Azeredo, Z. (2018) Reforma: da expectativa à realidade, Journal of Aging & Innovation, 7 (2): 149 - 158 ARTIGO ORIGINAL: Azeredo, Z. (2018) Reforma: da expectativa à realidade, Journal of Aging & Innovation, 7 (2): 149 - 158
Artigo Original
Reforma: da expectativa à realidade Retirement: from expectation to reality Jubilación: de la expectativa a la realidade
Zaida Azeredo Médica de Medicina Familiar no Porto e Coordenadora da unidade de investigação RECI (Research Unit in Education and Community Intervention) Corresponding Author: zaida.reci@gmail.com Resumo A opção pela aposentação é uma decisão complexa que envolve um constructo social conjugado por fatores estruturais, institucionais, organizacionais e individuais/ familiares que se entrecruzam sendo determinantes no comportamento de um indivíduo que se reforma, quer no momento da aposentação quer mais tarde na sua vivência de aposentado. Tendo por objetivos: 1 – Conhecer quais os principais motivos que presidiram à tomada de decisão das pessoas em se aposentarem 2 – Saber quais das expectativas que um indivíduo tinha quando pensou na aposentação, se realizaram A Autora realizou um estudo em pessoas reformadas há mais de 6 meses, de ambos os sexos , que recorreram por diversos motivos a uma consulta de Medicina Familiar (N = 82) Para o efeito foi elaborado um pequeno inquérito de perguntas abertas 50% dos respondentes possuía uma licenciatura tendo a maioria sido funcionários públicos. 77,1 % dos inquiridos não se arrependeu de ter tomado a decisão de se reformar, sobretudo por com esta, ter diminuído ou acabado com stress laboral , poder fazer atividades diferentes das que estava habituado e estar a fazer algumas das atividades que sempre sonhou fazer. Muitos dos inquiridos procuraram adaptar as suas perspetivas
de vida pós-reforma aos condicionantes socio-
económicos existentes , bem como ao surgimento de doenças no próprio e em familiares, quer adiando de forma positiva alguns dos seus projetos de vida, quer modificando-os e/ou adaptando-os à situação que estavam a vivenciar Das respostas dos respondentes também ressalta a vontade de fazer algo que contribua para uma nova imagem social do idoso em que este aparece como uma pessoa ativa, capaz de contribuir de diversas formas para o desenvolvimento de uma sociedade e o bem-estar coletivo. Palavras Chave: idosos, aposentação, expectativas, bem-estar
Abstract The option for retirement is a complex decision that involves a social construct combined by structural, institutional, organizational and individual / family factors that intertwine and, are determinant in the behavior of an individual who retires, both at the time of retirement and later in life of retired. Having as objectives: 1 - To know the main reasons that led to the decision making of people to retire 2 - To know which of the expectations that an individual had when he thought about the retirement, were realized The author carried out a study on people who had been retired for more than 6 months, of both sexes, who had recourse for a number of reasons to a Family Medicine visit (N = 82)
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ARTIGO ORIGINAL: Azeredo, Z. (2018) Reforma: da expectativa à realidade, Journal of Aging & Innovation, 7 (2): 149 - 158 For this purpose, the author build a small survey of open-ended questions 50% of respondents had a bachelor's degree and most were state workers.. 77.1% of the respondents did not regret having made the decision to retire, mainly because with this, to have diminished or finished with work stress, to be able to do different activities than they were used to and to be doing some of the activities that always dreamed to do . Many respondents sought to adapt their post-retirement life perspectives to existing socio-economic constraints, as well as the emergence of illnesses in themselves and their families, either by positively postponing some of their life projects or by modifying them and / or adapting them to the situation they were experiencing. The responses of the respondents also highlight the desire to do something that contributes to a new social image of the elderly in which he appears as an active person, able to contribute in various ways for the development of a society and collective well-being. Keywords: elderly, retirement, expectations, well-being
Resumen La opción por la jubilación es una decisión compleja que implica un constructo social conjugado por factores estructurales, institucionales, organizacionales e individuales / familiares que se entrecruzan siendo determinantes en el comportamiento de un individuo que se reforma, tanto en el momento de la jubilación o más adelante en su vivencia de jubilado. Teniendo como objetivos: 1 - Conocer qué principales motivos han presidido la toma de decisión de las personas en jubilarse 2 - Saber cuáles de las expectativas que un individuo tenía cuando pensó en la jubilación, se realizaron La autora realizó un estudio en personas reformadas hace más de 6 meses, de ambos sexos, que recurrieron por diversos motivos a una consulta de Medicina Familiar (N = 82) Para ello se elaboró una pequeña encuesta de preguntas abiertas El 50% de los encuestados poseía una licenciatura con la mayoría de los funcionarios públicos. El 77,1% de los encuestados no se arrepintió de haber tomado la decisión de reformar, sobre todo por ello, haber disminuido o acabado con estrés laboral, poder hacer actividades diferentes de las que estaba acostumbrado y estar haciendo algunas de las actividades que siempre soñó hacer . Muchos de los encuestados trataron de adaptar sus perspectivas de vida después de la reforma a los condicionantes socioeconómicos existentes, así como al surgimiento de enfermedades en el propio y en los familiares, o aplazando de forma positiva algunos de sus proyectos de vida, ya sea modificándolos y / o adaptándolos a la situación que estaban viviendo De las respuestas de los respondentes también resalta la voluntad de hacer algo que contribuya a una nueva imagen social del anciano en que éste aparece como una persona activa, capaz de contribuir de diversas formas para el desarrollo de una sociedad y el bienestar colectivo. Palabras clave: ancianos, jubilación, bien-estar
INTRODUÇÃO A opção pela aposentação é uma decisão complexa que envolve um constructo social conjugado por fatores estruturais, institucionais, organizacionais e individuais/ familiares que vão determinar o comportamento de um indivíduo que se reforma, quer no momento da aposentação quer mais tarde na sua vivência de aposentado. Estes fatores poderão ser divididos em três níveis: macro, meso e micro.
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A nível macro podemos citar entre outros a legislação nacional, políticas de aposentação, nomeadamente no que diz respeito ao estabelecimento da idade de reforma e sua flexibilização, políticas de pensões, tendências macroeconómicas e de mobilidade de recursos humanos. A nível meso podemos citar fatores específicos, relacionados com o local de trabalho e a organização empregadora (tipo, dimensão, estabilidade, clima organizacional, etc ) bem como a precariedade de emprego. A nível micro os fatores estão mais relacionados com o próprio indivíduo (género, estado de saúde, situação económica, grau de instrução, família (dimensão, saúde desta, relações entre os diversos membros familiares, etc) Assim a tomada de decisão de adiar a idade da reforma pode ter por base não o desejo do indivíduo, mas uma necessidade económica, afetiva, psicológica ou outra, havendo normalmente implícita, uma base multifatorial. Já a decisão de antecipar a reforma pode dever-se não só ao seu próprio estado de saúde, mas também a problemas de saúde de familiares, à reforma destes, a mau clima organizacional, incluindo mau relacionamento com chefias e/ou colegas de trabalho, e, à insegurança, entre outros factores. Frequentemente há uma conjugação de diversos factores pertencentes quer a nível macro, quer a meso, quer a micro, porém, raramente a pessoa pensa na totalidade dos anos que vai passar em estado de reforma e de que forma os espera viver. A tomada de consciência deste facto torna -se cada vez mais importante, pois à medida que a longevidade aumenta, há mais necessidade de planear uma fase da vida (em situação de reforma) que se tem vindo a prolongar no tempo. Atualmente, nos países desenvolvidos, uma pessoa pode viver cerca de um terço da sua vida em estado de reforma, não sendo este período uniforme, em termos biológicos, psicológicos e relacionais. A preparação da reforma e do tempo passado em situação de reforma, abrange assim, diversos períodos que, tal como a vida, vão exigir uma permanente adaptação. Esta adaptação deve ser, não só da responsabilidade do próprio indivíduo, mas também de toda a sociedade, devendo esta estar preparada para enfrentar uma proporção crescente de reformados que, em média, terão cerca de 30 anos ainda para viver. (Azeredo 2011) (França e Carneiro 2009) Segundo as Nações Unidas já em 2002 havia um reformado para cada 9 trabalhadores, perspetivando que em 2050 esta proporção seria de 1 reformado para 4 trabalhadores (ONU 2002) (ONU 2007)
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A CE, no relatório da Conferência Ministerial sobre Envelhecimento ( UNECE) realizada em Berlim em 2002 ( de 11 a 13 de Setembro) já recomendava a necessidade de serem feitos esforços para aumentar a oportunidade de pessoas idosas permanecerem no mercado de trabalho, sugerindo entre outras medidas horários flexíveis , transição gradual para a reforma e garantia de um real acesso a uma aprendizagem ao longo da vida, para colmatar deficientes e inadequadas habilidades que tornam os trabalhadores obsoletos, preparando-os para fazer face a uma sociedade do conhecimento e da era digital e a um mercado de trabalho com novas exigências. (ONU 2002) (ONU 2007) (UNECE 2017) Segundo a OCDE o Japão foi um dos países que mais cedo atingiu uma percentagem elevada de idosos, possuindo já em 2013 um quarto da população com 65 ou mais anos. Para fazer face a esta situação que já se vinha a delinear, o Japão adoptou medidas políticas em relação à idade da aposentação e às condições de aposentado que parecem estar a resultar. Assim, entre outras medidas, criou incentivos económicos para as pessoas que quisessem continuar economicamente ativas após a reforma, estabelecendo, em simultâneo, pensões de baixo rendimento. Estabeleceu, também, flexibilidade para a idade em que uma pessoa se pode reformar. Como consequência das medidas tomadas, em 2012, o Japão apresentava uma das mais altas taxas de emprego (60,7%) , só superada pela Islândia (70.2%) Nova Zelândia 73,9%), Suécia (73,1%), Noruega ( 70,9%) e Suíça (70,5%) Pelo facto de o Japão ainda ser um país em que tradicionalmente os cuidados são intrafamiliares, a taxa de emprego nas mulheres é mais baixa do que nos homens, devido à necessidade de aquelas cuidarem dos mais velhos. Tal como se afirmou anteriormente, a decisão em se reformar não depende unicamente do desejo do indivíduo e de fatores diretamente relacionados com ele, mas antes de um conjunto de fatores que se entrecruzam influenciando-se mutuamente (Loureiro, Pedreiro et al 2016) (Fonseca 2011) (Fonseca 2012) (López - Ramos, Navarro-Pardo 2017). Apesar da decisão de um indivíduo se reformar poder ser cuidadosamente estudada, podem surgir factores que podem causar desconforto e mau estar, quer no momento da aposentação, quer já no estado de aposentado, sobretudo quando influenciam o bem-estar do indivíduo
ou defraudam as
suas expectativas sobre como viver o seu tempo de reformado, obrigando-o a adiar por mais algum tempo , coisas que gostaria de fazer, mas que teve sempre que adiar. Esta última situação pode mesmo vir a desencadear doença. (Fonseca 2011) (Fonseca 2012) (López Ramos, Navarro-Pardo 2017)
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No bem-estar e qualidade de vida do indivíduo aposentado entram domínios de vida não relacionados com o trabalho e, que também podem influenciar a adaptação à situação de reformado (Fonseca 2011) (Fonseca 2012). Assim, a realização de desejos (que foram sempre adiados) de praticar atividades não relacionadas com a ocupação e/ou desejos de alcançar objetivos há muito planeados para serem executados na pós aposentação pode contribuir para uma boa adaptação, no entanto a personalidade individual e as relações familiares e/ou com a sua rede social, são fatores determinantes muito importantes. Objetivos 1 – Conhecer quais os principais motivos que presidiram à tomada de decisão das pessoas se aposentarem 2 – Saber quais das expectativas que um indivíduo tinha quando pensou na aposentação, se realizaram Finalidades 1 – Contribuir para a compreensão das razões que levam um indivíduo a se aposentarem 2 – Contribuir para o estabelecimento de um plano de acção educativo de preparação da aposentação Metodologia 1 – Tipo de estudo Trata-se de um estudo exploratório, em que foi diretamente aplicado um inquérito de perguntas abertas, elaborado para o efeito 2 - População A população estudada é constituída por uma amostra de conveniência, com pessoas de ambos os sexos, reformadas que recorreram a uma consulta de Medicina Familiar (N= 82) por vários motivos e acederam colaborar neste estudo, após serem devidamente informados dos objetivos e lhes ser garantida a confidencialidade. Estabeleceu-se como critérios de inclusão: estar reformado há pelo menos 6 meses; querer participar no estudo e possuir capacidades físicas e mentais para o fazer.
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A amostra foi constituída essencialmente por pessoas aposentadas da função pública, variando, no entanto o seu grau de instrução. 3 – Instrumento Foi elaborado um pequeno inquérito de perguntas abertas com espaço para respostas curtas que visava: dados demográficos (idade atual, idade da reforma, sexo, coabitação) e questões sobre: expetativas que tinham antes de se reformarem e até que ponto elas se vieram a concretizar, como ocuparam o tempo de reformados e motivo de reforma. Caso as expectativas se não tenham concretizado, quais foram os principais motivos para que tal não sucedesse. 4 – Procedimentos A todos os utentes reformados que recorreram a uma consulta de Medicina Familiar e aceitaram colaborar foi aplicado o inquérito de perguntas abertas acima descrito, até à obtenção da saturação de dados nas respostas. Com as respostas obtidas elaboraram-se categorias e subcategorias, baseadas numa primeira análise que depois foram reformuladas de acordo com uma análise de conteúdo mais em pormenor. Todos os respondentes foram informados sobre os objetivos pretendidos, tendo-lhes também, sido solicitado o respetivo consentimento. Não houve recusas, após lhes ter sido garantida a confidencialidade dos dados pessoais de forma ao utente não ser identificado. Análise e Discussão de Resultados Foram questionados 82 utentes de ambos os sexos, com idades compreendidas entre os 57 e os 89 anos. Media de idades dos respondentes: 69,4 anos. Entre os inquiridos predominou o género feminino (80,1%). Metade (50%) possuíam uma licenciatura tendo a maioria sido funcionários públicos. O tempo que mediou entre obterem a reforma e serem por nós inquiridos variou entre os 6 meses e os 31 anos, tendo a maioria (51,2%) entre 5 e 14 anos de reforma. A idade da reforma variou entre 45 e 70 anos, tendo a maioria (72%) obtido a reforma entre os 55-64 anos. Média de idade em que ocorreu a reforma: 59,4 anos.
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A maior parte dos inquiridos aproveitou a oportunidade proporcionada pelo então Governo para se reformarem mais cedo do que a idade estipulada por lei, embora conscientes de que a remuneração que viriam a auferir seria mais baixa do que a que tinham enquanto trabalhavam , planeando muitos deles, assegurar o vencimento da reforma e completá-lo trabalhando no mesmo tipo de ocupação ( mas no sector privado) ou noutra, o que em alguns casos não se veio a verificar, dada a conjuntura económica do País , à data. Na altura em que me reformei o dinheiro chegava para tudo. Agora é mais difícil… (E4, 58 anos) Na altura quis-me reformar porque pensava que podia dar explicações, mas só tive alunos durante algum tempo (E21, 68 anos) O problema foi começarem a tirar-nos dinheiro na reforma, não chegando hoje para passear (E21, 68 anos) Foi entre os Profissionais de Saúde (Médicos e Enfermeiros) e Professores que a continuidade ocupacional mais ocorreu. Os motivos que estiveram na base da decisão em se reformarem foram sobretudo de nível macro ( legislação, instabilidade criada por políticas económicas restritivas de bem-estar e incertezas quanto ao futuro próximo) e, de nível meso, isto é, relacionados com mal estar ocupacional devido sobretudo a clima organizacional ( com crise de autoridade, mau relacionamento com chefias e/ou colegas de trabalho/ utentes, pressão para a produtividade, em que também eram exigidas mais horas de trabalho, com remuneração igual e, a perspectiva eminente de mobilidade não desejada, entre outros). A crise de autoridade e de respeito por hierarquias foi sobretudo referida pelos Professores como fatores stressantes que causavam mal-estar na Instituição e no próprio exercício da profissão Não me arrependi, pois, estava farta de desorganização e da confusão (E1, 58 anos) Não me arrependi, pois, estava farta de alunos mal-educados (E3, 60 anos) Estava farta de aturar miúdos (Professora). Agora dedico-me a cuidar das minhas propriedades e das da minha mãe que tem 98 anos (E5, 68 anos) Reformei-me aos 55 anos pois estava a haver muitas mudanças nos serviços… (E 18, 71 anos) Estava cansado de andar como saltimbanco e não ter horas para comer…. (E33, 63 anos)
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A nível micro, foram apresentados como motivos para pedir a reforma sobretudo o estado de saúde e a idade do inquirido, situações familiares (tomar conta dos netos e de ascendentes e/ou doença familiar) e a pouca capacidade/ disponibilidade e motivação para aprender a trabalhar com novas tecnologias Tinha muitas dores nas costas e nos braços por estar todo o dia ao computador (E1, 57 anos) Tinha muito stress o que, com a minha doença me obrigava a meter muitos atestados (E6, 62 anos) Fui reformada por doença pois diagnosticaram-me um meningioma que me afectava a visão. Agora estou bem (E20, 85 anos) Desde que vieram os computadores eu no serviço já não fazia quase nada. Como já tinha 36 anos de serviço, não me chamavam para formações sobre design em computadores… (E 46; 75 anos) Dos inquiridos, 77,1 % não estão arrependidos de terem tomado a decisão de se reformarem, sobretudo por com esta, terem diminuído ou acabado com stress laboral, poderem fazer atividades diferentes das que estavam habituados e estarem a fazer algumas das atividades que sempre sonharam fazer. Entre os indivíduos que tomaram a decisão de se reformar, isto, é, aqueles cuja aposentação não lhes foi imposta quer por limite de idade, quer por doença, a maior parte vai fazendo o que planeou fazer, embora um pouco condicionados pela então crise económica que o país atravessava e que se fez também sentir no cidadão reformado não só pela diminuição da remuneração, mas também pelo desemprego ou doença de familiares (conjugues e descendentes). Assim, constatou-se que alguns dos grandes constrangimentos ao planeado, estavam relacionados com: não poder fazer passeios/ viagens ambicionadas e restrições na frequência de ginásios e outras atividades de lazer. Muitos dos inquiridos procuraram adaptar as suas perspetivas de vida pós-reforma aos condicionantes socioeconómicos existentes, bem como ao surgimento de doenças no próprio e em familiares, quer adiando de forma positiva alguns dos seus projetos de vida, quer modificando-os e/ou adaptando-os à situação que estavam a vivenciar
Conclusões A maior parte dos inquiridos reforma-se por sua própria decisão, o que contribuiu para uma melhor adaptação à situação de aposentado.
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Na base da decisão de se reformar estiveram fatores de nível macro e meso e, em menor importância, os de nível micro. No bem-estar do indivíduo em situação de reforma teve particular relevo a construção de projetos de vida, ocupações em que exerciam a sua atividade, e a necessidade sentida de combater o declínio cognitivo e físico que eventualmente pudesse resultar de uma inatividade. A necessidade de ajudar familiares que se encontravam em situação económica difícil também ajudou a combater a inatividade (Camarneiro e Loureiro 2014) (Figueira , Haddad et al 2017) Das respostas dos respondentes também ressalta a vontade de fazer algo que contribua para uma nova imagem social do idoso em que este aparece como uma pessoa ativa, capaz de contribuir de diversas formas para o desenvolvimento de uma sociedade e o bem-estar coletivo. Com efeito, ao manter-se ativo e com capacidade de adaptação já está a contribuir para o bem-estar social, porém através deste estudo, captamos que o idoso reformado quer fazer mais, contribuindo para o desenvolvimento socioeconómico global, quer indiretamente (tomando conta dos netos/ sobrinhos-netos e ajudando outros familiares, diminuído assim eventuais absentismo ao trabalho) quer diretamente, como produtores económicos através de diversas atividades, e continuando também a pagar impostos. É pois necessário que uma nova cultura para a ancianidade acompanhe estas mudanças, se queremos uma sociedade sustentável e baseada numa aprendizagem ao longo da vida ( Camarneiro e Loureiro 2014) Como afirma Khoury et al. (2010) é preciso ter plasticidade comportamental, selecionar metas adequadas à idade e níveis de investimento que conduzam à otimização dos resultados. Estas considerações impõem também a necessidade de a sociedade prover espaços públicos e gratuitos de convivência e atividades para aqueles que tanto já contribuíram para o seu engrandecimento ( Khoury e Ferreira 2010 ) Referências Bibliográficas Azeredo Z (2011) - O Idoso como um todo Viseu Psicosoma Camarneiro AP; Loureiro H ( 2014) - Precipitantes e expectativas da passagem à reforma na perspectiva de recém-aposentados portugueses International Journal of Developmental and Educational Psychology ,INFAD Revista de Psicología, 1(2) 39-46 ISSN: 0214-9877
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