UNIVERSIDADE FEDERAL DO PAMPA
SOFIA CAROLINA DA SILVA
CRITÉRIOS DE NOTICIABILIDADE E JORNALISMO DIGITAL: PRÁTICAS JORNALÍSTICAS EM CONTEXTO DE INCLUSÃO DE SITES DE REDES SOCIAIS
São Borja 2014 SOFIA CAROLINA DA SILVA
CRITÉRIOS DE NOTICIABILIDADE E JORNALISMO DIGITAL: PRÁTICAS JORNALÍSTICAS EM CONTEXTO DE INCLUSÃO DE SITES DE REDES SOCIAIS
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Comunicação Social da Universidade Federal do Pampa, como requisito parcial para obtenção do Título de Bacharel em Jornalismo. Orientador: Vivian Belochio
São Borja 2014
RESUMO O presente trabalho tem por objetivo analisar como as inclusões dos sites de redes sociais podem interferir nos critérios de noticiabilidade do webjornal Zero Hora.com. Diante do atual contexto do jornalismo digital, o qual tem utilizado os sites de redes sociais em suas práticas, reflete-se, especificamente, sobre como as apropriações desses sites de redes sociais têm influenciado as práticas jornalísticas. Para tanto, num primeiro momento, foi realizada revisão bibliográfica que aborda os critérios de noticiabilidade e os valores-notícia, as características do jornalismo digital e as apropriações das redes sociais realizadas neste âmbito. Na parte metodológica, utilizaram-se as técnicas da observação qualitativa e da entrevista semiestruturada. A observação do webjornal Zero Hora.com analisa a presença, ou não, dos sites de redes sociais na sua publicação. Verifica as características das suas apropriações neste veículo. Foram notadas, a partir da observação qualitativa, principalmente apropriações relacionadas ao uso dos sites de redes sociais como fontes de pautas, o que foi possível observar pelos conteúdos desenvolvidos a partir dos sites de redes sociais. Além da observação do webjornal, também, realizou-se entrevista semiestruturada com a editora chefe do núcleo de redes sociais de Zero Hora.com, Bárbara Nickel. Esta permitiu a verificação das tendências notadas a partir da observação do webjornal, bem como a revelação de outros detalhes importantes quanto ao uso de redes sociais. As conclusões indicam para uma possível tendência de inclusão dos sites de redes sociais nas práticas jornalísticas cotidianas daquele webjornal. Acredita-se que isso, consequentemente, pode interferir nos seus critérios de noticiabilidade. Palavras-chaves: Jornalismo digital; redes sociais; critérios de noticiabilidade e Zero Hora.com.
ABSTRACT
This study aims to examine how the inclusion of social networking sites can interfere with the criteria of newsworthiness webnewspaper Zero Hora.com. In today's context of digital journalism, which has used social networking sites in their practices, is reflected specifically on how the appropriation of these social networking sites have influenced the journalistic practices. For this, at first, a literature review that addresses the criteria for newsworthiness and the news values, the characteristics of digital journalism and appropriations of social networks conducted in this field was performed. The theoretical part, we used the techniques of qualitative observation and semi-structured interviews. The observation of webnewspaper Zero Hora.com analyzes the presence or not of social networking sites in your publication. Checks the characteristics of its appropriations in this vehicle. From the qualitative observation were noted, mainly appropriations related to the use of social networking sites as sources of guidelines, which was observed by content developed from social networking sites. In addition to observing the webnewspaper also held semi-structured interview with the chief editor of the core social networks Zero Hora.com, Barbara Nickel. This allowed the verification of the trends noted from observation of the web journal, as well as the development of other important details regarding the use of social networks. The findings indicate a possible trend for the inclusion of social networking sites in everyday journalistic practices that webnewspaper. It is believed that, consequently, can interfere with your criteria of newsworthiness.
Keywords: digital journalism, social networks, criteria for newsworthiness and Zero Hora.com.
LISTA DE FIGURAS Figura 1 -Box “Siga a Folha” retirado da página da editoria Ilustrada do jornal Folha de São Paulo ......................................................................................................................................... 42 Figura 2 - Primeira parte da página de conteúdo com presença de três momentos de sites de redes sociais ............................................................................................................................. 43 Figura 3 - Modelo de postagem no Facebook no perfil do jornal Folha de São Paulo ............ 44 Figura 4 -Modelo de postagem no Google + pelo perfil do jornal Folha de São Paulo .......... 45 Figura 5 -Cabeçalho da Capa do site do jornal O Globo ......................................................... 46 Figura 6 - Imagem do box “Nas Redes” encontrado nas páginas de conteúdo da editoria Economia ................................................................................................................................ 47 Figura 7 - Imagem do Facebook do perfil do jornal O Globo .................................................. 48 Figura 8 - Imagem do Facebook do perfil do jornal O Globo .................................................. 49 Figura 9 -Imagem do Twitter do perfil do jornal O Globo com o resume expandido .............. 50 Figura 10 -Imagem do Google + do perfil do jornal O Globo ................................................. 51 Figura 11 - Imagem da página inicial do jornal Estadão .......................................................... 52 Figura 12 -Imagem do box retirado da página inicial da editoria Saúde do jornal Estadão ..... 53 Figura 13 –Trecho retirado da página Central de Redes Sociais .............................................. 56 Figura 14–Trecho retirado da página Central de Redes Sociais ............................................... 57 Figura 15–Trecho retirado da página Central de Redes Sociais ............................................... 57 Figura 16–Trecho retirado da página Central de Redes Sociais ............................................... 58 Figura 17 – Box retirado da página da Central de Redes Sociais ............................................. 58 Figura 18 – Box retirado da página da Central de Redes Sociais ............................................. 59 Figura 19 – Amostra da Ficha de Tipo 1 .................................................................................. 62 Figura 20 - Exemplo de plugin encontrado em Zero Hora.com em página de conteúdo ......... 67 Figura 21 - Exemplo de plugin encontrado em Zero Hora.com na página „Central de Redes Sociais‟ ..................................................................................................................................... 68 Figura 22 -Pontos de Estímulos de Interação encontrados na página do webjornal Zero Hora.com ................................................................................................................................. 69 Figura 23 - PEI como botão de „curtir‟ junto a um plugin do Facebook ................................. 69 Figura 24 – Chamada para a Missão Instagram encontrada na capa do Zero Hora.com ......... 70 Figura 25 – Mosaica da Missão Instagram na página de conteúdo.......................................... 71 Figura 26 – Chamada encontrado na capa do Zero Hora.com para a cobertura da apresentação do jogador Pedro Geromel........................................................................................................ 72
Figura 27 – Trecho da cobertura da apresentação do jogador Pedro Geromel encontrada na página de conteúdo ................................................................................................................... 73 Figura 28 - Chamada com remissão para conteúdo desenvolvido a partir de redes sociais encontrado na capa do Zero Hora.com ..................................................................................... 74 Figura 29 - Imagem com remissão para conteúdo desenvolvido a partir de redes sociais ....... 76 Figura 30 – Chamada de capa com remissão para conteúdo desenvolvido a partir de redes sociais ....................................................................................................................................... 77 Figura 31 – Trecho de Conteúdo desenvolvido a partir de redes sociais ................................. 78 Figura 32 – Chamada de conteúdo desenvolvido a partir de redes sociais .............................. 79 Figura 33 – Conteúdo desenvolvido a partir de redes sociais encontrado nas páginas de conteúdo ................................................................................................................................... 80
LISTA DE TABELAS Tabela 01 – Modelo da Tabela Geral das Fichas do Tipo 1 ..................................................... 63 Tabela 02 – Modelo da Tabela Geral do Tipo 2 ....................................................................... 64 Tabela 03 – Tabela Geral das Fichas do Tipo 1 ....................................................................... 65 Tabela 04 – Tabela Geral do Tipo 2 ......................................................................................... 66
SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 9 2 CRITÉRIOS DE NOTICIABILIDADE E VALORES-NOTÍCIA EM TEMPOS DE COMUNICAÇÃO DIGITAL ................................................................................................ 12 2.1 Seleção dos temas de destaque em diferentes níveis .......................................................... 18 3 A TRANSFORMAÇÃO DOS CRITÉRIOS DE NOTICIABILIDADE NA WEB ....... 24 3.1 Inflências da Web 2.0 e da convergência ........................................................................... 31 4 APROPRIAÇÃO DE SITES DE REDES SOCIAIS PELO JORNALISMO ................ 36 4.1 Exemplos de apropriações em sites jornalísticos brasileiros .............................................. 41 4.1.1 Folha de SãoPaulo ........................................................................................................... 41 4.1.2 Jornal O Globo ................................................................................................................ 46 4.1.1 Jornal Estadão .................................................................................................................. 51 5 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ..................................................................... 55 5.1 Zero Hora.com .................................................................................................................... 55 5.2 Técnicas de análise ............................................................................................................. 61 5.2.1 Observação qualitativa .................................................................................................... 61 5.2.1.1 Resultados da observação qualitativa ........................................................................... 65 5.2.1.2 sobre os conteúdos que partiram das remissões ........................................................... 66 5.2.2 Entrevista semiestrutura .................................................................................................. 81 6 CONSIDERAÇÃOES FINAIS ........................................................................................... 85 REFERENCIAS .................................................................................................................... 88 ANEXO A ................................................................................................................................ 92 ANEXO B ................................................................................................................................ 94 ANEXO C ................................................................................................................................ 95 ANEXO D .............................................................................................................................. 106
9
1 INTRODUÇÃO Novas gerações têm crescido com o uso da internet, ao ponto de considerá-la como elemento natural, comum no seu cotidiano, enquanto as gerações mais antigas têm se adaptado à presença desta tecnologia. A web e suas aplicações, sejam elas de trabalho ou lazer, estão inseridas, cada vez mais, nas rotinas dos indivíduos, ainda que de forma experimental. Isso também tem acontecido com o jornalismo, à medida que ele vem ampliando os usos que faz das tecnologias digitais, entre elas as potencialidades da Web e da comunicação em redes. Na realidade da cultura da convergência (JENKINS, 2008), o jornalismo digital realiza experimentações que o alteram e que, quando bem sucedidas, imprimem-no identidade própria. Dentre as suas características específicas, há de se considerar a sua diferenciação em relação à interatividade, atualização contínua, personalização, hipertextualidade, memória e multimidialidade (MIELNICZUK, 2003). O uso das bases de dados (BARBOSA, 2007) e dos aparatos móveis (BARBOSA, 2013), também influencia esse processo. Algumas práticas comuns ao jornalismo como apuração, produção, circulação e consumo de informação (MACHADO; PALACIOS, 2006) têm se diferenciado quando se trata do jornalismo digital. Os sites de redes sociais (RECUERO, 2009) são elementos que estão compondo, atualmente, as práticas do jornalismo digital. As apropriações que são realizadas pelo jornalismo nesses espaços variam de acordo com a criatividade e o domínio de cada profissional em relação aos sites de redes sociais. O que se tem observado, é que eles estão sido utilizados não apenas como perfis de veículos noticiosos, mas, também, algumas vezes, para gerar conteúdo colaborativo ou, por exemplo, como fontes de pautas. Diante disso, questiona-se: será que a inclusão dos sites de redes sociais nas publicações noticiosas gera significativa mudança nas dinâmicas de produção das redações? Quando, por exemplo, um jornal tradicional cria um perfil no microblog Twitter, perfil ou fan pageno Facebook, será que é apenas uma moda passageira ou há algo que pode alterar o processo de escolha das informações a serem destacadas? Quais são as evidências dessas alterações? Será que elas interferem nos critérios de noticiabilidade dos meios jornalísticos? Este trabalho propõe contribuir com a reflexão sobre as questões expostas. Para isso, aborda como o uso dos sites de redes sociais no jornalismo pode ou não interferir na definição dos seus critérios de noticiabilidade. O caso observado é do webjornal gaúcho Zero
10
Hora.com, representante do jornal impresso Zero Hora na Web. Este webjornal foi escolhido pelas suas práticas ousadas em relação aos sites de redes sociais e, também, porque surgiu de um jornal impresso, o qual teria, na sua redação, as práticas tradicionais mais consolidadas. Considerando a proposta citada, os objetivos desta monografia são os seguintes: Objetivo geral - Investigar como a utilização dos sites de redes sociais pode interferir nos critérios de noticiabilidade de Zero Hora.com. Objetivos Específicos - Estudar a apropriação dos sites de redes sociais nos veículos jornalísticos e as possíveis afetações dessas ações nos seus critérios de noticiabilidade; - Verificar características das apropriações dos sites de redes sociais em Zero Hora.com a partir de observação estruturada e entrevista semiestruturada. Para atingir tais objetivos, esta monografia é composta por quatro capítulos. O primeiro apresenta reflexões teóricas sobre os processos de construção da notícia no jornalismo, considerando as diferenças entre valores-notícia e critérios de noticiabilidade. Esta partetambém discute os fatores que podem influenciar os critérios de noticiabilidade em mídias diferentes, considerando suas características tecnológicas, seu suporte e seu modo de endereçamento. Foram consultados autores como Dalmonte (2008), Moreira (2006), Traquina (2005) e Wolf (2008). Na segunda parte, o enfoque são as características adquiridas pelo jornalismo digital ao longo de sua história. Destaca-se as especificidades adquiridas por ele ao longo das suas cinco gerações. A segunda parte também reflete sobre as transformações do jornalismo digital na Web 2.0 (O‟REILLY, 2005) e no contexto da cultura da convergência (JENKINS, 2008). Autores como Palacios, (2002), Mielniczuk (2003), Barbosa (2007; 2008; 2013) e Jenkins (2008) foram inseridos nas problematizações. A terceira parte discute as características das apropriações dos sites de redes sociais no jornalismo digital. Realiza reflexão sobre as possíveis interferências dessas ações nas suas rotinas produtivas e nos seus critérios de noticiabilidade. Foram utilizados autores como Lemos (2002), Machado e Palacios (2006), Recuero (2009), Zago (2011) e Souza (2013). Finalmente, são descritos os procedimentos metodológicos, compostos por duas técnicas: a análise qualitativa de 30 capas do webjornal Zero Hora.com e de onze páginas de
11
conteúdos do mesmo webjornal. Além disso, esta parte do trabalho descreve e analisa entrevista semiestruturada realizada a editora chefe do núcleo de redes sociais do webjornal ZeroHora.com, Bárbara Nickel. Como o presente trabalho apresenta as primeiras reflexões de questões que ainda precisam ser exploradas em estudos futuros, as primeiras conclusões apontam para possíveis alterações das rotinas produtivas jornalísticas em função do uso das redes sociais. Considerado que os critérios de notibiabilidade, conforme Moreira (2006), envolvem também os elementos inseridos nas rotinas de produção das notícias, como será exposto no capítulo um, acredita-se que eles podem estar sendo afetados por essas movimentações.
12
2CRITÉRIOS DE NOTICIABILIDADE E VALORES-NOTÍCIA EM TEMPOS DE COMUNICAÇÃO DIGITAL
Antes de aprofundar a discussão sobre a influência da apropriação dos sites de redes sociais na definição dos critérios de noticiabilidade dos veículos jornalísticos, é necessário compreender os mesmos e a relação deles com as dinâmicas jornalísticas. Os próximos parágrafos são dedicados a essa revisão e reflexão. Sousa (2002, p.3) afirma que as notícias ocupam-se com as aparências dos fenômenos que ocorrem na realidade social e com as relações que aparentemente esses fenômenos estabelecem entre si”. Ou seja, segundo o autor, as notícias não representam fielmente a realidade, porque a produção noticiosa sofre o impacto das limitações humanas. Por isso, as notícias não deixam de serem representações de parcelas da realidade, “independentemente da vontade do jornalista, da sua intenção de verdade e factualidade. (SOUSA, 2002, p.3). Ferreira (2002) já discute outra perspectiva, pois aponta que a produção da notícia é condicionada pelo “habitus1”. Ele afirma que é “sob a égide da lógica comercial que a prática jornalística impõe as limitações na produção da notícia” (FERREIRA,2002, p.10). Segundo o autor, a emoção é uma característica a se despertar na escolha da notícia. Esse apelo adquire proporções diferentes, segundo as particularidades do meio e do veículo (FERREIRA, 2002). Dessa forma, a construção da notícia, seus processos e dinâmicas, são descritos e estudados a partir de diferentes pontos de vista. Um deles é a Teoria da Ação Pessoal, ou a Teoria doGatekeeper,sugerida por David Manning White. Segundo Traquina (2005),o termo gatekeeper refere-se à pessoa que “toma uma decisão numa sequência de decisões” (TRAQUINA, 2005, p.150), o que, no processo de produção da notícia, seriam as escolhas em série feitas pelos gate, que são os jornalistas, sobre as notícias que entrariam e as que não entrariam em uma publicação jornalística. Tal teoria leva ao entendimento de que o processo de seleção dos assuntos a serem publicados se torna subjetivo e arbitrário, ou, ainda, “dependente de juízos de valores baseados na experiência, atitudes e expectativas do Gatekeeper” (TRAQUINA, 2005, p.150).Segundo Traquina, aTeoria doGatekeeperanalisa as notícias apenas a partir de quem a produz: o jornalista, o que faz com que ela se situe ao nível individual, por apresentar uma 1
Ferreira (2002) entende o habitus como “tomadas de posição adotadas pelos jornais e pelos jornalistas sob a égide das exigências do mercado” (FERREIRA, 2002, p.10). Ou seja, são as decisões tomadas entre as relações entre força e sentido de um jornal, as quais servem para traduzi-lo no que ele é numa “busca de direto à existência que se faz pela diferenciação de seus semelhantes” (FERREIRA, 2002, p.10).
13
explicação quase que exclusivamente psicológica. Assim, individualiza uma função que tem dimensão burocrática inserida numa organização. A teoria dos constrangimentosorganizacionais é outra linha de reflexão sobre a questão da escolha das notícias privilegiadas em determinadas publicações. Traquina (2005) explica que a teoria organizacional acabou alargando a perspectiva teórica do viés individual para outro mais amplo, que é a organização jornalística.Waren Breed (1955/1993), sociólogo que sugeriu essa teoria, alega que, na rotina de produção das notícias, o jornalista se confronta “mais com as normas editoriais da política editorial da organização do que com quaisquer crenças pessoais que ele ou ela tivesse trazido consigo” (TRAQUINA, 2005, 152). Ou seja, dessa forma, a “teoria organizacional enfatiza o processo de socialização organizacional em que é sublinhada a importância duma cultura organizacional, e não uma cultura profissional” (TRAQUINA, 2005, p.153). Com a revisão das teorias citadas, podemos observar que a construção da notícia varia conforme o contexto em que ela está sendo produzida e as situações que direcionam o julgamento de um fato como algo com potencial para ser noticiado. Esses variam desde, por exemplo, a estrutura hierárquica dentro da redação até o julgamento do profissional a respeito das possíveis preferências dos seus leitores. Ou seja, há diferentes universos que influenciam a produção da notícia: o interno, sendo a redação; o externo, podendo ser as crises econômicas que o jornalismo tem passado e, ainda, o contexto pessoal do profissional, quando o jornalista pressupõe o que pode interessar o seu leitor. Assim, os critérios de noticiabilidade surgem em consonância com todos esses fatores. Essas relações serão discutidas com as exposições a seguir. Para Wolf (2008), a noticiabilidade é constituída pelos critérios, operações e instrumentos com os quais os órgãos de imprensa enfrentam a tarefa de escolher as notícias. Por isso, assim como afirmar Berger (1996), “o processo de rotinização e estandardização das práticas produtivas inclui fatores como o espaço disponível e a política editorial, a aprovação do anunciante e a apreciação do leitor” (BERGER, 1996). A rotinização compõe o processo que internaliza a produção da notícia. Sendo assim, é durante esse momento que critérios são estabelecidos quanto à seleção e escolha dos fatos que serão notícias. Esses critérios, que surgem durante a rotina jornalística, colaboram para a construção social da realidade (DALMONTE, 2008). Dalmonte (2008) afirma que uma forma de assegurar a legitimidade da notícia é por meio dos critérios de noticiabilidade, pois essa é a estratégia do discurso jornalístico: assegurar o efeito de real.
14
Segundo Bianco (2004), a produção da notícia pelas empresas jornalísticas ocorre, de forma rotineira, dentro de um ciclo produtivo constituído para facilitar o processo e tornar viável o trabalho cotidiano. Dentro desse ciclo produtivo ao qual Bianco (2004) se refere, é empregada uma série de critérios e procedimentos para atribuir noticiabilidade a um acontecimento. Para Wolf (2008), esse conjunto de critérios
[...] correspondem ao conjunto de critérios, operações e instrumentos com os quais os aparatos de informação enfrentam a tarefa de escolher cotidianamente, de um número imprevisível e indefinido de acontecimentos, uma quantidade finita e tendencialmente estável de notícia. Sendo assim, a noticiabilidade está estreitamente ligada aos processos que padronizam e tornam rotineiras as práticas de produção: ela equivale a introduzir práticas de produção estáveis numa “matéria-prima” (os acontecimentos do mundo), por sua natureza extremamente variável e imprevisível. (WOLF, 2008, p. 196).
A partir das afirmações do autor,pode-se entender que os critérios de noticiabilidade estão relacionados a vários fatores probabilísticos além de estaremligados à “cultura profissional dos jornalistas” e à “organização do trabalho e dos processos de produção” (WOLF, 2008, 196). Sendo a segunda característica relacionada às escolhas feitas pelo jornalista enquanto um profissional que, por experiência, procura selecionar o que agrada o seu público a partir da imagem que faz do mesmo. A organização do trabalho e dos processos de produção são referente à linha editorial do veículo, ou seja, às condutas que também estão relacionadas com interesses mercadológicos. Para Belochio(2010, p.9),“os critérios de noticiabilidade envolvem aspectos profissionais e mercadológicos que acabam influenciando as opções editoriais dos veículos”. Wolf (2008) também diz que os critérios de noticiabilidade são o “conjunto de elementos por meio dos quais o aparato informativo controla e administra a quantidade e o tipo de acontecimentos que servirão de base para a seleção das notícias” (WOLF, 2008, p.202). Por isso, seguindo os eixos de pensamento já apresentados, Moreira (2006) afirma, a partir de Wolf (2008), que a “transformação de um acontecimento em notícia é o resultado de uma ponderação entre avaliações relativas a elementos de peso, relevo e rigidez diferentes” (MOREIRA, 2006, p.37). Características que a autora indica como responsáveis por formar o caráter elástico do processo de noticiabilidade. É pertinente, também, estabelecer algumas diferenças entre os critérios de noticiabilidade e os valores de construção da notícia (valores-notícia). Moreira (2006) afirma que ambos estão relacionados às rotinas produtivas. Porém, “os valores de seleção podem ser analisados em um corpus de notícias publicadas, pois se referem mais às características que
15
tem ou deve ter uma notícia, entendida como um relato publicado” (MOREIRA, 2006, p.38). Ou seja, os valores-notícia estão relacionados ao conteúdo da mensagem. Já “os critérios de noticiabilidade tendem a ser usados quando querem fazer referência não só aos fatos como também às circunstâncias em que eles são percebidos e selecionados, envolvendo qualquer elemento que possa influenciar a veiculação de uma notícia” (MOREIRA, 2006, p.38). Por isso, Moreira (2006) os entende como de caráter elástico, pois os critérios de noticiabilidade, para a autora, se formam a partir de variáveis e se relacionam de maneiras e intensidades diferentes durante a produção jornalística. Sendo assim, pode-se questionar: qual é o potencial de mutação das dinâmicas jornalísticas com diferentes práticas e tecnologias que surgem com o tempo, inclusive as alterações que se referem à comunicação digital, para a alteração desses critérios elásticos? Wolf (2008) divide os critérios de noticiabilidade da seguinte forma: critérios substantivos; critérios relativos ao meio; critérios relativos ao público e critérios relativos à concorrência. Eles serão descritos nos próximos parágrafos. Os critérios substantivos reúnem os valores referentes ao conteúdo da notícia, pois, segundo Wolf (2008, p. 196), “afirmar que uma notícia é escolhida por ser importante ou interessante não esclarece muito”. Wolf relaciona esse critério aos seguintes fatores: grau e nível hierárquico dos indivíduos envolvidos no acontecimento noticiável; impacto sobre a nação e o interesse nacional; quantidade de pessoas que o acontecimento (de fato ou potencialmente) envolve e a relevânciado acontecimento em relação aos desenvolvimentos futuros de uma determinada situação. Os critérios relativos ao meio abarcam os valores-notícia derivados do tipo de meio de comunicação que está veiculando a notícia, uma vez que as suas características tecnológicas podem limitar/condicionar as formas de transmissão das notícias. Uma pauta que serve para ser televisionada pode não servir para ser impressa. Da mesma forma, a notícia que serve para o rádio pode não servir para a televisão sem uma adaptação. Isso também se estende aos meios noticiosos digitais(BELOCHIO, 2010), que além de ampliarem as possibilidades já existentes de transmissão das notícias, também criam formas diferenciadas, isso considerando as peculiaridades da utilização dos meios digitais, como será observado adiante. Os critérios relativos ao público, conforme Wolf (2008), estão relacionados à visão que o jornalista forma sobre o seu público quando avalia a viabilidade de um fato ser noticiado. Uma vez que o grau de satisfação dos leitores pode ser colhido através de pesquisas, ou seja, “as exigências do destinatário são constantes” (WOLF, 2008, p.222), a
16
produção do jornalista sofreria influência do que ele mesmo pensa ou crê sobre os assuntos que o seu o público pode consumir ou não de informação. Os critérios relativos à concorrência relacionam-se a quanto um veículo pode se alterar a partir das ações da sua concorrência. Segundo Wolf (2008, p.224), “competição produz também o resultado de contribuir para estabelecer parâmetros profissionais dos modelos de referência”. Essa mesma competição que estimula mudanças também “gera expectativas recíprocas, no sentido de que pode acontecer de uma notícia ser selecionada por se esperar que os meios de comunicação concorrentes também o façam” (WOLF,2008, p. 224). Resumindo, um fato pode ganhar potencial de noticiabilidade num veículo porque o seu concorrente pode publicá-lo. Com a sucinta descrição dos critérios realizada até aqui, ainda a partir de Wolf (2008), percebe-se que nem todos os critérios de noticiabilidade são importantes da mesma forma. “A observação parece reforçar a hipótese sobre a natureza negociada da noticiabilidade: os critérios relevantes, portanto, são variáveis (mesmo que de modo limitado) conforme alguns fatores” (WOLF, 2008, p.225). Se os critérios são passíveis de mudança,pode-se dizer queexiste uma
[...] natureza dinâmica dos valores/notícia: estes se alteram no tempo e, mesmo apresentando uma forte homogeneidade dentro da cultura profissional (além das divisões ideológicas, de geração, de meio de expressão etc.) não permanecem sempre os mesmos. (WOLF, 2008, p. 205).
Mantendo a reflexão apresentada acima por Wolf, considera-se que essa natureza dinâmica dos critérios de noticiabilidade potencializa prováveis alterações nos mesmos no jornalismo digital. Sobre os valores-notícia, Moreira (2006) esclarece que eles são referentes ao julgamento do fato, enquanto os critérios de noticiabilidade atendem às necessidades dos veículos para a produção de notícias. Ainda, a partir de Moreira, os valores-notícia
[...] são múltiplos e interrelacionados de diferentes maneiras, não são naturais, mas fruto da cultura jornalística e de uma intenção prévia, e esta pode originar-se em um nível pessoal, organizacional, social, econômico, ideológico, etc. Tanto os sujeitos como as rotinas e também certos segmentos sociais, por exemplo, são agentes de valoração e construção das notícias. (MOREIRA, 2006, p.40).
Ou seja, para Moreira, os valores-notícia são resultados do realce da redação e edição de texto. A autora elaborou a seguinte tabela de valores-notícia, considerando dois
17
pressupostos. O primeiro diz respeito ao fato de que, como todos os valores-notícia estão, de alguma forma, submetidos à política editorial, seria conveniente localizá-la no topo da estrutura, ainda que política editorial não seja um valor-notícia e sim um critério de noticiabilidade. O segundo pressuposto é a consideração do valor-notícia “interesse público/social” como indispensável, pois, uma vez que a notícia não interessa a ninguém, não tem necessidade de ser noticiada. Moreira (2006) definiu, com a análise das manchetes dos jornais impressos Folha de São Paulo, O Estado de São Paulo e O Globo, os seguintes valores-notícia como característicos
de
jornais
de
referência:
atualidade/ineditismo,
importância,
emoção/dramaticidade, entretenimento, suspense, excepcionalidade, O valor atualidade refere-se, segundo Moreira (2006), à notícia recente, enquanto que o valor „ineditismo‟ relaciona-se às notícias que ainda não foram publicadas. O valor „importância‟ é subdivido em outros cinco que consideram a relevância do fato. São eles: „consequência e amplitude/impacto‟, que são referentes ao leitor; „intensidade ou gravidade‟, referentes a fatos excessivos ou exagerados. A autora sugere como exemplos notícias que envolvem alto contingente de pessoas ou valores monetários. „Utilidade e serviço‟ são relacionados à prestação de serviços. A „emoção/dramaticidade‟ aparece em chamadas nas quais é mais agregada a criatividade do que a informação. Já o valor „entretenimento‟, não é destinado ao assunto, e sim para quando a leitura de uma matéria é tomada como entretenimento. Ou seja, trata-se de “reportagens sobre temas leves, com texto criativo” (MOREIRA, 2006, p.102). A „excepcionalidade‟ refere-se a situações incomuns, que fogem ao habitual. Como a quebra da expectativa pode acontecer por vários motivos, este valor é subdivido em: „incomum, insólito, singular‟, „extraordinário/sensacional‟, „mudança‟ e „imprevisibilidade, inesperado e surpresa‟. „Conflito/controvérsia‟ refere-se a notícias que possuem “tensão, polêmica, ambiguidade ou contradição” (MOREIRA, 2007, p.104). Ele não foi incluído como um subvalor de „negatividade‟ porque “nem todo conflito é negativo” (MOREIRA, 2007, p.104). „Negatividade‟ é subdividido em „ infração/ilegalidade, „falha/anormalidade‟, „violência‟ e „negatividade‟. Segundo a autora, este último subvalor surge concomitante ao valor geral, pois “encontramos assuntos, como a morte, que se enquadram diretamente em „negatividade‟ e não em „infração/ilegalidade‟, „falha/anormalidade‟ ou „violência‟” (MOREIRA, 2007, p.104).
18
„Proximidade‟ trata-se da relação geográfica ou cultural e o valor „interesse público/social” engloba temas como educação e saúde, por exemplo. Diante da multiplicidade de classificações, podemos notar como os valores-notícia são flexíveis e estão em constante dinâmica. Como afirma Belochio (2009, p.48) “os valoresnotícia são requisitos que classificam um fato como algo com relevância suficiente para ser transformado em notícia” (BELOCHIO, 2009, p.48), ou seja, se as relevâncias se alteram, dependendo do contexto, as classificações dos valores-notícia também podem se alterar.
2.1 Seleção dos temas de destaque em diferentes meios Mielniczuk (2003) afirma que “cada veículo possui suas especificidades e, cada período, seus recursos tecnológicos, interferindo não só em como a informação é organizada, mas também nos elementos que integram sua apresentação, condicionando e diferenciando o resultado final” (2003, p.1). Partindo dessa reflexão, acredita-se que os critérios de noticiabilidade possam ser afetados com essas alterações, o que pode culminar com seu alargamento a partir das características de cada tipo de mídia. Justamente por essas especificidades, eles servem para o jornalista pensar as notícias a serem distribuídas conforme o seu contexto de produção. Para entender esse possível alargamento, é pertinente compreender as variações entre as mídias existentes. Neste trabalho, as diferentes publicações e produtos noticiosos são entendidos como mídias. São exemplos o jornal impresso, o radiojornal e o telejornal. Todas essas mídias têm suas configurações e formatos característicos, o que permite que a notícia seja trabalhada em cada uma de forma compatível com a sua proposta. A descrição que Charaudeau (2007) faz das diferentes mídias como “dispositivos2 de encenação da informação” ajuda a compreender melhor tais peculiaridades. Ele diz que o jornal impresso, por exemplo, é uma mídia escritural, feita de palavras, de gráficos, de desenhos e de imagens fixas, sobre um suporte de papel. Por essas características técnicas, a relação com tempo e espaço é peculiar. “A relação de distância e de ausência física entre as instâncias da troca faz com que a imprensa seja uma mídia que, por definição, não pode fazer coincidir tempo e acontecimento, tempo de escrita e tempo de produção da informação e 2
Segundo Charaudeau (2007) o dispositivo “compreende um ou vários tipos de materiais e se constitui como suporte com o auxílio de uma tecnologia”, ou seja, o dispositivo é um combinado de dois elementos (material e suporte) ligados pela tecnologia. Sendo que o material pode ser o som, a escrita, a imagem enquanto o suporte pode ser o rádio, a televisão e o papel. A partir do autor, e seguindo essa lógica, a tecnologia surge nesse contexto para regular a relação entre os materiais e os suportes durante a comunicação. Há outros autores que conceituam o dispositivo, porém o tema não será aprofundado por pertinência do trabalho do em questão.
19
tempo de leitura” (CHARAUDEAU, 2007, p. 113). Sabe-se que, para esse segmento, é preciso tempo para a elaboração do material que antecede o tempo de distribuição, além do tempo de leitura. Para Charaudeau (2007), esse ciclo temporal de produção é o que produz uma defasagem entre o surgimento do acontecimento e o momento em que o leitor toma conhecimento dele. Mielniczuk (2003) também descreve as diferenças entre o impresso e outras mídias, em relação ao formato de apresentação das informações jornalísticas. Para a autora, no jornal impresso, a informação é distribuída e organizada em diferentes níveis dentro da publicação. A pesquisadora busca em Lage (2001) as reflexões sobre esses três níveis de organização. São eles: a) projeto gráfico: consiste nos elementos gráficos que compõem o jornal, são a mancha, os fios, as letras, os traços, os espaços em branco; b) sistemas analógicos: são as fotografias, ilustrações, charges e cartoons; c) sistemas linguísticos: é composto pelos textos. (MIELNICZUK, 2003, p.04).
Em relação ao formato do texto, a autora defende que, no impresso, o formato depende do gênero e, quando tomamos o “gênero notícia”, é muito difundido o formato da pirâmide invertida3, que estrutura o texto narrando “do mais importante para o menos importante” (MIELNICZUK, 2003, p.04). Conforme Mielniczuk (2003), seguindo a ordem cronológica da história do jornalismo4, a mídia que surgiu após o jornal impresso foi o rádio. Sendo assim, como mídia sonora, a produção do radiojornalprecisa considerar as vantagens ou desvantagens da produção que estimula apenas um dos sentidos humanos – a audição. Como descrito por Charaudeau (2007), o rádio é composto por
[...]voz, sons, música, ruído, e é esse conjunto que se inscreve em uma tradição oral, ainda mais que não é acompanhada de nenhuma imagem, nenhuma representação figurada dos locutores nem dos objetos que produzem essas vozes, esses ruídos, esses sons. (CHARAUDEAU, 2007, p. 106).
A temporalidade dessa mídia, segundo o autor, é “mais próxima possível daquela da instância de recepção”, ou seja, há uma maleabilidade do suporte que aproxima o tempo do
3
A autora toma o exemplo da pirâmide invertida para, dessa forma, “ilustrar a ocorrência de mudanças pelas quais passa um dos elementos que condicionam o formato da notícia através dos diferentes suportes” (MIELNICZUK, 2003, p.04). Sendo assim, ela analisa como a pirâmide invertida foi adaptada no impresso, no rádio e na tv, como será disposto a seguir. 4 Mielniczuk (2003) afirma que o jornal impresso foi difundido no final do século XIX, enquanto o rádio se popularizou a partir da década de 1920 e a televisão a partir da década de 1950. Para este trabalho, seguiremos essa sequência cronológica, quando se notar necessário apresentar reflexões sobre as essas mídias.
20
acontecimento e tempo de escuta. Segundo o autor, a distância fica quase abolida entre a mídia e o ouvinte, pela transmissão direta da oralidade,
[...] à qual se acrescentam uma enunciação interpelativa da parte da instância midiática e diversas estratégias de interatividade, (telefone, correiro eletrônico, sondagens imediatas) criando intimidade, confidência [...] (CHARAUDEAU, 2007, p. 109).
Dessa forma, o conteúdo produzido para ser transmitido por ondas sonoras precisa considerar a possibilidade do tempo de produção e de escuta quase que simultâneo, no caso de programas ao vivo, e a linguagem oral. Precisa levar em conta a imediaticidade, característica que assume pertinente importância, pois define as pautas que ainda são quentes. Para o rádio, quanto mais recente for o fato, maiores são as chances de ele ser noticiado. Considerando o produto, Mielniczuk (2003) afirma que o radiojornal segue a mesma estruturação que existe no jornal impresso, no que tange à divisão do programa em blocos. Estes fazem alusão às sessões e editorias do impresso. Em relação ao texto, Mielniczuk (2003) lembra que, como o ouvinte só possui o áudio para compreender a informação, é preciso, então, que haja redundância no texto. Sendo assim, ainda segundo a autora, pelas características do suporte, a redundância se torna uma marca da formatação da informação jornalística radiofônica. O telejornalismo já se utiliza de imagem e som. Essas duas características técnicas também afetam a relação com o tempo e o espaço. Charaudeau (2007) afirma que, em relação ao tempo, [...] a televisão, apesar das câmeras cada vez mais sensíveis e leves, tem muita dificuldade em fazer coincidir tempo e acontecimento, tempo da enunciação e tempo da transmissão. O peso do material e a rigidez da programação fazem com que, na maior parte das vezes, a transmissão dos acontecimentos pela televisão não seja direta. (CHARAUDEAU, 2007, p. 111).
No que tange ao tempo, o telejornalismo sofre com o deslocamento de equipamentos e o próprio tempo de edição do conteúdo produzido. Ainda assim, a impressão de contato entre os telespectadores e os jornalistas, no telejornalismo, é característica marcante, como afirma Charaudeau (2007). Dessa forma, o contato que é estabelecido entre o sujeito que assiste e o sujeito que apresenta confere mais uma das características peculiares dessa mídia específica. Outras características também estão relacionadas à imediaticidade que a TV pode proporcionar, quando transmite conteúdo ao vivo com transmissão direta do local que ocorreu
21
o fato noticiado. A existência de imagens sobre o conteúdo também interfere, pois, se há conteúdo para ser mostrado, a notícia se torna mais privilegiada. Mielniczuk (2003) observa que o formato do telejornal possui uma linguagem transfronteira, pois, indiferente do idioma, e de eventuais aspectos culturais e de caráter de investimento econômico, os telejornais são semelhantes entre si do ponto de vista técnico. Em relação ao texto, Mielniczuk (2003) e Bittencourt (1993) sugerem que a narração da informação jornalística na televisão segue certa sequência temporal. Por isso, a pirâmide invertida, tanto utilizada no impresso, aqui não corresponderia ao formato mais adequado. Os autores apontam que o lide5, que na TV é chamado de cabeça, é mantido. Contudo, o restante da narração deve ser seguido em ordem cronológica. Com esses esclarecimentos sobre o formato da notícia, podemos concordar com Mielniczuk (2003) quando ela afirma, analisando o jornal impresso, o rádio e a televisão, “que tais processos ocorram também com outros elementos que interferem no formato da informação jornalística e não só no modelo de redação” (MIELNICZUK, 2003, p.8). Ou seja, a construção da notícia se forma por um conjunto de fatores. Além das diferenças do suporte, do espaço, do tempo de produção, distribuição, consumo e formato das notícias, outros fatores também contribuem para diferenciar as mídias. Para compreender esses fatores, é interessante recorrer à teoria do Modo de Endereçamento. Gomes (2006) relaciona-a com a forma como os programas de telejornalismo são direcionados ao público, tomando o Jornal Nacional como exemplo. Para a autora,
O modo de endereçamento é aquilo que é característico das formas e práticas comunicativas específicas de um programa, diz respeito ao modo como um programa específico tenta estabelecer uma forma particular de relação com sua audiência. (cf. Morley & Brunsdon, 1978). (GOMES, 2006, p.2).
O endereçamento é marcado porexplorar o que cada mídia tem e oferece, sempre refletindo como será a recepção de seus espectadores reais ou imaginados.Ou seja:
Na perspectiva da análise televisiva, o conceito tem sido apropriado para ajudar a pensar como um determinado programa se relaciona com sua audiência a partir da construção de um estilo que o identifica e que diferencia dos demais.(GOMES, 2006, p.2 - 3).
5
O lide para a televisão, segundo a autora, chamado de cabeça, é “a narração do locutor antes de chamar o repórter com imagens externas” (MIELNICZUK, 2003, p.07).
22
Considera-se que outros tipos de publicações também têm modo de endereçamento. Trata-se de um dos aspectos que diferenciam cada mídia, pois cada uma inclina-se para receptores com perfis diferentes. As revistas especializadas, por exemplo, de jornalismo literário, tal como a revista Piauí, da Editora Abril, não apresentam suas notícias como elas são apresentadas no Jornal Folha de São Paulo. A Piauí tem o jornalismo literário como definição inerente à sua especialização. Essa lógica é óbvia, porque cada mídia tem a sua política editorial definida, com uma abordagem diferenciada, que privilegia assuntos diferentes, de acordo com o seu modo de endereçamento ao público. Portanto, os critérios de noticiabilidade de cada mídia podem variar, considerando suas características tecnológicas, seu suporte e o seu modo de endereçamento. Em cada mídia, um critério pode ter mais peso do que o outro. Os valores-notícia mudam em cada uma. Dalmonte (2008, p.128) diz que, “dessa forma, pensar a organização das novas mídias pode resultar num exercício de constante adequação conceitual, para tentar abarcar uma situação que não é estanque e que, ao movimentar-se, requer ajustes”. Acredita-se que o surgimento de jornais digitais impulsionou mudanças nesse sentido, tendo impacto nos critérios de noticiabilidade. Conforme o autor,
[...] uma nova mídia é aquela que abre novos caminhos estéticos e permite criar estratégias de produção, circulação e recepção de sentido, mas que também pode dialogar com as que precederam. Essa possibilidade de conjunção midiática é o que tem sido experimentado pela prática do jornalismo na Internet, que, pelo processo de digitalização da informação, vem descolando-se de práticas mais compartimentalizadas, como a do impresso, do rádio e a da televisão, para ambientes em que há o diálogo entre práticas. (DALMONTE, 2008, p. 129).
Segundo o autor, a internet tem outras implicações, tais como a alteração das noções de tempo e de espaço, que precisam ser consideradas na produção do jornalismo digital.Dalmonte (2008) afirma que, de uma forma ou de outra, a web acrescenta a característica que o autor chama de “conjunção midiática” quando consegue convergir práticas de outras mídias. Exemplo é quando se apresenta uma narrativa com a presença de texto, hiperlink, vídeo, foto e áudio. Belochio (2012) explica que, nas publicações no webjornalismo, “são mais próximas as coincidências com o tempo do acontecimento, tempo da escrita, tempo de produção da informação e tempo de leitura” (BELOCHIO, 2012, p.44). A pesquisadora reflete não apenas em relação ao tempo para com as publicações, como também para com outros meandros do webjornalismo, tais como a multimidialidade, a memória e a interação. Outro exemplo da
23
atuação do tempo é a possibilidade de atualizações contínuas, que, segundo Palacios (2002) e Mielniczuk (2003), se configurara como uma das potencialidades do jornalismo na Web. Dessa forma, essas e outras características do webjornalismo serão descritas de forma mais aprofundada no próximo capítulo. A intenção é indicar fatores que possivelmente interferem na definição dos seus critérios de noticiabilidade.
24
3A TRANSFORMAÇÃO DOS CRITÉRIOS DE NOTICIABILIDADE NA WEB Segundo Alves (2006), o jornalismo digital vem modificando a impressão ameaçadora que causou no seu surgimento, há cerca de duas décadas, e isto tem acontecido porque o jornalismo digital está desenvolvendo suas próprias características. Elas estão, cada vez mais, se tornando específicas. Para esclarecer essa ideia,o autor sugere duas fases de amadurecimento do jornalismo digital. São elas: Sobre a primeira fase, ele afirma:
Em vez de ver a web como um novo meio, com características próprias, as empresas tradicionais a encararam como uma nova ferramenta para distribuir conteúdos, originalmente produzidos em outros formatos. Na melhor das hipóteses, via-se a presença na Internet como uma extensão ou um complemento do produto tradicional. Assim, esta primeira década do jornalismo digital foi caracterizada por este pecado original: a simples transferência do conteúdo de um meio tradicional para outro novo, com pouca ou nenhuma adaptação. (ALVES, 2006. p.94)
A partir do autor, nessa primeira década, o jornalismo digital foi marcado pela visão da web, pelas empresas tradicionais, como uma extensão ou complemento do produto tradicional.Sendo assim, a web era vista, inicialmente, apenas como uma nova ferramenta para distribuir conteúdos. Alves (2006) ainda acrescenta que, nessa primeira fase,registrou-se “preguiça das empresas de apostar na Internet como um novo meio capaz de garantir sua sobrevivência numa era que se impõe de forma avassaladora. No fundo, o jornalismo digital tem sido muito tímido no que se refere à criatividade e a inovação” (ALVES, 2006, p.94). Essa visão de Alves sobre a primeira fase do jornalismo digital contribui não apenas para a contextualização daquele momento, mas também para que possamos compreender o fenômeno das apropriações, atualmente, dos sites de redes sociais pelo jornalismo. A segunda fase, Alves (2006), resume com a ideia de „comunicação eu-cêntria‟. Pois, na segunda década do jornalismo digital, a informação [...] está baseada nas decisões individuais do receptor, diante do enorme leque de opções que a Internet lhe abre. A comunicação se torna eu-cêntrica porque tenho acesso somente ao que eu quero, na hora em que eu quero, no formato em que eu quero e onde eu quero. (ALVES, 2006, p.97).
Essa perspectiva de Alves chama atenção para a alteração de poder sobre a produção e o consumo da informação. Quem escolhe os fatos relevantes para a disponibilização ao público em publicações fechadas e limitadas não é apenas o jornalista, mas também o leitor. Silva Júnior (2001)descreve três estágios para o jornalismo digital: o transpositivo, o perceptivo e o hipermidiático. O transpositivo refere-sea esse primeiro contato dos veículos
25
com a internet. Ele afirma que o estágio transpositivo seguia o “modelo eminente presente nos primeiros jornais online onde a formação e organização seguiam diretamente o modelo do impresso” (ALVES, 2006, p.3).Ou seja, era a transposição do que existia no impresso para a tela do computador, considerando o browser como uma folha de papel infinita. O segundo momento do jornalismo digital é o perceptivo,no qual, segundo Silva Júnior (2001),
[...] há uma maior agregação de recursos possibilitados pelas tecnologias da rede em relação ao jornalismo online. Nesse estágio, permanece o caráter transpositivo, posto que, por rotinas de automação da produção interna do conteúdo do jornal, há uma potencialização em relação aos textos produzidos para o impresso. Gerando o aproveitamento para a versão online. Porém, há a percepção por parte desses veículos, de elementos pertinentes à uma organização da notícia na rede. (SILVA JUNIOR, 2001, p.3).
Ou seja, segundo o autor, essa fase perceptiva está para um momento em que a web não é vista como apenas um espaço para a transposição do que existe no impresso direto para a tela do computador.São notados e explorados os seus recursos, ainda que de forma tímida. Nesse momento, já podemos considerar que, por motivos de concorrência, ou simplesmente por necessidade de inovar, o jornalismo digital já passa a aproveitar as potencialidades da web. O terceiro e último estágio que Silva Júnior (2001) apresenta é nomeado como hipermidiático, o qual ocorrem o “uso de recursos hipertextuais, a convergência entre suportes diferentes (multimodalidade) e a disseminação de um mesmo produto em várias plataformas e/ou serviços informativos” (SILVA JÚNIOR, 2001, p.3). Não muito diferente do que Silva Júnior (2001) propõe, Mielniczuk (2003) também divide a trajetória do jornalismo digital em três fases.Elas são nomeadas como as fases: a) dos produtos de primeira geração, ou fase da transposição; b) dos produtos de segunda geração, ou fase da metáfora; c) dos produtos de terceira geração, ou fase da exploração das características daweb. O jornalismo de primeira geração, ou de transposição, refere-se ao movimento, propriamente dito, de transporo conteúdo que era publicado nos grandes jornais impressos para o espaço na Web. Dessa forma, “os produtos desta fase, em sua maioria, são simplesmente cópias do conteúdo de jornais existentes no papel, só que, para a web”(MIELNICZUK, p.33, 2003). Outra característica a se considerar desta fase, a partir da
26
autora, é que a rotina de produção das notícias era atrelada ao ritmo estabelecido pelos jornais impressos.
A rotina de produção de notícias é totalmente atrelada ao modelo estabelecido nos jornais impressos. No que diz respeito aos formatos de apresentação das narrativas jornalísticas, não há nenhuma evidência de preocupação com relação a uma possível forma inovadora de apresentação das narrativas jornalísticas. A disponibilização de informações jornalísticas na web fica restrita à possibilidade de ocupar um espaço, sem explorá-lo, enquanto um meio que apresenta características específicas. (MIELNICZUK, 2003, p.33).
Ou seja, nessa fase, o jornalismo digital é como Alves afirmou: “tímido no que se refere à criatividade e à inovação”, sendo os conteúdos publicados no papel apenas transportados para a tela do computador. A segunda geração, ou fase da metáfora,faz algumas ensaios com as potencialidades da web.
Contudo, aindase mantém atrelada ao modelo do
jornal impresso.Como afirma Mielniczuk (2003),
Com o aperfeiçoamento e desenvolvimento da estrutura técnica da internet no País, e seguindo uma tendência mundial, nos final dos anos 90 do século passado [...] começaram a ocorrer experiências no produto jornalístico na tentativa de explorar as características oferecidas pela rede. (MIELNICZUK, 2003, p.33-34).
Sendo assim, temos as primeiras experimentações,com alguns elementos diferentes incorporados nas rotinas de produção dos jornalistas, tais como:
Links com chamadas para notícias de fatos que acontecem no período entre as edições; o e-mail passa a ser utilizado como uma possibilidade de comunicação entre jornalista e leitor ou entre leitores, através de fóruns de debates; a elaboração das notícias passa a explorar os recursos oferecidos pelo hipertexto. (MIELNICZUK, 2003. p. 34).
Dessa forma, podemos constatar que as incursões às características da web referem-se a um processo de amadurecimento tecnológicosomado ao estímulo criativo e inovador.Porém, com ressalvas, pois os elementos incluídos nessas rotinas ainda estão associados ao jornalismo impresso.Mielniczuk (2003, p.34)refere-se a essas pequenas experimentações como uma “tendência (...) de produtos vinculados não só ao modelo do jornal impresso enquanto produto, mas também às empresas jornalísticas cuja credibilidade e rentabilidade estavam associadas ao jornalismo impresso”. Sendo assim, podemos concluir desta fase que havia receio em relação à credibilidade, apesar das tentativas de exploração da web.
27
Na terceira geração, ou fase do webjornalismo, Mielniczuk (2003. p.34) afirma que o “cenário vai se modificando a partir da crescente popularização do uso da internet e também do surgimento de iniciativas tanto empresariais quanto editoriais”. Ela também diz que “são sites jornalísticos que extrapolam a ideia de uma versão para a web de um jornal impresso já existente” quando se utilizam, por exemplo:
Recursos multimídia, como sons e animações, que enriquecem a narrativa jornalística; oferecem recursos de interatividade, como chats com a participação de personalidades públicas, enquetes, fóruns de discussões; apresentam opções para configuração do produto de acordo com interesses pessoais de cada leitor/usuário; apresentam a utilização do hipertexto não apenas como um recurso de organização das informações da edição, mas também começam a empregá-lo na narrativa de fatos. (MIELNICZUK, 2003. p.36).
Essas iniciativas compõem o desenvolvimento do jornalismo digital e a tomada da web como um ambiente com potenciais ecaracterísticas próprias. Mielniczuk (2003) grifa que o seu desenvolvimento mais específico “corresponde a um estágio mais avançado de toda uma infra-estrutura técnica relativa às redes telemáticas, bem como corresponde a um momento de expansão da base instalada e ao aumento do número de usuários” (MIELNICZUK, 2003. p. 39). Contudo, como a dinâmica e as demandas da web vivem em processo de desenvolvimento, a própria autora lembra que as fases
[...] não são estanques no tempo, e nem são excludentes entre si, ou seja, em um mesmo período de tempo, podemos encontrar publicações jornalísticas para a web que se enquadram em diferentes gerações e, em uma mesma publicação, pode-se encontrar aspectos que remetem a estágios distintos. (MIELNICZUK, 2003. p. 39).
É a partir deste contexto de confluência concomitante das gerações que Barbosa (2007) afirma que o modelo Jornalismo Digital em Base de Dados ou JDBD surgiu. Trata-se, conforme a autora, de uma etapa de transição entre a terceira e a quarta geração do jornalismo digital. O Jornalismo Digital em Base de Dados, ou JDBD, tem como cerne a apropriação da tecnologia das bases de dados6 nos processos produtivos. Quando elas são apropriadas no jornalismo, desenvolve-se um paradigma próprio de produção (BARBOSA, 2007, p.1).
6
Para melhores esclarecimentos, o conceito técnico de Bases de Dados refere-se ao “conjunto de dados interrelacionados, organizados de forma a permitir a recuperação da informação. Armazenadas por meios ópticos ou magnéticos como discos e acessadas local ou remotamente,” que visam “fornecer informação atualizada (recursos estruturais), precisa e confiável (não dar a informação pela metade) e de acordo com a demanda (oferecer o que o usuário necessita). Fonte: http://www.eca.usp.br/departam/cbd/lina/recurso2/bases.htm
28
Segundo Barbosa (2007), o JDBD tem as bases de dados como modelo para a apuração e construção no jornalismo digital, pois as bases de dados se destacam na “construção e gestão de produtos jornalísticos digitais – os cibermeios – bem como para a estruturação e a apresentação dos conteúdos” (BÁRBOSA, 2008, p.5). Isso significa que as bases de dados deixaram de desempenhar apenas a função documental e auxiliar, ou de espaço para busca de informação e passaram, dessa forma, a auxiliar o profissional da área nos processos de préprodução, produção, disponibilização/circulação, consumo e pós-produção. A adoção das BDs como paradigma é marca da quarta geração do jornalismo digital, segundo Barbosa (2008). A pesquisadora afirma que as bases de dados auxiliam o jornalismo na [...] formação de equipes mais especializadas; desenvolvimento de sistemas de gestão de conteúdos (SGC) mais complexos e baseados preponderantemente em softwares e linguagens de programação com padrão open source, formato XML (eXtensible Markup Language), algoritmos; acesso expandido por meio de conexões banda larga; proliferação de plataformas móveis; consolidação do uso de blogs; ampla adoção de recursos da Web 2.0; incorporação de sistemas que habilitam a participação efetiva do usuário na produção de peças informativas; produtos diferenciados criados e mantidos de modo automatizado; sites dinâmicos; narrativas multimídia; utilização de recursos como RSS (Really Simple Syndication) para recolher, difundir e compartilhar conteúdos; aplicações da técnica do tagging na documentação e na publicação das informações; uso crescente de aplicações mash-up; do conceito de geolocalização de notícias ou geocoding news; uso do podcasting para distribuição de conteúdos em áudio; ampla adoção do vídeo em streaming; novos elementos conceituais para a organização da informação; maior integração do material de arquivo na oferta informativa; produtos experimentais que incorporam o conceito de web semântica; emprego de metadados e data mining para categorização e extração de conhecimentos; aplicação de novas técnicas e métodos para gerar visualizações diferenciadas para os conteúdos jornalísticos que auxiliam a sobrepujar a metáfora do impresso (broadsheet metaphor) como padrão. (BARBOSA, 2008, p.9).
É possível notar, com as especificações de Barbosa (2008), que a quarta geração dinamizou o fazer jornalístico, abrindo as possibilidades de atuação do jornalista e do leitor. Deixou os processos de produção e de acesso às notícias, entre outros, mais práticos. Atualmente, já se fala da quinta geração do jornalismo digital. Barbosa (2013) apresenta seis características como componentes desta fase. São elas: medialidade, horizontalidade, continuum multimídia, mídias móveis, aplicativos e produtos autóctones. A seguir, será exposta, brevemente, a descrição destas características. A medialidade, segundo Barbosa (2013), refere-se à produção jornalística feita em “diversos formatos de conteúdo (textos, fotos, áudios, vídeos, infográficos, slideshows, newsgames, linha de tempo...) (BARBOSA, 2013, p.34) criados, editados e distribuídos de
29
forma totalmente digital e em rede”. A horizontalidade diz respeito aos “fluxos de produção, edição, distribuição, circulação e recirculação dos conteúdos”(BARBOSA, 2013, p.36). Isso seguindo a “lógica de atuação conjunta e integrada”, o que resulta, então, na “noção de um continuum multimídia dinâmico”(BARBOSA, 2013, p.36). O continuum multimídia está ligado à ideia de “integração de redação, gestão editorial multiplataforma, polivalência midiática e a multimidialidade para os conteúdos” (BARBOSA, 2013, p.37). As mídias móveis, aplicativos e produtos autóctones se destacam na quinta geração porque, segundo Barbosa (2013),
As mídias móveis, especialmente smartphones e tablets, são também propulsoras de um novo ciclo de inovação, no qual surgem os produtos aplicativos (apps) jornalísticos para tablets e smartphones. Dentre eles, destacam-se como potencialmente mais inovadores aqueles que denominamos autóctones, ou seja, aplicações criadas de forma nativa com material exclusivo e tratamento diferenciado. (BARBOSA, 2013, p. 42).
Isso faz deles “os novos agentes que reconfiguram a produção, a publicação, a distribuição, a circulação, a recirculação, o consumo e a recepção de conteúdos jornalísticos em multiplaformas” (BARBOSA, 2013, p.42). É notável, a partir do que foi visto até aqui, que o surgimento de determinadas tecnologias, como as bases de dados, pode desencadear e gerar mudanças nos modelos de produção das redações. Acredita-se que tal fato pode influenciar os processos tradicionais jornalísticos, como, por exemplo, os de apuração, edição e publicação. Recursos da Web 2.0, característicos do cenário da cultura da convergência, foram apropriados para o uso jornalístico, seja via apuração ou distribuição de informações. Também é visível a influência de modelos da convergência jornalística no desenvolvimento do jornalismo digital. A quinta geração parece estar relacionada com essas transformações. As possíveis alterações dos processos tradicionais jornalísticos podem também refletir nos critérios de noticiabilidade. Sobre a necessidade de refletir sobre os critérios de noticiabiladade e suas tendências, Aldé (2004) afirma que O jornalismo praticado na internet tem diferenças importantes em relação às mídias impressas, como jornais e revistas, e implica novas práticas e critérios de noticiabilidade específicos da mídia eletrônica. Ao contrário da edição de um diário, cujas matérias pautadas vão sendo apuradas e modificadas ao longo do dia, sendo eventualmente até descartadas antes de chegar ao leitor, no jornalismo online o processo de apuração, reportagem e checagem dos fatos acontece em tempo real, e é acompanhado pelos leitores, que têm acesso a uma variedade maior de informações fragmentadas e fontes alternativas. (ALDÉ, 2004, p. 05).
30
Aldé (2004) considera que a relação diferente que o jornalismo digital oferece, em relação ao tempo de apuração, produção e publicação, quando comparado ao impresso, deve ser tomada para se refletir a respeito das “novas práticas e critérios de noticiabilidade” (ALDÉ, 2004, p. 05). Firmino (2008) mantém o mesmo eixo de reflexão de Aldé (2004). Ele considera que, [...] com a expansão da infra-estrutura de tecnologias móveis digitais e conexões sem fio como Wi-Fi e 3G, aliadas ao desenvolvimento de aplicativos avançados na web, o jornalismo experimenta uma interface entre a mídia de massa e a mídia de funções pós-massivas na construção do tempo real na relação com o espaço urbano e a mobilidade. A reapropriação destas ferramentas para a produção jornalística introduz novos critérios de noticiabilidade. Compreender estas mutações é fundamental para um enquadramento conceitual do próprio futuro do jornalismo num ambiente de convergência e de digitalização midiática. (FIRMINO, 2008, p.01).
Firmino (2008) aponta que as reapropriações de elementos móveis que envolvem a tecnologia wi-fi, 3G e aplicativos estão permitindo ao jornalismo experiências novas que, de alguma forma, afetam as práticas jornalísticas. Situação que reflete nos critérios de noticiabilidade. Dalmonte e Ferreira (2008) consideram que, a partir de então, há o
[...] desafio de se pensar quais são os novos critérios de noticiabilidade que, por um lado, passam a marcar o modus operandi dessa esfera; por outro, reconfiguram as concepções acerca do efeito de sentido propostas pelas especificidades dessa narrativa jornalística. (DALMONTE e FERREIRA, 2008, p.127).
Dalmonte e Ferreira (2008) nos situam sobre a necessidade de refletir quando se há elementos que afetam os critérios de noticiabilidade. As alterações podem não só afetar as práticas, ou seja, a forma de se fazer jornalismo, como também, a forma de se consumir esse jornalismo. O jornalismo digital, como afirma Leitão (2012, p.9) “deve ultrapassar formatos e linguagens, espaços e temporalidades. A partir disso, entram em cena os critérios de noticiabilidade, a fim de modelar os itens desde a seleção até a produção das matérias”.Leitão (2012) também acredita que o jornalismo digital se diferencia em vários aspectos da prática jornalística nos meios convencionais e que se desenvolve de forma diferenciada. A partir disso, podemos considerar que as diferentes práticas do jornalismo digital podem interferir nos seus critérios de noticiabilidade. (ALDÉ, 2004; FIRMINO, 2008; DALMONTE e FERREIRA, 2008; LEITÃO, 2012). Na realidade da cultura da convergência (JENKINS, 2008), ainda mais. elementos têm afetado essas dinâmicas. O próximo tópico é dedicado à reflexão sobre a questão.
31
3.1 Influências da Web 2.0 e da convergência
A forma de agir do indivíduo em relação à internet sofreu significativas alterações desde o começo dos anos 2000. Este período tem como marca a consolidação das lógicas de um espaço nomeado por O‟Reilly (2005) como Web 2.0. De certa forma, esse espaço também tem afetado as rotinas de produção do jornalismo, levando o profissional da área a transformar suas típicas formas de apuração, produção e a distribuição das notícias (PRIMO, 2006). Primo (2006) afirma que
A Web 2.0 refere-se não apenas a uma combinação de técnicas informáticas (serviços Web, linguagem Ajax, Web Syndication, etc.), mas também a um determinado período tecnológico, a um conjunto de novas estratégias mercadológicas e a processos de comunicação mediados por computador (PRIMO, 2006, p.1).
Assim, o termo não representa apenas questões relacionadas à informática e aos interesses de programadores, por exemplo. O momento Web 2.0 pode ser entendido como a fase em que o comportamento coletivo de participação, que Pierre Lévy (1999) associa ao que ele chama de inteligência coletiva7, afeta as dinâmicas de navegação e de utilização do ciberespaço. O‟Reilly (2005) lista as características da Web 2.0 e as suas competências,definindo-as como os princípios da Web 2.0. São eles: a) Serviços e software com „escalabilidade‟ de custo eficiente; b)Controle sobre fontes de dados únicas e difíceis de serem criadas e que ficam mais ricas quanto mais as pessoas as atualizarem; c) Confiança nos usuários como codesenvolvedores; d) Agregação de inteligência coletiva; e) Estimular a cauda longa através de auto-serviço para o cliente; f) Software para mais de um dispositivo; g) Interfaces de usuários, modelos de desenvolvimento e modelos de negócios leves. Romaní e Kuklinski (2007) resumem os sete princípios da seguinte forma:
[...] a World Wide Web como uma plataforma de trabalho, o fortalecimento da inteligência coletiva, a gestão de bases de dados como competência básica, o fim do ciclo das atualizações de versão de software, os modelos de programação junto a procura da simplicidade, o software não limitado a um dispositivo e experiências
7
Inteligência Coletiva, segundo Lévy é “[...] uma inteligência distribuída por toda parte, incessantemente valorizada, coordenada em tempo real, que resulta uma mobilização efetiva das competências [...]”. (LÉVY; 2007).
32
enriquecedoras para os usuários.(ROMANÍ
tradução nossa).
e KUKLINSKI, 2007, p.15,
8
Ou seja, segundo os autores citados, esta Web diferenciada deixa de ser uma vidraça de conteúdos para se tornar uma plataforma aberta, construída sobre uma arquitetura baseada na cooperação dos usuários. Conforme Primo (2006), essa arquitetura visa ao aproveitamento da inteligência coletiva a partir da valorização das ações dos usuários dos seus serviços. Isso ocorre mediante a incorporação de recursos de compartilhamento e interconexão nos serviços oferecidos na Web 2.0. A Web 2.0 se desenvolveu a partir do trabalho conjunto de inúmeros indivíduos, que produzem e/ou consomem juntos, sem necessariamente o controle comercial da atividade de produção e, tampouco, de consumo. Com essa contextualização, podemos julgar que o cenário que se formou a partir de então, na Web, é de cooperação entre os internautas. Sobre esse comportamento, Primo (2006) afirma que:
[...] não se dá porque na Internet todos são pessoas generosas ou porque a tecnologia faz nascer a vontade de colaborar por si mesma, mas sim porque, paralelamente às facilidades tecnológicas, os indivíduos têm interesses na produção de bens coletivos, sejam estes os mais elevados, como prover um recurso a quem dele necessita, sejam os mais terrenos, como a busca por reputação ou simples diversão. (PRIMO, 2006, p.44).
Desse modo, segundo Primo (2006), o processo de cooperação é natural. Com o ambiente favorecendo, as mudanças se tornam consequências. E assim, nesse contexto de fácil acesso para os produtores e consumidores dos recursos disponíveis, o ambiente se tornou fértil para mudanças. Com o alto contingente de conteúdos disponibilizados em rede, surgem as iniciativas de nicho, desenvolvidas por amadores, que formam o que Anderson (2006) chama de caudas longas. A partir de Anderson (2006), o fenômeno da cauda longa resume-se ao abalo no modelo da “cultura de massa”, através do crescimento da “cultura de nicho”. Tem acontecido por uma conjuntura de fatores. “É a culminância de uma sucessão de inovações em negócios que remontam a mais de século – avanços na maneira como descobrimos, produzimos, distribuímos e vendemos.” (ANDERSON, 2006, p. 39). Essas inovações às quais Anderson (2006) se refere permitiram não só autonomia ao indivíduo para sua própria produção e 8
[...] la Word Wide Web como plataforma de trabajo, el fortalecimiento de la inteligencia colectiva, la gestión de las bases de dados como competencia básica, el fin del ciclo de las actualizaciones de versiones del software, los modelos de programación ligera junto a la búsqueta de la simplicidad, el software no limitado a um solo dispositivo y las experiencias enriquecedoras de los usuarios. (ROMANÍ e KUKLINSKI, 2007, p.15).
33
distribuição amadora, como também opções para explorar o micro-mercado às grandes organizações. Anderson (2006) afirma que o “setor de notícia foi o primeiro a realmente sentir o impacto da internet” (2006, p.183). O que demonstra que o fenômeno da cauda longa também pode ser aplicado ao consumo de informação. Nesse sentido, Belochio (2009) indica a cauda longa da informação:
[...] no topo da curva da demanda ficam os chamados hits, ou seja, os produtos mais consumidos, preferidos pela grande maioria do público. Na cauda longa da informação esse seria o caso dos meios informativos tradicionais, que conquistaram credibilidade no decorrer de sua história, tais como jornais, emissoras de TV, rádios e outras marcas mais conhecidas e também atuantes fora do universo digital. Sua presença no ciberespaço é mais uma forma de projeção de seus conteúdos massivos. Na cauda, conforme descreve o autor [Anderson], encontram-se os nichos, entendidos como os meios alternativos e customizados de informação. (BELOCHIO, 2009, p.3).
Com isso, podemos entender que, na cauda longa da informação, estão páginas amadoras como os blogs, citados por Anderson (2006), além de uma série de outros tipos de conteúdos publicados em espaços destinados à expressão dos cidadãos comuns, sem vinculação com mídias tradicionais. As redes sociais também são espaços que podem ser usados nesse sentido. Tal contexto é configurado a partir das seguintes forças: a democratização das ferramentas de produção, a redução dos custos de consumo pela democratização da distribuição e a ligação entre a oferta e a demanda (ANDERSON, 2006, p.52-53). A partir disso, podemos observar que a Web 2.0 é, de certa forma, a base para o desenvolvimento da cultura de nichos citada por Anderson (2009), além de, também, integrar a conjuntura descrita por Jenkins (2008) como realidade da cultura da convergência. Segundo o autor, a cultura da convergência é caracterizada pela alteração da “lógica pela qual a indústria midiática opera e pela qual os consumidores processam a notícia e o entretenimento” (JENKINS, 2008, p.43). De acordo com Jenkins (2008), é importante entender que essa realidade vai
[...] contra a ideia de que a convergência deve ser compreendida principalmente como um processo tecnológico que une múltiplas funções dentro dos mesmos aparelhos. Em vez disso, a convergência representa uma transformação cultural, à medida que consumidores são incentivados a procurar novas informações a fazer conexões em meio a conteúdos de mídia dispersos. (JENKINS, 2008, p. 29).
34
As palavras de Jenkins (2008) enfatizam que o fenômeno não deve ser visto apenas como um momento de desenvolvimento tecnológico, tal qual é possível se ver nas ruas e nas mãos das pessoas pela presença, cada vez maior, dos equipamentosdigitais conectados.Jenkins (2008) explica que a convergência “representa uma transformação cultural”, porque transforma e afeta hábitos. Se, antes, um estudante precisava saber o horário do seu ônibus por uma cartela de horários impressa, ou memorizar pela força do uso, atualmente, esse mesmo estudante pode usar um aplicativo do seu smartphone conectado em rede 3G para saber o horário e o itinerário do seu ônibus. Além disso, enquanto esse estudante espera seu ônibus, por exemplo, poder checar redes sociais, ler notícias, baixar conteúdos e publicar os seus próprios conteúdos. Enfim, houve uma transformação de hábitos. Jenkins (2008, p.29) afirma que “convergência é uma palavra que consegue definir transformações tecnológicas, mercadológicas, culturais e sociais, dependendo de quem está falando e do que imaginam estar falando”. Jenkins (2008) também diz que a convergência é marcada pelo “fluxo de conteúdos através de múltiplas plataformas midiáticas”, a “cooperação entre múltiplos mercados midiáticos” e o “comportamento migratório dos públicos dos meios de comunicação”. (JENKINS, 2008, p. 29). O exemplo do estudante ilustra essa afirmação. Relacionando as ideias de Jenkins (2008) ao jornalismo, a convergência ganha destaque. Barbosa (2008) relaciona a cultura da convergência à convergência jornalística, que tem as seguintes características, conforme a autora:
Para o jornalismo, a convergência significa integração entre meios distintos, produção de conteúdos combinando multi-plataformas para publicação e distribuição, convergência estrutural com a reorganização das redações e a introdução de novas funções para os jornalistas, uso associado de tecnologias da informação, softwares, sistemas inteligentes, audiência ativa, exploração do potencial interativo, hipertextual e multimídia da internet, e também a construção de narrativas jornalísticas em conformidade com tais recursos. Mais que uma palavra da moda ou justificativa para sobrecarga de trabalho e cortes nas equipes, a convergência jornalística é uma oportunidade para renovar o jornalismo e atualizálo frente às demandas do público do século XXI. (BARBOSA, 2008, p.2).
Segundo Barbosa (2008), a convergência no jornalismo afeta suas rotinas de produção, pois a produção de conteúdos torna-se distribuída nas multiplataformas. O consumo também se altera, uma vez, que a narrativa dos conteúdos pode ser feita de várias formas, através das multiplataformas. Ou seja, a convergência jornalística é uma tendência diferente de se fazer e de se consumir jornalismo.
35
Sendo assim, “a convergência envolve uma transformação tanto na forma de produzir quanto na forma de consumir os meios de comunicação” (JENKINS, 2008, p. 44). Quando o jornalismo se apropria de algum site de rede social, por exemplo, ele está, justamente, realizando isso através da convergência, pois, nesse cenário, se alteraram as estratégias de produção. Para entender melhor como a apropriação pode afetar o jornalismo e seus processos, o próximo capítulo discute as apropriações dos sites de redes sociais realizadas pelos veículos jornalísticos atuais.
36
4 APROPRIAÇÕES DE SITES DE REDES SOCIAIS PELO JORNALISMO Recuero (2009) define os sites de redes sociais da seguinte maneira:
[...] um conjunto de dois elementos: atores (pessoas, instituições ou grupos; os nós da rede) e suas conexões (interações ou laços sociais). Uma rede, assim, é uma metáfora para observar os padrões de conexão de um grupo social, a partir das conexões estabelecidas entre os diversos atores. A abordagem de rede tem, assim, seu foco na estrutura social, onde não é possível isolar os atores sociais e nem suas conexões. (RECUERO, 2009, p. 24).
Ou seja, o site de rede social é um emaranhado de conexões e ligações entre os seus componentes, chamados pela autora de atores. Estas conexões mantêm os atores ligados entre si para que exista troca de comunicação entre o grupo. Alguns atores possuem mais ligações do que outros. Contudo, ambos se alimentam e são alimentados pela rede social e a compõem como um todo. Outra observação da autora é de que são as “estruturas dos agrupamentos humanos, constituídas pelas interações, que constroem os grupos sociais” (RECUERO, 2013, p.16). Tal definção permite a compreensão de que, para que a rede seja estabelecida, é necessária a conexão entre indivíduos. Por isso, a formação das redes sociais é dependente do comportamento humano. Elas já eram assim antes do surgimento dos sites de redes sociais. São criações que partem da tendência natural do ser humano de se agrupar e de trocar informações entre si. Recuero (2009) também salienta que a diferença entre os sites de redes sociais está no tipo de apropriação que se realiza dos seus espaços. Ela coloca dois tipos: os “sites de redes sociais propriamente ditos” e os “sites de redes sociais apropriados”. São exemplos dos propriamente ditos o Orkut eo Facebook. “São sistemas onde há perfil e há espaços específicos para a publicização das conexões com os indivíduos. Em geral, esses sites são focados em ampliar e complexificar essas redes, mas apenas isso.” (RECUERO, 2009, p. 104). Já os „sites de redes sociais apropriados‟, também citados pela autora, são como o Fotolog, Webblogs e o Twitter. “São sistemas onde não há espaços específicos para perfil e para a publicização das conexões. Esses perfis são construídos através de espaços pessoais ouperfis pela apropriação dos atores.” (RECUERO, 2009, p. 104). Para a autora, os sites de redes sociais, sejam eles propriamente ditos ou apropriados, são
[...] ferramentas que proporcionam a publicação e a construção de redes sociais [...] Nessas ferramentas, essas redes são modificadas, transformadas pela medição das tecnologias e, principalmente, pela apropriação delas para a comunicação. (RECUERO, 2013, p.16).
37
Portanto, é possível entender que o processo de apropriação é importante para que o site de rede social seja muito ou pouco aderido pelo público. Uma apropriação criativa e funcional pode significar curta ou longa popularidade de um site de rede social. A apropriação é vista por Lemos (2002) como
[...] uma dimensão técnica (o treinamento técnico, a destreza na utilização do objeto) e uma outra simbólica (uma descarga subjetiva, o imaginário). A apropriação é assim, ao mesmo tempo, forma de utilização, aprendizagem e domínio técnico, mas também forma de desvio (deviance) em relação às instruções de uso, um espaço completado pelo usuário na lacuna não programada pelo produtor/inventor, ou mesmo pelas finalidades previstas inicialmente pelas instituições” (LEMOS, 2002, p.239).
Assim, a apropriação significa ir além do domínio da função pré-estabelecida. Pode resultar na criação de outras formas de uso que surgem com a criatividade. Zago (2008) segue a mesma linha de pensamento de Lemos (2002). Ela afirma que, [...] embora os sites sejam criados com uma proposta inicial por seus desenvolvedores, é a partir do efetivo uso que as redes sociais irão se constituir. [...] Como o modo criativo adotado pelos usuários de internet, muitas vezes bastante diferentes da proposta original dos sistemas, em um contexto de cibercultura. (ZAGO, 2008, p.20).
Portanto, a criatividade é, de certa maneira, o mote da apropriação dos sites de redes sociais quando a utilização desses sites é diferente do proposto inicialmente pelos seus programadores (LEMOS, 2002; ZAGO, 2008). Desse modo, o uso criativo dos sites de redes sociais também está presente no jornalismo. Os seus usos estão associados aos vários processos de criação da notícia, desde a formação da notícia, para a coleta de pautas, até o uso para a potencialização da circulação das notícias. Pressupondo os seus diversos modos de uso, com foco nas dinâmicas da notícia a partir dos casos de análise dos perfis no Twitter e no Facebook do jornal Estado de São Paulo, Sousa, (2013) distingue quatro momentos dos sites de redes sociais para a prática do jornalismo. São eles:
a) Compartilhamento Simples:o mais comum e que foi encontrado em todos os casos pesquisados. Ocorre quando são disponibilizados botões para compartilhamento das notícias nos portais para sites externos (Twitter, Facebook, LinkedIn, Digg). O encaminhamento por e-mails e o espaço de comentários foram considerados como estratégias de distribuição e interatividade; b) Perfil em redes sociais:é quando as organizações jornalísticas estão presentes nas redes sociais por meio de perfis ou fanpages. Neste cenário, o grau de interação
38
com o público consumidor pode variar entre as organizações. É possível ainda, pelo login via Facebook, que possibilita a visualização de conteúdos exclusivos, o comentário de notícias e acessar links recomendados pelas redes de amigos; c) Colaboração: ocorre quando os veículos jornalísticos utilizam o conteúdo procedente e selecionado das RSIs. Isso ocorre frequentemente e, em coberturas jornalísticas especiais, esse material costuma ser usado para atualizações em tempo real, assim como para reportagens multimídia. d) Redes sociais próprias:esse é o cenário mais recente. Ocorre quando, além de possuir todas as características anteriores, “o jornal on-line dispõe de uma rede social própria” (LONGHI; FLORES; WEBER, 2011, p. 26), trazendo: Ferramentas existentes em um site de rede social como criar perfil, compartilhar e comentar itens, seguir usuários, entre outras. As redes sociais próprias mantêm link com as outras redes já existentes e oferecem a opção de importar contatos e de publicar os links divididos na plataforma do veículo (SOUSA, 2013, p. 97 - 98).
Observando as características colocadas por Sousa (2013), pode-se notar que são funções apropriadas para o uso jornalístico, uma vez que não surgiram, inicialmente, para esta função. O jornalismo tem feito usos específicos dos sites de redes sociais, relacionados com objetivos estratégicos no uso dessas ferramentas. Exemplo pode ser visto na análise de Dalmaso (2013), ao falar do jornalismo no Facebook. Ela compara as postagens no Facebook de dois veículos: „Sul 21‟, que é um meio nativo da Web, e „Zero Hora‟, que é um meio com representações convencionais. Segundo ela, ambos os veículos seguem o mesmo formato de publicação, pois publicam suas informações sempre acompanhadas dos links das matérias. Enquanto, para o texto, o
[...] aspecto do instantâneo pode aparecer tanto no tamanho das mensagens postadas, geralmente mais resumidas, quanto na utilização de expressões que verbalizam o acompanhamento de uma pauta como “neste momento”, “em instantes”, “estamos acompanhando” etc. Outra característica que é incorporada à apresentação da informação nos sites de rede social é o apelo visual, utilização de imagens acompanhando o texto, sejam fotografias como imagens de links de sites. (DALMASO, 2013, p.2).
Esses exemplos foram apropriações semelhantes entre o Sul 21 e o Zero Hora. Para a apresentação de links que remetem os internautas ao seu site oficial, o Sul 21 se “utilizou de quatro formas diferentes de publicar conteúdo através de sua página do Facebook” (DALMASO, 2013, p. 10). Postura que Zero Hora não adotou, pois, diferente do Sul 21, Zero Hora “utiliza predominantemente o formato texto resumido, fotografia e link para o site” (DALMASO, 2013, p. 15). Expressões de autorreferência também foram usadas por ambos para “marcar o efeito de acompanhamento do fato, direto do local onde ele está ocorrendo” (DALMASO, 2013, p. 11). Trata-se de algumas tendências de utilização desses espaços pelos meios jornalísticos. Demonstram tentativas de explorar possibilidades das redes sociais, como o acompanhamento contínuo dos fatos, em tempo real.
39
O Twitter tem sido um dos sites de redes sociais apropriados pelos meios jornalísticos e a forma de apropriação tem variado bastante. Dentre essas formas, tem sido usado como fonte de informação para o jornalismo durante o processo de formação da notícia (ZAGO, 2008; KWIATKOSKI, 2013).
[...] cobertura minuto a minuto, difusão de últimas notícias, informações sobre bastidores da publicação jornalística, envio de atualizações direito do local do acontecimento a partir de dispositivos móveis, entre outras, seriam algumas possibilidades de utilização do Twitter que vêm sendo postas em prática por organizações jornalísticas de todo o mundo. (ZAGO, 2008, p. 35).
Estas apropriações apontam como o Twitter está sendo inserido nos processos de produção da notícia. Outra possibilidade de uso do Twitter é para a recirculação jornalística. Ela ocorre, segundo Zago (2008), quando há uma subetapa na última etapa de consumo do jornalismo. Segundo a pesquisadora, o fenômeno acontece após o consumo, quando “ele pode continuar com o acontecimento sendo posto novamente em circulação pelas mãos dos interagentes, que filtram e comentam a notícia originalmente posta em circulação pelos veículos” (ZAGO, 2013, p. 215). Ou seja, a informação continua recirculando pelo site de rede social por conta da potencialização dos interagentes e não mais, necessariamente, dos veículos. Por isso, é possível observar que o Twitter é um site de rede social o qual
[...] muitos profissionais da comunicação usam, talvez como um reflexo de que a ferramenta tem sido incorporada às rotinas produtivas de sua profissão, servindo tanto como fonte quanto como espaço para circulação (ou recirculação) de conteúdos. (ZAGO, 2008, p. 159).
Assim, a incorporação dos sites de redes sociais nas rotinas produtivas pode significar a visão dos mesmos como canais para a prática típica do jornalismo digital. Contudo, estas apropriações não devem ser vistas como maneiras de encurtar os caminhos na produção da notícia e nem de substituir a apuração e a checagem de conteúdos (KWIATKOSKI, 2013). Kwiatkoski (2013, p.18) coloca que “notícias falsas não são incomuns no jornalismo e nem são uma novidade. A novidade está na sua origem”. Logo, o uso dos sites de redes sociais não altera, em essência, o modo de fazer jornalismo, pois as etapas de apuração devem ser feitas tal como se faz no jornalismo tradicional. O que pode estar se alterando são outros aspectos do jornalismo digital. Não é apenas o jornalista, quando produz, e o público, quando consome, que têm sentido os impactos da inclusão dos sites de redes sociais no processo jornalístico, mas também a relação dessas duas esferas. Esses lados não são excludentes e o fenômeno Pro-Am,
40
característico da cauda longa, segundo Anderson (2006), mostra que é possível melhorar as notícias quando “profissionais e amadores trabalham lado a lado”(ANDERSON, 2006). “O Pro-Am também pode estar acontecendo no jornalismo, a partir do aproveitamento que as mídias de referência fazem dos conteúdos amadores disponíveis na Web.” (BELOCHIO, 2010, p. 135). Isso pode ser associado ao jornalismo colaborativo e pode acontecer através dos sites de redes sociais, entre outros espaços. O Pro-Am
[...] pode ser observado quando os jornais digitais solicitam o envio de informações, de fotografia e de vídeos sobre determinados eventos que não conseguem cobrir de maneira abrangente e instantânea. A partir dessa ação, os veículos noticiosos buscam ampliar a qualidade e a quantidade de informações e detalhes sobre os acontecimentos com os quais trabalham, mediante a ajuda recebida do público amador. (BELOCHIO; ZAGO 2010, p. 02).
Tendo em vista que essas práticas podem ser vistas nas apropriações que os meios jornalísticos têm feito dos sites de redes sociais (BELOCHIO ZAGO, 2010), pode-se observar que a apropriação dos mesmos tem alterado determinadas rotinas do processo de produção das notícias. Dentre as etapas gerais da prática jornalística: apuração, produção, circulação e consumo de informação (MACHADO; PALACIOS, 2007), é possível identificar tendências em cada uma. Por exemplo, o movimento Pro-Am (BELOCHIO 2010; BELOCHIO; ZAGO 2010),quando estimula o leitor a contribuir com o jornalista pelas redes sociais, gerando conteúdo final colaborativo. Entende-se que essa ação pode afetar a apuração e a produção. A recirculação de informações colocada por Zago (2011) é uma ação que se torna possível a partir da modificação das práticas de consumo, que alteram a circulação. Os modelos para a publicação de texto resumido, fotografia e link para o site (DALMASO, 2013) pode ser associado a mudanças nas práticas de produção e de circulação. São exemplos de como, atualmente, as apropriações de sites de redes sociais têm entrado nas rotinas jornalísticas. Esses processos estão relacionados com as possibilidades do jornalismo na rede. Como já visto no capítulo 2, enquanto produto jornalístico possível a partir de tecnologias diferenciadas, o jornalismo digital apresenta características próprias que estão se acentuado. A apropriação dos sites de redes sociais para estratégias peculiares é uma delas. Acredita-se que essas especificidades podem influenciar a definição dos critérios de noticiabilidade nas redações de maneira diferente, mais relacionada ao meio digital. Isso acontece, entre outras coisas, a partir do contexto favorável, pois se pode apontar que, à medida que o jornalista agrega o uso dos sites de redes sociais na sua própria rotina de produção, transforma as mesmas em elementos do seu cotidiano. Se, como já destacado a partir de Moreira (2008, p.
41
38), os critérios de noticiabilidade são referentes “não só aos fatos, como também às circunstâncias em que eles são percebidos e selecionados, envolvendo qualquer elemento que possa influenciar a veiculação de uma notícia”, há possibilidades deque o uso dos sites de redes sociais afete, de alguma maneira, os critérios de noticiabilidade. Quando percebemos o quanto as apropriações dos sites de redes sociais estão participando das etapas da prática jornalística citados anteriormente, isso fica mais evidente.Tanto que, em algumas redações, já existem editorias específicas de mídias sociais nos jornais disponibilizados na rede. Com base em tal fato, entende-se que as apropriações dos sites de redes sociais no jornalismo digital podem estar interferindo nas suas dinâmicas de produção. Visto que eles passam a integrar as estratégias editoriais dos veículos jornalísticos, podem estar assumindo importância peculiar nesse contexto.
4.1 Exemplos de apropriações em sites jornalísticos brasileiros
Este tópico é dedicado à breve descrição de casos de apropriação dos sites de redes sociais em alguns jornais de referência. Pois, é válido não só verificar a presença dos sites de redes sociais nas estratégias desses outros webjornais, como também, as formas de apropriações desses elementos. Para tal, foram verificados os aspectos dessas apropriações dentro do webjornal e também dos perfis e páginas oficiais das redes sociais apropriados por eles. Segundo a Associação de Nacional de Jornais (ANJ), os dez maiores jornais do Brasil de circulação paga durante o ano de 2012 são os seguintes: Folha de São Paulo (SP); Super Notícia (MG); O Globo (RJ); O Estado de São Paulo (SP), também conhecido como O Estadão; Extra (RJ); Zero Hora (RS); Diário Gaúcho (RS); Daqui (GO); Correio do Povo (RS) e Meia Hora (RJ). Foram usados como exemplos neste trabalho os jornais Folha de São Paulo, O Estadão e O Globo, ou seja, três dos quatro maiores jornais de circulação paga no Brasil.
4.1.1 Folha de São Paulo
O Jornal Folha de São Paulo apresenta perfil em seis sites de redes sociais. São eles: Facebook, Twitter, Google +, Instagram, Pinterest e Tumblr. Na página inicial do site, atualmente, não há remissão para os sites de redes sociais. Contudo, nas páginas das editorias
42
há um box que concentra alguns plugins9do tipo íconesdos sites de redes sociais do jornal e outros que aparentemente são convenientes para a empresa. A imagem a seguir mostra o box nomeado de “Siga a Folha”, que é igual para todas as outras páginas de editorias e que está presente, inclusive, nas páginas de conteúdo. Figura 1 -Box “Siga a Folha” retirado da página da editoria Ilustrada do jornal Folha de São Paulo
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/ Acesso em 01 de Mar. de 2014.
As páginas de conteúdos possuem três momentos de presença de redes sociais. O primeiro momento, simular a uma tarja, contém três Pontos de Estímulos de Interação(PEI)10que são: o “Recomendar”, do Facebook, o “Tweetar”, do Twitter e o “G +1”, do Google Plus. Vale lembrar, que também no fim da página, há outra tarja como esta. O segundo momento está nas opções do “+ Mais Opções”, o “Facebook” deste caso gera o compartilhamento de conteúdo, ou seja, uma ação diferente do “Recomendar”. O terceiro momento é o box com plugins do tipo ícones dos sites de redes sociais. A imagem que segue mostra detalhes para melhor exemplificação da localização dessesmomentos descritos.
9
Neste trabalho, plugins são entendidos como programas ou extensões, que visa, quando instalados em outro programa principal, adicionar funcionabilidades específicas. Ao longo do trabalho, o elemento será exemplificado com mais detalhes. 10
Pontos de Estímulos de Interação (PEI) são elementos, aparentemente, similares ao plugins. Contudo, o PEI estimula uma ação. No caso, relacionados as redes sociais. Curtir, comentar, recomendar, compartilhar, twittar são exemplos de ações estimuladas relativas ao Facebook e Twitter. Dessa forma, o PEI, não se limita a apenas anexar o site de rede social como também estimula o leitor. Ao longo do trabalho, o PEI será exemplificado.
43
Figura 2 - Primeira parte da página de conteúdo com presença de três momentos de sites de redes sociais.
Fonte:<http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2014/02/1419558-comedia-e-a-grande-vencedora-do-cesarmaior-premio-do-cinema-frances.shtml.>. Acesso em 01 de Mar. de 2014.
Pode-se observar, na imagem anterior, a tarja branca com os Pontos de Estímulos de Interação de três sites de redes sociais. São eles: o “Recomendar” que serve para que o indivíduo recomende conteúdos aos seus amigos do Facebook. O “Tweetar”que publica o conteúdo noperfil do Twitterde quem efetuou a ação. E, o “G+1” que também servem para publicar conteúdo na página de quem clicou. Logo, visam à intervenção do público, e não apenas ao direcionamento dele para as páginas dessas redes sociais. Além disso, no ícone “+ Opções”, encontra-se a opção para oFacebook, que redimensiona para o compartilhamento do conteúdo, outra ação do Facebook. O terceiro momento é o box com plugins do tipo ícones que redirecionam para as páginas em questões e está presente, também, nas páginas de conteúdo. Nos próximos parágrafos, serão descritas observações breves sobre cada perfil dos seis sites de redes sociais que o jornal possui. O Perfil do Facebook é apresentado aos leitores com as normativas do jornalismo produzido pela Folha de São Paulo. “A Folha de S Paulo (www.folha.com) quer levar a você o melhor conteúdo, com pluralismo, jornalismo crítico e independência”. Também se pode verificar a seguinte definição: “esta página foi para receber a sua opinião”. O modelo das
44
postagens segue a forma chamada curta e link para a leitura integral do conteúdo, no site do jornal, junto com uma imagem. Apesar de o perfil declarar que o Facebook seria um canal para “receber a sua opinião”, não parece que o jornal realiza esse tipo de coleta com frequência, pois não foi observada interação do perfil com o público no período desta pesquisa. Aparentemente, o perfil só publica e recebe os comentários dos seus leitores sem interagir. A imagem seguir mostra o modelo de publicação:
Figura 3 - Modelo de postagem no Facebook no perfil do jornal Folha de São Paulo
Fonte:<https://www.facebook.com/folhadesp>. Acesso em 04 de Mar. de 2014.
Como pode ser observado na Figura 3 os círculos marcam a chamada, o link e a foto. É o modelo de postagem utilizado para este site de rede social. A apresentação do perfil do Twitter é sucinta e resume-se à alegação da oficialidade do perfil, junto com o link para o perfil do Facebook, mais o canal para atendimentos. O formato
45
do conteúdo segue o modelo de chamadas rápidas com links para a leitura integral dos conteúdos no site do jornal. A apresentação do perfil no Google + traz o nome do jornal e endereço para o site do jornal. Este site de rede social possui a sessão “sobre”. Logo, deduz-se que a apresentação é sucinta por este motivo. O modelo de postagem de conteúdos segue o mesmo padrão do Facebook, com chamada, link e imagem. Contudo, algumas postagens são marcadas com a hashtag11 da editoria, ou com assunto geral que predomina na notícia. A imagem a seguir mostra o detalhe:
Figura 4 -Modelo de postagem no Google + pelo perfil do jornal Folha de São Paulo
Fonte:<https://plus.google.com/+folha/posts>. Acesso em 04 de Mar. de 2014.
11
Tags são etiquetas ou palavras-chaves as quais classificam um assunto específico. Hashtags seriam tags precedidas do símbolo # (hash, em inglês). (ZAGO, 2011).
46
As marcações acima indicam “#Rússia” e“#folhacarnaval”, que se referem ao assunto de cada notícia. Aparentemente, o uso dashashtagsé para nortear uma futura busca sobre o assunto. No Instagram, a Folha se apresenta com boas vindas ao leitor: “Bem-vindo AO PERFIL oficial da Folha de S Paulo. Bem-vindo ao relato da Folha de S Paulo, o jornal mais vendido do Brasil”. No mesmo espaço, também aparece o link para o site do jornal. As imagens postadas no Instagram são, em sua maioria, as capas do jornal impresso, com algumas imagens. Estas, possivelmente, foram publicadas no jornal impresso, ou nos outros sites de redes sociais, como recursos para ilustrar e complementar conteúdos. Não foram visualizados estímulos para a coleta de colaborações e manifestações do público. O perfil do Pinterest, outro site de rede social voltado a imagens/fotografias, tem uma apresentação curta, que se resume à declaração de oficialidade do perfil e também à sugestão para o leitor seguir o perfil do Instagram do jornal. No que diz respeito ao conteúdo, o Pinterest não parece, também, ter alguma associação com o público, resumindo-se a uma legenda para as imagens. O perfil no Tumblr é objetivo na apresentação ao leitor. “Tumblr oficial da Folha de S Paulo. Site: folha.com.br”. Como este site de rede social também é específico para imagens, o conteúdo das postagens apresenta sempre uma grande imagem, seguida de contextualização curta da mesma. Depois disso, é exibido o link para a leitura do conteúdo no site do jornal, o que não é feito no Pinterest.
4.1.2 Jornal o Globo
O jornal O Globo mantém, em sua página inicial, três plugins do tipo ícones referentes aos três sites de redes sociais nos quais possui perfil. Os plugins estão localizados no canto direito superior da página, no cabeçalho. Segue a imagem a seguir para ilustração:
Figura 5 -Cabeçalho da Capa do site do jornal O Globo
47
Fonte:<http://oglobo.globo.com/>. Acesso em 04 de Mar. de 2014.
Como se pode notar na Figura 5, há uma presença tímida dos sites de redes sociais no cabeçalho de O Globo. O site do jornal O Globo é organizado com páginas de editorias e páginas de conteúdos. O cabeçalho pode ser visto da mesma forma que a imagem anterior ilustra em todas essas páginas. As páginas de editorias possuem apenas esses ícones no cabeçalho. As páginas de conteúdo apresentam três momentos de redes sociais. No cabeçalho, aparecem antes do início do texto, logo após o título, e no final, na parte inferior da interface. Nestas remissões está presente o “Recomendar”, do Facebook, o “Tweet”, do Twitter, e o “G+1”, do Google +. O terceiro momento refere-se à presença do perfil do Twitterda editoria em questão, em um box chamado de “Nas Redes”. Cada editoria possui o seu perfil no Twitter. A imagem a seguir exemplifica, com o box da Economia. Figura 6 - Imagem do box “Nas Redes” encontrado nas páginas de conteúdo da editoria Economia
Fonte:<http://oglobo.globo.com/economia/com-dolar-alto-artigos-importados-ficam-mais-raros-11777464>. Acesso em 04 de Mar. de 2014.
O box mostrado localiza-se à direta e ao meio das páginas de conteúdo, com o perfil referente às suas editorias. Como já apresentado, O Globo possui Facebook,Twitter e Google +. No Facebook, o jornal se apresenta da seguinte forma: “Olá! Este é um ponto de encontro, um espaço para a conversa em torno de ideias e notícias. 'Curta' a nossa página e seja bem-vindo (@)”. O modelo de postagem é com chamada curta, imagem e link para a leitura completa no site do jornal. Contudo, a partir de observação simples, percebe-se que as chamadas variam entre muito curtas e com até duas linhas. Além de seguirem uma abordagem interrogativa, ou de tom informal. Acredita-se que a intenção é provocar a interação com o público. Contudo, não verificou-se, no período desta pesquisa, feedback do jornal em responder ou curtir os
48
comentários feitos pelos seguidores do perfil. A seguir, alguns exemplos da abordagem do perfil de O Globo.
Figura 7 - Imagem do Facebook do perfil do jornal O Globo
Fonte:<https://www.facebook.com/jornaloglobo>. Acesso em 04 de Mar. de 2014.
A Figura 7 mostra um estímulo do meio jornalístico para a coleta do “curtir”, quando interroga o leitor sobre a escola de samba que está na imagem. A questão é: “Mocidade: curtiu?”. A próxima figura mostra um convite para a postagem de comentários:
Figura 8 - Imagem do Facebook do perfil do jornal O Globo
49
Fonte:<https://www.facebook.com/jornaloglobo>. Acesso em 04 de Mar. de 2014
A Figura 8 é o print screen de uma postagem de O Globo no Facebook questionando o leitor sobre a sua concordância a respeito do Oscar de melhor filme. Através da questão “Para o
Bonequinho
da
GLOBO,
„Ela‟
deveria
ganhar
o
Oscar
de
melhor
filme.
http://glo.bo/1gkpJmv. Qual é o seu palpite?”, solicita a manifestação do público. A apresentação do perfil do Twitter do jornal O Globo é curta: “Acompanhe as notícias do jornal O GLOBO”. As abordagens nas postagens seguem o formato de chamada curta. A opção “resumo”, que é oferecida pelo próprio Twitter, é preenchida com breves informações que complementam a chamada. Este “resumo” pode ser visto quando expande-se o link “Ver resumo”. A próxima imagem mostra como O Globo se apropria desta função do Twitter:
Figura 9 -Imagem do Twitter do perfil do jornal O Globo com o resume expandido
50
Fonte:<https://twitter.com/JornalOGlobo>. Acesso em 04 de Mar. de 2014.
A demarcação anterior mostra conteúdo complementar à chamada, que ainda redireciona para o site, caso o leitor queira o completar a leitura integral da notícia. O Globo mantém o perfil no Google + parecido com o jornal A Folha de São Paulo. Apresentação sucinta, com pequenas chamadas seguidas de link, imagem e hashtag para organizar as editorias. A imagem a seguir ilustra como acontece a utilização das hashtags nas chamadas.
Figura 10 -Imagem do Google + do perfil do jornal O Globo
51
Fonte:<https://plus.google.com/+JornalOGlobo/posts>. Acesso em 04 de Mar. de 2014.
A Figura 10 apresenta a chamada da seguinte forma: “#Portela e #Mangueira despontam como favoritas ao título do Grupo Especial”, com a presença das hashtags para os nomes das escolas de samba. O que demonstra atenção as peculiaridades das redes sociais.
4.1.3 Jornal Estadão
A página inicial do site do Jornal Estadão,mantém três momentos com remissões fixas para as redes sociais. Um box chamado “Siga o Estadão”, com links para o Facebook, Twitter, Google +, Linkedin, RSS e You Tube. Um plugin do Facebook e no rodapé da página com os links dos Twitter, Facebook, Google +, Linkedin, You Tube, Flickr e RSS. Além desses momentos fixos na página inicial, também foram encontradas remissões nas chamadas. A próxima figura mostra uma chamada com essas remissões.
Figura 11 - Imagem da página inicial do jornal Estadão
52
Fonte: <http://www.estadao.com.br/>. Acesso em 04 de Mar. de 2014.
A imagem anterior mostra a capa do Estadão com referências a um site de rede social utilizado nas suas estratégias: o Instagram. Exibe o crédito da foto destacada da seguinte forma: “@diogofqa/Reprodução Instagram”, ou seja, indica o contato e o site de rede social que serviu como fonte da imagem. Há também a chamada “#estadaocarnaval: confira a folia pelo Brasil e envie sua foto”, como estímulo para o envio de imagens via Instagram. Trata-se de estratégia colaborativa. As páginas das editorias possuem o box “Siga o Estadão” com plugins tipo ícones e links no rodapé, além dos plugins do Google + e do Twitter da editoria. A seguir, a figura mostra como o box “Siga o Estadão”.
Figura 12 -Imagem do box retirado da página inicial da editoria Saúde do jornal Estadão
53
Fonte: <http://www.estadao.com.br/saude/>. Acesso em 04 de Mar. de 2014.
A Figura 12 apresenta o box encontrado nas páginas das editorias. Trata-se de plugins tipo ícones que anexam os sites de redes sociais ao webjornal.As páginas de conteúdo apresentam três momentos de presença de sites de redes sociais. Antes do início do texto, há Pontos de Estímulos de Interação para quatro sites de redes sociais. São eles “Enviar” e “Recomendar”, do Facebook,”Compartilhar”, do Linkedin, “G+”, do Google +, e “Tweet”, do Twitter. O segundo momento é a presença do box “Siga o Estado”. O terceiro momento é um plugin do Facebook. O Estadão possui Facebook, Twitter e Google +, Linkedin e Flickr. A apresentação do perfil do Facebook estimula a participação do público: “Este é um espaço para participação e debate.
Conheça
as
regras
para
mantermos
discussões
bacanas
nesta
página:
http://cadastro.estadao.com.br/responsabilidade-online.” O link redireciona o leitor para uma página de cadastro do site, na qual são colocados os princípios do código de conduta da “Responsabilidade Online” do Grupo Estado. A página está disponível no Anexo Apara verificação. As postagens seguem o modelo: pequena chamada, link para o site e imagem. O perfil do Google + tem como apresentação apenas o endereço do site do jornal. As postagens seguem o mesmo modelo do Facebook: pequenas chamadas, link para a leitura completa no site e imagem, além das hashtags no corpo do texto das pequenas chamadas. O perfil do Twitter do Estadão se apresenta como “a versão online do jornal O Estado de S. Paulo”, seguido da sugestão para o leitor seguir as atualizações do jornal no Facebook. O formato do conteúdo não difere muito da Folha de São Paulo, seguindo o modelo: chamada sucinta com link para a leitura no site do jornal. O perfil do Estadão no Flickr só possui a identidade visual da empresa como identificação. O Flickr é visto, aqui, como site de rede social apropriado, pois, possui elementos que foram apropriados, por exemplo, a função ´comentar´. O perfil apresenta imagens, provavelmente utilizadas pelo jornal impresso. Contudo, o perfil, a partir de observação breve, não interage com os seus seguidores e foi atualizado pela última vez junho de 2012.
54
O perfil do Linkedin oferece o espaço “Visão Geral”, para apresentação. Neste espaço, o jornal se descreve como:
O Estadão é uma das maiores e mais importantes empresas de informação e comunicação do Brasil, atuando nos segmentos de jornalismo, serviços de informação, divulgação de publicidade e entretenimento. É uma organização que se sente responsável pela promoção do desenvolvimento humano, político, econômico, social e cultural do País. Como uma empresa dinâmica e em constante renovação, o Estadão está sempre atento e aberto a profissionais talentosos que se alinhem aos propósitos e à cultura da organização. (In:<http://www.linkedin.com/company/estadao>. Acesso em 14 de Mar. de 2014).
As atualizações seguem o modelo chamada, link e imagem. Possuem as opções “Gostei”, “Comentar” e “Compartilhar”. Com essas ilustrações, a apropriação dos sites de redes sociais pelos veículos jornalísticos brasileiros segue, aparentemente, tendências da cultura da convergência e da convergência jornalística. Isso porque esses espaços são inseridos nas suas estratégias de distribuição multiplataforma. A partir da breve verificação realizada nos sites dos jornais Folha de São Paulo, O Globo e O Estado de São Paulo, perceberam-se algumas dessas tendências, como expor as notícias convencionais nos sites de redes sociais como mais um canal de publicação para conduzir leitores ao site principal. Além disso, também se verificou conteúdo postado em site de rede social em publicação jornalística. É o que foi visto no caso do Estadão, que usou imagem do Instagram para enriquecer a cobertura sobre o carnaval no seu webjornal. Outro ponto interessante é que todos os jornais observados utilizam de várias maneiras os sites de redes sociais. Isso mostra que eles estão inseridos de maneiras diversas no seu cotidiano, podendo influenciar, dessa forma, os processos de escolha e de produção das notícias. Diante dessas tendências, questiona-se: será que, por conta das peculiaridades do tipo de estratégia realizada no ambiente digital, especificamente a partir do uso de sites de redes sociais, podem mudar os critérios de noticiabilidade dos veículos jornalísticos que realizam essa ação? Para refletir sobre essa questão, serão apresentados, adiante, dados sobre a utilização que o webjornal Zero Hora.com faz dos sites de redes sociais. Análise mais detalhada será exposta para que a reflexão sobre o assunto seja aprofundada. No próximo capítulo, serão apresentados os procedimentos metodológicos deste trabalho.
55
5PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Com o objetivo de buscar evidências sobre a possível influência dos sites de redes sociais nos critérios de noticiabilidade do webjornal Zero Hora.com, foi definido um conjunto de procedimentos metodológicos específicos para tal verificação. Eles serão descritos neste capítulo. O tópico a seguir descreve Zero Hora.com. 5.1 Zero Hora.com O caso escolhido para ser observado nesta pesquisa é do jornal digital gaúcho Zero Hora.com. Segundo Belochio (2009), o site do jornal ZeroHora.com, tradicional impresso do Rio Grande do Sul, surgiu por volta de 1997. “Dois anos mais tarde, já em 1999, Zero Hora digital foi agregado ao portal Clic RBS” (BELOCHIO, 2009, p. 103). Apenas em 2007 que a versão de Zero Hora.com surgiu. Às 4h do dia 19 de setembro de 2007, entrou no ar o website Zero Hora.com, que apresenta notícias atualizadas 24 horas por dia, sete dias por semana, mais a versão impressa do periódico. (In:<http://zerohora.clicrbs.com.br/>. Acesso em 19 de Fev. de 2014).
Segundo Nickel12 (2013), com a existência de Zero Hora.com, foi colocado em prática o plano do jornal impresso Zero Hora de fortalecer a sua marca com a presença de um site “com notícias atualizadas 24 horas por dia, sete dias por semana” (NICKEL, 2013). Foi criada uma equipe “especialmente para isso: para vir para dentro da redação e trabalhar com internet, que não existia” (NICKEL, 2013). Conforme Nickel (2013), aproximadamente dois anos após a criação do website, em 2009, as redes sociais foram incluídas nas suas estratégias. Foram criados perfis de Zero Hora.com, inicialmente, no Twitter. Logo que o Facebook permitiu a criação de páginas para organizações, foi criada a página de Zero Hora também no Facebook. Atualmente, o jornal conta com oito perfis em redes sociais. São elas: Twitter, Facebook, Google +, Instagram, Pinterest, Tumblr, Foursquare e Storify. Estes são encontrados na „Central de Redes Sociais‟ de Zero Hora.com, que tem ficado como um dos componentes da seção „Participe‟. Nesta página, pode-se encontrar o acesso aos perfis das 12
A jornalista Bárbara Nickel é editora chefe do núcleo de redes sociais na redação de Zero Hora. Ela foi entrevista na redação do jornal Zero Hora no dia 30 de Setembro de 2013.
56
redes sociais do webjornal, tanto os gerais quanto os específicos das editorias e cadernos. Exemplos são a „Central de Twitter‟, „Central do Facebook‟e „Fotógrafos no Instagram‟. Além de regiões compiladoras de perfis, também se encontram na Central de Redes Sociais as estratégias que estão em andamento no webjornal, como as Missões do Instagram, tanto as gerais quanto as hiperlocais13. Ou seja, essa página é um facilitador e organizador das redes sociais e suas atividades no webjornal, uma vez que elas poderiam estar dispersas nas páginas de conteúdo das editorias. A seguir, imagens da página „Central de Redes Sociais‟:
Figura 13 –Trecho retirado da página Central de Redes Sociais
Fonte: <http://zerohora.clicrbs.com.br/rs/pagina/redes-sociais-zh.html>. Acesso em 24 de Fev de 2014.
A imagem anterior apresenta a „Central de Twitter‟, onde se concentram os perfis de editorias, cadernos, repórteres e fotógrafos de Zero Hora.com com representação no microblog. A próxima imagem apresenta a barra de perfis do Facebook: Figura 14–Trecho retirado da página Central de Redes Sociais
13
O jornalismo hiperlocal é tem como objetivo mostrar os principais acontecimentos de uma determinada região.( In:<http://jornaldobetania.com/entenda-o-que-e-jornalismo-hiperlocal/>. Acesso em 14 de Mar. de 2014.
57
Fonte: <http://zerohora.clicrbs.com.br/rs/pagina/redes-sociais-zh.html>. Acesso em 24 de Fev. de 2014.
Tal como a „Central do Twitter‟, a „Central do Facebook‟ também concentra os perfis das editorias, cadernos e repórteres naquela rede social. A existência de áreas específicas dessas duas redes sociais em Zero Hora.com indica que elas têm certa relevância nas estratégias da equipe do webjornal e, consequentemente, podem estar presentes em suas rotinas de produção. A próxima figura mostra a barra dos Fotógrafos do Instagram:
Figura 15–Trecho retirado da página Central de Redes Sociais
Fonte: <http://zerohora.clicrbs.com.br/rs/pagina/redes-sociais-zh.html>. Acesso em 24 de Fev de 2014.
É interessante notar que a sessão „Fotógrafos no Instagram‟foi direcionada aos repórteres fotográficos e fotógrafos da equipe de Zero Hora. Isso demonstra a atenção da equipe do webjornal em relação às especificidades desta rede social de compartilhamento de fotografias. A imagem a seguir apresenta os perfis gerais de outros sites de redes sociais:
Figura 16–Trecho retirado da página Central de Redes Sociais
58
Fonte: <http://zerohora.clicrbs.com.br/rs/pagina/redes-sociais-zh.html>. Acesso em 24 de Fev. de 2014.
A imagem anterior apresenta a sessão que concentra os perfis do Zero Hora.com do Instagram, Tumblr, Storify,Facebook e You Tube.Verificam-se, na imagem, breves chamadas, organizando os perfis para fácil acesso e dando objetivos diferentes para cada um. É o caso do You Tube, por exemplo, que tem a proposta de expor vídeos sobre os bastidores de Zero Hora. O Instagramque tem marcada a busca de colaborações. OFacebookque convida, curiosamente, para o download de imagens. O Storify e o Tumblr que estimulam o acompanhamento de coberturas. Essas chamadas demonstram o interesse da equipe em popularizar, pois, existe o estimulo para participação do público. A próxima imagem mostra outro espaço de Zero Hora.com que organiza os seus perfis gerais em sites de redes sociais:
Figura 17 – Box retirado da página da Central de Redes Sociais
Fonte: <http://zerohora.clicrbs.com.br/rs/pagina/redes-sociais-zh.html>. Acesso em 24 de Fev. de 2014.
59
A imagem destacada é outro tipo sessão, montada em box, para organizar os perfis. Este box aparece, também, na página da Central de Redes Sociais. O fato de as redes sociais contarem com espaços específicos na publicação digital de Zero Hora demonstra, de alguma forma, o quanto as redes sociais ganharam notoriedade e importância no caso do webjornal aqui observado. Isso porque elas permanecem disponíveis, diariamente, no webjornal. Além disso, seus perfis são frequentemente utilizados em estratégias diferenciadas, contando com atualizações diárias e, em algumas ocasiões, com o uso de materiais das redes sociais entre as matérias constituídas para o site. A próxima imagem apresenta links de algumas atividades promovidas por Zero Hora.com nas redes sociais. Essas estratégias foram nomeadas de “Missão ZH”.
Figura 18 – Box retirado da página da Central de Redes Sociais
Fonte: <http://zerohora.clicrbs.com.br/rs/pagina/redes-sociais-zh.html>. Acesso em 24 de Fev. de 2014.
Além de perfis organizados, também é possível encontrar, na „Central de Redes Sociais‟, o „Missão Instragram‟. Ele busca a colaboração do público em ações relacionadas a temas determinados pela redação. Na imagem anterior, é possível observar o box que concentra as missões dos cadernos de bairros em busca de fotografias. Ou seja, neste caso, a especificidade da rede social foi aplicada para a prática jornalística. Outro exemplo, que isto acontece é com o uso do Twitter para coberturas. Pois, aproveita-se da imedialidade deste site de rede social para publicar um fluxo de informações próximas ao vivo.
60
Na página „Central de Redes Sociais‟, conforme mostrado até aqui, é possível notar o quanto os sites de redes sociais estão presentes em número e atividades dentro de Zero Hora.com. O diferencial desta página é o quanto ela pode demonstrar como as redes sociais tem ganhado espaço dentro da prática jornalística. Seja numericamente, pela quantidade de perfis, ou pelas atividades envolvendo as redes sociais. Ou seja, a necessidade de ter uma página dedicada às redes sociais e suas atividades chega a sugerir que o uso dos sites de redes sociais pode estar integrado às práticas jornalísticas em Zero Hora.com. Cada rede social onde Zero Hora.com mantém representação é apresentada ao leitor. As apresentações de cada rede social estão colocadas da seguinte forma: Facebook: Este é o espaço de Zero Hora no Facebook. Curta, Compartilhe e comente as últimas notícias com a gente :) www.zerohora.com(In: https://www.facebook.com/zerohora. Acesso em 24 de Fev de 2014.) Twitter: Jornal do Rio Grande do Sul. Notícias, esportes, política, economia, variedades, trânsito, colunistas e mais. http://www.facebook.com/zerohora (In: https://twitter.com/zerohora. Acesso em 24 de Fev de 2014.) Instagram: Bem-vindo ao perfil oficial da #ZeroHoraRBS no Instagram. Acompanhe os bastidores do jornal. http://www.zerohora.com.br (In: http://instagram.com/zerohorarbs. Acesso em 24 de Fev. de 2014.) Pinterest: Jornal do Rio Grande do Sul. Notícias, esportes, política, economia, variedades, trânsito, colunistas e mais. www.facebook.com/zerohora(In: http://www.pinterest.com/zerohora/. Acesso em 24 de Fev. de 2014.) Google +: zerohora.clicrbs.com.br/(In: https://plus.google.com/+zerohora/posts. Acesso em 24 de Fev. de 2014.) Storify: Jornal do Rio Grande do Sul produzido em Porto Alegre. Notícias, esportes, política, economia, variedades, trânsito, colunistas e mais. (In: http://storify.com/zerohora. Acesso em 24 de Fev. de 2014.) Tumblr: Acompanhe as publicações do perfil oficial do jornal zero hora no Instagram (@zerohorarbs) (In: http://instagramzh.tumblr.com/. Acesso em 24 de Fev. de 2014.)
É possível notar, por algumas dessas apresentações acima, que é dada atenção a algumas finalidades específicas dessas redes sociais. Por exemplo, como acontece com a apresentação do Facebook, onde se percebe o estímulo para curtir, compartilhar e comentar. Trata-se de funções do próprio Facebook que estão sendo apropriadas e aproveitadas nas estratégias do webjornal.Outro exemplo está na apresentação do Instagram, onde nota-se a hashtag oficial do jornal. Isso demonstra que as estratégias têm sido incluídas, provavelmente, porque há consideração, por parte da equipe, das peculiaridades desses sites de redes sociais.
61
5.2 Técnicas de análise Para atingir os objetivos desta pesquisa, foram escolhidas duas técnicas metodológicas. São elas a observação qualitativa e a entrevista semiestruturada. Estas técnicas foram consideradas adequadas para que os objetivos do presente trabalho sejam atingidos. A seguir, cada etapa da pesquisa será descrita. Os resultados serão expostos na sequência.
5.2.1 Observação qualitativa A observação qualitativa, segundo Martins e Theóphilo (2009), consiste em entrar “em contato direto e prolongado com o ambiente no qual o fenômeno está inserido” (MARTINS; THEÓPHILO, 2009, p. 141). É possível distinguir duas fases do processo de análise dos dados qualitativos. A primeira
[...] ocorre durante o trabalho de campo, quando o pesquisador, à medida que coleta informações e evidências, também organiza o material, dividindo-o em partes, relacionando essas partes e procurando identificar tendências e padrões relevantes. Num segundo momento, as tendências, padrões e regularidades encontrados são reavaliados, buscando-se relações e interferências em um nível de abstração mais elevado. (MARTINS; THEÓPHILO, 2009, p. 140).
Considerando-se as bases da técnica metodológica exposta, foi estabelecido, inicialmente, o período de coleta dos conteúdos do webjornal Zero Hora.com para análise: do dia 24/12/2013 ao dia 02/01/2014, incluindo as datas festivas de Natal e Ano Novo. Realizouse print-screens da página inicial do webjornal Zero Hora.com. A finalidade é encontrar chamadas e outros espaços que utilizam ou mostram, de alguma maneira, os sites de redes sociais. Esses elementos foram chamados aqui de remissões. Quando encontrada alguma remissão para conteúdos relacionados a redes sociais, verificou-se as características dessas remissões e também aspectos dos conteúdos para onde as remissões direcionavam. As páginas que foram redirecionadas pelo link encontrado na home do site foram analisadas em um segundo momento. A coleta foi feita três vezes ao dia, durante dez dias. Isso totaliza, inicialmente, 30 imagens da página inicial do webjornal ZeroHora.com. O processo de coleta diária aconteceu em margens de horários planejados: entre 8h e 9h da manhã para a primeira coleta; 14h – 15h
62
da tarde a segunda e 19h – 20h da noite a última coleta14. Para auxiliar o processo de análise do material coletado, foram preparadas fichas descritivas. Para o primeiro conjunto de materiais, foram produzidas as „Fichas de Tipo 115‟, que foram produzidas para cada capa coletada. Elas são fichas descritivas relacionadas a cada uma das 30 capas coletadas. Esse tipo de ficha contém data, hora e a pergunta: „Possui inserção de conteúdo ou elementos que remetem a redes sociais?‟. Conta com as opções „sim‟ e „não‟ e „observações‟. Nos casos de respostas positivas, o espaço para as „observações‟ foi preenchido com detalhes. Segue, abaixo, uma „Ficha de Tipo 1‟ para exemplificação.
Figura 19 – Amostra da Ficha de Tipo 1
Ficha do tipo 1 Data: 25/12/2013 Hora: 8h Possui inserção de conteúdo ou elementos que remetem a redes sociais? ( X ) Sim
( )Não
Observações: Remissão para a rede social „Intagram‟ apropriado pelo jornal como „Missão Instagram – Leitores enviam fotos com a #NatalZH‟
Os dados obtidos com as „Ficha de Tipo 1‟ foram compilados em uma segunda. Esta foi nomeada como „Tabela Geral das Fichas do Tipo 1‟. Ela é organizada em quatro colunas, com as seguintes informações: „data‟, „alguma remissão‟, „hora em que houve remissão‟, „rede social em que houve remissão‟. Segue imagem com exemplo da tabela:
Tabela 01 –Modelo da Tabela Geral das Fichas do Tipo 1
14
Em determinados dias esses horários tiveram variações diferentes, devido a problemas técnicos. Contudo, nada que chegasse a mais de três horas de atraso. 15
Todas as Fichas de Tipo 1 estão disponíveis no Anexo B.
63
Data
Alguma Remissão
Hora em que houve remissão
Rede social em que houve remissão
24/12/2013 25/12/2013 26/12/2013 27/12/2013 28/12/2013 29/12/2013 30/12/2013 31/12/2013 01/01/2014 02/01/2014
A coluna „data‟ apresenta o dia em que ocorreu a coleta e indica que a tabela apresentará a informação, considerando dados dos três turnos do dia indicado. Vale lembrar que as informações específicas de cada turno podem ser encontradas nas „Fichas de Tipo 1‟. A coluna „alguma remissão‟ aponta se, no dia indicado, foi registrada ou não alguma remissão para as redes sociais na página inicial de Zero Hora.com. A tabela conta com as opções de resposta „sim‟ e „não‟. A terceira coluna, „hora em que houve remissão‟, especifica em quais turnos verificou-se a remissão informada na coluna anterior. A quarta coluna, „rede social em que houve remissão‟, aponta em quais redes sociais, dentre as oito que o jornal possui perfil, apareceram remissões. Os conteúdos verificados a partir das remissões encontradas nas capas foram descritos na „Ficha Geral do Tipo 2‟. 11print screens de notícias para as quais as remissões direcionavam os leitores a partir da capa de Zero Hora.com foram feitos no período desta pesquisa. Segue exemplo da „Ficha Geral de Tipo 2‟:
Tabela 02 – Modelo da Tabela Geral do Tipo 2
64
Data
Plugin
PEI
Conteúdo desenvolvido a partir de Redes Sociais
25/12/2013 26/12/2013 27/12/2013 28/12/2013 31/12/2013 01/01/2014 02/01/2014
A data apresenta os sete dias nos quais ocorreram as remissões para os sites de redes sociais utilizados por Zero Hora.com. É importante explicar que esta tabela só apresenta as datas em que as remissões ocorreram. Por isso, limitou-se aos sete dias em que isso ocorreu. A coluna „plugin‟ aponta se houve, ou não, a presença de plugins. O plugin é um programa, ou extensão, que é instalado em outro programa principal para adicionar a ele funcionabilidades específicas. Ou seja, o plugin é como um acessório instalado conforme a necessidade,
o
que
facilita
no
gerenciamento
do
programa
principal
(In:
<http://www.tecmundo.com.br/hardware/210-o-que-e-plugin-.htm>. Acesso 14 de Mar. de 2014). Neste trabalho foram considerados plugins elementos que, apenas, direcionam os navegadores aos sites de redes sociais, não estimulando nenhuma ação em relação a rede social, como o curtir, comentar, recomendar e compartilhar do Facebook, por exemplo. A coluna PEI indica a existência de outro tipo de remissão buscada, que são os Pontos de Estímulos de Interação (PEI). Eles foram mostrados no capítulo 3, na observação dos usos que jornais de referência fazem dos sites de redes sociais. Os PEI são entendidos como os “recursos oriundos dos sites de redes sociais que, quando inseridos nas interfaces dos produtos jornalísticos, complementam e ampliam os seus espaços de troca com o público” (SILVA, S.; BELOCHIO, 2013). Neste trabalho, foram classificados como PEI os elementos que estimulam uma ação. Uma vez que, o PEI não se restringe apenas em anexar os sites de redes sociais. Por fim, o item „Conteúdo desenvolvido a partir de redes sociais‟ indica os casos em queconteúdo jornalístico foi produzido com alguma colaboração das redes sociais. Casos como: conteúdo colaborativo com a coleta feita nas redes sociais, matérias com pautas que surgiram nas redes sociais e coberturas feitas via redes sociais, por exemplo.
65
No próximo tópico, serão descritos os resultados da observação qualitativa de Zero Hora.com.
5.2.1.1 Resultados da observação qualitativa Conforme já salientado, foram verificadas, na observação qualitativa, 30 capas que foram coletadas de 24/12/2013 ao dia 02/01/2014. Remissões para sites de redes sociais e conteúdos com indicações para as mesmas foram procurados. O objetivo é observar a intensidade e frequência da presença dos sites de redes sociais, bem como a forma como esses sites de redes sociais são, atualmente, utilizados. O que, de certa forma, pode sugerir que os sites de redes sociais têm relevância e são utilizados constantemente, ou não, nas rotinas de produção dos jornalistas do webjornal ZeroHora.com. Uma vez que os critérios de noticiabilidade incluem, também, as práticas cotidianas dos jornalistas na seleção dos assuntos e na composição das notícias, elespodem ser influenciados pelos elementos utilizados nas rotinas de produção jornalística. Logo, há de se considerar que o uso contínuo das redes sociais pode, de alguma maneira, afetar, também, os critérios de noticiabilidade. A tabela a seguir resume os resultados obtidos. Tabela 03 - Tabela Geral das Fichas de Tipo 1
Data
Alguma Remissão
24/12/2013 25/12/2013 26/12/2013 27/12/2013 28/12/2013 29/12/2013 30/12/2013 31/12/2013 01/01/2014 02/01/2014
NÃO SIM SIM SIM SIM NÃO NÃO SIM SIM SIM
Hora em que houve remissão 8h 14h 14h 8h/14h 8h 20h 8h/14h/20h
Rede social em que houve remissão Instagram Twitter Twitter Twitter Instagram Twitter
É possível perceber, segundo mostra a „Tabela Geral das Fichas de Tipo 1‟, que, dentre os dez dias observados, sete permitiram o registro de algum tipo de remissão para os sites de redes sociais. Ou seja, na maior parte dos dias em que Zero Hora.com foi observado para esta pesquisa, o webjornalpropôs algum tipo de trabalho com os sites de redes sociais.
66
Esta numeração aponta frequência significativa do uso das redes sociais em Zero Hora.com. O que pode indicar que esses sites estão sendo usados constantemente, mesmo que de forma sutil. A segunda coluna indica a hora em que houve remissão. Detectou três casos de remissões por volta das 8 horas da manhã. Quatro casos foram registrados, aproximadamente, às 14 horas. Dois casos de remissões foram registrados, aproximadamente, às 20 horas. E entre esses dez dias, em um deles, houve remissão nos três períodos. A coluna „Rede Social em que houve remissão‟ indica que o Twitter é a rede social que mais aparece na página inicial do site do Zero Hora, seguido do Instagram.
5.2.1.2 Sobre os conteúdos que partiram das remissões
Além das características das remissões para sites de redes sociais nas capas de Zero Hora.com, também foram verificados aspectos das páginas para as quais as remissões da página inicial estavam direcionadas, no caso, as páginas de conteúdo. Para concentrar os dados encontrados nos dez dias, foi elaborada a „Tabela Geral de Tipo 2‟. Como já explicado, as informações da tabela foram agrupadas nos seguintes tópicos: „data‟, „plugin‟, „ponto de estímulo de interação (PEI)‟ e „conteúdo feito a partir de redes sociais‟. Para „plugin‟, „ponto de estímulo de interação (PEI)‟ e „conteúdo feito a partir de redes sociais‟, as respostas indicam se identificou-se, ou não, o item em questão, sem especificar quais redes sociais foram usadas. Segue a Tabela Geral do Tipo 2 com os dados observados nos sete dias em que identificou-se remissões: Tabela 04 – Tabela Geral do Tipo 2
Data 25/12/2013 26/12/2013 27/12/2013 28/12/2013 31/12/2013 01/01/2014 02/01/2014
Plugin
PEI
X X X
X
X X
Conteúdo desenvolvido a partir de Redes Sociais X X X X X X X
67
Com os resultados apresentados na tabela, é possível constatar que existe significativa presença de conteúdos desenvolvidos a partir de redes sociais. Ao todo, nos dez dias da coleta realizada neste trabalho, as remissões foram encontradas em sete deles. Isso representa 70% dos casos de remissão e 36% do total. Osplugins foram detectados em duas ocasiões dentro dos conteúdos e os PEI foram verificados em quatro dias. O intuito da coleta é observar a utilização dos sites de redes sociais no webjornal Zero Hora.com e, dessa forma, poder indicar se estão, ou não, ganhando espaço como elementos cotidianos no webjornal. O que, com indícios positivos, pode derivar de uma inclusão dos sites de redes sociais nas rotinas produtivas dos jornalistas do webjornal em questão. Nos próximos parágrafos, serão descritos exemplos de Plugins, de PEI e de Conteúdos desenvolvidos a partir de Redes Sociais. A seguir, serão apresentados dois exemplos de plugins encontrados em Zero Hora.com.
Figura 20 - Exemplo de plugin encontrado em Zero Hora.com em página de conteúdo
Fonte:<http://zerohora.clicrbs.com.br/rs/>. Acesso em 25 de Dez. de 2013
Figura 21 - Exemplo de plugin encontrado em Zero Hora.com na página „Central de Redes Sociais‟
68
Fonte: <http://zerohora.clicrbs.com.br/rs/>. Acesso em 24 de Fev. de 2014
Como se pode notar, os plugins são extensões adicionadas ao site Zero Hora.com do Twitter e Facebook. Como plugins, eles não apresentam nenhum elemento que estimula „twittar‟, „curtir‟, „comentar‟ ou „compartilhar‟, ou seja, alguma das atividades oriundas das redes sociais. Servindo apenas para anexar a rede social à página do website.Portanto, eles não possuem estímulos para a interação, caso dos PEI, descritos a seguir. A diferença dos PEI com relação aos plugins é, especificamente, o tipo de interação que o PEI oferece e que não existe no plugin. Algumas vezes, determinado tipo de plugin contém o PEI na sua composição. Contudo, a característica que resguarda a classificação de um elemento como PEI é o tipo de interação que oferece. Os PEI são elementos que estimulam uma ação em relação à rede social. Por exemplo, curtir, compartilhar para o Facebook; twittar para o Twitter. Eles não se limitam, apenas, em anexar a rede social na página, tal como acontece no caso dos plugins. Os PEI podem aparecer sozinhos, semelhantes a botões, ou juntos a um plugin. A seguir, exemplo de PEI captado na coleta do dia 02/01/2014.
69
Figura 22 -Pontos de Estímulos de Interação encontrados na página do webjornal Zero Hora.com
Fonte:<http://zerohora.clicrbs.com.br/rs/>. Acesso em 02 de Jan. de 2014.
A Figura 22 apresenta três PEI: o recomendar, do Facebook, o tweet, do Twitter, e o G+, do Google +. Estes PEIsestão localizados no início da página, antes do texto da matéria, o que demonstra, de alguma forma, uma preocupação funcional da equipe jornalística com relação ao leitor, para que ele veja e tenha vontade de clicar e, assim, ajudar na circulação, ou na recirculação (ZAGO, 2011), do conteúdo do jornal, também através dos perfis dos sites de redes sociais. A figura a seguir mostra um PEI junto a um plugin.
Figura 23 - PEI como botão de „curtir‟ junto a um plugin do Facebook
Fonte: <http://zerohora.clicrbs.com.br/rs/>. Acesso em 24 de Fev. de 2014
O PEI mostrado aparece compondo um plugin. Os PEIs das Figuras22 e 23 são assemelhados a ícones. Contudo, estimulam o compartilhamento de conteúdo, diferente dos
70
pluginstipo íconesou os plugins comuns tipo boxque apenas anexam as redes sociais na página do webjornal Zero Hora.com, como é possível observar nas Figuras 20 e 21. A categoria „Conteúdo desenvolvido a partir de Redes Sociais‟ refere-se a conteúdos que utilizaram material de redes sociais como complementos, sendo ou não trabalhos colaborativos com o público. Para melhor compreensão, serão descritos exemplos dos casos de conteúdos desenvolvidos a partir de redes sociais, coletados durante os dez dias. A figura a seguir apresenta o uso do site de rede social Instagram.
Figura 24 – Chamada para a Missão Instagram encontrada na capa do Zero Hora.com
Fonte: <http://zerohora.clicrbs.com.br/>. Acesso em 25 de Dez. de 2013.
71
A Figura 24 foi encontrada na página inicial do webjornal no dia 25 de dezembro de 2013 e chama para o mosaico feito com imagens de leitores que utilizaram a hashtag „#NatalZH‟. A seguir, a figura para a qual o link direcionava.
Figura 25 – Mosaico da Missão Instagram na página de conteúdo
Fonte: <http://zerohora.clicrbs.com.br/>. Acesso em 25 de Dez. de 2013.
Na Figura 25, está o mosaico feito a partir de fotografias do Instagram, as quais foram, antes, tagueadas pelos leitores com a hashtag „#NatalZH‟. O mosaico de fotografias da figura mostra um tipo de conteúdo gerado com o trabalho colaborativo estimulado pelos sites de redes sociais. O webjornal Zero Hora.com define, por semana, um tema para a „Missão
72
Instagram‟ com a hashtag relacionada ao tema escolhido. No caso observado, foi o Natal que gerou a #NatalZH. E as melhores fotos, segundo a equipe do webjornal, integram o mosaico. O exemplo acima demonstra que, de certa maneira, a equipe refletiu sobre as potencialidades da rede social em questão para encontrar uma forma de utilizá-la e assimgerar conteúdo. Contudo, antes do mosaico e toda a estratégia da Missão Instagram, foi necessário que a equipe conhecesse o site de rede social, para depois especular maneiras de apropriá-lo. Isso demonstra apropriação dos sites de redes sociais para a prática jornalística. Este exemplo mostra como a equipe se apropriou de uma rede social e das suas lógicas internas para montar um conteúdo temático junto com os leitores. Vale destacar que o tagueamento da forma como foi realizado neste caso é possível no interior do Instagram, pois esta é uma prática especifica desta rede social. Essa estratégia é interpretada, aqui, como uma das maneiras de gerar conteúdo a partir de redes sociais, com ações pensadas exclusivamente para o aproveitamento da ferramenta. Isso mostra que a redação destina algum tempo para organizar essas estratégias direcionadas para as redes sociais. O próximo exemplo envolve a cobertura da apresentação do jogador Pedro Geromel ao Grêmio. Figura 26 – Chamada encontrado na capa do Zero Hora.com para a cobertura da apresentação do jogador Pedro Geromel
Fonte: <http://zerohora.clicrbs.com.br/>. Acesso em 26 de Dez. de 2013.
73
É possível notar remissão pela linguagem da chamada, pois o „Siga‟ remete ao Twitter, uma das redes sociais em que Zero Hora.com possui perfil.A seguir, a figura mostra a página para onde o link da chamada “AO VIVO: Pedro Geromel é apresentado pelo Grêmio” direcionou.
Figura 27 – Trecho da cobertura da apresentação do jogador Pedro Geromel encontrada na página de conteúdo
Fonte: <http://zerohora.clicrbs.com.br/>. Acesso em 26 de Dez. de 2013.
A imagem anterior demonstra como o Twitter pode ser utilizado para fazer coberturas, quando reuniu os twittes publicados pela equipe do Zero Hora durante a mesma. É possível notar, pela Figura 27, como a cobertura se utilizou do imediatalismo com a publicação das falas de Rui Costa, diretor executivo do Grêmio, entre aspas, buscando publicar uma cobertura em “tempo real”.
74
Para isso acontecer, foi necessário considerar qual das redes sociais era mais conveniente para esse trabalho. Tomando o Twitter como conveniente, isto pode indicar que a equipe está atenta às funcionabilidades das redes sociais e tentando aplicá-las nas suas práticas tradicionais, no caso, para a cobertura do fato em questão. Ou seja, uma vez que se estuda o site de rede social que melhor se encaixa para determinado atividade, pode ser mais um indício da inclusão das redes sociais nas suas rotinas de forma peculiar. Outra situação de conteúdo desenvolvido a partir de redes sociais são matérias desenvolvidas sem a colaboração específica do público, montada com conteúdos coletados dos sites de redes sociais. Esse tipo de material não foi encontrado na coleta estabelecida por uma semana. Mas, considerando a importância da contextualização do exemplo, serão apresentados a seguir alguns exemplos capturados em outros momentos. As imagens a seguir apresentam este tipo de conteúdo desenvolvido a partir de redes sociais.
Figura 28 - Chamada com remissão para conteúdo desenvolvido a partir de redes sociais encontrado na capa do Zero Hora.com
Fonte: <http://zerohora.clicrbs.com.br/>. Acesso em 21 de Jan. de 2014.
A Figura 28 foi captada da página inicial, no dia 21 de janeiro de 2014. Mostra a forma como apareceu, na capa de Zero Hora.com, remissão para conteúdo a partir de redes
75
sociais. No exemplo, a remissão é indicada pela seta, além de ser notória, também, a partir da chamada que possui o termo “#FornoAlegre” na chamada “Porto Alegre é a capital mais quente pelo 3º dia” e a indicação de fatos ocorridos na rede social, no caso, o Twitter. O conteúdo encontrado na página redirecionada pelo link será apresentado na imagem a seguir:
Figura 29 - Imagem com remissão para conteúdo desenvolvido a partir de redes sociais
76
Fonte: <http://zerohora.clicrbs.com.br/>. Acesso em 21 de Jan. de 2014.
A partir da Figura 29, é possível observar como as redes sociais contribuíram para a criação da matéria “#FornoAlegre: o calorão xingado muito no Twitter”. Pode-se notar, neste
77
caso, que as redes sociais estiveram presentes no desenvolvimento da matéria, pois se trata de um assunto que circulou nas redes sociais, em especial no o Twitter. O fato é relatado no texto da própria notícia: “O calorão em Porto Alegre voltou com tudo e as brincadeiras nas redes sociais também”, e, “...seja em #FornoAlegre ou em #poa40graus, sem um ar-condicionado, não há muito o que fazer” (In: http://zerohora.clicrbs.com.br/>. Acesso em 21 de Jan. de 2014). No exemplo em destaque, foi usado o Storify, um site de rede social que compila conteúdos selecionados de outras redes sociais. Como é possível ver na imagem, a equipe do Zero Hora.com usou material com origem no Twitter e no Instagram para compor os exemplos das brincadeiras feitas pelo público. Eles ajudaram na estruturação da matéria, servindo como pauta e conteúdo. Durante a observação da remissão mostrada anteriormente, também foi encontrado outro exemplo. Segue a imagem:
Figura 30 – Chamada de capa com remissão para conteúdo desenvolvido a partir de redes sociais.
Fonte: <http://zerohora.clicrbs.com.br/>. Acesso em 21 de Jan. de 2014.
É possível notar a remissão para conteúdo desenvolvido a partir de redes sociais pelo texto da chamada, publicada na capa de Zero Hora.com no 21/01/2014. A seguir, a imagem do conteúdo referente à chamada:
Figura 31 – Trecho de conteúdo desenvolvido a partir de redes sociais
78
Fonte: <http://zerohora.clicrbs.com.br/>. Acesso em 21 de Jan. de 2014.
79
O Tumblr foi o site de rede social onde os conteúdos acima foram pesquisados para gerar e compor a notícia. Vale lembrar que, apesar de ser uma “brincadeira da Internet”, o conteúdo foi organizado na editoria de Política e não na editoria que trata de entretenimento. A próxima imagem também trata de conteúdo da editora de Política: Figura 32 – Chamada de conteúdo desenvolvido a partir de redes sociais
Fonte: <http://zerohora.clicrbs.com.br/>. Acesso em 08 de Mar. de 2014.
A Figura 32 foi encontrada na página inicial do webjornal, tendo a remissão ao conteúdo da rede social também pela redação na chamada, com a palavra “Twitter”, em “Bate-boca no Twitter”. A próxima imagem apresenta a página dos conteúdos para os quais o link da chamada direcionou. Figura 33 – Conteúdo desenvolvido a partir de redes sociais encontrado nas páginas de conteúdo.
80
Fonte: <http://zerohora.clicrbs.com.br/>. Acesso em 08 de Mar. de 2014.
81
A Figura 33 apresenta um material todo desenvolvido a partir de conteúdo coletado em redes sociais, considerando, ainda, a utilização dos twitts para compor a matéria. De forma geral, esses casos ilustram situações em que os sites de redes sociais foram usados para gerar conteúdos. Isso porque o assunto da pauta foi capturado nos sites de redes sociais e o próprio conteúdo, como imagens, twitters ou memes, também foram retirados das redes sociais para inclusão em matérias jornalísticas. Comportamento que indica que a equipe do Zero Hora.com está atenta aos assuntos que circulam nos sites de redes sociais. Uma vez que o jornalista usa os sites de redes sociais para saber os assuntos que têm circulado nesses locais e, assim, considerá-los como pautas em potencial e desenvolvê-las, isso pode indicar que os sites de redes sociais têm sido considerados, em algum momento, úteis para o trabalho jornalístico e, uma vez tomando as redes sociais como materiais de trabalho, naturalmente, elas são incluídas nas práticas das rotinas produtivas. O que pode afetar os critérios de noticiabilidade. A própria inclusão de temas que não teriam espaço em publicações limitadas como o impresso, caso dos materiais com a hashtag #NatalZH, mostra que temas diferentes são incluídos nas publicações. A publicação de casos como o bate-boca no Twitter indica que, através de prováveis rondas diárias em redes sociais, pautas são coletadasnesse ambiente. O que indica que os sites de redes sociais estão ganhando apropriações mais relevantes a prática jornalística, e se configurando como mais do que apenas canais para distribuição de conteúdo.
5.2.2 Entrevista semiestruturada Segundo Martins e Theóphilo (2009), a entrevista semiestruturada “é conduzida com uso de um roteiro, mas com liberdade de serem acrescentadas novas questões pelo entrevistado” (MARTINS; THEÓPHILO, 2009, p.88). Trata-se, neste trabalho, de uma opção para compreender como a equipe do ZeroHora.com está agindo em relação aos sites de redes sociais. Se estão considerando as redes sociais dentro de suas rotinas de produção a partir da forma como pensam trabalhá-las. Se há o cuidado de refletir as suas pontencialidades para os usos jornalísticos. Enfim, foram buscadas evidencias em relação ao uso mais atento as tendências dos sites de redes sociais para o uso jornalístico. Considerando as possibilidades dessa técnica, foi elaborado um pré-roteiro de perguntas, que foi dirigido para a editora do núcleo de redes sociais do jornal Zero Hora,
82
Bárbara Nickel16, A entrevista aconteceu na redação de Zero Hora.com, tendo duração de aproximadamente uma hora. Ocorreu no dia 30/09/2013. As perguntas seguiram o pré-roteiro. Contudo, conforme a pertinência, outras perguntas foram realizadas. Ao todo, foram feitas vinte perguntas. Estas abordaram assuntos como a iniciativa que há na redação para o uso dos sites de redes sociais, quais as situações e maneiras que as redes sociais tem sido aplicadas para o uso jornalístico da equipe, ações que só acontecem nas redes sociais e pautas que, também, são desenvolvidas apenas para as redes sociais.A seguir, serão colocadas as impressões de Nickel (2013), coletadas a partir da entrevista semiestruturada. Nickel (2013) comenta que, mesmo que os quatro anos de uso dos sites de redes social como estratégia de Zero Hora.com possam parecer muito, em relação à história do jornalismo digital como um todo, esses quatro anos são pouco tempo de experiência. Por isso, muitas das abordagens ainda se desenvolvem de forma experimental. Das redes sociais que Nickel (2013) auxiliou na criação do perfil, a jornalista afirma que os motivos para criá-los giraram em torno da percepção de que tais redes sociais passaram a ser jornalisticamente úteis aos leitores, ou ainda, pela tendência de outros veículos jornalísticos do mundo na sua utilização. Nickel (2013) aponta que é possível, por meio da observação do comportamento do público em geral nas redes sociais, perceber quais são os assuntos que os interessam. E uma vez, que algumas tendências são notadas elas são encaminhas para as editorias que possam se apropriar com mais autonomia. Ela citou como exemplo, a apropriação do Pinterest, que indicou que o público, nesta rede social, prefere assuntos relacionados a estilo de vida, como gastronomia e arquitetura. Sendo um conteúdo que é trabalhado no jornal pela editoria Casa&Cia, o comportamento foi relatado aos jornalistas dessa editoria para que assim se integrassem da situação e, dessa forma, acompanhassem a tendência nem que fosse apenas para “perceberem o que as pessoas estão falando nas redes”. Ou seja, de certa forma, o Pinterest se tornou uma fonte de pautas para os jornalistas de Zero Hora.com. Nickel (2013) esclarece que mesmo com esse trabalho de ir até as editorias e integrálos de algo que possa ser útil a eles, esse trabalho com as redes sociais não é cobrado.
16
A entrevista transcrita na íntegra está disponível no Anexo C.
83
[...] tem muita iniciativa de educação para a redação, mas nenhuma cobrança. Nada de chegar na editora de Geral e dizer “vocês têm que fazer quinze matérias de redes sociais por semana”. Não tem isso. (NICKEL, 2013).
Mesmo sem haver cobranças, segundo Nickel (2013) às vezes algumas editorias se interessam por trabalhar com alguma rede social. Traçando o caminho inverso que geralmente acontece na redação. Pois, a dinâmica, geralmente, tem sido: a equipe de digital observa os sites de redes sociais e faz o perfil – observa o comportamento do público desta rede social – reflete como a rede social pode ser apropriada e integra uma editoria que melhor pode se apropriar. Como, às vezes o caminho tem sido inverso, com as editorias indo a encontro das redes sociais e até mesmo procurando a jornalista para auxiliá-los. Isso faz Nickel (2013) acreditar que, dessa forma, a incorporação das redes sociais virá como consequência. Dentro as atuais aplicações e usos dos sites de redes sociais, Nickel (2013) tem observado alguns os quais alegou ser: Apuração e acompanhamento de notícias, para entrar em contato com pessoas, para descobrir coisas que estão acontecendo, muito frequentemente buscar pautas que estão acontecendo, que as pessoas estão começando a falar [...], para fazer uma pauta que seja colaborativa. (NICKEL, 2013).
Ou seja, etapas que eram cumpridas mesmo antes das redes sociais, e que estão se transformando com as apropriações dos sites de redes sociais. Se antes o jornalista acompanhava notícias por meio de outros veículos de comunicação, atualmente, isso também pode ser complementado por uma ronda nas redes sociais. Se para apurar informações usavase o telefone, fax, e-mail ou presença pessoal, atualmente, pode-se contatar fontes e apurar informações, também, através de redes sociais. Isso pode indicar que estão participando da prática jornalista. Ocorre, também, segundo a editora, a correção de informações erradas que o jornal noticiou. Isso ocorre pela rede social, situação que acontece a partir do potencial de feedback proporcionado pelas redes. Nickel (2013) lembra que, às vezes, os leitores podem estar errados, mas há outras em que estão certos. Mesmo assim, ela considera essa manifestação dos leitores como algo que “enriquece bastante o nosso trabalho”. Além das práticas citadas acima, existe, também, o conteúdo ou atividades preparadas apenas para as redes sociais. Nickel (2013) usa como exemplo o “bom dia”, que só é feito para e nas redes sociais e que resulta em muita repercussão. Vale citar, além disso, as versões especiais de cards para o Facebook, disponibilizadas nas datas comemorativas como Semana
84
Farroupilha, Dias dos Pais, Páscoa. Trata-se de materiais que não entrariam no site ou no jornal impresso.
[...] a gente usa muito o Instagram pra fazer missões. A última foi a de primavera; [...] pega uma foto legal que alguém postou, coloca no Facebook, chama as pessoas para postar mais, dá os comentários. A gente consegue fazer um mosaico no site e, daí, lá no Twitter, a gente dá o link para o mosaico e diz para as pessoas participarem. Enfim, a gente fica com as atividades só das redes, a gente cria atividades que são só das redes. (NICKEL, 2013).
Isso pode apontar que as redes têm ganhado espaço para que sejam trabalhadas com material exclusivo. Entre as atividades específicas para as redes sociais, há também a produção de conteúdos. Nickel (2013) cita a notícia de lançamento do PlayStation IV :
Isso não seria manchete nem no site, nem no jornal, mas a gente sabe que gera conversa, que é um assunto sobre o qual as pessoas gostam de conversar e, por isso, ele rende no Facebook. Nas redes a gente sabe que funciona. É isso também, as pessoas que estão em lugares diferentes, porque as que estão lá no Facebook não é [não têm] o mesmo perfil que necessariamente está no site, não é o mesmo perfil [de quem] que lê o jornal impresso. (NICKEL, 2013).
A partir desse contexto, podemos notar que as redes sociais podem, de alguma forma, também preencher lagunas quando se tornam o local conveniente para alguns tipos específicos de pautas, tal como, a do lançamento do PlayStation IV a qual Nickel (2013) comentou que tinha potencial para estimular a interação com os leitores, perguntando a opinião deles, por exemplo. Assim, Nickel (2013) diz o que, atualmente, tem sido experimentado em relação a redes sociais, na redação de um jornal impresso que precisou, com o tempo, se adaptar às mudanças tecnológicas.
85
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS A construção da notícia acontece a partir da conjunção de variados fatores. Questões internas da redação, como política editorial, uso de tecnologias e questões pessoais de julgamento sobre um fato como pauta em potencial são exemplos de questões que influenciam a construção da notícia. Ou seja, para a transformação de um acontecimento em notícia, são consideradas questões internas e externas que, dependendo do contexto, têm pesos diferentes (WOLF, 2008; FERREIRA, 2002; MOREIRA, 2006; SOUSA, 2002; TRAQUINA, 2005). Os elementos exemplificados, entre outros, compõem os critérios de noticiabilidade das redações jornalísticas (WOLF, 2008; MOREIRA, 2006). Logo, a construção da notícia é influenciada por contextos diferentes, os quais afetam a própria rotina de produção. Isso denomina o possível caráter elástico dos critérios de noticiabilidade, como visto a partir de Moreira (2006). No jornalismo digital, uma série de elementos têm sido inseridos nas rotinas de produção dos veículos noticiosos desde o início de sua história, conforme foi discutido neste trabalho. A apropriação de tecnologias e a aplicação de diferentes estratégias em espaços da Web 2.0 é uma prática comum, que facilita experimentações neste contexto. Dentre as apropriações realizadas atualmente, o uso dos sites de redes sociais (RECUERO, 2009) tem ganhado espaço nas produções do jornalismo digital. As práticas tradicionais de apuração, produção, circulação e consumo de informação (MACHADO; PALACIOS, 2006; ZAGO, 2011)estão sendo experimentadas, também, com o auxílio dos sites de redes sociais. A partir deste contexto, foi possível refletir a respeito da influência que a inclusão dos sites de redes sociais pode ter nas práticas cotidianas de produção do jornalismo digital. Para contribuir na verificação destas reflexões, foi tomado como objeto de estudo o uso que o webjornal Zero Hora.com faz dos sites de redes sociais nas suas rotinas e nas suas publicações. A escolha desse webjornal parte do entendimento de que elesurgiu, inicialmente, como representação, na Web, de um jornal impresso de tradição no Rio Grande do Sul, com mais de 40 anos de história. Isso faz das suas práticas tradicionais questões possivelmente presentes, também, na redação do seu webjornal, Zero Hora.com. Acredita-se que as práticas tradicionais e as práticas características do jornalismo digital são combinadas em Zero Hora.com. Isso inclui o uso experimental dos sites de redes sociais. Os procedimentos metodológicos incluíram a análise qualitativa da capa de Zero Hora.com e de páginas de conteúdo, para observar como o webjornal está se apropriando dos
86
sites de redes sociais. Além disso, realizou-se entrevista semiestruturada com a editora-chefe do núcleo de redes sociais de Zero Hora.com, Bárbara Nickel. Partindo dos dados observados, notou-se que Zero Hora.com utiliza os sites de redes sociais para gerar conteúdos colaborativos, para o desenvolvimento de conteúdos a partir de redes sociais, para a busca de pautas e para coberturas. São exemplos as montagens do mosaico Missão Instagram, nas quais Zero Hora propõe um tema colaborativo por semana e seleciona as fotografias mais interessantes para a sua composição. Vale citar como exemplo de matéria de pauta originada nas redes sociais o texto intitulado como “Bate-Boca no Twitter”, descrito no capítulo metodológico.Por fim, exemplo de cobertura com o auxílio das redes sociais é o caso da apresentação ao Grêmio do jogador Pedro Geromel, também descrito anteriormente. Além disso, Zero Hora.com também utiliza as redes sociais para estimular o compartilhamento dos seus conteúdos pela rede e para que os mesmos sejam curtidos. Isso foi visto nas páginas de conteúdos, abaixo dos títulos das matérias. Também foi identificado na página “Central de Redes Sociais”. A entrevista semiestruturada revelou que os sites de redes sociais têm sido usados no cotidiano de produção de Zero Hora.com. Isso acontece em várias etapas da produção, conforme revelado por Nickel (2013). O fato de as redes sociais estarem inseridas nas fases de apuração e acompanhamento de notícias, busca de pautas e fontes, como indicado pela jornalista, mostra que elas vêm sendo amplamente inseridas no contexto produtivo do webjornal. Percebeu-se o uso estratégico e exclusivo dos sites de redes sociais para a produção e distribuição de determinados tipos de conteúdos. Exemplo é o lançamento do videogame PlayStation IV, que só foi publicado nas redes sociais, situação que considerou o interesse do indivíduos que estão presentes nas rede sociais. Isso demonstra que, provavelmente, a redação de Zero Hora.com dedica parte do seu tempo para pensar o que é interessante para a exposição nas redes sociais. Significa, então, uma adaptação às suas demandas. Com essas evidências, foi possível refletir sobre como a tendência de apropriação dos sites de redes sociais pode afetar os critérios de noticiabilidade do webjornal Zero Hora.com. Percebeu-se que existe a possibilidade dessa afetação, já que as redes sociais aparentemente estão inseridas como elementos estratégicos e frequentes na publicação e nos processos
87
produtivos de Zero Hora.com. Isso é o que foi verificado a partir da observação estruturada e da entrevista semiestruturada. Com base nisso, acredita-se que esta monografia atingiu o objetivo de investigar como a utilização dos sites de redes sociais pode interferir nos critérios de noticiabilidade de Zero Hora.com.Com a revisão teórica, foi possívelestudar a apropriação dos sites de redes sociais nos veículos jornalísticos e as possíveis afetações dessas ações nos seus critérios de noticiabilidade. Através da verificação empírica, identificou-se características das apropriações dos sites de redes sociais em Zero Hora.com. É valido destacar que este trabalho traz primeiras impressões sobre possíveis mudanças nos critérios de noticiabilidade a partir da apropriação dos sites de redes sociais no jornalismo digital. Limita-se à exposição de aspectos do caso de Zero Hora.com. Considera-se que a presente pesquisa contribui para o estudo da questão e que é relevante a realização de reflexões futuras.
88
REFERÊNCIAS
ANDERSON, Chris. A cauda Longa. Tradução Afonso Celso da Cunha Serra. 9ª reimpressão. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006.
ALDÉ, Alessandra. Jornalistas e internet: a rede como fonte de informação política. In: IV Encontro dos Núcleos de Pesquisa da Intercom, 2004. Disponível em: <http://www.portcom.intercom.org.br/pdfs/96155044772969431804498325794537542066.pd f> Acesso em: 15 de Março de 2014.
ALVES, Rosental Calmon. Jornalismo digital: Dez anos de web... e a revolução continua. Comunicação e Sociedade, vol. 9-10, p.93-102, 2006.
Barbosa, Suzana. Modelo JDBD e o ciberjornalismo de quarta geração, 2007. Disponivel em: <http://www.facom.ufba.br/jol/pdf/2008_Barbosa_RedUCMx.pdf>. Acesso em:15 de Março de 2014. ________,Suzana. As Bases de Dados no Curso da Convergência Jornalística: Uma análise preliminar a partir do Modelo JDBD. In: Congreso Internacional Fundacional da Asociación Española de Investigación de la Comunicación, 2008, Santiago de Compostela. Anais... Facultade de Ciencias da Comunicación, 2008.
_________,Suzana. Jornalismo convergente e continuum multimídia na quinta geração do jornalismo nas redes digitais. In: CANAVILHAS, João (Org.). Notícias e Mobilidades: O jornalismo na Era dos Dispositivos Móveis. Covilhã: Livros Labcom, p. 33 – 54, 2013.
BELOCHIO, Vivian. Jornalismo colaborativo em redes digitais: estratégia comunicacional no ciberespaço o caso de Zero Hora.com. Dissertação de Mestrado, UFSM, 2009.
________,Vivian. A cauda longa da informação e suas implicações no jornalismo: estratégias comunicacionais, remediação e des-territorialização. Contemporanea-Revista de Comunicação e Cultura, v. 7, n. 1, p.1-27, jun. 2009.
________,Vivian. O movimento Pro-Am e a prática da colaboração nos meios informativos: especificidades do jornalismo colaborativo em redes digitais. Verso e Reverso, p.324-144, set-dez. 2010.
_______,Jornalismo em contexto de convergência: implicações da distribuição multiplataforma na ampliação dos contratos de comunicação dos dispositivos de Zero Hora. Tese de Doutorada, UFRGS, 2012.
89
_______,Vivian. ZAGO, Gabriela. Considerações sobre o Pro-Am como Estratégias Jornalísticas no Twitter. In: XXXIII Congresso Brasileiro de Ciência da Comunicação, 2010, Caxias do Sul. Anais... Caxias do Sul: Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação, 2010.
BIANCO, Nélia R. Del. Noticiabilidade no rádio em tempos de Internet. In: VI Lusocom, 2004, Covilhã. Anais... VI Lusocom, 2004.
CHARAUDEAU, Patrick. O Discurso das Mídias. Contexto, 2007.
DALMASO, Silvana. Os traços de uma cobertura no Facebook: conteúdo e forma das postagens de Sul 21 e Zero Hora no #ocupacâmerapoa. In: 11º Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo, 2013, Brasília. Anais... Brasília: Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo, 2013.
DALMONTE, Edson Fernando. Efeito do real e jornalismo: Imagem técnica e processos de significação. Sessões do Imaginário, v. 13, n. 20, 2008.
FIRMINO,Fernando. Jornalismo live streaming: tempo real, mobilidade e espaço urbano. In: VI Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo, 2008, São Paulo. Anais... São Paulo: Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo, 2008.
LEITÃO, Ana Célia Souza de Sá. A reconfiguração da noticiabilidade jornalística no contexto da web: O redirecionamento dos fluxos na relação espaço-temporal inerente à virtualidade. In: XXXV Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação, 2012, Fortaleza. Anais... Fortaleza: Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação, 2012.
FERREIRA, Giovandro Marcus; DALMONTE, Edson Fernando. Webjornalismo, critérios de noticiabilidade e efeitos de sentido. Comunicação: Veredas, Ano VII, n. 07, p.117 – 135, Nov. 2008.
FERREIRA, Giovandro Marcus. Apontamentos sobre as propriedades do campo de produção jornalístico. Pauta Geral, Salvador, v. 4, p. 243-258, 2002.
GOMES, Itania Maria Mota. Modo de Endereçamento no Telejornalismo do Horário Nobre Brasileiro: o Jornal Nacional, da Rede Globo de Televisão. UNIrevista, v. 1, n. 3, 2006.
JENKINS, Henry. Cultura da Convergência. Tradução: Suzana Alexandria. São Paulo: Aleph, 2008.
90
KWIATKOSKI, Luciana Carla. #Barriga no Twitter.com – um estudo sobre o mau uso das mídias sociais como fonte de informação. In: 11º Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo, 2013, Brasília. Anais... Brasília: Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo, 2013.
LEMOS, André. Cibercultura: tecnologia e vida social na cultura contemporânea. Porto Alegre: Sulina: 2002.
MACHADO, Elias.; PALACIOS, Marcos. Um modelo híbrido de pesquisa: a metodologia aplicada pelo GJOL. In: LAGO, Claudia; BENETTI, Márcia. (Orgs.) Metodologia de pesquisa em jornalismo. Petrópolis: Vozes, p. 199-222, 2007.
MARTINS, Gilberto de Andrade; THEÓPHILO, Carlos Renato; Metodologia da Investigação Científica para Ciências Aplicadas. 2ª Edição. SãoPaulo: Atlas, 2009.
MIELNICZUK, Luciana. Notas sobre o formato de apresentação das informações jornalísticas em diferentes suportes.In: I Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo, 2003, Brasília. Anais... Brasília: Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo, 2003. MOREIRA, F. M. Os valores-notícia no jornalismo impresso: Análise das ‘características substantivas’ das notícias nos jornais Folha de São Paulo, O Estado de São Paulo e o Globo. Dissertação (Mestrado em Comunicação e Informação), Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2006.
PRIMO, A. O aspecto referencial das intenções na Web 2.0. In: XXIX Congresso Brasileiro da Ciência da Computação, 2006, Brasília. Anais... 2006 RECUERO, Raquel. Redes Sociais na Internet. Porto Alegre: Sulina, 2009.
_________, Raquel. A conversação em Rede. Porto Alegre: Sulina, 2013.
KUKLINSKI, H. Pardo; ROMANÍ, Cristóbal. Planeta Web 2.0 Inteligencia Colectiva o Medios Fast Food. Barcelona: E-book version 0.1, 2007.
SILVA JÚNIOR. A Relação das interfaces enquanto mediadoras de conteúdo do jornalismo comtemporâneo: Agências de notícia como estudo de caso, 2001. In:
91
<http://www.bocc.ubi.pt/pag/junior-jose-afonso-interfaces-mediadoras.pdf>Acesso em:15 de Março de 2014.
SILVA, Sofia Carolina da; BELOCHIO, Vivian. Redes sociais como pontos de estímulo da interação nojornalismo em rede: peculiaridades das apropriaçõesem portais e webjornais. In: Seminário de Interação Mediada por Computador, 2013, Porto Alegre. Anais...
SOUSA, Maíra de Cássia Evangelista de. A dinâmica da notícia nas redes sociais na internet. Dissertação de Mestrado, UFSC, 2013. ZAGO, Gabriela da Silva. Jornalismo em microblogs: um estudo das apropriações jornalísticas do Twitter. In: SBPJor São Bernardo do Campo (SP), 2008 ________, Gabriela da Silva. Recirculação Jornalística no Twitter: filtro e comentário de notícia por interagentes como uma forma de potencialização da circulação. Dissertação de Mestrado, UFRGS, 2011. TRAQUINA, Nelson. Teorias do Jornalismo – Porque as notícias são como são. Vol. 1. Florianópolis: Insular, 2005.
WOLF, Mauro.Teorias das comunicações de massa. São Paulo: Ed. Martins Fontes, 3ª Edição, 2008.
92
ANEXOS ANEXO A – Termo de uso de Responsabilidade On-Line do webjornal Estadao.com O Estadão.com.br faz questão de oferecer um espaço democrático para a livre troca de ideias, manifestação de opiniões e interação entre as pessoas. Como se sabe, democracia não exclui divergências. Às vezes, conversas podem causar mal-entendidos. Com base em diversas experiências de convivência online, apresentamos algumas regras para que esta convivência seja produtiva, saudável e baseada no respeito mútuo. IDENTIDADE Para sua própria segurança, não é bom que a Internet se torne terra de ninguém. Por isso, sempre forneça dados verdadeiros e exatos. As informações da sua inscrição são protegidas e não serão entregues a ninguém, exceto às autoridade e, mesmo assim, por determinação judicial MODERAÇÃO As regras de Atitude Online atendem aos princípios do código de conduta “Responsabilidade Online” do Grupo Estado. Acreditamos na liberdade de expressão e oferecemos um espaço rico para troca de ideias. Em contrapartida, as pessoas devem se manifestar com responsabilidade e respeito às leis brasileiras. Desta forma, textos, imagens ou quaisquer materiais em desacordo com esses preceitos poderão ser removidos do Estadão.com.br. Será considerada infração, a publicação de conteúdo: 1. Ilegal 2. Abusivo 3. Ameaçador 4. Nocivo 5. Obsceno 6. Profano 7. Difamatório de qualquer pessoa ou instituição 8. Discriminatório de credo, raça, condição social ou orientação sexual 9. De Incitação à violência e/ou ao crime contra pessoas, instituições, países ou a patrimônio público e privado 10. Capaz de ferir a reputação de pessoas ou organizações 11. Que configure Plágio 12. Produzido por terceiros, sem a reprodução autorizada 13. Considerado Spam ou correntes de mensagens
93
14. Com transmissão de ou que leve a locais com material de potencial destrutivo como vírus, worms, cavalos de tróia 15. De Propaganda política, de produto ou serviço 16. Falso ou fraudulento 17. Que viole o direito de propriedade de uma pessoa ou empresa 18. Que finja ser de autoria de outra pessoa, famosa ou não 19. Que advenha de login e/ou nome de usuário desrespeitoso ou ofensivo, independente do conteúdo do comentário 20. Com mais de 3 (três) links para outros sites ou páginas da Internet; todos estes links devem conter a devida explicação sobre do que se tratam . 21. Com textos em caixa alta, ou seja, somente com letras maiúsculas. Pelo uso e costume da internet, escrever em caixa alta pode ser interpretado como agressão aos outros usuários e também aos leitores; seria o equivalente a entrar em uma sala gritando. 22. Fora do tema proposto pela notícia, artigo, coluna ou postagem de blog. Os comentários são bem-vindos, mas devem se ater ao tema proposto na página. 23. Postado por usuários com único objetivo de „bater-boca‟ com outro(s) usuário(s) ou que configura conversa pessoal ou mensagem típica de salas de chat. 24. Que divulgue informações pessoais do próprio autor ou de outras pessoas – por motivo de segurança. As consequências por infração a estas regras: 1. Infrações podem levar a exclusão do conteúdo com consequente comunicação por e-mail ao autor 2. Usuários que forem denunciados ou tiverem conteúdos retirados do ar, poderão ter seus comentários pré-moderados 3. Infrações consideradas graves poderão incorrer na suspensão por período determinado ou até na exclusão de um ou mais membros 4. Será considerada falta gravíssima qualquer tentativa de fraude, inclusive para prejudicar outro usuário de forma que ele seja passível de perder seu direito de acesso ao site por interdição ou exclusão. Mecanismo de eliminação de conteúdo: À equipe do estadão.com.br reserva-se o direito de eliminar sem consulta toda e qualquer postagem de conteúdo, no todo ou em parte, que fira diretamente as regras acima estabelecidas.
94
ANEXO B â&#x20AC;&#x201C; CD com materiais das Fichas de Tipo 1
95
Anexo C – TRANSCRIÇÃO DA ENTREVISTA SEMIESTRUTURA Entrevista com Bárbara Nickel S. Desde quando o Zh utiliza as redes sociais nas estratégias? B.Desde 2009. Eu entrei aqui no Zero Hora em 2007 para participar de uma equipe online que até então o site do Zero Hora era só pegar o PDF do jornal e colocar na internet. Não tinha um site atualizado vinte e quatro horas por dia, não tinha uma equipe produzindo notícias, até porque a RBS tinha o Click RBS que era o canal de notícias na internet. Mas, em 2007, a empresa resolveu fortalecer as marcas, os veículos na internet, então criou “zerohora.com” com notícias atualizadas vinte e quatro horas por dias, sete dias por semana. E, formou uma equipe especialmente para isso: pra vir pra dentro da redação e trabalhar com internet, que não existia isso. Éramos cinco editores, uns doze redatores, tinha que pedir arte, assistente de conteúdo multimídia, enfim, era uma equipe bem voltada pra fazer jornalismo online. Dentro dessa equipe, a minha função era trabalhar com interatividade com o leitores, então eu cuidava do canal “Leitor Repórter”. Eu era responsável pelo canal “Leitor Repórter” e por todos os canais de interação com os leitores. E daí, naquela época, eu estava sempre pesquisando como é poderíamos interagir de maneiras diferentes, como é poderíamos trazer para o site, enfim, estava sempre pensando sobre isso e pesquisando ferramentas. Daí, eu acho, não tenho certeza, lá por 2009, se eu não me encano, foi logo depois das eleições do Obama nos Estados Unidos, que eu vi que eles estavam usando o twitter jornalisticamente. E, eu fui lá e criei uma conta do Zero Hora. Vou criar o perfil do Zero Hora, avisei, disse – „olha, tão usando, vou criar esse perfil acho bom a gente criar de todos os jornais do grupo porque parece que vai se tornar uma coisa relevante. ‟ Então, a gente criou o perfil do Zero Hora bem nos primórdios, assim, do uso do twitter no Brasil. E o facebook também, assim, que foi possível criar a página de organizações, porque antes só podia ter perfis, assim que foi possível isso, se não me engano foi em 2009, acho que talvez o twitter tenha sido 2008 e o facebook 2009. Então, a gente sempre vai criando os perfis, assim, sempre criou, pelos menos, dessas redes que se tornaram o mais relevante jornalisticamente – assim que foi possível, mesmo se a gente não soubesse exatamente o a gente ia fazer. S. Por que razões os sites de redes sociais são usados no ZH? É uma noção de estratégia? ou porque vai surgindo? B. Bom...lá naquele começo era porque estava surgindo e eu desconfiava que poderia vir a ser...a agente é uma, apesar de pra tempo de internet quatro anos ser ser bastante coisa, pra tempo de evolução do jornalismo, cinco anos é pouco tempo. Então, na verdade , em relação ao jornalismo essas tecnologias são bastante novas. Então, não é assim, a gente nunca tinha uma estratégia clara, porque é uma tecnologia bastante diferente do que o jornalismo tinha até então. S.Como vocês escolherem qual site de rede vai fazer um perfil? Como vocês selecionam essas redes? Como que é essa escolha? B.Então, em 2010 eu virei editora de redes sociais do grupo RBS, mas eu trabalhava dentro da Zero Hora. Eu meio que dava consultoria para os outros veículos, TV, rádio ... Mas, eu atuava dentro da Zero Hora. Em 2012, eu cansei. E aí, abriu uma vaga no caderno de tecnologia, e aí eu passei uns nove meses um pouco ausente. Então, por exemplo, o Instagram
96
da Zero Hora foi criado nesse período que eu não tava, mas em todas outras redes eu estava. Então, das outras eu posso te dizer. A gente cria no momento porque percebe que jornalisticamente ou pra um serviço que pode ser útil para o nosso leitor a gente percebe que é interessante ou também porque a gente fica acompanhando tudo que todos os veículos estão fazendo no mundo e mesmo que não seja veículos jornalísticos, a gente consegue ver a relação entre, por exemplo, o Pintrest,a gente consegue perceber, assim, no início i tipo de interesse que as pessoas tem ..ah, as pessoas tem interesse em decoração, estilo de vida e gastronomia, arquitetura, assuntos que a gente tem, esse tipo de conteúdo pra oferecer e tem pessoas lá que querem consumir esse tipo de conteúdo. Então, vamos ver como é que a gente consegue adaptá-lo. Esse tipo de conteúdo que a gente tem para aquela rede – esse ainda é o primeiro pensando. Segundo – como, se a gente ensinar os jornalistas de redação a usarem a gente dizer “olha, o Zero Hora ta fazendo isso lá, essa rede funciona assim, se vocês que estão trabalhando com gastronomia com decoração, com modo, com estilo de vida e saúde, entrarem lá vocês vão ver que há bastante pauta que tem conteúdo interessante que vocês podem compartilhar pra vocês se tornarem mais relevantes e perceberem o que as pessoas estão falando nas redes também.” No caso, do foursquare, eu comecei a usar e daí...também houve uma mudanças no foursquare quando eu criei um perfil RBS e depois também poderia, passou a poder ser, uma página, uma espécie de página, mudou o tipo de, poderia ser oficial e que queria ser oficial desde o início, a gente entra em contato com as redes e não consegue. Enfim, mas no começo, eu Bárbara comecei a usar “ah que legal seria se nos lugares que eu fosse, houvesse dicas da Zero Hora isso tornaria o Zero Hora mais relevante eu acho surpreenderia `às vezes a pessoa “ahhh to aqui no parcão, deixa eu ver o que tem em volta e aparece uma dica do Zero Hora” acho que isso é relevante. Então, vou criar um perfil do Zero Hora vou começar adotar assim. No primeiro momento, normalmente, a gente faz isso e depois a gente parte para as editorias, tem uma editoria de bairros e tem a editoria que é a central dos interiores e daí a gente vai conversar com eles, tipo – “olha, a gente tem essa rede será que não seria legal os repórteres do interior nos mandarem dicas que a gente possa cadastrar também no interior, pq a gente fica focando muito em Porto Alegre e os cadernos de bairros vivem muito essa realidade hiperlocal e conhecem bem os bairros. Eles não poderiam se apropriar do foursquare do Zero Hora e eles cadastrarem dicas? O Caderno Donna ou o Segundo Cadernonão seria legal que eles se apropriassem? E, aí a gente começa a fazer esse trabalho junto com as editorias. Algumas adotam com mais facilidade outras abandonam. Porque todas editorias tem que fazer o jornal, eles tem que fazer o site. Elas tem que fazer as redes. Elas tem que fazer tudo.Então, alguma coisa, dependendo do editor acaba deixando de ser priorizado. S.Uma pena não tem um profissional na equipe que só cuide das redes. B.Mais ou menos.É uma pena quando eu penso do ponto de vista das redes. Mas, quando eu penso do ponto de vista do jornal eu acho uma pena que eles ainda não consigam trabalhar web. Eu acho que a gente tem lacunas digitais bastantes graves pra eu querer exigir que eles trabalhem bem as redes. Então, eu acho que as redes serão uma conseqüência, já evoluiu bastante. As pessoas, muitas vezes, agora, como tem duzentas pessoas na redação. Outras pessoas chegam pra mim e dizem: “ah Bárbara como a gente pode usar tal coisa. Tô pensando em fazer isso no caderno de Bairros, como é que eu faço?”. O Segundo Caderno vem e “ah será que a gente não pode usar o foursquare ?”E assim, muito freqüentemente, surgem iniciativas também das próprias editorias. É bastante diverso agora. Tem bem mais gente com certo nível para lhe dar com tecnologia.
97
Porque a gente sempre testa, desde o início. A gente sempre testou. Pra tu ter uma ideia, desde o inicio do twitter do Zero Hora a minha primeira lógica que eu pensei, foi assim: tinha o twitter do G1 que era o feed de todas as notícias e continua sendo a mesma coisa até hoje. Tinha do Terra, da BBC, da CNN e eu pensei assim: bom, uma pessoa que hoje que entra no twitter e quer acompanhar notícia por que ele vai seguir o Zero Hora, no twitter? Se tem o G1, tem a CNN, não agora que já está popularizado, digo – lá no início. O único motivo que vai querer ele ler o Zero Hora são as notícias que só a Zero Hora tem. Ninguém vai acompanhar a Zero Hora pra saber acidente na China ou mesmo um acidente na Bahia. A gente não tem a menos propriedade pra dar uma notícia desse nível. O que a gente tem propriedade? A gente tem propriedade pra falar das coisas daqui. Que é bem a lógica do jornal. Ah..então vamos colocar todas as notícias que são locais, porque as outras as pessoas vão seguir nos outros twitters . Daí tá. A gente começou assim. Daí a agente percebeu que a gente não pode – não falar de assuntos relevantes nacionais ou internacionais. Não pode deixar de falar da eleição do Obama. Então, o nosso critério passou a ser assim: a gente tem o site da Zero Hora e tem a manchete do site da Zero Hora que tende a ser local, mas se uma notícia nacional se impor ela vai ser notícia. Daí o critério passou a ser: Todas as notícias locais e todas as manchetes do site, porque se um assunto é relevante o suficiente para ser a nossa manchete – ele tem que estar no twitter. O facebook, no começo, por exemplo, nenhuma notícia que a gente colocava as pessoas curtiam ou comentavam. Nenhum conteúdo noticioso de verdade era só bobagem. Se a gente coloca, que nem essa semana, os quinze pandas que nasceram – as pessoas adoram. Mas, no começo a gente estava colocando só bobagem. Mas, aí as pessoas começaram a reclamar “mas não tem nenhuma notícia?”. E, aí começamos a também dar a notícia. A gente vai adaptando ao que as pessoas vão nos respondendo. E aí acontecem fenômenos bem interessantes: O que as pessoas consomem e o que as pessoas querem parecer que elas consomem. São coisas bem diferentes. Tanto que qualquer site que tu for nas notícias „mais lidas‟ é bobagem, mas se você for nas „mais enviadas por email‟ ou „mais compartilhadas‟ que é aquilo que eu quero mostrar pra ti que to lendo, geralmente, são coisas mais sérias. E daí acontece o dilema: o que eu sou e o que eu quero parecer. Assim, a gente coloca às vezes uma bobagem assim, sei lá, os pandas, por exemplo, muitas pessoas vão clicar nessa notícia. Às vezes, a gente vê, na hora, que muitas pessoas estão clicando poucas vão compartilhar e muitos vão comentar tipo “ah eu não tô curtindo o Zero Hora no face pra ver notícia idiota”, mas está clicando. Então, o que quê acontece do Segundo Caderno, que é um drama a página do facebook do Segundo Caderno. Porque eles são um caderno de cultura e lazer que ele não é um caderno popular. Ele é um caderno que vai tratar de teatro, de exposições de arte, de cinema, mas sempre com o viés um pouco mais cultural e menos popular. E o que acontece no facebook do Segundo Caderno? Se, eles compartilhar, que nem a capa de hoje, que é sobre fachadas de banco que estão sendo apropriadas por artísticas. Intervenções Urbanas. Tá é legal. Mas, se a gente colocar na capa do site isso não é pop. Não é um assunto pop. Então, a gente pega esse assunto e posta lá no facebook do Segundo Caderno. Daí não tem reação nenhuma. E, se a gente posta o último capítulo da novela, colocar no facebook do Segundo Caderno: milhares de pessoas vão clicar e milhares de pessoas vão nos xingar tipo, “ahh que bobagem”`. E é isso: entre o que as pessoas são e o que elas querem aparecer. Esse caderno vive bem esse dilema. S.Quais são as redes sociais mais utilizadas? B.Facebook. A gente usa facebook, twiiter, Google + com tudo que a gente posta no Facebook, a gente replica. Assim, há uma agência de Publicidade que é responsável pelo
98
Google + no Brasil e o trabalho deles é ficar ligando para os lugares e ficarem dizendo “olhem usem, se usa assim”...e recentemente, faz uns três meses mais ou menos, nós tínhamos quatro mil pessoas que curtiam, sei lá, davam um “mais” na página do Zero Hora. Bom..eles ligaram pra cá e dizeram “olha, a gente vai colocar a página de vocês, já que vocês atualizam, vamos colocar, quando um novo usuário se cadastra no Google + e ele diz que quer seguir notícias vai aparecer a página de vocês de sugestão pra quem quer acompanhar notícias, na categoria notícias. Então, a gente: ta legal. Em seis meses tem mais de duzentas mil pessoas que curtem a nossa página no Google +. É um crescimento assustador e a gente fica sempre acompanhando porque a gente usa o HootSuit que uma ferramenta de gestão de perfis, então, a gente fica acompanhando pega o mesmo conteúdo...porque não tem retorno em termos de audiência e não repercussão. Tem duzentos mil pessoas que curtem a nossa página lá no Google e três pessoas curtem uma postagem que a gente faz. Tem dois comentários, ninguém clica, mas igual, a gente não quer deixar vazio e fantasmagórico por isso a gente publica nas duas ao mesmo tempo. Então, o mesmo conteúdo entra nas duas. S. Há um diferença no uso de cada rede social? Qual? B.No twitter a gente privilegia bastante notícias factuais e a gente não vai deixar de dar nenhuma notícia, porque a gente imagina que quem ta ali quer seguir e quer saber o que está acontecendo agora, porque tem muito a questão do tempo real. S. Ele já foi utilizado para cobertura? B. Sim. A gente sempre usa. Inclusive a gente tem três perfis principais relacionados a Zero Hora que não são as da editorias que é “o transito ZH” e o “ao vivo ZH”. A gente criou o “ao vivo ZH” anos e anos atrás, pq eu a gente pensou? a gente quer fazer coberturas ao vivo, no twitter, mas a gente não acha que os assuntos das coberturas ao vivo vão interessar pra todo mundo que segue a Zero Hora, então, quando a gente faz cobertura ao vivo que não é de trânsito e não é da editoria. Porque se é ao vivo de economia, vai fazer no perfil de economia, ahh se for ao vivo de política, vai fazer com o perfil de política. Os com os dos repórteres, cada um vai fazer o seu. A visita da Dilma, inauguração do aero móvel que foi que teve aqui a gente vai fazer usando o “ao vivo ZH” e daí no perfil da Zero Hora a gente diz “olha, a Dilma está em Porto Alegre e vai começar a inauguração para acompanhar em tempo real siga o „ao vivo ZH‟”e daí segue a cobertura por lá mesmo assim as principais notícias colocando no perfil oficial. Acidente, tiroteio, polícia e trânsito a gente vai noticia bastante no twitter e também a gente usa pra pedir opinião das pessoas em alguns assuntos. A gente tá com a editoria de opinião, eles tem um twitter que é “opinião ZH”, que são responsáveis pelos editorais e pelos artigos que saem no jornal e eles publicam esses artigos no blog e eles sempre publicam pedindo opinião das pessoas no twitter, a gente reforça isso com o twitter do Zero Hora e retwitta isso, pede também que as pessoas opinem sobre esses artigos. Mas, mais no twitter o foco é notícias factuais e também as pessoas nos avisam muito das coisas que estão acontecendo. As pessoas nos avisam “ah, uma árvore caiu aqui na Ipiranga agora” as pessoas sempre estão nos avisando porque tem muito esse coisa do tempo real. No facebook a gente evita o que é muito tempo real até porque a gente não sabe quando a pessoa vai ler essa notícia até pelo algoritmo lá do facebook que resolve mostrar para ti uma coisa que a gente publicou há doze horas. Então, se a gente coloca: aconteceu tal coisa aguarde mais informações daqui a pouco tu vê, já vai ter tido mais informações e aí tu vai
99
achar que a gente não sabe mais informações, então, assim a gente não valoriza muito o que é muito tempo real, muito factual, a gente trata assunto que já estão um pouquinha consolidado com o facebook. E o twitter pra coberturas em tempo real não tem nada melhor, muito bom. S. É possível apontar um nível de importância das redes sociais nos processos de produção da notícia? ....ele auxilia na apuração ... B.Auxilia. E o mais legal de perceber, ao longo desses anos é o quanto, apesar de nem toda a redação, todas as editorias estejam craques em ter perfis oficiais, talvez a editoria de economia não tenha o melhor perfil, a melhor página do facebook de economia, isso é chato. Mas, é legal de perceber o quanto uma massa muito grande da redação, como jornalista, já usam como ferramenta de apuração e de acompanhamento de notícias. Então, assim seguidamente, nas reuniões de pauta a gente troca e-mails „olha, está rolando isso, to vendo que isso ta acontecendo nas redes sociais a gente deve ou não fazer uma matéria, é ou não um assunto?” Ou, muito frequentemente “ah a gente precisa entrevistar uma pessoa, só vê ela no facebook vamo entrar em contato com ela usando as ferramentas de redes sociais”Então, pra entrar em contato com pessoas, pra descobrir coisas que estão acontecendo, muito freqüente buscar pautas que estão acontecendo, que as pessoas estão começando a falar. E também para fazer uma pauta que seja colaborativa. E, a gente pode até falar de ferramentas oficiais, por exemplo, a gente já fez muitas pautas sobre a situação das praças de Porto Alegre a gente não tem como nós irmos a todas as praças a gente pode ir a cinqüenta, setenta praça, mas a gente não vai a todas, então, gente continua muito fazendo esse uso, chamando as pessoas pra colaborarem com a gente no site que daí a gente usa as ferramentas pra achar as pessoas tanto pra montar o produto que seja jornalístico colaborativo quanto pra encontrar isso num caso, no outro caso, é...dia dos pais e a gente quer falar sobre pais que criam filhos sozinhos, sem a mãe..então vamos ver a gente consegue algum case pelas redes sociais e daí a gente pode usar e é legal que a gente usa o perfil da Zero Hora pra convocar as pessoas pra buscar pessoas pra falarem com a gente, ou então, se a gente quer descobrir alguma coisa que nem, agora, no caderno do 25 anos da Constituição tinha um livro de fotos que tinha uma foto de vinte e cinco anos atrás, que tinham várias crianças segurando placas e que era alguma coisa da Constituição. Quem são essas crianças? Não estava no livro. Então a gente coloca isso nas redes sociais perguntando “ah, vocês sabem quem são essas crianças? Ajude encontrar essas crianças.” Então, isso a gente faz bastante também. S. Se você pudesse apontar desses fatores indicados, esses de apuração, de busca de pauta, de colaboração. Quais os processos que envolvem mais apropriações das redes e quais são eles em ordem. Para que elas (as redes sociais) tem mais serviço ultimamente? B.É muito difícil em uma redação de duzentas pessoas a gente conseguir numerar, então eu não sei quantas pautas já surgiram porque alguém viu alguma coisa em uma rede social, tenho certeza, que já foram muitas e todo dia a gente vê alguma, mas eu não sei quantas. Eu não sei quantas vezes alguém conseguiu entrevistar alguém por causa das redes sociais, quantas vezes são inúmeras e a mesma coisa. Não sei quantas vezes a gente já conseguiu chegar em uma informação. Não tem os números disso para colocar em uma ordem de relevância, mas eu sei que todos são processos bem disseminação dentro da redação. Até porque a gente para a redação e explica como funciona, vai lá e ajuda as pessoas a fazerem. A gente tem um processo de conscientização bem grande. O que a gente consegue medir? E daí tem duas coisas que a gente consegue ter os dados, que é: quanto a audiência as redes sociais trazem
100
para o nosso site, quantas pessoas clicaram naquele link, compartilhou no facebook e daí veio para o site do Zero Hora, que é visualizações do nosso site, quantas pessoas vieram para o nosso site porque elas viram alguma coisa em redes sociais e isso é uma coisa de mais ou menos 14% da audiência do site vem de redes sociais. S. Mas esses 14% são de todas as redes? B. De todas as redes, só que considerando o facebook está em 95%. Passou uma época o twitter depois veio o facebook. Por isso, a gente começa a dar um pouco menos de atenção, porque dá menos retorno em termos de audiência para o site. E outra coisa, tudo que a gente posta no facebook imediatamente as pessoas reagem ou corrigem - isso tem um valor muito grande também, que pode entrar como um outro item também. Que é informações que a gente tava dando, que nós estamos errados. Correção – a gente chama. Muitas vezes, a gente postou um negócio no facebook e imediatamente eles já dizem “olha, não é assim, não foi assim que aconteceu. Eu vi um dado em outro lugar que é diferente”. Então, isso as pessoas nos questionarem, às vezes elas estão erradas, mas às vezes elas estão certas e isso é bem legal é um processo, uma coisa que enriquece bastante o nosso trabalho. E mesmo a avaliação do a gente está fazendo certo ou não, porque apesar da gente não poder fazer. Se a gente for fazer tudo o que audiência gosta, se a gente for uma capa do site, capa pra dar a melhor audiência a gente faria uma capa mais parecida com a do Terra que tem mulher pelada, que tem tragédia, quem tem notícias bizarras, essa não é a linha editorial do Zero Hora. A gente não vai fazer tudo que a audiência quer, mas entre fazer o que a audiência quer e não ouvir nada que as pessoas estão falando tem o meio termo, que é o que a gente tenta fazer. Se às vezes as pessoas vão reagir, a gente posta a capa do Zero Hora, por exemplo, todo dia no facebook em todas as nossas redes, às vezes as pessoas vão nos dizer, “olha, por que tal assunto é tão importante não está na capa hoje?” E a gente leva para a reunião de pauta dos editores. S. Eles questionam? B. Questionam. E a gente às vezes vai responder “porque olha que tal assunto, às vezes a gente tem argumento, às vezes não” porque a gente achou que para o nosso leitor o atentado na Nigéria não fosse importante, mas é. As pessoas querem saber e isso pra gente entender melhor o nosso trabalho também é muito legal. É muito legal levar na reunião dos editores, chegar lá e dizer pra eles “olha vocês fizeram um julgamento de que os assuntos mais relevantes eram esses, mas as pessoas estão perguntando sobre o atentando na Nigéria”. Tem gente trabalhando aqui há vinte, trinta anos e tem uma visão, imagina que seja o leitor do Zero Hora. “ah mas é porque o leitor do Zero Hora não se interessa por esse assunto” e daí nas redes sociais ..é o leitor que ta falando não é a gente que ta imaginando, é ele que está dizendo pelo que ele se interessa e isso eu acho é um processo que mais enriquece assim o jornal. S. Como acontece a avaliação dos temas que são publicados, a partir das redes sociais. B. Bom...o único valor que a gente consegue medir é audiência, que não consegue medir, mas que consegue relacionar diretamente com a performance do jornal como um todo. Então a gente faz coisas que são só para o facebook e só para o twitter. Por exemplo, a gente dá “bom dia”, isso a gente não faz no site. Isso é uma coisa que tem centenas de curtidas diariamente e centenas de comentário diariamente por que as pessoas respondem? ..ainda é um mistério pra mim, porque elas dão bom dia pra um jornal, mas ainda assim elas respondem.
101
Por exemplo, tem várias fotos que os fotógrafos fazem, fazem fotos todo dia de manhã pra ilustrar uma matéria de clima de como será a previsão do tempo e a gente escolhe uma bem legal e coloca no facebook também, pessoas adoram. Às vezes, nós damos “bom dia”usando essa foto também. Tem várias coisas que a gente faz só no facebook, por exemplo, a gente faz umas versões especiais em datas como Semana Farroupilha, Dias dos Pais, Páscoa a gente faz aqueles cards de facebook, uma ilustração e uma frase e a gente nem dá a notícia no site ou no jornal não tem nada a vê com o resto. A gente às vezes adapta de um jeito bem diferente, por exemplo, a gente começou a fazer com os colunistas de pegar uma frase forte da coluna e criar uma espécie de card do colunista com aquela frase de impacto e postar ela bem editada com uma imagem legal, também as pessoas curtem bastante. Como a gente usa muito o Instagram pra fazer missões, “fotos de primavera” e daí pedem pra pessoas mandarem fotos e a gente faz um ciclo. A última foi a de primavera e a gente fica fazendo isso nas redes, gera missão no Instagram, pega uma foto legal que alguém postou, coloca no facebook , chama as pessoas para postar mais, dá os comentários, a gente consegue fazer um mosaico no site, e daí, lá no twitter a gente dá o link para o mosaico e diz para as pessoas participarem, enfim, a gente fica com as atividades só das redes, a gente cria atividades que são só das redes. São coisas que fazem sentido nas redes, que as pessoas tão lá pra isso, assim, não fazem tanto sentido no site e daí a gente acaba fazendo algumas coisas e às vezes a gente adapta faz de um jeitinho diferente, assim, mas, por exemplo, dias dos pais, façamos aqui um tempão “ah vamos lançar uma missão dos dias dos pais” ficamos horas e horas pensando até que a gente, ah “vamos criar uma missão: Lembra disso pai” que era para colocar uma foto antiga, nostálgica, tua com teu pai. E, dái a gente criou a missão no Instagram. E os leitores: “tá eu quero participar, mas eu nem sei o que é esse Instagram” E, a gente teve que criar a mesma versão no site, só que o site é uma ferramenta horrível, que a gente tem que baixar as fotos que as pessoas mandam por e-mail, daí a gente tem que baixar... S. E não surgiu a ideia de fazer um tutorial? ... B.A gente pode fazer, mas mesmo assim, a gente não pode obrigar as pessoas a terem Instagram. A todos os leitores terem Instagram. Nem todo mundo quer ter.É uma coisa de nicho. E isso, como é uma coisa nostálgica, muitas pessoas quiseram participar. A gente recebeu trezentos e-mails com fotos e daí a gente tem o trabalho braçal de colocar todas as fotos no site, mas a gente não pode não contemplar essas pessoas. Mas, enfim, daí a gente vai ..vai fazendo assim. S. Existe alguma orientação da organização em relação a necessidade do uso das redes na produção das notícias? B.Bom...Existem duas coisas, já existe um esforço do grupo, tanto que eu era editora de redes sociais do grupo, tanto de orientar ir lá em cada redação explicar como funciona aí passou essa primeira fase de alfabetização e agora existem esforços individuais de cada veículo. Então, assim, dentro da Zero Hora. A Marta, que é a nossa diretora de redação, ela incentiva, diz pras pessoas usarem, quer que a gente seguidamente apresente cases e fale como é que a gente envolveu o leitor pelas redes sociais ou como é que elas foram usadas para fazer uma matéria e a gente compartilha muito essas informações. Agora, por exemplo, está acontecendo um curso, a RBS criou um negócio que chama “Escola de Produto” que são cursos corporativos, alguma coisa assim, e cada veículo decide como vai ser o seu. E aqui na Zero Hora a gente fez cursos de redes sociais, então, eu dei uns
102
dez cursos de redes sociais pras pessoas, separados em níveis, do bem básico – pra quem sabia o que era RT, pra quem nunca tinha entrado no twitter. Até de inovação, pra ver quais são as cosias mais malucas que estão sendo feitas e que a gente poderia pensar em fazer e como elas funcionam e passando um pouco, como é que faz cobertura ao vivo. Se tu tiver em uma cobertura ao vivo, como é que tu avalia, se um twitter que alguém está postando pode ou não ser verdade, como é que tu julga se vai usar isso ou não. Bom.. a gente tem muita iniciativa de educação pra redação, mas nenhuma cobrança. Nada de chegar na editora de Geral e dizer “vcs tem que fazer quinze matéria de redes sociais por semana” não tem isso. S. Quando o jornalista novo entra na redação ele recebe instruções no sentido, mas pelo que eu estou vendo a instrução acontece durante, não é na chegada, ou como é que é? Porque tem relação ao perfil, os novos jornalistas que estão se formando já tem um perfil mais multimídia e tal .. B.É isso que tu imagina. Mas, não. Na verdade, talvez sim, que muitos jornalistas novas que estão se formando tem perfil multimídia, estudaram jornalismo online, tiveram aula disso na faculdade coisa que eu não tive. Mas, não sei se é porque as pessoas que chegam aqui na redação quando elas vêm é porque elas querem trabalhar no Zero Hora, no impresso, tudo isso, elas chegam aqui, elas idealizam “bah, vou trabalhar em um jornal impresso”. E, a gente sofre a gente que trabalha mais com internet, sofre muito de ver um jornalista novo que chega aqui com sonho de trabalhar em um jornal de papel. Tu que conhece o potencial, que usa, que sabe como funciona, que acompanha notícias de todos os lugares do mundo pela internet, não percebe o valor disso, e isso é um drama a parte, assim – do perfil do profissional. Mas, sim, quando ... a gente até achou um programa mais sistemático e agora ta um pouco mais informal, entre três pessoas, uma numa semana, outra em outro .. três pessoas vão entram no mês, e em um dia da semana essa pessoas vai passar por todas as editorias, vai saber como todas elas funcionam e passam pela minha editoria também em que a gente vai conversar “olha, as redes sociais, aqui na Zero Hora a gente trabalha assim, as editorias tem os perfis oficiais. O Zero Hora tem perfil oficial, mas além disso, tu no seu perfil pessoal também pode atuar como profissional, como é que a RBS entende a atuação do jornalista, essa questão, perfil pessoal vs. perfil profissional é uma dúvida que surge bastante. A gente explica isso, então isso é uma coisa que eu explico pra todo mundo que entra. Pra pessoa que entra aqui, não é uma questão de rede social, tem um guia de ética da RBS que diz “ow, se tu és um jornalista da RBS, tu tens um perfil ético que é esperado de ti, na vida” não só nas redes sociais. Então, isso tu tem que considerar na sua atuação nas redes sociais, independente disso. Quando a RBS olha para o seu perfil de twitter não vai ficar pensando “ah, não, mas esse aqui é a Sofia da vida pessoal, a gente não tem nada a vê com isso”. Não. Tu é sempre jornalista. Então, isso é bem difícil, é bem diferente dos veículos a nossa abordagem em relação a Gaúcha, por exemplo, na Gaúcha eles colocam o selinho da Gaúcha no perfil das pessoas a gente não faz isso, porque o profissional de rádio é um profissional que aparece mais ele fala na rádio, ele assina as matérias, ele tem mais visibilidade que o profissional do jornal. O profissional do jornal tem uma coisa mais de timidez, é mais reservado. Ah, é muito diferente, a abordagem assim. S.Como é a rotina diária de produção do ZH? B. A gente tem uma equipe em maio desse ano, foi criado uma equipe diferente da qual eu sou editora. Antes tinha uma área que era de atendimento ao leitor, que fazia a página de
103
cartas, que tinha cinco pessoas. Existia uma área de redes sociais, que tinha uma editora e um estudante e existia uma área de divulgação que tinha uma editora e duas pessoas, que são as pessoas que fazem o VT, releases, coisas assim da Zero Hora. E, essas três áreas se juntaram e com isso, o que eu consegui fazer é distribuir melhor a energia. Não precisa de cinco pessoas pra fazer uma página de jornal, todo dia. Então, a gente redistribuiu as energias e agora a gente tem das 7h da manhã às 22h da noite tem uma pessoa, em alguns horários duas, que estão produzindo conteúdo pro twitter, Instagram, facebook, Google +, e que estão pensando em ações e que estão alimentando esses perfis. E, daí assim, eu vou na reunião de pauta da manhã e daí a gente discuti as pautas do jornal e já consegue “ah, será que nessa das praças, nós não podíamos convocar as pessoas?” S. Essa interação acontece com a editoria de digital, que por exemplo, vai fazer essa pauta? B.É que hoje não tem mais, aquele núcleo de digital que eu te falei de 2007. Aquela equipe de redatores e editores – aquilo não existe mais. Porque hoje cada editoria é responsável pelo seu conteúdo ou redes. Então, não tem mais redatores online. Só tem a editoria de Geral que é responsável por tudo. E eles cuidam do perfil do Trânsito, por exemplo. E a nossa editoria cuida dos perfis oficiais, a gente senta na mesa, que estão as pessoas que editam a capa do site. Então, só tem editor de capa e as pessoas que trabalham com redes, então a gente fica o tempo inteiro conversando com as editorias direto, do tipo, “ah a gente precisa saber o que as pessoas estão pensam sobre um assunto”é uma pauta de Geral, daí eu vou dizer pra pessoas que trabalha comigo “ah, Estevano, tu vai lá e conversa com o Rodrigo porque está rolando uma pauta sobre esse assunto, combinem como é que é o melhor jeito, como é que ele vai acompanhar, enfim, conversem...” E seguidamente, o que acontece? ..uma editoria quer uma matéria, quer publicar no jornal ou no site ou alguma coisa que tenha repercussão. “Ah, eu quero saber como é que isso repercutiu nas redes sociais”, muitos repórteres sabem fazer essa busca, sabem acompanhar e sabem como buscar esse material, muitos não sabem. Então, eles vêm aqui e dizem “ah eu to fazendo essa matéria eu queria ter algumas opiniões das pessoas do twitter, me ajudem a encontrar” . Seguidamente, até da nossa editoria surgem muitas pautas assim, porque a gente sempre ta vendo o que está acontecendo nas redes, então, vai lá dizer para a editoria de economia “olha só o dono da barilha fez uma declaração homofóbica e agora nas redes sociais ta todo mundo falando sobre isso” e daí ela vai dizer “ah, não, mas teve agora uma pesquisa do IBOPE que divulgou o negócio do emprego e renda” ta mais isso ninguém vai ler agora, a agente precisa de uma matéria sobre isso que é sobre o que todo mundo ta falando...e a gente fica, como é todo processo jornalístico, numa batalha constante..assim, do tipo: isso aqui é mais importante agora por que se a gente tiver essa matéria e publicar agora e chamar no face vai ter muita audiência, e ela vai dizer “não, mas isso é irrelevante, eu preciso produzir essa matéria que vai ser manchete do site e não isso que é uma bobagem” , mas aí a gente: “tá mas a manchete do site não vai render audiência nenhuma, ninguém quer saber da sua pesquisa” ao fica essa batalha constante, daí, muitas vezes agora que a gente já tem uma equipe bem mais estruturada eu digo”ta, então, eu vou fazer” e eu tenho uma equipe que consegue produzir algum conteúdo. Então, às vezes quando as editorias não conseguem a gente assume. E a matéria do Tinder, que é um aplicativo de celular ... é uma coisa de namoro. Uma menina da minha equipe disse: “ow, a gente não fez nenhuma matéria sobre isso” e sugeriu para o editor chefe e o editor chefe disse “ah legal, vamos fazer”. Daí, qual editoria vai fazer essa matéria? Geral, economia, política, segunda caderno, ninguém se acusou. Aí eu disse: “ah,
104
ninguém vai fazer então façam vocês”. Então, duas gurias que trabalham comigo fizeram a matéria que saiu no jornal impresso, no site e nas redes. Então, a gente também começa a ter essa missão e essa estrutura de produzir conteúdo que ou é sobre as redes ou é porque está repercutindo nas redes, ou é porque a gente sabe que vai interessar pras pessoas que estão nas redes. S. O ZH costuma publicar assuntos que normalmente eles não são privilegiados nas publicações oficiais, se o jornalista tem algum critério diferente para saber o que vai publicar nas redes no perfil do ZH. B.Tem notícias que não são de trânsito, que não são factuais, que não são as notícias que não vão ser privilegiadas no jornal de amanhã e nem na capa do site do Zero Hora que a gente valoriza mais no facebook, não é que a gente vai produzir um conteúdo de notícia só para o facebook. Alguma notícia que não é notícia factual extremamente irelevante pro jornal a gente acaba tomando ela como relevante para o facebook. Mas, não é que ela não vá ser produzida pro jornal ou pro site, um exemplo assim, coisas que a gente tem a valorizar mais nas redes é, sei lá, lançamento do PlayStation 4, é factual, que pode ser uma notinha lá no jornal de amanhã, pode ser uma nota no site, mas no facebook a gente pode explorar muito mais porque a gente pode perguntar “ah, vocês gostaram mais do PlayStation 4 ou do Xbox?” e fazer foto, e ficar interagindo, sabe? A gente vai alimentar mais isso, porque a gente sabe que vai gerar debate, polêmica num universo que se interessa por esse tipo de assunto e é um tipo de assunto que faz sentido pra um público que não é necessariamente o público que lê o jornal. A gente consegue perceber a diferença de interesse, se a gente colocasse o PlayStation 4 nunca seria manchete no site, nunca seria, não é relevante para o site e se eu chegasse na reunião de pauta dizendo: “olha, a gente sabe que não está acontecendo mais nada e o PalyStation ..é sobre isso que as pessoas estão falando”. No atual, momento do Zero Hora, isso não seria manchete nem no site, nem no jornal; mas a gente sabe que gera conversa, que é um assunto sobre o qual as pessoas gostam de conversar e por isso, ele rende no facebook. Nas redes a gente sabe que funciona. E é isso também, as pessoas que estão em lugares diferentes porque as que estão lá no facebook não é o mesmo perfil que necessariamente está no site, não é o mesmo perfil que lê o jornal impresso. Então, isso é difícil porque a gente não tem uma pesquisa de dados, apenar que no facebook a gente ter maravilhosa recurso do facebook em sites, então a gente sabe que pessoas entre 20 – 35 anos que lêem a nossa página do facebook ou que..é bem diferente do assinante do Zero Hora que tem uma média de 55 anos. Então a gente sabe que no facebook é gente do mundo todo, que tem muito gaúcho desgarrado que nos acompanha pelo faebook. S.Quando vocês vão escolher essas pautas factuais que vão para as redes, vocês estão considerando ali a margem de idade? Vocês levam em consideração? B. A gente leva em consideração isso e a experiência prévia assim, os assuntos que a gente sabe, que a gente coloca a questão subjetiva de quem está ali todo dia trabalhando com isso. Tanto que seguidamente e que está acontecendo, que eu acho muito legal isso, tem a página do Segundo Caderno, tem a página da Economia, e Política e do caderno Casa&Companhia esses cadernos ... quando as pessoas começam a se apropriar mais das suas páginas, elas vêem e nos pedem “ah eu postei na minha página, na página do Segundo Caderno essa notícia e eu quero que tu compartilha na página do Zero Hora” que quando a gente compartilha fica lá, que foi postado originalmente pela página do Segundo Caderno e dái dá mais..As pessoas vêem que existe uma página.
105
Os editores conscientes eles preferem que a gente compartilhe do que a gente postar no facebook direto porque daí não vai aparecer que a página é deles. Então, seguidamente vêem gente e pedi e já estão nos mandando chamadas...assim já criou um processo na redação e alguns pessoas ..”ah olha, isso aqui é legal para o face, postei na página da Economia agora – compartilhem no face da Zero”. Está surgindo bastante isso e o que eu oriento para as pessoas da minha equipe: vocês não tem que compartilhar tudo, porque a pressão é forte, porque assim ow ..a editora de Política publica uma notícia no facebook de Política e eles querem que a página da Zero Hora compartilhe aquilo que foi postado na página da Política, porque a página pode compartilhar e daí fica parecendo que originalmente foi postado pela página da Política e assim cresce o número de seguidos. E, as pessoas que estão cuidando das páginas, os editores, eles vendem as chamadas ..eles chegam ali e dizem “olha, eu to postando isso agora no facebook da Política chama no da Zero”.. eles vêm e conversam e pedem e daí eu digo “olha, é legal que eles façam isso, mas nem tudo que eles publicam a gente precisa compartilhar, tem que saber dizer não, vocês tem que saber explicar porque voces estão postando uma coisa e não postando outra. S. E como que é feito isso? B.É difícil, às vezes eles postam coisas que eles não conseguiram dizer não. Às vezes, eles deixam de postar que acham que não vai funcionar porque já teve uma experiência prévia. S. O que, por exemplo, não entraria? B.Casa&Companhia acabou de estrear uma página e é um caderno de decoração , bem específico. Então, a editora, no caso quer bombar a página dela e daí ela posta que nem, na semana, passada: apartamento de jovem solteira ...daí pede para pessoal aqui, que trabalha comigo: “ah eu quero que vocês compartilhem”, mas vão dizer “ah isso não tem nada a vê com o tipo de conteúdo do Zero Hora” e daí ela vai dizer: “ta, mas é conteúdo do Zero Hora, é um caderno do Zero Hora a gente publica esse conteúdo no jornal, publica no site porque vocês não vão compartilhar no facebook?” E às vezes, por preconceito porque a gente imagina que as pessoas não vão gostar a gente deixa de publicar. E daí, eu digo: “olha, vocês tem postar uma vez, pelo menos, tem que postar uma vez daí vocês vêem qual é a reação, vêem o que as pessoas estão dizendo pra poder tomar a decisão com base em algum dado”. Não pode dizer que vocês acham que as pessoas não vão gostar, não é justificativa a gente precisa saber se as pessoas vão gostar ou não. Aí a gente vai sempre experimentando, isso que a gente tenta fazer.
106
ANEXO D â&#x20AC;&#x201C; CD com materiais da coleta.