Vitrine de Talentos- Dr. Mirandolino Batista Mariano

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MIRANDOLINO BATISTA MARIANO: empreendedor da sa煤de e vencedor na vida

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Antonio Marcos Feliciano Gisele Schmidt Melchert Vit贸ria Augusta Braga de Souza

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Trajetória de vida Prostatectomia de Mirandolino, este é o nome da técnica cirúrgica criada por Dr. Mirandolino Mariano, médico urologista, cuja trajetória de vida é pautada na busca da realização pessoal e profissional, podendo ser considerada como uma grande caminhada empreendedora. Os que o conhecem apenas como o criador da mencionada técnica, desconhecem o vendedor de sapatos, o contínuo, o estivador, o taxista, enfim, os tantos papéis vividos no sonho de ser médico e de contribuir para a ciência. De origem humilde, Dr. Mirandolino Batista Mariano nasceu em Palmeira das Missões, em uma região chamada Ramada, no estado do Rio Grande do Sul. Aos dois anos foi doado para uma tia que morava no município de Santo Anjo. Passadas outras tantas dificuldades, Dr. Mirandolino foi matriculado no Colégio Estadual Onofre Pires, em Santo Ângelo, onde permaneceu até o quinto ano primário. Em seguida foi para um internato e foi lá que Dr. Mirandolino aprendeu o melhor significado da palavra trabalho, pois sua tia, ao colocá-lo nesse estabelecimento, deixou claro que não dispunha de condições para pagar sua estadia. Sua passagem pelo internato perdurou por alguns anos, possibilitando que avançasse nos estudos. Mas, seguramente, foram, a disciplina, o trabalho e as conversas, enfim, toda a atmosfera que rondava o seminário que lhe 148


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proporcionou novas perspectivas e conhecimentos que usaria para a vida inteira, principalmente nos momentos de tomada de decisão, onde reflexões mais amplas e profundas foram exigidas. Portanto, o período que passou no internato preparou Dr. Mirandolino para a vida. A saída do seminário foi a primeira mais significativa decisão que Dr. Mirandolino tomou. Por um lado, os padres não queriam que ele deixasse o seminário, por outro, Dr. Mirandolino não tinha vontade de continuar ali seus estudos e segundo suas palavras, não tinha vocação para os votos de castidade, pobreza e obediência.

Eu saí do seminário e fui para Porto Alegre, fui procurar um primo que estaria em Porto Alegre e não consegui achá-lo, mas achei o endereço e nesse endereço morava uma mulher de oitenta anos e ela me disse: ‘Olha, o Elias, teu primo, ele realmente mora aqui nos fundos, mas ele tá viajando’. E isso passou um dia, dois dias e eu fiquei na escadaria. Ela ficou com pena de mim e me colocou para dentro e eu passei então, a morar na casa dessa senhora, até ela avisar minha tia. Então, eu fiquei ali uma semana nessa confusão porque eu não queria contar para a minha tia o que eu tinha feito. Eu estava com vergonha, mas eu não queria mais ser seminarista, eu queria crescer.

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Tendo boa acolhida, Dr. Mirandolino passou a procurar por um posto de trabalho para a sua subsistência. Tratou de concluir o ensino médio, estudando no Colégio Estadual Júlio de Castilho, tendo também que trabalhar, atuando inicialmente de vendedor - vendia sapatos na rua e depois passou a vender roupas. Segundo suas palavras: Eu não sirvo para vender. Seguindo os conselhos de sua tia, continuou estudando, preparando-se para prestar o vestibular de Medicina. Nesse momento, alguns fatos ocorridos, quase que simultaneamente, desenhavam sua vida para a Medicina, para o seu sucesso. Depois das aventuras pelo setor de vendas, conta Dr. Mirandolino, as oportunidades surgiam e as decisões eram tomadas corretamente. Com o dinheiro que conseguiu economizar, Dr. Mirandolino se inscreveu no vestibular da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Nesse momento, mais uma vez, seu bom relacionamento com as pessoas lhe auferiu uma ajuda que marcaria sua vida. Graças a Deus consegui fazer a primeira inscrição, juntei o dinheiro para me inscrever para a UFRGS e, na casa onde eu morava, na casa do estudante da JUC [Juventude Universitária Católica], a senhora que era a cozinheira lá, ficou com muita pena do meu caso, pois só conseguiria 150


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fazer uma inscrição, enquanto a maioria dos demais iriam se inscrever em cinco ou seis, ‘tu não vai conseguir passar no primeiro’, dizia ela, ‘então eu vou te dar o dinheiro para a inscrição, depois tu me paga’ […] A cozinheira da casa do estudante me emprestou o dinheiro para eu pagar a inscrição, pra ‘mim’ fazer dois vestibulares, e isso fez a diferença, porque eu tirei o 127º lugar no vestibular e a UFRGS só tinha 125 vagas, então eu fui classificado na segunda faculdade de opção, que foi em Rio Grande. E eu, graças a Deus, pude pagar a ela, com muita satisfação, o dinheiro que ela me emprestou. Aí eu fui para Rio Grande. Eu optei em fazer a segunda opção em Rio Grande porque havia a possibilidade de eu conseguir uma bolsa naquela época da Ipiranga para conseguir fazer a faculdade, mas infelizmente, eu não consegui a bolsa. Passando no vestibular, mesmo entusiasmado com as possibilidades oferecidas pelo curso de Medicina, a situação financeira continuava a mesma, e mais uma vez, Dr. Mirandolino procurou se adaptar, conciliando seu horário de estudo com o de trabalho. Dessa forma, tornou-se estivador, uma função que não demandava mão de obra especializada, mas muito esforço físico. Em função da dinâmica do porto, as atividades ocorriam por embarcação, ou seja, os estivadores trabalhavam apenas no momento da carga e descarga dos navios, significando, para Dr. Mirandolino, disponibilidade de um tempo precioso para se dedicar aos estudos. 151


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Dava para fazer a faculdade durante o dia e a estiva pagava muito bem na época, eu ganhava por hora e não tinha compromisso, era horista [...] era um trabalho muito pesado, mas, até eu conseguir coisa melhor foi isso aí mesmo. Após trabalhar como estivador, Dr. Mirandolino passou a atuar como taxista, depois, trabalhou em um clube de futebol, o Riograndense. No terceiro ano de faculdade, em parceria com outros dois colegas, Dr. Mirandolino passou a produzir apostilas, chamadas “Sebentas”, e o material produzido garantia sua continuidade no curso. Ele seguiu estudando e em uma feliz coincidência conheceu a que seria sua esposa, naquele momento uma estudante do curso de Belas Artes em São Leopoldo, outro município do Rio Grande do Sul. Essa sequência de fatos marcou definitivamente sua vida, uma vez que em conversa ele lhe falou: Olha, eu preciso ter condições financeiras, eu preciso me esforçar, eu preciso estudar e ser alguém. Dessa forma, começaram uma trajetória unidos por vários sentimentos, inclusive a vontade de constituir uma família. Dr. Mirandolino afirma que sua mulher foi muito decidida, quando mudou de cidade, parou a faculdade e foi trabalhar. Trabalhava três turnos para conse152


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guir recursos financeiros para que ele pudesse terminar a faculdade. No final do curso, ele conheceu mais uma importante pessoa que marcou a sua vida, seu orientador, Dr. Ricardo Saldanha Olivieri. Mais do que orientar na conclusão do curso, Dr. Olivieri aconselhava o jovem Dr. Mirandolino nos seus próximos passos. Foi ele quem o encaminhou para Porto Alegre a fim de iniciar a residência com o professor Dirceu Monteiro, da UFRGS e da Pontifícia Universidade do Rio Grande do Sul. As recomendações do Dr. Ricardo foram para que ele se aproximasse do professor Dirceu e fizesse Urologia, pois este era o melhor caminho para ele. E assim ele o fez. Dr. Mirandolino estava disposto a seguir os conselhos de seu orientador, mas Dr. Dirceu Monteiro era o chefe, vivia rodeado por seus assistentes, e era difícil chegar até ele. Mais uma vez tudo conspirava a seu favor, pois ele conheceu o Dr. Paulo Aguinsky, que trabalhava com o Dr. Carlos Ary Vargas Souto, um dos mais brilhantes assistentes do professor Dirceu Monteiro. Ao conhecer Dr. Mirandolino, o Dr. Paulo Aguinsky, que na época estava terminando a residência, pediu que ele assumisse seu lugar como assistente do professor Monteiro, pois ele não desejava mais ser seu assistente, assim, Dr. Mirandolino começou a trabalhar e a se apaixonar pela Urologia. Atualmente, atua nas áreas de Urologia, Laparoscopia, Videolaparoscopia Urológica, Cirurgia Videolaparos153


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cópica e Transplantes, é um dos coordenadores e professor do Curso Internacional de Cirurgias Urológicas por Vídeo, o Urovídeo, realizado anualmente em Goiânia, presidente da Sociedade Brasileira de Videocirurgia (SOBRACIL) e presidente da Asociación Latinoamericana de Cirugía Mínimamente Invasiva. É reconhecido mundialmente por ter desenvolvido a “Prostatectomia Laparoscópica de Mirandolino”, técnica cirúrgica para remoção de tumores benignos da próstata. Para os que o conhecem apenas como o criador da mencionada técnica, desconhecem o vendedor de sapatos, o contínuo, o estivador, enfim, os tantos papéis vividos pelo sonho de ser médico e de contribuir para a ciência.

Características empreendedoras Para compreender melhor a vida de Dr. Mirandolino como empreendedor descrita neste capítulo, esta deve ser entendida à luz dos cinco sinais distintivos do empreendedor, que segundo Bueno; Lapolli (2001, p. 39-40) são: Velocidade – terá como predeterminação a prontidão, a atenção, o pré-planejamento, o espírito de liderança e a capacidade de em situações emergentes tomar decisões urgentes, com eficiência e eficácia. A velocidade exige um raciocínio rápido para resolver proble-

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mas e uma consequente capacidade de expressar bem as ideias de forma oral e escrita. Polivalência – revela aptidões internas, como a fácil adaptação a grupos e ambientes, flexibilidade nas ideias e ações e capacidade de desenvolver várias tarefas ao mesmo tempo. Visão – constitui-se na formação e na experiência em situações reais e em teorias que proporcionam, geralmente, capacidade de compreensão, análise, avaliação e ação sobre as situações da vida e do trabalho. Capacidade de realização – geralmente, é consequência do planejamento preciso dos empreendimentos, sobre conhecimentos, análises, estudos de erros, avaliações acerca dos caminhos tortuosos a serem seguidos por eventualidades e possibilidades de retomada dos caminhos mais adequados. É distinta da capacidade de realização a condição de sempre superar obstáculos, para nunca deixar de realizar as atividades necessárias. Capacidade de compreensão intrapessoal e interpessoal – define-se como a

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aptidão de equilíbrio emocional próprio e de interferências no equilíbrio emocional dos outros e das organizações. Capacidade de harmonizar grupos e de persuadir. Compreensão acerca das ações e reações pessoais e dos outros, diante de situações difíceis, concorrências ou rivalidades. Predisposição para orientação psicológica própria e de grupos.

Complementando, Malheiro (2003) afirma que o comportamento empreendedor possui características que estão sempre presentes, não importando sua linha de trabalho: • necessidade de realização; • motivação, criatividade, inovação; • estabelecimento de metas e objetivos; • predisposição; • identificação de necessidades. A parceria com o Dr. Carlos foi fundamental para o Dr. Mirandolino, pois era enérgico, sério, honesto, disciplinado e disciplinador, assim descrito: Ele era descendente de militar, um cara extremamente disciplinado, organizado e muito sério, ele era meio carrancudo, de tão rígido que era em todos os princípios.

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Então isso para mim..., era tudo que eu precisava, uma pessoa correta, honesta, séria e que fizesse Medicina por amor e ele faz. Então eu fiquei com ele aproximadamente dez anos [...] eu fiz residência em Cirurgia Geral e depois fiz a de Urologia e continuei auxiliando o Dr. Souto e peguei bastante experiência, eu devo muito a ele. Os empreendedores compartilham conhecimentos, aprendem com outros, ouvem e procuram entender, mas sempre fazem o que pensam ser certo. Empreendedores são indivíduos que precisam continuar a aprender, não somente o que está acontecendo no seu ambiente, mas aprender a detectar novas oportunidades de negócios, bem como tomar as decisões para implementá-las (FILLION, 1999; ROSA; MORALES, 2010). Portanto, segundo Lapolli et al. (2001 p. 21): “Os empreendedores são pessoas que geram ou aproveitam oportunidades econômicas e criam valor tanto para si como para a sociedade”. Dolabela (2008) afirma que os novos empreendedores possuem importância vital para a sociedade, pois o desenvolvimento econômico de uma região tende a estar diretamente relacionado com o grau de empreendedorismo da comunidade. Dr. Mirandolino reconhece que aprendeu muito e que a duradoura relação com o Dr. Souto lhe foi fundamental. No entanto, naquele momento, ele julgou que era hora de se dedicar mais à carreira e de voltar para a aca-

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demia, assim definiu o mestrado e o doutorado como os próximos desafios. Cunha; Ferla (1996) afirmam que o empreendedor é alguém que define metas, busca informações e é obstinado. Embora essas características possam ser natas em algumas pessoas acredita-se que elas podem ser desenvolvidas e lapidadas. Acompanhado de uma decisão importante, a de continuar seus estudos, Dr. Mirandolino conheceu mais uma pessoa que marcaria sua trajetória, o Dr. Antonio Carlos Pereira Martins, professor de Urologia da Universidade de São Paulo (USP) de Ribeirão Preto. Depois de alguns contatos em Porto Alegre, por ocasião de um congresso, Dr. Mirandolino expôs seus objetivos a ele, e foram plenamente compreendidos, assim Dr. Antonio Carlos ofereceu-lhe orientação tanto no mestrado como no doutorado, na USP em Ribeirão Preto. Acabou fazendo seu mestrado na UFRGS em Nefrologia e depois foi para Ribeirão Preto fazer o doutorado. Terminei o doutorado meio assim, um pouco difícil porque a economia que eu tinha feito durante aquele período, o dinheiro não foi suficiente para ‘mim’ ficar parado. Então eu fiz todos os créditos e voltei para Porto Alegre, daí eu fiquei escrevendo a tese sob a orientação dele. Eu já tinha concluído a parte teórica que precisava fazer.

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Empreendedores vivem em constante desafio. Dr. Mirandolino tinha pela frente mais um desses, na defesa da sua tese, a banca foi composta por grandes autoridades no tema, dessa forma, encarou como uma grande oportunidade, uma vez que a contribuição dos professores presentes em sua banca e a troca de conhecimentos possibilitariam alguns diferenciais em sua pesquisa. Ele enxergou elementos presentes em ambientes, invisíveis para outros. Defendida a tese, mais uma importante decisão foi tomada: Com o título de doutor eu voltei para Porto Alegre, mas, eu já tinha nesse momento a decisão de investir na clínica privada. Eu queria fazer Urologia, e voltei com a cabeça pronta para o trabalho, então eu disse ‘vou procurar fazer algumas pesquisas’ e, por coincidência, digamos assim, a Medicina avançava, estava começando a Endourologia e a Videocirurgia no mundo inteiro, ‘então eu vou me dedicar a isso’. Determinado, Dr. Mirandolino passou a trabalhar no Hospital Mãe de Deus, com Endourologia, fazendo muitas cirurgias endourológicas. Eu passei a participar de várias jornadas, onde aprendia muito, então meu serviço começou a crescer, nós então começamos a fazer nome. E eu tive até muitos colegas 159


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que iam passar um tempo comigo para ver a cirurgia porque o volume era muito grande, e isso foi até 1991, 1992, porque nesse momento entrou a Videocirurgia. Em meio aos avanços tecnológicos adotados no âmbito dos procedimentos médicos, foi em um evento que Dr. Mirandolino teve contato com uma técnica que lhe despertou total interesse. Adquiriu a maior quantidade de material para aprofundar os estudos acerca da técnica, e afirma: Eu tinha o título de doutor em cirurgia, eu era urologista e tinha o título de mestre em Nefrologia, então eu ia começar a trabalhar em vesícula, azar... não é Urologia, mas eu aprendo por aqui e depois eu faço o meu caminho. Sabedor de que o conhecimento não é construído de forma isolada, procura por parceiros para o novo desafio. Como não havia uma sistematização sobre o procedimento, com base em seus estudos, parte para aplicações práticas, e em parceria com outro médico e o apoio de uma empresa de equipamentos, inicia alguns testes com animais e depois, quando todos os ajustes já tinham sido devidamente providenciados, passou a usar a técnica da Videocirurgia em humanos, obtendo sucesso. O curioso é que os urologistas resistiam não demonstrando interesse pela nova técnica, mas Dr. Miran160


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dolino e seus parceiros conseguiram adeptos de vários outros campos da Medicina para essa nova técnica. Mais uma oportunidade se descortinava, principalmente para que aprimorasse sua técnica com base no compartilhamento com diferentes pontos de vista dos vários profissionais que participavam de seu curso, mostrando a sua capacidade de persuasão. O sucesso aumentou em igual proporção da intensidade das críticas à nova técnica. Segundo Dr. Mirandolino, esse foi um momento muito difícil, pois diversos colegas urologistas não concordavam com seus procedimentos. Recebi muitas críticas, em jornal, em televisão, em revista, da minha conduta que eu estava fazendo treinamento ‘in anima nobili’, falavam que eu estava sendo aventureiro e que aquela técnica não dava certo. Mas eu tinha convicção de que eu estava certo. A minha convicção e o desejo de fazer e de ir adiante, fez com que aquilo virasse uma meta. Para Dr. Mirandolino não restava dúvidas de que essa nova técnica contribuiria significativamente para com os pacientes, principalmente pelo fato de ser segura e de oferecer boas condições para a recuperação pós-cirúrgica. Mais uma oportunidade se configurou na transferência para o estado de Goiás, quando conseguiu es161


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truturar seu curso, sendo considerado hoje o mais bem organizado, em volume, em qualificação de alunos, enfim, uma referência mundial. Dr. Mirandolino fala com orgulho: O cursinho lá de Guaporé continua até hoje. Definitivamente o empreendedor consolidava sua marca, sua experiência, ampliando seus horizontes, tendo alunos de várias partes do mundo e ampliando as parcerias internas. Dr. Mirandolino segue ampliando suas possibilidades e criando oportunidades, associando-se ao Colégio Brasileiro de Cirurgiões: Eu me associei à SOBRACIL, fui inclusive, presidente nacional da SOBRACIL, que é uma sociedade de Videocirurgia. Fui presidente da seccional do Rio Grande do Sul. Com algumas mudanças ocorridas na Santa Casa de Porto alegre, Dr. Mirandolino foi convidado a ocupar um cargo de chefia, estabelecendo como meta tornar a Santa casa um centro de referência internacional. Esse foi um momento de muita dificuldade, afinal, para tanto, teve que usar sua capacidade de persuasão para convencer um colega, Dr. Juarez que era de sua total 162


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confiança, para sensibilizar toda a equipe no sentido de aceitar e entender seu papel, nesse, que consistia em um desafio de todo o grupo, afinal estava em jogo a imagem da equipe e da entidade. A primeira parte do trabalho foi reorganizar o grupo, uma vez que se tratava de algumas unidades que prestavam serviços na área de saúde, depois, captar novos recursos humanos e especializar os que lá atuavam, na tentativa de estabelecer um padrão de atendimento. Dr. Mirandolino foi franco, o desafio ainda estava à frente, uma vez que um grupo das dimensões da Santa Casa tem sua complexidade, exigindo, por parte de seus gestores, a intensa busca pela excelência. Empreendedores são grandes líderes, pois sabem valorizar as competências de sua equipe. Corroborando com a ideia, Villaça (2002, p. 13-14) afirma: Para ser um bom líder é necessário entender de gente. Não há escapatória, empresas são construídas por pessoas e não por máquinas. A princípio, recursos tecnológicos todos têm, mas a principal vantagem competitiva é o valor que cada um de nós pode agregar à organização e ao seu trabalho. Por isso que o líder é um profissional capaz de destacar e “retirar” as melhores qualidades de cada indivíduo e, transformá-las em resultados.

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No tocante à Videocirurgia, hoje é reconhecida no Brasil, na América Latina e, agora, com alguns convites, Dr. Mirandolino tem a certeza de que em alguns outros países sua técnica tende a ter boa acolhida. Ele tem divulgado a técnica em alguns eventos mundiais, como na China, Itália, Portugal, França entre outros. Como já registrado, em sua trajetória, Dr. Mirandolino se apoiou muito na família, dependendo dos rendimentos de sua esposa, ainda namorada, para concluir o curso de Medicina. Orgulhoso reverencia a esposa, os filhos e netos. Para ele, a união familiar é vital, influência de sua tia e dos valores construídos durante sua vida. E afirma: Minha mulher se sacrificou muito para a minha formação, hoje ela está fazendo Artes Plásticas, assim, sem compromisso nenhum. Em todas as viagens que ela quiser, vai comigo [...] hoje a gente consegue fazer muita coisa, graças a Deus, financeiramente a gente consegue dar esse retorno pelo sacrifício feito durante aquele período que eu mais precisava. Além disso, Dr. Mirandolino se orgulha imensamente de ter inovado na Medicina após criar sua técnica. Aprendeu com a vida, com a carreira, com inúmeras pessoas que fizeram parte de sua rotina.

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Eu desenvolvi uma técnica cirúrgica chamada Prostatectomia de Mirandolino. Foi uma técnica criada a partir dos estudos sobre Videocirurgia [...] ninguém havia publicado nada sobre cirurgia para doença benigna, só falavam em câncer, câncer e câncer. E nós tínhamos a técnica, então eu disse: ‘eu vou desenvolver minha técnica para mim, jogar meu nome, deixar meu nome marcado. Isso é meu, eu que vou fazer’. E eu fiz e consegui esse reconhecimento. Eu consegui uma publicação no Journal of Urology em 2002 e outra publicação no European Urology em 2006. Disso me orgulho muito. Empreendedores são pessoas que têm sonhos e transformam esses sonhos em realidade. Pessoas que se destacam na multidão. Eles não se conformam com os paradigmas existentes, vivem buscando criar seu próprio caminho. Os empreendedores são pessoas diferenciadas, que possuem uma motivação singular, gostam do que fazem, não se contentam em ser mais um na multidão, querem ser reconhecidas, e admiradas, referenciadas e imitadas, querem deixar um legado (DORNELAS, 2005, p. 59).

Dr. Mirandolino recorda com muita clareza as críticas que recebeu, alegando que as pessoas não se

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abriam para inovações, havia muita resistência para o novo. Ele conta que muitos renomados médicos gaúchos falavam que: A técnica que eu fazia era uma técnica inadequada, que não levava a nada e, escreveram isso em jornal, revista, televisão, falando que eu era uma pessoa que não tinha boas intenções [...] eu recebi até o apelido de ‘Câncer da Laparoscopia do Brasil’, ‘O Câncer da Urologia’. Tudo isso foi uma grande lição, serviu de combustível para que continuasse com mais empenho. Eu passei a usar aquilo como argumento a meu favor. Hoje, nos Estados Unidos, 90% das cirurgias são feitas por Videolaparoscopia, eles ainda têm uma vantagem, pois fazem uso de robô para o procedimento. Eu acho que não há como resistir, pois a tecnologia está avançando e ajudando muito nos tratamentos de saúde. Em todas as áreas, aqueles que resistem, ficam parados no tempo. Dr. Mirandolino argumenta que correu muitos riscos desde o início da carreira, mas um dos episódios que marcou muito aconteceu quando foi convidado a fazer uma cirurgia durante um congresso na Europa.

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Não era fácil e não tinha credibilidade, fui convidado a ir, fazer na Europa, uma cirurgia de cálculo coraliforme completo por Laparoscopia, por essa técnica. Ninguém fazia, praticamente era uma coisa assim: ‘Bom, mas o Mariano vai fazer isso aí’. ‘Isso aí não se faz, ou faz por cirurgia aberta, ou faz com Criocirurgia com congelamento’. ‘Ninguém faz isso aí’. ‘Isso aí é loucura’. E eu tinha convicção de que aquilo era uma das alternativas que poderia ser usada. E eu fui lá e fiz. Fiquei muito satisfeito porque eu consegui, venci essa etapa, eu consegui fazer. Então foi uma cirurgia ao vivo, de demonstração, feita em um congresso internacional onde ninguém acreditava que eu ia fazer. Como todo empreendedor Dr. Mirandolino correu riscos, pois sua carreira e seu nome profissional estavam em jogo. Para McCelland (1972 apud LENZI, 2002) o empreendedor corre riscos calculados, avalia e discute as alternativas, procurando manter sempre o controle da situação para reduzir os riscos e se envolvendo em situações de riscos moderados.

Referências BUENO, J. L. P.; LAPOLLI, E. M. Empreendedorismo tecnológico na Educação: Vivencias Empreendedoras. Florianópolis: UFSC, 2001. CUNHA, C. J. C. de A.; FERLA, L. A. Iniciando seu Próprio Negócio. Florianópolis: Instituto de Estudos Avançados, 1997.

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DOLABELA, F. Oficina do empreendedor. Rio de Janeiro: Sextante, 2008. DORNELAS, J. C. A. Empreendedorismo: transformando ideias em negócios. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005. FILLION, L. J. Empreendedorismo: empreendedores e proprietáriosgerentes de pequenos negócios. Revista de Administração, v. 34, n. 2, p. 05-28, São Paulo, abril/junho, 1999. LAPOLLI, É. M. et al. Organizações de aprendizagem: fundamentos para a gestão empreendedora. ENEMPRE – ENCONTRO NACIONAL DE EMPREENDEDORISMO, 3. 2001, Florianópolis.Anais... Florianópolis: EGC, 2001. LENZI, F. C. Perfil comparativo de empreendedores do setor de serviços: estudo em restaurantes de Balneário Camboriú. 2002, 113 f. Dissertação (Programa de Pós-Graduação em Administração) – Universidade Regional de Blumenau. Blumenau, 2002. MALHEIRO, R. de C. (org.). Viagem ao mundo do Empreendedorismo. 1. ed. Florianópolis: IEA, 2003. ROSA, S. B.; MORALES, S. A. Perfil Empreendedor: uma representação gráfica. Metodologia de medida quantitativa de competências empreendedoras. Revue Internationale de Psychosociologie, Paris, 2010. VILLAÇA, S. P. O perfil do líder no século XXI: estudo de caso em uma instituição de ensino. Niterói, 2002.116 p. Dissertação (Mestrado em Sistema de Gestão) – Universidade Federal Fluminense. Rio de Janeiro, 2002.

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