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CENTRO DE DEFESA E PROMOÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS DA ARQUIDIOCESE DE FORTALEZA Presidente + Dom José Antônio Aparecido Tosi Marques Diretor Pe. Emílio Castelo Equipe Técnica Kelanny Oliveira Lourdes Vieira Weibe Tapeba Equipe de Apoio Raoni Ferreira Regina Almeida Projeto Gráfico 4S Bureau & Design Fotografia Tearle Pinheiro Editoração Eletrônica Glauber Costa Impressão Arte Visual Gráfica Tiragem 3.000 exemplares
Este CATÁLOGO é parte Integrante do PROJETO RAÍZES INDÍGENAS Coordenação CDPDH Patrocínio PETROBRÁS
O Centro de Defesa e Promoção dos Direitos Humanos da Arquidiocese de Fortaleza (CDPDH) surgiu em 1982, por decisão da assembleia pastoral da Arquidiocese de Fortaleza. Sua criação inserese no contexto de fortalecimento das CEB’s e no apoio efetivo aos movimentos dos sem-teto e sem-terra, prestando assessoria jurídica em vários processos de ocupações de terras. A partir da primeira metade da década de oitenta se estreitaram os contatos da então Equipe de Assessoria às Comunidades Rurais da Arquidiocese de Fortaleza, com os índios Tapeba (Caucaia). Posteriormente, o grupo transformado em Equipe Arquidiocesana de Apoio à Questão Indígena – passou a atuar também entre os Pitaguary (Maracanaú e Pacatuba) e Jenipapo-Kanindé (Aquiraz), através da assessoria jurídica e do acompanhamento dos processos judiciais de demarcação das terras, reuniões com lideranças, realização de eventos e apoio ao fortalecimento dos processos de organização comunitária. Ao longo destes anos, o CDPDH vem acompanhando os entraves jurídicos e organizacionais que continuam impedindo a demarcação destas terras indígenas, organizando eventos que proporcionam uma maior visibilidade cultural, tais como o evento Raízes Indígenas, Exposição Povos Indígenas no Ceará, e mais recentemente o Projeto Raízes Indígenas, que fortaleceu a produção do artesanato, através da troca de saberes entre os mais velhos e os mais jovens, o que quer visibilizar através do presente “Catálogo – Raízes Indígenas”. + José Antonio Aparecido Tosi Marques Arcebispo Metropolitano de Fortaleza Presidente do CDPDH
Sumário Raízes Indígenas
O Projeto Artesanato
Tapeba Artesanato
Pitaguary Artesanato
Jenipapo-Kanindé Artesanato
Kanindé
09 11 19 27 35
O
Projeto “RAÍZES INDÍGENAS” teve como objetivo fortalecer a capacidade de gestão das organizações e grupos dos Povos Indígenas Tapeba, Pitaguary, Kanindé e Jenipapo-Kanindé, considerando a juventude indígena para uma
produção e comercialização sustentável do artesanato e simultâneo fortalecimento identitário destes povos, a partir da estruturação de grupos empreendedores de economia solidária nestas comunidades e da realização de grandes eventos para exposição e comercialização do artesanato indígena.
Todo o aprendizado construído, em especial durante as oficinas de artesanato, valorizou o saber tradicional dos mais velhos que tanto facilitaram as oficinas como acompanharam a execução das demais atividades, resultando no fortalecimento cultural de diversos jovens que participaram e passaram a se organizar para a produção do artesanato indígena pautados nos princípios da Economia Solidária Popular e nos seus saberes culturais estabelecidos.
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Dessa forma, o presente Catálogo reúne as principais peças produzidas pelos jovens indígenas desses povos durante os dois anos de projeto, que foi realizado pelo Centro de Defesa e Promoção dos Direitos Humanos da Arquidiocese de Fortaleza e patrocinado pela Petrobrás.
Tapeba
O
Povo Tapeba está localizado no Município de Caucaia, a 20 quilômetros de Fortaleza, organizado socialmente em 17 Comunidades Indígenas, reivindicando um
território de aproximadamente 5 mil hectares dos 30 mil hectares, parte do território Tradicional Tapeba.
Os Tapeba mantêm um intenso calendário de atividades
durante o ano, organizado por meio de parcerias entre as associações, comunidades e entidades indigenistas. As atividades
O povo Tapeba se destaca principalmente pelo artesanato em coco e madeira, utilizando também o talo da Carnaúba, que é considerada uma árvore sagrada, além dos seus belos colares de sementes nativas.
de subsistência principais do Povo Tapeba são: agricultura, pesca, caça, confecção de artesanatos, coleta de frutas, corte da palha da carnaúba e coleta de crustáceos.
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Criatividade A criatividade de artesãos Tapeba faz com que troncos de madeira, raízes, talos da carnaúba e o coco ganhem formas e deem lugar a esculturas e objetos de decoração. A maioria das peças produzidas são reflexos da relação do povo com a natureza, o que explica a confecção de esculturas de animais silvestres e aves existentes na região.
Saberes
Os povos indígenas são natos ceramistas. Esses conhecimentos foram e continuam sendo repassados de geração para geração.
Patrimônio
Os saberes tradicionais existentes nos Tapeba se ligam à questões cosmológicas e espirituais. Assim, o “local aonde se acha o barro”, o manejo e preparo dessa matériaprima, a época de retirada do material, a quantidade de água ou outro tipo de terra na mistura do barro carrega em si conhecimentos que foram sendo absorvidos e aperfeiçoados durante todo o tempo. Assim, surgem potes, jarras, panelas, travessas e tantos outros utensílios historicamente utilizados pelos povos indígenas.
O Povo Tapeba detém um rico patrimônio cultural. A criatividade dos seus artesãos faz com que a palha da carnaúba se transforme em vestimentas e indumentárias utilizadas em festas tradicionais e rituais e ainda sejam utilizadas na confecção de cestarias, chapéus e utensílios. Já as sementes nativas existentes na região, com sua mistura de cores, compõem também um rico patrimônio que com a sua variedade se transforma em colares, pulseiras e demais adornos utilizados na vida cotidiana dos indígenas.
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Pitaguary
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grupo indígena Pitaguary é formado por descendentes dos índios Potiguara e sua Terra Indígena está localizada em região serrana, tendo como principal
referencial o seu ponto mais alto, a Pedra do Letreiro, que está no cume da Serra da Aratanha, tendo sua população distribuída em quatro aldeias, sendo elas: Santo Antônio, Olho D’água, Horto e Monguba.
Destacam-se por suas festas culturais, tais como a Festa
da Mangueira e a Festa do Milho. No artesanato, são referencias principalmente na produção de louças de argila, bem como na confecção de vestimentas de palha e colares de sementes.
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Tingimento O Povo Pitaguary tem reproduzido conhecimento de confecção de utensílios a base da argila retirada do próprio território Pitaguary. Na feitura das peças em cerâmica os Pitaguary usam o toá, um tipo de barro vermelho para tingir as louças por eles produzidas.
Conhecimentos O Povo Pitaguary é detentor de conhecimentos tradicionais que perpassam várias gerações na arte do trançado em palha e na confecção de artesanato produzidas com sementes nativas existente em seu território. Bolsas e esteiras são expressões da cultura do trançado Pitaguary. O patrimônio cultural da arte de fazer com sementes nativas dão lugar a uma variedade de colares, pulseiras e outras indumentárias por eles produzidas.
Elementos naturais O coco e a madeira são dois elementos que representam a cultura Pitaguary de forma singular. Desses materiais resultam excelentes maracás e esculturas representativas da relação que esse povo tem com a natureza.
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JenipapoKanindé
O
s indígenas Jenipapo-Kanindé residem na Terra Indígena Lagoa da Encantada, numa área de aproximadamente 10 hectares às margens da Lagoa Encantada, região
praiana, situada no Distrito de Jacaúna, no município de AquirazCeará, a cerca de 55 Km de Fortaleza.
A partir de setembro, inicia-se a safra do caju, que tem
especial significado na comunidade, pois dele fazem doces e sucos, além do Mocororó, bebida usada em festividades e durante a
Como meio de sobrevivência, o povo indígena planta mandioca o ano todo e seguem um calendário de colheita de frutos e legumes por épocas do ano: milho, feijão, batatadoce. Os homens fazem artesanato com cipó, e as mulheres tecem rendas.
realização do ritual do Toré.
Entre seus lugares sagrados estão a Barreira, Morro do
Urubu, Riacho da Encantada e a Lagoa da Encantada.
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Identidade Artesanal As sementes, são utilizadas na feitura de colares e pulseiras e no enfeite das vestimentas utilizadas pelos indígenas. Já com o coco e a madeira, o Povo Jenipapo-Kanindé produz uma rica variedade de peças artesanais que historicamente tem sido utilizadas no cotidiano da etnia. Peças decorativas e esculturas esculpidas em troncos de madeira dão vida a identidade artesanal da etnia.
Criatividade
O Povo Jenipapo-Kanindé é conhecido pelas belezas naturais existentes no seu território e pela riqueza na confecção de artesanato. Uma das tipologias bastante trabalhada pelos índios Jenipapo-Kanindé é o artesanato confeccionado a base da palha e sementes.
Patrimônio A presença de peças de barro entre os Jenipapo-Kanindé e o seu uso na rotina da comunidade ainda é notável, por meio de diversos utensílios utilizados por esse povo. Essa tipologia se apresenta como parte do patrimônio do saber histórico da etnia, que tem se utilizado da estratégia da vivência e transmissão de saber para que esses conhecimentos continuem vivos na comunidade.
A criatividade indígena local fazem da palha e do cipó uma das principais matériasprimas existentes no território que são utilizadas na confecção de suas vestimentas e indumentárias.
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Kanindé
O
Povo Kanindé está localizado na Serra de Baturité, nos municípios de Aratuba e Canindé, tendo sua história marcada por um longo processo de migrações forçadas,
e vem mantendo, apesar desta dispersão, laços de parentesco e sociabilidade. Tendo a cultura fortemente marcada pela caça e pelo artesanato.
Com grande tradição em Museologia, em 1996, por
iniciativa de José Maria Pereira dos Santos, mais conhecido por Cacique Sotero, foi aberto à visitação pública o Museu dos
Traço cultural herdado dos ancestrais, a cultura da caça se materializa na existência de diversas armadilhas. A relação de sustentabilidade que o povo indígena mantém com a natureza é ensinada às novas gerações, buscando garantir a permanência da caça para as próximas gerações.
Kanindé, que traz em seu acervo artesanato, cujo trabalho em madeira merece destaque, além de instrumentos de caça e dança, entre outros, constituindo-se em mais uma forma de afirmação étnica do povo Kanindé.
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Esculpir Com o coco e a madeira, o Povo Kanindé consegue produzir uma grande variedade de peças artesanais. Colheres, garfos e conchas são esculpidas em galhos de madeiras retirados da própria mata existente no Território Kanindé. Com o coco são confeccionados anéis e alianças, pequenas peças utilizadas em colares e esculturas de animais existentes na região.
Matéria-prima
Ceramistas
O Povo Kanindé, por habitar uma área serrana e de encosta possui uma rica variedade de sementes nativas. É dessa matéria-prima que diversos artesãos confeccionam adornos e outras peças. Dentre elas destacam-se os colares e pulseiras. Já na confecção de artesanatos feito com a palha, a etnia manifesta uma variedade de conhecimentos, especialmente na confecção de chapéus e trançados. Por conta da escassez dessa matéria-prima, as comunidades adquirem a maior parte desse material fora de seu território por meio da compra ou sistemas de trocas.
O Povo Kanindé é tradicionalmente um povo conhecedor da arte em cerâmica. Por conta de interferências externas esse conhecimento vinha sendo desvalorizado, mas as experiências das oficinas realizadas ajudaram a revitalizar esse “saber”. A delicadeza no trato com a argila dão formas a um vasto patrimônio. Alguidares, potes, jarros e panelas surgem da imaginação de seus artesões ceramistas que protagonizam saberes tradicionais desde a coleta do barro até a arte do “assar” as peças e de decorá-las quando prontas.
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Este CatĂĄlogo nĂŁo pode ser usado para fins comerciais.
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