Dezembro de 2017 edição completa

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‘O buraco’, de Telmo Lanes, 2004

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EDITORIAL DEZEMBRO 2017 HTTPS://WWW.GOOGLE.PT/URL?SA=I&RCT=J&Q=&ESRC=S&SOURCE=IMAGES&CD=&CAD=RJA&UACT=8&VED=0C ACQJRXQFQOTCMPSZRJH_SGCFUVDFAODZWAETA&URL=HTTP%3A%2F%2FAVENTAR.EU%2FTAG%2FTERRAMOT Os nossos velhos O-DE-1755%2F&PSIG=AFQJCNE67GV92CL3814FQQPL35CWH8B_XQ&UST=1447000952827643 Andamos sempre na correria. E eu que abomino a perfeição HTTPS://WWW.GOOGLE.PT/URL?SA=I&RCT=J&Q=&ESRC=S&SOURCE=IMAGES&CD=&CAD=RJA&UACT=8&VED=0C AACQJRXQFQOTCMPSZRJH_SGCFUVDFAODZWAETA&URL=HTTP%3A%2F%2FAVENTAR.EU%2FTAG%2FTERRAMOT dona Maria já nem sorria, Para isto abro uma exceção: Empenhada em ganhar algum papel Tratem os velhos com o coração O-DE-1755%2F&PSIG=AFQJCNE67GV92CL3814FQQPL35CWH8B_XQ&UST=1447000952827643 2015 E tocos a granel. Que eles precisam de bem mais do que de2014 uma Dezembro

injeção… Finalmente, chegou à reforma! (Já nem falo em que idade Que daqui a pouco, septuagenários Terão de trabalhar), Mas agora mudou a forma Como passou a lidar Com o tempo, outrora escasso, Agora aos rios. E hoje há o cansaço, Já é escassa a longevidade. Passaram-se os anos: Morreram os manos, Vieram os netos e bisnetos… Mas agora a sociedade insiste em impor Que perdeu o prazo de validade, O que lhe causa tamanha dor, Quando, na realidade, Tudo tem valor. Até os insetos! Vê-lhe crescer uma ruga na cara, Um cabelo branco na cabeça E começa a diminuir a esperança De que volte a força, Essa coisa rara. Os peitos descaídos, Os malaquias caídos, A pela amachucada E o balanço da vida Passam subitamente a ocupar Um enormíssimo lugar. Apertar os sapatos é uma maratona, Na água, depressa vem à tona… Correr? Nem pensar, A minha artrose volta a atacar! Conquanto, há uma coisa que a sociedade Parece esquecer: É que a idade Não traz apenas Alzheimer. É evidente que ver é difícil, Lembrar-se não é fácil, Mas pensem por um momento Que velhice é conhecimento!

Fabienne Cardoso Universidade de Évora

Ramos,

Student,


Andrade, F. et al. (2017) Dor Oncológica: Manejo Clínico Realizado por Enfermeiros, Journal of Aging & Innovation, 6 (3): 3 - 12

ARTIGO ORIGINAL/ ORIGINAL ARTICLE

DEZEMBRO 2017

Dor Oncológica: Manejo Clínico Realizado por Enfermeiros Oncologic Pain: Clinical Management Performed by Nurses Dolor Oncológica: Gestión Clínica realizado por Enfermeras

Autores Fábia Andrade 1, Monique Silva 2, Elton Macêdo 3, Débora Brito 4, Alana Sousa 5, Glenda Agra 6 1

Acadêmica Curso de Graduação em Enfermagem, 2, 3, 4 Enfermeiro (a), 5 Enfermeira, Doutora em Enfermagem, 6 Enfermeira,

Doutoranda em Enfermagem Corresponding Author: g.agra@yahoo.com.br

RESUMO Objetivo: Investigar o manejo clínico da dor oncológica realizado por enfermeiros. Método: Pesquisa exploratória com abordagem qualitativa, realizada com 18 enfermeiros de um hospital filantrópico de Campina Grande–PB no período de novembro a dezembro de 2014, por meio de entrevistas, norteadas por um roteiro semiestruturado, analisadas à luz da técnica de Análise Temática. Resultados: Os enfermeiros não realizam a avaliação da dor utilizando métodos sistemáticos, no entanto conhecem as modalidades terapêuticas (farmacológicas, não farmacológicas, cirúrgicas e paliativas) executam as intervenções, de acordo com suas habilidades e competências técnicas, a fim de controlar esse sintoma, minimizando, assim, o sofrimento e proporcionando conforto. Conclusão: É imprescindível que o enfermeiro realize a consulta de enfermagem, utilizando métodos sistemáticos para avaliação da dor, elabore e execute um plano de cuidados, com vistas a proporcionar alívio efetivo da dor oncológica. Descritores: Manejo da dor, Oncologia, Tratamento, Enfermeiros. ABSTRACT Objective: To investigate the clinical management of cancer pain performed by nurses. Method: exploratory research with qualitative approach was carried out with 18 nurses of a philanthropic hospital in Campina Grande -PB from November to December 2014, through interviews, guided by a semi-structured, analyzed in the light of the thematic analysis technique. Results: The nurses do not realize the pain assessment using systematic methods, however know the therapeutic modalities (pharmacological, non-pharmacological, surgical and palliative) perform the operations, in accordance with their skills and expertise in order to control this symptom, thus minimizing the pain and providing comfort. Conclusion: It is essential that nurses perform nursing consultations using systematic methods for pain assessment, prepare and execute a plan of care, in order to provide effective relief of cancer pain. Key words: Pain management, Oncology, Treatment, Nurses . JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951

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INTRODUÇÃO Câncer é o nome dado a um conjunto de mais de 100 doenças que têm em comum o crescimento desordenado de células, que invadem tecidos e órgãos (Brasil, 2016). Os sintomas e sinais podem estar relacionados ao tumor, ao tratamento e às complicações, dentre eles destacam-se: fadiga, náuseas, constipação, alteração cognitiva e dor, uma experiência ou sensação subjetiva emocional desagradável, associada a um dano tecidual real ou potencial (Brasil, 2012). De todos os sintomas descritos pelos pacientes oncológicos, a dor é o mais temido, constituindo o fator mais determinante de sofrimento relacionado à doença mesmo quando comparado à expectativa de morte (Rangel e Talles, 2012). No caso da dor oncológica, essa é relacionada ao processo de desenvolvimento do câncer no organismo, tem início e duração variáveis, pode ser contínua ou intermitente. No que se refere aos dados estatísticos de pacientes oncológicos com dor, 5 milhões de pessoas experimentam esse sintoma diariamente devido ao câncer; 25% morrem sob dor intensa; cerca de 4,3 milhões morrem a cada ano com controle inadequado; um terço dos pacientes em tratamento e dois terços com doença avançada referem apresentar dor e 5 a 10% dos pacientes referem dor independente de seu câncer ou do tratamento realizado. No entanto, é possível controlar a dor em cerca de 90% dos pacientes (Waterkemper e Reibnitz, 2010). No que se refere ao controle da dor, a maioria das equipes de saúde apresentam um déficit de conhecimento sobre avaliação e manejo clínico deste sintoma. Provavelmente, este fato esteja relacionado à ausência de educação permanente nos serviços, assim como a inabilidade em assistir ao paciente nas dimensões física, psíquica, social e espiritual ou até mesmo o desinteresse científico pela farmacocinética e farmacodinâmica dos medicamentos recomendados pela Organização Mundial de Saúde (OMS) (Waterkemper e Reibnitz, 2010). O controle efetivo da dor oncológica exige protocolos específicos e equipe multidisciplinar JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951

devidamente treinada, embasada na filosofia dos cuidados paliativos, quando os pacientes não apresentam possibilidades terapêuticas de cura. Nesse contexto, vale ressaltar que os cuidados paliativos perfazem uma abordagem que aprimora a qualidade de vida dos pacientes e famílias que enfrentam problemas relacionados a doenças que ameaçam à vida, seja por meio da prevenção ou do alívio do sofrimento, possibilitados por identificação precoce, avaliação correta e tratamento da dor e outros problemas de ordem física, espiritual e psicossocial (Rangel e Talles, 2012). Nesse sentido, o enfermeiro como agente promotor de vínculo e conhecedor das especificidades que envolvem a experiência dolorosa do paciente em cuidados paliativos e respaldado legalmente mediante a Resolução de seu exercício profissional por meio da Lei nº 7.498/86, tem como atribuição privativa a prescrição de cuidados de enfermagem, que abrangem elaboração, execução e avaliação dos planos de cuidados de enfermagem (Cofen, 2012). Diante da problemática suscitada, emergiu o seguinte questionamento: Qual o manejo clínico realizado por enfermeiros frente à pessoa com dor oncológica? Nesse sentido, o objetivo deste estudo é investigar o manejo clínico da dor oncológica realizados por enfermeiros. MÉTODO Trata-se de uma pesquisa exploratória com abordagem qualitativa realizada em um hospital filantrópico do município de Campina Grande – Paraíba. Os critérios de inclusão utilizados para a coleta de dados foram: enfermeiros que atuassem diretamente no cuidado ao paciente oncológico e que tivessem, no mínimo, um ano de experiência profissional na área; e como critério de exclusão: enfermeiros que não se encontrassem em atividade laboral no serviço no período da coleta de dados (férias, licença maternidade, licença saúde, afastamento). Assim, participaram da pesquisa 18 profissionais. A coleta de dados foi realizada durante os meses de novembro e dezembro de 2014, em um local privado, de forma que não houvesse VOLUME 6. EDIÇÃO 3


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local privado, de forma que não houvesse interferência durante as entrevistas; o instrumento utilizado foi um roteiro semiestruturado, composto por dados de identificação dos participantes da pesquisa e perguntas subjetivas norteadas a atender aos objetivos do estudo. Após o convite para participar da pesquisa e concordância em fazer parte do estudo, assim como permissão para gravar as entrevistas, os participantes foram esclarecidos quanto aos objetivos do estudo. O sigilo e a desistência em qualquer momento da pesquisa foram garantidos, mediante a assinatura de um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Os critérios utilizados obedeceram à Resolução nº 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde que norteia pesquisas envolvendo seres humanos. Para que não houvesse identificação dos participantes, os discursos receberam códigos alfanuméricos (E1 ao E18), onde “E” significa “enfermeiro”, acrescido do número da entrevista. Assim, “E1” representa o primeiro enfermeiro entrevistado. Para análise dos dados, utilizou-se a técnica de Análise Temática considerada a mais apropriada para as investigações na área da saúde (Minayo, 2007). RESULTADOS E DISCUSSÃO Participaram desta pesquisa 18 enfermeiros, sendo 17 do sexo feminino e um do sexo masculino. A idade variou entre 25 e 42 anos. O tempo de formação profissional variou de um a 16 anos. O tempo de experiência na área de oncologia teve oscilação entre um e 10 anos. Quando indagados quanto à titulação, 15 dos enfermeiros referiram possuir especialização, um estava cursando pós-graduação lato sensu e os demais, referiram possuir apenas graduação. Categoria Temática I - Cuidando de pacientes com dor oncológica A dor é um sintoma abstrato e interpretado de forma única; quando relacionada à pacientes com doença oncológica avançada, em cuidados paliativos, é denominada “Dor

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total’’, cuja abrangência atinge as dimensões física, psíquica, social e espiritual. Nesta perspectiva, o enfermeiro é o membro da equipe de cuidados paliativos, que além de permanecer maior tempo junto ao paciente, é um dos profissionais que tem a competência legal de cuidar do paciente. Nesse sentido, o cuidar não se estabelece por ser um ato somente técnico, mas sobretudo um ato sensível junto à pessoa que sofre. Por este motivo, o enfermeiro precisa apresentar habilidade técnica e científica, munido de sensibilidade, de forma a garantir os segmentos avaliativos e terapêuticos que perfazem a Dor Total (Biasi, et al., 2011) Subcategoria I – Cuidado desgastante Os enfermeiros mencionaram que o cuidado com o paciente com doença oncológica é desgastante, doloroso e difícil de lidar, como pode-se observar nas falas abaixo: É desgastante tanto para o profissional quanto para o paciente, pois existe o estresse emocional de você saber que aquela pessoa está sofrendo. E1 É de cortar o coração! Tem casos que a medicação demora a fazer efeito e você é obrigada a ficar vendo o sofrimento deles. E2 É triste, [...] é doloroso! A gente tenta, mas dependendo do estágio da doença, é complicado tratar [...] tem pacientes que tem que sedar e mesmo assim não resolve. E3 Dói nele e mesmo eles não sabendo, dói na gente também. E7 A dor é o sintoma de maior prevalência entre os pacientes oncológicos e afeta a qualidade de vida do mesmo e do profissional de enfermagem envolvido no cuidado. Assim, o alívio desse sintoma é uma das prioridades do enfermeiro que trabalha com pacientes sem possibilidades terapêuticas de cura, uma vez que a Dor Total transcende a dor física (Waterkemper e Reibnitz, 2010, Mendes, et al., 2011).

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Nesse

sentido,

os

enfermeiros

mencionaram que cuidar de pacientes sem possibilidades de cura envolvia um desgaste emocional intenso, pois muitas vezes, eram obrigados a visualizar o sofrimento do cliente, haja vista que por se tratar de doença em estágio avançado, as medicações demoram a fazer o efeito desejado. Corroborando com a perspectiva de cuidado como competência requerida ao profissional de enfermagem, e estando o enfermeiro, muito próximo às particularidades do paciente, parece ser o membro da equipe multiprofissional que demanda cuidados técnicos específicos e que não rechaça o fator emocional presente no ato técnico. Este aspecto foi evidenciado nas falas presentes dos enfermeiros desta pesquisa, quando mencionaram que ao cuidar do paciente com dor, o sofrimento se estendia a eles. Nesta perspectiva, autores revelam que é a proximidade do enfermeiro com o paciente, desde o diagnóstico até a fase terminal da doença, mobiliza no profissional de enfermagem inúmeras percepções e sentimentos diante do paciente, tais como pesar, dor, sofrimento e angústia (Reis, et al., 2014). O sofrimento que aflige o enfermeiro parece estar relacionado ao fator empático envolvido na relação paciente-enfermeiro, uma vez que a empatia é um sentimento que reflete compaixão e solicitude com o paciente em situação de terminalidade. Subcategoria II – Cuidado humanizado, com conhecimento e responsabilidade O cuidado, por si só, é humano e se concretiza na atuação do enfermeiro pelo uso do conhecimento intuitivo e científico para intervir diante do sofrimento do outro. A assistência, nessa concepção, atende o ser humano na sua integralidade (Bueno, et al., 2012). Nessa concepção de cuidado, os enfermeiros referiram que o cuidado com

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pacientes com dor requer paciência, dedicação e humanização, como destacam as falas abaixo: É muito difícil, mas é preciso prestar uma assistência de qualidade e respeito à vida humana diante da imensidão de fragilidades de cada paciente. E5 Requer muito cuidado, paciência e dedicação [...] precisamos olhar pra ele como se fosse a pessoa que mais amamos nesse mundo. E7 A gente tem que cuidar se colocando no lugar deles, porque pode acontecer com qualquer um... E15 Confirmando os pilares do cuidado humanizado com o paciente com dor oncológica, os enfermeiros percebem que a sensibilidade, paciência, dedicação e respeito são aspectos essenciais da assistência paliativa. A reflexão acerca do papel do enfermeiro como um intermediador no processo de enfrentamento do paciente em sua nova condição de saúde conduz o profissional a repensar sua filosofia de trabalho às premissas que envolvem a humanização para auxiliar o paciente a lidar com dor (Romanek e Avelar, 2012) O cuidado vislumbrado sob uma perspectiva de terminalidade da vida exige do enfermeiro um olhar atento e cauteloso, uma relação de afetividade que se configura numa atitude de responsabilidade, atenção, preocupação e envolvimento, onde as ações são direcionadas às necessidades e limitações (Fernandes, et al., 2013). A dor e o sofrimento não são questões simplesmente técnicas, pois são aspectos que também precisam ser observados nas dimensões, psíquica, social e espiritual. Assim, é essencial para os enfermeiros, que o cuidado humanizado seja algo que transcenda uma assistência técnica, ou seja, que possa abranger atitudes de confiança, amor e compaixão, buscando aliviar o sofrimento da pessoa e lhe proporcionar dignidade (Freitas e Pereira, 2013, Bueno, et al., 2012). Nesse sentido, os relatos que emergiram à luz dos pressupostos do cuidado baseado no conhecimento científico para atitudes responsáveis foram: VOLUME 6. EDIÇÃO 3


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É um trabalho dedicado, pois eles se encontram debilitados e com várias queixas e as dores, na grande maioria, são crônicas e só tem alívio com analgésicos fortes. E4 É um cuidar que requer atenção [...] eles, geralmente, têm muitas queixas, a gente tenta aliviar as que estão causando mais desconforto, tem vezes que é necessário sedar. E10 Precisa ter um conhecimento científico bem vasto [...] para atender às necessidades prioritárias para a aliviá-lo. E12 É um trabalho que exige acima de tudo dedicação e responsabilidade para ofertar os cuidados certos e necessários, porque eles já estão sofrendo tanto[...] então, qualquer deslize pode causar um dano grave aquela pessoa que já está com tão pouco tempo de vida. E18 Os enfermeiros enfatizam que a assistência ao paciente com dor oncológica deve unificar o saber científico ao saber humanitário, ressaltando que para a efetuação do mesmo é necessário conhecimento, dedicação, atenção e responsabilidade a fim de direcionar ações, com vistas ao alívio dos sintomas e promover dignidade ao paciente que enfrenta a impossibilidade de cura. O cuidado com o paciente com dor é visto como um direito humano básico, principalmente quando se trata de pacientes em processo de finitude e, remete não apenas a uma questão clínica, mas, sobretudo ao conhecimento científico, à ética e à responsabilidade que envolve todos os profissionais de saúde (Martinez, et al., 2011). Por essa razão, a aplicabilidade do conhecimento científico pela equipe de enfermagem é imprescindível para a qualidade do cuidado. Para isso, a aquisição de conhecimento cientificamente comprovado é condição sine qua non para a modificação de atitudes (Souza, et al., 2013). Além do conhecimento científico, cuidar de um paciente com dor oncológica, requer também preparo técnico e psicológico da equipe, pois, atender à Dor Total de um paciente, demanda equilíbrio e dedicação, com vistas a auxiliar paciente e família a enfrentar a morte

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como um processo natural da vida (Freitas e Pereira, 2013). Estudos comprovam que o uso do conhecimento científico é primordial na assistência de Enfermagem em cuidados paliativos, uma vez que cuidar do cliente com câncer, com ênfase no enfrentamento das diferentes etapas do processo de cuidar exige da equipe de enfermagem, conhecimento científico e habilidades no tocante ao reconhecimento de sinais e/ou sintomas subjetivos próprios destes clientes para direcionar as ações com efetividade no alívio do sofrimento (Souza e Valadares, 2011). Categoria temática II – Modalidades terapêuticas para o alívio da dor As intervenções para o controle da dor nos cuidados paliativos compreendem o uso de medidas farmacológicas, físicas e cognitivocomportamentais. É desejável o uso de intervenções múltiplas que possibilitem melhor resposta analgésica, visto que a possibilidade de interferirem, simultaneamente, na geração do impulso nociceptivo e neuropático nos processos de transmissão e interpretação do fenômeno doloroso e na estimulação do sistema supressor da dor. Subcategoria I – Tratamento farmacológico O sucesso da terapêutica analgésica planejada depende de alguns aspectos: equipe multiprofissional treinada, avaliação da dor com métodos sistemáticos, tratamento farmacológico compatível com o nível de intensidade da dor verbalizada pelo paciente e reavaliação da dor. A Escada Analgésica da Dor foi criada pela Organização Mundial de Saúde e é caracterizada por ser uma das etapas envolvidas no tratamento da dor; tomando como base a intensidade da dor, o uso de opioides e intervenções mais invasivas (Rangel e Talles, 2012, Marinho, 2013). O suporte farmacológico deve compor o principal eixo de tratamento a pacientes com dor oncológica, e em caráter complementar, as medidas não farmacológicas.

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Portanto, os enfermeiros destacaram que a medicalização constitui meta principal na assistência por eles prestada na instituição, como descrito a seguir: A dor, aqui, é tratada através de medicações prescritas pelo médico como analgésicos potentes. E1 Para pacientes que estão com dor leve a moderada usa-se analgésicos e antiinflamatórios; para pacientes com dor moderada usamos o Tramadol; e os que não obtiveram controle usamos Morfina ou Fentanil. E2 A dor, nessa instituição, é tratada com base no que os médicos prescrevem, só que varia de acordo com a dor do paciente[...] às vezes, só com analgésico resolve, mas em outros têm que administrar morfina[...]e às vezes, sedação. E8 Os enfermeiros enfatizaram que analgésicos não opioides, opioides fracos e fortes, assim como sedativos eram os medicamentos mais utilizados para os pacientes com doença oncológica avançada na instituição lócus da pesquisa. Percebe-se, dessa maneira, que os mesmos compreendem as bases norteadoras da Escada Analgésica da Dor proposta pela OMS. Contudo, houve uma incongruência desta categoria – “Tratamento Farmacológico” – com a categoria “A dor não é avaliada”, na qual os enfermeiros revelaram que não utilizavam nenhuma escala de avaliação da dor, por falta de tempo, em decorrência das atribuições administrativas por eles acumuladas. O manejo clínico da dor é um aspecto desafiador para a equipe de enfermagem, pois fazem parte da função assistencial da mesma: programar os horários de administração, preparação e administração de medicamentos. Portanto, é de responsabilidade do enfermeiro conhecer as particularidades farmacêuticas dos medicamentos que ele ou os técnicos de enfermagem preparam e administram (Magalhães, et al., 2011). Nesse sentido, os analgésicos não opioides e opioides citados pelos enfermeiros são recomendados pela OMS, utilizando a Escada Analgésica da Dor. Portanto, infere-se

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que os enfermeiros compreendem os aspectos avaliativos e terapêuticos da dor. A terapia farmacológica baseada na Escada Analgésica da Dor, para pacientes com dor oncológica é primordial para o alívio da dor. Nesse contexto, estudo acerca da terapia farmacológica a ser ofertada no caso de pacientes em processo de dor, câncer e cuidados paliativos evidenciou que o enfermeiro é o profissional mais indicado para avaliar e intervir na dor, tendo em vista que permanece mais tempo o paciente (Rabelo e Borrela, 2013). Urge salientar que documentar as intervenções realizadas no tocante ao manejo clínico da dor conforme as recomendações da Escada Analgésica da Dor é imprescindível, haja vista que é um instrumento que possibilita a escolha do fármaco mais adequado para a intensidade da dor vivenciada pelo paciente. Subcategoria II - Tratamento cirúrgico A intervenção cirúrgica deve ser considerada quando a dor de pacientes com câncer não obtiver eficácia com o uso de opioides fortes. Cerca de 10% de pacientes com dor refratrária à terapêutica medicamentosa podem se beneficiar com tratamentos cirúrgicos. Estudos têm indicado que procedimentos invasivos como bloqueio neurolítico do plexo celíaco e hipogástrico pode ser considerado como adjuvante no tratamento direcionado ao alívio da dor (Rangel e Talles, 2012). Dessa forma, os enfermeiros reconhecem a existência de procedimentos cirúrgicos para o alívio da dor, como evidenciado nas falas a seguir: Em alguns casos existem procedimentos cirúrgicos [neurólise] quando os opioides não fazem efeito. E4 Eu sei que também existe o tratamento cirúrgico para a dor. E5 É imperioso ressaltar que as falas destacam o conhecimento de enfermeiros frente aos procedimentos cirúrgicos utilizados pelos médicos quando o tratamento farmacológico com opióides fortes não tem sucesso. A intervenção cirúrgica, em alguns casos, VOLUME 6. EDIÇÃO 3


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é necessária para o alívio da dor, e consequentemente, melhora a qualidade de vida do paciente. Nesta perspectiva, autores7,17 a cirurgia é utilizada para remoção do tumor, uma vez que a compressão de órgãos pelo tumor causa dores lancinantes, o que gera sofrimento ao paciente (Biasi, et al., 2011, Souza e Valadares, 2011). O bloqueio ou neurólise de plexos nervosos é uma intervenção cirúrgica que tem se mostrado um recurso terapêutico eficaz no controle da dor. Envolve a administração de anestésicos locais, esteroides ou neurodestruição central de plexos viscerais, ou de nervos periféricos e músculos no bloqueio da percepção dolorosa (Biasi, et al., 2011) Subcategoria III – Cuidados paliativos de enfermagem Especificamente nos cuidados paliativos, o Conselho Internacional de Enfermagem afirma que uma pronta avaliação, identificação e gestão da dor e das necessidades físicas, psicológicas, espirituais podem diminuir o sofrimento e melhorar, de fato, a qualidade de vida dos pacientes em cuidados paliativos e de seus familiares (CIPE, 2010). Nesse contexto, é papel do enfermeiro atuar em prol da comunicação eficaz, aberta e adaptada ao contexto terapêutico, visando à negociação de metas assistenciais acordadas com o paciente e sua família de modo a coordenar o cuidado planejado (Marinho, 2013, Andrade, et al., 2014). Os enfermeiros denominaram os seguintes cuidados paliativos de enfermagem voltados ao paciente com dor: Oferecer um sistema de apoio para ajudar os pacientes a viverem o mais ativamente possível até sua morte. E1 Para cuidar de paciente com dor oncológica é preciso conhecer, saber o que necessita e como podemos ajudá-lo nesse processo. Os cuidados gerais da enfermagem são: banho no leito, realização de curativo, realização de mudança de decúbito, cuidado com a administração de dietas, principalmente as enterais, higiene corporal e bucal, ajudar a deambular. E2 JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951

Os cuidados de enfermagem são muitos, aliás é a enfermagem que vai cuidar do paciente 24 horas por dia. Dando banho no leito, medicando, fazer curativo, instalar O2, chamar o médico nas intercorrências, conversar, escutar. E7 O emocional, espiritual e físico precisam estar em harmonia, nós tentamos promover essa harmonia dentro do hospital. E11 Ouvir as queixas, promover o alívio delas e administrar os medicamentos. E18 Afim de confirmar que a equipe de enfermagem atua na promoção do conforto nos aspectos físicos, emocionais, sociais e em cuidados paliativos, os enfermeiros destacaram atribuições técnicas e sobretudo humanísticas realizadas pela equipe na instituição lócus da pesquisa junto aos pacientes que vivenciam a terminalidade. Considerando que cuidar pressupõe preocupação, responsabilidade e envolvimento com o paciente a fim de aliviar seu sofrimento, a enfermagem tem buscado contextualizar suas ações, para que possa adaptar-se a qualquer pessoa e circunstância, com o objetivo de proporcionar conforto abrangendo as dimensões biopsicossociais e espirituais da pessoa (Freitas e Pereira, 2013). Para isso, o enfermeiro lança mão de recursos disponíveis, que são respaldados na ética profissional como: cuidado com a higiene, conforto, mudança de decúbito, prevenção de complicações e escuta terapêutica (Silva, et al., 2014). Outra responsabilidade do profissional de enfermagem é a administração de terapêutica medicamentosa e nutricional, cujo objetivo é proporcionar alívio da dor e aporte calórico, respectivamente, necessários para melhoria da qualidade de vida durante o processo de terminalidade. É de competência do enfermeiro cumprir ou fazer cumprir com regularidade a sua prescrição. É importante que o enfermeiro explique à família e ao paciente a ação, a dosagem, o horário da administração e possíveis efeitos secundários dos medicamentos e dietas (Marinho, 2013). O destaque do âmbito não farmacológico no cuidado com pacientes com dor oncológica advém do conhecimento dos enfermeiros participantes da pesquisa sobre algumas modalidades terapêuticas ofertadas ao VOLUME 6. EDIÇÃO 3


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algumas modalidades terapêuticas ofertadas ao paciente em cuidados paliativos. Tais modalidades estão relacionadas ao arcabouço técnico-científico da enfermagem assim como correlacionadas à prática de outras categorias profissionais, tais como destacam as falas dos enfermeiros E5 e E6: Muitas vezes, uma simples conversa pode tirar o foco do paciente daquela agonia que ele está passando. E5 Existem outras formas de aliviar a dor, tais como a musicoterapia e técnicas de relaxamento. E6 Os enfermeiros mencionam que a escuta terapêutica, musicoterapia e técnicas de relaxamento podem ser medidas não farmacológicas utilizadas para o alívio do sofrimento humano. A música, a escuta terapêutica e técnicas de relaxamento são recursos terapêuticos ativadores do processo expressivo e interativo, das narrativas e da dialogicidade, estruturado no processo de cuidar do enfermeiro na construção de um ambiente de reconstituição física, emocional e social para um melhor enfrentamento da doença e sua repercussão (Almeida, et al., 2014). Vale ressaltar que o adequado controle da dor ocorre em 70% a 90% dos casos utilizandose métodos simples. No entanto, alívio insatisfatório deste sintoma está exaustivamente registrado na literatura por razões como subestimação da ocorrência da dor nessa população, imprecisa avaliação do quadro álgico, resultando em inadequada determinação dos fatores etiológicos e mantenedores; insuficiente conhecimento sobre métodos e analgésicos adequados para o alívio da queixa e subestimação da importância dos aspectos envolvidos na experiência dolorosa e dos aspectos cognitivos.

relacionados à dor, assim como avaliar e prestar os devidos cuidados para alívio da dor. No estudo em tela, os enfermeiros se depararam com entraves na implementação da avaliação da dor na instituição lócus da pesquisa, devido ao acúmulo de funções administrativas, que reduz o tempo disponível para as habilidades assistenciais. Além deste aspecto, os enfermeiros destacaram a ausência do uso de protocolos para subsidiar a avaliação e o manejo clínico da dor. Nesse contexto, é imprescindível que o enfermeiro adote métodos sistematizados, para que a avaliação e manejo clínico da dor sejam concretizados de maneira a aliviar efetivamente o sofrimento de pacientes com impossibilidade terapêutica de cura. Apesar de não utilizarem métodos sistemáticos para avaliação da dor, os enfermeiros lançam mão de outras modalidades avaliativas, tais como: expressão emocional, anamnese, queixa álgica e exame físico. Quanto ao tratamento, foi pontuado que o âmbito farmacológico constitui o principal pilar do tratamento para a dor, como preconizado pela Escada Analgésica da Dor proposta pela OMS. Uma limitação encontrada foi a escassez de pesquisas que fornecessem dados necessários para a construção de uma discussão comparativa com outras literaturas. No entanto, foi possível constatar que esse estudo teve seu objetivo alcançado. Assim, esta pesquisa vem a contribuir na perspectiva de esclarecer a importância de aprimoramento técnico-científico do enfermeiro no que diz respeito ao cuidado a pacientes com dor oncológica sem possibilidades terapêuticas de cura; bem como o despertar para a adoção de métodos sistemáticos e protocolos que direcionem a avaliação da dor pelo enfermeiro, uma vez que é prerrogativa legal do exercício profissional.

CONCLUSÃO O enfermeiro exerce papel primordial na assistência direcionada a pacientes oncológicos, tendo em vista que é o profissional que por mais tempo permanece em contato com o cliente e é um dos membros da equipe multiprofissional que está apto a reconhecer sinais e sintomas

REFERÊNCIAS 1. Almeida, C. S. L., Sales, C. A., Marcon, S. S. (2014). O existir da Enfermagem cuidando na terminalidade da vida. Rev Esc Enferm USP, 48(1), 34- 40.

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2. Andrade, C. G., Alves, A. M. P. M., Costa, F. VOLUME 6. EDIÇÃO 3


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JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951

VOLUME 6. EDIÇÃO 3


Flamínio, J. et al. (2017) Aplicabilidade do Programa Nacional de Vacinação: Perspetiva Epistemológica, Ético-Deontológica e Legal, Journal of Aging & Innovation, 6 (3): 12 - 27

REVISÃO NARRATIVA/ NARRATIVE REVIEW

DEZEMBRO 2017

Aplicabilidade do Programa Nacional de Vacinação: Perspetiva Epistemológica, Ético-Deontológica e Legal

Aplicabilidad del Programa Nacional de Vacunación: Perspectiva Epistemológica, Ética-Deontológica y Legal

Applicability of the National Vaccination Program: Epistemological, Ethical-Deontological and Legal Perspective

Autores José Flamínio 1, José Moreira 2, Pedro Fonseca 3, Ricardo Jorge4, Lucília nunes 5 1, 2, 3, 4

Escola Superior de Enfermagem São João de Deus, 5 Instituto Politécnico de Setúbal, Escola Superior de Saúde, Doutora

em Enfermagem

Corresponding Author: jafonsomoreira@gmail.com

RESUMO Este trabalho aborda os desafios da aplicabilidade do Programa Nacional de Vacinação (PNV), analisando-o do ponto de vista epistemológico, ético-deontológico e legal. O PNV durante os seus quarenta e cinco anos de existência demonstrou ser um sucesso, evidenciando numerosos ganhos em saúde que nos permitiu passar da cauda dos principais indicadores de saúde da Organização Mundial de Saúde (OMS), para a dianteira. Desta forma verificamos que a adoção de comportamentos de saúde centrados na pessoa, assumem cabal importância na promoção da saúde e adoção dos estilos de vida saudáveis visando o bem estar comum, sendo a adesão à vacinação umas das, e mais eficazes formas de o fazer.Do ponto de vista ético-deontológico e jurídico a nossa abordagem assenta em três pontos essenciais: a recomendação do PNV à imposição, a responsabilização pessoal e pelos dependentes e a repercussão das escolhas individuais na comunidade. Os direitos dos utentes devem ser identificados, respeitados e promovidos no âmbito dos deveres dos profissionais de saúde, neste caso os enfermeiros. Por fim a vacinação não é obrigatória com a exceção das vacinas do tétano e difteria, pelo que a adesão dos utentes é o principal ativo na aplicabilidade do PNV. Descritores: Vacinação; Cuidados de enfermagem; Programas de vacinação.

ABSTRACT This paper focus on challenges of the Portuguese National Vaccination Program (PNV) applicability, analyzing this issue from the epistemological, ethical-deontological, and legal point of view. The PNV during its forty-five years of existence proved to be a success, evidencing numerous gains in health that allowed us to move from the tail of the main health indicators of the World Health Organization (WHO) to the front. Therefore, we verify that the adoption of person-centered health behaviors take full importance in promoting health and adoption of healthy lifestyles for the common good, and adherence to vaccination is one of the most effective ways of doing that. From an ethicaldeontological and legal point of view, our approach is based on three essential points: the recommendation of the PNV to its imposition, personal responsibility and for those who depend, and the repercussion of individual choices in the community. The users of health care rights should be identified, respected and promoted funder the duties of health professionals, in this case nurses. Finally, vaccination is not mandatory with the exception of tetanus and diphtheria vaccines, so that adherence of users is the main asset in the applicability of the PNV. Descriptors: Vaccination; Nursing care; Immunization programs. Autores Dados curriculares JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951

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Introdução

felicidade variável, ainda que possa ser a

Neste artigo procuramos enfatizar a

demanda existencial que nos liga a todos.».

aplicabilidade do PNV nas questões em que assentam

as

normativas

das ferramentas mais efetivas e de menor custo

comparativamente ao domínio da proteção

benefício, são utilizadas no controlo e prevenção

individual

da

das doenças infeciosas, assumindo um papel

comunidade, atendendo aos domínios ético,

importante nos países em desenvolvimento,

epistemológico e jurídico.

sendo por isso irrefutável que as políticas de

e

da

Tornou-se

orientações

As vacinas são consideradas como uma

saúde

em

contexto

importante

abordar

o

vacinação contribuam substancialmente para

enquadramento conceptual epistemológico do

potenciar

o

aumento

PNV, com uma perspetiva histórica em Portugal,

consequente redução na incidência de doenças.

a sua caracterização, e uma contextualização

O paradigma preventivo de vacinação tem

abordagem ético-deontológica sobre a sua

mudanças nas relações com a imunização,

aplicabilidade, enquadrando a recomendação do

melhoria

PNV com a sua responsabilização, enfatizando

populações e pelo surgimento de declarações

as escolhas individuais e da comunidade nos

universais de proteção do ser humano.

éticos

associados

às

vacinas,

e

Segundo

últimas

condições

Lessa

décadas

e

sido

das

nas

imunizações

epistemológica. Depois procedemos a uma

conflitos

desafiado

das

sanitárias

(2013,

p.226),

por

das

"O

explicando as dificuldades de se ter uma

paradigma preventivo de vacinação tem sido

perceção vinculativa sobre os fundamentos da

desafiado nas últimas décadas por mudanças

vacinação e do inter-relacionamento entre o

nas relações com a imunização, melhoria das

campo das ciências humanas e biomédicas.

condições sanitárias das populações e pelo

Finalmente, no campo jurídico-legal, no domínio

surgimento

da

proteção do ser humano".

saúde

pública,

as

atitudes,

os

de

declarações

universais

de

comportamentos, os ambientes e os estilos de

O PNV é um programa universal, gratuito

vida da sociedade que são condições basilares

e acessível a todas as pessoas presentes em

para a saúde.

Portugal. Desde 1965, ano em que se iniciou o

Na busca permanente da excelência no

PNV, milhões de crianças e de adultos foram

exercício profissional o enfermeiro maximiza e

vacinados com enorme impacto na saúde pública

potencia o bem-estar aos utentes suplantado às

uma vez que as doenças para as quais há

necessidades individuais inerentes. Segundo,

vacinas no PNV permitem irradia-las e controlá-

Nunes (2008, p. 72), «o facto de sermos ao

las. O PNV em Portugal tem sido uma história de

mesmo tempo um ser-que pensa e um ser-que-

sucesso, cuja aplicabilidade

quer acarreta consequências no reino da ação,

profissionais de saúde em todo o país e à

(...) procuramos o sentido de “uma vida boa com

população, aliada à relação de confiança

e para os outros, em instituições justas”, sendo o

estabelecida. Os princípios, os objetivos e os

entendimento que temos do conteúdo da

resultados do PNV deverão ser salvaguardados,

se deve aos

visando os ganhos em saúde na obtenção da JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951

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efetividade das vacinas e das taxas de cobertura

"Em 1965 no nosso país foi implementado

vacinal. (Diário da República, 2ª série, despacho

o PNV, financiado na sua totalidade pelo

nº 17067/2011).

Ministério da Saúde, tem como finalidade ser um

As vacinas, o PNV e os Referenciais de

Programa universal, gratuito e acessível, sem

Formação e de Competências no domínio da

barreiras, para todas as pessoas presentes em

vacinação podem sofrer alterações influenciadas

Portugal. Engloba as vacinas consideradas de

por fatores externos e internos.

primeira linha, em que, da sua aplicabilidade se

A realização da parte escrita do trabalho

obtêm os maiores ganhos de saúde" (Afonseca,

obedeceu ao novo acordo ortográfico da Língua

2011, p.16). O PNV em Portugal tem sido uma

Portuguesa.

história de sucesso e replicado por outros países. Na Introdução documentada no primeiro PNV era

Perspetiva epistemológica

referido que o panorama epidemiológico das

A vacinação e a imunização são conceitos

doenças evitáveis por vacinações específicas em

muitas vezes utilizados como sinónimos. A

Portugal, há muito que nos colocava em situação

vacinação expressa a aplicabilidade de vacinas.

desprimorosa em relação aos restantes países

Imunização representa um sentido mais amplo

da Europa (Freitas, 2007).

estando associada à aquisição de imunidade

após

a

administração

de

substância

imunobiológica.

O PNV iniciou-se assim entre outubro e

novembro de 1965 com distribuição de vacinas à totalidade da população e de modo gratuito,

Apesar de existirem vários registos

segundo um conjunto de documentos de

históricos que evidenciam tentativa de atuação

Orientação

relativa a vacinação, é a Edward Jenner que se

recomendado. "Para efeito de apresentação de

atribui o mérito da descoberta da vacinação. No

prova da vacinação foi criado, ainda em 1965, o

ano de 1888 foi fundado o Instituto Pasteur, com

Boletim Individual de Saúde para registo das

incidência

doenças

vacinas efetuadas que deveria ficar na posse do

infeciosas, onde a vacinação teve progressos

utente, considerando que se encontrava já

notáveis graças às escolas alemã e francesa

estabelecida em legislação a obrigatoriedade da

nesta área (DGS, 2002).

administração

principal

na

luta

das

Técnica

de

e

algumas

um

calendário

vacinas

para

Em 1965 no nosso país foi implementado

determinados casos nomeadamente a Vacina

o PNV, financiado na sua totalidade pelo

Anti-Variólica (entre 1894 e 1977), Vacina Anti-

Ministério da Saúde, tem como finalidade ser um

Tetânica e Anti-Diftérica, com a confirmação à

Programa universal, gratuito e acessível, sem

entrada na escola primária, secundária ou de

barreiras, para todas as pessoas presentes em

outro estabelecimento de ensino - desde 1962

Portugal. Engloba as vacinas consideradas de

(Feliciano, 2002).

primeira linha, em que, da sua aplicabilidade se

obtêm os maiores ganhos de saúde.

A primeira vacina a ser introduzida no

PNV foi a da poliomielite. Posteriormente em 1966 seria implementada a da tosse convulsa,

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difteria, tétano e varíola. A vacinação da BCG para

tuberculose

foi

facto

deve-se

não

apenas

à

integrada

diminuição da morbi-mortalidade que as doenças

progressivamente no PNV." (Afonseca, 2011, p.

infetocontagiosas, mas, também, à proteção

17).

global que a sua administração massiva veio

treze

a

Este

Atualmente o PNV inclui vacinas para

conferir às mesmas. "Uma elevada taxa de

doenças:

pertussis

cobertura de vacinação duma população irá

poliomielite,

impedir a circulação dos agentes infeciosos

difteria,

tétano,

designada de tosse convulsa, tuberculose,

sarampo,

parotidite,

rubéola,

(bactérias ou vírus) que provocam as doenças (a

hepatite B, infeções por Haemophilus influenzae

este conceito chama-se imunidade de grupo)

tipo B, doença invasiva causada por Neisseria

levando à erradicação ou eliminação de doenças

meningitidis do serogrupo C, vírus do papiloma

como

humano e vacina conjugada de 13 valências

erradicada do mundo em 1980), à poliomielite

(serótipos 1, 3, 4, 5, 6A, 6B, 7F, 9V, 14, 18C, 19A,

(declarada eliminada da Europa em 2002) e à

19F, 23F) para infeções pneumocócicas (Pn13).

difteria (sem casos em Portugal desde 1993)

Assistimos deste modo a uma atualização

(DGS, 2004).

constante do PNV, perspetivando-se para o ano de 2017 alterações ao mesmo.

aconteceu

à

varíola

(declarada

O último estudo realizado à população portuguesa sobre a sua imunidade relativa às

"Assistiu-se a uma história de sucesso na

doenças prevenidas pela vacinação no âmbito do

redução da morbilidade e da mortalidade pelas

PNV – 2º Inquérito Serológico Nacional 2001-

doenças-alvo de vacinação ao longo dos anos

2002 – demonstrou que a maioria da população

graças à eficácia da Vacinação. Desde o início do

portuguesa está imunizada para várias doenças

PNV já foram vacinados cerca de 10 milhões de

abrangidas

crianças bem como vários milhões de adultos."

sarampo, rubéola), devido à prática continuada

(Afonseca, 2011, p. 20).

de

pelo

vacinação

PNV

universal,

(tétano,

que

poliomielite,

resultou

em

Assistiu-se a uma história de sucesso na

elevadas coberturas vacinais mantidas ao longo

redução da morbilidade e da mortalidade pelas

dos anos, que rondaram 96-97% para as vacinas

doenças-alvo de vacinação ao longo dos anos

administradas no primeiro ano de vida, 94-95%

graças à eficácia da Vacinação. Desde o início do

para as administradas durante o segundo ano de

PNV já foram vacinados cerca de 10 milhões de

vida e aos 5-6 anos de idade (Freitas, 2004).

crianças bem como vários milhões de adultos. As vacinas permitem salvar mais vidas e

Os cuidados de saúde primários são, segundo

o

Conselho

Internacional

de

prevenir mais casos de doença do que a maioria

Enfermeiros (CIE), “(...) a base de contato com o

dos tratamentos médicos. A sua implementação

sistema nacional de saúde para os indivíduos, as

em Portugal tem vindo a ser responsável por uma

famílias e a comunidade, trazendo os cuidados

significativa melhoria do estado de saúde das

de saúde o mais possível para os locais onde as

populações (DGS, 2005).

pessoas vivem e trabalham (...).” (CIE, 2008, p.4). A criação dos cuidados de saúde primários

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representou uma inovação para a prestação e

profissional tem conhecimento especializado

organização dos cuidados de saúde em Portugal.

num dado domínio, mas o utente também se

De uma organização quase totalmente voltada

especializou sobre o seu corpo e sobre o

para os hospitais, passou-se a olhar para os

contexto da sua vida.” (Reis 2005, p.32). Essa

centros de saúde como porta de entrada no

parceria epistemológica significa que o utente é

sistema de saúde (Biscaia et al, 2006).

parte integrante em todo o processo. Ao invés de

No âmbito do enquadramento conceptual

pensar pelo utente, o profissional de saúde

para o exercício profissional emanado pela

acompanha o raciocínio deste e promove a

Ordem dos Enfermeiros (OE), o mesmo centra-

reflexão, a autonomia e a tomada de decisão.

se na relação interpessoal de uma pessoa e/ou

Este modelo de relação entre o profissional e

grupo

utente tem implicações nas metodologias de

de

pessoas

(família/comunidades),

distinguindo-se o seu cuidado pela formação e

educação para a saúde utilizadas.

experiência, permitindo estabelecer com o utente

Perspetiva ético-deontológica

o respeito pelas suas capacidades e valorização do

seu

papel,

na

da implementação da vacinação no âmbito do

prossecução do seu projeto de saúde. Cada

PNV, remete-nos para a emergência de dilemas

pessoa procura o equilíbrio em cada momento,

éticos por parte dos enfermeiros.Caracterizando-

de acordo com os vários desafios que se lhe

se a Enfermagem como uma disciplina e

colocam, sendo a sua saúde encarada como

profissão, o conjunto de situações complexas

reflexiva no contexto de um processo dinâmico e

éticas de exigência de tomada de decisão

contínuo.

são

fundamentada, remete-nos para um campo

influenciados pelo ambiente que o rodeia, bem

próprio no agir dos enfermeiros que nasce da

como nos seus processos intencionais baseados

própria prática e das preocupações profissionais

nas crenças, valores e vontades de índole

relativamente aos destinatários dos cuidados,

individual (OE, 2011). O profissional de saúde

apresentando-se deste modo a “Ética de

assume o papel de facilitador do processo

Enfermagem”, segundo Nunes (2004). Para a OE

preventivo ou de aprendizagem ajudando o

(2001), referente aos Padrões de Qualidade dos

utente na tomada de decisão, informando-o

Cuidados

sobre os fatores de risco de uma determinada

Morgado et al (2014), a reflexão e a tomada de

doença. Depois de ter conhecimento dos fatores

decisão assumem relevância crescente na

de risco e da necessidade de mudança de estilo

Enfermagem,

de vida e até mesmo da reformulação dos seus

relacional que o enfermeiro estabelece com a

objetivos pessoais, a pessoa poderá se o

pessoa e / ou grupo de pessoas no decorrer do

pretender

seu

Os

tornando-o

seus

envolver-se

proactivo

A obrigatoriedade e/ou a recomendação

comportamentos

no

processo.

Pode

ciclo

de

Enfermagem,

enunciada

enquadrando-se

de

vida,

com

no

as

por

espectro

respetivas

afirmar-se que há uma parceria epistemológica

características (valores, crenças e desejos)

entre o profissional de saúde e o utente “Ambos

individuais.

têm algo a oferecer e conhecimento a propor. O

O processo da vacinação, tem implícito o fornecimento de informação e o questionamento

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fornecimento de informação e o questionamento

dependentes

por parte daqueles a quem se prestam cuidados,

comunidade.

(crianças

e

idosos)

e

na

visando a qualidade de assistência de saúde.

- A adesão ao PNV possibilita a adoção

Torna-se primordial que a dimensão ética

de comportamentos corretos com reflexo de

assuma a relevância devida no processo de

beneficência individual e comunitária de forma

tomada de decisão e clarificação por parte dos

justa e equitativa, diminuindo a vulnerabilidade

enfermeiros no seu desempenho profissional.

dos intervenientes na comunidade.

Tendo em conta estes aspetos, temos

- A não adesão ao PNV levará a

como referencial três pressupostos importantes

consequências no âmbito da responsabilidade

relativamente ao PNV, ou seja:

pela saúde individual, dos descendentes diretos

- Da recomendação do PNV à sua

Segundo Morgado et al (2014, p.116) “no

imposição; - Responsabilização pessoal e pelos

- Repercussão das escolhas individuais

cuidado à pessoa (...) quer no contexto das relações

na comunidade. Compreendemos, portanto, a importância os

contexto da prática de enfermagem emergem direitos, deveres e o respeito por valores quer no

dependentes;

que

e das gerações futuras.

princípios

implementação

do

éticos

estabelecem

PNV,

entre

os

na

quais

multidisciplinares

que

devem

ser

considerados na tomada de decisão ético-

deontológica. Para

Deodato

(2006),

referido

por

destacamos, e que são abordados também por

Morgado et al (2014), um problema ético emerge,

Mendes (2009), o princípio da beneficência,

quando apresentado primeiramente, mas para a

orientado para a realização do bem; da justiça,

qual a reflexão ética sobre os valores e princípios

através de uma distribuição justa e equitativa; da

em causa possibilita uma solução adequada,

vulnerabilidade, invocando a solidariedade e

fundamentada nos princípios éticos e deveres

equidade.

referidos,

deontológicos, sendo assim, um problema ético

acrescentamos o princípio da responsabilidade,

tem solução através do respeito pelos princípios

assumindo através deste as decisões que se

éticos. O mesmo autor faz a destrinça entre

tomam tendo como implícito as repercussões e

problema ético e dilema ético, evidenciando que

consequências das escolhas, tanto a nível

para o dilema ético as soluções encontradas

individual como comunitário.

colocam em questão os princípios éticos ou os

Aos

princípios

Através da recorrência a estes princípios, é possível abordar os três pressupostos chave

deveres profissionais. No que diz respeito à identificação dos problemas éticos identificados na prestação dos

que enunciamos anteriormente. ou

cuidados de Enfermagem, segundo Nunes

recomendado à pessoa, possibilitando assim a

(2006), destacamos as categorias: informação; a

opção pelas escolhas individuais, levando a

decisão do destinatário dos cuidados; o respeito

repercussões

pela pessoa e a proteção da saúde. Entre estas

-

Deverá

o

PNV

individuais,

ser

dos

imposto

que

estão

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quatro enuncia

três

categorias, das

Deodato

referidas

(2010)

anteriormente

Assume-se assim o respeito pelas decisões individuais,

singularidades,

fundamentos

e

(informação; a decisão do destinatário dos

opções que levam à tomada de escolhas por

cuidados; o respeito pela pessoa). Para perfazer

parte de cada um e que com as quais podemos

a quinta categoria acrescentamos os problemas

não concordar.

éticos estabelecidos na relação doente/família,

Relativamente ao princípio da proteção

evidenciados por Fortes (2004) e referidos por

da saúde, a não implementação do PNV pode ser

Morgado et al (2014).

constatado como a não utilização de uma

Aplicaremos,

seguidamente,

estas

categorias à temática do PNV.

“ferramenta” validada para alcançar o bem individual

e

o

bem

comum.

Na

relação

No que diz respeito à informação, verifica-

estabelecida com os doentes e a família,

se por vezes que a mesma relativamente às

evidenciados por Fortes (2004) e referidos por

vacinas é não fundamentada, ao seu propósito, e

Morgado et al (2014), realçamos que na situação

aos ganhos individuais e comunitários da sua

do PNV, sugerimos a substituição da designação

implementação, a prevalência de determinados

de doente, possivelmente por utente, realçando

mitos sobre veracidade da evidência científica

assim a possível determinação e escolha do

possivelmente não transmitida ou transmitida de

projeto terapêutico (neste caso tendo em vista a

forma não esclarecedora por parte do emissor.

promoção) estabelecido entre o indivíduo e a

Nunes (2006, p. 264) refere que “a informação é

família, remetendo-nos para a implicação das

um garante, um meio para que as pessoas

escolhas no seio dos dependentes.

possam decidir sobre si, de forma livre e

A opção da escolha pela não adesão ao

esclarecida.”

PNV,

tem

como

consequência

o

A decisão do destinatário dos cuidados

ressurgimento de doenças já controladas.

encontra-se associada à informação veiculada,

Verifica-se assim a prevalência de mitos e

visto que através da informação transmitida

dúvidas por parte dos individuais perante as

acerca da temática do PNV, através de

evidências da ciência. Como exemplo

esclarecimento de dúvidas e reforço de opiniões,

enunciamos

pretende-se apoiar e promover uma decisão que

potenciam a dúvida relativamente à adesão

neste caso seria a adesão ao PNV, de uma forma

ao PNV, segundo a DGS (Boletim de

pessoal

dependentes

Vacinação - n.º 4, 2012, p. 1-2), “As

representados (crianças e idosos). Citamos

doenças começaram a diminuir antes das

Nunes (2006, p.274), ao referir a Pessoa

vacinas, devido às melhores condições de

enquanto “ser social e agente intencional de

higiene”,

comportamentos baseados nos valores, nas

vacinação estão praticamente eliminadas,

crenças e nos desejos da natureza individual, o

pelo que não há razão para vacinar o meu

que torna cada pessoa num ser único, com

filho”, “É preferível ficar imunizado pela

dignidade própria e direito a autodeterminar-se”.

doença do que pelas vacinas”, “As vacinas

ou

destinada

aos

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“As

algumas

abordagens

doenças

evitáveis

que

pela

VOLUME 6. EDIÇÃO 3


Página 19

podem

causar

reações

graves,

dependentes, junto da comunidade em que o

doenças e até a morte”, “Administrar múltiplas

indivíduo se insere. Magalhães (2001, p.224)

vacinas

doenças

refere “que ser pessoa é ser responsável e poder

diferentes podem sobrecarregar o sistema

ser responsabilizado pelo seu bem e pelo dos

imunitário”, “Preferia que o meu filho não

outros e pelo mundo onde se situa”.

simultaneamente

adversas

para

apanhasse todas essas vacinas hoje”. Através da

Como Renaud (2001, p.16) refere, “a

refutação das dúvidas e dos mitos, contribuímos

emergência de uma nova forma de compreender

para os dois motivos principais para vacinar,

a ética social (...) pode ser caracterizada, a

sendo estes a proteção individual e a proteção da

montante do agir, pelo facto de juntar uma

comunidade.

multiplicidade de pessoas implicadas na tomada

Perguntamos então: como é que o

de decisão; a jusante, ela ocupa-se apenas dos

momento em que vivemos atualmente se pode

atos que têm uma repercussão social clara, ainda

questionar e contestar a ética do passado, e de

que a própria posição no ato seja individual.”

que modo é que a ética de hoje prepara o futuro?

A convivência numa sociedade plural,

Quando enunciamos “da recomendação

reflete-se na relação que os diferentes decisores

do PNV à sua imposição”, evidenciamos a

e participantes, estabelecem entre si. Para

necessidade

decisões

Renaud (2001, p.13) “A ética social no sentido

coletivas, nos casos em que o agir interfere com

clássico de uma ética que diz respeito à

variados decisores e agentes responsáveis,

sociedade sucede a uma ética social cujo sujeito

sendo que uma das características dos regimes

de decisão mudou de palco, passando do plano

democráticos, caracteriza-se pela recusa de

individual para o plano coletivo.”

imposição de uma determinada conceção do

Constata-se

bem (Renaud, 2001). O mesmo autor enuncia a

individual pode não se implementar de

ética da discussão, no intuito da focalização,

forma generalizada, verificando-se tomadas

sendo o foco um consenso tão abrangente

de posição diferenciadas. Como Renaud

quanto possível entre os membros de um grupo,

(s.d.) refere, podem verificar-se situações

apresentando-se

a

em que o bem da pessoa não corresponde

possibilidade concreta de formar consenso no

exatamente ao bem particular, existindo

que diz respeito aos atos que implicam efeitos

assim grupos sociais que se apresentam

sociais importantes. Neste caso concreto o

como entidades isoladas ou de escala

consenso emergente seria a decisão de opção

reduzida e cujos interesses particulares se

pelo PNV.

sobrepõem ao bem das pessoas. Nestas

de

serem

o

seu

tomadas

limite

como

Enunciar a “responsabilização pessoal e

também

que

a

adesão

situações, a definição de bem comum pode

pelos dependentes” e a “repercussão das

referir-se

escolhas individuais na comunidade”, leva-nos a

indivíduos ou ainda ao bem da maioria dos

pensar no facto que pode ter a escolha individual

cidadãos, mas não precisamente ao bem de

de ser vacinado e possibilitar a vacinação dos

todos. Para reforçar esta ideia, citamos

JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951

a

um

grande

número

de

Magalhães (s.d., p.218), “Já os antigos VOLUME 6. EDIÇÃO 3


Página 20

Magalhães (s.d., p.218), “Já os antigos diziam

de 21 de Abril, Diário da República), encontramos

que para haver Bem, tem que estar tudo bem;

várias referências a conceitos e características

Que para o “todo” estar mal, basta que algo

dos cuidados de enfermagem tendo em atenção

esteja mal”.

a implementação do PNV, referenciando-se

Quando

falamos

em

precaução

necessidades, conhecimentos e competências

realçamos a ancoragem deste princípio ao

de atuação perante o indivíduo, família, grupos e

princípio da responsabilidade de Hans Jonas

comunidade, adequando a atuação consoante as

(1979), citado na Tomada de Posição sobre a

necessidades.

Segurança

Universal dos Direitos do Homem, evidencia-se a

do Cliente (OE, 2006,

p.

3),

Enunciado

na

Declaração

relativamente à sua admoestação a “de modo a

dignidade

que os efeitos

da tua ação não sejam

fundamental dos direitos humanos, realçando-se

destruidores da possibilidade da vida humana na

que os seus intervenientes são dotados de razão

terra”. Sendo que a responsabilidade resulta de

e de consciência, devendo agir uns para com os

um dever para com o futuro da humanidade,

outros em espírito de fraternidade (Art. 1.º). A

sendo por isso necessário criar condições para

abordagem à dignidade humana remete-nos o

que tal aconteça, potenciando gerações futuras.

reconhecimento da autonomia de cada pessoa

Surge a preocupação de uma responsabilidade

delinear os seus planos de vida e as suas

de cuidado para como o futuro, de cariz individual

próprias normas de excelência. Decorrente da

e coletivo (OE, 2006). A preocupação com as

dignidade do ser humano, decorre o direito à

gerações futuras, remete-nos para a criação de

autodeterminação, na operacionalização da sua

condições favoráveis, onde podemos incluir o

autonomia. Quando se protege a autonomia

PNV, atuando ao nível da prevenção, incidindo

estamos a apoiar a defesa dos direitos da

na gestão do risco.

pessoa, indo de encontro ao respeito pela

Abordando

agora

a

como

o

caráter

de

igualdade

perspetiva

dignidade da pessoa através da promoção da

deontológica e como refere Campbell (1996),

sua capacidade para pensar, decidir e agir (OE -

citado por Ferreira (2005, p. 50), “As exigências

Enunciado

da prática profissional nunca poderão separar-se

Informado, 2007).

da ética e do código deontológico da profissão,

de

posição,

Consentimento

A possibilidade de escolha pela adesão

pois poder-se-á dizer que esta relação é um bem

ao

pessoal, mas também uma arte do bem comum

fundamentada, possibilita a opção consciente

para todos”. A ética profissional insere-se na

dos seus atos, na promoção da sua capacidade

ética social, isto é, na ciência das normas

reflexiva de decidir e agir no que se pensa que é

implícitas à atuação moral, exigindo assim a

melhor para si com repercussão nos que a

profissão determinados comportamentos que se

rodeiam.

dirigem por normas específicas (Ferreira, 2005).

autodeterminação, o enfermeiro assume o dever

Perante o Regulamento do Exercício

de “informar o indivíduo e a família no que

Profissional do Enfermeiro (Dec. Lei n.º 104/98

respeita aos cuidados de enfermagem” (Art.

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PNV,

No

possibilitando

respeito

pelo

informação

direito

105º, alíneas a, b, c). VOLUME 6. EDIÇÃO 3

à


Página 21

105º, alíneas a, b, c).

é

sempre

uma

decisão

assumida

Tendo presente o cumprimento das

enfermeiro. Segundo Figueiredo (2004) o código

normas deontológicas e as leis que regem a

deontológico

profissão, “o enfermeiro é responsável para com

válidos e universais, possibilita a orientação,

a comunidade na promoção da saúde e na

permitindo a reflexão individual, a liberdade e o

resposta

em

exercício da vontade própria do enfermeiro, não

cuidados de enfermagem”, assumindo o dever de

retirando deste modo a dimensão humana do ato

conhecer as necessidades da população e da

implementado pelo enfermeiro.

adequada

às

necessidades

comunidade em que está profissionalmente inserido,

participando

na

orientação

fundamentado

em

pelo

princípios

Concluindo, e segundo (Mendes, 2009),

da

os enfermeiros na sua prática, na especificidade

comunidade tendo em vista a solução de

da natureza dos cuidados de enfermagem (neste

problemas detetados, colaborando para isso

caso específico enquadramos a implementação

como outros profissionais em programas que

do PNV) adequados às necessidades reais e

respondam às necessidades da comunidade

potenciais da pessoa ou grupo, tendo por

(Art. 101º, alíneas a, b e c).

fundamento a evidência científica, na ética e

Segundo a DGS (Boletim de Vacinação - n.º 2, 2012) os profissionais de saúde são

deontologia

profissional,

podem

garantir

cuidados de qualidade.

fundamentais para a execução e o sucesso dos programas de vacinação, visto que são a linha da frente,

com

pais,

A vacinação foi alvo de transformações ao

educadores e cuidadores que tomam a decisão

longo do tempo, aceite pelos estados modernos

sobre a vacinação das crianças e dependentes.

como um meio de segurança de eleição nas

Os enfermeiros são das fontes de informação em

políticas sanitárias para lidar com epidemias e

que a população mais confia. Para continuar e

doenças infeciosas (Cunha e Durand, 2008).

melhorar esta credibilidade social é necessário a

Além de imposta ou patrocinada pelo Estado,

formação

dos

como um dos meios privilegiados de gestão de

profissionais envolvidos na vacinação, devendo

saúde pública, através da implementação de

ser uma preocupação constante dos serviços de

planos

saúde.

infraestrutura que a acompanha – globalizou-se,

e

contacto

direto

permanente

com

o

Perspetiva jurídica

atualização

nacionais

de

vacinação

e

a

O enfermeiro no que diz respeito à vida e

sobretudo desde que a Organização Mundial de

à qualidade de vida, aquando a implementação

Saúde (OMS) lançou, em 1974, o Expanded

do PNV, assume o dever de respeitar a

Programme on Immunization. A vacinação em

integridade biopsicossocial, cultural e espiritual

Portugal não é obrigatória, com exceção daquela

da

esforços

contra o tétano e difteria a “todos os indivíduos

profissionais para valorizar a vida e a qualidade

domiciliados no País, dos 3 aos 6 meses de

de vida (Art. 103º alíneas b, c). A tomada decisão

idade, com administração de doses de reforço,

na enfermagem, tendo implícita regras e normas,

pela primeira vez, entre os 18 e os 24 meses e,

pessoa,

participando

nos

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VOLUME 6. EDIÇÃO 3


Página 22

pela segunda vez, entre os 5 e os 7 anos de idade” (Decreto-Lei nº 44/198, Art.1º, 1962). O

PNV

proposto

pela

DGS

Reportando-nos à Lei de Bases da Saúde, Base III, a legislação sobre a saúde é de

inclui

interesse público, pelo que a sua inobservância

recomendações para um conjunto de 12 vacinas,

leva a uma responsabilidade penal, contra-

a que acresce a vacinação contra a gripe, e não

ordenacional, civil e disciplinar. Assim, e de

é muito diferente do que se propõe nos países da

acordo com o Dec-Lei 44/198, os indivíduos

União Europeia. No entanto, e de acordo com a

sujeitos à vacinação que voluntariamente não

Base XIV, nº 1, b) da Lei de Bases da Saúde, os

tenham cumprido as obrigações definidas serão

utentes têm direito a decidir receber ou recusar a

convocados para comparecer, em dia, hora e

prestação de cuidados que lhes é proposta, salvo

local designados (Decreto-Lei nº 44/198, Art. 5º,

disposição especial da lei. Com estes dois

1962). As autoridades administrativas e policiais

pressupostos podemos constatar que, o Estado

deverão prestar o seu concurso às autoridades

diz às pessoas aquilo que é recomendado para

sanitárias, sempre que forem solicitadas, sendo

benefício do próprio organismo a fim de se

as

conseguir atingir um nível elevado de segurança

punidas nos termos do Art. 28.º do Decreto-Lei nº

coletiva no corpo social. Uma eventual exceção,

13/166, de 28 de Janeiro de 1927 (Decreto-Lei nº

prende-se com alguma resistência à vacinação

44/198, Art. 10º e Art. 11º, 1962).

transgressões

ao

regime

estabelecido

detetável entre grupos minoritários tais como, os

Para efeito de apresentação de prova, foi

ciganos portugueses e os adeptos de sistemas

criado em 1965, o Boletim Individual de Saúde,

dietéticos alternativos (ex. macrobiótica), bem

em que se registam as vacinas efetuadas. É

como sobre suspeitas infundadas acerca de

fundamental o registo completo dos atos vacinais

alguns componentes das vacinas.

no Boletim Individual de Saúde e na ficha de

Este é, pois, um contexto onde mais se

vacinação individual ou Sistema de Informação

podem evidenciar algumas das formas de

para as Unidades de Saúde (SINUS) para a

desconfiança em relação a aspetos importantes

correta interpretação do estado vacinal de cada

das políticas de segurança sanitária e de saúde

um em qualquer altura e em qualquer serviço.

pública.

Que

noções

estão

em

jogo

na

Para o exercício livre e esclarecido dos

aceitabilidade da vacinação em geral, ou na

direitos que a lei confere é essencial que as

aceitação de certas vacinas e na recusa de

pessoas estejam o melhor esclarecidas e

outras? A lei portuguesa é bastante clara neste

formadas possível, naquilo que diz respeito aos

âmbito. A vacinação contra o tétano e difteria

aspetos

será apenas dispensada nos indivíduos que

beneficiárias. De acordo com a Lei n.º 15/2014

apresentem certificado médico comprovativo de

de 21 de Março (que emana da Base XIV, n.º 1

contra-indicação ou quando esta seja verificada

alínea b, da Lei de Bases da Saúde, Lei n.º 48/90

pela autoridade médico-sanitária, e logo que

de 24 de Agosto), no seu Capítulo II (Direitos do

cesse esse motivo a mesma volta a ser

utente

obrigatória (Decreto-Lei nº 44/198, Art. 6.º, 1962).

(Consentimento ou Recusa) o consentimento ou

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da

dos

vacinação

serviços

de

de

que

saúde),

vão

Art.

ser

3.º

a recusa da prestação dos cuidados de saúde VOLUME 6. EDIÇÃO 3


Página 23

a recusa da prestação dos cuidados de saúde

saúde, estimulando assim nos indivíduos e nos

devem

grupos

ser

declarados

de

forma

livre

e

sociais

a

modificação

dos

esclarecida, podendo o utente dos serviços de

comportamentos nocivos à saúde pública ou

saúde, em qualquer momento da prestação dos

individual, e da vacinação, em particular.

cuidados de saúde, revogar o consentimento.

No seguimento desta abordagem jurídica

Em 1998 foi criada a OE tendo sido

aos desafios da aplicabilidade do PNV, importa

aprovado o seu Estatuto – a segunda alteração

ainda refletir acerca do quadro legal na tomada

foi publicada na Lei n.º 156/2015 de 16 de

de decisão acerca da saúde dos menores e

Setembro (2015), procedendo da Lei nº 2/2013

incapazes, citando a Base XIV no seu n.º 3, da

de 10 de Janeiro; e no Art. 105º regulamenta o

Lei de Bases da Saúde e a Lei n.º 15/2014 de 21

“Dever de informação”, no qual os Enfermeiros se

de Março no seu Capítulo II, artigo 11.º que dela

comprometem a, informar o indivíduo e a família

emana, a lei terá que prever as condições em

no que respeita aos cuidados de enfermagem,

que os representantes legais dos menores e

respeitar, defender e promover o direito da

incapazes podem exercer os direitos que lhes

pessoa ao consentimento informado, e atender

cabem,

com responsabilidade e cuidado todo o pedido de

assistência, com observância dos princípios

informação ou explicação feito pelo indivíduo em

constitucionalmente definidos, isto quer dizer que

matéria de cuidados de enfermagem tal como,

excepto nas condições que a lei prevê, no caso

informar sobre os recursos a que a pessoa pode

dos menores e pessoas incapazes de decidir por

ter acesso, bem como sobre a maneira de os

elas próprias, os pais ou os representantes

obter.

destas pessoas, tomam as decisões respeitantes

designadamente

o

de

recusarem

Do ponto de vista da prática profissional

à saúde destes. Logo, no que diz respeito à

em relação à aplicabilidade do PNV, este artigo

vacinação, isto também se verifica e assume

reveste-se de suma importância pois não só

grande

prevêem a proteção dos direitos dos utilizadores

incumprimento da primovacinação durante a

do Serviço Nacional de Saúde garantindo a

infância, contemplada no PNV atual. Se os pais

qualidade

tiverem

dos

cuidados

prestados

pelos

importância

uma

posição

no

cumprimento

antagonista

ou

face

à

Enfermeiros, como também podem contribuir

vacinação, podem recusar algumas vacinas para

para uma maior adesão ao PNV.

os seus filhos, pois segundo o Parecer n.º

Neste aspeto, o quadro legal é um ativo

11/2011 da Mesa do Colégio da Especialidade de

importante na promoção em geral das políticas

Saúde Infantil e Pediátrica, da OE (pág. 2) que

de saúde conforme está estabelecido na Lei de

cita o Dec-Lei 44/198, de 20.02.1962 (Artigo 1.º)

Bases da Saúde, Base II, nº1, alínea a) que diz,

“a vacinação em Portugal não é obrigatória com

que a promoção da saúde e a prevenção da

exceção das vacinas contra o tétano e a difteria,

doença

no

que ainda não tendo sido a revogado o decreto

planeamento das atividades do Estado e onde é

de lei respetivo se mantém em vigor.” Deixando

incentivada a educação das populações para a

de fora muitas outras vacinas importantes na

fazem

parte

das

prioridades

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persecução dos objetivos de, promoção da VOLUME 6. EDIÇÃO 3


Página 24

persecução dos objetivos de, promoção

A abordagem ético-deontológico assenta

da saúde e prevenção da doença que fazem

em três pontos essenciais, da recomendação do

parte das prioridades no planeamento das

PNV à imposição, a responsabilização pessoal e

atividades do Estado conforme está preconizado

pelos dependentes e a repercussão das escolhas

na Base II, n.º1, alínea a) da Lei de Bases da

individuais

Saúde referido anteriormente.

constatam-se os direitos dos indivíduos na sua

na

comunidade.

Efetivamente,

Em relação às restantes vacinas em

condição de seres humanos plenos de dignidade,

Portugal, os pais ou os representantes de outros

à tomada de decisão em saúde, na escolha da

incapazes de decidir por si podem mesmo

adesão ou não ao programa de vacinação

recusá-las, o que se impõe como um desafio ao

recomendado ou na tomada de decisão pelos

cumprimento e aplicabilidade do PNV.

seus

dependentes,

bem

como

a

sua

responsabilização ao nível dos efeitos que as Conclusão

suas decisões podem ter na comunidade (por

Ao longo deste trabalho refletimos acerca

exemplo a manutenção da imunidade de grupo).

da aplicabilidade do PNV, pois consideramos que

Observamos

este, apesar de ser um vincado sucesso desde

profissionais, neste caso os dos enfermeiros, que

que foi implementado no nosso país na década

passam pelo respeito e fomentação da tomada

de sessenta do século XX, ter contribuído para

de

uma das grandes conquistas do SNS, que foi a

disponibilização de toda a informação solicitada

drástica diminuição da mortalidade infantil e ter

e considerada pertinente, no respeito pela

ajudado a erradicar doenças como a poliomielite,

dimensão

provando a sua eficácia e segurança ao longo

comunidades em que estão inseridos ou dos

destes últimos quarenta e cinco anos, enfrenta

grupos de influência ideológica com os quais se

hoje vários desafios, de novos paradigmas

identificam, na investigação numa ótica da

sociais, culturais e organizacionais na tomada de

melhoria dos cuidados e na formação dos seus

decisão, até ao surgimento de novas ideias

pares.

crenças e estilos de vida que se mostram antagonistas à vacinação.

também

decisão

dos

individual

os

deveres

utentes,

dos

através

mesmos,

dos

da

das

O desafio final à aplicabilidade do PNV é o próprio quadro legal português, uma vez que

Ao analisarmos o PNV do ponto de vista

conforme está estabelecido no Decreto Lei nº

ético, epistemológico e jurídico, verificamos que

44/198, de 20.02.1962 (Art.1.º) a vacinação em

a

adoção

de

saúde

Portugal não é obrigatória com exceção das

assumem

cabal

vacinas contra o tétano e difteria, e que por ainda

importância na promoção da saúde e adoção dos

não ter sido a revogado se mantém em vigor.

estilos de vida saudáveis, visando o bem-estar

Muitas outras vacinas que estão recomendadas

comum, sendo a adesão um dos instrumentos

no PNV e que são fundamentais na persecução

principais e mais eficazes na persecução desses

dos objetivos das políticas de saúde pública, que

objetivos.

assentam naturalmente na prevenção, ficam de

centrados

de

comportamentos

na

pessoa,

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fora por isso do ponto de vista legal as pessoas VOLUME 6. EDIÇÃO 3


Página 25

fora por isso do ponto de vista legal as

Conferência

Internacional

sobre

Cuidados

pessoas têm o poder de decisão sobre si e os

Primários de Saúde - Declaração de

seus dependentes, exceto na vacinação contra o

Alma-Ata, URSS, 6-12 de setembro de

tétano e difteria.

1978

Isto leva-nos a concluir que a pessoa é o

Conselho Internacional de Enfermeiros (2008).

ativo principal no sucesso ou no insucesso da

Servir

aplicação do PNV e que cabe aos profissionais

qualidade: Os Enfermeiros na vanguarda

guiar a pessoa em respeito pela sua autonomia e

dos cuidados de saúde primários. Edição

individualidade,

portuguesa da Ordem dos Enfermeiros.

de

encontro

às

melhores

decisões pessoais e coletivas na realização dos objetivos das políticas de saúde públicas.

a

Comunidade

e

garantir

a

Decreto-Lei nº 44198 de 20.02.1962, Ministério da Saúde e Assistência, Portugal. Decreto-Lei n.º 104/98 de 21 de Abril, Diário da

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VOLUME 6. EDIÇÃO 3


Brito, D., Agra, G., Costa, M. (2017) Cuidados Paliativos a Pacientes com Ferida Neoplásica: Uma Perspectiva para a Assistência de Enfermagem, Journal of Aging & Innovation, 6 (3): 28 38

REVISÃO INTEGRATIVA/ INTEGRATIVE REVIEW

DEZEMBRO 2017

Cuidados Paliativos a Pacientes com Ferida Neoplásica: Uma Perspectiva para a Assistência de Enfermagem

Palliative Care of the Patients with Wound Neoplasic: a Perspective for Nursing Care

Cuidados paliativos de pacientes con herida Neoplásicas: una perspectiva de atención de enfermería

Autores Débora Brito 1, Glenda Agra 2, Marta Costa 3 1

Enfermeira, 2, Psicóloga, Enfermeira, 3 Enfermeira, Doutora em Enfermagem

Corresponding Author: deborathaise_@hotmail.com

Resumo Objetivo: caracterizar o conhecimento descrito na literatura relacionado à assistência de enfermagem em cuidados paliativos com o paciente portador de ferida neoplásica. Método: trata-se de uma revisão de literatura sobre feridas neoplásicas. Para a realização deste estudo, optou-se pelas fases propostas da revisão integrativa sugeridas por Ganong (1987). Critérios de inclusão: artigos que retratem cuidados paliativos de enfermagem ao paciente portador de ferida neoplásica; que estejam indexados nas bases de dados LILACS e SciELO; publicados entre o período de 2002 e 2012 e em português, com resumos e textos completos disponíveis online. Critérios de exclusão: artigos em língua estrangeira e acesso mediante pagamento. Resultados: Foram encontradas três categorias: “Características das feridas neoplásicas”; “Ações básicas de enfermagem no cuidado com as feridas” e “Ações específicas de enfermagem em cuidados paliativos”. Conclusões: Este estudo mostrou que as feridas neoplásicas exacerbam sinais e sintomas que devem ser controlados, o que justifica a implementação de cuidados paliativos na assistência de enfermagem. Palavras Chave: Cuidados de enfermagem; Cuidados paliativos; Úlcera cutânea; Enfermagem oncológica.

Abstract Objective: to characterize the knowledge described in the literature related to nursing care in palliative care with the patient with neoplastic wound. Method: This is a review of the literature on neoplastic wounds. For this study, we chose the proposed phases of the integrative review suggested by Ganong (1987). Inclusion criteria: articles that portray nursing palliative care to the patient with neoplastic wound; That are indexed in the LILACS and SciELO databases; Published between 2002 and 2012 and in Portuguese, with abstracts and full texts available online. Exclusion criteria: articles in foreign languages and access for payment. Results: Three categories were found: "Characteristics of neoplastic wounds"; "Basic nursing actions in wound care" and "Specific nursing Autores

actions in palliative care". Conclusions: This study showed that neoplastic wounds

Dados curriculares exacerbate signs and symptoms that should be controlled, which justifies the implementation of palliative care

in nursing care. Keywords: Nursing care; Palliative care; Cutaneous ulcer; Oncological nursing.

JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951

VOLUME 6. EDIÇÃO 3


Página 29

Introdução O

&Tomás, 2002; Firmino, 2005a; Matsubara, processo

responsável

de

pela

carcinogênese

2012).

celular

É imperativo ressaltar que os dados

descontrolada, em que ocorre, frequentemente, a

acima realçados soam como impacto para a

quebra de integridade cutânea e a infiltração de

equipe de Enfermagem em cuidados paliativos,

células

pele,

pois, no paciente oncológico, há probabilidade de

causando a formação de feridas neoplásicas.

se formarem fístulas e feridas, no final da vida,

Essas feridas são passíveis de tratamento,

em decorrência do avanço da doença ou como

desde que o câncer esteja na fase inicial e tenha

efeito tardio do tratamento radioterápico (Firmino,

possibilidades de cura. Porém, quando o

2005a;

processo patológico está em fase avançada e o

Kurashima,

tratamento antineoplásico não é mais indicado, a

desenvolver

conduta diante dessas lesões é unicamente

desagradável, odores intoleráveis, produção de

paliativa, a fim de controlar os sintomas físicos e

exsudato e sangramento, além de constituir uma

psicossociais (Brasil, 2011a).

deformidade corporal, provocando no paciente

malignas

proliferação

é

nas

estruturas

da

Matsubara,

2012;

2012).

Yamashita

Essas

úlceras

de

&

feridas

podem

aspecto

visual

O Instituto Nacional de Câncer (INCA)

distúrbio da autoimagem e desgaste psicológico,

estima cerca de 520 mil novos casos da doença

o que pode provocar sensação de desamparo,

para

humilhação e isolamento social. O cuidado com

2012

e

2013.

Em

2011,

estudos

apresentados por esse órgão apontaram sete

feridas

localizações de câncer que entraram no ranking

constante

dos

País,

incurável, do mal prognóstico e do insucesso

destacando-se a bexiga, o ovário, a tireoide (nas

terapêutico curativo, indicando aproximação da

mulheres), o sistema nervoso central, o corpo do

morte (Firmino, 2005b; Yamashita & Kurashima,

útero, a laringe (nos homens) e o linfoma não

2012).

tumores

mais

frequentes

do

Hodgkin. Tais estudos revelam, ainda, que os

neoplásicas

remete

lembrança

o

visível

paciente da

à

patologia

Nessa perspectiva, o cuidado paliativo

tipos de câncer mais incidentes nas regiões

configura-se

como

a

brasileiras são de pele não melanoma, próstata,

assistência ao paciente portador de ferida

mama e pulmão (Brasil, 2011b).

neoplásica, pois visa cuidar de pessoas com

proposta

patologias

que

pacientes oncológicos desenvolvem feridas, seja

tratamento

curativo

em decorrência do tumor primário ou de tumores

preconizar uma postura ativa frente ao controle

metastáticos.

que

dos sinais e dos sintomas inerentes à fase

acometem a pele constituem mais um agravo na

avançada da doença, que se tornou impossível

vida

pois,

de curar. O objetivo dos cuidados paliativos é

progressivamente, desfiguram o corpo e tornam-

diminuir, o máximo possível, o sofrimento físico e

se friáveis, dolorosas, secretivas e liberam odor

psicológico e promover uma qualidade de vida

fétido

possível para o paciente e sua família (Silva &

do

feridas

paciente

(Rocha,

neoplásicas

oncológico,

Menezes,

Almeida

Júnior

respondem e

se

mais

de

Estima-se que cerca de 5% a 10% dos

As

não

melhor

caracteriza

ao por

Hortale, 2006). JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951

VOLUME 6. EDIÇÃO 3


Página 30

Considerando

o

enfermeiro

como

Método

um

membro ativo e integrante da equipe de cuidados paliativos

e,

geralmente,

pela

se pela revisão de literatura, utilizando-se as

realização de curativos, cabe aos profissionais

fases propostas da revisão integrativa, que

dessa

e

consiste em seis etapas: estabelecer a hipótese

habilidades que lhes permitam conhecer e

ou a pergunta da revisão; selecionar a amostra a

identificar características das feridas neoplásicas

ser revista; categorizar e avaliar os estudos;

e implementar cuidados específicos relacionados

interpretar os resultados e apresentar a revisão

a elas. Nesse sentido, realizar um curativo

ou a síntese do conhecimento (Mendes, Silveira

efetivo, confortável ao paciente e esteticamente

& Galvão, 2008).

área

desenvolver

responsável

Para o desenvolvimento deste estudo, optou-

competências

aceitável é um desafio para o enfermeiro.

Para a busca dos artigos, foram empregadas

Nesse ínterim, surge a seguinte pergunta:

as bases de dados Biblioteca Virtual de Saúde,

Qual a assistência de enfermagem em cuidados

Literatura Latino-americana e do Caribe em

paliativos dada ao paciente portador de ferida

Ciências da Saúde (LILACS) e Scientific Eletronic

neoplásica?

Libray Online (SciELO), por meio das seguintes

Tal questionamento configurou o

ponto de partida para o desenvolvimento desta

palavras-chave:

pesquisa, considerando-se a grande demanda

enfermagem, oncologia e ferida neoplásica.

de pacientes oncológicos com necessidades

Assim,

diversas e a dificuldade de encontrar estudos

respondessem a esta questão norteadora: Quais

e/ou

e

as ações de enfermagem nos cuidados paliativos

tratamento de feridas neoplásicas. Com este

ao paciente portador de ferida neoplásica? Os

estudo, pretende-se contribuir para a prática de

critérios de inclusão adotados para a escolha dos

profissionais que trabalham com pacientes em

artigos foram os seguintes: que retratassem

cuidados paliativos e estimular o interesse da

cuidados paliativos de enfermagem ao paciente

comunidade científica para a continuidade de

portador de ferida neoplásica; que estivessem

pesquisas nessa área.

indexados nas bases de dados supracitadas; que

materiais

didáticos

sobre

manejo

Diante do exposto, o objetivo deste estudo é caracterizar

o

conhecimento

selecionados

paliativos,

artigos

que

fossem publicados em português, entre o período

na

de 2002 e 2012, e cujos resumos e textos

literatura brasileira, relacionado à assistência de

estivessem disponíveis online. Foram excluídos

enfermagem em cuidados paliativos com o

os artigos escritos em língua estrangeira e com

paciente

acesso mediante pagamento.

portador

de

ferida

descrito,

foram

cuidados

neoplásica,

considerando-se que são as ações cotidianas

Para selecionar os artigos integrantes da

decorrentes das necessidades de cuidado que

pesquisa, procedeu-se à leitura do título de cada

contribuem para o controle dos sintomas dos

um deles e do seu resumo, com o fim de verificar

pacientes.

a

pertinência

do

estudo

com

a questão

norteadora desta investigação. Ao final da busca, encontraram-se 11 referências, contudo somente sete se enquadravam nos critérios de inclusão JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951

VOLUME 6. EDIÇÃO 3


Página 31

sete se enquadravam nos critérios de inclusão

científica em três categorias temáticas, a saber:

deste estudo.

Categoria

Dos quatro artigos analisados, cinco foram publicados por enfermeiras assistenciais, e dois, por

enfermeiras docentes e discentes de

instituições de ensino, nos periódicos: Revista Brasileira de Enfermagem, Revista Brasileira de

Cancerologia,

Revista

de

Enfermagem

da

Universidade Estadual do Rio de Janeiro, Revista Científica do Hospital Central do Exército do Rio de Janeiro e Revista Prática Hospitalar. O tipo de publicação dos artigos analisados foi revisão bibliográfica, sendo que um deles foi uma síntese da Monografia do Curso de Residência em Enfermagem Oncológica, todos de produção científica brasileira.

I

-

Características

das

feridas

neoplásicas; Categoria II - Ações básicas de enfermagem no cuidado com as feridas e Categoria III - Ações específicas de enfermagem em cuidados paliativos. Características das feridas neoplásicas

Os

sete

(100%)

estudos

sob

apreciação

apresentaram uma análise da literatura sobre a fisiopatologia das feridas neoplásicas, realçando o interesse crescente em revisões bibliográficas sobre o câncer, referentes ao aparecimento dos sintomas, como pode ser verificado no texto que segue. A ferida neoplásica desenvolve-se a partir de três eventos: crescimento do tumor, que irá ocasionar quebra da integridade da pele,

Para a análise e posterior síntese dos artigos que

neovascularização e invasão da membrana basal

atenderam

foi

por células malignas de forma acelerada e

desenvolvido um formulário de coleta de dados,

infiltrativa, com crescimento expansivo da ferida

preenchido para cada artigo da amostra final do

sobre a superfície acometida; como resultado de

estudo. O formulário contempla informações

um câncer avançado de pele ou em casos de

sobre identificação do artigo e autores; objetivos

metástases, podem ulcerar, evoluindo para a

do

metodológicos;

formação de uma cratera ulcerativa, comumente

análise dos dados, resultados e discussão;

associada com carcinoma de células escamosas

conclusões

nos

ou melanoma. Dependendo de sua localização,

cuidados paliativos ao paciente portador de

pode invadir e destruir estruturas internas e

feridas neoplásicas.

formar fístulas (Poletti et al, 2002; Gomes &

aos

estudo;

critérios

de

procedimentos

e

ações

de

inclusão,

enfermagem

Resultados e Discussão A apresentação dos dados e a discussão foram realizadas de forma descritiva, a fim de possibilitar a aplicabilidade dessa revisão na prática de enfermagem ao paciente portador de ferida neoplásica.Seguindo a proposta pelo referencial teórico adotado, categorizaram-se os resultados encontrados na revisão da literatura JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951

Camargo, 2004; Firmino, 2005a; Leite, 2007; Matsubara, 2012). As denominações mais comuns das feridas neoplásicas são: feridas ulcerativas malignas, caracterizadas pela formação de úlceras e crateras

rasas;

feridas

fungosas

malignas

ulceradas, devido à união do aspecto vegetativo e apresentação de partes ulceradas; feridas fungosas

malignas

ou

feridas

neoplásicas

VOLUME 6. EDIÇÃO 3


Página 32

fungosas

malignas

neoplásicas

fibrinogênio e plasma pelo tumor; produção de

vegetantes, quando são semelhantes à couve-

fatores de permeabilidade vascular aumentada

flor (Gomes & Camargo, 2004; Firmino, 2005a;

pelo tumor e aumento de bactérias anaeróbias

Matsubara, 2012).

confinadas na superfície da lesão que, quando

Geralmente, apresentam

os

ou

feridas

pacientes

deficiência

com

nutricional,

câncer o

que

infectadas, liberam larga quantidade de exsudato fibroso (Gomes & Camargo, 2004; Firmino,

concorre para uma deficiência de aminoácidos,

2005a; Leite, 2007; Matsubara, 2012).

suprimento de energia diminuído e oxigênio

É sobremaneira importante enfatizar a relevância

comprometido, prejudicando a produção de

do conhecimento do enfermeiro sobre as

fibroblastos para a contração tecidual, o que

propriedades, as características e a classificação

contribui para que as feridas neoplásicas não

das feridas neoplásicas, o que subsidiará, de

cicatrizem. Além disso, as feridas neoplásicas

forma concreta, o tratamento e o planejamento

apresentam outras características importantes,

das ações de enfermagem, considerando-se os

como sangramento, exsudação intensa, prurido e

recursos humanos e materiais disponíveis e

presença de um odor característico. Alguns

necessários, bem como o desenvolvimento de

eventos estão ligados ao crescimento das células

ações educativas direcionadas ao paciente e ao

tumorais, como o sangramento, causado pela

cuidador. Esses aspectos promoverão uma

ruptura de capilares e vasos, além de diminuição

melhoria significativa em sua condição física,

na função plaquetária no tumor a tratamentos

psicológica e social.

como a radioterapia e por traumas durante a remoção do curativo (Poletti et al, 2002; Gomes

Ações básicas de enfermagem no cuidado

& Camargo, 2004; Firmino, 2005a; Leite, 2007;

com as feridas

Matsubara, 2012).

A Enfermagem é responsável pelos cuidados

A oclusão dos vasos sanguíneos, devido à

relacionados com o preparo físico e psicossocial

pressão causada pelo crescimento tumoral,

do paciente, ensino e cuidados técnicos, com

reduz a difusão do oxigênio, provocando hipóxia,

fornecimento de suporte profissional para que o

o que leva à proliferação de bactérias aeróbias e

portador de feridas alcance o bem- estar físico,

anaeróbias que, por sua vez, liberam ácidos

psíquico e social. Dos sete (100%) artigos em

graxos voláteis, como o ácido acético e o

análise, quatro (57,1%) versaram sobre as ações

caproico, e gases putrecina e cadaverina, que

básicas de enfermagem em cuidados paliativos,

produzem um odor fétido (Poletti et al, 2002;

descritas logo abaixo.

Firmino, 2005a; Leite, 2007; Matsubara, 2012).

A primeira ação específica de enfermagem

O crescimento agressivo do tumor leva a um

direcionada ao paciente com ferida neoplásica é

processo inflamatório, por meio do qual ocorre a

a avaliação da lesão, que exige do enfermeiro

liberação de histaminas, responsáveis pelo

habilidade cognitiva para julgamento clínico com

prurido ao redor da ferida, cuja exsudação pode

base em experiência prática e testes objetivos,

ser

na história fornecida pelo paciente ou por seu

atribuída

à

hiperpermeabilidade

ao

cuidador e na observação do profissional. DeveJOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951

VOLUME 6. EDIÇÃO 3


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cuidador e na observação do profissional. Deve-

(Gomes & Camargo, 2004; Firmino, 2005b; Leite,

se avaliar a ferida quanto a sua apresentação,

2007; Matsubara, 2012)

localização, tamanho, coloração, quantidade de

As orientações sobre os cuidados com a ferida

secreção,

devem ser oferecidas ao paciente e ao cuidador,

grau

de

odor,

presença

de

sangramento, fístulas, tuneilizações, prurido e

incluindo

produtos

dor. Nesse contexto, é importante classificá-la de

peridiocidade de troca de curativos e possíveis

acordo com o estadiamento de lesões tumorais

complicações. O enfermeiro deve realizar o

(Firmino, 2005b; Leite, 2007; Yamashita &

curativo na presença do cuidador, para que ele

Kurashima, 2012; Matsubara, 2012).

possa observar e, num segundo momento,

O planejamento do cuidado deve ser centralizado

supervisionar

no paciente e partir da premissa de que é

esclarecendo eventuais dúvidas (Firmino, 2005a;

fundamental proporcionar-lhe conforto, ou seja,

Leite, 2007; Matsubara, 2012).

fazer paliação dos sintomas para melhorar sua

O registro é fator importante na avaliação das

qualidade de vida (Leite, 2007).

feridas

A implementação do tratamento proposto deve

detalhado para a obtenção de parâmetros de

respeitar as consequências físicas e psicológicas

comparação

causadas pela ferida, promovendo cuidados

avaliando-se a eficácia do tratamento e a

individualizados, que supram os desejos do

satisfação

paciente e que provoquem mínima alteração em

documentadas todas as intervenções, incluindo a

seu estilo de vida (Leite, 2007).

avaliação da ferida, a educação realizada com o

a

a

execução

neoplásicas.

em

do

serem

Deve

do

ser

situações

paciente.

utilizados,

curativo

preciso

e

posteriores,

Devem

ser

A limpeza da ferida é o primeiro passo da

paciente e/ou cuidador, especificando os pontos

terapêutica tópica. Para isso, vale ressaltar as

de dificuldades de entendimento, habilidades e

intervenções básicas de enfermagem, tais como:

resultados obtidos (Firmino, 2005a; Leite, 2007).

limpar a ferida para remover, superficialmente, bactérias e desbridamento; conter ou absorver

Ações

exsudato; eliminar espaço morto com produtos

cuidados paliativos

tópicos específicos; eliminar a adesão de gazes

Nos sete (100%) artigos analisados, os autores

às bordas ou superfície da ferida; manter o leito

enfatizam o tratamento de feridas neoplásicas,

da ferida úmido; promover curativos com boa

sob a égide dos cuidados paliativos, objetivando:

aparência; empregar técnica cautelosa visando

identificar e eliminar os locais de infecção

analgesia; retirar as gazes anteriores com

presente; controlar o prurido, o odor, o exsudato,

irrigação abundante; irrigar o leito da ferida com

a necrose, as fístulas cutâneas e o sangramento;

jato de seringa de 20 ml, com agulha de diâmetro

manter o conforto, prevenir o isolamento social e

de 40x12; utilizar luvas estéreis; proteger o

proporcionar qualidade de vida. Nos parágrafos

curativo com saco plástico, durante o banho de

seguintes, serão mencionadas ações específicas

aspersão, e abri-lo para troca somente no leito,

de enfermagem em cuidados paliativos.

para evitar a dispersão de bactérias no ambiente

Os aspectos psicológicos devem ser tratados

JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951

específicas

de

enfermagem

em

VOLUME 6. EDIÇÃO 3


Página 34

com atenção especial, pois o paciente portador

cirurgia, em conjunto com a equipe médica, e

de ferida neoplásica apresenta degradação da

comunicar à equipe médica os casos de

imagem, fica afastado do convívio familiar e

sofrimento álgico que fogem ao controle da

social, devido ao odor proveniente da lesão, e

conduta preconizada (Poletti et al, 2002; Gomes

cultiva uma lembrança constante da progressão

& Camargo, 2004; Leite, 2007; Firmino, 2005a;

da doença relacionada a essa problemática.

Silva &Pazos, 2005).

Esses fatores promovem melancolia, revolta e

O controle do exsudato é importante pelos

depressão, que contribuem para que piore o

seguintes fatores: diminui o odor, protege a pele

estado clínico geral (Leite, 2007; Ferreira, Souza,

sadia perilesional, aumenta o conforto do

Costa & Silva, 2009).

paciente e melhora sua autoestima. O exsudato

A dor do paciente oncológico portador de ferida

pode ser controlado com curativos absortivos,

neoplásica é um dado peculiar a ser investigado.

tais como: hidrogel amorfo, carvão ativado,

Devem ser avaliados tanto os fatores físicos

alginato de cálcio, zobec como cobertura

responsáveis pela gênese da dor quanto os

secundária e uso de antibioticoterapia. A pele

fatores psicológicos. É pertinente encorajar o

periferida, muitas vezes, torna-se macerada pelo

paciente a falar sobre seu quadro álgico,

contato constante com a secreção, por isso é

descrever a sensação dolorosa, sua localização,

recomendada a aplicação de vitamina A+D em

temporalidade e intensidade (Poletti et al, 2002;

forma de pomada, a fim de proteger a pele. É

Gomes & Camargo, 2004; Leite, 2007; Firmino,

preciso, também, atentar para a necessidade de

2005a).

se colher secreção para a cultura, registrar o

As ações específicas no controle da dor são:

procedimento, aguardar o resultado e comunicar

monitorar e registrar o nível de dor pela Escala

à equipe médica para a avaliação (Poletti et al,

Visual Analógica (EVA); registrar a analgesia

2002; Gomes & Camargo, 2004; Leite, 2007;

empregada; considerar o uso de gelo e de

Firmino, 2005a; Santana, Matsubara & Vilella,

opioides; planejar o curativo e sua troca de

2012).

acordo com a necessidade de analgesia prévia

No que se diz respeito ao controle do prurido, o

ou o uso de sedativos; aplicar gazes embebidas

primeiro passo é investigar a causa. As ações

em hidróxido de alumínio; considerar o uso de

específicas para o controle do prurido são: aplicar

lidocaína 2%; empregar técnica cautelosa sem

dexametasona creme 0,1% no local referido; se

esfregaço do leito ulceral; retirar os adesivos

o prurido for persistente, avaliar, junto com a

cuidadosamente com o uso de éter; irrigar o leito

equipe médica, a necessidade de terapia

ulceral com água destilada ou soro fisiológico a

sistêmica; inspecionar o local, atentando para os

0,9% e aplicar óxido de zinco nas bordas e ao

sinais de candidíase cutânea ao redor da ferida.

redor da ferida; reavaliar a necessidade de se

Nesses

alterar o esquema analgésico prescrito antes e

sulfadiazina de prata 1% (Poletti et al, 2002;

depois do curativo; considerar a necessidade de

Firmino, 2005a; Santana et al, 2012).

antiinflamatórios,

radioterapia

antiálgica

casos,

deve-se

aplicar

pomada

ou

JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951

VOLUME 6. EDIÇÃO 3


Página 35

A infecção da ferida por microorganismos

0,9%) ((Poletti et al, 2002; Gomes & Camargo,

anaeróbios e tecido desvitalizado causam o odor

2004; Firmino, 2005a; Santana et al, 2012).

fétido, descrito como o sintoma que mais causa

No odor grau III (fétido e nauseante), deve-se

sofrimento, em decorrência da sensação de

considerar emergência dermatológica; seguir os

enojamento e isolamento social que imputa o

passos no controle de odor graus I e II e

paciente. No entanto, o odor é minimizado

considerar, junto com a equipe médica, a

utilizando-se antibiótico sistêmico.(Silva & Pazos,

possibilidade

2005; Oliveira & Poles, 2006; Ferreira et al,

metronidazol sistêmico endovenoso ao uso

2009).

tópico. Posteriormente, pode-se seguir com o

O controle do odor é descrito de acordo com o

uso sistêmico via oral, porém mantendo o uso

grau de classificação. No odor grau I (sentido ao

tópico (Poletti et al, 2002; Gomes & Camargo,

se abrir o curativo), deve-se proceder à limpeza

2004; Firmino, 2005a; Leite, 2007; Santana et al,

com soro fisiológico 0,9% e realizar antissepsia

2012).

com hipoclorito de sódio ou polivnil pirrolidona

Para controlar o sangramento, deve-se aplicar

iodo (PVPI); retirar o antisséptico e manter gazes

pressão diretamente sobre os vasos sangrantes;

embebidas de hidróxido de alumínio no leito da

considerar a aplicação de soro fisiológico 0,9%

ferida. Outras opções de tratamento são:

gelado;

aplicação de sulfadiazina de prata e/ou carvão

hemostático,

ativado envolto de gaze umedecida com soro

tranexâmico ou adrenalina, solução injetável

fisiológico 0,9% e oclusão da ferida com gaze

topicamente sobre a ferida em seus pontos

embebida em vaselina líquida (Poletti et al, 2002;

sangrantes; manter o curativo meio úmido, para

Gomes & Camargo, 2004; Firmino, 2005a; Leite,

evitar a aderência de gazes no sítio ou na

2007; Santana et al, 2012).

superfície e nas bordas da lesão; verificar, com a

No odor grau II (sentido sem se abrir o curativo),

equipe médica, a possibilidade de iniciar:

deve-se proceder à limpeza da ferida e realizar

coagulante

antissepsia

de

radioterapia anti-hemorrágica, sedação paliativa

metronidazol (1 comprimido de 250mg diluído

para casos de sangramento intenso, desespero

para 250ml de soro fisiológico 0,9%). Se o tecido

do paciente e avaliar

necrótico

houver

hemotransfusões (Poletti et al, 2002; Gomes &

necessidade, realizar escarotomia e aplicar

Camargo, 2004; Firmino, 2005a; Leite, 2007;

comprimidos secos e macerados sobre a ferida,

Santana et al, 2012). No que concerne ao

ocluindo com gaze embebida em vaselina

controle das fístulas, deve-se proceder com a

líquida. A solução pode ser substituída pela

aplicação de óxido de zinco na pele ao redor da

pomada vaginal de metronidazol, gel 0,8% ou

ferida; aplicar hioscina tópica nas fístulas de

solução injetável diluída na proporção 1/1 (100 ml

baixo débito; considerar o uso de esteroides

da droga diluída em 100 ml de soro fisiológico

tópicos (se houver inflamação); ponderar o uso

e

irrigá-la

estiver

com

endurecido

solução

e

de

curativos

se

associar

à

alginato

sistêmico,

base

de

o

de

uso

colágeno

cálcio,

intervenção

de

ácido

cirúrgica,

a necessidade de

de bolsas nas fístulas de alta drenagem, com JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951

placas de hidrocoloide ao redor da pele e realizar VOLUME 6. EDIÇÃO 3


Página 36

placas de hidrocoloide ao redor da pele e realizar

a fim de minimizar desconfortos e problemas

curativo absortivo como carvão ativado e/ou

sociais, psíquicos e emocionais que são gerados

alginato de cálcio, com gaze do tipo ‘zobec’ como

pelas

cobertura secundária (Firmino, 2005a; Leite,

permeiam a filosofia dos cuidados paliativos,

2007; Santana et al, 2012). Em se tratando do

caracterizados

controle da necrose, avaliam-se as necessidades

promoção de conforto e de bem-estar, melhoria

de desbridamento e o status do paciente

dos aspectos físicos, psicológicos, sociais e

(Firmino, 2005a; Matsubara, 2012).

espirituais.

É notório, neste estudo, que, à medida que se

Na análise dos métodos utilizados nos trabalhos

aproxima o fim da vida, as feridas neoplásicas

sobre as ações de enfermagem em cuidados

passam a exacerbar sinais e sintomas, causando

paliativos com o paciente portador de ferida

estresse físico e psicológico ao paciente, aos

neoplásica, verificou-se que foram desenvolvidos

cuidadores, aos familiares e aos profissionais de

por especialistas, com base teórica e científica, e

saúde. Portanto, é preciso controlá-los, o que

que propõem protocolos clínicos de intervenções

justifica a implementação de cuidados paliativos,

de enfermagem para o cuidado com o paciente

cuja meta é a qualidade de vida.

portador de ferida neoplásica, sem constituir

O investimento na realização de trabalhos que

metodologicamente

buscam evidências científicas por meio de

identificar estudos com nível forte de evidência.

revisão de literatura, em temas específicos das

feridas

Nesse

neoplásicas.

por

alívio

estudos

ínterim,

as

Essas

dos

ações

sintomas,

clínicos,

nem

pesquisadoras

feridas neoplásicas, ainda é incipiente. À medida

concluem que a utilização da revisão de literatura

que forem realizadas investigações sobre os

contribuiu para o alcance dos objetivos propostos

diversos aspectos envolvidos no cuidado com o

neste trabalho. Porém, é preciso realizar outros

paciente portador de ferida neoplásica, as

estudos nessa área, para subsidiar, mais

intervenções

serão

profundamente, o planejamento e as ações de

cientificamente mais efetivas na prática clínica

enfermagem, no contexto dos cuidados paliativos

assistencial do enfermeiro.

direcionados a pacientes oncológicos com

e

as

estratégias

feridas. Conclusões O

desenvolvimento

deste

artigo

Referências

possibilitou dimensionar e analisar a produção do conhecimento sobre as ações de enfermagem

Brasil. (2011a). Ministério da Saúde. Instituto

em cuidados paliativos com o paciente portador

Nacional do Câncer. Tratamento e controle de

de ferida neoplásica.

feridas tumorais e úlceras por pressão no câncer

Nesse contexto, ressalta-se que os estudos que

avançado. Série Cuidados Paliativos. Available

compunham essa revisão enfatizam que a

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enfermagem deve proporcionar um cuidado humanizado e singular a pacientes oncológicos, JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951

VOLUME 6. EDIÇÃO 3


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Rocha, F. P., Menezes, A. M. B., Almeida Júnior, VOLUME 6. EDIÇÃO 3


Página 38

Rocha, F. P., Menezes, A. M. B., Almeida Júnior, H. L., Tomás, E. (2002). Especificidade e sensibilidade de rastreamento para lesões cutâneas pré-malignas e malignas. Revista de Saúde

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VOLUME 6. EDIÇÃO 3


Antão, C., Branco, M., Pereira, F. (2017) Comunicar em saúde: a mais-valia da linguagem proverbial, Journal of Aging & Innovation, 6 (3): 39 - 46

REVISÃO SISTEMÁTICA/ SYSTEMATIC REVIEW

DEZEMBRO 2017

Comunicar em saúde: a mais-valia da linguagem proverbial La comunicación en salud: el valor añadido del lenguaje proverbial Health communication: the added value of proverbial language

Autores Celeste Antão 1, Maria Augusta Branco 2, Fernando Pereira 3 1,3

Instituto Politécnico de Bragança – Escola Superior de Saúde; Núcleo de Investigação e Intervenção do Idoso, 2 Instituto

Politécnico de Bragança – Escola Superior de Saúde; PAIDEA-Plataforma Internacional para o Desenvolvimento da Educação Emocional Corresponding Author: celeste@ipb.pt

Resumo Na atualidade a sociedade enfrenta grandes desafios. A promoção da saúde dos indivíduos é um deles. As estratégias socioeducativas a utilizar na conscientização do público para este desafio são variadas mas nem sempre eficazes. Cada vez mais os atores envolvidos no processo educativo têm de usar abordagens inovadoras para obter a mudança de comportamentos desejáveis. Neste sentido é importante educar e capacitar as pessoas para se tornarem cidadãos ativos. As mensagens e ensinamentos transmitidos através da oralidade, são importantes para comunicar em saúde. Objetivo: analisar estudos publicados sobre o recurso à linguagem proverbial na área da saúde, bem como os seus contextos e mais-valias. Metodologia: revisão sistemática de literatura de artigos publicados em plataformas de base de dados e revistas científicas. Resultados: O recurso aos provérbios pode ser uma estratégia pedagógica importante, tanto na interação direta com os utentes em múltiplos contextos, como no diagnóstico precoce de alteração da saúde mental. Palavras-chave: provérbios, comunicação, saúde. Abstract Nowadays society faces major challenges. Promoting and maintaining the health of individuals and communities is mandatory. The contexts and tools for the public awareness for this challenge are varied but not always effective. More and more the actors involved in the educational process have to use innovative approaches for the change in desirable ways. Therefore, it is important to educate and empower people to become active actors. The messages and lessons, summarized and transmitted through orality, are important to communicate in health and in the interaction between caregiver and patient. Objective: To analyze published studies on the use of proverbial language in health as well as their contexts and advantages. Methodology: systematic literature review of articles published in database platforms and scientific journals. Results: The recourse to proverbs can be an important pedagogical strategy, both in direct interaction with users in multiple contexts, such as in the early diagnosis of mental diseases. Keywords: sayings, communication, health JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951

VOLUME 6. EDIÇÃO 3


Página 40

Introdução

de tradição oral, as relações são geralmente

A manutenção da saúde, a capacitação dos

do tipo "face a face" e que a mensagem passa

indivíduos para tomarem decisões conscientes, a

pelo emissor e recetor, onde no caso dos

prevenção da doença e o tratamento em tempo

provérbios o remetente é aquele que fala em

útil são hoje preocupações centrais da sociedade

provérbios, e o recetor é a pessoa a quem se fala

e dos sistemas de saúde. As otimização da

em

comunicação entre os profissionais de saúde e

conscientes de não estar sozinhos no mundo. Os

os seus clientes é fundamental.

intervenientes, apercebem-se que fazem parte

Para Silva, comunicar, palavra proveniente do latim comunicare, significa

provérbios.

Ambos

estão

plenamente

de um grupo humano, que tem um passado e uma forma de adaptação ao ambiente e à

“que queremos colocar em comum, o que

sociedade. O recurso aos provérbios é uma

conseguimos “trocar” quando atendemos as

estratégia frequentemente utilizada nos mais

pessoas, quando exercemos nosso papel de

diferentes contextos.

profissionais da área da saúde. Quando estamos

Sendo

diante

conhecimento

das pessoas não somos só uma

os

provérbios comum,

expressões do

do

conhecimento

informação, não somos só um discurso teórico; o

coletivamente partilhado, Lopes (1992) questiona

que sentimos também é percetível para o outro

a sua ocorrência ou a sua citação no decurso de

através das próprias palavras que utilizamos no

um

contacto e através dos nossos gestos, das

comportando

nossas expressões corporais, faciais (Silva,

porque será que eles são usados em tantos

2013, p.2).

contextos? Para compreender o provérbio no

processo

de

interação

informação

verbal.

semântica

Não nova,

Tal como defende esta autora, na perceção

processo comunicação oral, Sumner (1999),

da comunicação verbal nós temos um processo

utiliza um sistema de eixos. Um eixo horizontal

de exteriorização do ser social e a forma

onde há o emissor e um recetor onde passa a

adequada e terapêutica de se comunicar com as

mensagem. Um eixo vertical, de semântica

pessoas é, sem dúvida, relacionando-se com o

cultural, onde a mensagem parte da tradição e

sadio que existe nelas. A comunicação adequada

visa uma situação real, ou seja, mesmo que esta

e terapêutica, é aquela que não tenta negar os

situação seja reduzida para evocação de um fato

conflitos, as diferenças de perceção de uma

do passado, ela é, de certo modo, fruto e a

mesma realidade, os mal-entendidos, mas que,

atualização dessa mesma tradição. Este autor

simultaneamente, não perde o foco dos objetivos

refere algumas condições que devem estar

a serem atingidos na solução dos problemas

presentes

detetados.

compreendido de modo a garantir que a

A comunicação verbal, a palavra falada e ouvida, ocupa uma posição privilegiada. Tendo presente o defendido por Sumner (1999), que numa sociedade JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951

para

o

provérbio

ser

comunicação deve estabelecida de forma eficaz entre o remetente e o recetor, designadamente: não deve haver nenhuma distância física considerável, o mesmo é VOLUME 6. EDIÇÃO 3


Página 41

dizer que um provérbio não pode ser gritado à

provérbio tem a liberdade de argumentar e refletir

distância; o provérbio é usado numa situação

da coerência do mesmo e mesmo devolvendo a

concreta condicionando sua compreensão; o

sua opinião com outros provérbios. Em síntese,

remetente e o recetor devem de alguma forma

neste eixo horizontal, o provérbio é um fator

participar nesta situação; e, a condição ideal da

privilegiado de comunicação, permitindo trocas

utilização do provérbio é quando ele retira a

que não sendo unívocas, permitem partilhas,

ambiguidade de uma situação. Daqui decorre

pode esclarecer e lançar luz sobre diferentes

que o uso de um provérbio é mais eficaz quando

temáticas (Sumner, 1999).

a interação entre os interlocutores da conversa é

Sendo utilizados em múltiplos contextos e sendo

marcada pela sua singularidade, proximidade e

trivial a sua alusão, Sumner (1999) salienta que

intimidade.

dos

o ditado popular tem várias funções, destacando

provérbios, a partilha e tomada em consideração

a cognitiva, expressiva, normativa e educativa,

do seu significado, é tanto maior quanto maior é

discursiva, e cultural. Na função cognitiva, o

a identidade cultural dos interlocutores e a

objetivo do provérbio é dar uma forma à

pertinência face ao contexto em que decorre a

realidade. A função expressiva realça que a

interação.

pessoa ao dizer um provérbio, não permanece

A

eficácia

comunicacional

O profissional de saúde, no papel de emissor

apenas

em

um

nível

cognitivo,

podendo

ou remetente, gera mensagens ao utente/doente

expressar a sua desaprovação por tal falta de

em múltiplos contextos que necessitam de ser

conformidade. Função normativa e educativa,

descodificadas. O remetente, pessoa que, em

quando o provérbio pretende recordar as normas

uma dada situação, diz algo a respeito dela,

que se impõem sobre o indivíduo e provocar uma

expressa uma verdade "lógica" de ordem

certa linha de conduta. A função discursiva

cognitiva, mas além do aspeto puramente

ocorre porque surge num discurso, dando ao

cognitivo, há o envolvimento do remetente com o

discurso a sua força e podendo ser o seu ponto

recetor. O provérbio aparece quando um facto,

final, onde o recetor não pode contrapor. Por

um acontecimento, uma situação exige algum

último a função cultural surge porque quando se

comentário

em

verbaliza um provérbio, os interlocutores estão

provérbios só é possível porque uma qualquer

cientes de pertencerem à mesma comunidade

circunstância não é absolutamente clara para

humana. Ao reconhecer o provérbio, o recetor

todos, por exemplo: quando o remetente precisa

admite que ele tem com o remetente um

clarificar algo aos outros, para chamar a atenção

passado cultural que lhe aviva imagens e

num ponto, para expressar a sua opinião sobre o

normas que são reconhecidas por ambos.

adicional.

O

comentário

assunto ou, simplesmente, para vincular aquilo que ele aprendeu com a tradição. O provérbio serve então para esclarecer a situação para aqueles que ainda não entenderam algo ou alguma coisa. O recetor, caso tenha entendido o

Antão (2009), numa análise de cerca de 290 provérbios relacionados com processos de saúde e doença concluiu, que a maioria tinha corroboração científica, 164 (56,55%), quer por estudos efetuados, quer por opinião

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Página 42

expressa de personalidades e organizações com

comportamentos saudáveis pelos indivíduos);

credibilidade científica na área. Do total, 86,2%,

como estratégia pedagógica e/ou facilitadora da

foram inseridos no espaço concetual designado

comunicação entre os profissionais e utentes dos

Promoção

resultados

cuidados de saúde; como auxiliar no diagnóstico

evidenciam um potencial recurso comunicacional

clínico, evitando julgamentos precipitados ou

em termos autogénicos quando bem utilizados e

estereotipados;

contextualizados.

comportamento profissional e da identidade

da

Saúde.

Estes

profissional,

como

sobretudo

auxiliares quando

do

incorporam

Metodologia

algum elemento de humor, podem ajudar a lidar

Pretendemos analisar estudos publicados sobre

com

o recurso à linguagem proverbial na área da

potencialmente conflituosas, ao mesmo que

saúde, bem como os seus contextos e mais-

tempo que contribuem para a humanização dos

valias.

serviços.

Foi feita pesquisa avançada na Biblioteca do

Machado e col. (2011), assinalam que a riqueza

Conhecimento Online - b-on onde constassem no

da linguagem proverbial se encontra em todas as

título, termos “provérbios” e “Proverbs AND

diferentes fases do desenvolvimento humano,

health” filtrando os artigos divulgados nos últimos

destacando-se a pesquisa em pediatria e a

cinco anos e em qualquer idioma. Encontraram-

infância que evidencia o papel da linguagem

se 16 artigos e 2 teses – uma de mestrado e outra

proverbial nas aprendizagens de pais para filhos.

de doutoramento, nos seguintes recursos: Arts &

Humanities Citation Index (Web of Science) - 4;

significação na interpretação de provérbios por

Dialnet - 2 (DOAJ) - 5; MEDLINE (NLM) - 1;

sujeitos com provável doença de Alzheimer leve,

SciELO

Brazil (Scientific Electronic Library

comparando os grupos com a doença e sem

Online) - 5; Taylor & Francis Online (Journals) -

doença, ambos procederam à contextualização

1.

dos provérbios, imaginando uma situação de

situações

(2001),

embaraçosas

estudaram

os

ou

mesmo

processos

de

uso, verificaram haver diferenças significativas A importância da linguagem proverbial em

no percurso enunciativo-discursivo realizado

saúde

pelos sujeitos não-Alzheimer e pelos Alzheimer.

Levine e Bleakley (2012) consideram que os

Santos, Sougey & Alchieri, (2009) validaram o

aforismos e provérbios médicos devem ser

Teste de Rastreio de Doença de Alzheimer com

explorados, não porque eles estão em perigo de

Provérbios (TRDAP), elaborado com pedras do

extinção, mas sim, para revelar a sua importância

jogo de memória de provérbios, tendo-se

na cultura médica e suas práticas, relações e

verificado que este instrumento é válido para

instituições. Estes assinalam que o significado e

rastrear doença de Alzheimer.

propósito da linguagem proverbial é útil nas

Novás & Machado (2014) estudaram aforismos e

seguintes situações: como auxiliares de memória

provérbios abordando aspetos úteis para os

(importante

médicos de família quer na prática clinica como

na

adoção

de

práticas

e

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VOLUME 6. EDIÇÃO 3


Página 43

na formação em geral, verificando que

verdade

muitos deles encerram em, breves palavras,

questionamentos ou dúvidas. Além disso, o

todo um curso de filosofia de a vida,

seu comprometimento não é com a verdade

mostrando

mais

dos fatos, mas com a transmissão de

profundos mais claros, quanto mais fortes

aspetos culturais passados de gerações em

mais generosos; concluíram ainda que eles

gerações”. Neste sentido ao valorizar a

revelam normas de conduta em diversas

interação sócio comunicativa, poderá ser

situações relevantes em saúde.

uma estratégia pedagógica viável, desafiante

também

que

quanto

Kimes, Golden, Maynor, Spangler & Bell (2014), conduziram sessões de educação para a saúde visando reduzir o risco cardiovascular recorrendo à utilização de provérbios, tendo estes, como já foi dito se revelado

uteis

na

mudança

de

comportamentos de risco. Através

do

provérbio,

e

definitiva,

rentável

em

não

passível

contextos

de

educacionais

relacionados com a saúde. Mais do que relembrar evidências científicas, a linguagem proverbial pode ser um contributo reflexivo na mudança de comportamentos de risco e, simultaneamente, na colocação em prática de comportamentos promotores de saúde (Levine & Bleakley, 2012). No que concerne

a

comunicação

aos aspetos culturais também Kimes e col.

estabelecida entre o remetente e o recetor

(2014) salientam a necessidade de recorrer

torna-se um movimento contínuo, para frente

aos provérbios como forma de “chegar” às

e para trás, entre a tradição e a situação real.

populações, quando se pretende intervir na

Não há condições sociais para o uso de

mudança de estilos de vida no sentido de

provérbios, podendo ser proferidos por,

promover a saúde e prevenir a doença.

jovens ou velhos, homens ou mulheres, a qualquer hora e em qualquer situação. É uma

Ainda relacionado com a mudança de

forma particular de conhecimento e de

comportamentos, mas no sentido inverso,

comunicação que apela para um certo tipo de

quando os provérbios estiverem associados

educação na medida em que apela a uma

a

consciência cultural (Sumner,1999).

encontrado em estudos de Machado e col.

comportamentos

de

risco

como

o

(2011) deverá haver algum cuidado na sua Para Meira (2011, p. 67) “os provérbios não

utilização, bem como a desmistificação dos

são

científico,

mesmos.

transmitir

encontrada por Antão (2009), ao encontrar

conhecimentos da experiência do dia-a-dia,

no seu estudo 43,45% de provérbios sem

por isso não há como observá-los como uma

qualquer corroboração científica.

dotados

caracterizam-se

de

um por

valor

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Esta

realidade

foi

também

VOLUME 6. EDIÇÃO 3


Página 44

outro

Síntese reflexiva Considerando que o objetivo último da ciência consiste em gerar conhecimento, e melhorar qualidade de vida das pessoas, esperamos que esta pesquisa contribua para melhorar o processo comunicativo em geral

que

está

atento

ao

nosso

comportamento e ao nosso discurso, somos capazes de entender o que pensa, sente e vice-versa, por isso, a comunicação pode ser entendida

como

a

base

do

cuidado

terapêutico.

e na área da saúde em particular. Como

Finalmente, lembramos Botell e Riverón

afirmam Osterman e Silva (2009) “Muito mais

(1996) que nos dizem que a força de uma

do que “letrar” os pacientes em questões de

ideia é maior se pode ser dita em poucas

saúde,

palavras e se dita de uma forma bela, melhor

a

formulação

oferece

uma

oportunidade explícita de “checagem” de compreensão

para

a

qual

ambos

os

interagentes são chamados a colaborar”. Os autores consideram que alguém interage, quando torna explícito o seu entendimento sobre o que se disse e o que está

ainda. A linguagem proverbial deve ser valorizada e enfatizada e devidamente contextualizada, contribuindo para a obtenção de ganhos em Saúde.

acontecendo no momento ou após várias

Em futura investigação deverá ser explorada

sequências de interações. Também Sunwolf

a utilização da linguagem proverbial nos

(1999), defende que a sabedoria proverbial

processos formativos dos profissionais de

sugere possibilidades narrativas de ensino e

saúde, como estratégia para melhorar a

aprendizagem através da história oral,

capacidade dos estudantes em lidar com as

podendo contradizer, expandir ou confundir

situações encontradas no dia-a-dia e, assim,

nossas visões de mundo: persuadindo

melhor compreender e se fazerem entender

através de pensamentos autogerados, da

na

participação ativa, da modelagem, e da

utentes/doentes.

deliberação consciente.

sua

relação

terapêutica

com

os

Contribuintes: Todos os autores

Silva (2013) lembra-nos o provérbio árabe “a

contribuíram igualmente para a conceção,

mente é como vento e o corpo como a areia.

redação e edição do documento, aprovando

Se você quer conhecer o vento, observe o

assim o documento final para a

movimento

apresentação.

da

areia”,

salientando

que

nenhum de nós fala tudo que pensa e sente,

Financiamento: nenhum.

mas

Conflitos de interesse: nenhum.

quando

observamos

o

outro

atentamente - ou somos observados pelo JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951

A aprovação ética: não aplicável. VOLUME 6. EDIÇÃO 3


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VOLUME 6. EDIÇÃO 3


Dantas, C. et al. (2017) Projeto IdoVis Visitadores contribuem para um envelhecimento com mais afetos, Journal of Aging & Innovation, 6 (3): 47 - 58

ARTIGO ORIGINAL/ ORIGINAL ARTICLE

DEZEMBRO 2017

Projeto IdoVis Visitadores contribuem para um envelhecimento com mais afetos Project IdoVis Visitors contribute to aging with more affection Proyecto IdoVis Los visitantes contribuyen a un envejecimiento con más afectos Autores Carina Dantas 1 Rosa Melo 2, Arménia Boleto 3, Fátima Silva 4, Flávia Rodrigues 5 1,3,4,5

Cáritas Diocesana de Coimbra, 2 Escola Superior de Enfermagem de Coimbra

Corresponding Author: carinadantas@caritascoimbra.pt

Resumo O envelhecimento populacional é uma evidência, a nível nacional e internacional. Mas o aumento de anos à vida torna essencial que, em paralelo, se acrescente qualidade de vida a estes anos. O presente artigo avalia o contributo da implementação de um projeto que pretende reduzir a solidão e aumentar a qualidade de vida das pessoas mais velhas, através da criação de um grupo de pessoas idosas independentes, visitadoras de outras em situação de dependência (IdoVis). Foi realizado um estudo exploratório, longitudinal, com avaliação antes e após a implementação da intervenção, num período estipulado de 3 meses de visitas regulares. Este estudo teve abordagem quantitativa e qualitativa. Para avaliar a qualidade de vida dos visitadores aplicou-se o Inventário de Avaliação da Qualidade de Vida em Adultos Idosos da Organização Mundial de Saúde (WHOQOL-Old) e para avaliar a solidão dos visitados aplicou-se a Escala de Solidão da UCLA, adaptada para português por Barroso (2008). No final da implementação do projeto foram também realizadas entrevistas aos idosos visitadores para avaliar a sua perceção sobre a sua participação no projeto, tendo sido realizada análise de conteúdo, segundo Bardin (2009). Relativamente aos utentes visitados, o índice médio de solidão desceu de 40,85 para 35, sendo a descida mais acentuada no grupo de apoio domiciliário (8 pontos) e no sexo feminino. No grupo dos visitadores a média na escala WhoQol-Old subiu de 99,56 para 107,25 com particular incidência nas áreas das atividades, autonomia e participação social. O presente estudo evidenciou um contributo positivo da implementação do projeto IdoVis na redução da solidão das pessoas idosas visitadas e aumento da qualidade de vida dos visitadores. . Palavras-chave: Pessoas idosas; Envelhecimento Ativo e Saudável; Solidão; Humanitude; Qualidade de Vida; Visitadores. Abstract The Ageing Population is an evidence both at national and international level. But this increase of years to life span makes it essential that, in parallel, quality of life is added to these years. This article evaluates the contribution of the implementation of a project that aims to reduce loneliness and increase the quality of life of older people by creating a group of independent elderly people, visiting others in a situation of dependency (IdoVis). An exploratory, longitudinal study was conducted with evaluation before and after the implementation of the intervention, during a stipulated period of 2 months of regular visits. This study had a quantitative and qualitative approach. To evaluate the quality of life of the visitors, the World Health Organization (WHOQOL-Old) Assessment of Quality of Life in Older Adults (WHOQOL-Old) was applied, and to assess the solitude of the visitors, the UCLA Solitude Scale was used in its version adapted to Portuguese by Barroso (2008). At the end of the project implementation, interviews were also carried out to the visitors to evaluate their perception of their participation in the project, and its content analysis was performed according to Bardin (2009). Regarding the visited persons, the average solitude index fell from 40.85 to 35, with the highest drop in the home support group and among the women. In the visitors group, the average on the WhoQol-Old scale rose from 99.56 to 107.25, with a particular focus on activities, autonomy and social participation Autores

Dados curriculares evaluation. The present study evidenced a positive contribution of the implementation of the IdoVis project in the reduction of the solitude of the older persons visited and the increase on the quality of life of the visitors. Keywords: Older persons; Active and Healthy Aging; Loneliness; Humanitude; Quality of life; Visitors.

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INTRODUÇÃO

Numa

época

de

democratização

da

A população da União Europeia deverá

comunicação, na qual é tão fácil contactar um

aumentar de 502 milhões em 2010 para 517

amigo ou familiar, através do telemóvel, por

milhões em 2060, mas simultaneamente vai

skype ou pelas redes sociais, as pesquisas de

envelhecer a um ritmo mais rápido, uma vez que

um modo geral indicam que somos, como

se estima que 30% dos europeus terá então, pelo

sociedade, mais solitários do que nunca.

menos 65 anos. Com

isso,

Esta verdade exponencia a sua dimensão obviamente,

haverá

menos

quando falamos de pessoas mais velhas,

pessoas em idade ativa. De acordo com os dados

particularmente em situação de dependência

apresentados pelos Ageing Report de 2012 e

e/ou acamadas.

2015 , estima-se que a percentagem de

Segundo Bearon (1996), desde a década de

indivíduos entre os 15 e os 64 anos diminuirá de

60

67% para 56%. De uma forma genérica, o

desenvolver quadros conceptuais para descrever

número de pessoas em idade ativa diminuirá de

os

4 (atualmente) para apenas 2, por cada pessoa

envelhecimento.

que se aposente em 2060.

Tomadas

Esta

mudança

demográfica

que

os

gerontologistas

resultados

em

ideais

conjunto,

do

têm

vindo

processo

essas

a

de

tendências

terá

emergentes sugerem uma abordagem em duas

consequências consideráveis para a organização

dimensões para definir o envelhecimento bem-

da Europa, implicando a necessidade de uma

sucedido:

ação política concertada, pública e privada, para

Uma para adultos mais velhos saudáveis

enfrentar os desafios do envelhecimento da

Uma para os adultos mais velhos

população.

fragilizados

A par deste cenário, as mudanças da última

Na primeira, encontramos vários modelos de

década nas estruturas sociais e familiares

prevenção e promoção propostos no final do

criaram novas necessidades, que se tornam

século passado, com vista a um melhor

ainda maiores com as situações de fragilidade,

envelhecimento. Uma abordagem enfatiza os

dependência e deficiência que o aumento da

pontos fortes e o potencial de crescimento dos

longevidade criou.

idosos. Integramos aqui autores como Sullivan &

Em

Portugal,

ano

a Guarda

Nacional

Fisher (1994) que dão ênfase ao potencial dos

Republicana (GNR) sinalizou em 2016 “39 216

idosos

idosos dos quais 23 996 vivem sozinhos; 5 205

detrimento de uma abordagem centrada no

vivem isolados; 3 288 vivem sozinhos e isolados

declínio.

e 6 727 não enquadrados nas situações

Um outro ângulo de abordagem realça fatores

anteriores, mas em situação de vulnerabilidade

sociais como a pobreza, a má nutrição,

fruto de limitações físicas e/ou psicológicas”.

oportunidades educacionais limitadas e outras

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com

vista

à

autorrealização,

em

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como obstáculos para um “estilo de vida com

(i. e, em várias respostas sociais da instituição,

particularmente nas residenciais e no apoio

assumindo aqui particular importância o trabalho

domiciliário) foi o do pedido expresso pelos

social e das organizações do 3º setor por forma

utentes mais velhos de outras pessoas para

a minimizar estas circunstâncias adversas.

conversar e conviver – a necessidade de

bom

envelhecimento"

-

Austin

(1991)

No que se refere à dimensão da pessoa

presença humana e da criação de novos laços de

fragilizada e em situação de dependência,

afetos parece ser a grande pedra de toque no

Lustbader

aumento da sua qualidade de vida.

(1991)

afastou-se

das

teorias

predominantes que apontavam a autonomia como

elemento

envelhecimento possibilidades

essencial e

de

de

um

descreveu encontrar

bom outras

satisfação

Surge assim a ideia de criar um grupo de visitadores às pessoas dependentes do Centro Rainha

Santa

Isabel

-

lar

de

grandes

e

dependentes e unidade de longa duração e

significado como os momentos de vitalidade, a

manutenção – e do Lar N.ª Sr.ª da Encarnação –

intimidade com a família e o renascimento

serviço de apoio domiciliário, que possam trazer

espiritual.

uma aproximação mais informal e humana aos

Atualmente, a população acima dos 65 anos

utentes destes serviços que se encontram em

não se subsume nas duas dimensões descritas

situação de isolamento ou sem retaguarda

acima, assumindo contornos e matizes muito

familiar.

diversos, pelo que o conceito de envelhecimento

Na mesma auscultação de necessidades, foi

bem-sucedido se torna difícil de definir. Pode ser

também

amplamente

constatada,

medido com indicadores de bem-estar subjetivo,

particularmente pelos cuidadores, a necessidade

como a satisfação com a vida, a felicidade, a

de aumentar a literacia da população no âmbito

qualidade de vida percebida ou no reverso do

da saúde, particularmente em 2 vetores:

espectro com os níveis de fatores negativos

- É premente fomentar a participação ativa

como a depressão, a solidão, a ansiedade, etc.,

das pessoas mais velhas (mais precisamente,

encontrando uma visão mais rica e alargada

numa perspetiva de intervenção ao longo da vida,

deste tema, com vista a soluções que funcionem

dir-se-ia aqui pessoa de qualquer idade) na

para cada grupo ou indivíduo.

gestão do seu processo de envelhecimento, com

A procura de melhores serviços e de

particular incidência na área da saúde e

promover o envelhecimento bem-sucedido levou

terapêutica, (in)formando e dando instrumentos

a Cáritas Diocesana de Coimbra a realizar, em

para que a pessoa compreenda os seus próprios

2015, uma recolha de necessidades informal

processos, opções, fatores de proteção e

junto dos seus utentes e das equipas de

consequências;

cuidadores

(técnicos

de

serviço

social,

- É essencial promover hábitos de vida

psicólogos, profissionais de saúde, animadores e

saudável, com ênfase na nutrição, exercício

profissionais auxiliares). O fator apontado como

físico e estimulação cognitiva, junto de pessoas

o mais carecido de uma intervenção transversal

de qualquer idade, mas muito particularmente

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daquelas que estão já em idade avançada mas

de atividades para os idosos autónomos, com

mantêm ainda a sua autonomia, como forma de

potencial para otimizar a sua qualidade de vida,

prevenção

com vista a um envelhecimento mais ativo.

da

dependência

e

da

institucionalização precoce.

A existência de atividades diferentes do habitual,

Deste modo, torna-se pertinente e necessário

que funcionem de forma periódica e atribuam

apoiar

e

uma nova rotina aos dias, propiciam os

planeamento da sua gestão de vida e do seu

sentimentos de utilidade pessoal e de pertença

processo de saúde, prevendo as dificuldades,

social, que ajudam a evitar a desesperança e a

necessidades e possibilidades, informando-os

depressão que frequentemente acompanham o

sobre os seus direitos, benefícios e recursos e

processo de envelhecimento.

incentivando-os a aprender sobre potenciais

Uma destas atividades pode ser a visita a outras

riscos e estratégias de autocuidado.

pessoas da mesma geração, que se encontrem

Sendo certo que a forma mais usual de abordar

em situação de dependência e isolamento, com

esta “educação para a saúde” é através de ações

os quais o visitador mais ativo poderá criar uma

de formação e sensibilização, constatamos,

relação de empatia e proximidade, baseada na

porém, que o impacto destas atividades é

regularidade dos encontros, no apoio mútuo e na

frequentemente reduzido por alguma dificuldade

partilha de afetos.

sentida pelo idoso de se autorretratar como tal –

Da sequência destes 3 vetores de diagnóstico,

o confronto com a fase final da vida e, por

surgiu a proposta de implementação do projeto-

consequência com a morte, traz associadas

piloto IdoVis - Idosos Visitadores de Outros

angústias que são muitas vezes descartadas por

Idosos.

evitamento. Uma pessoa mais velha só não

Neste estudo pretendeu-se avaliar o contributo

aplica o que aprendeu porque prefere pensar que

da implementação do projeto IdoVis, na redução

ainda não se dirige a ele; como se assim

da solidão dos idosos visitados e no aumento da

estivesse também a afastar a passagem do

qualidade de vida dos idosos visitadores.

essas

pessoas

na

antecipação

tempo e o próprio envelhecimento. Neste sentido, a hipótese de se utilizar a

MÉTODO

estratégia da formação reconhecendo o idoso como um cuidador e não como o objeto de

Foi realizado um estudo exploratório,

cuidados, poderá aumentar a sua capacidade de

longitudinal, com avaliação antes e após

retenção dos conteúdos, a interiorização dos

a implementação do Projeto IdoVis, com

conceitos e, em última análise, a sua aplicação

abordagem quantitativa e qualitativa.

no contexto da vida diária, incrementando assim o objetivo último de promoção da saúde no

O piloto do projeto IdoVis decorreu entre

processo de envelhecimento.

março e junho de 2016 e visou a criação

A somar a esta necessidade, também se

de um grupo de idosos independentes

destacou a necessidade de reforçar o programa

(apoiados pela Cáritas Diocesana de

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Coimbra nas respostas sociais de Centro de Dia

estabelecimento de interações positivas para

e Estrutura Residencial), visitadores de outras

ambos (visitadores e visitados);

pessoas

mais

idosas

em

situação

de

Promover o envelhecimento ativo e o

dependência (nas respostas sociais de Unidade

voluntariado entre pares;

de Longa Duração e Manutenção, Estrutura

Residencial para Idosos e Serviço de Apoio

acompanhamento de pessoas em situação de

Domiciliário).

dependência.

A

amostra foi constituída

por

16 idosos

Criar

ferramentas

de

apoio

ao

Com vista à consecução destes objetivos, foram

visitadores e 13 idosos visitados. Para a seleção

definidas as seguintes ações:

dos idosos visitadores e visitados foram definidos

1 - Criação do perfil do visitador e visitado, com

critérios de inclusão e exclusão. No que concerne

vista à seleção dos participantes;

aos idosos visitados, os critérios de inclusão

2 – Estabelecimento de parceria com a Escola

estabelecidos

e

Superior de Enfermagem de Coimbra e o

orientado; não receber visitas de cuidadores

Ageing@Coimbra com vista a proporcionar aos

informais;

participantes

foram:

estar

encontrar-se

consciente

em

situação

de

a

formação

e

capacitação

dependência; auto percecionar-se como solitário.

adequada para o efeito, através da lecionação

Os citérios de exclusão definidos foram os

dos seguintes conteúdos:

seguintes: ter problemas graves de saúde

a)

mental;

psicológicas e sociais. Nesta sessão formativa,

problemas

físicos

que

levem

à

Envelhecimento, alterações biológicas,

incapacidade de expressão/relação e ter apoio

dinamizada

familiar regular. Para os idosos que realizaram as

envelhecimento,

visitas, foram definidos como critérios de inclusão

Ageing@Coimbra,

serem

não

principais alterações decorrentes da idade,

expressão;

nomeadamente as patologias mais frequentes e

manifestarem interesse em participar no projeto.

as necessidades de cuidados que implicam. Foi

O critério de exclusão definido foi o de possuir

também abordada a gestão adequada da

problemas graves de saúde mental ou física que

terapêutica e o impacto da polimedicação na vida

fosse impeditivo de realizar as visitas.

das pessoas mais velhas.

Foram estabelecidos os seguintes objetivos para

b)

este projeto-piloto:

relacionais e importância dos afetos na saúde.

Nesta

autónomos

apresentarem

e

independentes;

dificuldades

de

Melhorar o estado emocional e afetivo de

por

um

perito,

na

área

pertencente foram

do ao

apresentadas

as

Humanização dos cuidados, técnicas

formação

foi

realizada

reflexão

e

pessoas em situação de dependência;

capacitação sobre como iniciar a relação no

momento do encontro entre visitadores e

Criar redes de suporte afetivo entre

idosos dependentes e independentes;

visitados, para evitar abordagens surpresa; a

importância

Capacitar os idosos visitadores com

técnicas

relacionais

que

permitam

o

dos

pilares

relacionais

(olhar,

palavra e toque), suas características e como devem ser utilizados para que a relação seja gratificante e benéfica para os dois interlocutores

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gratificante e benéfica para os dois interlocutores

Para avaliar os ganhos da implementação do

(visitadores e visitados); como se deve terminar

projeto foram aplicadas escalas validadas, antes

a relação, realizando a consolidação emocional,

e após a intervenção (capacitação através de

agradecendo à pessoa visitada o momento de

formação teórica e prática), por um profissional

relação e a importância da marcação do novo

da área da Psicologia.

encontro, para evitar sentimento de abandono

Para avaliar a qualidade de vida dos visitadores

(Simões, Salgueiro e Rodrigues 2012; Melo et al.,

aplicou-se

2017). Esta formação teve a participação de uma

Qualidade de Vida em Adultos Idosos da

perita na área das competências relacionais e da

Organização Mundial de Saúde (WHOQOL-Old

humanização através da implementação da

), na versão para português europeu, que inclui

Metodologia de Gineste Marescotti(® (MGM®),

28 itens, com escala de resposta tipo Likert de

também designada de Metodologia de Cuidado

cinco pontos (1-5) e é constituída por 7 facetas

Humanitude

(atividade, autonomia, família, função sensorial,

(Gineste

e

Pellissier,

2008),

o

Inventário

de

Avaliação

da

pertencente à Escola Superior de Enfermagem

intimidade, morte e participação social.

de Coimbra.

Para avaliar a solidão dos idosos visitados

c)

aplicou-se a Escala de Solidão da UCLA ,

Cuidados diários em estruturas de apoio

continuado / permanente;

adaptada para a população portuguesa por

3 - Estabelecimento de uma rotina de visitas

Barroso (2008). De acordo com este autor, esta

semanais,

acompanhamento

escala mostra-se válida, quer na avaliação da

permanente, pela equipa técnica das respostas

solidão, quer na discriminação entre solidão e

sociais das estruturas onde se realizou o piloto.

outros constructos relacionados. A adaptação

4 - Avaliação do impacto das visitas na qualidade

portuguesa engloba dezoito itens, avaliados

de vida dos visitadores e na solidão dos visitados

numa escala de escolha múltipla de quatro

5 - Elaboração de relatório do projeto-piloto e

pontos, indo desde “nunca” (1); raramente (2);

recomendações

“algumas vezes” (3) até “muitas vezes” (4). O

com

apoio

para

e

fases

posteriores

a

desenvolver.

score da escala situa-se entre os 18 e os 72

O principal resultado pretendido com o projeto-

pontos. Quanto mais elevado for o score final,

piloto relacionava-se com a prova de conceito da

maior é o nível de solidão. Nesta Escala a solidão

criação dos pares de idosos visitadores e idosos

é encarada enquanto estado psicológico e

visitados, visando-se aferir se existiriam ganhos

apreendida de modo unidimensional.

na melhoria da qualidade de vida, conhecimentos

2 – No final da implementação do projeto, foram

e sensação geral de bem-estar dos participantes

realizadas entrevistas sobre a perceção do

envolvidos,

e

impacto percecionado e a forma como se

escalabilidade do projeto, na rede Cáritas e no

sentiram depois da participação neste projeto,

exterior.

com o preenchimento de instrumentos criados à

com

vista

à

replicação

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com o preenchimento de instrumentos criados à medida que incluíram 2 tipos de dados: a)

“Thinking

aloud”,

tendo

por

RESULTADOS base

parâmetros de avaliação para visitados e

Os resultados do projeto apresentam-se em dois

visitadores:

níveis. A avaliação da implementação do IdoVis

Nos idosos visitadores foram avaliados os

foi realizada pelos participantes no que concerne

seguintes parâmetros:

às suas diferentes fases. A formação teórica foi

• Atividade e rotina

avaliada pelos visitadores e pela equipa técnica

• Conhecimentos sobre envelhecimento

presente nas sessões através de uma escala de

• Sentimentos e afetos

likert de 1 a 5 pontos, tendo sido pontuada em

• Crescimento pessoal

4,28 (Muito Bom).

• Perspetivas de continuidade Relativamente à satisfação global com o projeto Nos

idosos visitados, foram avaliados os

e com as visitas efetuadas a avaliação foi

seguintes parâmetros:

avaliada igualmente com uma escala de likert de

• Sentimentos e afetos

1 a 5 pontos, tendo ambos os parâmetros obtido

• Rotinas

uma média igual de 4,47 pontos (Muito Bom)

• Perspetivas de continuidade

junto dos participantes visitadores. Refira-se que apesar

do

resultado

global

idêntico,

4

A estas entrevistas acresceu a recolha de

participantes pontuaram de forma diferente o

conteúdos em 4 sessões de grupo realizadas

projeto e as visitas, mas o resultado final anulou

durante o projeto com os vários elementos da

as diferenças. A avaliação dos visitados foi de

equipa técnica e o grupo de visitadores, que

4,82 nas visitas e 4,64 quanto à satisfação com o

tiveram o objetivo principal de recolher e

projeto, ambos os resultados no âmbito do “Muito

trabalhar as perceções dos utentes envolvidos,

Bom”.

aferindo

e

No que concerne à avaliação do impacto do

reorientando eventuais pontos a melhorar. Todos

projeto, os resultados apresentados de seguida

estes

abrangem

as

dados

suas

maiores

qualitativos

dificuldades

foram

analisados

16

participantes

no

papel

de

segundo a técnica de análise de conteúdo de

visitadores, todos do sexo feminino e com uma

Bardin (2009).

idade média de 81,7 anos (entre o intervalo de 66 e 90 anos de idade) e 13 no de visitados, sendo

b)

Grelha de avaliação quantitativa do

92% do sexo feminino e com uma idade média

projeto, relativa a:

de 81,8 anos (entre o intervalo de 62 e 96 anos)

• Formação e formadores

que completaram o projeto-piloto e efetuaram a

• Satisfação global com visitas

totalidade do protocolo de avaliação.

• Satisfação global com o projeto e equipa.

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VOLUME 6. EDIÇÃO 3


Página 54

Relativamente aos utentes visitados, o índice

É, porém, também nas pessoas beneficiárias do

médio de solidão desceu de 40,85 para 35, sendo

serviço de apoio domiciliário que o impacto do

a descida mais acentuada no grupo de apoio

projeto mais se fez sentir, com uma quebra na

domiciliário (8 pontos) e no sexo feminino - 6

média de resultados da escala de solidão de 8

pontos de diferença por comparação com apenas

pontos. No que concerne aos resultados obtidos

2 nos participantes do sexo masculino. No

no único participante da resposta social Estrutura

entanto a diferença nos dois momentos não foi

Residencial (aumento de 14 pontos na escala de

estatisticamente significativa (p=,250). Tabela 1 - Resultados globais – idosos visitados

Analisando

por

solidão) deve ser referida a observação efetuada

resposta social, torna-se evidente que o índice de

pela Psicóloga da valência que o participante em

solidão é inicialmente mais elevado nas pessoas

questão tinha um quadro depressivo inicialmente

que

(43,27)

controlado que, por motivos externos, se agravou

comparativamente com as que estão integradas

no decorrer do projeto, o que provavelmente

em respostas institucionais (24; 31).

enviesou o resultado final obtido.

vivem

os

na

resultados

sua

detalhados

própria

casa

Tabela 2 - Resultados por resposta social – idosos visitados

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VOLUME 6. EDIÇÃO 3


Página 55

Avançando para os resultados obtidos no grupo

Da análise estatística verificou-se que há

dos visitadores, a média na escala WhoQol-Old

diferença estatisticamente significativa nos dois

subiu de 99,56 para 107,25.

momentos (antes e após) na função sensorial

No detalhe das diferentes áreas avaliadas, pode

(p=,000),

observar-se que as alterações mais relevantes se

(p=,008), Morte (p=,000) e Família (p= ,001).

Autonomia

(p=,021),

Atividades

deram nas atividades, autonomia e participação social. Tabela 3 - resultados globais - Idosos visitadores

Tabela 4 - resultados por área - idosos visitadores

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VOLUME 6. EDIÇÃO 3


Página 56

Na análise de conteúdo, realizada aos registos,

“Eu não desisto de fazer o que consigo”

ao longo dos 3 meses, sobre a opinião dos 16

(IND_C1_06)

visitadores

participantes,

as

“Desafia-me” (IND_C1_06)

seguintes

categorias:

de

“É uma das atividades que me deram que eu

emergiram dificuldade

comunicação com pessoas que não comunicam

gosto mais” (IND_C1_02)

verbalmente; sentimento de utilidade; criação de

“Eu estou a ensinar o meu visitado a mexer muito

laços

bem as mãos porque ele não tem força”

afetivos

com as

pessoas visitadas.

Apresentamos breves excertos de diálogos dos

(IND_C1_08)

idosos visitadores relativamente ao impacto

A capacidade de criar laços com o idoso visitado

percecionado por eles nos idosos visitados e a

manifestou-se um denominador comum entre

forma como se sentiram depois da participação

todos os participantes visitadores, conforme

neste projeto.

referido por eles:

Uma das maiores dificuldades reveladas pelos

“Ela quer logo agarra-me as mãos e eu ali fico”

idosos visitadores foi a comunicação, uma vez

(IND_C1_02)

que uma grande parte da amostra dos idosos

“Em vez de ser eu a fazer-lhe festas, ela é que

visitados tem dificuldade em se expressar

me faz a mim” (IND_C1_02)

verbalmente.

“Quer muito carinho, muitos beijinhos e muitas

Ainda

assim,

referem

que

conseguem detetar nos visitados uma vontade

festinhas” (IND_C1_11)

de receberem as suas visitas, carinhos e

“É muito carinhosa e faz-me muitas festinhas”

conseguem criar laços afetivos, conforme os

(IND_C1_11)

seguintes discursos:

“Ela pega-me na mão e quer que eu vá com ela

“Mesmo quando as pessoas não falam, só a

almoçar ou à casa de banho” (IND_C2_02)

companhia chega”; (IND_C1_06) “Não entendo o que ela diz, mas quando ela me

Discussão

vê começa logo a rir” (IND_C2_02)

A implementação do projeto IdoVis evidenciou

“Eu quero falar e não a entendo e custa-me. Mas

contributos positivos na redução da solidão das

ela compreende o que eu lhe digo” (IND_C2_02)

pessoas idosas visitadas, aumento da qualidade

“Fala muito bem, percebe tudo…mas não me vê”

de vida dos idosos visitadores, assim como

(IND_C1_11)

sentimento de utilidade e criação de afetos com

“Estive uns dias sem ir e elas perguntaram por

a pessoa idosa visitada. Estes dados vão ao

mim. Já sentem a falta de nós.” (IND_C1_03)

encontro de outros estudos que evidenciaram

Revelaram também sentimento de utilidade -

que a convivência entre pares estimula o

sentem-se úteis novamente - com capacidade de

sentimento de valorização, evitando o sentimento

empregar os conhecimentos que adquiriram e

de solidão e propiciando um aumento do bem-

manifestam

estar (Jacob, 2007; Torres e Marques, 2008). Os

persistência,

compromisso

e

vontade de continuar com as visitas no futuro,

idosos

conforme os discursos seguintes:

dificuldades no contacto com os idosos visitados,

JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951

visitadores

evidenciaram

algumas

nomeadamente a estabelecer comunicação com VOLUME 6. EDIÇÃO 3


Página 57

nomeadamente a estabelecer comunicação com

facilitadoras da interação com a pessoa cuidada,

pessoas que não o fazem verbalmente, Estes

permitindo aprender como iniciar, desenvolver e

resultados são corroborados com outros estudos,

terminar a relação (Gineste & Pellissier, 2008).

nos

Esta metodologia, através da profissionalização

quais

estabelecer

verificaram contacto

comunicativas

ou

dificuldades

com que

pessoas não

em pouco

comunicam

dos

pilares

relacionais

permite

evitar

abordagens-surpresa e o desencadeamento de

verbalmente (Melo et al. 2015). Ressalta na

comportamentos

literatura

aceitação da relação e da comunicação (Simões,

que

dadas

estas

dificuldades

defensivos,

facilitando

a

comunicacionais no cuidado e na relação não se

Salgueiro & Rodrigues, 2012).

potenciam as capacidades destas pessoas

Apesar do presente estudo ser um esforço

idosas,

inovador em contexto nacional e internacional,

neurologicamente prejudicado, da sua própria

existiu, desde a primeira hora, a convicção de

personalidade e entidade, minimizando as suas

que se refere a uma amostra de pessoas

capacidades e estatuto social (Hughes & Beatty,

limitada,

2013). Neste sentido, torna-se fundamental

heterogeneidade

ensinar e capacitar os cuidadores informais e

prestadora de cuidados). Não se pretendeu,

formais, que cuidam destas pessoas, com

porém, realizar uma avaliação inabalável das

técnicas

comunicacionais,

metodologias utilizadas, mas antes realizar uma

intervindo de forma intencional no sentido do

mera prova de conceito relativamente a um

desenvolvimento das competências relacionais

projeto-piloto, cuja avaliação permitisse a sua

fundamentais para a prestação de cuidados mais

replicação e escalabilidade, tanto dentro da

eficazes e mais humanizados (Melo & Raposo

própria instituição, como para a sua rede de

2007)

parceiros.

privando-se

relacionais

e

que

o

e

colmatem

indivíduo,

as

dificuldades

quer

em (e.g.

número, sexo,

quer

em

instituição

comunicacionais demonstradas. Destaca-se a

Mais do que a avaliação formal efetuada, foi a

evidência

da

satisfação dos participantes com o projeto que

Metodologia de Cuidado Humanitude Gineste-

decidiu a sua continuação / manutenção, que se

Marescotti®

em

mantém à data. Os resultados obtidos serão

pessoas dependentes e/ou com demência,

utilizados como justificação para a aplicação do

evitando comportamentos de agitação, oposição

conceito em 3 outras localizações da Cáritas

e recusa dos cuidados (Honda, 2016; Melo, et al.,

Diocesana de Coimbra durante o ano de 2018 e

2017). Esta metodologia, tendo como base os

serão passíveis de comparação com a avaliação

pilares relacionais, olhar, palavra e toque

que se venha a efetuar nos novos grupos.

apresenta

científica

(MGM®)

uma

procedimentos

da

efetividade

particularmente

sequência

estruturada

de

Com outros grupos em funcionamento será então

relacionais,

permitindo

ao

possível realizar uma avaliação extensiva e

cuidador formal ou informal sistematizar e

representativa,

operacionalizar a relação dando intencionalidade

conclusões relevantes, embora seja possível

a técnicas de comunicação verbal e não-verbal

admitir sem reservas que o presente estudo

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evidenciou

um

que

permita

contributo

extrapolar

positivo

da

VOLUME 6. EDIÇÃO 3


Página 58

evidenciou

um

contributo

positivo

da

Honda,

M.

(2016).

Cuidado

baseado

com

abordagem

na

implementação do projeto IdoVis na redução da

comunicação

multimodal:

solidão das pessoas idosas visitadas e aumento

Aplicação da informática e da inteligência artificial ao cuidado da pessoa com demência

da qualidade de vida dos visitadores. Como trabalho futuro está prevista a criação de um kit de implementação da iniciativa que contenha um manual prático de implementação,

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VOLUME 6. EDIÇÃO 3


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DEZEMBRO 2017

Resultados da Intervenção de Enfermagem Não-Farmacológica na Pessoa idosa com Dor Crónica: Revisão Sistemática da Literatura Outcomes of the Nursing Intervention at the level of Non-Pharmacological Measures in the Person with NonOncologic Chronic Pain: Systematic Review of Literature Resultados de la intervención de enfermería en las medidas no farmacológicas en la persona con dolor crónico no oncológico: Revisión Sistemática de la Literatura Autores César Fonseca 1 Ana Ramos 2, Catarina Barbosa 3,, Dulce Gonçalves 4,, Isabel Pão-Alvo 5, Maria Aurea Tobio 6 ,, Teresa Gonelha 7,, Vítor Santos 8, Isabel Nunes 9 1

PhD, Universidade de Evóra, Investigador POCTEP 0445_4IE_4_P, 2 PhD Student, 3,4,5,6,,7 RN, 8,9 CNS, MsC

Corresponding Author: cesar.j.fonseca@gmail.com

RESUMO Considerando o elevado número de pessoas que vivenciam dor crónica, com necessidade de cuidados diferenciados, torna-se necessário identificar as intervenções de enfermagem não-farmacológicas no controlo da dor e os ganhos em saúde. Como objectivo pretende-se identificar os indicadores da intervenção de enfermagem com recurso a medidas não farmacológicas, na pessoa com dor crónica não oncológica, com idade superior a 18 anos e inferior a 65 anos. Foi realizada uma pesquisa na EBSCO (CINAHL, MEDLINE), utilizando o método de PI[C]O, com recurso aos termos MeSH e os descritores foram: [(Nursing) AND (Outcomes) AND (Chronic pain)]. Os estudos selecionados foram os publicados de 2010 a 2016, num total de 61 artigos, dos quais foram extraídos e analisados criticamente 7. Os resultados da análise, permitem sintetizar a diversidade de intervenções não farmacológicas, como recursos dos enfermeiros no cuidar da pessoa com dor crónica, não oncológica: (1) Acupressão auricular; (2) Estimulação auditiva; (3) Manipulação da coluna cervical e torácica; (4) Massagem; (5) Atividade física; (6) Uso de roupa interior de lã; (7) Diálogo terapêutico e (8) Intervenções comportamentais. Ficaram patentes as melhorias significativas no controlo da dor, no aumento da capacidade funcional, na melhoria da qualidade de vida, na adaptação de estratégias eficazes, no controle de estados de desajuste psiclógicos e no aumento da literacia em sáude. Esta Revisão Sistemática da Literatura comprova os benefícios da integração de medidas não farmacológicas nas intervenções de enfermagem, em associação à terapêutica farmacológica. A efectividade comprovada permite concluir a necessidade de otimização das medidas não farmacológicas, nas intervenções de enfermagem em ambiente hospitalar e nos cuidados de saúde primários. Palavras-chave: Cuidados de Enfermagem, Intervenções Não-farmacológica, Dor crónica, Indicadores. ABSTRACT Considering the high number of people who experience chronic pain, in need of differentiated care, it is necessary to identify non-pharmacological nursing interventions in pain control and health gains. The objective of this study is to identify the indicators of nursing intervention using nonpharmacological measures in the person with chronic non-oncologic pain, aged over 18 years and under 65 years. We performed a search in EBSCO (CINAHL, MEDLINE), using the method of PI [C] O, using the MeSH terms and the descriptors were: [(Nursing) AND (Outcomes) AND (Chronic pain). The selected studies were those published from 2010 to 2016, in a total of 61 articles, from which they were extracted and critically analyzed 7. The results of the analysis allow us to synthesize the diversity of non-pharmacological interventions, such as the nurses' resources in caring for the person with chronic non-oncologic pain: (1) Auricular Point Acupressure; (2) Hearing stimulation; (3) Manipulation of the cervical and thoracic spine; (4) Great time (5) Physical activity; (6) Use of woolen underwear; (7) Therapeutic dialogue and (8) Behavioral interventions. Significant improvements in pain control, increased functional capacity, improved quality of life, adaptation of effective strategies, control of psychological maladjustment, and increased health literacy were evident. This Systematic Review of Literature demonstrates the benefits of integrating non-pharmacological measures into nursing interventions in association with pharmacological therapy. Proven effectiveness allows us to conclude the need for optimization of non-pharmacological measures in nursing interventions in the hospital environment and in primary health care. Keywords: Nursing Care, Interventions Non-pharmacological, Chronic Pain, Indicators.

JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951

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Página 60

INTRODUÇÃO

números avançados, as queixas mais frequentes

O ser humano vive em constante interação

são de dor lombar (32,9%) e dor cervical 24,1%.

com o meio e a sociedade, na expectativa de

De acordo com a Pain Proposal (2010),

estabelecer excelentes relações humanas com

projeto europeu desenvolvido para avaliar o

os seus semelhantes, alcançar melhor saúde e

impacto da dor crónica na Europa, afeta

qualidade de vida. Este patamar de bem-estar é

aproximadamente 36% da população portuguesa

muitas vezes rompido no confronto com uma

com mais de 18 anos. Desencadeia sofrimento

situação de doença.

de cerca de 3 milhões de indivíduos, com

Das múltiplas condicionantes no dia-a-dia

consequências na saúde, bem-estar, atividades

das pessoas que recorrem aos serviços de

de vida diária e desempenho profissional, o que

saúde, sobressai a dor crónica, definida pela OE

determina elevados custos para o sistema de

(2008), como sendo “prolongada no tempo,

saúde e para a economia nacional. Avaliou ainda

normalmente com difícil identificação temporal

o impato económico nas pessoas com dor

e/ou causal, que causa sofrimento, podendo

crónica, que estão ausentes do trabalho pelo

manifestar-se com várias características e gerar

menos 14 dias por ano, por baixa médica,

diversas situações patológicas”.

representando um valor superior a 290 milhões

Experiência

subjetiva,

complexa

e

multidimensional, frequentemente modulada por

de euros por ano, em custos salariais suportados pela segurança social.

fatores como a bagagem cultural, experiências

A dor tende a persistir e a ganhar autonomia

passadas, significado da situação, atenção, nível

própria, transformando-se em doença e fazendo-

de estimulação e contingências reforçadas.

se acompanhar por outros sinais de morbilidade,

Constitui, sem dúvida, a forma de dor com

nem sempre com causa conhecida, não sendo o

maiores

seu

repercussões

no

deterioração da qualidade

indivíduo, de

vida

pela e

alívio

exclusivamente

dependente

da

na

utilização de fármacos, nem tão pouco da

sociedade, pelos gravosos custos que acarreta

eficácia obtida na eliminação da referida e

(DGS, 2013)

eventual causa.

Segundo os resultados do Instituto Nacional

A pessoa com dor vivencia uma situação

de Estatística (INE) no que respeita ao Inquérito

única e particular, frequentemente confrontada

Nacional de Saúde de 2014, realizado em

com

conjunto com o Instituto Nacional de Saúde

ocultando o seu sentir e as suas necessidades,

Doutor Ricardo Jorge, abrangendo todo o

pela baixa auto estima, alteração da auto

território nacional, entre Setembro e Dezembro

imagem, comprometendo a relação com o outro

de 2014, mais de 5,3 milhões de pessoas

e com o meio envolvente.

residentes em Portugal com 15 ou mais anos de idade

(cerca

de

metade

da

isolamento,

com

evolução

silenciosa,

Enquanto profissional de saúde privilegiado

população

pela proximidade e tempo de contacto com o

portuguesa) referiram ter pelo menos uma

doente, o enfermeiro tem uma intervenção fulcral

doença crónica em 2014. De acordo com os

no

controlo

da

dor.

As

intervenções

de

enfermagem junto à pessoa com dor incluem a JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951

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avaliação, o controlo e o ensino, devidamente documentadas (OE, 2008).

METODOLOGIA A estratégia de pesquisa desenvolvida na

Cuidar do doente com dor constitui um

presente RSL, teve início na formulação da

desafio gratificante para o enfermeiro, detentor

questão

de conhecimentos especializados sobre várias

indicadores/resultados (O) da intervenção de

opções terapêuticas, com ênfase nas medidas

enfermagem

não

farmacológicas (I), na pessoa com dor crónica

farmacológicas.

O

controlo

da

dor

compreende as intervenções destinadas à sua

em

formato ao

nível

PI[C]O: das

Quais

medidas

os não

não oncológica (P)?

prevenção e tratamento, assim, sempre que o

Deste modo, foi realizada pesquisa, usando

enfermeiro identifique a provável ocorrência de

os termos MeSH e palavras-chave pela opção

dor ou avalie a sua presença deve intervir na

“full text”, com o recurso à base de dados

promoção de cuidados que a aliviam ou reduzam

eletrónica da EBSCO (MEDLINE, CINAHL) e dos

para níveis considerados aceitáveis pela pessoa

descritores: [(Nursing)

(OE, 2008).

(Chronic pain)]. Os estudos selecionados foram

AND (Outcomes) AND

O enfermeiro desenvolve intervenções não

publicados entre 2010 e 2016, pesquisados em

farmacológicas em complementaridade e não em

texto integral entre dezembro de 2016 e fevereiro

substituição da terapêutica farmacológica e estas

de 2017, tendo resultado um total de 61 artigos,

devem ser escolhidas de acordo com as

dos quais foram selecionados 7.

preferências

do

doente,

os

objetivos

do

Como critérios de inclusão, foram definidos

tratamento e a evidência científica Classifica as

artigos de enfermagem com incidência nas

intervenções não farmacológicas em físicas,

intervenções não farmacológicas, em pessoas

cognitivo - comportamentais e de suporte

adultas, com idade superior a 18 anos, com dor

emocional. (OE, 2008).

crónica

Esta problemática vai ao encontro da questão de

investigação:

Quais

os

indicadores

explícitos

não

oncológica,

associados

à

com

resultados

intervenção

de

enfermagem. Em relação aos critérios de

resultantes da Intervenção de Enfermagem ao

exclusão,

foram

eliminados

os

artigos

nível das medidas Não-Farmacológicas na

relacionados com dor aguda, dor oncológica,

Pessoa com Dor Crónica não oncológica? Deste

pessoas adultas com idade superior a 65 anos e

modo, define-se como objetivo para a presente

sobre intervenções farmacológicas. Excluíram-se

revisão sistemática da literatura (RSL): Identificar

ainda estudos em crianças e grávidas, sem

os indicadores da intervenção de enfermagem

correlação com a temática e todos os repetidos.

com recurso a medidas não farmacológicas, na

A avaliação dos níveis de evidência dos

pessoa com dor crónica não oncológica, com

artigos selecionados foi realizada segundo os

idade superior a 18 anos e inferior a 65 anos.

sete níveis de evidência propostos por Melnyk e Fineout-Overholt (2015).

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Página 62

APRESENTAÇÃO

E

DISCUSSÃO

DOS

RESULTADOS

selecionados e que constituem o ponto de

Na Quadro Nº 1 encontra-se a síntese de dados,

partida para a elaboração deste artigo e das

que engloba uma listagem com 7 artigos

conclusões retiradas.

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Página 63

Os resultados da análise dos artigos supra-

e relaxantes musculares com menos frequência,

referenciados na Tabela 2, permitem sintetizar a

que o grupo controle.

diversidade de intervenções não farmacológicas,

No Estudo de Panpanit (2015) e também

como recursos dos enfermeiros no cuidar da

corroborado pelos restantes autores, Programas

pessoa com dor crónica, não oncológica. O

de Educação que incluem estratégias para gerir

número

pressupõe

a dor e sintomas coexistentes, comportamentos

investimento acrescido nesta matéria, permitindo

de estilo de vida saudáveis e estratégias de

incrementar os dados recolhidos e torná-los

resolução de problemas, revelaram melhoria na

ainda mais credíveis na evidência resultante

funcionalidade e auto-gestão dos indivíduos.

desta RSL. Na pormenorização da análise, o

Realçam as diretrizes da American Pain Society,

estudo randomizado controlado de Kiyak (2012),

quanto à educação do doente, recomendada

avalia o benefício da utilização de roupa interior

como um primeiro passo essencial no controlo da

de lã em adultos com Lombalgia Crónica. Verifica

dor antes da intervenção farmacológica ou outras

que a lã tem uma maior capacidade de reter

formas de intervenção.

calor, em comparação com a fibra, melhorando a

Segundo Yeh (2015) no seu estudo, a mudança

tensão muscular, reduzindo desta forma a

de intensidade da dor, em pessoas com dor

intensidade de dor. Verificou melhoria na

lombar

funcionalidade nos adultos com Lombalgia

acupressão auricular, num programa de quatro

Crónica, com o calor produzido pelo uso de roupa

semanas, era notória. Verificou uma redução de

interior de lã. O grupo de tratamento relatou o uso

30% da intensidade da dor, logo após o primeiro

de analgésicos, anti-inflamatórios não-esteróides

tratamento e uma melhoria contínua de 44%, até

reduzido

de

artigos,

crónica,

através

da

aplicação

de

ao final do tratamento. JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951

VOLUME 6. EDIÇÃO 3


Página 64

O mesmo autor conclui que a acupressão

crónica

auricular é um tratamento eficaz, não invasivo,

submetido

sendo um método simples de alívio da dor.

complexidade,

A eficácia do procedimento combinado de

torácica e torácica, permitiu concluir que a maior

massagem

complexidade de manipulações resulta em maior

e

eletroterapia,

com

corrente

comparativamente a

manipulações na coluna

grupo

de

maior

cervical,

cervico-

redução

crónica não especifica de etiologia mecânica, foi

diminuição semelhante da dor cervical em ambos

o resultado do estudo de Lara-Palomo (2013). As

os grupos. Em ambos os grupos, ocorreu

escalas de avaliação foram aplicadas antes do

aumento da amplitude de movimento cervical.

tratamento e imediatamente após o último

O programa de acompanhamento multidisciplinar

tratamento

demonstraram,

de gestão da dor crónica, apresentado na revisão

melhoria significativa na incapacidade funcional,

de Dysvik (2011), demonstrou as evidências

no controlo da dor e na qualidade de vida.

substanciais que suportam o uso de abordagens

No estudo aleatório de Saavedra-Hernández

na Terapia Cognitiva Comportamental para a dor

(2013), com recurso a manipulações da coluna

crónica, na ajuda aos doentes, de modo a gerir

cervical em pessoas com dor cervical mecânica

mais eficazmente e melhorar a sua qualidade de

resultados

vida,

bem

incapacidade

um

interferencial, em pessoas com dor lombar

cujos

da

com

como

a

funcional,

capacidade

com

funcional

relacionada com a saúde.

CONCLUSÃO Cuidar do doente com dor crónica representa um

A dor é uma experiencia única e individual,

desafio

revestida de elevada complexidade, para a qual

e

uma

experiência

com

retorno de

não existe um único tratamento para todos os

enfermagem, pelos resultados obtidos com o

doentes e para todas as situações, podendo ser

recurso

útil recorrer a várias estratégias para conseguir

compensatório às

para medidas

o não

profissional

farmacológicas,

sustentadas na evidência científica. JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951

bons resultados (Elvin, Perry e Potter, 2005). VOLUME 6. EDIÇÃO 3


Página 65

As intervenções individualizadas de enfermagem

tratamento da pessoa com dor crónica de varias

ao nível das medidas não farmacológicas, são

etiologias.

desenvolvidas no âmbito de uma visão que

Apresentamos na Quadro Nº 3, de forma

integra a pessoa ao nível biopsicossocial,

sistemática,

capacitando-a e responsabilizando-a a envolver-

resultados/indicadores, agrupados nos domínios

se no seu processo de reabilitação.

apresentados

É do consenso, pautado pela literatura, que as

incluídos: Controlo da dor, Estado funcional,

intervenções não farmacológicas só por si não

Estratégias de adaptação eficazes, Qualidade de

substituem as intervenções farmacologias mas

vida,

que a combinação destas traz benefícios para o

Literacia em saúde.

JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951

Estados

o

resumo

pelos

de

dos

autores

desajuste

dos

principais artigos

psicológico e

VOLUME 6. EDIÇÃO 3


Página 66

No estado funcional revelou-se importante a

Fonseca J, Lopes M, Ramos A. (2013) - People

redução da incapacidade e mudanças positivas

with pain and intervention needs: systematic

no padrão de sono. Quanto à qualidade de vida,

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in

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and

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pain.

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level,

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study

appropriate

of

older

treatment

to

adults

seeking

self-manage

their

chronic pain in rural North-East Thailand. BMC

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M,

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Castro-Sánchez A, Fernández-de-las-Peñas C, et al. (2013)- Short-term effects of spinal thrust joint manipulation in patients with chronic neck pain:

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VOLUME 6. EDIÇÃO 3


Carretas, N., Fonseca, C. (2017) Modelo de autocuidado para pessoas em processo cirúrgico: ganhos dos cuidados de enfermagem de reabilitação, um Projeto de desenvolvimento de competências, Journal of Aging & Innovation, 6 (3): 68 - 74

ARTIGO ORIGINAL/ ORIGINAL ARTICLE

DEZEMBRO 2017

Modelo de autocuidado para pessoas em processo cirúrgico: ganhos dos cuidados de enfermagem de reabilitação, um Projeto de desenvolvimento de competências Self-care model for people in the surgical process: gains from rehabilitation nursing care, a skills development project Modelo de autocuidado para personas en proceso quirúrgico: ganancias de los cuidados de enfermería de rehabilitación, un Proyecto de desarrollo de competencias Autores Nídia Carretas 1 César Fonseca 2 1

MsC Student, RN, Hospital do Espirito Santo de Évora,

2

PhD, Universidade de Evóra, Investigador POCTEP 0445_4IE_4_P

Corresponding Author: cesar.j.fonseca@gmail.com

ENQUADRAMENTO

Segundo dados estatísticos oficiais do INE

Na sequência do planeamento da Unidade Curricular

em

cirurgias, nos hospitais portugueses, a duração

Enfermagem de Reabilitação, apresenta-se o

média de internamento foi de 6,9 dias nos

projeto “Modelo de autocuidado para pessoas em

hospitais gerais e de 35,2 dias nos hospitais

processo cirúrgico: ganhos dos cuidados de

especializados.

enfermagem de reabilitação, a ser desenvolvido

Embora o tratamento cirúrgico possa prevenir a

durante o Estágio Final, de 18 de setembro de

perda de vida ou de integridade física, está

2017 a 27 de janeiro de 2018, em duas áreas

associado

cirúrgicas distintas: Neurocirurgia e Cirúrgica

complicações cirúrgicas e a uma importante

Cardiotorácica.

causa de incapacidade funcional (Haynes et al,

No

Relatório,

mundo

do

atual,

face

Mestrado

(2017), em 2015 foram realizadas 910,6 mil

às

alterações

a

um

considerável

risco

de

2009; DGS, 2010). Dependendo da gravidade da

sociodemográficas, económicas e estruturais, a

doença,

dependência no autocuidado tem cada vez mais

observamos nos serviços onde se desenvolve

importância, existindo preocupações por parte

este projeto, pessoas com alterações ao nível

das politicas de saúde e sociais, na identificação

das funções do corpo, da estrutura do corpo (CIF

de pessoas em situação de dependência e na

2014; Rozzini, 2017; Ah et al, 2016; Malcato,

criação

2016; Pereira et al, 2016; Siqueira e Diccini,

de

necessidades

respostas

Pinto,

suas

idade,

tratamento cirúrgico é uma parte integrante dos

de participação (Amorin e Salimena, 2015). As

cuidados de saúde, com um valor estimado de

complicações pós-operatórias e incapacidades

234

cirúrgicas

impostas pelo processo cirúrgico, retardam a

realizadas anualmente (Haynes et al, 2009).

recuperação dos doentes, têm implicações na

intervenções

2013).

ou

2017; Wu et al, 2017) e ao nível das atividades

de

e

às

cirúrgico

O

milhões

(Ribeiro

ajustadas

procedimento

qualidade JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951

de

vida

e

na

capacidade

de

VOLUME 6. EDIÇÃO 3


Página 69

autocuidado (Amorin e Salimena, 2015; Araújo, Silva e Ramos, 2016).

enfermagem, quando apresentam incapacidade de

autonomia. Engloba três teorias inter-

Quando existe défice de autocuidado surge a

relacionadas, ou seja, a do autocuidado (que

necessidade de se desenvolver uma intervenção

descreve o porquê e como as pessoas cuidam de

terapêutica

ou

si próprias); do déficit de autocuidado (descreve

parcialmente compensatória ou de suporte-

e explica a razão pela qual as pessoas podem ser

educativa (Orem, 2001), onde as intervenções de

ajudadas

enfermeiros

da

sistemas de enfermagem (descreve e explica as

reabilitação, surgem com grande prioridade. Para

relações que têm de ser criadas e mantidas para

a OE (2010), o conceito de competências de

que se produza enfermagem) (Queirós et al,

enfermeiro especialista é coerente com os

2014).

domínios

a

qual

poderá

ser

especialistas

considerados

na

área

da

enfermagem)

e

dos

Os modelos de prática profissional de

Cuidados

enfermagem, fornecem uma estrutura para a

Gerais, isto é, o conjunto de competências

obtenção de resultados em saúde (Donabedian,

clinicas

do

2005), favorecendo ambientes que promovem

aprofundamento de competências do enfermeiro

uma prática profissional de qualidade (Ribeiro et

de cuidados gerais (Fonseca et al, 2017). Em

al, 2016). Deste modo, a estrutura conceptual do

todos os contextos da prática, a excelência da

modelo

Enfermagem de Reabilitação, traz ganhos em

Fonseca e Lopes (2014), baseando-se na Teoria

saúde,

do

enfermeiro

especializadas,

expressos

incapacidades capacidades

e

definição

através

das

competências

na

total

decorre

na na

de

de

autocuidado

desenvolvido

por

prevenção

de

de Dorothea Orem (2001) utiliza como conceitos

recuperação

das

centrais o autocuidado, a capacidade funcional e

a

capacidade conhecimento, sustentando-se no

remanescentes,

habilitando

pessoa a uma maior autonomia. Como área de

continuum

intervenção, de excelência e referência, esta

proposto pela CIF (2014) e ainda no modelo de

“previne, recupera e habilita de novo, as pessoas

qualidade de cuidados de Donabedian (2005).

vítimas de doença súbita ou descompensação de

Neste âmbito, formulámos a seguinte pergunta

processo

deficit

de investigação: quais os ganhos dos cuidados

funcional ao nível cognitivo, motor, sensorial,

de enfermagem de reabilitação, nas pessoas em

cardiorrespiratório,

processo cirúrgico, com base no modelo do

crónico,

que da

provoquem alimentação,

da

eliminação e da sexualidade, ajudando-as a criar

da

funcionalidade/incapacidade

autocuidado?

uma maneira de viver com sentido para elas e compatível com a sua situação” (Decreto-lei n.º

OBJETIVOS

119/15 de 22 de junho).

Para dar resposta a esta pergunta de partida,

A teoria do Autocuidado desenvolvida por

definiram-se três objetivos a atingir com a

Orem (2001) baseia-se na premissa de que os

realização deste projeto:

indivíduos podem cuidar de si próprios e obter

beneficio

processo cirúrgico;

com

o

cuidado

da

equipa

de

JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951

Avaliar a funcionalidade das pessoas em

VOLUME 6. EDIÇÃO 3


Página 70

 Aprofundar e adquirir competências na prestação

de

cuidados

de

enfermagem

necessários; avaliação dos cuidados prestados e

Enfermagem de Reabilitação à pessoa em

reformulação de intervenções. Estes cuidados

processo cirúrgico;

são

ganhos

de

específicos

de

de

 Definir

cuidados

adequada

intervenção

dos

produtores

de

resultados

em

saúde

(Donabedian, 2005). População alvo: Utentes internados nos

cuidados de enfermagem de reabilitação, em função dos diferentes níveis de funcionalidade,

serviços

de

Neurocirurgia

e

Cirurgia

com base no modelo de autocuidado.

Cardiotorácica com alterações na funcionalidade, que recebem cuidados de enfermagem de

METODOLOGIA

reabilitação pela autora. Instrumentos

A metodologia de cuidados a utilizar baseia-

de

colheita

de

dados:

se na teoria de médio alcance de Lopes (2006),

atendendo à natureza especifica da problemática

explicativa da relação Enfermeiro-doente, em

decidiu-se usar o instrumento Elderly Core Set

associação com a metodologia de cuidados,

(ENCS) e a medida de independência funcional

preconizada

do

(MIF). O instrumento ENCS é composto por 25

Exercício Profissional do Enfermeiro (OE, 2015).

itens considerados sensíveis aos cuidados de

Segundo Lopes (2006), a relação enfermeiro-

enfermagem, sendo seu objetivo, avaliar as

doente compreende dois elementos essenciais: o

necessidades de cuidados de enfermagem e os

processo de avaliação diagnóstica e o processo

seus resultados. A resposta a cada um dos itens

de intervenção terapêutica. Segundo este autor,

é feita segundo uma escala tipo Likert com 5

no primeiro processo, o enfermeiro avalia a

pontos (1. NÃO há problema: 0-4%; 2. Problema

situação do doente, o que este sabe, o que o

LIGEIRO: 5-24%; 3. Problema MODERADO: 25-

preocupa, que estratégias e capacidades possui.

49%; 4. Problema GRAVE: 50-95%; 5. Problema

Posteriormente, o processo de intervenção

COMPLETO: 96-100%) (Fonseca et al, 2017). A

terapêutica engloba a totalidade da intervenção

sua aplicação será efetuada em três momentos

do enfermeiro, dirigida ao doente e família, bem

distintos: na avaliação inicial, aproximadamente

como à interface destes com o grupo e a

ao

organização. Concretiza-se através da gestão de

alta/transferência.

sentimentos e a gestão de informação (Lopes,

Com indicadores sensíveis, apresenta como

2006). Assim na metodologia de cuidados

propriedades psicométricas uma variância total

definida pela OE (2015), sequencialmente deve

explicada de 66,46% kaiser-meyer-olkin (KMO)=

também ocorrer: a identificação dos problemas

0.923, demonstrando a elevada correlação inter-

de saúde do individuo, a recolha e apreciação de

intens da escala. Serão medidas as seguintes

dados sobre a situação que se apresenta; a

dimensões:

formulação do diagnostico de enfermagem;

especificas),

elaboração/realização

cardiovascular,

também

no

de

Regulamento

planos

para

a

prestação de cuidados; a execução correta e JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951

fim

de

48horas

funções dor, do

e

no

mentais funções

momento

(globais do

aparelho

da

e

aparelho respiratório,

comunicação, autocuidados, mudar e manter a

VOLUME 6. EDIÇÃO 3


Página 71

posição, transportar, mover e manusear objetos,

máxima possível de se obter é de 126 e a mínima

andar e deslocar-se, Relacionamentos pessoais

de 18. O score total da MIF é calculado a partir

interpessoais (Fonseca, 2013).

da soma de pontos atribuídos em cada item,

Será aplicada a MIF, versão Portuguesa, que a

dentro das categorias. (Ordem, 2016).

Direcção-Geral da Saúde recomenda na sua

Serão ainda recolhidos dados através de notas

norma nº 054/2011 de 27/12/2011. Igualmente é

de campo e dos planos de cuidados, elaborados

utilizada na avaliação inicial, ao fim de 48 horas

para cada utente, com todas as intervenções

aproximadamente e no momento da alta/

implementadas.

transferência. Esta escala encontra-se traduzida

Tratamento de dados: para análise dos dados

para a língua Portuguesa mas desconhece-se a

referentes ao instrumento ENCS (2013) e MIF

sua validação (Ordem, 2016).

(2011), será utilizado o programa informático de

A

utilização

da

objetivo

análise estatística, Statistical Package for the

diagnosticar o grau de capacidade/incapacidade

Social Sciences, SPSS, versão 24. Os dados

funcional, avaliar o desempenho da pessoa e a

resultantes

necessidade

submetidos à análise de conteúdo de Bardin

de

MIF

terá

cuidados

como

exigida

para

a

das

notas

de

campo,

serão

realização de uma série de tarefas motoras e

(2011).

cognitivas de vida diária. Será usada para

Resultados

monitorizar a evolução da pessoa durante os

dependência nos autocuidados; Aumento da

cuidados de reabilitação, bem como a eficiência

funcionalidade na pessoa em processo cirúrgico;

e

eficácia

do

programa

de

esperados:

Diminuição

da

reabilitação

estabelecido para a pessoa em processo

Considerações éticas: Segundo Nunes (2013)

cirúrgico.

Trata-se de um instrumento de

fazendo menção às diretrizes éticas para a

avaliação constituído por 18 itens dos quais 6 se

investigação em Enfermagem, existem seis

referem aos Autocuidados (Alimentação; Higiene

princípios que nos devem guiar: Beneficência;

Pessoal; Banho; Vestir metade superior do

Avaliação da maleficência, Fidelidade, Justiça,

corpo; Vestir metade inferior do corpo; Utilização

Veracidade e Confidencialidade. Considerando

do sanitário), 2 ao Controlo de esfíncteres

estes

(Controle de urina; Controle das fezes), 3 a

deontológicos estabelecidos para a Enfermagem

Mobilidade/Transferências

cadeira,

algumas medidas serão adotadas. O presente

cadeira de rodas; Sanitário; Banheira, chuveiro),

projeto será sujeito à Comissão de Ética para as

2 a Locomoção (Marcha/cadeira de rodas;

Ciências da Saúde da Universidade de Évora. No

Escadas), 2 a Comunicação (Compreensão;

intuito da salvaguarda da confidencialidade e

Expressão) e 3 a Cognição Social (Interação

anonimato, os instrumentos de colheita de dados

social; Resolução de problemas; Memória). Cada

serão codificados com um número, cuja chave

um dos itens tem com uma cotação máxima de 7

será unicamente do conhecimento e guardados

e uma cotação mínima de 1. A pontuação

pela aluna. Os dados serão apresentados de

(Leito,

princípios

éticos

e

os

preceitos

forma que nenhum dos participantes no estudo JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951

VOLUME 6. EDIÇÃO 3


Página 72

possa ser reconhecido. Será explicado aos

Direção Geral de Saúde (2010). Linhas de

utentes o procedimento associado ao tratamento

orientação para a segurança cirúrgica da OMS

e armazenamento dos dados, bem como a

Cirurgia Segura Salva Vidas. Disponível em:

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ARTIGO ORIGINAL/ ORIGINAL ARTICLE

DEZEMBRO 2017

Ganhos sensíveis aos cuidados de Enfermagem de Reabilitação à pessoa dependente no autocuidado com comorbilidade, um Projeto de desenvolvimento de competências Gains sensitive to Rehabilitation Nursing care to the person dependent on self-care with comorbidity, a skills development project Las ganancias sensibles a los cuidados de enfermería de rehabilitación a la persona que dependen de autocuidado con comorbilidad, un proyecto de desarrollo de habilidades Autores António José Marmelo Lista 1 César Fonseca 2 1

MsC Student, RN, UCCI de Alter do Chão,

2

PhD, Universidade de Evóra, Investigador POCTEP 0445_4IE_4_P

Corresponding Author: cesar.j.fonseca@gmail.com

ENQUADRAMENTO

predomínio físico, motor ou multideficiência

No âmbito da Unidade Curricular Relatório, do

congénita e adquirida” promovendo a máxima

Curso

Enfermagem,

funcionalidade, valorizando e potenciando as

Especialização em Enfermagem de Reabilitação

capacidades de cada indivíduo (CMRA, 2015). O

da Escola Superior de Enfermagem São João de

serviço de Medicina I do Hospital do Espírito

Deus, da Universidade de Évora, é apresentado

Santo de Évora (HESE), E.P.E., orienta a sua

o projeto “Ganhos sensíveis aos cuidados de

prática na prestação de cuidados de saúde

Enfermagem

pessoa

diferenciados, adequados e em tempo útil,

dependente no autocuidado com comorbilidade”

garantindo padrões elevados de humanização,

a ser desenvolvido durante o Estágio Final, de 18

desempenho

de Setembro de 2017 a 27 de Janeiro de 2018,

eficiente gestão de recursos (HESE, 2017).

no Serviço I de Reabilitação de Adultos do Centro

Ao longo da vida o ser humano experimenta

de Medicina de Reabilitação de Alcoitão (CMRA)

diferentes níveis de autonomia, deparando-se

e Serviço de Medicina I do Hospital do Espírito

com eventos que lhe causam dependência,

Santo de Évora (HESE), E.P.E. As instituições

particularmente em situações de doença crónica

onde decorrerá este projeto cuidam de pessoas

(Queirós, Vidinha, & Filho, 2014). Da mesma

com diferentes graus de dependência, com duas

forma, à medida que o indivíduo amadurece,

ou mais doenças crónicas coexistentes, sendo as

adquire competências para a sua autonomização

cerebrovasculares, respiratórias, metabólicas e

e

lesões vertebro-medulares, as mais prevalentes

(Queirós et al., 2014). Quando a condição

(CMRA, 2015; HESE, 2017). Assim, o CMRA

humana ou o ambiente envolvente se alteram, a

define a sua atuação na “reabilitação pós-aguda

capacidade de autocuidado do indivíduo está

de

comprometida e este não é capaz de cuidar de si

de

pessoas

Mestrado

de

em

Reabilitação

portadoras

de

à

deficiência

de

desenvolve

técnico-científico

capacidade

de

e

eficaz

e

autocuidado

próprio, necessitando de agentes de autocuidado JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951

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Página 76

(Queirós

o

em Enfermagem de Reabilitação, 2015). Desta

envelhecimento da população mundial e a sua

forma particular, o Enfermeiro Especialista em

crescente longevidade nas últimas décadas,

Enfermagem de Reabilitação, cuida de pessoas

originou uma maior suscetibilidade da pessoa ao

com necessidades especiais, ao longo do ciclo

desenvolvimento de múltiplas doenças crónicas

de vida, em todos os contextos da prática de

(Fabbri et al., 2015; Lobo, Santos, & Gomes,

cuidados, “capacita a pessoa com deficiência,

2014). A comorbilidade, ou seja, a coexistência

limitação

de duas ou mais doenças crónicas, num mesmo

funcionalidade (Regulamento n.º 125/2011).

indivíduo,

a

A conceptualização do autocuidado é iniciada em

com

1956 por Dorothea Orem (2001), através da

condição

et

al.,

2014).

tornou-se clínica

Por

sua

reconhecida mais

vez,

como

comum,

da

maximiza

vida, no declínio funcional do indivíduo, levando

Autocuidado. A autora (2001) considera uma

a um aumento da utilização dos cuidados de

teoria geral composta por três teorias inter-

saúde (Fabbri et al., 2015). Está associada a

relacionadas: a Teoria do Autocuidado, que

piores resultados de saúde, difícil gestão clínica

descreve o porquê e como as pessoas cuidam de

e

&

si próprias; a Teoria do Défice de Autocuidado,

Salisbury, 2009). Em 2015, cerca de 70% do total

que descreve e explica a razão pela qual as

de mortes está associada aos quatro principais

pessoas

grupos de doenças crónicas não transmissíveis:

enfermagem e a Teoria dos Sistemas de

doenças do sistema circulatório, neoplasias,

Enfermagem, que descreve e explica as relações

doenças do sistema respiratório e doenças

que têm de ser criadas e mantidas para que se

endócrinas, nutricionais e metabólicas (WHO,

produza enfermagem (Tomey & Alligood, 2002).

2017).

Orem (2001), define o autocuidado como a

Neste contexto, o enfermeiro atua como agente

prática de atividades que uma pessoa inicia e

de autocuidado, num continuum saúde-doença,

realiza deliberadamente, para manter a sua vida,

tendo o objetivo de “prestar cuidados de

saúde e bem-estar. Afirma que o autocuidado é

enfermagem a todo o ser humano” de forma que

uma conduta aprendida e que resulta de

“mantenham, melhorem e recuperem a saúde,

experiências cognitivas, culturais e sociais. Na

ajudando-os a atingir a sua máxima capacidade

sua teoria, o autocuidado é representado por dois

funcional.” (Decreto-Lei n.º 161/96). O Curso de

conceitos distintos, correlacionados: o agente de

Mestrado

de

autocuidado, e o conceito de comportamento de

especialização em Enfermagem de Reabilitação,

autocuidado (Orem, 2001). O autocuidado tem

surge na sequência da diferenciação técnico-

sido

científica do enfermeiro, com o objetivo de intervir

percebida e/ou a performance da pessoa em

junto da pessoa com dependência funcional,

desenvolver ações ou comportamentos que

através da capacitação e promoção da qualidade

tenham

de vida (Assembleia do Colégio da Especialidade

manutenção da saúde, a prevenção e gestão da

em

(Valderas,

Enfermagem,

na

Sibbald,

área

do

Défice

a

Teoria

elevados

Enfermagem

e

consequências na diminuição da qualidade de

custos

de

actividade”

podem ser ajudadas

operacionalizado

como

como

finalidade

a

através

a

de

da

capacidade

promoção

e

doença ou das mudanças nas funções corporais, JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951

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Página 77

sendo considerado um resultado sensível aos

centrais de autocuidado, a capacidade funcional

cuidados de enfermagem (Fonseca & Lopes,

e capacidade conhecimento, sustentando-se no

2014; Schub, 2012; Renpenning, SozWiss,

continuum

Denyes, Orem & Taylor, 2011; Hohdorf, 2010;

definido pela Classificação Internacional de

Graham, 2006). As intervenções em saúde

Funcionalidade (WHO, 2004) e no modelo de

direccionadas para situações de dependência no

qualidade de cuidados de Donabedian (2005).

autocuidado associam-se a uma melhoria do

Neste âmbito definimos a pergunta de partida

desempenho das atividades básicas de vida e

que conduzirá esta investigação: “Quais os

instrumentais (Griffiths et al., 2001), continência

ganhos sensíveis aos cuidados de Enfermagem

de esfíncteres (Griffiths et al., 2001), otimização

de Reabilitação em pessoas dependentes com

do estado nutricional (Oliveira, Fogaça, &

comorbilidade?”

Leandro-Merhi,

2009),

objectivos: Avaliar a funcionalidade das pessoas

adversos

como quedas,

(tais

controlo

de

efeitos

úlceras

por

da

funcionalidade/incapacidade

Este

projeto

tem

como

com comorbilidade; Aprofundar e desenvolver

pressão, infeções) (Aguiar, Caliri, Costa, &

competências

Oliveira, 2012; Henriques, 2011), prevenção de

especializados de Enfermagem de Reabilitação;

estados

Avaliar os ganhos sensíveis aos cuidados de

de

desajuste

psicológico

(Ogata,

na

de

prestação

Hayashi, Sugiura, & Hayakawa, 2015) e melhoria

Enfermagem

Reabilitação

na qualidade vida (Fonseca & Lopes, 2014). É

dependentes com comorbilidade

de

em

cuidados

pessoas

descrito ainda o impacto na redução do tempo de internamento e re-hospitalização (Oliveira et al., 2009;

Poochikian-Sarkissian,

Wennberg,

METODOLOGIA

&

Com base na metodologia de cuidados

Sidani, 2008), satisfação com os cuidados de

descrita por Lopes (2006), existem duas fases

saúde (Fonseca, Ferreira, Ramos, Lopes &

distintas da relação entre enfermeiro e utente:

Santos, 2017); redução da taxa de morbilidade e

fase de processo de avaliação diagnóstica e fase

mortalidade em cuidados de longa duração (Yeh

de intervenção terapêutica de enfermagem.

et al., 2014) e redução dos custos em saúde

Segundo o autor (2006), numa primeira fase o

(Oliveira, et al., 2009; Poochikian-Sarkissian, et

enfermeiro avalia a situação do doente, o

al., 2008).

conhecimento que tem, o que o preocupa, que

Os modelos de prática profissional de

estratégias e capacidades possui. Na fase de

enfermagem, facultam uma estrutura para a

intervenção

obtenção de resultados em saúde (Donabedian,

intervenções do enfermeiro, dirigidas ao doente e

2005), de forma a favorecer ambientes que

família, bem como à interface destes com o grupo

promovam uma prática profissional de qualidade

e a instituição. Materializa-se através da gestão

(Ribeiro, Martins & Tronchin, 2016). Deste modo,

de sentimentos e a gestão de informação (Lopes,

o modelo de autocuidado desenvolvido por

2006). Esta metodologia está implícita também

Fonseca & Lopes (2014), baseando-se na Teoria

no Regulamento do Exercício Profissional do

de Dorothea Orem (2001), utiliza os conceitos

Enfermeiro

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terapêutica

(Decreto-Lei

englobam-se

n.º104/98),

as

quando

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Página 78

defende que uma metodologia de cuidados

respiratório, comunicação, autocuidados,

tem por fundamento “uma interacção entre

mudar e manter a posição, transportar,

enfermeiro e utente” e atua com base num

mover e manusear objetos, andar e

processo que envolve: identificação dos

deslocar-se, relacionamentos pessoais e

problemas de saúde; recolha de dados;

interpessoais (Fonseca & Lopes, 2014).

formulação do diagnóstico de enfermagem;

Segundo a DGS (2011), a MIF tem por

elaboração

de

cuidados;

objetivo

e

avaliação

incapacidade funcional e o desempenho da

(Decreto-Lei n.º104/98), permitindo que

pessoa nas necessidades de cuidados para

estes cuidados se tornem produtores de

as funções motoras e cognitivas da vida

resultados em saúde (Donabedian, 2005).

diária. A população alvo deste projeto serão

Projeto aprovado pela Comissão de Ética

os utentes internados no Serviço I de

para a Investigação Cientifica nas áreas da

Reabilitação de Adultos do CMRA e Serviço

saúde

de Medicina I do HESE, com alterações na

execução

de dos

planos cuidados

Humana

e

Bem-estar

da

Universidade de Évora, número 18058.

avaliar

funcionalidade associadas,

Instrumentos de colheitas de dados

a

capacidade

e alvos

e

comorbilidades de

cuidados

de

enfermagem de reabilitação.

A recolha de dados será realizada através de notas de campo, relatos da experiência,

Tratamento de dados

planos de cuidados e a utilização dos

Para análise dos dados referentes ao

instrumentos Elderly Nursing Core Set

instrumento ENCS (Fonseca & Lopes,

(ENCS) (Fonseca & Lopes, 2014) e a

2014) e MIF (DGS, 2011), será utilizado o

Medida de Independência Funcional (MIF)

programa informático de análise estatística,

(DGS, 2011), para avaliação funcional em

Statistical Package for the Social Sciences,

fases distintas deste projeto. O ENCS

(SPSS). Os dados resultantes das notas de

demonstra um alpha global de Cronbach de

campo e relatos de experiência, serão

0.950,

submetidos à análise de conteúdo de

o

que

traduz

uma

excelente

fiabilidade para os 25 itens apresentados

Bardin (2011).

(Fonseca & Lopes, 2014). Por via da análise fatorial

de

componentes

principais,

Considerações éticas

apresenta uma variância total explicada de

Ao longo do desenvolvimento deste projeto,

66,46% kaiser-meyer-olkin (KMO) = 0.923,

garantir-se-á a presença permanente dos

demonstrando a elevada correlação inter-

princípios e valores da dignidade, justiça,

itens

as

equidade, solidariedade, participação e

seguintes dimensões: funções mentais

ética profissional, de acordo com Momberg

(globais e específicas), dor, funções do

(1998). O presente projeto será sujeito à

aparelho

Comissão de Ética para as Ciências da

da

escala.

Serão

cardiovascular,

medidas

do

aparelho

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Página 79

Saúde

da

Universidade

de

Évora

para

Decreto-Lei

n.º

161/96:

Regulamento

do

apreciação e confirmação de que todos os

Exercício Profissional dos Enfermeiros. Alterado

direitos dos participantes são salvaguardados,

pelo Decreto-Lei nº104/98, de 21 de Abril.

nomeadamente o direito do doente de receber toda a informação acerca do estudo, qual a

Direcção-Geral

finalidade

Acidente

e

objetivos

do

mesmo.

Aos

da

vascular

Saúde

(DGS)

cerebral:

(2011).

Prescrição

de

participantes e/ou familiares, serão explicados os

medicina física e de reabilitação. Direção-Geral

objetivos

de Saúde, 054/2011, 1–19. Disponível em

do

relativamente

projeto ao

e

dadas

anonimato

garantias e

à

confidencialidade dos dados. Adicionalmente,

file:///C:/Users/Ant%C3%B3nio%20Lista/Downlo ads/i016752%20(11).pdf

será explicado o procedimento associado ao tratamento e armazenamento dos dados, bem

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participação. Os instrumentos de colheita de dados serão codificados, cuja chave será

Fabbri, E., Zoli, M., Gonzalez-Freire, M., Salive,

unicamente do conhecimento

M. E., Studenski, S. A., & Ferrucci, L. (2015).

do

aluno

e

guardado por este.

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VOLUME 6. EDIÇÃO 3


Oliveira, A. et al. (2017) Associação entre perda auditiva e autopercepção do handicap auditivo em pessoas idosas, Journal of Aging & Innovation, 6 (3): 82 - 95

ARTIGO ORIGINAL/ ORIGINAL ARTICLE

DEZEMBRO 2017

Associação entre perda auditiva e autopercepção do handicap auditivo em pessoas idosas Association between hearing loss and self-perception of the hearing handicap in older persons Asociación entre pérdida auditiva y autopercepción del handicap auditivo en personas mayores

Autores Anamélia Oliveira 1, Carina Dantas 2, Ana Luísa Jegundo 3, Ana Filipa Carvalho 4 1

MsC, Saúde Pública, Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, 2 Directora do Departamento de Inovação da Cáritas

Diocesana de Coimbra, 3 Gestora de Projectos da Cáritas Diocesana de Coimbra, 4 Audiologista da OuviSonus – Centro de Audiologia

Corresponding Author: anameliaalmeida@hotmail.com

Resumo A perda auditiva é uma condição comum associada à senescência e é considerada um problema crescente, dado o envelhecimento demográfico das populações. Objetivo: o presente trabalho tem como objetivo verificar a existência de associação entre a perda auditiva e a autoperceção de handicap auditivo em pessoas idosas. Métodos: Foi realizado um estudo transversal, descritivo e de natureza quantitativa com uma amostra de conveniência de 23 participantes, com idades igual ou superior a 60 anos. Resultados: O estudo demonstrou que o “handicap significativo” foi superior para o sexo feminino (35,3%) e a percentagem de “handicap significativo” foi superior na “hipoacusia de grau moderado – Grau I” (21,7%) e na “hipoacusia de grau moderado – Grau II” (17,4%), contudo não foram observadas associações estatisticamente significativas entre perda auditiva e handicap auditivo nos idosos. Conclusão: A implementação de estratégias de promoção da saúde auditiva, bem como o diagnóstico precoce e reabilitação destas condições, pode reduzir ou minimizar o impacto das perdas auditivas em pessoas idosas.

Palavras-chave: audição; autoavaliação; audiometria; envelhecimento; presbiacusia.

Abstract Hearing loss is a common condition associated with senescence and ut is considered a growing problem, given the demographic ageing of populations. Objective: this study aims to verify the association between hearing loss and selfperceived hearing handicap in older persons. Metodology: A cross-sectional, descriptive and quantitative study was carried out with a convenience sample of 23 participants aged 60 or over. Results: The study showed that the "significant handicap" was higher for females (35.3%) and the "significant handicap" percentage was higher in "moderate-grade hypoacusis Grade I" (21.7%) and in "moderate-grade hypoacusis - Grade II" (17.4%), however, no statistically significant associations were found between hearing loss and self-perceived hearing handicap in the older persons. Conclusion: The implementation of strategies to promote hearing health, as well as the early diagnosis and rehabilitation of these conditions

Autores may reduce or minimize the impact of hearing loss among older persons. Dados curriculares

Keywords: hearing; self-evaluation; ageing; presbycusis; health services for the aged

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Introdução

Em

A presbiacusia é um termo conhecido para

Portugal

existem

poucos

dados

referentes à prevalência deste problema, mas

designar a perda auditiva associada ao processo

segundo

investigações

realizadas

esta

de envelhecimento e é caracterizada por uma

prevalência não é muito diferente de achados

perda auditiva bilateral, simétrica e progressiva

internacionais, observando-se crescente perda

(Dalton, et al. 2003; Heine e Browning, 2002),

de audição a partir dos 65 anos, uma realidade

principalmente para sons de alta frequência, e

presente em grande parte dos idosos.

dificuldade na compreensão da fala (Araujo e

Almeida e Falcão (2009) verificaram, com base

Iório, 2014)

no 4º Inquérito Nacional de Saúde, a existência

A perda auditiva é uma condição comum

de um aumento da percentagem de indivíduos

associada à senescência e é considerada um

com incapacidade auditiva relacionada com o

problema relevante e crescente, podendo vir a

aumento da idade, encontrando-se 34,3% no

tornar-se um grande problema de saúde pública

grupo etário 75 e mais anos. Contudo, este

considerando o aumento da esperança média de

inquérito ainda não permite incorporar uma

vida e o consequente envelhecimento da

componente

população (Liu e Yan, 2007). O impacto da perda

audiometria poderia ser incluída, pelo que a

auditiva pode ser profundo, com consequências

grande dimensão da amostra estudada apenas

para o bem-estar social, funcional e psicológico

permitiu produzir estimativas da prevalência de

da pessoa idosa (Ciorba, et al. 2012).

incapacidade auditiva auto-declarada.

Diversos

estudos

demonstram

que

de

observação,

em

que

a

a

presbiacusia pode ter um efeito negativo sobre a

Segundo Ciorba et al. (2012) o diagnóstico da

qualidade de vida e o bem-estar psicológico -

presbiacusia, atualmente, inclui o histórico

isolamento social, depressão, ansiedade e

familiar, a história de início e progressão da perda

mesmo declínio cognitivo foram relatados em

auditiva e os resultados de testes audiométricos,

pessoas afetadas (Dalton, et al. 2003; Heine e

que

Browning, 2002).

comprometimento.

Em

estudo,

grau

de

demonstrado que a presbiacusia afeta 40% da

fornecer informações sobre as capacidades

população com mais de 75 anos de idade. Outro

auditivas do indivíduo, contudo estes testes

estudo sobre distúrbios auditivos, realizado no

limitam-se apenas a identificar o grau e tipo da

Reino Unido em 1995, revelou que 20% dos

perda auditiva (Rosis, et al. 2009). Segundo

adultos apresentavam algum grau de deficiência

Veras (2007), é comum existir uma perda auditiva

auditiva,

75%

significativa com pouca queixa em relação ao uso

apresentava-se em indivíduos com mais 60 anos

funcional da audição, bem como é possível

de idade (Dalton, et al. 2003; Tremblay e Ross,

encontrar perda auditiva leve com elevado índice

2007).

de perceção de desvantagem auditiva.

deste

Unidos,

o

Os exames audiomé¬tricos são responsáveis por

que

Estados

determinar

foi

sendo

nos

permitem

total,

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Desta forma, torna-se necessário a avaliação

A recolha dos dados foi realizada no período

do modo em que a perda auditiva afeta os

compreendido entre junho de 2016 e outubro de

aspetos emocionais e sociais do indivíduos, este

2016. O projeto de investigação foi realizado no

tipo de observação pode ser realizada por meio

âmbito do projeto GrowMeUp (financiado pelo

da aplicação de questionários de auto-avaliação,

programa H2020, ao abrigo do Grant Agreement

como o Hearing Handicap Inventory for the

n.º 643647, liderado pela Universidade de

Elderly - HHIE (Rosis, et al. 2009; Ventry &

Coimbra), uma vez que a problemática auditiva

Weinstein, 1982).

demonstrou

A pesquisa da capacidade de audibilidade e da autoperceção da desvantagem auditiva

ser

um

dos

obstáculos

mais

prementes à utilização de tecnologias, com sistema de diálogo, por parte dos idosos.

permite uma avaliação mais completa do perfil

Os critérios de inclusão da população no

audiológico de cada indivíduo, possibilitando

estudo foram os seguintes: idade igual ou

assim um trabalho de reabilitação individualizada

superior a 60 anos, ambos os sexos, queixa

e, consequentemente, um maior ganho de

auditiva,

qualidade de vida.

Amplificação

não

utilização Sonora

de

Aparelho

Individual

e

(AASI),

As investigações epidemiológicas relativas à

assinatura do Termo de Consentimento Livre e

perda de audição em idosos são bastante

Esclarecido (TCLE) e aceitação para participar

escassas em Portugal, existindo uma clara

do estudo de forma voluntária. Foram excluídos

necessidade em melhorar a compreensão dos

do

profissionais da saúde acerca da etiologia e

limitações cognitivas que impossibilitassem o

prevalência

preenchimento dos questionários.

desta

alteração

e

identificar

estudo

os

idosos

que

apresentavam

intervenções para melhorar a saúde, relacionada

O estudo consistiu em duas fases de recolha

com a audição, bem como a qualidade de vida

de informação. Na primeira fase foram utilizados

dos idosos. Face ao exposto, o presente trabalho

dois instrumentos para recolha de dados: (1)

tem como objetivo verificar se existe associação

anamnese

entre a perda auditiva e a autopercepção de

Desvantagem Auditiva para Idosos (P-HHIE). Na

handicap nos idosos.

segunda fase foi realizada uma avaliação

realizado

e

(2)

Escala

de

auditiva dos idosos no Centro de Audiologia –

Métodos Foi

audiológica

um

estudo

transversal,

OUVISONUS, localizado em Coimbra.

descritivo e de natureza quantitativa com uma

O primeiro instrumento de recolha de dados, a

amostra de conveniência de 23 participantes,

anamnese audiológica, integrou um questionário

com idade igual ou superior a 60 anos. A amostra

estruturado, no qual os idosos responderam

foi constituída por idosos que se encontram a

perguntas referentes às queixas auditivas,

frequentar a resposta social de Centro de Dia na

ocorrência de acufenos, uso de medicamentos,

Cáritas Diocesana de Coimbra – Centro Rainha

condição de saúde gerais e questões referentes

Santa Isabel e Centro Social São Pedro.

ao equilíbrio.

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O segundo instrumento utilizado foi a Escala de

Foram obtidos limiares auditivos por via aérea

Desvantagem Auditiva para Idosos, Hearing

(VA), nas frequências de 250, 500, 1000, 2000,

Handicap Inventory for the Elderly – (HHIE),

3000, 4000, 6000 e 8000Hz, e por via óssea

(Ventry & Weinstein, 1982; Martins & Serrano,

(VO), nas frequências de 500, 1000, 2000, 3000

2010). Esta escala visa observar os efeitos da

e 4000Hz, sendo esta última avaliada apenas

perda auditiva em indivíduos idosos e é

quando os limiares auditivos das frequências em

composta por 25 questões, das quais, 12

via aérea foram iguais ou superiores a 10 dB NA.

correspondem às componentes Sociais e as

A audiometria vocal, realizada em ambos

outras 13 estão relacionadas as componentes

ouvidos, permitiu determinar o Limiar de Receção

Emocionais. Cada questão tem como opção a

da Fala (LRF) e o Índice Percentual de

resposta “sim” (equivalente a 4 pontos), “às

Reconhecimento

vezes” (equivalente a 2 pontos) ou “não”

impedancimetria foi realizada com o auxílio do

(equivalente a 0 pontos). A pontuação geral da

aparelho da marca Maico, modelo MI34 e

escala de respostas varia de 0 (ausência de

determinou a timpanograma e pesquisa dos

desvantagem auditiva) a 100 (máxima perceção

limiares dos reflexos acústicos contralaterais nas

de desvantagem auditiva) pontos, sendo os

frequências de 500, 1000, 2000 e 4000Hz.

participantes

devidamente

Fala

(IPRF).

A

de

Na análise da audiometria tonal, os

acordo com a perceção de perda auditiva, isto é,

resultados foram classificados segundo o grau de

de 0-16 pontos, não apresenta desvantagem

perda auditiva, tendo em consideração os

auditiva; de 17-42 pontos, verifica-se uma

resultados obtidos no melhor ouvido, de acordo

perceção

desvantagem

com classificação proposta pelo BIAP (1997),

auditiva; e entre 43-100 pontos, há uma perceção

que classifica do grau da perda auditiva de

severa/significativa de desvantagem auditiva.

acordo com a média dos limiares auditivos, por

Na segunda fase da pesquisa realizou-se a

VA, nas frequências 500, 1000, 2000 e 4000Hz.

avaliação

os

Quanto ao tipo de perda auditiva, o estudo seguiu

participantes receberam informações sobre os

a classificação de Silman e Silverman (1997), de

exames a serem realizados e a ausência de

acordo com a configuração audiométrica e

qualquer risco associado.

levando em consideração a comparação dos

leve/moderada

auditiva,

estratificados

da

de

durante

a

qual

Inicialmente os idosos foram submetidos

limiares entre a via aérea e a via óssea de cada

à Otoscopia ao Canal Auditivo Externo (CAE)

ouvido.

Para

a

audiometria

vocal

e

com a finalidade de avaliar as condições

impedancimetria utilizaram-se os critérios de

adequadas para a realização dos exames

classificação de Jerger, Speacks e Trammell

auditivos. Em seguida foi avaliada a audição,

(1968) e Jerger (1970).

através da audiometria tonal limiar e vocal,

Após a recolha das informações e da

realizada em cabina acusticamente tratada e

avaliação auditiva dos idosos, iniciou-se a

utilizando o audiómetro Interacoustics modelo

construção de uma base de dados e o respetivo

AD229b, auscultadores TDH39 e vibrador B-71.

tratamento estatístico. Para a organização e

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análise dos dados, foi utilizado como recurso a

No estudo, a amostra caracterizou-se por

versão 21 do programa estatístico IBM SPSS

ser

predominantemente

(Statistical Package for the Social Sciences),

(65,4%).

aplicando-se, inicialmente, os procedimentos de

características audiológicas, verificou-se que

análise descritiva, com medidas de proporção,

60,6%

tendência central e dispersão e, posteriormente,

dificuldade em ouvir, contudo, 52,2% não soube

a análise inferencial, tendo sido utilizados os

especificar em qual ouvido tem mais dificuldade

testes de Qui-quadrado e Teste Exato de Fisher

em escutar e 34,8% respondeu que ouve mal em

com o objetivo de verificar associação entre o

ambos os ouvidos.

grau da perda auditiva e grau do handicap. Para

Quando inquiridos em relação à evolução da

o estudo, foi adotado um nível de significância de

perda auditiva, 69,6% dos idosos não soube

5% em todas as análises.

responder como se deu a evolução, porém 30,4%

Resultados

relatou que a perda ocorreu progressivamente.

A amostra foi constituída por 23 (100%) idosos

Do total dos idosos, 65,2% mencionou sofrer com

com idades entre 60 e 95 anos, com a maior

tonturas e/ou vertigens. Quanto à presença de

frequência situada entre 79 e 88 anos (11,5%). A

acufenos, 69,6% idosos mencionaram não ter

média de idade apresenta um valor de 84,04

qualquer tipo de acufeno no ouvido. No entanto,

anos. A amostra foi estratificada em quatro

30,4% dos idosos referiu a presença de acufeno,

grupos etários: 60 a 69 anos; 70 a 79 anos; 80 a

predominando o acufeno em ambos ouvidos.

Procedendo-se

dos

indivíduos

do

sexo

às

feminino

análises

relataram

das

alguma

89 anos e acima de 90 anos.

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Relativamente à dificuldade em compreender a

no entanto, apenas 4,3% faz uso, atualmente, de

fala, 69,6% dos idosos referiu que apresenta esta

medicamentos ototóxicos.

dificuldade.

Em relação a episódios de otalgia, 73,9% dos

exerceram alguma atividade profissional em local

idosos relatou que não sofre de dores no ouvido.

ruidoso, 30,4% mencionou que sim. Quanto ao

Inquiridos sobre problemas de saúde, a maioria

uso regular de medicamentos, verifica-se que

dos idosos (87%) indicou que sofre com uma ou

82,6% utilizam alguma medicação diariamente,

mais condições de saúde.

Na avaliação da perceção da desvantagem

Na análise da componente Social (S) observa-se

auditiva pelos idosos, a percentagem de idosos

que 50,7% dos idosos responderam “sim” e “às

“Sem Handicap” foi de 26,1%, enquanto a

vezes”

percentagem dos idosos com “Handicap leve a

componente Emocional (E) 46,5% dos idosos

moderado”

a

indicaram “sim” e “às vezes” às questões

“Handicap

colocadas, sendo a perceção da desvantagem

percentagem

Quando

foi

de de

questionados

30,4% idosos

e, com

por

se

fim,

significativo” foi 43,5%.

a

estas

questões,

enquanto

na

auditiva mais verificada na componente Social (Tabela 3).

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De acordo com a Escala de Desvantagem Auditiva

para

Idosos,

das

25

situações

questionadas aos idosos, em apenas 7 delas há uma maior desvantagem auditiva, sendo elas: quando encontra/conhece um novo indivíduo fora do seu círculo (39,1%); em grupos, onde procura se isolar (43,5%); irrita-se por não conseguir ouvir (43,5%); dificuldades em locais ruidosos como festas (52,2%); em conversas onde o interlocutor fala em baixa intensidade (73,9%); em visitas a amigos e parentes (39,1%) e aborrece-se por não

Relativamente

aos

resultados

do

exame

audiológico, considerando os resultados para o melhor

ouvido,

23

(100%)

dos

idosos

apresentam alguma perda auditiva, 9 (39%) revelaram uma hipoacusia de grau ligeiro, 8

(34,8%) uma hipoacusia de grau moderado (grau I) e 6 (26,1%) uma hipoacusia de grau moderado (grau II). A pesquisa dos limiares auditivos evidenciou ainda o predomínio de perdas neurossensoriais (97,3%) (Tabela 4).

ouvir bem (34,8%).

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Observou-se ainda uma perda auditiva bilateral

Qui-Quadrado

(100%) e queda dos limiares auditivos por via

significativa em termos estatísticos (=7,440

aérea, de 5 a 20 dB, nas frequências altas (4000,

p=0,282) e os testes de correlação de Spearman

6000 e 8000 Hz).

(rs=0,049 p=0,182) e de Pearson (r=0,119

Quanto à audiometria vocal, considerando os

p=0,191) aproximam-se de zero, demonstrando

resultados para o melhor ouvido, verificou-se que

uma relação não linear e não monótona.

os valores do IPFR apontam que 1 (4,3%) idoso

Na relação entre perda auditiva e género,

tem ligeira/discreta dificuldade para compreender

observa-se que 73,9% das perdas auditivas são

a fala, 8 (34,8%) apresentam uma moderada

superiores para o sexo feminino e apenas 26,1%

dificuldade para compreender a fala e 6 (26,1%)

ocorrem no sexo masculino. Contudo, as maiores

têm

para

perdas auditivas, de grau moderado I e II,

acompanhar uma conversa, seguindo de 8

ocorrem no sexo masculino, embora de forma

(34,8%)

não estatisticamente significativa - Qui-Quadrado

uma

acentuada

que

dificuldade

possuem

uma

provável

incapacidade de acompanhar uma conversa.

não

demonstram

relação

bicaudal (duas extremidades) = 2,831 p=0,243. Na análise entre o grupo etário e perda auditiva,

Na análise inferencial dos dados, a percentagem

observou-se que no grupo de 60-69 anos o total

de “handicap significativo” e “handicap leve a

de perdas foi de 4,3%. No grupo dos 70 aos 79

moderado” é superior para o sexo masculino,

anos o total foi de 17,4%, seguido de 65,2% no

sendo respetivamente 66,7% e 33,3%, e a

grupo de 80 a 89 anos e de 13% no grupo de

percentagem de “sem handicap” é superior para

mais de 90 anos, o que aponta para um aumento

o sexo feminino (35,3%). Contudo não existe

de perda consoante o aumento da idade. Uma

uma relação estatisticamente significativa entre o

vez

handicap auditivo e género, conforme valor do

extrapolados para a população em geral por falta

Teste de Associação Qui-Quadrado bicaudal

de

(duas extremidades) = 3,144 p=0,208

=8,236

Quando observada a relação entre o resultado do

correlação fraca, embora linear no teste de

handicap auditivo e os grupos etários, verifica-se

Spearman (rs=0,263 p=0,136) e de Pearson

que o grupo dos 60 aos 69 anos não apresenta

(r=0,290 p=0,126).

desvantagem auditiva. Já o dos 70 aos 79 anos

Relativamente à correlação entre grau da perda

apresenta 17,4% de “handicap leve/moderado” e

e handicap auditivo, a percentagem de “handicap

“handicap significativo”; dos 80 aos 89 anos

significativo” é superior na “hipoacusia de grau

mostra 43,4% de “handicap leve/moderado” e

moderado – Grau I” (21,7%) e na “hipoacusia de

“handicap significativo”; por fim, 13% apresenta

grau moderado – Grau II” (17,4%). Já a

um “handicap leve/moderado” e “handicap

percentagem do “sem handicap” e “handicap leve

significativo”,

a

a moderado” é superior na “hipoacusia de grau

desvantagem auditiva aumenta com idade.

ligeiro”, sendo respetivamente 21,7% e 13,0%.

Porém, os resultados do Teste de Associação

Contudo,

o

que

evidencia

que

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mais

estes

valores

significância

estatística

p=0,221),

não

não

se

podem

ser

(Qui-Quadrado

indicando

observou

porém

uma

associação

estatisticamente significativa entre perda auditiva VOLUME 6. EDIÇÃO 3


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estatisticamente significativa entre perda auditiva

amostrais

com

e handicap auditivo nos idosos, como evidencia

praticamente idênticos no teste de correlação de

o valor do Teste de Associação Qui-Quadrado

Spearman (rs=0,575 p=0,139) e de Pearson

bicaudal (duas extremidades) =8,823 p=0,066.

(r=0,570 p=0,129), apesar de a correlação para

Por outro lado, a sua correlação é moderada e

dados

linear, apresentando valores para dados

estatisticamente,

populacionais

alguma

não

relevância

ser

possivelmente

e

significativa devido

ao

reduzido tamanho da amostra (N<30).

Discussão

grau da perda auditiva que o indivíduo

Relativamente às perdas auditivas, no presente estudo foram encontradas, em todos os idosos, hipoacusias de grau ligeiro a moderado, o que está em concordância com outros estudos que apontam que há uma prevalência maior de perda auditiva neurossensorial descendente, de grau leve a moderado, na população idosa (Almeida e Guarinello,

2009;

Marques

et

al.

2004).

Observou-se ainda perdas auditivas bilaterais (100%) e queda dos limiares auditivos nas frequências altas. A perda auditiva bilateral e acentuada

nas

frequências

altas

é

uma

característica presente na presbiacusia (Kacker, 1997).

apresenta, sendo também imprescindível a avaliação da maneira como esta deficiência afeta a qualidade de vida emocional e social dos pacientes por meio de outros instrumentos.

Lotfi et al. (2009) ao investigarem os efeitos da perda auditiva na qualidade de vida, evidenciaram que a presbiacusia tem sido relatada como causa de relações comunicativas reduzidas, bem como de interações sociais e emocionais afetadas. Segundo estes autores, a hipoacusia é apontada como uma fonte de solidão, isolamento e declínio nas atividades sociais, bem como distúrbios de comunicação e

insatisfação com a vida.

Para Silveira e Russo (1998) a avaliação audiológica fornece dados referentes ao tipo e JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951

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Uma pessoa com hipoacusia pode ter dificuldade

perda auditiva, é consistente com os efeitos de

em discriminações de fala, participação em

idade observados em outros estudos com idosos.

atividades sociais e capacidade de localização

Segundo

de sons (Gates e Mills, 2005). A perda auditiva

autoavaliação da deficiência auditiva, bem como

também

de

da perda auditiva foi maior para grupos etários

distúrbios emocionais, depressão e isolamento

mais velhos. Ou seja, tanto a desvantagem

social e demência (Mulrow et al., 1990; Weinstein

auditiva, como a perda auditiva, aumentaram

e Ventry, 1982).

com o avanço da idade.

Na análise da Escala de Desvantagem Auditiva,

Na análise das perdas auditivas e género, do

do total da população estudada, 73,9% relatou ter

total, foram identificadas hipoacusias em 17

deficiência auditiva, indicando um handicap leve

indivíduos do sexo feminino (73,9%) e 6 do sexo

e moderado ou significativo. Das situações

masculino (26,1%). Contudo, quando analisado o

questionadas através da Escala, 52,2% relatou

grau da perda auditiva, observou-se maiores

ter dificuldades em locais ruidosos e 73,9%

prejuízos em idosos do sexo masculino. Estes

referiu maior prejuízo em conversas onde o

apresentam perdas moderadas grau I e II mais

interlocutor fala em baixa intensidade. A literatura

elevadas (83,3%) do que o sexo feminino.

afirma

de

De uma forma geral, há consenso sobre a

de

relação do maior prejuízo auditivo nos homens do

comunicação é sentida em situações em que

que nas mulheres (Pearson et al. 1995; Helfer,

várias pessoas estão conversando ao mesmo

2001). De acordo com Jerger et al. (1993), a

tempo (Almeida e Guarinello, 2009; Aiello et al.

perda auditiva nas frequências altas nos homens

2011).

é maior do que nas mulheres, que por sua vez,

está

associada

que,

na

presbiacusia,

a

No

estudo

população

maior

aumento

portadora

dificuldade

desvantagem

a

prevalência

da

têm pior audição nas frequências baixas. Para

componente social foi onde mais se verificou

Cruickshanks (1998) a prevalência também foi

prejuízos. Reforçando estes achados, os autores

maior para homens do que para mulheres.

Santiago e Novaes (2009) observaram que,

Segundo Helfer (2001), existe a necessidade de

quando comparadas as implicações sociais e as

serem avaliadas as diferenças de gênero,

emocionais da desvantagem auditiva, o idoso

principalmente, porque este fato pode ser

tende a sentir-se mais prejudicado em situações

explicado pela maior exposição dos homens ao

que envolviam terceiros, procurando isolar-se, o

ambiente ruidoso. Gates et al. (1990) também

que poderia ser explicado pelo sentimento de

confirma em seu estudo a diferença de gênero,

frustração

atribuindo a pior audição dos homens à

incapacidade

de

auditiva

(2000)

a

e

da

ao

Wiley

desenvolver

plenamente suas funções sociais.

exposição a ruído em ambiente de trabalho e de

Com relação ao handicap auditivo e a idade, no

lazer.

presente estudo a diminuição na audição e na

Quanto à análise do handicap e género, a

desvantagem

percentagem

auditiva

autorelatada

com

o

aumento da idade, depois de contabilizar grau de JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951

de

“handicap

significativo”

e

“handicap leve a moderado” é superior para o sexo masculino, sendo respetivamente 66,7% e VOLUME 6. EDIÇÃO 3


Página 92

sexo masculino, sendo respetivamente 66,7% e

sobre a qualidade de vida das pessoas idosas,

33,3%, e a percentagem de “sem handicap” é

contudo estes efeitos podem ser reversíveis com

superior para o sexo feminino (35,3%).

a utilização de próteses auditivas. Um estudo

Relativamente à correlação entre perda auditiva

randomizado do uso de aparelho auditivo

e

estudo

demonstrou que o uso de próteses auditivas

demonstra que a percentagem da desvantagem

poderia reverter os efeitos adversos sobre a

auditiva é superior nas hipoacusias de grau

qualidade de vida em adultos idosos com perda

moderado I e II. Já a ausência de handicap

auditiva (Mulrow et al., 1990).

auditivo é superior nas hipoacusias de grau

O uso do aparelho auditivo diminui os efeitos da

ligeiro, contudo não houve uma correlação

perda auditiva sobre a comunicação e as

estatisticamente significativa.

relações sociais dessas pessoas (Guarinello et

handicap

auditivo,

Diversos

autores

relataram

uma

significativa,

o

com

presente

objetivos

associação

onde

a

perda

similares

al. 2013). A perda auditiva nos idosos é

estatisticamente

acompanhada de mudanças psicológicas que

auditiva

está

impedem

uma

comunicação

eficiente,

diretamente relacionada com a autoperceção do

prejudicando a habilidade de manter relações

handicap auditivo (Rosis et al. 2009; Samelli et al.

sociais (Gonçalves e Mota, 2002). Face a isto são

2011; Pinzan-Faria e Iório, 2004). Samelli et al.

necessários programas aprimorados de rastreio

(2011)

da

e intervenção para identificar as pessoas idosas

sensibilidade auditiva foi acompanhada pelo

que se beneficiem da amplificação para melhorar

aumento

a qualidade de vida relacionada com a audição.

verificaram

da

que

perceção

a

de

redução

handicap,

fato

demonstrado também por Pinzan-Faria e Iório

Importa

(2004) e Rosis et al. (2009), que avaliaram a

encontrados

audição e o grau de handicap em pacientes, com

generalizações em função do tamanho reduzido

ou sem queixa auditiva.

da amostra. Contudo, podemos constatar que

No entanto, outras investigações realizadas

aplicação de questionários de autoavaliação e

divergem do resultado observado, revelando não

exames audiológicos são extramentes úteis no

haver uma associação entre handicap e perda

rastreio e diagnóstico de idosos com queixas

auditiva (Sestrem, 2000; Tavares, 2001).

auditivas.

Importa destacar que poucos idosos com perda

Uma elevada percentagem das pessoas mais

auditiva estão atualmente a utilizar aparelhos

velhas apoiadas pela Cáritas aparenta ter

auditivos. Em estudo com 1629 adultos, com

problemas auditivos mas tem dificuldades em ser

idade entre 48 e 92 anos, que sofrem perda

diagnosticado e tratado para esta patologia, a

auditiva, a prevalência do uso de prótese auditiva

maioria das vezes por dificuldades de aceitação

entre aqueles com perda auditiva foi apenas de

da limitação. As equipas técnicas de apoio direto

14,6% (Popelka et al. 1998).

aos utentes relatam várias situações de idosos

Segundo Mulrow et al. (1990), a perda auditiva

que se recusam a participar nas atividades de

está associada a efeitos adversos importantes

grupo por se sentirem diminuídos com as suas

JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951

ainda

referir

neste

que

estudo

os

resultados

não

permitem

dificuldades de audição e outros a quem é difícil VOLUME 6. EDIÇÃO 3


Página 93

dificuldades de audição e outros a quem é difícil

das perdas auditivas, através da implementação

aplicar um diagnóstico diferencial por não ser

de

claro que limitações resultam da perda auditiva e

auditiva no idoso.

quais se devem atribuir a outras patologias,

Posto isto, torna-se essencial a realização de

nomeadamente a demências ou alterações

outros estudos epidemiológicos, transversais e

cognitivas.

longitudinais, necessários para entender os

A implementação do projeto “Ouvir Bem”, do qual

determinantes

fez parte o presente estudo, tem permitido iniciar

género, na perda auditiva relacionada com o

um processo de compreensão relativo às perdas

envelhecimento.

auditivas, aproximando as pessoas mais velhas

No que concerne ao presente estudo, pretende

dos mecanismos de rastreio e diagnóstico e

dar-se seguimento ao projeto desenvolvido na

trazendo esta temática para as discussões entre

Instituição, “Ouvir Bem”, e na realização de novos

pares.

estudos idênticos com outros grupos e amostras

Também

a

utilização

de

programas

direcionados

genéticos,

à

reabilitação

ambientais

e

de

equipamentos

mais significativas, quer na implementação de

tecnológicos de alta performance, como robôs ou

um programa de prevenção, reabilitação e

avatares com sistema de diálogo, tem ajudado a

formação a cuidadores na área da saúde

tornar mais evidentes as sintomatologias mais

auditiva.

graves, sinalizando-as para eventual diagnóstico e acompanhamento.

Agradecimentos

No presente estudo, apesar de se utilizar amostra

Agradecemos a colaboração do Dr. Luís Dias

reduzida,

da

pela supervisão das análises estatísticas; a Sara

autoavaliação do handicap auditivo pelos idosos

Alexandra Luís do Centro Auditivo Ouvisonus

e o exame audiométrico completo. Para um

pela colaboração na realização de exames

futuro

mais

auditivos; a Arménia Boleto, Ana Rita Coelho,

representativas e diversificadas para extrapolar

Sofia Marques e Lurdes Marques da Cáritas

os resultados para outras populações.

Diocesana de Coimbra pelo apoio geral ao

foi

estudo

realizado

sugere-se

a

pesquisa

amostras

estudo realizado. Conclusão A presbiacusia é um processo complexo e suas consequências afetam diretamente a qualidade

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VOLUME 6. EDIÇÃO 3


Fonseca, C., Coroado, R., Pissarro, M., (2017) A importância do Modelo das Atividades de Vida de Nancy Roper, Winifred Logan e Alison Tierney na formação de estudantes do curso de licenciatura em Enfermagem, Journal of Aging & Innovation, 6 (3): 96 - 102

ARTIGO ORIGINAL/ ORIGINAL ARTICLE

DEZEMBRO 2017

A importância do Modelo das Atividades de Vida de Nancy Roper, Winifred Logan e Alison Tierney na formação de estudantes do curso de licenciatura em Enfermagem The importance of life activities model of Nancy Roper, Winfred Logan and Alison Tierney, in the formation of nursing students La importancia del modelo de actividades de vida de Nancy Roper, Winfred Logan y Alison Tierney, en la formación de estudiantes del curso de licenciatura en enfermeira Autores César Fonseca 1, Rogério Coroado 2, Margarida Pissarro 3 1

PhD, Universidade de Evóra, Investigador POCTEP 0445_4IE_4_P,

2,3

Estudantes do Curso de Enfermagem da Universidade

de Évora Corresponding Author: cesar.j.fonseca@gmail.com

INTRODUÇÃO

profissional que pressupõe a interiorização de

Os cuidados de enfermagem são de elevada

um conjunto de valores profissionais (Elsherif,

complexidade e representam uma expressão

Noble, 2011), entendidos como o conjunto de

humanista (Beh, 2012; Pinkney et al., 2013), e

atitudes, crenças e prioridades que norteiam o

um processo complexo. Por isso, a formação e

pensamento e a prática profissional. Neste

tem

de

aspeto, é determinante que os estudantes

desenvolvimento humano que ocupa uma grande

entendam claramente em que medida os seus

parte do percurso curricular (Vieira, 2008).

valores pessoais e os da profissão a que acedem

A necessidade de ajuda faz surgir uma resposta

se cruzam (Serra, 2012).

espontânea de cuidado nos seres humanos que

Do ponto de vista curricular é consensual que as

veem no outro a sua própria vulnerabilidade

experiências em ensino clínico sejam de uma

(Beh, 2012; Fang, 2015). Para cuidar não basta

centralidade determinante no desenvolvimento

uma

da

uma

componente

boa

intenção,

clínica

são

e

necessários

própria

identidade

profissional

em

conhecimentos específicos, aleados à escuta,

enfermagem, assentando esta asserção no

observação, tomada de conhecimento, recolha

reconhecimento do potencial formativo dos

de

contextos de trabalho e da aprendizagem pela via

dados e tomada de consciência das

expetativas e necessidades das pessoas (Fang,

da experiência (Serra, 2012).

2015). É indispensável saber quem é o outro que

A análise da natureza das práticas clínicas na

está

licenciatura em enfermagem, compreendendo a

ao

nosso

cuidado,

quais

as

suas

capacidades e limites, e sobretudo, é necessário

conceção

e

respetiva

saber como ajudá-lo a crescer e a realizar-se

(Kaşıkçı,

2015),

(Vieira, 2008). O desenvolvimento da identidade

multiplicidade de cenários, potenciadas por

de um enfermeiro é um processo de socialização

fatores de ordem diversa, onde se incluem

revela

operacionalização uma

enorme

aspetos como o momento do curso em que a JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951

VOLUME 6. EDIÇÃO 3


Página 97

prática decorre, as instituições envolvidas e as

Escola

conceções individuais de quem coordena e

Humanas

caracteriza as práticas (Serra, 2012).

Henderson, estando contida no Paradigma da

Deste modo, a formação é uma oportunidade de

Integração, e centrando-se na pessoa (Elsherif,

desenvolvimento pessoal e profissional, que

Noble, 2011; Kaşıkçı, 2015; Fang, 2015), de

favorece os indivíduos a (re)pensarem-se como

modo a assumi-la como um todo, ou seja, um ser

profissionais, desenvolvendo competências ao

que permanece em constante crescimento e

nível da reflexão e da metacognição (Serra,

evolução desde a sua conceção até à morte e

2012).

que usufrui de um conjunto de necessidades

Posto

isto,

de

a

Pensamento Básicas,

das

fundada

Necessidades por

Virginia

sustentar

a

essenciais para a manutenção da sua saúde e

utentes

e

bem-estar (Lima, 2014).

planos

de

Este modelo baseia-se no modelo de vida que

cuidados de enfermagem (Elsherif, Noble, 2011;

tem como núcleo a pessoa, sendo esta definida

Kaşıkçı, 2015; Fang, 2015; Beh, 2012; Pinkney et

como um sistema aberto em permanente

al., 2013), durante o nosso percurso de

interação com o meio ambiente, compreendendo

aprendizagem em contexto clínico, utilizámos o

doze atividades de vida diárias (AVD’s) (Fang,

Modelo de Roper, Logan e Tierney como base

2015; Beh, 2012; Pinkney et al., 2013, que estão

teórica orientadora da organização concetual do

condicionadas pelos estádios de vida, na medida

nosso pensamento em contexto hospitalar.

em que podem existir alturas em que o indivíduo

Em 1967, Nancy Roper publicou a primeira

consegue ou não realizar determinada atividade

edição da sua obra atribuindo-lhe o nome de

(Roper, Logan, & Tierney, 2001).

“Principles of Nursing in process contex”. Em

Entende-se como ciclo de vida, o período que vai

1970, dedicou-se a investigar o núcleo de

desde o nascimento até à morte, sendo que cada

cuidados de enfermagem, desenhando um

pessoa tem um ciclo de vida diferente. Existem

modelo de vida e um modelo de enfermagem

vários estádios de vida caraterizados por um

derivado desse mesmo. Esta monografia foi

desenvolvimento físico, intelectual, emocional e

publicada em 1976, iniciando-se assim a sua

social que influencia o modo como cada indivíduo

utilização na prestação de cuidados (Tomey &

realiza as suas atividades de vida diárias. O

Alligood, 2004).

estádio do ciclo vital influencia todas as etapas

observação/avaliação

forma

de

dos

construção/implementação

de

do processo de enfermagem e está inerente ao O MODELO EM REFLEXÃO

conceito

O modelo inicial de Nancy Roper foi então

(Cordeiro, 2013).

reformulado

autora,

Segundo o referido modelo um enfermeiro deve

conjuntamente com Winifred Logan e Alison

ser consciente da individualidade vital de cada

Tierney, transformando-o num modelo mais

indivíduo

completo e adaptado às necessidades da prática

influenciam o conhecimento, as atitudes e a

dos cuidados de Enfermagem. Este insere-se na

conduta dos mesmos, tais como: os biológicos,

em

1980,

pela

de

e

enfermagem

de

que

individualizada

existem

fatores

que

os psicológicos, os socioculturais, os ambientais JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951

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Página 98

e os socioeconómicos, uma vez que estes estão

refletidos na legislação) (Roper, Logan, &

intimamente relacionados com a duração da vida

Tierney, 2001). O objetivo principal da pessoa é

nas várias fases de desenvolvimento, resultando

atingir

num continuum de dependência/independência

máxima nas atividades de vida, dentro do

(Lima, 2014). Este último representa uma

possível e de acordo com as circunstâncias em

variação

a

que se encontra ((Elsherif, Noble, 2011; Kaşıkçı,

independência total, sendo aplicado diretamente

2015; Fang, 2015; Beh, 2012; Pinkney et al.,

a cada atividade de vida. A comparação do

2013).

estádio

entre

a

dependência

dependência

total

/independência

e

a

autossatisfação

e

independência

das

Quanto ao conceito de ambiente, segundo

pessoas com o ciclo vital é necessário, já que

Nancy Roper, este é visto e concetualizado numa

nem todas as pessoas nasceram com o mesmo

dimensão alargada, englobando tudo o que é

potencial para se tornarem independentes em

fisicamente externo à própria pessoa. Este, por si

todas as atividades de vida. Um aspeto

só, pode pôr em risco a saúde, a segurança, e a

importante de enfermagem, é apreciar o nível de

própria vida do indivíduo, uma vez que em cada

independência da pessoa face a cada atividade

fase do seu ciclo de vida, o mesmo está sujeito a

de vida e julgar em que direção e com que

riscos próprios do ambiente que deverão ser

intensidade deve ser ajudada para se deslocar no

conhecidos, a fim de se prevenirem e evitarem

continuum

(Tomey & Alligood, 2004).

dependência/independência

(Cordeiro, 2013).

Em relação ao conceito de saúde, este

Nancy Roper definiu, segundo o seu modelo, um

metaparadigma

compreendendo

quatro

de

enfermagem,

conceitos:

saúde,

pessoa, ambiente e enfermagem.

refere-se à maneira como o sujeito realiza as AVD’s em interação com fatores influenciadores, do continuum dependência/independência (Beh, 2012; Pinkney et al., 2013), alcançando o

A pessoa é descrita como um indivíduo

resultado esperado quando se impede que os

central, que satisfaz doze AVD’s de acordo com

problemas potenciais se tornem reais (Tomey &

o continuum dependência/independência e com

Alligood, 2004).

o estádio do ciclo vital, sofrendo a influência de

Por fim, a enfermagem é definida como a

fatores psicológicos (elementos da pessoa,

forma de ajudar as pessoas a prevenir que

incluindo aspetos intelectuais e emocionais),

problemas potenciais relacionados com as AVD’s

biológicos (desempenho anatómico e fisiológico

se tornem reais, aliviando, resolvendo ou

do corpo humano), socioculturais (todos os

prevenindo o reaparecimento de problemas

aspetos que englobam a cultura, religião,

(Tomey & Alligood, 2004).

espiritualidade, ética, relacionamentos e status

De acordo com o parecer nº 12/2011 da Mesa

na comunidade), ambientais (fatores externos ao

do Colégio da Especialidade de Enfermagem de

indivíduo que vão influenciar todos os outros

Reabilitação (MCEER, 2011), o termo “atividades

fatores) e, por fim, político-económicos (aspetos

de vida diária” (AVD) refere-se ao conjunto de

legais, políticos e/ou económicos que podem ser

atividades ou tarefas comuns que as pessoas

JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951

VOLUME 6. EDIÇÃO 3


Página 99

realizam de forma autónoma e rotineira ao longo

Noble, 2011) de problemas que já foram

do seu dia-a-dia, podendo ser divididas em dois

solucionados, lidando de forma positiva com

grupos: Atividades Básicas de Vida Diária

quaisquer que sejam os problemas, incluindo a

(ABVD) e Atividades Instrumentais de Vida Diária

morte (Roper, Logan, & Tierney, 2001).

(AIVD) (Kaşıkçı, 2015; Fang, 2015). No que diz

Resumindo,

o Modelo de Enfermagem

respeito ao grupo das ABVD’s, este refere-se às

baseado no Modelo de Vida tem como objetivo

funções e estruturas do corpo envolvidas no

auxiliar

desempenho da tarefa, assim como às atividades

abordagem personalizada de intervenções, que

e

execução.

ao serem implementadas, tenham o intuito de

Relativamente às AIVD’s, estas dizem respeito à

capacitar o utente para enfrentar os problemas

capacidade de o indivíduo gerir o ambiente em

que

que vive.

alcançar a independência em qualquer AVD que

à

participação

para

a

sua

Segundo o modelo de Roper, Logan e

os

enfermeiros

provocam

a

planear

dependência,

uma

procurando

esteja afetada (Roper, Logan, & Tierney, 2001).

Tierney, as 12 AVD’s que descrevem a vida do

Em concordância com todos os aspetos já

indivíduo são: manter um ambiente seguro;

referidos, surge a importância da utilização do

comunicar; respirar; comer e beber; eliminar;

processo de enfermagem, garantindo cuidados

higiene

individualizados e centrados na pessoa. Este

pessoal

e

vestir-se;

controlar

a

temperatura corporal; mobilizar-se; trabalhar e

processo

distrair-se; exprimir a sexualidade; dormir; e

interdependentes, nomeadamente, a apreciação

morrer (Roper, Logan, & Tierney, 2001).

inicial do utente, o planeamento dos cuidados de

Posto isto, pode-se observar que o Modelo de Enfermagem

de

Nancy

Roper

tem

como

envolve

quatro

fases

que

são

enfermagem, a sua implementação, e por fim a avaliação

dos

mesmos.

O

processo

de

principais pressupostos o facto de se poder

enfermagem é um método de raciocínio lógico e

descrever a vida como um conjunto de AVD’s,

tem de ser necessariamente utilizado em

sendo que a forma como estas são executadas

conjunto com um modelo de enfermagem

por cada pessoa contribui para a individualidade

explícito (Roper, Logan, & Tierney, 2001).

das mesmas. Assim, a pessoa é avaliada em

Aplicado ao modelo de Nancy Roper a

todas as fases do ciclo vital, ao longo das quais,

apreciação inicial baseia-se em quatro etapas

até à idade adulta, o indivíduo tende a tornar-se

diferentes, entre elas a recolha de informação

cada vez mais independente nas suas AVD’s

acerca do doente, a revisão da informação

(Elsherif, Noble, 2011; Fang, 2015; Beh, 2012;

colhida

Pinkney et al., 2013).

problemas do utente, através da análise de

anteriormente,

a

identificação

dos

Deste modo, o planeamento dos cuidados de

dados (Fang, 2015; Beh, 2012; Pinkney et al.,

enfermagem será feito no sentido de ajudar o

2013), e a identificação das prioridades entre os

indivíduo a evitar, aliviar, resolver ou suportar os

problemas detetados (Roper, Logan, & Tierney,

problemas reais ou potenciais relacionados com

2001).

as AVD’s e a prevenir o reaparecimento (Elsherif, JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951

Deste modo, a informação é obtida através VOLUME 6. EDIÇÃO 3


Página 100

da observação e entrevista. A fonte principal de

probabilidades de ter sucesso nas intervenções

informação deverá ser o próprio doente, no

realizadas, sendo elas: escutar o doente,

entanto também é possível utilizar fontes

conversar com o doente e observar o mesmo,

secundárias, como registos de saúde e membros

durante os turnos. Em todas as intervenções

da família do utente, sendo estes bastante

realizadas é importante que os profissionais de

importantes em contextos onde se lide com

enfermagem estejam capacitados para explicar o

doentes desorientados ou afetados a nível

raciocínio que levou à decisão do tipo de

mental/psíquico (Roper, Logan, & Tierney, 2001).

intervenções que desempenham (Roper, Logan,

Devem ser assim recolhidos dados socio

& Tierney, 2001).

biográficos e de saúde relevantes, bem como

Por fim, a fase da avaliação do planeamento e

dados acerca da sua rotina habitual de atividades

implementação das intervenções de enfermagem

de vida e problemas potenciais ou reais atuais,

é justificada através da análise dos resultados

reconhecendo aquilo que o doente consegue ou

obtidos, ajuizando sobre os objetivos que devem

não fazer de forma independente e autónoma

ser estabelecidos ou já foram alcançados,

(Elsherif, Noble, 2011; Kaşıkçı, 2015; Fang,

determinando

2015; Beh, 2012; Pinkney et al., 2013), de modo

sucedidos (Elsherif, Noble, 2011; Kaşıkçı, 2015;

a poder atuar sobre a manutenção ou promoção

Fang, 2015; Beh, 2012; Pinkney et al., 2013).

da saúde do indivíduo. Para isso, o enfermeiro

Esta fase é vital, uma vez que fornece uma base

deve procurar percecionar o entendimento do

para a avaliação contínua e planeamento de

doente acerca do seu problema de saúde, para,

intervenções à medida que as circunstâncias em

deste modo, saber como lidar com o mesmo

que o doente se encontra sofrem alterações. As

(Roper, Logan, & Tierney, 2001).

aptidões necessárias para realizar a avaliação

Relativamente à fase do planeamento de

são essencialmente as usadas na avaliação

cuidados de enfermagem, esta tem como

inicial, sendo elas a observação, questionário e

objetivos

examinação (Roper, Logan, & Tierney, 2001).

a

prevenção

e

identificação

de

até

que

ponto

foram

bem-

problemas potenciais, evitando que estes se tornem reais e a solução ou alívio dos problemas

SÍNTESE

atuais, devendo ser definidos, tendo em conta a

Ao utilizarmos o modelo de Roper, Logan e

subjetividade dos pacientes e a disponibilidade

Tierney, durante a nossa formação académica,

ou não de recursos dentro do contexto de

mais especificamente em contexto clínico, nós,

enfermagem para realizá-los de forma efetiva

enquanto

(Roper, Logan, & Tierney, 2001).

consideramos que conseguimos alterar a forma

A fase de implementação envolve a prestação

como

direta de cuidados ao doente (Kaşıkçı, 2015;

ganhando consciência das capacidades de

Fang, 2015). O enfermeiro, para executar uma

introspeção

intervenção, tem à sua disposição um leque de

adquirimos, bem como o modo de perspetivação

aptidões que deve utilizar para aumentar as

face

JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951

nos

aos

estudantes

de

percecionamos e

de

outros.

enfermagem,

e descrevemos,

autoconhecimento Desta

forma,

que

julgamos

VOLUME 6. EDIÇÃO 3


Página 101

importante o uso de um modelo estruturante do

Serra, M. (2012). Aprender a ser enfermeiro: a

pensamento,

construção identitária profissional por estudantes

tornando

o

raciocínio

lógico,

organizado e intuitivo, de modo a que nos guie na

de enfermagem. Loures: Lusociência. 1ª ed.

nossa abordagem clínica, auxiliando-nos na fundamentação e argumentação das nossas

Tomey, A. M., Alligood, M. R. (2004). Teóricas de

ações e decisões. Desta forma, a partir desta

Enfermagem e a Sua Obra (Modelos e Teorias

abordagem foi possível o desenvolvimento da

de Enfermagem). Loures: Lusociência. 5ª ed.

nossa

capacidade

crítica,

reflexiva

e

de

questionamento sobre a lógica das ações e

Vieira, M. M. (2008). Ser Enfermeiro da

reações dos indivíduos no seio das interações

Compaixão à Proficiência. Lisboa: Universidade

pessoais, representando um passo importante

Católica Editora. 2ª ed. 1 vol., ISBN: 978-972-54-

para o nosso desenvolvimento pessoal e

0195-8.

futuramente profissional, em que doravante Nogueira de Moura, G., Candido do Nascimento,

seremos atores.

J., Alzete de Lima, M., Marques Frota, N., Matias REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Cordeiro, M. (2013). Relatório de Trabalho de

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Página 102

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controlled

trial

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VOLUME 6. EDIÇÃO 3


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