Saraiva, S. (2013) Alzheimer's Disease, better known for better intervene . Journal of Aging & Inovation, 2 (3): 16-25
REVISÃO NARRATIVA / NARRATIVE REVIEW
JULHO, 2013
DOENÇA DE ALZHEIMER, CONHECER MELHOR PARA MELHOR INTERVIR ALZHEIMER’S DISEASE, BETTER KNOWN FOR BETTER INTERVENE ENFERMEDAD DE ALZHEIMER, MÁS CONOCIDO POR INTERVENIR MEJOR
Autora
Simone Saraiva1 1
Enfermeira, Pós-Graduada em Gestão de Feridas Crónicas, Pós-Graduada em Cuidados Paliativos,
Lar Monterey - Lisboa Corresponding Author: simone_raquel@hotmail.com
RESUMO A doença de Alzheimer é uma doença degenerativa atualmente incurável mas que possui tratamento. O tratamento permite melhorar a saúde, atrasar o declínio cognitivo, tratar os sintomas, controlar as alterações de comportamento e proporcionar conforto e qualidade de vida à pessoa que a possui e sua família. Objetivo: Com este trabalho, pretende-se, sobretudo, conhecer melhor esta doença e tudo o que nela está implícito. Este conhecimento vai levar também a criar intervenções de enfermagem mais apropriadas a este tipo de doentes. Metodologia: Para a elaboração deste trabalho os recursos utilizados foram a consulta bibliográfica relacionada com o tema em estudo e à consulta webliográfica recorrendo à pesquisa eletrónica no motor de busca Google. Conclusão: Com a informação recolhida sobre a Doença de Alzheimer, foram elaboradas intervenções de enfermagem ao individuo que apresenta esta, tendo por base a mais recente evidência científica. PALAVRAS-CHAVE: Doença de Alzheimer, Diagnóstico, Tratamento, Intervenções de Enfermagem Abstract Alzheimer's disease is a degenerative disease currently incurable but who has treatment. The treatment allows improving health, delaying the cognitive decline, treating the symptoms, controlling changes of behavior and provide comfort and quality of life the person that owns it and his family. Objective: With this work, it is, above all, know this disease better and everything in it is implicit. This knowledge will also lead to create nursing interventions most appropriate to this type of patients. Methodology: For the elaboration of this work the resources used were the bibliographic consultation related to the topic under study and consultation webliografica using electronic searches in the search engine Google. Conclusion: With the information gathered on the Alzheimer's Disease, were drawn up nursing interventions to individual who presents this, based on the most recent scientific evidence. KEYWORDS: Alzheimer's Disease, Diagnosis, Treatment, Nursing Interventions
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Introdução
não só físicos, como a dor, mas também dos psicossociais e espirituais.
O aumento da esperança média de vida e o
Apesar de atualmente, a maioria da população
acréscimo das doenças crónicas progressivas e
pensar que os cuidados paliativos são só para
incuráveis na população adulta e idosa, aliados
os doentes oncológicos, em fase terminal, já se
à busca incessante da melhoria da qualidade de
começa a mudar esse pensamento tão restritivo
vida, estão intimamente relacionados com o
e segundo António Barbosa e Isabel Galriça
progresso dos cuidados de saúde. Um dos
Neto (2010, p. 247)3, “os cuidados paliativos
problemas de saúde atuais é as demências,
devem, pois, ser oferecidos com base num
como a doença de Alzheimer, que representam
conjunto de necessidades e não com base nos
um grande custo económico para as intuições
diagnósticos. É preciso garantir a justiça e a
de saúde e são causa de sofrimento e
equidade no acesso aos cuidados de saúde,
diminuição da qualidade de vida para as
nomeadamente paliativos, para este numeroso
pessoas que as possuem, como também para
grupo de doentes incuráveis, dentre os quais
as suas respetivas famílias. Para além destes
queremos destacar os doentes com demência
problemas, o facto de estes doentes serem
avançada”. Isto leva a que a dicotomia entre
tratados como os doentes agudos, leva a que as
cuidados curativos e cuidados paliativos esteja a
intervenções por parte dos profissionais de
esbater-se pois, o ideal é existirem ações
saúde não sejam as mais corretas e por vezes
paliativas nos doentes agudos que
exista mesmo obstinação terapêutica. Estas
posteriormente necessitaram de cuidados
situações levam-nos a pensar que, na área da
paliativos, como os doentes com alzheimer e
saúde, deve existir outro tipo de intervenções
ações curativas nos doentes paliativos, como
terapêuticas, o que nos remete para os
por exemplo uma cirurgia ortopédica por fratura
cuidados ao individuo conforme as suas
do colo do fémur, num doente oncológico. Ou
necessidades, aceitando a sua incurabilidade,
seja existir o modelo integrado em vez do
ou seja, as intervenções realizadas à pessoa
modelo separado que é o modelo que ainda
com doença devem ser paliativas.
persiste na maioria das nossas instituições.
Isto remete-nos para a prestação de cuidados
A doença de Alzheimer é uma demência.
paliativos que, segundo a Organização Mundial
Segundo Letícia Lessa Mansur et al (2005, p.
de Saúde (2002), citado pela Associação
300)6 pelos critérios do DSM IV (APA, 1994),
Nacional de Cuidados Paliativos (2006, p. 2, 3)1
considera-se dementes os indivíduos que
são uma abordagem que visa melhorar a
evidenciam deterioração cognitiva
qualidade de vida dos doentes que enfrentam
particularmente da memória, a qual afeta as
problemas decorrentes de uma doença
atividades da vida cotidiana. A DA se insere
incurável com prognóstico limitado, e/ou doença
entre os quadros progressivos irreversíveis, cujo
grave (que ameaça a vida), e suas famílias,
declínio cognitivo tem bases estruturais, com
através da prevenção e alívio do sofrimento,
tempo de evolução variável, sendo a sobrevida,
com recurso à identificação precoce, avaliação
em média, de 8 anos após o início dos
adequada tratamento rigoroso dos problemas
sintomas.
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Já António Barbosa e Isabel Galriça Neto (2010,
incontinência e infecções de repetição
p. 248)3 dizem que a demência pode definir-se
(respiratórias, urinárias e/ou de feridas).
como uma síndrome de instalação progressiva
Nos doentes com demência avançada, como
em que ocorre deterioração cognitiva e
perdem a capacidade de se expressarem bem
intelectual, que depois persiste, acompanhada
verbalmente, a avaliação do sofrimento e o
por um progressivo declínio funcional e da
controlo de sintomas estão dificultadas, contudo
autonomia da pessoa doente, com implicações
António Barbosa e Isabel Galriça Neto (2010, p.
claras na sua sobrevida, já que eventualmente
250)3 afirmam que os sintomas mais frequentes
virá a falecer devido a essa mesma patologia ou
serão as alterações comportamentais, a dor
às limitações que a mesma determina
abdominal (atenção à obstipação, à retenção
(imobilismo, alterações da deglutição e
urinária e aos fecalomas), as dificuldades na
infecções associadas). Este quadro demencial
alimentação, a febre e as infecções, e a
tem na sua origem diferentes etiologias
retenção de secreções respiratórias, também o
possíveis, sendo a demência de Alzheimer
delirium e a agitação, assim como o apoio aos
responsável pela maioria dos casos, …em cada
prestadores de cuidados merecem destaque
10 doentes com demência, 6 terão a doença de
nas intervenções terapêuticas.
alzheimer … no entanto há uma pequena
Por tanto, uma boa avaliação prognóstica é
percentagem de doentes que pode apresentar
fundamental para se fazer corretamente os
demência de múltiplas causas.
diagnósticos de intervenção no doente e
A fase evolutiva e prognóstico no caso da
consequentemente as intervenções mais
demência de Alzheimer, segundo António
adequadas a utilizar.
Barbosa e Isabel Galriça Neto (2010, p. 250)3, de acordo com a escala Fast proposta por Reisberg para avaliação e estadiamento
Doença de Alzheimer
funcional, existem 7 estadios, …O estadio 5
A doença de Alzheimer é uma doença
corresponde a doença moderada (o doente
degenerativa que, lenta e progressivamente,
requer assistência nas tarefas complicadas,
destrói as células cerebrais. Chama-se assim
como escolher a roupa adequada, e na higiene
porque foi Alois Alzheimer, um médico
pessoal), o 6 o de doença moderadamente
psiquiatra, e neuropatologista, alemão, quem
severa (para além do anterior, surgem
em 1906 descreveu pela primeira vez os
problemas de incontinência urinária e/ou fecal) e
sintomas e as características neuropatológicas
no 7, doença severa, ocorre redução acentuada
da doença de Alzheimer, tais como placas e
do vocabulário que se limita a meia dúzia de
tranças neurofibrilhares no cérebro. A doença
palavras inteligíveis ao longo do dia, perda
afecta a memória e o funcionamento mental (por
mímica facial, incapacidade de andar e perda de
exemplo o pensamento e a fala, etc), mas pode
equilíbrio da cabeça. A fase avançada da
igualmente levar a outros problemas, tais como
doença caracteriza-se claramente por
confusão, alterações de humor e desorientação
problemas de mobilidade, dificuldade na
no tempo e no espaço2.
alimentação (disfagia ou recusa alimentar), JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
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Nesta doença a perda de memória e de
aumento está a ser exponencial, sobretudo nos
faculdades intelectuais é ligeira no início, sendo
países de baixo e médio desenvolvimento.
mesmo impercetível por parte do indivíduo e dos
O diagnóstico desta doença não é linear pois
familiares, contudo ao longo da sua progressão
não existe um teste especial para determinar se
vai-se tornando percetível de tal modo que
alguém tem doença de Alzheimer. O diagnóstico
começa a afetar as atividades de vida diárias do
é feito por um processo de exclusão, bem como
indivíduo o que leva a que este passe a ser
por uma observação cuidadosa do estado físico
dependente para estas mesmas atividades. Por
e mental da pessoa, mais do que por a doença
exemplo, uma mulher, quando se encontra
parecer ser evidente no momento2.
numa fase intermédia da doença, perde a
Há de facto três diagnósticos possíveis: doença
capacidade de controlo dos esfíncteres o que
de Alzheimer possível, provável ou certa. Um
leva à incontinência urinária e, tendo o
diagnóstico de possível doença de Alzheimer
autocuidado da higiene diminuído, leva a que
baseia-se na observação dos sintomas clínicos
esteja dependente de um cuidador para que
e na deterioração de duas ou mais funções
este autocuidado lhe seja prestado. Isto impede
cognitivas (por ex. a memória, a linguagem ou o
que outras doenças oportunistas se manifestem,
pensamento), sempre que uma segunda doença
como por exemplo a infecção urinária. Por tanto,
está presente, que não se considera ser a causa
a doença de Alzheimer é uma doença não
de demência, mas faz com que o diagnóstico de
infeciosa nem contagiosa mas sim uma doença
doença de Alzheimer seja menos certo. O
terminal que causa uma deterioração geral na
diagnóstico é classificado como provável, com
saúde do indivíduo que a possui2.
base nos critérios acima mencionados, na
Na doença de Alzheimer a causa mais comum
ausência de uma segunda doença. A única
de morte é a pneumonia, porque à medida que
maneira de confirmar com certeza o diagnóstico
a doença avança, o sistema imunitário vai
de doença de Alzheimer, é a identificação das
deteriorando com progressiva perda de peso, o
características placas e tranças no cérebro. Por
que aumenta o risco de infeções da garganta e
esta razão, o terceiro diagnóstico, o da doença
dos pulmões2.
de Alzheimer de certeza, só pode ser feito por
Esta doença no passado era considerada uma
biópsia cerebral ou depois de se ter efectuado
forma de demência pré-senil, contudo na
uma autópsia2.
atualidade sabe-se que esta doença afeta
O diagnóstico precoce, por tudo o que foi acima
também pessoas com idade inferior a 65 anos e
referido acerca desta doença é importante para
é designada quer de demência pré-senil, quer
que a prestação dos cuidados prestados, à
d e d e m ê n c i a s e n i l d o t i p o A l z h e i m e r,
pessoa com a doença de Alzheimer, sejam os
dependendo da idade da pessoa que a possui.
mais adequados possível de modo a que a
A Organização Mundial de Saúde (OMS) diz-nos
qualidade de vida esteja garantida.
que a doença de Alzheimer deve ser
Nos cuidados de enfermagem, a promoção de
considerada uma prioridade mundial pois, ao
uma melhor qualidade de vida à pessoa tem um
longo dos anos e a nível mundial, o seu
especial relevo, e tem como objetivo ideal promover a recuperação da qualidade de vida
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da pessoa antes de requerer cuidados. No caso
doença de Alzheimer, promovendo acima de
dos cuidados paliativos como nem sempre é
tudo a qualidade de vida nos estadios em que a
possível atingir este patamar mas, é possível
pessoa se encontra perante a mesma doença.
proporcionar uma qualidade de vida baseada
É preciso não esquecer que este tipo de
nas necessidades apresentadas pelo doente.
doentes se encontra em todos os serviços de
Isto só é possível com a aquisição do
saúde e, por isso, há necessidade de que todos
conhecimento científico por parte dos
os profissionais de saúde estejam despertos
enfermeiros e restantes profissionais de saúde,
para tais necessidades e, de saber quais as
onde a prática baseada na evidência se torna
intervenções a realizar à pessoa com doença de
um ótimo recurso. Para além de melhorar a
Alzheimer para que a qualidade de vida seja
qualidade de vida das pessoas, a prática
proporcionada ao máximo nível de que esta
baseada na evidência implicará menos gastos
necessita.
económicos, fazendo com que os cuidados de
Então as necessidades da pessoa com doença
enfermagem passem a ser eficientes. Tal,
de Alzheimer deve ser uma prioridade com que
significa menos custos diretos e indiretos à
os enfermeiros se devem preocupar, quando
instituição e também ao próprio utente, família
tratam da pessoa com esta doença, a qualidade
do utente e todas as entidades intervenientes no
de vida e as suas necessidades devem ter a
processo de tratamento deste.
maior atenção por parte dos enfermeiros e de
Aqui, a investigação tem um papel fundamental
toda a equipa multidisciplinar.
para o constante desenvolvimento tecnológico e científico dos cuidados de enfermagem, promovendo a qualidade dos mesmos. Sobre
Intervenções de Enfermagem
isto, é importante referir que os enfermeiros
Como já foi referido, a doença de Alzheimer nas
contribuem no exercício da sua atividade para a
fases mais avançadas da doença tem indicação
área de gestão, investigação e formação com o
para cuidados paliativos pois, é uma doença
intuito de melhorar e evoluir a prestação dos
progressiva e incurável. Como tal, as
cuidados de enfermagem: os enfermeiros
intervenções de enfermagem centram-se não só
concebem, realizam, promovem e participam em
na comunicação, no trabalho da equipa
trabalhos de investigação que visem o
multidisciplinar e da pessoa e família, como
progresso da enfermagem, em particular, e da
também no controlo de sintomas.
saúde, em geral8.
O tratamento desta doença passa, não só pela
Para que tudo isto seja alcançado, subsiste
prevenção e tratamento desta, mas também
então a necessidade de haver um trabalho de
pelo tratamento dos sintomas proporcionando
pesquisa por parte dos profissionais de saúde
assim uma melhor qualidade de vida e indo de
em realizar estudos de caso, promovendo
encontro às necessidades que o doente vai
também a pesquisa científica pois, só assim irão
apresentando. Por isso, ir-se-á abordar as
alcançar a informação necessária para a
intervenções aos sintomas mais comuns da
prestação de cuidados de enfermagem
doença de Alzheimer.
centrados nas necessidades da pessoa com JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
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Existe evidência de que a dor é genericamente
secundários dos fármacos – ainda mais sendo
subavaliada e subtratada nestes doentes.
eles tratáveis – para não recorrer a um acertado
Deverão ser sempre valorizadas a linguagem
controlo sintomático da agitação, pilar central da
não verbal – postura, fácies -, as mudanças nas
promoção da dignidade e qualidade de vida
vocalizações, padrão respiratório, e as
destes doentes e seus familiares… Por outro
mudanças no padrão habitual de interacções
lado, não é demais sublinhar a necessidade de
interpessoais… Dentre as várias escalas de
o regime terapêutico contemplar medicação
avaliação da dor para não comunicantes,
pautada (“a horas certas”) e depois sempre com
queremos aqui destacar a escala DS-DAT
um SOS disponível3.
(Disconfort Scale for Dementia of Alzheime’s
No caso de agitação psicomotora convém
Type), proposta por Hurley e que avalia 9
sempre descartar a presença de dor não
categorias de comportamentos (da expressão
tratada, de fecalomas e/ou retenção urinária3.
facial, aos vocalizos, à tensão e linguagem
Os antipsicóticos neurolépticos, sobretudo os
corporal), cada uma de 0 a 4, sendo as
atípicos (risperidona, olanzapina, clozapina…),
pontuações totais mais baixas as relacionadas
desprovidos de efeitos extra-piramidais, são a
com maior conforto… Os princípios
base para o tratamento correcto destes
preconizados pela OMS e largamente difundidos
sintomas perturbadores, e devem ser
para o tratamento da dor crónica – “tratamento
progressivamente titulados3.
pela escala analgésica, pela boca e pelo relógio,
Nestes doentes é inevitável que surjam
em função da intensidade da dor” – aplicam-se
problemas alimentares, associados à dificuldade
também a estes doentes. A utilização de
de deglutição (para sólidos e líquidos) e à
opióides não deve ser negligenciada, no caso
recusa alimentar. Convém insistir em medidas
de se tratar de dor moderada a severa,
não invasivas, como o alimentar o doente lenta
considerando que estes doentes já têm
e pacientemente à mão, em quantidades bem
normalmente tendência, pelo imobilismo, a
menores que as habituais, mas suficientes para
desenvolver obstipação, pelo que a introdução
as suas necessidade reduzidas, recorrer aos
de laxantes pode ser imprescindível. No caso do
pequenos snacks, aos espessantes para
doente não deglutir, preconiza-se o recurso a
líquidos e às gelatinas… A alimentação por
vias de administração alternativas à via oral,
sonda nunca deverá ser vista como substituta
como a subcutânea e a transdérmica3.
da alimentação oral, mesmo e, sobretudo,
Importa sublinhar que a dor não tratada é muitas
quando esta se torna uma tarefa muito
vezes o factor que está na base de alterações
demorada que exige muita paciência3.
do comportamento e de agitação3.
A evidência existente demonstrada claramente
A existência de demência torna os indivíduos
que a alimentação por sonda, longe trazer bem-
mais susceptíveis à ocorrência de delirium, bem
estar para o doente, aumenta a mortalidade e
como à ocorrência de efeitos secundários de
não traz outros benefícios esperados, como, por
vários fármacos (anticolinérgicos, opióides,
exemplo a prevenção da aspiração de
neurolépticos, por exemplo). Não se devem usar
secreções, a diminuição das infecções
doses subterapêuticas ou invocar os efeitos JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
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respiratórias ou a cicatrização de úlceras de
éticos, apesar de ser uma medida invasiva. Esta
pressão3.
será justificada se os benefícios ultrapassarem
Os mesmos autores referem que nas fases mais
os malefícios e deverá ter sempre em conta a
iniciais das demências a colocação da
origem das infeções e a irreversibilidade dos
gastrostomia percutânea (PEG) é preferível à
fatores que as predispõem, assim como a
sonda nasogástrica (SNG) por ser menos
ausência de melhorias significativas para o
invasiva, mas este procedimento deve ser
conforto do doente.
afastado, nas fases mais avançadas, por risco
Como a doente apresentou infeções de variadas
de arritmias fatais e morte peri-operatória3.
origens, nos dois episódios de internamento, a
No caso de o doente manifestar diminuição de
utilização de antibioterapia foi essencial para
apetite, deve-se descartar algumas causas
que a qualidade de vida e conforto lhe fossem
reversíveis como a obstipação, alterações das
proporcionados.
preferências alimentares, má higiene oral (a sua
Já a hipotermia ocorre quando a temperatura
ausência provoca desconforto e o não prazer no
normal do corpo, que é 37ºC. desce para menos
saborear dos alimentos) ou dor não tratada3.
de 35ºC (95ºF). A hipotermia é normalmente
Nos doentes com demência terminal existem
causada pela longa permanência num ambiente
vários factores que dispõem a ocorrência de
frio. A hipotermia é muitas vezes desencadeada
febre e de infecções associadas: o imobilismo e
pela exposição prolongada à chuva, ao vento, à
as alterações da integridade cutânea
neve ou a imersão em água fria5.
associadas, à incontinência, à diminuição das
Durante uma exposição prolongada ao frio, o
defesas imunitárias e as dificuldades de
mecanismo de defesa do organismo tenta evitar
deglutição. As infecções respiratórias, urinárias
a continuação da perda de calor. A pessoa
e de feridas são as que nestes doentes se
começa a tremer para tentar manter os órgãos
verificam com maior frequência3.
principais a uma temperatura normal. O fluxo
Define-se “tratamento da pneumonia com intuito
sanguíneo para a pele é restringido e são
curatico “ e “tratamento paliativo”: o primeiro diz
libertadas hormonas para produção de calor5.
respeito a um tratamento que tem a cura de
Sem tratamento, as pessoas que tenham
infecção como objectivo primário (o que se torna
hipotermia podem ficar bastante mal de repente,
cada vez mais o tópico com a reincidência das
perder os sentidos e morrer.
infecções), e no segundo a cura não é só
Se estiver no exterior, tente abrigar-se e
objectivo mas sim o tratamento dos sintomas
proteger-se do ambiente. Tire a roupa molhada
resultantes da pneumonia, pelo desconforto que
e cubra os pés e as mãos para evitar mais
possam causar. Neste último caso, os
perda de calor.
antibióticos também poderão ser utilizados,
Para proteger os órgãos principais do
preferencialmente em concomitância com
organismo, aqueça primeiro o centro do corpo.
medidas como a oxigenoterapira, os
Utilize um saco cama, um cobertor de
antipiréticos e os opióides3.
emergência, contacto pele com pele ou
A antibioterapia em cuidados paliativos deve ser
camadas secas de cobertores, roupa, toalhas ou
ponderada segundo os vários aspetos clínicos e
lençóis5.
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Na insuficiência cardíaca principal causa é a
hemodiálise (tratamento realizado pelo filtro de
isquemia cardíaca ou o enfarte do miocárdio.
uma máquina ao sangue 3 vezes por semana
Enfarte significa morte tecidual, que no caso do
no hospital), diálise peritoneal (tratamento feito
coração se refere a parte do músculo cardíaco.
em casa diariamente por uma máquina através
Logo, quanto mais extenso for o enfarte, mais
de um cateter colocado no abdómen) ou
músculo morrerá, consequentemente, mais
transplante do rim11.
fraco fica o coração. Se o infarto necrosar uma
Hemodiálise na maioria das vezes representa
grande área, o paciente morre por falência da
uma esperança de vida, já que a doença é um
bomba cardíaca10.
processo irreversível. Contudo, observa-se que
O tratamento é feito com restrição de sal
geralmente as dificuldades de adesão ao
e água, diuréticos, anti-hipertensivos (…
tratamento estão relacionadas à não aceitação
Captopril, Enalapril, Losartan, etc.) e
da doença, à percepção de si próprio e ao
medicamentos que aumentam a força cardíaca
relacionamento interpessoal com familiares e ao
como a digoxina. Os obesos devem emagrecer,
convívio social9.
os fumadores têm que largar o cigarro, álcool
O enfermeiro como coordenador da equipe deve
deve ser evitado e exercícios supervisionados
coordenar a assistência prestada, identificando
para reabilitação cardíaca são indicados. A
as necessidades individuais de cada cliente,
pressão arterial deve ser controlada com
proporcionando meios de atendimento que
rigor10.
visem uma melhor adequação do tratamento,
A fibrilhação auricular é a disritmia auricular
garantindo assim uma qualidade de vida melhor,
mais rápida. É criada, e mantida, por um ou
aproveitando todos os momentos para criar
mais focos ectópicos de disparo rápido. As
condições de mudanças quando necessário9.
aurículas despolarizam caoticamente a frequências de 350 a 600 pulsações/minutos…
Com este processo de análise e extração de
Entre os fármacos usados…contam-se o
evidência relevante, foi encontrada informação
diltiazem, a digoxina, e os beta-bloqueadores…
importante que suporta as intervenções do
Na fibrilhação auricular com resposta ventricular
enfermeiro ao doente com doença de Alzheimer.
lenta, pode ser necessária a atropina para
Como é referido no tratamento da infeção, por
aumentar a frequência cardíaca e o débito
vezes a utilização de antibioterapia não é um
cardíaco7.
tratamento agressivo face aos benefícios em
A insuficiência renal é a incapacidade parcial ou
contraste com os malefícios.
total do(s) rin(s) desempenhar(em) a(s) sua(s)
Assim com a evidência obtida, verifica-se que a
função(ões).
delineação das intervenções de enfermagem
A insuficiência renal pode ser classificada em
segundo as intervenções terapêuticas e
aguda ou crónica. Na aguda a insuficiência renal
paliativas são onde o papel do enfermeiro ganha
aparece em poucos dias e tem cura enquanto
destaque como elemento ativo na atualização
que na crónica a doença vai-se desenvolvendo
dos seus conhecimentos e prestação de
e quando é detectada já é irreversível. Na
cuidados. Desta forma é garantida a qualidade
segunda situação o doente tem que fazer JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
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de vida e conforto ao doente, sem esquecer a
Referências Bibliográficas
dignidade que se mantém intacta. 1.Associação Nacional de Cuidados Paliativos Conclusão
(2006). Organização de Serviços em Cuidados
Com o desenrolar deste trabalho foram
Paliativos. Recomendações da ANCP. p. 2, 3.
identificados vários aspetos a ter em conta na intervenção do enfermeiro, no que respeita às
2.Associação Portuguesa dos Familiares e
necessidades da pessoa com demência, neste
Amigos dos Doentes de Alzheimer (2006).
caso particular com doença de Alzheimer, de
Manual do Cuidador. Lisboa: Ponticor -
modo a maximizar a qualidade de vida, conforto,
Realizações Gráficas, Lda., p. 18, 21, 22.
dignidade e autonomia, conforme a fase da doença em que o doente se encontra. As
3.Barbosa, António & Neto, Isabel Galriça
intervenções identificadas incluem o uso de
(2010). Manual de Cuidados Paliativos. Lisboa:
antibioterapia, bem como outros aspetos
Faculdade de Medicina da Universidade de
relevantes, apesar de a doente já estar numa
Lisboa, p. 247, 248, 250, 251, 252, 253, 254,
das fases mais avançadas da doença, sendo já
255, 256.
uma doente para cuidados paliativos. Foi a partir da evidência cientifica existente e
4.Conselho Internacional de Enfermeiros (2006).
atual que foi recolhida a informação para a
Classificação Internacional para a Prática de
elaboração das intervenções no âmbito de
Enfermagem CIPE. Versão 1.0. Lisboa: Ordem
enfermagem para doente com doença de
dos Enfermeiros.
Alzheimer. A prática baseada na evidência, “tem sido
5.Hipotermia. (2008). Queen’s Printer and
descrita, como fazer bem as coisas certas” (Muir
Controller of HMSO, p. 1, 2.
Gray, 1997; citado por Craig & Smyth, 2004, p. 4)4, o que nos alerta para a importância de fazer
6.Mansur, Letícia Lessa, et al. (2005).
as coisas não só de uma forma eficaz, mas
Linguagem e Cognição
sempre com a melhor qualidade possível. Este
Alzheimer. Psicologia: Reflexão e Crítica, p. 300.
na Doença de
trabalho de prática, e muitos outros que tem vindo a ser feitos, vêm contribuir para este
7.Marek, Phipps & Sands (2003). Enfermagem
aspeto importante de procurar basear as nossas
Médico-Cirúrgica. Loures: Lusociência, p.759.
intervenções em evidência comprovada cientificamente, caminhando no sentido de uma
8.Ordem dos Enfermeiros (2003). Competências
prática com progressivamente mais qualidade.
do enfermeiro de cuidados gerais. Divulgar,
Tal permite uma abordagem mais segura e
artigo 9.º, n.º4, p. 7, 8.
eficaz deste desafio com melhores cuidados ao utente e de forma a maximizar a qualidade de
9. Souza, Emilia Ferreira, et al. (2007).
vida, o conforto e a promoção da dignidade do
Diagnósticos de enfermagem em pacientes
doente.
com tratamento hemodialítico utilizando o
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JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
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