Vieira, L. (2013) Adopt a Strategy in Care to the Elderly for the Promotion of Functional Capacity During Hospitalization. Journal of Aging & Inovation, 2 (2): 33-44
REVISÃO NARRATIVA / NARRATIVE REVIEW
ABRIL, 2013
ESTRATÉGIAS A ADOTAR NA PRESTAÇÃO DE CUIDADOS À PESSOA IDOSA PARA A PROMOÇÃO DA CAPACIDADE FUNCIONAL DURANTE A HOSPITALIZAÇÃO ADOPT A STRATEGY IN CARE TO THE ELDERLY FOR THE PROMOTION OF FUNCTIONAL CAPACITY DURING HOSPITALIZATION ADOPTAR UNA ESTRATEGIA EN LA ATENCIÓN A LAS PERSONAS MAYORES PARA EL FOMENTO DE LA CAPACIDAD FUNCIONAL EN HOSPITALIZACIÓN
Autores
Luís Filipe Lopes Vieira1 1
Enfermeiro Especialista em Enfermagem Médico-Cirúrgica - Área Específica: Pessoa
Idosa, MsC, Centro Hospitalar Lisboa Norte Corresponding author: luislvieira@gmail.com Resumo O envelhecimento da população conduz ao aumento da prevalência de doenças crónicas. Envelhecer é um processo inevitável que se traduz numa redução da capacidade orgânica e funcional não decorrente de acidente ou doença. O declínio funcional é geralmente associado a diversos fatores como a evolução natural da doença, a falta de apoio social, fatores comportamentais, a não adesão medicamentosa, dieta e estilos de vida. É necessária a avaliação da capacidade funcional logo na admissão e direcionar os cuidados não só para a doença mas também para a prevenção do declínio funcional. Torna-se essencial estar desperto para depressão geriátrica, para as alterações das atividades de vida, entre as quais os hábitos relacionados com a alimentação, os cuidados de reabilitação física, o envolvimento da família ou cuidador, e o planeamento atempado da alta. O Enfermeiro assume especial importância na promoção e implementação destes cuidados, sendo o profissional de saúde que mais tempo passa com a pessoa idosa, conhece as suas capacidades e a forma como as potenciar. Palavras-chave: Pessoa idosa; hospitalização; capacidade funcional
Abstract Population aging leads to increased prevalence of chronic diseases. Aging is an inevitable process that leads to a reduction in organic and functional capacity is not due to accident or illness. The functional decline is usually associated with several factors such as the natural evolution of the disease, lack of social support, behavioral factors, nonadherence with medication, diet and lifestyle It is necessary to assess functional capacity immediately upon admission and direct care, not only for disease but also for the prevention of functional decline. It is essential to be awake for geriatric depression, changes to life activities, including the habits related to nutrition, physical rehabilitation care, involvement of family or caregiver, planning and timely discharge. The nurse assumes special importance in the promotion and implementation of care, and the health care professional who spends more time with the elderly, know their capabilities and how the leverage.
Keywords: Elder, hospitalization, functional capacity
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O Idoso e a Funcionalidade
O enfermeiro tem um papel indispensável na reabilitação da pessoa idosa, no entanto tem
O envelhecimento traduz-se num risco
sido desvalorizado e permanece mal definido.
crescente de deficiência, o avançar da idade
Este deve tentar melhorar a mobilidade,
encontra-se associado à doença, à
promovendo a atividade motora e sensitiva,
incapacidade e à fragilidade. Isto significa que
compreender os sintomas sem significado do
as práticas devem concentrar-se no que a
ponto de vista da pessoa idosa. Ajudar a
pessoa idosa pode e realmente quer fazer, e
adaptar-se às alterações na função, incorporar
não em estereótipos pré definidos. Embora as
as perspetivas dos cuidadores e familiares na
mudanças na fisiologia façam parte do
adaptação às mudanças. Deve compreender e
envelhecimento, a evidência acumulada mostra
respeitar as estratégias já utilizadas pela pessoa
que muitos dos processos da doença podem ser
idosa, sugerir práticas para reduzir a tensão,
modificadas e minimizados através de
stress e ansiedade, incluindo terapias
intervenções educativas e preventivas.
complementares, se necessário e possível.
A metodologia utilizada para a elaboração deste
Fornecer apoio em todos os aspetos da tomada
artigo foi a revisão da literatura científica da
de decisão e sempre que necessário facilitar o
prática baseada na evidência, alicerçada em
acesso aos sistemas de apoio para a pessoa
bases de dados e organismos internacionais tais
idosa e todos os outros cuidadores e familiares.
como: Hartford Institute for Geriatric Nursing,
É importante estar desperto para as diferentes
National Institute on Aging, Nurses Improving
perspetivas culturais e necessidades.
Care for Healthsystem Eldres (NICHE), National
Torna-se essencial registar a história de vida
Guideline Clearinghouse™ (NGC), National
anterior e rotinas, realizar avaliações de saúde
Institute for Health and clinical Excellence (NHS)
mental, necessárias para uma compreensão da
e Ebscohost. No contexto de aprofundar
capacidade da pessoa idosa se adaptar e se
conhecimentos sobre o cuidar à pessoa idosa.
necessário fornecer uma série de atividades
A reabilitação tem de abraçar todas as atividades diárias da pessoa idosa e deve centrar-se em três aspetos principais: reforçar e manter a qualidade de vida; restabelecer a atividade física, psicológica e social, e reconhecer o seu potencial de saúde e prevenção da doença. Esta deve procurar maximizar o cumprimento dos papéis e independência no seu ambiente, dentro das limitações impostas pela patologia (THOMAS, V., [et al] 2009).
para diminuir o estado confusional, otimizando o funcionamento mental. Aumentar a autonomia é imprescindível para o estado cognitivo. Espiritualmente o enfermeiro deverá garantir que a pessoa é capaz de manter contacto com seu mundo social, facilitar a continuidade de todas as atividades religiosas e espirituais (THOMAS, V., [et al] 2009). A reabilitação é um processo permanente em que se trabalha com a família, a equipa de reabilitação e a sociedade para atingir o seu nível ótimo de funcionamento, com o objetivo de prevenir complicações secundárias, promovendo a máxima independência, a
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manutenção da dignidade e promoção da
oferecer apoio pessoal e experiência prática,
qualidade de vida.
para que a pessoa idosa siga o seu próprio percurso de vida. O envelhecimento humano
Deve promover-se a continuidade dos cuidados,
gera progressivas modificações morfológicas,
nomeadamente motivar o idoso para o auto
fisiológicas, bioquímicas e psicológicas que, se
cuidado, englobar a pessoa idosa na tomada de
associadas ao aparecimento de doenças
decisões, ensinar as habilidades que podem
crónicas e degenerativas, podem acelerar o
melhorar a sua qualidade de vida, manter uma
declínio funcional do indivíduo idoso. Essas
atividade física adequada evitando a
alterações comprometem a capacidade
deterioração, ouvir com vista a avaliar o sucesso
funcional do idoso a ponto de impedir o auto
dos cuidados e ser empático.
cuidado, tornando-o, muitas vezes,
O enfermeiro envolve-se em diferentes tipos de
completamente dependente (CARVALHO, G.,
funções quando trabalha com a pessoa idosos.
[et al] 2007).
As funções de apoio, incluem, prestar apoio psicossocial e emocional, ajudando no auxílio
As alterações do envelhecimento são
de transição da vida, realçando estilos de vida e
parcialmente responsáveis pelo aumento do
relacionamentos, facilitando a auto expressão e
risco de desenvolvimento de problemas de
a garantir a sensibilidade cultural. Funções
saúde na população idosa estando na base da
restaurativas, destinadas a potenciar a
diminuição da capacidade funcional. A
independência e a capacidade funcional,
sinalização de condições para uma avaliação
impedindo a sua deterioração e ou deficiência e
mais aprofundada permite ao enfermeiro
melhorar a qualidade de vida. Isto é feito através
implementar intervenções preventivas e
de um foco na reabilitação, que maximiza o
terapêuticas (FULMER, T, 1991; 2007).
potencial da pessoa idosa para a independência, incluindo a avaliação de
Nos EUA a Nurses Improving Care for Health
competências e realização de elementos
System Elders (NICHE) desenvolveu em 1990
essenciais do cuidado. As funções educativas
um de instrumento que designou “SPICES”.
envolvem o ensino do auto cuidado. A
O “SPICES” é um acrónimo para as síndromes
reabilitação tem como objetivo maximizar a
mais comuns de intervenção de enfermagem à
satisfação da pessoa idosa de forma equilibrada
pessoa idosa. É um instrumento eficiente e
atendendo às limitações impostas pela patologia
eficaz de obtenção de informações necessárias
e deficiência (THOMAS, V., [et al] 2009).
para evitar alterações de saúde e consequentemente declínio funcional. São
O processo de adaptação é importante, pois
medidas pró-activas centradas em seis pontos
geralmente a pessoa idosa que necessita de
comuns: S Sleep disorders, (problemas com o
reabilitação encontra-se numa grande crise de
sono); P Problems with eating and feeding,
identidade, ou estão em luto pela perda ou
(problemas com a alimentação e alimentar-se); I
interrupção de habilidades físicas, emocionais e
Incontinence (incontinência urinária e fecal); C
cognitivas. O papel do enfermeiro é ser parceiro,
Confusion (estado confusional); E Evidence of
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fall (perigo de quedas) e S Skin breakdown
MCKENZIE, D., [et al] 2004). É necessário
(integridade cutânea) (FULMER, T. 2007).
fornecer proteínas e calorias suficientes para assegurar a ingestão adequada. Deve-se incluir
A perturbação do sono é comum durante o
as preferências pessoais do idoso na dieta e
internamento hospitalar e mais comum ainda na
proporcionar à pessoa idosa aquando da alta o
pessoa idosa. O stress do internamento, o
apoio dos serviços da comunidade se
despertar para os cuidados de rotina, a dor, os
necessário (EDINGTON, J., [et al] 2004; GRAF,
efeitos dos medicamentos, as mudanças no
C. 2006).
ambiente e o ruído podem comprometer ainda mais o sono durante a hospitalização. Deve ser
A incontinência, quer vesical quer intestinal, na
feito um esforço para criar um bom ambiente
pessoa idosa hospitalizada, pode variar em
para o sono da pessoa idosa. As medidas
intensidade e resultar em delírio ou demência.
podem incluir a minimização da conversa nos
Pode ter origem na redução da atividade
corredores e na sala de enfermagem durante as
funcional por motivo de doença, nos
horas de sono e limitar as intervenções de
medicamentos que interferem com a capacidade
enfermagem durante este tempo, por exemplo,
de detetar a plenitude da bexiga ou nas
adiar medição da tensão arterial, se a pessoa
perturbações da marcha que resultam em
idosa está clinicamente estável (TRANMER, J.,
dificuldade para se deslocar à casa de banho. A
[et al] 2003).
incontinência urinária está associada à diminuição do bem-estar físico e ao aumento do
O padrão nutricional é importante na avaliação
tempo de internamento (ANPALAHAN, M. &
da pessoa idosa. Num estudo realizado nos
GIBSON, S., 2008).
EUA, 20% dos idosos foram hospitalizados por desnutrição. O baixo índice de massa corporal e
A confusão temporária ou mais prolongada,
a desnutrição têm sido repetidamente
afeta um número elevado de idosos
associados a maiores taxas de mortalidade na
hospitalizados. Um estudo realizado a nível
pessoa idosa. Estes problemas podem ser mais
hospitalar, mostrou que quase um terço das
evidentes em idosos emagrecidos ou incapazes
pessoas idosas com idade superior a 70 anos
de se alimentar (GUIGOZ, Y., [et al] 2002).
apresenta delírium nas primeiras 24 horas após
Existe também uma associação estreita entre a
a admissão. Comer, dormir, dosagens dos
dor mal controlada e a rejeição aos alimentos e,
medicamentos e horários, podem provocar
entre a fome e uma sensação física de bem-
desorientação da pessoa idosa num ambiente
estar. A capacidade de se alimentar é uma
estranho. Deve-se avaliar o estado confusional
atividade básica do dia-a-dia. A pessoa idosa
da pessoa idosa numa tentativa de impedir a
hospitalizada tem muitas vezes dificuldades de
sua ocorrência, e intervir precocemente para
ordem prática quando se alimentam: a mesa de
reverter e atenuar o receio do que esta condição
cabeceira está fora do alcance; os utensílios são
pode provocar (EDLUND, A., [et al] 2006).
difíceis de usar; a comida está fria ou são incapazes de se posicionar (ST-ARNAUDJOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
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É importante a identificam-se fatores de risco
Para maximizar a capacidade funcional e
por vezes associados a quedas da pessoa idosa
prevenir o seu declínio devem ser mantidas as
hospitalizada: a confusão; a instabilidade da
rotinas diárias do idoso, (ajuda a manter a
marcha; a incontinência ou frequência urinária; e
atividade física, cognitiva e social), incentivar a
a administração de medicação sedativa e
marcha, alargar ou flexibilizar o horário das
hipnóticos. É imprescindível identificar a pessoa
visitas, se possível incentivar a leitura do jornal.
idosa com história anterior de quedas e se
É também importante esclarecer a pessoa
necessário tomar medidas que visem a
idosa, familiares e cuidadores acerca da
prevenção ou a sua anulação. Se a pessoa
importância da promoção da independência e
idosa que não tem história de quedas cai no
alertá-los para as consequências do declínio
hospital, a avaliação e o tratamento devem-se
funcional, promovendo o ensino.
centrar na identificação de possíveis causas iatrogénicas (FONDA, D., [et al] 2006).
O declínio funcional pode ser é reversível se associado a doença aguda e, pode-se prevenir
A perda da integridade cutânea constitui
através de estratégias direcionadas para o
também uma das razões de perda da
exercício físico, (mantendo uma amplitude de
capacidade funcional. As úlceras de pele,
movimentos, flexibilidade e funcionalidade)
nomeadamente as úlceras de pressão podem
nutrição, controlo da dor e socialização
ser fatais na pessoa idosa. As úlceras na
(SIEGLER, E., [et al] 2002; TUCKER, D., [et al]
pessoa idosa imobilizada são provocadas por
2004; VASS, M., [et al] 2005).
diminuição da pressão arterial que provoca necrose tecidular. Os principais fatores de risco
É também importante diminuir o tempo de
são: a idade avançada; a imobilidade; a
repouso no leito, tendo em atenção as restrições
neuropatia, (que pode interferir com a deteção
físicas (sondas vesicais, nasogástricas, etc.), a
da dor); má nutrição, deficiência cognitiva,
medicação, especialmente medicamentos
(impedindo o auto cuidado, ou o
psicoativos, em doses geriátricas, avaliar e
reconhecimento de problemas), a fricção na
tratar a dor. Deve-se promover precocemente a
roupa da cama e a incontinência urinária
recuperação da função inicial, (se possível),
(resultando no aumento da humidade nas áreas
através de consulta precoce de medicina física e
de proeminências ósseas). Estas condições
reabilitação, nutrição e ensinos (KRESEVIC, D.,
fornecem quase de imediato necessidades de
[et al] 1998).
intervenção na pessoa idosa (FULMER, T. 2007).
O declínio funcional na pessoa idosa hospitalizada pode ter consequências
A avaliação pelo SPICES quando feita
devastadoras. É um resultado comum da
regularmente pode sinalizar necessidades e
cascata de dependência em que a pessoa idosa
contribuir para a prevenção e tratamento de
sofre as mudanças do envelhecimento, fazendo
doenças comuns (FULMER, T. 2007).
com que o repouso no leito ou imobilidade resulte em alterações fisiológicas irreversíveis,
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com maus resultados na alta. Horários de
forma um vinculo forte com a pessoa idosa
passeio de rotina, atividades de prevenção à
hospitalizada, melhorando situação de saúde e
privação sensorial e alta hospitalar oportuna
promovendo um envelhecimento bem sucedido.
estão entre as intervenções que podem ajudar a
Os cuidados de enfermagem à pessoa idosa
prevenir o declínio funcional (GRAF, C. 2006).
devem ter como finalidade manter e valorizar a autonomia. Para isso, é necessário avaliar o
O cuidador principal ou familiar da pessoa idosa
grau de dependência e instituir medidas
deverá ser orientado sobre as vantagens das
direcionadas para atingir o maior nível possível
estratégias de intervenção e ter conhecimento
de independência funcional e autonomia. É
sobre as causas do declínio funcional
essencial uma avaliação multidimensional da
relacionadas com as condições agudas e
pessoa idosa centrada problemas atuais ou
crónicas da patologia. Dever-se-á também,
potenciais e individualizados para cada idoso.
fomentar o ensino para abordar as necessidades de cuidados de prevenção de
É importante comunicar com a pessoa idosa,
quedas, lesões e complicações mais comuns
constituindo um papel de destaque e
proporcionando a curto prazo cuidados
confiabilidade, pois deverá romper as barreiras
especializados de fisioterapia e a longo prazo
impostas por limitações de fala, audição,
ajustar os cuidados necessários para prevenção
confusão mental e diferenças culturais
de quedas. No regresso ao domicílio torna-se
(CASTRO, M. & FIGUEIREDO, N., 2009).
necessário realizar as adaptações necessárias para manter a segurança e independência,
Torna-se necessário registar-se o estado
incluindo dispositivos de apoio e adaptações no
funcional recente ou o declínio progressivo
domicílio. A pessoa idosa, como parte integrante
devendo ser avaliado ao longo do tempo para
deste processo, deverá ser estimulada a
validar a sua evolução. Nesse sentido, o plano
alcançar a maior independência, o nível
de cuidados deverá ser atualizado e se
funcional possível e a melhor qualidade de vida.
necessário reajustado ao longo do
Os enfermeiros devem estar atentos à avaliação
internamento. A avaliação funcional inclui um
e identificação da pessoa idosa suscetível de
processo sistemático de identificação de
apresentar declínio funcional (KRESEVIC, D.,
habilidades físicas na pessoa idosa a precisar
[et al] 1998).
de ajuda. Os instrumentos de avaliação padronizados funcionais são utilizados como
A avaliação da capacidade funcional deve ser
uma linguagem comum para comunicar o
integrada nos cuidados, devendo esta ser
estado funcional entre os prestadores de
registada no processo de enfermagem, tal com
cuidados. A súbita mudança do estado funcional
as intervenções, metas e resultados esperados.
poderá indicar o início de uma doença aguda ou
Deve-se também promover estratégias de
exacerbação de uma doença crónica. Esta
prevenção e reparação da capacidade funcional.
avaliação funcional deve feita com base em
Atendendo a estes factos o enfermeiro tem um
escalas de avaliação da capacidade funcional
papel fundamental na qualidade de vida, pois
(CASSEL, C. 2004; KRESEVIC, D. 2008).
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Estas escalas devem ser eficientes, de fácil
longo prazo. É importante que a avaliação
interpretação e aplicação, com a finalidade de
abranja além da história e exame físico, a
proporcionar informações úteis e quantificáveis
análise da marcha, do equilíbrio e da
que devem ser englobados na história da
capacidade funcional, ou seja, a capacidade
pessoa idosa e incorporadas nas rotinas diárias,
para exercer as AVD’s (FREITAS, E., [et al
tendo como base as avaliações (GRAF, C.
2002).
2006).
A utilização de instrumentos de avaliação tem importantes implicações na qualidade de vida da
A introdução de um sistema de avaliação
pessoa idosa, uma vez que facilita ações
funcional baixa a incidência e prevalência de
preventivas, assistenciais e de reabilitação.
declínio funcional, contribuindo para a
Estas ações contribuem para um processo de
diminuição da morbilidade e da mortalidade
envelhecimento com maior esperança de vida
(KRESEVIC, D. 2008). Os métodos para a
saudável e uma tentativa de recuperação ou
avaliação funcional estruturada, consiste na
manutenção da capacidade funcional (ROSA, T.,
observação direta (testes de desempenho) e
[et al] 2003).
questionários, sistematizados por meio de
A escala da Avaliação Breve do Estado Mental
escalas que aferem os principais componentes
(MMS), elaborada por Folstein [et al] em 1975, é
da dimensão (PAIXÃO, C. & REICHENHEIM,
provavelmente dos testes mais utilizados
M., 2005).
mundialmente quando se pretende uma avaliação da função cognitiva ou rastrear
É também importante a comunicação
quadros demenciais. Pode ser usado
interdisciplinar sobre estado funcional,
isoladamente ou incorporado a instrumentos
alterações e expectativas de evolução,
mais amplos (LOURENÇO, R. & VERAS, R.
promovendo reuniões de equipa multidisciplinar,
2006). Permite avaliar o estado cognitivo em
incluindo a pessoa idosa e familiares, sempre
função da escolaridade da pessoa, tendo a
que possível (KRESEVIC, D., [et al] 1998).
vantagem de ser relativamente simples de
Recomenda-se uma abordagem de cuidados
realizar. Está validado para Portugal pelo Grupo
que vai além do registo da história clínica e os
de Estudos de Envelhecimento Cerebral e
sinais vitais para observar as mudanças na
Demência (MENDONÇA, A., [et al] 2008).
pessoa idosa mas sim o estado mental,
É importante a avaliação de presença de
funcional, nutricional e suporte social (AMELLA,
sintomatologia depressiva utilizando a Escala de
E. 2004).
Depressão Geriátrica (GDS-15). Os transtornos do humor são uma das patologias psiquiátricas
A avaliação geriátrica global é um sistema de
mais comuns na pessoa idosa, são
diagnóstico que aborda a área médica, funcional
responsáveis pela perda de autonomia e
e psicossocial. Tem como objetivo detetar
agravamento de quadros patológicos pré-
prematuramente potenciais deficiências, traçar
existentes. Em 1983, Yesavage e colaboradores
tratamentos terapêuticos adaptados e
desenvolveram e validaram um instrumento de
monitorizar a progressão do declínio funcional a
triagem para a depressão designado de Escala
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de Depressão Geriátrica (GDS). A depressão é
estudos internacionais nos mais diversos
o problema de saúde mental mais comum na
ambientes e está validado para Portugal.
terceira idade, no entanto por vezes associa-se,
A capacidade de marcha é um parâmetro a
de forma errada, que os sintomas depressivos
avaliar na capacidade funcional. Existem vários
fazem parte do envelhecimento (FERRARI, J. &
testes para a avaliação da marcha no entanto
DALACORTE, R., 2007). Está validada
podem tornar-se complicados e a sua avaliação
internacionalmente e amplamente utilizadas na
ser morosa. A observação direta de como um
avaliação geriátrica global e de domínio público,
individuo sai da cama, se senta numa cadeira,
auxiliando a determinar a necessidade de
fica de pé e caminha uma pequena distância de
tratamento (ADELMAN, D., [et al] 2003).
forma equilibrada, com ou sem ajuda é
O Índice de Barthel avalia o nível de
importante para obter uma avaliação segura.
independência da pessoa na realização de dez
O teste levanta e ande (get up and go) pode ser
atividades básicas de vida: alimentação; banho;
aplicado pelos enfermeiros para avaliar a forma
cuidados pessoais; vestir; transferências;
de marcha durante as atividades de vida diária
deslocação; subir e descer escadas; uso dos
na pessoa idosa (MEZEY, M., [et al] 2006).
sanitários; controlo da bexiga e controlo
Apresentado em 1986, tem como objetivo a
intestinal (MAHONEY, F. e BARTHEL, D., 1965).
avaliação do equilíbrio e marcha na pessoa
Encontra-se também validado para Portugal
idosa. Aproximadamente metades das quedas
(MELO, M. G. 2010).
que envolvem a pessoa idosa têm fatores
A Mini Avaliação Nutricional (MAN) é uma
extrínsecos, tais como pisos escorregadios ou
ferramenta de controlo e avaliação que pode ser
existência de tapetes junto do leito. O resultado
utilizada para identificar pessoas idosas com
da outra metade dos acidentes envolve fatores
risco de desnutrição. Consiste num questionário
intrínsecos tais como a fraqueza dos membros
de rápida realização. A prevalência da
inferiores, falta de equilíbrio, distúrbios da
desnutrição é ainda maior na pessoa idosa com
marcha, efeitos da medicação, baixa visão ou
deficiência cognitiva e está associada com o
doença aguda (MEZEY, M., [et al] 2006). Apesar
declínio cognitivo (FALLON, C. 2002). A pessoa
de não existir validação para Portugal é indicado
idosa desnutrida quando é hospitalizada tende a
para a pessoa idosa hospitalizada podendo
permanecer mais tempo internada, a apresentar
adaptar-se à população idosa portuguesa.
mais complicações e correr maior risco de morbilidade e mortalidade do que aqueles que
Na avaliação da capacidade funcional é também
se encontram num estado nutricional normal
importante a avaliação das atividades
(KAGANSKY, N., [et al] 2005).
Instrumentais de Vida Diária (KRESEVIC, D. 2008).
Foi desenvolvido pela Nestlé e por uma equipa
A Escala de Lawton e Brody (Escala de
de geriátras, sendo uma das poucas
Atividades Instrumentais de Vida Diária), foi
ferramentas de controlo validadas para a
desenvolvida por Lawton e Brody em 1969 para
pessoa idosa. Tem sido bem validada em
avaliar as AVD mais complexas, necessárias para viver na comunidade. Competência em
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habilidades, tais como compras, cozinhar e
instalação de quadros depressivos. Assim,
gestão de finanças é necessário para uma vida
torna-se prioritário a apreciação da depressão
independente. É uma escala bastante utilizada e
geriátrica. Este registo, em ambiente hospitalar,
pode ser realizada em 10 a 15 minutos. A escala
deverá ser realizado o mais precoce possível,
pode fornecer um sistema de alerta precoce de
permitindo a sua referenciação e
declínio funcional ou sinalizar a necessidade de
encaminhamento e direcionamento dos
uma avaliação mais aprofundada.
cuidados de enfermagem logo na admissão. É
Hospitalização, mobilidade reduzida e outros
importante também o controlo da dor
factores podem diminuir rapidamente a
persistente. A dor afeta de um modo global
capacidade de realizar atividades essenciais
todas as atividade de vida, com especial
para uma vida independente e, os efeitos
incidência a mobilidade, o sono e a alimentação.
podem ser permanentes (GRAF, C. 2008). Esta
Pode-se concluir também que é de especial
escala foi também validada para Portugal pelo
destaque a supervisão das refeições da pessoa
Grupo de Estudos de Envelhecimento Cerebral
idosa, se possível a personalização dos hábitos
e Demência, (MENDONÇA, A., [et al] 2008).
alimentares para manter um padrão alimentar adequado. É indispensável o início precoce de
CONCLUSÃO
reabilitação física para poder potenciar a capacidade de mobilização que a pessoa idosa
O envelhecimento faz parte natural do ciclo da
ainda possui.
vida. É, pois, desejável que seja vivido de forma saudável. O estado funcional na pessoa idosa é
A alta hospitalar deverá ser iniciada
um processo dinâmico, o que torna necessário
atempadamente e programada em equipa
ser avaliado em momentos diferentes para
multidisciplinar, com o reforço dos ensinos e
determinar a sua evolução. Assume especial
envolvendo a família/cuidador principal nos
relevância a avaliação inicial da pessoa idosa
cuidados. Os cuidados de enfermagem
quando da admissão em ambiente hospitalar.
geriátricos devem-se centrar na qualidade de
Esta avaliação é de grande importância no
vida da pessoa idosa, estimulando uma
planeamento e execução individualizada dos
capacidade funcional real e espectável, sem
cuidados de enfermagem.
falsas esperanças nem ilusões. O Enfermeiro como promotor dos cuidados de saúde e que
É fundamental uma avaliação geriátrica eficiente
mais tempo passa com a pessoa idosa, assume
e completa, incidindo na capacidade funcional.
um papel importante na manutenção e
O “SPICES” constitui um bom instrumento, pois
maximização da atividade funcional. Neste
permite detetar situações que, se corrigidas
sentido é primordial que esteja desperto para
atempadamente, contribuem para a sua
esta problemática, pois por vezes basta uma
manutenção ou pelo menos para a prevenção
avaliação inicial mais profunda ou uma
do seu declínio funcional. A solidão, a perda de
observação mais perspicaz para se intervir
papéis sociais, a sensação de inutilidade e a
precocemente sobre a pessoa idosa,
imobilidade são fatores que contribuem para a
promovendo cuidados de saúde mais
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individualizados e com a finalidade de
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