pequeno mapa noturno

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mateus magalhaes

pequeno mapa noturno

754zines



para karen e borges ─ nas horas mais escuras da noite


pequeno mapa noturno mateus magalhĂŁes


I


O amor é a coisa menos importante. Coco Chanel & curaçau blue: cabeças, copos e calças jeans; tudo isso vale mais.


Seus vampiros de merda, o mundo ainda vai acabar com vocês, cuzões. Os centros das cidades só têm prédios ridículos, à parte da respiração dos transeuntes, que se levantam com esforço nas manhãs de domingo, com suas calois vermelhas e pretas de alumínio, sonhando com a Garça Torta & seus altos caldos, com construções toscas de ferro na beira da praia, com as meias garrafas de vinho que sobravam, com a embriaguez antes do pôr do sol, com a possibilidade de terem se transformado em canalhas, com a plenária do partido, com o sono que não vem, com os quinze dias sem escrever poesia,


com o caos instaurado na regiĂŁo

metropolitana ─

sonhando nos becos,

bebendo soda italiana.


II


Ei, docinho ─ te encontro mais tarde, já no meio do balanço. À noite, a cidade se esponjeia e se encaixa numa avenida.


Dance, docinho ─ mas lembre: guarde seu suor pra mim. Desculpe o atraso e não se esqueça que eu gosto das coisas assim.



III


No inferninho ─ que medo eu senti ao ver você sozinha, usando ketamina atrás da pilastra, com as mãos cortadas: acho que você ficou presa no banheiro.


Depois de uma dose violenta, você se desencostou da pilastra e começou a caminhar através dos restos humanos e da decoração de plástico embebida no filtro azul que com leveza dominava o ambiente.


No fim das contas, você me olhou nos olhos ─ e as luzes estavam piscando.


IV


A parotia ocidental é um belo pássaro-do-paraíso de Papua-Nova Guiné. Os machos têm peitorais com plumagens iridescentes & plumas negras alongadas.


As baratas neotropicais das florestas chuvosas das Guianas são azuis como o céu. Nas selvas da China, alguns crocodilos têm a cor laranja e não são maiores que um teiú;


nos oceanos mais quentes do mundo, algumas águas-vivas têm dois metros e brilham à noite, iluminando um raio de quilômetros;


alguns pardais são grandes como falcões; sua observação, apesar disso, é complicada ─ não é só na avenida Amélia Rosa que eu te posso ver dançar embriagada.



V


VocĂŞ ─ e essa sua mania de ser chique: blusa de veludo preta no bar, nome duplo, copo comprido, Maria Bethânia.


Seu rosto justifica o

instante ─ o amor Ê a coisa menos importante.


mateus magalhães nasceu em maceió, alagoas, na segunda metade dos anos 90. é autor dos livros “quem tabelar com toni ganha um fusca” (2015) e “malu e a bagaceira” (2017). idealizou a 754zines e gosta de beber soda italiana nas noites de sexta-feira.


escrito, diagramado, editado, jogado no lixo, recuperado, escrito, diagramado e editado outra vez por mateus magalhĂŁes foto da capa por mateus santana 754ZINES jan/2017 1ÂŞ ed.


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