‘O buraco’, de Telmo Lanes, 2004
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EDITORIAL DEZEMBRO 2017 HTTPS://WWW.GOOGLE.PT/URL?SA=I&RCT=J&Q=&ESRC=S&SOURCE=IMAGES&CD=&CAD=RJA&UACT=8&VED=0C ACQJRXQFQOTCMPSZRJH_SGCFUVDFAODZWAETA&URL=HTTP%3A%2F%2FAVENTAR.EU%2FTAG%2FTERRAMOT Os nossos velhos O-DE-1755%2F&PSIG=AFQJCNE67GV92CL3814FQQPL35CWH8B_XQ&UST=1447000952827643 Andamos sempre na correria. E eu que abomino a perfeição HTTPS://WWW.GOOGLE.PT/URL?SA=I&RCT=J&Q=&ESRC=S&SOURCE=IMAGES&CD=&CAD=RJA&UACT=8&VED=0C AACQJRXQFQOTCMPSZRJH_SGCFUVDFAODZWAETA&URL=HTTP%3A%2F%2FAVENTAR.EU%2FTAG%2FTERRAMOT dona Maria já nem sorria, Para isto abro uma exceção: Empenhada em ganhar algum papel Tratem os velhos com o coração O-DE-1755%2F&PSIG=AFQJCNE67GV92CL3814FQQPL35CWH8B_XQ&UST=1447000952827643 2015 E tocos a granel. Que eles precisam de bem mais do que de2014 uma Dezembro
injeção… Finalmente, chegou à reforma! (Já nem falo em que idade Que daqui a pouco, septuagenários Terão de trabalhar), Mas agora mudou a forma Como passou a lidar Com o tempo, outrora escasso, Agora aos rios. E hoje há o cansaço, Já é escassa a longevidade. Passaram-se os anos: Morreram os manos, Vieram os netos e bisnetos… Mas agora a sociedade insiste em impor Que perdeu o prazo de validade, O que lhe causa tamanha dor, Quando, na realidade, Tudo tem valor. Até os insetos! Vê-lhe crescer uma ruga na cara, Um cabelo branco na cabeça E começa a diminuir a esperança De que volte a força, Essa coisa rara. Os peitos descaídos, Os malaquias caídos, A pela amachucada E o balanço da vida Passam subitamente a ocupar Um enormíssimo lugar. Apertar os sapatos é uma maratona, Na água, depressa vem à tona… Correr? Nem pensar, A minha artrose volta a atacar! Conquanto, há uma coisa que a sociedade Parece esquecer: É que a idade Não traz apenas Alzheimer. É evidente que ver é difícil, Lembrar-se não é fácil, Mas pensem por um momento Que velhice é conhecimento!
Fabienne Cardoso Universidade de Évora
Ramos,
Student,
Andrade, F. et al. (2017) Dor Oncológica: Manejo Clínico Realizado por Enfermeiros, Journal of Aging & Innovation, 6 (3): 3 - 12
ARTIGO ORIGINAL/ ORIGINAL ARTICLE
DEZEMBRO 2017
Dor Oncológica: Manejo Clínico Realizado por Enfermeiros Oncologic Pain: Clinical Management Performed by Nurses Dolor Oncológica: Gestión Clínica realizado por Enfermeras
Autores Fábia Andrade 1, Monique Silva 2, Elton Macêdo 3, Débora Brito 4, Alana Sousa 5, Glenda Agra 6 1
Acadêmica Curso de Graduação em Enfermagem, 2, 3, 4 Enfermeiro (a), 5 Enfermeira, Doutora em Enfermagem, 6 Enfermeira,
Doutoranda em Enfermagem Corresponding Author: g.agra@yahoo.com.br
RESUMO Objetivo: Investigar o manejo clínico da dor oncológica realizado por enfermeiros. Método: Pesquisa exploratória com abordagem qualitativa, realizada com 18 enfermeiros de um hospital filantrópico de Campina Grande–PB no período de novembro a dezembro de 2014, por meio de entrevistas, norteadas por um roteiro semiestruturado, analisadas à luz da técnica de Análise Temática. Resultados: Os enfermeiros não realizam a avaliação da dor utilizando métodos sistemáticos, no entanto conhecem as modalidades terapêuticas (farmacológicas, não farmacológicas, cirúrgicas e paliativas) executam as intervenções, de acordo com suas habilidades e competências técnicas, a fim de controlar esse sintoma, minimizando, assim, o sofrimento e proporcionando conforto. Conclusão: É imprescindível que o enfermeiro realize a consulta de enfermagem, utilizando métodos sistemáticos para avaliação da dor, elabore e execute um plano de cuidados, com vistas a proporcionar alívio efetivo da dor oncológica. Descritores: Manejo da dor, Oncologia, Tratamento, Enfermeiros. ABSTRACT Objective: To investigate the clinical management of cancer pain performed by nurses. Method: exploratory research with qualitative approach was carried out with 18 nurses of a philanthropic hospital in Campina Grande -PB from November to December 2014, through interviews, guided by a semi-structured, analyzed in the light of the thematic analysis technique. Results: The nurses do not realize the pain assessment using systematic methods, however know the therapeutic modalities (pharmacological, non-pharmacological, surgical and palliative) perform the operations, in accordance with their skills and expertise in order to control this symptom, thus minimizing the pain and providing comfort. Conclusion: It is essential that nurses perform nursing consultations using systematic methods for pain assessment, prepare and execute a plan of care, in order to provide effective relief of cancer pain. Key words: Pain management, Oncology, Treatment, Nurses . JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
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INTRODUÇÃO Câncer é o nome dado a um conjunto de mais de 100 doenças que têm em comum o crescimento desordenado de células, que invadem tecidos e órgãos (Brasil, 2016). Os sintomas e sinais podem estar relacionados ao tumor, ao tratamento e às complicações, dentre eles destacam-se: fadiga, náuseas, constipação, alteração cognitiva e dor, uma experiência ou sensação subjetiva emocional desagradável, associada a um dano tecidual real ou potencial (Brasil, 2012). De todos os sintomas descritos pelos pacientes oncológicos, a dor é o mais temido, constituindo o fator mais determinante de sofrimento relacionado à doença mesmo quando comparado à expectativa de morte (Rangel e Talles, 2012). No caso da dor oncológica, essa é relacionada ao processo de desenvolvimento do câncer no organismo, tem início e duração variáveis, pode ser contínua ou intermitente. No que se refere aos dados estatísticos de pacientes oncológicos com dor, 5 milhões de pessoas experimentam esse sintoma diariamente devido ao câncer; 25% morrem sob dor intensa; cerca de 4,3 milhões morrem a cada ano com controle inadequado; um terço dos pacientes em tratamento e dois terços com doença avançada referem apresentar dor e 5 a 10% dos pacientes referem dor independente de seu câncer ou do tratamento realizado. No entanto, é possível controlar a dor em cerca de 90% dos pacientes (Waterkemper e Reibnitz, 2010). No que se refere ao controle da dor, a maioria das equipes de saúde apresentam um déficit de conhecimento sobre avaliação e manejo clínico deste sintoma. Provavelmente, este fato esteja relacionado à ausência de educação permanente nos serviços, assim como a inabilidade em assistir ao paciente nas dimensões física, psíquica, social e espiritual ou até mesmo o desinteresse científico pela farmacocinética e farmacodinâmica dos medicamentos recomendados pela Organização Mundial de Saúde (OMS) (Waterkemper e Reibnitz, 2010). O controle efetivo da dor oncológica exige protocolos específicos e equipe multidisciplinar JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
devidamente treinada, embasada na filosofia dos cuidados paliativos, quando os pacientes não apresentam possibilidades terapêuticas de cura. Nesse contexto, vale ressaltar que os cuidados paliativos perfazem uma abordagem que aprimora a qualidade de vida dos pacientes e famílias que enfrentam problemas relacionados a doenças que ameaçam à vida, seja por meio da prevenção ou do alívio do sofrimento, possibilitados por identificação precoce, avaliação correta e tratamento da dor e outros problemas de ordem física, espiritual e psicossocial (Rangel e Talles, 2012). Nesse sentido, o enfermeiro como agente promotor de vínculo e conhecedor das especificidades que envolvem a experiência dolorosa do paciente em cuidados paliativos e respaldado legalmente mediante a Resolução de seu exercício profissional por meio da Lei nº 7.498/86, tem como atribuição privativa a prescrição de cuidados de enfermagem, que abrangem elaboração, execução e avaliação dos planos de cuidados de enfermagem (Cofen, 2012). Diante da problemática suscitada, emergiu o seguinte questionamento: Qual o manejo clínico realizado por enfermeiros frente à pessoa com dor oncológica? Nesse sentido, o objetivo deste estudo é investigar o manejo clínico da dor oncológica realizados por enfermeiros. MÉTODO Trata-se de uma pesquisa exploratória com abordagem qualitativa realizada em um hospital filantrópico do município de Campina Grande – Paraíba. Os critérios de inclusão utilizados para a coleta de dados foram: enfermeiros que atuassem diretamente no cuidado ao paciente oncológico e que tivessem, no mínimo, um ano de experiência profissional na área; e como critério de exclusão: enfermeiros que não se encontrassem em atividade laboral no serviço no período da coleta de dados (férias, licença maternidade, licença saúde, afastamento). Assim, participaram da pesquisa 18 profissionais. A coleta de dados foi realizada durante os meses de novembro e dezembro de 2014, em um local privado, de forma que não houvesse VOLUME 6. EDIÇÃO 3
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local privado, de forma que não houvesse interferência durante as entrevistas; o instrumento utilizado foi um roteiro semiestruturado, composto por dados de identificação dos participantes da pesquisa e perguntas subjetivas norteadas a atender aos objetivos do estudo. Após o convite para participar da pesquisa e concordância em fazer parte do estudo, assim como permissão para gravar as entrevistas, os participantes foram esclarecidos quanto aos objetivos do estudo. O sigilo e a desistência em qualquer momento da pesquisa foram garantidos, mediante a assinatura de um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Os critérios utilizados obedeceram à Resolução nº 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde que norteia pesquisas envolvendo seres humanos. Para que não houvesse identificação dos participantes, os discursos receberam códigos alfanuméricos (E1 ao E18), onde “E” significa “enfermeiro”, acrescido do número da entrevista. Assim, “E1” representa o primeiro enfermeiro entrevistado. Para análise dos dados, utilizou-se a técnica de Análise Temática considerada a mais apropriada para as investigações na área da saúde (Minayo, 2007). RESULTADOS E DISCUSSÃO Participaram desta pesquisa 18 enfermeiros, sendo 17 do sexo feminino e um do sexo masculino. A idade variou entre 25 e 42 anos. O tempo de formação profissional variou de um a 16 anos. O tempo de experiência na área de oncologia teve oscilação entre um e 10 anos. Quando indagados quanto à titulação, 15 dos enfermeiros referiram possuir especialização, um estava cursando pós-graduação lato sensu e os demais, referiram possuir apenas graduação. Categoria Temática I - Cuidando de pacientes com dor oncológica A dor é um sintoma abstrato e interpretado de forma única; quando relacionada à pacientes com doença oncológica avançada, em cuidados paliativos, é denominada “Dor
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total’’, cuja abrangência atinge as dimensões física, psíquica, social e espiritual. Nesta perspectiva, o enfermeiro é o membro da equipe de cuidados paliativos, que além de permanecer maior tempo junto ao paciente, é um dos profissionais que tem a competência legal de cuidar do paciente. Nesse sentido, o cuidar não se estabelece por ser um ato somente técnico, mas sobretudo um ato sensível junto à pessoa que sofre. Por este motivo, o enfermeiro precisa apresentar habilidade técnica e científica, munido de sensibilidade, de forma a garantir os segmentos avaliativos e terapêuticos que perfazem a Dor Total (Biasi, et al., 2011) Subcategoria I – Cuidado desgastante Os enfermeiros mencionaram que o cuidado com o paciente com doença oncológica é desgastante, doloroso e difícil de lidar, como pode-se observar nas falas abaixo: É desgastante tanto para o profissional quanto para o paciente, pois existe o estresse emocional de você saber que aquela pessoa está sofrendo. E1 É de cortar o coração! Tem casos que a medicação demora a fazer efeito e você é obrigada a ficar vendo o sofrimento deles. E2 É triste, [...] é doloroso! A gente tenta, mas dependendo do estágio da doença, é complicado tratar [...] tem pacientes que tem que sedar e mesmo assim não resolve. E3 Dói nele e mesmo eles não sabendo, dói na gente também. E7 A dor é o sintoma de maior prevalência entre os pacientes oncológicos e afeta a qualidade de vida do mesmo e do profissional de enfermagem envolvido no cuidado. Assim, o alívio desse sintoma é uma das prioridades do enfermeiro que trabalha com pacientes sem possibilidades terapêuticas de cura, uma vez que a Dor Total transcende a dor física (Waterkemper e Reibnitz, 2010, Mendes, et al., 2011).
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Nesse
sentido,
os
enfermeiros
mencionaram que cuidar de pacientes sem possibilidades de cura envolvia um desgaste emocional intenso, pois muitas vezes, eram obrigados a visualizar o sofrimento do cliente, haja vista que por se tratar de doença em estágio avançado, as medicações demoram a fazer o efeito desejado. Corroborando com a perspectiva de cuidado como competência requerida ao profissional de enfermagem, e estando o enfermeiro, muito próximo às particularidades do paciente, parece ser o membro da equipe multiprofissional que demanda cuidados técnicos específicos e que não rechaça o fator emocional presente no ato técnico. Este aspecto foi evidenciado nas falas presentes dos enfermeiros desta pesquisa, quando mencionaram que ao cuidar do paciente com dor, o sofrimento se estendia a eles. Nesta perspectiva, autores revelam que é a proximidade do enfermeiro com o paciente, desde o diagnóstico até a fase terminal da doença, mobiliza no profissional de enfermagem inúmeras percepções e sentimentos diante do paciente, tais como pesar, dor, sofrimento e angústia (Reis, et al., 2014). O sofrimento que aflige o enfermeiro parece estar relacionado ao fator empático envolvido na relação paciente-enfermeiro, uma vez que a empatia é um sentimento que reflete compaixão e solicitude com o paciente em situação de terminalidade. Subcategoria II – Cuidado humanizado, com conhecimento e responsabilidade O cuidado, por si só, é humano e se concretiza na atuação do enfermeiro pelo uso do conhecimento intuitivo e científico para intervir diante do sofrimento do outro. A assistência, nessa concepção, atende o ser humano na sua integralidade (Bueno, et al., 2012). Nessa concepção de cuidado, os enfermeiros referiram que o cuidado com
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pacientes com dor requer paciência, dedicação e humanização, como destacam as falas abaixo: É muito difícil, mas é preciso prestar uma assistência de qualidade e respeito à vida humana diante da imensidão de fragilidades de cada paciente. E5 Requer muito cuidado, paciência e dedicação [...] precisamos olhar pra ele como se fosse a pessoa que mais amamos nesse mundo. E7 A gente tem que cuidar se colocando no lugar deles, porque pode acontecer com qualquer um... E15 Confirmando os pilares do cuidado humanizado com o paciente com dor oncológica, os enfermeiros percebem que a sensibilidade, paciência, dedicação e respeito são aspectos essenciais da assistência paliativa. A reflexão acerca do papel do enfermeiro como um intermediador no processo de enfrentamento do paciente em sua nova condição de saúde conduz o profissional a repensar sua filosofia de trabalho às premissas que envolvem a humanização para auxiliar o paciente a lidar com dor (Romanek e Avelar, 2012) O cuidado vislumbrado sob uma perspectiva de terminalidade da vida exige do enfermeiro um olhar atento e cauteloso, uma relação de afetividade que se configura numa atitude de responsabilidade, atenção, preocupação e envolvimento, onde as ações são direcionadas às necessidades e limitações (Fernandes, et al., 2013). A dor e o sofrimento não são questões simplesmente técnicas, pois são aspectos que também precisam ser observados nas dimensões, psíquica, social e espiritual. Assim, é essencial para os enfermeiros, que o cuidado humanizado seja algo que transcenda uma assistência técnica, ou seja, que possa abranger atitudes de confiança, amor e compaixão, buscando aliviar o sofrimento da pessoa e lhe proporcionar dignidade (Freitas e Pereira, 2013, Bueno, et al., 2012). Nesse sentido, os relatos que emergiram à luz dos pressupostos do cuidado baseado no conhecimento científico para atitudes responsáveis foram: VOLUME 6. EDIÇÃO 3
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É um trabalho dedicado, pois eles se encontram debilitados e com várias queixas e as dores, na grande maioria, são crônicas e só tem alívio com analgésicos fortes. E4 É um cuidar que requer atenção [...] eles, geralmente, têm muitas queixas, a gente tenta aliviar as que estão causando mais desconforto, tem vezes que é necessário sedar. E10 Precisa ter um conhecimento científico bem vasto [...] para atender às necessidades prioritárias para a aliviá-lo. E12 É um trabalho que exige acima de tudo dedicação e responsabilidade para ofertar os cuidados certos e necessários, porque eles já estão sofrendo tanto[...] então, qualquer deslize pode causar um dano grave aquela pessoa que já está com tão pouco tempo de vida. E18 Os enfermeiros enfatizam que a assistência ao paciente com dor oncológica deve unificar o saber científico ao saber humanitário, ressaltando que para a efetuação do mesmo é necessário conhecimento, dedicação, atenção e responsabilidade a fim de direcionar ações, com vistas ao alívio dos sintomas e promover dignidade ao paciente que enfrenta a impossibilidade de cura. O cuidado com o paciente com dor é visto como um direito humano básico, principalmente quando se trata de pacientes em processo de finitude e, remete não apenas a uma questão clínica, mas, sobretudo ao conhecimento científico, à ética e à responsabilidade que envolve todos os profissionais de saúde (Martinez, et al., 2011). Por essa razão, a aplicabilidade do conhecimento científico pela equipe de enfermagem é imprescindível para a qualidade do cuidado. Para isso, a aquisição de conhecimento cientificamente comprovado é condição sine qua non para a modificação de atitudes (Souza, et al., 2013). Além do conhecimento científico, cuidar de um paciente com dor oncológica, requer também preparo técnico e psicológico da equipe, pois, atender à Dor Total de um paciente, demanda equilíbrio e dedicação, com vistas a auxiliar paciente e família a enfrentar a morte
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como um processo natural da vida (Freitas e Pereira, 2013). Estudos comprovam que o uso do conhecimento científico é primordial na assistência de Enfermagem em cuidados paliativos, uma vez que cuidar do cliente com câncer, com ênfase no enfrentamento das diferentes etapas do processo de cuidar exige da equipe de enfermagem, conhecimento científico e habilidades no tocante ao reconhecimento de sinais e/ou sintomas subjetivos próprios destes clientes para direcionar as ações com efetividade no alívio do sofrimento (Souza e Valadares, 2011). Categoria temática II – Modalidades terapêuticas para o alívio da dor As intervenções para o controle da dor nos cuidados paliativos compreendem o uso de medidas farmacológicas, físicas e cognitivocomportamentais. É desejável o uso de intervenções múltiplas que possibilitem melhor resposta analgésica, visto que a possibilidade de interferirem, simultaneamente, na geração do impulso nociceptivo e neuropático nos processos de transmissão e interpretação do fenômeno doloroso e na estimulação do sistema supressor da dor. Subcategoria I – Tratamento farmacológico O sucesso da terapêutica analgésica planejada depende de alguns aspectos: equipe multiprofissional treinada, avaliação da dor com métodos sistemáticos, tratamento farmacológico compatível com o nível de intensidade da dor verbalizada pelo paciente e reavaliação da dor. A Escada Analgésica da Dor foi criada pela Organização Mundial de Saúde e é caracterizada por ser uma das etapas envolvidas no tratamento da dor; tomando como base a intensidade da dor, o uso de opioides e intervenções mais invasivas (Rangel e Talles, 2012, Marinho, 2013). O suporte farmacológico deve compor o principal eixo de tratamento a pacientes com dor oncológica, e em caráter complementar, as medidas não farmacológicas.
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Portanto, os enfermeiros destacaram que a medicalização constitui meta principal na assistência por eles prestada na instituição, como descrito a seguir: A dor, aqui, é tratada através de medicações prescritas pelo médico como analgésicos potentes. E1 Para pacientes que estão com dor leve a moderada usa-se analgésicos e antiinflamatórios; para pacientes com dor moderada usamos o Tramadol; e os que não obtiveram controle usamos Morfina ou Fentanil. E2 A dor, nessa instituição, é tratada com base no que os médicos prescrevem, só que varia de acordo com a dor do paciente[...] às vezes, só com analgésico resolve, mas em outros têm que administrar morfina[...]e às vezes, sedação. E8 Os enfermeiros enfatizaram que analgésicos não opioides, opioides fracos e fortes, assim como sedativos eram os medicamentos mais utilizados para os pacientes com doença oncológica avançada na instituição lócus da pesquisa. Percebe-se, dessa maneira, que os mesmos compreendem as bases norteadoras da Escada Analgésica da Dor proposta pela OMS. Contudo, houve uma incongruência desta categoria – “Tratamento Farmacológico” – com a categoria “A dor não é avaliada”, na qual os enfermeiros revelaram que não utilizavam nenhuma escala de avaliação da dor, por falta de tempo, em decorrência das atribuições administrativas por eles acumuladas. O manejo clínico da dor é um aspecto desafiador para a equipe de enfermagem, pois fazem parte da função assistencial da mesma: programar os horários de administração, preparação e administração de medicamentos. Portanto, é de responsabilidade do enfermeiro conhecer as particularidades farmacêuticas dos medicamentos que ele ou os técnicos de enfermagem preparam e administram (Magalhães, et al., 2011). Nesse sentido, os analgésicos não opioides e opioides citados pelos enfermeiros são recomendados pela OMS, utilizando a Escada Analgésica da Dor. Portanto, infere-se
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que os enfermeiros compreendem os aspectos avaliativos e terapêuticos da dor. A terapia farmacológica baseada na Escada Analgésica da Dor, para pacientes com dor oncológica é primordial para o alívio da dor. Nesse contexto, estudo acerca da terapia farmacológica a ser ofertada no caso de pacientes em processo de dor, câncer e cuidados paliativos evidenciou que o enfermeiro é o profissional mais indicado para avaliar e intervir na dor, tendo em vista que permanece mais tempo o paciente (Rabelo e Borrela, 2013). Urge salientar que documentar as intervenções realizadas no tocante ao manejo clínico da dor conforme as recomendações da Escada Analgésica da Dor é imprescindível, haja vista que é um instrumento que possibilita a escolha do fármaco mais adequado para a intensidade da dor vivenciada pelo paciente. Subcategoria II - Tratamento cirúrgico A intervenção cirúrgica deve ser considerada quando a dor de pacientes com câncer não obtiver eficácia com o uso de opioides fortes. Cerca de 10% de pacientes com dor refratrária à terapêutica medicamentosa podem se beneficiar com tratamentos cirúrgicos. Estudos têm indicado que procedimentos invasivos como bloqueio neurolítico do plexo celíaco e hipogástrico pode ser considerado como adjuvante no tratamento direcionado ao alívio da dor (Rangel e Talles, 2012). Dessa forma, os enfermeiros reconhecem a existência de procedimentos cirúrgicos para o alívio da dor, como evidenciado nas falas a seguir: Em alguns casos existem procedimentos cirúrgicos [neurólise] quando os opioides não fazem efeito. E4 Eu sei que também existe o tratamento cirúrgico para a dor. E5 É imperioso ressaltar que as falas destacam o conhecimento de enfermeiros frente aos procedimentos cirúrgicos utilizados pelos médicos quando o tratamento farmacológico com opióides fortes não tem sucesso. A intervenção cirúrgica, em alguns casos, VOLUME 6. EDIÇÃO 3
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é necessária para o alívio da dor, e consequentemente, melhora a qualidade de vida do paciente. Nesta perspectiva, autores7,17 a cirurgia é utilizada para remoção do tumor, uma vez que a compressão de órgãos pelo tumor causa dores lancinantes, o que gera sofrimento ao paciente (Biasi, et al., 2011, Souza e Valadares, 2011). O bloqueio ou neurólise de plexos nervosos é uma intervenção cirúrgica que tem se mostrado um recurso terapêutico eficaz no controle da dor. Envolve a administração de anestésicos locais, esteroides ou neurodestruição central de plexos viscerais, ou de nervos periféricos e músculos no bloqueio da percepção dolorosa (Biasi, et al., 2011) Subcategoria III – Cuidados paliativos de enfermagem Especificamente nos cuidados paliativos, o Conselho Internacional de Enfermagem afirma que uma pronta avaliação, identificação e gestão da dor e das necessidades físicas, psicológicas, espirituais podem diminuir o sofrimento e melhorar, de fato, a qualidade de vida dos pacientes em cuidados paliativos e de seus familiares (CIPE, 2010). Nesse contexto, é papel do enfermeiro atuar em prol da comunicação eficaz, aberta e adaptada ao contexto terapêutico, visando à negociação de metas assistenciais acordadas com o paciente e sua família de modo a coordenar o cuidado planejado (Marinho, 2013, Andrade, et al., 2014). Os enfermeiros denominaram os seguintes cuidados paliativos de enfermagem voltados ao paciente com dor: Oferecer um sistema de apoio para ajudar os pacientes a viverem o mais ativamente possível até sua morte. E1 Para cuidar de paciente com dor oncológica é preciso conhecer, saber o que necessita e como podemos ajudá-lo nesse processo. Os cuidados gerais da enfermagem são: banho no leito, realização de curativo, realização de mudança de decúbito, cuidado com a administração de dietas, principalmente as enterais, higiene corporal e bucal, ajudar a deambular. E2 JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
Os cuidados de enfermagem são muitos, aliás é a enfermagem que vai cuidar do paciente 24 horas por dia. Dando banho no leito, medicando, fazer curativo, instalar O2, chamar o médico nas intercorrências, conversar, escutar. E7 O emocional, espiritual e físico precisam estar em harmonia, nós tentamos promover essa harmonia dentro do hospital. E11 Ouvir as queixas, promover o alívio delas e administrar os medicamentos. E18 Afim de confirmar que a equipe de enfermagem atua na promoção do conforto nos aspectos físicos, emocionais, sociais e em cuidados paliativos, os enfermeiros destacaram atribuições técnicas e sobretudo humanísticas realizadas pela equipe na instituição lócus da pesquisa junto aos pacientes que vivenciam a terminalidade. Considerando que cuidar pressupõe preocupação, responsabilidade e envolvimento com o paciente a fim de aliviar seu sofrimento, a enfermagem tem buscado contextualizar suas ações, para que possa adaptar-se a qualquer pessoa e circunstância, com o objetivo de proporcionar conforto abrangendo as dimensões biopsicossociais e espirituais da pessoa (Freitas e Pereira, 2013). Para isso, o enfermeiro lança mão de recursos disponíveis, que são respaldados na ética profissional como: cuidado com a higiene, conforto, mudança de decúbito, prevenção de complicações e escuta terapêutica (Silva, et al., 2014). Outra responsabilidade do profissional de enfermagem é a administração de terapêutica medicamentosa e nutricional, cujo objetivo é proporcionar alívio da dor e aporte calórico, respectivamente, necessários para melhoria da qualidade de vida durante o processo de terminalidade. É de competência do enfermeiro cumprir ou fazer cumprir com regularidade a sua prescrição. É importante que o enfermeiro explique à família e ao paciente a ação, a dosagem, o horário da administração e possíveis efeitos secundários dos medicamentos e dietas (Marinho, 2013). O destaque do âmbito não farmacológico no cuidado com pacientes com dor oncológica advém do conhecimento dos enfermeiros participantes da pesquisa sobre algumas modalidades terapêuticas ofertadas ao VOLUME 6. EDIÇÃO 3
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algumas modalidades terapêuticas ofertadas ao paciente em cuidados paliativos. Tais modalidades estão relacionadas ao arcabouço técnico-científico da enfermagem assim como correlacionadas à prática de outras categorias profissionais, tais como destacam as falas dos enfermeiros E5 e E6: Muitas vezes, uma simples conversa pode tirar o foco do paciente daquela agonia que ele está passando. E5 Existem outras formas de aliviar a dor, tais como a musicoterapia e técnicas de relaxamento. E6 Os enfermeiros mencionam que a escuta terapêutica, musicoterapia e técnicas de relaxamento podem ser medidas não farmacológicas utilizadas para o alívio do sofrimento humano. A música, a escuta terapêutica e técnicas de relaxamento são recursos terapêuticos ativadores do processo expressivo e interativo, das narrativas e da dialogicidade, estruturado no processo de cuidar do enfermeiro na construção de um ambiente de reconstituição física, emocional e social para um melhor enfrentamento da doença e sua repercussão (Almeida, et al., 2014). Vale ressaltar que o adequado controle da dor ocorre em 70% a 90% dos casos utilizandose métodos simples. No entanto, alívio insatisfatório deste sintoma está exaustivamente registrado na literatura por razões como subestimação da ocorrência da dor nessa população, imprecisa avaliação do quadro álgico, resultando em inadequada determinação dos fatores etiológicos e mantenedores; insuficiente conhecimento sobre métodos e analgésicos adequados para o alívio da queixa e subestimação da importância dos aspectos envolvidos na experiência dolorosa e dos aspectos cognitivos.
relacionados à dor, assim como avaliar e prestar os devidos cuidados para alívio da dor. No estudo em tela, os enfermeiros se depararam com entraves na implementação da avaliação da dor na instituição lócus da pesquisa, devido ao acúmulo de funções administrativas, que reduz o tempo disponível para as habilidades assistenciais. Além deste aspecto, os enfermeiros destacaram a ausência do uso de protocolos para subsidiar a avaliação e o manejo clínico da dor. Nesse contexto, é imprescindível que o enfermeiro adote métodos sistematizados, para que a avaliação e manejo clínico da dor sejam concretizados de maneira a aliviar efetivamente o sofrimento de pacientes com impossibilidade terapêutica de cura. Apesar de não utilizarem métodos sistemáticos para avaliação da dor, os enfermeiros lançam mão de outras modalidades avaliativas, tais como: expressão emocional, anamnese, queixa álgica e exame físico. Quanto ao tratamento, foi pontuado que o âmbito farmacológico constitui o principal pilar do tratamento para a dor, como preconizado pela Escada Analgésica da Dor proposta pela OMS. Uma limitação encontrada foi a escassez de pesquisas que fornecessem dados necessários para a construção de uma discussão comparativa com outras literaturas. No entanto, foi possível constatar que esse estudo teve seu objetivo alcançado. Assim, esta pesquisa vem a contribuir na perspectiva de esclarecer a importância de aprimoramento técnico-científico do enfermeiro no que diz respeito ao cuidado a pacientes com dor oncológica sem possibilidades terapêuticas de cura; bem como o despertar para a adoção de métodos sistemáticos e protocolos que direcionem a avaliação da dor pelo enfermeiro, uma vez que é prerrogativa legal do exercício profissional.
CONCLUSÃO O enfermeiro exerce papel primordial na assistência direcionada a pacientes oncológicos, tendo em vista que é o profissional que por mais tempo permanece em contato com o cliente e é um dos membros da equipe multiprofissional que está apto a reconhecer sinais e sintomas
REFERÊNCIAS 1. Almeida, C. S. L., Sales, C. A., Marcon, S. S. (2014). O existir da Enfermagem cuidando na terminalidade da vida. Rev Esc Enferm USP, 48(1), 34- 40.
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2. Andrade, C. G., Alves, A. M. P. M., Costa, F. VOLUME 6. EDIÇÃO 3
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JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
VOLUME 6. EDIÇÃO 3
Flamínio, J. et al. (2017) Aplicabilidade do Programa Nacional de Vacinação: Perspetiva Epistemológica, Ético-Deontológica e Legal, Journal of Aging & Innovation, 6 (3): 12 - 27
REVISÃO NARRATIVA/ NARRATIVE REVIEW
DEZEMBRO 2017
Aplicabilidade do Programa Nacional de Vacinação: Perspetiva Epistemológica, Ético-Deontológica e Legal
Aplicabilidad del Programa Nacional de Vacunación: Perspectiva Epistemológica, Ética-Deontológica y Legal
Applicability of the National Vaccination Program: Epistemological, Ethical-Deontological and Legal Perspective
Autores José Flamínio 1, José Moreira 2, Pedro Fonseca 3, Ricardo Jorge4, Lucília nunes 5 1, 2, 3, 4
Escola Superior de Enfermagem São João de Deus, 5 Instituto Politécnico de Setúbal, Escola Superior de Saúde, Doutora
em Enfermagem
Corresponding Author: jafonsomoreira@gmail.com
RESUMO Este trabalho aborda os desafios da aplicabilidade do Programa Nacional de Vacinação (PNV), analisando-o do ponto de vista epistemológico, ético-deontológico e legal. O PNV durante os seus quarenta e cinco anos de existência demonstrou ser um sucesso, evidenciando numerosos ganhos em saúde que nos permitiu passar da cauda dos principais indicadores de saúde da Organização Mundial de Saúde (OMS), para a dianteira. Desta forma verificamos que a adoção de comportamentos de saúde centrados na pessoa, assumem cabal importância na promoção da saúde e adoção dos estilos de vida saudáveis visando o bem estar comum, sendo a adesão à vacinação umas das, e mais eficazes formas de o fazer.Do ponto de vista ético-deontológico e jurídico a nossa abordagem assenta em três pontos essenciais: a recomendação do PNV à imposição, a responsabilização pessoal e pelos dependentes e a repercussão das escolhas individuais na comunidade. Os direitos dos utentes devem ser identificados, respeitados e promovidos no âmbito dos deveres dos profissionais de saúde, neste caso os enfermeiros. Por fim a vacinação não é obrigatória com a exceção das vacinas do tétano e difteria, pelo que a adesão dos utentes é o principal ativo na aplicabilidade do PNV. Descritores: Vacinação; Cuidados de enfermagem; Programas de vacinação.
ABSTRACT This paper focus on challenges of the Portuguese National Vaccination Program (PNV) applicability, analyzing this issue from the epistemological, ethical-deontological, and legal point of view. The PNV during its forty-five years of existence proved to be a success, evidencing numerous gains in health that allowed us to move from the tail of the main health indicators of the World Health Organization (WHO) to the front. Therefore, we verify that the adoption of person-centered health behaviors take full importance in promoting health and adoption of healthy lifestyles for the common good, and adherence to vaccination is one of the most effective ways of doing that. From an ethicaldeontological and legal point of view, our approach is based on three essential points: the recommendation of the PNV to its imposition, personal responsibility and for those who depend, and the repercussion of individual choices in the community. The users of health care rights should be identified, respected and promoted funder the duties of health professionals, in this case nurses. Finally, vaccination is not mandatory with the exception of tetanus and diphtheria vaccines, so that adherence of users is the main asset in the applicability of the PNV. Descriptors: Vaccination; Nursing care; Immunization programs. Autores Dados curriculares JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
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Introdução
felicidade variável, ainda que possa ser a
Neste artigo procuramos enfatizar a
demanda existencial que nos liga a todos.».
aplicabilidade do PNV nas questões em que assentam
as
normativas
das ferramentas mais efetivas e de menor custo
comparativamente ao domínio da proteção
benefício, são utilizadas no controlo e prevenção
individual
da
das doenças infeciosas, assumindo um papel
comunidade, atendendo aos domínios ético,
importante nos países em desenvolvimento,
epistemológico e jurídico.
sendo por isso irrefutável que as políticas de
e
da
Tornou-se
orientações
As vacinas são consideradas como uma
saúde
em
contexto
importante
abordar
o
vacinação contribuam substancialmente para
enquadramento conceptual epistemológico do
potenciar
o
aumento
PNV, com uma perspetiva histórica em Portugal,
consequente redução na incidência de doenças.
a sua caracterização, e uma contextualização
O paradigma preventivo de vacinação tem
abordagem ético-deontológica sobre a sua
mudanças nas relações com a imunização,
aplicabilidade, enquadrando a recomendação do
melhoria
PNV com a sua responsabilização, enfatizando
populações e pelo surgimento de declarações
as escolhas individuais e da comunidade nos
universais de proteção do ser humano.
éticos
associados
às
vacinas,
e
Segundo
últimas
condições
Lessa
décadas
e
sido
das
nas
imunizações
epistemológica. Depois procedemos a uma
conflitos
desafiado
das
sanitárias
(2013,
p.226),
por
das
"O
explicando as dificuldades de se ter uma
paradigma preventivo de vacinação tem sido
perceção vinculativa sobre os fundamentos da
desafiado nas últimas décadas por mudanças
vacinação e do inter-relacionamento entre o
nas relações com a imunização, melhoria das
campo das ciências humanas e biomédicas.
condições sanitárias das populações e pelo
Finalmente, no campo jurídico-legal, no domínio
surgimento
da
proteção do ser humano".
saúde
pública,
as
atitudes,
os
de
declarações
universais
de
comportamentos, os ambientes e os estilos de
O PNV é um programa universal, gratuito
vida da sociedade que são condições basilares
e acessível a todas as pessoas presentes em
para a saúde.
Portugal. Desde 1965, ano em que se iniciou o
Na busca permanente da excelência no
PNV, milhões de crianças e de adultos foram
exercício profissional o enfermeiro maximiza e
vacinados com enorme impacto na saúde pública
potencia o bem-estar aos utentes suplantado às
uma vez que as doenças para as quais há
necessidades individuais inerentes. Segundo,
vacinas no PNV permitem irradia-las e controlá-
Nunes (2008, p. 72), «o facto de sermos ao
las. O PNV em Portugal tem sido uma história de
mesmo tempo um ser-que pensa e um ser-que-
sucesso, cuja aplicabilidade
quer acarreta consequências no reino da ação,
profissionais de saúde em todo o país e à
(...) procuramos o sentido de “uma vida boa com
população, aliada à relação de confiança
e para os outros, em instituições justas”, sendo o
estabelecida. Os princípios, os objetivos e os
entendimento que temos do conteúdo da
resultados do PNV deverão ser salvaguardados,
se deve aos
visando os ganhos em saúde na obtenção da JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
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efetividade das vacinas e das taxas de cobertura
"Em 1965 no nosso país foi implementado
vacinal. (Diário da República, 2ª série, despacho
o PNV, financiado na sua totalidade pelo
nº 17067/2011).
Ministério da Saúde, tem como finalidade ser um
As vacinas, o PNV e os Referenciais de
Programa universal, gratuito e acessível, sem
Formação e de Competências no domínio da
barreiras, para todas as pessoas presentes em
vacinação podem sofrer alterações influenciadas
Portugal. Engloba as vacinas consideradas de
por fatores externos e internos.
primeira linha, em que, da sua aplicabilidade se
A realização da parte escrita do trabalho
obtêm os maiores ganhos de saúde" (Afonseca,
obedeceu ao novo acordo ortográfico da Língua
2011, p.16). O PNV em Portugal tem sido uma
Portuguesa.
história de sucesso e replicado por outros países. Na Introdução documentada no primeiro PNV era
Perspetiva epistemológica
referido que o panorama epidemiológico das
A vacinação e a imunização são conceitos
doenças evitáveis por vacinações específicas em
muitas vezes utilizados como sinónimos. A
Portugal, há muito que nos colocava em situação
vacinação expressa a aplicabilidade de vacinas.
desprimorosa em relação aos restantes países
Imunização representa um sentido mais amplo
da Europa (Freitas, 2007).
estando associada à aquisição de imunidade
após
a
administração
de
substância
imunobiológica.
O PNV iniciou-se assim entre outubro e
novembro de 1965 com distribuição de vacinas à totalidade da população e de modo gratuito,
Apesar de existirem vários registos
segundo um conjunto de documentos de
históricos que evidenciam tentativa de atuação
Orientação
relativa a vacinação, é a Edward Jenner que se
recomendado. "Para efeito de apresentação de
atribui o mérito da descoberta da vacinação. No
prova da vacinação foi criado, ainda em 1965, o
ano de 1888 foi fundado o Instituto Pasteur, com
Boletim Individual de Saúde para registo das
incidência
doenças
vacinas efetuadas que deveria ficar na posse do
infeciosas, onde a vacinação teve progressos
utente, considerando que se encontrava já
notáveis graças às escolas alemã e francesa
estabelecida em legislação a obrigatoriedade da
nesta área (DGS, 2002).
administração
principal
na
luta
das
Técnica
de
e
algumas
um
calendário
vacinas
para
Em 1965 no nosso país foi implementado
determinados casos nomeadamente a Vacina
o PNV, financiado na sua totalidade pelo
Anti-Variólica (entre 1894 e 1977), Vacina Anti-
Ministério da Saúde, tem como finalidade ser um
Tetânica e Anti-Diftérica, com a confirmação à
Programa universal, gratuito e acessível, sem
entrada na escola primária, secundária ou de
barreiras, para todas as pessoas presentes em
outro estabelecimento de ensino - desde 1962
Portugal. Engloba as vacinas consideradas de
(Feliciano, 2002).
primeira linha, em que, da sua aplicabilidade se
obtêm os maiores ganhos de saúde.
A primeira vacina a ser introduzida no
PNV foi a da poliomielite. Posteriormente em 1966 seria implementada a da tosse convulsa,
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difteria, tétano e varíola. A vacinação da BCG para
tuberculose
foi
facto
deve-se
não
apenas
à
integrada
diminuição da morbi-mortalidade que as doenças
progressivamente no PNV." (Afonseca, 2011, p.
infetocontagiosas, mas, também, à proteção
17).
global que a sua administração massiva veio
treze
a
Este
Atualmente o PNV inclui vacinas para
conferir às mesmas. "Uma elevada taxa de
doenças:
pertussis
cobertura de vacinação duma população irá
poliomielite,
impedir a circulação dos agentes infeciosos
difteria,
tétano,
designada de tosse convulsa, tuberculose,
sarampo,
parotidite,
rubéola,
(bactérias ou vírus) que provocam as doenças (a
hepatite B, infeções por Haemophilus influenzae
este conceito chama-se imunidade de grupo)
tipo B, doença invasiva causada por Neisseria
levando à erradicação ou eliminação de doenças
meningitidis do serogrupo C, vírus do papiloma
como
humano e vacina conjugada de 13 valências
erradicada do mundo em 1980), à poliomielite
(serótipos 1, 3, 4, 5, 6A, 6B, 7F, 9V, 14, 18C, 19A,
(declarada eliminada da Europa em 2002) e à
19F, 23F) para infeções pneumocócicas (Pn13).
difteria (sem casos em Portugal desde 1993)
Assistimos deste modo a uma atualização
(DGS, 2004).
constante do PNV, perspetivando-se para o ano de 2017 alterações ao mesmo.
já
aconteceu
à
varíola
(declarada
O último estudo realizado à população portuguesa sobre a sua imunidade relativa às
"Assistiu-se a uma história de sucesso na
doenças prevenidas pela vacinação no âmbito do
redução da morbilidade e da mortalidade pelas
PNV – 2º Inquérito Serológico Nacional 2001-
doenças-alvo de vacinação ao longo dos anos
2002 – demonstrou que a maioria da população
graças à eficácia da Vacinação. Desde o início do
portuguesa está imunizada para várias doenças
PNV já foram vacinados cerca de 10 milhões de
abrangidas
crianças bem como vários milhões de adultos."
sarampo, rubéola), devido à prática continuada
(Afonseca, 2011, p. 20).
de
pelo
vacinação
PNV
universal,
(tétano,
que
poliomielite,
resultou
em
Assistiu-se a uma história de sucesso na
elevadas coberturas vacinais mantidas ao longo
redução da morbilidade e da mortalidade pelas
dos anos, que rondaram 96-97% para as vacinas
doenças-alvo de vacinação ao longo dos anos
administradas no primeiro ano de vida, 94-95%
graças à eficácia da Vacinação. Desde o início do
para as administradas durante o segundo ano de
PNV já foram vacinados cerca de 10 milhões de
vida e aos 5-6 anos de idade (Freitas, 2004).
crianças bem como vários milhões de adultos. As vacinas permitem salvar mais vidas e
Os cuidados de saúde primários são, segundo
o
Conselho
Internacional
de
prevenir mais casos de doença do que a maioria
Enfermeiros (CIE), “(...) a base de contato com o
dos tratamentos médicos. A sua implementação
sistema nacional de saúde para os indivíduos, as
em Portugal tem vindo a ser responsável por uma
famílias e a comunidade, trazendo os cuidados
significativa melhoria do estado de saúde das
de saúde o mais possível para os locais onde as
populações (DGS, 2005).
pessoas vivem e trabalham (...).” (CIE, 2008, p.4). A criação dos cuidados de saúde primários
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representou uma inovação para a prestação e
profissional tem conhecimento especializado
organização dos cuidados de saúde em Portugal.
num dado domínio, mas o utente também se
De uma organização quase totalmente voltada
especializou sobre o seu corpo e sobre o
para os hospitais, passou-se a olhar para os
contexto da sua vida.” (Reis 2005, p.32). Essa
centros de saúde como porta de entrada no
parceria epistemológica significa que o utente é
sistema de saúde (Biscaia et al, 2006).
parte integrante em todo o processo. Ao invés de
No âmbito do enquadramento conceptual
pensar pelo utente, o profissional de saúde
para o exercício profissional emanado pela
acompanha o raciocínio deste e promove a
Ordem dos Enfermeiros (OE), o mesmo centra-
reflexão, a autonomia e a tomada de decisão.
se na relação interpessoal de uma pessoa e/ou
Este modelo de relação entre o profissional e
grupo
utente tem implicações nas metodologias de
de
pessoas
(família/comunidades),
distinguindo-se o seu cuidado pela formação e
educação para a saúde utilizadas.
experiência, permitindo estabelecer com o utente
Perspetiva ético-deontológica
o respeito pelas suas capacidades e valorização do
seu
papel,
na
da implementação da vacinação no âmbito do
prossecução do seu projeto de saúde. Cada
PNV, remete-nos para a emergência de dilemas
pessoa procura o equilíbrio em cada momento,
éticos por parte dos enfermeiros.Caracterizando-
de acordo com os vários desafios que se lhe
se a Enfermagem como uma disciplina e
colocam, sendo a sua saúde encarada como
profissão, o conjunto de situações complexas
reflexiva no contexto de um processo dinâmico e
éticas de exigência de tomada de decisão
contínuo.
são
fundamentada, remete-nos para um campo
influenciados pelo ambiente que o rodeia, bem
próprio no agir dos enfermeiros que nasce da
como nos seus processos intencionais baseados
própria prática e das preocupações profissionais
nas crenças, valores e vontades de índole
relativamente aos destinatários dos cuidados,
individual (OE, 2011). O profissional de saúde
apresentando-se deste modo a “Ética de
assume o papel de facilitador do processo
Enfermagem”, segundo Nunes (2004). Para a OE
preventivo ou de aprendizagem ajudando o
(2001), referente aos Padrões de Qualidade dos
utente na tomada de decisão, informando-o
Cuidados
sobre os fatores de risco de uma determinada
Morgado et al (2014), a reflexão e a tomada de
doença. Depois de ter conhecimento dos fatores
decisão assumem relevância crescente na
de risco e da necessidade de mudança de estilo
Enfermagem,
de vida e até mesmo da reformulação dos seus
relacional que o enfermeiro estabelece com a
objetivos pessoais, a pessoa poderá se o
pessoa e / ou grupo de pessoas no decorrer do
pretender
seu
Os
tornando-o
seus
envolver-se
proactivo
A obrigatoriedade e/ou a recomendação
comportamentos
no
processo.
Pode
ciclo
de
Enfermagem,
enunciada
enquadrando-se
de
vida,
com
no
as
por
espectro
respetivas
afirmar-se que há uma parceria epistemológica
características (valores, crenças e desejos)
entre o profissional de saúde e o utente “Ambos
individuais.
têm algo a oferecer e conhecimento a propor. O
O processo da vacinação, tem implícito o fornecimento de informação e o questionamento
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fornecimento de informação e o questionamento
dependentes
por parte daqueles a quem se prestam cuidados,
comunidade.
(crianças
e
idosos)
e
na
visando a qualidade de assistência de saúde.
- A adesão ao PNV possibilita a adoção
Torna-se primordial que a dimensão ética
de comportamentos corretos com reflexo de
assuma a relevância devida no processo de
beneficência individual e comunitária de forma
tomada de decisão e clarificação por parte dos
justa e equitativa, diminuindo a vulnerabilidade
enfermeiros no seu desempenho profissional.
dos intervenientes na comunidade.
Tendo em conta estes aspetos, temos
- A não adesão ao PNV levará a
como referencial três pressupostos importantes
consequências no âmbito da responsabilidade
relativamente ao PNV, ou seja:
pela saúde individual, dos descendentes diretos
- Da recomendação do PNV à sua
Segundo Morgado et al (2014, p.116) “no
imposição; - Responsabilização pessoal e pelos
- Repercussão das escolhas individuais
cuidado à pessoa (...) quer no contexto das relações
na comunidade. Compreendemos, portanto, a importância os
contexto da prática de enfermagem emergem direitos, deveres e o respeito por valores quer no
dependentes;
que
e das gerações futuras.
princípios
implementação
do
éticos
estabelecem
PNV,
entre
os
na
quais
multidisciplinares
que
devem
ser
considerados na tomada de decisão ético-
deontológica. Para
Deodato
(2006),
referido
por
destacamos, e que são abordados também por
Morgado et al (2014), um problema ético emerge,
Mendes (2009), o princípio da beneficência,
quando apresentado primeiramente, mas para a
orientado para a realização do bem; da justiça,
qual a reflexão ética sobre os valores e princípios
através de uma distribuição justa e equitativa; da
em causa possibilita uma solução adequada,
vulnerabilidade, invocando a solidariedade e
fundamentada nos princípios éticos e deveres
equidade.
referidos,
deontológicos, sendo assim, um problema ético
acrescentamos o princípio da responsabilidade,
tem solução através do respeito pelos princípios
assumindo através deste as decisões que se
éticos. O mesmo autor faz a destrinça entre
tomam tendo como implícito as repercussões e
problema ético e dilema ético, evidenciando que
consequências das escolhas, tanto a nível
para o dilema ético as soluções encontradas
individual como comunitário.
colocam em questão os princípios éticos ou os
Aos
princípios
Através da recorrência a estes princípios, é possível abordar os três pressupostos chave
deveres profissionais. No que diz respeito à identificação dos problemas éticos identificados na prestação dos
que enunciamos anteriormente. ou
cuidados de Enfermagem, segundo Nunes
recomendado à pessoa, possibilitando assim a
(2006), destacamos as categorias: informação; a
opção pelas escolhas individuais, levando a
decisão do destinatário dos cuidados; o respeito
repercussões
pela pessoa e a proteção da saúde. Entre estas
-
Deverá
o
PNV
individuais,
ser
dos
imposto
que
estão
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quatro enuncia
três
categorias, das
Deodato
referidas
(2010)
anteriormente
Assume-se assim o respeito pelas decisões individuais,
singularidades,
fundamentos
e
(informação; a decisão do destinatário dos
opções que levam à tomada de escolhas por
cuidados; o respeito pela pessoa). Para perfazer
parte de cada um e que com as quais podemos
a quinta categoria acrescentamos os problemas
não concordar.
éticos estabelecidos na relação doente/família,
Relativamente ao princípio da proteção
evidenciados por Fortes (2004) e referidos por
da saúde, a não implementação do PNV pode ser
Morgado et al (2014).
constatado como a não utilização de uma
Aplicaremos,
seguidamente,
estas
categorias à temática do PNV.
“ferramenta” validada para alcançar o bem individual
e
o
bem
comum.
Na
relação
No que diz respeito à informação, verifica-
estabelecida com os doentes e a família,
se por vezes que a mesma relativamente às
evidenciados por Fortes (2004) e referidos por
vacinas é não fundamentada, ao seu propósito, e
Morgado et al (2014), realçamos que na situação
aos ganhos individuais e comunitários da sua
do PNV, sugerimos a substituição da designação
implementação, a prevalência de determinados
de doente, possivelmente por utente, realçando
mitos sobre veracidade da evidência científica
assim a possível determinação e escolha do
possivelmente não transmitida ou transmitida de
projeto terapêutico (neste caso tendo em vista a
forma não esclarecedora por parte do emissor.
promoção) estabelecido entre o indivíduo e a
Nunes (2006, p. 264) refere que “a informação é
família, remetendo-nos para a implicação das
um garante, um meio para que as pessoas
escolhas no seio dos dependentes.
possam decidir sobre si, de forma livre e
A opção da escolha pela não adesão ao
esclarecida.”
PNV,
tem
como
consequência
o
A decisão do destinatário dos cuidados
ressurgimento de doenças já controladas.
encontra-se associada à informação veiculada,
Verifica-se assim a prevalência de mitos e
visto que através da informação transmitida
dúvidas por parte dos individuais perante as
acerca da temática do PNV, através de
evidências da ciência. Como exemplo
esclarecimento de dúvidas e reforço de opiniões,
enunciamos
pretende-se apoiar e promover uma decisão que
potenciam a dúvida relativamente à adesão
neste caso seria a adesão ao PNV, de uma forma
ao PNV, segundo a DGS (Boletim de
pessoal
dependentes
Vacinação - n.º 4, 2012, p. 1-2), “As
representados (crianças e idosos). Citamos
doenças começaram a diminuir antes das
Nunes (2006, p.274), ao referir a Pessoa
vacinas, devido às melhores condições de
enquanto “ser social e agente intencional de
higiene”,
comportamentos baseados nos valores, nas
vacinação estão praticamente eliminadas,
crenças e nos desejos da natureza individual, o
pelo que não há razão para vacinar o meu
que torna cada pessoa num ser único, com
filho”, “É preferível ficar imunizado pela
dignidade própria e direito a autodeterminar-se”.
doença do que pelas vacinas”, “As vacinas
ou
destinada
aos
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“As
algumas
abordagens
doenças
evitáveis
que
pela
VOLUME 6. EDIÇÃO 3
Página 19
podem
causar
reações
graves,
dependentes, junto da comunidade em que o
doenças e até a morte”, “Administrar múltiplas
indivíduo se insere. Magalhães (2001, p.224)
vacinas
doenças
refere “que ser pessoa é ser responsável e poder
diferentes podem sobrecarregar o sistema
ser responsabilizado pelo seu bem e pelo dos
imunitário”, “Preferia que o meu filho não
outros e pelo mundo onde se situa”.
simultaneamente
adversas
para
apanhasse todas essas vacinas hoje”. Através da
Como Renaud (2001, p.16) refere, “a
refutação das dúvidas e dos mitos, contribuímos
emergência de uma nova forma de compreender
para os dois motivos principais para vacinar,
a ética social (...) pode ser caracterizada, a
sendo estes a proteção individual e a proteção da
montante do agir, pelo facto de juntar uma
comunidade.
multiplicidade de pessoas implicadas na tomada
Perguntamos então: como é que o
de decisão; a jusante, ela ocupa-se apenas dos
momento em que vivemos atualmente se pode
atos que têm uma repercussão social clara, ainda
questionar e contestar a ética do passado, e de
que a própria posição no ato seja individual.”
que modo é que a ética de hoje prepara o futuro?
A convivência numa sociedade plural,
Quando enunciamos “da recomendação
reflete-se na relação que os diferentes decisores
do PNV à sua imposição”, evidenciamos a
e participantes, estabelecem entre si. Para
necessidade
decisões
Renaud (2001, p.13) “A ética social no sentido
coletivas, nos casos em que o agir interfere com
clássico de uma ética que diz respeito à
variados decisores e agentes responsáveis,
sociedade sucede a uma ética social cujo sujeito
sendo que uma das características dos regimes
de decisão mudou de palco, passando do plano
democráticos, caracteriza-se pela recusa de
individual para o plano coletivo.”
imposição de uma determinada conceção do
Constata-se
bem (Renaud, 2001). O mesmo autor enuncia a
individual pode não se implementar de
ética da discussão, no intuito da focalização,
forma generalizada, verificando-se tomadas
sendo o foco um consenso tão abrangente
de posição diferenciadas. Como Renaud
quanto possível entre os membros de um grupo,
(s.d.) refere, podem verificar-se situações
apresentando-se
a
em que o bem da pessoa não corresponde
possibilidade concreta de formar consenso no
exatamente ao bem particular, existindo
que diz respeito aos atos que implicam efeitos
assim grupos sociais que se apresentam
sociais importantes. Neste caso concreto o
como entidades isoladas ou de escala
consenso emergente seria a decisão de opção
reduzida e cujos interesses particulares se
pelo PNV.
sobrepõem ao bem das pessoas. Nestas
de
serem
o
seu
tomadas
limite
como
Enunciar a “responsabilização pessoal e
também
que
a
adesão
situações, a definição de bem comum pode
pelos dependentes” e a “repercussão das
referir-se
escolhas individuais na comunidade”, leva-nos a
indivíduos ou ainda ao bem da maioria dos
pensar no facto que pode ter a escolha individual
cidadãos, mas não precisamente ao bem de
de ser vacinado e possibilitar a vacinação dos
todos. Para reforçar esta ideia, citamos
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a
um
grande
número
de
Magalhães (s.d., p.218), “Já os antigos VOLUME 6. EDIÇÃO 3
Página 20
Magalhães (s.d., p.218), “Já os antigos diziam
de 21 de Abril, Diário da República), encontramos
que para haver Bem, tem que estar tudo bem;
várias referências a conceitos e características
Que para o “todo” estar mal, basta que algo
dos cuidados de enfermagem tendo em atenção
esteja mal”.
a implementação do PNV, referenciando-se
Quando
falamos
em
precaução
necessidades, conhecimentos e competências
realçamos a ancoragem deste princípio ao
de atuação perante o indivíduo, família, grupos e
princípio da responsabilidade de Hans Jonas
comunidade, adequando a atuação consoante as
(1979), citado na Tomada de Posição sobre a
necessidades.
Segurança
Universal dos Direitos do Homem, evidencia-se a
do Cliente (OE, 2006,
p.
3),
Enunciado
na
Declaração
relativamente à sua admoestação a “de modo a
dignidade
que os efeitos
da tua ação não sejam
fundamental dos direitos humanos, realçando-se
destruidores da possibilidade da vida humana na
que os seus intervenientes são dotados de razão
terra”. Sendo que a responsabilidade resulta de
e de consciência, devendo agir uns para com os
um dever para com o futuro da humanidade,
outros em espírito de fraternidade (Art. 1.º). A
sendo por isso necessário criar condições para
abordagem à dignidade humana remete-nos o
que tal aconteça, potenciando gerações futuras.
reconhecimento da autonomia de cada pessoa
Surge a preocupação de uma responsabilidade
delinear os seus planos de vida e as suas
de cuidado para como o futuro, de cariz individual
próprias normas de excelência. Decorrente da
e coletivo (OE, 2006). A preocupação com as
dignidade do ser humano, decorre o direito à
gerações futuras, remete-nos para a criação de
autodeterminação, na operacionalização da sua
condições favoráveis, onde podemos incluir o
autonomia. Quando se protege a autonomia
PNV, atuando ao nível da prevenção, incidindo
estamos a apoiar a defesa dos direitos da
na gestão do risco.
pessoa, indo de encontro ao respeito pela
Abordando
agora
a
como
o
caráter
de
igualdade
perspetiva
dignidade da pessoa através da promoção da
deontológica e como refere Campbell (1996),
sua capacidade para pensar, decidir e agir (OE -
citado por Ferreira (2005, p. 50), “As exigências
Enunciado
da prática profissional nunca poderão separar-se
Informado, 2007).
da ética e do código deontológico da profissão,
de
posição,
Consentimento
A possibilidade de escolha pela adesão
pois poder-se-á dizer que esta relação é um bem
ao
pessoal, mas também uma arte do bem comum
fundamentada, possibilita a opção consciente
para todos”. A ética profissional insere-se na
dos seus atos, na promoção da sua capacidade
ética social, isto é, na ciência das normas
reflexiva de decidir e agir no que se pensa que é
implícitas à atuação moral, exigindo assim a
melhor para si com repercussão nos que a
profissão determinados comportamentos que se
rodeiam.
dirigem por normas específicas (Ferreira, 2005).
autodeterminação, o enfermeiro assume o dever
Perante o Regulamento do Exercício
de “informar o indivíduo e a família no que
Profissional do Enfermeiro (Dec. Lei n.º 104/98
respeita aos cuidados de enfermagem” (Art.
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PNV,
No
possibilitando
respeito
pelo
informação
direito
105º, alíneas a, b, c). VOLUME 6. EDIÇÃO 3
à
Página 21
105º, alíneas a, b, c).
é
sempre
uma
decisão
assumida
Tendo presente o cumprimento das
enfermeiro. Segundo Figueiredo (2004) o código
normas deontológicas e as leis que regem a
deontológico
profissão, “o enfermeiro é responsável para com
válidos e universais, possibilita a orientação,
a comunidade na promoção da saúde e na
permitindo a reflexão individual, a liberdade e o
resposta
em
exercício da vontade própria do enfermeiro, não
cuidados de enfermagem”, assumindo o dever de
retirando deste modo a dimensão humana do ato
conhecer as necessidades da população e da
implementado pelo enfermeiro.
adequada
às
necessidades
comunidade em que está profissionalmente inserido,
participando
na
orientação
fundamentado
em
pelo
princípios
Concluindo, e segundo (Mendes, 2009),
da
os enfermeiros na sua prática, na especificidade
comunidade tendo em vista a solução de
da natureza dos cuidados de enfermagem (neste
problemas detetados, colaborando para isso
caso específico enquadramos a implementação
como outros profissionais em programas que
do PNV) adequados às necessidades reais e
respondam às necessidades da comunidade
potenciais da pessoa ou grupo, tendo por
(Art. 101º, alíneas a, b e c).
fundamento a evidência científica, na ética e
Segundo a DGS (Boletim de Vacinação - n.º 2, 2012) os profissionais de saúde são
deontologia
profissional,
podem
garantir
cuidados de qualidade.
fundamentais para a execução e o sucesso dos programas de vacinação, visto que são a linha da frente,
com
pais,
A vacinação foi alvo de transformações ao
educadores e cuidadores que tomam a decisão
longo do tempo, aceite pelos estados modernos
sobre a vacinação das crianças e dependentes.
como um meio de segurança de eleição nas
Os enfermeiros são das fontes de informação em
políticas sanitárias para lidar com epidemias e
que a população mais confia. Para continuar e
doenças infeciosas (Cunha e Durand, 2008).
melhorar esta credibilidade social é necessário a
Além de imposta ou patrocinada pelo Estado,
formação
dos
como um dos meios privilegiados de gestão de
profissionais envolvidos na vacinação, devendo
saúde pública, através da implementação de
ser uma preocupação constante dos serviços de
planos
saúde.
infraestrutura que a acompanha – globalizou-se,
e
contacto
direto
permanente
com
o
Perspetiva jurídica
atualização
nacionais
de
vacinação
–
e
a
O enfermeiro no que diz respeito à vida e
sobretudo desde que a Organização Mundial de
à qualidade de vida, aquando a implementação
Saúde (OMS) lançou, em 1974, o Expanded
do PNV, assume o dever de respeitar a
Programme on Immunization. A vacinação em
integridade biopsicossocial, cultural e espiritual
Portugal não é obrigatória, com exceção daquela
da
esforços
contra o tétano e difteria a “todos os indivíduos
profissionais para valorizar a vida e a qualidade
domiciliados no País, dos 3 aos 6 meses de
de vida (Art. 103º alíneas b, c). A tomada decisão
idade, com administração de doses de reforço,
na enfermagem, tendo implícita regras e normas,
pela primeira vez, entre os 18 e os 24 meses e,
pessoa,
participando
nos
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VOLUME 6. EDIÇÃO 3
Página 22
pela segunda vez, entre os 5 e os 7 anos de idade” (Decreto-Lei nº 44/198, Art.1º, 1962). O
PNV
proposto
pela
DGS
Reportando-nos à Lei de Bases da Saúde, Base III, a legislação sobre a saúde é de
inclui
interesse público, pelo que a sua inobservância
recomendações para um conjunto de 12 vacinas,
leva a uma responsabilidade penal, contra-
a que acresce a vacinação contra a gripe, e não
ordenacional, civil e disciplinar. Assim, e de
é muito diferente do que se propõe nos países da
acordo com o Dec-Lei 44/198, os indivíduos
União Europeia. No entanto, e de acordo com a
sujeitos à vacinação que voluntariamente não
Base XIV, nº 1, b) da Lei de Bases da Saúde, os
tenham cumprido as obrigações definidas serão
utentes têm direito a decidir receber ou recusar a
convocados para comparecer, em dia, hora e
prestação de cuidados que lhes é proposta, salvo
local designados (Decreto-Lei nº 44/198, Art. 5º,
disposição especial da lei. Com estes dois
1962). As autoridades administrativas e policiais
pressupostos podemos constatar que, o Estado
deverão prestar o seu concurso às autoridades
diz às pessoas aquilo que é recomendado para
sanitárias, sempre que forem solicitadas, sendo
benefício do próprio organismo a fim de se
as
conseguir atingir um nível elevado de segurança
punidas nos termos do Art. 28.º do Decreto-Lei nº
coletiva no corpo social. Uma eventual exceção,
13/166, de 28 de Janeiro de 1927 (Decreto-Lei nº
prende-se com alguma resistência à vacinação
44/198, Art. 10º e Art. 11º, 1962).
transgressões
ao
regime
estabelecido
detetável entre grupos minoritários tais como, os
Para efeito de apresentação de prova, foi
ciganos portugueses e os adeptos de sistemas
criado em 1965, o Boletim Individual de Saúde,
dietéticos alternativos (ex. macrobiótica), bem
em que se registam as vacinas efetuadas. É
como sobre suspeitas infundadas acerca de
fundamental o registo completo dos atos vacinais
alguns componentes das vacinas.
no Boletim Individual de Saúde e na ficha de
Este é, pois, um contexto onde mais se
vacinação individual ou Sistema de Informação
podem evidenciar algumas das formas de
para as Unidades de Saúde (SINUS) para a
desconfiança em relação a aspetos importantes
correta interpretação do estado vacinal de cada
das políticas de segurança sanitária e de saúde
um em qualquer altura e em qualquer serviço.
pública.
Que
noções
estão
em
jogo
na
Para o exercício livre e esclarecido dos
aceitabilidade da vacinação em geral, ou na
direitos que a lei confere é essencial que as
aceitação de certas vacinas e na recusa de
pessoas estejam o melhor esclarecidas e
outras? A lei portuguesa é bastante clara neste
formadas possível, naquilo que diz respeito aos
âmbito. A vacinação contra o tétano e difteria
aspetos
será apenas dispensada nos indivíduos que
beneficiárias. De acordo com a Lei n.º 15/2014
apresentem certificado médico comprovativo de
de 21 de Março (que emana da Base XIV, n.º 1
contra-indicação ou quando esta seja verificada
alínea b, da Lei de Bases da Saúde, Lei n.º 48/90
pela autoridade médico-sanitária, e logo que
de 24 de Agosto), no seu Capítulo II (Direitos do
cesse esse motivo a mesma volta a ser
utente
obrigatória (Decreto-Lei nº 44/198, Art. 6.º, 1962).
(Consentimento ou Recusa) o consentimento ou
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da
dos
vacinação
serviços
de
de
que
saúde),
vão
Art.
ser
3.º
a recusa da prestação dos cuidados de saúde VOLUME 6. EDIÇÃO 3
Página 23
a recusa da prestação dos cuidados de saúde
saúde, estimulando assim nos indivíduos e nos
devem
grupos
ser
declarados
de
forma
livre
e
sociais
a
modificação
dos
esclarecida, podendo o utente dos serviços de
comportamentos nocivos à saúde pública ou
saúde, em qualquer momento da prestação dos
individual, e da vacinação, em particular.
cuidados de saúde, revogar o consentimento.
No seguimento desta abordagem jurídica
Em 1998 foi criada a OE tendo sido
aos desafios da aplicabilidade do PNV, importa
aprovado o seu Estatuto – a segunda alteração
ainda refletir acerca do quadro legal na tomada
foi publicada na Lei n.º 156/2015 de 16 de
de decisão acerca da saúde dos menores e
Setembro (2015), procedendo da Lei nº 2/2013
incapazes, citando a Base XIV no seu n.º 3, da
de 10 de Janeiro; e no Art. 105º regulamenta o
Lei de Bases da Saúde e a Lei n.º 15/2014 de 21
“Dever de informação”, no qual os Enfermeiros se
de Março no seu Capítulo II, artigo 11.º que dela
comprometem a, informar o indivíduo e a família
emana, a lei terá que prever as condições em
no que respeita aos cuidados de enfermagem,
que os representantes legais dos menores e
respeitar, defender e promover o direito da
incapazes podem exercer os direitos que lhes
pessoa ao consentimento informado, e atender
cabem,
com responsabilidade e cuidado todo o pedido de
assistência, com observância dos princípios
informação ou explicação feito pelo indivíduo em
constitucionalmente definidos, isto quer dizer que
matéria de cuidados de enfermagem tal como,
excepto nas condições que a lei prevê, no caso
informar sobre os recursos a que a pessoa pode
dos menores e pessoas incapazes de decidir por
ter acesso, bem como sobre a maneira de os
elas próprias, os pais ou os representantes
obter.
destas pessoas, tomam as decisões respeitantes
designadamente
o
de
recusarem
Do ponto de vista da prática profissional
à saúde destes. Logo, no que diz respeito à
em relação à aplicabilidade do PNV, este artigo
vacinação, isto também se verifica e assume
reveste-se de suma importância pois não só
grande
prevêem a proteção dos direitos dos utilizadores
incumprimento da primovacinação durante a
do Serviço Nacional de Saúde garantindo a
infância, contemplada no PNV atual. Se os pais
qualidade
tiverem
dos
cuidados
prestados
pelos
importância
uma
posição
no
cumprimento
antagonista
ou
face
à
Enfermeiros, como também podem contribuir
vacinação, podem recusar algumas vacinas para
para uma maior adesão ao PNV.
os seus filhos, pois segundo o Parecer n.º
Neste aspeto, o quadro legal é um ativo
11/2011 da Mesa do Colégio da Especialidade de
importante na promoção em geral das políticas
Saúde Infantil e Pediátrica, da OE (pág. 2) que
de saúde conforme está estabelecido na Lei de
cita o Dec-Lei 44/198, de 20.02.1962 (Artigo 1.º)
Bases da Saúde, Base II, nº1, alínea a) que diz,
“a vacinação em Portugal não é obrigatória com
que a promoção da saúde e a prevenção da
exceção das vacinas contra o tétano e a difteria,
doença
no
que ainda não tendo sido a revogado o decreto
planeamento das atividades do Estado e onde é
de lei respetivo se mantém em vigor.” Deixando
incentivada a educação das populações para a
de fora muitas outras vacinas importantes na
fazem
parte
das
prioridades
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persecução dos objetivos de, promoção da VOLUME 6. EDIÇÃO 3
Página 24
persecução dos objetivos de, promoção
A abordagem ético-deontológico assenta
da saúde e prevenção da doença que fazem
em três pontos essenciais, da recomendação do
parte das prioridades no planeamento das
PNV à imposição, a responsabilização pessoal e
atividades do Estado conforme está preconizado
pelos dependentes e a repercussão das escolhas
na Base II, n.º1, alínea a) da Lei de Bases da
individuais
Saúde referido anteriormente.
constatam-se os direitos dos indivíduos na sua
na
comunidade.
Efetivamente,
Em relação às restantes vacinas em
condição de seres humanos plenos de dignidade,
Portugal, os pais ou os representantes de outros
à tomada de decisão em saúde, na escolha da
incapazes de decidir por si podem mesmo
adesão ou não ao programa de vacinação
recusá-las, o que se impõe como um desafio ao
recomendado ou na tomada de decisão pelos
cumprimento e aplicabilidade do PNV.
seus
dependentes,
bem
como
a
sua
responsabilização ao nível dos efeitos que as Conclusão
suas decisões podem ter na comunidade (por
Ao longo deste trabalho refletimos acerca
exemplo a manutenção da imunidade de grupo).
da aplicabilidade do PNV, pois consideramos que
Observamos
este, apesar de ser um vincado sucesso desde
profissionais, neste caso os dos enfermeiros, que
que foi implementado no nosso país na década
passam pelo respeito e fomentação da tomada
de sessenta do século XX, ter contribuído para
de
uma das grandes conquistas do SNS, que foi a
disponibilização de toda a informação solicitada
drástica diminuição da mortalidade infantil e ter
e considerada pertinente, no respeito pela
ajudado a erradicar doenças como a poliomielite,
dimensão
provando a sua eficácia e segurança ao longo
comunidades em que estão inseridos ou dos
destes últimos quarenta e cinco anos, enfrenta
grupos de influência ideológica com os quais se
hoje vários desafios, de novos paradigmas
identificam, na investigação numa ótica da
sociais, culturais e organizacionais na tomada de
melhoria dos cuidados e na formação dos seus
decisão, até ao surgimento de novas ideias
pares.
crenças e estilos de vida que se mostram antagonistas à vacinação.
também
decisão
dos
individual
os
deveres
utentes,
dos
através
mesmos,
dos
da
das
O desafio final à aplicabilidade do PNV é o próprio quadro legal português, uma vez que
Ao analisarmos o PNV do ponto de vista
conforme está estabelecido no Decreto Lei nº
ético, epistemológico e jurídico, verificamos que
44/198, de 20.02.1962 (Art.1.º) a vacinação em
a
adoção
de
saúde
Portugal não é obrigatória com exceção das
assumem
cabal
vacinas contra o tétano e difteria, e que por ainda
importância na promoção da saúde e adoção dos
não ter sido a revogado se mantém em vigor.
estilos de vida saudáveis, visando o bem-estar
Muitas outras vacinas que estão recomendadas
comum, sendo a adesão um dos instrumentos
no PNV e que são fundamentais na persecução
principais e mais eficazes na persecução desses
dos objetivos das políticas de saúde pública, que
objetivos.
assentam naturalmente na prevenção, ficam de
centrados
de
comportamentos
na
pessoa,
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fora por isso do ponto de vista legal as pessoas VOLUME 6. EDIÇÃO 3
Página 25
fora por isso do ponto de vista legal as
Conferência
Internacional
sobre
Cuidados
pessoas têm o poder de decisão sobre si e os
Primários de Saúde - Declaração de
seus dependentes, exceto na vacinação contra o
Alma-Ata, URSS, 6-12 de setembro de
tétano e difteria.
1978
Isto leva-nos a concluir que a pessoa é o
Conselho Internacional de Enfermeiros (2008).
ativo principal no sucesso ou no insucesso da
Servir
aplicação do PNV e que cabe aos profissionais
qualidade: Os Enfermeiros na vanguarda
guiar a pessoa em respeito pela sua autonomia e
dos cuidados de saúde primários. Edição
individualidade,
portuguesa da Ordem dos Enfermeiros.
de
encontro
às
melhores
decisões pessoais e coletivas na realização dos objetivos das políticas de saúde públicas.
a
Comunidade
e
garantir
a
Decreto-Lei nº 44198 de 20.02.1962, Ministério da Saúde e Assistência, Portugal. Decreto-Lei n.º 104/98 de 21 de Abril, Diário da
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VOLUME 6. EDIÇÃO 3
Brito, D., Agra, G., Costa, M. (2017) Cuidados Paliativos a Pacientes com Ferida Neoplásica: Uma Perspectiva para a Assistência de Enfermagem, Journal of Aging & Innovation, 6 (3): 28 38
REVISÃO INTEGRATIVA/ INTEGRATIVE REVIEW
DEZEMBRO 2017
Cuidados Paliativos a Pacientes com Ferida Neoplásica: Uma Perspectiva para a Assistência de Enfermagem
Palliative Care of the Patients with Wound Neoplasic: a Perspective for Nursing Care
Cuidados paliativos de pacientes con herida Neoplásicas: una perspectiva de atención de enfermería
Autores Débora Brito 1, Glenda Agra 2, Marta Costa 3 1
Enfermeira, 2, Psicóloga, Enfermeira, 3 Enfermeira, Doutora em Enfermagem
Corresponding Author: deborathaise_@hotmail.com
Resumo Objetivo: caracterizar o conhecimento descrito na literatura relacionado à assistência de enfermagem em cuidados paliativos com o paciente portador de ferida neoplásica. Método: trata-se de uma revisão de literatura sobre feridas neoplásicas. Para a realização deste estudo, optou-se pelas fases propostas da revisão integrativa sugeridas por Ganong (1987). Critérios de inclusão: artigos que retratem cuidados paliativos de enfermagem ao paciente portador de ferida neoplásica; que estejam indexados nas bases de dados LILACS e SciELO; publicados entre o período de 2002 e 2012 e em português, com resumos e textos completos disponíveis online. Critérios de exclusão: artigos em língua estrangeira e acesso mediante pagamento. Resultados: Foram encontradas três categorias: “Características das feridas neoplásicas”; “Ações básicas de enfermagem no cuidado com as feridas” e “Ações específicas de enfermagem em cuidados paliativos”. Conclusões: Este estudo mostrou que as feridas neoplásicas exacerbam sinais e sintomas que devem ser controlados, o que justifica a implementação de cuidados paliativos na assistência de enfermagem. Palavras Chave: Cuidados de enfermagem; Cuidados paliativos; Úlcera cutânea; Enfermagem oncológica.
Abstract Objective: to characterize the knowledge described in the literature related to nursing care in palliative care with the patient with neoplastic wound. Method: This is a review of the literature on neoplastic wounds. For this study, we chose the proposed phases of the integrative review suggested by Ganong (1987). Inclusion criteria: articles that portray nursing palliative care to the patient with neoplastic wound; That are indexed in the LILACS and SciELO databases; Published between 2002 and 2012 and in Portuguese, with abstracts and full texts available online. Exclusion criteria: articles in foreign languages and access for payment. Results: Three categories were found: "Characteristics of neoplastic wounds"; "Basic nursing actions in wound care" and "Specific nursing Autores
actions in palliative care". Conclusions: This study showed that neoplastic wounds
Dados curriculares exacerbate signs and symptoms that should be controlled, which justifies the implementation of palliative care
in nursing care. Keywords: Nursing care; Palliative care; Cutaneous ulcer; Oncological nursing.
JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
VOLUME 6. EDIÇÃO 3
Página 29
Introdução O
&Tomás, 2002; Firmino, 2005a; Matsubara, processo
responsável
de
pela
carcinogênese
2012).
celular
É imperativo ressaltar que os dados
descontrolada, em que ocorre, frequentemente, a
acima realçados soam como impacto para a
quebra de integridade cutânea e a infiltração de
equipe de Enfermagem em cuidados paliativos,
células
pele,
pois, no paciente oncológico, há probabilidade de
causando a formação de feridas neoplásicas.
se formarem fístulas e feridas, no final da vida,
Essas feridas são passíveis de tratamento,
em decorrência do avanço da doença ou como
desde que o câncer esteja na fase inicial e tenha
efeito tardio do tratamento radioterápico (Firmino,
possibilidades de cura. Porém, quando o
2005a;
processo patológico está em fase avançada e o
Kurashima,
tratamento antineoplásico não é mais indicado, a
desenvolver
conduta diante dessas lesões é unicamente
desagradável, odores intoleráveis, produção de
paliativa, a fim de controlar os sintomas físicos e
exsudato e sangramento, além de constituir uma
psicossociais (Brasil, 2011a).
deformidade corporal, provocando no paciente
malignas
proliferação
é
nas
estruturas
da
Matsubara,
2012;
2012).
Yamashita
Essas
úlceras
de
&
feridas
podem
aspecto
visual
O Instituto Nacional de Câncer (INCA)
distúrbio da autoimagem e desgaste psicológico,
estima cerca de 520 mil novos casos da doença
o que pode provocar sensação de desamparo,
para
humilhação e isolamento social. O cuidado com
2012
e
2013.
Em
2011,
estudos
apresentados por esse órgão apontaram sete
feridas
localizações de câncer que entraram no ranking
constante
dos
País,
incurável, do mal prognóstico e do insucesso
destacando-se a bexiga, o ovário, a tireoide (nas
terapêutico curativo, indicando aproximação da
mulheres), o sistema nervoso central, o corpo do
morte (Firmino, 2005b; Yamashita & Kurashima,
útero, a laringe (nos homens) e o linfoma não
2012).
tumores
mais
frequentes
do
Hodgkin. Tais estudos revelam, ainda, que os
neoplásicas
remete
lembrança
o
visível
paciente da
à
patologia
Nessa perspectiva, o cuidado paliativo
tipos de câncer mais incidentes nas regiões
configura-se
como
a
brasileiras são de pele não melanoma, próstata,
assistência ao paciente portador de ferida
mama e pulmão (Brasil, 2011b).
neoplásica, pois visa cuidar de pessoas com
proposta
patologias
que
pacientes oncológicos desenvolvem feridas, seja
tratamento
curativo
em decorrência do tumor primário ou de tumores
preconizar uma postura ativa frente ao controle
metastáticos.
que
dos sinais e dos sintomas inerentes à fase
acometem a pele constituem mais um agravo na
avançada da doença, que se tornou impossível
vida
pois,
de curar. O objetivo dos cuidados paliativos é
progressivamente, desfiguram o corpo e tornam-
diminuir, o máximo possível, o sofrimento físico e
se friáveis, dolorosas, secretivas e liberam odor
psicológico e promover uma qualidade de vida
fétido
possível para o paciente e sua família (Silva &
do
feridas
paciente
(Rocha,
neoplásicas
oncológico,
Menezes,
Almeida
Júnior
respondem e
se
mais
de
Estima-se que cerca de 5% a 10% dos
As
não
melhor
caracteriza
ao por
Hortale, 2006). JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
VOLUME 6. EDIÇÃO 3
Página 30
Considerando
o
enfermeiro
como
Método
um
membro ativo e integrante da equipe de cuidados paliativos
e,
geralmente,
pela
se pela revisão de literatura, utilizando-se as
realização de curativos, cabe aos profissionais
fases propostas da revisão integrativa, que
dessa
e
consiste em seis etapas: estabelecer a hipótese
habilidades que lhes permitam conhecer e
ou a pergunta da revisão; selecionar a amostra a
identificar características das feridas neoplásicas
ser revista; categorizar e avaliar os estudos;
e implementar cuidados específicos relacionados
interpretar os resultados e apresentar a revisão
a elas. Nesse sentido, realizar um curativo
ou a síntese do conhecimento (Mendes, Silveira
efetivo, confortável ao paciente e esteticamente
& Galvão, 2008).
área
desenvolver
responsável
Para o desenvolvimento deste estudo, optou-
competências
aceitável é um desafio para o enfermeiro.
Para a busca dos artigos, foram empregadas
Nesse ínterim, surge a seguinte pergunta:
as bases de dados Biblioteca Virtual de Saúde,
Qual a assistência de enfermagem em cuidados
Literatura Latino-americana e do Caribe em
paliativos dada ao paciente portador de ferida
Ciências da Saúde (LILACS) e Scientific Eletronic
neoplásica?
Libray Online (SciELO), por meio das seguintes
Tal questionamento configurou o
ponto de partida para o desenvolvimento desta
palavras-chave:
pesquisa, considerando-se a grande demanda
enfermagem, oncologia e ferida neoplásica.
de pacientes oncológicos com necessidades
Assim,
diversas e a dificuldade de encontrar estudos
respondessem a esta questão norteadora: Quais
e/ou
e
as ações de enfermagem nos cuidados paliativos
tratamento de feridas neoplásicas. Com este
ao paciente portador de ferida neoplásica? Os
estudo, pretende-se contribuir para a prática de
critérios de inclusão adotados para a escolha dos
profissionais que trabalham com pacientes em
artigos foram os seguintes: que retratassem
cuidados paliativos e estimular o interesse da
cuidados paliativos de enfermagem ao paciente
comunidade científica para a continuidade de
portador de ferida neoplásica; que estivessem
pesquisas nessa área.
indexados nas bases de dados supracitadas; que
materiais
didáticos
sobre
manejo
Diante do exposto, o objetivo deste estudo é caracterizar
o
conhecimento
selecionados
paliativos,
artigos
que
fossem publicados em português, entre o período
na
de 2002 e 2012, e cujos resumos e textos
literatura brasileira, relacionado à assistência de
estivessem disponíveis online. Foram excluídos
enfermagem em cuidados paliativos com o
os artigos escritos em língua estrangeira e com
paciente
acesso mediante pagamento.
portador
de
ferida
descrito,
foram
cuidados
neoplásica,
considerando-se que são as ações cotidianas
Para selecionar os artigos integrantes da
decorrentes das necessidades de cuidado que
pesquisa, procedeu-se à leitura do título de cada
contribuem para o controle dos sintomas dos
um deles e do seu resumo, com o fim de verificar
pacientes.
a
pertinência
do
estudo
com
a questão
norteadora desta investigação. Ao final da busca, encontraram-se 11 referências, contudo somente sete se enquadravam nos critérios de inclusão JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
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Página 31
sete se enquadravam nos critérios de inclusão
científica em três categorias temáticas, a saber:
deste estudo.
Categoria
Dos quatro artigos analisados, cinco foram publicados por enfermeiras assistenciais, e dois, por
enfermeiras docentes e discentes de
instituições de ensino, nos periódicos: Revista Brasileira de Enfermagem, Revista Brasileira de
Cancerologia,
Revista
de
Enfermagem
da
Universidade Estadual do Rio de Janeiro, Revista Científica do Hospital Central do Exército do Rio de Janeiro e Revista Prática Hospitalar. O tipo de publicação dos artigos analisados foi revisão bibliográfica, sendo que um deles foi uma síntese da Monografia do Curso de Residência em Enfermagem Oncológica, todos de produção científica brasileira.
I
-
Características
das
feridas
neoplásicas; Categoria II - Ações básicas de enfermagem no cuidado com as feridas e Categoria III - Ações específicas de enfermagem em cuidados paliativos. Características das feridas neoplásicas
Os
sete
(100%)
estudos
sob
apreciação
apresentaram uma análise da literatura sobre a fisiopatologia das feridas neoplásicas, realçando o interesse crescente em revisões bibliográficas sobre o câncer, referentes ao aparecimento dos sintomas, como pode ser verificado no texto que segue. A ferida neoplásica desenvolve-se a partir de três eventos: crescimento do tumor, que irá ocasionar quebra da integridade da pele,
Para a análise e posterior síntese dos artigos que
neovascularização e invasão da membrana basal
atenderam
foi
por células malignas de forma acelerada e
desenvolvido um formulário de coleta de dados,
infiltrativa, com crescimento expansivo da ferida
preenchido para cada artigo da amostra final do
sobre a superfície acometida; como resultado de
estudo. O formulário contempla informações
um câncer avançado de pele ou em casos de
sobre identificação do artigo e autores; objetivos
metástases, podem ulcerar, evoluindo para a
do
metodológicos;
formação de uma cratera ulcerativa, comumente
análise dos dados, resultados e discussão;
associada com carcinoma de células escamosas
conclusões
nos
ou melanoma. Dependendo de sua localização,
cuidados paliativos ao paciente portador de
pode invadir e destruir estruturas internas e
feridas neoplásicas.
formar fístulas (Poletti et al, 2002; Gomes &
aos
estudo;
critérios
de
procedimentos
e
ações
de
inclusão,
enfermagem
Resultados e Discussão A apresentação dos dados e a discussão foram realizadas de forma descritiva, a fim de possibilitar a aplicabilidade dessa revisão na prática de enfermagem ao paciente portador de ferida neoplásica.Seguindo a proposta pelo referencial teórico adotado, categorizaram-se os resultados encontrados na revisão da literatura JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
Camargo, 2004; Firmino, 2005a; Leite, 2007; Matsubara, 2012). As denominações mais comuns das feridas neoplásicas são: feridas ulcerativas malignas, caracterizadas pela formação de úlceras e crateras
rasas;
feridas
fungosas
malignas
ulceradas, devido à união do aspecto vegetativo e apresentação de partes ulceradas; feridas fungosas
malignas
ou
feridas
neoplásicas
VOLUME 6. EDIÇÃO 3
Página 32
fungosas
malignas
neoplásicas
fibrinogênio e plasma pelo tumor; produção de
vegetantes, quando são semelhantes à couve-
fatores de permeabilidade vascular aumentada
flor (Gomes & Camargo, 2004; Firmino, 2005a;
pelo tumor e aumento de bactérias anaeróbias
Matsubara, 2012).
confinadas na superfície da lesão que, quando
Geralmente, apresentam
os
ou
feridas
pacientes
deficiência
com
nutricional,
câncer o
que
infectadas, liberam larga quantidade de exsudato fibroso (Gomes & Camargo, 2004; Firmino,
concorre para uma deficiência de aminoácidos,
2005a; Leite, 2007; Matsubara, 2012).
suprimento de energia diminuído e oxigênio
É sobremaneira importante enfatizar a relevância
comprometido, prejudicando a produção de
do conhecimento do enfermeiro sobre as
fibroblastos para a contração tecidual, o que
propriedades, as características e a classificação
contribui para que as feridas neoplásicas não
das feridas neoplásicas, o que subsidiará, de
cicatrizem. Além disso, as feridas neoplásicas
forma concreta, o tratamento e o planejamento
apresentam outras características importantes,
das ações de enfermagem, considerando-se os
como sangramento, exsudação intensa, prurido e
recursos humanos e materiais disponíveis e
presença de um odor característico. Alguns
necessários, bem como o desenvolvimento de
eventos estão ligados ao crescimento das células
ações educativas direcionadas ao paciente e ao
tumorais, como o sangramento, causado pela
cuidador. Esses aspectos promoverão uma
ruptura de capilares e vasos, além de diminuição
melhoria significativa em sua condição física,
na função plaquetária no tumor a tratamentos
psicológica e social.
como a radioterapia e por traumas durante a remoção do curativo (Poletti et al, 2002; Gomes
Ações básicas de enfermagem no cuidado
& Camargo, 2004; Firmino, 2005a; Leite, 2007;
com as feridas
Matsubara, 2012).
A Enfermagem é responsável pelos cuidados
A oclusão dos vasos sanguíneos, devido à
relacionados com o preparo físico e psicossocial
pressão causada pelo crescimento tumoral,
do paciente, ensino e cuidados técnicos, com
reduz a difusão do oxigênio, provocando hipóxia,
fornecimento de suporte profissional para que o
o que leva à proliferação de bactérias aeróbias e
portador de feridas alcance o bem- estar físico,
anaeróbias que, por sua vez, liberam ácidos
psíquico e social. Dos sete (100%) artigos em
graxos voláteis, como o ácido acético e o
análise, quatro (57,1%) versaram sobre as ações
caproico, e gases putrecina e cadaverina, que
básicas de enfermagem em cuidados paliativos,
produzem um odor fétido (Poletti et al, 2002;
descritas logo abaixo.
Firmino, 2005a; Leite, 2007; Matsubara, 2012).
A primeira ação específica de enfermagem
O crescimento agressivo do tumor leva a um
direcionada ao paciente com ferida neoplásica é
processo inflamatório, por meio do qual ocorre a
a avaliação da lesão, que exige do enfermeiro
liberação de histaminas, responsáveis pelo
habilidade cognitiva para julgamento clínico com
prurido ao redor da ferida, cuja exsudação pode
base em experiência prática e testes objetivos,
ser
na história fornecida pelo paciente ou por seu
atribuída
à
hiperpermeabilidade
ao
cuidador e na observação do profissional. DeveJOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
VOLUME 6. EDIÇÃO 3
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cuidador e na observação do profissional. Deve-
(Gomes & Camargo, 2004; Firmino, 2005b; Leite,
se avaliar a ferida quanto a sua apresentação,
2007; Matsubara, 2012)
localização, tamanho, coloração, quantidade de
As orientações sobre os cuidados com a ferida
secreção,
devem ser oferecidas ao paciente e ao cuidador,
grau
de
odor,
presença
de
sangramento, fístulas, tuneilizações, prurido e
incluindo
produtos
dor. Nesse contexto, é importante classificá-la de
peridiocidade de troca de curativos e possíveis
acordo com o estadiamento de lesões tumorais
complicações. O enfermeiro deve realizar o
(Firmino, 2005b; Leite, 2007; Yamashita &
curativo na presença do cuidador, para que ele
Kurashima, 2012; Matsubara, 2012).
possa observar e, num segundo momento,
O planejamento do cuidado deve ser centralizado
supervisionar
no paciente e partir da premissa de que é
esclarecendo eventuais dúvidas (Firmino, 2005a;
fundamental proporcionar-lhe conforto, ou seja,
Leite, 2007; Matsubara, 2012).
fazer paliação dos sintomas para melhorar sua
O registro é fator importante na avaliação das
qualidade de vida (Leite, 2007).
feridas
A implementação do tratamento proposto deve
detalhado para a obtenção de parâmetros de
respeitar as consequências físicas e psicológicas
comparação
causadas pela ferida, promovendo cuidados
avaliando-se a eficácia do tratamento e a
individualizados, que supram os desejos do
satisfação
paciente e que provoquem mínima alteração em
documentadas todas as intervenções, incluindo a
seu estilo de vida (Leite, 2007).
avaliação da ferida, a educação realizada com o
a
a
execução
neoplásicas.
em
do
serem
Deve
do
ser
situações
paciente.
utilizados,
curativo
preciso
e
posteriores,
Devem
ser
A limpeza da ferida é o primeiro passo da
paciente e/ou cuidador, especificando os pontos
terapêutica tópica. Para isso, vale ressaltar as
de dificuldades de entendimento, habilidades e
intervenções básicas de enfermagem, tais como:
resultados obtidos (Firmino, 2005a; Leite, 2007).
limpar a ferida para remover, superficialmente, bactérias e desbridamento; conter ou absorver
Ações
exsudato; eliminar espaço morto com produtos
cuidados paliativos
tópicos específicos; eliminar a adesão de gazes
Nos sete (100%) artigos analisados, os autores
às bordas ou superfície da ferida; manter o leito
enfatizam o tratamento de feridas neoplásicas,
da ferida úmido; promover curativos com boa
sob a égide dos cuidados paliativos, objetivando:
aparência; empregar técnica cautelosa visando
identificar e eliminar os locais de infecção
analgesia; retirar as gazes anteriores com
presente; controlar o prurido, o odor, o exsudato,
irrigação abundante; irrigar o leito da ferida com
a necrose, as fístulas cutâneas e o sangramento;
jato de seringa de 20 ml, com agulha de diâmetro
manter o conforto, prevenir o isolamento social e
de 40x12; utilizar luvas estéreis; proteger o
proporcionar qualidade de vida. Nos parágrafos
curativo com saco plástico, durante o banho de
seguintes, serão mencionadas ações específicas
aspersão, e abri-lo para troca somente no leito,
de enfermagem em cuidados paliativos.
para evitar a dispersão de bactérias no ambiente
Os aspectos psicológicos devem ser tratados
JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
específicas
de
enfermagem
em
VOLUME 6. EDIÇÃO 3
Página 34
com atenção especial, pois o paciente portador
cirurgia, em conjunto com a equipe médica, e
de ferida neoplásica apresenta degradação da
comunicar à equipe médica os casos de
imagem, fica afastado do convívio familiar e
sofrimento álgico que fogem ao controle da
social, devido ao odor proveniente da lesão, e
conduta preconizada (Poletti et al, 2002; Gomes
cultiva uma lembrança constante da progressão
& Camargo, 2004; Leite, 2007; Firmino, 2005a;
da doença relacionada a essa problemática.
Silva &Pazos, 2005).
Esses fatores promovem melancolia, revolta e
O controle do exsudato é importante pelos
depressão, que contribuem para que piore o
seguintes fatores: diminui o odor, protege a pele
estado clínico geral (Leite, 2007; Ferreira, Souza,
sadia perilesional, aumenta o conforto do
Costa & Silva, 2009).
paciente e melhora sua autoestima. O exsudato
A dor do paciente oncológico portador de ferida
pode ser controlado com curativos absortivos,
neoplásica é um dado peculiar a ser investigado.
tais como: hidrogel amorfo, carvão ativado,
Devem ser avaliados tanto os fatores físicos
alginato de cálcio, zobec como cobertura
responsáveis pela gênese da dor quanto os
secundária e uso de antibioticoterapia. A pele
fatores psicológicos. É pertinente encorajar o
periferida, muitas vezes, torna-se macerada pelo
paciente a falar sobre seu quadro álgico,
contato constante com a secreção, por isso é
descrever a sensação dolorosa, sua localização,
recomendada a aplicação de vitamina A+D em
temporalidade e intensidade (Poletti et al, 2002;
forma de pomada, a fim de proteger a pele. É
Gomes & Camargo, 2004; Leite, 2007; Firmino,
preciso, também, atentar para a necessidade de
2005a).
se colher secreção para a cultura, registrar o
As ações específicas no controle da dor são:
procedimento, aguardar o resultado e comunicar
monitorar e registrar o nível de dor pela Escala
à equipe médica para a avaliação (Poletti et al,
Visual Analógica (EVA); registrar a analgesia
2002; Gomes & Camargo, 2004; Leite, 2007;
empregada; considerar o uso de gelo e de
Firmino, 2005a; Santana, Matsubara & Vilella,
opioides; planejar o curativo e sua troca de
2012).
acordo com a necessidade de analgesia prévia
No que se diz respeito ao controle do prurido, o
ou o uso de sedativos; aplicar gazes embebidas
primeiro passo é investigar a causa. As ações
em hidróxido de alumínio; considerar o uso de
específicas para o controle do prurido são: aplicar
lidocaína 2%; empregar técnica cautelosa sem
dexametasona creme 0,1% no local referido; se
esfregaço do leito ulceral; retirar os adesivos
o prurido for persistente, avaliar, junto com a
cuidadosamente com o uso de éter; irrigar o leito
equipe médica, a necessidade de terapia
ulceral com água destilada ou soro fisiológico a
sistêmica; inspecionar o local, atentando para os
0,9% e aplicar óxido de zinco nas bordas e ao
sinais de candidíase cutânea ao redor da ferida.
redor da ferida; reavaliar a necessidade de se
Nesses
alterar o esquema analgésico prescrito antes e
sulfadiazina de prata 1% (Poletti et al, 2002;
depois do curativo; considerar a necessidade de
Firmino, 2005a; Santana et al, 2012).
antiinflamatórios,
radioterapia
antiálgica
casos,
deve-se
aplicar
pomada
ou
JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
VOLUME 6. EDIÇÃO 3
Página 35
A infecção da ferida por microorganismos
0,9%) ((Poletti et al, 2002; Gomes & Camargo,
anaeróbios e tecido desvitalizado causam o odor
2004; Firmino, 2005a; Santana et al, 2012).
fétido, descrito como o sintoma que mais causa
No odor grau III (fétido e nauseante), deve-se
sofrimento, em decorrência da sensação de
considerar emergência dermatológica; seguir os
enojamento e isolamento social que imputa o
passos no controle de odor graus I e II e
paciente. No entanto, o odor é minimizado
considerar, junto com a equipe médica, a
utilizando-se antibiótico sistêmico.(Silva & Pazos,
possibilidade
2005; Oliveira & Poles, 2006; Ferreira et al,
metronidazol sistêmico endovenoso ao uso
2009).
tópico. Posteriormente, pode-se seguir com o
O controle do odor é descrito de acordo com o
uso sistêmico via oral, porém mantendo o uso
grau de classificação. No odor grau I (sentido ao
tópico (Poletti et al, 2002; Gomes & Camargo,
se abrir o curativo), deve-se proceder à limpeza
2004; Firmino, 2005a; Leite, 2007; Santana et al,
com soro fisiológico 0,9% e realizar antissepsia
2012).
com hipoclorito de sódio ou polivnil pirrolidona
Para controlar o sangramento, deve-se aplicar
iodo (PVPI); retirar o antisséptico e manter gazes
pressão diretamente sobre os vasos sangrantes;
embebidas de hidróxido de alumínio no leito da
considerar a aplicação de soro fisiológico 0,9%
ferida. Outras opções de tratamento são:
gelado;
aplicação de sulfadiazina de prata e/ou carvão
hemostático,
ativado envolto de gaze umedecida com soro
tranexâmico ou adrenalina, solução injetável
fisiológico 0,9% e oclusão da ferida com gaze
topicamente sobre a ferida em seus pontos
embebida em vaselina líquida (Poletti et al, 2002;
sangrantes; manter o curativo meio úmido, para
Gomes & Camargo, 2004; Firmino, 2005a; Leite,
evitar a aderência de gazes no sítio ou na
2007; Santana et al, 2012).
superfície e nas bordas da lesão; verificar, com a
No odor grau II (sentido sem se abrir o curativo),
equipe médica, a possibilidade de iniciar:
deve-se proceder à limpeza da ferida e realizar
coagulante
antissepsia
de
radioterapia anti-hemorrágica, sedação paliativa
metronidazol (1 comprimido de 250mg diluído
para casos de sangramento intenso, desespero
para 250ml de soro fisiológico 0,9%). Se o tecido
do paciente e avaliar
necrótico
houver
hemotransfusões (Poletti et al, 2002; Gomes &
necessidade, realizar escarotomia e aplicar
Camargo, 2004; Firmino, 2005a; Leite, 2007;
comprimidos secos e macerados sobre a ferida,
Santana et al, 2012). No que concerne ao
ocluindo com gaze embebida em vaselina
controle das fístulas, deve-se proceder com a
líquida. A solução pode ser substituída pela
aplicação de óxido de zinco na pele ao redor da
pomada vaginal de metronidazol, gel 0,8% ou
ferida; aplicar hioscina tópica nas fístulas de
solução injetável diluída na proporção 1/1 (100 ml
baixo débito; considerar o uso de esteroides
da droga diluída em 100 ml de soro fisiológico
tópicos (se houver inflamação); ponderar o uso
e
irrigá-la
estiver
com
endurecido
solução
e
de
curativos
se
associar
à
alginato
sistêmico,
base
de
o
de
uso
colágeno
cálcio,
intervenção
de
ácido
cirúrgica,
a necessidade de
de bolsas nas fístulas de alta drenagem, com JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
placas de hidrocoloide ao redor da pele e realizar VOLUME 6. EDIÇÃO 3
Página 36
placas de hidrocoloide ao redor da pele e realizar
a fim de minimizar desconfortos e problemas
curativo absortivo como carvão ativado e/ou
sociais, psíquicos e emocionais que são gerados
alginato de cálcio, com gaze do tipo ‘zobec’ como
pelas
cobertura secundária (Firmino, 2005a; Leite,
permeiam a filosofia dos cuidados paliativos,
2007; Santana et al, 2012). Em se tratando do
caracterizados
controle da necrose, avaliam-se as necessidades
promoção de conforto e de bem-estar, melhoria
de desbridamento e o status do paciente
dos aspectos físicos, psicológicos, sociais e
(Firmino, 2005a; Matsubara, 2012).
espirituais.
É notório, neste estudo, que, à medida que se
Na análise dos métodos utilizados nos trabalhos
aproxima o fim da vida, as feridas neoplásicas
sobre as ações de enfermagem em cuidados
passam a exacerbar sinais e sintomas, causando
paliativos com o paciente portador de ferida
estresse físico e psicológico ao paciente, aos
neoplásica, verificou-se que foram desenvolvidos
cuidadores, aos familiares e aos profissionais de
por especialistas, com base teórica e científica, e
saúde. Portanto, é preciso controlá-los, o que
que propõem protocolos clínicos de intervenções
justifica a implementação de cuidados paliativos,
de enfermagem para o cuidado com o paciente
cuja meta é a qualidade de vida.
portador de ferida neoplásica, sem constituir
O investimento na realização de trabalhos que
metodologicamente
buscam evidências científicas por meio de
identificar estudos com nível forte de evidência.
revisão de literatura, em temas específicos das
feridas
Nesse
neoplásicas.
por
alívio
estudos
ínterim,
as
Essas
dos
ações
sintomas,
clínicos,
nem
pesquisadoras
feridas neoplásicas, ainda é incipiente. À medida
concluem que a utilização da revisão de literatura
que forem realizadas investigações sobre os
contribuiu para o alcance dos objetivos propostos
diversos aspectos envolvidos no cuidado com o
neste trabalho. Porém, é preciso realizar outros
paciente portador de ferida neoplásica, as
estudos nessa área, para subsidiar, mais
intervenções
serão
profundamente, o planejamento e as ações de
cientificamente mais efetivas na prática clínica
enfermagem, no contexto dos cuidados paliativos
assistencial do enfermeiro.
direcionados a pacientes oncológicos com
e
as
estratégias
feridas. Conclusões O
desenvolvimento
deste
artigo
Referências
possibilitou dimensionar e analisar a produção do conhecimento sobre as ações de enfermagem
Brasil. (2011a). Ministério da Saúde. Instituto
em cuidados paliativos com o paciente portador
Nacional do Câncer. Tratamento e controle de
de ferida neoplásica.
feridas tumorais e úlceras por pressão no câncer
Nesse contexto, ressalta-se que os estudos que
avançado. Série Cuidados Paliativos. Available
compunham essa revisão enfatizam que a
from: http://www.inca.gov.br
enfermagem deve proporcionar um cuidado humanizado e singular a pacientes oncológicos, JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
VOLUME 6. EDIÇÃO 3
Página 37
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VOLUME 6. EDIÇÃO 3
Antão, C., Branco, M., Pereira, F. (2017) Comunicar em saúde: a mais-valia da linguagem proverbial, Journal of Aging & Innovation, 6 (3): 39 - 46
REVISÃO SISTEMÁTICA/ SYSTEMATIC REVIEW
DEZEMBRO 2017
Comunicar em saúde: a mais-valia da linguagem proverbial La comunicación en salud: el valor añadido del lenguaje proverbial Health communication: the added value of proverbial language
Autores Celeste Antão 1, Maria Augusta Branco 2, Fernando Pereira 3 1,3
Instituto Politécnico de Bragança – Escola Superior de Saúde; Núcleo de Investigação e Intervenção do Idoso, 2 Instituto
Politécnico de Bragança – Escola Superior de Saúde; PAIDEA-Plataforma Internacional para o Desenvolvimento da Educação Emocional Corresponding Author: celeste@ipb.pt
Resumo Na atualidade a sociedade enfrenta grandes desafios. A promoção da saúde dos indivíduos é um deles. As estratégias socioeducativas a utilizar na conscientização do público para este desafio são variadas mas nem sempre eficazes. Cada vez mais os atores envolvidos no processo educativo têm de usar abordagens inovadoras para obter a mudança de comportamentos desejáveis. Neste sentido é importante educar e capacitar as pessoas para se tornarem cidadãos ativos. As mensagens e ensinamentos transmitidos através da oralidade, são importantes para comunicar em saúde. Objetivo: analisar estudos publicados sobre o recurso à linguagem proverbial na área da saúde, bem como os seus contextos e mais-valias. Metodologia: revisão sistemática de literatura de artigos publicados em plataformas de base de dados e revistas científicas. Resultados: O recurso aos provérbios pode ser uma estratégia pedagógica importante, tanto na interação direta com os utentes em múltiplos contextos, como no diagnóstico precoce de alteração da saúde mental. Palavras-chave: provérbios, comunicação, saúde. Abstract Nowadays society faces major challenges. Promoting and maintaining the health of individuals and communities is mandatory. The contexts and tools for the public awareness for this challenge are varied but not always effective. More and more the actors involved in the educational process have to use innovative approaches for the change in desirable ways. Therefore, it is important to educate and empower people to become active actors. The messages and lessons, summarized and transmitted through orality, are important to communicate in health and in the interaction between caregiver and patient. Objective: To analyze published studies on the use of proverbial language in health as well as their contexts and advantages. Methodology: systematic literature review of articles published in database platforms and scientific journals. Results: The recourse to proverbs can be an important pedagogical strategy, both in direct interaction with users in multiple contexts, such as in the early diagnosis of mental diseases. Keywords: sayings, communication, health JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
VOLUME 6. EDIÇÃO 3
Página 40
Introdução
de tradição oral, as relações são geralmente
A manutenção da saúde, a capacitação dos
do tipo "face a face" e que a mensagem passa
indivíduos para tomarem decisões conscientes, a
pelo emissor e recetor, onde no caso dos
prevenção da doença e o tratamento em tempo
provérbios o remetente é aquele que fala em
útil são hoje preocupações centrais da sociedade
provérbios, e o recetor é a pessoa a quem se fala
e dos sistemas de saúde. As otimização da
em
comunicação entre os profissionais de saúde e
conscientes de não estar sozinhos no mundo. Os
os seus clientes é fundamental.
intervenientes, apercebem-se que fazem parte
Para Silva, comunicar, palavra proveniente do latim comunicare, significa
provérbios.
Ambos
estão
plenamente
de um grupo humano, que tem um passado e uma forma de adaptação ao ambiente e à
“que queremos colocar em comum, o que
sociedade. O recurso aos provérbios é uma
conseguimos “trocar” quando atendemos as
estratégia frequentemente utilizada nos mais
pessoas, quando exercemos nosso papel de
diferentes contextos.
profissionais da área da saúde. Quando estamos
Sendo
diante
conhecimento
das pessoas não somos só uma
os
provérbios comum,
expressões do
do
conhecimento
informação, não somos só um discurso teórico; o
coletivamente partilhado, Lopes (1992) questiona
que sentimos também é percetível para o outro
a sua ocorrência ou a sua citação no decurso de
através das próprias palavras que utilizamos no
um
contacto e através dos nossos gestos, das
comportando
nossas expressões corporais, faciais (Silva,
porque será que eles são usados em tantos
2013, p.2).
contextos? Para compreender o provérbio no
processo
de
interação
informação
verbal.
semântica
Não nova,
Tal como defende esta autora, na perceção
processo comunicação oral, Sumner (1999),
da comunicação verbal nós temos um processo
utiliza um sistema de eixos. Um eixo horizontal
de exteriorização do ser social e a forma
onde há o emissor e um recetor onde passa a
adequada e terapêutica de se comunicar com as
mensagem. Um eixo vertical, de semântica
pessoas é, sem dúvida, relacionando-se com o
cultural, onde a mensagem parte da tradição e
sadio que existe nelas. A comunicação adequada
visa uma situação real, ou seja, mesmo que esta
e terapêutica, é aquela que não tenta negar os
situação seja reduzida para evocação de um fato
conflitos, as diferenças de perceção de uma
do passado, ela é, de certo modo, fruto e a
mesma realidade, os mal-entendidos, mas que,
atualização dessa mesma tradição. Este autor
simultaneamente, não perde o foco dos objetivos
refere algumas condições que devem estar
a serem atingidos na solução dos problemas
presentes
detetados.
compreendido de modo a garantir que a
A comunicação verbal, a palavra falada e ouvida, ocupa uma posição privilegiada. Tendo presente o defendido por Sumner (1999), que numa sociedade JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
para
o
provérbio
ser
comunicação deve estabelecida de forma eficaz entre o remetente e o recetor, designadamente: não deve haver nenhuma distância física considerável, o mesmo é VOLUME 6. EDIÇÃO 3
Página 41
dizer que um provérbio não pode ser gritado à
provérbio tem a liberdade de argumentar e refletir
distância; o provérbio é usado numa situação
da coerência do mesmo e mesmo devolvendo a
concreta condicionando sua compreensão; o
sua opinião com outros provérbios. Em síntese,
remetente e o recetor devem de alguma forma
neste eixo horizontal, o provérbio é um fator
participar nesta situação; e, a condição ideal da
privilegiado de comunicação, permitindo trocas
utilização do provérbio é quando ele retira a
que não sendo unívocas, permitem partilhas,
ambiguidade de uma situação. Daqui decorre
pode esclarecer e lançar luz sobre diferentes
que o uso de um provérbio é mais eficaz quando
temáticas (Sumner, 1999).
a interação entre os interlocutores da conversa é
Sendo utilizados em múltiplos contextos e sendo
marcada pela sua singularidade, proximidade e
trivial a sua alusão, Sumner (1999) salienta que
intimidade.
dos
o ditado popular tem várias funções, destacando
provérbios, a partilha e tomada em consideração
a cognitiva, expressiva, normativa e educativa,
do seu significado, é tanto maior quanto maior é
discursiva, e cultural. Na função cognitiva, o
a identidade cultural dos interlocutores e a
objetivo do provérbio é dar uma forma à
pertinência face ao contexto em que decorre a
realidade. A função expressiva realça que a
interação.
pessoa ao dizer um provérbio, não permanece
A
eficácia
comunicacional
O profissional de saúde, no papel de emissor
apenas
em
um
nível
cognitivo,
podendo
ou remetente, gera mensagens ao utente/doente
expressar a sua desaprovação por tal falta de
em múltiplos contextos que necessitam de ser
conformidade. Função normativa e educativa,
descodificadas. O remetente, pessoa que, em
quando o provérbio pretende recordar as normas
uma dada situação, diz algo a respeito dela,
que se impõem sobre o indivíduo e provocar uma
expressa uma verdade "lógica" de ordem
certa linha de conduta. A função discursiva
cognitiva, mas além do aspeto puramente
ocorre porque surge num discurso, dando ao
cognitivo, há o envolvimento do remetente com o
discurso a sua força e podendo ser o seu ponto
recetor. O provérbio aparece quando um facto,
final, onde o recetor não pode contrapor. Por
um acontecimento, uma situação exige algum
último a função cultural surge porque quando se
comentário
em
verbaliza um provérbio, os interlocutores estão
provérbios só é possível porque uma qualquer
cientes de pertencerem à mesma comunidade
circunstância não é absolutamente clara para
humana. Ao reconhecer o provérbio, o recetor
todos, por exemplo: quando o remetente precisa
admite que ele tem com o remetente um
clarificar algo aos outros, para chamar a atenção
passado cultural que lhe aviva imagens e
num ponto, para expressar a sua opinião sobre o
normas que são reconhecidas por ambos.
adicional.
O
comentário
assunto ou, simplesmente, para vincular aquilo que ele aprendeu com a tradição. O provérbio serve então para esclarecer a situação para aqueles que ainda não entenderam algo ou alguma coisa. O recetor, caso tenha entendido o
Antão (2009), numa análise de cerca de 290 provérbios relacionados com processos de saúde e doença concluiu, que a maioria tinha corroboração científica, 164 (56,55%), quer por estudos efetuados, quer por opinião
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Página 42
expressa de personalidades e organizações com
comportamentos saudáveis pelos indivíduos);
credibilidade científica na área. Do total, 86,2%,
como estratégia pedagógica e/ou facilitadora da
foram inseridos no espaço concetual designado
comunicação entre os profissionais e utentes dos
Promoção
resultados
cuidados de saúde; como auxiliar no diagnóstico
evidenciam um potencial recurso comunicacional
clínico, evitando julgamentos precipitados ou
em termos autogénicos quando bem utilizados e
estereotipados;
contextualizados.
comportamento profissional e da identidade
da
Saúde.
Estes
profissional,
como
sobretudo
auxiliares quando
do
incorporam
Metodologia
algum elemento de humor, podem ajudar a lidar
Pretendemos analisar estudos publicados sobre
com
o recurso à linguagem proverbial na área da
potencialmente conflituosas, ao mesmo que
saúde, bem como os seus contextos e mais-
tempo que contribuem para a humanização dos
valias.
serviços.
Foi feita pesquisa avançada na Biblioteca do
Machado e col. (2011), assinalam que a riqueza
Conhecimento Online - b-on onde constassem no
da linguagem proverbial se encontra em todas as
título, termos “provérbios” e “Proverbs AND
diferentes fases do desenvolvimento humano,
health” filtrando os artigos divulgados nos últimos
destacando-se a pesquisa em pediatria e a
cinco anos e em qualquer idioma. Encontraram-
infância que evidencia o papel da linguagem
se 16 artigos e 2 teses – uma de mestrado e outra
proverbial nas aprendizagens de pais para filhos.
de doutoramento, nos seguintes recursos: Arts &
Sé
Humanities Citation Index (Web of Science) - 4;
significação na interpretação de provérbios por
Dialnet - 2 (DOAJ) - 5; MEDLINE (NLM) - 1;
sujeitos com provável doença de Alzheimer leve,
SciELO
Brazil (Scientific Electronic Library
comparando os grupos com a doença e sem
Online) - 5; Taylor & Francis Online (Journals) -
doença, ambos procederam à contextualização
1.
dos provérbios, imaginando uma situação de
situações
(2001),
embaraçosas
estudaram
os
ou
mesmo
processos
de
uso, verificaram haver diferenças significativas A importância da linguagem proverbial em
no percurso enunciativo-discursivo realizado
saúde
pelos sujeitos não-Alzheimer e pelos Alzheimer.
Levine e Bleakley (2012) consideram que os
Santos, Sougey & Alchieri, (2009) validaram o
aforismos e provérbios médicos devem ser
Teste de Rastreio de Doença de Alzheimer com
explorados, não porque eles estão em perigo de
Provérbios (TRDAP), elaborado com pedras do
extinção, mas sim, para revelar a sua importância
jogo de memória de provérbios, tendo-se
na cultura médica e suas práticas, relações e
verificado que este instrumento é válido para
instituições. Estes assinalam que o significado e
rastrear doença de Alzheimer.
propósito da linguagem proverbial é útil nas
Novás & Machado (2014) estudaram aforismos e
seguintes situações: como auxiliares de memória
provérbios abordando aspetos úteis para os
(importante
médicos de família quer na prática clinica como
na
adoção
de
práticas
e
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Página 43
na formação em geral, verificando que
verdade
muitos deles encerram em, breves palavras,
questionamentos ou dúvidas. Além disso, o
todo um curso de filosofia de a vida,
seu comprometimento não é com a verdade
mostrando
mais
dos fatos, mas com a transmissão de
profundos mais claros, quanto mais fortes
aspetos culturais passados de gerações em
mais generosos; concluíram ainda que eles
gerações”. Neste sentido ao valorizar a
revelam normas de conduta em diversas
interação sócio comunicativa, poderá ser
situações relevantes em saúde.
uma estratégia pedagógica viável, desafiante
também
que
quanto
Kimes, Golden, Maynor, Spangler & Bell (2014), conduziram sessões de educação para a saúde visando reduzir o risco cardiovascular recorrendo à utilização de provérbios, tendo estes, como já foi dito se revelado
uteis
na
mudança
de
comportamentos de risco. Através
do
provérbio,
e
definitiva,
rentável
em
não
passível
contextos
de
educacionais
relacionados com a saúde. Mais do que relembrar evidências científicas, a linguagem proverbial pode ser um contributo reflexivo na mudança de comportamentos de risco e, simultaneamente, na colocação em prática de comportamentos promotores de saúde (Levine & Bleakley, 2012). No que concerne
a
comunicação
aos aspetos culturais também Kimes e col.
estabelecida entre o remetente e o recetor
(2014) salientam a necessidade de recorrer
torna-se um movimento contínuo, para frente
aos provérbios como forma de “chegar” às
e para trás, entre a tradição e a situação real.
populações, quando se pretende intervir na
Não há condições sociais para o uso de
mudança de estilos de vida no sentido de
provérbios, podendo ser proferidos por,
promover a saúde e prevenir a doença.
jovens ou velhos, homens ou mulheres, a qualquer hora e em qualquer situação. É uma
Ainda relacionado com a mudança de
forma particular de conhecimento e de
comportamentos, mas no sentido inverso,
comunicação que apela para um certo tipo de
quando os provérbios estiverem associados
educação na medida em que apela a uma
a
consciência cultural (Sumner,1999).
encontrado em estudos de Machado e col.
comportamentos
de
risco
como
o
(2011) deverá haver algum cuidado na sua Para Meira (2011, p. 67) “os provérbios não
utilização, bem como a desmistificação dos
são
científico,
mesmos.
transmitir
encontrada por Antão (2009), ao encontrar
conhecimentos da experiência do dia-a-dia,
no seu estudo 43,45% de provérbios sem
por isso não há como observá-los como uma
qualquer corroboração científica.
dotados
caracterizam-se
de
um por
valor
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Esta
realidade
foi
também
VOLUME 6. EDIÇÃO 3
Página 44
outro
Síntese reflexiva Considerando que o objetivo último da ciência consiste em gerar conhecimento, e melhorar qualidade de vida das pessoas, esperamos que esta pesquisa contribua para melhorar o processo comunicativo em geral
que
está
atento
ao
nosso
comportamento e ao nosso discurso, somos capazes de entender o que pensa, sente e vice-versa, por isso, a comunicação pode ser entendida
como
a
base
do
cuidado
terapêutico.
e na área da saúde em particular. Como
Finalmente, lembramos Botell e Riverón
afirmam Osterman e Silva (2009) “Muito mais
(1996) que nos dizem que a força de uma
do que “letrar” os pacientes em questões de
ideia é maior se pode ser dita em poucas
saúde,
palavras e se dita de uma forma bela, melhor
a
formulação
oferece
uma
oportunidade explícita de “checagem” de compreensão
para
a
qual
ambos
os
interagentes são chamados a colaborar”. Os autores consideram que alguém interage, quando torna explícito o seu entendimento sobre o que se disse e o que está
ainda. A linguagem proverbial deve ser valorizada e enfatizada e devidamente contextualizada, contribuindo para a obtenção de ganhos em Saúde.
acontecendo no momento ou após várias
Em futura investigação deverá ser explorada
sequências de interações. Também Sunwolf
a utilização da linguagem proverbial nos
(1999), defende que a sabedoria proverbial
processos formativos dos profissionais de
sugere possibilidades narrativas de ensino e
saúde, como estratégia para melhorar a
aprendizagem através da história oral,
capacidade dos estudantes em lidar com as
podendo contradizer, expandir ou confundir
situações encontradas no dia-a-dia e, assim,
nossas visões de mundo: persuadindo
melhor compreender e se fazerem entender
através de pensamentos autogerados, da
na
participação ativa, da modelagem, e da
utentes/doentes.
deliberação consciente.
sua
relação
terapêutica
com
os
Contribuintes: Todos os autores
Silva (2013) lembra-nos o provérbio árabe “a
contribuíram igualmente para a conceção,
mente é como vento e o corpo como a areia.
redação e edição do documento, aprovando
Se você quer conhecer o vento, observe o
assim o documento final para a
movimento
apresentação.
da
areia”,
salientando
que
nenhum de nós fala tudo que pensa e sente,
Financiamento: nenhum.
mas
Conflitos de interesse: nenhum.
quando
observamos
o
outro
atentamente - ou somos observados pelo JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
A aprovação ética: não aplicável. VOLUME 6. EDIÇÃO 3
Página 45
Bibliografia
MEIRA, A. C. G. A. A Articulação de Orações
ANTÃO, C. A Importância dos Provérbios na Promoção da Saúde. 2009. Tesis Doctoral- Universidad de Extremadura. Badajoz. 2009.
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2011. Tese de Mestrado em Estudos Linguísticos da Faculdade de Letras da
R.F.; SPANGLER, J.G. e Bell, R.A. Learned
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KIMES, C.M.; GOLDEN, S.L.; MAYNOR, Lessons
uma análise das relações retóricas.
Universidade Federal de Minas Gerais,
BOTELL, L. M.; QUINTANA RIVERÓN, Q. T. Aforismos.
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Research Through The Native Proverbs 31 Health Project. Prev Chronic Dis. Vol
OSTERMANN, A. C.; SILVA, C. R. A formulação em consultas médicas: para além da compreensão mútua entre os
11, April 17, p. 1-9, 2014.
interagentes. Calidoscópio, Vol. 7, n. 2, LEVINE, D. and BLEAKLEY, A. Maximising
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Education, 46: 153-162, 2012. LOPES, A. C. M. Texto Proverbial Português: Elementos para uma análise semântica e pragmática. 1992. Dissertação de Doutoramento
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ALCHIERI, J.C. Validity and reliability of the screening test for Alzheimer's disease with proverbs (STADP) for the elderly. Arquivos de Neuropsiquiatria, vol. 67, n. 3-B, p. 836-842, 2009.
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Coimbra, 1992. MACHADO, B. R. G.; NOVÁS, J. D.; LÓPEZ, R. L.; GILBERT,Y. C. M. Aforismos, refranes,
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y
frases
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pediatria, Revista Cubana Pediatria, Havana, vol. 83, n. 4, p. 442-448, 2011.
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sujeitos com Doença de Alzheimer em fase
inicial.
Doutoramento
2011. em
Tese
Linguística
de do
Instituto de Estudos da Linguagem da Universidade Estadual de Campinas. Campinas. 2011.
VOLUME 6. EDIÇÃO 3
Página 46
SILVA, M. J. P. (2013). Comunicação e o resgate do ser: o papel da comunicação na humanização da atenção à saúde. In: IV CONGRESSO DE HUMANIZAÇÃO “ COMUNICAÇÃO EM SAÚDE”. 8, 2013. TUCA – PUCPR Campus Cutitiba. Disponível em : http://anais.congressodehumanizacao. com.br/files/2013/08/C1_20133.pdf SUMNER, C. The proverb and oral society. New Political Science, Vol. 21. N.1, p.11-31, 1999. SUNWOLF. The Pedagogical and Persuasive - Effects of Native American Lesson Stories, Sufi Wisdom Tales, and African Dilemma Tales, Howard Journal of Communications, Vol 10, n. 1, p. 47-71. 1999.
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VOLUME 6. EDIÇÃO 3
Dantas, C. et al. (2017) Projeto IdoVis Visitadores contribuem para um envelhecimento com mais afetos, Journal of Aging & Innovation, 6 (3): 47 - 58
ARTIGO ORIGINAL/ ORIGINAL ARTICLE
DEZEMBRO 2017
Projeto IdoVis Visitadores contribuem para um envelhecimento com mais afetos Project IdoVis Visitors contribute to aging with more affection Proyecto IdoVis Los visitantes contribuyen a un envejecimiento con más afectos Autores Carina Dantas 1 Rosa Melo 2, Arménia Boleto 3, Fátima Silva 4, Flávia Rodrigues 5 1,3,4,5
Cáritas Diocesana de Coimbra, 2 Escola Superior de Enfermagem de Coimbra
Corresponding Author: carinadantas@caritascoimbra.pt
Resumo O envelhecimento populacional é uma evidência, a nível nacional e internacional. Mas o aumento de anos à vida torna essencial que, em paralelo, se acrescente qualidade de vida a estes anos. O presente artigo avalia o contributo da implementação de um projeto que pretende reduzir a solidão e aumentar a qualidade de vida das pessoas mais velhas, através da criação de um grupo de pessoas idosas independentes, visitadoras de outras em situação de dependência (IdoVis). Foi realizado um estudo exploratório, longitudinal, com avaliação antes e após a implementação da intervenção, num período estipulado de 3 meses de visitas regulares. Este estudo teve abordagem quantitativa e qualitativa. Para avaliar a qualidade de vida dos visitadores aplicou-se o Inventário de Avaliação da Qualidade de Vida em Adultos Idosos da Organização Mundial de Saúde (WHOQOL-Old) e para avaliar a solidão dos visitados aplicou-se a Escala de Solidão da UCLA, adaptada para português por Barroso (2008). No final da implementação do projeto foram também realizadas entrevistas aos idosos visitadores para avaliar a sua perceção sobre a sua participação no projeto, tendo sido realizada análise de conteúdo, segundo Bardin (2009). Relativamente aos utentes visitados, o índice médio de solidão desceu de 40,85 para 35, sendo a descida mais acentuada no grupo de apoio domiciliário (8 pontos) e no sexo feminino. No grupo dos visitadores a média na escala WhoQol-Old subiu de 99,56 para 107,25 com particular incidência nas áreas das atividades, autonomia e participação social. O presente estudo evidenciou um contributo positivo da implementação do projeto IdoVis na redução da solidão das pessoas idosas visitadas e aumento da qualidade de vida dos visitadores. . Palavras-chave: Pessoas idosas; Envelhecimento Ativo e Saudável; Solidão; Humanitude; Qualidade de Vida; Visitadores. Abstract The Ageing Population is an evidence both at national and international level. But this increase of years to life span makes it essential that, in parallel, quality of life is added to these years. This article evaluates the contribution of the implementation of a project that aims to reduce loneliness and increase the quality of life of older people by creating a group of independent elderly people, visiting others in a situation of dependency (IdoVis). An exploratory, longitudinal study was conducted with evaluation before and after the implementation of the intervention, during a stipulated period of 2 months of regular visits. This study had a quantitative and qualitative approach. To evaluate the quality of life of the visitors, the World Health Organization (WHOQOL-Old) Assessment of Quality of Life in Older Adults (WHOQOL-Old) was applied, and to assess the solitude of the visitors, the UCLA Solitude Scale was used in its version adapted to Portuguese by Barroso (2008). At the end of the project implementation, interviews were also carried out to the visitors to evaluate their perception of their participation in the project, and its content analysis was performed according to Bardin (2009). Regarding the visited persons, the average solitude index fell from 40.85 to 35, with the highest drop in the home support group and among the women. In the visitors group, the average on the WhoQol-Old scale rose from 99.56 to 107.25, with a particular focus on activities, autonomy and social participation Autores
Dados curriculares evaluation. The present study evidenced a positive contribution of the implementation of the IdoVis project in the reduction of the solitude of the older persons visited and the increase on the quality of life of the visitors. Keywords: Older persons; Active and Healthy Aging; Loneliness; Humanitude; Quality of life; Visitors.
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INTRODUÇÃO
Numa
época
de
democratização
da
A população da União Europeia deverá
comunicação, na qual é tão fácil contactar um
aumentar de 502 milhões em 2010 para 517
amigo ou familiar, através do telemóvel, por
milhões em 2060, mas simultaneamente vai
skype ou pelas redes sociais, as pesquisas de
envelhecer a um ritmo mais rápido, uma vez que
um modo geral indicam que somos, como
se estima que 30% dos europeus terá então, pelo
sociedade, mais solitários do que nunca.
menos 65 anos. Com
isso,
Esta verdade exponencia a sua dimensão obviamente,
haverá
menos
quando falamos de pessoas mais velhas,
pessoas em idade ativa. De acordo com os dados
particularmente em situação de dependência
apresentados pelos Ageing Report de 2012 e
e/ou acamadas.
2015 , estima-se que a percentagem de
Segundo Bearon (1996), desde a década de
indivíduos entre os 15 e os 64 anos diminuirá de
60
67% para 56%. De uma forma genérica, o
desenvolver quadros conceptuais para descrever
número de pessoas em idade ativa diminuirá de
os
4 (atualmente) para apenas 2, por cada pessoa
envelhecimento.
que se aposente em 2060.
Tomadas
Esta
mudança
demográfica
que
os
gerontologistas
resultados
em
ideais
conjunto,
do
têm
vindo
processo
essas
a
de
tendências
terá
emergentes sugerem uma abordagem em duas
consequências consideráveis para a organização
dimensões para definir o envelhecimento bem-
da Europa, implicando a necessidade de uma
sucedido:
ação política concertada, pública e privada, para
Uma para adultos mais velhos saudáveis
enfrentar os desafios do envelhecimento da
Uma para os adultos mais velhos
população.
fragilizados
A par deste cenário, as mudanças da última
Na primeira, encontramos vários modelos de
década nas estruturas sociais e familiares
prevenção e promoção propostos no final do
criaram novas necessidades, que se tornam
século passado, com vista a um melhor
ainda maiores com as situações de fragilidade,
envelhecimento. Uma abordagem enfatiza os
dependência e deficiência que o aumento da
pontos fortes e o potencial de crescimento dos
longevidade criou.
idosos. Integramos aqui autores como Sullivan &
Em
Portugal,
ano
a Guarda
Nacional
Fisher (1994) que dão ênfase ao potencial dos
Republicana (GNR) sinalizou em 2016 “39 216
idosos
idosos dos quais 23 996 vivem sozinhos; 5 205
detrimento de uma abordagem centrada no
vivem isolados; 3 288 vivem sozinhos e isolados
declínio.
e 6 727 não enquadrados nas situações
Um outro ângulo de abordagem realça fatores
anteriores, mas em situação de vulnerabilidade
sociais como a pobreza, a má nutrição,
fruto de limitações físicas e/ou psicológicas”.
oportunidades educacionais limitadas e outras
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com
vista
à
autorrealização,
em
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como obstáculos para um “estilo de vida com
(i. e, em várias respostas sociais da instituição,
–
particularmente nas residenciais e no apoio
assumindo aqui particular importância o trabalho
domiciliário) foi o do pedido expresso pelos
social e das organizações do 3º setor por forma
utentes mais velhos de outras pessoas para
a minimizar estas circunstâncias adversas.
conversar e conviver – a necessidade de
bom
envelhecimento"
-
Austin
(1991)
No que se refere à dimensão da pessoa
presença humana e da criação de novos laços de
fragilizada e em situação de dependência,
afetos parece ser a grande pedra de toque no
Lustbader
aumento da sua qualidade de vida.
(1991)
afastou-se
das
teorias
predominantes que apontavam a autonomia como
elemento
envelhecimento possibilidades
essencial e
de
de
um
descreveu encontrar
bom outras
satisfação
Surge assim a ideia de criar um grupo de visitadores às pessoas dependentes do Centro Rainha
Santa
Isabel
-
lar
de
grandes
e
dependentes e unidade de longa duração e
significado como os momentos de vitalidade, a
manutenção – e do Lar N.ª Sr.ª da Encarnação –
intimidade com a família e o renascimento
serviço de apoio domiciliário, que possam trazer
espiritual.
uma aproximação mais informal e humana aos
Atualmente, a população acima dos 65 anos
utentes destes serviços que se encontram em
não se subsume nas duas dimensões descritas
situação de isolamento ou sem retaguarda
acima, assumindo contornos e matizes muito
familiar.
diversos, pelo que o conceito de envelhecimento
Na mesma auscultação de necessidades, foi
bem-sucedido se torna difícil de definir. Pode ser
também
amplamente
constatada,
medido com indicadores de bem-estar subjetivo,
particularmente pelos cuidadores, a necessidade
como a satisfação com a vida, a felicidade, a
de aumentar a literacia da população no âmbito
qualidade de vida percebida ou no reverso do
da saúde, particularmente em 2 vetores:
espectro com os níveis de fatores negativos
- É premente fomentar a participação ativa
como a depressão, a solidão, a ansiedade, etc.,
das pessoas mais velhas (mais precisamente,
encontrando uma visão mais rica e alargada
numa perspetiva de intervenção ao longo da vida,
deste tema, com vista a soluções que funcionem
dir-se-ia aqui pessoa de qualquer idade) na
para cada grupo ou indivíduo.
gestão do seu processo de envelhecimento, com
A procura de melhores serviços e de
particular incidência na área da saúde e
promover o envelhecimento bem-sucedido levou
terapêutica, (in)formando e dando instrumentos
a Cáritas Diocesana de Coimbra a realizar, em
para que a pessoa compreenda os seus próprios
2015, uma recolha de necessidades informal
processos, opções, fatores de proteção e
junto dos seus utentes e das equipas de
consequências;
cuidadores
(técnicos
de
serviço
social,
- É essencial promover hábitos de vida
psicólogos, profissionais de saúde, animadores e
saudável, com ênfase na nutrição, exercício
profissionais auxiliares). O fator apontado como
físico e estimulação cognitiva, junto de pessoas
o mais carecido de uma intervenção transversal
de qualquer idade, mas muito particularmente
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daquelas que estão já em idade avançada mas
de atividades para os idosos autónomos, com
mantêm ainda a sua autonomia, como forma de
potencial para otimizar a sua qualidade de vida,
prevenção
com vista a um envelhecimento mais ativo.
da
dependência
e
da
institucionalização precoce.
A existência de atividades diferentes do habitual,
Deste modo, torna-se pertinente e necessário
que funcionem de forma periódica e atribuam
apoiar
e
uma nova rotina aos dias, propiciam os
planeamento da sua gestão de vida e do seu
sentimentos de utilidade pessoal e de pertença
processo de saúde, prevendo as dificuldades,
social, que ajudam a evitar a desesperança e a
necessidades e possibilidades, informando-os
depressão que frequentemente acompanham o
sobre os seus direitos, benefícios e recursos e
processo de envelhecimento.
incentivando-os a aprender sobre potenciais
Uma destas atividades pode ser a visita a outras
riscos e estratégias de autocuidado.
pessoas da mesma geração, que se encontrem
Sendo certo que a forma mais usual de abordar
em situação de dependência e isolamento, com
esta “educação para a saúde” é através de ações
os quais o visitador mais ativo poderá criar uma
de formação e sensibilização, constatamos,
relação de empatia e proximidade, baseada na
porém, que o impacto destas atividades é
regularidade dos encontros, no apoio mútuo e na
frequentemente reduzido por alguma dificuldade
partilha de afetos.
sentida pelo idoso de se autorretratar como tal –
Da sequência destes 3 vetores de diagnóstico,
o confronto com a fase final da vida e, por
surgiu a proposta de implementação do projeto-
consequência com a morte, traz associadas
piloto IdoVis - Idosos Visitadores de Outros
angústias que são muitas vezes descartadas por
Idosos.
evitamento. Uma pessoa mais velha só não
Neste estudo pretendeu-se avaliar o contributo
aplica o que aprendeu porque prefere pensar que
da implementação do projeto IdoVis, na redução
ainda não se dirige a ele; como se assim
da solidão dos idosos visitados e no aumento da
estivesse também a afastar a passagem do
qualidade de vida dos idosos visitadores.
essas
pessoas
na
antecipação
tempo e o próprio envelhecimento. Neste sentido, a hipótese de se utilizar a
MÉTODO
estratégia da formação reconhecendo o idoso como um cuidador e não como o objeto de
Foi realizado um estudo exploratório,
cuidados, poderá aumentar a sua capacidade de
longitudinal, com avaliação antes e após
retenção dos conteúdos, a interiorização dos
a implementação do Projeto IdoVis, com
conceitos e, em última análise, a sua aplicação
abordagem quantitativa e qualitativa.
no contexto da vida diária, incrementando assim o objetivo último de promoção da saúde no
O piloto do projeto IdoVis decorreu entre
processo de envelhecimento.
março e junho de 2016 e visou a criação
A somar a esta necessidade, também se
de um grupo de idosos independentes
destacou a necessidade de reforçar o programa
(apoiados pela Cáritas Diocesana de
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Coimbra nas respostas sociais de Centro de Dia
estabelecimento de interações positivas para
e Estrutura Residencial), visitadores de outras
ambos (visitadores e visitados);
pessoas
•
mais
idosas
em
situação
de
Promover o envelhecimento ativo e o
dependência (nas respostas sociais de Unidade
voluntariado entre pares;
de Longa Duração e Manutenção, Estrutura
•
Residencial para Idosos e Serviço de Apoio
acompanhamento de pessoas em situação de
Domiciliário).
dependência.
A
amostra foi constituída
por
16 idosos
Criar
ferramentas
de
apoio
ao
Com vista à consecução destes objetivos, foram
visitadores e 13 idosos visitados. Para a seleção
definidas as seguintes ações:
dos idosos visitadores e visitados foram definidos
1 - Criação do perfil do visitador e visitado, com
critérios de inclusão e exclusão. No que concerne
vista à seleção dos participantes;
aos idosos visitados, os critérios de inclusão
2 – Estabelecimento de parceria com a Escola
estabelecidos
e
Superior de Enfermagem de Coimbra e o
orientado; não receber visitas de cuidadores
Ageing@Coimbra com vista a proporcionar aos
informais;
participantes
foram:
estar
encontrar-se
consciente
em
situação
de
a
formação
e
capacitação
dependência; auto percecionar-se como solitário.
adequada para o efeito, através da lecionação
Os citérios de exclusão definidos foram os
dos seguintes conteúdos:
seguintes: ter problemas graves de saúde
a)
mental;
psicológicas e sociais. Nesta sessão formativa,
problemas
físicos
que
levem
à
Envelhecimento, alterações biológicas,
incapacidade de expressão/relação e ter apoio
dinamizada
familiar regular. Para os idosos que realizaram as
envelhecimento,
visitas, foram definidos como critérios de inclusão
Ageing@Coimbra,
serem
não
principais alterações decorrentes da idade,
expressão;
nomeadamente as patologias mais frequentes e
manifestarem interesse em participar no projeto.
as necessidades de cuidados que implicam. Foi
O critério de exclusão definido foi o de possuir
também abordada a gestão adequada da
problemas graves de saúde mental ou física que
terapêutica e o impacto da polimedicação na vida
fosse impeditivo de realizar as visitas.
das pessoas mais velhas.
Foram estabelecidos os seguintes objetivos para
b)
este projeto-piloto:
relacionais e importância dos afetos na saúde.
•
Nesta
autónomos
apresentarem
e
independentes;
dificuldades
de
Melhorar o estado emocional e afetivo de
por
um
perito,
na
área
pertencente foram
do ao
apresentadas
as
Humanização dos cuidados, técnicas
formação
foi
realizada
reflexão
e
pessoas em situação de dependência;
capacitação sobre como iniciar a relação no
•
momento do encontro entre visitadores e
Criar redes de suporte afetivo entre
idosos dependentes e independentes;
visitados, para evitar abordagens surpresa; a
•
importância
Capacitar os idosos visitadores com
técnicas
relacionais
que
permitam
o
dos
pilares
relacionais
(olhar,
palavra e toque), suas características e como devem ser utilizados para que a relação seja gratificante e benéfica para os dois interlocutores
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gratificante e benéfica para os dois interlocutores
Para avaliar os ganhos da implementação do
(visitadores e visitados); como se deve terminar
projeto foram aplicadas escalas validadas, antes
a relação, realizando a consolidação emocional,
e após a intervenção (capacitação através de
agradecendo à pessoa visitada o momento de
formação teórica e prática), por um profissional
relação e a importância da marcação do novo
da área da Psicologia.
encontro, para evitar sentimento de abandono
Para avaliar a qualidade de vida dos visitadores
(Simões, Salgueiro e Rodrigues 2012; Melo et al.,
aplicou-se
2017). Esta formação teve a participação de uma
Qualidade de Vida em Adultos Idosos da
perita na área das competências relacionais e da
Organização Mundial de Saúde (WHOQOL-Old
humanização através da implementação da
), na versão para português europeu, que inclui
Metodologia de Gineste Marescotti(® (MGM®),
28 itens, com escala de resposta tipo Likert de
também designada de Metodologia de Cuidado
cinco pontos (1-5) e é constituída por 7 facetas
Humanitude
(atividade, autonomia, família, função sensorial,
(Gineste
e
Pellissier,
2008),
o
Inventário
de
Avaliação
da
pertencente à Escola Superior de Enfermagem
intimidade, morte e participação social.
de Coimbra.
Para avaliar a solidão dos idosos visitados
c)
aplicou-se a Escala de Solidão da UCLA ,
Cuidados diários em estruturas de apoio
continuado / permanente;
adaptada para a população portuguesa por
3 - Estabelecimento de uma rotina de visitas
Barroso (2008). De acordo com este autor, esta
semanais,
acompanhamento
escala mostra-se válida, quer na avaliação da
permanente, pela equipa técnica das respostas
solidão, quer na discriminação entre solidão e
sociais das estruturas onde se realizou o piloto.
outros constructos relacionados. A adaptação
4 - Avaliação do impacto das visitas na qualidade
portuguesa engloba dezoito itens, avaliados
de vida dos visitadores e na solidão dos visitados
numa escala de escolha múltipla de quatro
5 - Elaboração de relatório do projeto-piloto e
pontos, indo desde “nunca” (1); raramente (2);
recomendações
“algumas vezes” (3) até “muitas vezes” (4). O
com
apoio
para
e
fases
posteriores
a
desenvolver.
score da escala situa-se entre os 18 e os 72
O principal resultado pretendido com o projeto-
pontos. Quanto mais elevado for o score final,
piloto relacionava-se com a prova de conceito da
maior é o nível de solidão. Nesta Escala a solidão
criação dos pares de idosos visitadores e idosos
é encarada enquanto estado psicológico e
visitados, visando-se aferir se existiriam ganhos
apreendida de modo unidimensional.
na melhoria da qualidade de vida, conhecimentos
2 – No final da implementação do projeto, foram
e sensação geral de bem-estar dos participantes
realizadas entrevistas sobre a perceção do
envolvidos,
e
impacto percecionado e a forma como se
escalabilidade do projeto, na rede Cáritas e no
sentiram depois da participação neste projeto,
exterior.
com o preenchimento de instrumentos criados à
com
vista
à
replicação
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com o preenchimento de instrumentos criados à medida que incluíram 2 tipos de dados: a)
“Thinking
aloud”,
tendo
por
RESULTADOS base
parâmetros de avaliação para visitados e
Os resultados do projeto apresentam-se em dois
visitadores:
níveis. A avaliação da implementação do IdoVis
Nos idosos visitadores foram avaliados os
foi realizada pelos participantes no que concerne
seguintes parâmetros:
às suas diferentes fases. A formação teórica foi
• Atividade e rotina
avaliada pelos visitadores e pela equipa técnica
• Conhecimentos sobre envelhecimento
presente nas sessões através de uma escala de
• Sentimentos e afetos
likert de 1 a 5 pontos, tendo sido pontuada em
• Crescimento pessoal
4,28 (Muito Bom).
• Perspetivas de continuidade Relativamente à satisfação global com o projeto Nos
idosos visitados, foram avaliados os
e com as visitas efetuadas a avaliação foi
seguintes parâmetros:
avaliada igualmente com uma escala de likert de
• Sentimentos e afetos
1 a 5 pontos, tendo ambos os parâmetros obtido
• Rotinas
uma média igual de 4,47 pontos (Muito Bom)
• Perspetivas de continuidade
junto dos participantes visitadores. Refira-se que apesar
do
resultado
global
idêntico,
4
A estas entrevistas acresceu a recolha de
participantes pontuaram de forma diferente o
conteúdos em 4 sessões de grupo realizadas
projeto e as visitas, mas o resultado final anulou
durante o projeto com os vários elementos da
as diferenças. A avaliação dos visitados foi de
equipa técnica e o grupo de visitadores, que
4,82 nas visitas e 4,64 quanto à satisfação com o
tiveram o objetivo principal de recolher e
projeto, ambos os resultados no âmbito do “Muito
trabalhar as perceções dos utentes envolvidos,
Bom”.
aferindo
e
No que concerne à avaliação do impacto do
reorientando eventuais pontos a melhorar. Todos
projeto, os resultados apresentados de seguida
estes
abrangem
as
dados
suas
maiores
qualitativos
dificuldades
foram
analisados
16
participantes
no
papel
de
segundo a técnica de análise de conteúdo de
visitadores, todos do sexo feminino e com uma
Bardin (2009).
idade média de 81,7 anos (entre o intervalo de 66 e 90 anos de idade) e 13 no de visitados, sendo
b)
Grelha de avaliação quantitativa do
92% do sexo feminino e com uma idade média
projeto, relativa a:
de 81,8 anos (entre o intervalo de 62 e 96 anos)
• Formação e formadores
que completaram o projeto-piloto e efetuaram a
• Satisfação global com visitas
totalidade do protocolo de avaliação.
• Satisfação global com o projeto e equipa.
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Relativamente aos utentes visitados, o índice
É, porém, também nas pessoas beneficiárias do
médio de solidão desceu de 40,85 para 35, sendo
serviço de apoio domiciliário que o impacto do
a descida mais acentuada no grupo de apoio
projeto mais se fez sentir, com uma quebra na
domiciliário (8 pontos) e no sexo feminino - 6
média de resultados da escala de solidão de 8
pontos de diferença por comparação com apenas
pontos. No que concerne aos resultados obtidos
2 nos participantes do sexo masculino. No
no único participante da resposta social Estrutura
entanto a diferença nos dois momentos não foi
Residencial (aumento de 14 pontos na escala de
estatisticamente significativa (p=,250). Tabela 1 - Resultados globais – idosos visitados
Analisando
por
solidão) deve ser referida a observação efetuada
resposta social, torna-se evidente que o índice de
pela Psicóloga da valência que o participante em
solidão é inicialmente mais elevado nas pessoas
questão tinha um quadro depressivo inicialmente
que
(43,27)
controlado que, por motivos externos, se agravou
comparativamente com as que estão integradas
no decorrer do projeto, o que provavelmente
em respostas institucionais (24; 31).
enviesou o resultado final obtido.
vivem
os
na
resultados
sua
detalhados
própria
casa
Tabela 2 - Resultados por resposta social – idosos visitados
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Avançando para os resultados obtidos no grupo
Da análise estatística verificou-se que há
dos visitadores, a média na escala WhoQol-Old
diferença estatisticamente significativa nos dois
subiu de 99,56 para 107,25.
momentos (antes e após) na função sensorial
No detalhe das diferentes áreas avaliadas, pode
(p=,000),
observar-se que as alterações mais relevantes se
(p=,008), Morte (p=,000) e Família (p= ,001).
Autonomia
(p=,021),
Atividades
deram nas atividades, autonomia e participação social. Tabela 3 - resultados globais - Idosos visitadores
Tabela 4 - resultados por área - idosos visitadores
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Na análise de conteúdo, realizada aos registos,
“Eu não desisto de fazer o que consigo”
ao longo dos 3 meses, sobre a opinião dos 16
(IND_C1_06)
visitadores
participantes,
as
“Desafia-me” (IND_C1_06)
seguintes
categorias:
de
“É uma das atividades que me deram que eu
emergiram dificuldade
comunicação com pessoas que não comunicam
gosto mais” (IND_C1_02)
verbalmente; sentimento de utilidade; criação de
“Eu estou a ensinar o meu visitado a mexer muito
laços
bem as mãos porque ele não tem força”
afetivos
com as
pessoas visitadas.
Apresentamos breves excertos de diálogos dos
(IND_C1_08)
idosos visitadores relativamente ao impacto
A capacidade de criar laços com o idoso visitado
percecionado por eles nos idosos visitados e a
manifestou-se um denominador comum entre
forma como se sentiram depois da participação
todos os participantes visitadores, conforme
neste projeto.
referido por eles:
Uma das maiores dificuldades reveladas pelos
“Ela quer logo agarra-me as mãos e eu ali fico”
idosos visitadores foi a comunicação, uma vez
(IND_C1_02)
que uma grande parte da amostra dos idosos
“Em vez de ser eu a fazer-lhe festas, ela é que
visitados tem dificuldade em se expressar
me faz a mim” (IND_C1_02)
verbalmente.
“Quer muito carinho, muitos beijinhos e muitas
Ainda
assim,
referem
que
conseguem detetar nos visitados uma vontade
festinhas” (IND_C1_11)
de receberem as suas visitas, carinhos e
“É muito carinhosa e faz-me muitas festinhas”
conseguem criar laços afetivos, conforme os
(IND_C1_11)
seguintes discursos:
“Ela pega-me na mão e quer que eu vá com ela
“Mesmo quando as pessoas não falam, só a
almoçar ou à casa de banho” (IND_C2_02)
companhia chega”; (IND_C1_06) “Não entendo o que ela diz, mas quando ela me
Discussão
vê começa logo a rir” (IND_C2_02)
A implementação do projeto IdoVis evidenciou
“Eu quero falar e não a entendo e custa-me. Mas
contributos positivos na redução da solidão das
ela compreende o que eu lhe digo” (IND_C2_02)
pessoas idosas visitadas, aumento da qualidade
“Fala muito bem, percebe tudo…mas não me vê”
de vida dos idosos visitadores, assim como
(IND_C1_11)
sentimento de utilidade e criação de afetos com
“Estive uns dias sem ir e elas perguntaram por
a pessoa idosa visitada. Estes dados vão ao
mim. Já sentem a falta de nós.” (IND_C1_03)
encontro de outros estudos que evidenciaram
Revelaram também sentimento de utilidade -
que a convivência entre pares estimula o
sentem-se úteis novamente - com capacidade de
sentimento de valorização, evitando o sentimento
empregar os conhecimentos que adquiriram e
de solidão e propiciando um aumento do bem-
manifestam
estar (Jacob, 2007; Torres e Marques, 2008). Os
persistência,
compromisso
e
vontade de continuar com as visitas no futuro,
idosos
conforme os discursos seguintes:
dificuldades no contacto com os idosos visitados,
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visitadores
evidenciaram
algumas
nomeadamente a estabelecer comunicação com VOLUME 6. EDIÇÃO 3
Página 57
nomeadamente a estabelecer comunicação com
facilitadoras da interação com a pessoa cuidada,
pessoas que não o fazem verbalmente, Estes
permitindo aprender como iniciar, desenvolver e
resultados são corroborados com outros estudos,
terminar a relação (Gineste & Pellissier, 2008).
nos
Esta metodologia, através da profissionalização
quais
estabelecer
verificaram contacto
comunicativas
ou
dificuldades
com que
pessoas não
em pouco
comunicam
dos
pilares
relacionais
permite
evitar
abordagens-surpresa e o desencadeamento de
verbalmente (Melo et al. 2015). Ressalta na
comportamentos
literatura
aceitação da relação e da comunicação (Simões,
que
dadas
estas
dificuldades
defensivos,
facilitando
a
comunicacionais no cuidado e na relação não se
Salgueiro & Rodrigues, 2012).
potenciam as capacidades destas pessoas
Apesar do presente estudo ser um esforço
idosas,
já
inovador em contexto nacional e internacional,
neurologicamente prejudicado, da sua própria
existiu, desde a primeira hora, a convicção de
personalidade e entidade, minimizando as suas
que se refere a uma amostra de pessoas
capacidades e estatuto social (Hughes & Beatty,
limitada,
2013). Neste sentido, torna-se fundamental
heterogeneidade
ensinar e capacitar os cuidadores informais e
prestadora de cuidados). Não se pretendeu,
formais, que cuidam destas pessoas, com
porém, realizar uma avaliação inabalável das
técnicas
comunicacionais,
metodologias utilizadas, mas antes realizar uma
intervindo de forma intencional no sentido do
mera prova de conceito relativamente a um
desenvolvimento das competências relacionais
projeto-piloto, cuja avaliação permitisse a sua
fundamentais para a prestação de cuidados mais
replicação e escalabilidade, tanto dentro da
eficazes e mais humanizados (Melo & Raposo
própria instituição, como para a sua rede de
2007)
parceiros.
privando-se
relacionais
e
que
o
e
colmatem
indivíduo,
as
dificuldades
quer
em (e.g.
número, sexo,
quer
em
instituição
comunicacionais demonstradas. Destaca-se a
Mais do que a avaliação formal efetuada, foi a
evidência
da
satisfação dos participantes com o projeto que
Metodologia de Cuidado Humanitude Gineste-
decidiu a sua continuação / manutenção, que se
Marescotti®
em
mantém à data. Os resultados obtidos serão
pessoas dependentes e/ou com demência,
utilizados como justificação para a aplicação do
evitando comportamentos de agitação, oposição
conceito em 3 outras localizações da Cáritas
e recusa dos cuidados (Honda, 2016; Melo, et al.,
Diocesana de Coimbra durante o ano de 2018 e
2017). Esta metodologia, tendo como base os
serão passíveis de comparação com a avaliação
pilares relacionais, olhar, palavra e toque
que se venha a efetuar nos novos grupos.
apresenta
científica
(MGM®)
uma
procedimentos
da
efetividade
particularmente
sequência
estruturada
de
Com outros grupos em funcionamento será então
relacionais,
permitindo
ao
possível realizar uma avaliação extensiva e
cuidador formal ou informal sistematizar e
representativa,
operacionalizar a relação dando intencionalidade
conclusões relevantes, embora seja possível
a técnicas de comunicação verbal e não-verbal
admitir sem reservas que o presente estudo
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evidenciou
um
que
permita
contributo
extrapolar
positivo
da
VOLUME 6. EDIÇÃO 3
Página 58
evidenciou
um
contributo
positivo
da
Honda,
M.
(2016).
Cuidado
baseado
com
abordagem
na
implementação do projeto IdoVis na redução da
comunicação
multimodal:
solidão das pessoas idosas visitadas e aumento
Aplicação da informática e da inteligência artificial ao cuidado da pessoa com demência
da qualidade de vida dos visitadores. Como trabalho futuro está prevista a criação de um kit de implementação da iniciativa que contenha um manual prático de implementação,
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activo:
E.
olhar
2
de
VOLUME 6. EDIÇÃO 3
Fonseca, C. et al. (2017) Resultados da Intervenção de Enfermagem Não-Farmacológica na Pessoa idosa com Dor Crónica: Revisão Sistemática da Literatura, Journal of Aging & Innovation, 6 (3): 59 - 67 REVISÃO SISTEMÁTICA / SYSTEMATIC REVIEW
DEZEMBRO 2017
Resultados da Intervenção de Enfermagem Não-Farmacológica na Pessoa idosa com Dor Crónica: Revisão Sistemática da Literatura Outcomes of the Nursing Intervention at the level of Non-Pharmacological Measures in the Person with NonOncologic Chronic Pain: Systematic Review of Literature Resultados de la intervención de enfermería en las medidas no farmacológicas en la persona con dolor crónico no oncológico: Revisión Sistemática de la Literatura Autores César Fonseca 1 Ana Ramos 2, Catarina Barbosa 3,, Dulce Gonçalves 4,, Isabel Pão-Alvo 5, Maria Aurea Tobio 6 ,, Teresa Gonelha 7,, Vítor Santos 8, Isabel Nunes 9 1
PhD, Universidade de Evóra, Investigador POCTEP 0445_4IE_4_P, 2 PhD Student, 3,4,5,6,,7 RN, 8,9 CNS, MsC
Corresponding Author: cesar.j.fonseca@gmail.com
RESUMO Considerando o elevado número de pessoas que vivenciam dor crónica, com necessidade de cuidados diferenciados, torna-se necessário identificar as intervenções de enfermagem não-farmacológicas no controlo da dor e os ganhos em saúde. Como objectivo pretende-se identificar os indicadores da intervenção de enfermagem com recurso a medidas não farmacológicas, na pessoa com dor crónica não oncológica, com idade superior a 18 anos e inferior a 65 anos. Foi realizada uma pesquisa na EBSCO (CINAHL, MEDLINE), utilizando o método de PI[C]O, com recurso aos termos MeSH e os descritores foram: [(Nursing) AND (Outcomes) AND (Chronic pain)]. Os estudos selecionados foram os publicados de 2010 a 2016, num total de 61 artigos, dos quais foram extraídos e analisados criticamente 7. Os resultados da análise, permitem sintetizar a diversidade de intervenções não farmacológicas, como recursos dos enfermeiros no cuidar da pessoa com dor crónica, não oncológica: (1) Acupressão auricular; (2) Estimulação auditiva; (3) Manipulação da coluna cervical e torácica; (4) Massagem; (5) Atividade física; (6) Uso de roupa interior de lã; (7) Diálogo terapêutico e (8) Intervenções comportamentais. Ficaram patentes as melhorias significativas no controlo da dor, no aumento da capacidade funcional, na melhoria da qualidade de vida, na adaptação de estratégias eficazes, no controle de estados de desajuste psiclógicos e no aumento da literacia em sáude. Esta Revisão Sistemática da Literatura comprova os benefícios da integração de medidas não farmacológicas nas intervenções de enfermagem, em associação à terapêutica farmacológica. A efectividade comprovada permite concluir a necessidade de otimização das medidas não farmacológicas, nas intervenções de enfermagem em ambiente hospitalar e nos cuidados de saúde primários. Palavras-chave: Cuidados de Enfermagem, Intervenções Não-farmacológica, Dor crónica, Indicadores. ABSTRACT Considering the high number of people who experience chronic pain, in need of differentiated care, it is necessary to identify non-pharmacological nursing interventions in pain control and health gains. The objective of this study is to identify the indicators of nursing intervention using nonpharmacological measures in the person with chronic non-oncologic pain, aged over 18 years and under 65 years. We performed a search in EBSCO (CINAHL, MEDLINE), using the method of PI [C] O, using the MeSH terms and the descriptors were: [(Nursing) AND (Outcomes) AND (Chronic pain). The selected studies were those published from 2010 to 2016, in a total of 61 articles, from which they were extracted and critically analyzed 7. The results of the analysis allow us to synthesize the diversity of non-pharmacological interventions, such as the nurses' resources in caring for the person with chronic non-oncologic pain: (1) Auricular Point Acupressure; (2) Hearing stimulation; (3) Manipulation of the cervical and thoracic spine; (4) Great time (5) Physical activity; (6) Use of woolen underwear; (7) Therapeutic dialogue and (8) Behavioral interventions. Significant improvements in pain control, increased functional capacity, improved quality of life, adaptation of effective strategies, control of psychological maladjustment, and increased health literacy were evident. This Systematic Review of Literature demonstrates the benefits of integrating non-pharmacological measures into nursing interventions in association with pharmacological therapy. Proven effectiveness allows us to conclude the need for optimization of non-pharmacological measures in nursing interventions in the hospital environment and in primary health care. Keywords: Nursing Care, Interventions Non-pharmacological, Chronic Pain, Indicators.
JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
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INTRODUÇÃO
números avançados, as queixas mais frequentes
O ser humano vive em constante interação
são de dor lombar (32,9%) e dor cervical 24,1%.
com o meio e a sociedade, na expectativa de
De acordo com a Pain Proposal (2010),
estabelecer excelentes relações humanas com
projeto europeu desenvolvido para avaliar o
os seus semelhantes, alcançar melhor saúde e
impacto da dor crónica na Europa, afeta
qualidade de vida. Este patamar de bem-estar é
aproximadamente 36% da população portuguesa
muitas vezes rompido no confronto com uma
com mais de 18 anos. Desencadeia sofrimento
situação de doença.
de cerca de 3 milhões de indivíduos, com
Das múltiplas condicionantes no dia-a-dia
consequências na saúde, bem-estar, atividades
das pessoas que recorrem aos serviços de
de vida diária e desempenho profissional, o que
saúde, sobressai a dor crónica, definida pela OE
determina elevados custos para o sistema de
(2008), como sendo “prolongada no tempo,
saúde e para a economia nacional. Avaliou ainda
normalmente com difícil identificação temporal
o impato económico nas pessoas com dor
e/ou causal, que causa sofrimento, podendo
crónica, que estão ausentes do trabalho pelo
manifestar-se com várias características e gerar
menos 14 dias por ano, por baixa médica,
diversas situações patológicas”.
representando um valor superior a 290 milhões
Experiência
subjetiva,
complexa
e
multidimensional, frequentemente modulada por
de euros por ano, em custos salariais suportados pela segurança social.
fatores como a bagagem cultural, experiências
A dor tende a persistir e a ganhar autonomia
passadas, significado da situação, atenção, nível
própria, transformando-se em doença e fazendo-
de estimulação e contingências reforçadas.
se acompanhar por outros sinais de morbilidade,
Constitui, sem dúvida, a forma de dor com
nem sempre com causa conhecida, não sendo o
maiores
seu
repercussões
no
deterioração da qualidade
indivíduo, de
vida
pela e
alívio
exclusivamente
dependente
da
na
utilização de fármacos, nem tão pouco da
sociedade, pelos gravosos custos que acarreta
eficácia obtida na eliminação da referida e
(DGS, 2013)
eventual causa.
Segundo os resultados do Instituto Nacional
A pessoa com dor vivencia uma situação
de Estatística (INE) no que respeita ao Inquérito
única e particular, frequentemente confrontada
Nacional de Saúde de 2014, realizado em
com
conjunto com o Instituto Nacional de Saúde
ocultando o seu sentir e as suas necessidades,
Doutor Ricardo Jorge, abrangendo todo o
pela baixa auto estima, alteração da auto
território nacional, entre Setembro e Dezembro
imagem, comprometendo a relação com o outro
de 2014, mais de 5,3 milhões de pessoas
e com o meio envolvente.
residentes em Portugal com 15 ou mais anos de idade
(cerca
de
metade
da
isolamento,
com
evolução
silenciosa,
Enquanto profissional de saúde privilegiado
população
pela proximidade e tempo de contacto com o
portuguesa) referiram ter pelo menos uma
doente, o enfermeiro tem uma intervenção fulcral
doença crónica em 2014. De acordo com os
no
controlo
da
dor.
As
intervenções
de
enfermagem junto à pessoa com dor incluem a JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
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avaliação, o controlo e o ensino, devidamente documentadas (OE, 2008).
METODOLOGIA A estratégia de pesquisa desenvolvida na
Cuidar do doente com dor constitui um
presente RSL, teve início na formulação da
desafio gratificante para o enfermeiro, detentor
questão
de conhecimentos especializados sobre várias
indicadores/resultados (O) da intervenção de
opções terapêuticas, com ênfase nas medidas
enfermagem
não
farmacológicas (I), na pessoa com dor crónica
farmacológicas.
O
controlo
da
dor
compreende as intervenções destinadas à sua
em
formato ao
nível
PI[C]O: das
Quais
medidas
os não
não oncológica (P)?
prevenção e tratamento, assim, sempre que o
Deste modo, foi realizada pesquisa, usando
enfermeiro identifique a provável ocorrência de
os termos MeSH e palavras-chave pela opção
dor ou avalie a sua presença deve intervir na
“full text”, com o recurso à base de dados
promoção de cuidados que a aliviam ou reduzam
eletrónica da EBSCO (MEDLINE, CINAHL) e dos
para níveis considerados aceitáveis pela pessoa
descritores: [(Nursing)
(OE, 2008).
(Chronic pain)]. Os estudos selecionados foram
AND (Outcomes) AND
O enfermeiro desenvolve intervenções não
publicados entre 2010 e 2016, pesquisados em
farmacológicas em complementaridade e não em
texto integral entre dezembro de 2016 e fevereiro
substituição da terapêutica farmacológica e estas
de 2017, tendo resultado um total de 61 artigos,
devem ser escolhidas de acordo com as
dos quais foram selecionados 7.
preferências
do
doente,
os
objetivos
do
Como critérios de inclusão, foram definidos
tratamento e a evidência científica Classifica as
artigos de enfermagem com incidência nas
intervenções não farmacológicas em físicas,
intervenções não farmacológicas, em pessoas
cognitivo - comportamentais e de suporte
adultas, com idade superior a 18 anos, com dor
emocional. (OE, 2008).
crónica
Esta problemática vai ao encontro da questão de
investigação:
Quais
os
indicadores
explícitos
não
oncológica,
associados
à
com
resultados
intervenção
de
enfermagem. Em relação aos critérios de
resultantes da Intervenção de Enfermagem ao
exclusão,
foram
eliminados
os
artigos
nível das medidas Não-Farmacológicas na
relacionados com dor aguda, dor oncológica,
Pessoa com Dor Crónica não oncológica? Deste
pessoas adultas com idade superior a 65 anos e
modo, define-se como objetivo para a presente
sobre intervenções farmacológicas. Excluíram-se
revisão sistemática da literatura (RSL): Identificar
ainda estudos em crianças e grávidas, sem
os indicadores da intervenção de enfermagem
correlação com a temática e todos os repetidos.
com recurso a medidas não farmacológicas, na
A avaliação dos níveis de evidência dos
pessoa com dor crónica não oncológica, com
artigos selecionados foi realizada segundo os
idade superior a 18 anos e inferior a 65 anos.
sete níveis de evidência propostos por Melnyk e Fineout-Overholt (2015).
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Página 62
APRESENTAÇÃO
E
DISCUSSÃO
DOS
RESULTADOS
selecionados e que constituem o ponto de
Na Quadro Nº 1 encontra-se a síntese de dados,
partida para a elaboração deste artigo e das
que engloba uma listagem com 7 artigos
conclusões retiradas.
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Página 63
Os resultados da análise dos artigos supra-
e relaxantes musculares com menos frequência,
referenciados na Tabela 2, permitem sintetizar a
que o grupo controle.
diversidade de intervenções não farmacológicas,
No Estudo de Panpanit (2015) e também
como recursos dos enfermeiros no cuidar da
corroborado pelos restantes autores, Programas
pessoa com dor crónica, não oncológica. O
de Educação que incluem estratégias para gerir
número
pressupõe
a dor e sintomas coexistentes, comportamentos
investimento acrescido nesta matéria, permitindo
de estilo de vida saudáveis e estratégias de
incrementar os dados recolhidos e torná-los
resolução de problemas, revelaram melhoria na
ainda mais credíveis na evidência resultante
funcionalidade e auto-gestão dos indivíduos.
desta RSL. Na pormenorização da análise, o
Realçam as diretrizes da American Pain Society,
estudo randomizado controlado de Kiyak (2012),
quanto à educação do doente, recomendada
avalia o benefício da utilização de roupa interior
como um primeiro passo essencial no controlo da
de lã em adultos com Lombalgia Crónica. Verifica
dor antes da intervenção farmacológica ou outras
que a lã tem uma maior capacidade de reter
formas de intervenção.
calor, em comparação com a fibra, melhorando a
Segundo Yeh (2015) no seu estudo, a mudança
tensão muscular, reduzindo desta forma a
de intensidade da dor, em pessoas com dor
intensidade de dor. Verificou melhoria na
lombar
funcionalidade nos adultos com Lombalgia
acupressão auricular, num programa de quatro
Crónica, com o calor produzido pelo uso de roupa
semanas, era notória. Verificou uma redução de
interior de lã. O grupo de tratamento relatou o uso
30% da intensidade da dor, logo após o primeiro
de analgésicos, anti-inflamatórios não-esteróides
tratamento e uma melhoria contínua de 44%, até
reduzido
de
artigos,
crónica,
através
da
aplicação
de
ao final do tratamento. JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
VOLUME 6. EDIÇÃO 3
Página 64
O mesmo autor conclui que a acupressão
crónica
auricular é um tratamento eficaz, não invasivo,
submetido
sendo um método simples de alívio da dor.
complexidade,
A eficácia do procedimento combinado de
torácica e torácica, permitiu concluir que a maior
massagem
complexidade de manipulações resulta em maior
e
eletroterapia,
com
corrente
comparativamente a
manipulações na coluna
grupo
de
maior
cervical,
cervico-
redução
crónica não especifica de etiologia mecânica, foi
diminuição semelhante da dor cervical em ambos
o resultado do estudo de Lara-Palomo (2013). As
os grupos. Em ambos os grupos, ocorreu
escalas de avaliação foram aplicadas antes do
aumento da amplitude de movimento cervical.
tratamento e imediatamente após o último
O programa de acompanhamento multidisciplinar
tratamento
demonstraram,
de gestão da dor crónica, apresentado na revisão
melhoria significativa na incapacidade funcional,
de Dysvik (2011), demonstrou as evidências
no controlo da dor e na qualidade de vida.
substanciais que suportam o uso de abordagens
No estudo aleatório de Saavedra-Hernández
na Terapia Cognitiva Comportamental para a dor
(2013), com recurso a manipulações da coluna
crónica, na ajuda aos doentes, de modo a gerir
cervical em pessoas com dor cervical mecânica
mais eficazmente e melhorar a sua qualidade de
resultados
vida,
bem
incapacidade
um
interferencial, em pessoas com dor lombar
cujos
da
com
como
a
funcional,
capacidade
com
funcional
relacionada com a saúde.
CONCLUSÃO Cuidar do doente com dor crónica representa um
A dor é uma experiencia única e individual,
desafio
revestida de elevada complexidade, para a qual
e
uma
experiência
com
retorno de
não existe um único tratamento para todos os
enfermagem, pelos resultados obtidos com o
doentes e para todas as situações, podendo ser
recurso
útil recorrer a várias estratégias para conseguir
compensatório às
para medidas
o não
profissional
farmacológicas,
sustentadas na evidência científica. JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
bons resultados (Elvin, Perry e Potter, 2005). VOLUME 6. EDIÇÃO 3
Página 65
As intervenções individualizadas de enfermagem
tratamento da pessoa com dor crónica de varias
ao nível das medidas não farmacológicas, são
etiologias.
desenvolvidas no âmbito de uma visão que
Apresentamos na Quadro Nº 3, de forma
integra a pessoa ao nível biopsicossocial,
sistemática,
capacitando-a e responsabilizando-a a envolver-
resultados/indicadores, agrupados nos domínios
se no seu processo de reabilitação.
apresentados
É do consenso, pautado pela literatura, que as
incluídos: Controlo da dor, Estado funcional,
intervenções não farmacológicas só por si não
Estratégias de adaptação eficazes, Qualidade de
substituem as intervenções farmacologias mas
vida,
que a combinação destas traz benefícios para o
Literacia em saúde.
JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
Estados
o
resumo
pelos
de
dos
autores
desajuste
dos
principais artigos
psicológico e
VOLUME 6. EDIÇÃO 3
Página 66
No estado funcional revelou-se importante a
Fonseca J, Lopes M, Ramos A. (2013) - People
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VOLUME 6. EDIÇÃO 3
Carretas, N., Fonseca, C. (2017) Modelo de autocuidado para pessoas em processo cirúrgico: ganhos dos cuidados de enfermagem de reabilitação, um Projeto de desenvolvimento de competências, Journal of Aging & Innovation, 6 (3): 68 - 74
ARTIGO ORIGINAL/ ORIGINAL ARTICLE
DEZEMBRO 2017
Modelo de autocuidado para pessoas em processo cirúrgico: ganhos dos cuidados de enfermagem de reabilitação, um Projeto de desenvolvimento de competências Self-care model for people in the surgical process: gains from rehabilitation nursing care, a skills development project Modelo de autocuidado para personas en proceso quirúrgico: ganancias de los cuidados de enfermería de rehabilitación, un Proyecto de desarrollo de competencias Autores Nídia Carretas 1 César Fonseca 2 1
MsC Student, RN, Hospital do Espirito Santo de Évora,
2
PhD, Universidade de Evóra, Investigador POCTEP 0445_4IE_4_P
Corresponding Author: cesar.j.fonseca@gmail.com
ENQUADRAMENTO
Segundo dados estatísticos oficiais do INE
Na sequência do planeamento da Unidade Curricular
em
cirurgias, nos hospitais portugueses, a duração
Enfermagem de Reabilitação, apresenta-se o
média de internamento foi de 6,9 dias nos
projeto “Modelo de autocuidado para pessoas em
hospitais gerais e de 35,2 dias nos hospitais
processo cirúrgico: ganhos dos cuidados de
especializados.
enfermagem de reabilitação, a ser desenvolvido
Embora o tratamento cirúrgico possa prevenir a
durante o Estágio Final, de 18 de setembro de
perda de vida ou de integridade física, está
2017 a 27 de janeiro de 2018, em duas áreas
associado
cirúrgicas distintas: Neurocirurgia e Cirúrgica
complicações cirúrgicas e a uma importante
Cardiotorácica.
causa de incapacidade funcional (Haynes et al,
No
Relatório,
mundo
do
atual,
face
Mestrado
(2017), em 2015 foram realizadas 910,6 mil
às
alterações
a
um
considerável
risco
de
2009; DGS, 2010). Dependendo da gravidade da
sociodemográficas, económicas e estruturais, a
doença,
dependência no autocuidado tem cada vez mais
observamos nos serviços onde se desenvolve
importância, existindo preocupações por parte
este projeto, pessoas com alterações ao nível
das politicas de saúde e sociais, na identificação
das funções do corpo, da estrutura do corpo (CIF
de pessoas em situação de dependência e na
2014; Rozzini, 2017; Ah et al, 2016; Malcato,
criação
2016; Pereira et al, 2016; Siqueira e Diccini,
de
necessidades
respostas
Pinto,
suas
idade,
tratamento cirúrgico é uma parte integrante dos
de participação (Amorin e Salimena, 2015). As
cuidados de saúde, com um valor estimado de
complicações pós-operatórias e incapacidades
234
cirúrgicas
impostas pelo processo cirúrgico, retardam a
realizadas anualmente (Haynes et al, 2009).
recuperação dos doentes, têm implicações na
intervenções
2013).
ou
2017; Wu et al, 2017) e ao nível das atividades
de
e
às
cirúrgico
O
milhões
(Ribeiro
ajustadas
procedimento
qualidade JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
de
vida
e
na
capacidade
de
VOLUME 6. EDIÇÃO 3
Página 69
autocuidado (Amorin e Salimena, 2015; Araújo, Silva e Ramos, 2016).
enfermagem, quando apresentam incapacidade de
autonomia. Engloba três teorias inter-
Quando existe défice de autocuidado surge a
relacionadas, ou seja, a do autocuidado (que
necessidade de se desenvolver uma intervenção
descreve o porquê e como as pessoas cuidam de
terapêutica
ou
si próprias); do déficit de autocuidado (descreve
parcialmente compensatória ou de suporte-
e explica a razão pela qual as pessoas podem ser
educativa (Orem, 2001), onde as intervenções de
ajudadas
enfermeiros
da
sistemas de enfermagem (descreve e explica as
reabilitação, surgem com grande prioridade. Para
relações que têm de ser criadas e mantidas para
a OE (2010), o conceito de competências de
que se produza enfermagem) (Queirós et al,
enfermeiro especialista é coerente com os
2014).
domínios
a
qual
poderá
ser
especialistas
considerados
na
área
da
enfermagem)
e
dos
Os modelos de prática profissional de
Cuidados
enfermagem, fornecem uma estrutura para a
Gerais, isto é, o conjunto de competências
obtenção de resultados em saúde (Donabedian,
clinicas
do
2005), favorecendo ambientes que promovem
aprofundamento de competências do enfermeiro
uma prática profissional de qualidade (Ribeiro et
de cuidados gerais (Fonseca et al, 2017). Em
al, 2016). Deste modo, a estrutura conceptual do
todos os contextos da prática, a excelência da
modelo
Enfermagem de Reabilitação, traz ganhos em
Fonseca e Lopes (2014), baseando-se na Teoria
saúde,
do
enfermeiro
especializadas,
expressos
incapacidades capacidades
e
definição
através
das
competências
na
total
decorre
na na
de
de
autocuidado
desenvolvido
por
prevenção
de
de Dorothea Orem (2001) utiliza como conceitos
recuperação
das
centrais o autocuidado, a capacidade funcional e
a
capacidade conhecimento, sustentando-se no
remanescentes,
habilitando
pessoa a uma maior autonomia. Como área de
continuum
intervenção, de excelência e referência, esta
proposto pela CIF (2014) e ainda no modelo de
“previne, recupera e habilita de novo, as pessoas
qualidade de cuidados de Donabedian (2005).
vítimas de doença súbita ou descompensação de
Neste âmbito, formulámos a seguinte pergunta
processo
deficit
de investigação: quais os ganhos dos cuidados
funcional ao nível cognitivo, motor, sensorial,
de enfermagem de reabilitação, nas pessoas em
cardiorrespiratório,
processo cirúrgico, com base no modelo do
crónico,
que da
provoquem alimentação,
da
eliminação e da sexualidade, ajudando-as a criar
da
funcionalidade/incapacidade
autocuidado?
uma maneira de viver com sentido para elas e compatível com a sua situação” (Decreto-lei n.º
OBJETIVOS
119/15 de 22 de junho).
Para dar resposta a esta pergunta de partida,
A teoria do Autocuidado desenvolvida por
definiram-se três objetivos a atingir com a
Orem (2001) baseia-se na premissa de que os
realização deste projeto:
indivíduos podem cuidar de si próprios e obter
beneficio
processo cirúrgico;
com
o
cuidado
da
equipa
de
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Avaliar a funcionalidade das pessoas em
VOLUME 6. EDIÇÃO 3
Página 70
Aprofundar e adquirir competências na prestação
de
cuidados
de
enfermagem
necessários; avaliação dos cuidados prestados e
Enfermagem de Reabilitação à pessoa em
reformulação de intervenções. Estes cuidados
processo cirúrgico;
são
ganhos
de
específicos
de
de
Definir
cuidados
adequada
intervenção
dos
produtores
de
resultados
em
saúde
(Donabedian, 2005). População alvo: Utentes internados nos
cuidados de enfermagem de reabilitação, em função dos diferentes níveis de funcionalidade,
serviços
de
Neurocirurgia
e
Cirurgia
com base no modelo de autocuidado.
Cardiotorácica com alterações na funcionalidade, que recebem cuidados de enfermagem de
METODOLOGIA
reabilitação pela autora. Instrumentos
A metodologia de cuidados a utilizar baseia-
de
colheita
de
dados:
se na teoria de médio alcance de Lopes (2006),
atendendo à natureza especifica da problemática
explicativa da relação Enfermeiro-doente, em
decidiu-se usar o instrumento Elderly Core Set
associação com a metodologia de cuidados,
(ENCS) e a medida de independência funcional
preconizada
do
(MIF). O instrumento ENCS é composto por 25
Exercício Profissional do Enfermeiro (OE, 2015).
itens considerados sensíveis aos cuidados de
Segundo Lopes (2006), a relação enfermeiro-
enfermagem, sendo seu objetivo, avaliar as
doente compreende dois elementos essenciais: o
necessidades de cuidados de enfermagem e os
processo de avaliação diagnóstica e o processo
seus resultados. A resposta a cada um dos itens
de intervenção terapêutica. Segundo este autor,
é feita segundo uma escala tipo Likert com 5
no primeiro processo, o enfermeiro avalia a
pontos (1. NÃO há problema: 0-4%; 2. Problema
situação do doente, o que este sabe, o que o
LIGEIRO: 5-24%; 3. Problema MODERADO: 25-
preocupa, que estratégias e capacidades possui.
49%; 4. Problema GRAVE: 50-95%; 5. Problema
Posteriormente, o processo de intervenção
COMPLETO: 96-100%) (Fonseca et al, 2017). A
terapêutica engloba a totalidade da intervenção
sua aplicação será efetuada em três momentos
do enfermeiro, dirigida ao doente e família, bem
distintos: na avaliação inicial, aproximadamente
como à interface destes com o grupo e a
ao
organização. Concretiza-se através da gestão de
alta/transferência.
sentimentos e a gestão de informação (Lopes,
Com indicadores sensíveis, apresenta como
2006). Assim na metodologia de cuidados
propriedades psicométricas uma variância total
definida pela OE (2015), sequencialmente deve
explicada de 66,46% kaiser-meyer-olkin (KMO)=
também ocorrer: a identificação dos problemas
0.923, demonstrando a elevada correlação inter-
de saúde do individuo, a recolha e apreciação de
intens da escala. Serão medidas as seguintes
dados sobre a situação que se apresenta; a
dimensões:
formulação do diagnostico de enfermagem;
especificas),
elaboração/realização
cardiovascular,
também
no
de
Regulamento
planos
para
a
prestação de cuidados; a execução correta e JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
fim
de
48horas
funções dor, do
e
no
mentais funções
momento
(globais do
aparelho
da
e
aparelho respiratório,
comunicação, autocuidados, mudar e manter a
VOLUME 6. EDIÇÃO 3
Página 71
posição, transportar, mover e manusear objetos,
máxima possível de se obter é de 126 e a mínima
andar e deslocar-se, Relacionamentos pessoais
de 18. O score total da MIF é calculado a partir
interpessoais (Fonseca, 2013).
da soma de pontos atribuídos em cada item,
Será aplicada a MIF, versão Portuguesa, que a
dentro das categorias. (Ordem, 2016).
Direcção-Geral da Saúde recomenda na sua
Serão ainda recolhidos dados através de notas
norma nº 054/2011 de 27/12/2011. Igualmente é
de campo e dos planos de cuidados, elaborados
utilizada na avaliação inicial, ao fim de 48 horas
para cada utente, com todas as intervenções
aproximadamente e no momento da alta/
implementadas.
transferência. Esta escala encontra-se traduzida
Tratamento de dados: para análise dos dados
para a língua Portuguesa mas desconhece-se a
referentes ao instrumento ENCS (2013) e MIF
sua validação (Ordem, 2016).
(2011), será utilizado o programa informático de
A
utilização
da
objetivo
análise estatística, Statistical Package for the
diagnosticar o grau de capacidade/incapacidade
Social Sciences, SPSS, versão 24. Os dados
funcional, avaliar o desempenho da pessoa e a
resultantes
necessidade
submetidos à análise de conteúdo de Bardin
de
MIF
terá
cuidados
como
exigida
para
a
das
notas
de
campo,
serão
realização de uma série de tarefas motoras e
(2011).
cognitivas de vida diária. Será usada para
Resultados
monitorizar a evolução da pessoa durante os
dependência nos autocuidados; Aumento da
cuidados de reabilitação, bem como a eficiência
funcionalidade na pessoa em processo cirúrgico;
e
eficácia
do
programa
de
esperados:
Diminuição
da
reabilitação
estabelecido para a pessoa em processo
Considerações éticas: Segundo Nunes (2013)
cirúrgico.
Trata-se de um instrumento de
fazendo menção às diretrizes éticas para a
avaliação constituído por 18 itens dos quais 6 se
investigação em Enfermagem, existem seis
referem aos Autocuidados (Alimentação; Higiene
princípios que nos devem guiar: Beneficência;
Pessoal; Banho; Vestir metade superior do
Avaliação da maleficência, Fidelidade, Justiça,
corpo; Vestir metade inferior do corpo; Utilização
Veracidade e Confidencialidade. Considerando
do sanitário), 2 ao Controlo de esfíncteres
estes
(Controle de urina; Controle das fezes), 3 a
deontológicos estabelecidos para a Enfermagem
Mobilidade/Transferências
cadeira,
algumas medidas serão adotadas. O presente
cadeira de rodas; Sanitário; Banheira, chuveiro),
projeto será sujeito à Comissão de Ética para as
2 a Locomoção (Marcha/cadeira de rodas;
Ciências da Saúde da Universidade de Évora. No
Escadas), 2 a Comunicação (Compreensão;
intuito da salvaguarda da confidencialidade e
Expressão) e 3 a Cognição Social (Interação
anonimato, os instrumentos de colheita de dados
social; Resolução de problemas; Memória). Cada
serão codificados com um número, cuja chave
um dos itens tem com uma cotação máxima de 7
será unicamente do conhecimento e guardados
e uma cotação mínima de 1. A pontuação
pela aluna. Os dados serão apresentados de
(Leito,
princípios
éticos
e
os
preceitos
forma que nenhum dos participantes no estudo JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
VOLUME 6. EDIÇÃO 3
Página 72
possa ser reconhecido. Será explicado aos
Direção Geral de Saúde (2010). Linhas de
utentes o procedimento associado ao tratamento
orientação para a segurança cirúrgica da OMS
e armazenamento dos dados, bem como a
Cirurgia Segura Salva Vidas. Disponível em:
possibilidade da recusa ou interrupção da sua
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ARTIGO ORIGINAL/ ORIGINAL ARTICLE
DEZEMBRO 2017
Ganhos sensíveis aos cuidados de Enfermagem de Reabilitação à pessoa dependente no autocuidado com comorbilidade, um Projeto de desenvolvimento de competências Gains sensitive to Rehabilitation Nursing care to the person dependent on self-care with comorbidity, a skills development project Las ganancias sensibles a los cuidados de enfermería de rehabilitación a la persona que dependen de autocuidado con comorbilidad, un proyecto de desarrollo de habilidades Autores António José Marmelo Lista 1 César Fonseca 2 1
MsC Student, RN, UCCI de Alter do Chão,
2
PhD, Universidade de Evóra, Investigador POCTEP 0445_4IE_4_P
Corresponding Author: cesar.j.fonseca@gmail.com
ENQUADRAMENTO
predomínio físico, motor ou multideficiência
No âmbito da Unidade Curricular Relatório, do
congénita e adquirida” promovendo a máxima
Curso
Enfermagem,
funcionalidade, valorizando e potenciando as
Especialização em Enfermagem de Reabilitação
capacidades de cada indivíduo (CMRA, 2015). O
da Escola Superior de Enfermagem São João de
serviço de Medicina I do Hospital do Espírito
Deus, da Universidade de Évora, é apresentado
Santo de Évora (HESE), E.P.E., orienta a sua
o projeto “Ganhos sensíveis aos cuidados de
prática na prestação de cuidados de saúde
Enfermagem
pessoa
diferenciados, adequados e em tempo útil,
dependente no autocuidado com comorbilidade”
garantindo padrões elevados de humanização,
a ser desenvolvido durante o Estágio Final, de 18
desempenho
de Setembro de 2017 a 27 de Janeiro de 2018,
eficiente gestão de recursos (HESE, 2017).
no Serviço I de Reabilitação de Adultos do Centro
Ao longo da vida o ser humano experimenta
de Medicina de Reabilitação de Alcoitão (CMRA)
diferentes níveis de autonomia, deparando-se
e Serviço de Medicina I do Hospital do Espírito
com eventos que lhe causam dependência,
Santo de Évora (HESE), E.P.E. As instituições
particularmente em situações de doença crónica
onde decorrerá este projeto cuidam de pessoas
(Queirós, Vidinha, & Filho, 2014). Da mesma
com diferentes graus de dependência, com duas
forma, à medida que o indivíduo amadurece,
ou mais doenças crónicas coexistentes, sendo as
adquire competências para a sua autonomização
cerebrovasculares, respiratórias, metabólicas e
e
lesões vertebro-medulares, as mais prevalentes
(Queirós et al., 2014). Quando a condição
(CMRA, 2015; HESE, 2017). Assim, o CMRA
humana ou o ambiente envolvente se alteram, a
define a sua atuação na “reabilitação pós-aguda
capacidade de autocuidado do indivíduo está
de
comprometida e este não é capaz de cuidar de si
de
pessoas
Mestrado
de
em
Reabilitação
portadoras
de
à
deficiência
de
desenvolve
técnico-científico
capacidade
de
e
eficaz
e
autocuidado
próprio, necessitando de agentes de autocuidado JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
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(Queirós
o
em Enfermagem de Reabilitação, 2015). Desta
envelhecimento da população mundial e a sua
forma particular, o Enfermeiro Especialista em
crescente longevidade nas últimas décadas,
Enfermagem de Reabilitação, cuida de pessoas
originou uma maior suscetibilidade da pessoa ao
com necessidades especiais, ao longo do ciclo
desenvolvimento de múltiplas doenças crónicas
de vida, em todos os contextos da prática de
(Fabbri et al., 2015; Lobo, Santos, & Gomes,
cuidados, “capacita a pessoa com deficiência,
2014). A comorbilidade, ou seja, a coexistência
limitação
de duas ou mais doenças crónicas, num mesmo
funcionalidade (Regulamento n.º 125/2011).
indivíduo,
a
A conceptualização do autocuidado é iniciada em
com
1956 por Dorothea Orem (2001), através da
condição
et
al.,
2014).
tornou-se clínica
Por
sua
reconhecida mais
vez,
como
comum,
da
maximiza
vida, no declínio funcional do indivíduo, levando
Autocuidado. A autora (2001) considera uma
a um aumento da utilização dos cuidados de
teoria geral composta por três teorias inter-
saúde (Fabbri et al., 2015). Está associada a
relacionadas: a Teoria do Autocuidado, que
piores resultados de saúde, difícil gestão clínica
descreve o porquê e como as pessoas cuidam de
e
&
si próprias; a Teoria do Défice de Autocuidado,
Salisbury, 2009). Em 2015, cerca de 70% do total
que descreve e explica a razão pela qual as
de mortes está associada aos quatro principais
pessoas
grupos de doenças crónicas não transmissíveis:
enfermagem e a Teoria dos Sistemas de
doenças do sistema circulatório, neoplasias,
Enfermagem, que descreve e explica as relações
doenças do sistema respiratório e doenças
que têm de ser criadas e mantidas para que se
endócrinas, nutricionais e metabólicas (WHO,
produza enfermagem (Tomey & Alligood, 2002).
2017).
Orem (2001), define o autocuidado como a
Neste contexto, o enfermeiro atua como agente
prática de atividades que uma pessoa inicia e
de autocuidado, num continuum saúde-doença,
realiza deliberadamente, para manter a sua vida,
tendo o objetivo de “prestar cuidados de
saúde e bem-estar. Afirma que o autocuidado é
enfermagem a todo o ser humano” de forma que
uma conduta aprendida e que resulta de
“mantenham, melhorem e recuperem a saúde,
experiências cognitivas, culturais e sociais. Na
ajudando-os a atingir a sua máxima capacidade
sua teoria, o autocuidado é representado por dois
funcional.” (Decreto-Lei n.º 161/96). O Curso de
conceitos distintos, correlacionados: o agente de
Mestrado
de
autocuidado, e o conceito de comportamento de
especialização em Enfermagem de Reabilitação,
autocuidado (Orem, 2001). O autocuidado tem
surge na sequência da diferenciação técnico-
sido
científica do enfermeiro, com o objetivo de intervir
percebida e/ou a performance da pessoa em
junto da pessoa com dependência funcional,
desenvolver ações ou comportamentos que
através da capacitação e promoção da qualidade
tenham
de vida (Assembleia do Colégio da Especialidade
manutenção da saúde, a prevenção e gestão da
em
(Valderas,
Enfermagem,
na
Sibbald,
área
do
Défice
a
Teoria
elevados
Enfermagem
e
consequências na diminuição da qualidade de
custos
de
actividade”
podem ser ajudadas
operacionalizado
como
como
finalidade
a
através
a
de
da
capacidade
promoção
e
doença ou das mudanças nas funções corporais, JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
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sendo considerado um resultado sensível aos
centrais de autocuidado, a capacidade funcional
cuidados de enfermagem (Fonseca & Lopes,
e capacidade conhecimento, sustentando-se no
2014; Schub, 2012; Renpenning, SozWiss,
continuum
Denyes, Orem & Taylor, 2011; Hohdorf, 2010;
definido pela Classificação Internacional de
Graham, 2006). As intervenções em saúde
Funcionalidade (WHO, 2004) e no modelo de
direccionadas para situações de dependência no
qualidade de cuidados de Donabedian (2005).
autocuidado associam-se a uma melhoria do
Neste âmbito definimos a pergunta de partida
desempenho das atividades básicas de vida e
que conduzirá esta investigação: “Quais os
instrumentais (Griffiths et al., 2001), continência
ganhos sensíveis aos cuidados de Enfermagem
de esfíncteres (Griffiths et al., 2001), otimização
de Reabilitação em pessoas dependentes com
do estado nutricional (Oliveira, Fogaça, &
comorbilidade?”
Leandro-Merhi,
2009),
objectivos: Avaliar a funcionalidade das pessoas
adversos
como quedas,
(tais
controlo
de
efeitos
úlceras
por
da
funcionalidade/incapacidade
Este
projeto
tem
como
com comorbilidade; Aprofundar e desenvolver
pressão, infeções) (Aguiar, Caliri, Costa, &
competências
Oliveira, 2012; Henriques, 2011), prevenção de
especializados de Enfermagem de Reabilitação;
estados
Avaliar os ganhos sensíveis aos cuidados de
de
desajuste
psicológico
(Ogata,
na
de
prestação
Hayashi, Sugiura, & Hayakawa, 2015) e melhoria
Enfermagem
Reabilitação
na qualidade vida (Fonseca & Lopes, 2014). É
dependentes com comorbilidade
de
em
cuidados
pessoas
descrito ainda o impacto na redução do tempo de internamento e re-hospitalização (Oliveira et al., 2009;
Poochikian-Sarkissian,
Wennberg,
METODOLOGIA
&
Com base na metodologia de cuidados
Sidani, 2008), satisfação com os cuidados de
descrita por Lopes (2006), existem duas fases
saúde (Fonseca, Ferreira, Ramos, Lopes &
distintas da relação entre enfermeiro e utente:
Santos, 2017); redução da taxa de morbilidade e
fase de processo de avaliação diagnóstica e fase
mortalidade em cuidados de longa duração (Yeh
de intervenção terapêutica de enfermagem.
et al., 2014) e redução dos custos em saúde
Segundo o autor (2006), numa primeira fase o
(Oliveira, et al., 2009; Poochikian-Sarkissian, et
enfermeiro avalia a situação do doente, o
al., 2008).
conhecimento que tem, o que o preocupa, que
Os modelos de prática profissional de
estratégias e capacidades possui. Na fase de
enfermagem, facultam uma estrutura para a
intervenção
obtenção de resultados em saúde (Donabedian,
intervenções do enfermeiro, dirigidas ao doente e
2005), de forma a favorecer ambientes que
família, bem como à interface destes com o grupo
promovam uma prática profissional de qualidade
e a instituição. Materializa-se através da gestão
(Ribeiro, Martins & Tronchin, 2016). Deste modo,
de sentimentos e a gestão de informação (Lopes,
o modelo de autocuidado desenvolvido por
2006). Esta metodologia está implícita também
Fonseca & Lopes (2014), baseando-se na Teoria
no Regulamento do Exercício Profissional do
de Dorothea Orem (2001), utiliza os conceitos
Enfermeiro
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terapêutica
(Decreto-Lei
englobam-se
n.º104/98),
as
quando
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defende que uma metodologia de cuidados
respiratório, comunicação, autocuidados,
tem por fundamento “uma interacção entre
mudar e manter a posição, transportar,
enfermeiro e utente” e atua com base num
mover e manusear objetos, andar e
processo que envolve: identificação dos
deslocar-se, relacionamentos pessoais e
problemas de saúde; recolha de dados;
interpessoais (Fonseca & Lopes, 2014).
formulação do diagnóstico de enfermagem;
Segundo a DGS (2011), a MIF tem por
elaboração
de
cuidados;
objetivo
e
avaliação
incapacidade funcional e o desempenho da
(Decreto-Lei n.º104/98), permitindo que
pessoa nas necessidades de cuidados para
estes cuidados se tornem produtores de
as funções motoras e cognitivas da vida
resultados em saúde (Donabedian, 2005).
diária. A população alvo deste projeto serão
Projeto aprovado pela Comissão de Ética
os utentes internados no Serviço I de
para a Investigação Cientifica nas áreas da
Reabilitação de Adultos do CMRA e Serviço
saúde
de Medicina I do HESE, com alterações na
execução
de dos
planos cuidados
Humana
e
Bem-estar
da
Universidade de Évora, número 18058.
avaliar
funcionalidade associadas,
Instrumentos de colheitas de dados
a
capacidade
e alvos
e
comorbilidades de
cuidados
de
enfermagem de reabilitação.
A recolha de dados será realizada através de notas de campo, relatos da experiência,
Tratamento de dados
planos de cuidados e a utilização dos
Para análise dos dados referentes ao
instrumentos Elderly Nursing Core Set
instrumento ENCS (Fonseca & Lopes,
(ENCS) (Fonseca & Lopes, 2014) e a
2014) e MIF (DGS, 2011), será utilizado o
Medida de Independência Funcional (MIF)
programa informático de análise estatística,
(DGS, 2011), para avaliação funcional em
Statistical Package for the Social Sciences,
fases distintas deste projeto. O ENCS
(SPSS). Os dados resultantes das notas de
demonstra um alpha global de Cronbach de
campo e relatos de experiência, serão
0.950,
submetidos à análise de conteúdo de
o
que
traduz
uma
excelente
fiabilidade para os 25 itens apresentados
Bardin (2011).
(Fonseca & Lopes, 2014). Por via da análise fatorial
de
componentes
principais,
Considerações éticas
apresenta uma variância total explicada de
Ao longo do desenvolvimento deste projeto,
66,46% kaiser-meyer-olkin (KMO) = 0.923,
garantir-se-á a presença permanente dos
demonstrando a elevada correlação inter-
princípios e valores da dignidade, justiça,
itens
as
equidade, solidariedade, participação e
seguintes dimensões: funções mentais
ética profissional, de acordo com Momberg
(globais e específicas), dor, funções do
(1998). O presente projeto será sujeito à
aparelho
Comissão de Ética para as Ciências da
da
escala.
Serão
cardiovascular,
medidas
do
aparelho
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Saúde
da
Universidade
de
Évora
para
Decreto-Lei
n.º
161/96:
Regulamento
do
apreciação e confirmação de que todos os
Exercício Profissional dos Enfermeiros. Alterado
direitos dos participantes são salvaguardados,
pelo Decreto-Lei nº104/98, de 21 de Abril.
nomeadamente o direito do doente de receber toda a informação acerca do estudo, qual a
Direcção-Geral
finalidade
Acidente
e
objetivos
do
mesmo.
Aos
da
vascular
Saúde
(DGS)
cerebral:
(2011).
Prescrição
de
participantes e/ou familiares, serão explicados os
medicina física e de reabilitação. Direção-Geral
objetivos
de Saúde, 054/2011, 1–19. Disponível em
do
relativamente
projeto ao
e
dadas
anonimato
garantias e
à
confidencialidade dos dados. Adicionalmente,
file:///C:/Users/Ant%C3%B3nio%20Lista/Downlo ads/i016752%20(11).pdf
será explicado o procedimento associado ao tratamento e armazenamento dos dados, bem
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unicamente do conhecimento
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do
aluno
e
guardado por este.
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https://doi.org/10.1017/CBO9781107415324.004 JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
VOLUME 6. EDIÇÃO 3
Oliveira, A. et al. (2017) Associação entre perda auditiva e autopercepção do handicap auditivo em pessoas idosas, Journal of Aging & Innovation, 6 (3): 82 - 95
ARTIGO ORIGINAL/ ORIGINAL ARTICLE
DEZEMBRO 2017
Associação entre perda auditiva e autopercepção do handicap auditivo em pessoas idosas Association between hearing loss and self-perception of the hearing handicap in older persons Asociación entre pérdida auditiva y autopercepción del handicap auditivo en personas mayores
Autores Anamélia Oliveira 1, Carina Dantas 2, Ana Luísa Jegundo 3, Ana Filipa Carvalho 4 1
MsC, Saúde Pública, Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, 2 Directora do Departamento de Inovação da Cáritas
Diocesana de Coimbra, 3 Gestora de Projectos da Cáritas Diocesana de Coimbra, 4 Audiologista da OuviSonus – Centro de Audiologia
Corresponding Author: anameliaalmeida@hotmail.com
Resumo A perda auditiva é uma condição comum associada à senescência e é considerada um problema crescente, dado o envelhecimento demográfico das populações. Objetivo: o presente trabalho tem como objetivo verificar a existência de associação entre a perda auditiva e a autoperceção de handicap auditivo em pessoas idosas. Métodos: Foi realizado um estudo transversal, descritivo e de natureza quantitativa com uma amostra de conveniência de 23 participantes, com idades igual ou superior a 60 anos. Resultados: O estudo demonstrou que o “handicap significativo” foi superior para o sexo feminino (35,3%) e a percentagem de “handicap significativo” foi superior na “hipoacusia de grau moderado – Grau I” (21,7%) e na “hipoacusia de grau moderado – Grau II” (17,4%), contudo não foram observadas associações estatisticamente significativas entre perda auditiva e handicap auditivo nos idosos. Conclusão: A implementação de estratégias de promoção da saúde auditiva, bem como o diagnóstico precoce e reabilitação destas condições, pode reduzir ou minimizar o impacto das perdas auditivas em pessoas idosas.
Palavras-chave: audição; autoavaliação; audiometria; envelhecimento; presbiacusia.
Abstract Hearing loss is a common condition associated with senescence and ut is considered a growing problem, given the demographic ageing of populations. Objective: this study aims to verify the association between hearing loss and selfperceived hearing handicap in older persons. Metodology: A cross-sectional, descriptive and quantitative study was carried out with a convenience sample of 23 participants aged 60 or over. Results: The study showed that the "significant handicap" was higher for females (35.3%) and the "significant handicap" percentage was higher in "moderate-grade hypoacusis Grade I" (21.7%) and in "moderate-grade hypoacusis - Grade II" (17.4%), however, no statistically significant associations were found between hearing loss and self-perceived hearing handicap in the older persons. Conclusion: The implementation of strategies to promote hearing health, as well as the early diagnosis and rehabilitation of these conditions
Autores may reduce or minimize the impact of hearing loss among older persons. Dados curriculares
Keywords: hearing; self-evaluation; ageing; presbycusis; health services for the aged
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Introdução
Em
A presbiacusia é um termo conhecido para
Portugal
existem
poucos
dados
referentes à prevalência deste problema, mas
designar a perda auditiva associada ao processo
segundo
investigações
realizadas
esta
de envelhecimento e é caracterizada por uma
prevalência não é muito diferente de achados
perda auditiva bilateral, simétrica e progressiva
internacionais, observando-se crescente perda
(Dalton, et al. 2003; Heine e Browning, 2002),
de audição a partir dos 65 anos, uma realidade
principalmente para sons de alta frequência, e
presente em grande parte dos idosos.
dificuldade na compreensão da fala (Araujo e
Almeida e Falcão (2009) verificaram, com base
Iório, 2014)
no 4º Inquérito Nacional de Saúde, a existência
A perda auditiva é uma condição comum
de um aumento da percentagem de indivíduos
associada à senescência e é considerada um
com incapacidade auditiva relacionada com o
problema relevante e crescente, podendo vir a
aumento da idade, encontrando-se 34,3% no
tornar-se um grande problema de saúde pública
grupo etário 75 e mais anos. Contudo, este
considerando o aumento da esperança média de
inquérito ainda não permite incorporar uma
vida e o consequente envelhecimento da
componente
população (Liu e Yan, 2007). O impacto da perda
audiometria poderia ser incluída, pelo que a
auditiva pode ser profundo, com consequências
grande dimensão da amostra estudada apenas
para o bem-estar social, funcional e psicológico
permitiu produzir estimativas da prevalência de
da pessoa idosa (Ciorba, et al. 2012).
incapacidade auditiva auto-declarada.
Diversos
estudos
demonstram
que
de
observação,
em
que
a
a
presbiacusia pode ter um efeito negativo sobre a
Segundo Ciorba et al. (2012) o diagnóstico da
qualidade de vida e o bem-estar psicológico -
presbiacusia, atualmente, inclui o histórico
isolamento social, depressão, ansiedade e
familiar, a história de início e progressão da perda
mesmo declínio cognitivo foram relatados em
auditiva e os resultados de testes audiométricos,
pessoas afetadas (Dalton, et al. 2003; Heine e
que
Browning, 2002).
comprometimento.
Em
estudo,
grau
de
demonstrado que a presbiacusia afeta 40% da
fornecer informações sobre as capacidades
população com mais de 75 anos de idade. Outro
auditivas do indivíduo, contudo estes testes
estudo sobre distúrbios auditivos, realizado no
limitam-se apenas a identificar o grau e tipo da
Reino Unido em 1995, revelou que 20% dos
perda auditiva (Rosis, et al. 2009). Segundo
adultos apresentavam algum grau de deficiência
Veras (2007), é comum existir uma perda auditiva
auditiva,
75%
significativa com pouca queixa em relação ao uso
apresentava-se em indivíduos com mais 60 anos
funcional da audição, bem como é possível
de idade (Dalton, et al. 2003; Tremblay e Ross,
encontrar perda auditiva leve com elevado índice
2007).
de perceção de desvantagem auditiva.
deste
Unidos,
o
Os exames audiomé¬tricos são responsáveis por
que
Estados
determinar
foi
sendo
nos
permitem
total,
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Desta forma, torna-se necessário a avaliação
A recolha dos dados foi realizada no período
do modo em que a perda auditiva afeta os
compreendido entre junho de 2016 e outubro de
aspetos emocionais e sociais do indivíduos, este
2016. O projeto de investigação foi realizado no
tipo de observação pode ser realizada por meio
âmbito do projeto GrowMeUp (financiado pelo
da aplicação de questionários de auto-avaliação,
programa H2020, ao abrigo do Grant Agreement
como o Hearing Handicap Inventory for the
n.º 643647, liderado pela Universidade de
Elderly - HHIE (Rosis, et al. 2009; Ventry &
Coimbra), uma vez que a problemática auditiva
Weinstein, 1982).
demonstrou
A pesquisa da capacidade de audibilidade e da autoperceção da desvantagem auditiva
ser
um
dos
obstáculos
mais
prementes à utilização de tecnologias, com sistema de diálogo, por parte dos idosos.
permite uma avaliação mais completa do perfil
Os critérios de inclusão da população no
audiológico de cada indivíduo, possibilitando
estudo foram os seguintes: idade igual ou
assim um trabalho de reabilitação individualizada
superior a 60 anos, ambos os sexos, queixa
e, consequentemente, um maior ganho de
auditiva,
qualidade de vida.
Amplificação
não
utilização Sonora
de
Aparelho
Individual
e
(AASI),
As investigações epidemiológicas relativas à
assinatura do Termo de Consentimento Livre e
perda de audição em idosos são bastante
Esclarecido (TCLE) e aceitação para participar
escassas em Portugal, existindo uma clara
do estudo de forma voluntária. Foram excluídos
necessidade em melhorar a compreensão dos
do
profissionais da saúde acerca da etiologia e
limitações cognitivas que impossibilitassem o
prevalência
preenchimento dos questionários.
desta
alteração
e
identificar
estudo
os
idosos
que
apresentavam
intervenções para melhorar a saúde, relacionada
O estudo consistiu em duas fases de recolha
com a audição, bem como a qualidade de vida
de informação. Na primeira fase foram utilizados
dos idosos. Face ao exposto, o presente trabalho
dois instrumentos para recolha de dados: (1)
tem como objetivo verificar se existe associação
anamnese
entre a perda auditiva e a autopercepção de
Desvantagem Auditiva para Idosos (P-HHIE). Na
handicap nos idosos.
segunda fase foi realizada uma avaliação
realizado
e
(2)
Escala
de
auditiva dos idosos no Centro de Audiologia –
Métodos Foi
audiológica
um
estudo
transversal,
OUVISONUS, localizado em Coimbra.
descritivo e de natureza quantitativa com uma
O primeiro instrumento de recolha de dados, a
amostra de conveniência de 23 participantes,
anamnese audiológica, integrou um questionário
com idade igual ou superior a 60 anos. A amostra
estruturado, no qual os idosos responderam
foi constituída por idosos que se encontram a
perguntas referentes às queixas auditivas,
frequentar a resposta social de Centro de Dia na
ocorrência de acufenos, uso de medicamentos,
Cáritas Diocesana de Coimbra – Centro Rainha
condição de saúde gerais e questões referentes
Santa Isabel e Centro Social São Pedro.
ao equilíbrio.
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O segundo instrumento utilizado foi a Escala de
Foram obtidos limiares auditivos por via aérea
Desvantagem Auditiva para Idosos, Hearing
(VA), nas frequências de 250, 500, 1000, 2000,
Handicap Inventory for the Elderly – (HHIE),
3000, 4000, 6000 e 8000Hz, e por via óssea
(Ventry & Weinstein, 1982; Martins & Serrano,
(VO), nas frequências de 500, 1000, 2000, 3000
2010). Esta escala visa observar os efeitos da
e 4000Hz, sendo esta última avaliada apenas
perda auditiva em indivíduos idosos e é
quando os limiares auditivos das frequências em
composta por 25 questões, das quais, 12
via aérea foram iguais ou superiores a 10 dB NA.
correspondem às componentes Sociais e as
A audiometria vocal, realizada em ambos
outras 13 estão relacionadas as componentes
ouvidos, permitiu determinar o Limiar de Receção
Emocionais. Cada questão tem como opção a
da Fala (LRF) e o Índice Percentual de
resposta “sim” (equivalente a 4 pontos), “às
Reconhecimento
vezes” (equivalente a 2 pontos) ou “não”
impedancimetria foi realizada com o auxílio do
(equivalente a 0 pontos). A pontuação geral da
aparelho da marca Maico, modelo MI34 e
escala de respostas varia de 0 (ausência de
determinou a timpanograma e pesquisa dos
desvantagem auditiva) a 100 (máxima perceção
limiares dos reflexos acústicos contralaterais nas
de desvantagem auditiva) pontos, sendo os
frequências de 500, 1000, 2000 e 4000Hz.
participantes
devidamente
Fala
(IPRF).
A
de
Na análise da audiometria tonal, os
acordo com a perceção de perda auditiva, isto é,
resultados foram classificados segundo o grau de
de 0-16 pontos, não apresenta desvantagem
perda auditiva, tendo em consideração os
auditiva; de 17-42 pontos, verifica-se uma
resultados obtidos no melhor ouvido, de acordo
perceção
desvantagem
com classificação proposta pelo BIAP (1997),
auditiva; e entre 43-100 pontos, há uma perceção
que classifica do grau da perda auditiva de
severa/significativa de desvantagem auditiva.
acordo com a média dos limiares auditivos, por
Na segunda fase da pesquisa realizou-se a
VA, nas frequências 500, 1000, 2000 e 4000Hz.
avaliação
os
Quanto ao tipo de perda auditiva, o estudo seguiu
participantes receberam informações sobre os
a classificação de Silman e Silverman (1997), de
exames a serem realizados e a ausência de
acordo com a configuração audiométrica e
qualquer risco associado.
levando em consideração a comparação dos
leve/moderada
auditiva,
estratificados
da
de
durante
a
qual
Inicialmente os idosos foram submetidos
limiares entre a via aérea e a via óssea de cada
à Otoscopia ao Canal Auditivo Externo (CAE)
ouvido.
Para
a
audiometria
vocal
e
com a finalidade de avaliar as condições
impedancimetria utilizaram-se os critérios de
adequadas para a realização dos exames
classificação de Jerger, Speacks e Trammell
auditivos. Em seguida foi avaliada a audição,
(1968) e Jerger (1970).
através da audiometria tonal limiar e vocal,
Após a recolha das informações e da
realizada em cabina acusticamente tratada e
avaliação auditiva dos idosos, iniciou-se a
utilizando o audiómetro Interacoustics modelo
construção de uma base de dados e o respetivo
AD229b, auscultadores TDH39 e vibrador B-71.
tratamento estatístico. Para a organização e
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análise dos dados, foi utilizado como recurso a
No estudo, a amostra caracterizou-se por
versão 21 do programa estatístico IBM SPSS
ser
predominantemente
(Statistical Package for the Social Sciences),
(65,4%).
aplicando-se, inicialmente, os procedimentos de
características audiológicas, verificou-se que
análise descritiva, com medidas de proporção,
60,6%
tendência central e dispersão e, posteriormente,
dificuldade em ouvir, contudo, 52,2% não soube
a análise inferencial, tendo sido utilizados os
especificar em qual ouvido tem mais dificuldade
testes de Qui-quadrado e Teste Exato de Fisher
em escutar e 34,8% respondeu que ouve mal em
com o objetivo de verificar associação entre o
ambos os ouvidos.
grau da perda auditiva e grau do handicap. Para
Quando inquiridos em relação à evolução da
o estudo, foi adotado um nível de significância de
perda auditiva, 69,6% dos idosos não soube
5% em todas as análises.
responder como se deu a evolução, porém 30,4%
Resultados
relatou que a perda ocorreu progressivamente.
A amostra foi constituída por 23 (100%) idosos
Do total dos idosos, 65,2% mencionou sofrer com
com idades entre 60 e 95 anos, com a maior
tonturas e/ou vertigens. Quanto à presença de
frequência situada entre 79 e 88 anos (11,5%). A
acufenos, 69,6% idosos mencionaram não ter
média de idade apresenta um valor de 84,04
qualquer tipo de acufeno no ouvido. No entanto,
anos. A amostra foi estratificada em quatro
30,4% dos idosos referiu a presença de acufeno,
grupos etários: 60 a 69 anos; 70 a 79 anos; 80 a
predominando o acufeno em ambos ouvidos.
Procedendo-se
dos
indivíduos
do
sexo
às
feminino
análises
relataram
das
alguma
89 anos e acima de 90 anos.
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Relativamente à dificuldade em compreender a
no entanto, apenas 4,3% faz uso, atualmente, de
fala, 69,6% dos idosos referiu que apresenta esta
medicamentos ototóxicos.
dificuldade.
já
Em relação a episódios de otalgia, 73,9% dos
exerceram alguma atividade profissional em local
idosos relatou que não sofre de dores no ouvido.
ruidoso, 30,4% mencionou que sim. Quanto ao
Inquiridos sobre problemas de saúde, a maioria
uso regular de medicamentos, verifica-se que
dos idosos (87%) indicou que sofre com uma ou
82,6% utilizam alguma medicação diariamente,
mais condições de saúde.
Na avaliação da perceção da desvantagem
Na análise da componente Social (S) observa-se
auditiva pelos idosos, a percentagem de idosos
que 50,7% dos idosos responderam “sim” e “às
“Sem Handicap” foi de 26,1%, enquanto a
vezes”
percentagem dos idosos com “Handicap leve a
componente Emocional (E) 46,5% dos idosos
moderado”
a
indicaram “sim” e “às vezes” às questões
“Handicap
colocadas, sendo a perceção da desvantagem
percentagem
Quando
foi
de de
questionados
30,4% idosos
e, com
por
se
fim,
significativo” foi 43,5%.
a
estas
questões,
enquanto
na
auditiva mais verificada na componente Social (Tabela 3).
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De acordo com a Escala de Desvantagem Auditiva
para
Idosos,
das
25
situações
questionadas aos idosos, em apenas 7 delas há uma maior desvantagem auditiva, sendo elas: quando encontra/conhece um novo indivíduo fora do seu círculo (39,1%); em grupos, onde procura se isolar (43,5%); irrita-se por não conseguir ouvir (43,5%); dificuldades em locais ruidosos como festas (52,2%); em conversas onde o interlocutor fala em baixa intensidade (73,9%); em visitas a amigos e parentes (39,1%) e aborrece-se por não
Relativamente
aos
resultados
do
exame
audiológico, considerando os resultados para o melhor
ouvido,
23
(100%)
dos
idosos
apresentam alguma perda auditiva, 9 (39%) revelaram uma hipoacusia de grau ligeiro, 8
(34,8%) uma hipoacusia de grau moderado (grau I) e 6 (26,1%) uma hipoacusia de grau moderado (grau II). A pesquisa dos limiares auditivos evidenciou ainda o predomínio de perdas neurossensoriais (97,3%) (Tabela 4).
ouvir bem (34,8%).
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Observou-se ainda uma perda auditiva bilateral
Qui-Quadrado
(100%) e queda dos limiares auditivos por via
significativa em termos estatísticos (=7,440
aérea, de 5 a 20 dB, nas frequências altas (4000,
p=0,282) e os testes de correlação de Spearman
6000 e 8000 Hz).
(rs=0,049 p=0,182) e de Pearson (r=0,119
Quanto à audiometria vocal, considerando os
p=0,191) aproximam-se de zero, demonstrando
resultados para o melhor ouvido, verificou-se que
uma relação não linear e não monótona.
os valores do IPFR apontam que 1 (4,3%) idoso
Na relação entre perda auditiva e género,
tem ligeira/discreta dificuldade para compreender
observa-se que 73,9% das perdas auditivas são
a fala, 8 (34,8%) apresentam uma moderada
superiores para o sexo feminino e apenas 26,1%
dificuldade para compreender a fala e 6 (26,1%)
ocorrem no sexo masculino. Contudo, as maiores
têm
para
perdas auditivas, de grau moderado I e II,
acompanhar uma conversa, seguindo de 8
ocorrem no sexo masculino, embora de forma
(34,8%)
não estatisticamente significativa - Qui-Quadrado
uma
acentuada
que
dificuldade
possuem
uma
provável
incapacidade de acompanhar uma conversa.
não
demonstram
relação
bicaudal (duas extremidades) = 2,831 p=0,243. Na análise entre o grupo etário e perda auditiva,
Na análise inferencial dos dados, a percentagem
observou-se que no grupo de 60-69 anos o total
de “handicap significativo” e “handicap leve a
de perdas foi de 4,3%. No grupo dos 70 aos 79
moderado” é superior para o sexo masculino,
anos o total foi de 17,4%, seguido de 65,2% no
sendo respetivamente 66,7% e 33,3%, e a
grupo de 80 a 89 anos e de 13% no grupo de
percentagem de “sem handicap” é superior para
mais de 90 anos, o que aponta para um aumento
o sexo feminino (35,3%). Contudo não existe
de perda consoante o aumento da idade. Uma
uma relação estatisticamente significativa entre o
vez
handicap auditivo e género, conforme valor do
extrapolados para a população em geral por falta
Teste de Associação Qui-Quadrado bicaudal
de
(duas extremidades) = 3,144 p=0,208
=8,236
Quando observada a relação entre o resultado do
correlação fraca, embora linear no teste de
handicap auditivo e os grupos etários, verifica-se
Spearman (rs=0,263 p=0,136) e de Pearson
que o grupo dos 60 aos 69 anos não apresenta
(r=0,290 p=0,126).
desvantagem auditiva. Já o dos 70 aos 79 anos
Relativamente à correlação entre grau da perda
apresenta 17,4% de “handicap leve/moderado” e
e handicap auditivo, a percentagem de “handicap
“handicap significativo”; dos 80 aos 89 anos
significativo” é superior na “hipoacusia de grau
mostra 43,4% de “handicap leve/moderado” e
moderado – Grau I” (21,7%) e na “hipoacusia de
“handicap significativo”; por fim, 13% apresenta
grau moderado – Grau II” (17,4%). Já a
um “handicap leve/moderado” e “handicap
percentagem do “sem handicap” e “handicap leve
significativo”,
a
a moderado” é superior na “hipoacusia de grau
desvantagem auditiva aumenta com idade.
ligeiro”, sendo respetivamente 21,7% e 13,0%.
Porém, os resultados do Teste de Associação
Contudo,
o
que
evidencia
que
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mais
estes
valores
significância
estatística
p=0,221),
não
não
se
podem
ser
(Qui-Quadrado
indicando
observou
porém
uma
associação
estatisticamente significativa entre perda auditiva VOLUME 6. EDIÇÃO 3
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estatisticamente significativa entre perda auditiva
amostrais
já
com
e handicap auditivo nos idosos, como evidencia
praticamente idênticos no teste de correlação de
o valor do Teste de Associação Qui-Quadrado
Spearman (rs=0,575 p=0,139) e de Pearson
bicaudal (duas extremidades) =8,823 p=0,066.
(r=0,570 p=0,129), apesar de a correlação para
Por outro lado, a sua correlação é moderada e
dados
linear, apresentando valores para dados
estatisticamente,
populacionais
alguma
não
relevância
ser
possivelmente
e
significativa devido
ao
reduzido tamanho da amostra (N<30).
Discussão
grau da perda auditiva que o indivíduo
Relativamente às perdas auditivas, no presente estudo foram encontradas, em todos os idosos, hipoacusias de grau ligeiro a moderado, o que está em concordância com outros estudos que apontam que há uma prevalência maior de perda auditiva neurossensorial descendente, de grau leve a moderado, na população idosa (Almeida e Guarinello,
2009;
Marques
et
al.
2004).
Observou-se ainda perdas auditivas bilaterais (100%) e queda dos limiares auditivos nas frequências altas. A perda auditiva bilateral e acentuada
nas
frequências
altas
é
uma
característica presente na presbiacusia (Kacker, 1997).
apresenta, sendo também imprescindível a avaliação da maneira como esta deficiência afeta a qualidade de vida emocional e social dos pacientes por meio de outros instrumentos.
Lotfi et al. (2009) ao investigarem os efeitos da perda auditiva na qualidade de vida, evidenciaram que a presbiacusia tem sido relatada como causa de relações comunicativas reduzidas, bem como de interações sociais e emocionais afetadas. Segundo estes autores, a hipoacusia é apontada como uma fonte de solidão, isolamento e declínio nas atividades sociais, bem como distúrbios de comunicação e
insatisfação com a vida.
Para Silveira e Russo (1998) a avaliação audiológica fornece dados referentes ao tipo e JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
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Uma pessoa com hipoacusia pode ter dificuldade
perda auditiva, é consistente com os efeitos de
em discriminações de fala, participação em
idade observados em outros estudos com idosos.
atividades sociais e capacidade de localização
Segundo
de sons (Gates e Mills, 2005). A perda auditiva
autoavaliação da deficiência auditiva, bem como
também
de
da perda auditiva foi maior para grupos etários
distúrbios emocionais, depressão e isolamento
mais velhos. Ou seja, tanto a desvantagem
social e demência (Mulrow et al., 1990; Weinstein
auditiva, como a perda auditiva, aumentaram
e Ventry, 1982).
com o avanço da idade.
Na análise da Escala de Desvantagem Auditiva,
Na análise das perdas auditivas e género, do
do total da população estudada, 73,9% relatou ter
total, foram identificadas hipoacusias em 17
deficiência auditiva, indicando um handicap leve
indivíduos do sexo feminino (73,9%) e 6 do sexo
e moderado ou significativo. Das situações
masculino (26,1%). Contudo, quando analisado o
questionadas através da Escala, 52,2% relatou
grau da perda auditiva, observou-se maiores
ter dificuldades em locais ruidosos e 73,9%
prejuízos em idosos do sexo masculino. Estes
referiu maior prejuízo em conversas onde o
apresentam perdas moderadas grau I e II mais
interlocutor fala em baixa intensidade. A literatura
elevadas (83,3%) do que o sexo feminino.
afirma
de
De uma forma geral, há consenso sobre a
de
relação do maior prejuízo auditivo nos homens do
comunicação é sentida em situações em que
que nas mulheres (Pearson et al. 1995; Helfer,
várias pessoas estão conversando ao mesmo
2001). De acordo com Jerger et al. (1993), a
tempo (Almeida e Guarinello, 2009; Aiello et al.
perda auditiva nas frequências altas nos homens
2011).
é maior do que nas mulheres, que por sua vez,
está
associada
que,
na
presbiacusia,
a
No
estudo
população
maior
aumento
portadora
dificuldade
desvantagem
a
prevalência
da
têm pior audição nas frequências baixas. Para
componente social foi onde mais se verificou
Cruickshanks (1998) a prevalência também foi
prejuízos. Reforçando estes achados, os autores
maior para homens do que para mulheres.
Santiago e Novaes (2009) observaram que,
Segundo Helfer (2001), existe a necessidade de
quando comparadas as implicações sociais e as
serem avaliadas as diferenças de gênero,
emocionais da desvantagem auditiva, o idoso
principalmente, porque este fato pode ser
tende a sentir-se mais prejudicado em situações
explicado pela maior exposição dos homens ao
que envolviam terceiros, procurando isolar-se, o
ambiente ruidoso. Gates et al. (1990) também
que poderia ser explicado pelo sentimento de
confirma em seu estudo a diferença de gênero,
frustração
atribuindo a pior audição dos homens à
incapacidade
de
auditiva
(2000)
a
e
da
ao
Wiley
desenvolver
plenamente suas funções sociais.
exposição a ruído em ambiente de trabalho e de
Com relação ao handicap auditivo e a idade, no
lazer.
presente estudo a diminuição na audição e na
Quanto à análise do handicap e género, a
desvantagem
percentagem
auditiva
autorelatada
com
o
aumento da idade, depois de contabilizar grau de JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
de
“handicap
significativo”
e
“handicap leve a moderado” é superior para o sexo masculino, sendo respetivamente 66,7% e VOLUME 6. EDIÇÃO 3
Página 92
sexo masculino, sendo respetivamente 66,7% e
sobre a qualidade de vida das pessoas idosas,
33,3%, e a percentagem de “sem handicap” é
contudo estes efeitos podem ser reversíveis com
superior para o sexo feminino (35,3%).
a utilização de próteses auditivas. Um estudo
Relativamente à correlação entre perda auditiva
randomizado do uso de aparelho auditivo
e
estudo
demonstrou que o uso de próteses auditivas
demonstra que a percentagem da desvantagem
poderia reverter os efeitos adversos sobre a
auditiva é superior nas hipoacusias de grau
qualidade de vida em adultos idosos com perda
moderado I e II. Já a ausência de handicap
auditiva (Mulrow et al., 1990).
auditivo é superior nas hipoacusias de grau
O uso do aparelho auditivo diminui os efeitos da
ligeiro, contudo não houve uma correlação
perda auditiva sobre a comunicação e as
estatisticamente significativa.
relações sociais dessas pessoas (Guarinello et
handicap
auditivo,
Diversos
autores
relataram
uma
significativa,
o
com
presente
objetivos
associação
onde
a
perda
similares
al. 2013). A perda auditiva nos idosos é
estatisticamente
acompanhada de mudanças psicológicas que
auditiva
está
impedem
uma
comunicação
eficiente,
diretamente relacionada com a autoperceção do
prejudicando a habilidade de manter relações
handicap auditivo (Rosis et al. 2009; Samelli et al.
sociais (Gonçalves e Mota, 2002). Face a isto são
2011; Pinzan-Faria e Iório, 2004). Samelli et al.
necessários programas aprimorados de rastreio
(2011)
da
e intervenção para identificar as pessoas idosas
sensibilidade auditiva foi acompanhada pelo
que se beneficiem da amplificação para melhorar
aumento
a qualidade de vida relacionada com a audição.
verificaram
da
que
perceção
a
de
redução
handicap,
fato
demonstrado também por Pinzan-Faria e Iório
Importa
(2004) e Rosis et al. (2009), que avaliaram a
encontrados
audição e o grau de handicap em pacientes, com
generalizações em função do tamanho reduzido
ou sem queixa auditiva.
da amostra. Contudo, podemos constatar que
No entanto, outras investigações realizadas
aplicação de questionários de autoavaliação e
divergem do resultado observado, revelando não
exames audiológicos são extramentes úteis no
haver uma associação entre handicap e perda
rastreio e diagnóstico de idosos com queixas
auditiva (Sestrem, 2000; Tavares, 2001).
auditivas.
Importa destacar que poucos idosos com perda
Uma elevada percentagem das pessoas mais
auditiva estão atualmente a utilizar aparelhos
velhas apoiadas pela Cáritas aparenta ter
auditivos. Em estudo com 1629 adultos, com
problemas auditivos mas tem dificuldades em ser
idade entre 48 e 92 anos, que sofrem perda
diagnosticado e tratado para esta patologia, a
auditiva, a prevalência do uso de prótese auditiva
maioria das vezes por dificuldades de aceitação
entre aqueles com perda auditiva foi apenas de
da limitação. As equipas técnicas de apoio direto
14,6% (Popelka et al. 1998).
aos utentes relatam várias situações de idosos
Segundo Mulrow et al. (1990), a perda auditiva
que se recusam a participar nas atividades de
está associada a efeitos adversos importantes
grupo por se sentirem diminuídos com as suas
JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
ainda
referir
neste
que
estudo
os
resultados
não
permitem
dificuldades de audição e outros a quem é difícil VOLUME 6. EDIÇÃO 3
Página 93
dificuldades de audição e outros a quem é difícil
das perdas auditivas, através da implementação
aplicar um diagnóstico diferencial por não ser
de
claro que limitações resultam da perda auditiva e
auditiva no idoso.
quais se devem atribuir a outras patologias,
Posto isto, torna-se essencial a realização de
nomeadamente a demências ou alterações
outros estudos epidemiológicos, transversais e
cognitivas.
longitudinais, necessários para entender os
A implementação do projeto “Ouvir Bem”, do qual
determinantes
fez parte o presente estudo, tem permitido iniciar
género, na perda auditiva relacionada com o
um processo de compreensão relativo às perdas
envelhecimento.
auditivas, aproximando as pessoas mais velhas
No que concerne ao presente estudo, pretende
dos mecanismos de rastreio e diagnóstico e
dar-se seguimento ao projeto desenvolvido na
trazendo esta temática para as discussões entre
Instituição, “Ouvir Bem”, e na realização de novos
pares.
estudos idênticos com outros grupos e amostras
Também
a
utilização
de
programas
direcionados
genéticos,
à
reabilitação
ambientais
e
de
equipamentos
mais significativas, quer na implementação de
tecnológicos de alta performance, como robôs ou
um programa de prevenção, reabilitação e
avatares com sistema de diálogo, tem ajudado a
formação a cuidadores na área da saúde
tornar mais evidentes as sintomatologias mais
auditiva.
graves, sinalizando-as para eventual diagnóstico e acompanhamento.
Agradecimentos
No presente estudo, apesar de se utilizar amostra
Agradecemos a colaboração do Dr. Luís Dias
reduzida,
da
pela supervisão das análises estatísticas; a Sara
autoavaliação do handicap auditivo pelos idosos
Alexandra Luís do Centro Auditivo Ouvisonus
e o exame audiométrico completo. Para um
pela colaboração na realização de exames
futuro
mais
auditivos; a Arménia Boleto, Ana Rita Coelho,
representativas e diversificadas para extrapolar
Sofia Marques e Lurdes Marques da Cáritas
os resultados para outras populações.
Diocesana de Coimbra pelo apoio geral ao
foi
estudo
realizado
sugere-se
a
pesquisa
amostras
estudo realizado. Conclusão A presbiacusia é um processo complexo e suas consequências afetam diretamente a qualidade
Referências
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VOLUME 6. EDIÇÃO 3
Fonseca, C., Coroado, R., Pissarro, M., (2017) A importância do Modelo das Atividades de Vida de Nancy Roper, Winifred Logan e Alison Tierney na formação de estudantes do curso de licenciatura em Enfermagem, Journal of Aging & Innovation, 6 (3): 96 - 102
ARTIGO ORIGINAL/ ORIGINAL ARTICLE
DEZEMBRO 2017
A importância do Modelo das Atividades de Vida de Nancy Roper, Winifred Logan e Alison Tierney na formação de estudantes do curso de licenciatura em Enfermagem The importance of life activities model of Nancy Roper, Winfred Logan and Alison Tierney, in the formation of nursing students La importancia del modelo de actividades de vida de Nancy Roper, Winfred Logan y Alison Tierney, en la formación de estudiantes del curso de licenciatura en enfermeira Autores César Fonseca 1, Rogério Coroado 2, Margarida Pissarro 3 1
PhD, Universidade de Evóra, Investigador POCTEP 0445_4IE_4_P,
2,3
Estudantes do Curso de Enfermagem da Universidade
de Évora Corresponding Author: cesar.j.fonseca@gmail.com
INTRODUÇÃO
profissional que pressupõe a interiorização de
Os cuidados de enfermagem são de elevada
um conjunto de valores profissionais (Elsherif,
complexidade e representam uma expressão
Noble, 2011), entendidos como o conjunto de
humanista (Beh, 2012; Pinkney et al., 2013), e
atitudes, crenças e prioridades que norteiam o
um processo complexo. Por isso, a formação e
pensamento e a prática profissional. Neste
tem
de
aspeto, é determinante que os estudantes
desenvolvimento humano que ocupa uma grande
entendam claramente em que medida os seus
parte do percurso curricular (Vieira, 2008).
valores pessoais e os da profissão a que acedem
A necessidade de ajuda faz surgir uma resposta
se cruzam (Serra, 2012).
espontânea de cuidado nos seres humanos que
Do ponto de vista curricular é consensual que as
veem no outro a sua própria vulnerabilidade
experiências em ensino clínico sejam de uma
(Beh, 2012; Fang, 2015). Para cuidar não basta
centralidade determinante no desenvolvimento
uma
da
uma
componente
boa
intenção,
clínica
são
e
necessários
própria
identidade
profissional
em
conhecimentos específicos, aleados à escuta,
enfermagem, assentando esta asserção no
observação, tomada de conhecimento, recolha
reconhecimento do potencial formativo dos
de
contextos de trabalho e da aprendizagem pela via
dados e tomada de consciência das
expetativas e necessidades das pessoas (Fang,
da experiência (Serra, 2012).
2015). É indispensável saber quem é o outro que
A análise da natureza das práticas clínicas na
está
licenciatura em enfermagem, compreendendo a
ao
nosso
cuidado,
quais
as
suas
capacidades e limites, e sobretudo, é necessário
conceção
e
respetiva
saber como ajudá-lo a crescer e a realizar-se
(Kaşıkçı,
2015),
(Vieira, 2008). O desenvolvimento da identidade
multiplicidade de cenários, potenciadas por
de um enfermeiro é um processo de socialização
fatores de ordem diversa, onde se incluem
revela
operacionalização uma
enorme
aspetos como o momento do curso em que a JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
VOLUME 6. EDIÇÃO 3
Página 97
prática decorre, as instituições envolvidas e as
Escola
conceções individuais de quem coordena e
Humanas
caracteriza as práticas (Serra, 2012).
Henderson, estando contida no Paradigma da
Deste modo, a formação é uma oportunidade de
Integração, e centrando-se na pessoa (Elsherif,
desenvolvimento pessoal e profissional, que
Noble, 2011; Kaşıkçı, 2015; Fang, 2015), de
favorece os indivíduos a (re)pensarem-se como
modo a assumi-la como um todo, ou seja, um ser
profissionais, desenvolvendo competências ao
que permanece em constante crescimento e
nível da reflexão e da metacognição (Serra,
evolução desde a sua conceção até à morte e
2012).
que usufrui de um conjunto de necessidades
Posto
isto,
de
a
Pensamento Básicas,
das
fundada
Necessidades por
Virginia
sustentar
a
essenciais para a manutenção da sua saúde e
utentes
e
bem-estar (Lima, 2014).
planos
de
Este modelo baseia-se no modelo de vida que
cuidados de enfermagem (Elsherif, Noble, 2011;
tem como núcleo a pessoa, sendo esta definida
Kaşıkçı, 2015; Fang, 2015; Beh, 2012; Pinkney et
como um sistema aberto em permanente
al., 2013), durante o nosso percurso de
interação com o meio ambiente, compreendendo
aprendizagem em contexto clínico, utilizámos o
doze atividades de vida diárias (AVD’s) (Fang,
Modelo de Roper, Logan e Tierney como base
2015; Beh, 2012; Pinkney et al., 2013, que estão
teórica orientadora da organização concetual do
condicionadas pelos estádios de vida, na medida
nosso pensamento em contexto hospitalar.
em que podem existir alturas em que o indivíduo
Em 1967, Nancy Roper publicou a primeira
consegue ou não realizar determinada atividade
edição da sua obra atribuindo-lhe o nome de
(Roper, Logan, & Tierney, 2001).
“Principles of Nursing in process contex”. Em
Entende-se como ciclo de vida, o período que vai
1970, dedicou-se a investigar o núcleo de
desde o nascimento até à morte, sendo que cada
cuidados de enfermagem, desenhando um
pessoa tem um ciclo de vida diferente. Existem
modelo de vida e um modelo de enfermagem
vários estádios de vida caraterizados por um
derivado desse mesmo. Esta monografia foi
desenvolvimento físico, intelectual, emocional e
publicada em 1976, iniciando-se assim a sua
social que influencia o modo como cada indivíduo
utilização na prestação de cuidados (Tomey &
realiza as suas atividades de vida diárias. O
Alligood, 2004).
estádio do ciclo vital influencia todas as etapas
observação/avaliação
forma
de
dos
construção/implementação
de
do processo de enfermagem e está inerente ao O MODELO EM REFLEXÃO
conceito
O modelo inicial de Nancy Roper foi então
(Cordeiro, 2013).
reformulado
autora,
Segundo o referido modelo um enfermeiro deve
conjuntamente com Winifred Logan e Alison
ser consciente da individualidade vital de cada
Tierney, transformando-o num modelo mais
indivíduo
completo e adaptado às necessidades da prática
influenciam o conhecimento, as atitudes e a
dos cuidados de Enfermagem. Este insere-se na
conduta dos mesmos, tais como: os biológicos,
em
1980,
pela
de
e
enfermagem
de
que
individualizada
existem
fatores
que
os psicológicos, os socioculturais, os ambientais JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
VOLUME 6. EDIÇÃO 3
Página 98
e os socioeconómicos, uma vez que estes estão
refletidos na legislação) (Roper, Logan, &
intimamente relacionados com a duração da vida
Tierney, 2001). O objetivo principal da pessoa é
nas várias fases de desenvolvimento, resultando
atingir
num continuum de dependência/independência
máxima nas atividades de vida, dentro do
(Lima, 2014). Este último representa uma
possível e de acordo com as circunstâncias em
variação
a
que se encontra ((Elsherif, Noble, 2011; Kaşıkçı,
independência total, sendo aplicado diretamente
2015; Fang, 2015; Beh, 2012; Pinkney et al.,
a cada atividade de vida. A comparação do
2013).
estádio
entre
a
dependência
dependência
total
/independência
e
a
autossatisfação
e
independência
das
Quanto ao conceito de ambiente, segundo
pessoas com o ciclo vital é necessário, já que
Nancy Roper, este é visto e concetualizado numa
nem todas as pessoas nasceram com o mesmo
dimensão alargada, englobando tudo o que é
potencial para se tornarem independentes em
fisicamente externo à própria pessoa. Este, por si
todas as atividades de vida. Um aspeto
só, pode pôr em risco a saúde, a segurança, e a
importante de enfermagem, é apreciar o nível de
própria vida do indivíduo, uma vez que em cada
independência da pessoa face a cada atividade
fase do seu ciclo de vida, o mesmo está sujeito a
de vida e julgar em que direção e com que
riscos próprios do ambiente que deverão ser
intensidade deve ser ajudada para se deslocar no
conhecidos, a fim de se prevenirem e evitarem
continuum
(Tomey & Alligood, 2004).
dependência/independência
(Cordeiro, 2013).
Em relação ao conceito de saúde, este
Nancy Roper definiu, segundo o seu modelo, um
metaparadigma
compreendendo
quatro
de
enfermagem,
conceitos:
saúde,
pessoa, ambiente e enfermagem.
refere-se à maneira como o sujeito realiza as AVD’s em interação com fatores influenciadores, do continuum dependência/independência (Beh, 2012; Pinkney et al., 2013), alcançando o
A pessoa é descrita como um indivíduo
resultado esperado quando se impede que os
central, que satisfaz doze AVD’s de acordo com
problemas potenciais se tornem reais (Tomey &
o continuum dependência/independência e com
Alligood, 2004).
o estádio do ciclo vital, sofrendo a influência de
Por fim, a enfermagem é definida como a
fatores psicológicos (elementos da pessoa,
forma de ajudar as pessoas a prevenir que
incluindo aspetos intelectuais e emocionais),
problemas potenciais relacionados com as AVD’s
biológicos (desempenho anatómico e fisiológico
se tornem reais, aliviando, resolvendo ou
do corpo humano), socioculturais (todos os
prevenindo o reaparecimento de problemas
aspetos que englobam a cultura, religião,
(Tomey & Alligood, 2004).
espiritualidade, ética, relacionamentos e status
De acordo com o parecer nº 12/2011 da Mesa
na comunidade), ambientais (fatores externos ao
do Colégio da Especialidade de Enfermagem de
indivíduo que vão influenciar todos os outros
Reabilitação (MCEER, 2011), o termo “atividades
fatores) e, por fim, político-económicos (aspetos
de vida diária” (AVD) refere-se ao conjunto de
legais, políticos e/ou económicos que podem ser
atividades ou tarefas comuns que as pessoas
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realizam de forma autónoma e rotineira ao longo
Noble, 2011) de problemas que já foram
do seu dia-a-dia, podendo ser divididas em dois
solucionados, lidando de forma positiva com
grupos: Atividades Básicas de Vida Diária
quaisquer que sejam os problemas, incluindo a
(ABVD) e Atividades Instrumentais de Vida Diária
morte (Roper, Logan, & Tierney, 2001).
(AIVD) (Kaşıkçı, 2015; Fang, 2015). No que diz
Resumindo,
o Modelo de Enfermagem
respeito ao grupo das ABVD’s, este refere-se às
baseado no Modelo de Vida tem como objetivo
funções e estruturas do corpo envolvidas no
auxiliar
desempenho da tarefa, assim como às atividades
abordagem personalizada de intervenções, que
e
execução.
ao serem implementadas, tenham o intuito de
Relativamente às AIVD’s, estas dizem respeito à
capacitar o utente para enfrentar os problemas
capacidade de o indivíduo gerir o ambiente em
que
que vive.
alcançar a independência em qualquer AVD que
à
participação
para
a
sua
Segundo o modelo de Roper, Logan e
os
enfermeiros
provocam
a
planear
dependência,
uma
procurando
esteja afetada (Roper, Logan, & Tierney, 2001).
Tierney, as 12 AVD’s que descrevem a vida do
Em concordância com todos os aspetos já
indivíduo são: manter um ambiente seguro;
referidos, surge a importância da utilização do
comunicar; respirar; comer e beber; eliminar;
processo de enfermagem, garantindo cuidados
higiene
individualizados e centrados na pessoa. Este
pessoal
e
vestir-se;
controlar
a
temperatura corporal; mobilizar-se; trabalhar e
processo
distrair-se; exprimir a sexualidade; dormir; e
interdependentes, nomeadamente, a apreciação
morrer (Roper, Logan, & Tierney, 2001).
inicial do utente, o planeamento dos cuidados de
Posto isto, pode-se observar que o Modelo de Enfermagem
de
Nancy
Roper
tem
como
envolve
quatro
fases
que
são
enfermagem, a sua implementação, e por fim a avaliação
dos
mesmos.
O
processo
de
principais pressupostos o facto de se poder
enfermagem é um método de raciocínio lógico e
descrever a vida como um conjunto de AVD’s,
tem de ser necessariamente utilizado em
sendo que a forma como estas são executadas
conjunto com um modelo de enfermagem
por cada pessoa contribui para a individualidade
explícito (Roper, Logan, & Tierney, 2001).
das mesmas. Assim, a pessoa é avaliada em
Aplicado ao modelo de Nancy Roper a
todas as fases do ciclo vital, ao longo das quais,
apreciação inicial baseia-se em quatro etapas
até à idade adulta, o indivíduo tende a tornar-se
diferentes, entre elas a recolha de informação
cada vez mais independente nas suas AVD’s
acerca do doente, a revisão da informação
(Elsherif, Noble, 2011; Fang, 2015; Beh, 2012;
colhida
Pinkney et al., 2013).
problemas do utente, através da análise de
anteriormente,
a
identificação
dos
Deste modo, o planeamento dos cuidados de
dados (Fang, 2015; Beh, 2012; Pinkney et al.,
enfermagem será feito no sentido de ajudar o
2013), e a identificação das prioridades entre os
indivíduo a evitar, aliviar, resolver ou suportar os
problemas detetados (Roper, Logan, & Tierney,
problemas reais ou potenciais relacionados com
2001).
as AVD’s e a prevenir o reaparecimento (Elsherif, JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
Deste modo, a informação é obtida através VOLUME 6. EDIÇÃO 3
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da observação e entrevista. A fonte principal de
probabilidades de ter sucesso nas intervenções
informação deverá ser o próprio doente, no
realizadas, sendo elas: escutar o doente,
entanto também é possível utilizar fontes
conversar com o doente e observar o mesmo,
secundárias, como registos de saúde e membros
durante os turnos. Em todas as intervenções
da família do utente, sendo estes bastante
realizadas é importante que os profissionais de
importantes em contextos onde se lide com
enfermagem estejam capacitados para explicar o
doentes desorientados ou afetados a nível
raciocínio que levou à decisão do tipo de
mental/psíquico (Roper, Logan, & Tierney, 2001).
intervenções que desempenham (Roper, Logan,
Devem ser assim recolhidos dados socio
& Tierney, 2001).
biográficos e de saúde relevantes, bem como
Por fim, a fase da avaliação do planeamento e
dados acerca da sua rotina habitual de atividades
implementação das intervenções de enfermagem
de vida e problemas potenciais ou reais atuais,
é justificada através da análise dos resultados
reconhecendo aquilo que o doente consegue ou
obtidos, ajuizando sobre os objetivos que devem
não fazer de forma independente e autónoma
ser estabelecidos ou já foram alcançados,
(Elsherif, Noble, 2011; Kaşıkçı, 2015; Fang,
determinando
2015; Beh, 2012; Pinkney et al., 2013), de modo
sucedidos (Elsherif, Noble, 2011; Kaşıkçı, 2015;
a poder atuar sobre a manutenção ou promoção
Fang, 2015; Beh, 2012; Pinkney et al., 2013).
da saúde do indivíduo. Para isso, o enfermeiro
Esta fase é vital, uma vez que fornece uma base
deve procurar percecionar o entendimento do
para a avaliação contínua e planeamento de
doente acerca do seu problema de saúde, para,
intervenções à medida que as circunstâncias em
deste modo, saber como lidar com o mesmo
que o doente se encontra sofrem alterações. As
(Roper, Logan, & Tierney, 2001).
aptidões necessárias para realizar a avaliação
Relativamente à fase do planeamento de
são essencialmente as usadas na avaliação
cuidados de enfermagem, esta tem como
inicial, sendo elas a observação, questionário e
objetivos
examinação (Roper, Logan, & Tierney, 2001).
a
prevenção
e
identificação
de
até
que
ponto
foram
bem-
problemas potenciais, evitando que estes se tornem reais e a solução ou alívio dos problemas
SÍNTESE
atuais, devendo ser definidos, tendo em conta a
Ao utilizarmos o modelo de Roper, Logan e
subjetividade dos pacientes e a disponibilidade
Tierney, durante a nossa formação académica,
ou não de recursos dentro do contexto de
mais especificamente em contexto clínico, nós,
enfermagem para realizá-los de forma efetiva
enquanto
(Roper, Logan, & Tierney, 2001).
consideramos que conseguimos alterar a forma
A fase de implementação envolve a prestação
como
direta de cuidados ao doente (Kaşıkçı, 2015;
ganhando consciência das capacidades de
Fang, 2015). O enfermeiro, para executar uma
introspeção
intervenção, tem à sua disposição um leque de
adquirimos, bem como o modo de perspetivação
aptidões que deve utilizar para aumentar as
face
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nos
aos
estudantes
de
percecionamos e
de
outros.
enfermagem,
e descrevemos,
autoconhecimento Desta
forma,
que
julgamos
VOLUME 6. EDIÇÃO 3
Página 101
importante o uso de um modelo estruturante do
Serra, M. (2012). Aprender a ser enfermeiro: a
pensamento,
construção identitária profissional por estudantes
tornando
o
raciocínio
lógico,
organizado e intuitivo, de modo a que nos guie na
de enfermagem. Loures: Lusociência. 1ª ed.
nossa abordagem clínica, auxiliando-nos na fundamentação e argumentação das nossas
Tomey, A. M., Alligood, M. R. (2004). Teóricas de
ações e decisões. Desta forma, a partir desta
Enfermagem e a Sua Obra (Modelos e Teorias
abordagem foi possível o desenvolvimento da
de Enfermagem). Loures: Lusociência. 5ª ed.
nossa
capacidade
crítica,
reflexiva
e
de
questionamento sobre a lógica das ações e
Vieira, M. M. (2008). Ser Enfermeiro da
reações dos indivíduos no seio das interações
Compaixão à Proficiência. Lisboa: Universidade
pessoais, representando um passo importante
Católica Editora. 2ª ed. 1 vol., ISBN: 978-972-54-
para o nosso desenvolvimento pessoal e
0195-8.
futuramente profissional, em que doravante Nogueira de Moura, G., Candido do Nascimento,
seremos atores.
J., Alzete de Lima, M., Marques Frota, N., Matias REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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