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EDITORIAL
Terminada a Pós Graduação em Gestão de Equipamentos destinados a Pessoas Idosas é tempo de fazer um balanço e ainda que exista dificuldade em estar á altura da qualidade em que decorreu esta formação académica, tentarei analisar os principais momentos que a distinguiram. A Associação Amigos da Grande Idade – Inovação e Desenvolvimento, defende com grande convicção que a formação académica deve definitivamente ajustar-se às necessidades do mercado de trabalho e dos que exercem atividade no terreno. Depois de algumas propostas de diversas entidades, acabámos por encontrar um parceiro que, finalmente, entendeu os objetivos da Associação, não insistindo em colocar como principal objetivo a questão financeira, e aceitou o desafio comum de promover a Pós Graduação em Gestão de equipamentos destinados a Pessoas idosas cujo conteúdo é, certamente, o mais adequado ao exercício de funções de gestão, liderança, coordenação e orientação em Lares, casas de repouso, Centros de dia, cuidados domiciliários e outras ofertas, que se encontra em Portugal. Mas, para além de tudo pretende-se não só formar gestores como, principalmente e pela primeira vez em Portugal, formar pessoas que percebam e entendam o envelhecimento. Sem se perceber e entender o envelhecimento não se podem exigir bons gestores e esse é o principal desafio para a formação nesta área. Não podemos continuar a insistir que só precisamos de conhecer as teorias do envelhecimento, os modelos de liderança, os principais conceitos teóricos de organização. Temos que perceber que é fundamental partilhar a prática, a ação no terreno e dai tirar concussões, aprofundar os resultados que se vão obtendo, medir esse trabalho e começar a construir o conhecimento que tanta falta faz para a mudança do estigma e preconceito sobre envelhecimento, cuidados e serviços destinados a pessoas idosas. O ISLA, Instituto Superior de Línguas e Administração, entendeu completamente esta ideia convicta da Associação e deu asas para a Pós Graduação se desenvolver sem interferências e sem interesses particulares que
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muito contribuem para que a ideia de que o ensino não anda muito bem, se desenvolva. Há pois que fazer um agradecimento público ao ISLA – Leiria e a quem o dirige por ter desenvolvido esta Pós Graduação que marca definitivamente o ensino nesta área, passando a exigir uma qualidade superior a todos os que pretendam realizar formações semelhantes que, sabemos, não tem tido qualquer êxito. A Pós Graduação que hoje termina teve a participação efetiva, disciplinada, motivada e interventiva de 27 alunos, muitos deles percorrendo centenas de quilómetros para virem até Leiria. São estes alunos que já distinguem a prestação de cuidados e oferta de serviços em Portugal porque são os primeiros a entender que precisamos de mudar de rumo na área do envelhecimento, que precisamos de abanar as estruturas onde trabalhamos e que necessitamos de olhar primeiro para nós e para as nossas capacidades e só depois ter pretensões de mudar os outros, formando-os, liderando-os e exigindo o seu bom desempenho. Alunos brilhantes que, para além de prescindirem dos seus sábados para descansarem, empenharam-se de forma até aguerrida nesta formação, sendo exemplo disso a extraordinária qualidade dos trabalhos finais realizados, estando já dois publicados e que vão contribuir para um mais profundo conhecimento de todos os técnicos na área do envelhecimento. Alunos simpáticos, bonitos, solidários que se tornam a partir de hoje a imagem mais característica da Associação Amigos da Grande Idade e que são os primeiros desconstrutores dum envelhecimento indigno, triste, doente e resignado. A segunda palavra é pois para este brilhante grupo de 27 alunos da Pós Graduação. Também na área dos conteúdos a Pós Graduação marca a diferença porque a flexibilidade da coordenação, geral e científica, permitiu que se adaptassem conteúdo originalmente propostos às verdadeiras e reais necessidades dos participantes. Ainda que o tempo possa ter parecido escasso, conseguimos chegar á maior parte dessas necessidades, Pouco, de essencial, ficou por dizer. Partilhámos todos os nossos recursos
EDITORIAL
sem qualquer receio, sem qualquer constrangimento e sem medo de sermos copiados, com os alunos. Partilhámos todos os nossos conhecimentos e trouxemos todas as pessoas que julgámos serem as vozes mais importantes do nosso País a falarem sobre os diversos conteúdos. Esses conteúdos não teriam tido tanta importância se não tivéssemos escolhido um grupo de impar qualidade para os ministrar. Optámos por nada reservar para próximas +propostas formativas e fomos capazes de dotar a Pós Graduação com um conjunto de personalidades que fez toda a diferença e que aceitaram as nossas propostas, optando finalmente por uma linguagem e abordagem nova de questões muito antigas. A terceira palavra vai para esse lote de craques das matérias do envelhecimento a quem muito ficamos a dever porque as compensações da sua participação ficam muito longe dos resultados positivos que foram obtidos com essa mesma participação. Obrigado a todos os professores, doutores e demais técnicos superiores e não superiores que nos acompanharam nestes dez meses. Estamos pois enormemente orgulhosos por termos organizado esta Pós Graduação, não esquecendo nunca que isso só foi possível pela simpatia, gentileza mas também inteligência estratégica do ISLA. Há sete anos quando fundámos a associação Amigos da Grande Idade só nos dava vontade de “estragar” tudo porque nada do que víamos na área da prestação de cuidados e oferta de serviços a pessoas idosas nos dava qualquer alegria e bem pelo contrário, arrepiava pela falta de dignidade, pela tristeza, pela resignação. Hoje julgamos que algumas coisas foram alterando mas temos a certeza que muito será alterado nos próximos anos e nós pensamos que temos um contributo muito pequenino nessas alterações. Pretendemos agora manter a ligação da Associação Amigos da Grande Idade ao ensino superior, sabendo que somos sempre um parceiro leal que não quer protagonismo e que deseja apenas que a formação tenha resultados
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evidentes e mude comportamentos e atitudes. Estamos a preparar a próxima pós graduação que, realizando-se, terá já a participação de todos os alunos que agora terminaram esta formação e manterá as características e os objetivos. Faremos este trabalho sempre de forma independente, não aceitando exigências que não se justifiquem e só sirvam para interesses corporativos porque acima de tudo não vivemos disto e apenas exercemos a nossa cidadania, acreditando que podemos construir um País melhor.
Rui Fontes Presidente da AAGI-ID
Antunes, J., et al. (2015) Nursing Records and Wound Healing Evolution, Journal of Aging & Inovation, 4 (2): 3 - 10
REVISÃO SISTEMATICA/ SYSTEMATIC REVIEW
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Registos de Enfermagem e Evolução Cicatricial de Feridas Nursing records and Wound Healing Evolution Registros de enfermería y evolución cicatricial Herida Autores JULIANA ANTUNES1, PATRICIA CARVALHO1, TELMA FREIRE,1, FLÁVIO MARQUES1 1
Licenciado em Enfermagem, Centro Hospitalar do Oeste, Torres Vedras, Portugal Corresponding Author: telma.nurse@gmail.com
Resumo A documentação e os registos de enfermagem são fundamenais para a prestação de cuidados de enfermagem de qualidade pois facilitam a continuidade dos cuidados e a eficácia das intervenções. A avaliação e monitorização de feridas, permite avaliar o estado inicial da ferida e o sucesso ou insucesso do tratamento, tornando premente a necessidade de registos fiáveis e universais. Objetivo: Evidenciar a importância dos registos de enfermagem na evolução cicatricial de feridas. Método: A pergunta de investigação/problemática elaborada segundo o método PI[C]OD consiste: de que forma a documentação de feridas poderá influenciar a evolução cicatricial? Para realização da pesquisa bibliográfica foram consultadas as bases de dados eletrónicos: EBSCO, Scielo Portugal, Scielo Brasil e Repositório Cientifico de Acesso Aberto de Portugal. Resultados: Após a análise de estudos científicos constata-se a existências de barreiras à implementação de boas práticas no tratamento de feridas, nomeadamente: registos/sistemas de informação insuficientes e inadequados, avaliação inadequada do doente com ferida, má aplicação de boas práticas, dificuldades de comunicação e de cooperação entre profissionais e falta de liderança na tomada de decisão. A eliminação destas barreiras conduz á redução do número de erros, melhoria dos resultados e diminuição de custos. De acordo com a bibliografia consultada, algumas das possíveis estratégias para eliminação destas barreiras são: utilização de registos eletrónicos, aplicação do registo fotográfico e monitorização objetiva da ferida através da aplicação de uma escala, como por exemplo a escala PUSH. Conclusão: A utilização de registos de enfermagem que sejam fiáveis, universais e bem documentados são fundamentais para uma melhoria dos cuidados. Além de proporcionarem uma efetiva continuidade dos cuidados, permitem a reflecção por parte do profissional no sentido de se encontrarem as melhores soluções para cada tipo de ferida e sua evolução cicatricial. Palavras-Chaves: registos, enfermagem, feridas
Abstract Documentation and nursing records are the key to providing quality nursing care because they facilitate continuity of care and the effectiveness of interventions. The evaluation and monitoring of wounds, allows to evaluate the initial state of the wound and the success or failure of treatment, making urgent the need for reliable and universal records. Objective: To highlight the importance of nursing records in the evolution of healing wounds. Method: The research question / problem drafted according to the PI [C] OD method is: how the documentation of wounds can influence the wound healing evolution? To carry out the literature were consulted the electronic databases: EBSCO, Scielo Portugal, Scielo Brazil and Scientific Open Access Repository of Portugal. Results: After analyzing some studies it appears that exist same stocks barriers to implementing best practices in wound care, including: insufficient and inadequate records / information systems, inadequate evaluation of patients with wound, poor implementation of good practices, difficulties communication and cooperation between professionals and lack of leadership in decision making. The elimination of these leads to the reduction of errors, improved outcomes and reduced costs. According to the bibliography, some possible strategies for overcoming these barriers are: use of electronic records, applying the photographic record and objective monitoring of the wound by applying a scale, such as the PUSH scale. Conclusion: The uses of nursing records are reliable, universal and well documented are fundamental to improving care. In addition to providing an effective continuum of care, allow reflection by the professional in order to find the best solutions for each type of wound and scar their evolution. KeyWords: records, nursing, wounds
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Introdução A documentação e os registos de enfermagem são fundamentais para a prestação de cuidados de enfermagem de qualidade pois ao incorporarem de forma sistemática as necessidades de cuidados, as intervenções de enfermagem e os resultados obtidos sensíveis às intervenções de enfermagem, facilitam a continuidade de cuidados e a eficácia das intervenções (Ordem dos Enfermeiros, 2001). A avaliação e monitorização de feridas assume grande importância na prestação de cuidados de enfermagem, pois permite avaliar o estado
de feridas, poderá influenciar a evolução cicatricial? Para a melhor compreensão deste estudo foi definido como objetivo geral do estudo: Evidenciar a importância dos registos de enfermagem na evolução cicatricial de feridas. Durante a realização deste estudo foi efetuada uma pesquisa nas bases de dados EBSCO, SCIELO Portugal e Brasil e Repositório Cientifico de Acesso Aberto de Portugal, também foram consultadas outras referências bibliográficas, para contextualizar a temática do estudo.
inicial da ferida que ainda não iniciou tratamento e o sucesso ou o insucesso do mesmo através da análise da evolução do processo de
Enquadramento Conceptual
cicatrização (Gouveia, 2009). Assim, torna-se
Desde outubro de 2003, com a publicação das
premente a opção por um método de registos
competências do enfermeiro de cuidados gerais
fiável e universal que permita uma verdadeira
pela Ordem dos Enfermeiros, que ficou
continuidade de cuidados baseados em dados
homologado que é da competência do
reais (Gouveia, 2009).
enfermeiro documentar o plano de cuidados e a
Já há várias décadas que se efetuam estudos
implementação de intervenções, avaliar e
que relacionam os registos de enfermagem e
documentar a evolução, no sentido dos
evolução cicatricial das mesmas, sendo que
resultados esperados e utilizar instrumentos de
todos, de um modo geral, revelam que
avaliação adequados para identificar os riscos
documentação insuficiente resulta em
reais e potenciais (Ordem dos Enfermeiros,
alterações frequentes do tipo de pensos devido
2003). Assim como, com a publicação dos
à perceção individual do enfermeiro que efetua
enunciados descritivos dos padrões de
o tratamento da ferida e à falta de compreensão
qualidade, pela mesma instituição, ficou claro
do processo cicatricial da mesma (Espirito Santo
que “são elementos importantes face à
et al, 2013).
organização dos cuidados de enfermagem,
É neste contexto que é realizada esta revisão
entre outros: a existência de um sistema de
sistemática da literatura, sobre a temática dos
registos de enfermagem que incorpore
registos de enfermagem na evolução cicatricial
sistematicamente, entre outros dados, as
de feridas, no sentido de se compreender quais
necessidades de cuidados de enfermagem do
os métodos mais eficazes para a avaliação e
cliente, as intervenções de enfermagem e os
posterior monitorização destas, nomeadamente,
resultados sensíveis às intervenções de
úlceras de pressão, úlceras de perna e pé
enfermagem obtidas pelo cliente” (Ordem dos
diabético. E para a qual foi levantada a questão
Enfermeiros, 2001).
de investigação: De que forma a documentação JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
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Aquando da prestação de cuidados à pessoa
instrumentos de registo de avaliação e
com ferida, a realização de registos
monitorização de feridas validados para a
relacionados com as características da mesma
população portuguesa.
são fundamentais para ajuizar o processo de
Para a realização da pesquisa bibliográfica
evolução cicatricial. De acordo com Dealey
foram consultadas as Bases de Dados
(2006), para se apreciar o progresso de uma
Eletrónicas: EBSCO (CINHAL, MEDLINE,
ferida é essencial manter os registos precisos,
Nursing and Allied Health Collection), Scielo
sendo que a boa documentação ajudará a
Portugal, Scielo Brasil e Repositório Cientifico
assegurar a continuidade dos cuidados e evita
de Acesso Aberto de Portugal, bem como
alterações frequentes nos tipos de pensos,
referências bibliográficas físicas; usando as
diminuindo os gastos e otimizando o efeito do
seguintes palavras-chave como descritores da
material de penso aplicado.
pesquisa: ferida, cicatrização, registos de
Porém, os registos das feridas são raros, bem
enfermagem, úlcera por pressão, pé diabético e
como uma boa classificação das mesmas e os
úlcera de perna. Foi repetida a pesquisa, no
registos das suas dimensões; é utilizada com
mesmo intervalo de tempo utilizando as
frequência uma linguagem destruturada e
seguintes palavras- chave: wound; healding;
coloquial e com erros ortográficos (Danielsson-
nursing records; pressure ulcers; diabetic foot;
ojala, et al,2012),.
leg ulcer.
A eliminação destas barreiras conduz à redução
Para a seleção dos artigos foram aplicados os
do número de erros, melhoria dos resultados e
seguintes critérios de inclusão: artigos com
diminuição de custos (Pinto e Vieira, 2014).
intervalo de tempo compreendido entre 2009 e 2015 e língua portuguesa e/ou inglesa.
Metodologia A questão de investigação/problemática deste artigo, foi elaborada segundo o método PI[C]OD (Participantes, Intervenções, Comparações, Resultados e Desenho de Investigação): De que
Após a leitura de todos os artigos, efetuámos a análise de 30 artigos de carácter científico e 5 referências bibliográficas físicas. Discussão dos resultados
forma a documentação de feridas, poderá
Aquando da prestação de cuidados à pessoa
influenciar a evolução cicatricial?
com ferida, a realização de registos
O objetivo geral definido para esta revisão
relacionados com as características da mesma
sistemática da literatura foi: Evidenciar a
são fundamentais para ajuizar o processo de
importância dos registos de enfermagem na
evolução cicatricial. Porém analisando estudos
evolução cicatricial de feridas. E os objetivos
científicos sobre os registos de enfermagem
específicos definidos foram: Identificar
constata-se a existência de algumas barreiras à
publicações científicas, nacionais e
implementação de boas práticas no tratamento
internacionais, sobre a importância da
de feridas.
documentação em feridas e os seus contributos
pesquisa efetuada verificámos que os registos
para a evolução cicatricial das feridas,
de feridas, apresentam as seguintes lacunas:
Durante o processo de análise da
publicadas entre 2009-2015 e identificar JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
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são raros, bem como uma boa classificação das
Considerando agora as três grandes áreas de
mesmas e os registos das suas dimensões; é
feridas crónicas abordadas nesta revisão, sendo
utilizada com frequência uma linguagem
estas as úlceras de pressão, úlceras de perna e
destruturada e coloquial e com erros
pé diabético é de salientar a avaliação inicial e
ortográficos (Danielsson-ojala, et al, 2012).
seu diagnóstico com base em escalas ou meios
Vieira, num estudo realizado em 2014,
de diagnóstico corretos e validados, de forma a
acrescentam ainda que os registos revelam uma
permitir ao enfermeiro uma avaliação certa e
avaliação inadequada do doente com ferida, má
objetiva e posterior monitorização.
aplicação de boas práticas, dificuldades de
Para as úlceras por pressão, um dos métodos a
comunicação e de cooperação entre os
utilizar para a sua categorização inicial é o
profissionais e falta de liderança nos processos
sistema de classificação da NPUAP/EPUAP
de tomada de decisão. Segundo o mesma fonte
para úlceras de pressão que consiste na
a eliminação destas barreiras conduz à redução
distribuição por quatro níveis os diferentes tipos
do número de erros, melhoria dos resultados e
de ulceras por pressão. Assim na categoria I
diminuição de custos.
temos o eritema não branqueável em pele
Assim, e no sentido de eliminar as barreiras
intacta, na categoria II a perda parcial da
acima mencionadas, podemos verificar que os
espessura da pele ou flictena, na categoria III a
registos de feridas devem incluir a classificação
perda total da espessura da pele (tecido
da ferida, localização, dimensões,
subcutâneo visível) e finalmente na categoria IV
características do tecido presente no leito da
perda total da espessura dos tecidos (músculos
ferida, profundidade, exsudado, pele
e ossos visíveis) (National Pressure Ulcer
circundante, dor e fotografia (Li e Korniewicz,
Advisory Panel, European Pressure Ulcer
2013). Esta avaliação de base deverá ser
Advisory Panel and Pan Pacific Pressure Injury
registada pelo menos uma vez por mês (ETRS,
Alliance, 2014). Para além desta categorização
2003). Considera-se também que os registos
inicial é fundamental a aplicação de uma
eletrónicos apresentam vantagens sobre os
anamnese na qual sejam focados aspetos como
registos escritos, pois, os registos digitais das
“os valores e objetivos de cuidados do indivíduo
lesões contribuem para a clareza e objetividade
e/ou das pessoas significativas para o indivíduo,
das informações sobre os aspetos da ferida e
a história médica/saúde e social completa, um
evolução do tratamento da mesma (Faria e
exame físico específico que inclua fatores que
Peres, 2009).
possam afetar a cicatrização (…), a avaliação
Para uma correta avaliação de cada tipo de
nutricional, a dor (…), o risco de desenvolver
ferida é importante a utilização de métodos
novas úlceras por pressão adicionais, a saúde
descritivos da mesma, validados para a
psicológica, comportamental e cognitiva, os
população portuguesa, como, por exemplo, a
sistemas de apoio social e económico, a
classificação de Wagner para o pé diabético e o
capacidade funcional (…), a utilização de
sistema de classificação da NPUAP/EPUAP para úlceras de pressão.
manobras de alívio e de redistribuição da pressão, os recursos disponíveis para o indivíduo (…), os conhecimentos e crenças
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sobre a prevenção e o tratamento das úlceras
Relativamente às feridas de pé diabético, tal
por pressão e a capacidade de aderir a um
como em todas as feridas a sua avaliação inicial
plano de tratamento e prevenção (National
e diagnóstico são o ponto inicial para um correto
Pressure Ulcer Advisory Panel, European
tratamento. O seu diagnóstico assenta na
Pressure Ulcer Advisory Panel and Pan Pacific
existência de patologia diabética associada,
Pressure Injury Alliance, 2014). Assim, para uma
despiste de doença arterial periférica, história de
correta avaliação inicial não basta avaliar
claudicação gemelar e ainda a ausência de
somente a ferida pois é igualmente necessário
pulsos palpáveis. “ No entanto, as úlceras de pé
avaliar o individuo e a sua capacidade de
diabético não são todas iguais, variando desde
cicatrização bem como o risco para o
o componente vascular até ao grau de
desenvolvimento de novas úlceras.
profundidade, por isso é importante, para
Na revisão sistemática da literatura realizada,
padronizar o tipo de tratamento e avaliar os
em relação às úlceras de perna não existe
resultados, classificar as úlceras.” (Pinto e
propriamente uma escala de avaliação inicial da
Vieira, 2014). Segundo alguns autores existem
ferida, no entanto é de salientar que a sua
várias classificações, no entanto as mais
avaliação consiste na anamnese, história
utilizadas são a classificação de Wagner e a
vascular e avaliação objetiva do membro inferior
classificação de PEDIS. Esta última, a
de forma a confirmar patologia venosa excluindo
classificação de PEDIS, é mais complexa não
outras patologias. Para além desse exame
sendo de fácil utilização diária, pelo que é mais
objetivo, torna-se por vezes necessário “ (…)
utlizada em estudos e investigações clínicas.
recorrer a meios de diagnósticos alternativos
(Pinto e Vieira, 2014). A classificação de Wagner
para diferenciar as úlceras venosas das
contempla três parâmetros clínicos, sendo eles
arteriais.” (Rocha, et al, 2006) Para os autores
a profundidade da úlcera, grau de infeção e a
anteriormente citados, estes meios de
existência e extensão da necrose (Pinto e
diagnóstico complementar consistem na
Vieira, 2014), sendo distribuídos por seis tipos
avaliação do pulso tibial posterior e pedioso e
de úlcera. Ao longo da revisão literária
ainda a determinação do Índice de Pressão
encontrámos diferentes tabelas com a
Tornozelo Braço (IPTB), com recurso a Doppler.
classificação de Wagner, tendo sido elaborada a
Esta avaliação inicial leva a uma organização e
seguinte tabela, baseada em Duarte e
planificação dos tratamentos e ao recurso a
Gonçalves (2011).
materiais de penso e outras medidas
Para além desta classificação de úlcera de pé
consideradas importante. No entanto, é
diabético, existe ainda quem considere
necessário reavaliar continuamente, ou seja,
importante a Classificação de Edmonds, a qual
monitorizar o tratamento instituído, para que tal
distingue entre pé neuropático e pé neuro-
aconteça, “ (…) é necessária uma avaliação
isquémico. (Duarte e Gonçalves, 2011).
constante da úlcera, usando-se para isso
Posteriormente à avaliação da ferida e durante
decalques ou fotografias de forma a possibilitar
todo o seu processo evolutivo é fundamental
a monitorização da sua evolução.” (Rocha, et al,
uma boa monitorização. Um dos métodos que
2006).
poderão ser utilizados para este fim é a escala
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Classificação de Wagner
Descrição
Grau 0
Risco elevado, ausência de úlcera
Grau 1
Úlcera superficial, não infetada em termos clínicos
Grau 2
Úlcera profunda com celulite, ausência de abcesso ou osteomielite
Grau 3
Úlcera profunda com osteomielite ou formação de abcesso
Grau 4
Gangrena localizada
Grau 5
Gangrena em todo o pé
Tabela 1 – Classificação de Wagner (Duarte e Gonçalves, 2011)
PUSH (Pressure Ulcer Scale for Healing),
ideal para cada fase de cicatrização.” (Espirito
desenvolvida e validada pelo Task Force da
Santo et al, 2013).
National Pressure Ulcer Advisory Panel (NPAUP) em 1998 (Silveira et al, 2013) e
Conclusões
traduzida e validada para português pelo Centro de Estudos e Investigação em Saúde da
A utilização de bons registos de enfermagem,
Universidade de Coimbra (CEISUC) em 2005.
registos que sejam fiáveis, universais e bem
Esta escala considera três parâmetros de
documentados são fundamentais para uma
avaliação, a área da ferida, a quantidade de
melhoria substancial dos cuidados prestados,
exsudado e a aparência do leito da ferida. Os
pois para além de proporcionarem uma efetiva
scores para esses parâmetros somados criam
continuidade de cuidados, também permitem
um score final que pode variar entre 0 a 17.
uma maior reflexão por parte do profissional do
Scores maiores indicam pioria da úlcera por
sentido de se encontrarem as melhores
pressão (UPP) e menores melhoria (Silveira et
soluções para cada tipo de ferida e para cada
al, 2013). Esta escala apesar de ter sido
fase da sua evolução cicatricial.
desenvolvida para monitorização da úlcera de
Estes registos deverão, por isso, ser baseados
pressão poderá ser extrapolada para a úlcera de
em escalas e/ou instrumento que facilitem não
perna e para o pé diabético. “ O instrumento
só a elaboração do registo propriamente dito,
PUSH possibilitou acompanhar o processo de
como a sua interpretação posterior através de
cicatrização da lesão por meio de avaliação de
uma rápida e fácil consulta do que foi produzido.
comprimento versus largura, quantidade de
Um dos instrumentos que poderão ser utilizados
exsudado e tipo de tecido existente na ferida,
é a escala PUSH, no entanto, esta não basta,
favorecendo, assim, a escolha de cobertura
pois não é contemplada a monitorização da
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pele circundante, o que poderá ser um mote
5. European Tissue Repair Society
para futuros estudos de investigação, nos quais
(2003) – ETRS Working Group
se analise a influência da pele circundante para
Statements. Gent: ETRS.
o tratamento e para a cicatrização da ferida.
6. Faria, Nivia Giacomini Fonfura; Peres,
Para além da utilização destes instrumentos é
Heloisa Helena Ciqueto (2009).
fundamental que seja documentado qual o tipo
Análise da produção científica sobre a
de tratamento realizado e acrescentado um
documentação fotográfica de feridas
registo fotográfico da ferida.
em enfermagem. Revista Electrônica de Enfermagem. [online]. Vol.11, no. 3
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JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
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10.Ordem dos Enfermeiros (2001) – Divulgar: Padrões De Qualidade Dos Cuidados De Enfermagem. Lisboa: Ordem Dos Enfermeiros; 11. Ordem dos Enfermeiros (2003) – Divulgar: Regulamento Do Perfil De Competências Do Enfermeiro De Cuidados Gerais. Lisboa: Ordem Dos Enfermeiros; 12.Pinto, E. & Vieria, I., (Eds.) (2014) Pé diabético: fisiopatologia, diagnóstico e tratamento. Prevenção e Tratamento de feridas da evidência à prática, 162-189. Disponível em http:// www.care4wounds.com/; 13.Rocha, M., Proença e Cunha, E., Dinis, A., & Coelho, C. (2006). Feridas u m a a r t e s e c u l a r, a v a n ç o s tecnológicos no tratamento de feridas. Coimbra, Portugal: Minerva; 14. Silveira, S. L. P., Silva, G.R.F, & Moura, E.C.C. (2013). Avaliação das úlceras por pressão por meio da aplicação da escala pressure ulcer scale for healing (PUSH). Revista de Pesquisa Cuidado é Fundamental Online, 5, 3847-3855. Disponível em http://www.seer.unirio.br/index.php/ cuidadofundamental/article/view/2035/ pdf_791;
15.
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Tomé, A., et al. (2015) Evolution of law for residential Structures and the aging stigmatization in Portugal, Journal of Aging & Inovation, 4 (2): 11 - 20
REVISÃO NARRATIVA/ NARRATIVE REVIEW
EVOLUÇÃO
JUNHO 2015
DA LEGISLAÇÃO PARA ESTRUTURAS RESIDENCIAIS E A ESTIGMATIZAÇÃO DO ENVELHECIMENTO EM
EVOLUTION
PORTUGAL
OF LAW FOR RESIDENTIAL STRUCTURES AND THE AGING STIGMATIZATION IN
PORTUGAL Evolución de la Ley de las estructuras residenciales y la estigmatización del envejecimiento en Portugal Autores ANA TOMÉ1, CRISTIANA RODRIGUES2, SILVIA COSTA,3, SÓNIA MARQUES4 1
Centro Paroquial de Bem-Estar Social de Valverde, Fundão,2 Casa de Repouso S. Paulo, Lda.,3 Centro Social e Cultural da Paróquia
do Souto da Carpalhosa Corresponding Author: atome29@hotmail.com
RESUMO
Este artigo tem como primordial objetivo perceber que evolução houve da legislação portuguesa até à atualidade, referente às pessoas idosas e aos equipamentos de que estas usufruem. A metodologia adoptada consistiu na pesquisa e análise de todos os Decretos-Lei e Decretos Regulamentares publicados na República Portuguesa desde 1968 até 2014.
Constatámos que a legislação existente continua a aliar a
fragilidade e a incapacidade à pessoa idosa. No entanto, surgiram algumas alterações ao nível da linguagem. Verificámos ainda que existe um longo caminho a percorrer, com o intuito de que a pessoa idosa não tem de continuar necessariamente a ser vista como um ser frágil e incapaz e os equipamentos existentes não têm de ser apenas de cariz caritativo e assistencialista. Palavras-chave: legislação, pessoa idosa, envelhecimento, sociedade
ABSTRACT The main objective of this article is to understand what evolution occurred in the Portuguese law until the present day, concerning to the elderly and the equipment that they use. The methodology consisted was based on research and analysis of all Decree-Law and Regulatory Decrees published in Portugal from 1968 to 2014. We found out that the existing legislation continues to combine the fragility and the inability to the elderly. However, there were some changes in terms of language. We also verified that there is still a long way to go with the purpose to show that an elderly person does not necessarily have to continue to be seen as fragile and unable and the existing equipment does not have to be just charitable and welfare nature. Keywords: law, elderly, aging, society
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INTRODUÇÃO
Deste modo, propomo-nos fazer uma revisão e avaliação sistemática de toda a
Em Portugal, como na Europa, tem-se
legislação desde 1968 até aos dias de hoje,
verificado uma tendência crescente para o
analisando-a criticamente face à evolução das
aumento da população idosa. Este fenómeno
características das pessoas idosas e ao não
ocorre em todos os países desenvolvidos e
ajustamento da legislação actual. O objectivo
verifica-se atualmente um aumento também nos
fulcral é perceber em que sentido a legislação
países em desenvolvimento.
evoluiu ao longo dos tempos a nível das
Este estudo mostra-se pertinente e extremamente interessante visto que, existe a
estruturas residenciais para as pessoas idosas e perceber qual o caminho a percorrer.
ideia de que a sociedade em geral não está sensibilizada para a questão do envelhecimento e principalmente para as exigências e serviços necessários para a população com mais de 65 anos. As projecções oficiais disponíveis indicam uma dinâmica populacional sem precedentes na história portuguesa, com o crescente peso das populações séniores e uma redução alarmante do peso da população activa (Chau et al, 2012). A relação entre o número de idosos e jovens traduziu-se, em 2010, num índice de envelhecimento de 118 idosos por cada 100 jovens e o número de idosos com mais de 80
ENQUADRAMENTO HISTÓRICO Foi em 1968 que pela primeira vez em Portugal se legislou sobre os apoios direcionados às pessoas idosas. Nessa altura, já existia a preocupação com este grupo etário (e também com as crianças) e com as condições em que estes residiam em estruturas às vezes sem condições de higiene e sem pessoal técnico que assegurasse as mesmas com um
funcionamento satisfatório. Foi sentida a
anos passou de 340 milhares, em 2000, para
necessidade de estabelecer medidas
484,2 milhares, em 2010 (Chau et al, 2012). A
legislativas adequadas, de forma a
verdade é que, o peso dos idosos e dos grandes
regulamentar o exercício destas actividades,
idosos na estrutura populacional tem vindo a
estabelecendo assim a sujeição deste tipo
aumentar de forma significativa e desafiante. Portugal apresentava em 2009 uma das maiores taxas de dependência da União
de equipamentos e licenciamento prévio e à fiscalização do Ministério da Saúde e
Europeia com um valor de 26,3%, só
Assistência de forma a garantir a qualidade dos
ultrapassado pela Itália, Grécia e Suécia com
serviços bem como da promoção de bem-estar
um valor de 30,6%, sendo a média comunitária
social da população.
de 25,6%. Segundo os dados das Nações
Em 1975 a legislação veio determinar o
Unidas, para 2007 Portugal era o 10º país do
cancelamento dos pedidos de abertura de novos
mundo com maior percentagem de idosos e o
lares, o que conduziu indirectamente ao
14º com maior índice de envelhecimento (Chau
aumento de estabelecimentos clandestinos.
et al, 2012).
Ocorrendo uma proliferação crescente de estabelecimentos com fins lucrativos que se
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se destinavam a apoiar crianças em idade pré-
serviços privados que desenvolviam actividades
escolar bem como pessoas idosas ou
de apoio social do âmbito da Segurança Social.
diminuídas. O diploma de 1981 destinou-se a
Excluiu as Instituições Privadas de
repor a obrigatoriedade do licenciamento prévio
Solidariedade Social que tinham acordos de
de equipamentos sociais e do exercício de
cooperação (através dos acordos esse objectivo
actividades com fins lucrativos da Segurança
pode ser atingido de forma idêntica ao do
Social. Foi atribuído aos Centros Distritais da
licenciamento), simplificou a regulamentação do
Segurança Social a competência de fiscalização
processo de licenciamento e das condições da
dos equipamentos sociais com fins lucrativos,
respectiva concessão, actualizou os valores das
para passarem alvarás e aplicarem multas.
coimas (estavam desactualizadas e existia a
O campo de actuação do apoio social é
necessidade de auferir mais benefícios),
alargado, e em 1983, é reformulado o regime de
automatizou medida administrativa de
licenciamento dos estabelecimentos com fins
encerramento de estabelecimentos, e ainda
lucrativos com actividades de apoio social a
previu período de transição para a adequação
crianças, jovens, deficientes e pessoas idosas.
de estabelecimentos já em funcionamento às
O Decreto-Lei de 1989 visou reforçar a
novas normas – incentivando assim à
capacidade fiscalizadora dos Centros Regionais
regulamentação da situação num período
e sujeitar obrigatoriamente o funcionamento dos
estabelecido.
estabelecimentos que desenvolvem actividades
Tendo por base o Decreto-Lei anterior, que
de apoio social no âmbito da acção social
visava melhorar os níveis de funcionamento e
exercida pela Segurança Social. Também se
de qualidade na promoção do bem-estar do
procedeu a uma rigorosa tipificação das
utente, só no diploma de 1999 foi decretada a
infracções que constituíram contra-ordenações,
obrigatoriedade de existência do livro de
puníveis com coimas (com montantes
reclamações dando direito de reclamação ao
relativamente elevados). Procedeu-se ainda a
cliente, no sentido de promover a participação
uma melhor clarificação das entidades
das pessoas na defesa e aprofundamento dos
abrangidas, exigindo-se a realização de
seus direitos enquanto cidadãos.
escrituras públicas de trespasse ou cessão de exploração. O Decreto-Lei nº 30/89 concebeu sanções
Mais tarde, em 2007 (Decreto-lei nº 64/2007), surgiu a preocupação com a qualidade dos equipamentos sociais no que
desadequadas quanto às
respeita à segurança e bem-estar dos cidadãos
contra-ordenações relativamente às instituições
mas também a simplificação dos procedimentos
privadas lucrativas. Assim, em 1997, foi
de licenciamento e funcionamento dos
alterado, havendo a necessidade de
equipamentos. O Governo assumiu como
burocratizar o processo de licenciamento e
prioridade, avaliar e reformular as regras de
controlo de funcionamento. Neste mesmo ano,
implementação no terreno das respostas
este Decreto-Lei foi revogado pelo Decreto-Lei
fundamentais para a promoção da autonomia e
nº 133-A/97, que veio estabelecer nova
de cuidados com as pessoas idosas. Assim, são
regulamentação dos estabelecimentos e
afirmados os princípios de cooperação entre o
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Estado e o sector solidário, no que diz respeito
seres vivos”. Torna-se assim evidente que o
ao licenciamento do funcionamento dos serviços
envelhecimento é um processo complexo e
e estabelecimentos sociais mas também à
universal, no entanto, “não é uma doença: vive-
premente necessidade de um planeamento
se, logo envelhece-se” (Fernandes, 2000, p.21).
eficaz da rede de equipamentos sociais,
O conceito de idoso não é, no entanto
independentemente das regras de
consensual tendo sido ao longo do tempo,
financiamento que se fossem adoptar.
objecto de debate. Há uma perspectiva que
Revogado pelo Decreto-lei nº 99/2011, o
descreve o idoso e a velhice de uma forma
novo diploma decretou à simplificação dos
negativa, onde o idoso é encarado como um ser
processos legais e burocráticos afectos aos
humano frágil em situação de “pobreza,
mesmos, a garantia da sustentabilidade das
isolamento social, solidão, doença e
instituições de apoio social, a promoção da
dependência” (Mauritti 2004, p.340). Segundo
coesão social, reforçando assim, a capacidade
este autor, o percurso de vida de cada pessoa, à
de acção/actuação local e ainda a adequação
medida que a idade avança, culmina fatalmente
da legislação à realidade nacional.
num quadro dantesco de exclusão e sofrimento.
Por último, e ainda em vigor, surge o
Ainda segundo Mauritti (2004, p.340), a
diploma de 2014 que pretende ajustar o regime
segunda perspectiva considera o idoso como
sancionatório à realidade atual e também
um potencial “segmento específico de
permitir uma melhor adaptação à legislação
consumo”. Ou seja, a velhice é uma época de
anteriormente publicada.
reflexão, ócio, de dedicação às actividades
Porém, nos dias de hoje, deparamo-nos com uma estagnação ou até mesmo (in)volução
como o “autoaperfeiçoamento” como elementos fundamentais para um Envelhecimento Activo.
da legislação. Se por um lado, o vocabulário
Deste modo, é importante perceber com
evoluiu, a legislação em si, continua a preservar
que perspetiva é que se encara o
o estigma do envelhecimento e das pessoas
envelhecimento em Portugal nomeadamente,
idosas.
em termos legislativos, uma vez que é um factor determinante para perceber se o nosso país está preparado para este estrondoso
CONCEITO DE ENVELHECIMENTO Nos últimos anos a questão do envelhecimento humano tem vindo a merecer cada vez mais a nossa atenção, quer pela sua atualidade, quer pelo desafio que assume. Binet e Bourliere, citados por Gonçalves (1990, p.30), citado por Fernandes (2000:21), defendem que o envelhecimento refere-se “a todas as modificações morfológicas, fisiológicas, bioquímicas e psicológicas que aparecem como consequência da acção do tempo sobre os JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
envelhecimento demográfico.
METODOLOGIA Como
metodologia
para
o
desenvolvimento do nosso trabalho, foi realizada uma pesquisa em que reunimos todos os Decretos-Lei e Decretos Regulamentares publicados pela República Portuguesa direcionados à população-alvo com que trabalhamos, as pessoas idosas.
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Perspetiva tradicional Niilista Deterioração Incapacidade Institucionalização e dependência
Perspetiva do envelhecimento produtivo/ativo
Forte resistência à mudança Incapaz de aprender Preparação para a morte Vulnerabilidade/passividade Qualidade de vida (uma dimensão)
Esperançoso Crescimento e desenvolvimento Saúde e bem-estar Autonomia, independência e Interdependência Ajustamento à mudança Estimulação intelectual Desfrutar o dia-a-dia Empowerment Qualidade de vida (multidimensional)
Desapego social Isolamento comunitário Negação e fuga aos desafios Necessidades, défices, perda de Oportunidades O passado e o que este poderia ter sido
Envolvimento social Integração comunitária Enfrentar desafios Força, habilidades, desejos, Oportunidades O futuro e o que ele ainda poderá Representar
O microambiente Comportamentos “apropriados à idade” Uso de um stock terapêutico Estilo de vida sedentária Receber
O macroambiente Comportamentos neutrais para a idade Melhoria terapêutica Ativismo e atividade Dar, prestar voluntariado, trocar
Quadro 1. O paradigma do envelhecimento produtivo na prática gerontológica
Iniciámos a pesquisa pelos documentos mais recentes que nos remetiam sempre ao
APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS
documento anterior. Selecionámos apenas aqueles que diziam respeito às estruturas
Da análise realizada aos Decretos-Lei e
residenciais para pessoas idosas, indo ao
Decretos Regulamentares resultou a
encontro do nosso fundamento.
sistematização de informação no quadro 2.
Deste modo, concluímos que existiam nove Decretos-Lei e Decretos Regulamentares (e um Diário do Governo) que correspondiam ao objectivo do nosso trabalho. Estes estão compreendidos entre o período de 1968 a 2014.
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no que toca a estes indivíduos e às suas DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
potencialidades que, por norma, não são promovidas ou são pouco aproveitadas.
Face ao observado, constatamos que a
Por outro lado, verificámos que a
ideia de incapacidade está muito latente em
legislação ao longo dos anos, não acompanhou
toda a legislação, e é indiscutível que ela existe
a evolução da sociedade. Temos o exemplo do
e que deve ser contemplada e legislada, mas
livro de reclamações que só começa a existir em
também existe a plena capacidade ou parcial
1999, 25 anos após o fim da ditadura (DL
para realizar atividades e se manter/tornar um
nº268/99). Há 16 anos, foi então possível, os
indivíduo útil para a sociedade. No nosso
cidadãos reclamarem pelos seus direitos ou por
parecer, há ainda um longo caminho a percorrer
um bom serviço/atendimento (DL nº268/99).
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Em 1968, Portugal vivia ainda numa ditadura e o
Outra lacuna que detectámos, é que a
governo de Salazar sentiu a necessidade de
legislação continua muito direcionada para as
tornar obrigatório o licenciamento de estruturas
pessoas idosas carenciadas. Ainda assim, há
destinadas a prestar serviços a crianças e
pessoas idosas a viverem em situações
idosos, para que se estes serviços tivessem
deprimentes e a verdade é que a legislação
alguma dignidade (DL nº 48580/1968). Quando
atual não prevê alguns casos, como as pessoas
analisamos esta lei e a forma como ela está
idosas que vivem isoladas (DL nº33/2014). Que
escrita, curiosamente algumas situações são-
respostas existem atualmente para essas
nos muitos familiares, ou seja, mantêm-se na
pessoas?
legislação há 47 anos, como por exemplo no
Acontece que, muitas vezes, são deixadas ao
artigo 3º onde consta “O alvará só será passado
abandono, tal como a sua terra. Consideramos
a requerimento de pessoa de reconhecida
que é urgente agir no sentido de mais
idoneidade e desde que se verifique de
respostas, apoios ou alternativas para estas
instalações adequadas e de pessoal técnico e
pessoas que são exatamente iguais em direitos
auxiliar julgado suficiente para o seu bom
e dignidade.
funcionamento.” (DL nº 48580/1968). Este é um exemplo claro da forma como a
CONCLUSÃO CRÍTICA
nossa legislação tem vindo a “evoluir”. Atualmente já são exigidas especificidade de
Após uma profunda análise da legislação
formação para o Diretor Técnico, são exigidos
das estruturas residenciais para pessoas idosas
profissionais de saúde (enfermeiro, médico…) e
consideramos que existe principalmente uma
profissionais de animação sociocultural, mas
lacuna ao nível dos equipamentos destinados a
aos auxiliares/ajudantes de ação directa não é
pessoas idosas que tenham como principal
legalmente exigida qualquer formação
função a manutenção/ melhoria da qualidade de
específica.
vida das pessoas idosas, que quando isoladas
Consideramos que a legislação actual atua como principal catalisador das situações de
na sua grande maioria não é possível. Desta análise constatamos quatro pontos
negligência e desligamento das pessoas idosas
críticos que passamos a enumerar:
(DL nº99/2011, DL nº33/2014).
1º A legislação não se adequou ao paradigma
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do envelhecimento (continua a encarar o idoso
de forma a cumprir as necessidades específicas
numa perspetiva mais tradicional do que
das pessoas idosas. Estes profissionais
produtiva);
precisam de conhecer e aprender que a pessoa
2º A legislação nunca abordou questões
idosa deve ser tratada como individuo, e tem o
relacionadas com a formação profissional (as
direito à sua dignidade e privacidade que muitas
pessoas são tratadas como “bichos”);
vezes são as primeiras questões a ser
3º A legislação não contempla quaisquer
esquecidas. Cabe ainda, ao governo promover o
exigências/indicadores ao nível da dignidade e
desenvolvimento deste tipo de formação e
multifuncionalidade das pessoas que residem
integrar estas pessoas formadas nas
nas organizações/instituições (assim, não
instituições.
podemos sustentar a existência de estruturas de
Não existe neste momento qualquer
qualidade);
exigência/ indicadores ao nível da dignidade e
4º Não existe qualquer referência, nem
da avaliação multifuncional/ multidimensional
enquadramento legal de outras necessidades
das pessoas dentro das organizações, a falta de
das pessoas idosas (pessoas que vivem só e/ou
qualidade é constante e várias vezes apontada.
isoladas).
No entanto em 50 anos de legislação nunca foi
Tendo em conta que o ambiente social
feita qualquer referência a este tipo de
do país tem uma grande influência na população
questões. A felicidade bem como a qualidade
e nos seus hábitos de vida verificamos que a
continuam a ser negligenciadas no panorama
legislação apenas se adaptou à evolução da
legislativo nacional.
sociedade em termos de linguagem, pois
Como em muitas outras áreas, a perspectiva é
continuamos a manter na maioria das estruturas
que a área empresarial irá evoluir mais
residenciais uma perspectiva asilar, tanto nas
rapidamente que a legislação, como aliás já vem
exigências de serviços como na definição da
acontecendo. Verificámos também uma
pessoa idosa.
crescente necessidade de equipamentos
Tendo por base a nossa prática
diferenciados e com características distintas do
profissional consideramos que a legislação
que está definido na legislação e, que neste
apresenta dois papéis díspares. Se por um lado,
momento não encontram qualquer
se apresenta pouco esclarecedora (elementos
enquadramento legal.
da equipa técnica), por outro, apresenta-se
Como nem tudo é mau, ao longo dos
muito rígida (coimas, exigências estruturais,
anos notou-se uma maior preocupação com o
etc.).
cliente e com as estruturas residenciais, Para que os cuidados prestados às
principalmente no que diz respeito à
pessoas idosas do nosso país melhorem é de
necessidade de licenciamento dos
salientar a extrema importância que todos os
equipamentos, a uma maior capacidade
profissionais que trabalham com estas pessoas
fiscalizadora pelos Centros Distritais de
tenham uma formação específica e aprofundada
Segurança Social, bem como a obrigatoriedade
das necessidades, dificuldades, e capacidades
de celebração de contrato e ao direito de
destas pessoas. Só assim é possível trabalhar
reclamação.
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Concluímos que existe um atraso
OSÓRIO, A. R.; PINTO, F. C. (2007) – As pessoas
estrutural do país a nível ético e social, e
idosas: Contexto social e intervenção educativa.
invariavelmente acabamos por cair sempre na
Lisboa, Instituto Piaget.
desculpabilização promovida pela falta de legislação adequada às exigências cada vez maiores de um envelhecimento com qualidade, dignidade e pleno de atividade. Inevitavelmente, isto remete-nos para o
QUARESMA, Maria de Lourdes; CALADO, Dinah (2004) - A Problemática do Envelhecimento e o Desenvolvimento Pessoal. Futurando: CESDET nº 11/12/13
pensamento inicial, “o envelhecimento é
RAMOS, Paulo Roberto Barbosa (1999) - A Velhice
somente um processo de mutação societária ao
na Constituição, retirado do site periodicos.ufsc.br/
qual as nossas sociedades devem e podem
index.php/sequencia/article/viewFile/15513/14069
adaptar-se” (Loriaux, 1991). Portanto, o caminho é em frente e com a consciência de que o
Decreto-Lei n.º 33/2014. Diário da República, 1ª
envelhecimento não deve ser visto mais da
Série. Nº 44 (4 Março de 2014) págs. 1688 à 1701.
mesma forma. Ele existe, é cada vez mais desafiante e a sociedade não é a mesma. Concluímos com a ideia que, de facto é urgente um “reajuste” da legislação ao panorama atual.
Decreto-Lei n.º 99/2011. Diário da República, 1ª Série. Nº187 (28 Setembro de 2011) págs. 4546 à 4554. Decreto-Lei n.º 64/2007. Diário da República, 1ª
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Série. Nº 52 (14 Março de 2007) págs. 1606 à 1613.
CHAU, Fernando; SOARES, Cândida; FIALHO, José;
Decreto-Lei n.º 268/99. Diário da República, 1ª Série
SACADURA, Maria. - O envelhecimento da
– A. Nº 163 (15 Julho de 1999) págs. 4410 à 4411.
população: dependência, activação e qualidade. 2012. Centro de estudos dos povos e culturas de
Decreto-Lei n.º 133A/97. Diário da República, 1ª
expressão portuguesa - Faculdade de Ciência
Série – A. Nº 124 (30 Maio de 1997) págs. 2624 (2) à
Humanas, Universidade Católica Portuguesa (QREN)
2624 (7).
FERNANDES, Purificação (2000) - A Depressão no
Decreto-Lei n.º 30/89. Diário da República, 1ª Série.
Idoso. Coimbra: Quarteto.
Nº 20 (24 Janeiro de 1989) págs. 312 à 317.
MACHADO, Paulo (2003) - O Lugar dos Idosos em Portugal e no Mundo, retirado do site www.janusonline.pt MAURITTI, Rosário (2004) - Padrões de vida na velhice: Análise Social. ISBN 39 (171),339-363, retirado do site http://analisesocial.ics.ul.pt/ documentos/1218705579I0rOG8pd6Mj50DK4.pdf
Decreto Regulamentar n.º 69/83. Diário da República, 1ª Série. Nº 162 (16 Julho de 1983) págs. 2610 à 2612. Decreto-Lei n.º 350/81. Diário da República, 1ª Série. Nº 294 (23 Dezembro de 1981) págs. 3347 à 3349. Decreto-Lei n.º 48580/1968. Diário da República, 1ª Série. Nº 218 (14 Setembro 1968) págs. 1453 à 1454.
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Oliveira, C., et al. (2015) Aging, Memory and Cognitive Stimulus, Journal of Aging & Inovation, 4 (2): 21 - 31
REVISÃO NARRATIVA/ NARRATIVE REVIEW
JUNHO 2015
Envelhecimento, Memória e Estímulo Cognitivo Aging, Memory and Cognitive Stimulus Envejecimiento , Memoria y Estimulación Cognitiva Autores Clara Costa Oliveira1, Liliana Pena2, Margarete Silva3 1
Prof. associada com agregação no Instituto de Educação da Universidade do Minho
2
Docente Auxíliar na
Universidade Óscar Ribas, 3 Técnica Superior de Educação Corresponding Author: claracol@ie.uminho.pt
RESUMO Neste artigo apresentamos uma breve revisão da literatura sobre o papel da memória no processo de envelhecimento e a deterioração que esta sofre em caso de demência, por exemplo de Alzheimer. Expomos ainda um ensaio/programa de treino cognitivo para estimular/reabilitar a memória. O aumento acentuado da esperança de vida, associado à baixa natalidade que se vem observando na maioria dos países ocidentais, poderá fazer com que as manifestações psicopatológicas da terceira idade se tornem bastante incidentes. Torna-se portanto indispensável que o envelhecimento decorra de forma natural, saudável, simplificando o funcionamento do organismo e libertando-o de problemas indesejáveis. Com o presente artigo procuramos alertar a comunidade para o tema do envelhecimento, da consequente diminuição de capacidades cognitivas, funcionais e executivas, fazendo um especial enfoque à memória. Palavras-chave: Envelhecimento; Memória; Doença de Alzheimer
ABSTRACT This article presents a brief review of the literature on the role of memory and its deterioration in aging, namely people who suffers from dementia, eg Alzheimer's. It also presents a test/training program to stimulate/ rehabilitate cognitive memory. The sharp increase in life expectancy, coupled with low birth rates that has been observed in most western countries, may cause the psychopathological manifestations of old age become quite usual. It is therefore essential that aging results from a natural, healthy process, simplifying the operation of the body and freeing it from unwanted problems. In this article we try to alert the community to the subject of aging, the consequent reduction of functional and executive cognition, focusing specially on memory. Key words: Aging; Memory; Alzheimer Disease. JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
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INTRODUÇÃO
que permitam a manutenção de capacidades físicas e cognitivas, como o exercício físico,3
Este artigo aborda o envelhecimento e
trabalhos voluntários e de lazer (“o idoso que
suas consequências naturais, como a
envelhece de uma forma ótima é o que
diminuição de capacidades cognitivas. Fazemos
permanece ativo, encontrando substitutos para
um enfoque à memória e incentivamos o uso de
as atividades que teve de abandonar, para as
estratégias e técnicas que a estimulam.
amizades que perdeu” 4 - leitura e jogos
O ciclo de vida do Homem é comumente
diversificados.5
considerado como composto por três fases
Cramês 6 menciona que o convívio
consecutivas: o crescimento, a maturidade e a
aumenta a agilidade mental dos idosos e a
velhice.1
Em cada uma destas fases, há uma
confiança nas suas potencialidades,
notável diferença na capacidade de
desenvolvendo o espírito crítico e a destreza
aprendizagem, memorização e focalização da
verbal, bem como a organização dos seus
atenção. A criança aprende uma enorme
pensamentos. De salientar que, deste modo, as
quantidade de informação de forma
atividades possibilitam um incremento na
praticamente involuntária e sem qualquer
melhoria da vida dos idosos, em todos os
esforço, através da memória acidental ou
sentidos e em todos os níveis.
memória implícita. Muitas vezes surpreendemonos pois, embora a criança esteja a brincar e aparentemente distraída, memoriza simultaneamente o que ouve na televisão ou numa conversa. Durante os dois primeiros anos de vida aprendemos de forma acidental toda a complexidade de uma ou mais línguas, retemos melodias, aprendemos a utilizar instrumentos, etc.2 Com a (matur)idade perdemos de forma notória a capacidade de aprender acidentalmente. Para poder fazer novas aprendizagens, o adulto usa a vontade, o esforço, a concentração, a motivação e, frequentemente, repetições sucessivas da mesma informação. O adulto tende a integrar a nova informação apoiando-se substancialmente nos conhecimentos básicos adquiridos durante a infância.2 Como sabemos, com o envelhecimento ocorre um declínio nas capacidades cognitivas, sendo mais notório ao nível da memória, pelo que se propõe, sempre que possível, atividades JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
ENVELHECIMENTO E MEMÓRIA O envelhecimento é descrito como um processo de transformação orgânica, que abrange estruturas físicas, o domínio cognitivo/ intelectual, bem como a percepção dessas mudanças. 7 Ribera-Casado 8 e outros, 9 acrescentam a esta definição, o domínio comportamental. A relação da memória com o envelhecimento é marcada pelo nível de escolaridade, uma vez que quanto maior a escolaridade, melhor o desempenho do idoso em testes de memória.10 Há outros aspectos, como os culturais, os hábitos diários (exercício físico e atividades intelectuais) e os de convivência social, que influenciam a forma como o idoso atinge esta fase da sua vida. Com o envelhecimento, todos os aspectos da atenção (dividida, focada e seletiva) parecem ser afetados, à exceção da atenção
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alternada que é conservada em termos visuais,
adiciona à sua definição de funções executivas,
mas diminuída em termos auditivos. Os idosos
as capacidades que permitem a uma pessoa
são particularmente sensíveis à distração com
participar com êxito em objetivos independentes
estímulos irrelevantes, pelo que sofrem um
com comportamentos auto-dirigidos, como
declínio na atenção selectiva devido à sua maior
volição, planeamento, ação propositiva e
dificuldade para localizar pontos relevantes de
desempenho efetivo.16 De acordo com Barkley,17
informação no campo visual. Quanto à atenção
o sistema executivo pode mesmo ser
dividida, esta afeta em particular a memória de
considerado uma forma geral de atenção.
trabalho, por estar envolvida no processamento
Alguns autores incluem capacidades tais como:
da linguagem no que se refere a operações
iniciar e terminar tarefas, mudanças atencionais,
simultâneas, como compreensão de frases,
de autocontrolo emocional e a capacidade de
textos, leitura e escrita - tarefas que exigem a
manter um comportamento social apropriado.
manipulação da informação e a retenção
14,18
temporária da mesma para articulação ou produção 11 Relativamente à capacidade
NORMAL (ENVELHECIMENTO) VS
linguística, de um modo geral, acredita-se que
PATOLÓGICO (DEMÊNCIA)
se mantém com a idade - nos aspectos fonológicos, semânticos e de conhecimento
No processo de envelhecimento normal,
sintático. O tipo de erros cometidos pelos idosos
as alterações cognitivas são integralmente
em nomear tarefas aumenta com a idade, estes
constituídas pelo declínio intelectual,
incluem erros perceptuais, de associação
especialmente em termos de velocidade de
semântica de nomeação e localização. Quer isto
raciocínio.
dizer que o envelhecimento parece provocar
À medida que envelhecemos, o sistema
declínio na fluência verbal, na capacidade de
nervoso recebe e transmite informações mais
atenção focada, na velocidade do
lentamente. 19 As alterações de memória
processamento cognitivo e na velocidade da
verificadas neste processo aumentam nos casos
produção do discurso.12,13 Os estudos mais
em que existe distúrbio demencial. Neste caso,
recentes não estão em acordo, porém, quanto a
as disfunções de memória são mais severas e
este assunto; assim, por exemplo, se Pereira et
generalizadas, no entanto, a distinção entre
al13
estabelecem essa correlação em doentes
“normal” e “patológico” é muito difícil, numa fase
com Parkinson, tal é colocado em causa em
inicial. Sé et al.10 referem que “não é fácil
outros estudos. 3,14 Ao analisarmos estes
identificar as alterações associadas ao avanço
estudos, parece que a correlação se evidencia
da idade e o que é próprio de um processo
ao nível epidemiológico e diminui em estudos
demencial em fase inicial, principalmente
com amostras mais pequenas.
quando o paciente tem um alto nível de
Quanto às alterações a nível funcional
escolaridade”. Segundo Ey, Bernard e Bisset,19
(ou funções executivas), Lezak15 define-as como
a demência é classicamente definida como
sendo aquelas capacidades individualmente
debilidade psíquica profunda, global e
executadas com sucesso. Em 2004, Lezak15
progressiva que altera as funções intelectuais
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basais e desintegra as condutas sociais. Pode
comunicação se inviabiliza e passam a
ser mascarada por uma depressão
necessitar de cuidados e supervisão
(pseudodemência) ou decorrer de uso de
integralmente, até mesmo para as atividades
medicação (principalmente benzodiazepínicos,
elementares do dia-a-dia como alimentação,
neurolépticos e antidepressivos). O diagnóstico
higiene e vestir, entre outras. Segundo Roldão-
de declínio cognitivo leve deve ser considerado
Vieira,22 os sintomas não são iguais em todas as
quando existe um comprometimento de uma
pessoas e, frequentemente, são influenciados
área cognitiva, como por exemplo a memória,
pela personalidade, o estado físico, o grau de
porém sem critérios para o diagnóstico de
cultura e o estilo de vida.
demência. Os estudos mais atuais recomendam
A Doença de Alzheimer (DA) é a forma
contudo que os fenómenos conotados com os
mais frequente de demência nos países
processos básicos psicológicos, como a
industrializados e a sua incidência aumenta
memória, sejam verificados com estudos
proporcionalmente ao aumento da densidade
neurológicos de tipo evidence based, de tipo
populacional. Existem, no entanto, estudos que
imagiológico.20
colocam em causa a ligação usualmente
Cerca de 70% dos casos de demência
estabelecida entre DA e demência: A vivência
parecem ser de tipo degenerativo e o estudo
subjetiva de perda de memória possui baixo
morfológico do córtex cerebral dos doentes
valor preditivo para o diagnóstico de demência.
permite integrá-los na denominada Doença de
A identificação de populações de risco para o
Alzheimer (DA). Embora a maior parte dos
desenvolvimento de demência deve basear-se
casos de DA sejam de aparecimento
em outros métodos de investigação como
esporádico, estão descritas famílias nas quais
neuroimagem e genética.20,21,23
vários dos seus membros são afetados, o que sugere hereditariedade dominante. Esta doença caracteriza-se pela progressiva decadência das funções cognitivas e por uma grave redução da autonomia pessoal e da adequação do comportamento.21 No começo, ocorrem os pequenos esquecimentos, normalmente aceites pelos familiares como parte do processo normal de envelhecimento, que se vão agravando gradualmente. Os pacientes tornam-se confusos e por vezes agressivos, passam a apresentar alterações de personalidade, e terminam não reconhecendo os próprios familiares e até a si mesmos, quando colocados frente a um espelho. À medida que a doença evolui, tornamse cada vez mais dependentes de terceiros, iniciam-se as dificuldades de locomoção, a JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
A evolução da doença é muito lenta e a maior parte dos casos são precedidos de uma fase pré-clínica com a duração de alguns anos que é caracterizada por perturbações de memória e acentuada perda neuronal no córtex cerebral.20,24 As alterações mais características da demência degenerativa de Alzheimer são as placas argilófilas senis, a degenerescência neuronal neurofibrilar, a degenerescência neuronal grânulo-vacuolar de Simchowicz20 e a acumulação de um amiloide específico, denominado proteína ß, na parte central das placas e nos depósitos cerebrovasculares.25 Um traço distintivo muito importante da doença de Alzheimer é que, ao contrário da amnésia clássica, produz-se uma perda de informação previamente aprendida, afetando recordações
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mais recentes, mas também informação
neuroimagem; e, se preciso, reavaliação após 4
plenamente consolidada, como a linguagem, o
a 6 meses.
uso dos objetos, o nome dos familiares, as datas mais marcantes, as capacidades de reconhecer objetos comuns e as pessoas familiares, isto é, o conjunto de toda a informação 'arquivada' no cérebro.
Devido à dificuldade em obter evidência patológica direta da presença da doença de Alzheimer, o diagnóstico apenas poderá ser feito quando forem excluídas as outras etiologias de demência. Especificamente, os défices
De acordo com American Psychiatric
cognitivos não são devidos a outras doenças do
Association - DMS-IV-TR,26 a característica
sistema nervoso central que causam défices
essencial de diagnóstico da demência é o
progressivos na memória ou cognição (por
desenvolvimento de défices cognitivos múltiplos
exemplo, doença cerebrovascular, doença de
que incluem diminuição da memória e, pelo
hipotiroidismo, deficiência de vitamina B12,
menos, uma das seguintes perturbações
infeção HIV) ou aos efeitos persistentes de uma
cognitivas: afasia, apraxia, agnosia ou
substância, como por exemplo o álcool.28
perturbação na capacidade de execução. Os défices cognitivos deverão ser suficientemente
TREINO COGNITIVO E MEMÓRIA
graves para causarem diminuição do funcionamento ocupacional ou social e
A memória tem um papel integrante, em
representarem um declínio em relação a um
quase todos os aspectos do funcionamento
nível prévio de funcionamento. O diagnóstico é
diário. Na maior parte das intervenções
efetuado através da recolha de uma série de
terapêuticas e no processo de reabilitação, em
dados clínicos e laboratoriais que ajudam a
geral, a memória e as dificuldades de
excluir outras patologias suscetíveis de
aprendizagem limitam o potencial de ganhos
causarem os mesmos sintomas. Não existe um
significativos noutros domínios funcionais. Não
teste clínico que, por si só, permita formular um
há qualquer evidência de que as abordagens
diagnóstico certo da doença de Alzheimer. Os
diretas de reabilitação, tais como, os exercícios
exames indispensáveis ao diagnóstico são:
repetitivos, exercícios de memória e de decorar,
exame clínico cuidadoso; tomografia axial
possam melhorar o funcionamento da memória.
computorizada), ou ressonância magnética;
O mesmo se aplica a abordagens indiretas de
avaliação neuropsicológica efetuada com o
reabilitação de memória, como as mnemónicas,
auxílio de testes que podem ser questionários
o imaginário visual, elaboração verbal,
ou baterias, e estudos psicofisiológicos.4,27 Os
associação cara-nome. São técnicas populares,
autores sugerem diretrizes decisivas para o
cuja aquisição e aplicação é de grande
diagnóstico diferencial: avaliação
exigência cognitiva para um sistema de
neuropsicológica e comportamental abrangente
memória já disfuncional. Existem técnicas
(com levantamento do nível pré-mórbido de
compensatórias, baseadas num modelo de
funcionamento cognitivo e sócio-ocupacional do
adaptação funcional, que consistem no uso de
paciente), bem como exames laboratoriais e de
material externo auxiliar, chamadas “ajudas
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externas”- blocos de notas, listas, calendários,
aumento da sua capacidade de extração de
etiquetas e notas de lembrança. Claro que o uso
informação.
efetivo de tais “ajudas”, por parte do doente com
b) Treino do processo de memória
diminuição de memória, necessita de instruções
prospetiva: É geralmente aceite que a
detalhadas e de muita prática. Estas técnicas
memória que uma pessoa tem de um
são consideradas eficazes na reabilitação da
acontecimento é dependente do nível de
memória e os doentes relatam avanços nas
processamento que a pessoa dá ao
atividades do dia-a-dia, particularmente se
estímulo. Este treino segue este princípio
introduzida durante os primeiros estádios, ou
pois tenta quantificar a competência da
seja, quando o doente tem capacidade
memória da pessoa através de vários
acrescida de as aprender a usar. Estas técnicas
parâmetros:
são apenas paliativas, podem ajudar a reduzir
-
Dimensão temporal: Refere-se ao
algum do estresse e frustração.29 No entanto,
tempo entre a apresentação da
para que seja eficaz no melhoramento da
tarefa mental e o momento que
memória, é necessário que o paciente seja
essa tarefa tem de ser executada.
treinado e para isso precisa de alguém que o
Quanto maior for o tempo de
ajude.29
espera mais difícil será a
Baddeley30 escreve um paciente que perdia continuamente, em casa, o seu cachimbo
prestação da tarefa. -
O tipo de pista (achega/deixa): É
e óculos, para sua grande frustração. Ele foi
essencial associar uma ação com
ajudado pelo simples fato de ter sido encorajado
o acontecimento (ex. um sinal
a manter os ditos objetos num saco laranja
sonoro).
brilhante; assim, uma vez adquirido este hábito,
-
Treinar a pessoa a lembrar-se de
o saco era facilmente detetado e os óculos e o
uma tarefa o maior tempo
cachimbo prontamente encontrados.
possível: A pessoa recebe um
Apresentamos um modelo de
tempo determinado para começar
reabilitação de memória, propondo um ensaio
a tarefa. Isto faz-se fornecendo à
que valoriza e treina aspectos cognitivos, em
pessoa marcas sequenciais de
especial a memória.
maneira a que a pessoa mantenha um nível de codificação
MODELO DOS TRÊS TRÂMITES
constante, assim como a
Este modelo de reabilitação de memória
capacidade para a extração. Este
desenvolvido por Sohlberg e Mateer12,20 é
processo pode ser feito com uma
composto essencialmente por três
tarefa ou duas. Nesta última, o
procedimentos:
paciente faz uma tarefa distrativa
a) Treino do processo da atenção:
durante o período de espera.
Verifica-se que um treino profundo da
c)O uso de um livro de exercícios: Este
capacidade da atenção dos pacientes com
tipo de livro para a memória deve completar
dificuldades de memória pode resultar num
certas necessidades do paciente tais como:
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-
Orientação: Informação
poderá ser verificado em (http://
autobiográfica;
cienciacognitiva.planetaclix.pt/ReabCog.html).
Diário de memória: O que o paciente tem que fazer no seu dia-a-dia;
-
Calendário: Para se poder catalogar encontros ou entrevistas;
-
Atividades a fazer: Informação de tarefas em data e tempos específicos;
-
Transporte: Mapas ou horários de autocarros, comboios, etc;
-
Diário e sentimentos: Descrever sentimentos e qual o nível de importância de cada um deles;
-
Nomes: Nomes de pessoas e sua identificação;
-
Tarefas diárias: Informação acerca de como ou quando se tem que fazer certas tarefas diárias, tais como o tomar medicamentos.
- Apresentação de conteúdos adequados ao interesse e cultura do paciente; - Apresentação de conteúdos em várias modalidades (visual, auditiva, táctil, verbal); - Ir do simples (mas não demasiado) ao complexo (incentivar o sucesso na descoberta/ evitar a frustração); - Expor os pedidos com clareza (explicar se necessário); - Fomentar a flexibilidade cognitiva (evitar a rotina e proporcionar criatividade); - Promover o auto-controle (ex.: não responder de imediato, reflectir); - Não cansar (atender à duração do exercício); - Enviar trabalho para casa (tarefas). O presente ensaio propõe técnicas para melhorar a codificação, armazenamento e recuperação de informação: 1. Lembrar de caras e nomes, fazendo
ENSAIO SOBRE UM PROGRAMA DE
um exercício de associação de pares (imagens
REABILITAÇÃO DE MEMÓRIA
visuais), “quem é quem?”.
Um programa de reabilitação de memória é uma forma de terapia. Pressupõe a colaboração do paciente e a sua adequação à realidade. Terá de haver um diálogo prévio e exame clínico para que se possa efetuar um programa adequado às necessidades do paciente. Atualmente existem vários tipos de abordagens concretas, direcionadas por vezes para o tipo de reabilitação de memória (ex: curta, longa) que se pretende estimular. Apresentamos de seguida um conjunto de atividades que têm vindo a ser validadas pelos especialistas, e cujo enquadramento conceitual
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2. Estimular a atenção com exercícios em que se procuram as diferenças entre as duas figuras. 3. Fazer sopas de letras: procura de palavras que se relacionem a um tema proposto. 4. Incentivar a fazer o auto-registo de esquecimentos diários. 5. Exercitar a fluidez verbal: propor ao paciente que nos diga palavras que comecem por “determinada letra”, ou que terminem por “determinada letra”; fazer uma lista de nomes próprios; completamento de frases e de provérbios e saber identificar o seu sentido/moral.
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6. Após a leitura de um texto pedir ao
-
Estratégias de treino que exijam
paciente que nos responda a algumas questões
capacidades que se encontram
sobre ele.
preservadas.
7. Decorar uma lista de palavras;
-
Estratégias de recuperação que visem a
memorização verbal com recorrência a
passagem de ajudas internas para
mnemónicas.
externas.
8. Através do uso de uma palavra-chave,
-
pedir ao paciente que escreva algumas palavras associadas (ex.: dada a palavra futebol o paciente deverá fazer uma lista do tipo bola,
Envolvimento dos cuidadores no processo.
-
Envolver o paciente chamando a atenção ao material que deve ser lembrado.
árbitro, bancada, jogador, guarda-redes…). 9. Identificar certos estímulos como números ou letras num conjunto; 10. Carregar num botão sempre que ouvir uma palavra, ou número alvo ou conjuntos de outro tipo de alvos; 11. Contar para trás 2 segundos ou 3 segundos. 12. Fazer contas mentais. Os exercícios 9, 10, 11 e 12 são exercícios que treinam processos de atenção, pois estes são necessários no trabalho de reabilitação de memória, na medida em que exigem o uso da memória de trabalho. Estes exercícios atuam como treino/exercício mental, de que necessitam os sujeitos que padecem de demência pois ajuda a manter activos processos mentais e cognitivos, melhorando também o nível funcional do sujeito.
CONCLUSÃO À medida que vamos envelhecendo, torna-se mais difícil manter a atenção e a concentração, principalmente debaixo de altos níveis de ativação. Existem fatores nutricionais9 que também podem influenciar os mais velhos, pois eles possuem mais dificuldade em manter os níveis de glicose sanguínea, entre refeições, resultando numa performance mais fraca da memória. Entre as “aflições” da velhice, a doença de Alzheimer tem um efeito específico na deterioração da memória e das funções física e cognitiva. A inteligência fluída e a capacidade de responder rápida e flexivelmente diminuem gradualmente, enquanto a inteligência cristalizada e a aprendizagem prévia continuam a mostrar um pequeno, mas firme, aumento. No geral, a memória deteriora-se, mas pode ser
Há que ter em conta que muitas
compensada, em alguns aspectos, pelo
estratégias que ajudam a recuperar a memória
aumento do uso de conhecimentos, de
dos sujeitos não demenciados são ineficazes
auxiliares de memória e estratégias
nos demenciados, porque as tarefas propostas
compensatórias. Felizmente, para a maioria de
exigem da memória funções que estão
nós, a falibilidade da nossa memória é de longe
diminuídas nos casos de demência. Nestes
menor do que a dos doentes de Alzheimer e as
casos, são necessárias as seguintes
capacidades cognitivas de apoio são bem
adaptações:
maiores. A doença de Alzheimer é degenerativa
-
Período de treino mais extenso (mais
e gradualmente incapacitante, com tendência a
tempo de exposição à tarefa). JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
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aumentar e afetar cada vez mais pessoas.
A referida pesquisa baseou-se no
Alertamos para que este não é apenas um
referencial de estudos sobre a codificação não-
problema de idosos, pois as suas
verbal da comunicação humana, tendo os
consequências estendem-se a todos os que
fatores ambientais como uma das dimensões
estão em contacto ativo com os seus doentes,
que permeiam e transmitem informações sobre
os cuidadores e familiares. Esta doença torna o
as pessoas (objetos de decoração, escolha das
indivíduo incapaz de gerir autonomamente a sua
cores, disposição da mobília e uso do espaço).
vida e as relações com o meio. A perda de
Nesta perspetiva, refletir constantemente sobre
capacidades, de interação adequada, remete o
como é que as implicações do ambiente
doente ao isolamento, perda de estatuto social e
interferem no desenvolvimento do cuidado de
dão-se profundas mudanças de papéis. São
enfermagem em gerontologia efetivo e um
estas as repercussões sociais e
caminho adequado na busca da comunicação
comportamentais de uma demência, com as
humana de qualidade na saúde.27
características sublinhadas ao longo deste artigo. No entanto, salientamos que idosos saudáveis mantêm-se ativos, tem hábitos saudáveis, incluindo alimentação, exercitam-se, quer física, quer mentalmente. Estabelecem relações sociais estáveis e mantêm atividades que lhes permitem amenizar e conservar as estruturas mnésicas. Todas estas atividades podem resultar melhor se estimuladas e em pareceria com jovens e crianças. O ano 2012, foi o ano europeu do envelhecimento ativo (de acordo com diretrizes da OMS) e por todo o continente foram levadas a cabo inúmeras experiências de intergeracionalidade com idosos institucionalizados, no seu domicílio, em centros de convívio, etc., estivessem doentes, ou não. Os resultados estão ainda a ser avaliados, mas tudo leva a crer que é um caminho a continuar trilhando.31,27 Por fim, gostaríamos de salientar a necessidade de formação dos profissionais de saúde na complexa capacidade de comunicar, em geral, e com este tipo de doentes, em
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Etchegoyen, P., et al. (2015) Application of orthopedic materials in the prevention / treatment of pressure ulcers, Journal of Aging & Inovation, 4 (2): 32 - 39
REVISÃO NARRATIVA/ NARRATIVE REVIEW
JUNHO 2015
Aplicação de materiais ortopédicos na prevenção/tratamento de úlceras por pressão Application of orthopedic materials in the prevention / treatment of pressure ulcers Aplicación de materiales ortopédicos en la prevención / tratamiento de las úlceras por presión Autores Pablo Etchegoyen, Filipe Lopes, Vanessa Saraiva Corresponding Author: vanessasbsaraiva@hotmail.com
Resumo As úlceras de pressão constituem ainda hoje, na atualidade, um grande flagelo nos cuidados de saúde. A sua incidência e prevalência elevam o número de dias de internamento em unidades de cuidados de saúde e representam custos elevados na sua resolução e reabilitação. Por conseguinte, sendo os utentes o nosso principal foco de cuidados, devemos intervir nas várias frentes que levam ao seu aparecimento. Encontra-se portanto demonstrado que a prevenção é a melhor arma disponível para a diminuição da incidência nas estatísticas atuais.Segundo a EPUAP as superfícies de apoio são um dos pilares para a prevenção da UPP . No contexto real são utilizados dispositivos e materiais a fim de intervencionar junto desta problemática, nomeadamente, as peles naturais, donuts, calcanheiras, colchões viscoelásticos, colchões de pressão alterna, colchões de gel, entre outros. Contudo, muitos destes produtos estão contraindicados para o tratamento e prevenção, como é o caso das lãs naturais (como iremos abordar no trabalho). Tentaremos abordar e evidenciar através de revisão bibliográfica os melhores produtos para tratamento e prevenção das UPP. A revisão bibliográfica remete-se para a análise de artigos encontrados nos últimos cinco anos, sendo as plataformas de pesquisa utilizadas o Google académico, Elsevier, B-On. As palavras-chave utilizadas para a realização da pesquisa foram UPP, escaras, colchão, reabilitação, tratamento. Ainda que breve podemos concluir que o tema encontra-se pouco desenvolvido a, com falhas na avaliação e na documentação de resultados referentes a efetividade do uso dos produtos de apoio ortopédicos, capazes de reduzir e/ou prevenir o aparecimento de UPP. Palavras-Chave: Úlcera de Pressão, prevenção, materiais
Abstract Pressure ulcers are still a major scourge in health care today. Its incidence and prevalence increase the number of days of hospitalization in health care settings and are costly in its resolution and rehabilitation. Therefore, users being our main focus of care, we must intervene in several fronts that lead to be appearance. It is shown that prevention is the best weapon available to reduce the impact on current statistics. According to EPUAP bearing surfaces are one of the pillars for the prevention of UPP. In the real context are used devices and materials to be intervened with this problem, in particular, the natural skins, donuts, heel straps, viscoelastic mattresses, mattresses pressure switches, gel mattresses, among others. However, many of these products are contraindicated for treatment and prevention, as is the case of natural wool (as we discuss at work). We approach and evidence based on a review the best products for treatment and prevention of UPP. The literature review refers to the analysis of articles found in the last five years, the research platforms used academic Google, Elsevier, B-On. The keywords used for the research were UPP, bedsores, mattress, rehabilitation, treatment. However brief, we can conclude that the issue is little developed, with failures in the evaluation and documentation of results for the effectiveness of the use of orthopedic support products that can reduce and / or prevent the onset of UPP. Key words: Pressure Ulcer; prevention; devices.
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INTRODUÇÃO
entre uma proeminência óssea e uma superfície dura por um período de tempo prolongado
Em pleno século XXI continua a ser
(BOLANDER, 1998).
preocupante a realidade em que vivemos ao
Os locais anatómicos com maior
nível da Saúde, a redução de incidência e
propensão para o seu desenvolvimento variam
prevenção das úlceras por pressão (UPP). Esta
com o tipo de posicionamento a que o utente
é uma realidade que continua atual, mesmo face
que não se mobiliza se encontra sujeito, por
aos avanços tecnológicos e científicos que
longos períodos de tempo, no entanto, centram-
temos vindo a assistir nas últimas décadas.
se com maior frequência na região sagrada,
Quando as UPP se desenvolvem acarretam grande sofrimento ao utente e suas
calcâneos, nádegas, trocânteres, olecrâneos e maléolos (BOLANDER, 1998).
famílias, perdas em qualidade de vida, aumento
Importa no entanto referir que as UPP
de numero dias de internamento com
classificam-se de acordo com as estruturas
consequente atraso na reintegração social e
envolvidas e o nível de profundidade que
custos elevados na saúde que se traduzem em
atingem, em diferentes categorias. Segundo o
custos elevados para todos nós.
Sistema de Classificação, que apresentamos no
São portanto as boas práticas dos
quadro 1, as UPP classificam-se em Categoria I,
profissionais de saúde no que toca à avaliação
II, III e IV conforme se descreve (EPUAP &
do risco de desenvolvimento de UPP, avaliação
NPUAP, 2015) (BOLANDER, 1998).
do estado da pele, estado nutricional e
Vários são os factores de risco para o
posicionamentos, que aliadas aos dispositivos
desenvolvimento de UPP, não obstante à
ortopédicos indicados na prevenção/tratamento
imobilidade ou mobilidade reduzida, há que ter
de úlceras de pressão como gestão de
em linha de conta o estado da pele, estado
superfícies de apoio indicadas, que fazem a
nutricional individual do utente, alterações
grande diferença entre o seu aparecimento e/ou
vasculares, patologias respiratórias, endócrinas
tratamento eficaz (BOLANDER, 1998).
e oncológicas que diminuem a perfusão tecidular e a oxigenação, história prévia de UPP
UPP e Factores para o seu desenvolvimento
e idades extremas (>65 anos e < a 5 anos). Para se apurar o nível de risco de UPP, os Profissionais de Saúde recorrem a escalas
Segundo a Definição Internacional de
validadas para delinearem um plano de
Úlcera de Pressão de NPUAP/EPUAP, “Uma
intervenções individualizadas a cada utente, tal
Úlcera de Pressão é uma lesão localizada na
como é exemplo a Escala de Braden, no
pele e/ou tecido subjacente, normalmente sobre
entanto, as escalas de avaliação de risco só
uma proeminência óssea, em resultado da
devem ser utilizadas como instrumentos de
pressão ou de uma combinação entre esta e
auxílio e nunca como substituição da avaliação
forças de torção” (EPUAP & NPUAP, 2015).
do Profissional de Saúde ou como instrumento
A úlcera de pressão desenvolve-se quando existe uma compressão do tecido mole JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
isolado de avaliação de risco (BOLANDER, 1998).
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Categorias: Categoria I
Definição: Eritema não branqueável em pele intacta. Pele intacta com eritema não branqueável de uma área localizada, normalmente sobre uma proeminência óssea, descoloração da pele, calor, edema, tumefacção ou dor podem também estar presentes. Em pele escura pigmentada pode não ser visível o branqueamento.
Categoria II
Perda parcial da espessura da pele ou flictena. Perda parcial da espessura da derme que se apresenta como uma ferida superficial (rasa) com leito vermelho rosa sem crosta. Pode também apresentar-se como flictena fechada ou aberta preenchido por líquido seroso ou sero- hemático.
Categoria III
Perda total da espessura da pele (tecido subcutâneo visível). Perda total da espessura tecidular. Pode ser visível o tecido adiposo subcutâneo, mas não estão expostos os ossos, tendões ou músculos. Pode estar presente algum tecido desvitalizado (fibrina húmida). Pode incluir lesão cavitária e encapsulamento.
Categoria IV
Perda total da espessura dos tecidos (músculos e ossos visíveis). Perda total dos tecidos com exposição dos tendões e músculos. Pode estar presente tecido desvitalizado (fibrina húmida) e ou tecido necrótico. Frequentemente são cavitárias e fistuladas.
Tabela 1. Sistema de Classificação das Úlceras de Pressão da NPUAP/EPUAP
Como recomendações para prevenir o seu aparecimento, os utentes com risco moderado a elevado de UPP, devem ser sempre avaliados individualmente por uma equipa multidisciplinar, desde a sua admissão nas Unidades de Saúde até à sua alta. Os posicionamentos devem ser alternados por períodos de tempo não superiores a duas horas, com o auxílio de dispositivos adequados que JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
visem minimizar a pressão nas proeminências ósseas que entram em contacto com as superfícies de acordo com os posicionamentos que se pretendam efetuar (BOLANDER, 1998). Esses dispositivos terão de ser ajustados e selecionados de acordo com as necessidades de cada utente. O estado nutricional é também ele de extrema importância, pelo que se deve estabelecer planos direcionados e ajustados Volume 4. Edição 2
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e selecionados de acordo com as necessidades
As superfícies especiais para o controlo
de cada utente. O estado nutricional é também
das pressões são aquelas que reduzem ou
ele de extrema importância, pelo que se deve
aliviam a pressão estando as pessoas em
estabelecer planos direcionados e ajustados aos
decúbito ou em sedestacão. Todas as pessoas
desequilíbrios individuais de cada utente.
com risco de desenvolver UPP devem utilizar este tipo de dispositivos, tanto para a prevenção
Análise As UPP podem ser consideradas como um problema multifactorial, para além dos fatores anteriormente mencionados, deveremos prestar atenção à pressão que é exercida entre uma superfície de apoio e uma zona de proeminência óssea (Giral Lemos, 2012). Pode-se instalar uma UPP se existe uma pressão acima de 32mmHG no tecido capilar arterial, mesmo uma pressão elevada por um
como também no tratamento das UPP (Dirección de Enfernería. CRM;, 2010). Os pacientes “em risco” nunca devem ser posicionados em superfícies convencionais (Dirección de Enfernería. CRM;, 2010). Existem no mercado uma grande quantidade de dispositivos que ajudam na redução da pressão sobre os tecidos, segundo o sistema de funcionamento estas superfícies podem agrupar-se em: •
aumentando a área de contacto
curto período de tempo ou uma baixa pressão
diminuindo assim a pressão localizada.
por um longo período, podem conduzir a um
Estas podem ser feitas de água, ar,
dano tecidular (Giral Lemos, 2012). Uma
espumas viscoelásticas, gel, etc. Estes
pressão de 32 mmHg durante 2hs poderá ser
sistemas precisam que o paciente
tolerada sem problema algum, enquanto a
consiga-se mover por si mesmo.
mesma pressão durante 4 hs tornar-se-á intolerável, do mesmo modo uma pressão de 80mmHg pode-se tolerar durante 1h, pode levar ao aparecimento de uma UPP apos 8hs (Dirección de Enfernería. CRM;, 2010). Como formas de lidar com as pressões podemos citar: as mobilizações, as mudanças posturais, proteções locais e o uso de produtos de apoio específicos (Rodíguez Palma & Lopez Casanova, 2007).
Superfícies estáticas: atuam
•
Superfícies dinâmicas: permitem variar a pressão nas zonas de contacto do paciente com a superfície de apoio , por meio e um sistema elétrico que aumenta ou diminui a quantidade de ar dentro do dispositivo. Estas superfícies estão indicadas para pacientes com um risco médio ou elevado no desenvolvimento de UPP (Giral Lemos, 2012).
Os termos “produtos de apoio” ou
A eficácia destas superfícies na redução
“ajudas técnicas” são muito conhecidos na área
do aparecimento de UPP quando combinadas
da reabilitação, referindo todos os equipamentos
com mudança de posição dos pacientes já foi
que são utilizados para substituir ou compensar
testada em diversos estudos. O facto de se
a realização das atividades da vida diária frente
utilizarem superfícies especiais e não colchões
a uma limitação ou incapacidade (Coutinho
normais de hospital, pode reduzir em muito a
Cunha Da Silva, 2014).
incidência de UPP, podendo o tempo de
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reposicionamento do paciente ser um pouco
Segunda a EPUAP & NPUAP (2015),
maior do que a NPUAP aconselha (2 em 2hs)
tanto os colchões viscoelásticos como os de
(Dias dos Santos, 2012).
pressão alternada apresentam melhores
Defloor, De Bacquer, & Grypdonck
resultados na prevenção de UPP que os
( 2005) estudaram o efeito de 4 medidas
colchões de espuma standard hospitalares.
preventivas que incluíram mudanças posturais
Também refere que a eficácia dos colchões
frequentes (2, 3 hs) com utilização de colchões
viscoelásticos não é variável de colchão para
convencionais e mobilizações com menor
colchão, sendo as superfícies de apoio
frequência ( 4,6 hs) e com utilização de
dinâmicas recomendadas para indivíduos de
colchões viscoelásticos. Obtiveram a conclusão
alto risco de UPP, os quais não podem ser
de que com
a utilização de um colchão
posicionados manualmente. Nestes casos, as
viscoelástico e um possicionamento a cada 4hs
células das superfícies dinâmicas devem ter no
se produzia uma diminução significativa no
mínimo mais de 10cm de altura.
número de UPP.
No meio das superfícies de apoio
Da mesma forma, segundo o guia de
estáticas/dinâmicas existem diferentes produtos
referência rápida para a prevenção de UPP
com as suas respectivas vantagens e
(EPUAP & NPUAP, 2015) o uso de produtos de
desvantagens.
apoio em proeminências ósseas permitem a redução de UPP, os calcâneos devem
Colchão de espuma viscoelástico:
encontrar-se elevados sem que seja exercida
•
carga sobre os mesmos. Para tal efeito poderão
adaptação à cama, inexistência do uso
ser utilizados produtos de apoio como as
de energia eléctrica para o seu correcto
calcanheiras e o uso de rolos de
funcionamente,
posicionamento sob os joelhos.
produto de apoio promove a redução da
Va n t a g e n s : f a c i l i d a d e d e
peso reduzido. Este
Todos os indivíduos que na posição de
pressão transcutânea, aumentando a
decúbito necessitem de um sistema de controlo
área de contacto entre o corpo e o
de pressões precisarão sempre de uma
colchão. Melhora a circulação
almofada na posição de sedestação (Quesada
sanguínea, da mesma forma que
Ramos & García Díez, 2007). Em indivíduos que
aumenta o conforto e a estabilidade do
passem o maior tempo na posição de sentados,
indivíduo.
estes devem conter uma superfície de
•
distribuição de pressão sobre o seu assento de
em contacto com materiais perfurantes
modo a que haja uma alternância de pressões
ou cortantes, permite o aumento da
durante a sua posição. Na mesmas base, se
humidade e da temperatura corporal. O
pode indicar que a pele de carneiro sintética,
tempo de vida útil é limitado. Em indivíduos
bem como o uso de produtos de apoio como os
com incontinência é necessáro o uso de uma
Donuts, luvas cheias de água, etc, se devem
cobertura impermeável.
Desvantagens: não pode estar
evitar na utilização para as UPP (EPUAP & NPUAP, 2015). JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
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Imagem 1 - Colchão Viscoelástico Retirado de: http://www.systam.com/p-35-fr-viscoflex%C2%AE-monobloc.html; 13 de abril de 2015, pelas 22:51h.
Colchão de água: •
•
Va n t a g e n s : u t i l i z a ç ã o f á c i l , b o a distribuição das pressões, higienização
Colchões de Gel:
facilitada com água e sabão.
•
Vantagens: Durabilidade elevada,
Desvantagens: pode dificultar a
facilidade de higienização e boa
transferência do indivíduo e outros
manutenção; pode ser utilizado com o
procedimentos. Não pode estar em
acoplamento de um colchão de espuma.
contacto com objectos perfurantes ou
•
Desvantagens: peso e custos elevados,
cortantes. Elevado peso, pode provocar
sensível a objetos perfurantes e
a diminuição da temperatura corporal do
cortantes.
indivíduo.
Imagem 2 - Colchão de Água Retirado de: http://www.medicare.com.mx/colchon_de_aire__agua.htm; 13 de Abril de 2015 23:00h. JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
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Imagem 3- Colchão de gel 23:15h.
Retirado de: http://i00.i.aliimg.com/photo/v4/513231554/gel_mattress_for_bed_chair.jpg; 13 de Abril 2015 às
Colchões de pressão alternada:
•
Desvantagens: a alternância
Vantagens: Higienização fácil,
pode provocar incómodo nos indivíduos,
promove a variação do local de
bem como o ruído que o motor promove.
concentração do peso do indivíduo, pode
Necessário o uso de energia elétrica. A
permitir uma distribuição desigual da
diminuição da pressão numa zona pode
pressão de vários pontos. O seu
levar ao aumento da mesma noutro
esvaziamento é rápido em casos de
ponto.(Dias dos Santos, 2012)
•
SOS.
Imagem 4 - Colchão de pressão alternada. Retirado de: http://www.ricant.com/products/pic/Sensitiv700.png; 13 de Abril 2015 23:19h.
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Conclusões
expectativas do cuidador. Viana do Castelo, Portugal.
Todas as pessoas com algum risco de
D e f l o o r, T. , D e B a c q u e r, D . , &
contrair UPP deveriam utilizar produtos de apoio
Grypdonck, M. (2005). The effect of various
para a prevenção das mesmas.
combinations of turning and pressure reducing
Existem no mercado uma vasta gama de produtos para este objetivo, a eficácia dos
devices on the incidence of pressure ulcers. Int Nurs Stud , 37-46.
mesmos encontra-se bem comprovada e
Dias dos Santos, A. R. (2012). Nova
referenciada em diferentes estudos. Existe um
geometria para sobre-colchão antii-escaras.
problema ao qual devemos prestar especial
modo de funcionamento do enchimento. Covilhã
atenção e è que muitos dos produtos
, Portugal.
disponíveis encontram-se neste momento
Dirección de Enfermería. CRM;. (2010).
ultrapassados e com contraindicação na sua
Proyecto de gestión integral de superficies
utilização, mesmo assim continuam a ser muito
especiales para el manejo de la presión en el
procurados pelos profissionais de saúde e pelos
hospital Clínico San Carlos. Madrid.
próprios utentes. Produtos viscoelásticos e dispositivos de pressão alternada são as soluções mas recomendadas para a prevenção e tratamento desta afeção.
EPUAP & NPUAP. (2015). From National Pressure Ulcer Advisory Panel : http:// www.npuap.org/ Giral Lemos, M. C. (2012). Cuidados del Paciente encamado: prevención de las úlceras
Há poucos estudos que comparem a
por préssion mediante cambios posturales y
eficácia dos diferentes tipos de dispositivos
superficies especiales para el manejo de la
comparando-os entre si o método mas utilizado
préssion. Zargoza, Espanha.
nos estudos foi o de comparar a não utilização
Januário, D. P., Flamino, E. R., & Tomé,
com a utilização de algum produto e neste tipo
F. (2008). Desenvolvimento da distribuição
de estudos pode -se reparar que o não uso de
pneumática de pontos bi-variável para
um dispositivo normalmente tem sempre piores
acoplamento em uma cama hospitalar para
resultados. O investimento neste tipo de
prevenção de escaras em pacientes acamados.
prevenção vai levar sempre a uma redução nos
Santo André, Brasil.
custos totais criados pelas UPP.
Quesada Ramos, C., & García Díez, R. (2007). Evaluacíon del grado de conocimiento
Bibliografia BOLANDER, V. R. (1998). Enfermagem fundamental: Abordagem psicofisiológica (3ª ed.). (Lusodidacta, Ed.) Lisboa: Lusodidacta. Coutinho Cunha Da Silva, A. I. (2014 йил Novembro). Produtos de apoio para prestação de cuidados ao doente paliativo: necessidades e
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de las recomendaciones para la prevencíon y el cuidado de úlceras por presíon en unidades críticas. Congreso Nacional de la Sociedad Española de Enfermería Intensiva y Unidades Coronarias. Madrid . Rodíguez Palma, M., & Lopez Casanova, P. (2007). Superficies especiales para el manejo de la presión. Rev Rol Enfermería , pp. 603-610.
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Monteiro, A., et al. (2015) Indicators of Quality in Nursing Homes - The Quality Challenges, Journal of Aging & Inovation, 4 (2): 40 - 58
RECENSÃO CRITICA/ CRITICAL REVIEW
JUNHO 2015
INDICADORES PARA LARES DE IDOSOS – OS DESAFIOS DA QUALIDADE INDICATORS OF QUALITY IN NURSING HOMES – THE QUALITY CHALLENGES INDICADORES PARA HOGARES DE ANCIANOS - LOS RETOS DE CALIDAD Autores Ana Monteiro1, Ana Silvério2, Arsénio Domingues3 Liliana Camarneiro4, Paulo Madeiras5, Vânia Ribeiro6 1,4 Quinta 6Centro
Verde - Repouso e Lazer, 2 Centro Social da freguesia de Famalicão, 3 Centro de Dia da Bunhosa,
Social de Valado de Frades,
Corresponding Author: ana_mtro25@hotmail.com RESUMO O envelhecimento populacional verifica-se não apenas ao nível da realidade portuguesa mas também à escala mundial, o que se justifica entre outros aspetos, pela melhoria das condições de vida e consequente aumento da esperança média de vida. É perante esta nova realidade que existe uma necessidade, cada vez maior, de respostas institucionais que prestem o cuidado, a proteção e a assistência que o idoso necessita e merece, assumindo os lares de idosos um importante papel nesta matéria. O cuidado ao idoso prestado pelos lares deve ser repensado, parecendo-nos pertinente também a reflexão em torno da satisfação e da qualidade que dele pode advir, pois as ferramentas, os estudos e programas de monitorização que incidam sobre esta matéria, são muito escassos. Objetivos: Analisar indicadores de qualidade em lares para idosos, identificados a partir do quadro internacional e validados em Portugal. Renomear alguns desses indicadores, e propor a verificação da sua aplicabilidade em Portugal, em futuras investigações. Metodologia: Análise documental do estudo “Indicadores de Qualidade em Lares para Idosos” (Aleixo, et al., 2011). Pesquisa bibliográfica, com consulta através de bases de dados comuns.
Realização de reuniões de grupo. Resultados: Renomeámos 10
indicadores de qualidade para lares de idosos (Grau de satisfação com a vida do idoso; Níveis de qualificação dos trabalhadores; Taxa de ações de formação frequentadas pelos trabalhadores; Inquéritos de satisfação aos trabalhadores; Taxas de absentismo; Taxa de incidência de idosos totalmente independentes; Taxa de incidência de idosos totalmente dependentes; Taxa de avaliações iniciais dos idosos preenchidas; Taxa de monitorização do Plano de Desenvolvimento Individual; Taxa de monitorização e acompanhamento do residente), distribuídos por quatro dimensões: Satisfação com a vida do idoso; Recursos Humanos; Funcionalidade do Idoso e Individualização dos Cuidados ao Idoso. Conclusão: Foi analisada a pertinência dos indicadores que decidimos renomear, propondo a utilização destes dados em futuras investigações, e aferindo a sua aplicabilidade em Portugal. PALAVRAS-CHAVE: Lares para Idosos; Indicadores de Qualidade.
ABSTRACT Population aging is a phenomenon which occurs not only in the Portuguese reality but also worldwide, which is justified among other things, due to the improved living conditions and consequent increase in average life expectancy. Given this reality, there is an increasingly need of institutional responses, that can provide care, protection and assistance to the elderly needs, assuming the nursing homes an important role in this respect. Thus, the elderly care provided by nursing homes should be rethought, in our view it’s also pertinent a reflection on satisfaction and quality that may come from that; as the tools, studies and monitoring programs that focus on the subject are still very scarce. Objectives: To analyze a set of quality indicators in nursing homes identified from the international framework and validated in Portugal. Based on this analysis, we’ll rename some of these indicators, and propose the verification of its applicability in Portugal in future investigations. Methodology: Documentary analysis of the study "Indicadores de qualidade em lares para Idosos" (Aleixo et al. 2011); Bibliographic search through database queries (several articles, studies and publications); Realization of group meetings. Results: we renamed 10 quality indicators (degree of satisfaction of the elderly; workers' qualification levels; rate of training sessions attended by workers, surveys of satisfaction to employees, absenteeism rates; incidence rate of fully independent elderly; incidence rate of totally dependent users; Rate of the initial evaluation of the users that were filled; Individual Development Plan monitoring rate; monitoring and tracking of user rate), spread across four dimensions (Life satisfaction of the elderly; Human Resources; Functionality of the elderly and individualization of the elderly’s care) Conclusion: We examined the relevance of the indicators that we decided to rename, proposing the use of this data in future research, and assessing its applicability in Portugal. KEYWORDS: Nursing homes; Quality indicators
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INTRODUÇÃO
cuidados prestados em lares de idosos e aferir a sua qualidade.
Assistimos atualmente a um fenómeno
O presente trabalho, desenvolvido no
de envelhecimento da população, que traz
âmbito da Pós-Graduação em Gestão de
consigo importantes repercussões
Equipamentos destinados a pessoas idosas, vai
demográficas, económicas e sociais, o que
de encontro a esse objetivo visando uma análise
implica mudanças profundas ao nível das
documental baseada no estudo “Indicadores de
respostas sociais implementadas para a
Qualidade em Lares para Idosos” (Aleixo et al.,
população idosa, que devem enquadrar: o
2011), renomeando alguns dos indicadores de
envelhecimento das populações; o aumento da
qualidade por ele identificados e validados, e
esperança média de vida e o progresso das
propondo a verificação da sua aplicabilidade em
sociedades; o direito das pessoas idosas à
Portugal, em futuras investigações.
participação na definição, na criação e na
Contribuímos assim para a discussão
implementação de respostas que lhes estejam
desta matéria no nosso país, que na nossa
destinadas. (Plano Avô, 2000).
opinião, enquanto profissionais da área, peca
Prevê-se que a população portuguesa
por tardia. Como se sabe, vive-se em Portugal
diminua de 10,5 milhões de pessoas em 2012,
um processo de implementação de sistemas de
para 8,6 milhões de pessoas em 2060, contudo
qualidade ao nível dos procedimentos (Instituto
o índice de envelhecimento aumentará de 131
da Segurança Social, 2009), no entanto, será
para 307 idosos por cada 100 jovens (INE,
importante discutir esta questão mais
2014).
profundamente no sentido de avaliar a Face a estes dados, a institucionalização
de pessoas com 65 ou mais anos em lares de
qualidade de vida dos idosos residentes em lares, ao nível desses indicadores.
idosos, representará uma realidade que terá maior probabilidade de obter um percurso positivo quando respeitados os direitos
ENQUADRAMENTO TEÓRICO
humanos do indivíduo: direito à escolha, direito
Tem-se verificado em todos os países
à privacidade, direito à integração, à
desenvolvidos de um modo geral e em Portugal
participação ativa nos pormenores da sua vida,
em particular um progressivo envelhecimento da
entre outros, que por sua vez será garante de
população. Segundo o Departamento de
ganhos significativos na qualidade dos cuidados
Estatísticas da União Europeia, prevê-se que no
prestados ao idoso, numa perspetiva holística
ano de 2060 residam em Portugal
(Kane, 2004).
aproximadamente três idosos para cada jovem
Face a tais evidências, e atentos à
(Eurostat, 2008). A este aumento constante do
pertinência social, à constatação da
número de idosos tem correspondido um
irreversibilidade da posição que os lares
aumento também ele progressivo de
assumiram na nossa sociedade e à existência
investimento em equipamentos que dêem
de escassos estudos relevantes nesta área,
resposta a esta realidade. No ano de 2000,
considera-se necessário refletir acerca dos
existiam em Portugal 1469 Lares de Idosos, número que aumentou para 2315 no ano de
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2014. Ao nível dos Centros de Dia o
estratégias de fiscalização e supervisão da
número de equipamentos passou de 1624 para
qualidade dos serviços prestados em lares de
2048 e os Serviços de Apoio Domiciliário
idosos, com recurso a vistorias regulares por
aumentaram de 1667 para 2650 no mesmo
parte do Instituto da Segurança Social I.P.. No
intervalo de tempo. Estamos assim, numa
entanto, também aqui não se encontram
realidade em que aumenta o índice de
referências a indicadores de saúde ou de
envelhecimento da população portuguesa
cuidados específicos que possam traduzir a
aumentando também o número de
qualidade dos cuidados prestados. Outros
equipamentos para dar resposta ao número
documentos têm sido criados pelo Instituto de
crescente da população que procura estes
Segurança Social I.P. e pelo Instituto Português
apoios.
da Qualidade em colaboração com outras
As causas do envelhecimento da
entidades onde são expostos indicadores de
população portuguesa são multidimensionais,
desempenho referentes aos serviços prestados
passando por fatores como a emigração
nos lares de idosos, no entanto, tratam-se de
crescente, mas devem-se sobretudo ao
abordagens globais com a definição de
aumento da esperança média de vida. Neste
indicadores gerais que não são específicos.
ponto, diz-nos Zaida Azeredo que “a ciência
Atualmente, a preocupação não passa
resolveu o problema do prolongamento da vida,
apenas pela avaliação da qualidade da
mas agora é necessário resolver o da velhice
prestação dos cuidados aos utentes de lares de
com qualidade de vida”. (Azeredo, 2002)
idosos, mas também pela qualidade de vida dos
Fundamentalmente, é neste ponto que
utentes nestes equipamentos. (Kane, 2005)
reside a pertinência deste nosso trabalho. As
A inclusão de indicadores e escalas de
estruturas estão no terreno a funcionar e tem
avaliação que possam medir a qualidade dos
existido um esforço no sentido de que a
cuidados prestados aos idosos surge deste
qualidade das respostas sociais e dos cuidados
modo, como uma necessidade de forma a
prestados sejam uma realidade. O primeiro
possibilitar a existência de um meio que permita
esforço neste sentido remonta ao ano de 2000
o controlo e a perceção objetiva e qualitativa
com o “Plano Avô” desenvolvido pelo Ministério
dos cuidados prestados. Relevamos desta
do Trabalho e da Solidariedade e o Ministério da
forma a importância da existência de
Economia através do Instituto Português da
indicadores que sejam uma ferramenta precisa
Qualidade, e que visou o estabelecimento de
que objetivem o utente como o centro da
programas de melhoria da qualidade dos lares
instituição, tal como era postulado no Plano Avô
de idosos, facilitando o processo de certificação
do ano 2000 onde se diz que, “qualquer que
de serviços com recurso à Norma ISO 9001.
seja a natureza jurídica da instituição,
Apesar deste esforço, não são referenciados
nomeadamente se tem ou não fins lucrativos, o
neste plano indicadores de avaliação de
cliente é o centro, é para quem a instituição
qualidade. O Decreto-Lei nº 64/2007 de 14 de
trabalha e a quem serve. Esta orientação para o
Março veio criar um novo regime de
cliente deve fazer parte da estratégia e da
licenciamento e fiscalização, descrevendo
cultura da instituição, identificando-a com a
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missão social a cumprir”. METODOLOGIA A fase metodológica possibilita conhecer
As perspetivas e opiniões dos autores
a investigação de uma forma mais prática,
deste trabalho, quer pela sua formação
explicando os procedimentos utilizados para
académica quer pela sua experiência
obter respostas à nossa questão de
profissional em contexto de lares de idosos, ao
investigação, assegurando a credibilidade e
longo das várias reuniões realizadas, também
fidelidade do estudo e possibilitando, no nosso
tiveram um papel relevante e enriquecedor
ponto de vista, o melhor entendimento dos
nesta fase do trabalho. O conteúdo dessas
fatores contextuais em que decorreu o nosso
discussões e a importância que cada um
estudo.
atribuiu aos vários indicadores analisados, foi determinante no momento de renomear novos
Foi efetuada uma análise documental
indicadores.
baseada no estudo “Indicadores de Qualidade para Idosos” (Aleixo et al., 2011), recolhendo um conjunto relevante de fontes de conhecimento e extraindo dele toda a análise, organizada e
RESULTADOS
interpretada segundo os objetivos definidos. No sentido de complementar a nossa estratégia
Apresentamos de seguida o resumo dos
metodológica realizou-se uma pesquisa
artigos selecionados, analisado de forma
bibliográfica e consultados, a partir de bases de
analítica e de acordo com o objetivo do nosso
dados comuns, vários artigos, estudos e
estudo (tabela 1).
publicações, que nos permitiram analisar, organizar, interpretar e selecionar a informação
Após percorrermos todas as etapas
segundo os objetivos da investigação proposta e
supramencionadas, no que à metodologia diz
obter consenso sobre o conjunto de indicadores
respeito, surge então uma nova tabela de
a renomear, por representarem ganhos
indicadores renomeados (tabela 2), os quais
significativos em matéria de cuidados prestados
foram agrupados em dimensões distintas.
em lares de idosos, e que garantam, mais plenamente, os cuidados de que o idoso carece, proporcionando “uma atuação holística, através de uma abordagem biológica, psicológica, e socioculturalmente relevante” (Mcainey et al., 2008; Paulus, Van Raak e Keijzer, 2006; Zimmermant et al., 2002; Miles, 2008; Wiener, Freiman e Brown, 2007, cit. in Aleixo et al., 2011).
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Tabela 1 - Resumo dos artigos selecionados JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
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Dimensão
Indicador
Satisfação com a Vida do Idoso
• Grau de satisfação com a vida do idoso
Recursos Humanos
• Níveis de qualificação dos trabalhadores • Taxa de ações de formação frequentadas pelos trabalhadores • Inquéritos de satisfação aos trabalhadores • Taxas de absentismo
Funcionalidade do Idoso
• Taxa de incidência de idosos totalmente independentes • Taxa de incidência de idosos totalmente dependentes
Individualização dos Cuidados
• Taxa de avaliações iniciais dos idosos preenchidos
ao Idoso
• Taxa de monitorização do Plano Desenvolvimento Individual • Taxa de monitorização e acompanhamento do residente Tabela 2 - Listagem de indicadores renomeados.
DISCUSSÃO O envelhecimento demográfico e o
introduzida a obrigatoriedade da utilização do
aumento significativo da longevidade tem
Resident Assessment Instrument (RAI) e do
obrigado a rápidas mudanças, numa sociedade
Minimum Data Set (MDS), como condição para
com um ritmo de vida cada vez mais acelerado.
os lares poderem participar em programas
As redes de serviço de apoio a idosos
governamentais financiados de melhoria
constituem pois uma importante resposta face
contínua da qualidade (Glass, 1991 cit. in Aleixo
às necessidades desta população, contudo,
et al., 2011). Como resultado da aplicação do
ficam ainda muito aquém do que seria
RAI, verificaram-se ganhos em saúde
desejável, pois apresentam grandes dificuldades
relativamente aos indicadores descritos, bem
em superar os novos desafios que lhes são
como a diminuição dos casos de desidratação,
colocados e porque o contexto legal
aumento dos níveis de funcionalidade e
estabelecido neste âmbito é ainda muitas vezes
diminuição dos recursos às urgências
descontextualizado e desadaptado. Os
hospitalares (Schroll, 1997 cit. in Aleixo et al.,
programas de monitorização da qualidade dos
2011). Em Portugal, como noutros países, a
cuidados prestados têm vindo a aumentar
informação sobre esta temática de estudo é
nestas instituições, limitando-se muitas vezes, a
ainda muito escassa, e a que existe é, na sua
cumprir os pré-requisitos mínimos legalmente
maioria, referente a realidades estrangeiras e
exigidos. Nos Estados Unidos da América, foi
sem aplicabilidade em Portugal.
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O estudo que nos serviu de base a este
entendido como um julgamento cognitivo de
trabalho “Indicadores de qualidade em lares
alguns domínios específicos da vida, tais como,
para idosos” (Aleixo et al., 2011), procura
a saúde, o trabalho, as relações sociais, a
superar esta lacuna, ao conseguir identificar um
autonomia, entre outros, ou seja, um processo
conjunto de treze indicadores para lares de
de juízo e avaliação geral da própria vida de
idosos, passíveis de aplicar no nosso país.
acordo com um determinado critério. A
Contudo, verificámos que os indicadores
qualidade de vida e a satisfação com a vida na
validados estão intimamente ligados ao contexto
velhice têm sido muitas vezes associadas a
de enfermagem e à qualidade dos cuidados de
questões de dependência-autonomia (Donalisio,
saúde prestados num lar. Foi pois, nosso
Joial e Ruiz, 2002). Diener (2000) refere que a
propósito, que o conjunto final de indicadores
satisfação com a vida é um dos indicadores de
renomeados fosse passível de ser utilizado, não
bem-estar, definido geralmente como tendo uma
só nas diversas vertentes de saúde, mas
vida boa e feliz.
passiveis de serem utilizados aos mais diversos
Nos últimos anos, tem-se verificado na
níveis de gestão de lares de idosos,
nossa sociedade, um aumento progressivo da
nomeadamente nas diversas vertentes da área
institucionalização do idoso. A sua entrada num
social, de modo a assegurar uma reflexão mais
lar, significa muitas vezes, a entrada num
abrangente da temática em análise e uma
mundo à parte, a rotura do idoso com a sua
recolha de dados multidimensionais, que fossem
individualidade e com os seus quadros de
de encontro a uma visão holística do indivíduo
referência, o contacto com uma realidade nova,
idoso em lares.
assustadora, com a qual nem sempre se
A utilização de indicadores de qualidade
consegue estabelecer uma relação equilibrada e
dos cuidados de saúde não pode ser
tranquila, e consequentemente entrar num
considerada em si mesma como um fim, mas
processo de isolamento que poderá contribuir
sim como meio, numa procura constante de
para um processo nefasto de insatisfação com a
melhoria dos cuidados prestados (Sublett, 2008
vida (Pimentel, 2001).
cit. in Aleixo et al., 2011). Assim, para além de
Porém, a institucionalização não deve
avaliações físicas criteriosas, devem ser
ser encarada apenas pela negativa, pois
considerados outros aspetos da pessoa, tais
existem idosos que podem sentir-se mais
como o afeto social, a cognição, a dor, o
acompanhados e mesmo mais felizes perante a
desconforto e a satisfação global (Casarett,
sua situação de entrada num lar do que quando
2002 cit. in Aleixo et al., 2011).
se encontravam sós em sua casa. É neste
O aparecimento do indicador referente à
aspeto que o modo de organização de uma
dimensão Satisfação com a Vida do Idoso (Grau
instituição, o grupo de técnicos que possui, as
de satisfação com a vida do idoso) reuniu
atividades que oferece, a qualidade das inter-
consenso entre os autores deste trabalho. A
relações que preconiza e o envolvimento da
satisfação com a vida define-se como um
família na vida da instituição, são de extrema
conceito complexo e de difícil mensuração, por
importância no sentimento de satisfação do
se tratar de um estado subjetivo. Pode ser
idoso perante esta nova realidade.
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Apesar de considerarmos esta reflexão
Por consequência, as instituições
importante, ao propormos o grau de satisfação
competentes destes serviços ao idoso e os seus
com a vida como possível indicador em lares de
técnicos especializados ganharão no
idosos, passível de ser validado em futuras
investimento prioritário em valências de
investigações, temos noção que não será tarefa
prevenção em detrimento da mera ação
fácil, uma vez que não existe uma forma única
assistencial, desempenhando um papel cada
de caracterizar a satisfação com a vida nos
vez mais relevante no adiamento da fase da
idosos (nomeadamente em lares) e por serem
vida idosa e da pessoa dependente. Esta tarefa
várias as variáveis que influenciam esses níveis
é tanto mais urgente e necessária quando se
de satisfação. Contudo, torna-se pertinente
assiste a uma conquista de maior longevidade,
investigar a satisfação com a vida dos idosos
a uma melhoria considerável nas condições de
residentes em cenários institucionais, para
saúde da população sénior e à evidencia
perceber até que ponto essa vivência interfere
empírica sobre a viabilidade de minorar ou
com a mesma, “na medida em que só a partir da
m e s m o r e v e r t e r, p a t o l o g i a s d o f o r a
análise transacional da unidade ecológica/
neuropsiquiátrico que afetam um número
ambiente podemos compreender o bem-estar
significativo de idosos.
subjetivo de idosos que vivem em diferentes
Contudo, a realidade, é ainda muito
cenários, sendo que cada cenário ambiental dita
diferente do que seria desejável. Miguel (2007)
de forma única a experiência do
refere que os trabalhadores nas instituições de
envelhecimento” (Sequeira e Silva, 2002 cit. in
idosos apresentam muitas vezes, pouca ou
Matias, 2010).
nenhuma formação profissional na área ou
Os indicadores referentes à dimensão
mesmo incapacitação para o cuidado, o que
Recursos Humanos (Níveis de qualificação dos
compromete a relação terapêutica com o idoso,
trabalhadores; Taxa de ações de formação
condição fulcral para um bom cuidado.
frequentadas pelos trabalhadores; Inquéritos de
Por outro lado, as características da
satisfação aos trabalhadores; Taxas de
maioria das instituições de idosos, as suas
absentismo) foram também considerados
estruturas de organização, as várias fontes de
pertinentes e são referidos em vários estudos
poder, os valores quantitativos centrados na
consultados, como determinantes para a
produtividade tornam-se inadequados e
avaliação da qualidade de vida em lares.
incompatíveis com a qualidade dos cuidados
A principal via para garantir um
que seriam desejáveis. Os recursos financeiros
envelhecimento ativo e de qualidade em lares –
insuficientes, a escassez de recursos humanos,
combatendo a crescente e inelutável
o pessoal desmotivado e insatisfeito, o
dependência psíquica e física, e maximizar o
esgotamento do pessoal que cuida, torna muitas
bem-estar do idoso - consiste na adequada
vezes o cuidado desumanizado, centrado na
preparação e especialização dos recursos
técnica e na doença, em vez de centrados na
humanos, ou mais especificamente dos
pessoa, no cliente, no cuidado, nas famílias.
cuidadores formais, pois estes são a base do serviço prestado.
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É urgente procurar níveis cada vez mais elevados de qualidade do desempenho
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profissional e dos cuidados prestados,
condição clínica preditora do risco de
abandonando os modelos tradicionais de
incapacidade, institucionalização, hospitalização
organização de cuidados e dando lugar a novas
e morte”
abordagens orientadas para a pessoa. Uma boa
A decisão de viver num lar de idosos não
prestação de cuidados exige uma componente
é fácil, constituindo-se como uma decisão que
de humanização: à competência técnica deve
não deve ser tomada de ânimo leve. Somente
associar-se o cuidado humano e o cuidado
um pequeno número de idosos é que dispõe de
social (Jorge e Simões, 1995); pelo contrário, “a
iniciativa própria para ir viver num lar. Para
falta de conhecimento de alguns profissionais
Cardão (2009) a institucionalização do idoso em
que prestam assistência ao idoso sobre aspetos
lar surge como uma opção residencial para
fisiológicos, psicológicos, emocionais, e sociais
pessoas que, pelos mais variados motivos, não
específicos aumentam o atendimento
encontram na comunidade uma resposta efetiva
inadequado e a incompreensão com o
e satisfatória às suas necessidades.
idoso” (Reis e Ceolim, 2007).
Essa transição implica, muitas vezes, a
Os indicadores referentes à
passagem para um modo de vida dependente
Funcionalidade do Idoso (Taxa de incidência de
(institucionalizado), onde por vezes tem de
idosos totalmente independentes; Taxa de
abdicar de gostos e objetivos pessoais e
incidência de idosos totalmente dependentes)
adaptar-se a novas situações, nomeadamente à
também mereceram destaque, daí a sua
ideia de que agora passou a ser um idoso
inclusão neste trabalho.
institucionalizado (Jacob, 2007). Para além
A funcionalidade é descrita por vários
disso, a institucionalização obriga ao
autores como o ponto de partida para a
afastamento do sítio que o idoso controla, que
avaliação de saúde do idoso, devendo por isso
constitui o seu meio familiar e ao qual se
ser realizada de forma minuciosa. A presença de
encontra ligado emocionalmente.
declínio funcional não pode ser atribuída ao
Apesar das circunstâncias referidas,
envelhecimento normal e sim às incapacidades
consideramos que a institucionalização não
mais frequentes no idoso. Moraes, 2012, cit. in
deve constituir um fator limitativo, mas sim uma
Simões, 2013, refere que “o comprometimento
possibilidade do idoso manter uma vida ativa,
dos principais sistemas funcionais gera as
evitando sentimentos de solidão, vivenciando
incapacidades e, por conseguinte as grandes
uma velhice mais positiva e com mais
síndromes geriátricas. Além disso, o
qualidade. Contudo, em Portugal, a realidade é
desconhecimento das particularidades do
ainda bem diferente. Estudos recentes,
processo de envelhecimento pode gerar
realizados pela DECO em 2009, em 28 lares,
intervenções capazes de piorar a saúde do
revelaram que apenas 7 destes
idoso, conhecidas por iatrogenia. Na perspetiva
estabelecimentos obtinham nota positiva em
da funcionalidade e maior vulnerabilidade,
termos de segurança e da qualidade de vida
podemos definir a presença de declínio
proporcionada aos seus idosos. Dois dos fatores
funcional como o principal determinante da
que contribuíam para esta diminuída qualidade
presença de fragilidade, entendida como uma
diziam respeito ao período de visitas dos
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familiares, muito reduzido, e a atividades de
“a sua retirada do conjunto final de indicadores
ocupação de lazer interiores e exteriores muito
constituiu motivos de discussão e controvérsia”.
limitadas, o que, segundo Marques (2011)
Contudo, consideramos importante realçar a
“contribuía para diminuir a autonomia e a
opinião de alguns dos peritos participantes na
independência dos utentes, que se tornavam
Técnica do Grupo Nominal acerca desta
mais apáticos e passivos”. A autora refere ainda
matéria, pois vão de encontro à importância que
outros problemas que comprometem a
consideramos que estes indicadores merecem.
funcionalidade do idoso: a tendência dos
Um dos peritos refere que, sempre que “um
profissionais em tratar os idosos de forma
utente (…) entra numa instituição com um grau
infantil, adotando comportamentos errados que
de dependência”, deve-se investir em “diminuir
geram um maior grau de dependência e
ou manter esse mesmo grau. Evitar-se uma
baseados numa interação que tende a seguir
situação inversa deve, (…) merecer igualmente
um esquema “dependência-apoio/
a maior atenção: quanto mais independente é
independência-ignorar” “que faz com que os
uma pessoa, em se tratando de indivíduos
idosos com comportamentos de dependência
idosos, se o deixarmos cair na dependência,
recebam mais atenção por parte dos
este erro não é se não uma falha nos cuidados
profissionais.” Marques (2011) refere ainda que
de enfermagem”; um outro refere que a questão
“expectativas mais positivas acerca das
da “independência do utente terá de ser um
capacidades e da saúde dos utentes
trabalho de equipa, o ser tem de ser pensado na
relacionam-se com padrões mais favoráveis de
sua globalidade” (Aleixo et al., 2011)
interação e com melhores níveis de saúde”.
Finalmente, os indicadores da dimensão
Perante estes dados consideramos
Individualização dos Cuidados ao Idoso (Taxa
importante sugerir indicadores referentes à
de avaliações iniciais dos idosos preenchidas;
funcionalidade do idoso, tanto cientifica como
Ta x a d e m o n i t o r i z a ç ã o d o P l a n o d e
socialmente, pois esta análise permitirá facultar
D e s e n v o l v i m e n t o I n d i v i d u a l ; Ta x a d e
a produção de alternativas de intervenção mais
monitorização e acompanhamento do residente)
adequadas ao bem-estar dos idosos,
foram considerados importantes em contexto de
enfatizando “uma imagem mais positiva e ativa
lares de idosos e por isso introduzidos neste
da experiência do envelhecimento, a
trabalho. A análise do artigo “Indicadores de
erradicação do preconceito contra grupos
qualidade para lares de idosos” (Aleixo et al.,
etários mais velhos, a facilitação do
2011) revela que o indicador “Taxa de
envolvimento de pessoas mais velhas numa
avaliações iniciais das utentes preenchidas” não
ampla gama de atividades sociais e favorece o
fazia parte da listagem inicial de indicadores
autocuidado” (ONU, 2002)
contudo, após implementada a técnica de
A análise documental do estudo
Brainwriting, surge a introdução deste indicador
“Indicadores de qualidade para lares de
que “vem alargar a abrangência da análise
idosos” (Aleixo et al., 2011) permitiu verificar que
efetuada
os indicadores referentes à funcionalidade
indicadores” (Donabedian, 2003 cit. in Aleixo et
aparecem em último lugar nos rankings, e que
al., 2011).
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pelo
conjunto
de
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A tónica atribuída à prestação de
presta cuidados, atenção à pessoa como uma
cuidados individualizados, conjuntamente com a
totalidade única, inserida numa família e numa
necessidade dos serviços de saúde se
comunidade; b) contribuir para criar um
adaptarem às exigências e expectativas dos
ambiente propício ao desenvolvimento das
utilizadores, tem sido alvo de uma crescente
potencialidades da pessoa” (Nunes, Amaral e
preocupação em providenciar um atendimento
Gonçalves, 2005 cit. in Ramos, 2011), “todavia
com uma qualidade assistencial cada vez
reconhece-se a dificuldade em evidenciar
superior. Estas preocupações integram
quantitativa ou qualitativamente o impacto da
igualmente as prioridades traçadas no Plano
individualização dos cuidados” (Sunhonen,
Nacional de Saúde 2004-2010, enfatizando “que
Valimaki e Leino-Kilpih, 2008 cit. in Ramos,
os investimentos previstos para o sistema de
2011).
saúde deverão assegurar, ao cidadão, um
A literatura sublinha que, a
atendimento de qualidade, com efetividade e
individualização dos cuidados prestados tem
humanidade sustentável ao longo do tempo
sido associada, genericamente, a uma evolução
(Direção Geral de Saúde, 2004 cit. in Ramos,
clínica mais favorável, com aumento da
2011).
qualidade de vida, da autonomia, do autoO ser humano, como sabemos, encerra
cuidado, da confiança nos cuidados, (Gilleard e
em si uma enorme complexidade. Neste
Reed, 1998; Stewart et al., 2000; Tate, Wing e
contexto, uma imensa panóplia de
Winett, 2001; Dana e Wambach, 2003; Frich,
conhecimento tem vindo a surgir, defendendo a
2003; Ruggeri et al., 2003 cit. in Ramos, 2011);
visão holística do indivíduo, como ser bio-psico-
“tem sido encontrada como a maior fonte de
social que é. Contudo, o que se constata é que,
satisfação das pessoas com as intervenções de
à luz das próprias ciências humanas que
enfermagem, representando um importante
continuam divididas, o ser humano é ainda
indicador de avaliação e de desenvolvimento
encarado como um puzzle, como “a soma das
dos serviços de saúde” (Sunhonen, Valimaki e
partes”, perdendo-se a possibilidade de alcançar
Leino-Kilpih, 2008 cit. in Ramos, 2011) e “o
uma unidade complexa do indivíduo. Torna-se
processo de tomada de decisão baseado na
pois crucial “edificar uma educação de futuro
evidência científica, no contexto de cuidar, que
que seja capaz de emparcelar todo o conjunto
privilegia as preferências e valores individuais
de saberes, com a finalidade de revelar uma
da pessoa, está relacionado com resultados em
verdadeira preocupação pela pessoa, enquanto
saúde mais favoráveis” (Thompson et al., 2004
ser indissociavelmente singular e social” (Morin,
cit. in Ramos, 2011).
2002 cit. in Ramos, 2011).
Em Portugal, através dos manuais da
Por outro lado, a prestação de cuidados
qualidade do Instituto da Segurança Social,
individualizados, como obrigação moral e
nomeadamente do manual de processos chave
deontológica é já consagrada em vários códigos
para estrutura residencial para idosos, foi
normativos profissionais. A título de exemplo, o
introduzido a individualização e personalização
artigo 89º, do Código Deontológico do
como princípios fundamentais da elaboração,
Enfermeiro, inerente à individualização dos
implementação e avaliação do plano de
cuidados, assume o dever de “a) dar, quando
desenvolvimento individual do idoso. O plano de
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desenvolvimento individual como
alguns, pela sua pertinência e por estarem
instrumento formal que pretende organizar,
referidos em vários estudos da pesquisa
operacionalizar e integrar todas as respostas às
bibliográfica efetuada, e assim proceder à sua
necessidades, expectativas do idoso assenta na
renomeação, cujo resultado se traduziu num
matriz de análise do Modelo de Qualidade de
novo quadro proposto por nós - “Listagem de
Vida (manual WHOQOL-OLD) possibilitando,
indicadores renomeados”.
assim a abrangência do diagnóstico, numa perspetiva holística do indivíduo.
As perspetivas diferenciadas dos vários elementos do grupo, quer pela sua formação
Pelo descrito anteriormente, torna-se
académica quer pela sua experiência
evidente o aumento significativo de referências
profissional em contexto de lares de idosos,
em torno da prestação de cuidados
também teve um papel relevante e permitiu a
individualizados, porém essa investigação
obtenção de consenso em torno da escolha dos
continua centrada essencialmente nas
indicadores a renomear. Foram considerados os
perceções das pessoas, utilizadoras dos
que seriam aplicáveis na prática em Portugal e
serviços de saúde, sobre esses mesmos
com uma maior abrangência holística do idoso
cuidados e nas vantagens que daí advêm
em lares, o que se refletiu nos resultados
(Radwin, 1995 cit. in Ramos, 2011). Parece-nos
obtidos.
pois pertinente sugerir a importância de investigar os mecanismos pelos quais os cuidados individualizados se traduzem em ganhos para a saúde e investigar a importância desses mesmos cuidados individualizados noutros contextos, nomeadamente em contexto de lares de idosos, bem como as competências essenciais ao seu exercício. Estamos convictos que os indicadores relativos à individualização dos cuidados ao idoso, por nós renomeados, poderão ter um importante papel nesta matéria e traduzir uma eficaz promoção de saúde e bem-estar do idoso. Apesar das dificuldades iniciais, pela escassez de estudos, que nos orientassem para uma escolha o mais fundamentada possível dos indicadores a renomear, consideramos que conseguimos atingir com sucesso os objetivos definidos à partida para este trabalho. Foi analisado um conjunto de indicadores utilizado em lares para idosos ao nível internacional e outros já validados e adequados à realidade portuguesa, de entre o qual foram selecionados JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
CONCLUSÕES E IMPLICAÇÕES PRÁTICAS O envelhecimento demográfico é uma conquista da humanidade, mensurável no aumento significativo da longevidade. Este aumento da longevidade tem, no entanto, consequências adversas que interferem nas relações sociais e nos equilíbrios individuais, que conduzem à emergência de novos problemas sociais e desafios, para os quais as sociedades modernas procuram encontrar as respostas mais adequadas. O rápido processo de envelhecimento associado muitas vezes à incapacidade das redes informais em responder aos problemas dos mais velhos, vem contribuir para uma mudança ao nível da responsabilidade pelos cuidados da pessoa idosa e por conseguinte, a um consequente aumento da procura de lares, que lhes possa assegurar os cuidados mais especializados, de modo que essa longevidade alcançada seja acompanhada por uma melhoria na qualidade de vida.
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Assim, começa a evidenciar-se uma maior
referir ainda que uma instituição que conheça o
preocupação das entidades responsáveis no que
que o seu cliente valoriza ficará à partida em
se refere à qualidade dos serviços prestados
vantagem competitiva face a outras instituições. A
nestas instituições, contudo, o que se verifica, é
preocupação com o conceito de qualidade de vida
que estas permanecem muito aquém das
dos idosos em lar pode contribuir também para
necessidades da população e o contexto legal
uma melhoria da qualidade interna dos lares;
estabelecido neste âmbito afigura-se ainda
esses dados serem usados no processo de
descontextualizado e desadaptado, concluindo-se
regulamentação do equipamento e até, os
pela experiência da sua aplicação, que contém
resultados serem disponibilizados para consulta de
lacunas, procedimentos complexos,
potenciais clientes. (Kane, 2004).À luz de tudo o
burocratizados e “parece não ser suficientemente
que foi dito e pelos conhecimentos apreendidos ao
abrangente, ao ponto de compreender os serviços
longo desta experiência de trabalho, resta-nos
e competências que estas instituições têm hoje de
recomendar um maior investimento nesta área por
disponibilizar aos seus utentes” (Aleixo et al.,
parte de todos os organismos competentes, não
2011). Neste contexto o presente trabalho analisa
só ao nível da investigação (de referir que os
um conjunto de indicadores de qualidade sensíveis
estudos nesta área são muito escassos, os
aos cuidados de enfermagem em lares de idosos,
trabalhos que existem referem-se a realidades
com aplicabilidade em Portugal, e renomeia alguns
estrangeiras e por isso sem aplicabilidade em
desses indicadores numa perspetiva social:
Portugal, e o único estudo que faz a validação de
- passíveis de fundamentar futuras investigações
indicadores para a realidade portuguesa, está
nesta área, nomeadamente no que diz respeito à
intimamente ligado ao contexto de enfermagem e
sua validação e verificação da sua aplicabilidade
à qualidade dos cuidados de saúde prestados em
em Portugal;
lares); da implementação de programas de
- que constituam objeto para estudos vindouros,
qualidade em lares de idosos e também ao nível
aumentando assim o conhecimento sobre esta
da sua monitorização (no que diz respeito aos
área;
indicadores descritos).
- passíveis de integrar os referenciais normativos que servem de base à Implementação de Sistemas de Gestão da Qualidade dos serviços prestados por estas respostas sociais, nomeadamente no que diz respeito a dimensões como, Satisfação com a Vida do Idoso, Recursos Humanos, Funcionalidade do Idoso e Individualização dos Cuidados ao Idoso; - que constituam um instrumento de diferenciação dos lares de idosos, incentivando a melhoria dos serviços prestados, no que diz respeito à satisfação das expectativas e necessidades dos clientes: os idosos, colaboradores e todos quanto
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ESTUDO DE CASO / CASE STUDY
JUNHO, 2015
IMPLICAÇÕES DA RELIGIÃO MUÇULMANA NO CUIDADO À PESSOA COLOSTOMIZADA IMPLICATIONS OF MUSLIM RELIGION IN THE CARE OF THE OSTOMIZED PERSON IMPLICACIONES DE RELIGIÓN MUSULMÁN EN ATENCIÓN A LA PERSONA COLOSTOMIZADA
Autores Carlos Soares1,Alexandra Bento1,Filipa Crespo1 1 Enfermeiro,
IPO-FG, Lisboa, Portugal
Corresponding Author: enf.carlos.soares.cg@gmail.com
Nota Introdutória Segundo NEVES (1999), “a rápida transformação da nossa sociedade moderna, mediatizada e multicultural, exige que os Profissionais de Saúde se formem cada vez
ambas as partes: a melhoria da
situação de
saúde por parte da pessoa que é cuidada e a aquisição de novos conhecimentos sobre a cultura em que se desenrola o processo de cuidados por parte do cuidador.
mais para a interculturalidade/mundialidade e se
Em Portugal a evolução da população
dispam definitivamente de etnocentrismos, na
Muçulmana é notoriamente crescente. Embora a
abertura à diversidade das pessoas – doentes/
incidência de doenças que resultam na
utentes – que delegam neles o cuidar”.
formação de estomas seja menor nas minorias étnicas (Department of Health, 2000), a taxa de
Os profissionais de saúde no seu quotidiano
morbilidade e mortalidade associada a estas
contactam com diversas culturas e micro-
doenças aumenta nestes grupos (Perez, 2002)
culturas, existindo uma necessidade de
o que nos conduz à necessidade de reflexão
adaptação destes para que o cuidar por eles
sobre os cuidados a prestar a estes doentes
desenvolvido seja empático, com ganhos para
ostomizados no seu contexto cultural.
População – Fonte CENSOS – Instituto Nacional de Estatística População segundo estimativa da Comunidade Islâmica de Portugal
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Estudo de caso
DIAGNÓSTICO MÉDICO: Adenocarcinoma do
DADOS PESSOAIS - Sexo: Masculino
C a n a l A n a l P R O P O S TA C I R Ú R G I C A : Amputação Abdomino-Perineal
- Idade: 46 anos
Numa fase inicial, o planeamento de cuidados
- Nacionalidade: Bangladesh - Estado Civil:
cingiu-se a um planeamento de pré e pós-
Casado
operatório comum a qualquer doente proposto a
- Religião: Muçulmano
este tipo de cirurgia. No entanto, durante estas fases, várias questões relacionadas com a
ANTECEDENTES PESSOAIS DE SAÚDE: - Hipertensão Arterial - Quimioterapia e Radioterapia
crença religiosa do doente se levantam, conduzindo à necessidade de procura de conhecimento por parte dos profissionais de saúde, no sentido de desenvolver um planeamento de cuidados individualizado e adaptado às necessidades do doente.
- As atividades sociais desta população estão, invariavelmente e signitivamente, relacionadas com eventos de culto
Limitações Sociais
religioso. - As limitações físicas, em cima referidas, quando não ultrapassadas conduzem a uma redução significativa na vontade de participar em rituais religiosos levando ao abandono das mesquitas e ao isolamento social.
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Conclusão O cuidar na multiculturalidade revela-se como o futuro dos cuidados de saúde devido à situação mundial, à mobilidade humana e à globalização.
Nacional de Estatística - CENSOS -1981, 1991, 2001. PEREZ, L. (2002) - A Resilient legacy of
2
leadership. J Nat Med Assoc 9: 66
As questões religiosas e culturais devem ser consideradas em qualquer tipo de cirurgia, particularmente nas que pressupõem a formação de um estoma, uma vez que, provoca consideráveis alterações corporais, psicológicas e sociais. Um muçulmano portador de um estorna de eliminação pode ver-se confrontado com diferentes problemas, resultantes do cumprimento dos preceitos da religião islâmica, de acordo com as leis descritas no Corão. Cabe aos profissionais de saúde, particularmente aos com formação em Estomaterapia, prestar cuidados personalizados à pessoa ostomizada no seu contexto cultural, impedindo que a falta de conhecimento nesta área conduza a uma prestação de cuidados desprovida de individualismo e eficácia.
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