NE negócios&empresas

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MAIO 2013 - N.º1 - ISSN: 2182-925X

ENTREVISTA Ricardo Reis reflecte sobre a qualidade de gestão e a forma de encorajar o investimento

REPORTAGEM Sicasal, a empresa do “pelotão da frente” da indústria de carnes em Portugal

A OPINIÃO DE JOÃO SALGUEIRO, ANTÓNIO ANDRADE TAVARES E NELSON DE SOUZA

PROGRAMA “Portugal Sou Eu” promove a valorização de produtos produzidos em Portugal

negócios&empresas DOSSIER. Economistas

de universidades dos EUA: um olhar desapaixonado sobre os desafios da economia portuguesa SÉRGIO REBELO

KELLOGG SCHOOL OF MANAGEMENT

LUÍS CABRAL

NEW YORK UNIVERSITY

RICARDO REIS

COLUMBIA UNIVERSITY



EDITORIAL

JOSÉ EDUARDO CARVALHO

PRESIDENTE DA AIP

Esperança de conseguir fazer o impossível

C

om a publicação do primeiro número da revista NEnegócios&empresas, concluiu-se a mudança nos conteúdos e na política comunicacional externa da AIP que se tinha iniciado com o portal, newsletter e resumo diário de imprensa. A revista NEnegócios&empresas não será um instrumento e um meio de divulgação de actividades e acções da AIP, não dará ênfase à sua liderança institucional e tentará afastar-se do estereótipo comunicacional característico do associativismo. O seu conteúdo editorial: l Privilegiará reflexões sobre as áreas económicas e sociais que enquadram a actividade empresarial e as politicas públicas que as condicionam; l Estará parametrizado pelo incremento da competitividade da economia, liberalização dos mercados, fluidez da concorrência, funcionamento do Estado e redução da despesa pública; l Procurará elevar o prestígio, o status e o reconhecimento social da função empresarial e empreendedora; l Centrar-se-á nas preocupações e necessidades das empresas; l Dará destaque às boas práticas de dinâmicas empresariais (exemplos de inovação, redimensionamento empresarial, internacionalização, etc). Neste número, dá-se destaque no dossier à divulgação de um conjunto de ideias, reflexões e análises que Luís Cabral, Ricardo Reis e Sérgio Rebelo fizeram sobre Portugal. Estes proeminentes economistas e professores de universidades americanas, por estarem mais descomprometidos com

a realidade portuguesa, tanto em termos económicos como políticos, dão-nos uma visão mais racional e desapaixonada sobre o que se passa no país. A ideia de que Portugal precisa mais de um choque de selecção do que um choque tecnológico; que o problema de gestão em Portugal está na gestão de recursos humanos; que se deveria ter limpo o sistema bancário em Portugal e Espanha, deixando que alguns bancos tivessem ido à falência e partilhar as perdas com credores e não só com contribuintes; que a correlação entre o risco da dívida soberana e o risco dos bancos só pode ser resolvida com a criação da união bancária; que o tamanho das empresas em Portugal condiciona o aumento da produtividade; que se deveria privilegiar o crescimento das empresas em detrimento do modelo de protecção do emprego; que a margem macro-económica não é grande e por isso deveríamos concentrar os nossos esforços nas acções micro: ênfase nos extremos da nova cadeia de valor, reverse innovation, produção e venda local, adaptação de venda às necessidades dos mercados globalizados; que o mercado laboral já está flexibilizado; que a obsessão pelo défice deve ser substituída pela obsessão pela despesa… são só algumas das reflexões efectuadas por estes economistas. Tal como disse Sérgio Rebelo, temos a consciência que Portugal, neste momento, tem o azar de só ter cartas más para jogar, e o que nos resta é a esperança de conseguir fazer o impossível. Este é o hercúleo desafio que os empresários estão a enfrentar. Oxalá a revista NEnegócios&empresas lhes possa ser útil. MAIO 2013 NE - NEGÓCIOS & EMPRESAS

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SUMÁRIO MAIO 2013

O QUE ELES DISSERAM... /P.48 “Chegar ao final de 2008 com um défice abaixo dos 3% do PIB, equivale a preparar o sector público para viver com menos quatro mil milhões de euros.” Campos e Cunha, Diário Económico,

12/05/2005

BREVES

PROGRAMAS DE APOIO

João Salgueiro, António de Andrade Tavares e Nelson de Souza /P.42

“Portugal Sou Eu” promove a valorização de produtos produzidos em Portugal /P.34

INFORMAÇÃO ECONÓMICA A evolução da competitividade da economia portuguesa

AIP e CPCI assinam acordo para projetos conjuntos na Regeneração Urbana

/P.16

DOSSIER

LUIS CABRAL, RICARDO REIS E SÉRGIO REBELO EXPLICAM OS DESAFIOS DA ECONOMIA PORTUGUESA

/P.36

MAIS CULTURA E LAZER Convento da Sertã Hotel. Um refúgio com requinte no meio da natureza /P.50 A nossa escolha para a sua leitura /P.52

EMPRESA EM DESTAQUE Com o “ADN” da Sicasal. Entrevista com Álvaro Santos Silva, presidente da empresa: “Atingir o dobro da produção não é nenhuma utopia”

/P.22

/P.38

ENTREVISTA Ricardo Reis reflecte sobre a qualidade de gestão e a forma de encorajar o investimento /P.10

04 NE- NEGÓCIOS & EMPRESAS MAIO 2013

OPINIÃO

/P.32

Notícias curtas com a atualidade da atividade empresarial / P.06

negócios&empresas

ACTUALIDADE EMPRESAS

Museu de São Roque: um tesouro de Arte Sacra /P.54 Taberna do Alfaiate. Sabores portugueses bem alinhavados /P.56 Vinhos. Olha que dois Pinga Amores! /P.58

Propriedade e edição: Associação Industrial Portuguesa/Câmara de Comércio e Indústria, Praça das Indústrias, 1300-307 Lisboa, Tel: 21 360 10 00, Email: dci@aip.pt, www.aip.pt - Director: João Pedroso; Coordenadora: Manuela Freitas; Redacção: Isabel Pinto e Vitor Cunha; Colaboraram nesta edição: Rui Madaleno e Maria João Quiaios Publicidade: Lourenço Ovídio, Email: lourenco.ovidio@aip.pt, 21 360 10 39; Depósito Legal: 358905/13; ISSN: 2182-925X; Periodicidade: Quadrimestral; Tiragem: 5500 exemplares - DISTRIBUIÇÃO GRATUITA



BREVES ACTIVIDADE EMPRESARIAL

Governo anuncia 50 medidas para dinamizar construção e imobiliário lll O Governo assinou com

a Confederação Portuguesa da Construção e do Imobiliário o Compromisso para a Competitividade Sustentável, que visa a aplicação de 50 medidas. O programa prevê dinamizar o acesso das empresas de construção às linhas de financiamento PME Crescimento. Entre os apoios europeus a Portugal, até ao final da execução do QREN, cerca de 3,7 mil milhões de euros vão ser direcionados para investimentos em infraestruturas e equipamentos de proximidade. O compromisso assenta nos pilares Reconverter, Reorientar e Internacionalizar, e no pagamento de dívidas às construtoras por parte do Estado e das autarquias, das quais 750 milhões de euros já estão contratualizados. Fazem ainda parte do programa projetos destinados à reabilitação urbana, internacionalização e formação profissional.

Atrasos nos pagamentos pagam juros mínimos de 8% lll O Governo aprovou a

transposição de uma diretiva comunitária que obriga o Estado a pagar aos fornecedores em 30 dias e o pagamento de juros de mora nunca inferiores a 8% nos atrasos

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verificados, a que acresce a taxa de juro das principais operações de refinanciamento do Banco Central Europeu, atualmente num mínimo histórico de 0,75%. A diretiva estabelece ainda que as empresas não podem demorar mais de 60 dias a realizar o pagamento. Quando os contratos são entre empresas e entidades públicas, os prazos não devem exceder em regra os 30 dias, podendo no máximo atingir os 60 dias, “desde que tal seja objetivamente justificado pela natureza particular ou pelas características do contrato”.

Ministério da Economia licencia Valleypark lll O Ministério da Economia

emitiu a licença de instalação da Área de Localização Empresarial (ALE) do Cartaxo no dia 26 de dezembro de 2012. O Parque de Negócios do Cartaxo torna-se, assim, na terceira ALE, a par dos Parques de Negócios de Rio Maior e de Torres Novas, a ser licenciado ao abrigo do Decreto Lei n.º 72/2009 de 31 de março. O projeto é gerido pela gestora Valleypark. Todas as operações de compra de lotes beneficiarão de isenção de IMT (Imposto Municipal sobre Transmissões) e isenção de IMI (Imposto Municipal sobre Imóveis) durante um periodo de dez anos.

BdP revê limiar de isenção de 10 mil para 100 mil euros lll O Banco de Portugal (BdP)

aumentou de 10 mil euros para 100 mil euros o limiar de isenção no reporte de operações e posições com o exterior. A isenção deixa de ter efeito para as entidades que, num determinado mês, registem operações acima daquele

33,2% Portugal com maior aumento da carga fiscal na UE entre 2010 e 2011. Portugal registou, entre 2010 e 2011, o maior aumento da carga fiscal, medida pelo peso das receitas fiscais no Produto Interno Bruto (PIB), na União Europeia (UE), segundo dados divulgados pelo Eurostat. De acordo com o gabinete de estatística da UE, a carga fiscal em Portugal aumentou de 31,5% em 2010 para 33,2% em 2011, a maior subida entre os Estados-membros. Na UE, a carga fiscal subiu de 38,3% em 2010 para 38,8% em 2011, enquanto na Zona Euro o aumento foi de 39% para 39,5%. A carga fiscal variou consideravelmente entre os 27 Estados-membros em 2011, oscilando entre 26% na Lituânia e 47,7% na Dinamarca. Segundo o Eurostat, os impostos sobre os rendimentos de trabalho são a principal fonte de receitas fiscais na UE, seguidos pelos impostos sobre o consumo, que representam cerca de um terço do volume limiar. A informação enviada ao BdP é utilizada na compilação das estatísticas da balança de pagamentos e da posição de investimento internacional.

AIP dinamiza 20 candidaturas de empresas ao 7º Programa Quadro lll Cerca de 16 milhões de euros

em 20 projetos de Investigação & Desenvolvimento (I&D) de PME portuguesas foram submetidos ao maior instrumento europeu de apoio à Investigação e

Desenvolvimento - 7º Programa Quadro (7PQ), com o apoio da Associação Industrial Portuguesa (AIP). Os projetos de I&D representam importantes avanços de conhecimento nos domínios das tecnologias, segurança e energia, e vão ser desenvolvidos em parceria com outras entidades de vários estados membros da UE, nomeadamente com PME, Universidades, Entidades Públicas, Laboratórios e Grandes Empresas de referência internacional, sendo que 17 dos 20 projetos de consórcio apoiados pela AIP serão liderados pelas empresas portuguesas. Saiba mais em www.aip.pt.


JANEIRO/MARÇO 2013 NOME DA REVISTA

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BREVES ACTIVIDADE EMPRESARIAL China cria fundo de apoio às empresas portuguesas lll A China criou um fundo

de um bilião de dólares para desenvolver a cooperação com os países de língua portuguesa, comparticipado pelo Banco de Desenvolvimento da China e pelo Fundo de Desenvolvimento Industrial e de Comercialização de Macau. O fundo destina-se exclusivamente a empresas dos países de língua portuguesa e da China (incluindo as da Região Administrativa Especial de Macau), que pretendam desenvolver investimentos em sectores de interesse comum, designadamente construção de infraestruturas, transportes, telecomunicações, energia, agricultura e recursos naturais, entre outros.

Clima económico e confiança mantêm recuperação em abril lll O indicador de clima

económico e o indicador de confiança dos consumidores mantiveram a tendência de recuperação em abril, pelo quarto mês consecutivo, segundo o Instituto Nacional de Estatística (INE). O indicador de confiança dos consumidores, que atingiu um mínimo em dezembro, avançou dos 55,3 pontos negativos registados em março para 54,2 pontos negativos em abril, evidenciando um contributo positivo das perspetivas sobre a evolução da situação financeira das famílias e da situação económica do país e do desemprego. O indicador de clima económico, que se fixou nos -3,9 pontos em março, melhorou para os -3,6 pontos em abril. Nos últimos cinco meses, observou-se um aumento dos indicadores de confiança em todos os setores, indústria transformadora, construção e obras públicas, comércio e serviços.

08 NE- NEGÓCIOS & EMPRESAS MAIO 2013

Produção industrial entra em terreno positivo em março. A produção industrial em Portugal subiu 0,8% em março, naquela que foi a primeira variação homóloga desde o mesmo mês de 2012, segundo os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE). A subida homóloga de março representa uma inversão da tendência verificada há meses, marcados por quedas homólogas acentuadas. Em fevereiro último, o índice que mede a produção industrial tinha recuado 1,1%, sendo que nos meses anteriores as quedas eram ainda mais intensas, tendo superado os 5% em abril e maio do ano passado. Em termos mensais, a produção industrial subiu 5,2% em março face ao mês anterior, sendo o maior aumento desde outubro de 2012. Segundo o INE, para a subida homóloga de março contribuiu o agrupamento de energia, que aumentou 4,5%. Sem o contributo deste agrupamento, a variação homóloga do índice de produção industrial foi negativa em 4,3%.

Custos do trabalho sobem mais que produtividade. lll Os custos do trabalho

em Portugal aumentaram, no último trimestre de 2012, mas a produtividade cresceu abaixo daquele indicador, o que corresponde a uma redução da competitividade do país, segundo os dados divulgados pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económico (OCDE) no dia 21 de março. Os números mostram que os custos unitários do trabalho em Portugal aumentaram 0,6% entre outubro e dezembro do ano passado, sendo que nos três trimestres anteriores verificaram-se oscilações no indicador. Entre janeiro e março de 2012, os custos unitários do trabalho registaram uma queda de 4,5% à qual se seguiu uma subida de 1,5% no segundo trimestre e um recuo de 0,2% entre agosto e setembro. A OCDE aponta que apesar da recuperação verificada no último trimestre de 2012, Portugal tornou-se menos competitivo porque a produtividade aumentou ligeiros 0,2%, face à subida de 0,7% dos custos de trabalho.

Empresas vão comunicar transporte de mercadorias a partir de 1 de julho lll O Governo adiou para

1 de julho a obrigatoriedade de as empresas e agentes económicos terem de comunicar previamente ao Fisco o transporte de mercadorias e cumprirem a nova legislação “De forma a permitir uma melhor adaptação dos agentes económicos às novas regras aplicáveis aos bens em circulação e por razões operacionais relacionadas com o novo sistema de comunicação por transmissão eletrónica de dados, estabelece-se que o novo regime apenas entrará em vigor no dia 1

de julho de 2013”, lê-se na portaria publicada em Diário da República. A nova lei exclui da obrigação de comunicação à Autoridade Tributária os documentos de transporte em que o destinatário ou adquirente seja consumidor final.

Estratégia de crescimento soma mais de 10 mil milhões de euros lll O documento “Estratégia

para o Crescimento, Emprego e Fomento Industrial 20132020”, aprovado em abril pelo Governo, visa oito eixos de atuação: qualificação, educação e formação; financiamento; consolidação e revitalização do tecido empresarial; promoção do investimento; competitividade fiscal; internacionalização; inovação e empreendedorismo; e infraestruturas logísticas. Este ano e em 2014, a Caixa Geral de Depósitos vai ter 3,5 mil milhões de euros para financiar empresas. Será criada uma instituição financeira de desenvolvimento, no financiamento das PME, que agregue fundos entre 4 e 6 mil milhões. O memorando de crescimento e emprego contempla ainda o lançamento da linha PME Exportações ainda este semestre, que terá até mil milhões de euros, sendo que 500 milhões são disponibilizados desde já. O executivo quer aumentar as exportações para que passem a representar 50% do PIB em 2020. O documento visa uma “reforma profunda e abrangente do IRC, com redução progressiva das taxas aplicáveis”. O Governo apontou a necessidade de consolidar o tecido empresarial agilizando as fusões e aquisições, e reduzindo a burocracia, com o “simplificar” dos licenciamentos e sistemas de incentivos. A afetação dos fundos estruturais no quadro 2014-2020 será privilegiada para apoiar a competitividade das empresas portuguesas.


JANEIRO/MARÇO 2013 NOME DA REVISTA

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ENTREVISTA RICARDO REIS

“SE AUMENTARMOS OS IMPOSTOS EM CONSEQUÊNCIA DAS DECISÕES DO TRIBUNAL CONSTITUCIONAL, CAMINHAREMOS PARA A ESPIRAL RECESSIVA E NÃO PARA A RECUPERAÇÃO.” “Como é que numa economia com uma taxa de câmbio real sobreavaliada, com câmbios fixos e inserida num programa de assistência financeira, se consegue provocar choques de competitividade?” Esta é a pergunta que está subjacente nos Encontros da Junqueira e à qual o professor Ricardo Reis tentou responder enquanto convidado da segunda edição deste espaço de reflexão. Estas declarações foram recolhidas durante a conferência de imprensa no dia 6 de Fevereiro 10 NE- NEGÓCIOS & EMPRESAS MAIO 2013



ENTREVISTA RICARDO REIS

l

icardo Reis abordou, nesta entrevista, as causas da crise que o país atravessa, a qualidade de gestão das nossas empresas, a deficiente aplicação do enorme fluxo de capital que ocorreu em Portugal e os efeitos nefastos da existência exagerada de microempresas. Defende que o Governo assuma um compromisso através de um anúncio de que haverá baixa de impostos logo que seja possível, como forma de encorajar o investimento. Admite que o mercado laboral já está flexível, reconhece que a estratégia do Governo foi a melhor para o regresso aos mercados e mostra-se apreensivo quanto às decisões do tribunal constitucional.

R

Qual o diagnóstico que vai apresentar aos membros do painel dos “Encontros da Junqueira”? A minha intervenção que designei como uma “visão pouco ortodoxa” foi um diagnóstico daquilo que aconteceu nos últimos dez anos.:, Nos primeiros anos do euro no período entre 2000 e 2003, Portugal beneficiou de um enorme influxo de capital estrangeiro que está relacionado com a entrada na moeda única, tendo a fixação de taxas de câmbio eliminado o risco cambial para quem investiu em Portugal. Este aumento encontra-se também relacionado com o envelhecimento populacional na Alemanha e com factores externos ligados ao desejo da diversificação de poupanças no exterior do Norte da Europa. Esse fluxo de capital quando entra em Portugal acabou por ser mal aplicado. Direcionou-se para sectores não transacionáveis - serviços (alguns protegidos) e para a construção e obras públicas. Esse capital foi absorvido quase todo por esses sectores com baixa produtividade, o que teve como consequência baixar a produtividade média na economia portuguesa. Para além de ter provocado uma diminuição da produtividade, a afetação a estes setores fez aumentar os salários já que os mesmos não estão sujeitos à concor-

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rência internacional. Verificou-se assim um aumento da taxa de câmbio real que retirou competividade à nossa economia. Em consequência desta situação de aumento de poder de compra das famílias o consumo privado cresceu e o Estado acabou por reforçar esta tendência aumentando de forma significativa o consumo público. Mas para financiar este aumento da despesa pública o Estado subiu de forma continuada os impostos o que provocou uma descida (surpreendente para alguns) do investimento sobretudo em setores transacionáveis. Esta entrada de capital em massa que se registou um pouco por toda a Europa nos primeiros anos do euro acabou por ser mal gerido ou mal alocado na economia portuguesa. Podemos discutir até que ponto a responsabilidade é nossa ou não, mas o certo é que Portugal usou mal a oportunidade criada. A questão é perceber porque é que os recursos foram mal alocados e como podemos realocar melhor os recursos em Portugal. Quando falamos de recursos estamos a falar, de uma forma simplista, de trabalho e de capital e da alocação de trabalho e capitais entre setores e empresas. Como caracteriza o mercado laboral português? Habitualmente realça-se a sua rigidez. Mas começa a haver razões para se ter uma visão mais optimista sobre esta matéria. As alterações introduzidas nos últimos anos à legislação foram importantes para a sua flexibilização. E nos últimos dez anos, noventa por cento da criação dos empregos criados em Portugal foram objeto de contratos a termo, pelo que atualmente mais de um quarto da população empregada está contratado a prazo. O trabalhador mais comum em Portugal continua a estar bastante protegido. Mas o trabalhador “marginal”, o que se ajusta a choques, tem um contrato a termo, vive numa economia competitiva e já mudou de emprego várias vezes. A ideia de que para uma empresa se torna muito difícil despedir um trabalhador, ou que é complicado ajustá-lo a um choque, está em parte desactualizada por esta razão e pelas reformas realizadas no mercado laboral, nos últimos dois anos. Os últimos dados da OCDE mostram que Portugal deu um salto enorme em termos de flexibilização do mercado laboral. A imagem do mercado de trabalho

em Portugal já não é a de um mercado extremamente rígido mas, de um mercado bastante flexível. O outro factor importante, que o Luís Cabral já abordou na primeira edição dos Encontros da Junqueira, é a capacidade de as empresas gerirem os recursos humanos. Os estudos internacionais mostram que há reduzidas capacidades de gestão em Portugal. Mas não é na qualidade de gestão da produção nem dos recursos financeiros. O que está mais em causa é a qualidade de gestão de recursos humanos. Quando observamos como se promove o talento, como se despedem funcionários, como se recompensa, ou como se penaliza funcionários menos produtivos, é que identificamos as diferenças entre as práticas de gestão em Portugal e as de outros países mais competitivos. Há uns anos atrás podíamos afirmar que grande parte destas deficiências de gestão eram devidas à rigidez do do mercado de trabalho. Nesse contexto, uma empresa não podia despedir um trabalhador ineficiente ou não ajustado ao cargo. A solução encontrada passava por “metê-lo na prateleira”, fazendo baixar a produtividade da organização. Agora tivemos uma evolução muito positiva do mercado das leis laborais. Vejamos se as empresas sabem corresponder, gerindo melhor os trabalhadores, dado que não têm tantos impedimentos legais em fazê-lo. É esse o desafio que lanço à AIP. E do lado das empresas, quais os constrangimentos que considera devam ser ultrapassados? Portugal tem um número muito elevado de empresas de pequena dimensão, com menos de dez trabalhadores e até com um peso maior do que tinha nos anos oitenta. A fracção do emprego que está em empresas com menos de dez trabalhadores é exagerada. Muito do capital que entrou, foi para o sector não transacionável, e foi para estas microempresas. A sucessão de políticas com enfoque no emprego e na manutenção de postos de trabalho, levaram a que tenha havido um conjunto de decisões de política pública que privilegiaram em excesso as empresas pequenas e desfavoreceram as médias e as grandes. Na tentativa de proteger o emprego, de tentar evitar que uma empresa vá à falência, de tentar evitar que haja um despe-


“NOS ÚLTIMOS DEZ ANOS, NOVENTA POR CENTO DOS EMPREGOS CRIADOS EM PORTUGAL FORAM OBJETO DE CONTRATOS A TERMO.” “OS ÚLTIMOS DADOS DA OCDE MOSTRAM QUE PORTUGAL DEU UM SALTO ENORME EM TERMOS DE FLEXIBILIZAÇÃO DO MERCADO LABORAL.” “OS ESTUDOS INTERNACIONAIS MOSTRAM QUE HÁ REDUZIDAS CAPACIDADES DE GESTÃO EM PORTUGAL. NÃO SE NOTA NA GESTÃO DA PRODUÇÃO NEM DOS RECURSOS FINANCEIROS. O QUE ESTÁ MAIS EM CAUSA É A QUALIDADE DE GESTÃO DE RECURSOS HUMANOS.” “FOI CRIADO UM SISTEMA EM QUE HÁ UM DESENCORAJAMENTO ACTIVO AO CRESCIMENTO DAS EMPRESAS, DO AUMENTO DA SUA PRODUTIVIDADE E DA ORIENTAÇÃO PARA OS MERCADOS EXTERNOS.” dimento, foi criado um sistema em que há um desencorajamento activo ao crescimento das empresas, do aumento da sua produtividade e da orientação para os mercados externos. Tanto do lado do Governo como do lado das empresas, tem de se perceber que sendo importante que surjam microempresas, é mais relevante que elas possam crescer. O enfoque tem sido tão grande na criação de pequenas empresas que tem sido muito desvalorizado o crescimento e os incentivos para que elas possam evoluir de pequenas para médias ou grandes. Tem havido uma falha em Portugal, quer em termos de estímulos fiscais e das políticas de emprego neste domínio. Os próprios empresários também têm tido também dificuldades em crescer. Foi ou-

tro desafio que deixei à AIP. Se venho falar com empresários não vou culpar o Estado, mas desafiar os empresários. O que é realmente necessário para a economia crescer? Quando falamos de crescimento, temos de distinguir entre o crescimento sustentado, que se aguenta durante os próximos dez, vinte anos, e um crescimento de estímulo mais no curto prazo. Em termos do crescimento sustentado, era muito importante que se cumprissem muitas das reformas que estão no plano da troika e que estão a ser executadas. Contudo, penso que poderemos ser mais arrojados em termos de política fiscal, como por exemplo a baixa do IRC. Não havendo hoje margem para baixar os impostos, podíamos, no entanto, planear e estabelecer um compromisso, comprometendo-nos perante os portugueses, no sentido de diminuir a carga fiscal logo que seja possível tanto no IRC, como no IRS. Adiantando que nos próximos anos haveria um quadro fiscal mais recompensador do investimento, do trabalho e do crescimento, dar-se-ia um incentivo ao crescimento sustentado. Ao mesmo tempo, criaria também estímulo no presente com efeitos no curto prazo. Este seria também um compromisso de que todo o esforço que tem sido feito até agora não iria ser revertido daqui a um ano ou dois quando sairmos da crise, com um retorno ao engordar do Estado, mas assegurando uma baixa efectiva da carga fiscal. É inegável que hoje, a contração orçamental é necessária e infelizmente inevitável. Não há espaço para sairmos deste quadro. Por muito que gostássemos de não estar a reduzir o défice de forma tão rápida, essa posição é-nos imposta pelos nossos credores. Olhando para os resultados e menos para a retórica, tem-se de dizer que o Governo tem conseguido cumprir. Os prazos da divída e as metas do défice têm sido flexibilizados sucessivamente, de três em três meses, mostrando que tem havido um sucesso da parte do nosso Governo, e do nosso país, em conseguir que a austeridade seja menos intensa do que estava originalmente programado. Isso é um sucesso da nossa diplomacia externa, da nossa imagem, e do nosso país. É inevitável que a consolidação orçamental provoque uma contracção da procura. Se conseguirmos convencer os agentes econó-

MAIO 2013 NE - NEGÓCIOS & EMPRESAS

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ENTREVISTA RICARDO REIS micos que – amanhã, daqui a um, dois anos, assim que sairmos deste aperto, assim que tenhamos as contas regularizadas –, iremos ter um programa agressivo de redução de impostos, poderemos encorajar o investimento. É possível estimular o investimento que agora se inicia, e que ficará concluído daqui a um ou dois anos. Não vou dizer que isto possa provocar crescimento do investimento, mas pelo menos pode atenuar a contracção do investimento. Do lado da procura não temos mais alternativa que não seja o que estamos a fazer, que é tentar renegociar prazos mais ligeiros, menos agressivos da redução do défice. Não nos resta outra alternativa do que encorajar hoje as pessoas a investirem e a perceberem que vai haver um futuro depois desta crise. Ao fazerem-no, vão também contribuir para que a crise não seja tão profunda. Qual a leitura que faz do processo em curso na concertação social sobre a redução das indemnizações por despedimento? O mercado laboral tem vindo a tornarse mais flexível desde a reforma de 2003. Este trabalho não começou há um ano. Já estava a tornar-se mais flexível através dos contratos a termo. As reformas sugeridas pelo programa da Troika já estavam diagnosticadas, nos últimos 15 anos, praticamente em todos os relatórios internacionais, e por qualquer observador do mercado de trabalho português. No último ano muitas dessas reformas já foram concretizadas. Falta ainda fazer algumas, mas as mais importantes foram aprovadas, ou pelo menos adoptadas, pelo Governo. No entanto, mais importante que produzir leis é aplicá-las. Mais importante que adoptar planos é vê-los implementados. Estamos exactamente a passar pela fase de implementação destas políticas. Há um vício, que não é só português, de se resolverem as questões nos gabinetes sem ir ao terreno ver a sua aplicação. Mas elas estão a ser implementadas e a ter o seu efeito. Estamos na coração dessa fase. É preciso um esforço muito grande para aplicar essas medidas, de passá-las na concertação social, de ajustar as próprias leis às circunstâncias do país, de haver um ajustamento na actuação dos tribunais de trabalho e nos seus procedimentos – que tem sido um dos grandes factores de bloqueio nos últimos anos.

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Em suma, já fizemos o grosso das medidas. Falta a fase mais importante que é a sua aplicação. Para isso, é preciso trazer todos os agentes, incluindo os que se reúnem na concertação social, mas não só. Não está a ser optimista, uma vez que o trabalhador, desempregado, não consegue facilmente arranjar emprego… Como é que o desemprego desce? Eu não disse que era positivo a existência dos contratos a termo. O que quis combater foi a ideia de termos um mercado laboral muito rígido. É algo que digo com frequência quando vou a conferências e reuniões sobre o Estado português: o que é importante realçar é que o mercado laboral português não é assim tão rígido, e até é relativamente flexível. Ao colocarmos a revisão do mercado laboral como sendo a fonte de todos os problemas, assumimos uma visão algo desactualizada. O desemprego vai diminuir quando a economia começar a crescer. Houve um pecado grande na Europa nos últimos trinta anos que foi olhar para o emprego como sendo algo independente do crescimento económico. Tentou-se evitar que o desemprego aumentasse quando as economias não cresciam. E foi isso que levou a mercados de trabalho complicados, rígidos, que depois tornaram difícil que o próprio crescimento aparecesse. Ao tentar evitar-se que o desemprego aumentasse quando o crescimento económico não ocorria, acabamos por criar condições que levaram a que ele nunca surgisse. Foi essa mudança que já ocorreu em praticamente todos os países europeus nos últimos dez, quinze anos. Quase todos os países europeus se aperceberam disso e também Portugal. Se queremos criar emprego, se queremos reduzir a taxa de desemprego, temos que nos concentrar no crescimento. Crescimento económico é sinónimo de baixa de desemprego e vice-versa. O ministro das Finanças, Vítor Gaspar, disse, no 176.º aniversário da AIP, que vislumbrava o final da crise, falando na confiança dos mercados. Acredita que estamos próximos do ponto de viragem? Vou antes apontar para riscos ou oportunidades nos próximos meses. Quando olhamos, quer para o conjunto de reformas que foram feitas ou que estamos a

fazer, quer para o próprio comportamento das soluções nos últimos anos, assim como para alguma contracção que era preciso ocorrer no consumo, estávamos a produzir menos do que aquilo que consumíamos –, vemos que muito do ajustamento já foi feito. Tendo em conta essa premissa, isso levar-nos-ia a pensar que já estaríamos perto do ponto de viragem algures este ano ou no próximo. E que Portugal já teria condições para começar de novo a crescer. É um optimismo que é sempre muito frágil. Há vários riscos: o risco externo, que tem estado sempre presente desde o início desta crise. Prende-se, em parte, com a evolução do resto das economias europeias. Temos um factor de preocupação muito grande se a Alemanha abrandar a velocidade como aconteceu nos últimos seis meses. Em segundo lugar, a incerteza do Tribunal Constitucional em relação ao Orçamento deste ano. Quais as consequências de um eventual chumbo por parte do Tribunal Constitucional? Em Setembro passado, a mudança na política fiscal passava por alguns cortes na despesa e pelas mudanças na TSU e outros. Não se conseguiu. O aumento de impostos verificado, bastante elevado para todos, levou a que se revissem para baixo as previsões do crescimento económico em Portugal. Taxando toda a economia, acabamos por operar em sentido inverso. Na altura, penso que o Governo teve muito pouca margem de manobra, mas não vou especular se poderia ter feito melhor ou não. A verdade é que se houver um chumbo do Tribunal Constitucional e o Governo tiver de, num curto prazo, adoptar medidas adicionais que levem a um maior estrangulamento fiscal da economia portuguesa, aí voltamos a perder mais seis meses. Se houver necessidade de aumentar novamente os impostos em consequência de eventuais decisões do Tribunal Constitucional, perderemos mais uma vez mais seis meses. Espero que o Tribunal Constitucional se revele sensível a esta questão. Portugal está ou não numa espiral recessiva? Será que vai conseguir crescer ao longo de 2013 ou mesmo a terminar o ano com crescimento? O que causará a espiral recessiva é um novo aumento de impostos. Este novo au-


“NÃO HAVENDO HOJE MARGEM PARA BAIXAR OS IMPOSTOS, PODÍAMOS, NO ENTANTO, PLANEAR E ESTABELECER UM COMPROMISSO, COMPROMETENDO-NOS PERANTE OS PORTUGUESES, NO SENTIDO DE DIMINUIR A CARGA FISCAL LOGO QUE SEJA POSSÍVEL TANTO NO IRC, COMO NO IRS.” “MAIS IMPORTANTE QUE PRODUZIR LEIS É APLICÁ-LAS. MAIS IMPORTANTE QUE ADOPTAR PLANOS É VÊ-LOS IMPLEMENTADOS.” “TEM DE HAVER UM AJUSTAMENTO NA ACTUAÇÃO DOS TRIBUNAIS DE TRABALHO E NOS SEUS PROCEDIMENTOS.” “TENTOU-SE EVITAR QUE O DESEMPREGO AUMENTASSE QUANDO AS ECONOMIAS NÃO CRESCIAM. E FOI ISSO QUE LEVOU A MERCADOS DE TRABALHO COMPLICADOS, RÍGIDOS, QUE DEPOIS TORNARAM DIFÍCIL QUE O PRÓPRIO CRESCIMENTO APARECESSE.” “O REGRESSO AOS MERCADOS DEPENDE POUCO DE NÓS E MAIS DE FACTORES EXTERNOS. JÁ O REESCALONAMENTO DA DÍVIDA É UM GRANDE SUCESSO DO GOVERNO PORTUGUÊS.” mento de impostos não é necessário actualmente, se o Orçamento de 2013 tiver condições para ser aplicado, mas poderá ser necessário e inevitável caso haja um chumbo do Tribunal Constitucional.Se o Tribunal Constitucional declarar inconstitucional o Orçamento e se o Governo tiver de no espaço de duas semanas arranjar receitas e tiver de aumentar as taxas de imposto, aí sim, caminhamos para a espiral recessiva e não para a recuperação.

Como analisa a estratégia do Governo no regresso aos mercados? Num espaço de 48 horas tivemos dois eventos: o regresso aos mercados e a reestruturação e reescalonamento do pagamento à Troika. O regresso aos mercados depende pouco de nós e mais de factores externos. Já o reescalonamento da dívida é um grande sucesso do Governo português. Não faltavam pessoas nos últimos dois anos a dizerem que a dívida portuguesa dificilmente poderia ser paga e como tal, tinha de haver uma reestruturação da mesma. Penso que era um diagnóstico que em parte todos partilhávamos. O Governo português tinha três opções: uma, era ter avançado para a reestruturação há dois anos, assumindo, de uma certa forma, um passo arriscadíssimo. Isto teria consequências possivelmente muito negativas. Sucedeu na Argentina, que não é propriamente um caso de sucesso nos últimos dez anos, ao contrário do que por vezes se tem ouvido em Portugal. A segunda opção era fazer como a Grécia, ou seja, não aplicar as medidas e tentar forçar uma renegociação. Quem olha para o que aconteceu na Grécia nos últimos dois anos vê que esse não foi um caminho que tenha resultado. A terceira opção era aplicar as medidas e esperar por uma oportunidade para, não com alarido, mas nos bastidores, negociar uma reestruturação da nossa dívida. O Governo seguiu a terceira opção e claramente funcionou. Não foi uma renegociação altamente substancial, mas foi significativa e é muito importante para o retorno da estabilidade das contas em Portugal. O trabalho não está todo feito, pode haver mais sucessos em novas reestruturações de dívida ou de prazos. Admito que no passado hesitei quanto ao facto de o Governo estar a agir bem quando quis seguir esta terceira opção. Será que ao escolhermos o caminho do bom aluno seriamos compensados? Os factos estão aí. A verdade é que fomos. Relativamente à situação em Espanha, em que medida nos pode afectar? Vou dizer apenas o óbvio: o mercado espanhol representa 25 por cento das nossas exportações. Qualquer situação em Espanha põe em causa as empresas portuguesas e como tal o nosso interesse económico. Temos sempre que olhar com uma certa preocupação, pois tem a ver com a tal recessão europeia de que falava.

MAIO 2013 NE - NEGÓCIOS & EMPRESAS

15


INFORMAÇÃO ECONÓMICA

A evolução da competitividade da economia portuguesa Síntese do relatório da competitividade

16 NE- NEGÓCIOS & EMPRESAS MAIO 2013

Nesta síntese do Relatório da Competitividade de 2012, realçam-se alguns aspectos relativos a indicadores de “inputs” – fiscalidade, preços, investimento, educação, inovação e de “output” – PIB e Emprego.

FISCALIDADE

Em 2012, a taxa máxima de IRC em Portugal pode atingir 31.5%. Esta taxa é a segunda mais alta no conjunto dos 16 países do “benchmarking”, em que as taxas variam, entre um máximo de 36.1% em França e no mínimo de 12.5% na Irlanda. Na União Europeia a taxa máxima mais alta é a de França (36.1%) e a mais baixa verifica-se no Chipre (10%). A média destas taxas na UE em 2012 é de 23.5% e na Área Euro de 26.1%, valores praticamente iguais aos de 2011.

TAXA MÁXIMA AJUSTADA DE IMPOSTOS SOBRE OS RENDIMENTOS DAS EMPRESAS 2012 %

40,0 30,0 20,0

UE 27

AE 17

POLÓNIA

REP. CHECA

ESLOVÁQUIA

HUNGRIA

ESLOVÉNIA

IRLANADA

FINLÂNDIA

REINO UNIDO

DINAMARCA

ESPANHA

ALEMANHA

ITÁLIA

PAÍSES BAIXES

FONTE: EUROSTAT

GRÉCIA

0,0

FRANÇA

10,0 PORTUGAL

Elaborado pela AIP-CCI, o Relatório da Competitividade monitoriza, anualmente, a evolução em Portugal de um conjunto de indicadores e a sua comparação com os relativos a 15 economias europeias. Esta análise abrange no actual relatório 51 indicadores. Destes, 39 são indicadores de “input” que respeitam a factores de competitividade, que de uma forma mais ou menos directa, num dado horizonte temporal, podem gerar contributos significativos para a melhoria da competitividade e são relativos às seguintes áreas: fiscalidade, custos laborais, preços, educação e formação, sociedade de informação, ambiente e energia, investimento e I&D e Inovação. Os indicadores de “output” (8) referemse a “resultados”, essencialmente, em termos de criação de riqueza e emprego. Os restantes 4 são indicadores de enquadramento macroeconómico. As economias que servem de comparação e que se mantêm desde 2003 são a Alemanha, Dinamarca, Espanha, Grécia, Finlândia, França, Irlanda, Itália, Países Baixos, Portugal e Reino Unido, a Eslováquia, Eslovénia, Hungria, Polónia e República Checa.

Em Portugal, as receitas dos impostos sobre o rendimento das empresas, em 2010, situaram-se em 2.8% em relação ao PIB (2.9% em 2009), valor próximo dos da média da Área Euro (3.0%) e da UE (2.7%). No conjunto dos 16 países do “benchmaFORMAÇÃO BRUTA DE mais CAPITAL FIXO DO SECTOR PRIVADO rking”, Portugal é o 4º valor elevado a seguir à República Checa (3.4%), Reino Unido (3.1%)2011 e Itália (3.0%). Os impostos sobre o rendimento das empresas representaram em 2010,EMcerca % DO PIB 20,0 de 9.0% do total das receitas fiscais (-0.2 p.p. que em 2009). Este valor é o quarto mais alto no conjunto dos 16 países, a seguir 15,0 à República Checa (10.0%), Eslováquia (9.6%) e Irlanda (9.1%). 10,0 5,0 0,0



E

CO

UE

POL

ESLOVÁ

HUN

ESLOV

REP. CH

IT

ESPA

PORT

REINO UNI IRLAN

FRANÇ

PAÍSES BA

ALEMA

DINAMA

FINLÂ

P

REP.

ESLO

H

ESL

IRL

FIN

REIN

DINA

PAÍSES

ES

ALE

F

PO

FONTE: EUROSTAT

META 2010

FONTE: EUROSTAT (DEZ. 2012); OCDE (MAR.2012)

*2009 **VALOR ESTIMADO ***QUEBRA SÉRIE

INFORMAÇÃO ECONÓMICA

FORMAÇÃO BRUTA DE CAPITAL FIXO DO SECTOR PRIVADO 2011

VARIAÇÃO MÉDIA ANUAL DO PIB 2002-2011 E 2008-2011

EM % DO PIB

20,0

4

UE 27

10,0

FONTE: EUROSTAT (JAN. 2013)

AE 17

POLÓNIA

HUNGRIA

ESLOVÉNIA

REP. CHECA

ESLOVÁQUIA

IRLANADA

GRÉCIA

REINO UNIDO

DINAMARCA

PORTUGAL

PAÍSES BAIXOS

FINLÂNDIA

ITÁLIA

ALEMANHA

FRANÇA

0,0

ESPANHA

5,0

POLÓNIA

HUNGRIA

ESLOVÉNIA

REP. CHECA

ESLOVÁQUIA

ESPANHA

PORTUGAL

DINAMARCA

ALEMANHA

ITÁLIA

PAÍSES BAIXOS

GRÉCIA

FONTE: EUROSTAT (DEZ. 2012)

REINO UNIDO

FRANÇA

Em Portugal, a situação no ensino superior em termos relativos é melhor do que ao nível do ensino secundário. Em 2011, cerca de 31% da população do escalão etário 20-29 anos frequentava o ensino superior. Este valor é igual ao valor da média e da mediana da UE. Cerca de 26% da população portuguesa JOVENS QUE os CONCLUÍRAM SECUNDÁRIO com idades entre 30 e 34 PELO anosMENOS tinhaO ENSINO em 2011 o ensino su2011 perior. A Irlanda (49%), Finlândia (46%) e Reino Unido (46%) EM % DA POPULAÇÃO NO ESCALÃO ETÁRIO 20-24 ANOS registavam os valores mais elevados. 100 Outro indicador que merece reflexão diz respeito ao elevado 80 abandono escolar precoce, elemento que continua a condicionar significativamente a necessária melhoria dos níveis de 60 qualificação da população portuguesa. Em 2011, cerca de 23.2% 40 jovens com idades compreendidas entre os 18 e os 24 anos dos abandonaram o sistema de ensino ou de formação sem comple20 tarem a escolaridade mínima obrigatória. De referir, que neste 0 FINLÂNDIA

18 NE- NEGÓCIOS & EMPRESAS MAIO 2013

15,0

IRLANDA

PREÇOS

Em Portugal, o preço do gás sem impostos para os consumidores industriais, no 1º semestre de 2012, foi de 11.1€/GJ, superior ao preço médio da União Europeia, e superior aos de Itália, França, Espanha e Reino Unido e apenas inferior ao registado na Alemanha. O preço médio da electricidade, sem impostos, para os “pequenos” consumidores industriais em Portugal foi de 102.1 €/ MWh no 1º semestre de 2012, inferior ao valor médio na União Europeia. O preço em Portugal foi inferior aos registados em Espanha, Itália, Reino Unido e Alemanha e superior ao de França. Para os “grandes” consumidores industriais, o preço médio de electricidade, sem impostos, foi de 99.1€/MWh em Portugal no 1º semestre de 2012. O preço praticado foi superior ao preço médio na União Europeia e entre os principais parceiros comerciais, inferior aos de Itália e superior aos de Espanha, Alemanha e França.

EUA

COREIA

AE 17

UE 27

EM % DO PIB

20,0 Em Portugal, a formação bruta de capital fixo (FBCF) total registou variações negativas em 2009 (-10.4%), 2010 (-2.3%) e 2011 (-9.7%). O rácio FBCF do sector privado e o PIB que entre 2004 e 2008 se manteve na casa dos 19.5%, reduziu-se para 16.9% em 2009, 15.3% em 2010 e 14.8% em 2011. Neste último ano, a FBCF do sector privado representava cerca de 83% do total da FBCF em Portugal.

UE 27

ESLOVÉNIA HUNGRIA AE 17

REP. CHECA

POLÓNIA REP. CHECA

ESLOVÁQUIA

POLÓNIA

ESLOVÁQUIA

ITÁLIA

ESLOVÉNIA

HUNGRIA

PORTUGAL

DINAMARCA

GRÉCIA*

FRANÇA

REINO UNIDO

IRLANADA

ALEMANHA

PAÍSES BAIXOS

FINLÂNDIA

REINO UNIDO

PAÍSES BAIXES

ESPANHA

ALEMANHA

FORMAÇÃO BRUTA DE CAPITAL FIXO DO SECTOR PRIVADO 2011

UE 27

HUNGRIA

POLÓNIA

ESLOVÉNIA

REP. CHECA

ESLOVÁQUIA

ESPANHA

PORTUGAL

ALEMANHA

DINAMARCA

ITÁLIA

PAÍSES BAIXOS

GRÉCIA

FONTE: EUROSTAT (DEZ. 2012)

REINO UNIDO

FRANÇA

IRLANDA

FINLÂNDIA

20

UE 27

40

DINAMARCA

IRLANDA

60

ESPANHA

FRANÇA

80

ITÁLIA

EM % DA POPULAÇÃO NO ESCALÃO ETÁRIO 20-24 ANOS

GRÉCIA

JOVENS QUE CONCLUÍRAM PELO MENOS O ENSINO SECUNDÁRIO 2011 100

Portugal tem estruturalmente uma situação muito vulnerável 2 qualificações dos seus recursos humanos. Em em matéria de 2010, apenas 32% da população com idades compreendidas en1 tre os 25 e os 64 anos tinham pelo menos o ensino secundário. 0 A Espanha (53%), Itália (55%) e a Grécia (65%) são os países com valores mais -1próximos e, juntamente com Portugal, os que no TAXA MÁXIMA AJUSTADA DE IMPOSTOS SOBRE OS RENDIMENTOS DAS EMPRESAS conjunto dos 16 países em análise registam neste indicador va-2 2012 lores inferiores a 70%. Nos grupos etários mais jovens, a situa% 40,0 ção é menos negativa. Cerca de 52% da população do grupo etá-3 rio 25-34 anos completou pelo menos o ensino secundário (65% -4 30,0 em Espanha; 71% em Itália). Entre 2004 e 2010 o peso relativo da população-5com idades entre os 25 e os 64 anos com pelo me20,0 nos o ensino secundário aumentou 7 p.p., sendo o crescimento no grupo etário 25-34, no mesmo período, de +12 p.p.. 10,0O ensino secundário tem vindo a tornar-se a regra como grau de escolaridade mínima, sobretudo entre as faixas etárias mais 2002-2011 FONTE: EUROSTAT (JAN. 2012), OCDE (SET. 2012)na avaliação das “skills” da 0,0 jovens, sendo um elemento crítico população. Em Portugal, apenas 64.4% dos jovens com idades entre os 20 e 24 anos, em 2011, tinham completado pelo menos oEUROSTAT ensino secundário. Este valor representa uma evolução FONTE: positiva nos últimos anos (39.3% em 1998; 49.0% em 2005). No entanto, é o segundo mais baixo entre o conjunto dos países em análise. De salientar que 10 destes países registaram valores superiores a 80%. PORTUGAL

AE 17

UE 27

POLÓNIA

HUNGRIA

ESLOVÉNIA

REP. CHECA

ESLOVÁQUIA

IRLANADA

GRÉCIA

REINO UNIDO

PORTUGAL

DINAMARCA

FINLÂNDIA

PAÍSES BAIXOS

ITÁLIA

ALEMANHA

FRANÇA

ESPANHA

Todas as economias do “benchmarking” registaram uma redução 5,0 dos montantes da formação bruta do capital fixo do sector privado. Na UE, o investimento privado diminuiu cerca de 17%. Em 0,0 2010, registou-se alguma recuperação com um aumento de 2% na UE, mas um número significativo de países continuou a registar queda do investimento privado. Em 2011, o investimento privado a preços correntes aumentou cerca de 5% no FONTE: EUROSTAT (JAN. 2013) conjunto da UE. Entre os países considerados na análise, a Alemanha (8.6%), a França (7.4%) e a Polónia (6.9%) registaram os crescimentos do investimento privado mais elevados. As variações mais negativas registaram-se na Grécia (-17.0%), a Irlanda (-7.7%) e Portugal (-4.8%).

EDUCAÇÃO E3FORMAÇÃO

FINLÂNDIA

INVESTIMENTO 10,0

0

%

5

15,0

META 2008-2011 *VALOR PROVISÓRIO



0,0

EM %em DO PIB anos (a taxa de abandono escolar era de 45% 2002, 39% em 2006 e 29% em 2010), mas o valor actual é ainda muito elevado. No conjunto dos 16 países considerados, só a Espanha tem um valor superior (26.5%) e no conjunto da UE apenas Malta (33.5%) regista valores superiores a Portugal.

4

80

3

60 20

EUA*

COREIA

UE 27**

ESLOVÁQUIA

-3

2002-2011

EUA

COREIA

AE 17

UE 27

ESLOVÉNIA HUNGRIA

POLÓNIA REP. CHECA

ESLOVÁQUIA

ITÁLIA

PORTUGAL

DINAMARCA

GRÉCIA*

-5

FRANÇA

-4

META 2008-2011 *VALOR PROVISÓRIO

variações médias anuais negativas em 10 países e praticamente nulas em 2 outros. Só na Alemanha, Eslováquia, Polónia, República Checa e Países Baixos se verificaram, no período 20082011, crescimentos do PIB, ainda que inferiores aos registados entre 2002 e 2011.

EUA*

COREIA

UE 27**

UE 27 ESLOVÁQUIA

POLÓNIA

HUNGRIA HUNGRIA

POLÓNIA REP. CHECA

ITÁLIA REP. CHECA

ESLOVÉNIA ESLOVÉNIA

FONTE: EUROSTAT (DEZ. 2012)

ESPANHA ESLOVÁQUIA

0

ALEMANHA ITÁLIA FRANÇA*** ALEMANHA PAÍSES BAIXOS DINAMARCA REINO UNIDO** PORTUGAL IRLANDA** ESPANHA PORTUGAL

GRÉCIA FINLÂNDIA REINO UNIDO DINAMARCA PAÍSES BAIXOS

FRANÇA

META 2010

FONTE: EUROSTAT (DEZ. 2012); OCDE (MAR.2012)

*2009 **VALOR ESTIMADO ***QUEBRA SÉRIE

Ao nível das despesas em investigação e desenvolvimento a evolução tem sido favorável nos últimos anos, registando-se em 2010 um valor equivalente a 1.6% do PIB, igual ao registado em 2009. Portugal ficouVARIAÇÃO próximo da meta MÉDIA ANUALfixada DO PIB para 2010 (1.8% do PIB). As empresas executam cerca de 45% destas despesas e as 2002-2011 E 2008-2011 entidades do ensino superior cerca de 37%. As instituições pri% 5 vadas sem fins lucrativos executam 10% das despesas, cabendo os 4 restantes 7% ao Estado. A média da UE foi em 2010 de 2.0%, valor igual ao de 2009. 3 nível da UE não foi atingida a meta de 3.0% em 2010, dado Ao que 2 a maioria dos países também não atingiu as suas metas. No conjunto dos países em análise, são de salientar os valores da 1 Finlândia (3.9%) e da Dinamarca (3.1%), países que juntamente com 0 a Suécia (3.4%) são os que já ultrapassaram os 3%. -1

PRODUTO INTERNO BRUTO

2002-2011 FONTE: EUROSTAT (JAN. 2012), OCDE (SET. 2012)

EUA

COREIA

AE 17

UE 27

ESLOVÉNIA HUNGRIA

POLÓNIA REP. CHECA

ESLOVÁQUIA

ITÁLIA

20 NE- NEGÓCIOS & EMPRESAS MAIO 2013

PORTUGAL

DINAMARCA

GRÉCIA*

FRANÇA

ALEMANHA

PAÍSES BAIXOS

REINO UNIDO

FINLÂNDIA

IRLANDA

-2 Em Portugal, no período 2008-2011, o PIB em Portugal registou -3 uma variação média anual negativa, de -0.7%. Na UE, neste pe-4 ríodo, a variação média anual do PIB foi marginalmente negativa. No conjunto das economias “benchmarking”, registam-se -5 ESPANHA

IRLANDA

-2

FONTE: EUROSTAT (JAN. 2012), OCDE (SET. 2012)

1 FINLÂNDIA

0

-1

EM % DO PIB

EM % DA POPULAÇÃO NO ESCALÃO ETÁRIO 20-24 ANOS

2

40

0

ALEMANHA

DESPESAS INVESTIGAÇÃO E DESENVOLVIMENTO JOVENS QUE CONCLUÍRAM PELO EM MENOS O ENSINO SECUNDÁRIO 2010 2011

1

PAÍSES BAIXOS

UE 27

AE 17

POLÓNIA

HUNGRIA

ESLOVÉNIA

REP. CHECA

ESLOVÁQUIA

GRÉCIA

IRLANADA

DINAMARCA

REINO UNIDO

PORTUGAL

PAÍSES BAIXOS

FINLÂNDIA

ITÁLIA

ALEMANHA

FRANÇA

Entre os diversos indicadores analisados neste domínio, de relevar o indicador sintético do “Innovation Union Scoreboard 2011”, que mede a capacidade de um país para inovar. O desempenho registado no período 2008-2010 colocou Portugal na 16ª FONTE: EUROSTAT (JAN. 2013) posição entre os países da UE com um “score” idêntico ao da Espanha, Itália e República Checa. Portugal integra o grupo dos países considerados “moderadamente inovadores”. A Suécia, Dinamarca, Alemanha e Finlândia são considerados os “leaders da inovação”.

100

POLÓNIA

2

INOVAÇÃO E I&D

ESPANHA

0,0

3

REINO UNIDO

5,0

4

ESPANHA

0,0

%

5

IRLANDA

5,0

*2009 **VALOR ESTIMADO ***QUEBRA SÉRIE

VARIAÇÃO MÉDIA ANUAL DO PIB 2002-2011 E 2008-2011

FINLÂNDIA

0,0

HUNGRIA

ESLOVÉNIA

META 2010

FONTE: EUROSTAT (DEZ. 2012); OCDE (MAR.2012)

FORMAÇÃO BRUTA DE CAPITAL FIXO DO SECTOR PRIVADO 2011 domínio tem-se verificado uma evolução positiva nos últimos

REP. CHECA

ITÁLIA

ESPANHA

PORTUGAL

REINO UNIDO** IRLANDA**

PAÍSES BAIXOS

FRANÇA***

ALEMANHA

DINAMARCA

AE 17

FINLÂNDIA

INFORMAÇÃO ECONÓMICA

FONTE: EUROSTAT

0

UE 27

POLÓNIA

REP. CHECA

ESLOVÁQUIA

HUNGRIA

ESLOVÉNIA

IRLANADA

FINLÂNDIA

REINO UNIDO

DINAMARCA

PAÍSES BAIXES

ESPANHA

ALEMANHA

ITÁLIA

GRÉCIA

FRANÇA

PORTUGAL

0,0

1

META 2008-2011 *VALOR PROVISÓRIO

EMPREGO

Em Portugal, o volume de emprego diminuiu -1.5%, em 2011, variação igual à registada em 2010. No decénio 2002-2011, a taxa média anual de variação do emprego foi de -0.5%. No conjunto da UE e na Área Euro, a variação do emprego, em média anual, no período 2002-2011 foi de 0.5%, tendo os crescimentos mais significativos se registado em Espanha (1.0%), Finlândia (0.8%) e Eslováquia (0.8%). No período mais recente (2008-2011), a variação média anual do emprego foi negativa na maioria dos países com excepção da Polónia (1.5%), Alemanha (0.8%), Eslováquia (0.4%), Países Baixos e Finlândia (0.3%). Na UE e na Área Euro, a variação média anual foi de -0.3%. Em Portugal, a variação do emprego neste período foi de -1.3%, em média anual. A Irlanda (-3.9%), Espanha (-2.7%) e Grécia (-2.0%) registaram os valores mais elevados em termos da variação negativa do emprego no período de 2008-2011. A taxa de emprego (rácio entre população empregada com idades entre os 15 e os 64 anos e a população total deste grupo etário) situou-se em 2011 em 64.2%. Este valor é idêntico à média da UE e em termos comparativos situa-se na mediana das taxas de emprego. Na UE existem diferenças significativas nas taxas de emprego, tendo, de um lado, países com taxas de emprego superiores a 70%, como é o caso entre os países considerados dos Países Baixos (75%), Dinamarca (73%) e Alemanha (73%) e, por outro, países com taxas inferiores a 60%, como a Irlanda (59%), Espanha (58%), Itália (57%), Hungria e Grécia (56%).

RUI MADALENO



DOSSIER

LUIS CABRAL, RICARDO REIS E SÉRGIO REBELO EXPLICAM OS DESAFIOS DA ECONOMIA PORTUGUESA 22 NE- NEGÓCIOS & EMPRESAS


UM OLHAR DISTANCIADO, QUALIFICADO E CRIATIVO DE ACADÉMICOS PORTUGUESES COM NOTORIEDADE NO ESTRANGEIRO Luis Cabral (New York University), Ricardo Reis (Columbia University) e Sérgio Rebelo (Kellogg School) são distintos académicos portugueses que ganharam notoriedade e prestígio nos EUA, país onde desenvolvem a maior parte da sua atividade profissional. Foram esses os atributos que, assegurando uma visão distanciada e autónoma sobre os problemas da economia portuguesa, justificaram o convite dirigido pela AIP para a sua apresentação ao painel fixo de personalidades que integram a iniciativa dos designados Encontros da Junqueira e que prontamente foram aceites pelos académicos em causa. Os três académicos trouxeram-nos reflexões sobre as causas da difícil situação económica que o país atravessa, não deixando de apontar pistas concretas de abordagem das soluções e das estratégias necessárias. São posições independentes e sustentadas numa sólida formação teórica que, embora não refletindo necessariamente as posições desta associação empresarial, suscitaram uma adesão generalizada e um debate vivo nos Encontros da Junqueira. Atendendo à grande relevância do conteúdo das intervenções, entendeu-se que não poderíamos deixar de divulgar publicamente os principais “statements” produzidos nas sessões efetuadas por estes três brilhantes académicos que prestigiam no estrangeiro o nome de Portugal.

MAIO 2013 NE - NEGÓCIOS & EMPRESAS

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DOSSIER

LUÍS CABRAL Depois de terminar o seu doutoramento na Universidade de Stanford, em 1989, Luís Cabral foi professor nas universidades Nova de Lisboa, London Business School, London School of Economics, Berkeley, Yale e IESE. Actualmente, ocupa a cátedra W. R. Berkley de Economia, na New York University. O trabalho de investigação de Luís Cabral, centrado em aspectos dinâmicos da concorrência entre empresas, foi publicado em várias revistas especializadas, apresentado em dezenas de conferências e publicado por vários media, tanto na Europa como nos Estados Unidos. Luís Cabral é autor do livro “Introduction to Industrial Organization”, publicado pela MIT Press, traduzido em sete línguas e adoptado por universidades em dezenas de países. O professor é Research Fellow do Centre for Economic Policy Research, foi presidente da European Association for Research in Industrial Economics, membro do Grupo de Conselheiros Económicos do Presidente da Comissão Europeia e consultor de múltiplas organizações públicas e privadas. Luís Cabral nasceu em Lisboa, em 1961. Para além da actividade académica, dedica-se a pintar, tocar saxofone e recordar êxitos passados do Belenenses.

C T

RISE DO EURO?

ão existe uma crise do Euro, em sentido restrito. Existem N várias crises em simultâneo – uma crise de governação das organizações europeias, uma crise de crescimento, uma crise de dívida pública, uma crise de desemprego ou até uma crise moral de valores. O Euro não será o maior responsável por todas estas crises e abandoná-lo não será a solução para a crise que atravessamos.

ENDÊNCIAS DE LONGO PRAZO OU FLUTUAÇÕES

Quando olhámos para a evolução dos Estados Unidos nos últimos duzentos anos, observa-se uma tendência continuada de crescimento de longo prazo, independentemente das flutuações registadas em determinados períodos. Em Portugal, tivemos nos últimos trinta anos, duas décadas de crescimento e uma de estagnação. A questão está em saber

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se a evolução recente é uma mera flutuação ou se indicia uma queda mais estrutural.

J

UROS E DÍVIDA

É claro que os juros pagos pelos países com piores rácios Dívida/PIB são mais altos, embora haja exceções como ao Japão, a Bélgica e até a própria Alemanha. A explicação não está só no numerador (Dívida), mas tem a ver também com o denominador (PIB).

E F T E

DUCAÇÃO E CRESCIMENTO

capacidade de crescimento de longo prazo é determinada A pelo nível de e educação e da escolaridade. Constata-se que os países do Sul da Europa com maiores problemas de gestão da Dívida são os que piores resultados obtêm nos conhecidos testes de PISA.

ATORES DE CRESCIMENTO

ão três os fatores determinantes para o crescimento da ecoS nomia portuguesa – “Educação”, Inovação e Qualidade de Gestão” e o “Estado( o seu papel)”.

ESTE DE PISA E PIB

É conhecida a elevada correlação entre o PIB per capita e os resultados do teste de PISA. Nem sempre correlação quer dizer causalidade, mas temos hoje em dia informação suficiente que nos permitem confirmar a causalidade entre desenvolvimento e educação. A qualidade dos fatores produtivos e do capital humano explica uma fração muito importante da taxa de crescimento.

DUCAÇÃO DESCENTRALIZADA

A maior questão da Educação é a necessidade de descentralizar. Muito mais importante do que a questão público-privado, a questão é da descentralização. Por exemplo nos Estados Unidos as chamadas “charter-school” (escolas públicas mas que partem da iniciativa de grupos de cidadãos) têm dado um resultado bastante razoável.

Q P C

UALIDADE DO ENSINO

ensino superior em Portugal é razoavelmente bom ainda O que esteja vivendo um período de ajustamento após um ciclo de crescimento muito grande. Mais problemático é o ensino básico e secundário.

RODUTIVIDADE, INOVAÇÃO E EXPORTAÇÃO

inovação aumenta a produtividade, não será novidade para A ninguém; mas as empresas com maior produtividade apresentam maior propensão para exportar, registando-se uma interação positiva entre as capacidades de inovação, de produtividade e de exportação.

OMPOSIÇÃO SETORIAL

s diferenças de produtividade entre países só numa pequeA na fração podem ser explicadas pela composição setorial, já que existem empresas muito produtivas em todos os setores e empresas muito pouco produtivas em todas as atividades; se descermos a análise para um nível mais desagregado, podemos constatar diferenças de produtividade em segmentos ou tipologias de produtos.


S Q

OLUÇÕES PARA INCREMENTO DA PRODUTIVIDADE

produtividade de um setor ou país é determinado por três A fatores: (i) entrada e saída de empresas- entram empresas mais produtivas dos que as que saem; (ii) reafectação de recursos a favor das empresas mais produtivas que aumentam a quota de mercado (iii) o esforço de aumento da produtividade de cada empresa. Em matéria de aumento de produtividade, será mais eficaz em Portugal o estímulo à uma maior rotação na entrada e saída de empresas e de reafectação de recursos entre empresas, do que política de apelo generalizado ao aumento da produtividade.

UALIDADE DE GESTÃO

e acordo com um estudo sobre práticas de gestão num conD junto vasto de países de dois economistas (Nicholas Bloom e John Van Reenen), é possível observar-se o seguinte- há 25% de empresas portuguesas que têm uma qualidade de gestão superior à média das empresas americanas! Em contraponto, 14% das empresas em Portugal apresentam uma pontuação inferior a 2 (entre 5 máximo) o que indicam que têm gestão muito pobre; se fosse possível “eliminar” as empresas deste segmento, aumentar-se-ia em 7% a média da performance das empresas portuguesas; é por essa razão, que acho importante fazer realocar os recursos das empresas menos eficientes para as mais produtivas; Portugal precisa de um choque de seleção, mais do que um choque tecnológico.

D P A

INÂMICA DA DESPESA PÚBLICA

uando abordamos a função do Estado na economia a questão Q é como fazemos balancear entre o impulso do estímulo keynesiano com a sua consequência de provocar um processo de “crowding out” em que a despesa do Estado retira recursos ao resto da economia. É difícil identificar um balanço ideal. Há fatores que favorecem o crescimento da despesa pública em regimes democráticos; por um lado, os benefícios da despesa pública são bem mais visíveis do que o seu custo, e por outro, o desequilíbrio entre o presente e o futuro, visível na gestão de ciclos políticos.

OLÍTICA INDUSTRIAL

utra questão tem a ver com a política industrial que pode ser O justificada por externalidades e falhas de coordenação. Mas continuo a pensar que a melhor política industrial é uma boa política de concorrência.

“DOENÇA HOLANDESA”

ortugal sofre uma espécie de “doença holandesa” que é um fenóP meno identificado em países com um surgimento de um recurso natural que acaba por absorver pela sua elevada rentabilidade a totalidade dos recursos dessa economia, anulando qualquer possibilidade de crescimento de outras atividades. Em Portugal não existiu nenhum recurso natural, mas foram criadas pelo Estado rendas elevadas em muitos setores protegidos da concorrência que absorveram grande parte dos recursos da economia do país. PUB

MAIO 2013 NE - NEGÓCIOS & EMPRESAS

25


DOSSIER

RICARDO REIS

Professor do Departamento de Economia da Columbia University, em Nova Iorque, nos EUA. Ricardo Reis foi promovido a “full professor” com 29 anos, um dos mais novos na história daquela universidade. A principal área de investigação é a macroeconomia. A sua pesquisa tem incidido em modelos de economia comportamental (atenção limitada e desatenção racional), no estudo de medidas e comportamento da inflação. Ricardo Reis tem um interesse especial na conduta da política monetária, quer através da sua investigação, quer na prestação de consultadoria em bancos centrais e organizações internacionais. Recentemente, tem-se debruçado sobre o estudo da política fiscal. Ricardo Reis é investigador associado do National Bureau of Economic Research e do Centre for Economic Policy Research. O professor é também coeditor do Journal of Monetary Economics, membro do conselho de editores da American Economic Review e do Journal of Economic Literature, e é editor associado no Journal of Money Credit and Banking e no Economic Journal. Ricardo Reis escreve ainda artigos de opinião para a imprensa portuguesa desde 2005. Nasceu em 1978, é de Leça da Palmeira, e estudou na London School of Economics, em Inglaterra, e em Harvard University, nos EUA. Entre 2004 e 2008 foi professor auxiliar na Princeton University. Ricardo Reis vive em Manhattan, nos EUA, com a mulher e os seus dois filhos.

A C

E

T

OMPETITIVIDADE / TAXA DE CÂMBIO REAL

ortugal era tão competitivo em 2009 como era em 1999. O P sector exportador não perdeu quota de mercado de forma significativa. A evolução foi semelhante à média dos países da OCDE, condicionada pela emergência da China. O que subiu foi a apreciação da taxa de câmbio real. E a diferença entre os termos de troca e a taxa de cambio real é aritmeticamente igual ao preço do sector não transaccionável. Diz-se em Portugal, que esta taxa de câmbio real reflecte uma perda de competitividade. Não há uma clara perda de competitividade. O que há é um aumento enorme do preço dos serviços, sobretudo de construção, enquanto que na indústria e agricultura continuam estagnados. Portanto, a taxa de câmbio real é um indicador enganador para medir a competitividade das empresas portuguesas

STAGNAÇÃO: 2000-2007

choque em 2000 em Portugal foi provocado por um grande O fluxo de capitais vindo do centro da Europa. Derivou da abertura do mercado de capitais, entrada do euro, situação cambial e estagnação da economia alemã. A Alemanha, como tinha uma poupança elevada queria diversificar a sua aplicação no exterior e em mercados alternativos. Estes capitais, por exemplo, na Grécia, dirigiram-se para a divida pública. Em Portugal, metade foi para o financiamento do estado e a outra metade foi para a economia através da intermediação dos bancos. Por outro lado, este fluxo de capitais é alocado ao sector não transaccionável (serviços e construção) e em projectos de baixa produtividade. Estes fluxos são intermediados pelos bancos, nomeadamente nacionais. Uma empresa do sector não transaccionável não é facilmente “capturada” pela banca em caso de incumprimento. Daí o papel crucial assumido pela banca. Os preços dos não transaccionáveis sobem e a sua competitividade desce, provocando o decréscimo da competitividade da economia. O investimento cai devido ao contínuo aumento das taxas marginais dos impostos. Cai a produtividade mas o consumo mantém-se alto.

AXA DE CÂMBIO SOBREAVALIADA

argumentação do Prof. Ferreira do Amaral não se ajusta aos A dados. Se entrássemos no euro com uma taxa de câmbio sobreavaliada, por definição ele deveria ter caído durante este período e convergido. Não foi o que sucedeu. Portanto, não estava sobrevalorizada quando entrámos no euro.

P 26 NE- NEGÓCIOS & EMPRESAS MAIO 2013

S 7 RAZÕES DO NOSSO EMPOBRECIMENTO E DA DEPRESSÃO

entrada da China na OMC e a atracção de investimento diA recto estrangeiro para países de leste europeu. Valorização do capital humano. Rigidez do mercado de trabalho. Custos de contexto que limitam a actividade empresarial. Saída de capitais nos anos 70 nunca mais recuperados pela taxa de poupança. Aumento do peso do estado. Fraco crescimento de produtividade.

ARAGEM SÚBITA NO FLUXO DE CAPITAIS – SEM TROIKA, O PIB TERIA UMA QUEBRA DE 20%.

uando ocorreu o crash em 2009, aumentou a aversão ao risQ co. Este facto levou ao aumento de spreads. Nalguns países subiu pouco, noutros muito, acentuando-se com a crise da divida europeia. Ocorreu uma paragem súbita de fluxo de ca-


pitais, que se reflectiu na balança de transacções correntes e nas dificuldades de financiamento às empresas. Sem a troika, sem o sistema monetário europeu e sem o euro, tínhamos tido uma quebra do PIB na ordem dos 20%.A diminuição drástica do fluxo de capitais privados e a enorme fuga de capitais ocorrida só foi compensada, em parte, com as ajudas europeias.

B C

C

C R

ANCOS MUITO GRANDES PARA A DIMENSÃO DA NOSSA ECONOMIA

Europa e Portugal têm bancos enormes. Em 2007 os activos A do BCP e do BES, em relação ao PIB, eram de 67% e 52%.

ICLO DIABÓLICO – BANCOS / ESTADO

á uma grande correlação entre o risco de divida soberana H e o risco dos bancos. Os bancos, por questões de deficiente regulação, por desenho dos acordos de Basileia, foram encorajados a ter obrigações do Estado. Usaram essas obrigações como garantias do financiamento externo. Quando sobe o risco de dívida soberana, sobe o dos bancos. Sempre que há um receio que Portugal vá à falência, desce o preço das obrigações e o activo dos bancos deteriora-se. Ocorre a esperada contracção do crédito à economia, dado que os bancos têm de recuperar os seus rácios de capital. Baixando o crédito desce a colecta fiscal, aumenta o défice, e aumenta a probabilidade do estado ter de resgatar os bancos para salvar o sistema financeiro. Tudo isto porque os bancos estão carregados de obrigações do estado. E quando o Banco Central Europeu quis intervir nos mercados de divida, em vez de comprar obrigações europeias, fê-lo usando os bancos como intermediários. Isto levou os bancos portugueses, islandeses, espanhóis a aumentarem a sua exposição à divida, piorando o problema.

mercado laboral muito flexível que se ajusta com facilidade aos choques. O problema não é de flexibilidade mas sim de produtividade. O problema de rigidez do mercado reflectese na média de produtividade diária, não na flexibilidade de ajustamento. Continuamos a manter trabalhadores não produtivos. É este lastro e esta geração que puxa a produtividade para baixo.

Q G T

RIAÇÃO DA UNIÃO BANCÁRIA PODERÁ ROMPER O CICLO DIABÓLICO

criação da união bancária não tem a ver com a concentração A da regulação. A razão principal centra-se na necessidade dos bancos serem seguros pela Europa como um todo. Se houver um “baillout” de um dos bancos, tenta-se evitar que o fardo não caia todo nas finanças públicas portuguesas. A segunda razão é a garantia dos depósitos ser feito a nível europeu. Neste caso há fracos progressos. A terceira razão prende-se com as obrigações europeias, que também não têm evoluído. A importância das eurobounds não é a partilha fiscal, mas sim permitir, por exemplo, que os bancos portugueses possam ter nos seus activos obrigações europeias e não portuguesas. Se o BES tiver no seu balanço obrigações europeias não será contagiado por um receio sobre a solvabilidade do estado português.

RISE – RESPONSABILIDADES

esde 2008, a crise é tão portuguesa como é do sul da Europa D e está relacionada com as falhas e insuficiências do desenho da União Monetária. De 2000 a 2007 o problema é nosso e deriva de uma má afectação de recursos. Tivemos capital que entrou e não o alocamos bem.

EFORMA NO MERCADO DE TRABALHO

á uma enorme evolução nos indicadores da OCDE na área H do mercado laboral. Portugal já não tem um mercado de trabalho muito rígido. Hoje mais de 25% da força laboral está com contratos a prazo. Existe uma franja importante do

ESTÃO DE RECURSOS HUMANOS

deficiente gestão de recursos humanos existente em PorA tugal repercute-se na capacidade de recompensar quem se deve, capacidade de despedir quem se deve despedir, capacidade de realocar recursos humanos, e na capacidade de criar incentivos no local de trabalho. Pensava-se que isto dependesse da rigidez do mercado de trabalho. Com as alterações que houve na legislação laboral não há razões para persisitirem estes problemas.

AMANHO MÉDIO DAS EMPRESAS

m 2009, o tamanho médio de uma empresa em Portugal é de E 10 trabalhadores. Nos últimos 20 anos tivemos um crescimento enorme das pequenas empresas e foram sempre protegidas. O lado positivo é que manteve emprego, o lado negativo é que não conseguimos aumentar a produtividade. Empresas pequenas criam emprego mas são pouco produtivas. O fluxo de capital que veio da Alemanha acabou a financiar as empresas de zero a dez trabalhadores e não a ajudar as que podem lançar-se no mercado exportador. Há actualmente uma grande oportunidade para, através de processos de fusão aumentar a produtividade ganhando escala.

G E

UALIDADE DE GESTÃO

m média, as empresas portuguesas são mal geridas, embora E com enorme dispersão. Mas os estudos demonstram que são bem geridas na área da produção e finanças, e todo o gap se concentra na gestão dos recursos humanos.

LOBAL SOURCING

Bélgica e a Holanda têm exportações superiores a 100% do A PIB. Portugal tem um pouco mais de 30. A diferença está no global sourcing. A produção está localizada nos mercados de leste, é importada para a Holanda, que lhe acrescente valor e é depois exportada. Este é o desafio do sector transaccionável em Portugal, e a razão da falta de expansão desse sector.

STADO – OBSESSÃO PELA REDUÇÃO DA DESPESA EM VEZ DO DÉFICE

principal factor da crise não foi o Estado. Este tem evoluíO do bem. Começamos a ter uma obsessão com a despesa em vez do défice. A opção do défice nos últimos 7 anos levou ao aumento dos impostos e ao estrangulamento da actividade económica. E as respostas para ultrapassar estes problemas virão da economia e das empresas. Temos de parar de falar das dificuldades que o Estado está a criar. Está a evoluir no bom sentido. Temos é de reflectir sobre outras coisas: alocação do capital; qualidade de gestão; regulação bancária europeia para proteger melhor os bancos e quebrar o ciclo diabólico; proliferação de pequenas empresas; inexistência de um sector de global sourcing; internacionalizar e ganhar quotas no mercado global. Fazer tudo isto e com menos referências ao estado

MAIO 2013 NE - NEGÓCIOS & EMPRESAS

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DOSSIER porque não é o Estado que vai resolver a crise. O que falhou em Portugal em 2000 não foi o capital nem o Estado. Foi o facto deste capital ter sido mal realocado.

E

STÍMULO PARA SAIR DA CRISE

muito importante reflectirmos sobre a gestão macro econóÉ mica de curto prazo. Portugal precisa de um estímulo. O estímulo clássico de expansão monetária e dos défices públicos não está disponível. Resta-nos duas hipóteses: a primeira, um estímulo mais keynesiano através de um aumento da despesa pública financiada por imposto público de forma a manter o défice inalterado. Por exemplo, um programa de requalificação das cidades financiado com o aumento das taxas de contribuição municipal. Segundo, um estímulo mais neo-clássico: incentivos fiscais. A forma de combater o enorme efeito recessivo de contracção de procura é tentarmos estimular o investimento através de estímulos de fiscalidade futura. Isto é, um compromisso de que o sacrifício actual não vai ser compensado no futuro com uma recuperação da despesa pública, mas com uma baixa de fiscalidade. Esta será uma das poucas políticas de estímulo que está à nossa disposição e termos macro-económicos.

A

PROVÁVEL NOVA CRISE FINANCEIRA MOTIVADA PELA PROCURA DE ACTIVOS FINANCEIROS. odos os anos surge na economia mundial algumas fontes T de risco. Para os países do sul da Europa, mais importante do que o eventual colapso das commodities, é o desenvolvimento diferenciado dos sistemas financeiros em todo o mundo. Mais do que o abrandamento do crescimento da China e de um crash nas commodities, o que preocupa é uma eventual crise financeira provocada pela enorme procura de activos financeiros. Há imensos investidores no mundo inteiro que querem colocar o seu dinheiro em alguma coisa que seja relativamente segura. E há uma enorme escassez destes activos ou obrigações seguras. É quase inevitável que activos financeiros arriscados sejam tomados como sendo seguros levando a uma nova crise que não será no sub-prime, mas que nasce da mesma fonte: activos inseguros e arriscados.

B

ANCO CENTRAL EUROPEU E REGULAÇÃO FINANCEIRA

União Monetária só é sustentável se tiver uma união fiA nanceira e uma união fiscal mínima. Nesta união financeira e fiscal há um mínimo e um máximo. O patamar máximo é defender os Estados Unidos da Europa, mas não há desejo político para o fazer. Assim, o que permitirá que o euro sobreviva é o que está a ser seguido pela União Bancária: sistema mínimo de garantia de depósito, de supervisão mínima e de um sistema mínimo de resgate dos bancos. Decorrente desta proposta surge a criação de duas categorias de bancos. Se é suficientemente grande deve ser supervisionado a nível europeu, e deve ter a garantia dos depósitos e o sistema de resgate limitadas a nível europeu. Se o banco é mais pequeno, talvez seja melhor regular a nível nacional. Em termos fiscais, o mínimo é a criação de uma obrigação segura, sem uma responsabilização colectiva e solidária dos diferentes países a relação a essa obrigação. Poderemos criar uma união fiscal mínima sem que a Alemanha tenha de pagar pelos nossos excessos e apenas possa corrigir o problema do sistema financeiro.

28 NE- NEGÓCIOS & EMPRESAS MAIO 2013

B

C

ANCOS DEVERIAM TER FALIDO

á um legado de enormes perdas que está sobretudo nas baH lanças dos bancos espanhóis mas também nos portugueses, irlandeses e gregos. A política europeia definiu que os contribuintes devem assumir onde as perdas se verificaram. Quem emprestou o fluxo de capitais, os bancos alemães e outros, têm estado isentos de absorver qualquer perda. O governo alemão decidiu assumir uma parte dessa perda, preferindo financiar directamente os nossos bancos em vez de deixar falir os seus. Tal como na Islândia, devíamos ter limpo o sistema bancário, deixar que em Portugal e Espanha alguns bancos tivessem ido à falência. Teria sido melhor que as perdas que hoje temos e as dificuldades que temos em pagá-las, tivessem sido partilhadas com os credores.

HOQUES NECESSÁRIOS PARA O PAÍS SAIR DA CRISE

Choque de gestão - gestão dos recursos humanos; qualifica ção de empresários; redimensionamento de empresas; substituir o modelo de protecção do emprego por uma pro- tecção ao crescimento das empresas l Choque financiamento – pouco há a fazer. Portugal depende de reorganização da zona euro, de criação de obrigações, de união bancária. l Choque política macro-económica – compromisso em reduzir a taxação assim que sairmos da crise. A opção não é o défice mas antes a competitividade da economia. l Modelo – ênfase na produtividade, no crescimento econó -mico, comércio externo, nos transaccionáveis, na redução da despesa, da taxação e do défice. A aplicação de todos estes choques em conjunto vai ajudar a Portugal a ultrapassar esta crise. l


SÉRGIO REBELO

Professor de Finanças Internacionais, distinguido pelo Tokai Bank, na Kellogg School of Management, onde foi também dirigente do Departamento de Finanças. Investigador na área da macroeconomia e das finanças internacionais, Sérgio Rebelo estudou temas tais como as causas dos ciclos económicos, o impacto de políticas económicas no crescimento económico e o comportamento das taxas de câmbio. A sua investigação foi financiada pela Fundação Nacional de Ciência dos Estados Unidos, pelo Banco Mundial e pelas fundações Sloan e Olin. É membro honorário da Sociedade de Econometria, do Departamento Nacional de Investigação Económica dos Estados Unidos e do Centro para Investigação de Políticas Económicas. Tem feito parte do conselho editorial de várias publicações académicas, nomeadamente a American Economic Review, a European Economic Review, o Journal of Monetary Economics e o Journal of Economic Growth. Já ganhou inúmeros prémios relacionados com o ensino na Kellogg School of Management, incluindo o Prémio de Professor Extraordinário do Programa de Mestrado Executivo e o Prémio de Professor do Ano. Sérgio Rebelo já foi consultor, entre outras organizações, do Banco Mundial, FMI, Conselho de Governadores do Sistema de Reserva Federal, Banco Central Europeu, Instituto Global da McKinsey e Instituto de Mercados Globais na Goldman Sachs. Recebeu o seu doutoramento em Economia pela Universidade de Rochester.

A

S 7 RAZÕES DO NOSSO EMPOBRECIMENTO E DA DEPRESSÃO

m 2004, a Grécia e a Alemanha tinham taxas de juro a dez E anos, praticamente idênticas. Houve uma convergência impressionante. O fluxo de capital do norte para o sul da Europa foi abundante. As taxas de juro eram baixas devido ao desaparecimento do risco de inflação e de desvalorização. Este crédito na Irlanda e Espanha foi para o imobiliário. Houve uma duplicação do preço das casas. Na Alemanha diminuiu. Em Portugal, foi para a divida pública, mas também para a família e para as empresas. Muito crédito dirigido ao consumo, aos não transacionáveis, à despesa pública. Pouco aos transacionáveis. Depois, ocorreu em Portugal o que os economistas chamam o “silence stop” que já sucedeu muitas vezes na América Latina. O mercado de capitais deixou de acreditar em determinados países e de lhes conceder financiamentos.

D U E

ÍVIDA PÚBLICA ELEVADA E O EQUILÍBRIO MÚTUO

uando a dívida pública é baixa, só há um equilíbrio. QuanQ do é elevada há dois. Num mercado de capitais acredita que o país pode pagar. As taxas de juro continuam baixas. Faz-se o roll over da dívida. Depois ocorre o outro. O mercado deixa de acreditar que o país pode pagar e as taxas de juro sobem, o que acaba por levar o país para a bancarrota. A Bélgica, por exemplo, é um país que está no equilíbrio virtuoso. Tem uma dívida elevada e juros baixos. O mercado de capitais acredita que a Bélgica pagará a dívida. Portugal expôs-se a esta possibilidade do equilíbrio múltiplo porque adquiriu muita divida.

LTRAPASSAR O PATAMAR 17/20 MIL U$D PER CAPITA

relativamente fácil a um país com muita gente na agricultuÉ ra e com uma população nova ter um período de crescimento. Basta deixar a indústria funcionar, adoptar algumas tecnologias, dinamizar o investimento, criar mercado bancário, etc. É fácil fazer isto. Mas depois, quando se chega a rendimentos idênticos aos de Portugal, 17/20 mil U$D per capita, parece que há uma desaceleração, e tudo estagna. Portugal estava na 3ª divisão e passou para a 2ª. Para passar para a 1ª divisão é bem mais difícil e é preciso fazer outras coisa. É preciso inovação, criar marcas, criar grandes empresas, outro tipo de capital humano, etc. Talvez isto explique uma parte da medíocre taxa de crescimento que tivemos na última década.

FEITO CHINA: PREÇOS E SECTORES PRODUTIVOS

correu uma redução significativa dos preços reais dos bens O de sectores onde a China entrou. Por exemplo, os têxteis custam hoje menos 60% em termos reais do que custavam em 1979. Quando a China entra numa indústria é um problema. Nos EUA, as empresas que eram intensivas em trabalho fecharam as portas. As poucas que sobreviveram foram as que usavam pouco trabalho, mas muito capital e automatização. As outras saíram para outros sectores. Isso foi possível nos EUA devido à grande flexibilidade do mercado de trabalho. Tem um preço: a insegurança. Mas uma vantagem: a economia ajusta-se de forma relativamente fácil quando há um grande choque. Os países que têm uma estrutura industrial parecida com a China apresentam dificuldades de crescimento. Calculou-se os sectores que exportam mais que a média dos países,

MAIO 2013 NE - NEGÓCIOS & EMPRESAS

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DOSSIER identificando assim aqueles em que se tem uma vantagem comparativa. Depois analisou-se quais desses sectores coincidem com a estrutura dos sectores transacionáveis da China. Concluiu-se que na Itália, 59% da indústria sofre este “China effect” e Portugal 49%. As exportações portuguesas têm uma coincidência muito grande com os sectores em que a China e outros países emergentes se tornaram bastante fortes. Isso pode explicar as dificuldades.

E

DUCAÇÃO/SALÁRIOS/GLOBALIZAÇÃO

studos nos EUA demonstram que pessoas que acabaram a E universidade têm tido, desde 1996, um crescimento real 3% ao ano, no seu rendimento. As que não acabaram o secundário, não tiveram aumento de salários reais nos últimos 25 anos. Os empregos potencialmente ocupados por estes estratos da população sofreram os efeitos e as consequências do outsourcing internacional e dos mercados emergentes. As pessoas que trabalham nestas fábricas ficaram em competição com os empregos de países em vias de desenvolvimento. Outros foram substituídos por computadores. Essa é uma das principais razões porque não tem havido aumentos salariais nestes estratos sociais. Segundo dados da OCDE, Portugal está no fundo da tabela, na percentagem da população entre 25/64 anos que acabou o ensino secundário (28%). Isto é preocupante.

Q E

de consumo era dividido de forma igual entre estas várias funções. Agora transformou-se: a produção está no meio da curva e tem um valor reduzido. Isto deriva da congregação de dois factores: da abertura da China e da existência de tecnologias da informação que permite controlar à distância uma fábrica na India ou no Vietname. Isto tornou a produção extremamente barata. As funções que têm agora um valor elevado são o design, o branding, a concepção, as vendas, o marketing, a distribuição. Portugal precisava de pôr muito mais enfase do que antes nos extremos da cadeia de valor.

UALIDADE DA EDUCAÇÃO

qualidade da educação em Portugal não é muito má. Temos A melhor qualidade que a Itália, Espanha e Grécia. Mas a rentabilidade da educação está condicionada pelo que se passa na educação pré-primária e na primária.

NVELHECIMENTO DA POPULAÇÃO/SISTEMA DE PENSÕES

envelhecimento da população é comum a muitos países O europeus. Em 2050 a idade média da população portuguesa será de 52 anos. Metade das pessoas que estarão inseridas na economia terá mais de 50 anos. Se não houver reformas no sistema de pensões, a evolução da divida pública vai ser insustentável na maioria dos países europeus (França, Reino Unido, Áustria, Alemanha, etc.) e no Japão, que neste em particular, é um dos piores. Não vai ser possível manter as actuais reformas. O mercado obrigacionista não vai emprestar esse dinheiro. O primeiro sistema de segurança social foi instaurado por Bismark, em 1889, na Alemanha, onde as pessoas podiam reformar-se quando chegassem aos 70 anos. Mas a esperança média de vida era de 45 anos. Hoje, na Alemanha é possível reformar-se aos 55 anos, e a esperança de vida de uma mulher alemã é de 86 anos. O sistema de pensões está a prometer pagar mais de 30 anos. É evidente que estes sistemas precisam de reformas. Na Europa, não é possível aumentar mais os impostos. Nos EUA e no Japão são relativamente baixos. Ainda há margem. Na Europa não. A Noruega tem uma receita fiscal que representa 60% do PIB. É incomportável no futuro.

V

C

ONSUMMER FOCUS

rata-se de vender ao cliente o que o cliente quer. É difícil de T aplicar porque a maioria das empresas quer vender ao cliente aquilo que pensa que ele quer comprar. Isto decorre de um divórcio tradicional que antes ocorria das duas funções que estavam nos extremos da cadeia de valor. A penetração comercial da marca Moet & Chandon na China é o exemplo desta estratégia. Deixou de ser produzido em França e exportado para a China. Passou a ser produzido na China mas adaptando-o ao mercado, criando um espumante doce. A percepção que se tem do marketing do vinho português é um pouco ao contrário. Querem vender aquilo que funciona no mercado interno e de que gostam muito. Usam o mercado interno que é pequeno e idiossincrático como trampolim para o mercado externo. Em geral, isso não funciona. É preciso saber o que é que o consumidor quer mesmo comprar. Têm de escolher sempre o mesmo rótulo, visível, com vogais abertas, nomes simples de pronunciar. Há muito a fazer em Portugal neste domínio.

ALUE CHAIN

“value chain” é a decomposição de um preço de um bem A por todas as funções que têm de ser efectuadas para o produzir: concepção do produto, design, branding, produção, transporte, venda. Nos anos 60/70, o preço de um produto

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P

RODUÇÃO E VENDA LOCAL – ATENUA RISCOS CAMBIAIS

s exportações de todos os países são 9 triliões de dólares. A A produção e venda fora do país de origem são 18 triliões de dólares. A tendência vai-se acentuar. Se as empresas estão a vender na Europa, produzem na Europa. Se estão a vender na Ásia, produzem na Ásia. Se vendem na América Latina, produzem na América Latina. Há a ideia que as empresas deslocalizam-se por causa de trabalho e custos mais baratos. Em parte. Mas a grande motivação para produzir localmente é gerir o risco cambial. Só negócios com margens brutais podem suportar diferenciais de taxas de câmbio elevadas. A única solução é produzir localmente para ter vendas e custos na mesma moeda. Será que Portugal pode criar condições para ser o local onde as multinacionais vêm produzir para a Europa, porque querem ter produção em euros?

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EVERSE INNOVATION

reverse innovation é a simplificação de produtos tecnoA logicamente avançados para corresponderem às necessidades e aspirações de estratos de populações crescentes. O mind set de maior parte do mundo é ainda tentar criar produtos complexos, cheios de possibilidades que ninguém usa ou utiliza. O reverse innovation é subtrair em vez de somar, tornando o produto mais simples e barato. É o que vai permitir vender no mercado global. Se Portugal andou há 500 anos por esses mercados, deve perceber como funcionam. Porque não fazer reverse innovation. Analisar um


produto, ver o que é essencial, subtrair e vendê-lo em países em vias de desenvolvimento. A enfase vai ser dada ao preço e não ao superluxo ou ao aumento do nível de serviços. A “onda” está neste tipo de inovação, na tentativa de criar produtos baratos. Portugal, dado que não tem o número de cientistas e engenheiros de outros países, pode claramente participar nesta tendência. A General Electrics está a fazê-lo na India.

M S

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ALTO TECNOLÓGICO EM PORTUGAL

ortugal deu um salto tecnológico enorme. As universidaP des mudaram incrivelmente. Há universidades com uma qualidade de ensino fantástica. Quem está fora apercebe-se. Quem está cá, não dá conta. Uma das diferenças entre Portugal e Grécia é a qualidade de aplicação de tecnologias. Portugal não tem os custos mais baixos da Europa mas é uma questão de produtividade e de standartização. Nos próximos 25 anos, o crescimento da procura virá dos países em vias de desenvolvimento. Não virá do Japão, da Europa ou dos EUA. E aqueles países não têm rendimentos muito elevados. Por isso temos de nos adaptar a esses países, perceber o que é que esses mercados querem comprar para podermos produzir.

R R I

UDANÇA DE CULTURA - PROTAGONISTAS

uando as pessoas circulam muito por outros países, quanQ do regressam após anos a trabalharem noutros mercados, conseguem mudar a cultura de um país. Há estudos que o comprovam. Há tanta gente a sair do país. Mas talvez, a prazo, sejam estas pessoas a trazer uma nova força e novas ideias. Precisamos de empreendedores, pessoas que sejam capazes de gerar processos de inovação, de criar novos produtos, de assumir risco.

país. Os rankings dos relatórios do Banco Mundial, podem até não medir o que verdadeiramente é importante. Mas é crucial para a percepção do investidor. Se estivermos mal colocados vamos ser preteridos. Reduzir incerteza, baixar impostos, desburocratizar e um desenlace bem sucedido neste processo de ajustamento. É o caminho.

EGULAÇÃO – FAZER UM CLEAN UP

a regulação, em geral, só se adiciona. Nunca se subtrai. É N preciso fazer um clean up. A Europa tem muitos sistemas e regras que vêm dos anos 60 e 70. Devia-se olhar para essas regras, ver o que faz sentido e o que está apenas a aumentar o custo de produção. Temos de ter um sistema de regulação mais ágil e mais amigo de criação de emprego.

EFORMAS ESTRUTURAIS OU ACÇÕES MACRO-ECONÓMICAS?

ideal é mudar a estrutura económica. Torná-la mais proO dutiva. Mas isso demora tempo. Há acções micro-económicas que as empresas podem fazer, como apostar mais no branding, por exemplo. Talvez seja possível fazê-las sem as reformas estruturais. Não podemos esperar por tudo, senão vamos estar aqui muitos anos parados. Vamos fazer primeiro aquilo que podemos fazer e não esperar pelas reformas estruturais.

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ODELO IRLANDÊS

modelo irlandês teve duas fases. A primeira fase de O crescimento veio do outsourcing de serviços. Depois teve a “bolha” económica no mercado imobiliário. Não vamos imitar a segunda. Vamos reflectir sobre a primeira. Desregulamentaram, baixaram o imposto sobre o rendimento das empresas, atraíram empresas americanas. Estas exigiam no recrutamento níveis elevados de capital humano. As pessoas investiram na educação. O governo aumentou também a qualidade das instituições. Em Portugal procurou-se usar a despesa pública como um motor de crescimento da economia. É evidente que não deu resultados. Os governos procuraram fazer “golos”. Só que o fizeram na baliza errada.

INANCIAMENTO

extremamente difícil iniciar agora um negócio em Portugal. É É muito difícil obter crédito e é um assunto que tem de ser resolvido. Mas não podemos esquecer que vivemos num período de crédito extremamente fácil. E não tivemos assim tantos casos de sucesso empresarial como poderíamos ter tido. Isto prova que o financiamento não é a solução para o problema.

C

ONJUNTURA ECONÓMICA – CONTRIBUTO DOS MACRO-ECONOMISTAS

ortugal tem o azar de neste momento só ter cartas más para P jogar. A única razoável é a carta da credibilidade. E a única que nos resta. Colocamo-nos numa situação em que precisamos de pedir ajuda e temos que nos sujeitar às regras. Tentamos cumprir o que prometemos, esperando que o exame seja um pouco mais fácil e que nos sejam dadas condições, melhorando as condições do programa. Os macro-economistas não nos dão grandes ideias sobre como Portugal vai sair da actual situação, excepto exprimir uma certa esperança que Portugal possa fazer o impossível. Do ponto de vista micro-económico parece que há muito para se fazer. Os homens do marketing dizem que Portugal tem bons produtos mas não tem um marketing tão bom como os produtos. Há necessidade de vender melhor o que já fazemos. Talvez se possa fazer melhor na concepção, design, branding e na distribuição. Talvez possa haver uma melhoria do foco no consumidor, percebendo melhor o que os outros mercados querem. Talvez possamos atrair mais multinacionais. Talvez possamos iniciar o processo de inovação ao contrário.

NVESTIMENTO

grande inimigo do investimento é a incerteza. Não há nada O pior para matar o investimento do que a incerteza. E ainda não reduzimos a incerteza em Portugal. É importante cumprir o programa de ajustamento para manter a credibilidade. Se um investidor não tiver a certeza que Portugal daqui a dez anos não está na zona euro, rapidamente vai investir noutro

MAIO 2013 NE - NEGÓCIOS & EMPRESAS

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ACTUALIDADE EMPRESAS

Quidgest reforça presença nos Estados Unidos e no Brasil Tecnológica abre concurso para preenchimento de 40 vagas, a fim de responder a estratégia de crescimento para este ano

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Quidgest, empresa tecnológica 100% portuguesa, criada em 1988, é o maior produtor de software empresarial de origem nacional. Entre outros prémios e distinções é Microsoft Gold Certified Partner e integra a rede de PME inovadoras da COTEC. Com mais de 200 sistemas de informação em produção, a Quidgest foi pioneira em Portugal na informatização da Administração Pública e na racionalização da prestação de cuidados de saúde, com a prescrição electrónica de medicamentos da Portugal Telecom. Complementando o desenvolvimento de software, os serviços da Quidgest vão desde a consultoria de negócios e definição de procedimentos até à formação, certificada pela DGERT, e à manutenção técnica evolutiva dos sistemas instalados, continuamente actualizados.

No panorama internacional, destaca-se o fornecimento ao Governo de Timor-Leste do sistema de gestão de todos os recursos humanos da Administração Pública através do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, ou ao município de Maputo do sistema de gestão municipal SIGEM. É uma empresa ética e socialmente responsável. Tem protocolos com instituições de ensino superior para divulgação de conhecimentos junto dos estudantes e utilização livre do seu software em ambiente académico. A tecnológica portuguesa, com sede em Lisboa, está presente na Alemanha, Noruega, Timor-Leste, Moçambique, Angola, Macau e El Salvador e em 2013 pretende reforçar a sua presença nos EUA e no Brasil. A empresa actualmente com 80 funcionários vai reforçar os seus quadros, com um concurso a decorrer até ao final do ano, para o preenchimento de 40 vagas. O concurso corresponde à estratégia de crescimento da Quidgest para 2013, a nível nacional e internacional - particularmente em países como os EUA, Macau, Alemanha e Brasil. A Quidgest prevê entrar este ano na bolsa alemã, para aumentar a sua visibilidade no mercado internacional.

A equipa da Quidgest no Q-Day 2012, o congresso anual da empresa (FOTO: D.R.)

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CLIPPING Tetraedro avança para Moçambique e Angola com parcerias locais TECNOLOGIA. Serviços prestados no estrangeiro em, 2013 podem valer cerca de 30% do volume de negócios. A internacionalização é algo natural para uma empresa como a Tetraedro, já que os serviços de ‘hosting’ não conhecem fronteiras, descreve o presidente executivo da empresa, António Belém, ao Diário Económico. Nesse sentido, a tecnológica já está a preparar a sua presença em “Angola e Moçambique através de parcerias com empresas locais”, acrescenta este responsável. O volume de negócios da Tetraedro duplicou em 2011 face a 2010, tendo-se aproximado dos 200 mil euros. Para 2012, António Belém espera um crescimento acima de 25% face ao ano anterior. (IN DIÁRIO ECONÓMICO)

Somague ganha obra em Moçambique CONSTRUÇÃO. A Somague continua a reforçar a sua presença em território moçambicano. Obteve agora um contrato para a concessão e a construção de um a nova unidade hoteleira, na cidade de Maputo. (IN VIDA ECONÓMICA)

Piso da Siemens consolida aproximação da Amorim aos transportes CORTIÇA. Depois dos autocarros de turismo e dos comboios de muito alta velocidade, o metropolitano é o terceiro meio de transporte utilizado pela Corticeira Amorim para capitalizar as potencialidades da cortiça neste sector. Através da subsidiária Amorim Cork Composites, a empresa liderada por António Amorim desenvolveu um piso de cortiça 30% mais leve para o metro de última geração da Siemens, que começará a circular este ano na Polónia. (IN JORNAL NEGÓCIOS)


Portucel exporta 95% da pasta e papel PAPEL. O Grupo Portucel atingiu máximos históricos no volume de produção e vendas durante o ano passado. A empresa que exporta 95% da produção de pasta e papel, fechou o exercício de 2012 com um resultado líquido a subir 7,6% em termos homólogos, para os 211,2 milhões de euros, tendo reforçado a presença no mercado europeu. As vendas da empresa ultrapassaram os 1500 milhões de euros, enquanto o EBITDA se manteve estável nos 385,4 milhões de euros. (IN OJE)

Jerónimo Martins cria nova marca Ara para abrir lojas na Colômbia RETALHO. O grupo pretende investir

400 milhões de euros nos próximos três anos no país. O objectivo é chegar a 2015 com 150 lojas da nova marca colombiana. (IN DIÁRIO ECONÓMICO)

Jerónimo Martins entre os 100 maiores grupos de retalho do mundo RETALHO. Dona do Pingo Doce subiu cinco posições no ‘ranking’ global da Deloitte. (IN DIÁRIO ECONÓMICO)

constituição de 222 vagas de trabalho para diversas áreas, como a hotelaria, náutica, manutenção entre outras. A empresa conta com cinco navios-hotel e vai inaugurar, em Março, duas novas embarcações, além de ter autocarros de luxo. (DIÁRIO ECONÓMICO)

Compta distinguida pelo Eco-Innovation Observatory PRÉMIO. A Compta acaba de ser distinguida pelo Eco-Innovation Observatory com o título “Good Pratice Portugal”. O reconhecimento deste observatório especializado da Comissão Europeia deve-se à inovadora solução de gestão de resíduos Compta, com a qual a empresa portuguesa fora já distinguida, em 2012, no âmbito do Green Project Awards Portugal. (IN VIDA ECONÓMICA)

Grupo Lena inaugura segunda fábrica de pré-fabricados na Venezuela CONSTRUÇÃO. A unidade localiza-se em Ocumare del Tuy e tem uma capacidade instalada para a construção de 14 edifícios por mês (280 apartamentos). (IN DIÁRIO ECONÓMICO)

Vista Alegre cria parceria com marca de luxo Christian Lacroix LOIÇAS. A Vista Alegre Atlantis (VAA) e a marca de luxo francesa Christian Lacroix anunciaram ontem uma parceria que vai permitir ao grupo português de porcelanas reforçar o processo de internacionalização iniciado há dois anos. (IN DIÁRIO ECONÓMICO)

Vila Galé investe 1,5 milhões para remodelar unidades em Portugal TURISMO. O grupo português Vila Galé aposta na modernização de alguns dos seus hotéis em território doméstico, num investimento que ascende aos 1,5 milhões de euros. (IN OJE)

Douro Azul contrata 222 trabalhadores

Secil exportou mais de metade da produção de cimento em 2012

TURISMO. A Douro Azul, liderada por Mário Ferreira, anunciou a

CIMENTO. “A Secil tem-se direcionado nos últimos anos para a

actividade exportadora, com um recorde de 1,47 milhões de toneladas em 2012, o que representa mais de metade da sua produção em Portugal”. (IN ECONÓMICO)

CH Business Consulting é a melhor empresa para trabalhar em Portugal TECNOLOGIA. Depois do ano passado ter ocupado o segundo lugar do “ranking” das melhores empresas pra trabalhar em Portugal, elaborado pela revista “Exame”, este ano conseguiu a liderança. (IN VIDA ECONÓMICA)

Manuel Santos Vitor é o novo Managing Partner PLMJ DIREITO. A PLMJ, Sociedade de

Advogados aprovou um novo modelo de governance para o triénio 2013/2015, elegendo como Managing Partner Manuel Santos Vítor, função na qual é apoiado por um Conselho de Administração alargado sem funções executivas. Esse Conselho integra como Chairman Luís Sáragga Leal e ainda José Miguel Júdice, Nuno Líbano Monteiro, Jorge Brito Pereira e Tomás Pessanha.

Unicer investe na modernização da operação industrial das cervejas BEBIDAS. Investimento de 80 M€ na consolidação em Leça do Balio das operações de produção e enchimento. A Unicer vai iniciar um processo de consolidação da sua operação industrial no negócio das cervejas no Centro de Produção de Leça do Balio. Este projecto integra um programa global de expansão e modernização daquela unidade que envolve um investimento de, aproximadamente, 80 milhões de euros. (COMUNICADO DE IMPRENSA)

European Business Awards PRÉMIO. A excelência empresarial da Delta Cafés é reconhecida mais uma vez desta feita no European Business Awards (EBA) como finalista na categoria importação/ exportação. Os EBA foram criados em 2007 e destinam-se a premiar as empresas e negócios que, em toda a Europa, se destacam pelo seu carácter inovador. (IN SITE DELTA, NOTÍCIAS)

DAI aposta no gás para cortar custos AMBIENTE. Investimento de 1,3 milhões de euros permitirá à fábrica da DAI – Sociedade de Desenvolvimento Agro-Industrial usar gás natural em vez de fuel e poupar mais de um milhão por ano em energia. As 100 mil toneladas de açúcar que anualmente saem da fábrica da DAI, em Coruche, poderão não ficar mais doces, mas irão a partir deste ano tornar-se ambientalmente mais limpas. (…) A reconversão do sistema de cogeração da DAI é um projecto da EDP, que o entregará à refinadora de açúcar em meados deste ano. (…) Na planície ribatejana a conjuntura amarga é agora combatida com açúcar amarelo.

MAIO 2013 NE - NEGÓCIOS & EMPRESAS

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PROGRAMAS DE APOIO A EMPRESAS

Portugal Sou Eu O programa “Portugal Sou Eu”, lançado pelo Ministério da Economia no dia 13 de Dezembro de 2012, promove a valorização de produtos produzidos em Portugal, intermédios e finais, com elevada incorporação nacional (igual ou superior a 50%). As dificuldades decorrentes da quebra drástica do consumo interno levaram à criação de um programa que contribuísse para minorar os efeitos dessa situação, apelando ao lado mais emotivo e solidário do consumidor na preferência por bens produzidos em Portugal, mas também ao lado mais racional, já que comprar produtos portugueses contribui, no futuro, para reduzir o défice estrutural da nossa economia. Pretende-se que uma fatia maior do consumo nacional contemple produtos nacionais que são tão bons em qualidade, preço e inovação como os outros. A marca umbrela “Portugal Sou Eu “ será um sinalizador e um estímulo ao orgulho nacional e à promoção de um coletivo mais forte que ajude a vencer os desafios que a sociedade atualmente enfrenta e tornar as nossas empresas e o nosso país mais competitivo.

ESTIMA-SE QUE O SELO PORTUGAL SOU EU CONTRIBUA EM PELO MENOS € 700 M ANO PARA A BALANÇA COMERCIAL

34 NE- NEGÓCIOS & EMPRESAS MAIO 2013

ESTIMA-SE QUE CADA 1% DE AUMENTO DE VENDAS COM INCORPORAÇÃO NACIONAL CONTRIBUA PARA 0,2% 0,7% DE AUMENTO DE EMPREGO

“Chegou a hora de conceber um projeto e ações que dinamizem a produção nacional para substituir importações e aumentar o valor acrescentado interno nas exportações. A AIP vai focalizar o seu trabalho junto das empresas e ajudar a criar as condições de competitividade das PME. É uma das mais importantes iniciativas que vamos prosseguir e que passa por promover a relação entre as grandes empresas e PME fornecedoras, apoiando-as na pré-qualificação e nos encontros de promoção de negócios.”

José Eduardo Carvalho, na apresentação do programa “Portugal Sou Eu”

Numa fase em que todos enfatizamos a importância do crescimento das nossas exportações é fundamental que os sectores transacionáveis contem com empresas de bens e serviços de suporte, normalmente direccionados para o mercado interno, mais fortes. A economia é um sistema de vasos comunicantes e realidades empresariais internas mais competitivas são um factor de alavancagem do país como um todo. Na implementação do Portugal Sou Eu, a AIP conta, neste momento, com a colaboração das associações empresariais na qualidade de parceiros dinamizadores regionais – Aerlis, Aida, Airv, Nerba, Nervir, Nerga, Nercab, Nerlei, Nersant, Nerpor, Nerbe, Nere, Nera, e também sectoriais como a Fata e a Adereminho – para o apoio à realização de diversas atividades: M obilização das empresas para adesão ao selo Portugal Sou Eu; Participação na acção de cooperação empresarial “ Grandes Empresas com...” onde se pretende gerar a aproximação destas a grupos de PME fornecedoras nacionais; Promoção da adesão da rede de retalhistas à compra de sortidos de produtos com selo Portugal Sou Eu; Promoção do programa junto de escolas profissionais das regiões com o objectivo de gerar junto dos jovens uma cultura a favor do que é produzido em Portugal; Promoção da participação conjunta das empresas da região em eventos colectivos nacionais ou regionais de promoção da marca Portugal Sou Eu; Participação em acções indirectas de comunicação do programa. A actividade de mobilização de aderentes ao selo durante o mês de Fevereiro e Março contou com um roadshow em 14 regiões sob o lema “Criar Valor Consumir Português”. Estiveram presentes nos painéis representantes de entidades regionais, sectoriais, clusters e personalidades do mundo académico e empresarial de forma a gerar uma mais ampla divulgação do programa em rede. Nestes workshops participaram mais de 600 empresas, sendo 40% a taxa de inscrição para adesão ao selo. Foram relevados vários aspectos (ver em https://www.aip.pt):


JANEIRO/MARÇO 2013 NOME DA REVISTA

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PROGRAMAS DE APOIO A EMPRESAS

A elevada qualidade dos produtos portugueses, particularmente na agroindústria, e a necessidade de um marketing mais agressivo e maior capacidade negocial dos produtores para a afirmação no mercado nacional e internacional; A necessidade das empresas terem estratégias e modelos de negócio que permitam o acesso a recursos produtivos no território, que lhes garanta a sua sustentabilidade; A excessiva regulamentação que asfixia muitos sectores de actividade dificultando a concorrência com produtos estrangeiros e a grande dificuldade em conseguirem fazer agrupamentos para exportação e assim reduzirem os custos; A dificuldade de acesso a matérias-primas obrigando ao recurso à importação pelo que os objetivos de maior incorporação nacional passam por estímulos ao empreendedorismo, a novos processos de reindustrialização e a uma relação virtuosa entre os sectores e fileiras. A boa operacionalização do Programa e das Iniciativas do Portugal Sou Eu é assegurada por um Órgão Operacional composto pela AEP, AIP, CAP e liderado pelo IAPMEI.

O SELO O selo Portugal Sou Eu é atribuído a produtos agrícolas e industriais de empresas que estejam a cumprir a legislação necessária ao exercício da actividade e com situação regularizada face a administração fiscal e à segurança social. Prevê-se a extensão do selo ao artesanato e aos serviços

TOTAL DE INCORPORAÇÃO NACIONAL (TIN)

30%

CRITÉRIOS ADICIONAIS EMPREGO PROPRIEDADE INDUSTRIAL VAB | V. NEGÓCIOS (MÁX. 20%)

50% - DOP. DENOMINAÇÃO DE ORIGEM PROTEGIDA - IGP – INDICAÇÃO GEOGRÁFICA PROTEGIDA - PRODUTOS COM ROTULAGEM DE ORIGEM OBRIGATÓRIA (PRODUTOS DE ACESSO DIRECTO) O CÁLCULO DA TIN DECORRE DOS DADOS CONTABILÍSTICOS DAS EMPRESAS

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Manuel Reis Campos e José Eduardo Carvalho rubricam o protocolo na presença de Sérgio Monteiro, secretário de Estado de Estado das Obras Públicas, Transportes e Comunicações (FOTO: D.R.)

AIP e CPCI assinam acordo para projetos conjuntos na Regeneração Urbana As duas entidades irão conceber e executar ações que dinamizem a procura no setor da construção

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Associação Industrial Portuguesa – Câmara de Comércio e Indústria (AIP-CCI) e a Confederação Portuguesa da Construção e do Imobiliário (CPCI) assinaram um acordo para o desenvolvimento de ações conjuntas para os próximos anos, com foco na regeneração urbana e na internacionalização no setor da construção. O protocolo foi assinado no decorrer da conferência “As Empresas a Regeneração Urbana”, no Porto, no dia 21 de março, perante 482 empresas do setor da construção. A parceria tem como objetivo criar valor para as empresas nas oportunidades existentes no mercado da regeneração urbana e o desenvolvimento de ações de internacionalização na abordagem a novos mercados, ou que potenciem o crescimento nos países já consolidados. Um dos primeiros projetos a desenvol-

ver no âmbito desta parceria é o ReUrbe, que aguarda a decisão do QREN e que procurará superar as falhas de mercado que inviabilizam a concretização sustentada de investimentos na reabilitação urbana, promover a inovação e desenvolver parcerias com os municípios e contribuir para a dinamização do mercado da reabilitação urbana e, assim, para o crescimento económico e o emprego nas empresas. Na área da internacionalização, o trabalho a desenvolver vai partir da premissa de que é necessária uma conjugação associativa para concertar ações colaborativas na abordagem a processos de internacionalização, e que as associações empresariais deverão liderar e implementar a criação de Acordos Complementares de Empresas (ACE), fusões e aquisições, bem como outras formas de cooperação, contribuindo para o redimensionamento empresarial e a criação de escala para o crescimento. A AIP e a CPCI comprometem-se ainda a ajustar ações e propostas para otimizar e facilitar o acesso das empresas no setor da construção ao futuro QREN (2014-2020), nas áreas consideradas prioritárias, a regeneração urbana e a internacionalização.


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EMPRESA EM DESTAQUE SICASAL

Com o “ADN” da Sicasal “Criar oportunidades nas dificuldades” é o lema de Álvaro Santos Silva, líder da empresa portuguesa há já 44 anos

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postar na inovação tecnológica e nos métodos de trabalho para produzir de acordo com as necessidades dos mercados, e seguir uma política de recursos humanos “amigável”, baseada na gestão da carreira dos colaboradores. Ingredientes que colocaram a Sicasal no “pelotão da frente” da indústria de carnes em Portugal. Será “magia”? Álvaro Santos Silva, 73 anos, é quem lidera a empresa há 44 e quer partilhar a sua “receita”: “Como português tenho a obrigação de lembrar ao país a minha irreverência”. Esta é a história de uma empresa familiar de Vila Franca do Rosário, em Mafra, “cem

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por cento” portuguesa, protagonizada por um homem com espírito empreendedor que marcou uma nova era da indústria em Portugal. Em 44 anos, Álvaro Santos Silva, filho de agricultores, transformou os dez contos – em moeda antiga –, que investiu inicialmente no negócio, num volume de facturação anual que oscila entre os 90 e os 100 milhões de euros, e aumentou o número de trabalhadores de 12 para os actuais 650. A Sicasal abate dois mil porcos por dia e lança para o mercado semanalmente 500 toneladas de carne processada (como salsichas, fiambre e enchidos) e 500 toneladas de carne fresca. Canaliza 40 por cento do que produz para a exportação e para um vasto conjunto de países dos diferentes continentes, desde Angola à China. Sociedade Mota & Silva foi o nome inicial da fábrica, que surgiu ainda na década de sessenta. Os apelidos dos dois sócios no negócio deram origem à Sicasal-Sociedade Industrial e Comercial de Avicultura e Salsicharia, Lda., que, mais tarde, se trans-

formou em sociedade anónima (SicasalIndústria e Comércio de Carnes, SA). Álvaro Santos Silva recorda outros marcos assinaláveis na vida da empresa. O “Verão quente” de 1975, quando uma comissão de cinco operários tentou afastá-lo da gerência: “Disse que saía, mas com a condição de os empregados continuarem a receber o ordenado, caso contrário, abato-vos! Passado pouco tempo, um plenário de trabalhadores acabou por saneá-los, mas a eles…”. O abastecimento às Forças Armadas de Angola, durante a guerra civil, teve os seus momentos áureos: “Nunca deixei de fornecer aquele mercado, mesmo correndo alguns riscos naquele tempo. As tropas precisavam de comer. Mas todos acabavam por usufruir.” O incêndio que, em 15 de Novembro de 2011, devastou parcialmente as instalações – cerca de nove mil metros quadrados – é outra etapa incontornável da vida de uma empresa e do seu presidente que nunca voltou as costas aos “acidentes de percurso”. “Criar oportunidades nas dificuldades”


BI DA EMPRESA

é o lema do líder, partilhado por cada um dos membros desta “família”, como Álvaro lhe prefere chamar, muito numerosa. A resposta ao fogo foi prontamente dada com o projecto “Renascer”, um plano de recuperação e reorganização, cujo investimento total atingirá os 20 milhões de euros, num período de dois anos, aumentará as instalações e “duplicará, no mínimo, a capacidade de produção”. A fábrica não parou, “patrão” e empregados permanecem unidos. Quatro décadas depois, o voto de confiança a Álvaro Santos Silva ficaria assinalado por uma mega-festa-surpresa preparada pelos funcionários para homenagear o empresário que lhes salvou os postos de trabalho.

ARRANQUE NA AVICULTURA INDUSTRIAL

A Sicasal “nasceu de alguém que vem do Ultramar”, onde serviu na guerra de Angola, nos anos sessenta (integrou a 174.ª de Caçadores Especiais, nos Dembos), recorda Álvaro Santos Silva, “chega a Portugal e diz: agora, tens de fazer alguma coisa…”.

SEDE: Fábrica em Vila Franca do Rosário, Mafra ACTIVIDADE PRINCIPAL: indústria alimentar; abate e transformação de carne de suíno; comercialização sob a forma de carne fresca e produtos transformados (salsichas e enchidos) N.º DE TRABALHADORES: 650 ÁREA OCUPADA: 50 mil m2 PRODUÇÃO SEMANAL: 500 toneladas de carne fresca; 500 de carne processada Exportação: 40% da produção MERCADOS: cerca de 12, com Angola à cabeça; PALOP, China, Rússia, Canadá, Japão, UE, Suíça e outros VOLUME DE FACTURAÇÃO: 96,3 milhões de euros, em 2011, ano do incêndio; menos 7%, em 2012; 20% mais, já no 1.º trimestre de 2013 Sem prática no sector, valeu-se, como lembra, da sua “intuição” e de “algum traquejo de andar pelo mundo”: “Tinha, na altura, 24 anos e acabado de regressar de África com dez contos. Pedi a um amigo mais dez. Nessa altura, tinha arrancado em Portugal a avicultura industrial. Foi por aí que comecei, pela produção de frangos na zona da Ericeira, Torres Vedras e Mafra, onde sempre desenvolvi a actividade. Passava por criar algumas instalações minhas, mas depois transferia o conhecimento a terceiros”. Álvaro Santos Silva acaba por juntar o seu negócio de aves ao do sogro, que se dedicava ao abate de porcos e ao fabrico de salsichas.

Incansável na procura de novos desafios, descobre, nas viagens que faz a países mais avançados no sector como Alemanha, França, Dinamarca e Espanha, que “podia entrar na área da suinicultura, com o abate e a transformação de carnes”: “Nessa altura, e de alguma forma, fui pioneiro. Por vezes, é uma vantagem não conhecer o negócio… Em Portugal, repugnava-me ver os porcos a serem mortos com uma faca, a sangue frio. Na indústria alemã e francesa, por exemplo, não eram abatidos de forma tradicional, mas antes pelo sistema de atordoamento. As carcaças dos porcos já não eram transportadas às costas, sujando a roupa, mas sim através de um sistema elevatório. As salsichas e os chouriços também já não eram feitos à mão, mas sim enchidos por máquinas automáticas a vácuo. Comecei a comprar os equipamentos que alteravam as regras que existiam no país e adquiri o terreno onde estamos, 40 hectares. Chamaramme utópico e perguntaram-me onde é que ia vender o que produzia”. A visão estratégica de Álvaro Santos Silva conduziu a um aumento considerável na produção, no início da década de oitenta. Rapidamente atingiria os mil porcos por dia abatidos e transformados. A concorrência “não conseguia aproximar-se deste número”. “Era uma loucura!...”, recorda com entusiasmo. Nos anos noventa, a Sicasal foi pioneira também no lançamento da chamada “embalagem em atmosfera protectora”, fruto das necessidades e exigências dos consumidores, que se mostravam menos interessados pelos enchidos, preferindo antes as mortadelas e os fiambres, entre outros.

MAIO 2013 NE - NEGÓCIOS & EMPRESAS

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EMPRESA EM DESTAQUE SICASAL

ÁLVARO SANTOS SILVA “ATINGIR O DOBRO DA PRODUÇÃO NÃO É NENHUMA UTOPIA” O presidente do conselho de administração da Sicasal acredita que a empresa poderá ultrapassar as expectativas com o projecto “Renascer”, concebido após o incêndio que, em 2011, devastou parte das instalações da fábrica. O projecto “Renascer” trará novas vantagens competitivas à Sicasal? Pretende revolucionar o sector? Pensávamos que num ano teríamos o projecto concluído, mas tal não é possível. As infra-estruturas de base estão concluídas, mas tive de optar por fazê-lo por fases, de modo a não prejudicar a produção. A fábrica está a trabalhar como antes, mas estamos ainda a estabilizar toda a reorganização da empresa. Agora precisamos de afinar todo o modelo de gestão. Em simultâneo, vamos cumprindo as formalidades necessárias, desde o ambiente aos vários licenciamentos. Espero que não demore muito tempo, pois trata-se de decisões multidisciplinares. Penso que sim, que será outra fase. Trata-se de apostar na tecnologia e nos métodos de trabalho para produzir os produtos de acordo com o mercado que está à nossa frente e perspectivar um pouco o que vai acontecer daqui a dez anos. Equipamen-

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to e instalações. Na exportação, temos de olhar para os sistemas de conservação. A produção aumentará consideravelmente? A Sicasal poderá atingir o dobro, quer no abate quer na produção. No mínimo. Não é nenhuma utopia. Com outro tipo de qualidade e uma estrutura abrangente a novos mercados. Instalar equipamentos de maneira a diversificar e ter a possibilidade de tanto vender para o Japão como para a China, por exemplo, que têm gostos e consumos diferentes. Mas qualquer linha de produção que se faça exige massa crítica, pessoas com formação específica, a trabalhar com dignidade para poderem produzir bem. Pela força das circunstâncias temos que nos “englobar”. O primeiro povo a fazer a globalização foi o português, na época dos Descobrimentos. Na altura, não seriamos tão obrigados mas agora somos!... E em termos de exportação? Sim, temos boas perspectivas de cresci-

mento. Podemos considerar que o mercado nacional está estabilizado. Felizmente que vivemos num mundo globalizado, o mercado é o mundo e Portugal tem possibilidades de crescer nas vendas, se quiser trabalhar. Talvez mais nuns sectores do que outros. Como português, tenho a obrigação de lembrar ao país a minha irreverência. Tem propostas concretas? O futuro passa por andarmos lá fora. Índia, países asiáticos, Brasil, estão a crescer, a própria Rússia não está a sofrer com a crise, a China é aquilo que se vê e Angola cresce bastante. Não nos vamos prender com esta parte do mundo [Europa] onde tem de haver um realinhamento da forma de pensar, raciocinar e de encarar o mundo para que se passe a fazer uma gestão de acordo com a realidade de hoje. Antes, aqueles países vinham a Portugal comprar os produtos, agora vêm comprar as máquinas e, depois, mandam-nos o produto feito, desde as camisas até ao mármore!... Alguma coisa tem de acontecer. Onde estão os empregos? Uma fábrica de têxtil ou uma de mármore fecha e ficam as empresas comerciais. Isso vem dar suporte ao raciocínio de que não temos de estar preocupados em sermos um país pequeno. Porque temos é que ser bons vendedores e vender o que temos. Desenvolve investigação, nomeadamente, com universidades ou outros parceiros do sector? Para além de termos ligações com universidades temos também seguido outras práticas, como auscultar as pessoas do “métier”, três ou quatro fabricantes de determinado equipamento, produto ou matérias-primas. Temos a possibilidade de ganhar muito tempo para desenvolver ou ampliar, por exemplo, uma fábrica. Porque, a investigação pura e simples é muito custosa e tarda muito a chegar. Se temos de avançar em pouco tempo – e três anos é pouco tempo – teremos de ter uma situação mista para fazer o contraponto. Mista, porque tem a vantagem de, pelo menos, poder fazer o contraditório. Enquanto a universidade ainda está a investigar, o fabricante de equipamento, de acondicionamento ou de matérias-primas já pode estar um pouco mais avançado. Porque são pessoas que conhecem o produto. Têm que estar um pouco mais à frente. Qualquer português, em qualquer parte do mundo,


“APOSTAR NA TECNOLOGIA E NOS MÉTODOS DE TRABALHO PARA PRODUZIR OS PRODUTOS DE ACORDO COM O MERCADO QUE ESTÁ À NOSSA FRENTE E PERSPECTIVAR UM POUCO O QUE VAI ACONTECER DAQUI A DEZ ANOS.”

se quiser ter dinamismo e “apanhar o comboio” no tempo certo, tem de ter esta visão e este relacionamento. A produção de suínos entra nesse conceito, não é verdade? Sim. Temos duas fases distintas. Antes, havia mais produção. Em Leiria, Montijo, Alentejo… Comprávamos, transformávamos, vendíamos. Não tínhamos outras preocupações. Depois, o negócio foi evoluindo. O conceito de engordar porcos também mudou completamente. Começou por haver interesse em desenvolver uma genética diferente, o conceito do porco magro em vez de gordo, os porcos estandardizados. O espírito é o mesmo, mas sentimos a necessidade de arranjar granjas de multiplicação para ter a genética garantida por nós. Fizemos uma empresa de reprodutores com holandeses e com espanhóis. Entregamos aos reprodutores a nossa genética, para termos os porcos que precisamos, com a qualidade que queremos. Criamos condições para

outros também ganharem dinheiro. Se eles ganham, temos, à partida, o nosso negócio assegurado. Temos a matéria-prima e todas as condições. Só precisamos de levar a alimentação ao consumidor. Todo o negócio da Sicasal assenta nestes princípios. A gestão de recursos humanos da Sicasal é um dos factores de diferenciação? Em que medida? Sim, a par do planeamento. Estar à frente é saber o que amanhã vai acontecer e ter tudo preparado para o sucesso dos recursos humanos e do equipamento. Caso contrário, será um fracasso. Todo o modelo de gestão da Sicasal assenta nas simulações. Depois, confirmar se está certo e corrigir o que estava errado. A seguir, o afinar, trabalhando também os imprevistos. Não é em cima do acontecimento, não funciona assim na Sicasal. Isso põe-me nervoso e eu sou normalmente tranquilo. Voltemos aos recursos humanos. Uma empresa tem que ter equipas com vontade de lutar e ter

gosto pelo que estão a fazer. Por exemplo, faço a gestão da carreira dos colaboradores, independentemente da sua categoria profissional. Todos são importantes. Quando temos uma vaga, primeiro, vamos “apanhar” na empresa a pessoa que já cá está e conhecemos. Damos-lhe uma oportunidade. O novo colaborador, que não está ainda testado, entra primeiro no sistema. Há-de revelar-se. Esta é uma gestão à luz dos princípios da “família Sicasal”? O que é que isso significa? A alegria de ter, pelo menos, mais uma pessoa. Bem-vinda à “família Sicasal”! Manifestar-lhe amizade sincera. Desde o primeiro momento em que pisa o chão da fábrica, já estou a torcer pelo sucesso dela. É verdade! A “família” fica maior, há a convicção de que a pessoa vai estar feliz porque vai realizar-se. Poderíamos dizer que é quase uma “magia”, mas tem de haver uma amizade. Temos de gostar das pessoas.

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OPINIÃO JOÃO SALGUEIRO

BRUNO SIMÃO/JORNAL DE NEGÓCIOS

Urgência de enquadramento motivador do investimento produtivo Assistimos actualmente em Portugal a uma profunda reconversão empresarial com reforço das prioridades exportadoras, avanços nas cadeias de valor, inovação de produtos e de mercados. Tem lugar em circunstâncias difíceis, face às limitações financeiras decorrentes da imposição de desalavancagem bancária e face, também, ao arrefecimento da conjuntura europeia, que afecta alguns dos nossos mercados mais relevantes.

42 NE- NEGÓCIOS & EMPRESAS MAIO 2013

A

s estratégias empresariais configurando novas respostas, têm particular relevo nos sectores de bens e serviços transaccionáveis. Praticamente esgotadas as capacidades pré-existentes, a exportação estará agora mais dependente de avanços estruturais. Estará, assim, condicionada pelo enquadramento que o País seja capaz de oferecer para estímulo da iniciativa empresarial. Em Maio de 2011, o País reconheceu, com o pedido de ajuda internacional, o fracasso do modelo anterior que, apesar de sucessivos avisos e alertas, continuava a agravar o nosso endividamento externo. Por tempo demasiado, quis-se acreditar que a criação de novos empregos, a sobrevivência das empresas e o próprio alargamento da base tributária poderia ser conseguido com o aumento da despesa pública e deficits orçamentais sistemáticos. Com a falência desse modelo, tornou-se clara a necessidade de novas orientações. No quadro actual das relações políticas e económicas internacionais, um novo modelo económico só pode assentar na valorização dos mercados externos e da capacidade nacional de afirmação no espaço global. Depende, pois, do encora-

jamento do investimento produtivo e só pode encontrar resposta na maior capacidade de concorrer em mercados abertos e conquistar avanços competitivos. Assim tem acontecido nos Países que registam melhores progressos económicos, em situações muito diversas e em diferentes continentes – como a Alemanha ou o Luxemburgo, a República Popular da China ou Singapura. Em comum apresentam práticas consistentes, que permitem o estímulo e o sucesso na captação de novos empreendimentos. Boas práticas, aliás reconhecidas como necessárias entre nós desde o IV Governo Constitucional, em 1978, sempre urgentes mas sempre adiadas: justiça em tempo útil, fiscalidade amigável, desburocratização, formação profissional exigente, mobilidade dos factores. É agora indispensável analisar, com rigor e realismo, as alternativas ao nosso alcance, de modo a configurar uma estratégia mobilizadora e também as medidas necessárias à sua construção, ajustando o nosso desempenho às lições que a experiência pode fundamentar e à evolução do quadro internacional. O ajustamento é, hoje, certamente mais difícil do que anos atrás: quando vigorava melhor conjuntura europeia; quando ainda não tínhamos de suportar o incomportável agravamento dos juros da dívida; e quando os nossos activos registavam bem maior valorização. Mas não é descartável a urgência das respostas. Ajustamentos adiados conduzem a continuada acumulação de mais dívida, a menor credibilidade e ao protelamento dos novos investimentos. Condicionam a criação de novos empregos, a sustentabilidade da política social e a captação de investimentos produtivos. Face à UE, Portugal é inevitavelmente “price-taker” perante o enquadramento externo e não podemos adiar as nossas respostas aos desafios existentes, aguardando um quadro comunitário mais favorável. Devemos certamente defender a reconfiguração das estratégias europeias para substituir a culpabilização das diferenças nas estruturas produtivas dos Países Membros pelo reconhecimento da prioridade central do desenvolvimento e


das suas exigências face à concorrência global não equitativa. Mas, na ausência de novos apoios externos que possibilitem o relançamento da despesa nacional, o ajustamento estrutural depende da nossa capacidade de expandir as exportações e de conter a propensão marginal das importações. Reconhecer e valorizar o papel das actividades exportadoras é a condição de sucesso da nossa política económica e também da política social e da criação emprego. O estímulo à exportação e a rápida expansão da capacidade produtiva podem assentar em maior escala nas empresas que têm revelado melhores sucessos nos mercados externos, generalizando e potenciando as suas realizações. Por um lado, fomentando subcontratação - a PME’s e a empresas ainda centradas no mercado interno - com maiores volumes de produção a colocar nos mercados exteriores. Por outro lado, encorajando traders capazes de valorizar o potencial produtivo nacional, com progressos na escala de valor, novas marcas, novos designs ou melhor relação internacional. Com as necessárias reconfigurações, é ainda significativo o potencial exportador de diversos sectores industriais - e também de actividades no sector primário, como as frutas e os legumes, que sendo de ciclo anual apresentam rápida capacidade de resposta. A situação concreta da grande maioria dos nossos sectores carece, sem dúvida, de respostas efectivas quanto aos equilíbrios financeiros e ao enquadramento fiscal. Além dos problemas de crédito, assume prioridade a recapitalização das nossas empresas que são, no espaço da UE, as que evidenciam, nos seus balanços, maior recurso ao crédito bancário. Mas para além de financiamento de médio prazo, defrontam também graves problemas de liquidez. Parte deste problema poderia encontrar resposta nas novas regras de reembolso do IVA e, igualmente, na efectiva redução dos prazos de pagamento, a começar na eliminação dos atrasados, pelo Estado, Autarquias e Empresas Públicas. Para correcção destes graves estrangulamentos, carecemos de uma resposta coerente e quantificada, incluindo estratégias credíveis para encorajar a poupança

Um novo modelo económico só pode assentar na valorização dos mercados externos e da capacidade nacional de afirmação no espaço global. Depende, pois, do encorajamento do investimento produtivo e só pode encontrar resposta na maior capacidade de concorrer em mercados abertos e conquistar avanços competitivos. Na ausência de novos apoios externos que possibilitem o relançamento da despesa nacional, o ajustamento estrutural depende da nossa capacidade de expandir as exportações e de conter a propensão marginal das importações. Reconhecer e valorizar o papel das actividades exportadoras é a condição de sucesso da nossa política económica - e também da política social e da criação emprego.

e a captação de fundos do exterior como, por exemplo, aconteceu em 1976, com o objectivo de corrigir a escassa confiança nas instituições nacionais. O nosso quadro fiscal, tanto no que respeita às condições oferecidas aos investi-

mentos como às poupanças de residentes e não residentes, apresenta-se como dos menos competitivos face ao conjunto dos nossos concorrentes directos. É indispensável maior coerência entre os objectivos e as decisões políticas. É difícil compreender a vantagem de se ter deslocado a poupança dos não residentes do Centro Internacional de Negócios da Madeira para outras localizações na Europa, Ásia e Américas - eliminando, até, a possibilidade da sua fiscalização pelas autoridades de supervisão portuguesas. É também difícil explicar a eliminação da taxa reduzida de IRC para as PME’s. Ao nível das empresas, tudo parece indicar que a recente orientação, face ao IRC para novos projectos, deveria conduzir à sua aplicação generalizada. Para além das isenções assentes em novos contratos de investimento, seria vantajosa a adopção geral de um primeiro escalão de IRC com taxas muito reduzidas. Permitiria, sem discriminação, oferecer às PME’s fiscalidade competitiva - como em tempo aconteceu no Reino Unido - com escassa perda da receita a partir de empresas de maior dimensão. Uma ponderada análise da verdadeira incidência dos custos fiscais justificaria igualmente sensível redução da TSU - para combater difíceis situações de desemprego e estimular actividades de interesse local - compensada pela consequente redução dos custos com subsídios sociais e de desemprego. Tendo em conta a importância do turismo residencial e do investimento estrangeiro para a nossa competitividade, torna-se igualmente necessário um regime de IRS encorajador, capaz de estimular a atracção de quadros técnicos e, assim, captar novos projectos de IDE, que requeiram mão de obra intensiva e qualificada. É, pois, difícil de explicar a coerência de querer estimular as localizações em Portugal com o agravamento da tributação de imobiliário - face, até, às condições de que podem dispor em outros Países. Uma resposta efectiva aos desafios actuais exige que intenções e objectivos se traduzam, sem contradições, num enquadramento realista, estável e motivador. Economista

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OPINIÃO ANTÓNIO DE ANDRADE TAVARES

Para quando e com que medidas teremos a retoma da economia? O endividamento mantem-se muito elevado, os juros que as empresas pagam não desceram, a energia ainda vai ser mais cara nos próximos meses, os serviços e bens que empresas adquirem não estão mais baratos e os custos do trabalho não diminuíram, excetuando algumas remunerações variáveis e o trabalho extraordinário que representam uma parcela diminuta do total. Até os impostos estão cada vez mais pesados. Assim sendo, por que razão poderia ter começado uma retoma com algum significado?

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A

persistente dificuldade de reduzir o défice público com a rapidez que se previa no Memorando de Entendimento está a acentuar o pessimismo entre sociedade portuguesa. Por outro lado, as deliberações do Tribunal Constitucional sobre o Orçamento de Estado para 2012 e as limitações inscritas na Constituição quanto à rígida manutenção do modelo de estado social não deixam muito espaço de manobra para a inadiável correção orçamental. A subida de impostos, apesar de ser também uma inegável frustração de legítimas expectativas dos cidadãos, não tem grandes limitações constitucionais mas só pode agravar a depressão económica. Para a resolução deste impasse é pois forçoso encontrar outros caminhos que só podem vir da retoma da economia e das medidas que a podem proporcionar. De acordo com o normal desenvolvimento dos ciclos económicos, as retomas só surgem quando os negócios começam a ter expetativas de poder ser lucrativos valendo a pena investir, ou porque a parte baixa do ciclo obrigou à compressão dos preços dos fatores de custo ou porque, por razões autónomas, a procura se expandiu, permitindo o crescimento dos preços de venda e o seu volume expectável.

Nas últimas décadas, através do aumento da despesa pública, as políticas keynesianas têm sido largamente usadas para provocar a referida expansão através do crescimento da procura interna. Mas acontece que a prescrição já não é mais aplicável. Efetivamente, a dívida pública herdada pela Revolução era inferior a 15% do PIB nacional, agora, apesar das vultuosas receitas das privatizações, já atinge os 120%, e os credores manifestamente não aceitam que continue a crescer indefinidamente. Assim, a retoma só poderá ter lugar através do aumento da procura externa e da substituição das importações, processo onde já foram obtidos assinaláveis resultados com a política que vem sendo seguida pelo Governo, traduzidos no recente equilíbrio da Balança Corrente. Embora este aspeto seja muito importante e nos dê ânimo para continuar a tomar as medidas necessárias, para além de um tímido crescimento previsível da economia depois de uma significativa recessão, muito mais tem que acontecer antes de podermos regozijar-nos pelo fim do pesadelo. Há pois que ampliar os referidos resultados, o que só será viável pela descida dos custos de produção, dando à atividade económica perspetivas crescentemente positivas. Será que já chegamos a esse momento de viragem? Atualmente já se observa a queda de muitos preços, desde o imobiliário ao valor das empresas, o nível de poupança subiu, e após tantos meses recessivos seria normal que os agentes económicos tivessem já readquirido alguma solvabilidade: em condições normais já deveria manifestar-se um começo de crescimento. Contudo, o endividamento mantem-se muito elevado, os juros que as empresas pagam não desceram, a energia ainda vai ser mais cara nos próximos meses, os serviços e bens que empresas adquirem não estão mais baratos e os custos do trabalho não diminuíram, excetuando algumas remunerações variáveis e o trabalho extraordinário que representam uma parcela diminuta do total. Até os impostos estão cada vez mais pesados. Assim sendo, por que razão poderia ter começado uma retoma com algum significado? Dos custos anteriormente referidos a maioria é incompressível. É o caso dos juros que estão dependentes do financiamento


externo, ou os impostos que são indispensáveis á redução do défice se não existir uma redução acentuada da despesa pública. E mesmo que alguns custos se possam reduzir não têm expressão relevante no PIB, por exemplo a energia elétrica, frequentemente citada, representa menos de 2% do PIB. Além de todos os esforços que andamos permanentemente a fazer, e bem, há muito tempo, para termos melhor qualificação profissional, mais racionalização, melhor gestão, mais marcas e marketing, mais empreendedorismo, etc., há ainda, indiscutivelmente, que reduzir custos para melhorar a competitividade, para exportar mais e substituir exportações. Quais são as variáveis disponíveis, relevantes em termos de PIB, em que é possível intervir para atingirmos esse objetivo determinante? Embora não possamos esquecer algumas com menor relevância no PIB, parece avisado dar especial atenção àquelas que, de acordo com o referido critério, maiores efeitos podem ter na competitividade do País; e essas são, sem sombra de dúvida, a despesa pública e a massa salarial agregada. Qualquer delas, e apenas por coincidência, representam cerca de 50% do Produto Interno Bruto, percentagens enormes que se forem manipuladas no sentido da baixa, sobretudo a primeira, podem produzir resultados importantes na competitividade do País. Se reduzirmos a despesa pública podemos reduzir os impostos e portanto, diretamente, a sobrecarga fiscal sobre as empresas e, indiretamente, aliviar os impostos sobre o trabalho. A redução da fiscalidade sobre os rendimentos do trabalho permitiria minorar as consequências no poder de compra dos trabalhadores, decorrente de uma baixa de salários que é decisiva para conseguir um aumento das vendas dos bens transacionáveis produzidos internamente, em substituição dos importados, e ganhar novas quotas de mercado no exterior. Efetivamente só uma redução da massa salarial suportada pelas empresas poderia de forma imediata permitir-lhe um salto brusco de competitividade indispensável à inversão da situação atual. Através dum aumento claro dessa competitividade face aos concorrentes externos poderíamos rapidamente começar a crescer. Os salários já es-

tão a baixar, um desempregado que consiga um novo emprego normalmente acaba por aceitar um salário menor do que aquele que antes auferia, mas trata-se de um processo lento e doloroso. Diria que faz terrivelmente lembrar alguém que se esvai em sangue quando uma cirurgia poderia estancar a hemorragia, decisiva e rapidamente. É certo que uma redução salarial irá provocar uma redução geral da procura interna, mas esse facto não tem apenas um lado perverso porque irá afetar negativamente também os sectores não transacionáveis que têm, simetricamente e ao longo de muitos anos, sido beneficiados por uma procura interna excessiva, levando agora à desejável baixa dos seus preços. Uma vez que não é, em geral, possível conter os preços num mercado com a procura retraída, e sobretudo com custos em baixa (nomeadamente os salários), uma redução dos salários iria provocar uma deflação geral de preços do conjunto da economia. Assim, uma baixa generalizada de salários estaria longe de ser, como simplisticamente se afirma, uma transferência de riqueza dos trabalhadores a favor dos donos das empresas. Estas apenas aumentariam os seus lucros se não fossem compelidas pelo mercado a baixar preços, o que seria nessas circunstâncias incontornável. E os setores que é premente desenvolver, o dos bens transacionáveis (os produtos substitutos dos importados e os exportáveis), iriam ser beneficiados porque ficariam mais competitivos, não só pela baixa dos custos diretos das empresas, mas também pela redução de preços dos bens e serviços que as empresas desses setores adquirem no mercado interno, em resultado da referida deflação geral de preços. Portugal só poderá sair da situação aflitiva em que se encontra se desenvolver mais atividade económica. Mais atividade só pode vir de mais procura. Como não pode haver mais procura interna (seria necessário mais financiamento hoje limitado pelo nível da dívida pública e privada), mais atividade só pode vir de mais procura externa. A economia portuguesa terá mais procura externa e substituirá importações, se for mais competitiva, também com a ajuda da baixa de salários. Baixa que pode vir da redução da TSU ou assumida com frontalidade.

Se pudéssemos desvalorizar a moeda, haveria unanimidade de opiniões que esse seria o caminho a seguir. Contudo, desvalorizar a moeda é, de facto e em termos reais, baixar salários, os outros preços ajustar-se-iam quase instantaneamente. Mesmo a poupança, que seria aparentemente afetada, seria recompensada com a alta da taxa de juro. Os salários só reagiriam com atraso, quando muito depois de a inflação ter subido. Em 1983/84, a baixa real de salários de que as empresas beneficiaram parece ter sido da ordem dos 12% e, sobretudo por causa da desvalorização, a economia passou rapidamente a crescer. Se sairmos do Euro, parece não ser difícil prever uma baixa real de salários da ordem de 40%. Então porque não nos mantemos no Euro com uma baixa de salários de menos de metade desse valor, e muito menor perturbação? Baixos salários não são um objetivo em si mesmo, mas deitaremos tudo a perder se não ajustarmos os salários durante o tempo necessário para sermos suficientemente competitivos, fazer crescer a economia, criar emprego e sair do colete-de-forças em que nos encontramos. E não será necessário descer ao nível de salários chinês, a nossa referência não poderá deixar de ser o nível que se pratica nos países do leste da Europa, que connosco concorrem por investimento estrangeiro. Depois, com a queda do desemprego, os salários voltarão normalmente a subir, mas agora a um ritmo sustentável e saudável. A única condição para nos mantermos numa moeda forte é não subirmos os salários mais do que a produtividade e a despesa mais do que o produto nominal. Parece simples, não será? E é melhor do que arcar com os enormes custos dos incómodos associados à inflação e a incerteza cambial dum eventual desligamento do Euro. Dito isto, penso que a conclusão é simples, uma retoma rápida e vigorosa está inteiramente dependente de uma redução da despesa pública e do nível salarial que as empresas suportam, única forma de não nos arrastarmos durante longo tempo numa situação de estagnação e desemprego inaceitáveis e extremamente penosas, precisamente para os mais desfavorecidos, sobretudo os desempregados. Engenheiro eletrotécnico

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OPINIÃO NELSON DE SOUZA

Financiamento de PME e insuficiência na sua capitalização O ponto médio das “piores empresas” portuguesas – 1º quartil – é de apenas 5% de autonomia financeira, o que denuncia níveis de capitalização muito baixos, quando comparados com os valores das “piores empresas” europeias que apresentam níveis de autonomia financeira de 15 a 23% de autonomia financeira). EVOLUÇÃO DO STOCK DE CRÉDITO ÀS PME (MIL MILHÕES €) (DESDE O INÍCIO DO PROGRAMA DE AJUSTAMENTO)

92 VARIAÇÃO JUN. 11 A JAN. 13 -13,3 MIL MILHÕES € -14,4%

90 88 86 84 82

78

JUN. 11 JUL. 11 AGO. 11 SET. 11 OUT. 11 NOV. 11 DEZ. 11 JAN. 12 FEV. 12 MAR. 12 ABR. 12 MAI. 12 JUN. 12 JUL. 12 AGO. 12 SET. 12 OUT. 12 NOV. 12 DEZ. 12 JAN. 13

80

FONTE: BOLETIM ESTATÍSTICO, BANCO DE PORTUGAL

46 NE- NEGÓCIOS & EMPRESAS MAIO 2013 CAP. PRÓPRIOS / ATIVO EU, INDÚSTRIA, 2010

60%

51%

56%

51%

J

á poucos terão hoje dúvidas que a consolidação orçamental e a redução da dívida pública tem de assentar numa estratégia mais balanceada entre austeridade e crescimento e que o fator crítico para este último é o financiamento da economia portuguesa, muito em particular, das empresas e do seu investimento. Já pelo menos desde há um ano, que a AIP vem alertando para esta situação propondo um conjunto de soluções concretas para mitigar a atual situação de “credit crunch” que então já se começava a desenhar com nitidez. Lamenta-se que, só tanto tempo depois, a Troika venha finalmente reconhecer este problema na sua 7ª avaliação ao programa de ajustamento Os números ilustram com evidência inegável que o processo de desalavancagem da economia portuguesa implementada no âmbito do programa de ajustamento se fez sobretudo à custa de uma retração muito acentuada do crédito concedido às PME portuguesas. Desde o início da aplicação do programa da Troika e de acordo com o Banco de Portugal, o stock de crédito concedido à este segmento empresarial diminuiu 14,4 %, ou seja, 13,3 mil milhões de euros. Às dificuldades de acesso junta-se o elevado custo do financiamento para as PME portuguesas que suportam atualmente níveis de juro com um diferencial de 3-6 pontos percentuais relativamente

aos concorrentes do norte da Europa, originados por spreads essencialmente determinados pelo risco soberano. Mesmo num contexto de evolução positiva de condições para o funcionamento dos mercados financeiros em Portugal, o problema do financiamento das PME não tem vindo a dar a sinais de solução a curto prazo. O facto dos rácios (crédito/depósitos) exigidos pela troika já se encontrarem atingidos pela generalidade dos bancos em Portugal, a melhoria de acesso aos mercados financeiros com a intervenção mais recente do BCE, as experiências com sucesso de recurso pontual aos mercados pela República e por alguns bancos portugueses e, finalmente, o contributo do Estado para a capitalização de bancos, já deveriam ter tido como consequência sinais mais evidentes de melhoria da situação do crédito para as PME. Alguns indícios mais positivos, como por exemplo o aumento de novo crédito concedido nos últimos meses de 2012, não assumem ainda a intensidade suficiente para inveter a tendência de diminuição constante do stock de crédito concedido às PME portuguesas. Neste processo de deterioração, têm valido às empresas, as Linhas de Crédito que vem sendo aplicadas desde 2008 com a intervenção do Sistema de Garantia Mútua, sem as quais a evolução teria sido bem mais gravosa. Na perspetiva mais difundida por meios relacionados com as instituições financeiras, a descida muito acentuada do crédito PME não seria tanto devida à falha do lado da oferta e à falta de liquidez do sistema, sendo, de acordo com o mesmo ponto de vista, sobretudo originada pela quebra da procura de financiamentos por parte das PME: (i) em quantidade, fruto da estagnação do produto, do investimento e das expetativas económicas; e (ii) em qualidade, pois as empresas apresentam estruturas financeiras degradadas ao nível de capitais próprios diminuídos pela quebra de rentabilidade em resultado do ciclo económico recessivo. Daí a afirmação que ouvimos com frequência de que “não falta financiamento a bons projetos e a boas empresas”, lugar comum que está, infelizmente, muito longe de corresponder à realidade do financiamento de empresas em Portugal. Não podemos, no entanto, atribuir a res-


60% 50%

54% 44%

40% 30% 20% 10% 0% -10%

-1%

6% 6%

11%

1.ª QUARTIL

PORTUGAL

ITÁLIA

8% 11%

19%

25%

MEDIANA FRANÇA

22% 22%

15% 14%

3.ª QUARTIL

20% 23%

MÉDIA

ALEMANHA

FONTE: BASE BACH-ESD

NÍVEIS DE CAPITALIZAÇÃO - EMPRESAS NASCENTES 28% 23%

CRIADAS DESDE 2009 E COM > 4 TRAB., PORTUGAL 29% 21%

18% 13%

JUN.JUN. 11 11 JUL.JUL. 11 11 AGO.AGO. 11 11 SET.SET. 11 11 OUT.OUT. 11 11 NOV. NOV. 11 11 DEZ.DEZ. 11 11 JAN.JAN. 12 12 FEV.FEV. 12 12 MAR. MAR. 12 12 ABR. ABR. 12 12 MAI.MAI. 12 12 JUN.JUN. 12 12 JUL.JUL. 12 12 AGO.AGO. 12 12 SET.SET. 12 12 OUT.OUT. 12 12 NOV. NOV. 12 12 DEZ.DEZ. 12 12 JAN.JAN. 13 13

ponsabilidade inteira às políticas de ajustamento da economia portuguesa e às estratégias de resposta por parte das instituições financeiras, devendo-se reconhecer que à situação de escassez da oferta, juntam-se debilidades na procura por parte das empresas. Sobretudo, não se pode deixar de constatar que a capacidade de obtenção de crédito é dificultada pela insuficiência em capitais próprios registada numa parte importante das PME portuguesas que lhes limita a sua capacidade de endividamento. Como seria de se prever a situação recessiva da economia portuguesa tem levado a uma quebra da rentabilidade, em particular nos EVOLUÇÃO DO STOCK DE CRÉDITO PME (MIL MILHÕES €) setores orientados para aÀSprocura interna, EVOLUÇÃO DO STOCK CRÉDITO ÀS (MIL MILHÕES €) (DESDE O INÍCIODE DO PROGRAMA DE PME AJUSTAMENTO) afetando por via o crescimento (DESDEesta O INÍCIO DO PROGRAMA DE AJUSTAMENTO) interno 92 92 meios próprios. Mas importa reconhedos VARIAÇÃO 90 cer que o problema já era anterior ao13 atual VARIAÇÃO JUN. 11 A JAN. 90 11 A JAN.das 13 -13,3JUN. MIL MILHÕES € deciclo económico, constituindo uma 88 -13,3 MIL MILHÕES € -14,4% 88 bilidades estruturais das PME em Portugal. -14,4% 86 Aliás, e tal como sucedeu com o Estado e as 86 famílias, também o excessivo nível de en84 84 dividamento das empresas tornou-as mais 82 vulneráveis aos efeitos do processo de desa82 lavancagem da economia portuguesa. 80 80 Observemos a situação real das empre78 sas 78 portuguesas em matéria de níveis de capitalização, comparando-as com as suas FONTE: BOLETIM ESTATÍSTICO, BANCO DE PORTUGAL congéneres da Alemanha, França e Itália, FONTE: BOLETIM ESTATÍSTICO, BANCO DE PORTUGAL recorrendo aos indicadores da Base BACH-ESD produzida pelo Banco de França CAP. PRÓPRIOS / ATIVO CAP.EU,PRÓPRIOS / ATIVO INDÚSTRIA, 2010 60% 60% 50% 50% 40% 40% 30% 30% 20% 20% 10% 10% 0% 0%

23% 15% 23% 16% 15% 16%

5% 5% 1.ª QUARTIL 1.ª QUARTIL

PORTUGAL ITÁLIA PORTUGAL ITÁLIA FONTE: BASE BACH-ESD FONTE: BASE BACH-ESD

EU, INDÚSTRIA, 2010 56% 51% 56% 51% 51% 45% 51% 40% 45% 40% 33% 26% 28% 33% 26% 28%

MEDIANA MEDIANA

FRANÇA FRANÇA

3.ª QUARTIL 3.ª QUARTIL

ALEMANHA ALEMANHA

35% 35% 36% 32% 35% 35% 36% 32%

MÉDIA MÉDIA

EBIDTA / DÍVIDA TOTAL EBIDTA / DÍVIDA2010 TOTAL EU, INDÚSTRIA, EU, INDÚSTRIA, 2010

60% 60% 50% 50% 40% 40% 30% 30% 20% 20% 10% 10% 0%

0% -10% -10%

11% 6% 6% 11% -1% 6% 6% -1% 1.ª QUARTIL 1.ª QUARTIL

PORTUGAL ITÁLIA PORTUGAL ITÁLIA FONTE: BASE BACH-ESD

25% 19% 25% 19% 8% 11% 8% 11% MEDIANA MEDIANA

FRANÇA FRANÇA

54% 44% 54% 44%

22% 22% 22% 22%

3.ª QUARTIL 3.ª QUARTIL

ALEMANHA ALEMANHA

20% 23% 15% 14% 20% 23% 15% 14%

MÉDIA MÉDIA

FONTE: BASE BACH-ESD

NÍVEIS DE CAPITALIZAÇÃO - EMPRESAS NASCENTES NÍVEISCRIADAS DE CAPITALIZAÇÃO - EMPRESAS NASCENTES DESDE 2009 E COM > 4 TRAB., PORTUGAL 28% 28% 23% 23% 18%

CRIADAS DESDE 2009 E COM > 4 TRAB., 29% PORTUGAL 29% 21% 21%

8% 3%

10%

12% 7% 2%

-4% -6%

-2% -7%

1.ª QUARTIL

AUT. FINANCEIRA

MEDIANA

3.ª QUARTIL

MÉDIA

EBIDTA/DÍVIDA

FONTE: IES, 2011, AIP

em colaboração com bancos centrais de alguns outros países europeus. A “autonomia financeira” (relação entre os Capitais Próprios e o Ativo) das empresas industriais portuguesas apresenta uma média ponderada de 35%, valor que se situa ao nível do observado nos outros países mais avançados como a Alemanha ou a França. No entanto, uma observação mais detalhada sobre o grau de dispersão1 do indicador, permite-nos constatar que: (i) as empresas portuguesas com melhor desempenho (3º quartil) comparam bem com as melhores empresas alemãs ou francesas e influenciam positivamente a média ponderada indicada; (ii) ao contrário, o ponto médio das “piores empresas” portuguesas – 1º quartil – é de apenas 5% de autonomia financeira, o que denuncia níveis de capitalização muito baixos, quando comparados com os valores das “piores empresas” europeias que apresentam níveis de autonomia financeira de 15 a 23% de autonomia financeira). O rácio EBIDTA/Dívida que mede a capacidade de liquidação da dívida da empresa com base no cash-flow atual (indicador utilizado com frequência nos scorings atuais para a concessão de crédito) mostra também uma situação preocupante no nível de capitalização de empresas portuguesas. O valor médio para Portugal mostra que o indicador é de 15% na indústria e a mediana é de apenas 8%, o que significa que com o cash flow gerado em 2010, as empresas demorariam 13 anos para liquidar a sua dívida total; o valor negativo deste indicador no 1º quartil, mostra a incapacidade de gerar cash flow positivo no ano em análise. Tentemos agora observar se a insuficiência de capitalização do “stock” de empresas existentes em Portugal, está a melhorar com as empresas criadas em Portugal nos últimos anos. Os dados apresentados foram apurados pela AIP com base na Informação Empresarial Simplificada de 2011 de cerca de 7.200 empresas constituídas a partir de 2009 e que apresentam atualmente pelo menos 3 trabalhadores.

A observação dos valores apurados revelam que as novas empresas recentemente criadas em Portugal continuaram a nascer “sub-financiadas” em capitais próprios. O valor médio da autonomia financeira das empresas nascentes é de apenas 2% e para as “piores empresas” - 1º quartil- o ponto médio já é negativo, o que significa que o capital inicial foi integralmente absorvido pelos prejuízos registados nos primeiros três anos de atividade. Os valores para o indicador EBIDTA/Dívida confirmam a mesma conclusão. O problema da insuficiência de capitalização é estrutural e reside numa atitude empresarial que faz com que de as empresas sejam criadas com baixos níveis de capitalização, situação posteriormente agravada por políticas desadequadas de retenção dos lucros nas empresas nos anos subsequentes. Para além da necessidade de alteração deste padrão de comportamento, não será difícil concluir que a fiscalidade também não incentiva suficientemente o reinvestimento e/ou a retenção nas empresas dos lucros gerados. Em coerência com este diagnóstico, a AIP tem vindo a propor dois tipos de atuação das políticas públicas: (i) a criação de um enquadramento fiscal mais favorável à capitalização nas empresas através de incentivos aos lucros reinvestidos e de um tratamento fiscal que assegure uma remuneração mais atrativa dos capitais próprios; e (ii) a criação de novos instrumentos de capitalização de empresas com mecanismos inovadores: empréstimos com reembolso de capital e juros no final do prazo (“bullet”) e com remunerações que incluam componentes ligadas aos resultados da empresa, como o recente programa de capitalização lançado pela Caixa Geral de Depósitos ou outro tipo de soluções híbridas entre capital e dívida como as obrigações subordinadas, as obrigações participantes ou as ações preferenciais. Diretor Geral da AIP Medidas estatísticas utilizadas: Média (ponderada pela dimensão das empresas), Mediana (valor do ponto médio da série), 1º Quartil (valor do ponto médio da metade das empresas com valores mais baixos) e 3º Quartil (valor do ponto médio da metade das empresas com valores mais altos). 1

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O QUE ELES DISSERAM ESPANTA-ME QUE A SEGURANÇA SEJA UMA AMBIÇÃO PARA OS JOVENS. NÃO PENSO QUE SEJA UM SONHO DE UM RAPAZ OU DE UMA RAPARIGA DE 20 ANOS, LUTAR PARA TER SEGURANÇA NO TRABALHO. EM MAIO DE 68 ÉRAMOS LOUCOS (…), MAS NÃO O FAZÍAMOS PELA SEGURANÇA OU PARA TERMOS UMA VIDA MAIS TRANQUILA. CORRÍAMOS RISCOS.”

“A recessão em Portugal está instalada, o desemprego estrutural é muito elevado, os rácios da dívida pública são elevados. Por isso, não estou seguro que o acesso aos mercados vá acontecer nos tempos mais próximos.” Nouriel Roubini, Diário Económico, 23/01/2013 (O ECONOMISTA QUE PREVIU A CRISE FINANCEIRA MUNDIAL NÃO ACERTOU NO ACESSO DE PORTUGAL AOS MERCADOS, QUE OCORREU NO MESMO DIA EM QUE FOI PUBLICADA A ENTREVISTA.)

Pedro Ferraz da Costa, Público, 22/04/2005 (FERRAZ DA COSTA FOI DOS POUCOS QUE ACERTARAM NO NOSSO DESTINO.)

“65 horas por semana, é o tempo de trabalho médio de um engenheiro em Silicon Valley.” Manuel Castells, in “Conversas com Manuel Castells”, 2004

Olivier Rolin, Público, 29/04/2006

(E NA TAGUSGPARK?)

(COMO SE ESPANTARIA ESTE REVOLUCIONÁRIO DE MAIO/68 COM AS REIVINDICAÇÕES DOS NOSSOS JOVENS INDIGNADOS?...)

“Quando fui falar com o presidente da câmara de Xangai, pensei que estava a falar com o presidente da câmara de Chicago. A linguagem era a mesma: economia de mercado, direitos humanos, boa governação.” António Monteiro, ex-Ministro dos Negócios Estrangeiros, Público,

20/10/2004

(PARA MAL DA ECONOMIA DA EUROPA DA SUL)

JANEIRO/MARÇO 2011 02 Investe&Mais JANEIRO/MARÇO 2011 NOME DA REVISTA JANEIRO/MARÇO 2013 024802NE/-Investe&Mais NEGÓCIOS & EMPRESAS

“O nível de produtividade em Portugal andará nos 55% da média comunitária, enquanto o consumo chega aos 75%. A vivermos assim, estaremos falidos dentro de dez anos.”

“Chegar ao final de 2008 com um défice abaixo dos 3% do PIB, equivale a preparar o sector público para viver com menos quatro mil milhões de euros.” Campos e Cunha, Diário Económico, 12/05/2005 (JÁ EM 2005 CAMPOS E CUNHA FALAVA NO CORTE DOS 4 MIL MILHÕES. O FMI NÃO VEIO DIZER NADA DE NOVO.)


“Se Picasso tivesse feito estudos de mercado com visitantes de museus, não tinha inventado o cubismo (…). Não esperava que o produto (papel higiênico preto) tivesse o impacto nos media do modo como teve. Nem sequer estava preparado para vender tanto.”

“Se fecharmos a porta à flexibilidade laboral, ela entrará pela janela.” Vieira da Silva, Ministro do Trabalho, 16/02/2007

(PROTEGEM-SE OS DESPEDIMENTOS; NÃO SE EVITAM AS FALÊNCIAS.)

Paulo Pereira da Silva, Revista Autêntica, Março 2007

OS PIORES GANHAM O QUE NUNCA GANHARIAM NO PRIVADO; E OS MELHORES GANHAM MUITÍSSIMO MENOS DO QUE DEVERIAM.”

Paulo Macedo, Expresso,

(A INOVAÇÃO DÁ-SE MAL COM OS CONTABILISTAS.)

04/08/2007 (ESTE É O MAL DA FUNÇÃO PÚBLICA.)

“Planeio estar até ao final da legislatura. Depois veremos. Temos dois anos pela frente e isso é uma eternidade em política.” José Socrates, Expresso,

08/12/2007 (DOIS ANOS É O PERÍODO QUE OS “MEDIA” E OS COMENTADORES DE TV ACHAM QUE DEVE DURAR UM GOVERNO EM PORTUGAL.)

02

Investe&Mais

JANEIRO/MARÇO 2011

JANEIRO/MARÇO NOME DA & REVISTA NE2013 - NEGÓCIOS EMPRESAS

4902


Mais Turismo

CONVENTO DA SERTÃ HOTEL DE 4 ESTRELAS

Um refúgio com requinte no meio da natureza Enquadrado pelo encanto da floresta, o Convento da Sertã Hotel mostra-se ao mundo em junho de 2013

Q l

uando em 1635 se lançou a primeira pedra para a construção do Convento de Santo António, na Vila da Sertã, estava-se longe de imaginar que, quase 380 anos depois, o mesmo se transformaria numa unidade hoteleira de quatro estrelas. A paredes meias com os

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encantos da floresta e o tilintar da água que circunda a zona, o Convento da Sertã Hotel mostra-se ao mundo em junho de 2013. A nova unidade hoteleira de quatro estrelas promovida pela Turisertã, empresa detida pela Santos & Marçal, corresponde à criação de um novo produto, de perfil diferenciador para o mercado, região e país. O Hotel, situado na Sertã, em Castelo Branco, aproveita o edifício de um antigo convento e oferece 25 quartos, todos diferentes, e com preços que variam consoante as tipologias e o tempo de permanência. O projeto “alia o requinte de um antigo edifício histórico com a qualidade que só um empreendimento desta natureza poderá oferecer,

PACK DE EXPERIÊNCIAS

Passeios/percursos pedestres, BTT, Kartcross, passeios TT, cicloturismo, canoagem, canyoning, montanhismo, alpinismo, escalada, slide e visitas guiadas para conhecer o património histórico, arquitetónico e natural da região.

para o qual foi aproveitado a estrutura do antigo convento de franciscanos existente na Vila de Sertã”, sublinha Carlos Marçal, presidente da Santos & Marçal. Situado numa zona montanhosa, onde se afiguram diversas ribeiras (o Convento fica menos de 100 metros de duas ribeiras), recantos de floresta autóctone e um clima mediterrânico, o Hotel constitui uma potencial fonte atrativa do segmento de mercado que procura os produtos Touring Cultural e Paisagístico e o Turismo de Natureza. De acordo com Carlos Marçal, “todo o hotel foi pensado na ótica do utilizador. Mais do que comer e dormir, o que aqui pretendemos oferecer é uma experiência única de alojamento numa das zonas mais belas do nosso país”. A envolvente ao Convento da Sertã Hotel é “absolutamente deslumbrante”, confidencia aquele empresário, sugerindo “que todos os nossos clientes, ao conhecerem a excelência do nosso serviço aliada às fantásticas paisagens naturais que o concelho da Sertã oferece, terão com certeza vontade de regressar”.


E há muito para visitar no concelho. Desde Cernache do Bonjardim (terra natal de Nuno Álvares Pereira) até Pedrógão Pequeno (por muitos considerada a Sintra da Beira Baixa), “o cliente é desafiado a mergulhar no verde das nossas paisagens e no azul das nossas águas”, nota Carlos Marçal, que lembra a aposta recente da Câmara Municipal da Sertã na disponibilização de packs turísticos para todos os interessados. E muitas experiências.

SERVIÇOS DO CONVENTO DA SERTÃ HOTEL

D.R.

DE CONVENTO A HOTEL 380 ANOS DEPOIS

Carlos Marçal e Elsa Marçal (diretora do Convento da Sertã Hotel)

que alguns habitantes encontraram refúgio das perseguições movidas pelos miguelistas aos liberais, em pleno século XIX. Carlos Marçal diz que a memória do convento será preservada: “Desde a primeira hora, a nossa aposta passou pelo estudo da história do local para que todos sentissem a aura mística que aqui existe. Além dos técnicos do IGESPAR, que acompanharam toda a obra de recuperação do edifício e monito-

rizaram as operações, tivemos alguns historiadores a trabalhar, no sentido de se fazer o levantamento da história deste local”. Carlos Marçal dá-nos um exemplo do resultado desse trabalho de pesquisa historiográfica: “Ficámos, por exemplo, a saber que durante as invasões napoleónicas, os frades deste convento pediram armas ao rei para defenderem uma ponte que se situava nas imediações do edifício. A ponte ainda hoje existe e o documento com o pedido de armas também”.

O GRUPO SANTOS & MARÇAL

D.R.

Quando em 1635 se lançou a primeira pedra para a construção do Convento de Santo António, Frei Hierónimo de Jesus e Frei Christovão de S. Joseph (os fundadores espirituais deste cenóbio) estavam longe de imaginar que, quase 380 anos depois, o mesmo se transformaria numa unidade hoteleira de quatro estrelas. A nova unidade hoteleira assumirá o forte legado do convento, que marcou uma época no concelho da Sertã. Habitado desde 1639, o Convento de Santo António resultou da junção de vontades entre vários cidadãos influentes da vila sertaginense e os frades já referidos, que obtiveram as autorizações necessárias do Priorado do Crato. A ação dos frades do convento junto da população foi, por várias vezes, realçada. Foi aqui que muitos sertaginenses aprenderam a ler e a escrever e foi também neste local

1. Tarifa de alojamento inclui pequenoalmoço e depende da tipologia de cada quarto e do número de noites; 2. Piscina exterior de água salgada para adultos e crianças; 3. Café bar; 4. Q uartos com Free Wireless, HDMI, USB e áudio; 5. Room-service; 6. Ar condicionado; 7. Saúde e bem-estar; 8. Eventos (Reuniões, conferências, entre outros); 9. E stacionamento privado; 10. Cofre; 11. Secadores de cabelo; 12. LCD; 13. Serviço de baby sitting; 14. Serviço de lavandaria e limpeza a seco; 15. R eserva de atividades Outdoor; 16. Telefones com linha direta; 17. Health club com massagens, tratamentos e terapias (outsorcing).

A Turisertã, empresa criada para assegurar a promoção e gestão do Convento da Sertã Hotel, está ligada ao grupo Santos & Marçal. Com 37 anos de existência, este grupo dedica-se a atividades ligadas ao turismo, designadamente a restauração, eventos, catering, entretenimento e alojamento. O desenvolvimento ao longo dos anos permitiu a aposta em novas áreas de negócio, como o turismo de habitação em espaço rural. A Quinta de Santa Teresinha, situada na

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Mais Turismo

freguesia do Cabeçudo (concelho da Sertã) e inaugurada em Dezembro de 2000, permitiu a entrada nesta nova área de negócio, além de ter possibilitado a criação de um espaço com capacidade para acolher grandes eventos. A Quinta de Santa Teresinha, datada do início do século XX, encontra-se vocacionada para o turismo de habitação e dispõe de seis quartos. Este empreendimento compreende piscina de água salgada, campo de ténis, minigolfe e jardins. Em 2007, a Santos & Marçal expandiu a atividade para a cidade de Abrantes com a aquisição da Quinta d’Oliveiras, na zona de Alferrarede. Esta quinta tem uma área de três hectares, “com um vasto e agradável jardim, um lago e parque de estacionamento privativo”, e está vocacionada para todo o tipo de eventos, nomeadamente empresariais, casamentos e outras celebrações. Além dos espaços próprios, o grupo presta também serviços de catering noutros espaços. A gastronomia é uma das principais forças motrizes deste grupo, considerado um dos principais embaixadores do concelho da Sertã. Além dos muito apreciados Maranho e Bucho Recheado, a estrela da companhia é a «Sopa de Peixe da Dona Helena», assim batizada em memória da sua criadora e fundadora da Santos & Marçal juntamente com o seu marido Carlos Marçal: “Temos pessoas que fazem muitos quilómetros até aos nossos restaurantes só para comer esta sopa”, revela o empresário. Sobre o sucesso do grupo Santos & Marçal, o presidente considera que o mesmo é fruto da “forte capacidade técnica e de liderança, dos recursos materiais e humanos existentes e da orientação para o mercado fora da sede empresarial”. Elsa Marçal, filha de Carlos Marçal, é a diretora do Convento da Sertã Hotel. A responsável considera que uma gestão compartilhada e participativa é a chave do sucesso: “Nos tempos que correm temos a plena noção que é a equipa de trabalho que integra este projeto a força motor para o sucesso. Olhamos, desta forma, para os nossos colaboradores como fonte de competências que cada um consegue levar para o seu posto de trabalho”. Elsa Marçal salienta ainda a importância de parcerias com outros hotéis da região como sendo fundamentais para atrair um maior público à região, “que poucas pessoas conhecem e que tem tanto para oferecer”.

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LIVROS

lll Um livro incómodo. Marc Roche é correspondente financeiro do jornal Le Monde na City em Londres. Faz uma incursão sobre o papel da Goldman Sachs na crise financeira que abalou os EUA e a UE, e na teia que estabelece para controlar os governos e instituições mundiais. Descreve também aspectos importantes do seu funcionamento interno. A descrição da intervenção da Goldman Sachs como consultor do governo grego e na forma como especulou sobre a dívida grega é um dos aspectos mais curiosos do livro. Analisa também de forma minuciosa como se trabalha no banco: indumentária; forma física exigida; alimentação O BANCO – COMO A recomendada; censura do egocentrismo; tipo de desporto a praticar; proibição do GOLDMAN SACHS bronzeado e do exagero das férias; culto DIRIGE O MUNDO do secretismo nas relações entre profisROCHE, MARC sionais; moralidade na vida privada; etc. Esfera dos Livros; 2012; Interessante é também a análise que se 4.ª edição; 238 págs. faz da evolução da relação entre Obama e o banco. Desde o apoio político e financeiro de que foi beneficiado na sua eleição até ao conflito no qual a Goldman Sachs foi pronunciada por fraude. O levantamento que foi efectuado sobre as remunerações auferidas pelos sócios-gerentes, traders, diretores, deixará o leitor apreensivo. O presidente, Loyd Blankplein, recebeu 60 milhões de dólares em 2008, 68 milhões em 2007 e 53,4 milhões em 2006. A análise histórica da fundação de JP Morgan e da Goldman Sachs dá-nos também uma visão interessante do papel que estas duas instituições tiveram e têm nos EUA. Um livro de leitura imprescindível no qual não fica uma boa imagem nos banqueiros na génese desta crise que afecta milhões de pessoas.


HERÓIS DO ULTRAMAR

CASTRO, NUNO Oficina do Livro; 2012; 188 págs.

lll Este livro retrata um conjunto de actos de grande bravura e coragem assumidos por militares portugueses na guerra colonial. É comum aceitar-se que a guerra colonial redimiu a instituição militar da má prestação e da imagem muito abalada da sua intervenção na 1ª grande guerra mundial. Contrariamente a esta, Portugal conseguiu no conflito colonial suportar durante 13 anos uma guerra em três frentes, com êxito e resultados militares positivos. Este livro conta-nos alguns actos de Marcelino da Mata (o maior herói da guerra colonial), Armando Maçanita (herói de Nambuangongo, cuja acção valeu-lhe um exilio nos Acores), Daniel Roxo, António Júlio Rosa, Francisco Van Uden, Tomé Pinto, Carlos Duarte, Secundino Mendes, Jorge Martins, entre outros. Há alguns relatos curiosos nestas façanhas heroicas. É o caso da participação do Eng. Jardim Gonçalves, o ex-banqueiro do BCP que foi condecorado com a cruz de guerra pela sua participação na tomada de Nambuangongo. Um livro interessante num país a necessitar de exaltação dos nossos feitos.

A TRAIÇÃO A SALAZAR

BARREIROS, JOSÉ ANTÓNIO Oficina do Livro; 2012; 202 págs. lll José António Barreiros, conhecido advogado, tem dedicado uma parte da sua vida a estudar a guerra secreta em Portugal nos anos de 1939-1945. Este livro retrata a montagem de uma operação de sabotagem de infra-estruturas, decidida pelos ingleses, para impedir a hipotética invasão alemã na Península Ibérica e em Portugal. Este episódio, que pôs em causa a secular aliança diplomática de Portugal/Inglaterra, foi caracterizado por uma gritante ineficiência e ingenuidade, acabando por ser desmantelada por Salazar. Um livro de leitura recomendável. PUB

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Mais Ver

Museu de São Roque: um tesouro de Arte Sacra Verdadeira “joia da coroa”, oferece visitas em diferentes idiomas, ateliês de arte e visitas- jogo interactivas.

O l

Museu de São Roque da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa guarda um dos mais importantes acervos da arte nacional: ourivesaria, escultura e pintura, mas também um singular conjunto de paramentos ou uma colecção de relíquias de santos, rara em todo mundo. Em resultado de uma profunda remodelação arquitectónica, realizada entre 2006 e 2008, é um espaço marcado pela modernidade onde é possível percorrer os séculos ao longo dos quais Portugal se foi construindo como

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realidade artística e cultural, mas também religiosa, social e política. Uma extraordinária viagem que vale a pena fazer. Com a Igreja de São Roque por vizinha, formando com ela um todo indissociável, o Museu de São Roque foi inaugurado a 11 de Janeiro de 1905, tornando permanente uma exposição que se pensou temporária: o “Tesouro da Capela de São João Baptista”, conjunto de ourivesaria e paramentaria único no mundo e internacionalmente reconhecido como tal. Mais tarde, o discurso expositivo foi alargado, abrangendo cronologicamente toda a história do local, ficando assim a exposição organizada em cinco momentos distintos: Ermida de São Roque, Companhia de Jesus, Arte Oriental, Capela de São João Baptista e Santa Casa da Misericórdia de Lisboa.

DO INÍCIO DA HISTÓRIA ATÉ AO PRESENTE

Fachada do Museu e da Igreja de São Roque (nesta página, canto superior esquerdo) Interior da Igreja de São Roque (em cima) Detalhes do interior do Museu de São Roque (página seguinte, em cima) Capela de São João Baptista (página seguinte, em baixo)

Instalado na antiga Casa Professa da Companhia de Jesus, a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, fundada em 14 98, herdou o espaço físico dos Jesuítas, na sequência do grande terramoto de 1755 e da sua expulsão por Pombal. Mas a história deste local começava antes, quando a peste grassava por toda a Europa e não poupava Lisboa. Segundo nos conta um cronista jesuíta no século XVII, D. Manuel I pede a Veneza para proteger a cidade uma relíquia de um santo com fama na protecção contra a peste. A fim de guardar esta milagrosa relíquia foi construída uma ermida dedicada ao santo taumaturgo: a Ermida de São Roque. O primeiro núcleo do Museu relata este início e expõe um conjunto


NA VANGUARDA DA COMUNICAÇÃO

MUSEU DE SÃO ROQUE

Largo Trindade Coelho 1200-470 Lisboa Portugal Tel. 213 235 44 (Recepção) Fax. 21 323 54 01 E-mail: info@museu-saoroque.com http://www.museu-saoroque.com/

FOTOS DE SCML/CINTRA & CASTRO CALDAS

de quatro tábuas quinhentistas que contam a vida e lenda do Santo, seguindo o mais antigo relato escrito. Já o segundo núcleo expositivo é inteiramente dedicado à Companhia de Jesus, instalada em São Roque por ordem de D. João III, destacando-se a colecção de relicários oferecida por D. João de Borja. Ainda pela mão dos Jesuítas, o Núcleo de Arte Oriental, terceiro do percurso, está intimamente ligado a toda a expansão missionária da Companhia de Jesus, em particular pelo Oriente. É dos contactos estabelecidos com as populações locais, por via das missões, que se registam significativas aquisições ao nível da arte sacra. Verdadeira “jóia da coroa” de São Roque, o quarto núcleo é inteiramente dedicado à Capela de São João

Baptista, obra ímpar do reinado de D. João V, internacionalmente reconhecida pelo seu valor arquitectónico e artístico. Encomenda do monarca que, no xadrez internacional, quis marcar uma posição de força e riqueza através da exposição em Roma do seu tesouro. Concretizado este objectivo, veio a Capela para Portugal e foi depois assente na Igreja de São Roque. O último núcleo expositivo é internamente dedicado à Misericórdia de Lisboa e ao conjunto das peças adquiridas ou entregues em doações e legados que sempre resultaram da confiança depositada numa instituição cuja missão passa pelo auxílio aos mais fragilizados, promovendo o seu bem-estar e a qualidade de vida.

SEGUESTÃO DE EXPOSIÇÃO: “A Encomenda Prodigiosa, da Patriarcal à Capela de São João Baptista” Museu de Arte Antiga: 18 Maio até 29 de Setembro Museu de São Roque: 27 de Junho até 29 de Setembro

As actividades educativas e culturais do museu dirigem-se a públicos diversificados, internos e externos, e norteiam-se pela vontade de oferecer uma participação activa e envolvente dos visitantes do museu na experiência da contemplação da arte, através da partilha de ideias e conhecimentos. As parcerias com o sector educativo, do Turismo e a área da Cultura que têm vindo a revelar-se determinantes na melhoria contínua dos serviços prestados e na diversificação e aumento de públicos. Além das tradicionais visitas guiadas de carácter genérico, o Museu oferece visitas em diferentes idiomas, ateliês de arte, visitas-jogo interactivas dirigidas a crianças, jovens e seniores. Já para um público com interesses específicos nas áreas da Arte e do Património, disponibilizam-se ciclos de visitas guiadas temáticas e conferências. Fruto do projecto de requalificação, o Museu de São Roque oferece hoje as mais modernas condições de acesso às obras, dispondo das indispensáveis estruturas de apoio, tais como loja e restaurante/cafetaria, esta última também instalada no antigo claustro da Casa Professa. Existe ainda uma identidade gráfica de comunicação que se encontra presente em todos os materiais de divulgação: pontos multimédia presentes ao longo do circuito expositivo com informação adicional, linhas de merchandising inspiradas no acervo e um site próprio. A requalificação veio ainda propiciar uma melhoria das condições de conservação e apresentação da exposição permanente. Assim, uma significativa parte das obras expostas foi submetida a trabalhos de conservação e restauro que vieram clarificar a leitura do acervo museológico, destacando-se o recente restauro da Capela de S. João Baptista, que servirá de base à exposição “A Encomenda Prodigiosa – Da Patriarcal à Capela Real de São João Baptista” a apresentar no início do Verão no Museu Nacional de Arte Antiga e no Museu de São Roque, no âmbito de parceria entre os dois museus.

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Mais Comer&Beber

Sabores portugueses bem alinhavados O ambiente de requinte e a cozinha regional conjugam na perfeição

N l

outros tempos, e estamos a falar de há 120 anos, o espaço em si foi mesmo uma taberna, daquelas que davam lugar também a mercearia. Fruto das várias gerações, por lá passou um alfaiate que continuou o negócio do vinho servido a copo e dos petiscos característicos da região ribatejana. Mais tarde, o único neto herdeiro, João Espírito Santo, recuperou o que restava da antiga taberna e, em 1991, abriu o restaurante Taberna do Alfaiate, na Lapa, que fica quatro quilómetros

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depois da saída Aveiras de Cima, na A1 – Autoestrada do Norte. A esposa, Maria da Conceição, é quem dá o cunho e sabor aos pratos tradicionais que caracterizam o negócio do restaurante. E o menu foi tão apreciado que, mesmo ao lado, uma antiga adega foi restaurada para sentar mais degustadores, num ambiente em que as paredes de pedra antiga estão à vista assim como os barrotes de madeira que sustentam o telhado. O ambiente de requinte e tradicional ao mesmo tempo conjugado com a cozinha regional fazem as hostes da casa. João Espírito Santo, que agora conta com o apoio do filho mais velho no negócio, recomenda das 14 entradas quentes e frias, as Favinhas e a Morcela Assada. Do menu, o Porco Preto na Telha e as Migas de Baca-

TABERNA DO ALFAIATE

Rua Caetano Valério, n.º 35, Lapa, Cartaxo, 2070-352 T. 243 790005 F. 243 799929 Email: tabernadoalfaiate@sapo.pt Fecha ao domingo ao jantar e segunda-feira Horário: das 12h30 às 15h30/das 19h30 às 22h30

lhau são os pratos obrigatórios para quem visita esta casa pela primeira vez. E para terminar, da carta das sobremesas, também 14, o destaque vai para a Mousse de Noz e a Tarte de Arrepiado em Xarope de Vinho Tinto. E para quem gosta de petiscar, e por vezes fora de horas (das 16 às 02 horas), a Taberna do Alfaiate, que reabriu o espaço antigo da taberna e mercearia, serve aqui petiscos regionais como a Bucha, Morcela e Chouriço Assado, Choquinhos com azeite e alho, entre outros. Para acompanhar, basta escolher uma das 60 referências de vinhos do Tejo. Bom apetite!



Mais Comer&Beber

FICHA TÉCNICA PINGA AMORES RESERVA 2009 Tinto, Vinho Regional Alentejano Enólogo: Celso Pereira e Iain Richardson Castas: Syrah (60%), Touriga Nacional (40%) Álcool: 14%; Acidez: 5,2 g/l; PH: 3,75; Açúcar: 2,9 g/l Acompanha: pratos tradicionais portugueses, incluindo o bacalhau Prémios e distinções: China Wine Awards 2012: medalha de ouro

VINHOS

Olha que dois Pinga Amores! lll É na Quinta da Penha, a nor-

te de Portalegre, que tem origem o vinho Pinga Amores. Alentejano de qualidade elevada, o vinho, tinto, é proveniente de um terroir com características de excelência. A Quinta da Penha, herdade com cerca de 40 hectares, beneficia de uma localização privilegiada que goza do clima especialmente moderado, mais fresco e húmido que o habitual calor das planícies alentejanas, o que proporciona vinhos frescos e elegantes, mas igualmente poderosos e encorpados. A exposição solar com quadrante predominante a sudoeste faz reunir as condições perfeitas para a produção de uva da mais alta qualidade.Com cerca de sete hectares, as vinhas foram plantadas em dois níveis, sendo que no primeiro, a uma altitude entre os 585 e os 615 metros, com 1,26 hectares, estão as castas Cabernet Sauvignon, Syrah e Touriga Nacional. No segundo, a uma altitude entre os 450 e os 500 metros, com 5,63 hectares, estão as

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castas Alicante Bouchet, Trincadeira, Aragonês, Syrah e Touriga Nacional. O encepamento escolhido combina o melhor das castas tintas tradicionais nacionais e alentejanas com as castas internacionais mais nobres e adaptadas às condições locais. A conjugação da elevada altitude com a exposição ideal para sudoeste contribui para a qualidade e carácter único dos vinhos deste terroir. As temperaturas relativamente frescas e a excelente exposição solar são determinantes para o equilíbrio e mineralidade da fruta. Iain Richardson, viticultor, que entretanto se afastou, Rui Filinto Stoffel, proprietário da Quinta da Penha, e Celso Pereira, enólogo, não resistiram à qualidade das uvas e montaram este projeto enológico em 2009 de onde nasceu o Pinga Amores. O vinho que surpreende pela elegância, intensidade e frescura, destina-se a consumidores que procuram novas experiências, e tem, em particular, como público-alvo as mulheres, já que hoje em dia começam a ser elas as decisoras na hora da escolha. Os atributos da marca apelam à paixão, emoção e ao gosto pela vida. Nas notas de prova dos dois tintos do Alentejo, o Pinga Amores Colheita 2009 e o Pinga Amores Reserva 2009,

PINGA AMORES COLHEITA 2009 Tinto, Vinho Regional Alentejano Enólogo: Celso Pereira e Iain Richardson Castas: Syrah (30%), Alicante Bouschet (30%), Aragonêz (25%), Touriga Nacional (7,5%) e Trincadeira (7,5%) Álcool: 14%; Acidez: 5,6 g/l; PH: 3,76; Açúcar: 3,1 g/l Acompanha: pratos tradicionais portugueses, incluindo o bacalhau, mas também as massas Prémios e distinções: China Wine Awards 2012: medalha de bronze

O vinho que surpreende pela elegância, intensidade e frescura, destina-se a consumidores que procuram novas experiências, e tem como público -alvo as mulheres, já que hoje em dia começam a ser elas as decisoras na hora da escolha

destacam-se a “cor densa, muito bonita”, a “frescura”, os “frutos pretos”, a “boa acidez”, a “delicadeza dos taninos” e as “belas notas tostadas”. Razões suficientes que já levaram o Pinga Amores Reserva e o Pinga Amores Colheita a vencerem, respetivamente, a medalha de ouro e bronze, no China Wine Awards 2012. Por cá, foram classificados com 17 valores e 16 valores, respetivamente no guia de vinhos “Vinhos de Portugal”, de João Paulo Martins. O reserva foi ainda selecionado para o prestigiado Club 1500 da Sogrape. Para além do circuito comercial em Portugal, os Pinga Amores estão a ser exportados para a China e Angola, estando a Quinta da Penha em negociações para entrar também nos mercados holandês e alemão. Perante tudo isto, assistimos sem dúvida a uma certa mudança. Os tintos do Alentejo estão a ganhar elegância e primam pela frescura, sendo já para muitos os representantes do Novo Mundo português. Que pinguem então os amores.




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