Trabalho final de graduação_Espaço I.N.E.S.

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EspaCo I.N.E.S. A falta de qualidade dos espaços públicos existentes, somados à massificação dos meios de comunicação, internet, jogos eletrônicos opções alienadoras de lazer - tem tirado as pessoas da permanência nos espaços comuns. O projeto parte da proposta de propiciar um espaço público de qualidade para minha cidade natal, Cocalzinho de Goiás. O espaço I.N.E.S, espaço de Incentivo a Novas Experiências Sociais, é pensado como meio fortalecedor de vínculos, um ambiente que seja o cenário de uma vivência urbana e estimulo a comunidade para experiências fora dos muros. O programa é estruturado a partir das atividades existentes no município, onde em meio ao espaço público soma-se paisagem com atividades de lazer e cultura. Assim, potencializar-se-á convivência, troca de experiências entre as gerações, cidadania, criará uma centralidade na malha urbana com o enfoque nas relações entre pessoas, memórias, paisagem, cultura e lazer. O usuário é agente ativo, compõe o espaço, ele o vinvencia e constrói experiências. O projeto ganha significado segundo suas memórias.

Autor:

Wesley de Oliveira Silva Orientador:

Alexandre Ribeiro Gonçalves


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As minhas memórias mais doces são: o aconchego da simplicidade, a temperatura de um abraço e a singularidade de suaves mãos moldadas com tempo. As lembranças que vovó dividiu conosco ( as festas no sítio; as romarias; as histórias de seus irmãos na banda municipal 3 de Maio) bem como as experiências q u e e l a n o s p ro p o rci o n o u ( co nv e rs a s n o p re p a ro d e pamonhas ou biscoitos de queijo e ainda as dicas no cultivo do jardim) me proporcionaram uma interpretação sensível ao lugar. Ainda que estas memórias sejam pessoais, elas foram o princípio ao pensar em espaço acolhedor e de interação, assim como uma varanda que se recebe uma família. Também ao pensar troca de experiências, assim como os causos de Inês.

InEs

de Assis Oliveira

in memorium

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Memória

Muito tem-se discutido o termo memória em arquitetura e urbanismo. Geralmente este conceito é relacionado ao objeto urbano-arquitetônico - edifícios, conjunto, largo, traçado - com abordagem histórica, ou, ainda, na recorrente produção museológica: museu do pão, museu da diversidade sexual, museu do t ra b a lh o , m u s e u d o m e i o ambiente, museu do chocolate, entre tantos outros títulos, onde a memória não está nos edifícios, e sim nos objetos que os ocupam. Neste trabalho memória é abordada em seu sentido de lembrança, raiz. Para Pollak (1992, p.5 )"memória é um elemento constituinte do sentimento de identidade, tanto individual quanto coletiva". Assim, a preocupação não é a preservação da memória intrínseca em um objeto existente, mas sim com interpretações de elementos condicionantes do projeto urbano-arquitetônico para a preservação de atividades, hábitos e tradições locais. Segundo Pollak: Esses três critérios, acontecimentos, personagens e

Ruínas das primeiras instalações da Cimentos Itaú Fonte: Autor

Parte em Funcionamento da Fábrica de cimentos, atualmente pertence ao Grupo Lafarge Fonte: Autor

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lugares, conhecidos direta ou in d ireta m e n t e , p o d e m obviamente dizer respeito a acontecimentos, personag e n s e lu g a re s re a i s , empiricamente fundados em fatos concretos. Mas pode se tratar também da projeção de outros eventos [. . .] A memória é, em parte herdada, não se refere apenas à vida física da pessoa. A memória também sofre flutuações que são função do momento em que ela é articulada, em que ela e s tá s e n d o e x p re s s a . (POLLAK, 1992, p. 3 e 4)

Considerando esse "poder de alcance" da memória por entre as gerações, além da construção da identidade individual ou coletiva, ela é um fator unificador. Percebe-se sua importância na aproximação de pessoas, não fisicamente mas sim ideologicamente. O indivíduo sente-se parte d a co m u nid a d e . N a u r b e , re p re s e n ta s e n t im e n to d e pertencimento ao lugar. Assim, preservar a memória, seja por meio dos hábitos e tradições locais ou por significados no espaço, é congregar pessoas, manter o espírito de vizinhança.


A compreensão da memória em questão está diretamente relacionada à história de ocupação da cidade. Cocalzinho teve origem nas margens do córrego Cocal, eram pontos de descanso e pouso para tropeiros. Por volta de 1960 com o surgimento da fábrica de cimentos Itaú, vinculada ao grupo Votorantim, margeando a BR 070 caminho para a capital federal em construção, inicia o núcleo populacional da cidade. Os trabalhadores e suas famílias se instalaram em residências de madeira cedidas pela fábrica compondo uma vila de operários. Ainda propriedades da Cimentos Itaú: uma vila de residências (ainda existente) mais sofisticadas para os empregados de altos cargos, uma escola de ensino fundamental para os filhos dos funcionários (atual grêmio Lafarge) e um hotel (hoje atual prefeitura) para trabalhadores de outras localidades. A facilidade de emprego e o apoio a moradia estimularam o núcleo populacional que dá início ao município, em grande maioria são pessoas de origens no campo,

trocaram as suas ferramentas de cultivo da terra para maquinários industriais. Aprenderam o ofício na prática de suas novas funções. Sendo assim, destacam-se memórias vinculadas à vida no campo. Essas, revelam-se nos hábitos das primeiras gerações. É comum o cultivo de hortaliças, arvores frutíferas, criação de animais como galinhas, cocás no fundo dos quintais; ou ainda nas tradições da sociedade que através das gerações são transmitidas por gerações. Nos quintais o galinheiro dá lugar para uma cozinha com fogão á lenha e uma varanda, espaço para famílias e amigos reunirem-se na produção de pamonhas, de engrossado com angu, galopé, frango caipira com gueiroba, arroz com pequi entre outros pratos típicos. A preservação dos traços rurais também aparecem nas expressões artísticas e cultura popular. Justificam por serem memórias de uma população que outrora, teve uma vida campestre, e inseriu em um contexto fabril, contexto onde

a identidade individual é ameaçada por uma sociedade de massa adversa. Exemplifica a filosofia do historiador e teórico artístico alemão Wilhelm Worringer (18811965) que no início do século XX, em sua publicação " Abstraction and Empathy: Essays in the Psychology of Style", apresenta uma justificativa sobre as escolhas artísticas: as pessoas e sociedades identificam com a aquilo que sentem a falta, sendo uma re p re s e n ta çã o o p o s ta d a realidade.

Ruínas da Capela Santa Teresinha, implantada na Vila dos operários Fonte: Autor

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A memória não é reviver, mas refazer, repensar, com imagens e ideais de hoje, as experiências do passado (BOSI, 1994)

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Cultura e Lazer

A cultura local é caracterizada pelo viés rural e pela influência católica, revelada nas tradicionais festas e atividades de expressão popular, tais como folias, festas de fogueira, festa da rapadura, cavalgada, alvorada, entre outros. São momentos esporádicos de manifestação religiosa e lazer.

Folia do Divino Espirito Santo Tradição na cidade, a Festa do Divino Espírito Santo há anos vem fazendo parte da cultura local. São dezenas de cavaleiros que percorrem cerca de nove fazendas levando a bandeira do Divino Espírito Santo que, segundo o catolicismo, representa a t e rce ira p e s s o a d a S a n t í s s im a Tr in d a d e . N a s fazendas visitadas são oferecidas a alimentação que é bastante conhecida por sua fartura, e o espaço para festividades e descanso para o percurso do próximo dia. Assim acontece o Pouso de Folia como também é conhecido.

Alvorada de abertura da festa em louvor a Santo Antônio foto: TvGirassol disponível em: http://www.tvgirassol. com.br/

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Folia do Divino Pai Eterno A Folia do Divino Pai Eterno a co n t e ce n a zo n a u r b a n a , entretanto possui o mesmo objetivo: levar as bênçãos de Deus, representado por uma pomba ilustrada em uma bandeira, sobre as casas que os recebem. Não acontece o “pouso”. Os foliões dormem em suas próprias casas, mas quanto a farta refeição, essa não falta. Sempre se inicia após a Folia do Divino Espírito Santo.

Festa de fogueira Como principal exemplar na cidade, tem-se a festa em louvor a Santo Antônio, que acontece no mês de junho, junto com as festas em louvor a São João Batista e São Pedro. São as festas juninas ou popularmente conhecidas como festas de fogueira. Nas escolas, também acontecem os “arraiás”, sem manifestações religiosas. As festividades são momentos de lazer, interação entre as famílias dos alunos, com decoração e comidas típicas, além da caracterização de caboclo para a dança da quadrilha.


Festa da Rapadura Implantada no município em 2002, as festividades celebram as produções locais em agricultura, em especial a cana-de-açúcar e seus derivados - rapadura, açucar de fôrma, melaço e a pinga de alambique. Durante a festa expõem-se o processo tradicional de fabricação e os produtos finais. Também acontecem apresentações musicais, catira, e concursos, onde se elege o maior comedor de rapadura do centro oeste goiano.

Arraiá na Escola Municipal Modelo foto: Wesley Correia e Luciano Maria disponível em: http://www.agitacocal.com/

Festa da cidade Acontece em julho, mês do aniversário de Cocalzinho. Com quase uma semana de festa a programação é bem diversificada, com shows, desfile cívico, cavalgada,, alvorada e outros.

Arraiá na Escola Municipal Modelo foto: Wesley Correia e Luciano Maria disponível em: http://www.agitacocal.com/

Alvoradas São Apresentação musicais da Banda Três de Julho ao longo das ruas, com início às 5:00h. A apresentação tem o objetivo de começar o dia festivamente, marcando início das celebrações do Aniverssário da Cidade e também na festa em louvor a Santo Antônio. Junto aos primeiros raios de sol, pela cidade soa clássicos da música sertaneja, musica popular brasileira e dobrados militares.

Carnaval Geração de ouro 2014. Foto: Prefeitura Municipal de Coalzinho de Goiás disponível em: http://www.cocalzinho.com. br/

Geração de ouro É o grupo da terceira idade organizado pela Assistência Social, o grupo é incentivado a práticas de exercícios, lazer, artesanatos e festas com danças em especial forró. Caracteriza-se assim a cultura popular cocalzinhense. A importância destas festividades está em que: preservam memórias relacionadas vida no campo, e hoje são tradições fragilizadas pelos ideais difundidos nos meios de comunicação de massa, ideais esses marcados globalização e massificação cultural bem como alienação consumista.

Folia do Divino Espirito Santo foto: Wesley Correia e Luciano Maria disponível em: http://www.agitacocal.com/

Almoço na Folia foto: Wesley Correia e Luciano Maria disponível em: http://www.agitacocal.com/

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Tempo

Livre

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Ao abordar tempo livre, é essencial citar o período industrial, quando a classe operária, inclusive crianças, eram submetidas a exaustivas jornadas de trabalho em condições subumanas. Ao longo do tempo com a força sindical, direitos trabalhistas foram conquistados como férias, redução da jornada de trabalho. Gradativamente o homem pósliberal conquistou seu tempo livre. No modernismo, o tempo ocioso era pensado como essencial para a construção do indivíduo. A carta de Atenas destacava as principais funções na cidade: habitar, trabalhar, circular e recrear. Assim como os conjuntos de habitação, os espaços culturais e recreativos fizeram parte do repertório arquitetônico do período moderno, como por exemplo a Casa do Baile, o Cassino, o Iate Clube (1940/44) de Oscar Niemeyer em belo Horizonte; o Jóquei clube (1962) de Paulo Mendes da Rocha em Goiânia e o Sesc Pompéia (1986) de Lina Bobardi em São Paulo.

e n e rg i a s f í s i ca s p a ra s e r produtivo no dia seguinte. Além de criar o desejo de consumir mais, e consequentemente a necessidade de se trabalhar mais e mais. É um ciclo alienador que usa da busca do homem pela felicidade e impõe a idéia do "ter em vez de ser". O shopping center como um objeto icônico do capitalismo exemplifica a influência do sistema sobre o tempo livre. É um espaço de vendas, que usam-se o cinema como elemento de arte e lazer para atrair consumidores. Os cinemas que anteriormente tinham espaços na cidade exclusivos para apresentação de longas metragens, produções críticas com grande importância artística. Hoje os estúdios de Hollywood vendem uma cultura globalizada e predominantem e n t e u m in s t r u m e n to d e manipulação. Percebe-se essa diferença nos filmes tanto pelos temas abordados, como pela velocidade em que a trama desenrola, no primeiro caso é mais lenta, com espaços de tempo em que o espectador pensava, interpretava as idéias. Atualmente diante da rapidez em que as cenas revelam o enredo, o usuário tende a ser inativo e alienado.

Atualmente, a massificação dos meios de comunicação vendem um modelo de felicidade. A televisão, o rádio, o cinema, a revista e recentemente a internet são opções de eficientes artifícios de influência ideológica e estímulo consumista. O tempo ocioso que deveria ser de valorização da A arte como um bem de pessoa e oportunidade de consumo desenvolvimento como ser, percebe-se hoje que não passa No Pós-guerras, dois professores de momento para repor as da escola de Frankfurt, Adorno

e Horkheimer, usam o termo Indústria Cultural para a abordagem da arte na sociedade capitalista industrial. A arte e cultura passam a ser pensadas como bens de consumo, seja música, cinema ou imagens, caracterizam-se por não ser n e ce s s á r i o u m e s fo rço d e interpretação nem um senso crítico do usuário, que passa a agir passivamente. Adorno e Horkheimer também referiram-se ao uso da arte erudita como elemento agregador de valor a um bem produzido em série, a arte erudita é usada como elemento de estímulo ao consumo, e perde seu valor genuíno.

O ócio O ócio é um motivador do pensamento crítico, assim como o exercício de interpretar um objeto ou expressão artística, seja erudita ou popular, diferente dos exemplares massificadamente comercializados. Admirar a arte e cultura local é valorizar o indivíduo. É deixar a alma sensível á dimensão humana. O tempo livre é indispensável para o desenvolvimento individual e coletivo:. é através das práticas do tempo livre, das crianças e dos adolescentes que poderemos compreender seu modo de inserção social, suas dificuldades, seus desejos, suas aspirações ou suas confusões (DUMAZEDIER, 1994 apud SANTOS, 2008, p.5)

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Lugar Município de Cocalzinho de Goiás e municípios no contexto geográfico e econômico na região de entorno de Distrito Federal-RIDE, Fonte: Plano Diretor, 2004 edição: autor Município Cocalzinho de Goiás

Brasília

Localização Cocalzinho de Goiás localiza-se na porção centro do estado, a noroeste do Distrito Federal. Pela proximidade da Capital Federal e o impacto da mesma na região, Cocalzinho de Goiás junto a outros 22 municípios compõem a Região Integrada do Desenvolvimento de Entorno do Distrito Federal - RIDE.

Evolução Urbana Município de Cocalzinho de Goiás destaque das áreas urbanas Fonte: Plano Diretor, 2004 Município Cocalzinho de Goiás Cidade Cocalzinho de Goiás Distritos Edilândia e Girassol

Perímetro urbano de Cocalzinho de Goiás Fonte: Autor Perímetro urbano Fabrica de Cimentos BR 070 Rio Corumbá

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A cidade cresceu de forma espontânea, como resposta direta em trabalhar (na indústria de cimento) e residir próximo, os operários ocuparam o vilarejo, enquanto do lado oposto da BR, instalaram unidades comerciais, mercearia, padaria, loja de roupas e calçados com as respectivas residências dos proprietários. A expansão da cidade foi margeando a BR, que somando ao rio Corumbá como um limite natural, resultou na forma alongada do município paralela a BR. A cidade, até então distrito da centenária Corumbá de Goiás,


em 1993 é efetivamente emancipada, segundo a lei Lei 11.262, que dispunha sobre a criação do Município de Cocalzinho de Goiás, tendo sua publicação ocorrida em 10 de julho de 1990. Com a falta de um planejamento urbano, a cidade cresceu com deficiências em infra estrutura como drenagem e esgoto e a falta de espaços públicos de qualidade. As edificações sempre foram pensadas de forma utilitaristas, formas resultantes de um pensamento empírico, em especial as de uso residencial, resultando em formas simples, predominantemente, um recuo frontal de 3 metros, o volume centralizado na largura do lote, e ao fundo quintal, a edificação, telhado duas águas com duas aberturas simétricas na elevação frontal, cumereira perpendicular à rua e marca a circulação interna divide os setores, íntimo (dormitórios) e social (sala, copa e cozinha) opondo a um uma lateral anexa-se a garagem com o mesmo caimento de uma das águas.

Esgoto a céu aberto em rua sem pavimentação no entorno. Fonte: Autor Paisagem do entorno, ao fundo: Parque Serra dos Pirineus. Em primeiro plano: destaque na forma simples de duas águas predominante nas residências do entorno. Fonte: Autor

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Paisagem Cocalzinho apresenta paisagem u r b a niza d a co m o cu p a çã o predominantemente de um pavimento e residencial, salvo, uso misto e comercial ao longo das avenidas Três de Julho e Avenida Comercial. Porém, resquícios de uma vida rural revelados em hábitos como criação de animais, junto com a paisagem natural garantem ao município uma atmosfera bulcólica. No território do município localizase parte do parque Serra dos Pirineus. O parque tem área de 2.833,26 hectares, ele abrange além de Cocalzinho os Municípios de Pirenópolis e Corumbá de Goiás. Trata-se da maior serra da Bacia do Tocantins e do Rio Paraná. O Pico dos Pireneus tem 1.380 metros de altitude e segundo os antigos fazendeiros d a re g i ã o , a e q uip e q u e desbravou o cerrado para a escolha área da capital federal foi no morro dos Pirineus que avistaram o planalto Central.

Informações geográficas Censo de 2010. População estimada: 18.871 População 2010: 17. 407 Área territorial ( Km²): 1789,039 Densidade demográfica hab/ km²: 9,73

f.1 a F.2 - Contraste na Paisagem do entorno imediato. Imagens tiradas ao longo do passeio público no perímetro do terreno. Fonte: Autor

Paisagem do entorno, ao fundo: Parque Serra dos Pirineus.

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3

Av. 03 de Julho pelo predominância do uso comercial, esta via local tem um fluxo intenso.

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Av Comercial - Via Perimetral BR 070 Via dupla de canteiro Central Terreno para projeto Praças ou área verde

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Biblioteca Municipal

1

Escola de música de sede da Banda 03 de Julho

2

Grêmio Recreativo Lafarge

3


O terreno é uma quadra que se destaca no rígido desenho tabuleiro de xadrez. A sua forma triangular é como uma fissura em meio a malha ortogonal. A área está em uma posição central de perímetro urbano de uma cidade carente de áreas públicas. O terreno é geograficamente estratégico: foge da linearidade imposta pela rodovia e dialoga com as ruas. Ele tem acesso principal pela Aveniva São Paulo, uma das quatro vias duplas de canteiro central na cidade. A quadra compre ende dois equipamentos públicos: um Centro de Educação infantil e a rodoviária em e lotes residenciais, atualmente subutilizados com lava-jato desativados. A área de intervenção é toda a quadra com exceção do Centro de Ensino Infantil. A rodoviária será relocada e inserida no projeto. Os lotes somam 8.349 m², com caimento natural do terreno de 12m ao longo do eixo longitudinal de 220 m.

75. 8m

Terreno

20 7.8 m

220.4m

0 50 100

200

Panorâmica do entorno fonte: autor

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Diretizes para intervenção urbana Na malha ortogonal há um eixo diagonal que a rompe e garante a forma triangular do terreno. E uma via pública sem pavimentação. Conecta o terreno a duas áreas verdes de propriedade municipal, um campo de futebol em construção e ao Rio Corumbá. O rio que é opção de lazer para a população, tem sua margem em processo erosivo e consequente assoreamento de seu leito. A mais de seis anos percebe-se esse impacto ambiental. Dessa forma, percebe-se a área em estudo como um cenário de intervenção urbana. Tem-se como diretrizes: recuperação da margem do rio, criação de um parque linear que potencialize o fluxo de pedestres e ciclistas e conecte os equipamentos levantados com o que será proposto neste projeto. Assim tem-se o eixo demarcado como requalificador do espaço urbano.

Erosão as margens do rio Corumbá Fonte: Autor Moradores jogam lixo doméstico e entulhos de obras na cratera Fonte: Autor Assoreamento do rio Corumbá Fonte: Autor

1

2

Terreno para projeto Praças ou área verde Área em processo erosivo

1 Centro de Ensino Infantil 2 Rodoviária Eixo de conexão

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0

50

100

200


Espaรงo I.N.E.S 125


Atendimento/Informação 13,00 m² Salas de estudo prático 120,00m² Salas de estudo individual 80,00m² Salas de estudo teórico 65,00m² Ensaio geral 75,00m² WC's 40,00m²

Escola de Música

Administração

E P

Sala dos professores 14,00 m² Direção 13,00 m² Copa 10,00 m² Depósito 30,00 m² Carga/Descarga 12,00 m² Elevador de carga 6,00 m²

Rodoviária 357,00m² Pátio de manobras 681,00 m² Copa 13,00m² WC 26,00m² Administrativo 13,00m² Bilheteria 13,00m²

Rodoviária

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Pá Pá Co W Ar

Guarda Volume 15m² Atendimento 50,00m² Acervo 528 m² Estudo em grupo 27m² Restauro, encadernação, homologação 23,00m² Direção 13,00m² Copa 13,00m²

Biblioteca

Foyer 228,00m² Auditório 400,00m² Palco 89,00m² Coxia 92,00m² Camarim 27,00m² WC 30,00m²

Auditório, foyer e camarim

Ca W Co Pra

E P


Programa

átio coberto 808,00 m² átio aberto 428 m² ozinha para festas 48,00m² WC's 30,00m² rquibancada 327,00m²

Espaço público Praça coberta

afé e Mirante 855,00m² WC 30,00 ozinha 48,00 aça aberta 2.533,00,00m²

No local em estudo percebe-se a necessidade de um espaço de uso coletivo capaz de estimular a vivência urbana, propondo atividades para o tempo livre da comunidade. O programa é definido de forma a condensar as atividades relacionadas a cultura e lazer presentes no município e que carecem de espaços físicos adequados. Assim, criará uma centralidade na malha urbana com enfoque no espaço público. As atividades levantadas para o projeto são: ensino, ensaio e apresentações da escola de música de instrumentos de sopro (Banda Municipal 03 de Julho), de cordas ( Orquestra Sinfonia das Águas) e de percursão (Fanfarra); as confraternizações do grupo Geração de Ouro, atividades comemorativas escolares, bem como outras atividades festivas de cunho social. O O programa contempla também um novo espaço para a biblioteca Municipal. A fim potencializar o princípio de vivência urbana, em meio ao espaço público -pensado como praçaspropõe cinema aberto/anfiteatro, mirante e café. No terreno, está implantada a Rodoviária, de pequeno porte com três vagas de ônibus, ela é deslocada e insere no projeto, de forma que os usos se relacionem de forma positiva.

Espaço público Praça aberta Espaço I.N.E.S 127



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O Projeto Chamado de Espaço de Incentivo à Novas Experiências Sociais, carinhosamente, Espaço I.N.E.S, o projeto é um condensador de equipamentos públicos, acolhe as atividades existentes relacionadas a cultura e lazer porém carentes de qualidade espacial e pulverizadas na cidade. O terreno é estratégicamente localizado e pensado como uma

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sobreposição de espaços públicos, livre e abertos. O programa é disposto entre esses espaços de usos coletivos a fim de criar uma nova centralidade na malha urbana, estímulo de experiências que somam: memórias, vivência urbana, democratização e paisagem Configura-se assim um ‘‘Centro de permanência e vitalidade’’, termo usado por Ally (2010) para lugares


croquis de relação paisagem espaço publico e programa

de significados culturais representativos, na qual ressalta que sua inexistência na malha urbana, somadas as discordâncias na paisagem construída e questões funcionais resultam na, chamada por ele, cidade desconexa. O sítio apresenta como potencialidade a paisagem natural. Os primeiros estudos foram as relações do espaço público, progra-

ma, paisagem natural e construída. Buscou-se livrar o campo visual e ganhar caráter contemplativo, bem como o respeito a escala urbana. Partiu-se em explorar o campo visual sendo o princípio para relacionar pessoas e paisagem. O programa distribuiu-se explorando a topografia, em cotas inferiores ao acesso principal.

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PARTIDO A forma inicia com a criação do plano na cota topográfica mais alta do terreno. Este nível é destinado a contemplação da paisagem, loca-se o café, mirante e a praça. Em um ponto intermediário horizontal e verticalmente tem-se o acesso ao pátio de feiras e festas, arquibancada para apresentações e cinema, a escola de música e administração. Eleva-se o volume para liberar o campo de visão do pátio para a paisagem. Cria-se um terceiro nível de conexão com o Centro de Ensino Infantil. Neste pavimento, dispõe-se biblioteca, auditório, cota inferior da arquibancada e a rodoviária. As circulações horizontal e vertical é pensado de forma a conduzir os usuários a diferentes percepções do edifício, enquanto este enquadra a paisagem. A circulação junto com os pátios internos integram os níveis, usos, e pessoas.

Campo de Visão Circulação

Praça aberta

café Praça coberta

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Centro Municipal de Ensino infantil Paulo Freire - Existente Biblioteca Auditório Escola de Música anfiteatro/cinema Rodoviária


A FORMA A forma é resultante da apropriação do lugar como resposta à problemática urbana, bem como é moldada pela leitura da paisagem. Nesse sentido, a forma, como um objeto na cidade, é estranha e incomum do ponto de v i s ta d a h o m o g e n e id a d e volumétrica. Segundo Venturi: O principal trabalho do arquiteto é a organização de um todo único através das partes convencionais e judiciosa introdução de novas partes quando as antigas não bastarem. A psicologia de Gestalt afirma que o contexto contribui para o significado de uma parte e a mudança no contexto causa mudança no significado. Assim o arquiteto, através da organização das partes, cria-lhes contextos significativos dentro de um todo [...] as coisas familiares vistas num contexto não familiar tornam-se perceptivamente novas, assim como perceptivamente velhas [...] antigos lugres-comuns em novos

co n t ex to s a d q uire m r i co s significados que são ambiguamente velhos e novos, banais e brilhantes. (VENTURI, 2004, p. 48 e 49)

Sendo uma forma nova na paisagem, e seus conseqüentes contextos significativos; o entrar, uso e permanência do usuário no espaço está relacionado ao sentimento de empatia e familiaridade. Considera-se assim, que a apropriação do espaço é subordinada a questões psicológicas. Chama-se atenção para as interpretações fisiopsicológicas da arquitetura. O espaço é passível de interpretações, o usuário mais uma vez é agente formador do lugar, agora em uma dimensão psicológica. A espacialidade será concluída segundo suas experiências e memórias.

A forma do edifício que impacta na paisagem é o cheio que avança elevando-se sob o nível da praça aberta. Plasticamente repousa sobre uma base, que está incrustada na topografia. Ambos ganham significados por suas respectivas materialidades.

topografia o volume é como uma sobrepõe o anterior. Ele é como as rocha descoberta. pessoas, são elas que realmente As duas formas e matérias caracterizam a cidade. Em permitem um caráter metafórico Cocalzinho não predomina o ao edifício de interpretação de aspecto fabril, destacam as Cocalzinho. O volume inferior é relações de vizinhança e a frio e rígido, são como as bases de simplicidade do campo. As pessoas início da cidade: a indústria de são o principal elemento de O volume suspenso sobre a base cimentos. O volume superior é formação do lugar. procura estabelecer uma relação quente, solto, leve, fluído e com a arquitetura vernacular. Dessa forma, o material não faz referencia ao entorno imediato. A relação é com os resquícios de vida rural presentes na cultura local e no cotidiano dos moradores, especialmente nas primeiras gerações. a materialidade para este volume são blocos cerâmicos, eles fazem referência ao adobe, ao tom de terra cota presente nos telhados cerâmicos e a própria terra. A base é em concreto aparente. Com sua inserção na

PROCESSO

Espaço I.N.E.S 133






INSERSAO URBANa Em entrevistas, jovens e adultos relataram que a rua foi o principal espaço para lazer durante infância em Cocalzinho. Crianças da vizinhança reuniam-se nas tardes para divertirem com b r in ca d e ira s co m o p i q u e esconde, pique-pegue, bolinhas de gude, queimada, brincadeiras de roda, entre outros. Estes foram as opções de diversão para muitos. Ainda na rua, acontecem a feira, desfiles cívicos, as tradicionais alvoradas,

138 Wesley de Oliveira Silva

a festa do Santo Padroeiro, procissões religiosas e outros. Assim, a rua além de circulação é ce n á r i o d e m a ni fe s ta çõ e s culturais e opção de lazer. Com o aumentos dos veículos motorizad o s , a t u a lm e n t e q u a l q u e r atividade a ser realizada nas vias públicas é necessário o acompanhamento de viaturas da polícia municipal. Tendo tal elemento de significado para as tradições locais e lazer, e também a exemplo de Lina no

projeto do Sesc Pompéia que preserva o eixo de circulação como uma rua de pedestres, a rua entra no Espaço I.N.E.S. O eixo de intervenção urbana cruza o terreno e define um percurso em rampa nos pátios do edifício. O eixo gera fluxo de pedestres e ciclistas, parte da avenida São Paulo para o parque . Traz-se a rua como um elemento carregado de significados, e de conexão entre cidade, espaço público, programa e parque.


Espaรงo I.N.E.S 139


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3 1

2

NÍVEL 11.0 1- Cozinha 2- Café/Mirante 3-Wcs.

Espaço I.N.E.S 141


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4

Nร VEL 9.00 4- Praรงa aberta

Espaรงo I.N.E.S 143


7 6

NÍVEL 6.00 5- Pátio coberto 6- Cozinha para festas 7- WC's 8- Atendimento/Informação 9- Salas de estudo prático 10- Salas de estudo individual 11- Salas de estudo teórico 12- Ensaio geral 13- Sala dos professores 14- Direção 15- Copa 16- Depósito 17- Carga/Descarga 18- Elevador de carga

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NÍVEL 0.00 19-Coxia 20-Auditorio 21-Foyer 22-Camarins 23-Copa 24-Direção

25-Homologação/restauro 26-Acervo 27-Leitura 28-Sala de estudo em grupo 29-Atendimento 30-Guarda volume 31-Palco arquibancada 32- Rodoviário 33-Copa 34-Wcs.

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REFERENCIAS

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BOAVENTURA, Carolina R. Encontro e Memória, o Centro de Goiânia e o Jóquei Clube. 2013. 281 p. Trabalho final de graduação Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Paulo. Cocalzinho de Goiás. Geo Lógica - consultoria ambiental. Plano Diretor de Cocalzinho de Goiás. Disponível em: http://www2.seplan.go.gov.br/seplan. Acesso em: set/2014 D o cu m etá r i o a rq ui t et u r a d a fe li c id a d e - a ce s s a d o e m 3 0 d e a g o s to d e 2 014 , n o link : https://www.youtube.com/watch?v=GlTLs1MKtiI DUART, Cristine; PINHEIRO, Ethel. Esquecimento e reconstrução, Memória e experiência na arquitetura da cidade. Arquiteturarevista, v.4, n. 1 p.70-86, jan/jun 2008. FERRAZ, Marcelo Carvalho, Arquitetura conversável. Rio de Janeiro: beco do Azougue, 2011. FERREIRA, Paulo Emilio Buarque. Apropriação Do Espaço Urbano E As Políticas De Intervenção Urbana E Habitacional No Centro De São Paulo. Tese (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) Universidade De São Paulo-Faculdade De Arquitetura E Urbanismo, São Paulo, 2007 IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Disponível em:< http://www.cidades.ibge.gov.br> . Acesso em: 15 jun. 2015. LEITE, Carlos.; AWAD Juliana C. Marques. Cidades Sustentáveis Cidades Inteligentes: desenvolvimento sustentável num planeta urbano. Porto Alegre: Ed. Bookman, 2012. POLLAK, Michael. Memória e Identidade Social. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, v.5, n. 10, p. 200-212, 1992. Disponível em: <http://reviravoltadesign.com/>. Acesso em: 13 jun. 2015 VENTURI, Robert. Complexidade e Contradição em Arquitetura, São Paulo: Ed. Martins Fontes, 1995, pp.3

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