Edição completa Abril 2013

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VOLUME 2 . EDIÇÃO 2


EDITORIAL

ABRIL, 2013

The Association of Friends of the Great Age

featured speakers as well as rejuvenate

receives this year, the International Nursing

your practice by connecting and sharing with

Conference 2013, aims to:

colleagues.

Discuss critical issues in current nursing

On behalf of the Organizing Committee we

care

are pleased to welcome you to take part in

Enhance the quality of Nursing and Nursing

this meeting. We are expecting it to be an

education

exciting professional as well as a social and

Provide an opportunity for experts in the

personal experience.

field to share leading nursing interventions and ideas in various topics from all over the

Warmly Regards,

world and establish collaborations at

Cesar Fonseca & Rui Fontes

National, Regional and International levels. Chairman of Lisbon International Nursing The accepted abstracts will be published in eBOOK and the Journal of Aging and Innovation, the final studies. The scientific program will be focused on clinical practice, research, education, professional issues, management and policy issues covering varieties of specialties in nursing care. This unique professional meeting will provides you with opportunities to grow and expand your knowledge and skills with educational sessions utilizing evidence-based research and best practices. It will also serve as a platform for an open dialogue among the best minds of nursing research, practice, education and policy to promote nursing skills and talents in this era. Come and join us at the Conference and become inspired and motivated with

Conference


Gomes, C., Jesus, C. (2013) Chronic Wounds in Palliative Care. Journal of Aging & Inovation, 2 (2): 03-15

REVISÃO NARRATIVA / NARRATIVE REVIEW

ABRIL, 2013

FERIDAS CRÓNICAS EM CUIDADOS PALIATIVOS CHRONIC WOUNDS IN PALLIATIVE CARE HERIDAS CRÓNICAS EN PALIATIVOS

Autores

Cláudia Gomes1, Cristiana de Jesus2 1Enfermeira,

Hospital Curry Cabral 2Enfermeira, Instituto Português de Oncologia de Lisboa.

Corresponding Author: claudiapsgomes@gmail.com

“…não é morrer que é difícil; não é preciso talento nem compreensão para morrer. Toda a gente o faz. O que é difícil, é viver, viver até à morte…” (Kübler-Ross, 1985,p.106).

Resumo Este artigo consiste numa revisão da literatura acerca das feridas crónicas em Cuidados Paliativos (CP) e intervenções de Enfermagem no tratamento destas, visando a uniformização dos Cuidados de Enfermagem à pessoa com ferida crónica em CP. As úlceras de pressão e as feridas malignas são as mais comuns em CP. O seu tratamento foca-se no controlo de sinais e sintomas, tendo como objectivos: minimizar o sofrimento físico e psicológico e a promoção da qualidade de vida da pessoa e família. Palavras-chave: Cuidados Paliativos; Ferida Maligna; Úlcera de Pressão; Cuidados de Enfermagem

Abstract This article is a review of the literature on chronic wounds in Palliative Care (PC) and Nursing Interventions for the treatment of these, aiming at standardization of nursing care to people with chronic wounds in CP. Pressure ulcers and malignant wounds are most common in CP. Their treatment focuses on controlling symptoms and signs, with the objectives to minimize the physical and psychological suffering and promote quality of life of the patient and family. Keywords: Palliative Care; Malignant Wound; Pressure Ulcer; Nursing Care

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1. CUIDADOS PALIATIVOS

apoio específico, organizado e interdisciplinar” (DIRECÇÃO GERAL DE SAÚDE

“Os cuidados paliativos surgiram do sentimento

(DGS), 2004, p.7).

de impotência comum aos profissionais de

Os CP possuem quatro pilares essenciais

saúde face a doentes reconhecidos como

que suportam a sua actuação, sendo estes: o

incuráveis e da sua preocupação em lhes

controlo de sintomas; a comunicação adequada;

prestar cuidados adequados durante o final da

o apoio à família e o trabalho em equipa

vida (…) mesmo após esgotadas as

(TWYCROSS, 2003; DOYLE, 2004; PNCP,

possibilidades de cura de um doente, há ainda

2004; NETO, 2006, p.21).

muito a fazer por ele” (PACHECO, 2002, p.102).

Apesar da clareza da definição dos CP, na

O modelo de “medicina curativa, agressiva,

prática, em termos de cuidados efectivos, ainda

centrada no «ataque à doença» não se coaduna

existe muita subjectividade. O desenvolvimento

com as necessidades deste tipo de pacientes,

médico-científico pode gerar intervenções

necessidades estas que têm sido

terapêuticas desadequadas às necessidades

frequentemente esquecidas” (ASSOCIAÇÃO

reais das pessoas, consideradas como fúteis,

PORTUGUESA DE CUIDADOS PALIATIVOS,

porque adiam a morte e podem levar ao

2006, p.1).

desenvolvimento de sentimentos de agonia

O termo paliativo deriva do étimo latino

(LIMA, 2006).

pallium, que significa manto, capa. Definem-se

“muitos enfermeiros sentem culpabilidade

CP como “ os cuidados activos e totais aos

quando os doentes desenvolvem escaras,

pacientes com doenças que constituam risco de

recriminando-se por não terem sido

vida, e suas famílias, realizados por uma equipa multidisciplinar, num momento em que a doença do paciente já não responde aos tratamentos curativos que prolongam a vida” (TWYCROSS, 2003, p.16).

suficientemente vigilantes para as prevenir. Quando a morte do doente parece inevitável, estes mesmos enfermeiros têm por vezes tendência ao encarniçamento terapêutico sobre as escaras no desejo de se redimirem de uma omissão ou de uma falta. Parecem incapazes de

Os CP, passaram a ser recomendados pela

realizar {apenas} cuidados de

Organização Mundial de Saúde no início da

manutenção” (SOCIEDADE FRANCESA DE

década de 90, tendo esta os definido como “ as

ACOMPANHAMENTO E DE CUIDADOS

medidas activas para doenças não curáveis cujo

PALIATIVOS (SFACP), 1999, p.161).

objectivo é conseguir a melhor qualidade de

A obstinação terapêutica consiste nos

vida possível controlando os sintomas físicos,

procedimentos diagnósticos e terapêuticos

psíquicos e as necessidades espirituais do

excessivos, desadequados e inúteis face à

utente” (NIDO et al, 2006). Estes cuidados

situação evolutiva e irreversível da doença e

dirigem-se aos doentes que “não têm

que podem causar sofrimento acrescido à

perspectiva de tratamento curativo; têm rápida

pessoa e família e transformar a fase final da

progressão da doença e com expectativa de

vida num longo e doloroso processo de morrer

vida limitada; intenso sofrimento e problemas e

(DGS, 2004; LIMA, 2006, p.81). A sua

necessidades de difícil resolução que exigem

ocorrência diária nos cuidados de saúde deve-

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se a negação social da morte, sensação de

modernos de cicatrização não são essenciais,

fracasso médico, sacralização da vida e

pelo que, mais importante é pensar a pessoa

deficiente formação sobre o fim da vida (LIMA,

com ferida.

2006).

Em CP, as feridas resultam, na sua maioria,

De acordo com o Código deontológico de

do avanço da doença e do mau estado geral. As

Enfermagem, mais concretamente o Artigo 82º -

feridas com maior prevalência são as úlceras de

“o enfermeiro, no respeito do direito da pessoa à

pressão, seguidas das feridas malignas e, mas

vida durante todo o ciclo vital, assume o dever

em menor percentagem, as radiodermatites e

de: (…) recusar a participação em qualquer

fístulas (ALVAREZ et al, 2007, p.1162; NAYLOR,

forma de tortura, tratamento cruel, desumano ou

2005, p.574).

degradante” (ORDEM DOS ENFERMEIROS, 2009). Por sua vez, a Carta dos Direitos do

Uma Úlcera de Pressão (UPr) é “uma lesão

Doente Internado também cita que o doente tem

localizada na pele e/ou no tecido subjacente,

direito a “ receber os cuidados apropriados ao

geralmente sobre uma proeminência óssea,

seu estado de saúde” no qual nomeia os

como resultado da pressão, ou pressão em

cuidados “terminais e paliativos” e diz ainda que

combinação com deslizamento” (EUROPEAN

estes cuidados “ devem integrar uma

PRESSURE ULCER ADVISORY PANEL, 2009,

componente sócio-afectiva especial que deve

p.7).

ser assegurada por todo o pessoal” (DGS, sd). Segundo o Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida (1995), quando seja claro que a recuperação não é possível, é ético a interrupção de tratamentos, em particular quando causam sofrimento, ainda que esta interrupção encurte o tempo de vida. A terapêutica fútil deve dar lugar aos CP, de forma que a morte eminente possa acontecer em paz e com dignidade (LIMA, 2006). 2. FERIDAS EM CUIDADOS PALIATIVOS O tratamento de feridas é uma área fulcral no cuidar da pessoa em fase paliativa. Dado o baixo potencial de cura e de esperança de vida, a cicatrização torna-se um objectivo irrealista. Neste âmbito, o tratamento de feridas foca-se no controlo de sintomas relacionados com a ferida e manutenção ou melhoria da qualidade de vida da pessoa. Por vezes, os princípios JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951

Figura nº1: Úlcera de Pressão de Categoria IV na região trocantérica

As UPr “são, no que concerne à pele, o problema com que a equipa de saúde mais frequentemente se debate ao cuidar do doente em fase terminal.” (NETO, 2006, p.348). Estas “constituem um problema frequente em doentes debilitados e imobilizados e são causadoras de

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desconforto importante, de dor e mau cheiro” (GONÇALVES, 2002, p.202). Para Corner (1989), citado por Galvin (2002), o aparecimento de UPr, em pessoas em fase terminal, é inevitável, devido à deteorização da integridade cutânea. A pessoa, apresenta vários factores de risco, que podem levar à perda de integridade cutânea. Esses factores podem ser extrínsecos, como a pressão, o cisalhamento, fricção, a humidade prolongada, provocada pela sudorese e a incontinência; e intrínsecos como a alteração do estado geral, a desnutrição, a desidratação, a perda de autonomia, a astenia, entre outros (SFACP, 1999, p.162). Chaplin (1999) e Henoch e Gustafsson (2003) definiram critérios específicos, que são: estado da pele enfraquecida; idade avançada; imobilidade; diminuição da ingestão de líquidos e sólidos; humidade; alterações sensoriais e mau estado geral (NAYLOR, 2005). As Feridas Malignas resultam da infiltração das células malignas nas estruturas da pele por via linfática, sanguínea ou directamente do tumor primário, com “proliferação celular descontrolada, que é provocada pelo processo de oncogénese” (INSTITUTO NACIONAL DO CÂNCER, 2009, p.11). Surgem com maior frequência em pessoas na faixa etária dos 60-70 anos e nos últimos seis meses de vida (IVETIC e LYNE, 1990; HAISFIELD-WOLTE e RUND, 1997 citado por DOWSETT, 2002, p.394).

Figura nº2: Ferida Maligna. (Fonte de: FIRMINO Flávia, ARAUJO, Diva F. e SOBREIRO, Veronica [s.d] – O controlo do odor em feridas tumorais através do uso de metronidazol: um levantamento bibliográfico. Primer Simposio Virtual de Farmacologia del dolor. [Acedido a 28.12.10]. Disponível em: http://www.simposiodolor.com.ar/)

Cerca de 5 a 10% das pessoas oncológicas possuem feridas malignas, decorrentes do tumor primário ou tumores metastizados (FIRMINO, 2005; HAISFIELD-WOLTE e RUND, 1997 citados por DOWSETT, 2002). Segundo Thomas (1992), as feridas malignas surgem, mais frequentemente, em tumores da mama, pele e cabeça e pescoço (CHAPLIN, 2004). A ferida maligna surge como um nódulo que, vai evoluindo, ao longo dos estadios seguintes, para uma lesão ulcerosa, com exsudado abundante, odor intenso, que pode ser facilmente sangrante e provocar dor (POLLETTI et al, 2002). Devido aos factores de crescimento produzidos pelas células tumorais, o tumor cresce e aumenta a sua rede neovascular, provocando pressão sobre os tecidos, levando a um desequilíbrio fisiológico que leva a hemorragia da ferida. A presença de exsudado abundante nas feridas malignas pode dever-se: ao facto do tumor ser muito permeável ao fibrinogénio e ao plasma; de muitos tumores secretarem um factor de permeabilidade

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vascular e ao elevado número de

Em CP, deparamo-nos com o dilema de quando

microrganismos anaeróbios na superfície das

a qualidade de vida e o conforto da pessoa são

lesões, quando infectadas, sendo estes os

prioritários à prevenção e à efectividade do

responsáveis pelo odor (GOMES, CAMARGO,

tratamento (CHAPLIN e MCGILL, 1999;

2004, p.213).

DEALEY, 1999 citada por GALVIN, 2002). Segundo Saunders e Regnard (1989), citados

Estadios

Definição

por Naylor (2005), o “tratamento deve ser realista e aceite pelo utente e cuidadores. Se o tratamento não promover a qualidade de vida ou

I

Ferida fechada

II

Envolve a derme e a epiderme

essencial para a qualidade de cuidados,

Feridas espessas que envolvem o

procurar identificar as expectativas, os medos e

III

IV

tecido subcutâneo Feridas que invadem estruturas anatómicas profundas

Quadro nº 1: Classificação das Feridas Malignas (GOMES e CAMARGO, 2004).

sensação de bem-estar, deve ser mudado.” É

as prioridades da pessoa de forma a envolve-la no tratamento da ferida (CHAPLIN, 2004, p.39). Neste contexto, as metas do tratamento de feridas em CP devem passar pelo controlo de sintomas e promoção do conforto (NAYLOR, 2005, p.574). Moody e Grocott (1993) definiram como objectivos do tratamento de feridas: o

A cicatrização neste tipo de feridas é muito

conforto; a qualidade de vida; o controlo de

improvável, uma vez que está relacionada com

sintomas e a promoção da confiança e uma

a evolução da patologia primária (NAYLOR,

sensação de bem-estar (HAYNES, 2008).

2005).

Alvarez et al (2007) estabeleceram a

As feridas malignas têm um grande impacto na

Mnemónica SPECIAL para os princípios do

vida da pessoa, não só pelas alterações

tratamento de feridas em CP (Quadro nº 2).

significativas que provoca na auto-imagem, como também, na sua vida social e na

S

Stabilize the Wound

(GOMES e CAMARGO, 2004). Por outro lado,

P

Prevent New Wounds

encontram-se muitas vezes associados

E

Eliminate Odor

C

Control Pain

I

Infection Prevention

A

Absorb Exudates

L

Less Dressing Changes

realização das suas actividades de vida diárias

sentimentos como a vergonha, estigma e inutilidade (ALVAREZ et al, 2007; DEALEY, 2001; PIGGIN, 2003). Assim, os cuidados à pessoa com ferida maligna devem incluir o controlo de sintomas e a avaliação dos problemas psicossociais que surgem com a progressão da doença (POLLETTI et al, 2002). 2.1. PRINCIPIOS DO TRATAMENTO DE FERIDAS EM CUIDADOS PALIATIVOS JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951

Quadro nº 2: Mnemónica SPECIAL para os Princípios do Tratamento de Feridas em Cuidados Paliativos (ALVAREZ et al, 2007)

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Naylor (2005) define como os princípios básicos

pensos, como o hidrocoloide e os alginatos

para o modo de actuação de feridas crónicas

podem também levar à produção de odor

em CP: a prevenção do desenvolvimento de

(FLETCHER, 2008, p.15).

feridas ou a sua deteorização; corrigir ou tratar a

Para Grocott (2002), o tratamento do odor

causa subjacente da ferida para promover um

consiste em três elementos: o metronidazol

ambiente propicio à cicatrização e/ou reduzir o

tópico ou antimicrobianos; o metronidazol

impacto dos sintomas; controlo de sintomas;

sistémico e pensos com carvão activado.

utilizar a auto-avaliação; promover um

O carvão activado é uma substância com

acompanhamento psicológico, particularmente

elevada capacidade de absorção de vários tipos

se a ferida altera a imagem corporal e estado

de compostos, pelo que adsorve as moléculas

emocional; promover a independência e a

de odor, impedindo a sua libertação (DRAPER,

qualidade de vida.

2005). O metronidazol gel (0,75%- 0,8%), ou solução tópica aplicado sobre o leito da ferida, actua

2.1.1. CONTROLO DE SINAIS E SINTOMAS

directamente sobre as bactérias anaeróbias, responsáveis pela produção de ácidos voláteis

À medida que o quadro clínico da pessoa se

causadores de odor. Uma vez dentro da célula,

agrava, ocorre uma deteorização progressiva da

pelo processo de captação e activação

ferida, sendo comum, o aparecimento de

intracelular, exerce as suas propriedades

sintomas que podem ser de difícil controlo, tais

citotóxicas, interagindo com o DNA e levando à

como, o odor, elevados níveis de exsudado, dor

morte celular (NAYLOR, 2005, p.575; POLETTI

e hemorragia (NAYLOR, 2005, p.575).

et al, 2002). O seu efeito no leito da ferida está, então, relacionado com a eliminação da

ODOR

infecção causada por microorganismos

Considerado pela literatura como o sintoma

anaeróbios e consequente efeito desodorizante

mais difícil de controlar e com maior impacto

(ALVAREZ et al, 2007). Não deve ser utilizado

negativo na pessoa, despoleta sensação de

com outros geles devido à interacção potencial

enojamentos e de isolamento social (FIRMINO,

com outros produtos (DOWSETT, 2002).

2005).

O metronidazol sistémico é também eficaz,

O odor nas feridas, em CP, pode ocorrer como

contudo o seu uso prolongado pode resultar no

parte do processo normal de cicatrização e

aparecimento de efeitos secundários

deriva do metabolismo bacteriano, que produz

gastrointestinais (náuseas, diarreia, anorexia,

cadeias de ácidos gordos voláteis (HAYNES,

distúrbios epigástricos e dor abdominal) e

2008; FLETCHER, 2008). Segundo Gardner et

neurotoxicidade (tonturas, vertigens e ataxia).

al (2001), não é sinónimo de infecção, mas pode

No entanto, as feridas com mau aporte

indicar a sua presença ou ainda de tecido

sanguíneo podem diminuir a sua eficácia bem

desvitalizado e necrosado, sinus tractus e

como a utilização em simultâneo com outro

fístulas no leito da ferida, acrescenta Wuwhs

antibiótico (NAYLOR, 2005; PIGGIN, 2003).

(2007) (ADDERLEY, 2010). Determinados JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951

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Em CP, os objectivos do tratamento de feridas é

frequentemente hemorrágico e sem vantagens

eliminar o tecido inviável e gerir a carga

reais.”

bacteriana, de modo a reduzir o odor, o

A literatura sugere ainda outros métodos para o

exsudado e a lesão da pele perilesional

controlo do odor, tais como pensos mais

(GROCOTT, 2007). O desbridamento é

oclusivos, que ao permitem menores trocas

essencial no tratamento de feridas, no entanto,

gasosas, diminuem a percentagem de libertação

em CP pode não ser fundamental e “é,

de moléculas de odor e a aplicação de apósitos

frequentemente, nas situações de feridas com

antimicrobianos, tais como pensos impregnados

tecido necrosado que a decisão se torna mais

com prata, iodo e mel (GOMES e CAMARGO,

complexa”: deverá fazer-se desbridamento

2004). Contudo, dado o aumento das doenças

mecânico? Deverá limpar-se até chegar a uma

crónicas e consequentemente dos gastos em

zona tecidular sã? Para que resultados

saúde, é pertinente questionar se é ético gastar

esperados a curto prazo? Existe esperança de

recursos, quando não existe esperanças de

uma melhoria significativa do conforto ou de

cura, ou seja, dado o mau estado geral da

cicatrização à altura do peso dos cuidados

pessoa e a impossibilidade de cicatrização da

empreendidos? (SFACP, 1999, p.164)

ferida em fim de vida, devemos utilizar pensos

Segundo a Agency for Health Care Policy and

antimicrobianos? Quais os custos-benefícios?

Research (AHCPR) “qualquer tecido necrótico

Um dos princípios éticos fundamentais no

observado durante a avaliação inicial ou

contexto de cuidados de saúde é a justiça, a

subsequente deverá ser desbridado, desde que

exigência de equidade universal, que pressupõe

a intervenção seja consistente com os

a existência de recursos disponíveis suficientes

objectivos globais do tratamento e condições

para todos, o que não se verifica na realidade

clínicas do paciente”. Existem algumas

portuguesa (THOMPSON, MELIA e BOYD,

situações em que não é recomendado o

2004). Assim, será justo aplicar a justiça

desbridamento tais como em “feridas

distributiva em CP, mais concretamente, utilizar

isquémicas com necrose seca” e em pessoas

recursos monetários elevados, quando a

“fora de possibilidades terapêuticas que

cicatrização é irrealista? ou deverá o conceito

possuem úlceras com presença de escaras, que

de justiça distributiva ser substituído pela forma

ao desbridar pode promover desconforto, dor, e

equitativa, cabendo a cada profissional de

devido às condições clínicas, não disporá de

saúde cuidar de cada pessoa de forma mais

tempo

justa possível, gerindo os recursos disponíveis?

e

condições

para

a

cicatrização” (BLANES, 2004). A SFACP (1999)

A realização de penso diário é também

acrescenta que, “quando a morte é eminente ou

identificada como uma opção no controlo do

a esperança de vida é curta (...) Os cuidados

odor, uma vez que, previne a acumulação de

prestados são para manter a limpeza local, para

exsudado (NAYLOR, 2005). Mas segundo

favorecer o conforto do doente até à morte e

Dealey (2001), a opção por um tratamento

para evitar uma infecção (…) Para além disso, o

paliativo implica a necessidade mínima de troca

desbridamento mecânico é doloroso,

de penso, dado que o grande objectivo dos CP é minimizar a dor e o sofrimento físico e

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psicológico, a realização frequente do penso

pelo que se sugere a sua diluição (GOMES e

não será uma obstinação terapêutica?

CAMARGO, 2004).

A limpeza da ferida deve ser sempre feita por

Feridas com hemorragia moderada a elevada,

irrigação, podendo ser realizada com água

deve-se optar pela aplicação de pressão local,

potável, em alternativa à solução salina, visto

hemostáticos tópicos ou acido aminocapróico

ser uma opção económica e que não traz efeitos

(NAYLOR, 2005, p.575).

nocivos para a ferida. EXSUDADO HEMORRAGIA

O controlo do exsudado reduz o odor, protege a

A hemorragia capilar pode gerar ansiedade quer

pele perilesional, aumenta o conforto da pessoa

para a pessoa e família, quer para o enfermeiro.

e melhora a sua auto-estima (GOMES e

Primariamente, deve-se prevenir o trauma nos

CAMARGO, 2004; ALVAREZ, et al, 2007). A sua

tecidos presentes no leito da ferida, que resulta

gestão requer um equilíbrio entre a absorção de

em hemorragia dos mesmos, através da

exsudado e a manutenção de um ambiente

humidificação do penso antes da sua remoção,

húmido (NAYLOR, 2005). Como opção, pode-se

da limpeza do leito da ferida por irrigação e da

aplicar pensos absorventes, tais como os

aplicação de pensos não aderentes (NAYLOR,

espumas de poliuretano, hidropolímeros,

2005).

alginato de cálcio, a carboximetilcelulose sódica

Em feridas sangrantes, o alginato de cálcio é o

e o carvão activado.

material de primeira escolha especialmente se

A literatura avança com outra opção, a aplicação

estas se apresentarem exsudativas. Este ao

de compressa nas feridas crónicas em CP. O

absorver o exsudado forma um gel viscoso, em

uso da compressa em feridas é completamente

resultado de um processo físico de troca de iões

contra-indicada, uma vez, que é interpretada

cálcio presentes no penso e iões sódio

como uma plataforma de migração celular pelas

presentes no exsudado da ferida. Durante este

células vasculares endoteliais, e aquando da

intercâmbio, o alginato de cálcio fornece cálcio

sua remoção provoca desbridamento mecânico

ao leito da ferida, possuindo assim propriedades

e deixa resíduos no leito da ferida (factor de

hemostáticas, para além de promover o alívio da

cronicidade) que podem desencadear uma

dor, através da criação de um ambiente húmido,

inflamação prolongada, comprometendo o

que por sua vez, humedece as terminações

processo de cicatrização (GOMES e

nervosas, evitando a propagação de estímulos

CAMARGO, 2004; DEALEY, 2001, p.137). Mas

dolorosos (POLETTI et al, 2002; GOMES e

se a cicatrização é um objectivo irrealista, numa

CAMARGO, 2004).

pessoa em fim de vida, porque não aplicar

O uso de adrenalina no leito da ferida

compressas no leito da ferida? Que

também está indicado (POLETTI et al, 2002;

desvantagens acrescentará à cicatrização da

DEALEY, 2001), contudo de forma cuidadosa,

ferida? Quais os custos-benefícios na aplicação

uma vez que, pode originar necrose isquémica,

de apósitos?

dado tratar-se de um potente vasoconstritor,

Proteger os bordos da ferida e a pele perilesional com um produto barreira, como por

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exemplo o Óxido de Zinco e a película

Na maioria das feridas com sinais de infecção

polimérica, é essencial. Na prática, as pessoas

locais, o uso de antimicrobianos tópicos é

referem menos dor na pele perilesional, uma

suficiente para o seu controlo, devendo a sua

vez que esta se encontra protegida contra os

aplicação ser cessada após o tratamento da

agentes irritantes (FIRMINO, 2005).

infecção (HAYNES, 2008). No caso, de existir sinais de uma infecção sistémica o uso de

DOR

antibioterapia oral ou intravenosa deve ser

A escolha do penso adequado é fundamental,

considerado (MCDONALD e LESAGE, 2006, p.

de forma a reduzir o trauma e a dor na sua

292). Firmino (2005) reforça que se deve

remoção (POLETTI et al, 2002). A aplicação de

instituir-se antibioterapia sistémica quando a

pensos semi-oclusivos criam um ambiente

tópica for insuficiente e a pessoa apresentar

húmido, evitando a sua substituição frequente, e

sinais clínicos de infecção local intensa e

consequentemente a diminuição da dor e do

sistémica. Mas mais uma vez, levantamos

desconforto, uma vez que, humedece as

algumas questões: o uso de antibióticos trará

terminações nervosas, como já foi referido

vantagens para a pessoa? Face aos seus

anteriormente (GOMES e CAMARGO, 2004).

custos e à esperança de vida da pessoa, será

Aquando da realização do penso, deve

importante a sua utilização?

administrar-se previamente um analgésico. O uso tópico de opióides é efectivo em dor

MATERIAL DE PENSO

resultante de úlceras (NAYLOR, 2005, p.577). A

Em CP, o penso não deve ser escolhido apenas

aplicação de morfina tópica e de outros opióides

de acordo com as características físicas da

no leito da ferida é controversa e ainda se

ferida, mas também pelo aspecto e conforto

encontra em estudo, bem como a sua

para a pessoa, conforme já aludido (NAYLOR,

associação com o metronidazol gel e com o

2005, p.572). “O penso adequado é aquele que

hidrogel (GOMES e CAMARGO, 2004;

controla a dor, absorve o exsudado e reduz a

MCDONALD e LESAGE, 2006, p.293).

necessidade de mudança” (ALVAREZ et al,

Adoptar terapias complementares como

2007, p.1175). Realizar um penso efectivo,

técnicas de relaxamento, musicoterapia,

confortável ao utente e esteticamente aceitável

distracção e visualização, acupuntura e hipnose,

torna-se um desafio para a Enfermagem

pode ser uma opção (NAYLOR, 2005, p.577;

(FIRMINO, 2005).

MCDONALD e LESAGE, 2006).

Pensos volumosos devem ser evitados de forma

Em suma, a gestão/controlo da dor requer

a manter a anatomia, a estética e o conforto. O

intervenções cuidadosas, administração de

uso de redes tubulares pode ser uma boa opção

fármacos, monitorização da dor e apoio

para fixar o penso, não só, porque permitem um

psicológico.

fácil acesso à ferida, como também não provocam danos na pele perilesional. O adesivo

INFECÇÃO

deve ser usado com precaução, uma vez, que

A presença de infecção aumenta a quantidade

pode ser um agente causador de dermatites de

de exsudado, o odor e a dor (HAYNES, 2008).

contacto e, a sua remoção pode provocar dor.

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Página 12

Quando não existirem opções à sua utilização,

consideramos que a cada intervenção de

deve optar-se por adesivos hipoalergicos

Enfermagem em CP, torna-se essencial

(GOMES e CAMARGO, 2004).

questionar: Existe esperança de uma melhoria significativa do conforto e qualidade de vida ou

Características da ferida

de cicatrização face ao peso dos cuidados Material de Penso

empreendidos? Assim, a abordagem à pessoa com ferida

Odor

Metronidazol Tópico Metronidazol Sistémico Carvão Activado Antimicrobianos Tópicos

crónica, em CP, deve passar por cuidados individualizados, que minimizem o desconforto e os problemas sociais, psíquicos e emocionais que podem surgir, e que promovam o bem-estar

Infecção

Antimicrobianos Tópicos

Hemorragia

Alginato de Cálcio

Exsudado

Alginato de Cálcio Carboximetilcelulose Sódica Carvão Activado Espumas de Poliuretano Hidropolímero

Quadro nº 3: Quadro resumo de material de penso

e a melhoria da qualidade de vida.

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1.3. CONCLUSÃO Os princípios do tratamento de feridas, em CP centram-se no controlo de sinais e sintomas nomeadamente do odor, do exsudado, da infecção, da dor e da hemorragia, promovendo a qualidade de vida e o bem-estar da pessoa, em detrimento de medidas agressivas. A pessoa e a família devem ser agentes participativos no cuidar, estando a sua vontade, o seu conforto e auto-imagem na linha da frente. Na literatura, a abordagem de feridas crónicas n a p e s s o a e m C P, n o m e a d a m e n t e a s intervenções de enfermagem são ainda muito vagas, não dando resposta a questões morais,

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ABORDAGEM DE FERIDAS COM HIPERGRANULAÇÃO APPROACHING WOUNDS WITH HYPERGRANULATION ENFOQUE EN HERIDAS CON HIPERGRANULACIÓN

Autores

Cláudia Gomes1, Elsa Menoita2, Vítor Santos3, Ana Sofia Santos4, Carlos Testas5 1Enfermeira do Serviço de Medicina 2B do Hospital Curry Cabral, Pós-Graduada em Gestão de Feridas Crónicas: uma abordagem de boas práticas

(FERIDASAU); 2 e3 Enfermeiros coordenadores do FERIDASAU e coordenadores pedagógicos e científicos do III Curso de Pós-Graduação de Gestão de Feridas Crónicas: uma abordagem de boas práticas; 4 - Enfermeira do Centro Hospitalar do Oeste e membro do grupo de Formação em feridas do CHO.5- 4. Enfermeiro Especialista no Hospital Curry Cabral; licenciado em Psicologia Social e das Organizações

Corresponding Author: claudiapsgomes@gmail.com

Resumo Objectivo: O tecido de hipergranulação é uma entidade com grande relevância no que se refere ao tratamento de feridas, sendo um dos factores que podem atrasar o processo de cicatrização e levar ao desenvolvimento de uma ferida complexa. Com esta Revisão Sistemática da Literatura, identificaram-se as intervenções de Enfermagem para a gestão de feridas complexas com tecido de hipergranulação. Metodologia: Foi efectuada uma pesquisa no motor de busca EBSCO, seleccionando bases de dados específicas e utilizados os descritores: “HYPERGRANULATION” or “OVERGRANULATION” or “HYPERTROPHIC GRANULATION” or “HYPERPLASIA OF GRANULATION TISSUE” and “WOUND” and “ASSESSMENT”. Foram também procurados textos acerca da temática na plataforma Google. Recorreu-se ao método PI(C)O e seleccionados um total de 13 artigos. Conclusão: Os cuidados de Enfermagem, o modus operandi, face às feridas com tecido de hipergranulação é ainda algo ambíguo e empirista. Com base nas evidências científicas existentes sobre a problemática definiramse directrizes para a prática clínica. Palavras-chave: Hipergranulação, Cicatrização, Intervenções

Abstract Objective: Hypergranulation is a great relevance in regard to treatment of wounds, as one of factors that can delay the healing process and lead to the development of a complex wound. With this systematic review of the literature, we identified the nursing interventions for the management of complex wounds with hypergranulation. Methods: We performed a search in EBSCO search engine by selecting specific databases using the keywords: "HYPERGRANULATION" or "OVERGRANULATION" or "hypertrophic GRANULATION" or "GRANULATION HYPERPLASIA OF TISSUE" and "WOUND" and "ASSESSMENT". We also sought texts about the subject in the Google platform. Resorted to the method PI(C)O and selected a total of 15 articles. Conclusion: The nursing care, the modus operandi, against the wounds with hypergranulation is still ambiguous and empiricist. Based on existing scientific evidence on the issue set up guidelines for clinical practice. Keywords: Hypergranulation, Wound Healing, Intervention JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951

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Introdução

O tecido de hipergranulação é actualmente um problema no tratamento de feridas. Este

O tecido de hipergranulação caracteriza-se por

fenómeno pode surgir em todo o tipo de feridas,

um excesso de tecido de granulação, que se

como afirma Boyle, (2007). Stephen-Haynes e

forma para além do nível do leito da ferida,

Hampton (sd) acrescentam que este fenómeno

gerando tensão nos bordos, impedindo a

está presente, frequentemente, em feridas com

migração das células epiteliais basais e

cicatrização por segunda intenção.

consequentemente a cicatrização (DUNFORD,

A presença de tecido de hipergranulação no

1999; VUOLO, 2010). Reúne como

leito da ferida pode atrasar o processo de

características: coloração vermelho escuro,

cicatrização e levar ao desenvolvimento de uma

pálido ou violáceo, edematoso, friável, que

ferida complexa. Entende-se por ferida

sangra facilmente de forma espontânea ou após

complexa aquela que permanece estagnada em

a aplicação de uma ligeira pressão, com

qualquer uma das fases do processo de

moderado a elevado exsudado, aparência macia

cicatrização por um período de seis semanas ou

para além da superfície da ferida e não costuma

mais (COLLIER, 2003 citado por GOUVEIA ,

causar desconforto ou dor (BOYLE, 2007;

2003).

JOHNSON, 2007; MONCRIEFF, 2009 e

Todavia, como afirma Sibbald et al (2003) citado

VUOLO, 2010).

por Sibbal, Woo e Ayello (2007) no tratamento de uma ferida complexa, é essencial uma abordagem holística da pessoa com ferida, um trabalho em equipa visando controlar ou minimizar as causas subjacentes, primariamente à avaliação da ferida. A abordagem terapêutica, face às feridas com tecido de hipergranulação é dúbia, sustentada em sensações, suposições e prática individual. Deste modo, é de extrema pertinência o conhecimento e o desenvolvimento de intervenções de Enfermagem para o seu controlo e cicatrização da ferida com base em evidências.

METODOLOGIA Figura n.º1 - Exemplos de Tecido de Hipergranulação

Te n d o p o r b a s e a p r o b l e m á t i c a d a hipergranulação no tratamento de feridas, a presente revisão sistemática da literatura, teve como objectivo identificar com base na

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evidência científica disponível as intervenções

tratamento de feridas, algumas revisões

de Enfermagem na gestão do tecido de

sistemáticas de literatura e linhas orientadoras

hipergranulação em feridas complexas. Como

para a prática clínica, bem como alguns estudos

ponto de partida, foi elaborada a seguinte

quantitativos e qualitativos, com pequenas

questão de investigação em formato PI[C]O,

amostras não randomizadas. Assim, foi possível

“Em relação à Pessoa com tecido de

obter boas conclusões para a prática clínica dos

hipergranulação no leito da ferida complexa

profissionais que tratam este tipo de feridas

(Population), quais as intervenções terapêuticas

complexas.

(Intervention), que visam o seu controlo (Outcome)?” Foi consultado o motor de busca EBSCO, com acesso as bases de dados

RESULTADOS E DISCUSSÃO

CINHAL (Plus with Full Text) e MEDLINE (Plus

Fisiopatologia de Tecido de Hipergranulação

with Full Tex)

bem como a base de dados

electrónica NURSING REFERENCE CENTER

A fisiopatologia do tecido de hipergranulação

(NRC) e a plataforma Google, com selecção de

mantem-se um desafio clínico. Segundo

artigos em texto integral (18 de Janeiro de

Hampton e Collins (2004), um leito da ferida

2012), no período de tempo compreendido entre

preenchido com tecido de granulação e

2001 e 2011, com os seguintes descritores:

epitelização viáveis, o fenómeno de

“ H Y P E R G R A N U L AT I O N ”

or

hipergranulação não ocorre. Todavia, Hampton

“OVERGRANULATION” or “HYPERTROPHIC

(2007) adverte que, em feridas complexas o

GRANULATION” or “HYPERPLASIA OF

tecido de granulação pode apresentar um

GRANULATION TISSUE” and “WOUND” and

aspecto saudável, contudo, se a ferida não

“ASSESSMENT”. Obteve-se um corpos de

cicatriza, pode desenvolver-se posteriormente

análise de 13 artigos, com base em critérios de

tecido de hipergranulação.

inclusão, que privilegiaram os que focam a

Dos artigos analisados, não se encontra

problemática delineada, com metodologia

consensualidade entre os seus autores, embora

quantitativa e/ou qualitativa ou revisão

a maioria aponta como principais causas deste

sistemática da literatura. Relativamente aos

fenómeno: a inflamação prolongada; o ambiente

critérios de exclusão, foram excluídos todos os

oclusivo ou a malignidade tecidular (STEPHEN-

artigos com metodologia pouco clara, sem co-

HAYNES e HAMPTON, sd).

relação com o objecto de estudo, repetidos e

Inflamação Prolongada

com data anterior a 2001 (Esquema nº1 -

Segundo Stephen-Haynes e Hampton (sd) e

Esquematização da Metodologia). Considerou-

Moore (2004), se ocorrer inflamação

se um período temporal de dez anos, de modo a

prolongada, “chronic inflammation”, pode

beneficiar de uma maior abrangência face ao

desenvolver-se o fenómeno de hipergranulação.

conhecimento existente sobre a matéria em

Dunford (1999) aponta a colonização crítica ou a

análise.

infecção e a presença de corpos estranhos/

A maioria dos artigos encontrados consistem em

agentes irritativos (sistemas de drenagem,

revisões de literatura por peritos na área do

material de penso) como as principais causas

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de cronicidade que possam desencadear uma

de “cauliflower”, tecido doloroso ao toque; tecido

resposta prolongada ou excessiva inflamatória e

que se forma para além das margens da ferida e

daí desenvolver-se o tecido de hipergranulação.

não responde aos tratamentos.

Se a causa do desenvolvimento do tecido de hipergranulação se dever a infecção, é necessário proceder a um diagnóstico criterioso

ESTRATÉGIAS DE INTERVENÇÃO

de sinais e sintomas no leito da ferida e área peri-ferida, frequentemente ambíguos ou

A preparação do leito da ferida permite aos

escassos (LORENTZEN e GOTTRUP, 2006).

profissionais de saúde remover as barreiras à

Cutting e Harding (1994) definiram oito critérios

cicatrização e estimulá-la (MOFFATT, 2004).

adicionais para identificar a presença de

O tecido de hipergranulação constitui uma

infecção em feridas com tecido de granulação: o

barreira à cicatrização, Com base no acrónimo

atraso na cicatrização, tecido descolorado,

TIME, o tecido de hipergranulação pode ser

friável e/ou sangrante, mau cheiro, deteorização

definido como um tecido inviável (T), que pode

da ferida (wound breakdown), presença de dor,

estar associado a uma fase inflamatória

elevações na base da ferida (pocketing) e

prolongada ou infecção (I), apresenta exsudado

pontes de tecido de epitelização descolorado e

moderado a elevado (M) e a sua presença gera

frágil (Bridging of the epithelium or soft tissue).

tensão nos bordos da ferida pelo que não

Ambiente oclusivo

avançam (E).

O desenvolvimento de tecido de

A presença deste fenómeno compromete a

hipergranulação pode estar associado, segundo

cicatrização, pelo que se torna impreterível

os autores Collins et al (2002); Dunford (1999);

traçar o plano de intervenção (STEPHEN-

Mancrieff (2009) e Vandeputte e Hoekstra

HAYNES e HAMPTON, sd):

(2006) à aplicação de pensos mais oclusivos, como os hidrocoloides, que pelo seu efeito de

1.Despistar a entidade: Ferida Maligna

desbridamento autolítico produzem quantidades

Como já foi referido, a presença de tecido de

acrescidas de exsudado, que não sendo

hipergranulação no leito da ferida pode indicar

drenado eficazmente leva ao edema do tecido

uma ferida maligna, como tal é necessário

de granulação (HAMPTON, 2007; JOHNSON,

confirmar ou excluir este facto antes de iniciar

2009 e VANDERPUTTE e HOEKSTRA, 2006).

qualquer tratamento. A realização de biopsia do

Malignidade tecidular

tecido de hipergranulação pode ser um dos

O fenómeno da hipergranulação no leito da

métodos (HARKET, 2003).

ferida pode estar presente numa ferida maligna, como tal, o diagnóstico diferencial torna-se

2.Substituição dos pensos secundários

essencial (HARKET, 2003). Stephen-haynes e

Deve-se proceder à substituição dos pensos

Hampton (sd) apontam alguns aspectos

secundários mais oclusivos, como os

relacionados com a ferida maligna e a presença

hidrocoloides por menos oclusivos (JOHNSON,

de tecido de hipergranulação como, a presença

2009), nomeadamente por espumas de

deste tecido durante muitos meses; a aparência JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951

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poliuretano (STEPHEN-HAYNES e HAMPTON,

várias opções como os pensos com colagénio,

sd).

que podem estar associados à celulose

É fundamental, também, preservar a integridade

regenerada oxidada (CRO); a pomada

tecidular e evitar o desbridamento mecânico,

moduladora da actividade das proteinases, em

podendo-se recorrer a pensos menos

que torna o ambiente inóspito para a sua

traumáticos, como os que contêm silicone na

actividade, por acidificação do meio e pensos

sua estrutura ou que têm a tecnologia lipido-

com poliacrilato, em que as partículas do SAP

coloidal (TLC).

(super absorvente poliacrilato) se ligam por afinidade proteica e retêm as MMP.

3.Controlo da Inflamação Prolongada/

A literatura sugere ainda outras opções

Infecção

terapêuticas controversas para a gestão do

Se a causa do fenómeno de hipergranulação for

tecido de hipergranulação. A abordagem “wait

inflamação prolongada, é fundamental

and see” assenta no facto que, alguns autores

considerar-se todos os agentes de cronicidade

defendem que, existe, também, o tecido de

que podem estar presentes e minimizar ou

hipergranulação saudável, caracterizado por

eliminá-los (STEPHEN-HAYNES e HAMPTON,

uma coloração vermelha-rosa, brilhante e com

sd).

reduzido exsudado (JOHNSON, 2009 e

Se a causa da inflamação prolongada for a

HAMPLO, 2007). Em resultado, Se a infecção e

presença de infecção existem directrizes para o

a origem neoplásica forem excluídas, segundo

seu controlo. Se a infecção local for do

Dunford (1999) citado por Vuolo (2010) e

compartimento superficial (atraso no processo

Johnson (2009), pode não haver a necessidade

de cicatrização, aumento do odor, dor e

de intervir, pois com o tempo a hipergranulação

exsudado), o tratamento deve ser baseado

pode ser resolvida por si só.

apenas na aplicação de antimicrobianos tópicos.

Contudo, para Nelson (1999) citado por Vuolo

Contudo, se a infecção for do compartimento

(2010), quer em tecido de hipergranulação

profundo (edema, dor, temperatura aumentada,

saudável ou não saudável, a maioria das feridas

tecido perilesional afectado) dever-se-á associar

não cicatrizam, uma vez que as células epiteliais

aos antimicrobianos tópicos a antibioterapia

têm dificuldade em migrar, pois fazem-no de

sistémica de largo espectro.

modo horizontal.

Alguns dos antimicrobianos tópicos que podem

O desbridamento cortante é também apontado

ser usados são: a prata (ag), o iodo, o mel e o

como um método eficaz para a remoção de

polihexametileno biguanida (PHMB).

tecido não viável. Como o tecido de hipergranulação é bem vascularizado há uma

Se a causa não for infecção ou colonização

tendência para a hemorragia, o que pode

crítica e a ferida continua estagnada e com

dissuadir os profissionais de o realizarem. Vuolo

tecido de hipergranulação, uma opção de

(2019) considera que esta opção de tratamento

tratamento pode ser a aplicação de produtos

faz com que se retorne à fase inflamatória da

que retenham as Metaloproteinases da matriz

cicatrização. Opta-se por diversas vezes pelo

(MMP) ou as inactivem. Existe no mercado

desbridamento cirúrgico (STEPHEN-HAYNES e

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Volume 2. Edição 2


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HAMPTON, sd), com remoção de uma margem

efectivamente, retardar o processo de

do tecido viável em bloco operatório.

cicatrização (MONCRIEFF, 2009).

Vários autores, como Boyle (2007), acrescentam que se deve aplicar uma ligeira pressão na fixação do penso, uma vez que

Nitrato de prata

diminui o edema. Harris e Rolstad (1994)

O nitrato de prata é utilizado em feridas com

realizaram um ensaio clínico sobre a aplicação

tecido de hipergranulação desde à décadas e

de espumas de poliuretano no tratamento em

caracteriza-se por um produto cáustico e um

dez pessoas com o total de doze feridas com

forte agente oxidante, quando activado oxida a

tecido de hipergranulação e os resultados

matéria orgânica e destrói as bactérias.

demonstraram uma diminuição significativa

Segundo Barkowski (2005), é considerado um

(menos 2 milímetros de altura) do tecido de

dos tratamentos mais eficazes no tratamento da

hipergranulação após duas semanas, pelo que

h i p e r g r a n u l a ç ã o ( S T E P H E N - H AY N E S e

concluíram que a pressão do apósito sobre o

HAMPTON, sd). Segundo Dulaimi e Hamilton

tecido de hipergranulação reduz o edema

(2008), a acção do nitrato de prata é superior à

(JOHNSON, 2009). Contudo, esta técnica não

dos corticóides no tratamento do tecido de

reúne consenso entre os autores (STEPHEN-

hipergranulação em úlceras de perna.

HAYNES e HAMPTON, sd) (Figura n.º2)

No entanto, Vuolo (2010) e Yuong (1995) apontam vários efeitos secundários por toxicidade, como o fenómeno de arginismo, hiponatremia, hipocaliemia e hipocalcemia. Moncrieff (2009) acrescenta, ainda, que, a sua acção no leito da ferida resulta frequentemente em isquémia tecidular, acabando por se tornar um ambiente propício à proliferação bacteriana, prolongando a fase inflamatória, sendo por isso frequente o reaparecimento do tecido de hipergranulação. Corticóides tópicos Alguns autores advogam o uso de corticoides tópicos para suprimir o processo inflamatório (CARTER, 2007; COOPER; 2007 citados por

Figura n.º2 - Antes e depois da pressão com Espuma de Poliuretano

STEPHEN-HAYNES e HAMPTON, s.d). De facto, é comummente abordado na literatura a utilização de corticóides tópicos para atenuar a

Outras opções de tratamento descritas com

resposta inflamatória e consequentemente

grande recorrência são a aplicação de nitrato de

reduzir a produção de hipergranulação

prata e de corticóides tópicos, contudo podem,

(JOHNSON, 2007).

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Volume 2. Edição 2


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Contudo, está documentado que os corticoides

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nas feridas complexas, contudo a abordagem terapêutica deste fenómeno é pautada por

CUTTING, K.F. e HARDING, Cardiff (1994)

controvérsias e empirismo. Denota-se na

Criteria for identifying wound infection Journal of

literatura científica falta de consentaneidade

Wound Care June. Vol 3, nº4 p.198-201.

entre os diferentes autores relativamente aos conceitos, aos processos fisiopatológicos e às diferentes abordagens. Actualmente existe uma grande variedade de

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p.506-507.

actuais aprofundados com a presente revisão sistemática da literatura sobre o fenómeno da

ENOCH, S. e PRICE, P (2004) Cellular,

hipergranulação, permite aos profissionais de

molecular and biochemical differences in the

saúde reconheceram as opções terapêuticas

pathophysiology of healing between acute

mais seguras e eficientes na abordagem de uma

wounds, chronic wounds and wounds in the

ferida com tecido de hipergranulação.

aged. Disponível em www.worldwidewounds

Reconhecemos a importância do incremento de estudos sobre a abordagem do tecido de hipergranulação no leito de feridas complexa.

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Ramos, A., Fonseca, C., Santos, V. (2013) An Overview on Informed Consent. Journal of Aging & Inovation, 2 (2): 25-32

REVISÃO NARRATIVA / NARRATIVE REVIEW

ABRIL, 2013

UM OLHAR ACERCA DO CONSENTIMENTO INFORMADO AN OVERVIEW ON INFORMED CONSENT UNA MIRADA SOBRE EL CONSENTIMIENTO INFORMADO

Autores

Albano Ramos1, César Fonseca2, Vítor Santos3 1

Enfermeiro Especialista em Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiatria, Pós-Graduado em Gestão de Unidades

de Saúde, 2 Enfermeiro CHLN, Investigador UI&DE, Mestre em Ciências da Comunicação, Doutorando em Enfermagem Universidade de Lisboa, 3 Enfermeiro Especialista, MsC, Centro Hopitalar Oeste (CHO) Corresponding author: albano-ramos@clix.pt

Resumo O consentimento informado é e sempre será um tema actual, tanto mais que constitui uma das pedras fundamentais do que cada vez mais se pretende melhorar, que é o bem-estar e segurança dos cidadãos. A premissa básica do Consentimento Informado é que todo o ser humano tem o direito de determinar o que será feito para e com o seu próprio corpo. Apenas um individuo devidamente informado é autónomo, no sentido real da palavra, para poder tomar as suas decisões. Quando se fala em cuidados de enfermagem pensamos ser importante para todos, interrogarmo-nos sobre os direitos de uns, colocarmo-nos no campo dos deveres dos outros e lembrarmo-nos que os enfermeiros não podem deixar de reflectir sobre os princípios que devem guiar a sua actuação. Palavras-chave: Ética, consentimento informado, decisão, esclarecimento, enfermagem. Abstract Informed consent is and always will be a important issue, especially as it is one of the cornerstones of that increasingly wants to improve, which is the welfare and safety of citizens. The basic premise of informed consent is that every human being has the right to determine what will be done to and with your own body. Only one individual is fully informed independent in the real sense of the word, in order to make their decisions. When it comes to nursing care think is important for everyone to ask about the rights of each, place ourselves in the field of the duties of others and remind ourselves that nurses can not help but reflect on the principles that should guide their actions. Keywords: Ethics, informed assent, decision, clarification, nursing.

INTRODUÇÃO Quando nos deparamos com um mundo cada vez mais agitado pelas mudanças aceleradas,

decidir sobre si. Este novo modelo conceptual é pois o fundamento do Consentimento Informado.

evidentes nas alterações sociais e tecnológicas, é natural que surjam preocupações éticas emergentes em vários domínios. A relação profissional de saúde/doente, tradicionalmente paternalista, encontra agora novos conceitos, nomeadamente o direito à auto

CONSENTIMENTO INFORMADO Os profissionais de saúde estão, hoje, cada vez mais receptivos à noção e valor da participação informada dos doentes na tomada de decisões.

– determinação, ou seja, a capacidade e a

Esta receptividade pode ficar a dever-se, não só

autonomia que os próprios doentes têm para

ao aumento do conhecimento dos doentes dos

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seus direitos, mas também ao litígio provocado

apresentam para ouvir com atenção as palavras

pela dúvida da existência de Consentimento

dos seus doentes e as emoções que se

Informado em determinadas situações.

escondem por detrás delas.

Para além do aspecto moral do Consentimento

A premissa básica do Consentimento Informado

Informado, existem vantagens para os

é que todo o ser humano tem o direito de

profissionais de saúde sob o aspecto jurídico, ao

determinar o que será feito para e com o seu

conferir-lhes protecção contra possíveis

próprio corpo.

reclamações ante os tribunais, pelas responsabilidades penal e civil. Independentemente das razões, tornou-se

EVOLUÇÃO HISTÓRICA

imperativo, com o evoluir dos tempos, que os

É difícil precisar em que épocas, e até que

profissionais de saúde estejam conscientes dos

ponto, os profissionais de saúde se sentiram

aspectos éticos, morais e legais inerentes ao

moral, ou deontologicamente, obrigados a

conceito de Consentimento Informado.

informar os doentes sobre o seu estado, a

Consentimento vem do latim consentir, que significa “sentir ou sentir em conjunto”. Hoje em dia é designado como “eu livremente concordo

esclarece-los sobre as terapêuticas, os riscos e as expectativas de cura, assim como a respeitar a autonomia dos doentes.

com as suas propostas” (Thorpe, 1990: 10).

Em textos atribuídos a Hipócrates,

Está implícito a esta declaração a não coerção

recomendava-se que o médico escondesse tudo

na obtenção do consentimento. Ao

o que pudesse do doente, desviando mesmo a

acrescentarmos a palavra informado adquirimos

atenção dele daquilo que estava a fazer e

uma nova dimensão do termo, pois só quem

omitindo o prognóstico que lhe reservava.

está a par de todos os factos se pode considerar informado.

Por outro lado, historicamente, o médico estabeleceu uma relação terapêutica

No entanto o Consentimento Informado não

semelhante à que conhecemos hoje,

consiste exclusivamente em levar informação ao

nomeadamente, quando se tratava de

doente, é também, e principalmente, uma

intervenções cirúrgicas em que a falta de

oportunidade de iniciar um diálogo, devendo

anestesia obrigava a tentar obter a melhor

pois resultar numa tomada de decisão

colaboração do doente. Se não se levava mais

partilhada, e numa relação de reciprocidade ou

longe os esforços de esclarecimento e de

aliança terapêutica.

decisão conjunta era apenas porque, durante

Segundo Ética Clínica (2002) este diálogo não é apenas inibido pelas limitações do profissional de saúde em comunicar e do doente em

centenas de anos, o Físico tinha poucos meios curativos para oferecer, restando-lhe manter o doente na esperança de uma cura ilusória.

c o m p r e e n d e r, é t a m b é m l i m i t a d o p e l a

Apesar de tudo foi apenas há cerca de 70 anos

incapacidade que muitos profissionais de saúde

atrás que um tribunal nos Estados Unidos da

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América, deliberou segundo Gauchi (citado por Serrão, 1998: 16): “…todos os seres humanos maiores de idade e com saúde mental (competentes) tem o direito a determinar o que deverá ser feito com o próprio corpo; e um cirurgião que realize uma operação, sem o consentimento do paciente, comete uma violação, estando por isso sujeito à exigência de responsabilidade…Olmstead versus United States (1928)”. Posteriormente, surgiu a Declaração de Helsínquia, adoptada em 1964 pela Assembleia Médica Mundial da OMS, que é considerada um marco de referência do Consentimento Informado, no que concerne à importante problemática da experimentação em seres humanos. Esta Declaração foi seis vezes

CONSIDERAÇÕES-CHAVE PARA A PRÁTICA DO CONSENTIMENTO INFORMADO Segundo Beauchamp e Shildress (citado por Serrão, 1998), o Consentimento Informado é constituído por cinco elementos distintos: competência, comunicação, compreensão, voluntariedade e consentimento. Estes elementos são as bases de construção de um Consentimento Informado considerado válido. O doente “…dá um consentimento informado se for competente para agir, se receber informação completa, se compreender essa mesma informação, se decidir voluntariamente e, finalmente, se consentir a informação” (Serrão, 1998: 18).

corrigida e aperfeiçoada e hoje serve de

Segundo estes autores, os elementos referidos,

orientação a toda a actividade médica e

podem ser divididos em três componentes

bioética, quer na investigação, quer na função

fundamentais (Serrão, 1998):

clínica. O Consentimento Informado surgiu destas definições de Helsínquia. No decurso dos anos 70, mais do que o aparecimento de um novo conceito, surgiu essencialmente uma nova postura, tendo-se instaurado definitivamente o Consentimento Informado na relação com o doente. O Consentimento Informado era impossível há 50 anos, segundo Silva (2002), pois nem os médicos nem os doentes o entenderiam, porque

- Pré-condições – englobam a competência para compreender e agir e a voluntariedade em decidir; - Elementos da informação – englobam a comunicação da informação, a recomendação de um plano e a compreensão; - Elementos do consentimento – englobam a decisão em favor de um plano e a autorização do plano escolhido.

os médicos não queriam revelar meandros científicos da sua actuação, e os doentes não perceberiam porque motivo eram informados. Meio século depois, estará tudo diferente? Tudo não está, mas certamente muita coisa se modificou.

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Competência e capacidade de decisão De uma forma geral, o significado do termo competência, pode ser “capacidade para efectuar uma tarefa” (Serrão, 1998: 18). A

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competência para decidir está directamente

estabelecer como norma, aquilo que um doente

relacionada com a decisão a ser tomada.

precisa conhecer para fazer opções racionais.

Evidências da Investigação e Teorias julgamento a baseadassobre na evidência

A informação a fornecer ao doente é uma das

competência de uma pessoa, distingue os

questões mais controversas, e isto porque,

indivíduos cujas decisões deverão ser

Resultados embora idealmente, o doente deva ser

respeitadas, daqueles que necessitam de um

informado com a maior veracidade e o mais

representante que substitua a sua vontade

detalhadamente possível, por vezes o desnível

(Serrão, 1998).

de conhecimento técnico-científico impede que

Nos cuidados de saúde, o

Sendo assim é necessário avaliar a capacidade

isso se verifique.

de decisão como parte essencial do

Ao comunicar esta informação deve-se evitar o

Consentimento Informado.

uso de termos técnicos, usando uma linguagem compreensível ao doente, dando explicações de forma clara e simples, assim com perguntar se

Voluntariedade A expressão de vontade individual prende-se com o conceito de liberdade de decisão, ou seja, a pessoa não deve sentir qualquer coerção

este compreende a informação e dar a oportunidade de colocar questões. Esta compreensão é tão importante como a informação.

ou influência exterior, correndo o risco de se

Há diversos factores que podem condicionar a

violar o seu direito a autodeterminação

informação/comunicação. O profissional de

individual.

saúde pode ter dificuldade em transformar a sua

Reveste-se da máxima importância considerar formas subtis de pressão ou manipulação para que o doente, que está a ser confrontado, aceite.

linguagem técnica em linguagem acessível e compreensível para o doente. Pode ainda ter preocupação em não quer ou alarmar o doente ou, por outro lado, sentir-se pressionado pela pressa ou múltiplas obrigações. Por seu lado, o

Pode existir, no entanto, licitamente, a

doente pode estar limitado na compreensão,

persuasão por parte do profissional de saúde ao

estar distraído, desatento ou subjugado pelo

utilizar argumentos de natureza exclusivamente

medo e ansiedade.

racional, indicando inclusive qual a sua própria opção. Existe porém uma linha muito ténue entre a persuasão e a coacção.

Por todos estes factores, o Consentimento Informado impõe-se muitas vezes como uma tarefa indesejável e talvez impossível: indesejável porque informar adequadamente um doente é demasiado moroso e pode criar

Informação e comunicação Relativamente à informação que deve ser transmitida ao doente, a tendência legal é para JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951

ansiedade desnecessária; impossível porque nenhum doente sem educação médica e sem experiência clínica pode alcançar o verdadeiro significado da informação recebida. Volume 2. Edição 2


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Sendo assim, saliento as seguintes situações: Decisão e consentimento Entre a informação e o consentimento deverá haver um período de reflexão, onde se manifestarão perguntas, dúvidas e anseios. No entanto, favorecer e respeitar a autodeterminação do doente ao decidir, não significa deixá-lo só nesse momento, tendo a família e os profissionais de saúde condições de prestar ajuda adequada nas decisões.

- SITUAÇÕES DE URGÊNCIA/EMERGÊNCIA – nestes casos os doentes podem não ser capazes de dar o seu consentimento, porque estão inconscientes ou em estado de choque. O consentimento é considerado implícito, presumindo-se que o doente daria o seu consentimento se fosse capaz de o fazer, já que a alternativa poderia ser a morte ou a incapacidade grave. O dever de assistir qualquer pessoa que necessite seriamente de

Pode considerar-se o consentimento como

ajuda, ou seja, o princípio da beneficência é a

expresso, implícito, ou ambos (Thorpe, 1990),

justificação ética para estes casos;

sendo qualquer uma das formas válidas. Expresso quando concedido em termos claros, oralmente ou por escrito. Implícito quando concedido por gestos de aceitação.

- MENORES DE IDADE – as capacidades mentais das crianças amadurecem com o crescimento, sendo consideradas incapazes ou incompetentes à luz da lei. Sendo assim,

O testemunho escrito é mais eficaz porque

compete aos pais, ou tutores legais, decidir,

permite, não só uma revogação da vontade,

dentro de padrões éticos socialmente aceites, o

como também, no recurso à justiça, definir e

melhor para os seus filhos. Só quando as suas

apurar responsabilidades bilaterais.

decisões entram em colisão com o melhor interesse da criança é legítimo questioná-los.

Situações especiais

Porém, nem todos os menores são considerados incompetentes, segundo a

Existem situações especiais em que, não é

Convenção de Bioética do Conselho da Europa,

possível obter Consentimento Informado do

nomeadamente os adolescentes. Considera-se

próprio doente. Estas situações são abordadas

que é a partir dos 14 anos, que o adolescente já

pela Convenção de Bioética do Conselho da

dispõe de capacidade de discernimento que lhe

Europa, que lhes atribui um relevo especial

permite tomar uma decisão válida no plano

(Serrão, 1998).

ético.

Nestes casos, em que o doente não pode

- DOENÇA MENTAL – de um modo geral, os

decidir por si, é essencial que, quem tiver a

doentes podem ter condições para dar o seu

obrigação de o substituir o faça a favor do

consentimento informado, no entanto, quando a

doente, tendo em conta: o alívio do sofrimento;

perturbação é demasiado grave, a ponto de não

as funções a restaurar, a qualidade e

permitir uma decisão competente, o

prolongamento da vida.

consentimento deverá ser obtido junto dos seus representantes legais, nomeadamente a família;

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Volume 2. Edição 2


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- OSCILAÇÕES DA LUCIDEZ – certas

esclarecido sobre o diagnóstico e possíveis

condições médicas, tais como síndromes

consequências da intervenção ou do tratamento.

cerebrais orgânicos, são caracterizados por oscilações do estado de consciência, e deterioração mental, o que pode não permitir a tomada de decisões;

O dever de esclarecimento (artigo 157º) e as intervenções e tratamento médico-cirúrgico (artigo 156º) sem observação das “leges artis (artigo 150º), constituem matéria legal cujo

- DIVERSIDADE RELIGIOSA E CULTURAL –

desrespeito ou atropelo é considerado como

crenças sobre a saúde, doença e tratamentos

crime na área da Saúde – Código Penal II

podem influenciar as preferências dos doentes

(Oliveira, 2002).

quanto aos cuidados de saúde, devendo ser respeitada a sua preferência, mesmo que isso fuja ao considerado razoável para o profissional de saúde. -

DOAÇÃO

DE

ORGÃOS

À moldura penal, são crimes cometidos por Dolo (artigo 14º, do Código Penal) e Negligência (artigo 15º, do Código Penal).

PA R A

TRANSPLANTE APÓS A MORTE – é uma circunstância onde é legítimo presumir o consentimento, sendo isso atestado pela jurisdição portuguesa ao conceder ao cidadão a possibilidade de se tornar não-dador.

Comissões de ética As Comissões de Ética na Saúde, são de extrema importância como suporte às decisões dos profissionais de saúde e dos doentes. Previstas já na Declaração de Helsínquia, em 1964, nasceram da reflexão sobre os avanços

ASPECTOS LEGAIS Orientações legais No nosso país compete à Direcção Geral da Saúde, nos termos da alínea h) do artigo 25 do

das tecnologias médicas, e são garantes do respeito pelas normas éticas da experimentação no, e com o Homem, cabendo-lhes, em última análise, aprovar ou não a realização de investigações clínicas.

DL 122/97, de 20 de Maio, propor e difundir

Em Portugal, legalmente é o DL 97/95 que

orientações relativamente a esta matéria. Numa

define a natureza, funções, formação,

perspectiva jurídica, e de acordo com o artigo

constituição e demais características destas

150º do código penal conjugado com o nº1 do

comissões (Serrão, 1998).

artigo 156º e artigo 157º do mesmo código (Oliveira, 2002), as intervenções e tratamentos médico-cirúrgicos não se consideram ofensa à

CONSENTIMENTO INFORMADO EM

integridade física desde que levados a cabo de

ENFERMAGEM

acordo com as “leges artis” (artigo 150º), e com consentimento do doente após devidamente

Os estudantes de enfermagem, durante a sua aprendizagem, são treinados a explicar os seus procedimentos ao doente, mas muitos

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consideram isto apenas como um acto de

decidir/participar nos cuidados de enfermagem,

cortesia, de boas maneiras. No entanto, a razão

e na ausência de representante legal, dada a

principal é permitir ao doente saber

natureza de manutenção da vida que é inerente

exactamente o que se passa e o que irá

aos cuidados de enfermagem, deverá presumir-

acontecer, e porquê, antes que aconteça,

se o consentimento, ou seja, supõe-se que o

permitindo dessa forma que o doente dê o seu

doente consentiria, se para tal tivesse

consentimento implícito.

capacidade ou competência.

Evidentemente, as intervenções de

Uma questão que por vezes se coloca, por parte

enfermagem, carecem de consentimento do

dos enfermeiros, diz respeito às consequências

doente, não devendo, ética e legalmente, serem

jurídicas (penais, civis e disciplinares), para o

praticados actos que a pessoa recusou,

enfermeiro que executa actos prescritos por

demonstrando uma vontade séria, livre e

médicos e se apercebe de que o doente não

esclarecida.

prestou consentimento. Efectivamente, essa

De acordo com o Código Deontológico, artigo 84º (citado por Enfermeiros, 2002: 17), do dever de informação, o Enfermeiro, no respeito pelo direito à autodeterminação, assume o dever de: - “Informar o indivíduo e família no que respeita aos cuidados de enfermagem;

situação só se tornará um problema para o enfermeiro, que pretende prestar os cuidados, se o doente, não dando consentimento de forma explícita, de facto o recusa. Colocado perante a necessidade de tomar uma decisão, o agir do enfermeiro deve traduzir a preocupação da defesa da liberdade e da

- Respeitar, defender e promover o direito da

dignidade da pessoa humana, no respeito pelo

pessoa ao consentimento informado;

Código Deontológico. Na concretização dos

- Atender com responsabilidade e cuidado todo o pedido de informação ou explicação feito pelo indivíduo em matéria de cuidados de enfermagem;

princípios que consagram os direitos dos doentes, é-lhes reconhecido o direito de recusar, praticar ou participar em actos que, em consciência, considerem atentar contra a vida, contra a dignidade da pessoa humana, ou

- Informar sobre os recursos a que a pessoa

contra o Código Deontológico, (artigo 75º e

pode ter acesso, bem como sobre a maneira de

artigo 92º do Estatuto e Regulamento do

os obter”

Exercício do Direito à Objecção de Consciência) citado por Enfermeiros (1998).

O consentimento do doente para actos autónomos de enfermagem, sempre necessário,

O Consentimento Informado bate no centro da

surge na sequência da informação e validação

arte e da ciência da prática de enfermagem

da informação dada e está implícito na parceria

(Melia, 1988). É necessário que seja clarificado

estabelecida entre o enfermeiro e o doente, para

o papel do prestador de cuidados, visto que os

a concretização dos cuidados de enfermagem.

enfermeiros se deparam com muitos dilemas.

Quando o doente não tem capacidade para JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951

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Não há lugar para letargia ou complacência,

disciplina de Bioética, no 5º CCFE da ESEL em

tanto agora como no futuro.

Julho de 2002.

De momento, não é um requisito legal o enfermeiro aceitar e tomar a cargo na totalidade a responsabilidade do Consentimento Informado, mas definitivamente é um requisito

MELIA, K. ( Maio, 1988 ). Acts of Faith. Nursing times, 50-52.

moral e ético. OLIVEIRA, Guilherme de ( Abril/Maio, 2002 ). CONCLUSÃO

Consentimento livre e esclarecido – Implicações ético-jurídicas do consentimento esclarecido.

Se tivermos como pensamento o informar para

Textos de apoio Nº1. Lisboa, Ciclo de

esclarecer e o consentir para verdadeiramente

conferências de ética do Hospital de S. José,

autorizar, faremos do Consentimento Informado,

Comissão de ética para a saúde do Hospital S.

como se espera e deseja, fundamento novo nos

José.

cuidados de saúde contemporâneos. Assim teremos utentes com maior autonomia e maior capacidade para participar na tomada de

SERRÃO, Daniel ( Outubro/Novembro, 1998 ).

decisão acerca da sua trajectória de saúde.

A convenção Europeia de bioética e a prática médica em Portugal. Revista Acção Médica, Ano LXII ( 4 ), 10-17.

BIBLIOGRAFIA ENFERMEIROS, Conselho Jurisdicional da Ordem dos ( Setembro, 2002 ). Consentimento livre e esclarecido para actos de enfermagem – Parecer 31/2002. Revista Ordem dos Enfermeiros nº 7, 17-18.

SILVA, João Ribeiro da ( Abril/Maio, 2002 ). Consentimento livre e esclarecido – A ética, o consentimento esclarecido na relação médico/ doente e dos profissionais de saúde. Textos de apoio Nº4. Ciclo de conferências de ética do Hospital de S. José, Comissão de ética para a

ENFERMEIROS, Comissão Instaladora da

saúde do Hospital S. José.

Ordem dos ( Novembro, 1998 ). Estatuto da Ordem dos Enfermeiros. Anexo do DL 104/98 de 21 de Abril.

THORPE, Liz ( Outubro, 1990 ). O acto de tomada de decisões baseadas em informação concedida. Revista Nursing, Ano 3 ( 33), 10-14.

ÉTICA CLÍNICA, Documento fornecido pela Sr.ª Enfermeira Professora Helena Catarino na

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Vieira, L. (2013) Adopt a Strategy in Care to the Elderly for the Promotion of Functional Capacity During Hospitalization. Journal of Aging & Inovation, 2 (2): 33-44

REVISÃO NARRATIVA / NARRATIVE REVIEW

ABRIL, 2013

ESTRATÉGIAS A ADOTAR NA PRESTAÇÃO DE CUIDADOS À PESSOA IDOSA PARA A PROMOÇÃO DA CAPACIDADE FUNCIONAL DURANTE A HOSPITALIZAÇÃO ADOPT A STRATEGY IN CARE TO THE ELDERLY FOR THE PROMOTION OF FUNCTIONAL CAPACITY DURING HOSPITALIZATION ADOPTAR UNA ESTRATEGIA EN LA ATENCIÓN A LAS PERSONAS MAYORES PARA EL FOMENTO DE LA CAPACIDAD FUNCIONAL EN HOSPITALIZACIÓN

Autores

Luís Filipe Lopes Vieira1 1

Enfermeiro Especialista em Enfermagem Médico-Cirúrgica - Área Específica: Pessoa

Idosa, MsC, Centro Hospitalar Lisboa Norte Corresponding author: luislvieira@gmail.com Resumo O envelhecimento da população conduz ao aumento da prevalência de doenças crónicas. Envelhecer é um processo inevitável que se traduz numa redução da capacidade orgânica e funcional não decorrente de acidente ou doença. O declínio funcional é geralmente associado a diversos fatores como a evolução natural da doença, a falta de apoio social, fatores comportamentais, a não adesão medicamentosa, dieta e estilos de vida. É necessária a avaliação da capacidade funcional logo na admissão e direcionar os cuidados não só para a doença mas também para a prevenção do declínio funcional. Torna-se essencial estar desperto para depressão geriátrica, para as alterações das atividades de vida, entre as quais os hábitos relacionados com a alimentação, os cuidados de reabilitação física, o envolvimento da família ou cuidador, e o planeamento atempado da alta. O Enfermeiro assume especial importância na promoção e implementação destes cuidados, sendo o profissional de saúde que mais tempo passa com a pessoa idosa, conhece as suas capacidades e a forma como as potenciar. Palavras-chave: Pessoa idosa; hospitalização; capacidade funcional

Abstract Population aging leads to increased prevalence of chronic diseases. Aging is an inevitable process that leads to a reduction in organic and functional capacity is not due to accident or illness. The functional decline is usually associated with several factors such as the natural evolution of the disease, lack of social support, behavioral factors, nonadherence with medication, diet and lifestyle It is necessary to assess functional capacity immediately upon admission and direct care, not only for disease but also for the prevention of functional decline. It is essential to be awake for geriatric depression, changes to life activities, including the habits related to nutrition, physical rehabilitation care, involvement of family or caregiver, planning and timely discharge. The nurse assumes special importance in the promotion and implementation of care, and the health care professional who spends more time with the elderly, know their capabilities and how the leverage.

Keywords: Elder, hospitalization, functional capacity

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O Idoso e a Funcionalidade

O enfermeiro tem um papel indispensável na reabilitação da pessoa idosa, no entanto tem

O envelhecimento traduz-se num risco

sido desvalorizado e permanece mal definido.

crescente de deficiência, o avançar da idade

Este deve tentar melhorar a mobilidade,

encontra-se associado à doença, à

promovendo a atividade motora e sensitiva,

incapacidade e à fragilidade. Isto significa que

compreender os sintomas sem significado do

as práticas devem concentrar-se no que a

ponto de vista da pessoa idosa. Ajudar a

pessoa idosa pode e realmente quer fazer, e

adaptar-se às alterações na função, incorporar

não em estereótipos pré definidos. Embora as

as perspetivas dos cuidadores e familiares na

mudanças na fisiologia façam parte do

adaptação às mudanças. Deve compreender e

envelhecimento, a evidência acumulada mostra

respeitar as estratégias já utilizadas pela pessoa

que muitos dos processos da doença podem ser

idosa, sugerir práticas para reduzir a tensão,

modificadas e minimizados através de

stress e ansiedade, incluindo terapias

intervenções educativas e preventivas.

complementares, se necessário e possível.

A metodologia utilizada para a elaboração deste

Fornecer apoio em todos os aspetos da tomada

artigo foi a revisão da literatura científica da

de decisão e sempre que necessário facilitar o

prática baseada na evidência, alicerçada em

acesso aos sistemas de apoio para a pessoa

bases de dados e organismos internacionais tais

idosa e todos os outros cuidadores e familiares.

como: Hartford Institute for Geriatric Nursing,

É importante estar desperto para as diferentes

National Institute on Aging, Nurses Improving

perspetivas culturais e necessidades.

Care for Healthsystem Eldres (NICHE), National

Torna-se essencial registar a história de vida

Guideline Clearinghouse™ (NGC), National

anterior e rotinas, realizar avaliações de saúde

Institute for Health and clinical Excellence (NHS)

mental, necessárias para uma compreensão da

e Ebscohost. No contexto de aprofundar

capacidade da pessoa idosa se adaptar e se

conhecimentos sobre o cuidar à pessoa idosa.

necessário fornecer uma série de atividades

A reabilitação tem de abraçar todas as atividades diárias da pessoa idosa e deve centrar-se em três aspetos principais: reforçar e manter a qualidade de vida; restabelecer a atividade física, psicológica e social, e reconhecer o seu potencial de saúde e prevenção da doença. Esta deve procurar maximizar o cumprimento dos papéis e independência no seu ambiente, dentro das limitações impostas pela patologia (THOMAS, V., [et al] 2009).

para diminuir o estado confusional, otimizando o funcionamento mental. Aumentar a autonomia é imprescindível para o estado cognitivo. Espiritualmente o enfermeiro deverá garantir que a pessoa é capaz de manter contacto com seu mundo social, facilitar a continuidade de todas as atividades religiosas e espirituais (THOMAS, V., [et al] 2009). A reabilitação é um processo permanente em que se trabalha com a família, a equipa de reabilitação e a sociedade para atingir o seu nível ótimo de funcionamento, com o objetivo de prevenir complicações secundárias, promovendo a máxima independência, a

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manutenção da dignidade e promoção da

oferecer apoio pessoal e experiência prática,

qualidade de vida.

para que a pessoa idosa siga o seu próprio percurso de vida. O envelhecimento humano

Deve promover-se a continuidade dos cuidados,

gera progressivas modificações morfológicas,

nomeadamente motivar o idoso para o auto

fisiológicas, bioquímicas e psicológicas que, se

cuidado, englobar a pessoa idosa na tomada de

associadas ao aparecimento de doenças

decisões, ensinar as habilidades que podem

crónicas e degenerativas, podem acelerar o

melhorar a sua qualidade de vida, manter uma

declínio funcional do indivíduo idoso. Essas

atividade física adequada evitando a

alterações comprometem a capacidade

deterioração, ouvir com vista a avaliar o sucesso

funcional do idoso a ponto de impedir o auto

dos cuidados e ser empático.

cuidado, tornando-o, muitas vezes,

O enfermeiro envolve-se em diferentes tipos de

completamente dependente (CARVALHO, G.,

funções quando trabalha com a pessoa idosos.

[et al] 2007).

As funções de apoio, incluem, prestar apoio psicossocial e emocional, ajudando no auxílio

As alterações do envelhecimento são

de transição da vida, realçando estilos de vida e

parcialmente responsáveis pelo aumento do

relacionamentos, facilitando a auto expressão e

risco de desenvolvimento de problemas de

a garantir a sensibilidade cultural. Funções

saúde na população idosa estando na base da

restaurativas, destinadas a potenciar a

diminuição da capacidade funcional. A

independência e a capacidade funcional,

sinalização de condições para uma avaliação

impedindo a sua deterioração e ou deficiência e

mais aprofundada permite ao enfermeiro

melhorar a qualidade de vida. Isto é feito através

implementar intervenções preventivas e

de um foco na reabilitação, que maximiza o

terapêuticas (FULMER, T, 1991; 2007).

potencial da pessoa idosa para a independência, incluindo a avaliação de

Nos EUA a Nurses Improving Care for Health

competências e realização de elementos

System Elders (NICHE) desenvolveu em 1990

essenciais do cuidado. As funções educativas

um de instrumento que designou “SPICES”.

envolvem o ensino do auto cuidado. A

O “SPICES” é um acrónimo para as síndromes

reabilitação tem como objetivo maximizar a

mais comuns de intervenção de enfermagem à

satisfação da pessoa idosa de forma equilibrada

pessoa idosa. É um instrumento eficiente e

atendendo às limitações impostas pela patologia

eficaz de obtenção de informações necessárias

e deficiência (THOMAS, V., [et al] 2009).

para evitar alterações de saúde e consequentemente declínio funcional. São

O processo de adaptação é importante, pois

medidas pró-activas centradas em seis pontos

geralmente a pessoa idosa que necessita de

comuns: S Sleep disorders, (problemas com o

reabilitação encontra-se numa grande crise de

sono); P Problems with eating and feeding,

identidade, ou estão em luto pela perda ou

(problemas com a alimentação e alimentar-se); I

interrupção de habilidades físicas, emocionais e

Incontinence (incontinência urinária e fecal); C

cognitivas. O papel do enfermeiro é ser parceiro,

Confusion (estado confusional); E Evidence of

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fall (perigo de quedas) e S Skin breakdown

MCKENZIE, D., [et al] 2004). É necessário

(integridade cutânea) (FULMER, T. 2007).

fornecer proteínas e calorias suficientes para assegurar a ingestão adequada. Deve-se incluir

A perturbação do sono é comum durante o

as preferências pessoais do idoso na dieta e

internamento hospitalar e mais comum ainda na

proporcionar à pessoa idosa aquando da alta o

pessoa idosa. O stress do internamento, o

apoio dos serviços da comunidade se

despertar para os cuidados de rotina, a dor, os

necessário (EDINGTON, J., [et al] 2004; GRAF,

efeitos dos medicamentos, as mudanças no

C. 2006).

ambiente e o ruído podem comprometer ainda mais o sono durante a hospitalização. Deve ser

A incontinência, quer vesical quer intestinal, na

feito um esforço para criar um bom ambiente

pessoa idosa hospitalizada, pode variar em

para o sono da pessoa idosa. As medidas

intensidade e resultar em delírio ou demência.

podem incluir a minimização da conversa nos

Pode ter origem na redução da atividade

corredores e na sala de enfermagem durante as

funcional por motivo de doença, nos

horas de sono e limitar as intervenções de

medicamentos que interferem com a capacidade

enfermagem durante este tempo, por exemplo,

de detetar a plenitude da bexiga ou nas

adiar medição da tensão arterial, se a pessoa

perturbações da marcha que resultam em

idosa está clinicamente estável (TRANMER, J.,

dificuldade para se deslocar à casa de banho. A

[et al] 2003).

incontinência urinária está associada à diminuição do bem-estar físico e ao aumento do

O padrão nutricional é importante na avaliação

tempo de internamento (ANPALAHAN, M. &

da pessoa idosa. Num estudo realizado nos

GIBSON, S., 2008).

EUA, 20% dos idosos foram hospitalizados por desnutrição. O baixo índice de massa corporal e

A confusão temporária ou mais prolongada,

a desnutrição têm sido repetidamente

afeta um número elevado de idosos

associados a maiores taxas de mortalidade na

hospitalizados. Um estudo realizado a nível

pessoa idosa. Estes problemas podem ser mais

hospitalar, mostrou que quase um terço das

evidentes em idosos emagrecidos ou incapazes

pessoas idosas com idade superior a 70 anos

de se alimentar (GUIGOZ, Y., [et al] 2002).

apresenta delírium nas primeiras 24 horas após

Existe também uma associação estreita entre a

a admissão. Comer, dormir, dosagens dos

dor mal controlada e a rejeição aos alimentos e,

medicamentos e horários, podem provocar

entre a fome e uma sensação física de bem-

desorientação da pessoa idosa num ambiente

estar. A capacidade de se alimentar é uma

estranho. Deve-se avaliar o estado confusional

atividade básica do dia-a-dia. A pessoa idosa

da pessoa idosa numa tentativa de impedir a

hospitalizada tem muitas vezes dificuldades de

sua ocorrência, e intervir precocemente para

ordem prática quando se alimentam: a mesa de

reverter e atenuar o receio do que esta condição

cabeceira está fora do alcance; os utensílios são

pode provocar (EDLUND, A., [et al] 2006).

difíceis de usar; a comida está fria ou são incapazes de se posicionar (ST-ARNAUDJOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951

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É importante a identificam-se fatores de risco

Para maximizar a capacidade funcional e

por vezes associados a quedas da pessoa idosa

prevenir o seu declínio devem ser mantidas as

hospitalizada: a confusão; a instabilidade da

rotinas diárias do idoso, (ajuda a manter a

marcha; a incontinência ou frequência urinária; e

atividade física, cognitiva e social), incentivar a

a administração de medicação sedativa e

marcha, alargar ou flexibilizar o horário das

hipnóticos. É imprescindível identificar a pessoa

visitas, se possível incentivar a leitura do jornal.

idosa com história anterior de quedas e se

É também importante esclarecer a pessoa

necessário tomar medidas que visem a

idosa, familiares e cuidadores acerca da

prevenção ou a sua anulação. Se a pessoa

importância da promoção da independência e

idosa que não tem história de quedas cai no

alertá-los para as consequências do declínio

hospital, a avaliação e o tratamento devem-se

funcional, promovendo o ensino.

centrar na identificação de possíveis causas iatrogénicas (FONDA, D., [et al] 2006).

O declínio funcional pode ser é reversível se associado a doença aguda e, pode-se prevenir

A perda da integridade cutânea constitui

através de estratégias direcionadas para o

também uma das razões de perda da

exercício físico, (mantendo uma amplitude de

capacidade funcional. As úlceras de pele,

movimentos, flexibilidade e funcionalidade)

nomeadamente as úlceras de pressão podem

nutrição, controlo da dor e socialização

ser fatais na pessoa idosa. As úlceras na

(SIEGLER, E., [et al] 2002; TUCKER, D., [et al]

pessoa idosa imobilizada são provocadas por

2004; VASS, M., [et al] 2005).

diminuição da pressão arterial que provoca necrose tecidular. Os principais fatores de risco

É também importante diminuir o tempo de

são: a idade avançada; a imobilidade; a

repouso no leito, tendo em atenção as restrições

neuropatia, (que pode interferir com a deteção

físicas (sondas vesicais, nasogástricas, etc.), a

da dor); má nutrição, deficiência cognitiva,

medicação, especialmente medicamentos

(impedindo o auto cuidado, ou o

psicoativos, em doses geriátricas, avaliar e

reconhecimento de problemas), a fricção na

tratar a dor. Deve-se promover precocemente a

roupa da cama e a incontinência urinária

recuperação da função inicial, (se possível),

(resultando no aumento da humidade nas áreas

através de consulta precoce de medicina física e

de proeminências ósseas). Estas condições

reabilitação, nutrição e ensinos (KRESEVIC, D.,

fornecem quase de imediato necessidades de

[et al] 1998).

intervenção na pessoa idosa (FULMER, T. 2007).

O declínio funcional na pessoa idosa hospitalizada pode ter consequências

A avaliação pelo SPICES quando feita

devastadoras. É um resultado comum da

regularmente pode sinalizar necessidades e

cascata de dependência em que a pessoa idosa

contribuir para a prevenção e tratamento de

sofre as mudanças do envelhecimento, fazendo

doenças comuns (FULMER, T. 2007).

com que o repouso no leito ou imobilidade resulte em alterações fisiológicas irreversíveis,

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com maus resultados na alta. Horários de

forma um vinculo forte com a pessoa idosa

passeio de rotina, atividades de prevenção à

hospitalizada, melhorando situação de saúde e

privação sensorial e alta hospitalar oportuna

promovendo um envelhecimento bem sucedido.

estão entre as intervenções que podem ajudar a

Os cuidados de enfermagem à pessoa idosa

prevenir o declínio funcional (GRAF, C. 2006).

devem ter como finalidade manter e valorizar a autonomia. Para isso, é necessário avaliar o

O cuidador principal ou familiar da pessoa idosa

grau de dependência e instituir medidas

deverá ser orientado sobre as vantagens das

direcionadas para atingir o maior nível possível

estratégias de intervenção e ter conhecimento

de independência funcional e autonomia. É

sobre as causas do declínio funcional

essencial uma avaliação multidimensional da

relacionadas com as condições agudas e

pessoa idosa centrada problemas atuais ou

crónicas da patologia. Dever-se-á também,

potenciais e individualizados para cada idoso.

fomentar o ensino para abordar as necessidades de cuidados de prevenção de

É importante comunicar com a pessoa idosa,

quedas, lesões e complicações mais comuns

constituindo um papel de destaque e

proporcionando a curto prazo cuidados

confiabilidade, pois deverá romper as barreiras

especializados de fisioterapia e a longo prazo

impostas por limitações de fala, audição,

ajustar os cuidados necessários para prevenção

confusão mental e diferenças culturais

de quedas. No regresso ao domicílio torna-se

(CASTRO, M. & FIGUEIREDO, N., 2009).

necessário realizar as adaptações necessárias para manter a segurança e independência,

Torna-se necessário registar-se o estado

incluindo dispositivos de apoio e adaptações no

funcional recente ou o declínio progressivo

domicílio. A pessoa idosa, como parte integrante

devendo ser avaliado ao longo do tempo para

deste processo, deverá ser estimulada a

validar a sua evolução. Nesse sentido, o plano

alcançar a maior independência, o nível

de cuidados deverá ser atualizado e se

funcional possível e a melhor qualidade de vida.

necessário reajustado ao longo do

Os enfermeiros devem estar atentos à avaliação

internamento. A avaliação funcional inclui um

e identificação da pessoa idosa suscetível de

processo sistemático de identificação de

apresentar declínio funcional (KRESEVIC, D.,

habilidades físicas na pessoa idosa a precisar

[et al] 1998).

de ajuda. Os instrumentos de avaliação padronizados funcionais são utilizados como

A avaliação da capacidade funcional deve ser

uma linguagem comum para comunicar o

integrada nos cuidados, devendo esta ser

estado funcional entre os prestadores de

registada no processo de enfermagem, tal com

cuidados. A súbita mudança do estado funcional

as intervenções, metas e resultados esperados.

poderá indicar o início de uma doença aguda ou

Deve-se também promover estratégias de

exacerbação de uma doença crónica. Esta

prevenção e reparação da capacidade funcional.

avaliação funcional deve feita com base em

Atendendo a estes factos o enfermeiro tem um

escalas de avaliação da capacidade funcional

papel fundamental na qualidade de vida, pois

(CASSEL, C. 2004; KRESEVIC, D. 2008).

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Estas escalas devem ser eficientes, de fácil

longo prazo. É importante que a avaliação

interpretação e aplicação, com a finalidade de

abranja além da história e exame físico, a

proporcionar informações úteis e quantificáveis

análise da marcha, do equilíbrio e da

que devem ser englobados na história da

capacidade funcional, ou seja, a capacidade

pessoa idosa e incorporadas nas rotinas diárias,

para exercer as AVD’s (FREITAS, E., [et al

tendo como base as avaliações (GRAF, C.

2002).

2006).

A utilização de instrumentos de avaliação tem importantes implicações na qualidade de vida da

A introdução de um sistema de avaliação

pessoa idosa, uma vez que facilita ações

funcional baixa a incidência e prevalência de

preventivas, assistenciais e de reabilitação.

declínio funcional, contribuindo para a

Estas ações contribuem para um processo de

diminuição da morbilidade e da mortalidade

envelhecimento com maior esperança de vida

(KRESEVIC, D. 2008). Os métodos para a

saudável e uma tentativa de recuperação ou

avaliação funcional estruturada, consiste na

manutenção da capacidade funcional (ROSA, T.,

observação direta (testes de desempenho) e

[et al] 2003).

questionários, sistematizados por meio de

A escala da Avaliação Breve do Estado Mental

escalas que aferem os principais componentes

(MMS), elaborada por Folstein [et al] em 1975, é

da dimensão (PAIXÃO, C. & REICHENHEIM,

provavelmente dos testes mais utilizados

M., 2005).

mundialmente quando se pretende uma avaliação da função cognitiva ou rastrear

É também importante a comunicação

quadros demenciais. Pode ser usado

interdisciplinar sobre estado funcional,

isoladamente ou incorporado a instrumentos

alterações e expectativas de evolução,

mais amplos (LOURENÇO, R. & VERAS, R.

promovendo reuniões de equipa multidisciplinar,

2006). Permite avaliar o estado cognitivo em

incluindo a pessoa idosa e familiares, sempre

função da escolaridade da pessoa, tendo a

que possível (KRESEVIC, D., [et al] 1998).

vantagem de ser relativamente simples de

Recomenda-se uma abordagem de cuidados

realizar. Está validado para Portugal pelo Grupo

que vai além do registo da história clínica e os

de Estudos de Envelhecimento Cerebral e

sinais vitais para observar as mudanças na

Demência (MENDONÇA, A., [et al] 2008).

pessoa idosa mas sim o estado mental,

É importante a avaliação de presença de

funcional, nutricional e suporte social (AMELLA,

sintomatologia depressiva utilizando a Escala de

E. 2004).

Depressão Geriátrica (GDS-15). Os transtornos do humor são uma das patologias psiquiátricas

A avaliação geriátrica global é um sistema de

mais comuns na pessoa idosa, são

diagnóstico que aborda a área médica, funcional

responsáveis pela perda de autonomia e

e psicossocial. Tem como objetivo detetar

agravamento de quadros patológicos pré-

prematuramente potenciais deficiências, traçar

existentes. Em 1983, Yesavage e colaboradores

tratamentos terapêuticos adaptados e

desenvolveram e validaram um instrumento de

monitorizar a progressão do declínio funcional a

triagem para a depressão designado de Escala

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de Depressão Geriátrica (GDS). A depressão é

estudos internacionais nos mais diversos

o problema de saúde mental mais comum na

ambientes e está validado para Portugal.

terceira idade, no entanto por vezes associa-se,

A capacidade de marcha é um parâmetro a

de forma errada, que os sintomas depressivos

avaliar na capacidade funcional. Existem vários

fazem parte do envelhecimento (FERRARI, J. &

testes para a avaliação da marcha no entanto

DALACORTE, R., 2007). Está validada

podem tornar-se complicados e a sua avaliação

internacionalmente e amplamente utilizadas na

ser morosa. A observação direta de como um

avaliação geriátrica global e de domínio público,

individuo sai da cama, se senta numa cadeira,

auxiliando a determinar a necessidade de

fica de pé e caminha uma pequena distância de

tratamento (ADELMAN, D., [et al] 2003).

forma equilibrada, com ou sem ajuda é

O Índice de Barthel avalia o nível de

importante para obter uma avaliação segura.

independência da pessoa na realização de dez

O teste levanta e ande (get up and go) pode ser

atividades básicas de vida: alimentação; banho;

aplicado pelos enfermeiros para avaliar a forma

cuidados pessoais; vestir; transferências;

de marcha durante as atividades de vida diária

deslocação; subir e descer escadas; uso dos

na pessoa idosa (MEZEY, M., [et al] 2006).

sanitários; controlo da bexiga e controlo

Apresentado em 1986, tem como objetivo a

intestinal (MAHONEY, F. e BARTHEL, D., 1965).

avaliação do equilíbrio e marcha na pessoa

Encontra-se também validado para Portugal

idosa. Aproximadamente metades das quedas

(MELO, M. G. 2010).

que envolvem a pessoa idosa têm fatores

A Mini Avaliação Nutricional (MAN) é uma

extrínsecos, tais como pisos escorregadios ou

ferramenta de controlo e avaliação que pode ser

existência de tapetes junto do leito. O resultado

utilizada para identificar pessoas idosas com

da outra metade dos acidentes envolve fatores

risco de desnutrição. Consiste num questionário

intrínsecos tais como a fraqueza dos membros

de rápida realização. A prevalência da

inferiores, falta de equilíbrio, distúrbios da

desnutrição é ainda maior na pessoa idosa com

marcha, efeitos da medicação, baixa visão ou

deficiência cognitiva e está associada com o

doença aguda (MEZEY, M., [et al] 2006). Apesar

declínio cognitivo (FALLON, C. 2002). A pessoa

de não existir validação para Portugal é indicado

idosa desnutrida quando é hospitalizada tende a

para a pessoa idosa hospitalizada podendo

permanecer mais tempo internada, a apresentar

adaptar-se à população idosa portuguesa.

mais complicações e correr maior risco de morbilidade e mortalidade do que aqueles que

Na avaliação da capacidade funcional é também

se encontram num estado nutricional normal

importante a avaliação das atividades

(KAGANSKY, N., [et al] 2005).

Instrumentais de Vida Diária (KRESEVIC, D. 2008).

Foi desenvolvido pela Nestlé e por uma equipa

A Escala de Lawton e Brody (Escala de

de geriátras, sendo uma das poucas

Atividades Instrumentais de Vida Diária), foi

ferramentas de controlo validadas para a

desenvolvida por Lawton e Brody em 1969 para

pessoa idosa. Tem sido bem validada em

avaliar as AVD mais complexas, necessárias para viver na comunidade. Competência em

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habilidades, tais como compras, cozinhar e

instalação de quadros depressivos. Assim,

gestão de finanças é necessário para uma vida

torna-se prioritário a apreciação da depressão

independente. É uma escala bastante utilizada e

geriátrica. Este registo, em ambiente hospitalar,

pode ser realizada em 10 a 15 minutos. A escala

deverá ser realizado o mais precoce possível,

pode fornecer um sistema de alerta precoce de

permitindo a sua referenciação e

declínio funcional ou sinalizar a necessidade de

encaminhamento e direcionamento dos

uma avaliação mais aprofundada.

cuidados de enfermagem logo na admissão. É

Hospitalização, mobilidade reduzida e outros

importante também o controlo da dor

factores podem diminuir rapidamente a

persistente. A dor afeta de um modo global

capacidade de realizar atividades essenciais

todas as atividade de vida, com especial

para uma vida independente e, os efeitos

incidência a mobilidade, o sono e a alimentação.

podem ser permanentes (GRAF, C. 2008). Esta

Pode-se concluir também que é de especial

escala foi também validada para Portugal pelo

destaque a supervisão das refeições da pessoa

Grupo de Estudos de Envelhecimento Cerebral

idosa, se possível a personalização dos hábitos

e Demência, (MENDONÇA, A., [et al] 2008).

alimentares para manter um padrão alimentar adequado. É indispensável o início precoce de

CONCLUSÃO

reabilitação física para poder potenciar a capacidade de mobilização que a pessoa idosa

O envelhecimento faz parte natural do ciclo da

ainda possui.

vida. É, pois, desejável que seja vivido de forma saudável. O estado funcional na pessoa idosa é

A alta hospitalar deverá ser iniciada

um processo dinâmico, o que torna necessário

atempadamente e programada em equipa

ser avaliado em momentos diferentes para

multidisciplinar, com o reforço dos ensinos e

determinar a sua evolução. Assume especial

envolvendo a família/cuidador principal nos

relevância a avaliação inicial da pessoa idosa

cuidados. Os cuidados de enfermagem

quando da admissão em ambiente hospitalar.

geriátricos devem-se centrar na qualidade de

Esta avaliação é de grande importância no

vida da pessoa idosa, estimulando uma

planeamento e execução individualizada dos

capacidade funcional real e espectável, sem

cuidados de enfermagem.

falsas esperanças nem ilusões. O Enfermeiro como promotor dos cuidados de saúde e que

É fundamental uma avaliação geriátrica eficiente

mais tempo passa com a pessoa idosa, assume

e completa, incidindo na capacidade funcional.

um papel importante na manutenção e

O “SPICES” constitui um bom instrumento, pois

maximização da atividade funcional. Neste

permite detetar situações que, se corrigidas

sentido é primordial que esteja desperto para

atempadamente, contribuem para a sua

esta problemática, pois por vezes basta uma

manutenção ou pelo menos para a prevenção

avaliação inicial mais profunda ou uma

do seu declínio funcional. A solidão, a perda de

observação mais perspicaz para se intervir

papéis sociais, a sensação de inutilidade e a

precocemente sobre a pessoa idosa,

imobilidade são fatores que contribuem para a

promovendo cuidados de saúde mais

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Volume 2. Edição 2


Página 42

individualizados e com a finalidade de

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Fernandes, R., et al (2013) Persons wth Pulmonary Tuberculosis, Nursing Care Interventions, Adherence to Therapy: a Systematic Literature Review. Journal of Aging & Inovation, 2 (2): 45-57

REVISÃO SISTEMÁTICA / SYSTEMATIC REVIEW

ABRIL, 2013

PESSOAS COM TUBERCULOSE PULMONAR, INTERVENÇÕES DOS CUIDADOS DE ENFERMAGEM, NA ADESÃO AO REGIME TERAPÊUTICO: REVISÃO SISTEMÁTICA DA LITERATURA PERSONS WITH PULMONARY TUBERCULOSIS, NURSING CARE INTERVENTIONS, ADHERENCE TO THERAPY: A SYSTEMATIC LITERATURE REVIEW PERSONAS CON TUBERCULOSIS PULMONAR, IMPACTO DE LOS CUIDADOS DE ENFERMERIA EN LA ADESIÓN DEL RÉGIMEN TERAPÉUTICO: REVISIÓN SISTEMÁTICA DE LA LITERATURA

Autores

Fernandes R1; Ventura C2; Nunes C3; Ramos A4: Fonseca C5.

1

Enfermeiro do Centro Hospitalar Lisboa Norte, Especialista em enfermagem de reabilitação (ESEL), Mestre em Ciências da Dor

(Faculdade de Medicina da Universidade Lisboa), 2 Carla Ventura, enfermeira do Centro Hospitalar Lisboa Norte, Especialista em enfermagem de Saúde mental e Psiquiatria, Mestrado de natureza profissional, em Saúde Mental e Psiquiatria (Instituto Ciências da Saúde - Universidade Católica Lisboa), 3 Enfermeira do Centro Hospitalar Lisboa Norte, 4 Enfermeira, Centro Hospitalar Lisboa Norte. Lisboa. Unidade de Investigação e Desenvolvimento em Enfermagem, 5 Enfermeiro Graduado, Centro Hospitalar Lisboa Norte. Lisboa. Unidade de Investigação e Desenvolvimento em Enfermagem. Mestre em Comunicação em Saúde. Doutorando da UL (Universidade de Lisboa)

Corresponding author: cesar.j.fonseca@gmail Resumo Objectivo: Identificar as intervenções de enfermagem, que influenciam a adesão ao regime terapêutico das pessoas com Tuberculose Pulmonar. Metodologia: Efectuada pesquisa na EBSCO (CINAHL Plus with Full Text, MEDLINE with Full Text). Foram procurados artigos em texto integral, publicados entre 2000/01/01 e 2011/12/31. Foi utilizado o método de PI[C]O e identificados 254 artigos: texto completo (ano 2000-2011) - 182; Incluídos/14; Síntese Qualitativa/13; Meta análise/1. Resultados: As intervenções de enfermagem que mais influenciam a adesão terapêutica são: o controlo de sintomas e de situações adversas, o apoio psicológico, a gestão do regime terapêutico com recurso a toma directa observada (TOD), a educação para auto-gestão da saúde, a gestão de casos e a existência de linha de apoio telefónico. Conclusões: Os factores que influenciam a adesão ao regime terapêutico nas diferentes partes do mundo divergem na forma como os cuidados de saúde estão organizados e por condições sócio-económicas e culturais, no entanto, as intervenções de enfermagem são semelhantes. A adesão terapêutica é o pilar para o sucesso do tratamento da tuberculose. Implicação na Prática profissional: É importante perceber quais as intervenções de enfermagem desenvolvidas para a promoção da adesão terapêutica realizada pela comunidade internacional, com a finalidade de cimentar a prática clínica, baseada na evidência científica. Palavras-chave: Tuberculose, Pulmonar, Adesão terapêutica, Cuidados de Enfermagem Abstract Objective: To identify the nursing interventions that influence adherence to treatment of people with Pulmonary Tuberculosis. Methodology: It was made a research in EBSCO (CINAHL Plus with Full Text, MEDLINE with Full Text). Articles in full text were searched, published between 2000/01/01 and 2011/12/31. The PI[C]O method was used and 254 articles were identified: full text (year 2000-2011) - 182; Included/14; Qualitative summary/13; Meta-analysis/1. Results: The nursing interventions that most influence therapeutic adherence are: symptoms and adverse circumstances control, psychological support, the therapeutic regimen management, the education for health self-management using DOTS (Directly Observed Therapy Short Course), case management and a telephone support line. Conclusions: The factors that influence adherence to therapy regimen in different parts of the world differ in the way health care is organised and by socio-economical and cultural conditions; however, nursing interventions are similar. The therapeutic adherence is the pillar to the success of tuberculosis treatment. Implication for the professional career: It is important to understand which are the nursing interventions developed to promoting therapeutic adherence made by the international community, for the purpose of entrenching clinical practice, based on the scientific evidence. Keywords: Tuberculosis, Pulmonary, Nursing Care, Medication Adherence JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951

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Introdução

percentagem é tratada adequadamente, o que conduz à morte de 150.000 pessoas por ano1.

A tuberculose (TB), é a principal causa de morte

Um dos maiores constrangimentos ao controlo

provocada por uma doença infecciosa curável,

da Tuberculose Multirresistente (TBMR) é a

tornando-se num problema global cuja

capacidade laboratorial para a detectar, que é

dimensão, em números absolutos, continua a

exígua na maior parte dos países afectados.

crescer, com uma incidência de 9,4 milhões de

Mais de metade dos 27 países de mais alta

casos em todo o mundo, ou seja, 139 novos

prevalência não tem meios para a diagnosticar.

casos por 100.000 habitantes, com uma

Da totalidade dos casos registados em todo o

mortalidade de 1,3 milhões de pessoas

mundo, 70% são notificados na Europa e na

(20/100.000). A maior parte dos casos ocorreu

Africa do Sul1.

na Ásia (50%) e Africa (30%). As mais elevadas

Associado à TB existem vários factores,

taxas de incidência encontram-se nos países da

nomeadamente a co-infecção VIH que aumenta

Africa Subsariana, onde em alguns atinge os

20 a 30 vezes mais a possibilidade de

1000 por 100.000 habitantes1.

desenvolver TB, o que lhes confere uma enorme

A União Europeia apresentou uma incidência de

vulnerabilidade. Em África, a região mais

16.7/100.000 habitantes em 2008 e é

afectada, estima-se que tenham ocorrido 900

considerada uma região de baixa incidência,

mil casos de TB/VIH, ou seja, 82% do total

sendo que 21 dos 27 países têm

mundial1.

<20/100.0001.No entanto, Portugal encontra-se

A adesão ao regime terapêutico é um foco de

com taxa de incidência de 21/100.000, ficando

atenção e uma necessidade de cuidados de

no limiar da baixa incidência1, com 2388 casos

enfermagem. É um conceito que engloba não só

de TB notificados em 2011, dos quais 2.231 se

o cumprimento da prescrição farmacológica,

reportam a novos casos, o que corresponde a

mas também os comportamentos promotores de

uma diminuição de 9,6% relativamente ao ano

saúde, pelo que o enfermeiro deve compreender

anterior2.

como o regime terapêutico se relaciona com a

Todavia, a TB é causa de morte, quando a

vida do doente4. É a partir da tentativa de

pessoa doente não recorre aos serviços de

compreensão da gestão terapêutica individual,

saúde competentes ou não procura o tratamento

que inclui as vivências, experiências e condição

atempadamente. A situação de incorreta ou não

social e económica, que se torna possível

adesão à terapêutica aumenta a probabilidade

implementar intervenções de enfermagem,

do surgimento de graves complicações, dado

baseadas na evidência científica, na

que possibilita o aparecimento da doença, por

individualização de cuidados e nas

sua vez, resistente aos medicamentos usados

necessidades da pessoa, sujeito ativo de

para o tratamento e controlo da tuberculose3. A

cuidados4.

multirresistência é uma ameaça global e sem

No mesmo sentido, a proximidade com as

controlo. Estima-se que emergem 440.000

pessoas doentes, a natureza da relação de

novos casos em cada ano, dos quais menos de

cuidados e a duração do tratamento,

10% são diagnosticados e, ainda, uma menor

proporcionam aos enfermeiros uma excelente

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oportunidade de monitorizar a adesão,

TB em que o bacilo é resistente a pelo menos

diagnosticar o incumprimento. Para deste modo,

dois dos medicamentos, considerados os mais

planear e implementar intervenções que

importantes para o seu tratamento: a Isoniazida

efectivamente ajudem as pessoas a integrar o

(H) e a Rifampicina (R)1. Entre os casos de

regime terapêutico nos seus hábitos diários,

TBMR, existe ainda a Tuberculose

dotando-os de conhecimentos e capacidades,

Extensivamente Resistente (TBXDR), isto é uma

facilitando a adaptação à sua situação de

forma de tuberculose em que, além da

doença2.

resistência aos dois fármacos referidos

O interesse pela presente problemática é

anteriormente (H e R), se observa também

sustentado pelos números supra-apresentados,

resistência a qualquer fluroquinolona, mais um

com o objetivo de identificar quais as ações de

dos seguintes injetáveis: canamicina, amicacina

enfermagem que promovem a adesão ao

ou capreomicina6.

regime terapêutico.

ADESÃO AO REGIME TERAPÊUTICO E TUBERCULOSE

RESULTADOS SENSÍVEIS AOS CUIDADOS

Tuberculose é uma doença causada pelo

DE ENFERMAGEM

Mycobacterium Tuberculosis (MT), que é um

Para a OMS (2001), o conceito de adesão

bacilo (bacilo de Koch) não móvel e sem

expressa mais do que simplesmente seguir as

esporos. O MT é um organismo aeróbico

instruções clínicas, depende da adopção e

obrigatório que cresce melhor em tecidos

manutenção de comportamentos terapêuticos,

humanos, nomeadamente onde a pressão de

assim como da autogestão de factores

oxigénio é mais elevada (ápices do pulmão), é

biológicos, comportamentais e sociais que

ácido-álcool resistente e tem um crescimento

influenciam a saúde e a doença, envolvendo

lento. A infeção ocorre sobretudo por inalação

todos os profissionais de saúde3. Adesão

de secreções respiratórias aerossolizadas pela

implica a conclusão do tratamento prescrito pela

tosse, espirro ou conversação. O pulmão é o

equipa multi-disciplinar que está a fazer o

órgão inicial e principal de infeção, contudo

acompanhamento do doente com TB. A adesão

podem ser também envolvidas localizações

também é referida como cumprimento ou

extra-pulmonares, sendo as mais comuns: o

concordância10.

sistema génito-urinário, músculo-esquelético e

Nesta linha de raciocínio torna-se crucial

os nódulos linfáticos.5.

clarificar o conceito dos resultados sensíveis

Na viragem para o século XXI, devido a

aos cuidados de enfermagem, que se pretende

prescrições inadequadas, deficiente qualidade

estudar na questão da adesão ao regime

dos fármacos e fraca adesão por parte dos

terapêutico. Doran (2011) refere que, os

doentes, ao longo dos anos, desenvolveu-se a

resultados sensíveis aos cuidados de

maior ameaça de sempre da TB, a Tuberculose

enfermagem desenvolvem-se na mesma

Multirresistente (TBMR). TBMR é uma forma de

estrutura de qualidade proposta por Donabedian

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(2003) e estão relacionados com duas variáveis:

revisões sistemáticas da literatura devem

(1) cliente (idade, género, educação, tipo e

considerar a evidência dos últimos 5 anos, no

adversidade da doença e co-morbilidades); (2)

entanto consideramos o período temporal de 10

enfermeiro (nível de ensino, experiência, rácios,

anos pelo facto da maior abrangência face ao

organização e carga de trabalho). Este processo

conhecimento existente sobre a matéria em

engloba as acções independentes (intervenções

análise9. Para avaliarmos os níveis de evidência

de enfermagem) e acções interdependentes

utilizamos seis níveis de evidência: Nível I:

(comunicação em equipa, coordenação de

revisões sistemáticas (meta análises/ linhas de

casos e sua gestão)7,8

orientação para a prática clínica com base em revisões sistemáticas), Nível II: estudos experimentais, Nível III: estudos quase e x p e r i m e n t a i s , N í v e l I V: e s t u d o s n ã o experimentais, Nível V: estudos qualitativos/

METODOLOGIA

revisões sistemáticas da literatura sem meta

De forma a delimitar um vasto campo de

análise, Nível VI: opiniões de autoridades

hipóteses inerentes à problemática em estudo e

respeitadas/ painéis de consenso9.

a responder ao objectivo delineado, elaborou-se

Como critérios de inclusão privilegiaram-se os

a seguinte questão de partida, que atende aos

artigos com cerne na problemática, que nos

critérios do formato PICO13: Em relação às

permitissem identificar as intervenções de

p e s s o a s c o m Tu b e r c u l o s e P u l m o n a r

enfermagem, que influenciam a adesão ao

(População), quais as intervenções de

regime terapêutico das pessoas com

enfermagem (Intervenção) que podem

Tuberculose Pulmonar e seus cuidadores, com

influenciar a adesão ao regime terapêutico

recurso a metodologia qualitativa e/ou

(Outcomes)?

quantitativa ou revisão sistemática da literatura,

Por conseguinte, foi levada a cabo uma

que clarificassem as suas vantagens na

pesquisa no motor de busca EBSCO, com

aplicação da prática clínica e o seu impacto nos

recurso a duas bases de dados: CINAHL Plus

resultados em saúde. Nos critérios de exclusão

with Full Text e MEDLINE with Full Text, British

inseriram-se todos os artigos com metodologia

Nursing Index). As palavras-chave orientadoras

pouco clara, repetidos nas duas bases de

utilizadas foram previamente validadas pelos

dados, com data anterior a 2000 e todos

descritores da United States of National Liberary

aqueles sem co-relação com o objecto de

of National Institutes of Health, com a respetiva

estudo enunciado. O percurso metodológico

orientação: [(MM "Tuberculosis, Pulmonary" OR

levado a cabo encontra-se exemplificado na

Tuberculosis) AND (Nursing OR Nursing Care

figura 1.

OR Nurse) AND (adherence OR patientcentered OR Medication Adherence], as palavras foram procuradas em texto integral (Dezembro/2011), retrospectivamente até 2000, resultando 254 artigos no total., consideram As JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951

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Figura 1: Processo de pesquisa e seleção de artigos para revisão sistemática de literatura

APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS

14 artigos filtrados, que constituíram o substrato

Para tornar perceptível e transparente a

para a elaboração da discussão e respectivas

metodologia utilizada explicita-se a listagem dos

conclusões da Síntese Qualitativa (Tabela 1).

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DISCUSÃO DOS RESULTADOS Diminuir a incidência da TB em Portugal e no

complexas intervenções que devem decorrer de

mundo é objetivo consensual, pelo que é

forma continuada, ao longo de todo o

fundamental o envolvimento de todos os

tratamento.

cidadãos e profissionais de saúde das diferentes

O sucesso do tratamento depende da avaliação

instituições de saúde e da comunidade. Os

inicial que o enfermeiro faz ao doente,

enfermeiros têm um papel essencial e

despistando fatores de risco, como a condição

preponderante na implementação de medidas

sócio-económica desfavorável (desemprego,

necessárias que dêem resposta a este grave

recursos financeiros/materiais limitados), deficit

problema de saúde pública, devendo as

de apoio familiar, estigma social, dependência

mesmas ser dirigidas não só ao individuo

de substâncias e co-infecções nomeadamente

doente, como também à sua família e

VIH. Da mesma forma, que factores intrínsecos

comunidade, de forma a quebrar a cadeia

e pessoais como o analfabetismo, o facto de ser

epidemiológica desta patologia e contribuir para

divorciado/viúvo ou emigrante também

a melhoria da saúde da comunidade.

influenciam a adesão11,13,14,16,19,20,22.

A análise crítica do conjunto de artigos

Os doentes com limitado acesso à ajuda

seleccionados e apresentados na tabela acima

financeira de familiares ou pessoas

contribuiu para fornecer resposta à pergunta de

significativas, contribui para que os custos totais

partida, uma vez que de forma explícita ou

do tratamento excedam os seus recursos

implícita abordam as intervenções de

disponíveis, sendo esta uma barreira para a

enfermagem que podem influenciar a adesão ao

adesão logo nas fases iniciais do

regime terapêutico.

tratamento11,13,14. O apoio monetário a estes

A dificuldade encontrada pela pessoa com TB

doentes, bem como o seu encaminhamento

em seguir esquemas de tratamento realça a

para outros profissionais de saúde, como a

pertinência do investimento neste domínio. Os

assistente social, para que tenha acesso aos

esforços para melhorar os resultados do

recursos locais de apoio11,13 torna-se

tratamento exigem assim uma melhor

fundamental.

compreensão das barreiras inibidoras e

O tratamento da tuberculose tem a duração

facilitadoras da adesão17 e envolve diversas e

mínima de seis meses e a antibioterapia é

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fornecida de forma gratuita, no entanto, a

preponderantes na adesão ao regime

estruturação dos serviços de saúde e a

terapêutico.

acessibilidade dos mesmos, nos diferentes

Na perspectiva de promover a TOD, mas na

países é muito díspar. Nesta linha de

incapacidade da existência de recursos

pensamento, deve-se proporcionar os recursos

humanos para o efeito, é benéfico o

técnicos e humanos necessários para controlar

envolvimento de familiares ou pessoas

esta doença a nível mundial, bem como linhas

significativas 17,22,no acompanhamento ao

orientadores de boa prática comuns.

longo do tratamento e na supervisão da TOD.

Deste modo, é enfatizada a necessidade de

Estes resultados são corroborados por James e

investimento na formação dos profissionais de

Watson (2010). Neste processo, a comunicação

saúde, dotando-os de mais conhecimentos

é um instrumento básico das intervenções de

sobre a doença e desenvolver intervenções

enfermagem 11,22.

mais eficazes para estimular a adesão ao

Durante o tratamento é frequente, os doentes

tratamento10,11,15,23. As intervenções mais

apresentarem humor deprimido. Neste sentido,

relevantes prendem-se com a educação/ensino

é importante intervir precocemente através do

e o aconselhamento, acompanhamento ao

apoio emocional11 e da realização de

longo do tratamento quer através de visitas

psicoterapia19. Os enfermeiros são conhecidos

domiciliárias, quer através de contacto telefónico

por serem uma importante fonte de apoio psico-

e, sobretudo, através da toma directa observada

emocional para os doentes e seus familiares

(TOD), tendo esta uma elevada relação custo-

durante a doença10. Os enfermeiros são o

benefício e sendo uma das medidas mais

grupo profissional mais habilitado, pois o seu

simples, económicas e eficazes recomendadas

foco de atenção está preparado para a pessoa

pela OMS11,12,13,17,19,20,22,23.

com TB/ pessoas significativas e comunidade,

Pelo facto de se se tratar de um tratamento

onde a pessoa com doença se insere 10. Na

longo, a motivação14,19,20 é algo que se vai

análise dos artigos constatou-se ainda que, o

desvanecendo, que quando associado ao alívio

tratamento da TB pode atingir um maior

da sintomatologia clínica16,20 ou aos efeitos

coeficiente de qualidade se os enfermeiros

secundários da terapêutica13,14,16,19,20,

manifestarem interesse na compreensão da

podem contribuir para o abandono da

vivência de cada situação individual de doença

terapêutica e tornar a pessoa mais susceptível

10,11.

ao aparecimento de multirresistência, ao

As necessidades dos doentes e preferências

prolongamento da infecciosidade e,

individuais tendem a ser ignoradas, decorrentes

consequentemente, ao aumento do risco de

de um padrão burocrático de gestão de

recidiva e morte. Assim, a celebração de um

cuidados15, pelo que uma abordagem centrada

contrato terapêutico11,17 e, sempre que

na pessoa e nas suas necessidades aumenta os

possível, ajustar e simplificar o regime

ganhos em saúde13,15,20.

terapêutico11, promovendo e respeitando a

A Tuberculose Pulmonar é uma doença que se

autonomia do utente20, são intervenções

transmite por na aérea, podendo contagiar várias pessoas que frequentem o mesmo

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espaço, durante várias horas por dia. É devido à

para que os profissionais de saúde estejam

facilidade de contágio que se trata de uma

mais envolvidos nos cuidados. As equipas de

doença que coloca em perigo a saúde pública e,

saúde precisam de

em Portugal, tratar-se de uma doença de

sinais e sintomas da doença, conhecer quais os

declaração obrigatória. Por estes motivos, o

serviços locais de tratamento da TB e vias de

rastreio precoce é das estratégias mais eficazes

encaminhamento10. Nesta perspectiva, saber

para diminuir o número de pessoas com

desenvolver competências para resolver

tuberculose, bem como, para diagnosticar a

problemas e criar um ambiente de apoio, onde

tuberculose latente. O programa STOP TB

os prestadores de cuidados de saúde sejam

existente a nível internacional deverá dirigir a

encorajados a reflectir criticamente sobre o seu

sua atenção também no, combate à

trabalho, a planear/introduzir mudanças15 é

toxicodependência, fortemente relacionado com

fundamental para a melhoria da qualidade dos

o surgimento de TB23. Existe comummente a

cuidados prestados à pessoa com TB. No

crença de que a TB é uma doença do passado,

quadro 2, resumem-se as principais dimensões

esses mitos precisam ser quebrados para que a

encontradas para o fenómeno de adesão

TB possa ser identificada mais precocemente e

terapêutica e as intervenções de enfermagem

estar despertos para os

associadas para o seu sucesso.

Tabela 2 – Dimensões da adesão terapêutica e intervenções dos cuidados de enfermagem sugeridas pela revisão de literatura JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951

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CONCLUSÃO

regime terapêutico, da mesma forma que se

Em jeito de conclusão é possível inferir que,

deve apostar na educação/ensino da pessoa

existem fatores que constituem obstáculo à

com TB e pessoas significativas e dotar os

adesão terapêutica como, o baixo nível sócio-

profissionais cada vez mais de conhecimentos,

económico, associado a desemprego e estigma,

contribuindo para a melhoria dos cuidados e do

o elevado tempo de tratamento, os efeitos

bem-estar da pessoa.

secundários dos antibióticos e melhoria da sintomatologia. Por outro lado, a falta de acompanhamento profissional e familiar e a

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ausência de motivação contribuem para o

1. Manissero, D., Hollo, V., Huitric, E., Kodmon,

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C., & Amato-Gauci, A. (2010). Analysis of

Na perspectiva de melhorar e incentivar a

tuberculosis treatment outcomes in the

adesão terapêutica foram identificadas

European Union and European Economic Area:

intervenções de enfermagem associadas ao

efforts needed towards optimal case

controlo de sintomas, segurança das pessoas

management and control. Euro Surveillance:

próximas na comunidade, à satisfação do

Bulletin Européen Sur Les Maladies

doente, à necessidade de apoio psicológico, de

Transmissibles = European Communicable

gestão do regime terapêutico e gestão de cada

Disease Bulletin, 15(11),

caso de forma individualizada. A capacidade da pessoa para gerir o tratamento da TB é um

2. Jafari, C., Thijsen, S., Sotgiu, G., Goletti, D.,

produto de processos dinâmicos, entre os

Benítez, J., Losi, M., & ... Lange, C. (2009).

custos sociais e económicos e outras mudanças

Bronchoalveolar lavage enzyme-linked

que ocorrem ao longo do tratamento. As

immunospot for a rapid diagnosis of

intervenções que facilitam a adesão ao

tuberculosis: a Tuberculosis Network European

tratamento da TB precisam ter em conta o

Trialsgroup study. American Journal Of

tempo específico do tratamento e os factores

Respiratory & Critical Care Medicine, 180(7),

locais14.

666-673. doi:10.1164/rccm.200904-0557OC

Implicações na Prática Profissional

3. Fears, R., Zumla, A., & ter Meulen, V. (2009).

Com base nos resultados obtidos através desta

European bodies can help to tackle TB

revisão sistemática pode-se observar que

worldwide. Nature, 460(7257), 796.

existem diferentes factores que promovem ou inibem a adesão ao regime terapêutico. Existem

4. Pimpin, L., Drumright, L., Kruijshaar, M.,

um conjunto de intervenções que podem ser

Abubakar, I., Rice, B., Delpech, V., & ...

integradas ou aperfeiçoar a prática clínica,

Ködmön, C. (2011). Tuberculosis and HIV co-

nomeadamente, as que se reportam aos

infection in European Union and European

cuidados centrados nas necessidades dos

Economic Area countries. The European

doentes, o respeito pela autonomia e a

Respiratory Journal: Official Journal Of The

colaboração no ajustamento e simplificação do JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951

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Santos, A., Rodrigues, S. (2013) The pain of the patient with chronic leg ulcer during dressing change. Journal of Aging & Inovation, 2 (2): 58-67

REVISÃO SISTEMÁTICA / SYSTEMATIC REVIEW

ABRIL, 2013

A DOR DO DOENTE COM ÚLCERA DE PERNA CRÓNICA DURANTE REALIZAÇÃO DO PENSO THE PAIN OF THE PATIENT WITH CHRONIC LEG ULCER DURING DRESSING EL DOLOR DEL PACIENTE CON ÚLCERA CRÓNICA DE LA PIERNA EN EL CAMBIO DE APOSITO

Autores

Ana Sofia Santos1, Susana Rodrigues2 1Enfermeira,

Serviço Medicina E, HSM, Centro Hospitalar Lisboa Norte, 2 Enfermeira,

Serviço Medicina 2C, HSM, Centro Hospitalar Lisboa Norte Corresponding author: santos.sophye@gmail.com

Resumo Esta revisão sistemática da literatura, pretende dar resposta a um conjunto de questões sobre a dor sentida pelo utente com úlcera de perna crónica, bem como os factores agravantes e de alivio da mesma. Objectivo: Identificar quais as intervenções de Enfermagem que possam contribuir para o controlo/alívio da dor do utente com ulcera de perna crónica durante a realização do penso. Metodologia: Foi realizada uma pesquisa na Base de dados electrónica observada: EBSCO usando as seguintes palavras-chave: Pain AND Nursing AND Wound – Código S1; Leg AND Ulcer AND Pain - Código S2. Código S3 -Site consultado www.woundsinternational.com; Foram procuradas textos acerca da temática. Código S4 - www.wuwhs.org; Foram procuradas textos acerca da temática. Código S5 - Site consultado www.ewma.org; Foram procuradas textos acerca da temática. Resultados: Através da análise dos textos seleccionados, foram agrupados algumas intervenções de Enfermagem a ter em conta ao longo de todo o processo de implementação de cuidados. Conclusão: Com esta prática baseada na evidência podemos concluir que é importante: bom conhecimento acerca da dor e do seu impacto no utente, por parte do Enfermeiro; avaliação precisa e multi-sistémica da dor sentida pelo doente ao longo de todo o processo de tratamento; e a adopção de intervenções específicas para o controlo e alívio da dor aquando da realização do penso. Palavras-chave: Úlcera de perna, ferida, penso, dor, Enfermagem

Abstract This systematic review of literature, aims to respond to a set of questions about the pain felt by the patients with chronic leg ulcers, as well as aggravating factors and the same relief. Objective: To identify the nursing interventions that can contribute to the control / pain relief of the patients with chronic leg ulcer during the course of the dressing change. Methods: We performed a search on a electronic database: EBSCO using the keywords: Pain Nursing AND Wound - Code S1; Leg AND Ulcer AND Pain - Code S2. Code S3: Website: www.woundsinternational.com consulted; were searched texts about our subject. Code S4: Website: www.wuwhs.org consulted; were searched texts about our subject. Code S5: Website: www.ewma.org consulted; were searched texts about our subject. Results: Through analysis of selected texts, there were grouped some nursing interventions to be taken into account throughout the implementation process of care. Conclusions: With this practice based on evidence we can conclude that it is important: good knowledge of pain and its impact on the patients by the Nurses, accurate and multi-systemic evaluation of the pain felt by the patient throughout the treatment process, and adoption of specific interventions for the control and relief of pain during dressing change.

Keywords: Leg, ulcer, wound, pain, Nursing

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Introdução As úlceras de perna são uma realidade crescente junto da população mundial. Surgindo num contexto complexo, necessita de uma abordagem também ela, global e multisistémica, não só para o seu tratamento mas também para a compreensão e acompanhamento da pessoa que padece desta patologia. Um dos factores mais frequentemente referidos pelos utentes, como destabilizador do seu conforto e consequentemente do seu quotidiano é a dor. Esta surge como uma das complicações que mais transtorno traz ao utente, não só a nível físico como também a nível psicológico, social, familiar e espiritual. Deste modo, torna-se vital para a equipa de saúde, e mais especificamente para o enfermeiro, compreender o seu papel no processo de cuidados à pessoa com úlcera de perna crónica, tendo em conta a relevância e impacto que certos procedimentos que são inerentes à sua prática têm na avaliação, controlo e alívio da dor. Neste sentido, foi realizada uma revisão sistemática da literatura com o seguinte objectivo: identificar quais as intervenções de Enfermagem que possam contribuir para o controlo/alívio da dor do utente com úlcera de perna crónica durante a realização do penso.

utente. Esta experiência sensorial negativa deve ser controlada, sendo que o enfermeiro tem um papel fundamental na avaliação e controlo da mesma. As feridas crónicas têm uma duração prolongada no tempo. Exemplos deste tipo de feridas são as úlceras de perna e as úlceras de pressão. As úlceras de perna podem ter etiologia venosa, arterial ou mista. É essencial conhecer a etiopatologia das feridas dos membros inferiores para um adequado tratamento. A etiologia deve ser diagnosticada com base em critérios clínicos (avalação holística do doente, tendo atenção aos antecedentes, sinais e sintomas), Índice de Pressão Tornozelo Braço (IPTB), com recurso a eco-doppler ou arteriografia. Na prestação de cuidados a doentes com este tipo de patologia, não podemos esquecer a problemática da dor, uma vez que os doentes com úlcera de perna percepcionam frequentemente experiências dolorosas. Dor pode ser definida como ”uma experiência sensorial e emocional desagradável associada à lesão tecidular real ou potencial, ou descrita em termos de uma lesão deste tipo.” (Morrison, 2007, pág.490) De acordo com um documento elaborado com a iniciativa da WUWHS (2004), a dor pode ser nociceptiva ou neuropática. A dor neuropática, caracteriza-se por uma resposta inadequada na sequência de uma lesão primária (isto é, danos nas células nervosas devido a alterações metabólicas, processo de infecção,

DEFINIÇÃO E JUSTIFICAÇÃO DA

trauma ou neoplasia) ou de uma disfunção do

PROBLEMÁTICA

sistema nervoso. Este tipo de dor enconta-se na

As úlceras de perna crónica constituem um problema para a população portuguesa e mundial. No entanto, associado a esta patologia, não podemos negligenciar a dor sentida pelo JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951

base do fenómeno chamado alodinia, em que a pessoa experiencia uma dor intensa face a um estímulo sensorial ligeiro, que normalmente não provoca sensações alteradas ou desagradáveis.

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Página 60

É também este tipo de dor que se encontra na origem da dor crónica.

METODOLOGIA Tendo por base a problemática da dor associada

Segundo Grencho (2009), a dor crónica é

às úlceras de perna crónica, realizamos a

aquela que se estende para além de três ou seis

presente revisão sistemática da literatura,

meses, não respondendo ao tratamento e pode

recorrendo ao formato PI(C)O, de modo a

não desaparecer com a cicatrização da lesão.

responder à questão de investigação delineada:

Este tipo de dor, pode ser despoletada por

“Em doentes com úlcera de perna crónica (P),

inúmeros factores. Um deles relaciona-se com

quais os procedimentos de Enfermagem durante

os procedimentos efectuados aquando o

a realização do penso (I), que possam contribuir

tratamento das feridas, em que remoção e

para o alívio da dor (O)?” Tendo por base a

colocação de penso e limpeza da ferida

nossa questão central, definimos o seguinte

agravam a dor sentida pelo doente. Por outro

objectivo: identificar intervenções de

lado factores psico e socio-culturais também

Enfermagem que possam contribuir para o

influenciam o grau de tolerância que o utente

controlo/alívio da dor dos doentes com úlcera de

demonstra face à dor sentida e a sua

perna crónica, aquando a realização do penso.

capacidade de falar acerca dela, e do modo

Assim, definimos as seguintes palavras-chave:

como afecta o seu bem-estar. A dor é assim

Pain, Wound, Nursing, Leg, Ulcer, que

uma experiência singular que deve ser

utilizámos para a realização da nossa pesquisa

valorizada. Segundo Dealey (2006), existe um

da revisão sistemática da literatura, com os

maior reconhecimento da influência da dor nos

seguintes códigos: Código S1 - Base de dados

doentes com feridas crónicas, incluindo um

electrónica observada: EBSCO (Fonte

impacto negativo na cicatrização da ferida. A dor

Académica; CINAHL Plus with Full Text;

não valorizada e mal gerida, pode

MEDLINE with Full Text; British Nursing Index;

inclusivamente desmotivar o utente no que diz

Cochrane Central Register of Controlled Trials;

respeito ao seu plano de tratamentos, levando à

Cochrane Database of Systematic Reviews).

sua não colaboração. Deste modo, é de extrema

Procurados artigos científicos publicados entre

importância o conhecimento e desenvolvimento

1998 e 2010, usando as palavras-chave: Pain

de intervenções de Enfermagem que ajudem a

AND Nursing AND Wound, tendo sido

aliviar a dor nos doentes com ferida crónica.

seleccionados 6 artigos. Código S2 - Base de

Para isso é essencial que os profissionais de

dados electrónica observada EBSCO (Fonte

saúde saibam identificar, avaliar e gerir a dor,

Académica; CINAHL Plus with Full Text;

tendo em conta os conhecimentos básicos da

MEDLINE with Full Text; British Nursing Index;

sua fisiologia e os factores psicossociais do

Cochrane Central Register of Controlled Trials;

indivíduo que influenciam a experiência

Cochrane Database of Systematic Reviews).

fisiológica.

Procurados artigos científicos publicados entre 1998 e 2010, usando as palavras-chave: Leg AND Ulcer AND Pain, tendo sido seleccionado 1 artigo. Código S3 - Site consultado

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Página 61

www.woundsinternational.com; Procuradas

I: Systematic Reviews (Integrative/Meta-

guidelines acerca da temática, tendo sido

analyses/Clinical Practice Guidelines based on

Evidências da SiteInvestigação consultado e Teorias baseadas na evidência

systematic reviews); Level II: Single

www.wuwhs.org; Procuradas guidelines acerca

experimental study (RCTs); Level III: Quasi-

da temática, tendo sido seleccionada uma.

e x p e r i m e n t a l s t u d i e s ; L e v e l I V: N o n -

Código S5 - Site consultado www.ewma.org;

experimental studies; Level V: Care report/

Procuradas guideline acerca da temática, tendo

program evaluation/narrative literature reviews;

sido seleccionada uma.

Level VI: Opinions of respected authorities/

seleccionada uma. Código S4 -

De forma a sistematizar a nossa busca de

Resultados

Consensus panels.)

informação do nosso estudo, definimos os

Assim, obteve-se: 6 textos qualitativos - Nível de

seguintes critérios de inclusão, estudos

Evidência V, 1 Revisão Sistemática da Literatura

qualitativos e quantitativos, revisões de

- Nível de Evidência I e 3 Guidelines - Nível de

literatura, guidelines, revisões bibliográficas, que

Evidência I.

falem de: utentes com dor associada a úlcera de perna crónica, quer em contexto hospitalar, quer em ambulatório; técnicas e procedimentos de Enfermagem que permitam o alívio da dor aquando a realização do pensoe ensinos de enfermagem. Como critérios de de exclusão, definimos todos os tipo de artigos não previstos nos critérios de inclusão, ou artigos que falem de: utentes com úlcera de pressão, pé diabético, feridas cirúrgicas e actos médicos.

No primeiro texto analisado, “Minimising pain at dressing changes”, a autora após uma pesquisa, analisa conceitos de vários autores acerca da dor, sua tipologia e subjectividade. A salientar neste artigo, temos a importância de uma avaliação adequada e sistematizada, através de escalas da dor, de modo a perceber quais os factores influenciadores desta experiência sensitiva: clínicos (patologias como doença vascular periférica, neuropatia diabética, doença maligna, artrite e problemas dermatológicos) e

ANÁLISE DOS DADOS Após a selecção dos textos, submetemo-los a uma análise de modo a reter a informação relevante face à questão de investigação e de forma a dar resposta aos objectivos por nós delineados.

psicológicos (percepção do doente, experiências anteriores, ansiedade, atitudes, crenças, relação enfermeiro/doente). Só assim poderá ser implementado um plano de cuidados individualizado e mais eficiente. Em termos de estratégias para controlo da dor encontramos o recurso a agentes farmacológicos, em que se destaca a aplicação tópica de EMLA (lidocaína a

É ainda importante referir, que os textos

2,5% mais prilocaína a 2,5%), aquando o

seleccionados foram categorizados segundo

desbridamento cortante. São também

Guyatt e Rennie (2002), que apresentam uma

salientadas estratégias não farmacológicas

lista de referência para a classificação da

como o conversar com o doente acerca do seu

literatura face a vários níveis de evidência (Level

tratamento, características da ferida ao longo do

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Página 62

mesmo e aplicação de técnicas de relaxamento

No 3º texto “Topical dressings to manage pain in

como musicoterapia e exercícios respiratórios.

venous leg ulceration”, encontramos novamente

Aquando a realização do penso, enfatiza-se o

um artigo que reúne opiniões de vários autores.

abandono de técnicas que exacerbem a dor, tais

É de salientar, a abordagem do recurso a

como o uso de compressas como apósito e uso

pensos de hidrogel e de ibuprofeno tópico, que

de hidrogéis em feridas exsudativas (este em

segundo alguns estudos referidos neste artigo,

excesso macera a pele circundante e causa

podem diminuir a dor local sentida pelo utente.

dor). Expõem-se sugestões como a remoção cuidadosa do penso, lavagem da ferida com solução salina morna, selecção de pensos como hidrofibras e alginatos (em feridas exsudativas) e pensos de silicone que por não aderirem ao leito da ferida, são menos traumáticos. É ainda de salientar, a protecção da pele circundante para evitar maceração e consequnte dor.

Quanto ao 4º texto analisado,“Management of patients’ pain in wound care”, a autora ao longo do artigo menciona algumas desvantagens dos tratamentos modernos, causadores de dor, como a utilização de hidrocolóides adesivos e alginatos em feridas pouco exsudativas (causam fricção e dor); a utilização de antissépticos que muitas vezes causam dermatites de contacto; e

Quanto ao 2º texto “Wound-related pain: key

o recurso ao desbridamento cortante. É também

sources and trigguers”, face á pesquisa de

referido que uma exposição prolongada da

conceitos de vários autores, a autora

ferida ao ar poderá também ser desencadeante

inicialmente refere alguns factores precipitantes

de dor local. São assim apontadas algumas

da dor. Entre eles encontramos novamente a

abordagens de alívio da dor: uso de sistemas de

remoção do penso e a utilização de

penso sem adesivos e sem antissépticos;

antissépticos. É ainda feita a referência a

selecção de produtos menos traumatizantes

métodos agressivos de lavagem da ferida (como

com os de silicone, hidrogel (em feridas pouco

a fricção com compressas) e à utilização de

exsudativas), hidrofibras e alginatos (em feridas

uma solução de limpeza a uma temperatura

exsudativas); protecção da pele perilesional; e

desadequada. É então sugerido uma correcta

irrigação da ferida com solução isotónica morna.

avaliação das características da dor e dos factores que a despoletam, de modo a minimizálos. Como estratégias, a autora reúne várias: limpeza suave da ferida e pele circundante, quando necessário, com soluções mornas e sem fricção; selecção do penso adequado á ferida respectiva, com características de menor aderência (menos traumatismo); e utilização de creme barreira na pele circundante para a sua protecção.

Relativamente ao 5º texto, “Fundamentals of pain management in wound care”, é novamente referido, de modo semelhante aos textos anteriores, a importância de evitar estímulos desnecessários aquando a realização do penso; seleccionar um penso adequado ao tipo de ferida que seja o mais atraumático possível, que mantenha humidade para a cicatrização e que tenha uma durabilidade que evite uma mudança muito frequente do mesmo. É também mencionada a importância de incentivar o utente

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ao exercício físico adequado e à utilização de

lidocaína e prilocaína, aquando o desbridamento

técnicas de relaxamento e de distracção.

cortante. É referido que estudos demonstraram

Relativamente ao 6º texto “ Treating patients with painful chronic wounds”, os autores focamse no facto de a dor contínua e indevidamente

que a aplicação de EMLA na úlcera durante 30 a 40 minutos, reduz a dor durante esta técnica e reduz a incidência de dor após o tratamento.

tratada, poder desencadear consequências

Relativamente ao texto “Best Practice Statement

negativas como a perda de independência, a

Minimising Trauma and Pain in Wound

diminuição da actividade, perda de energia e

Management” da Wounds International, este faz

apetite, mudanças de humor e depressão no

referência à utilização de pensos adesivos, gase

doente. Para o controlo da dor, após uma

e tule de parafina, como traumatizantes dos

avaliação adequada das suas características e

tecidos vivos da ferida, levando ao aumento da

impacto na qualidade de vida do utente, é

dor. Apesar desta evidência estas práticas

referida a possibilidade de recurso a agentes

persistem. Outras causas de aumento da dor

farmacológicos como AINE’s, anti-depressivos e

são a infecção, a existência de doença arterial e

anticonvulsivantes. Porém, face à possibilidade

a exposição prolongada da ferida ao ar. Como

de efeitos secundários sistémicos nefastos, os

estratégias para o controlo ou alívio da dor

autores falam de uma opção que deve ser

associado à ferida, são referidas intervenções

ponderada pelo enfermeiro: a aplicação de um

farmacológicas (ex: opióides tópicos) e

penso de espuma com ibuprofeno. É referido

intervenções não farmacológicas a implementar

como um penso que não só faz uma adequada

aquando a realização do penso. Como

gestão de exsudado (promovendo um ambiente

intervenções não farmacológicas podemos

óptimo no leito da ferida), como também

considerar: distracção; técnicas de relaxamento;

promove a diminuição da dor local através da

envolvimento do doente no processo de

libertação de ibuprofeno. São citados alguns

cuidados; apoio emocional; posicionamentos

estudos pesquisados, que mostram uma

cuidadosos; privacidade; ambiente

diminuição da dor aquando a mudança de

aconchegante; manipulação suave da ferida;

penso, melhorando o nível de relaxamento da

selecção de produtos para a ferida: não

pessoa e seu bem-estar.

aderentes e não traumatizantes, protecção da

De seguida apresentamos uma revisão de literatura, “Venous leg ulcer patient’s: review of literature of lifestyle and pain – related interventions”. Nesta, foi feita uma análise de textos que abordassem os efeitos de intervenções para o alívio da dor em utentes

pele perilesional e evitar reacções alérgicas, boa gestão do exsudado, selecção de produtos tendo em conta o tempo de uso efectivo, uso criterioso de antibióticos sistémicos e antimicrobianos e irrigação suave com solução isotónica morna.

com úlcera de perna ou apenas com

A segunda guideline analisada,

insuficiência venosa. Entre elas, destacamos o

“Minimising pain at wound dressing related

uso do creme tópico de EMLA, uma mistura de

procedures – a consensus document” da

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WUWHS, fala-nos sobre a importância de um

inflamação, isquémia, e mudança da

controlo da dor durante os tratamentos à ferida,

temperatura da ferida. A nível emocional, o

mediante uma avaliação rigorosa da escolha de

medo, raiva, ansiedade, depressão, tristeza e

um penso adequado, tratamentos cuidadosos à

fadiga são factores que têm impacto a nível do

ferida e a dosagem de analgésicos

aumento da dor. As atitudes, crenças e os

personalizados. São também salientados os

factores culturais, espirituais e sociais também

factores locais que mais contribuem para o

influenciam esta experiência sensorial negativa.

aumento da dor, como por exemplo a isquémia,

Neste texto é feita ainda a referência à

infecção, desidratação excessiva, edema,

importância da analgesia (anti-inflamatórios não

problemas dermatológicos e maceração da pele

esteróides, opióides ligeiros e fortes, EMLA e

circundante. Deste modo, para minimizar a dor

Entonox), das medidas não farmacológicas para

os autores recomendam analgesia, preparação

redução de ansiedade do doente (distracção,

de uma ambiente adequado e intervenções

explicação do procedimento ao doente) e

directas à ferida. Nestes dois últimos

durante o tratamento (evitar estímulos

parâmetros enfatiza-se a escolha de um

desnecessários, manuseamento cuidadoso das

ambiente calmo, explicando todo o processo ao

feridas e selecção de um penso apropriado ao

doente evitando a manipulação e exposição

tipo de ferida, minimizador da dor e do trauma

prolongada da ferida e qualquer estímulo

durante a remoção, capacidade de manutenção

desnecessário, considerar a necessidade de

do grau de humidade no leito da ferida e o seu

analgesia preventiva, através de uma avaliação

uso efectivo).

das características da dor, conhecer factores redutores e desencadeantes da dor, utilização de técnicas simples como a musicoterapia e exercicios respiratórios, despistar sinais de

CONCLUSÕES / IMPLICAÇÕES NA PRÁTICA

agravamento da dor, utilização de produtos ou

Pela análise e reflexão dos textos

solução á temperatura adequada, evitar uma

seleccionados, podemos concluir que a

pressão excessiva da ligadura ou adesivo

preocupação do enfermeiro no controlo e alívio

avaliando o conforto do doente após a aplicação

da dor em doentes com úlcera de perna crónica

dos mesmos, recorrer a técnicas de hipnose ou

é uma realidade. Não só durante como antes e

toque terapêutico.

depois da realização do penso. As medidas de

No que diz respeito à guideline da EWMA, “Pain at wound dressing change” faz-se uma abordagem a alguns factores que intensificam a dor durante a mudança de penso, como a remoção deste, desbridamento de tecido necrosado e desvitalizado, aplicação de

alívio da dor passam não só por administração de terapêutica analgésica e co-adjuvantes de analgesia, como também pela implementação e realização de medidas não farmacológicas, sendo estas últimas da total responsabilidade do enfermeiro.

antissépticos, uso de produtos de limpeza da

Tendo em conta a nossa pergunta PI(C)O: “Em

ferida, maceração da pele perilesional, infecção/

doentes com úlcera de perna crónica (P), quais

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os procedimentos de Enfermagem durante a

Aplicação tópica na ferida de EMLA, aquando a

realização do penso (I), que possam contribuir

realização de desbridamento cortante;5,7,10,

para o alívio da dor (O)?”, apresentamos uma sistematização das medidas de alívio da dor durante a realização do penso: Selecção e aplicação do tipo de penso mais adequado para a ferida, tendo em conta as suas características;1,2,3,5,8,10,14,15,16 Selecção de penso que permaneça mais tempo na ferida;5,15,16 Protecção da pele perilesional de modo a evitar macerações e reacções alérgicas; 5,8,10,14,15,16 Lavagem da ferida, quando necessário, com solução isotónica morna e sem fricção; 5,8,10,14,15 Evitar exposição prolongada da ferida ao ar;8,16 Usar toque suave e evitar manipulação desnecessária da ferida;5,15,16 Abandono da utilização de compressas como apósito;5,10,15 Eficaz controlo do exsudado de forma a evitar maceração da pele circundante;5,8,10,16 Adopção de pensos como hidrofibras e alginatos

Quando disponíveis no mercado português, é uma mais-valia o uso de pensos com ibuprofeno em situação de doentes com grandes níveis de dor local.1,3 Paralelamente, são igualmente importantes procedimentos não farmacológicos como: Conversar com o doente;1,2,3,5,8,10,14,15,16 Promover ambiente acolhedor;15,16 Adequar o posicionamento do doente para minimização do desconforto;15,16 Envolvê-lo no seu processo de cuidados; 1,2,3,5,8,10,14,15,16 Explicar o tratamento a efectuar e as alterações que poderão ocorrer no aspecto da ferida; 5,10,15,16 Uso de técnicas de relaxamento, musicoterapia, aromaterapia, exercícios respiratórios e de visualização.2,5,8,10,15,16 É também de salientar a importância da avaliação frequente da dor e da administração de analgesia prescrita, quando necessário ou de forma contínua. 1,2,3,5,8,10,15,16

para feridas exsudativas;5,8,10,15 Utilização de hidrogel apenas em feridas pouco exsudativas;8,10,15 Evitar utilização de pensos adesivos e hidrocolóides;8,10,14,15 Recurso a pensos de silicone;5,8,10,15,16

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Sartori, E. (2013) UATU - Open University of good time: A Network of Knowledge Shared. Journal of Aging & Inovation, 2 (2): 68-00

ARTIGO ORIGINAL / ORIGINAL ARTICLE

ABRIL, 2013

UATU – UNIVERSIDADE ABERTA DO TEMPO ÚTIL: UMA REDE DE SABERES COMPARTILHADOS UATU - OPEN UNIVERSITY OF GOOD TIME: A NETWORK OF KNOWLEDGE SHARED UATU - UNIVERSIDAD ABIERTA DE BUEN TIEMPO: UNA RED DE CONOCIMIENTO COMPARTIDO

Autores Edi Sartori1 1

Mestre em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (2012).

Participante do Grupo de Pesquisa "Criatividade na Arte, na Ciência e no Cotidiano". Bacharel em Administração Hospitalar pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos - UNISINOS (2008).

Corresponding author: edisartor@hotmail.com

Resumo Com o objetivo de discorrer sobre o impacto de um programa de extensão em educação continuada na vida do idoso, foi escolhido o Programa de Inclusão Social denominado Universidade Aberta do Tempo Útil, oferecido pela Universidade Presbiteriana Mackenzie/SP, que tem como principais objetivos: proporcionar atividades educacionais voltadas à atualização e à aquisição de conhecimento em diversas áreas do saber; desenvolver habilidades socioculturais, privilegiando a alegria e o prazer da convivência com a cultura, e promover a integração do idoso nos vários segmentos da sociedade. A pesquisa configurou-se como uma ação “isolada”, inovando a pesquisa e apresentando uma realidade pouco explorada e difundida, na qual o interesse restringe-se a demandas específicas e direcionadas ao interesse da medicina, afastando outras possibilidades que complementem a melhoria da qualidade de vida da população e a educação, especialmente dos idosos. Palavras-chave: educação continuada – idoso - qualidade de vida

Abstract In order to discuss the impact of an outreach program in continuing education in the lives of the elderly, was chosen the Social Inclusion Program called Open University Time Useful offered by Mackenzie University / SP, which has as its main objectives : provide educational activities aimed at upgrading and acquisition of knowledge in various areas of knowledge, developing skills sociocultural, favoring the joy and pleasure of living with culture, and promote the integration of the elderly in the various segments of society. The survey was configured as an action "isolated", innovating research and presenting a reality underexplored and widespread, in which the interest is restricted to specific demands and directed the interest of medicine, excluding other possibilities that complement the quality improvement of living and education, particularly the elderly. Keywords: continuing education - elderly - quality of life

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Introdução Nas últimas duas décadas, observamos um

não só nos domínios da vida privada, como também em espaços públicos.

aumento da população idosa. De acordo com a

Neste trabalho entende-se como idoso a pessoa

Organização das Nações Unidas (ONU), o

que representa de forma estereotipada as

período de 1975 a 2015 será lembrado pela “Era

condições e as circunstâncias que envolvem a

do Envelhecimento”. O mundo terá mais de “2

velhice, ou seja, é o indivíduo que possui suas

bilhões de pessoas com mais de 60 anos em

habilidades reduzidas, seja nos reflexos, seja na

2050 - e 80% delas estarão nos países em

capacidade visual, auditiva, a pele enrugada e

desenvolvimento”, Esse fato se deve,

dificuldade de locomoção devido a doenças

principalmente, ao controle da natalidade e ao

biológicas.

aumento da expectativa de vida (LEME, 1997). Neste trabalho contrariamos o que até então era visto com preconceito. Apresentamos uma geração de cabelos brancos, incansável, que viaja, tem sua independência, diverte-se, estuda, namora a apresenta mudanças significativas no comportamento, demonstrando que essa nova fase da vida deve ser deve ser vivida com intensidade, aproveitada como as outras fases e que a alma ainda é jovem, dando espaço à qualidade de vida, à felicidade, ao entusiasmo de viver. Segundo Néri (2001, p. 7), “durante o século XX, por mais de 50 anos, a gerontologia considerou o envelhecimento como a antítese do desenvolvimento.” Hoje, ainda de acordo com a mesma autora, a gerontologia “ocupa um lugar de destaque entre as várias disciplinas

OBJETIVOS: (1) Apontar as principais contribuições feitas pelos estudos recentes na área. (2) Identificar e caracterizar na legislação brasileira as normativas voltadas para o idoso. (3) Descrever os principais aspectos cognitivos, afetivos e sociais observados nas representações elaboradas pelos próprios sujeitos. (4) Analisar, a partir dessas representações, quais as alterações sociais, políticas e econômicas que essa nova fase da vida propõe. Os objetivos nos propiciaram a compreensão dos vários aspectos que implicam a mudança de comportamento do idoso ao frequentar o programa de educação continuada.

científicas (...), é considerada como campo multifuncional, pois considera a educação parte integrante da última etapa da vida”. O desenvolvimento do ser humano deve ser constante e contínuo, por isso estudos sobre a nova fase da vida, idosos ou velhos, vêm ganhando espaço e destaque no mundo todo,

METODOLOGIA: A metodologia utilizada neste trabalho foi a pesquisa de campo, de caráter descritivo, com análise qualitativa exploratória. Onde, os fenômenos estudados privilegiaram o discurso dos participantes dos cursos oferecidos

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pela Universidade Aberta do Tempo Útil (UATU),

O objetivo principal da realização desta

com o intuito de observar os benefícios trazidos

pesquisa qualitativa foi o de compreender os

aos alunos pela universidade e pelas relações

vários aspectos que implicam a mudança de

interpessoais de aspectos cognitivos, afetivos e

comportamento do idoso ao frequentar o

sociais.

programa de educação continuada, a fim de

A pesquisa de campo realizada na UATU/UPM partiu de um levantamento bibliográfico e exigiu a determinação das técnicas de coletas de dados mais apropriadas à natureza do tema,

realizar um trabalho teórico que não estivesse distanciado da realidade e com a finalidade de contribuir para futuros estudos no campo da velhice e na educação continuada.

para que pudéssemos realizar a análise, pois

Através dessa pesquisa, somamos esforços no

uma pesquisa é sempre empreendida por um

sentido de conseguir atrelar a produção de

sujeito cujo olhar deve vasculhar lugares já

conhecimento e os relacionamentos

visitados, mas com um modo diferente de olhar

interpessoais à realidade vivida pelos

e pensar, partindo de uma experiência e de uma

participantes da terceira idade na universidade.

apropriação do conhecimento bastante pessoal.

Debert (1988) assinala que, ao utilizarmos

Minayo (1994, p. 21-22) reforça a pesquisa

histórias de vida, estamos possibilitando o

qualitativa pelo fato de responder a questões

estabelecimento de um diálogo entre informante

muito particulares, preocupando-se “com um

e analista, sendo que o primeiro nos fornece

nível de realidade que não pode ser

novas dimensões sobre o objeto de análise,

quantificado”, além de investigar o “[...] universo

para que assim possamos reformular

de significados, motivos, aspirações, crenças,

pressupostos e hipóteses sobre determinado

valores e atitudes”, destacando com isso a

assunto.

exclusividade dos participantes. Esta pesquisa tem como objetivo contribuir para a construção de novos conhecimentos, abordando relações valiosas nas diversas situações sociais, educacionais, como a importância da Universidade para a terceira idade, a família, o aumento populacional do idoso, os aspectos demográficos, sociais, biológicos, intelectuais, bem como as mudanças

RESULTADOS: A pesquisa ocorreu na Universidade Presbiteriana Mackenzie, localizada na cidade de São Paulo/SP-Brasil. Uma universidade comunitária confessional, que valoriza a participação da comunidade e dialoga com ela.

comportamentais diante da sociedade, tecendo

De acordo com o levantamento bibliográfico que

relações com a educação continuada no

fundamentou o estudo ora apresentado e com a

Programa de Inclusão Social de Educação

análise das entrevistas que complementaram a

Continuada do Tempo Útil.

especificidade desse estudo dos idosos na Universidade Aberta, enquanto programa de extensão vinculado à Universidade

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Presbiteriana Mackenzie/SP, pode-se dizer que

desenvolvidos, o que indica a necessidade de

os idosos fazem parte de um segmento

aprofundamento do tema.

heterogêneo, que se configura

Evidências da como um tema Investigação e Teorias baseadas na evidência

complexo na contemporaneidade.

O fato de trabalharmos com um grupo seleto de sujeitos em tempo integral nos permitiu, inclusive, participar das atividades que eles frequentam, observando-os, conversando e dialogando com os professores e a coordenadora, não somente de maneira sistemática, como também de maneira informal. Assim, pudemos analisar profundamente suas apresentações, suas falas e conhecermos um pouco melhor a riqueza e o impacto que este programa tem em suas vidas. Algumas observações foram possíveis a partir da participação da pesquisadora/autora, por um período de seis meses, nas atividades que eram colocadas para os alunos, bem como foram observados poucos estudos sistemáticos dedicados à área da educação continuada e sua

São eles: Resultados As atividades extracurriculares, tais como

exposições de obras de arte, de esculturas, apresentação de canto, de coral, são extremamente valorizadas. Abertas ao público interno e externo, elas acontecem no hall do Edifício João Calvino, onde se encontra a administração da Universidade – um espaço nobre, poderiam ser mais divulgadas, a fim de que a UATU/UPM pudesse ser compreendida não como uma universidade para a terceira idade, mas sim como ela realmente é: uma Universidade Aberta a toda a comunidade; O coral da UATU/UPM se apresenta em vários eventos, inclusive em outros países. Há um crescimento do programa: o número atual de alunos é superior a quinhentos.

relação com o idoso foram desenvolvidos, o que

Os espaços oferecidos às necessidades dos

indica a necessidade de aprofundamento do

alunos hoje é privilegiado, oferece salas amplas,

tema.

equipadas e acessibilidade adequada, com

Inovação e criação são os fatores necessários e indispensáveis para que a universidade, seja ela qual for, especialmente aquela que se dedica a atender a comunidade e tem sua missão voltada à educação, se torne excelência na área, exemplo para as demais, continue crescendo e especialmente continue atendendo à população de idosos que vem aumentando a olhos vistos, ano após ano, no país e no mundo. Também observamos que poucos estudos sistemáticos dedicados à área da educação

rampas e elevadores. A criação de um espaço no qual o programa pudesse ser expandido, não só dentro da universidade, mas em outros espaços e instituições, mostraria o quanto nós estaríamos contribuindo para a qualidade de vida da pessoa idosa, sendo exemplo para outras instituições reproduzirem o modelo que nós estamos ainda elaborando. Ao potencializar a divulgação desse programa, iríamos ao encontro do compromisso social estabelecido pelos princípios e valores da universidade comunitária confessional, como já foi observado.

continuada e sua relação com o idoso foram JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951

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O ambiente de convívio proporcionado pelo

A linguagem utilizada nos resumos para

programa – onde as pessoas se sentem

divulgação dos cursos a serem ofertados

valorizadas e não excluídas, conhecem pessoas

poderiam ser descritos de forma mais clara,

novas, fazem e constroem novas amizades, se

objetiva e explicativa, para que sejam de fácil

identificam com novos objetivos, acabam

compreensão por todos os interessados.

formando outros grupos – vai reproduzir situações que melhoram sua qualidade de vida e os ajuda a ver mais sentido na vida.

Há uma discrepância entre as disciplinas oferecidas e as disciplinas da preferência apontadas pelos alunos.

A educação continuada é importante em todas as áreas do cotidiano, quer seja na administração da sua própria casa, na decoração, quer seja nas necessidades diárias para garantir ou prolongar sua vida. Para isso sugerimos a oferta de cursos de administração – opção identificada entre a preferência dos

Em síntese, muito ainda tem a ser feito pelo e para os alunos do programa da UATU/UPM, especialmente por fazerem parte de uma heterogeneidade.

alunos –, pois este seria um beneficio e uma

Considerando a transição demográfica para os

oportunidade para que pudessem aprender, ou

próximos 20 anos, observam-se as

reaprender, a organizar-se financeiramente ou

oportunidades que se abrem. As reformas e

mesmo aprender a se prepararem para a

inovações conduzem à necessidade de se

aposentadoria, a fim de que seus recursos

seguir um padrão mínimo para que a UATU/

pudessem se multiplicar. Cursos de raciocínio

UPM se torne nacional e internacionalmente

lógico, finanças, bem como o uso variado das

(re)conhecida.

redes sociais, em especial a criação de blogs, também são importantes e podem, ao mesmo tempo, divulgar o programa e alimentar a alma dos indivíduos com a criatividade, inovação e novos desafios, ou até, quem sabe, ser uma nova fonte de renda, já que os cursos acima fazem parte do nosso dia a dia, da nossa vida. Outra sugestão identificada entre a preferência dos alunos seria a oferta do curso de jornalismo, como sugerido por uma das entrevistadas. Para muitos – ou por serem idosos e muitas vezes não compreenderem o significado da notícia, ou por serem jovens e não terem o tempo necessário à dedicação das leituras jornalísticas –, esse curso pode ser uma fonte de informação valorizada. JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951

Inovações como as propostas e implantadas por alguns professores do programa, cujas experiências foram bemsucedidas, podem servir para reforçar mudanças e comportamentos inovadores na instituição como um todo, servindo como modelo e fidelizando os alunos. Espaços junto aos jovens graduandos, sem especificidade de cursos, também seriam uma opção de inovação para que a troca de experiências fosse realmente compartilhada entre todos os alunos mackenzistas. Afinal, com tantas experiências e vivências por parte de alguns idosos, as aulas podem ser alimentadas

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ou complementadas com relatos de pessoas

Como já foi observado, o estudo aponta um

que vivenciaram os fatos in loco.

aumento significativo da população idosa,

O grupo de estudos que “atua” em paralelo às aulas da UATU/UPM, composto por alunos interessados em ampliar e reforçar seus conhecimentos com os conhecimentos dos professores, podem receber auxílio e atenção para que esses encontros sejam registrados por meio de artigos, publicação de livros ou mesmo compartilhados com outros alunos da universidade. Observa-se a necessidade de potencializar a comunicação dos cursos, das disciplinas e oficinas da UATU/UPM, mesmo no âmbito interno da universidade, para que haja um aumento significativo na divulgação do programa e este passar automaticamente a conquistar o interesse de novos professores, inovando-se constantemente. Atividades de extensão, para que todos os alunos do programa possam participar de outras atividades extracurriculares. Atividades como o “I Encontro de Criatividade na Arte, na Ciência e no Cotidiano”, realizado durante o segundo semestre de 2012, podem ser adaptadas e incluídas como parte integrante do currículo do

especialmente no bairro Higienópolis, no qual a universidade se encontra, considerado um dos bairros mais nobres da cidade de São Paulo. Com isso a UATU/UPM pode apresentar-se e destacar-se, ampliando seu leque de atuação de forma a superar e servir como exemplo às demais universidades do país e – quem sabe – do mundo. O programa da UATU/UPM pode ser um exemplo a ser seguido e ser reconhecido mundialmente por sua excelência; pode ser motivo e exemplo a ser utilizado nas mudanças das políticas públicas, na legislação e nas convenções destinadas ao atendimento de idosos. As pessoas responsáveis por ele devem agir de forma ágil, para que não se perca e conquiste novas riquezas humanas e com elas partilhe e compartilhe os conhecimentos produzidos na universidade. Por se tratar de um tema complexo, o fenômeno da maturidade, que envolve várias áreas do conhecimento, deve ser estudado com os olhares voltados aos estudos interdisciplinares.

programa. Inovação e criação são os fatores necessários e

Referências Bibliográficas

indispensáveis para que a universidade, seja ela qual for, especialmente aquela que se dedica a atender a comunidade e tem sua missão voltada à educação, se torne excelência na área, exemplo para as demais, continue crescendo e especialmente continue atendendo à população de idosos que vem aumentando a olhos vistos,

DEBERT, G. Guita. A antropologia e o estudo dos grupos e das categorias de idade. In: BARROS, M. M. L. de. (Org.). Velhice ou terceira idade? Rio de Janeiro: FGV, 1998.

ano após ano, no país e no mundo. JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951

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LEME, L. E. G. O envelhecimento: mitos e verdades. São Paulo: Contexto, 1997.

MINAYO, M. C. S. Pesquisa Social. Teoria, método e criatividade. 17 ed. Petrópolis: Vozes, 1994.

NÉRI, Anita L. Desenvolvimento e Envelhecimento: perspectivas biológicas e sociológicas. 3ª ed. Campinas, SP: Papirus, 2001.

JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951

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EVENTO EM DESTAQUE / FEATURED EVENT

ABRIL, 2013

INTERNATIONAL NURSING CONFERENCE LISBON 2013

Lista de Palestrantes / Speakers List

2012-now: Registered as a PHD student at the University of Venda, Thohoyandou, South Africa 2011

: Doctoral research methodology,

University of Johannesburg Louisa Tsweleng

2001-2004: Mcur (advanced midwifery and neonatal nursing science), University of Johannesburg

Personal information Nationality:

South African

Address:

Department of Advanced Nursing

1996-1998: Bcur I E (Nursing education and Administration), University of Pretoria

Science

Professional experience:

University of Venda, Private Bagx5050,

2001-2012: Lecturer, Department of Advanced

Thohoyandou, 0950

midwifery and neonatal nursing science, Ga-

Limpopo province, South Africa Current position: Lecturer: Department of Advanced Nursing Science, University of Venda, Thohoyandou, South Africa

Rankuwa nursing college, Pretoria, South Africa 1997-2000: Lecturer, Departments of general nursing, midwifery, community nursing and nursing administration. Lebone College of nursing, Pretoria, South Africa Recent presentation: 2012 : Power point presentation:

Educational qualifications:

JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951

Topic:Reflection of the impact of the ultrasound training on the practice of the post advanced Volume 2. Edição 2


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midwifery graduates. Chris Hani Bara nursing

Information from both the mothers and midwives

college, Johannesburg, South Africa

were then extensively discussed and compared

2008 : Poster. Topic: The Mothers’ Experience of

to the existing literature

Pain Management during Labour. The 27th

Conclusions and recommendations

Conference in Priorities in Perinatal Care.

Conclusions were drawn and recommendations

Indaba Hotel. Sandton South Africa

formulated to assist midwives and other health care professionals to improve their caring modalities, in the management of patients with

The mother’s experience of pain management during labour

pain during the first stage of labour ______________________________________

Tsweleng M. L Objective The objective of this study explores and describes the experiences of first-time mothers regarding pain management during the first stage of labour. Methods Aqualitative approach involving phenomenology was used. Midwives were also interviewed to determine their assessment and management strategies in this regard in order to get abroader perspective of the focus of inquiry Findings

Mai Yamanoi Personal information: Nationality: Japanese Address: 1-50-1 MUTSUURA-HIGASHI, KANAZAWA-KU YOKOHAMA 236-8503, JAPAN

The data collected from mothers revealed three themes and they are; the care rendered needs / wishes and beliefs / feelings of the mothers regarding the care given. These themes were further subdivided into small headings/ categories as specified in the data and

Current position: Assistant Professor, Department of Home Care Nursing, Graduate School of Nursing Kanto Gakuin University, Japan

elaborated on. Eight categories of care strategies emerged from the data gathered from midwives. JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951

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Educational qualifications: 2011-2013:

dwelling elderly. Journal of Academy of

MSN. Department of Community

Health Nursing, Yokohama City University, Japan.

Community Health Nursing,2013;16(1).( in press) Takano M., Matsumoto K., Yamanoi M.,

2007-2008: Reserch Student of Nursing Education, Kanagawa University of Human Service, Japan. 1997-2001: Bachelor of Economics, Faculty of Economics, Kanagawa University, Japan. 1992-1995: Technical Associate of

Nursing,

Yokohama City University, Japan.

Interaction of geriatric nursing how exercise senior leads the junior, Bulletin of Kawasaki City College of Nursing,2011;16(1),65-72. Yamanoi M., Matsumoto K., Takano M., For technical education with the aim of practical skills and strengthening the current state of technology experience in nursing Geriatric Nursing Practice, Bulletin of Kawasaki City College of Nursing,2010;15(1),95-102. Yamanoi M., The role of the nursing home for

Professional experience: 2013-now:

Assistant Professor, Department of

mother and children with disabilities to severe, Report of Nursing research, 2008; 33,279-286.

Home Care Nursing, Graduate School of Nursing Kanto Gakuin University, Japan. 2011-2013:

Teaching Assistant

2008-2011:

Assistant Professor, Department

of Gerontology Nursing, Kawasaki City Collage of Nursing, Japan. 2004-2007:

RN, Wakakusa Nursing care

A conversation analysis of Type 1 and Type2 communication between caregivers and patients in geriatric facilities in Japan Mai Yamanoi RN,MSN, Department of Home Care Nursing, Graduate School of Nursing Kanto Gakuin

home for the physically handicapped, Japan.

University, Japan

1995-2003:

RN, Department of Emergency

Objective: This paper is to present part of the

Nursing, Yokohama City University Medical

research we have conducted on the

Center, Japan.

mechanisms of provider-patient communication in geriatric facilities in Japan. In our previous studies, we have identified two different types of

Recent publications:

communication between caregivers and residents: Type I (task- oriented) and Type II

Yamanoi M., Tadaka E., Taguchi H.R. Factors

(life-worldly) communication. Based on those

related to nutritional status in the community-

results, we examined the mechanism of

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communication between them, using a qualitative method of analysis.

Current position:

Evidências da Investigação e Teorias baseadas na evidência Analysis to

Adjunct Professor of Nursing, University of

investigate conversational features of the two

Nursing, School of Health Sciences, University

types of communication ,were found in the

of Liverpool.

Method: We used Conversation

linguistic exchanges between caregivers and residens. Study subjects comprised 37 residents. In this study, for the purpose of detailed, sequential analysis, we chose two typical examples of the two types of communication between them. R e s u l t s : W e f o u n d t h a t , i n Ty p e 2 communication, the elderly were given the possibility of expanded utterance opportunities and self-initiated utterances as nursing staff presented life–worldly topics of elderly residents as topics that the elderly could and should talk about whereas, in Type 1 communication, taskoriented speeches were initiated by caregivers, giving residents little opportunities to talk, and thus the patients’ utterances were restricted to short replies.

Ottawa, Canada and Lecturer, Directorate of

Educational qualifications: PhD, MSc, BSc (Hons), PGCE, RGN Professional experience: Recent Funded Research Projects 2012 – M Flynn and D Mercer.

£9,922 (NHS

NW)NHS values and behaviours evidence review and survey of NW admissions tuto rs. 2011 – L Appleton, M Flynn, R Jones, P Large, T Kavanagh, D McGlashen, C Wood. £23,336 (Clatterbridge Centre for Oncology Charitable Trust) A study exploring the impact of language on adjustment to cancer following treatment. 2010 – M Flynn; £57,000 (Merseyside &

______________________________________

Cheshire Cancer Network) A review of cancer awareness in Merseyside and Cheshire 2009 – M Flynn & D Mercer, J Cambil (Granada), M Barchiesi (Ancona) & D Theofanidou (Thessaloniki) €96,000 (European Union Leonardo da Vinci Programme) An esurvey of European nurses and allied health professionals use of the internet in professional practice. 2009 – M Flynn & J Davenport; £24,499

Maria Flynn

(Department of Health/Association of Greater Manchester Authorities) Review of Evidence and Survey of Smoke Free Stadia

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2009 – M Flynn & R Hunter; £24,912

Physiotherapy Theory and Practice (Accepted

Department of Health Medical Education &

for Publication March 2013)

Training) Exploring the associations between IMGs IELTS scores, communications scores and appointability following interview for medical specialty training 2008 – M Flynn & S Meah; £80,000 (Heywood, Middleton and Rochdale PCT) Documentary review and postal survey to evaluate four healthy lifestyle schemes 2008 – M Flynn & R Hunter; £30,101 (The Dementias and Neurodegenerative Diseases Research Network (DeNDRoN) Development of an evidence based strategy to increase patient and public participation in research 2008 – M Flynn & A Smith; £44,796 (Department of Health Medical Education and Training) A r e v i e w o f E n g l i s h l a n g u a g e ( I E LT S ) requirements for entry to medical specialty training programmes.

Moffatt M and Flynn M (2013) A critical narrative review of the safety of acupuncture in pregnancy Journal of the Acupuncture Association of Chartered Physiotherapists (Accepted for publication July 2012) Caton ERJ and Flynn M (2013) Management of Anaphylaxis in the ED: A clinical audit. International Emergency Nursing. 21, 64-70. Mercer D and Flynn M (2012) Caring values in a corporate culture: Defending compassionate nursing practice in the NHS Nursing Inquiry (Under review) Cambil Martin J, Flynn M, Villaverde C (2011) Quality assurance of nursing websites: Development and implications of the ALEU method. Computers Informatics Nursing, 29 (9), 523-530. Wright AD and Flynn M (2011) Prone positioning of ventilated patients: A review of evidence.

Recent Papers and Publications (Selected)

Nursing in Critical Care 16 (1); 19-27.

Flynn M and Mercer D (2013) What price

______________________________________

compassionate care in an NHS ‘market’? Nursing Times 109 (7), 12-14 Williams N and Flynn M (2013) Review of the efficacy of Neuromuscular stimulation in critically ill patients Physiotherapy Theory and Practice (Accepted for Publication March 2013) Williams N and Flynn M (2013) An exploratory study of physiotherapists views of early rehabilitation in critically ill patients

Dave Mercer Current Position: Lecturer, the University of Liverpool, Directorate of Nursing, School of Health Sciences, Liverpool, England. 2012 -

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Adjunct Professor to the School of Nursing, and member of the Faculty of Graduate and Postdoctoral Studies, at the University of Ottawa, Canada. Educational qualifications: PhD, MSc, BSc (Hons), PGCE, RGN Funded Research Project Experience 2012 – Flynn M and Mercer D £9,922 (NHS NW) NHS values and behaviours evidence review and survey of NW admissions tutors. 2011 - Mercer D, Chandley M and CromarHayes M £25,000 (Merseycare NHS Trust) Implementing a recovery approach on two wards of a secure hospital: An action research approach. 2010 – Barr W, Mercer D, Hodge S, Haigh K, Thomas N, Brown A and Noblett S £30,000 (Merseycare NHS Trust). An exploration of the discursive construction of risk in forensic mental health practice. 2009 – Flynn M, Mercer D, Cambil, J (Granada), Barchiesi M (Ancona) and Theofanidou, D (Thessaloniki) €96,000 (European Union Leonardo da Vinci Programme) An e-survey of European nurses and allied health professionals use of the internet in professional practice. 2008 – Hodge S, Barr W, Mercer D, Hagan T, Clayton J, Graham S, Haigh K £57, 796 (Merseycare NHS Trust). A first stage evaluation of the Merseycare Complex Psychological Problems Service.

Publications and Presentations (Selected) Flynn M and Mercer D (2013) Is compassion possible in a market-led NHS? Nursing Times [Invited paper], 109 (7): 12-14. Mercer D (2012) ‘Girly mags and girly jobs’: Pornography and gendered inequality in forensic practice. International Journal of Mental Health Nursing, 22: 15-23. Mercer D (2012) Policing pornography in highsecure care: The discursive construction of gendered inequality. In Holmes D, Rudge T, Perron A (eds) (Re)Thinking violence in health care settings: A critical approach. Surrey, Ashgate. Mercer D and Perkins E. (2011) Of men and monsters: The discursive construction of sex and sexual offending in high-secure psychiatric care. The International Academy of Law and Mental Health 32nd Congress, Berlin, Germany. Perkins E and Mercer D (2011) Dangerous pictures and dangerous men: Female nursing discourse about working in a treatment environment for sexual offenders. The International Academy of Law and Mental Health 32nd Congress Berlin, Germany. McKeown M and Mercer D (2010). Using critical theory to understand special needs offenders and secure care environments. The International Institute on Special needs Offenders and Policy Research, Niagara Falls, Canada. McKeown M and Mercer D (2010). Mental health care and resistance to fascism. Journal of Psychiatric and Mental Health Nursing, 17: 152-161.

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Mercer D (2009) Research in state institutions: A

profession, generating academic commentaries

critical issue for forensic nursing. Journal of

on the causes and effects of a ‘compassion

Forensic Nursing, 5: 107-108 [Invited paper].

deficit’.

Mercer D (2009). Talkin’ forensic nursing blues:

The authors report the findings of a

The discursive texturing of high-security care.

comprehensive review of national and

Invited keynote speaker at Custody and Caring:

international evidence focused on core

International Biennial Conference on the Nurse’s

professional values. One hundred and seventy

Role in the Criminal Justice System. University

seven (177) publications were evaluated and a

of Saskatchewan, Canada.

total of fourteen (14) international and nineteen

Richman J and Mercer D (2004) ‘Modern language’ or ‘spin’? Nursing, ‘newspeak’ and organisational culture: New health scriptures. Journal of Nursing Management, 12: 290-298. Mercer D (2004) ‘My weariness amazes me’: The rhetoric and reality of research. Invited keynote presentation at the Forensic Psychiatric Perspectives and Possibilities Conference, Wellington, New Zealand

(19) UK research reports were included. Data from the studies were extracted and synthesized as a narrative. The key themes showed that caring and compassion are inherent nursing values which are influenced by the training curriculum, professional role modeling, but mostly by the organization and culture in which nurses’ work. In this paper the findings of the review are discussed in relation to how compassionate care can be upheld in a European Union suffering an unprecedented financial crisis. Although the

CRITICAL ISSUES IN NURSING: THE COST

focus is on current debates in the United

OF COMPASSIONATE CARE IN MODERN

Kingdom, this is an issue that has global import

EUROPE

for the nursing profession in terms of clinical

Maria Flynn, Dave Mercer

practice, healthcare management and nurse education. The first part of the paper sketches out the political context of nursing, and the second section explores the implications for

The English National Health Service [NHS] is

clinical practice. In conclusion we suggest that

being subjected to widespread and radical

any failure in compassion is more likely due to

reform, where the principle of compassionate

political and organizational culture, and not to

care is increasingly seen as the driving force of

any shortcomings of nurses or nursing practice.

quality services and excellence in nursing practice. A number of high-profile cases of failings in the NHS have attracted media attention, where discourse typically focuses on the shortcomings of nurses and the nursing JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951

Key Words: Compassionate care; compassion deficit; nursing care; healthcare culture; healthcare markets; evidence review. ______________________________________

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1991-1996:

Associate Professor, Kanagawa

Prefectural College Nursing Medical Technology Public Health, Kanagawa, Japan 1989-1991:

Public Health Nurse, South

Yamato Hospital, Kanagawa, Japan

Yasuko Fukaya Personal information: Nationality: Japan

Recent publications: Yasuko Fukaya, Takanori Kitamura. Status of Capability ADL and Performance ADL (ADL Gap) in Community Elderly With Disabilities and

Address: School of Health Sciences, Tokai

Development of ADL Gap Self-Efficacy. In Jean,

University, Kanagawa, Japan

B, G. Editor & Charlotte ,V. Editor, Activities of

Current position: Professor, School of Health Sciences, Tokai University, Kanagawa, Japan Educational qualifications:

Daily Living:Performance,Impact on Life Quality and Assistance. 2013(in press); NY, USA, Nova Science Publishers, Inc, 97-118 Yasuko Fukaya, Sachiyo Koyama, Yusuke kimura, Takanori Kitamura. Change in speaking time of elderly people who require facility care

1999:

PhD., Health Science, Tokyo University,

Tokyo, Japan

when sosial communication from staff is increased in japan, USM internatinal nursing

1987-1989: MNS., St. Luke’s College of Nursing, Tokyo, Japan 1985-1987: Bachelor of Nursing, St. Luke’s College of Nursing, Tokyo, Japan

confernce 2011. 2011; University Sains Malaysia, 51-57 Yasuko Fukaya, Sachiyo Koyama, Yusuke kimura, Takanori Kitamura. Education to promote verbal communication by caregivers in

Professional experience: 1998- now:

Professor, School of Health

Sciences, Tokai University, Kanagawa, Japan 1996-1998:

Associate Professor, School of

Health Sciences, Tokai University, Kanagawa, Japan

geriatric care facilities. Japan Academy of Nursing Science. 2009 : 16 : 91-103 Statistical Analysis of Relationship between Caregivers Type II Speech and Elderly Utterances in Geriatric Facilities in Japan Yasuko Fukaya1, Takanori Kitamura2, Sachiya Koyama3

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analyzed through the comparison of two 1School of Health Sciences, Tokai University, Japan, 2School of Law, Tokai University, K a n a g a w a , J a p a n , 3 K i t a z a t o U n i v e r s i t y, Kanagawa, Japan

groups. Results: After intervention elderly utterance duration in response to caregivers’ Type II speech increased 112.64 s (SD = 224.48) in the Increase Group, but declined 59.13 s (SD = 133.18) in the Decrease Group, a significant

Objective: This study is based on the research

difference (p = .01). When these were stratified

that we have previously conducted, in which we

according to the type of utterance, the duration

found that the communication between

of Type II utterances increased 61.38 s (SD =

caregivers and elderly residents in geriatric

111.57) in the Increase Group, but declined

facilities in Japan fell into 2 Types: ‘Task-oriented

88.16 s (SD = 170.25) in the Decrease Group, a

’ ( Ty p e 1 ) a n d ‘ L i f e - W o r l d l y ’ ( Ty p e 2 )

significant difference (p = .01). The frequency of

communication. We also found an educational

utterances also increased 28.43 times (SD =

intervention increased the duration and

44.60) in the Increase Group, but decreased

frequency of caregivers Type 2 speech. The

37.25 times (SD = 40.60) in the Decrease

current study further investigates this topic, by

Group, also significant (p = .001). Comparing

analyzing the ways in which caregivers Type2

self-initiated elderly utterances in the Increase

speech affects elderly residents’ utterances,

Group and Decrease Group in response to Type

particularly focusing on residents’ self-initiated

II speech by staff, the duration of self-initiated

utterances.

utterances in the Increase Group increased

Method: Study subjects comprised 37 residents and 249 caregivers. Measurement of the type and quantity of caregiver speech and elderly utterances was performed twice for each facility for a total of two days of data. We recorded all conversation between them, using a recording device, based on which a verbatim transcript was produced. When changes in the duration of Type II speech by caregivers were compared

27.76 s (SD = 69.75) and decreased 19.13 s (SD = 56.44) in the Decrease Group, a significant difference (p = .04). When these were stratified by the type of self-initiated utterances, compared to an increase of 20.43 s (SD = 52.00) in the duration of Type II self-initiated utterances in the Increase Group, the Decrease Group showed a decrease of 19.94 s (SD = 39.51), which was significant (p = .01).

before and after educational intervention, two

Conclusions. This study showed that when the

groups were classified (Increase Group/

duration of Type II speech by caregivers

Decrease Group). Changes in the duration and

increased, the duration and frequency of Type II

frequency of the elderly utterances and self-

utterances and self-initiated by the elderly

initiated utterances before and after educational

tended to increase.

intervention for caregivers were statistically

JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951

______________________________________

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Adaptation Of The Thoracic And Lumbar Vertebrae To Lumbar Hyperlordosis In Young and Adult Females. European Spine Journal; 19(5):768-773. 2010. Abbas J., Hamoud K., Masharawi Y., May H., Medlej B., Ori H., Peled N., Hershkovitz I. Ligamentumflavum thickness in normal and Youssef Masharawi

stenotic lumbar spines. Spine; 20(35): 1225-30. 2010. Abbas J., Hamoud K., May H., Hay O., Medlej

Current position:

B., Masharawi Y.Peled N., Hershkovitz I. Degenerative lumbar spinal stenosis and lumbar

Senior Lecturer, Head of Spinal Research

spine configuration. European Spine Journal;

Laboratory, Physical Therapy Department,

19(11):1865-73. 2010.

Sackler Faculty of Medicine Member of Associate Board-Spine Journal, USA Educational qualifications: 2007-2008: Post-Doc., Back Center, Odense, Denmark 1999-2003: Ph.D, Anatomy & Anthropology, TelAviv U. 1995-1996: M.APP.Sc, Manual Therapy, University of South Australia 1986-1990: B.P.T., Physical Therapy, Tel-Aviv U. Major publication (2010-2012): Dar G., Masharawi Y., Peleg S., Steinberg N.,

Steinberg N., Siev-Ner I., Peleg S., Dar G., Masharawi Y., Hershkovitz I. Injury pattern in young non-professional dancers. Journal of Sports Sciences; 29(1):47-54.2011. Dar G., Masharawi Y., Peleg S., Steinberg S., May H.,Medlej B., Hershkovitz I. The Epiphyseal Ring: A Long Forgotten Anatomical Structure with Significant Physiological Function. Spine; 36(11):850-6. 2011. Abbas J., Hamoud K., Peleg S., May H., Masharawi Y., Cohen H., PeledN., and Hershkovitz I. Facet joint orthrosis in normal and stenotic lumbar spines. Spine; 36(240:E1541-6. 2011.

May H., Medlej B., Hershkovitz I. Schmorl's

Masharawi Y., Salame K. Shape variation of the

nodes distribution in the human spine and its

neural arch in the thoracic and lumbar spine:

possible etiology. European Spine Journal;

characterization of its asymmetry and

19(4)670-675. 2010.

relationship with the vertebral body. Clinical

Masharawi Y., Dar G., Peleg S., Steingberg N.,

Anatomy; 24(7):858-67. 2011.

Medlej B., May H. Hershkovitz I. A Morphological

JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951

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Página 79

Moller A., Masharawi Y. The effect of first ballet

Sackler Faculty of Medicine, Tel Aviv University,

classes in the community on thoracic kyphosis,

Israel.

lumbar lordosis, hip external rotation and joint laxity in young girls. Physical Therapy in Sport; 12(4):188-93. 2011.

BACKGROUND: Non-specific chronic low back

Beladev N., Masharawi Y. The effect of groupexercising on females with non-specific chronic low back pain in a sitting position. A pilot study. Journal of Back and Musculoskeletal Rehabilitation; 24(3):181-8. 2011.

pain (NSCLBP) is a common cause of disability in everyday functioning in the modern world and a financial burden on the patient and society. Most common treatment in NSCLBP is conservative and including medicines and physiotherapy. The group practices advantage

Masharawi Y. Lumbar Shape characterization of

over other types of practices because it focuses

the neural arch and vertebral body in

on the patient's sense of security, his high

spondylolysis: A comparative skeletal study.

response, willingness to support the other and

Clinical Anatomy; 25(2):224-230. 2012.

thus increases his motivation and ability to

Mannion A., O'Riordan D, Dvorak J, Masharawi Y.The relationship between psychological factors and performance on the BieringSorensen back muscle endurance test. Spine Journal; 11(9):849-57. 2011. Masharawi Y., Kjaer P., Manniche C., Bendix T. Lumbar sagittal shape variation vis-à-vis sex during growth: a 3-year follow-up magnetic resonance imaging study in children from the general population. Spine;37:501-7. 2012.

examine and report on his improvement. Most studies directional preferences note especially the sagittal plane and backward movement (extension) in particular as manual treatment and exercise. Despite the importance of directional preference, there was no deep research of other directions, such as rotation, and their contribution to improve NSCLBP. Similarly, most studies on active group exercises in NSCLBP used a mixture of body positioning in their protocols with no preferences for weightbearing or non-weight-bearing exercises. OBJECTIVE: To examine the effects of group

The effect of group exercising with

exercising with positional and directional

directional and positional preferences on

preferences on range of motion, pain intensity,

females with non-specific chronic low back

and function parameters in females with non-

pain. Masharawi Youssef Spinal Research Laboratory, Physical Therapy Department, School of Health Professions,

specific CLBP. METHODS: Three randomized controlled pilot studies were conducted on females aged 40 to 70 who have suffered from NSCLBP. The exercise protocols were given bi-weekly for 4 weeks and were based on: a- non-weight-

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bearing positions; b- weight-bearing positions, and c- rotational exercises.

All participants in

the exercise and control groups were examined

Transition into Practice Conundrum

once before the program started (t0), and once at the end of the program (t1). The exercise groups were examined again after 2 months as

Lina Kantar

a follow-up (t2). All groups received training on the right lifestyle for caring for the lower back. The control groups had a four week wait until the second session. The study tested range of

American University of Beirut, Lebanon

motion of the lower back (flexion, extension, right and left rotation), pain intensity at rest (VAS) and assessment of functional capacity after NSCLBP by Roland Morris Disability Questionnaires (RMQ).

Although the educational preparation of nurses fails to meet the demands of health care systems, actual practice and clinical education of nursing graduates remains unexplored. In this

RESULTS: There were significant improvements

multiple-case study design, the clinical practice

in most dependent variables in the positional

of new graduates who had worked for three

studies (weight-bearing and non-weight bearing

months was examined through the narratives of

positions) as follows (p<0.05): an increase in

20 preceptors. The preceptors were selected

lumbar flexion and extension (mean differences

from three recognized hospitals in Beirut,

of 6◦ for flexion and 4◦ for extension; reduction in

Lebanon, and responses were analyzed using

VAS score (mean difference = 4.21); an increase

NV ivo 8 qualitative software. Through content

in RMQ total score (mean difference= 10.76).

analysis research technique, the curriculum

Changes in the VAS score was highly correlated

documents of three baccalaureate nursing

with changes in the RMQ score (r = −6.35).

programs that prepared the graduates of the

There were no significant improvements were

study’s key informants were analyzed.

indicated, however, in any of the dependent

Curriculum analysis aimed at relating the role of

variables in the rotation exercise group (p>0.05).

the curriculum in the transition process. This

CONCLUSIONS: Unlike the positive effect of group exercising conducted in weight-bearing and non-weight-bearing positions, group exercising with directional preference into rotation did not affect the range of motion of the lower back, the pain intensity and functional level in individuals with non-specific CLBP. ______________________________________

JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951

exploration of graduates’ transition supports and extends the Dreyfus model of advanced beginner practice, and further articulates Tanner’s descriptions of the four dimensions of clinical judgment. In this study, two core aspects of transition were explored: (a) experiences of graduates in practice and (b) instructional strategies employed in the curriculum. Findings revealed that experiences of nurses when in transition occur in different forms, evolving into

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four phases of practice: exposure to clinical

that management could be accurately achieved

situations, conceptualization of change,

by plotting of partogram which is a specialized

decisions for acting and doing, and finally

tool to monitor women during labour and

assessment of enacted decisions. From the

delivery. However, it has been noted that its

perspective of the 20 preceptors, the clinical

utilization in the labour units of Limpopo province

environment presents to the graduates as a set

needs to be explored.

of skills that must be achieved and, eventually, creates an opportunity for learning from practical realities. The traditional curriculum dominated in the three programs and instructional approaches were almost all teacher-centered. Findings converge on the need for a transformation in nursing education, thus supporting relentless calls for curriculum innovation. Recommendations that have impact on graduates’ transition are categorized into academia and service. The joint efforts of both are cardinal for resolving transition challenges. The discipline, educational leaders, and inservice executives might benefit from the findings as suggestions for change are illuminated in regards to how nurses must be adequately prepared prior to assuming professional roles. ______________________________________

The purpose of this study was to explore the theory and practica taught regarding plotting of the partogram and challenges faced by student nurses when plotting partogram during their education and training. Methods: Population comprised of all the student nurses registered with the College of Nursing and in their Level 111 and Level 1V of their training at three campuses. Qualitative research design which was exploratory and descriptive was sed. Focus Group discussion, unstructured interview was used to collect data; a voice recorder was used to record conversation and field notes were also written by the researcher. Data was analyzed qualitatively in three phases - descriptive, analysis and interpretive. Findings: Findings indicated that student nurses were taught different contents on partogram by the college staff and the registered midwives in the labour wards. Recommendations:

Challenges faced by student nurses when

Researchers recommended that there should be

plotting partogram in labour units of

more collaboration between the college and the

Limpopo province, South

labour wards staff and that the number of clinical

AfricaCorrespondence address

lecturers increased. In conclusion, strategies to

KE Mothapo & SM Maputle University of Venda Introduction: Midwifery education and training prepare student midwives to manage a pregnant woman and her unborn baby. It is documented JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951

improve the integration of midwifery theory to practice on plotting of partogram by student nurses in labour units in Limpopo were recommended. Key words: Plotting of partogram, Labour units, student nurses, theoretical and practical content

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