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ADRIANA VARGAS / DIVULGAÇÃO / CP

2 | CORREIO DO POVO RURAL | 18/12/2016

Tecnologia no Rincão Reunidos em associação, produtores familiares partiram para o melhoramento genético de seus rebanhos e hoje comemoram resultados como o aumento do peso do terneiro ao desmame

O

fertados de forma conjunta, os animais da Associação dos Produtores do Rincão do 28 fazem sucesso na Feira de Terneiros de Alegrete. Na última edição, saiu deles o lote mais pesado, com média de 238 quilos por animal. O valor por cabeça deste mesmo lote ficou em R$ 1.540. Os animais são criados por 13 famílias de pecuaristas familiares da localidade de Rincão do 28, que há dez anos passaram a receber acompanhamento técnico de entidades do setor. Segundo a agrônoma Adriana Vargas, da Fundação Maronna - uma das entidades envolvidas na iniciativa -, o trabalho com os produtores da região teve início no final de 2006, quando se verificou que alguns deles não atendiam ao chamamento do órgão para eventos técnicos e dias de campo. Na ocasião, um diagnóstico feito junto a essas famílias constatou que a principal atividade delas era a produção de terneiros, porém com um baixo nível de tecnologia. A partir de então, diversas atividades, em conjunto com Emater, Senar e associações de criadores foram desenvolvidas com o objetivo de dar início a um projeto de melhoramento genético. “Não havia padrão nem de peso, nem de tamanho, nem de raça”, recorda Adriana. Além do problema da baixa renda, a localidade convivia com o envelhecimento da população, já que os jovens migravam para a cidade. Em 2009, os produtores da região começaram a trabalhar com a inseminação artificial, com apoio da Associação Brasileira de Hereford e Braford (ABHB). “Como resultado disso, houve rapidamente uma melhora no padrão racial dos terneiros”, acrescenta a agrônoma. Passados dez anos do início do projeto, Adriana observa que houve ganhos tanto na renda - as vendas na feira de terneiros passaram de R$ 86 mil, em 2010, para R$ Em Alegrete, melhoria genética obtida por pecuaristas familiares pode ser comprovada pelo bom desempenho do rebanho nas feiras de terneiros

350 mil em 2016 - como na autoestima dos pecuaristas. Alguns deles, inclusive, já conquistaram premiações em eventos. Outro aspecto importante é a participação das mulheres, que, segundo a agrônoma, viviam distantes do processo produtivo e hoje assumem tarefas como a inseminação artificial e o controle de custos, entre outras. O veterinário Sidnei dos Anjos integra o grupo de produtores que desenvolveram a pecuária familiar no Rincão do 28. À propriedade que herdou dos pais, com 38 hectares, ele acrescentou mais 300 hectares de área arrendada, onde cria cerca de 200 animais da raça Braford. A equação garante a ele um índice de 0,65 animal por hectare, próximo do que é preconizado pelos técnicos que prestam assistência aos criadores da região. O cálculo ajuda a equilibrar a oferta de pastagens, já que a base alimentar dos bovinos da região é o campo nativo. “Antes criávamos muito mal, sem ter resultados. Comida era o que menos tinha nos campos”, explica. Após iniciar a criação de gado de corte com a raça Charolês, o pecuarista migrou para o Braford, com o apoio da ABHB, que doa sêmen aos produtores que integram o projeto. O sucesso do trabalho de melhoria genética pode ser comprovado pelos números. O peso do terneiro ao desmame passou de 185 quilos para 215 quilos, segundo dos Anjos. Além de manter o foco na melhoria genética, o pecuarista acredita que o bom desempenho verificado pelos pecuaristas do Rincão do 28 pode estimular outros produtores a buscar qualificação. “O objetivo não é só fazer aquela região crescer, mas que sirva de exemplo para outras regiões também”, afirma.

CARGA DEVE SER MENOR NO FRIO Embora a pecuária de corte tenha se mostrado eficiente em pequenas propriedades, não há uma fórmula pronta quanto à quantidade indicada de animais por hectare. Segundo a coordenadora de pecuária familiar da Emater, Ana Paula Brunetto, o recomendado é que a carga utilizada no outono e no inverno, quando há menor oferta de forragem, seja menor que a primavera e do verão, quando a produção de comida aumenta. Em contraponto à agricultura, o pecuarista familiar ocupa áreas consideradas “marginais”, com predomínio de campo nativo, onde a declividade e a pedregosidade do solo impedem o cultivo de grãos. Ana Paula ressalta que as maiores áreas preservadas do bioma

Pampa estão sob a tutela destes pecuaristas. “Isso quer dizer que eles são responsáveis pela manutenção de uma grande área do Pampa”, explica. Na opinião dela, o pecuarista familiar tem se mostrado cada vez mais aberto à busca por informações e novas tecnologias, o que reflete na formação de um rebanho padronizado, com bom acabamento de carcaça e qualidade no produto final. “A tendência é que o rebanho cada vez fique mais de acordo com o que o mercado exige hoje, porque o que faz o produtor buscar o sêmen de um determinado touro é o fato de o açougue, o supermercado e o restaurante estarem pedindo pela carne de qualidade”, acredita.


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