao princípios da reconquista ao ritual hispânico e à resistência ao rito romano permanece em Coimbra, até aos finais do século XI. Em tempos longínquos chamava-se Santa Maria de Colimbrae, hoje Sé Velha.

Chancelaria de D. Sesnando

A chancelaria de D. Sesnando situava-se dentro da muralha, junto à porta de Almedina, sendo o espaço onde o governador legislava e administrava os povos que habitavam na cidade e seu termo. Nas proximidades instalaramse os seus fideles entre a Rua das Tendas e a Rua de Quebra Costas.

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Igrejas do Arrabalde (S. Cristina, S. Cucufate, S. Cristovão, S. Tiago, S. Bartolomeu, S. Pedro, S. Justa e S .Rufina)

Pouco se sabe sobre os templos moçárabes existentes no arrabalde. Destes, restam apenas pequenas referências da sua localização. A igreja de Santa Cristina ficaria perto da porta de Almedina e as igrejas de São Cucufate e São Cristovão tinham o seu espaço no que são hoje as igrejas de São Tiago e São Bartolomeu. A igreja de São Vicente ficava em Montarroio e a igreja de São Pedro nas imediações da Rua Direita. Nas proximidades desta situou-se a igreja de Santa Justa e Santa Rufina, local hoje denominado por Terreiro da Erva.

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No topo da colina nascida nas margens areentas do Mondego ficava a grandiosa Alcáçova, símbolo duma cidade considerada inexpugnável de seu nome Coimbra. Fora nesta mesma cidade de raia que o Rei D.Afonso Henriques escolhera como novo centro político do recém-nascido reino de Portugal. A nova capital passara a ganhar importância política e económica tornando-se um verdadeiro estaleiro de obras, onde os mais importantes artistas moldavam a paisagem da cidade introduzindo um novo estilo artístico, o românico. O epicentro criativo ganha impulso após a fundação do mosteiro de Santa Cruz, onde os seus scriptoriums começam a traduzir e a copiar manuscritos, alguns de origem laica e outros de natureza mais profana, como algumas obras da antiguidade clássica. Papel igualmente importante teve o edifício deste mosteiro, onde a linguagem românica embutida em cada pedra e em cada capitel criava uma obra de grande excelência e beleza. A sua torre-nártex, ex-libris inspirado na igreja de San Isidoro de Leon, demonstrava a mestria de um francês de seu nome Roberto, que chegara a Coimbra pelos caminhos de peregrinação. Tal era a sua beleza e a sua importância que os primeiros reis escolheram este local para o seu descanso eterno, tornando-o assim o primeiro panteão nacional.

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Mais acima encontrava-se outro monumento de grande esplendor artístico, a Sé catedral de Coimbra, símbolo da cristandade na cidade e do novo modo de praticar a fé seguindo o rito romano. As obras desta magnífica construção começaram com a doação da mão-de- obra escrava pelo rei D.Afonso Henriques. Roberto fora igualmente contratado para efetuar melhorias na obra e seria responsável pelo ex-libris da catedral, o portal-janelão. Este portal é uma das obras mais importantes e mais belas do românico português, onde contemplamos a confluência das várias culturas que ocuparam Coimbra durante este tempo. Nas suas arquivoltas, sustentadas por um sistema complexo de pilastras e colunelos, observamos os entrelaçados de motivos vegetalistas e geométricos, de influência islâmica. Esta grandiosa cidade, que fora a capital de um reino emergente onde várias confissões religiosas coexistiam, criou um locus único onde as suas pedras, que nos chegaram até hoje, refletem a história da sua gente.

Igreja de São Salvador

A igreja de São Salvador terá sido edificada no século XI, existindo referências documentais que esta pertenceu ao Convento da Vacariça. No ano de 1179, o templo foi reconstruído a mando de Estêvão Martins, conforme se encontra escrito na lápide afixada no portal principal. No séc. XVI foram erguidas as capelas tumulares de São Marcos e a capela dos Barros, a mando de Dona Guiomar de Sá. No séc. XVIII, a igreja sofreu várias modificações: demolição da abside românica; abertura do arco de passagem à capela dos Barros; introdução de painéis de azulejos alegóricos ao tema do Salvador do Mundo. No ano de 1914, o templo foi concedido à Irmandade dos Clérigos Pobres. Mais tarde, já na posse da Sé Nova, utilizou-se o seu espaço para arrumos e casa mortuária.

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Antiga Igreja de Santa Maria de Colimbria

“A Sé Velha de Coimbra remonta a tempos anteriores à fundação da nossa nacionalidade. Baptizada com o sangue dos soldados do rei leonês Fernando Magno, ao arrancarem Medina-Colimbria do poder dos muçulmanos no ano de 1064, a veneranda igreja de Santa Maria Colimbrienses viu mais tarde nascer o reino de Portugal, e já invocou sobre o recém-nascido as bênções do céu…”. A palavras de António de Vasconcelos, na sua obra “A Sé Velha de Coimbra”, convida o leitor a recuar até um tempo anterior à Sé Catedral e a uma obra arquitetónica anterior á construção que viu nascer a nacionalidade. Na verdade, pouco se sabe sobre a antiga igreja de Santa Maria de Colimbria, o único vestígio que nos chegou foi um bloco de pedra com a inscrição “MARIAE VIRGINIS”, datada do período Sesnandino (século XI). Efetivamente, podemos afirmar que houve uma catedral paleocristã que se constituiu como centro do poder episcopal da cidade de Colimbria, antiga Aeminium. O referido templo resistiu pelo menos até à invasão de Al-Mansur no século X e após esta incursão militar persistem muitas interrogações acerca desta edificação.António de Vasconcelos defende que a antiga igreja fora destruída e convertida em mesquita Aljama, obrigando assim os moçárabes a procurarem outra igreja para o culto da Virgem Maria. Por sua vez, Pierre David afirma que o templo em ruínas foi reconstruído, justificando esta premissa através de um documento de 1086 que refere uma “Veteri side episcopali Colimbrie” (antiga sede episcopal de Coimbra). O mesmo documento descreve esta igreja como tendo três altares: o principal dedicado a Santa Maria e os laterais a S. Pedro e S. Martinho. Walter Rossa sustenta a ideia de que Sé sempre ocupou o mesmo lugar, desde tempos germânicos, pelo menos a partir do condado de Coimbra. Este igualmente defende que a igreja esteve sempre dedicada ao culto cristão, justificando-se através da atitude que D. Sesnando teve em Toledo, onde não proibiu o culto dos muçulmanos na mesquita Aljama, por isso seria ilógico, ele ter feito o contrário em Coimbra. O investigador propõe que a mesquita coimbrã seria numa edificação que ficaria no atual claustro da Sé Velha.

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Igreja de São Bartolomeu

A igreja de São Bartolomeu constitui um dos locais religiosos mais antigos fora da muralha da cidade de Coimbra. Existem vestígios arqueológicos duma igreja paleocristã do século VII. O testamentum de Sancto Bartolomeus in arravalde Colimbrie, datado de 957, salienta que, no passado, a sua denominação tinha sido de S. Cristóvão. A existência de um capitel românico fragmentado, que foi encontrado na igreja (atualmente no Museu Nacional de Machado de Castro), remete-nos para uma reedificação durante o século XII. Entrando por um pequeno alçapão, com ajuda de um escadote, encontramos os vestígios arqueológicos medievais que subsistem no subsolo da igreja actual. Nestas “catacumbas” podemos visualizar as bases onde assentavam as colunas medievas. Do mesmo modo, este local fora usado como cemitério, encontrando-se depositados dezenas de corpos juntamente com vestígios de diferente espécie. Infelizmente, este espaço não está aberto à visita do público.

Igreja de Santa Cruz

Tendo uma possível pré-existência anterior (uma velha ermida da invocação de Santa Cruz), o Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra – a mais importante casa monástica do início da monarquia portuguesa – foi erguido a 28 de Junho de 1131 por D. Telo, arcediago da Sé de Coimbra. Já nos finais do mês de Fevereiro de 1132, o primeiro grupo de cónegos, pertencentes á Ordem de Santo Agostinho, deu início à sua vida comunitária. Situado fora das muralhas da cidade, à beira da estrada que fazia o eixo Braga/Porto – Santarém/Lisboa, o edifício conventual primitivo terá sido construído até cerca de 1150, no terreno onde se encontravam os banhos régios, que fora oferecido por D. Afonso Henriques. Da escassa informação que chegou aos dias de hoje, sabe-se que a entrada da igreja era constituída por uma torre-nártex que daria acesso á nave central. A nave seria flanqueada por seis capelas abertas, três de cada lado, e o topo era composto por uma cabeceira tripla, formada por uma abside ladeada por dois absidíolos. A direção das obras de construção do edifício primitivo tem sido atribuída a Mestre Roberto, (arquiteto franco que colaborou na Sé do Porto, Coimbra e Lisboa), mas é uma hipótese muito discutida. Ao contrário do edifício da Sé Velha, em que os paramentos eram executados em pedra emparelhada, no edifício de Santa Cruz recorreu-se principalmente á alvenaria (inclusive no enchimento das suas abóbadas), o que contribui para a ideia de que a colaboração de Mestre Roberto apenas se tenha confinado ao nártex, que não estava incluído nas plantas originais. Tendo sido alvo de reformas nas centúrias de quinhentos e nos finais de oitocentos, que alteraram drasticamente o seu aspeto, do edifício original apenas resta alguns vestígios, como se poderá observar na fachada, que ainda conserva elementos estruturais da edificação primitiva. 64


Igreja de São Cristóvão

A igreja de São Cristóvão foi um dos templos mais antigos dentro da muralha de Coimbra, tendo por base a documentação do século XII. Comprova-se que o referido templo esteve sob tutela de um grupo de religiosos vindos de França. Pouco se sabe sobre a igreja medieval, embora podemos afirmar que esta seria muito idêntica à Sé Velha de Coimbra, como é possível visualizar numa gravura do século XIX que chegou até aos dias de hoje, sobretudo nas parecenças do seu portal-janelão. Em meados do séc. XIX, a igreja encontrava-se num estado de degradação e despromoção do prestígio que havia conquistado, sendo, em 1859, feito o seu desmantelamento integral, com o objectivo de construir o teatro D. Luís, inaugurado em 1861 (actual Cineteatro Sousa Bastos). Embora a igreja tenha sido desmantelada, foram resgatados alguns capitéis que se encontram actualmente depositados no Museu Nacional de Machado de Castro.

Igreja de São Tiago

A Igreja de São Tiago, situada na Praça do Comércio, foi edificada entre os finais do século XI e os inícios do século XII. Apresentando um estilo românico, o referido templo surge denominado por basílica no ano de 1206. No século XVI, o espaço foi ocupado pela Misericórdia de Coimbra sofrendo obras de vulto a cargo do arquiteto Diogo Castilho, com a participação de João de Ruão na execução dos retábulos em pedra Ançã. Estas e outras obras realizadas em séculos posteriores, como o corte da cabeceira para o alargamento da Rua Visconde da Luz em 1861, adulteram a traça primitiva do edifício. Nos anos de 1908 e 1932 o edifício foi restaurado com o objetivo de restituir a sua traça primitiva, optando-se pela destruição de estruturas posteriores à Idade Média, para adquirir certas semelhanças com a fachada da Sé Velha. No interior da igreja encontra-se conservado parte da estrutura original em três naves, com falso transepto e cabeceira tripartida e capela-mor de dois andares de arcaturas cegas.

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Sé Velha

“Houve tempo em que a velha catedral conimbricense, hoje abandonada de seus bispos, era formosa; houve tempo em que essas pedras, ora tisnadas pelos anos, eram ainda pálidas, como as margens areentas do Mondego.”. Seguindo as palavras de Alexandre Herculano, na sua obra Bispo Negro, podemos afirmar que houve um tempo em que a velha catedral refletia a sua glória e era símbolo de uma nação imergente, de seu nome Portugal. Olhando para estes desgastados blocos de calcário dolomítico, procuramos neles o início desta construção centenária. Na verdade não existe uma datação específica para o início dos trabalhos de construção. António de Vasconcelos acreditava que a edificação da catedral se devera ao facto da antiga igreja de Santa Maria, ter sido destruída durante uma invasão almorávida em 1117. Por sua vez, Pierre David e Nogueira Gonçalves supõem que a igreja primitiva estaria de pé durante o início da construção da nova catedral. Apesar das incertezas, a maioria dos historiadores, acreditam que as obras se iniciaram algures na década de 60. A obra começou a mando de D. Afonso Henriques, que doou a mão-de-obra escrava muçulmana para a sua construção, e pelo Bispo D. Miguel Pais de Salomão, que foi responsável por contratar o mestre Bernardo e o mestre Roberto. Efetivamente, os responsáveis pela edificação deste monumento românico foram os mestres em cima mencionados. Bernardo teria sido o mestre principal pela obra, sendo substituído após a sua morte pelo mestre Soeiro. Por sua vez, o mestre Roberto teria sido responsável pelo portal do edifício e outras melhorias na obra, deslocando-se quatro vezes a Coimbra para estes procedimentos. A igreja seria consagrada em 1184, numa missa solene, onde se encontraria a corte do recente reino de Portugal, incluindo o seu Rei. O exterior desta magnífica catedral tinha um aspeto militar, de espessas paredes com poucas aberturas e ameadas. Já o interior se compôs por três naves e cinco tramos, com um transepto pouco desenvolvido. O seu acesso fez-se por três entradas, duas na fachada lateral e uma na fachada principal. Nesta última fica o ex-líbris da catedral, o portal-janelão que servia de tribuna para anúncios públicos do clero e da nobreza. O aspeto atual da Sé é resultado das obras de restauro efetuadas duram o século XIX dirigidas por António Augusto Gonçalves, que quis recuperar a pureza e a magnificência da antiga catedral.

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Chancelaria de D. Afonso Henriques

Coimbra foi um centro importante durante a época Sesnandina, sendo um bastião da cultura moçárabe e a capital do condado, a qual dava o nome. Tal importância continuaria durante o condado Portucalense, apesar de D. Teresa e D. Henrique preferirem Guimarães como local habitual de residência.

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Formandos Curso Técnico de Museografia e Gestão do Património Nível IV (2012/ 2014) cearte - centro de formação profissional do artesanato

Alberto Freitas



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Ana Paula Monteiro

Andreia Alves

Cecília Lemos

A sua experiência em Gestão há mais de 10 anos como responsável de loja fez com que, durante esse período, adquirisse um grande Know How na ótica da Gestão. Sempre adorou História Medieval e Arte e, por isso, entrou de corpo e alma no Curso Técnico de Museografia e Gestão de Património para adquirir competências e progredir neste âmbito, assim durante este período a Ana Paula conseguiu um background que lhe faltava para desenvolver e apaixonar-se ainda mais pela investigação Histórica. Todas as disciplinas lecionadas foram muito importantes neste seu percurso, mas o que lhe tocou mais, e terá sido fundamental para a escolha da sua futura profissão, foi com certeza as disciplinas Paleografia e a Museologia/Exposição. Possui uma postura exigente e de entrega no projeto que escolhe; para relaxar, necessita estar sempre que pode com a sua família, pois é nesse momento que consegue força para continuar lutando.

Nasceu em Coimbra, e cá viveu desde sempre. O gosto pelas artes desde cedo se evidenciou. Desde os pequenos desenhos que fazia em guardanapos de papel, passando pelo Curso de Artes, até chegar ao Curso de Museografia e Gestão do Património. Pretende criar um elo de ligação entre o seu futuro profissional e a experiência adquirida nesta área. Faz da Art Nouveau o seu estilo de referência. Grande apreciadora de cinema independente, o seu forte são as noites acompanhadas de um bom filme francês.

Chama-se Cecília, embora muitas pessoas a tratem pelo diminuitivo carinhoso Sissi. Nasceu em Lisboa onde passou toda a infância até aos 15 anos num colégio. Desde cedo desenvolveu um imenso gosto pelas Artes e após a saída do colégio foi para a Escola Artística de António Arroio onde fez o 12º ano em Cerâmica. Decidiu arriscar e mudar, e mudou para Coimbra, para tirar o nível IV no curso de Conservação e Restauro. Entretanto, apostou no amor, conheceu alguém especial, e teve um filho. Ultimamente, quis dedicar-se ao Património e assim continua, à espera de um futuro melhor. É uma rapariga simples, honesta e amiga.

Eduardo Albuquerque

Francisco Pereira

Genilda Costa

Tem 24 anos , e é natural de Coimbra da Sé Nova . Curso Tecnológico de Multimédia (2005-2007), Licenciado em História da Arte (2007-2010), Especialista em Património Europeu, Multimédia e Sociedade da Informação (2010-2011) e Bolsista de Mérito da Universidade de Coimbra no ano lectivo de 2011/12.

Francisco Pereira, estudou o curso profissional de multimédia o que lhe permitiu ter conhecimentos alargados de multimédia. Apaixonado por fotografia, o curso de museografia veio cimentar competências assim como alargar as mesmas.

Brasileira, nasceu no Estado de São Paulo. Frequentou o curso de Turismo, Lazer e Património na Faculdade de Letras de Coimbra e o Curso de Museografia e Gestão do Património veio complementar a sua formação e enriquece-la do ponto de vista cultural. Adora viajar e ao ter conhecido vários locais diferentes aprendeu a apreciar o património e a arte de forma simples e descomprometida. Gosta de pensar que está sempre a aprender e que cada dia é um novo desafio. Considera que a vida a faz encarar cada obstáculo como apenas mais um passo para sua realização profissional.


Gualter Soares

Karine Gaspar

Lívia Dias

Nascido a 12 de Abril 1978 em Água-Arroz, localidade a 1 km da cidade de São Tomé a capital econômica e política da República (Democrática) de São Tomé e Príncipe. Aos 17 anos já trabalhava como administrativo no escritório de advogados em São Tomé e Príncipe. Trabalhou como técnico de turismo na Direção de Turismo e Hotelaria em São Tomé e Príncipe. Foi aluno da Aliança Francesa de 1997/2000 onde fundou a Associação dos Estudantes de Francês de São Tomé e Príncipe. Está em Portugal desde 2003, já viveu em Lisboa e Aveiro. Em 2007 muda-se para Coimbra. Ingressou no Instituto Superior de Contabilidade e Administração de Coimbra em 2011, para frequentar o Curso de Licenciatura em Solicitadoria e Administração onde permanece até então. É um apaixonado pela natureza e isto contribuiu imenso na sua tomada de decisão para frequentar o Curso Técnico de Museografia e Gestão de Património organizado pelo Cearte – Centro Profissional do Artesanato.

Nasce em Paris a 1971. Desde cedo demonstra grande apetecência pela arte, fazendo dos museus da cidade a sua segunda casa. Radica-se em Coimbra, e torna-se Designer de Interiores tendo como base da sua formação a arquitectura. O seu trabalho, muito visual e ancorado em conceitos, combina a paixão pela estética e arte contemporânea, explorando referências da música, da moda, do cinema e da cidade. O gosto pela investigação e desenvolvimento conceptual, levam-na ao curso técnico de museografia, que pretende aprofundar pela área da curadoria.

Licenciada em Ciência da Informação, Arquivística e Biblioteconómica pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e especialização em Património Europeu, Multimédia e Sociedade de Informação pela mesma instituição. O Curso Técnico de Museografia e Gestão do Património, permitiu-lhe adquirir diversas competências assim como complementar a sua formação profissional.

Paulo Sá

Pedro Osório

Rita Figueiredo

O interesse pelo serviço educativo e por trabalhar diretamente com uma faixa etária mais jovem, levou-o a ingressar no curso de Animador Sociocultural e mais tarde no Curso de Museografia e Gestão de Património. Hoje vive em Coimbra e tem como principais hobbies o Futsal, onde desempenha funções de treinador, e a música onde está envolvido na vertente vocal.

Tem 29 anos e nasceu em Coimbra. Estudou na Escola Eugénio de Castro até ao 9º ano. O gosto pela História motivou-o a fazer o curso de museografia e gestão do património e a terminar o 12º ano. Gosta de paz e tem enorme interesse pela geografia e pelas ciências. Calmo, bom ouvinte e alegre são algumas das suas qualidades. Gosta de investigar tudo aquilo que não conhece ou que seja novo. Em tempo de lazer gosta de desporto e é muito ligado à sua família. Já visitou alguns locais como Versalhes, a Torre Eiffel e o Arco do Triunfo em Paris, o Valle de los Caídos nos arredores de Madrid, tendo viajando por outros locais também de grande interesse como Andorra, Bélgica e Holanda. Em Portugal, adora a cidade de Coimbra pelo seu património mas gosta também da cidade do Porto.

Nasceu em Coimbra. Terminou o mestrado integrado em Arquitectura pela Escola Universitária Vasco da Gama, em 2010. Inscrita na Ordem dos Arquitectos desde 2010, colaborou em projectos para Angola e Portugal, e investe na formação na área das artes e letras.

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Coimbra Medieva: Fragmentos de Memória Ficha Técnica / Actividade Integradora 11 de Outubro a 24 de Novembro . 2013 coimbra

Projeto realizado pelos formandos do curso Técnico de Museografia e Gestão do Património, Nível IV (2012/ 2014), ministrado pelo cearte - centro de formação profissional do artesanato, com a parceria do museu nacional de machado de castro. organização:

cearte / mnmc formandos:

Alberto Freitas Ana Paula Monteiro Andreia Alves Cecília Lemos Eduardo Albuquerque Francisco Pereira Genilda Costa Gualter Soares Karine Gaspar Lívia Dias Paulo Sá Pedro Osório Rita Figueiredo

mediadora: Mercês Guedes coordenação cearte: Alzira Ferreira coordenação mnmc: Fernanda Alves formadores da formação tecnológica António Domingos / Catarina Alarcão / Celeste Simões / Clara Oliveira Fátima Pereira / Helena Pereira / Helena Valença formadores da formação base: Isabel Fernandes / Margarida Gouveia / Mário Correia Paulo Almeida / Rogério Medeiros

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formadores / coordenadores de projecto

Património e Investigação: Duarte Freitas Design e Comunicação Visual: Pedro Góis Multimédia: Bárbara Cravo Fotografia: Hugo Marques Museografia e Serviço Educativo: Hilda Frias Acompanhamento CEARTE: João Amaral Acompanhamento Científico MNMC: Pedro Ferrão Traduções: Celeste Simões / Isabel Fernandes / Dina Ferreira Impressão Braille: acapo montagem / conservação e restauro: cearte / mnmc parceria: GO! Walks / Companhia de Teatro Viv’Arte colaboração:

acapo - Associação dos Cegos e Amblíopes de Portugal / Loggia Restaurante Esplanada patrocínios:

3WD Informática / Adega Cooperativa de Souselas / Dan Cake / Vistas Largas / Robbialac media partner:

Diário de Coimbra / Preguiça Magazine Coimbra / RUC Rádio Universidade de Coimbra agradecimentos:

Adriano Braganha Igreja da Sé Velha / Ana Figueiredo RUC Rádio Universidade de Coimbra / António Coelho Igreja de São Bartolomeu / António Ferreira Igreja de São Salvador / António Ferro MNMC Museu Nacional de Machado de Castro / Bruno Pires Preguiça Magazine Coimbra / Carina Correia Preguiça Magazine Coimbra / Catarina Almeida RUC Rádio Universidade de Coimbra / Fernando Calisto Adega Cooperativa de Souselas / João Pocinho MNMC Museu Nacional de Machado de Castro / Joaquim Carvalho FLUC Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra / Jorge Alarcão FLUC Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra / José Albino ACAPO Associação de Cegos e Ambliopes de Portugal / José Gonçalves Dan Cake Coimbra / Leontina Ventura FLUC Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra / Manuel Real FLUP Faculdade de Letras da Universidade do Porto / Mário da Costa Companhia de Teatro Viv’Arte / Marta Mendes GO! Walks / Monsenhor João Evangelista Igreja da Sé Velha / Orlando Cruz Dan Cake Coimbra / Padre Anselmo Gaspar Igreja de Santa Cruz / Padre António Ramos Igreja de São Bartolomeu / Padre Jorge Santos Igreja de São Tiago / Padre Sertório Martins Igreja de São Salvador / Pedro Ângelo Igreja da Sé Velha / Petra Pinto Companhia de Teatro Viv’Arte / Raquel Misarela MNMC Museu Nacional de Machado de Castro / Sara Cruz GO! Walks / Saul Gomes FLUC Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra / Sofia Teodósio Robbialac Coimbra / Virgínia Rocha MNMC Museu Nacional de Machado de Castro.

Os formandos deixam um agradecimento muito especial a todos os familiares e amigos que sempre os apoiaram neste projeto, tornando-o possível.

organização

parceria

colaboração

patrocínios

mediapartner

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Coimbra Medieva: Fragmentos de Memória edição

972-98718 cearte - centro de formação profissional do artesanato autores:

Curso Técnico de Museografia e Gestão do Património (2012/2014) isbn:

978-972-98718-5-6 design / composição:

Pedro Góis goisdesign - design & comunicação fotografia:

Hugo Marques Fotografias Formandos / UFCD Fotografia

Fotografias de autor não identificado, pesquisadas na Internet @2013 tipografia:

AGaramond Mason Alternate impressão e acabamento:

cearte

tiragem:

100 exemplares © 2013 cearte • reservado todos os direitos. Proibida a reprodução, total ou parcial, por qualquer forma, do texto ou das ilustrações sem autorização por escrito dos autores e editores. outubro de 2013

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SEDE • COIMBRA

Zona Industrial da Pedrulha Rua António Sérgio 36 3025-041 Coimbra • Portugal T 00351 239 497 200 F 00351 239 492 293 E geral@cearte.pt

PÓLO DE FORMAÇÃO DE SEMIDE

Semide • Miranda do Corvo 3220-423 Semide • Portugal T 00351 239 540 140 F 00351 239 542 097 E geral@cearte.pt

PÓLO DE FORMAÇÃO DE CABAÇOS

Rua José Ribeiro Carvalho 69 Cabaços • Alvaiázere 3250-359 Pussos • Portugal T 00351 236 636 489 F 00351 236 631 607 E geral@cearte.pt

www.cearte.pt



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