Francisco Casanova
Vivencias 
 
de
Francisco Casanova texto de
Armando Ramos Pereira
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Prefacio
…às vezes acontece-nos… ficar-se impressionado e perplexo… confrontarmo-nos com uma espécie de teia invisível, impalpável, feita de realidade indefinida… tecida entre essências… ou, explicando melhor… como que investida da fatalidade de cumprir o (re)encontro de elementos com elementos… na busca da osmose do todo inicial que os enformara, antes do tempo ser tempo… … e nos é dado apenas o limitarmo-nos a constatar depois, com o que nos chega, enviado também por um qualquer acaso, que a matéria saída da pluma de um qualquer Armando como que apenas aguardava o momento de (re)encontrar a que sai da paleta de um qualquer Francisco. Matérias que se buscavam uma à outra… no rodopio das poeiras primordiais… … e vieram de rotas siderais… lá, onde óleos, pincéis e telas reclamam Ícaros perdidos e luas por inventar… e, nas órbitas ovais… colheram a carícia da palavra-brisa-visionária… e com segredos de amor e riso colorido… revelaram as «VIVÊNCIAS» deste Livro !
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Livro ?... Catálogo-cor !!!... partitura de poemas, pautada por largo abraço de cravo barroco florido… Sónia em ferro branco forjada, de grinaldas de fioritura ornamentada… Livro ?... Foto feita no momento do cumprimento de promessa do tempo que gira !!!... Livro ?... Quadro-vivo do Centenário que passa… da Liberdade que dura… ! Em prelúdio de circunstância, o Grão Goes Damião, viajante de muitos mundos e flamengas Antuérpias, havia determinado que em sua Embaixada-Feitoria, nesse dia, havia de haver… luz… som… e melodia… e, também, muita poesia de branca cor… e um público… no mínimo, original ! E foi assim que aconteceu ! A mim, leitor atento, cabem a honra e ousadia… diria mesmo a pretensão de vos dar a chave-guia para o folhear deste Livro! «VIVÊNCIAS» da, então, Exposição… «VIVÊNCIAS» agora, recriação do momento acontecido ! Perlada na madrugada era a teia que unia os matizes de «Encontro com Ícaro», «Mercado» e «Vendedora de luas» à cor branca da poesia… aos ecos do canto do cravo quando, em prece, rezou… AVÉ-MARIA !! A mim cabe-me abrir o pano à memória… e convidar-te, Leitor amigo, a mais uma pérola desta teia do momento então vivido!
Regina Antunes Sena
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Introducao “antes do antes de ser agora distantes são todas as verdades por mentir ausentes as horas todas por viver…”
…mas é delas que vai surgir um depois que, a cada dia, se faz um agora. Sem recuos de tempo ou de espaço, sem temores de em cada hora ter de (re)começar. Por isso se buscam (re)encontros…por isso se (re)inventam formas e compromissos… para isso se corre em alvoroço e se extasia a nossa vista à vista do que julgáramos já alcançado. E fora assim que, num dia de nunca mais ficar para trás, correra a demandar uma terra então distante. Mais andante que cavaleiro, o sonho perseguia Trabalho e Amor (ou seria Amor e Trabalho?) que, teimosamente, os seus pincéis e as suas tintas não logravam juntar, como se ele não fosse “… deixara de ser meu… era teu o dom de unir harpa… e violino… e flauta…” mais capaz de encontrar a cor, o tom, a nuance, o brilho que povoassem a tela ávida de novos sonhos e jeitos de viver. Hoje… já tantos anos depois… fora isso que viera ali buscar: o bulício da chegada, a redescoberta dos velhos Amigos, o absorver daqueles cheiros dos seus impossíveis… a música… o poema… ainda o sonho revivido de PERMANECER… como diria Eugénio de Andrade… só porque É URGENTE O AMOR! E por isso se lhe adivinhava aquele sussurro que dizia e assinava com o olhar… “a quem aqui me trouxe (hoje e sempre) e aqui me recebeu, o meu mais sincero e amigo MUITO OBRIGADO! Francisco Casanova”.
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Mercado Acrílico s/tela 100x120cm – 2010
“Onda de um mar que não foi rio rio sem nascente nem praia onde morrer…”
Eia ! tanto mundo que à minha porta bate e me traz cada um e cada qual um “quadro” mais deste meu pobre carnaval ! ...
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Mercado II Acrílico s/tela 100x120cm – 2010
“ de salpicos faz regaço… de espuma faz esquina meu amor de olhar devasso… que a tudo olha e se arrima!...”
espera de banquete em damasco assedado… fulgor e névoa… míngua e abundância… exótica fragrância de fruto apetecido… despudorado…
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Encontro com Ícaro Acrílico s/tela 80x100cm – 2010
“ser preciso tudo tocar com o nosso dedo para não ter apenas fome… não ter apenas medo… “
havia ali um sonho onde acontecia um crescer envergonhado de emoções e uma mão cheia de corações em sangue sobressaltado a irrigar desejos de conquista 12
Bandolim Acrílico s/tela 120x100cm – 2010
“é de aprender a ânsia mais e mais apetecida”
era de movimento feito o som que em ti nascia era de som-essência o gesto que compunhas era dança-música-pintura o que em ti surgia numa corda que gemia pelo desejo só de nele irmos morar 14
Vendedora de luas Acrílico s/tela 100x100cm – 2009
“era de ir à Lua e voltar, o nosso Amor… “
era assim como a noite em que tudo apetecia mas nada parecia apetecer era assim como a noite em que nunca caberia tudo quanto poderia acontecer…
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Audição de piano Acrílico s/tela 100x120cm – 2009
“e eu havia de ser pauta porque te fizeras presa do meu som…”
Tu que fazes p’ra que o piano te conheça e toque para ti mal lhe tocas … e estremeça…?
de que Ferro… de que chão se levantam tuas notas de algodão?...
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Ícaro Acrílico s/tela 100x80cm – 2010
“vem sempre de longe o perto que se sente…”
“… nome de pausa na palavra alada descanso cansado de esperar desarrumo de ideia premiada tempo sem tempo de voltar”
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Segredo do pássaro vermelho Acrílico s/tela 80x100cm – 2010
“schiu!...preciso dizer-te dez segredos: fala-me tu do que vês… eu te falo dos meus medos… “
Disseram-me dos segredos que um e outro arrastavam pelos mundos fora de um bico de pássaro faminto mais de amor que de alimento de comer
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FRANCISCO CASANOVA Nasceu em Jovim-Gondomar, a 27 de
Exposições coletivas
Setembre de 1971. Possui bacharelato
• “Artistas de Gondomar”, Auditório Municipal de Gondomar (1995)
em Ensino Primário e licenciatura em Matemática e Ciências da Natureza pela
• “Artistas de Gondomar”, Auditório Municipal de Gondomar (1996)
Escola Superior de Educação do Porto.
• “Prémio Nacional de Pintura Júlio Resende”, Auditório Municipal de Gondomar (1998)
Em 1998, consegue colocação na Bélgica
• “Artistas de Gondomar”, Auditório Municipal de Gondomar (1998)
a fim de lecionar nos cursos de Língua e Cultura Portuguesas, fixando-se na cidade de Gent. De 1999 a 2003 frequenta o curso de
• “Prémio Fidelidade Jovens Pintores”, Culturgest-Grupo Fidelidade, Lisboa e Porto (1998) • “Exposição dos alunos da ACA”, Académie Royale des Beaux-Arts de Bruxelles, Bélgica (1999, 2000, 2001, 2002)
Beaux-Arts de la Ville de Bruxelles, sob
• “Exposition Européenne de Divers Métiers d’Art”, Hotel Panorama, Overijse, Bélgica (2001)
a orientação de Jean Paul Moor.
• “Axion Art-2002”, Galerie Dexia, Passage 44, Bruxelas, Bélgica (2002)
Em 2002 foi selecionado pela Académie
• “Le 213ème Salon 2002 (Salon des Artistes Français)”, Société des Artistes Français, Espace Auteuil, Paris, França (2002)
pintura da ACA-Académie Royale des
Royale des Beaux-Arts de Bruxelles para representar o atelier de pintura numa exposição organizada pelo Dexia Bank
• “Exposição dos alunos finalistas da ACA”, Académie Royale des Beaux-Arts de Bruxelles, Bélgica (Junho 2003)
vido nas diversas academias de pintura
• “Exposição de Antigos alunos de Jean Paul De Moor”, Sala Delahant, Câmara Municipal de Evere, Bélgica (Agosto 2003)
de Bruxelas.
• “Artistas de Gondomar”, Auditório Municipal de Gondomar (2004 e 2006)
para divulgação do trabalho desenvol-
No ano de 2003 regressa a Portugal e fixa-se em Santa Maria da Feira onde tem o seu atelier.
Exposições individuais • “Salão de Artes Decorativas De Maeght Herbert”, Evergem, Bélgica (Abril) • “Percursos”, Galeria Pelgrims (Maison Pelgrims), Bruxelas, Bélgica (Junho de 2001) • ORFEU-Livraria Portuguesa, Bruxelas (27 de Junho a 6 de Julho de 2003)
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Título Vivências Pintura Francisco Casanova Texto Armando Ramos Pereira Prefácio Regina Sena Design Azur Artworks: Isabel Correia Coordenação de projeto Regina Sena
Foi por iniciativa e vontade do Pintor Francisco Casanova que esta publicação surgiu. Tem ela por intenção recriar, em forma de livro, o momento vivido na sala Damião de Goes da Embaixada de Portugal, em Bruxelas, por ocasião do 1º Centenário da República Portuguesa. Retomava-se a exposição «Vivências», que interligada com ecos de poemas do livro «Poetandum a Cor do meu Livro Branco», de Armando Ramos Pereira, e com os sons saídos dos dedos da cravista Sónia Ferro, deram vida ao Recital «…diz-se Livro …soa Cravo…»
E x pos i ç ã o em B ru x elas , O u t ubro 2 0 1 0