O uso de blogs como recurso didático

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ABIGAIL NEHAMA DAZCAL ROIZMAN

O USO DE BLOGS COMO RECURSO DIDÁTICO NA FORMAÇÃO DE LEITORES CRÍTICOS

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo São Paulo Agosto de 2008


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ABIGAIL NEHAMA DAZCAL ROIZMAN

O USO DE BLOGS COMO RECURSO DIDÁTICO NA FORMAÇÃO DE LEITORES CRÍTICOS

Relatório final de pesquisa desenvolvido em nível de Iniciação Científica e apresentado como exigência parcial para aprovação no Departamento de Fundamentos da Educação, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Orientadora: Profª. Drª. Lucila Pesce.

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo São Paulo Agosto de 2008


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Dedico este trabalho Ă s minhas filhas e a meu marido.


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Agradecimentos

Agradeço a Deus, pela vida maravilhosa. Minha mãe e meu pai, pelo exemplo de vida. Meu marido, pelo companheirismo. Minhas filhas, pela alegria que me proporcionam. Professora Lucila, por sua orientação dedicada e alentadora. Aos entrevistados, pelo tempo e conhecimento disponibilizado. Minhas amigas, Adriana Justino e Adriana Cosenza, que me apoiaram e me apóiam.


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ROIZMAN, Abigail Nehama Dazcal. O uso de blogs como recurso didático na formação de leitores críticos. 2008. 126 p. Iniciação Científica.

Resumo

Este trabalho aborda questões da educação no ciberespaço, priorizando o blog como recurso didático. O objetivo do trabalho era traçar as principais características do uso do edublog e analisar em que medida estas características permitem a união do universo do aluno ao universo da escola, com a preocupação maior de formar leitores críticos do mundo, partindo de uma perspectiva sóciohistórica de educação. Primeiramente levantou-se o marco teórico para, então, partir para a coleta de dado, através de entrevistas com professores edublogueiros. Percebeu-se que o uso do blog como recurso didático apresenta diversas vantagens, por disponibilizar recursos de interação, recursos áudiovisuais e por ser uma interface que está presente no cotidiano do educando. Nesse sentido, um dos desafios que se impõe à formação docente é o letramento digital, que abarca não somente fluência tecnológica, como também uma visão crítica deste recurso, no âmbito educacional. Tudo isso implica uma constante atualização, por parte do professor, o que pode vir a ser um fator de desmotivação do mesmo, caso este ator social de fato não tome consciência da relevância desta vertente, na sua formação profissional.

Palavras chave: leitura, ciberespaço, edublog.


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Sumário

Introdução. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10

Apresentação / origem do problema de investigação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .10

Problema de pesquisa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .11

Objetivo Geral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11

Objetivos Específicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .11

Justificativa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12

Metodologia. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .13

Capítulo 1. Leitura na Escola . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .15

1.1 O que é ler . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19 1.2 Como lemos? – O processo de leitura . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20 1.3 Dificuldades na compreensão leitora . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .23 1.4 Ensino de estratégias de aprendizagem e de leitura . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .25 1.5 Concepção escolar da leitura. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28

Capítulo 2. Ciberespaço. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .32

2.1. Breve panorama histórico. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32 2.2. Internet e Ciberespaço. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33 2.3 A comunicação no Ciberespaço. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .35 2.3.1. Das sociedades orais ao ciberespaço. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35


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2.3.2. A linguagem hipermídia. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36 2.3.3. O leitor do ciberespaço. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .37

Capítulo 3. Educação e Computadores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .39

3.1. Condição pós-moderna. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39 3.2. Papel da educação no contexto pós-moderno. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41 3.3. O computador no processo de ensino-aprendizagem. . . . . . . . . . . . . . . . . . .45 3.3.1. O computador como meio para construção e representação de conhecimento. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .47 3.3.2. O computador para a busca e o acesso à informação. . . . . . . . . . . . . . . . 49 3.3.3. O computador como facilitador da comunicação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50 3.4. O Blog. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51 3.4.1. Breve histórico. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51 3.4.2. O quê e como são blogs?. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . 52 3.4.3. Blogs como material didático. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53

Capítulo 4. Análise dos dados coletados. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .57 4.1. Tipos de blogs usados nas escolas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .57 4.2. Blog, uma ferramenta fácil?. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .60 4.3. Os professores e o blog. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .62 4.4. Vantagens e desvantagens do uso de blogs na educação. . . . . . . . . . . . . . .64

Considerações finais. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67

Referência bibliográfica. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69

Apêndice 1 – carta de esclarecimento da pesquisa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72

Apêndice 2 – termo de consentimento livre esclarecido. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73


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Apêndice 3 – roteiro de entrevista. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74

Apêndice 4 – transcrição 1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .77

Apêndice 5 – transcrição 2. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 108


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A escrita abriu espaço de comunicação desconhecido pelas sociedades orais, no qual tornava-se possível tomar conhecimento das mensagens produzidas por pessoas que encontravam-se a milhares de quilômetros, ou mortas há séculos, ou então que se expressavam apesar de grandes diferenças culturais ou sociais. A partir daí, os atores da comunicação não dividiam mais necessariamente a mesma situação, não estavam mais em interação direta.

Pierre Lévy

Apresentação / origem do problema de investigação

Ao se pensar nos “por quês” da existência da escola nos dias de hoje, trazemos à tona questões filosófica profundas que são discutidas desde os tempos de Rousseau. Questões como a necessidade de adequação do conteúdo teórico com a práxis docente, ou da relevância do professor no contexto educacional como um todo. Todavia, a sociedade vigente passa por um momento importante de transformações do sistema educacional, na qual mudanças jamais experimentadas trazem novas incertezas, ou desafios. Em plena era digital aulas fundamentadas exclusivamente em um quadro negro e em algumas bibliografias podem correr o risco de se tornarem um tanto incoerentes e, por vezes, anacrônicas. Após observações minhas em estágios, percebi que as escolas utilizam o computador basicamente para duas funções: como ferramenta de edição de textos ou planilhas e para pesquisas documentais na internet. Ao mesmo tempo, observei que os alunos, por sua vez, utilizam o computador fundamentalmente para: jogos, chats*1, comunidades virtuais*2 e para “baixarem” músicas.

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Um chat, que em português significa "conversação", é um neologismo para designar aplicações de conversação em tempo real. Esta definição inclui programas de IRC, conversação em sítio web (webchat) ou mensageiros instantâneos.( http://pt.wikipedia.org/wiki/Chat) 2 Espécie de agrupamentos humanos constituídos no ciberespaço ou no ambiente virtual (RHEINGOLD, 1998).(citado no artigo de Cynthia Harumy Watanabe Corrêa: http://www.universia.com.br/html/materia/materia_edjb.html)


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Após me interessar por este tema, descobri que existe um canal de interligação entre estes dois universos distintos – os blogs*3 pedagógicos. Estes blogs, desenvolvidos pelos próprios professores, parecem atrair a atenção dos alunos para os conteúdos escolares. Desta forma meu projeto de pesquisa parte da problemática a seguir.

Problema de Pesquisa

Em que medida o uso de blogs como material didático pode contribuir com a formação do aluno como leitor crítico?

Objetivo Geral

Traçar as principais características do uso do blog pedagógico e analisar em que medida estas características permitem a união do universo do aluno ao universo da escola, com a preocupação maior de formar leitores críticos do mundo.

Objetivos Específicos

Entrar em contato com os/as autores/ras dos blogs, solicitando um primeiro encontro, para que apresentem a proposta do blog e suas preocupações principais.

Marcar visitas nas salas de aula destes professores, para proceder à pesquisa de campo e entender como se dá a prática da docência na sala de aula e a relação educador / educando.

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Fazer entrevistas com alguns educandos a respeito dos blogs.

Um weblog, blog ou blogue é um página da Web cujas atualizações (chamadas posts) são organizadas cronologicamente (como um histórico ou diário). Estes posts podem ou não pertencer ao mesmo gênero de escrita, referir-se ao mesmo assunto ou ter sido escritos pela mesma pessoa. A maioria dos blogs são miscelâneas onde os blogueiros escrevem com total liberdade. (http://pt.wikipedia.org/wiki/Blog)


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Analisar o material coletado na pesquisa de campo, levantando categorias de análise mediante levantamento de características convergentes e divergentes entre os depoimentos dos sujeitos de pesquisa, acerca dos blogs e os percebendo à luz do referencial teórico.

Discutir os resultados finais da pesquisa, com considerações conclusivas e/ou novas questões a respeito da relevância dos blogs à formação do educando como leitor crítico.

Justificativa O tema foi escolhido a partir de minha análise realizada no estágio obrigatório do curso de Pedagogia da PUC/SP, quanto ao uso das tecnologias da informação e comunicação (TIC) na escola. Apesar das incalculáveis mudanças que a sociedade tem passado graças às TIC, tais como técnicas avançadas de medicina computadorizada, redes complexas de comunicação internacionais, mudanças nos processos de produção industrial e assim por diante, a escola parece ser ainda uma das instituições que mais tem resistido à influência destas novidades. É compreensível de certa forma esta posição, pois uma das grandes mudanças dos últimos tempos foi a criação dos Cursos de Educação à Distância, que ameaça descaracterizar o papel sociabilizador da educação presencial. Porém, não se pode fechar os olhos para o que ocorre fora da escola. Nos estágios obrigatórios, observei que as escolas têm sim aulas de informática e que, inclusive, os professores de sala (não os especialistas da sala de informática) encorajam os alunos a usar os computadores para tarefas curriculares. Porém, nestes dois casos, o computador é usado principalmente para desenvolver habilidades com os programas de edição de textos ou para fazerem pesquisas documentais pela internet. Contudo, assim que acabam de fazer o que lhes é solicitado pelos professores, os educandos rapidamente


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visitam sites*4 de jogos, ou chats ou baixam músicas, deixando claro que é isto que lhes chama a atenção. Desta forma passei a pesquisar mais a respeito e em maio de 2006 participei do 13º EDUCADOR – Congresso Internacional de Educação. Nesta oportunidade, participei de uma palestra a respeito de novas tecnologias. A palestrante, Betina Von Staa, falou a respeito de blogs pedagógicos. Fiquei bastante impressionada com a capacidade deste recurso de unir o universo escolar e o universo do educando. Escolhi, portanto, este tema para poder me aprofundar nesta área de pesquisa emergente no campo da educação e trazer a discussão da necessidade de se buscar canais de comunicação entre educadores e educandos, de forma que se garanta a busca por uma leitura crítica do mundo.

Metodologia

Com base nos objetivos gerais desta pesquisa, esta se classifica como pesquisa exploratória. Para Richardson (1999), a pesquisa exploratória é indicada quando o pesquisador está começando o estudo de determinado tema. Inclui um questionário semi-estruturado e lida com uma amostra não necessariamente representativa. Ainda para o autor, os resultados da pesquisa exploratória permitem o aprofundamento do estudo sobre o tema. De acordo com Antônio Carlos Gil (2002), um dos objetivos da pesquisa exploratória é o aprimoramento de idéias. As pesquisas exploratórias envolvem o levantamento bibliográfico, entrevistas com pessoas que experienciaram o problema pesquisado e a análise de exemplos que auxiliam na compreensão do problema. Piovesan (?), fundamenta a pesquisa exploratória em três pressupostos: partir de conhecimentos prévios, aprofundar tais conhecimentos e a conquista de respostas racionais, que dependem de perguntas também racionais. O autor 4

Um site (lê-se como "sai-te") ou sítio é um conjunto de páginas Web, isto é, de hipertextos acessíveis geralmente pelo protocolo HTTP na Internet. (http://pt.wikipedia.org/wiki/Site).


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considera que a formulação de perguntas relevantes está diretamente relacionado ao conhecimento que o pesquisador adquiriu previamente sobre o tema. Ou seja, para formular perguntas que provoquem respostas pertinentes, requer o estudo aprofundado do que se pesquisa. Piovesan (Ibidem) ainda acrescenta uma nova perspectiva para a pesquisa exploratória, que é a de ir além do refinamento dos dados da pesquisa e o desenvolvimento e apuro das hipóteses. Para o autor é ainda importante que se corrija o viés do pesquisador, no sentido de que este mergulhe no contexto social no qual a pesquisa esta inserida, e assim evite distorções na compreensão das respostas. Tal movimento metodológico coincide com o que pretendo desenvolver em minha pesquisa. Às entrevistas alia-se a observação livre, a partir de anotações de campo de natureza descritiva e reflexiva. A análise interpretativa dos dados observados na pesquisa ocorrerá fundamentada no marco teórico e na minha experiência pessoal.


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1. LEITURA NA ESCOLA “En resolución, él se enfrascó tanto en su lectura, que se le pasaban las noches leyendo de claro en claro, y los días de turbio en turbio, y así, del poco dormir y del mucho leer, se le secó el cerebro, de manera que vino a perder el juicio. Llenósele la fantasía de todo aquello que leía en los libros, así de encantamientos, como de pendencias, batallas, desafíos, heridas, requiebros, amores,

tormentas

y

disparates

imposibles,

y

asentósele de tal modo en la imaginación que era verdad toda aquella máquina de aquellas somadas invenciones que leía, que para él no había otra historia más cierta en el mundo.” Miguel de Cervantes

Para poder falar em formação de leitores críticos, é necessário que antes se compreenda quais princípios fundamentam esta concepção. É por esta razão que este item do marco teórico abordará a questão da leitura e do leitor crítico. O verbo ler tem origem na palavra legere5, do latim, que significa eleger, colher, escolher. Lê-se aquilo que se opta ler. Será? Na escola, a leitura é parte das obrigações do educando. Em exercícios de lógica matemática, em leituras de documentos históricos ou em suas agendas pessoais, os educandos devem ler, seja por exigência dos professores, seja para se interarem dos acontecimentos do cotidiano. Esta realidade não se restringe à escola, basta sairmos às ruas e veremos uma infinidade de leituras obrigatórias, como avisos de desvio de trajeto, placas de transito, cartas de aviso em 5

Significado extraído do texto de Aires A. Nascimento, disponível no site http://ler.letras.up.pt/uploads/ficheiros/3765.pdf (acessado em 09/2007)


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condomínios e outros. Dentro ou fora da escola, a leitura nem sempre é uma escolha. Josette Jolibert (1994), em seu livro “Formando crianças leitoras”, apresenta em um capítulo exemplos de diversas situações de leitura as quais os alunos estão expostos em seu cotidiano, principalmente na escola. São leituras “pra valer”, que atendem a um interesse imediato do leitor, o que acaba por atribuir maior significado à mesma. Jolibert as classifica nas seguinte situações: •

Ler para viver com outros no quadro de uma vida cooperativa. Na sala de aula recorre-se constantemente aos escritos que

organizam a vida cotidiana (quadros de presença, calendários, rotinas...) ou que se relacionam aos projetos de trabalho (programação do dia, da semana, do mês, questões tratadas em reuniões...). Na escola as solicitações de leitura são diárias, seja em circulares que avisam casos de piolhos, em convites para algum evento, alertas sobre os cuidados para não sujar a escola e assim por diante. •

Ler para comunicar com o exterior. Quando uma mãe envia uma participação do nascimento, outros enviam receitas de bolo, a prefeitura envia um comunicado de uma manifestação local, a CET6 envia manuais de conduta no transito e outros.

Ler para descobrir informações Não estão necessariamente ligadas aos conteúdos escolares, estão muito mais ligadas à uma curiosidade específica que a criança tem sobre determinado assunto, como a leitura do mapa do metrô, a leitura sobre o nome de dinossauros a venda em uma loja, leitura de

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Companhia de Engenharia de Tráfego.


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calendários para saber o número de dias que faltam para a chegada da avó, etc. •

Ler para fazer Aqui estão envolvidas várias situações: Para brincar, como regras de jogos, jogos com fichas de leitura etc. Para construir, como livros de instruções de artesanatos, regras para montar uma jaula etc. Para levar a bom termo um projeto-empreendimento, como tarefas específicas, como por exemplo, saber como criar camundongos, fazer um teatro de sombras e assim por diante.

Ler para nutrir e estimular o imaginário Trata-se de contos, poesias e literatura infantil, que pode vir a se desenvolver em uma aula, teatro que se inspire na leitura realizada.

Ler para documentar-se Quando a intenção é simplesmente informar-se com mais detalhe sobre

determinado

assunto,

como

vida

em

outros

países,

aquecimento global, uma profissão etc.

Seja “pra valer” ou não, por escolha própria ou não, a leitura não é mais um luxo, mas uma necessidade. É obrigação do Estado garantir à população acesso ao mundo letrado, obrigação esta que deve ser outorgada principalmente ao sistema público de ensino, obrigação de ensinar apropriada e efetivamente. Trate-


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se de um direito de todo cidadão, como nos lembra Magda Soares (2005) e não fator imprescindível ao exercício da cidadania7. A escola brasileira tem sido alvo constante de críticas quanto à sua eficiência no ensino da leitura e escrita. Marisa Lajolo (2005) mostra que de fato somos herdeiros de uma tradição educacional pobre e improvisada. A formação dos professores tem sido historicamente precária e deve ser re-avaliada para se pensar na melhoria da qualidade da educação brasileira. Especificamente tratando da questão da leitura, Lajolo coloca: O professor de Português deve dispor de uma noção ampla de linguagem, que inclua seus aspectos sociais, psicológicos, biológicos, antropológicos e políticos. Ele deve ser usuário competente da modalidade culta da Língua Portuguesa. Deve, nesse sentido, ser uma espécie de poliglota: precisa dominar competentemente várias modalidades de linguagem de forma que, se disser “nóis vai” e se escrever “paçarinho”, irá fazê-lo por opção consciente e não por desconhecimento de outras opções (ibid, p. 21).

É nesse sentido que Telma Weisz (2006) alerta que a pura intuição não é mais suficiente para guiar o trabalho do educador. Para ela, é a partir do domínio das teorias epistemológicas que o educador sabe analisar com maior precisão o processo de aprendizagem do aluno. Sem tal domínio, o educador não sabe o quê procurar para poder superar. É como uma foto fora de foco vê-se o todo, mas não se conhece as especificidades. Sabemos que não basta conhecer técnicas específicas sobre ensino de leitura para formar jovens leitores fluentes, críticos e que sintam prazer pela leitura, é preciso enfrentar a mentalidade pós-moderna que permeia a sociedade contemporânea. Mas é certo também que sem ao menos ter o conhecimento das

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No capítulo “Alfabetização e cidadania”(1998), Magda Soares tenta mostra que não existe uma relação linear entre alfabetização e cidadania. Para a autora é fundamental que se compreenda que o exercício e a conquista da cidadania não dependem imprescindivelmente da leitura e da escrita, e que esta visão acaba por ocultar as causas mais profundas da exclusão, que são ‘as condições materiais de existência a que são submetidos os “excluídos”, as estruturas privatizantes do poder, os mecanismos de alienação e de opressão, tudo isso resultando na distribuição diferenciada de direitos sociais, civis e políticos às diversas classes e categorias sociais’.


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técnicas específicas e de todas as teorias que as envolvem, nada se poderá fazer para lutar por uma juventude mais culta, intelectualizada e crítica. Neste item do marco teórico abordaremos alguns aspectos fundamentais para compreendermos a leitura na escola: o que é ler, como lemos, dificuldades na compreensão leitora, ensino de estratégias de leitura e concepção escolar da leitura.

1.1.

O que é ler? Para definir esta ação recorreremos a diferentes autores. Solé (1998) define

o ato de ler como sendo um processo de interação entre leitor e texto para satisfazer os objetivos que guiam a leitura. Portanto, para a autora, necessariamente o ato de ler envolve uma ação e um objetivo pré-estabelecido por parte do leitor. Para tanto, a leitura só ocorre quando há compreensão da linguagem escrita, o que envolve manejo das habilidades de decodificação e aportar ao texto os objetivos do leitor, que envolve idéias e experiências prévias. Jolibert (1994) acredita que ler é “atribuir diretamente um sentido a algo escrito”. Ou seja, ao se referir a diretamente quer excluir a intermediação da decifração e da oralização. Para a autora, ler implica o questionamento de algo escrito, a partir de uma expectativa real numa situação de vida verdadeira, “que nada tem a ver com uma decifração linear e regular, que parte da primeira palavra da primeira linha para chegar à última palavra da última linha” (ibid, p.15) e que varia de leitor para leitor, de situação para outra. Ao encontro destas duas definições está a definição que Paulo Freire (2006) atribui ao ato de ler. Para Paulo Freire é de fundamental importância que se compreenda que a leitura de mundo precede a leitura da palavra. Com isto, o autor coloca que é de fundamental importância a leitura da palavra, sua decodificação, porém esta não pode significar uma ruptura com a leitura de


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mundo. Quando Jolibert afirma que “ler é ler escritos reais, que vão desde um nome de rua numa placa até um livro, passando por um cartaz, uma embalagem, um jornal, um panfleto, etc.” (JOLIBERT, 1994, p.15) está justamente colocando que a leitura de mundo deve estar em sintonia com a leitura da palavra. Porém, é importante que se compreenda que a leitura da palavra, por mais permeada

e

impregnada

desenvolvimento

das

que

está

habilidades

de

pela

leitura

de

decodificação

mundo, e

deve

requer ter

o

uma

intencionalidade, nem que inconsciente, por parte do leitor. O fruto desta leitura deve reavaliar a leitura de mundo anterior e criar uma nova leitura de mundo. Como explica Paulo Freire “a leitura do mundo precede a leitura da palavra e a leitura desta implica a continuidade da leitura daquele” (ibid, p. 20).

1.2.

Como lemos? - O processo de leitura

Entender como funciona o processo de leitura é relevante na medida em que traz elementos da psicologia que podem nos alertar contra práticas pedagógicas equivocadas, que, por vezes, acabam não só deixando de contribuir com a formação de bons leitores, mas também prejudica qualquer possibilidade de formação de um bom leitor. Ângela Kleiman (2004), apresenta aspectos cognitivos da leitura da perspectiva do processamento da informação, ou seja, os processamentos que ocorrem antes da compreensão semântica do texto lido. O processamento do objeto começa pelos olhos, que percebem o material escrito. Esse material passa a uma memória de trabalho que agrupa e analisa a


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partir da gramática implícita8 do leitor, sendo esta etapa denominada fatiamento. A memória de trabalho se utiliza da memória intermediária para acessar conhecimentos relevantes para a compreensão do texto que estão guardados na memória de longo prazo. Trindade (2002) coloca que os processos cognitivos presentes no ato da leitura são o processamento fonológico, a consciência sintática e a memória operativa, para por fim ocorrer a compreensão do texto, o que procede com a explicação de processamento da leitura dado por Kleiman. A autora divide o processo

de

leitura

em

decodificação,

especificamente

relacionado

ao

reconhecimento da palavra, e em compreensão, relacionado ao mecanismo de inferência e integração, que será aprofundado no próximo sub-capítulo. Trindade define decodificação da seguinte forma (ibid, p. 62): A decodificação é a transformação de um input impresso na forma lingüística correspondente. Quando lemos, as palavras são decodificadas através da identificação da sua forma ortográfica, mediante o acesso à palavra correspondente, presente no léxico mental ou seja, é feito o reconhecimento das palavras.

Solé (1998) traz o modelo interativo para explicar o processo de leitura. Segundo a autora, tal modelo agrupa as idéias levantadas pelos modelos hierárquicos ascendente – buttom up – e descendente – top down, superando-os. No modelo ascendente, segundo a autora, “o leitor, perante o texto, processa seus elementos componentes, começando pela letra, continuando com as palavras, frases... em um processo ascendente, seqüencial e hierárquico que leva à compreensão de texto” (ibid, p. 24). Neste modelo leva-se em consideração exclusivamente o ato da decodificação, acreditando que a leitura só é possível a partir da decodificação integral do texto. Solé critica tal modelo, alegando que este não pode explicar fenômenos como o fato de lermos muitas vezes sem percebermos erros tipográficos, ou de inferirmos informações.

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Segundo Kleiman (2004), é o conhecimento que o leitor tem por ser falante da língua lida.


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O modelo descendente, segundo Solé, afirma o contrário, o leitor não decodifica letra por letra, mas se utiliza de seus conhecimentos prévios e recursos cognitivos para “estabelecer antecipações sobre o conteúdo do texto, fixando-se neste para verificá-la” (ibid, p. 25). Neste caso, a leitura ocorre a partir de hipóteses e antecipações, para então ser verificado. Como bem coloca Solé, este modelo enfatiza o reconhecimento global da palavra em detrimento das habilidades de decodificação. No modelo interativo, defendido por Solé, o leitor utiliza simultaneamente o seu conhecimento do mundo e seu conhecimento do texto para construir uma interpretação sobre aquele, sem desprezar a necessidade de desenvolvimento de habilidades de decodificação. Kleiman também acredita que o modelo interativo seja o mais apropriado. Porém, acrescenta que o leitor iniciante usa predominantemente o modelo ascendente, e o professor deve mobilizá-lo a usar também o modelo descendente. Trindade (2002) também cita os modelos hierárquicos ascendente e descendente, mas, diferentemente de Solé e Kleiman, coloca que “hoje aceita-se que a influência dos processos ascendentes é mais decisiva na aprendizagem da leitura, dado que a investigação demonstrou que os maus leitores utilizam com eficácia os processos descendentes, para faciliar a decodificação”(ibid, p. 66). Vale chamar, mais uma vez, a atenção para a importância do conhecimento prévio do aluno, o que Paulo Freire chamou de leitura de mundo (2006). Ler o mundo significa representar simbolicamente as experiências vividas. No momento em que se lê a palavra, o leitor transforma os símbolos em representações mentais, que foram construídas em sua própria experiência de vida. Para Piaget, a leitura do mundo começa de forma sensorial-motora durante os primeiros 18 meses de vida. Esta leitura permite que o pensamento humano se desenvolva através de um sistema de esquemas mentais, que irá se transformando no processo de construção do conhecimento. Desta forma, quando o educando faz uma narração, ele estará fazendo uma “organização dos esquemas em processo


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de conceptualização” (CARRARA, 2004, p. 181). Em outras palavras, ele estará reconstituindo mentalmente ações vividas e interpretadas a partir de suas vivências, como já foi dito no parágrafo anterior. Ainda, no livro “Professora sim, tia não: cartas a quem ousa ensinar”, Paulo Freire alerta: O que me parece fundamental deixar claro é que a leitura do mundo que é feita a partir da experiência sensorial não basta. Mas, por outro lado, não pode ser desprezada como inferior pela leitura feita a partir do mundo abstrato dos conceitos que vai da generalização ao tangível. (2005, p.30).

É, portanto, uma relação inseparável entre experiência vivida e experiência estudada. Para que aflore a leitura crítica de mundo, o educador deve aproveitar as experiências sensoriais do educando, mas acrescentar, sem que isso signifique uma ruptura do processo de aprendizagem, o estudo de outras realidades não experimentadas pelo educando. Não é o fato de não ter experimentado a neve, que o educando não possa compreendê-la.

1.3.

Dificuldades na compreensão leitora

Uma das grandes reclamações ouvidas nos corredores acadêmicos por parte dos professores, está na falta de compreensão de texto que muitos alunos demonstram ter ao ingressar na faculdade. De que forma o professor pode diminuir a dificuldade que os jovens têm em compreender suas leituras? Antes de tudo, é necessário procurar entender quais são os fatores que determinam essa dificuldade de compreensão de texto. Trindade (2002) traz que são algumas as causas: •

Dificuldade ao nível da decodificação.

Incompreensão relativas às exigências da tarefa.


24

Pobreza lexical.

Reduzida capacidade mnésica.

Reduzidos conhecimentos prévios.

Escassez ou pouco domínio de estratégias de compreensão.

Escassez

de

estratégias

metacognitivas

para

controle

da

compreensão. É fundamental que o professor conheça as causas para poder atuar de forma pontual. Segundo Trindade (2002, p.70): das competências promotoras da compreensão, talvez a mais esquecida ao longo de todo o processo de ensino aprendizagem da leitura seja o controlo da própria compreensão, sem o que o leitor não pode ajuizar da correção com que está a processar a informação..

Quanto a esse controle, a estudiosa Trindade se refere à habilidade de identificar erros e inconsistências nos textos, reconhecendo que esses fatores dificultam a compreensão do texto. A autora atribui a dificuldade por parte dos educandos em adquirir tal habilidade aos estímulos equivocados de professores que costumam limitar as interpretações de texto a uma única interpretação. Ângela Kleiman (2004), ao explicar os aspectos do processamento da leitura,

chama

a

atenção

para

atividades

que

podem

dificultar

esse

processamento, acarretando em uma dificuldade de compreensão do texto. É um exemplo a atividade de leitura oral. Segundo a autora, esta atividade pode acarretar uma porção de erros. O primeiro é que a verbalização atrapalha os mecanismos visuais necessários para apreensão rápida do material escrito, uma vez que a verbalização fica atrás do olho, por ser a voz mais lenta. Outra questão é que a insistência na leitura oral acaba sobrevalorizando a exatidão na pronúncia de cada palavra, o que pode inibir o mecanismo de adivinhação, visto como uma das estratégias de leitura. Ainda, Kleiman acrescenta que muitas vezes, quando o aluno está realizando uma leitura oral, e troca a palavra que deveria ter sido lida por outra semelhante, isso não significa um erro de compreensão, apenas de decodificação.


25

Não significa que nunca se deva praticar a leitura oral, muito pelo contrário, no próximo sub-capítulo veremos as vantagens de eventuais leituras orais, mas o que se pretende mostrar é que o professor deve conhecer bem quais mecanismos envolvem o processo de leitura, para atuar consciente e efetivamente. Isabel Solé (1998) analisa que para a superação das dificuldades de compreensão, é necessário que o leitor seja ativo no processo de leitura. Para a autora é de fundamental importância que os leitores tenham claros seus objetivos para com a leitura, suas intenções, e que tenham algum conhecimento prévio do tema que envolve o texto a ser lido. Ela cita Baker e Brown (1984), que dizem que compreender não é uma questão de tudo ou nada, mas é relativa aos conhecimentos que o leitor dispõe sobre o tema do texto e os objetivos estipulados pelo leitor. Podemos, portanto, concluir que para enfrentar as dificuldades de leitura, devemos estar atentos aos processos cognitivos que a leitura requisita, e, assim, traçar estratégias que atendam a essas teorias.

1.4.

Ensino de estratégias de aprendizagem e de leitura

Partindo do conceito de estratégias de aprendizagem, colocado por Trindade (2002) estudaremos as estratégias de leitura. Para a autora, estratégias de aprendizagem são seqüências integradas de procedimentos ou atividades que são selecionadas para facilitar o aprendizado. São ações realizadas pelo educando, e não pelo professor. O professor deve ensinar como realizá-las, porém sem a ação do educando, a estratégia de aprendizado não se concretiza. Trindade (ibidem) separa as estratégias de aprendizagem em quatro tipos:


26

Estratégias repetitivas – exigem controle cognitivo baixo e pouco tempo de retenção da informação.

Estratégias elaborativas – exigem a interpretação do educando, para este elaborar algum quadro, mapa conceitual, esquema ou resumo do conteúdo estudado.

Estratégias organizativas – é uma estratégia difícil de ser ensinada, pois requer controle cognitivo superior, de muita abstração. Estas estratégias requerem uma organização do conteúdo estudado em parâmetros mais gerais, como linhas do tempo, divisão do conteúdo em hierarquias, modelos em termos de princípios e outros.

Estratégias regulativas – permite controlar e reajustar o processo de aprendizagem. Deve-se incentivar que os alunos, ao utilizarem esta estratégia, pensem em voz alta, para conscientizarem-se sobre o que pensam e como pensam. O professor pode fazer o mesmo para servir de modelo para os educandos.

Ângela Kleiman (2004) classifica especificamente as estratégias de leitura em

estratégias

cognitivas

e

estratégias

metacognitivas.

As

estratégias

metacognitivas são, segundo a autora, operações realizadas com um objetivo em mente, na qual existe controle consciente da compreensão leitora. Nestas operações estão ações de auto-avaliação constante da própria compreensão e intensionalidade na leitura. O leitor deve ser capaz de dizer quando não está compreendendo a leitura e por que razão está lendo. Por estratégias cognitivas, Kleiman define como leituras que se utilizam de operações inconscientes do leitor, sem um objetivo claro em mente para aquela leitura. As estratégias vão ocorrendo no decorrer da leitura sem que o leitor perceba que elas acontecem. Como Kleiman exemplifica “o fatiamento sintático é uma operação necessária para a leitura, que o leitor realiza, ou não, rápida ou cuidadosamente, dependendo das necessidades do momento, e provavelmente não poderá descrevê-la” (2004, p. 50).


27

Para a autora, o educador deveria, portanto, dentro desta visão de processo de leitura como conjunto de estratégias metacognitivas e estratégias cognitivas de abordagem do texto, ensinar estratégias de leitura na modelagem de estratégias metacognitivas e no desenvolvimento de habilidades verbais subjacentes aos automatismos das estratégias cognitivas. Por modelagem de estratégias metacognitivas, a autora entende dois aspectos relevantes ao trabalho do professor. O primeiro é que ele deve estar certo de que o aluno tem algum objetivo em mente para a leitura. Ele deve estar motivado por este objetivo. Desta forma, se em algum momento ele não compreender a leitura, ele não conseguirá atingir o seu objetivo. O segundo aspecto diz respeito à oferta de um universo textual amplo para o aluno, pois a autora explica que o leitor proficiente faz escolhas, baseando-se em predições quanto ao conteúdo do livro, e tais predições estão diretamente relacionadas às vivências prévias do leitor. Portanto, o professor deve buscar diversificar os materiais de leitura que disponibiliza a seus alunos, como textos publicitários, textos que discutam temas que os alunos mostraram interesse em algum determinado momento e outros. Por desenvolvimento de habilidades, Kleiman refere-se ao desenvolvimento de capacidades lingüísticas, que Jolibert (1994) colocará em seu livro como sete níveis de conceitos lingüísticos ou de indícios de leitura. São eles: 1. A noção de contexto – referindo-se ao contexto da situação e ao contexto textual. 2. Principais parâmetros da situação de comunicação – emissor, destinatário, meta, objeto. 3. Tipos de texto – referindo-se aos diferentes tipos de escrito existentes na sociedade. 4. Superestrutura que se manifesta sob a forma de organização espacial e lógica, de esquema narrativo e de dinâmica interna. 5. Lingüística textual – pontuação do texto, pessoas, tempos, lugares...


28

6. Lingüística da frase – sintaxe, vocabulário, ortografia, pontuação da frase. 7. Palavras e microestruturas que as constituem – grafemas, microestruturas sintáxicas, marcas nominais e verbais e microestruturas semânticas9. Já Solé (1998) cita em seu livro outras propostas de ensinos de estratégias de leitura. Cita um trabalho realizado por Collins e Smith, no qual são sugeridas uma série de estratégias que podem contribuir com a compreensão leitora e propõe um ensino em progressão. Acreditam que o professor serve de modelo para os educandos, demonstrando suas próprias estratégias de leitura. Deve ir lendo em voz alta e parando para comentar o que compreendeu do texto, como criou as hipóteses, a partir de que indicadores do texto, e também comentando dúvidas que essa leitura possa levantar.

1.5.

Concepção escolar da leitura

Paulo Freire, em seu livro “A importância do ato de ler”, mostra uma preocupação quanto à concepção equivocada que muitos educadores têm do ato de ler. Tal compreensão revela ter, muitas vezes, o que ele chama de visão mágica da palavra escrita, ou seja, acreditar que o simples fato de decodificação de signos, amplia, automaticamente, o conhecimento formal do aluno. É por este motivo que esses educadores acabam priorizando quantidade de leituras realizadas, pois assim, quanto mais os educandos lêem, mais aprenderão (Freire, 2006). Normalmente, tais leituras vêm acompanhadas de um questionário sonso, que não exige muito esforço mental por parte dos educandos. Não muito distante desta concepção está a caricaturada por Cervantes, no trecho citado no começo deste capítulo: “se le secó el cérebro”. Em Dom Quixote, Alonso Quijana tem seu cérebro seco e suas faculdades mentais prejudicadas por conta da leitura. É como

9

Ver “Formando crianças leitoras”, p. 142.


29

se as palavras fossem seres vivos independentes, que se infiltram no cérebro para aumentar o conhecimento ou para distorcê-lo. Ângela Kleiman (2004) revela, em seu livro, outra preocupação frente às concepções de leitura presentes nas escolas. A autora levanta mais duas concepções de leitura que se observa na prática escolar, além da já comentada no parágrafo anterior: a leitura como avaliação e a integração numa concepção autoritária de leitura. A primeira concepção é aquela que se utiliza da leitura como avaliação. Nesta concepção a leitura geralmente é realizada em voz alta, para avaliar se o educando é leitor fluente. Tal leitura muitas vezes acaba inibindo o educando e dificultando a interpretação do que se está lendo. Pode ser uma estratégia interessante esporadicamente, mas a leitura silenciosa e solitária é importante no processo de desenvolvimento da habilidade leitora. A leitura silenciosa envolve habilidades complexas do leitor, tais como a utilização da visão, do processamento mental de decodificação dos símbolos, da utilização da memória auditiva, da memória visual e da memória afetiva. Ao ler em voz alta, a tarefa fica mais complexa ainda, exigindo além destas habilidades citadas, a utilização dos músculos da face, da boca e da respiração, bem como das cordas vocais. A segunda concepção trata da crença de que existe apenas uma única forma de abordar o texto, uma única interpretação a ser alcançada. Este tipo de concepção pede educandos passivos e que escondam sua criatividade. O educador deve saber que a leitura provoca diferentes reações em cada leitor. Leitores diferentes reagem diferentemente às mesmas leituras, bem como diferentes textos provocam diferentes sensações num mesmo leitor. E isto esta intimamente ligado ao conhecimento prévio de cada um. Marisa Lajolo (2005) traz outra concepção de leitura, ligada principalmente à utilização de textos literários, que é da obrigação que se deve impor quanto à leitura de clássicos da literatura. Esta concepção é muito paradoxal, pois ao mesmo tempo que o professor acredita que o incentivo à leitura dos “bons


30

autores” seja de fundamental relevância para a formação do educando, ele também percebe que o educando não tem interesse para com a obra, realizando a leitura apenas para cumprir com a sua obrigação de aluno. Como já vimos no subtítulo anterior, se o aluno não encontrar um objetivo convincente à sua leitura, uma motivação, essa leitura dificilmente será “pra valer”10. Desta forma, torna-se claro o porquê da necessidade em aprimorar a formação dos professores. Não se pode aceitar que professores perpetuem tais concepções de educação, sem pensar na necessidade de e equacionar programas de formação continuada que busquem agregar valor à formação do educador, para que suas práticas pedagógicas sejam ressignificadas. Lajolo (2005, p.38) traz uma dura crítica a textos de materiais didáticos dirigidos aos professores, que vendem uma imagem de professor: (...)por que desconfiarmos de uma fotografia que nos representa como professores modernos, sinceramente empenhados em motivar a leitura dos jovens, levemente desconfiados do papel dos clássicos em tal empresa, profundamente insatisfeitos com o autoritarismo das avaliações sistemáticas e rigorosas de atividades de leitura, comprometidos com o prazer (e não com o dever) da leitura, informados e convencidos da importância da imaginação e da fantasia na formação do jovem e, sobretudo, honestamente comprometidos com um projeto de educação que conduz à leitura crítica do mundo...?

A crítica é aqui relevante, pois o professor despreparado acaba por aceitar qualquer produto que o coloque na posição de vítima da situação, fazendo com que suas obrigações de educador pesquisador e crítico de sua realidade sejam substituídas por esta função de técnico, que apenas precisa aplicar o que os livros didáticos sugerem. Devemos ultrapassar tal visão de nossa profissão e assumir as mudanças

pelas

quais

a

sociedade

tem

conscientemente de forma inovadora e efetiva.

10

Expressão já citada, de Jolibert (1994).

passado,

para,

assim,

agir


31

Neste item do marco teórico pudemos compreender que tipo de leitor crítico se pretende formar. Trata-se de uma leitura de mundo, que vai além da decodificação, mas que parte desta. Contudo, não há como considerar sobre a formação do leitor crítico, sem engajá-lo nas novas práticas sociais, como, por exemplo, as ocorrentes no Ciberespaço. A partir desta premissa, este trabalho tem o intuito de abordar, especificamente, leitura em um meio específico, em um espaço específico – o Ciberespaço. Desta forma, faz-se relevante um estudo a cerca deste espaço, que será feito no próximo item do marco teórico.


32

2. CIBERESPAÇO

2.1.

Breve panorama histórico

Para que possamos entender o conceito de ciberespaço, é fundamental que façamos uma breve análise do contexto histórico no qual ele surge. Em 1945 surgiram os primeiro computadores, de uso exclusivo dos militares americanos e ingleses. Porém, para Lèvy (1999), é somente na década de 1970 que começa a sua relevância social. Com o desenvolvimento e a comercialização do microprocessador, a economia e a sociedade iniciaram um processo de transformação. As linhas de produção passaram a ser robotizadas, o setor de serviços passou a se automatizar e a vida doméstica também. É, porém, na década de 1980 que a informática foi perdendo o status de técnica e de setor industrial para difundir-se com os meios de comunicação. A palavra “ciberespaço”, segundo Lèvy (1999), foi criada em 1984 por William Gibson em seu romance de ficção científica Neuromantes,na qual relaciona redes de computadores à um espaço de informação, que não é geográfico ou físico, mas virtual. Nesta época, o computador ainda não era entendido como meio de comunicação. Trata-se da década dos vídeo-games, quando a inteligência artificial começa a penetrar os lares do mundo todo. A criação da internet surge no final dos anos 80 e início dos anos 90, graças à um “movimento sócio-cultural originado pelos jovens profissionais das grandes metrópoles e dos campi americanos” (LÈVY, p. 32), de forma espontânea. As diferentes redes de computadores que se formaram desde os anos 70, se juntam umas às outras, formando uma grande rede. Cada vez mais computadores se interligavam à essa rede. Com a invenção do computador pessoal deu-se início a um novo curso na história da comunicação e da tecnoeconomia, ligando todos os possuidores de computador com acesso à grande rede. Este conceito de espaço atribuído às redes digitais de comunicação se dá a partir do momento em que o computador (hardware) não é mais o único agente


33

responsável na criação, armazenamento e transmissão de informação e conhecimento. O computador que tem acesso à internet, não tem mais limite de memória, pois utiliza a memória de outros computadores, como explica Lèvy (1999, p.44): Um computador é uma montagem particular de unidades de processamento, de transmissão, de memória e de interfaces para entrada e saída de informações. Mas computadores de marcas diferentes podem ser montados a partir de componentes idênticos, e computadores da mesma marca contêm peças de origens muito diferentes. Além disso, os componentes do hardware (sensores, memória, processadores etc.) podem ser encontrados em outros lugares que não os computadores propriamente ditos: cartões inteligentes, terminais de bancos, robôs, motores, eletrodomésticos, automóveis, copiadoras, fax, câmeras de vídeo, telefones, rádios, televisões, até os nós das redes de comunicação... em qualquer lugar onde a informação digital seja processada automaticamente. Por último, e mais importante, um computador conectado ao ciberespaço pode recorrer às capacidades de memória e de cálculo de outros computadores da rede (que, por sua vez, fazem o mesmo), e também a diversos aparelhos distantes de leitura e exibição de informações. Todas as funções da informática são distribuíveis e, cada vez mais, distribuídas. O computador não é mais um centro, e sim um nó, um terminal, um componente da rede universal calculante.

Do ponto de vista histórico temos, portanto, que o ciberespaço surge quando a internet começa a ser difundida, viabilizando a movimentação de informação.

2.2.

Internet e Ciberespaço

Antes de entrar diretamente na definição do conceito de ciberespaço, é fundamental que se compreenda como funciona a internet, sendo esta matriz para a existência do ciberespaço. E para entender como a internet funciona é necessário que compreender o conceito de rede de computadores. Rede de computadores nada mais é que dois ou mais computadores que possuem algum meio de comunicação entre eles (fios de cobre, fibra ótica, ondas de rádio,e outro) que permita a troca de informação entre eles. Para que um outro computador possa acessar essa rede de computadores, ele deve ser capaz de usar o meio de comunicação utilizado por esta rede. Para isto deve ter um protocolo adequado para este meio de comunicação. Para acessar a internet. Este meio de comunicação deve estar conectada à uma “espinha dorsal” (estrutura principal de


34

rede) da Rede Mundial11, ou a uma sub-rede desta espinha dorsal. A mais empregada é a WWW (World Wide Web). Na Internet, o protocolo padrão utilizado pelas máquinas é o TCP/IP, que teve origem na década de 70 e em 1983 tornou-se um padrão de fato, com o surgimento da Internet. O TCP/IP define uma pilha de camadas de comunicação, cada uma com um protocolo próprio. Mas a camada que mais interessa aos usuários é a camada de aplicação, onde milhares de pessoas ao redor do planeta utilizam o protocolo HTTP para navegar em páginas e mais páginas HTML. Um site se constitui do conjunto de várias páginas HTML12. A comunicação via internet significou uma mudança nos padrões de comunicação pois entre outros aspectos, transporta a informação em pacotes, sendo que estes são códigos binários, seja qual for o conteúdo - imagens, sons ou textos. O ciberespaço é, segundo Novac (apud SANTAELLA, 2004) “o universo paralelo, que tem sua matriz na internet, que abriga megalópolis, ou banco de dados comerciais, e uma infinidade de portais e sites de todas as espécies”. Benedikt complementa a idéia ao colocar que se trata de uma realidade que deriva do funcionamento do mundo natural, físico, mas que se constitui de tráfegos de informação produzidas pelo homem nas mais diferentes área, como artes, ciências, negócios e cultura (SANTAELLA, 2004). Ramal (2002) define rapidamente ciberespaço como “toda a estrutura virtual transnacional de comunicação interativa”. Já Lèvy (1999) conceitua ciberespaço simplesmente como um "espaço de comunicação aberto pela interconexão mundial dos computadores e das memórias dos computadores". Ao fazê-lo, inclui nesta definição o conjunto de sistemas de comunicação eletrônico, que transmitem informações provenientes de fontes digitais ou destinadas à digitalização. Ele não fala de um universo paralelo, mas de um meio de comunicação que se tornará o principal canal e suporte de memória humana.

11 12

http://cursoyai.googlepages.com/internet.pdf Idem


35

2.3.

A comunicação no ciberespaço

2.3.1. Das sociedades orais ao ciberespaço

Especificamente falando das características da linguagem no ciberespaço, convém analisar brevemente de que forma a comunicação entre os homens foi se modificando ao longo da história, e como o conhecimento era transmitido, o que Lèvy chama de "ecologia das mídias" (1999). Costa (2005), assim como Lèvy (1999), propõem que para melhor analisar tais mudanças, é importante que se pense nas condições e situações de produção do discurso bem como nos suportes utilizados. Para eles, a primeira grande revolução na comunicação se dá no advento da escrita. Antes disto, a comunicação se dava oralmente, no mesmo tempo e espaço dos emissores e receptores, que o autor chama de sociedades orais. Ambos, emissor e receptor, compartilhavam o contexto na qual o discurso era criado. O advento da escrita abre, segundo o autor, possibilidades temporais e espaciais de comunicação. Textos podem ser lidos a centenas de quilômetros ou a centenas de anos de distância do autor. “Como conseqüência, a humanidade constrói os primeiros grandes hipertextos: as enciclopédias” (COSTA, 2005, p. 21). Em continuação, vieram as mídias de massa (televisivas, radiofônicas, o cinema), nas quais as condições e situações de produção textual não diferem muito da escrita, quando pensadas as características próprias da relação emissor/receptor. O emissor não necessariamente compartilha o tempo e o espaço do receptor. Mas com o invento do telefone, a relação espaço/temporal é mais uma vez modificada, permitindo que os protagonistas da comunicação estejam em um específico momento em contextos distintos, podendo produzir conhecimento. É uma comunicação on-line, onde o espaço não é condição obrigatória na conversação. Porém, para Costa, é a Internet que traz a grande evolução no campo da comunicação. Costa fala de uma "volta" às sociedades orais: "virtualmente, mensagens são construídas/ escritas/ transcritas/ veiculadas/ lidas on-line por


36

pessoas reais em espaços diferentes, cujo contexto é o ciberespaço" (COSTA, 2005, p. 21). Ou seja, na atualidade, o emissor e o receptor estão envolvidos pelo mesmo contexto, o do ciberespaço, apesar de fisicamente estarem em diferentes espaços. Lèvy (1999) explica que por permitir a interação do emissor com os receptores,

a

comunicação

no

ciberespaço

vai

sendo

constantemente

contextualizadas às infinitas realidades dos participantes do ciberespaço. Enquanto que na escrita, o autor deve se preocupar em atualizar seu conteúdo de acordo com as mudanças do contexto histórico, no ciberespaço esta atualização já é prevista e ocorre naturalmente.

2.3.2. A linguagem hipermídia

Santaella deixa claro em seu livro “Navegar no Ciberespaço: o perfil cognitivo do leitor imersivo”, que apesar de se tratar de uma realidade virtual, o ciberespaço está organizado de forma global e coerente, independentemente de como se navegue nele. Tal qual uma língua, cuja consistência interna não depende de que seus falantes estejam, de fato, pronunciando-a, pois eles podem estar dormindo, em um momento imaginário, o ciberespaço, como uma virtualidade disponível, independe das configurações específicas que um usuário particular consegue extrair dele (2004, p. 40).

Para definir a hipermídia, Santaella fala em traços fundamentais. O primeiro traço encontra-se na hibridização de linguagens, processos sígnicos, códigos e mídias que a hipermídia aciona e, consequentemente, na mistura de sentidos receptores, na sensorialidade global, sinestesia reverberante que ela é capaz de 13 produzir, na medida mesma em que o receptor ou leitor imersivo interage com ela, cooperando na sua realização (2004, p. 47).

O segundo traço levanta o aspecto da capacidade de armazenamento de informação e a transmutação de inúmeras versões virtuais que vão surgindo na medida em que o receptor se coloca na posição de co-autor. Trata-se da digitação neste ambiente multimidiático, que se organiza em uma rede de fluxos 13

Definição apresentada por Santaella em seu livro (2004), que será abordado no tópico 2.4.3. O leitor do ciberespaço.


37

informacionais

em

arquiteturas

hipertextuais,

ou

seja,

não

seqüencial,

multidimensional. Em vez de um fluxo linear de texto como é próprio da linguagem verbal impressa, no livro particularmente, o hipertexto quebra essa linearidade em unidades ou módulos de informação, consistindo de partes ou fragmentos de textos. Nós e nexos associativos são os tijolos básicos de sua construção. Os nós são as unidades básicas de informação em um hipertexto. Nós de informação, também chamados de molduras, consistem em geral daquilo que cabe em uma tela. Cada vez menos os hiperdocumentos estão constituídos apenas de texto verbal mas estão integrados em tecnologias que são capazes de produzir e disponibilizar som, fala, ruído, gráficos, desenhos, fotos, vídeos etc” (2004, p. 49).

O hipertexto é a forma de escrita e comunicação da sociedade informático-midiática14. É através desta linguagem que os usuários da internet se comunicam. É uma estrutura de caráter hiper, não seqüencial, multidimensional. A junção do hipertexto com as multimídias é que caracteriza a hipermídia. Portanto, a hipermídia é a linguagem utilizada no Ciberespaço. Para poder compreender as características próprias do leitor deste meio, antes se deve compreender que existe toda uma linguagem que se utiliza de hipertextos que possuem uma infinidade de nós e multimídias. Esses nós irão direcionar o percurso que o leitor irá percorrer para assimilar o conhecimento, ou irá despistálo, distraí-lo e leva-lo para outras informações que podem não estar vinculadas aos objetivos originais da leitura. E, sobretudo, como lembra Costa (2005), trata-se de uma linguagem produzida coletivamente, pouco hierarquizada, o que traz uma nova posição do leitor frente ao texto: a de possível co-autor do texto.

2.3.3. O leitor do ciberespaço

Partindo do conceito de linguagem hipermídia dada no tópico anterior, a análise do leitor do ciberespaço está baseada fundamentalmente na definição de leitor imersivo apresentada por Santaella (2004).

14

Ramal, Andréa Cecília. Educação na Cibercultura: hipertextualidade, leitura, escrita e aprendizagem. Porto Alegre, Artmed, 2002.


38

A autora diferencia três tipos de leitores: o contemplativo, o movente e o imersivo. O leitor contemplativo é o mais tradicional dos leitores, que está diretamente relacionado à leitura dos livros. É um leitor que dispõe de tempo para ler e que contempla e medita, se isola no universo da leitura. O leitor movente ou fragmentado está relacionado à leitura do jornal, revistas, outdoors, televisão e outras mídias de comunicação em massa. Este leitor está treinado a se concentrar em meio ao caos urbano. Não dispõe de tempo como o leitor contemplativo, e desenvolve habilidades sensório-motoras relativas à grande quantidade de informação que recebe em pouco tempo, bem como a interpretação de signos e imagens. É o intermediário entre o leitor contemplativo e o leitor imersivo. O leitor imersivo é um leitor diferente dos demais tipos, pois: não se trata de um leitor que tropeça esbarra em signos físicos, materiais, como é o caso do segundo tipo de leitor, mas de um leitor que navega numa tela, programando leituras, num universo de signos, evanescentes e eternamente disponível, contanto que não se perca na rota que lava até eles (2004, p. 33).

Diferentemente do contemplativo, que se concentra na leitura de um livro, sem desviar-se dele até o fim da leitura, o leitor imersivo mistura sua subjetividade com a hipersubjetividade, uma vez que todos podem ser co-autores. É um leitor que se utiliza dos nós e nexos para aprofundar e ampliar sua leitura. Podemos pensar que o leitor dos dias de hoje pode ser todos esses tipos de leitores que Santaella diferencia, podendo escolher qual leitura fará em cada momento. Se por um lado é fundamental que o indivíduo possa se concentrar na leitura dos clássicos para aprofundar sua bagagem cultural, é também verdade que sem desenvolver as habilidades do leitor imersivo, o indivíduo estará à parte da Cibercultura, que hoje ocupa importante papel em todos os setores da sociedade, seja político, econômico, cultural ou social. É, portanto, fundamental, que a educação se preocupe com a inserção deste novo tipo de leitor no currículo escolar, uma vez que se trata de uma realidade irrevogável. Quais as implicações do ciberespaço e das práticas de leitura e escrita no ciberespaço para a educação? É o que veremos no item a seguir.


39

3.

EDUCAÇÃO E COMPUTADORES

Neste item pretendemos analisar o papel da educação na sociedade contemporânea, para então aprofundar a questão sobre o lugar do computador nesta realidade. Para isto, iniciaremos com uma breve análise da sociedade contemporânea, a partir das concepções de Chauí, Harvey e Santos, e então localizaremos o computador na prática pedagógica da sociedade pós-moderna.

3.1.

Condição pós-moderna

Segundo Chauí (2006), condição pós-moderna foi o nome dado à existência social e cultural sob a economia neoliberal. Para explicar a condição pós-moderna, Harvey (apud Chauí, 2006), divide o capitalismo em duas fases – industrial e pósindustrial. Para Harvey (ibidem), na fase industrial o capital induziu o aparecimento das grandes fábricas. As classes sociais e a luta de classes eram evidentes.

A

principal preocupação estava na prática de controle de todas as etapas de produção, na qualidade e durabilidade dos produtos. Já na fase pós-industrial, imperou a fragmentação da produção econômica, retirando a identidade da classe trabalhadora. Instaurou-se a hegemonia do capital financeiro, a rotatividade extrema da mão de obra, a fabricação de produtos descartáveis, a obsolência rápida da mão de obra frente ao avanço tecnológico e o desemprego estrutural decorrente da automação, causando exclusão social, econômica e política. Esta fase traz consigo a desigualdade econômica e social a níveis jamais vistos, dividindo a sociedade em bolsões de riqueza e bolsões de miséria.


40

O papel do Estado, por sua vez, distancia-se do modelo de bem estar social, transformando-se no Estado mínimo, na qual ocorre um encolhimento do público e um alargamento do privado. Ocorre também, segundo Harvey (ibidem, p.32), uma transformação da relação espaço-tempo nesta nova dimensão econômica e social, que ele denomina de “compreensão espaço-temporal”. A fragmentação e a globalização da produção econômica engendram dois fenômenos contrários e simultâneos: de um lado, a fragmentação e a dispersão espacial e temporal e, de outro, sob os efeitos das tecnologias eletrônicas e de informação, a compressão do espaço – tudo se passa “aqui” sem distâncias, diferenças nem fronteiras – e a compreensão do tempo – tudo se passa “agora” sem passado e sem futuro. Em outras palavras, a fragmentação e a dispersão do espaço e do tempo condicionam sua reunificação sob um espaço indiferenciado (um espaço plano de imagens fugazes) e um tempo efêmero desprovido de profundidade.

Paul Virilio (apud CHAUÍ, 2006) coloca que vivemos uma nova situação, na qual perdemos o referencial temporal, o que ele chama de “memória imediata”, ou seja, acredita que hoje não se tem mais a noção de passado e futuro, uma vez que o presente é sentido como instante fugaz, e que a possibilidade de se determinar o futuro é nula, uma vez que não se compreende o sentido de continuidade. Desta forma, Chauí (ibidem) finaliza esta análise da condição pós-moderna, trazendo a posição de Maurice Blanchot sobre os meios de comunicação. Para Blanchot, o cotidiano não pode mais ser alcançado, “pois não é mais aquilo que se vive, mas aquilo que se olha, que se mostra, simulacro e descrição sem nenhuma relação ativa” (ibidem, p. 34). Os meios de comunicação passam a ser a realidade, e, o mais curioso, não nos afeta, não nos inquieta. Como se estivéssemos anestesiados, o mundo aparece frente aos nossos olhos sob forma editada. É, portanto, frente à esta descrição da condição pós-moderna, que será apresentada, a seguir, a posição de Boaventura de Souza Santos em relação ao papel da educação.


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3.2.

Papel da educação no contexto pós-moderno

No texto “Para uma pedagogia do conflito” (apud SILVA, 1996), Santos começa com uma crítica à teoria do fim da história15. Explica que tal teoria foi criada para sustentar o domínio da burguesia internacional, uma vez que esta “vê finalmente o tempo transformado na repetição automática e infinita do seu domínio” (ibidem, p. 15). Para ele, não existe tal coisa como impossibilidade de mudança do presente. Afirma que a repetição do presente esta na verdade na repetição das mazelas sociais e ambientais, tais como a repetição da fome, de novos fascismos e a repetição do agravamento dos desequilíbrios ecológicos. Coloca que esta teoria da repetição acabou trivializando e banalizando os conflitos e o sofrimento humano. “Esta trivialização traduz-se na morte do espanto e da indignação. E esta, na morte do inconformismo e da rebeldia” (ibidem, p. 16). Diferentemente do que se postulava na modernidade, Boaventura pensa que ao invés de pensarmos na solução no futuro, devemos nos voltar ao passado, para reanimar na direção de uma imagem desestabilizadora, pautada no conflito e na

crítica

ao

sofrimento

humano.

“Será

através

dessas

imagens

desestabilizadoras que será possível recuperar o nosso inconformismo e a nossa rebeldia” (ibidem, p.17). É, então, que o autor propõe que o projeto educativo emancipatório deve ter como objetivo recuperar a capacidade de espanto e de indignação e, assim, criar um sentimento de inconformismo e de rebeldia perante tais situações. Para o autor, apenas uma educação inconformada provocará o inconformismo. O perfil de tal projeto educativo é pautado na memória, na denúncia, na comunicação e na cumplicidade. Souza (ibidem) coloca que este projeto educativo 15

“O Fim da História é uma teoria iniciada no século XIX por Georg Wilhelm Friedrich Hegel e posteriormente retomada, no último quartel do século XX, no contexto da crise da historiografia e das Ciências Sociais no geral. Essa teoria sustenta, como o nome sugere, o fim dos processos históricos caracterizados como processos de mudança. Para Hegel isso iria acontecer no momento em que a humanidade atingisse o equilíbrio, representado, de acordo com ele, pela ascensão do liberalismo e da igualdade jurídica, mas com prazo indeterminado para ocorrer” Retirado do Wikipedia, acessado em novembro de 2007 (http://pt.wikipedia.org/wiki/Fim_da_hist%C3%B3ria).


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deve se preocupar com a aprendizagem de vários tipos de conhecimentos, sempre mostrando que os conhecimentos foram criados pela prática social, e que esta acontece em terrenos conflitantes, onde grupos rivais criam conhecimentos conflituantes. Portanto, uma educação que parte da conflitualidade dos conhecimentos visará a formação de uma mente que escolhe sua posição frente a esses conflitos, uma mente inconformada e crítica.

Santos descreve três conflitos de conhecimento:

1. A aplicação técnica e a aplicação edificante da ciência

Este conflito trata da aplicação do conhecimento. Os sistemas educativos da modernidade ocidental foram moldados por um tipo único de conhecimento, o conhecimento científico, e por um tipo único de sua aplicação, a aplicação técnica. De fato, a criação moderna dos sistemas educativos coincide com a consolidação da ciência moderna enquanto modo hegemônico de racionalidade, a racionalidade cognitivoinstrumental, uma racionalidade que afirma pela sua eficácia na transformação material da realidade. (ibid, p.18)

As aplicações das técnicas da ciência da modernidade tinham o objetivo de converter todos os problemas sociais e políticos em problemas técnicos e assim poder resolvê-los de modo científico, ou seja, de forma neutra. Ocorre que estas aplicações da ciência não resolveram os problemas sociais e políticos, ao contrário, em muitos casos agravaram os problemas. É por esse motivo que hoje não se deposita a mesma credibilidade nas aplicações da ciência como ocorreu no século XIX. Portanto, se existe hoje no sistema educativo a aplicação do mesmo modelo de técnicas científicas só pode ser, segundo Santos, por má fé, por inércia ou por ambos. Desta forma, Boaventura propõe que o projeto educativo emancipatório deve “criar um campo epistemológico em que o modelo de aplicação técnica da ciência seja posto em conflito com um modelo alternativo” (ibidem, p. 20).


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Tal modelo alternativo deve se pautar nas seguintes características: •

A aplicação tem lugar numa situação concreta em que quem aplica será diretamente afetado pelo impacto da aplicação.

Os fins e os meios estão diretamente envolvidos, na qual os fins só se concretizam na medida em que se discutem os meios adequados à situação concreta.

A aplicação não deve se assumir neutra, e sim deve procurar se definir através de argumentação e adaptação entre os diferentes grupos e interesses, através de negociação.

Os cientistas devem assumir seu papel de defensores dos interesses dos que tem menos poder.

Deve existir um diálogo entre know-how técnico e know-how ético.

Saberes locais e saberes universais devem ser contemplados para uma melhor distribuir as competências argumentativas.

Garantir a equilibração das competências para a criação de sujeitos socialmente competentes.

2. Conhecimento como regulação e conhecimento como emancipação

Este conflito não trata mais na aplicação do conhecimento, e sim do conhecimento em si. Santos nos coloca que com a crise da confiança que se tinha sobre o conhecimento científico da modernidade, deve nascer um novo paradigma de conhecimento, que o autor tem designado como paradigma de um conhecimento prudente para a vida decente. O segundo conflito, portanto, parte da transição entre o paradigma de um conhecimento

científico

da

modernidade

para

um

paradigma

em

construção, na qual se espera que exista uma recuperação do conhecimento da modernidade para sua analise e crítica, e assim a construção do novo paradigma de conhecimento. Santos coloca que trata-


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se de um conflito que começo surgir na modernidade, mas foi-se ocultando e precisa, portanto, ser resgatado. Santos chama este conflito de conflito matricial, que define como sendo um “conflito entre o conhecimento-como-regulação e o conhecimento-comoemancipação” (ibidem, p. 24). Para ele o conhecimento-como-regulação consiste na trajetória do caos para a ordem e o conhecimento-comoemancipação consiste na trajetória do colonialismo para a solidariedade. Como coloca Santos (ibidem, p.25): O projeto original da ciência comportava, assim, um equilíbrio entre conhecimento-como-regulação e conhecimento-comoemancipação. Porém, à medida que a ciência moderna foi ganhando terreno sobre as formas alternativas de conhecimento – dos saberes locais à religião, da filosofia às humanidades – e, sobretuo, à medida que se foi convertendo em força produtiva do capitalismo industrial, o equilíbrio entre as duas formas de conhecimento rompeu-se e a ciência moderna passou a ser conhecimento-como-regulação por exelência.

A pedagogia do conflito deve, portanto, incentivar a retomada deste conflito, uma vez que pretende diminuir a assimetria existente entre o conhecimento do dominante e o conhecimento do dominado. 3. Imperialismo cultural e multiculturalismo Este conflito trata mais da questão cutural que a epistemológica. Para Boaventura, o mapa cultural dos sistemas educativos da modernidade são fundamentalmente eurocêntrico, pois coloca que a cultura européia é central e as demais culturas ou não aparecem ou são solucionadas pela superioridade cultural ocidental. Porém, para o autor, este modelo passa por turbulências, uma vez que esta sendo constantemente criticado culturalmente. Com as constantes mudanças que a própria globalização vem trazendo, as atenções que se concentravam no eixo do “capitalismo do oceano Atlântico” estão também se voltando para as culturas asiáticas. Na América Latina a desigualdade continua a se acentuar, na África a exclusão é cruelmente representada pela fome, pelas epidemias e pela guerra.


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Mas Boaventura coloca que se por um lado estes fatores vêm afetando a história, outras mudanças também vem ocorrendo, que é a crescente adoção de políticas de identidade de grupos sociais vitimizados. Desta forma, o autor aponta duas tendências contraditórias: “uma que vai no sentido do agravamento dos conflitos culturais no final do século; outra que vai no sentido oposto, o do fim de tais conflitos”(ibid, p.28). A existência destas tendências mostra a turbulência que os mapas culturais da modernidade vêm sofrendo. Trata-se do conflito entre o imperialismo e o multiculturalismo, que coexistem na sociedade contemporânea.

A pedagogia do conflito deve, segundo Santos, assumir a responsabilidade de “definir corretamente a natureza do conflito cultural e tem de inventar dispositivos que facilitem a comunicação”(ibidem, p. 30), ou seja, mostrar que o conflito cultural não ocorre dentro da mesma cultura, mas na interlocução entre as diferentes culturas, e a comunicação é a chave. Partindo destes pressupostos, entende-se que o computador pode ser uma ferramenta valiosa na busca da ampliação da comunicação. Assim, abordaremos agora o papel do computador na educação.

3.3.

O computador no processo de ensino-aprendizagem

Uma das mais desafiadoras questões que as escolas estão buscando resolver hoje trata do papel do computador, ou da informática, no currículo escolar. Os educadores vêm percebendo que as novas tecnologias estão provocando mudanças no perfil de seus alunos, bem como nos conteúdos escolares. A linguagem está mudando, com o uso dos chat16, o hipertexto fez com que estudos sobre leitura e escrita fossem ressignificados, as pesquisas são feita de formas diferenciadas, enfim, os alunos já são de uma geração na qual o 16

‘Um chat, que em português significa "conversação", ou "bate-papo" usado no Brasil, é um neologismo para designar aplicações de conversação em tempo real’(definição retirada do Wikipédia, acessado em Novembro de 2007).


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computador é parte importante de suas vidas, é um meio de comunicação importante para todos, e que apresenta uma realidade bem diferente da que tiveram os atuais educadores. É por este motivo que a escola encontra-se hoje, mais pressionada que nunca, pela velocidade e força das mudanças da sociedade. Gutierrez (2003) aponta que as tecnologias educacionais informatizadas (TEI), por se tratarem de um fenômeno recente, são vistas com receio por muitos educadores, mas que existe um consenso quanto ao fato de que cada vez mais a tecnologia fará parte do cotidiano da sociedade. A implantação das novas tecnologias no ambiente escolar parece ter sido unanimemente aceita pelas escolas, porém fica ainda a questão – o que fazer com essas máquinas? Como elas podem auxiliar no processo de ensino-aprendizagem? Gutierrez (ibidem) propõe que os educadores se preocupem com a tecnologia da educação, ou seja, “um projeto de sociedade e de educação dirigido pela e para a participação coerente e crítica de todos”, pois do contrário haverá crescente aplicação da tecnologia na educação, que seria a “objetivação das idéias e do projeto de mundo de uma classe dominante”. Valente (apud BIANCONCINI, 2005) coloca que existem dois aspectos que devem ser observados na implantação das novas tecnologias na educação, que são: o domínio do técnico e do pedagógico não deve acontecer separadamente; e à especificidades do computador com relação às aplicações pedagógicas. Em outras palavras, de nada pode ajudar um técnico de informática que não compreende as especificidades da educação, tais como os objetivos de aula, conteúdos e assim por diante. O contrário também é verdadeiro, ou seja, um docente que não compreende os programas existentes nas máquinas da escola, que não é capacitado para uma boa utilização do computador, jamais saberá como melhor utilizá-lo, fundamentando-se apenas no seu conhecimento limitado de informática. O computador pode oferecer uma infinidade de recursos de ensino, que podem auxiliar em muito no processo de ensino-aprendizagem, porém, como qualquer outro recurso de ensino, não faz nada por si só, não pode garantir sozinho que o aluno aprenda mais rápido ou melhor os conteúdos da aula.


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Valente (ibidem) propõe a analise de três grandes aplicações do computador na educação: •

Como meio para representar e construir novos conhecimentos.

Para buscar e acessar informação.

Para comunicação com outras pessoas, ou estabelecer relações de cooperação na resolução de problemas.

3.3.1. O computador como meio para a construção e representação de conhecimento

Quando se ensina a escrever, um dos objetivos principais é que o aluno aprenda a representar, sob forma de símbolos, seu pensamento. Porém, é importante diferenciar a representação da construção do conhecimento. Para representar um conhecimento tenho que tê-lo pronto ou em desenvolvimento em minha mente. Não se pode desenhar uma mesa, sem antes saber o que é uma mesa. Com o computador ocorre a mesma coisa. Valente (ibidem) traz o exemplo do uso da linguagem da programação Logo17 para analisarmos a relação entre representação e construção de conhecimento. Para o autor, através da programação pelo Logo podemos representar algum conhecimento, seja como fazer um círculo, um triangulo e assim por diante. Neste caso o programador já tem em si o conhecimento do que seja um círculo, triângulo e como fazer para representá-lo. No entanto, construção de conhecimento implica em outros procedimentos. Se partirmos da teoria vygotskyana (apud Carrara, 2004) de como de dá o processo de aprendizagem, temos que a construção do conhecimento se dá na interação entre objeto de aprendizagem, zona de desenvolvimento real, que é o conhecimento que o indivíduo já tem assimilado, zona de desenvolvimento 17

“O Logo é uma linguagem de programação e como tal serve para que possamos nos comunicar com o computador. Essa linguagem possui como todas, seus aspectos computacionais, e no caso do Logo, o aspecto da metodologia para explorar o processo de aprendizagem” retirado do site http://www.centrorefeducacional.pro.br/linlogo.html (acessado em Novembro de 2007).


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proximal, que é a possibilidade real de desenvolvimento do conhecimento a partir da zona de desenvolvimento real, e um sujeito facilitador do processo, como o educador. Ou seja, para o aluno aprender a amarrar os tênis deve ter o tênis com cadarços (objeto de aprendizagem), deve ter desenvolvido a coordenação motora (zona de desenvolvimento real), ter experimentado várias vezes amarrar os cadarços quase a ponto de amarrá-los (zona de desenvolvimento proximal), e um educador que mostra passo a passo como amarrar cadarços. Desta forma, podemos dizer que a mera representação não garante a construção de conhecimento. Porém, para poder reproduzir, deve-se ter o conhecimento formado. Voltando à linguagem Logo, Valente (apud Bianconcini, 2005) coloca que além da representação, ele funciona como agente auxiliar na construção do conhecimento. Como? Suponhamos que sei como programar minha “tartaruguinha”18 para fazer um quadrado. Mas o professor pede que façamos um polígono de cinco lados. Baseado no meu conhecimento prévio (na zona de desenvolvimento real) usarei os comandos que já conheço para fazer um polígono de quatro lados e nas minhas noções de geometria, e

experimentarei as possibilidade de resolução

deste problema (zona de desenvolvimento proximal). O computador será nesse caso um facilitador no processo de construção do conhecimento. Valente (ibidem) coloca que cada experiência “frustrada” de programação do polígono de cinco lados será expressa no computador e se tornará a mera representação do raciocínio lógico que foi feito para buscar a solução do problema. No momento em que se resolve o problema e a tartaruguinha desenha o polígono desejado, passa a ser um conhecimento construído, assimilado. O papel do professor é não permitir que o aluno desista de solucionar o problema, ou seja, deve detectar quando o raciocínio está errado e ajudar de forma oportuna a conduzir o raciocínio do aluno para a direção correta. A linguagem Logo é apenas um dos exemplos de como o computador pode contribuir para a representação e construção do conhecimento. Existe uma 18

Elemento do programa Logo que vai “andar” de acordo com o comando dado, e que vai desenhando seu caminho, e assim forma o desenho programado.


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infinidade de possibilidades de se atingir tais objetivos com o computador, basta o professor estar ciente desta aplicação.

3.3.2. O computador para a busca e o acesso à informação

Assim como nos livros ou nas clássicas enciclopédias, o computado pode servir como valiosa fonte de informação. Todavia, o computador apresenta alguns diferenciais interessantes quando comparado aos livros. Valente (ibidem) identifica algumas formas de se buscar e acessar informação pelo computador: programas, bancos de dados e Web. Nos programas ou na Web, temos duas formas básicas de acesso às informações, seja através de hipertextos (explicado no item anterior), seja através de tutoriais. “No caso dos tutoriais, a informação é organizada de acordo com uma seqüência pedagógica e o aluno pode seguir essa seqüência, ou pode escolher a informação que deseja” (ibidem, p. 27). Existem tutoriais dispostos na forma de slides, de vídeos e de áudio. Nos bancos de dados, as informações são específicas à um certo contexto social. Como diz no Wikipedia19: Bancos de dados, (ou bases de dados), são conjuntos de dados com uma estrutura regular que organizam informação. Um banco de dados normalmente agrupa informações utilizadas para um mesmo fim.

Na web existe a forma corriqueira de pesquisa, através dos sítios de busca. Neste caso existe a combinação de texto, imagem, animação, sons e vídeos que podem auxiliar na compreensão da informação. Valente ainda ressalta que “a ação que o aprendiz realiza é a de escolher entre as opções oferecidas” (apud Bianconcini, 2005, p. 27). Portanto, o aluno que pesquisa na internet acaba fazendo um movimento de escolhas de informações disponíveis, que o satisfaçam. Para isto faz e desfaz escolhas, vai e volta nas informações, ou seja, navega pela internet até conseguir o que deseja. 19

http://pt.wikipedia.org/wiki/Banco_de_dados (acessado em Novembro de 2007).


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No aspecto de busca e acesso à informação, o computador tem demosntrado ser um caminho de duas vias. Ao mesmo tempo que permite o estimulo de diversas habilidade do internauta, que chama a atenção e contribui para a aquisição da informação, mostra-se em muitos casos pouco confiável quanto ao conteúdo e até perigoso ao não filtrar as informação. A confiabilidade da informação é pouco garantida pois é aberta à todos os usuários, que podem postar20 o que bem desejarem, e

o conteúdo perigoso é aquele que é

inapropriado para determinadas idades. É aí que existe a necessidade da orientação do professor, tanto à seus alunos quanto à comunidade. O professor deve indicar sítios apropriados e alertar para os contras desta ferramenta. Vale ressaltar que não se pretende valorizar o computador em detrimento do livro, muito pelo contrário. O que se pretende é mostrar que no mundo contemporâneo disfrutamos de uma infinidade de fontes de informação, e que uma das habilidades que devemos desenvolver é a capacidade de escolher criticamente qual recurso será mais apropriado para cada situação.

3.3.3. O computador como facilitador da comunicação

Este aspecto é sem dúvida o que diferenciou potencialmente o computador de qualquer outra ferrameta. As possibilidades de comunicação antes e depois do surgimento da internet aumentaram exponencialmente. Se já com o advento do telefone e do fax a comunicação era poderosa, hoje, graças à internet vivemos em um mundo no qual o quarto poder, o dos meios de comunicação, se tornaram talvez o mais forte de todos os poderes. Do ponto de vista de construção de conhecimento, a internet trouxe consigo a possibilidade de criação de espaços de aprendizagem sem fronteiras. Pessoas do mundo todos, que compertem um mesmo interesse, se encontram virtualmente para construir conhecimento.

20

Publicar na internet.


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A internet permite que o indivíduo exponha seus pensamentos para uma infinidade de leitores. A escrita, como dito no item anterior, passou a ter outro significado quando postado na internet. A possibilidade de interação, de troca de opiniões é infinita. Chats, blogs, wikis, podcast, e-mail, e outros, são recurso recentes que vêm transformando a socialização do conhecimento. Partindo do mesmo principio citado anteriormente da aquisição do conhecimento descrito por Vygotsky (apud CARRARA, 2004), é na interação social que o conhecimento se constrói, é através do outro que consigo transformar a zona de desenvolvimetno proximal em zona de desenvolvimento real. Desta forma, é de fudamental relevância para aumentar as situações de aprendizagem que a escola considere a internet como mais um espaço que deve ser explorado.

3.4.

O Blog

3.4.1. Breve histórico

A palavra “blog” deriva da palavra inglêsa weblog. “Log significa diário, como diário de um capitão de navio. Weblog, portanto, é uma espécie de diário mantido na internet por um ou mais autores regulares” (Hewitt, 2007, p. 9). Segundo Komesu (2005), o termo weblog teria sido criado pelo norte-americano Jorn Barger, editor do site robot wisdom weblog, em dezembro de 1997. Segundo a autora, o software Blogger foi criado em 1999, com intuito de popularizar a publicação de textos na internet. Komesu atribui o grande sucesso da difusão desta ferramenta à dois aspectos. O primeiro é justamente à esta facilidade que a ferramenta apresenta, que encorajou muitos internautas à essa aventura. O segundo aspecto, do qual trata sua tese de doutorado, é de que “a emergência dos blogs ocorre na trama da multiplicidade das relações que positivam a visibilidade da intimidade na sociedade atual” (Ibidem21) e que: A criação de um dispositivo como o Blogger ou ferramentas similares somente pode ser justificada sob as condições históricas 21

Não acompanha página, por ser retirado do site www.ufpe.br/nehte/artigos/blogs.pdf (acessado em 11/2007)


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nas quais os sujeitos são impelidos a falar de si em âmbito público, com a participação fundamental do leitor interessado em olhar (vigiar) o cotidiano alheio.

Seja qual for o motivo principal, o fato é que de um blog em 1999, temos em sete anos, segundo o site do Cyberjornalist22, mais de 50 milhões de blogs, como mostra o gráfico da Technorati23 abaixo, sendo que mais de dois blogs são criados por segundo todos os dias.

3.4.2. O quê e como são blogs?

Komesu (2004) acredita que a definição mais ampla e mais atual de blog é oferecida pelo Blogger24: O blog é uma página web atualizada freqüentemente, composta por pequenos parágrafos apresentados de forma cronológica. É como uma página de notícias ou um jornal que segue uma linha de tempo com um fato após o outro. O conteúdo e tema dos blogs abrange uma infinidade de assuntos que vão desde diários, piadas, links, notícias, poesia, idéias, fotografias, enfim, tudo que a imaginação do autor permitir. Portanto, blog não é apenas um diário eletrônico. Encontramos atualmente uma infinidade de finalidades para a criação de blogs, desde multinacionais que pretendem estabelecer uma relação de intimidade com o cliente, até escolas que encontram neste meio um espaço adicional para explorar situações de aprendizagem. Quanto à sua utilização, Komesu (2004) explica que o blog permite ao usuário a produção de “textos verbais (escritos) e não-verbais (com fotos, desenhos, animações, arquivos de som), a ação de copiar e colar um link e sua publicação na web, de maneira rápida e eficaz, às vezes, praticamente simultânea ao acontecimento que se pretende narrar” (ibidem). Desta forma, o blog vêm se

22

http://www.cyberjournalist.net/news/003674.php (acessado em 11/2007). http://www.sifry.com/alerts/archives/000436.html (acessado em 11/2007). 24 Site brasileiro destinado à produção de blogs – www.blogger.globo.com.br (acessado em 12/2007) 23


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estabelecendo como importante meio de comunicação, uma vez que não existe nenhum pré-requisito para se produzir um blog. Hewitt (2004) coloca que para os meios de comunicação tradicionais, a chegada dos blogs foi avassaladora, pois atende um público que escolhe o que quer ler, no sentido de que existe um público crítico das mídias tradicionais, que já está consciente da produção do simulacro citado por Chauí (2006) e que pretende por si só escolher qual edição de mundo que pretende viver. O autor relata em sua obra eventos da política americana que foram diretamente afetados pelos blogs de comentaristas políticos, mostrando que graças à instantaniedade das publicação que os leitores criticavam os acontecimentos. Assim, Oliveira (apud KOMESU, 2004), que define três tipos de blogs: •

Filtro de notícias – por adicionar, com facilidade, links para notícias devidamente comentadas pelos usuários antes de serem enviadas para o sistema da rede, e que vem revolucionando os meios jornalísticos, como colocou Hewitt (2007).

Filtro temático – pois permitem a busca e a reunião de quaisquer temas de interesse pessoal (individual) do usuário, graças ao advento da internet e do hipertexto.

Diário on-line - definido, segundo Oliveira, pelo “conteúdo pessoal” e pela “subjetividade individual”.

3.4.1. Blogs como material didático

Existem uma infinidade de tipos de blogs educativos. Isto se dá por sua flexibilidade quanto às suas finalidades. Dependendo da criatividade do educador blogueiro, o blog atenderá a uma infinidade de demandas. O site australiano Edublogs25, criado para atender exclusivamente blogs educativos, apresenta uma lista com 10 formas de usar o blog como ferramenta de ensino: 25

www.edublogs.org (acessado em 12/2007)


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I. Postar conteúdo de aula e fontes de pesquisa Desta forma o blog tem função semelhante à um livro didático, porém quem determina o conteúdo desta, é o professor II. Hospedar discussões on-line Como recuso que prevê a interatividade do leitor, o blog pode apresentar temas para discussão, na qual o aluno deve se posicionar frente ao tema bem como ler e compreender a posição dos demais alunos. III. Criar publicação da classe Assim como um jornal de classe, o blog pode ser usado para divulgar os acontecimentos da classe, bem como apresentar trabalhos realizados e outras notícias que os alunos da classe entenderem como relevante IV. Substituir a agenda escolar Por ser acessível em qualquer computador ligado à internet, pode ser usado como agenda, para comunicar lição de casa, eventos e qualquer outro tipo de comunicado V. Fazer os alunos “blogarem” Os alunos podem se sentir incentivados a criarem autonomamente seus blogs, para múltiplas finalidades, dentre as quais a comunicação e expressão escrita VI. Compartilhar planos de aula com outros professores Professores podem usar este espaço para traço de planos de aula, projetos, e experiências, abrindo espaço para discussão e reflexão da prática docente VII. Integrar recursos multimídia de todos os tipos Por se tratar de uma ferramenta que comporta deferentes recursos, o professor pode utilizar o blog para vídeos, áudio, textos, imagens e outra infinidade de recursos multimídia, para garantir que aprendizado ocorra através do estímulo de diferentes sentidos. VIII. Organização


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Pode-se criar um blog para organização de eventos, grupos de estudo e assim por diante, pois trata da co-autoria, permitindo que em lugares remotos as pessoas se organizem. IX. Receber uma devolutiva É uma ferramenta interativa, que prevê a participação de outras pessoas. Assim, tudo que for postado, é sujeito à comentários, o que contribui para uma auto-avaliação do blogueiro. X. Criar um site completo e funcional Dependendo do tipo e programa utilizado para criar o blog, este pode vir a ser tão completo quanto um site e, assim, assumir as infinitas utilidades que um site oferecer.

Gutierrez (2003) acredita que uma das características mais marcantes do blog está em sua capacidade de criação de novos papéis para os alunos e professores no processo de ensino-aprendizagem, colocando ambos em posição de pesquisadores, aprendizes e educadores, como coloca Gutierrez (200326): Penso que os weblogs, usados em projetos educacionais, podem desencadear entre os participantes o exercício da expressão criadora escrita, artística, hipertextual. Pela sua estrutura, permitem o exercício do diálogo, da autoria e co-autoria, inclusive na alteração da própria estrutura. Eles possibilitam, também, o retorno à própria produção, a reflexão crítica, a re-interpretação de conceitos e práticas. Professores e alunos, parceiros de aprendizagem, podem retroagir sobre seu trabalho, revendo etapas e processos, tomando consciência de sua prática. O weblog registra de forma dinâmica todo o processo de construção do conhecimento e abre espaço para a pesquisa.

Tais características acima apresentadas mostram que o blog pode tornar-se um recurso significativo na busca da pedagogia do inconformismo que propões Santos (apud SILVA, 1996), pois além de ser um recurso multimídia muito rico na diversidade de possibilidades que dispõe, é um poderoso veículo de comunicação,

26

Não acompanha a página pois trata-se de página da http://www.cinted.ufrgs.br/renote/set2003/artigos/projetozaptlogs.pdf (acessada em 12/2007)

internet

-


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que, embora ainda não esteja à disposição de todos, vem demonstrando crescente participação na vida da sociedade. Especificamente abordando a questão da formação do leitor crítico, o blog apresenta, como já foi citado, uma quantidade grande de possibilidades de provocar o aluno a ler, refletir, interpretar, re-significando não apenas a leitura como também a escrita a um grande público. O marco teórico desta pesquisa de iniciação científica considerou sobre a formação do leitor crítico. Para tanto, fez uma incursão aos estudiosos da área, que concebem leitura como ato comunicativo, como prática social, para muito além da mera decodificação. A seguir, considerou sobre a contribuição das tecnologias da informação e comunicação aos processos educativos. Aprofundou a questão, com um recorte específico no ciberespaço e seus desdobramentos na formação do leitor crítico contemporâneo, que se vê em meio a novas práticas sociais, como, por exemplo, os processos discursivos no ciberespaço. No relatório final da pesquisa, desenvolveremos, no capítulo seguinte, a pesquisa de campo realizada junto a edublogueiros, com o intuito de explicitarmos as reais possibilidades de contribuição deste novo instrumental à educação voltada à formação do leitor crítico. O instrumentos de coleta de dados consta ao final deste estudo, como apêndices 1, 2 e 3. A análise dos dados coletados será desenvolvida a partir desta incursão teórica.


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4.

Análise dos dados coletados na pesquisa

A pesquisa contou com a participação de quatro professores edublogueiros. Uma professora é da área de inglês, atua como coordenadora da área, numa escola particular de São Paulo (M.). Os outros três são professores de informática, de outra escola particular de São Paulo (S.M.). São todos da cidade de São Paulo. Foram realizadas duas entrevistas, uma com a professora de inglês, e outra com os três professores de informática. A escolha dos professores se deu baseado em um critério - os professores deveriam ter um blog pedagógico. Em atendimento ao termo de consentimento livre e esclarecido consoante com o Comitê de Ética em Pesquisa, os respondentes deste trabalho serão identificados da seguinte forma – a professora de inglês, como C., e os professores de informática de P1, P2 e P3. A seguir será feito o levantamento dos temas discutidos, para sua análise.

4.1

Tipos de blogs usados nas escolas

Descobriu-se, no decorrer das discussões, que existem diferentes formas de apropriação do blog na escola. Tal apropriação reflete diferentes intenções que os professores têm com o uso do blog, em sua rotina escolar. A primeira forma que se observou quanto ao uso do blog é quando o professor assume o papel de autor do blog. Neste caso, o blog funciona como material de apoio às aulas do professor. Trata-se de um recurso didático que pretende estimular a participação do aluno através dos comentários postados pelos alunos ou, a posteriori, na discussão de assuntos postados pelo professor no blog, na sala de aula. Neste caso, o blog permite que o professor disponibilize a seus alunos conteúdos áudio-visuais que na sala de aula muitas vezes não é viável, pela falta de recursos. Além disso, o professor pode disponibilizar aos alunos, conteúdos abordados na sala de aula, como discussões e atualidades,


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que dificilmente possam ser encontrados em um livro. Encontramos exemplos deste tipo de uso do blog nas seguintes falas dos sujeitos de pesquisa: P1: Por exemplo, as professoras de matemática, elas tão, é... fazendo como... desafios. Então elas colocam os desafios matemáticos e então elas usam como um complemento do conteúdo em sala de aula. Então elas fazem... preparam certos desafios e depois elas discutem em aula, e com eles os comentários, o que eles postaram ali. Professora de história tá trabalhando diferente, tá fazendo baseado num livro. Baseado num livro, então ela tá tirando é... trabalhando capítulo com os alunos, fazendo discussões...

Ou ainda: P1: Então, tem também da professora de Biologia, que fez também o dela. Então eles gostaram muito, que ela fez uma forma mais divertida, e ela tá também... fazendo um trabalho com eles que ela tá... aí é um blog já fechado, né, não é um blog aberto, só para os alunos dela, desenvolverem as atividades.

Vale a pena ressaltar que nestes casos, segundo relatos dos professores, não necessariamente é o professor que efetivamente edita o blog. Pode acontecer que o professor peça auxílio de outro profissional para fazer o blog do jeito que ele quer, como foi relatado: P1: É, eu falei pra ela, foi criado pra ela, foi outra pessoa que criou a estrutura pra ela, então ela utilizava, mas ela tá fazendo daquele jeito, fechado, ela prepara a atividade aí ela faz a interação com eles.

Esta forma de uso do blog é o que Valente (apud BIANCONCINI, 2005) chamaria de uso do computador para busca e acesso à informação, principalmente por parte do aluno. Mas desta forma o computador não é apenas um meio multimídia, que conta com recursos áudio-visuais, mas também um facilitador da comunicação, uma vez que serve também para troca de comentários, discussões, anúncios e assim por diante. Com isso, esta interface mobiliza o desenvolvimento das trocas intertextuais dos alunos, sob mediação do


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professor, o que certamente traz conseqüências positivas ao processo de ensino e aprendizagem.

Outra forma de uso do blog é quando o aluno se torna o autor do blog. Neste caso, o professor cria o blog, posta algumas instruções, mas os alunos que devem postar textos, imagens e vídeos. Nesta situação, o blog também é um apoio didático, como no caso anterior; todavia, com outros objetivos. Os alunos devem utilizar o blog como suporte seu, seja na elaboração de um projeto, seja na escrita de textos ou na postagem de imagens que eles escolheram. Os excertos a seguir são emblemáticos dessa situação: C.: mas eu acho que o... o autêntico, genuíno é aquele blog que o aluno é responsável... C.: o número (de crianças participantes do projeto) variou, mas eu tive lá de oito a dez crianças, e adolescentes, e agente construiu junto... um blog pedagógico da biblioteca, que eles escrevem resenhas... e aí a coisa toda foi acontecendo... C.: é... e assim, o que foi legal é que... é... cada sujeito da pesquisa foi encontrando um caminho dele dentro do grupo. Então a gente têm... uma menina que até é aluna da USP também, que é a mais velha do grupo... que ela funcionava como revisora... foi uma coisa que eles foram encontrando o caminho... tem o pequenininho, de nove, dez anos... que assim, é um excelente leitor... e escreve coisas belíssimas... tem um dos meninos que era um... é... um artista... desenha... e ele, todas as ilustrações do blog são dele... C.: Agora aqui (referindo-se à escola) a gente tem vários trabalhos com blog. A gente tem o blog literário, que é um trabalho que o ano passado a gente fez com o sexto ao nono (anos) e esse ano a gente vai fazer só com o oitavo e nono, que o aluno posta. É... em cima dos livros de literatura que eles lêem. Então para cada série a gente tem uma proposta de trabalho diferente. Então num vai mudar o final, na outra é... fazer um... fazer uma entrevista, então eles criam uma entrevista com um dos personagens e postam no blog.

Neste caso, o computador é um meio para construção e representação de conhecimento, pois o aluno, ao digitar, está exercitando sua escrita e expondo


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seus conhecimentos. Ainda, o blog acaba por facilitar a comunicação, uma vez que divulga este conteúdo para todo universo de internautas27.

E há mais uma forma de uso de blog: quando ele é ensinado nas aulas de informática, como um fim, e não um recurso de ensino, um meio de se atingir objetivos de ensino das demais disciplinas. Neste caso, o blog é o que Valente (apud BIANCONCINI, 2005) chamaria de meio para a construção e representação de conhecimento. Ou seja, é para os alunos aprenderem a criar um blog. Para tanto, devem se utilizar de conhecimentos prévios de informática, para aplicá-los e então construírem novos conhecimentos. 4.2

Blog, uma ferramenta fácil?

Um dos apelos que o blog tem, é o fato de se acreditar que se trata de uma ferramenta de fácil uso. Como foi visto no marco teórico, um dos motivos que Komesu (2005) atribui ao sucesso do uso de blog está na facilidade que a ferramenta apresenta. Todavia, esta afirmação não se aplica a todos os casos, como foi observado nas entrevistas. Para os internautas, que estão habituados ao uso da Web 2.028, aprender a criar um blog pode ser simples, mas para todo aquele que não tem intimidade com o meio, não tem a mesma facilidade. Os entrevistados relataram situações com os professores que não são habituados ao uso da internet, evidenciando esta questão: P2: Eu penso que o professor deve ter uma segurança enorme. Segurança tecnológica pra poder trabalhar com blog como ferramenta de ensino. Porque eu fiz uma especialização com professores, e aí eu via que eles tentavam usar, mas não é fácil.

27

Internauta é aquele que navega na internet. Web 2.0 é um termo cunhado em 2004 pela empresa estadunidense O'Reilly Media[1] para designar uma segunda geração de comunidades e serviços baseados na plataforma Web, como wikis, aplicações baseadas em folksonomia e redes sociais. Embora o termo tenha uma conotação de uma nova versão para a Web, ele não se refere à atualização nas suas especificações técnicas, mas a uma mudança na forma como ela é encarada por usuários e desenvolvedores. (http://pt.wikipedia.org/wiki/Web_2.0 ; acessado em Julho de 2008). 28


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P1: Porque tem muito professor que não mexe com as ferramentas, não mexe com a tecnologia, acha que é um trabalho a mais, e não vê que é um beneficio para sua prática. P2: E não é só isso, não, nosso aluno, ele hoje, é usuário de internet, então se o professor não é, ele vai fazer um blog que não vai ser nada atrativo. Então as vezes é melhor o professor continuar com o papelzinho dele, né. Melhor continuar com o papel e fazer um questionário escrito.

Vale notar que não é apenas com o professor que a criação do blog pode ser difícil. Os entrevistados relatam que, ao ministrarem aulas para os alunos do ensino médio, também notaram uma certa dificuldade, que não era esperada: P2: Como eu te falei, na primeira vez, a gente perdeu muitas aulas, teve que utilizar várias, aulas, eu tinha programado duas aulas, pra criar o e-mail e já começar o blog. Tivemos que usar pelo menos umas cinco ou seis aulas pra ensinar... e-mail... aí eles criaram, depois a gente começou a fazer o blog, e achamos que não seria necessário pegar o login e senha, né... porque acreditávamos que eles teriam isso. Mas não. Não foi isso. Eles esqueceram. Mesmo o e-mail que eles usavam esqueceram... P1: Porque é engraçado, né, todo mundo tem o msn de todo mundo, conversa, todo mundo faz isso, só que na hora do vamos ver, não sabe usar nada... Também não sabe usar e-mail. Mostramos pra eles como se usava. Até anexar arquivos...

C. também relatou sua experiência com crianças que não tinham nenhuma experiência com o uso do computador e teve, então, de fazer primeiramente uma capacitação das crianças aos usos básicos do computador: C.: por quê? Porque neste grupo eu tinha crianças que não sabiam ligar o computador, né, pra gente aqui na nossa realidade da M.... (faz expressão com o rosto, movendo a cabeça como dizendo não). C.: então, as primeiras interações que eu gravei... é... eu tenho uma lá, que é assim... hoje eu olho e fico emocionada de ver (abre um sorriso enquanto fala) era uma menina que não conseguia escrever usando letra maiúscula... e o outro menino que já sabia, que era um pouquinho... todo mundo mais ou menos... da mesma idade que ela...


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C.: ensinando (afinando a voz) “olha, se aperta aqui...” e essas crianças, depois de um ano...

4.3.

Os professores e o blog

Na entrevista realizada no S.M., contamos com a presença de uma professora que capacita outros professores de diferentes disciplinas, ao uso do blog na educação. Desta experiência e de relatos de seus companheiros, que convivem com outros professores, temos relatos interessantes das visões que esses professores das ouras disciplina têm com relação às novas tecnologias, mais especificamente ao blog. Sua primeira fala é bastante positiva quanto à posição dos professores: P1: Esse curso ainda tá em andamento, por que nossas datas... eles começaram... são professores que têm... não têm tanta intimidade com as ferramentas, com o computador, e... eles gostaram muito da idéia... entenderam as diferenças que se tem de um site... porque tem muita gente que acha que o tipo informação e de... forma de uso parece igualzinha – Ah, qual a diferença de um msn, ah qual a diferença de outro, eles acham tudo parecido... Porque eles não entendem assim, né... aí conforme vai indo, vai andando, vai desenvolvendo, aí começam a surgir umas idéias bem interessantes, né...

Mais adiante na entrevista, a P1 conta que, contudo, os professores ainda vêem essa ferramenta como algo trabalhoso: P1: É, porque é como eu te falei, às vezes eles acham que isso é... parece que isso é um trabalho a mais. Aí é assim, se eles pudessem ver o ganho que é o aluno ter, que eles, o resultado depois...

Mas P1 acredita que esta visão se dá porque o professor ainda não conhece bem os benefícios deste recurso didático, não teve tempo ainda para observar o que pode mudar na sua prática e como pode atingir o aluno desta forma, conforme ilustrado a seguir:


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P1: Mas os professores não têm... eles acham que é um trabalho a mais. Só que na hora que você faz, você põe uma discussão, uma plenária, alguma coisa assim, você vê o ganho que você tem do seu aluno. Eles só conseguem ver, o que você falou, e-mail, você falou... o processo acaba sendo contrário, porque eles não conseguem enxergar. O que a gente ouve muito é assim – informática é só digitar.

Como vimos no marco teórico, é unânime a opinião dos professores quanto à importância da informática no cotidiano da sociedade. Todavia, existe ainda resistência ao uso da tecnologia na prática docente. Como vimos no último relato, para boa parte dos professores, a tecnologia é para técnicos e o pedagógico não consegue dar conta desta demanda – “trabalho a mais”. Porém, Valente (ibid.) propõe justamente o contrário: o domínio do técnico e do pedagógico não deve acontecer separadamente. Esta proposta baseia-se nos mesmos motivos que argumentaram P1 e P2 na entrevista: P3: É, o P2 que é da parte técnica, é da formação dele, durante a aula, na parte de edição de áudio ele sempre fala da parte física, das ondas... ele sempre procura dar essa parte... mesmo com relação ao blog, a programação que está por traz, nem do html... mas é uma preocupação nossa, né, dele, praticamente... então é complicado. P2: É, eu não entendo porque a educação é ainda tão fragmentado. Agora é professor de matemática – matemática, agora é de física – física... não entendo... e aí vai continuar assim, porque a gente não tem política educacional no Brasil...

Ou seja, o beneficio que a união entre o técnico e o pedagógico traria para a educação está na não fragmentação do mundo e de toda a dinâmica inerente aos processos de ensino e aprendizagem, na possibilidade de se estudar a realidade dentro dela e não numa vitrine.


64

4.4.

Vantagens e desvantagens do uso de blogs na educação

Uma das questões presente no roteiro de entrevista pedia que os entrevistados citassem vantagens e desvantagens do uso do blog em educação. O intuito era levantar, de forma mais pontual, quais aspectos podem ser relevantes, ao se tomar a decisão de se usar um blog como recurso didático. A primeira vantagem apontada é quanto à interação que esta ferramenta propicia. Este aspecto foi destacado unanimemente: C.: Cê vai lá, cê vê uma coisa escrita e... você pode interagir com o texto. Você pode comentar. É isso que, que eu vejo de grande, de vantagem do blog, é você poder interagir com aquilo que ta escrito. E as coisas que eu leio e tal, acho que esse é o grande diferencial do blog. P1: Ponto positivo é isso que a gente falou, que tem que é bem interativa, consegue ter, quase em tempo real, o resultado do seu aluno. Mas assim, não chega a ser uma sala de aula virtual, porque não é esse tipo de proposta. Mas se... você joga uma questão, aí o seu aluno vai colocar, vai comentar isso, outro vai ler o comentário dele, que dizer, tá tendo já uma troca entre um aluno e outro, tá, você tá vendo o que tá se passando na cabeça do seu aluno, que as vezes, no momento dos 45 min da aula, não dá. Eu acho que é mesmo pra completar, acrescentar trabalho... P2: Como tudo que é proporcionado pela web 2, a facilidade de você poder interagir, a possibilidade de interação, é só por isso. Acho que a única coisa que diferencia um blog de um site, é isso, a capacidade de interação.

Outra vantagem levantada diz respeito ao exercício de leitura e escrita que este recurso incentiva: P3: E também o desenvolvimento da escrita, da leitura, porque ele vai se... dentro do ambiente que é dele, né, é próprio dele, por exemplo, eu não nasci nessa geração, não sou nativa, então, eles são... eu acho que fica mais fácil para eles. Eles interagem melhor, né?

C. conta uma experiência na qual os alunos são autores e que estas postagens estão disponíveis para um grande público. A certa altura do projeto, o


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autor do livro do qual os alunos estavam escrevendo postagens enviou um comentário sobre o trabalho. Ela conta como isso estimulou os alunos.

Mais uma vantagem relatada pelos entrevistados, diz respeito à sintonia que existe entre internet e os alunos. Quando o professor se utiliza de um recurso que faz parte da realidade dos alunos, estes se sentem envolvidos, segundo os entrevistados. Todavia, isto pode ser também uma desvantagem, pois muitas vezes o aluno tem mais intimidade com essa ferramenta que o professor e assim pode acabar ficando pouco atrativo para o aluno, que está acostumado com ambientes de extrema estimulação áudio-visual.

Os entrevistados também acreditam que o blog seja uma ferramenta com relativa facilidade de manuseio, não sendo, assim, muito trabalhosa a sua criação, para o professor e para o aluno. Mas segundo os relatos já citados no tópico acima, deve-se ter muito cuidado com essa sensação de facilidade. Existe uma necessidade de capacitação dos professores para seu uso mais adequado.

Além destas vantagens, existe outra vantagem subliminar neste recurso, que pode se tornar uma desvantagem: o fato de suscitar questões éticas quanto a escrita para um grande público. Por se tratar de um meio que expõe seu conteúdo para todos os internautas do planeta, os alunos precisam aprender sobre esta nova situação, que envolve muitas questões éticas, de o que se pode e o que não se deve dizer; questões de segurança, na qual este ambiente pode ser bastante perverso, conforme relatado a seguir: C.: Existe... e eles comentam... e tem assim, a gente trabalha também com uma questão da ética, né, do que que a gente escreve na internet... Porque a gente configura, assim, eu gosto... eu não vi esse edublog, mas o do... o que eu gosto do blogger, é que assim, dentro de um ambiente educacional, com as preocuações que M. tem, é... ele me dá uma certa segurança. Então, o fato de, toda postagem, todo comentário, eu conseguir mandar pro meu e-mail, isso, pra mim, é uma coisa bárbara, por que? Porque gora tem gente que vive de ficar entrando em blog deixando comentário de cisa pornô e de cassino on-line, né... e de


66

venda de t-shirts on-line... é uma coisa impressionante. É, escreve em inglês – ah, your blog is very beatifull e tal, but... e manda entrar lá... Eu acho que a gente tem que ter esse cuidado, muito grande aqui na escola. E também de trabalhar com os alunos, porque as vezes, isso já aconteceu, né, primeiro a gente tem que os comentários têm que ser em inglês, não em português, porque eu tô trabalhando... tá dentro da minha disciplina, né... C.: E, se você entrar na página do início do projeto, está escrito assim – if ou have something nice to say, say it. Né. Cê você não tiver nada legal pra falar, não fala. E agente trabalha com esta questão. Ontem mesmo, eu tava aqui, e uma professora do nono ano, não, do oitavo ano, me ligou, ela tava lá no laboratório - olha, dois alunos aqui entraram, e escreveram, eles foram visitar o blog literário do ano passado, porque eles vão fazer esse ano, os alunos entraram lá, tal, e escreveram, ai, detestei o que você escreveu. Eu falei – posso ir aí – Pode. Aí eu fui la, não fi dar bronca, eu fui conversar. E ai gente, a gente escreve... conscientizar. A gente escreve o que a gente quer? A gente tem esse direito. O que é essa questão desse anonimato? Enfim...

Outra vantagem, que também pode se tornar uma desvantagem, é quanto à importância de um planejamento antecipado na elaboração do blog. Segundo a entrevista, a estrutura do blog parece que não é muito “amigável”, do ponto de vista da organização. C. relata que sente falta da existência de algum recurso que permita, no mesmo blog, separar as postagens por assuntos, já que as postagens dos blogs seguem unicamente uma ordem cronológica. (C. se referia ao Blogger, que é o mesmo serviço de hospedagem de blogs utilizados pelos outros entrevistados).

A análise das entrevistas buscou esclarecer a problemática de pesquisa, evidenciando os desafios que se impõem à utilização do blog, no campo da educação e salientando a relevância deste instrumental, à construção dos processos educacionais. Além de permitir ações educacionais convergentes com a materialidade histórica dos alunos, com o seu cotidiano, o blog, por sua situação enunciativa

interativa,

propicia a

construção de processos educacionais

amparados na perspectiva sócio-histórica.


67

5.

Considerações finais

Este trabalho de iniciação científica tinha como objetivo traçar as principais características do uso do blog pedagógico e analisar em que medida estas características permitem a união do universo do aluno ao universo da escola, com a preocupação maior de formar leitores críticos do mundo. Através dos dados coletados nas entrevistas pudemos chegar a algumas conclusões. A primeira conclusão é que a principal característica que o blog pedagógico deve ter é sua capacidade de interação muito bem explorada. Todos os entrevistados confirmaram que esta característica do blog é a mais atraente na educação, pois, como já foi falado, o blog é uma das poucas ferramentas que permite que os alunos interajam com o professor, entre eles e com os internautas de forma simples. E como vimos no marco teórico, a interação entre os sujeitos é de fundamental importância na construção do conhecimento. Outra conclusão é que o blog pode ser utilizado de diferentes formas na educação, e que o professor deve ter bem definidos os seus objetivos ao escolher um tipo de blog pedagógico. Mais uma conclusão é quanto à facilidade de criação de um blog. Apesar de se tratar de uma ferramenta relativamente simples, pode significar trabalhoso tanto para alunos quanto para professores, dependendo de seus conhecimentos prévios e seus preconceitos. Portanto, não se deve assumir que todos aprenderão a usar esta ferramenta rapidamente. Seu ensino requer muito cuidado no planejamento. Contudo, foi unânime a opinião de que o blog apresenta inúmeras vantagens à educação, e que seu uso deve ser mais explorado pelos educadores. A interação, sua capacidade áudio-visual e a sua facilidade de uso são características marcantes, mas acredito que a questão crucial da sua importância na educação está no fato de ser uma ferramenta que pertence ao universo dos educandos. Quando no marco teórico estudamos sobre a leitura, falamos do que Jolibert (1994) chama de “leitura pra valer”, ou seja, tipos de leitura nas quais os educandos estão expostos e que têm significado para este. Acredito que a


68

utilização de blogs pedagógicos são mais uma forma de expor a leitura aos educandos, de forma significativa, pois se encontra em um meio de comunicação que atrai muito a atenção dos jovens. Ao disponibilizar uma informação no blog, teremos o primeiro passo, que é chamar a atenção do educando, garantida. Mas, para que esta atenção se mantenha, este blog precisa ser muito bem elaborado, e continuar preocupado em chamar a atenção deles, pois do contrário, volta a ser um recurso didático como qualquer outro. Para garantirmos a leitura crítica de mundo do educando, precisamos antes de tudo garantirmos a leitura crítica de mundo dos educadores. Para um melhor estudo deste assunto, acredito ser relevante uma nova pesquisa em cima dos blogs pedagógicos. Buscar na internet diferentes blogs pedagógicos e compara-los, traçando aspectos que podem de alguma forma contribuir na elaboração de blogs pedagógicos que mantenham o interesse do aluno ao longo do tempo.


69

4.

Referência biblioráfica

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WEISZ, T. O diálogo entre o ensino e a aprendizagem. 2 ed. São Paulo: Ática, 2006.


72

Apêndice 1

Carta de esclarecimento da pesquisa

Prezado professor,

Esta entrevista é uma continuação do processo de pesquisa que venho realizando para minha iniciação científica. Trata do uso dos blogs como recurso didático. O intuito é descobrir as diversas formas que os professores vêm explorando esta ferramenta virtual em benefício da aprendizagem de seus alunos. O objetivo é analisar aspectos presentes neste recurso que contribuam na formação do leitor crítico.

Através

desta

entrevista,

pretendo

levantar

aspectos

comuns

e

características que possam ser relevantes ao processo de ensino-aprendizagem, para então criar uma listagem de pontos que os professores devem levar em conta na criação de um blog para sua classe, ou que devem evitar em seus blogs educativos.


73

Apêndice 2

Termo de consentimento livre e esclarecido

I – IDENTIFICAÇÃO DO RESPONSÁVEL PELA PESQUISA Nome: Abigail Nehama Dazcal Roizman RG:12.139.479-7

Telefone:9957-0848

E-mail: abigailroizman@yahoo.com.br

II – DADOS SOBRE A PESQUISA

Título do trabalho: O uso de blogs como material didático na formação de leitores críticos

Curso / Instituição: Pedagogia - PUC/SP.

III – EXPLICAÇÕES SOBRE A PESQUISA

1. Benefícios: Traçar as principais características que um blog pedagógico deve apresentar para unir o universo do aluno ao universo da escola, com a preocupação maior de formar leitores críticos do mundo. 2. Sigilo: todas as informações explicitadas no texto da pesquisa obtiveram a anuência anterior dos sujeitos pesquisados. As demais informações obtidas durante o processo de pesquisa são confidenciais. Será garantido a confidencialidade, a privacidade, o anonimato e o sigilo das demais informações obtidas. Os resultados deste estudo poderão ser publicados em artigos e/ou livros científicos ou apresentados em congressos profissionais, mas as informações pessoais que possam identificar os sujeitos de pesquisa serão mantidas em sigilo.


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3. Riscos e desconfortos: não existem riscos ou desconfortos associados à pesquisa ou probabilidade de que os sujeitos sofram danos como conseqüência imediata ou tardia do estudo.

IV – ESCLARECIMENTOS SOBRE GARANTIA AOS PARTICIPANTES Ficam garantidas aos sujeitos da pesquisa:

1. O acesso a informações relacionadas à pesquisa, inclusive para dirimir eventuais dúvidas. 2. A salvaguarda de confidencialidade, sigilo e privacidade.

V – CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO Eu compreendo os direitos dos participantes da pesquisa. Compreendo sobre o que, como e por que este estudo foi feito. Autorizo a utilização das informações já constantes da pesquisa. Estou ciente da garantia de sigilo e confidencialidade, em caso de publicação. Receberei uma cópia assinada deste formulário de consentimento.

São Paulo, dia de mês de ano. _____________________________ ____________________________ Nome e RG (do sujeito de pesquisa) pesquisa)

____________________________ Nome e assinatura do pesquisador

Assinatura

(do

sujeito

de


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Apêndice 3

Roteiro de entrevista

Dados pessoais: ROTEIRO DE ENTREVISTA

Nome Data Sexo

Cidade feminino

Idade

masculino Nível de escolaridade E-mail Disciplina que leciona

Endereço e nome do/s blog/s

Questionário:

1. Quando você começou o blog que você usa com seus alunos e de onde surgiu a idéia? 2. Você tem mais de um blog? Quais? 3. Você participa de algum grupo de discussão sobre blog e ensino? Se sim, quais? 4. Você percebe o blog como um recurso didático? 5. Se sim, como você usa o blog como recurso didático? Que estratégias de ensino com o blog e com que público? 6. O blog sempre se apresentou desta forma, ou você foi alterando com o tempo? Em caso positivo, que alterações fez?


76

7. Você utiliza que programa de edição de blogs? Por quê? 8. Existe interação dos alunos com o blog? Como? (aluno X aluno, aluno X professor, professor X professor, e outros tipos de interações) 9. E com os pais? 10. Quais são os prós e os contras desta ferramenta para a sua prática pedagógica? 11. Você utiliza outros recursos didáticos? 12. Em caso positivo, quais? Em que medida você os relaciona com o blog?


77

Apêndice 4

Transcrição 1

Esclarecemos que esta transcrição da entrevista, originalmente gravada em vídeo com C., é literal, ou seja, com todos os vícios de linguagem comuns em uma conversação.

Abigail: (acaba de arrumar a posição da vídeo-gravadora) - Vamos lá!

C.: Bom, eu tô...eu sou mestranda da USP, do FFLECH, Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, e minha pesquisa... eu entrei com o projeto de pesquisa, aí eu me interessei por blogs, aí em 2006 eu criei meu primeiro blog pedagógico aqui na M., mas eu queria realizar, não só eu, eu e meu orientador, a gente tinha assim, um desejo de realizar uma pesquisa com caráter mais social, né...

Abigail: tá...

C.: que pudesse beneficiar os sujeitos da pesquisa. Eeee (pensando) e aí em cima desta, desta primeira experiência, que eu vi que funciona, que é possível... Em 2006 o primeiro blog que eu fiz aqui na M....

Barulho das crianças da M. muito alto do lado de fora da sala.

C.: (Risos) é... foi um blog com quarta série, na época que ainda era quarta série, né...

Abigail: tá...


78

C.: que era algo extremamente inovador, um blog que as crianças mesmo botavam a mão na massa, e elas que escrevem, é... Porque o que eu percebo, é que tem muito... se fala muito de blog pedagógico...

Abigail: ahã...

C.: mas se você vai pesquisar, tem muita coisa que ta na mão do professor, tem pouca coisa que o aluno posta.

Abigail: tem autoria...

C.: o, o , o blog tem muito blog pedagógico que é... que funciona como humm (pensando), é... mediação entre educadores...

Abigail: ahã...

C.: né..., uma forma dos educadores interagirem... Ahm tem blog que funciona simplesmente para postar trabalho de aluno...\

Abigail: ahã... C.: E que teóri...

Abigail interrompe: Divulgação, né?

C. concordando com a cabeça: divulgação, é. E que são chamados de blogs pedagógicos.

Abigail: ahã...

C.: né... mas eu acho que o... o autêntico, genuíno é aquele blog que o aluno é responsável...


79

Abigail interrompe: é autor?

C.: é autor por postar, por comentar... (pausa rápida). Bom, aí criei esse primeiro blog, foi uma experiência de um ano inteiro...já tava na USP desde 2005...(pausa) Nossa, vai ter um barulho aqui, hein! (risos)

Abigail: mas a gente se entende (risos).

C.: vai tá... (pensa um pouco) mmm já tava na USP tentando achar um rumo para minha pesquisa, desde 2005, e não conseguia encontrar... e foi aí que eu falei, é com isso que eu quero trabalhar... e ...

Abigail interrompe: qual é o tema da pesquisa?

C.: então...eu trabalho... eu investigo a mediação...deixa eu contar primeiro da pesquisa...

Abigail: tá!

C.: aí você vai entender...

Abigail: ta!

C.: o que eu investigo. Aí eu fui parar numa biblioteca pública... fui convidada pela... pela bibliotecária, que também já foi orientanda do meu orientador... e que abriu...

Abigail interrompe: eu vi o site...

C.: você viu?


80

Abigail: é um daqueles que você me mandou né?

C.: é (confirma com a cabeça também).

Abigail: dos blogs...

C.: e fui fazer um trabalho, que já era um trabalho de pesquisa, né, pesquisa etnográfica, então eu tô alí como sujeito... eu sou pesquisadora mas eu sou parte...

Abigail: claro...

Clauida: eu sou mediadora desse grupo, né...

Abigail: ahã...

C.: numa... numa... (pensando) é... são...vari...o número variou, mas eu tive lá de oito a dez crianças, e adolescentes, e agente construiu junto... um blog pedagógico da biblioteca, que eles escrevem resenhas... e aí a coisa toda foi acontecendo, e eu f... o que eu estudo na realidade é o meu... é a mediação e a construção de conhecimento deles o usando o... o... a ferramenta blog.

Abigail: legal...

C.: por quê? Porque neste grupo eu tinha crianças que não sabiam ligar o computador (pausa).

Abigail: hum...


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C.: né, pra gente aqui na nossa realidade da M.... (faz expressão com o rosto, movendo a cabeça como dizendo não).

Abigail: você...

C.: então, as primeiras interação que eu gravei... é... eu tenho uma lá, que é assim... hoje eu olho e fico emocionada de ver (abre um sorriso enquanto fala) era uma menina que não conseguia escrever usando letra maiúscula... e o outro menino que já sabia, que era um pouquinho... todo mundo mais ou menos... da mesma idade que ela...

Abigail: sei...

C.: ensinando (afinando a voz) “olha, se aperta aqui...” e essas crianças, depois de um ano... é...(pensando) essamenina se juntou com a professora de matemática dela...

Abigail: pra construir um blog...

C.: de uma escola pública... e ajudou... ensinou a professora a construir um blog de matemática...

Abigail se sobrepôs ao final da fala de C.: construí um blog... ai, que legal!

C.: super legal, né? (pausa) agora... é... trabalhei na realidade... (fazendo que não com a cabeça) sofrida...

Abigail: claro...

C.: eu tinha nessa biblioteca...


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Abigail interrompe: tinha computador dis... disponibilizado?

C.: teoricamente eu tinha dois computadores. Mas a gente diversos problemas... hum... o projeto teve que ser descontinuado por falta de equipamento... por falta de manutenção... que nosso querido pre... prefeito, acha que lugar de biblioteca é pro aluno ler. Só.

Abigail: e ler livro!

C.: livro (pausa).

Abigail – risos.

C.: não precisa de computador. Então...

Abigail (com ironia): como nos Estados Unidos, né? Abigail sobre a fala de C.: Você ouviu sobre as bibliotecas lá? C.: (confirma com a cabeça) eu não tenho mais computador... (ouve o comentário de Abigail) é... eu não tenho computador para usar, não posso continuar o trabalho, eu não tenho...

Abigail: agora você não tem?

C.: não, eu terminei minha fase de coleta...

Abigail: e agora...

C. interrompe: as crianças, eles iam dar continuidade à pesquisa... (pausa) deixa eu fechar um pouquinho (referindo-se à janela, pois haviam muito barulho das crianças da escola).


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C. se levanta, fecha a janela, e volta ao seu assento.

C.: Então é assim, eu passei por várias fases lá, já.. ach... algumas vezes eu não tinha computador nenhum... eu cheguei ter que ir pra uma lan house pra imprimir tudo que eu fiz...

Abigail: que desespero...

C.: desespero...(confirma com a cabeça). Então, mas o legal é perceber que com esse desespero todo, né, e com essa falta de recurso, a gente construiu...

Abigail: rolou...

C.: e a partir de um blog eles foram tendo idéias de outros... então tem o blog de resenhas literárias, da biblioteca, é... aí eles resolveram criar um sobre cultura popular... que a biblioteca é um centro de cultura popular, é uma biblioteca especializada em cultura popular. Porque ela ta ali na região de Santo Amaro, que tem muito imigrante, e tal... (pausa) e... aí eles resolveram fazer um blog de produções literárias dos jovens da Belmonte, que eles postam coisas... internas deles (risos)...

Abigail (risos): que interessante....

C.: é... e assim, o que foi legal é que... é... cada sujeito da pesquisa foi encontrando um caminho dele dentro do grupo. Então a gente têm... uma menina que até é aluna da f... USP também, que é a mais velha do grupo... que ela funcionava com revisora... foi uma coisa que eles foram encontrando o caminho... tem o pequenininho, de nove, dez anos... que assim, é um excelente leitor... e escreve coisas belíssimas... tem um dos meninos que era um... é... um artista... desenha... e ele, todas as ilustrações do blog são dele...


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Abigail: olha!

C.: e aí cada um, foi... sabe aquela dinâmica que dá certo?

Abigail: e é um público que ta sempre lá? Ou seja, apesar de ser uma biblioteca são pessoas que se repetem, né? Essas mesmas...

C. interrompe: Então, como essas crianças foram parar lá. São leitores, assíduos da biblioteca... e... em 2006... em julho de 2006, é... a bibliotecária fez um concurso, não, não era um concurso... (pensando) era um programa de leitura nas férias, em julho. Que eles tinham... pra estimular a leitura e tal, e ele tinham que ler uma quantidade de números e escrever resenhas. E aí ela foi fazendo uma... entrou em contato com um monte de patrocinador e tal... foi uma... fez um evento... deu livro pra eles... né, um trabalho...

Abigail: um incentivo.

C.: um incentivo super legal... e aí foi quando eu entrei, né. Eu sou voluntária na biblioteca, e... aí a possibilidade de, assim, aqueles que fizessem esse trabalho, se sobressaíssem, eles seriam convidados a participar deste blog. E aí foi que eles surgiram...

Abigail: ah... que legal...

C.: ... e foi super interessante, porque é um trabalho... pra eles é a coisa mais séria, assim, da vida deles... né...

Abigail: é mesmo!?

C. confirma com a cabeça.


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Abigail: e meio que vinculou eles à biblioteca, né? Ou seja, se antes eles não eram tão assíduos, provavelmente isso... fez com que eles ficassem mais...

C.: é... mas esses já eram... e eu tive durante... durante esse tempo que eu fiquei lá, um ano e meio praticamente, é... eu tive alguns que não tinham tanto vínculo e que ficaram pouco tempo... mas eu tenho ali cinco que foram fiéis o tempo todo

Abigail: ai que legal...

C.: é... do começo ao fim... e...

Abigail: e daí tua pesquisa, você tava falando...

C.: e aí...

Abigail: como é que foi?

C.: e aí minha pesquisa é assim, eu faço o uso do... do ambiente virtual... pra... na realidade eu não... eu não... o meu... o... eu não pesquiso o blog, mas eu pesquiso a interação entre eles, na hora de resolver tarefas difíceis usando a tecnologia. Então eu... assim, eu trazia uma tarefa, pra eles... se quiser eu posso até disponibilizar esse material para você...

Abigail: ahã, eu gostaria de ver...

C.: é, não tenh aqui, mas posso trazer...

Abigail: claro!

C.: é assim, então, cada sábado que eu ia, eu tinha um roteiro do que a gente ia fazer, né... e aí a gente descobria junto...


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Abigail: ahã...

C.: então assim, hoje a gente vai postar, aprender a colocar imagem... como a gente faz isso? Então, eles já sabiam entrar, eles já conseguiam perceber a diferença de entrar como leitor e entrar como administrador... no blogger... no começo era a maior confusão... eles não sabiam... não, mas qual que a gente entra? A gente entra no...no... no... é... blogspot ou no blogger? Né? Administrar... aí depois isso ficou tranqüilo, muito rapidamente... e aí eu ia trazendo esses desafios...

Abigail sobrepõe a fala: desafios...

C.: e eu ficava assim, meio como que provocadora, né? Ah... não sei...

Abigail: você não respondia, eles se viravam?

C.: não... eu ficava lá...

Abigail: que legal...

C.: e... e é legal que eles tem assim, em mim, eu... ele acham que eu, assim, aquela que entende de absolutamente tudo, né? E aí eles foram percebendo que não, porque eu fui saindo... no começo eu tava mais em cima...

Abigail: claro...

C.: eu dividi minha pesquisa em três etapas... a etapa... a primeira etapa foi uma etapa mais de capacitação... né...

Abigail: ao computador mesmo, né?


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C.: ao computador... como entrar e sair do ambiente, tal... depois, eles foram... ah... eu já jogava pra eles... ah não, hoje eu tô cansada... e ficava assim, hoje só quero ver o que vocês vão aprontar aí... nós temos esta tarefa, e... aí a gente foi descobrindo... eles descobriam e... enfim... enfrentavam problemas, então, teve um dia que eu entrei pra fazer alguma coisa no blog, e eu... ah, a gente tava aprendendo a colocar links, né, então primeiro eles aprenderam a fazer pesquisa, que eles não sabiam... é... aí eles pesquisaram sites que tinham a ver com a literatura infantil, e eles escolhiam links para colocar... então assim, tem várias fazes, né... primeiro ele tem que aprender a pesquisar, pra depois pegar, ver o que é relevante...

Abigail: fazer a seleção...

C.: pra depois aprender a colocar link. E aí eu fui pra casa e fui dar uma mexida... fui incluir uma imagem, acho que... sei lá, eu sei que eu apaguei quase todos os links... tudo. Absolutamente tudo.

Abigail – risos.

C.: absolutamente tudo que eles fizeram.

Abigail: eles até ...

C.: não, mas foi legal, porque a gente aprendeu a lidar com problemas...

Abigail: é né...

C.: ... então a gente aprendeu a lidar com problemas...

Abigail: e que acontecem problemas...


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C.: É. Agora é bastante diferente, porque eu tinha um grupo pequeno, né, eu não tinha a... eu não tinha a obrigatoriedade de ensinar alguma coisa pra eles, assim.. eu não tinha um conteúdo acontecendo, é muito diferente do que eu faço aqui, do que eu fiz no primeiro blog, por exemplo. É em dois mil e... seis? Eu falei dois mil e seis. Não, foi dois mil e cinco o primeiro blog. (Pensa) Peraí, 2005... depois 2006... (pensa). 2005, 2006.

Abigail: duanualmente.

C.: Exatamente. Foram dois anos, é. Hum... (pensando). Aqui e muito diferente. (Referindo-se à disciplina de inglês da escola M.). Porque aqui eu tô dentro de uma estrutura de escola, que eu tenho um conteúdo pra trabalhar, e que eu tenho que encaixar essa ferramenta de uma forma significativa dentro do meu conteúdo, né. Então a gente aqui foi bem diferente. É... eu tinha no começo... a gente aqui na M. divide o curso de inglês em seis unidades, durante o ano, né, então a cada final de unidade temática a gente fazia uma postagem no blog. E é em inglês. Porque esse trabalho na biblioteca não tem nada a ver com inglês, né, é língua materna.

Abigail: E também é o aluno que posta?

C.: Tudo. Tudo.

Abigail: O resumo do que ele aprendeu, vamos dizer.

C.: O, a única vez que a gente... hum... este é o primeiro ano que tô, eu criei um blog que é um log que eu faço, que é um blog de registro, de um projeto que a gente ta fazendo com o sexto ano, do... de um intercambio do Brasil com a Finlândia...


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Abigail: Olha, que legal!

C.: Que vai culminar numa vídeo conferência no fim do ano...

Abigail: Olha!

C.: E... é um projeto em conjunto com geografia. Inglês e Geografia. E aí a gente optou por documentar as fases do projeto, um projeto sobre as estações do ano, a gente estuda qual... porque as estações do ano são tão diferentes nesses dois países, né.

Abigail: nesses locais. C.: E... é a primeira vez que eu criei um blog, que é um blog da escola, um blog pedagógico, mas que é um relato, é um registro do processo, tá.

Abigail: E quem registra é você?

C.: Esse quem registra sou eu, tá.

Abigail: Entendi.

C.: Esse quem registra sou eu, porque o objetivo do projeto não é esse. Agora aqui a gente tem vários trabalhos com blog. A gente tem o blog literário, que é um trabalho que o ano passado a gente fez com o sexto ao nono (anos) e esse ano a gente vai fazer só com o oitavo e nono, que o aluno posta. É... em cima dos livros de literatura que eles lêem. Então para cada série a gente tem uma proposta de trabalho diferente. Então num vai mudar o final, na outra é...

Abigail: Em inglês, não?


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Cáudia: Tudo em inglês. Tudo em inglês. Na outra é fazer um, fazer uma entrevista, então eles criam uma entrevista com um dos personagens e postam no blog. E inclusive um desses, o blog, esse blog, do nono ano, do ano passado, foi super interessante por que? Porque o autor do livro, um inglês, navegando na internet...

Abigail: Encontrou!

C.: No seu país de origem...

Abigail risos.

C.: Deve ter dado no Google o nome dele, o nome do livro, foi parar no nosso blog e deixou umcomentário!

Abigail: Olha! Que legal!

C.: E foi super legal, mobilizou os alunos, e tal.

Abigail: Olha que legal!

C.: E esse ano, com os quintos anos... você é do quinto?

Abigail: Eu sou do quinto.

C.: A gente tem uma proposta um pouco diferente de blog, é super interessante, por que assim, agente acaba fazendo o mesmo projeto, os alunos são sempre novos, por que cada ano...

Abigail: é, vai mudando.


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C.: Mas agente não aguenta fazer o mesmo projeto. Então esse ano a gente...

Abigail: risos.

C.: A gente não agüenta! (risos).

Abigail: lógico!

C.: Porque é muito legal! O aluno não, porque é primeira vez que ele ta fazendo, mas, bom. A gente vai assim. A gente vai diminuir a quantidade de postagens. Ao invéz de seis a gente vai diminuir. Mas a gente vai, é, intensificar a qualidade dessa postagem. Poder trabalhar com reescrita. Poder trabalhar também, mais com a questão da imagem.

Abigail: Tá.

Cauda: De inserir imagem. Que isso eu acho que é uma coisa que, a gente, ficou um pouco a desejar. A gente não inseriu, não incluiu o aluno nisso.

Abigail: Tá.

C.: Acabou ficando mais textual, então eu acho que isso, acho que faltou isso. É... e a questão do vídeo, porque o blogger, agora você consegue colocar vídeo, né.

Abigail; É. Já algum tempo, né?

C.: Aí. É agora que eu digo assim, quando eu, quando eu comecei com o blogger, não tinha.

Abigail: A é?


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C.; Isso é do ano passado pra cá. Já faz quase um ano. Aí que, aí entrou uma questão ética. Como a gente faz isso? Porque a gente não pode usar, a gente não quer usar a imagem...

Abigail: Claro.

C.: Então não pode ser...

Abigail interrompe: imagem de foto? Das crianças?

C.: Não, de vídeo.

Abigail: Ah, de vídeo. Entendi.

C.: A gente não pode colocar no blog da escola.

Abigail: Entendi.

C.: E aí? E aí surgiram ene questões e tal. E aí a gente decidiu, essa, esse impasse, por que a gente quer incluir nem tanto a imagem, a gente quer incluir a voz desse aluno.

Abigail: Um diálogo, né?

C.: É. Porque, tem a ver com aprender uma língua estrangeira, então é super pertinente...

Abigail: Se ouvir, né?


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C.: É. Então a gente optou assim, a gente vai ter menos postagens, e a cada postagem eles vão fazer um teatro de fantoches, e a gente vai filmar os fantoches, e eles vão fazer a voz do fantoche.

Abigail: Ah que legal.

C.: Etão vai ter lá o texto, então agora por exemplo, a primeira unidade a gente ta em “countries”e “nationalities”, então eles estão aprendendo os países, e a perguntar – where are you from, what’s your name, where are you from, how old are you, e tal. Então vai ter uma conversa, eles vão criar uma conversa, vão fazer os fantoches, e aí vai ter uma conversa e esses fantoches vão ser filmados com a voz e ai a gente vai inserir no blogger. Isso é uma novidade.

Abigail: Você já ouviu falar em podcast, né?

C.: Já. Já.

Abigail: Mas daí fica um pouco mais complicado, né?

C.: É acho que é um pouco mais... Acho que para essa idade já, ainda o blog tem um...

Abigail: Já é ne?

C.: É tem um, tem um, tem um apelo visual, e eu acho que muito, assim, eu sempre me pergunto, por que blog e não outra coisa? Né. Por exemplo, o quarto ano a gente tem um projeto de homepage, as crianças criam uma homepage.

Abigail: Aha.


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C.: Hum, por que blog? É porque , a grande sacada do blog, eu acho que o blog é super vantajosos, é que ele permite a interação, com o leitor. Qualquer pessoa. Abigail: Instantânea, né.

C.: Cê vai lá, cê vê uma coisa escrita e... você pode interagir com o texto. Você pode comentar. É isso que, que eu vejo de grande, de vantagem do blog, é você poder interagir com aquilo que ta escrito. E as coisas que eu leio e tal, acho que esse é o grande diferencial do blog.

Abigail: Além daquilo que você disponibiliza para o grande público, né? Você tá escrevendo não só pro professor né? (risos)

C. concorda com a cabeça: Não. Sim. Tem uma audiência. Essa questão, desse autor, que entrou...

Abigail: Imagina!

C.: Se descobriu lá.

Abigail: Posso te fazer as perguntas, então?

C.: Pode.

Abigail abrindo as folhas do questionário: Vou aproveitar, tá. Isso é teu (entrega a via da professora do termo de consentimento).

C.: Esse é meu.

Abigail: É.

C.: Tá.


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Abigail: Isso aqui que eu vou precisar que você assine. Se não eu te dou outro.

C.: Não...

Abigail começa a ler o roteiro de entrevista: É... Isso você já me falou... de blog... (lendo baixo) você participa de algum grupo de discussão... (volta-se para C.) É, você participa de um grupo de discussão a respeito de blog? Você já, além do que faz...

C. confirma com a cabeça: Blogs Pedagógicos, do Yahoo.

Abigail: tá.

C.: Você conhece?

Abigail: Eu acho que eu até faç parte deste grupo. (risos).

C.: Um pessoas super ativo...

Abigail: É... Que faz muito...

C.: Super ativo...

Abigail: Sempre tem novidades lá.

C.: É uma lista de discussão no Yahoo que se chama Blogs Pedagógicos.

Abigail: É, acho que eu até entrei nele. Legal. E você sente que isso te ajuda, você troca...


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C.: Tem também...

Abigail: Troca idéias com isso? Não?

C.: Então... eu... eu sou muito mais passiva nessas lista por falta de tempo. Já postei algumas coisas, até convite para participar do blog e tal. Não tenho o tempo. Não tenho. “Male male” eu tenho tempo de responder os e-mail, e assim, gostaria de ter mais tempo para entrar nas discussões, né.

Abigail: Ahã. Mas você, por exemplo, de onde você tira as idéias? Da tua experiência mesmo? Da experiência que você tem com os teus blogs? Ou de um...

C.: Idéia de que?

Abigail: É, dos projetos que você vai fazer em cada blog.

C.: Ou de algum?

Abigail: Ou de algum lugar que você viu que tem?

C.: Não... Eu vou tendo idéia...

Abigail: Idéia tua.

C.: É eu vou...

Abigail: De como você pode usar o blog, né.

C.: É. Eu acho que nada vem do nada, né, eu acho que assim, você vê uma coisa aqui, com outra lá, que não tem nada a ver, e você cria uma terceira.


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Abigail: Tá.

C.: Né. Por exemplo, essa dos blogs literários, né. Veio de uma necessidade de trabalhar a leitura de uma língua estrangeira de uma forma mais contextualizada, que era algo novo, algo que não tinha na equipe de inglês do fundamental II quando eu entrei para a coordenação, que foi 2007.

Abigail: Tá.

C.: Na coordenação geral, hum..., do fundamental I e II. Então é uma equipe que para mim era nova, né. Eu tô na escola a 12 anos, mas eu tava só na equipe do fundamental I. E aí, eu percebi que era uma questão que a gente trabalhava de uma frma... os professores, né, trabalhavam de uma forma... aquela forma leu faz prova, leu faz prova, leu faz prova. E não tinha um processo criativo...

Abigail: um significado...

C.: ... em cima disso. E aí, eu tava no auge, né, da minha pesquisa de blogs, e eu achava, como diz os meus filhos, tudo eu transformo em blog. Mãe, você parece uma adolescente. E eu não tenho blog, meu.

Abigail (risos): Não é um diário pra você.

C.: Não tenho! Não. Eu tenho um blog, que é o blogs in education, que eu escrevi, eu comecei a usar e tal, pra postar as minhas... reflexões e o meu processo dentro da minha pesquisa. É tudo acadêmico.

Abigail; Tá.

C.: E aí eu acabo transformando em blog. (risos).


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Abigail: Legal. Então na realidade surge da rea... da tua realidade...

C.: Da realidade.

Abigail: Questões da tua realidade que aí que surgem as idéias, né?

C.: É. É.

Abigail: Tá. É... você percebe o blog como um recurso didático? Na realidade como uma ferramenta, a gente queria dzer assim...

C. confirmando com a cabeça: Muito.

Abigail: No sentido que eu pergunto aqui é além da questão do aluno, que você coloca que... você colocou bem no comecinho, que você acha que ele têm que escrever, ele tem que ser autor. Você acha que existe também a possibilidade do professor se utilizar do blog, um pouco como o Amparo faz, aquilo de que, cê, aquilo que, um material didático a mais, além do livro que você tem, você tem também o blog...

C.: É outra função do blog, você tem um blog do professor, que o aluno vá lá interagir com aquele material, sei lá, lá ele tem um roteiro de estudo, ou que ele tenha ali um st..., um ponto de partida, pra ele ir pra outros caminhos. Sim. Sim.

Abigail: Você enxerga.

C.: Sim.

Abigail: Não é uma opção sua, né? Você colocou que não é uma das coisas que te...


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C.: Não, não porque assim, eu acho que o trabalho com o blog começo de primero, de primeira a quarta aqui no fundamental I, e eu acho que as crianças ainda não têm esta autonomia tecnológica, pra fazer isso. Mas eu acho que sim.

Abigail: Entendi.

C.: Eu acho que isso pode ser uma ferramenta... e é, muita gente trabalha desta forma, né. Que o blog tá na mão do professor, o professor é o provedor ali, né, e é a partir daí ...

Abigail: Ele vai pesquisar... É uma espécie de Webquest, mas não tanto Webquest, você...

C.: É.

Abigail: ...tem a interação do aluno postando também, né.

C.: é.

Abigail: Os comentários, e tal.

C.: Então, eu acho que a gente... eu tava até nessa reunião que eu te falei, que eu tava com a Cleuza, era justamente pra flar disso, mas não é com blog, a gente vai entrar com um projeto sobre a África, no Sétimo Ano, que a gente vai fazer uso de um ambiente virtual que a gente não conhece, que é o Moodle.

Abigail: Hum...


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C.: E é isso que você tava falando, o professor vai colocar, alguns alunos também, a gente... tem agumas turmas que também vão funcionar como provedores, e outros alunos desta mesma série vão...

Abigail: vão ser os alunos. C.: ... vão ser os alunos.

Abigail: Ai, se precisar eu tô fazendo um curso sobre Moodle...

C.: Que legal, que legal... vou te alar mesmo.

Abigail: É... bom, o blog sempre se apesentou desta forma, que você tem, bom o blog, por exemplo, pega algum deles como exemplo, você foi mudando ele com o decorrer do tempo, ou você prefere fazer outro blog sobre outro assunto? Como é ? Vamos dizer, por exemplo, o primeiro blog que você fez lá na biblioteca, né, ele mudor? Você sente que ee teve alguma transformação?

C.: Teve. Ele teve uma transformação. Acho que foi assim, a gente, lá na biblioteca, eles foram percebendo uma necessidade de, de, de uma padronização maior, que a gente não tinha. Agora eu acho que é um recurso que alta no blog, pelo menos no blogger, eu não sei se outros têm, é, você precisa tomar um crto cuidado de como você coloca estas postagens, senão fica, cê começa a misturar assunto, fica uma salada, tá, você não sabe o que é o quê...

Abigail: Você não acha mais né...

C., ne, porque ele é colocado...

Abigail: por data, né...

C.: da forma cronológica, né, de baixo pra cima.


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Abigail: Ahã.

C.: É... a gente gostaria de poder, sabe, organizar mais em frames, assim... Então, eu ponho pra cá, arrastar, e não dá pra fazer isso, então lá na biblioteca eu percebi que ando eles tinham a necessidade de falar de um outro assunto a gente criava outro blog e fazia liks.

Abigail: Entedi.

C.: então se você olhar o blog da biblioteca, pra ele tem link o blog de Cultura Popular, o blog de Produções deles...

Abigail: tem, eu vi.

C.: e tem um outro blog, que esse eu que criei, que é um blog de bibliografia, pra uma leitura que eles iam fazer nas férias, e todos falam entre si, porque eu acho que o blog não tem esse recurso.

Abigail: É, eu acho que existem novos blogs agora com isso.

C.: Até se você...

Abigail: Tem o edublog, você já ouviu falar?

C.: Edublog, já.

Abigail: Ele, você tem a capacidade de abrir páginas dentro dele, frames...

C.: ...frames... então, isso é legal, que eu acho que é a nova geração, né.


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Abigail: Fora que você... dá uma entrada, cê vai ver, tem umas coisas novas... ele tem já como colocar de cara todos os... já associados, os membros que vão postar, de uma vez só, ele é feito para educação, né.

C.: Tá, eu vou entrar, vou entrar nesse...

Abigail: é muito legal. Hum... tá, você já falou, mas você se utiliza de que programa de edição de blogs, né...

C.: É o blogger...

Abigail: É o blogger, né...

C.: eu uso o blogger...

Abigail: Sempre esse, né?

C.: É, eu tentei... então é assim, quando eu comecei eu tentei até pelo blog do UOL, que é o meu provedor... não gostei. Não acho que tenha os mesmos recusos que o blogger tem. E acabei sempre criando no...

Abigail: ... no blogspot...

C.: ... no blogspot. É, eu acho que agora é o que você falou, tem novas...

Abigail: possibilidades.

C.: Novas tecnologias. Porque eu ô falando de uma coisa que eu comecei a fazer em 2006. É super pouco tempo atrás...

Abigail: Mas aqui é...


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C.: Só que pra essa... pra esse tipo de coisa que a gente tá falando...

Abigail: É violento, né! C.: ... dois anos...

Abigail: É obsoleto (risos).

C.: O primeiro... o primeiro blog tem a idade do meu filho, 13 anos.

Abigail: É isso aí...

C.: É muito jovem. Foi em 94.

Abigail: Bom, a internet tem essa idade, na verdade...

C.: É interessante, né ,eu entrei na... eu me tornei membro da internet em 1995. Gente!

Abigail: Agora!

C. (risos): Agora! Mas parece que foi a séculos!

Abigail: É. Hum... existe interação dos alunos com o blog? Sim... É...

C.: com os pais também.

Abigail: É, enão isso que eu ia te perguntar, e como é feita essa interação? Interação aluno X aluno, aluno X professor, professor X professor e pais.


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C.: É, o que a gente, assim, aqui na M., é... eles postam, então a postagem é uma tarefa feita pelos alunos, em sala de aula, mediada, trabalhada, previamente, então prieiro tem a escrita desse texto, o trabalho desse texto em inglês, porque eu tô ensinando uma língua... aí a questão dos comentários, que é essa interação, aí fica fora de sala de aula. Então assim, tem muito aluno que... que entra na sua casa, tem muito ais, que entram, acabam entrando... gostaria que fosse mais, mas...

Abigail: Existe, né... o incentivo.

C.: existe.

Abigail: Pelo menos na minha sala ela falou, depois vocês vão poder comentar...

C.: Existe... e eles comentam... e tem assim, a gente trabalha também com uma questão da ética, né, do que que a gente escreve na internet... Porque a gente configura, assim, eu gosto... eu não vi esse edublog, mas o do... o que eu gosto do blogger, é que assim, dentro de um ambiente educacional, com as preocuações que M. tem, é... ele me dá uma certa segurança. Então, o fato de, toda postagem, todo comentário, eu conseguir mandar pro meu e-mail, isso, pra mim, é uma coisa bárbara, por que? Porque gora tem gente que vive de ficar entrando em blog deixando comentário de cisa pornô e de cassino on-line, né... e de venda de t-shirts on-line... é uma coisa impressionante. É, escreve em inglês – ah, your blog is very beatifull e tal, but... e manda entrar lá... Eu acho que a gente tem que ter esse cuidado, muito grande aqui na escola. E também de trabalhar com os alunos, porque as vezes, isso já aconteceu, né, primeiro a gente tem que os comentários têm que ser em inglês, não em português, porque eu tô trabalhando... tá dentro da minha disciplina, né...

Abigail: Claro!


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C.: E, se você entrar na página do início do projeto, está escrito assim – if ou have something nice to say, say it. Né. Cê você não tiver nada legal pra falar, não fala. E agente trabalha com esta questão. Ontem mesmo, eu tava aqui, e uma professora do nono ano, não, do oitavo ano, me ligou, ela tava lá no laboratório olha, dois alunos aqui entraram, e escreveram, eles foram visitar o blog literário do ano passado, porque eles vão fazer esse ano, os alunos entraram lá, tal, e escreveram, ai, detestei o que você escreveu. Eu falei – posso ir aí – Pode. Aí eu fui la, não fi dar bronca, eu fui conversar. E ai gente, a gente escreve... conscientizar. A gente escreve o que a gente uer. A gente tem esse direito. O que é essa questão desse anonimato... Enfim...

Abigail: Legal.

C.: Não adianta fingir...

Abigail: você trabalhou como um tema.

C.: como um tema!

Abigail: de formação.

C.: mas aí a gente apaga. E a gente fala também, olha, eu vim aqui, conversei, só que nós vamos apagar. Porque é um blog educacional.

Abigail: Agora vou te pedir pra falar os contras, os prós a gente já falou...

C.: Ai meu D’us, algum contra... Olha, acho que um dos grandes contras é não poder ter uma organização, que agora você tá me falando que o edublog tem, de uma outra forma, então, eu sinto essa necessidade, assim, é, as vezes eu acho que tá tudo meio bagunçado, assim. Entendeu. E pra um virginiano como eu, isso é uma coisa...


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Abigail (risos): é o fim da picada!

C.: Então, aqui na M. a gente faz assim – coloca primeiro a postagem, em inglês, né, coloca – agora essa é a unidade um, famos falar disso, disso e disso. Aí tá lá todas as postagens dos alunos. Aí a gente fecha. Coloca outra do professor. O professor então entra algumas vezes, pra abrir e pra fechar. Não acho que... eu gostaria que isso tivesse uma marcação mais gráfica...

Abigail: mais clara, né.

C.: clara e gráfica. Eu acho que com uma mensagem só, não... Acho que se a gente pudesse organizar de uma forma mais – arraste... mais como frames mesmo, acho que ia ser uma grande vantagem do blog.

Abigail: Entendi. Que outros recursos didáticos, tecnológicos, você utiliza? Quais as outras ferramentas na realidade?

C.: Olha, eu tô nessa área, de tecnologia educacional, para o ensino de línguas, esde 96, né, então assim, eu acho que a M.... pêra só um pouquinho (interrompe para falar com sua auxiliar) Má, cê faz a saída? São poucas crianças... Tudo bem eu falar isso no maio da gravação? (risos). Hum... a M. é pioneira nesta questã tecnol;ogica, porque em 96, ninguém fazia projeto via internet, e a gente começou... na realidade a internet é uma forma de postar. Em 96 a gente não tinha nenhum recurso. Assim, grandes recursos. A gente tinha uma página. Então a gente fazia contatos por e-mail, os alunos faziam desenhos e a gente postava na internet, hoje eu olho e falo, nossa, mas que coisa... mas na época era super inovador... é... a gente foi pioneiro em vídeo conferência. A primeira vídeo conferência que a gente fez aqui com a terceira série, em 2006, 2005. Cedo né.

Abigail: Uau!


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C.: Ano passado a gente fez uma vídeo conferência via Skype, com 120 alunos, do sexto ano, no auditório. Eles não respiravam!

Abigail: uau! E com que?

C.: Com a Suécia. Não respiravam no sentido assim, eles estavam tão atentos, né. A gente também fez chat, com a Suécia também, sempre temático, então eram chats para descobrir hábitos alimentares aqui, e na Suécia. Este ano a gente esta com esse parceiro novo na Finlândia... que mais...

Abigail: sei... e fora os tecnológicos, quais os que você tem normal, você tem livros...

C.: de primeiro a quarto ano a gente tem o nosso próprio material, que a gente mesmo faz, que são as fichas e atividades extras, e de sexto a nono a gente tem o livro.

Abigail: Olha, C., fiquei encantada, na verdade é uma projeto e tanto que você faz. Obrigada!


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Apêndice 5 Transcrição 2

Esclarecemos que esta transcrição da entrevista, originalmente gravada em vídeo com três professores do Colégio S.M., é literal, ou seja, com todos os vícios de linguagem comuns em uma conversação.

Abigail começa entrevistando P1.

Abigail: É, no começo é mais pra saber sobre seu... Seu site, seu blog, sobre o que se trata...

P1: É... que na verdade assim, eu não tinha nenhum blog, assim, eu nunca... assim, eu não via muito o que que ele tem que me chamava a atenção, que o aluno pudesse... nunca me despertou... a gente tem tantas outras ferramentas aqui, que assim, ou é mais uma ou trabalha-se melhor uma para depois começar com alguma coisa nova. Aí, surgiu essa idéia, de... desse ano, planejando o ano passado, praticamente para o ano seguinte, de tá trabalhando com os alunos no blog. Aí, né, era pra vrar uma ong, mas nas discussões depois do ano, acaba nunca vingando o que a gente marca, no final do ano (risos) a gente sempre muda. Então acabamos mudando para um blog, aí então eu comecei, aí sim nos começamos a estudar mais sobre isso, né, a aí também, já que a gente tava dando aula para os alunos, essa ferramenta para o aluno, então, capacitar os professores também, porque ele... cada um podia ter o seu olhar, que forma poderia tar aplicando, utilizando dentro de sua disciplina, pra poder, é... tar trabalhando com o blog. Vou te dizer a experiência que eu tenho com relação aos professores, tá...

Abigail: ahã...


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P1: Esse curso ainda tá em andamento, por que nossas datas... eles começaram... são professores que têm... não têm tanta intimidade com as ferramentas, com o computador, e... eles gostaram muito da idéia... entenderam as diferenças que se tem de um site... porque tem muita gente que acha que o tipo informação e de... forma de uso parece igualzinha – Ah, qual a diferença de um msn, ah qual a diferença de outro, eles acham tudo parecido...

Abigail dá alguns risos.

P1: Porque eles não entendem assim, né... aí conforme vai indo, vai andando, vai desenvolvendo, aí começam a surgir umas idéias bem interessantes, né...

Abigail: Ahã...

P1: Por exemplo, as professoras de matemática, elas tão, é... fazendo como... desafios. Então elas colocam os desefios matemáticos e então elas usam como um complemento do conteúdo em sala de aula. Então elas fazem... preparam certos desafios e depois elas discutem em aula, e com eles os comentários, o que eles postaram ali. Professora de história tá trabalhando diferente, tá fazendo baseado num livro. Baseado num livro, então ela tá tirando é... trabalhando capítulo com os alunos, fazendo discussões... então... sei lá, eu acho que é uma forma de aproximar de tecnologia, mas (risos) eu acho que a gente tem as ferramentas, né, que permitem que nossa aula seja um pouquinho mais agradável, mais interessante, o conteúdo não fica massante como na sala de aula, você pode tá...

Abigail: explicando, né...

P1: é, e o aluno gosta de mexer com o computador, então, tudo que faça, até mesmo quando ele faz em casa, ele gosta, né.


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Abigail: Ahã.

P1: Porque ele fica um bom tempo com a ferramenta.

Abigail: tem mais sentido pro aluno, né?

P1: É... ele acha que... eu vejo assim, os comentários dos alunos que usam, eles até fazem críticas, em relação ao design, ao layout do professor, no sei que... (risos). Entoa, tem também da professora de Biologia, que fez também o dela, então eles gostaram muito, que ela fez uma forma mais divertida, e ela tátambém... fazendo um trabalho com eles que ela tá... aí é um blog já fechado, né, não é um blog aberto, só para os alunos dela, desenvolverem as atividades. Eu não sei se é isso que você quer...

Abigail: É isso mesmo... E vocês, com osprofessores, desenvolveram um blog de vocês, ou cada um desenvolveu o seu blog?

P1: É... tem o blog das oficinas, né, porque a gente não vai ficar só nessa oficina de blog. Nesse blog oficina, tem o blog de cada professor. Então tá separado, tem professores de português, é... já começaram com os nomes criativos, uma série de coisas. É.. e tamb;em ta otrabalhando... é que é assim, o primeiro passo, pra eles terem a idéia, eles precisam var pra que servia a ferramenta, então, como eu te falei, tem alguns que não conseguiram ainda, e alguns que tão mais adiante, por causa de nosso tempo...

Abigail: quantos dias por semana?

P1: É uma vez só por semana, uma quarta-feira, só que o que acontece, amanhã é quarta feira, nós temos uma reunião pedagógica, não vai ter o curso, é... a duas semanas atrás... a semana passada teve, a retrasada e a outra não teve... teve


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recuperação, chocava com o horário dos professores... e é o único dia que todo mundo se encontra, então por mais que tenha esses...

Abigail: tem esse complicante...

P1: É... mas eles... tem professores que fazem em casa... então eu coloco algumas outra dicas pros alunos... tão usando como apoio, e pra chegar acho que um pouquinho mais além. Porque tem aluno, né, que as vezes tando por trás da máquina, tem um contato melhor que... Abigail: e, deixa eu te fazer uma pergunta, e o nome desse site das oficinas, como que é?

P1: É proficinas.

Abigail: tá. E qual o servidor, a ferramenta que vocês usam? O blogspot...

P1: é, o blogger mesmo que estamos usando. E eu andei também fazendo uma pesquisa, porque parece que tem muitos com aquele wordpass, e eu acho legal aquele também.

Abigail: Bom, vou seguir aqui o roteirinho (risos). Aqui tem uma pergunta assim, quando você começou o blog, que você usa com seus alunos? Quando e como surgiu a idéia? Na verdade é o que você me explicou, né surgiu a idéia de capacitação de professores, né?

P1: É... a gente começou com uma série de...

Chega outro professor para a entrevista.


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P1: então, a gente acha que o professor que deve ter a idéia pra fazer, pra preparar o seu blog. E o aluno, a gente tem o retorno, né, do nosso trabalho e do que a gente precisa tar completando do blog.

P2: Eu penso que o professor deve ter uma segurança enorme. Segurança tecnológica pra poder trabalhar com blog como ferramenta de ensino...

Abigail: é?

P2: Eu penso que sim, porque, é... eu estudei... fiz uma especialização com professores, e aí eu via que eles tentavam usar, mas não é fácil. Tem experiência da professora de biologia, também, nem sei como...

P1: É, eu falei pra ela, foi criado pra ela, foi outra pessoa que criou a estrutura pra ela, então ela utilizava, mas ela tá fazendo daquele jeito, fechado, ela prepara a atividade aí ela faz a interação com eles. Mas a manutenção... talvez seja assim, o ir adiante... depende muito do conhecimento do que o proferros acha. Porque tem muito professor que não mexe com as ferramentas, não mexe com a tecnologia, acha que é um trabalho a mais, e não vê que é um...

Abigail: benefício para o próprioaluno...

P1: É, pra tornar a aula menos... é um diferencial, pra chegar junto, trazer esse aluno. Eu não sei, eu tô na área, então eu vejo assim.

P2: E não é só isso, não, nosso aluno, ele hoje, é usuário de internet, então se o professor não é, ele vai fazer um blog que não vai ser nada atrativo. Então as vezer é melhor o professor continuar com o papelzinho dele, né. Melhor continuar com o papel e fazer um questionário escrito. Chega a terceira professora.


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Abigail: desde que a aula seja mais interessante, né?

P2: Claro. Porque, qual a diferença do blog pro papel, que tá o escrito, se ele não conhece a ferramenta blog? Agora, se ele conhece o questionário, melhor, porque ele tá dominando o assunto (risos) do papelzinho, lá, e ele pode fazer diferente. Agora, para o blog, se ele não domina, vai ficar estático, lá, sem... sem... poder de atração.

Abigail, virando-se para o P2: E você acha interessante... você capacita os alunos, né? Você capacita... você ensina como fazer um blog, é isso?

P2: Na informática, sim. Agora, como ferramenta de ensino disciplinar, para qualquer disciplina, também seria interessante, se o professor tivesse esse domínio. Tenho um colega, que é professor de matemática, ele trabalha com blog. Ele coloca exemplos de blog lá, no power point, direcionado pra um site, entende, porque ele domina. Agora, se não sabe, não tem jeito, né.

P3 falando com P2: Você já mostrou pra ela o blog de...

P2: Não, cê quer ver?

Abigail: Claro.

Os professores abrem então o blog.

P2: É, esse é nem bem saiu do forno, foi a primeira fornada (risos).

P3: É. Aqui tá toda a proposta, o que a gente fez.

P2 mostra para Abigail o blog no computador.


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Abigail: Isso a gente vai ver no site do colégio?

P3: Ó. Aqui, todo o processo... Os nossos anos, como foi feito, né... E aí, você clicando, você vai ter acesso aos blogs.

P2: É, esse trabalho, a proposta é que ele seja interdisciplinar. Por enquanto só professor de língua portuguesa que participou, mas como é um projeto humano...

Abigail: Então o tema é “Preservando o planeta”, que é o tema que vai perpassar vários...

P2: Não, esse é o título. O tema é Responsabilidade social. Então a’pode transitar nisso. A idéia é que no final desse projeto, saia aquelas sacolinhas, é...

P3: Ecobags. Abigail: Que legal!

P2: É, pra substituir essa sacolinha de plástico da... do supermercado. A gente tinha idéia também, entrou em contato com uma entidade assistencial lá de Itaquera, que os alunos fossem visitar a entidade, que eles produzissem a sacola, entendeu?

Abigail: tá. E quem posta tudo isso são os alunos? Cada aluno vai postar alguma coisa?

P3: Isso, que que era isso, como nós começamos? O blog era nosso conteúdo de informática. A gente ensinou parte, como criar – o e-mail, o login, senha e tal. Aí depois, como, é... transformar esse blog. Então fizeram esse bunner, no programa de edição, criar um título. Aí, usandp os slides, porque dá pra postar slide, usando Picasa. Então a gente falou pra eles responderem três questões... cinco questões, é, em forma de página...


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P2: Por exemplo, o ponteiro aí, em forma de mouse, a gente não ensinou, o aluno foi além. Então, eu acho isso aí interessante também.

P3: O vídeo, também, ela postou, sem a gente ensinar.

Abigail: Vocês dão provocações...

P2: e aí faz, né! Também tem outra questão, são muitos alunos, a gente tem ao longo quatro salas...

P3: É agente tem e média 26 por sala, e eles faziam em duplas.

P2: É, então a gente tinha uma quantidade muito grande de blogs. Então o que a gente fez? A gente fez uma seleção entre eles, e agente escolheu os melhores de cada classe. Aí deixou em aberto, sabendo que esse não era definitivo, a gente ia fazer outros. E agora eles estão criando o portal, então do portal eles estão direcionando pra esses quatro blogs. Então eles já estão na fase de fazer html, então... abre um portal ai pra ver (falando para P3). Então, também tem essa organização, senão você se perde, sem contar que pra ensinar, isso a gente já está na terceira experiência do blog, porque a primeira foi catastrófica, porque a gente achou que ia ser muito fácil, e achou vários problemas... agora a gente já pega a senha da pessoa, pega o e-mail, tudo...

Abigail: Mas na opinião de vocês, a proposta do blog, porque ele é interessante, de que forma ele pode contribuir na educação das crianças?

P2: Como tudo que é proporcionado pela web 2, a facilidade de você poder interagir, a possibilidade de interação, é só por isso. Acho que a única coisa que diferencia um blog de um site, é isso, a capacidade de interação.


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P3: E também o desenvolvimento da escrita, da leitura, porque ele vai se... dentro do ambiente que é dele, né, é próprio dele, por exemplo, eu não nasci nessa geração, não sou nativa, então, eles são... eu acho que fica mais fácil para eles. Eles interagem melhor, né? Abigail: É, e qual a diferença entre um recurso didático tradicinal, com uma aula expositiva interessante, e esse... qual é a vantagem?

P2: Acho que o principal é essa capacidade de interação, e outra de ficar o registro na web, né, porque cada um tem seu timing, seu tempo de aprendizagem, né... então pode acontecer com o tema tenha passado, o aluno não pegou, aí na casa dele o aluno pode acessar, né, desde que parta dele, também. A gente tem sentido hoje que essa juventude não tem essa pró-atividade, tá faltando ele... buscar essa pró-atividade.

Abigail: vocês dão uma proposta e ele não se entrosam?

P1: Eles primeiro precisam entender pra que serve, senão... ele acha que aquilo tira o sentido da coisa.

P2: Então, eu acho que tem que ser o contrário, talvez a informática não seja a melhor disciplina pra fazer essa medição. Entendeu, deveria ter um professor que ele... que ele tenha mais contato, com a disciplina – Língua Portuguesa, que são quatro aulas, matemática... entendeu?

Abigail: É que na aula de informática o blog pra vocês é uma finalidade, não um meio, é isso?

P2: É um fim. Por que é a disciplina, né...

P1: É mais ou menos, porque se você for ver, os blogs que eles fizeram, não é só a parte técnica, mais ou menos a finalidade você conseguiu atingir...


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P2: Não, mas assim, como ferramenta de ensino...

P3: A gente precisa contar sempre com uma outra disciplina... por exemplo, esse texto, a gente pediu auxilio para a professora de português, porque até então o blog não tinha uma postagem de texto. Era a nossa postagem dos slides, o vídeo, ou imagens. Né. Daí o que a gente pediu pra professora de português pra ela tentar construir um texto que fosse o texto que abrisse o blog, sobre o tema – responsabilidade social, ecobag. Então ela fez junto com a gente. A gente precisa disso.

P2: É, tem isso.

Abigail: É, mas o conteúdo foi mais um meio (risos) foi justo o contrário o caminho, né, pra fazer um blog legal, um blog interessante?

P2: É, na realidade a concepção, na realidade, de projeto, aconteceu. É que depois é uma teoria muito difícil de ser aplicada.

P1: E os professores ainda estão muito crus para saberem aplicar, eles não conseguem enxergar. P3: Porque tem uma professora aqui, não sei se o P2 te falou, que é a professora de Biologia...

P2: Falei, tem o endereço do site do blog dela, você tem? Aquela aluna indicou o endereço, né? É girafa, não?

P3: aqui...

Abigail: a minha dúvida era que... os alunos têm dificuldade de se entrosar, mas e os professores? Como é isso? Não é também tão fácil de conseguir...


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P1: É, porque é como eu te falei, as vezes eles acham que isso é... parece que isso é um trabalho a mais. Aí é assim, se eles pudessem ver o ganho que é o aluno ter, que eles, o resultado depois...

A P3 se retira, para ir dar aula na sala ao lado.

Abigail: Eles não vão abrir mão de um trabalho pra fazer mais um...

P1: Exatamente, então a gente tenta, toda vez mostrar, o que eles estão trabalhando... porque as vezes o aluno mesmo fala assim – pombas, mas eu to trabalhando esse assunto ali, em ciências, e tô trabalhando com informática e tô trabalhando com português, mas cada um faz um trabalho diferente, então a gente fala assim, é aí que deve haver essa integração. Então a gente tá sempre buscando ferramenta nova pra passar pra eles, pra fazer essa integração, porque eu acho que também a informática pudesse fazer essa junção. Pra ela é mais fácil articular, é mais fácil trabalhar com projetos e tudo. Mas os professores não têm... eles acham que é um trabalho a mais. Só que na hora que você faz, você põe uma discussão, uma plenária, alguma coisa assim, você vê o ganho que você tem do seu aluno. Eles só consegue ver, o que você falou, e-mail, você falou... o processo acaba sendo contrário, porque eles não conseguem enchergar. O que a gente ouve muito é assim – informática é só digitar. Então quer dizer que pesquisa, desenvolvimento de...

Abigail: o que tem lá dentro não interessa (risos). Quais as dificuldades que vocês encontraram com os alunos, os problemas que pode ter para fazer um blog...

P2: Como eu te falei, na primeira vez, a gente perdeu muitas aulas, teve que utilizar várias, aulas, eu tinha programado duas aulas, pra criar o e-mail e já começar o blog. Tivemos que usar pelo menos umas cinco ou seis aulas pra ensinar... e-mail... aí eles criaram, depois a gente começou a fazer o blog, e


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achamos que não seria necessário pegar o login e senha, né... porque acreditávamos que eles teriam isso. Mas não. Não foi isso. Eles esqueceram. Mesmo o e-mail que eles usavam esqueceram...

P1: Porque é engraçado, né, todo mundo tem o msn de todo mundo, conversa, todo mundo faz isso, só que na hora do vamos ver, não sabe usar nada... Também não sabe usar e-mail. Mostramos pra eles como se usava. Até anexar arquivos...

Abigail: Até anexar arquivo!

P2: Até anexar arquivo... a gente passou a fazer isso né...

P1: E não era só os pequenos não, ensino médio...

P2: É, o blog a gente trabalhava com sétimo ano, né... a primeira experiência... agora, de anexar e-mail, de anexar arquivos... ensno médio...

P1: Até ensino médio!

P2: Não todos, né, mas...

P1: Na hora de preencher o cadastro, eles tinham dificuldade de preencher...

Abigail: Olha, que engraçado...

P1: Anexava, achava que anexava, mas não tinha anexado... não sabia a diferença de anexar os arquivos... como é que ele fazia com cópia...

Abigail: com relação ao formato do blog, ele mudou então desde a primeira vez?


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P2: Então, aí terminamos o primeiro blog bem simples... não usamos toda a potencialidade do blog... aí na outra experiência que a gente teva a gente foi melhorndo, agora nessa última, a gente coseguiu... Aí os blogs também foram melhorando, que eu lembro que, isso foi em... foi o quê? Quando a gente entrou... dois anos, né? Três anos! Eu lembro que era comum tar todo mundo usando blog e ele sair do ar! Era comum. Quer dizer, a tecnologia também... aí no segundo ano foi melhorando, e agora também, nesse terceiro ano que é agora, o blog já tem... melhorou muito... Agora a gente tá usando o do Gmail, do Google, né, o blogger...

P1: É que os próprios alunos trabalham com a gente nesses três anos, né... já estão diferentes...

Abigail: Vocês pesquisaram outros além do blog? Não?

P2: Sim... sim.. pesquisei, a gente na primeira experiência pesquisou... tinha o blog.com, eu lembro que até fiz um blog nele, só que tava tudo em inglês, na época, acho que ia dificultar muito... acho que a gente pesquisou mais

um

também, só que optamos pelo blogger, masmo naquela época, optamos pelo blogger. O google já tava bem, né...

Abigail: é... outra pergunta, então se a gente pudesse dizer os prós e os contras, o que vocês podem dizer do blog como recurso didático?

P2: Eu sou favorável, eu sou favorável a tudo que seja com tecnologia...

Abigail: Dentro da sala de aula?

P2: Sim, e trazer a realidade do aluno para a sala de aula. Tem que acabar com isso da sala de aula ser um abmiente diferente de tudo que ele vê na rua.

Abigail: obsoleto...


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P2: Obsoleto, totalmente. Então, quer dizer, agora é a hora que você vai etrar na sala de aula, mudou tudo é outro ambiente... em casa ele tem controle remoto, ele tem tecnologia ao alcance de tudo. Chaga na sala de aula, ele tem o quadro e o giz. Pô! Incrível isso.

P1: Ponto positivo é isso que a gente falou, que tem que é bem interativa, consegue ter, quase em tempo real, o resultado do seu aluno. Mas assim, não chega a ser uma sala de aula virtual, porque não é esse tipo de proposta. Mas se... você joga uma questão, aí o seu aluno vai colocar, vai comentar isso, outro vai ler o comentário dele, que dizer, tá tendo já uma troca entre um aluno e outro, tá, você tá vendo o que tá se passando na cabeça do seu aluno, que as vezes, no momento dos 45 min da aula, não dá. Eu acho que é mesmo pra completar, acrescentar trabalho...

Abigail: claro...

P1: Não sei, hoje em dia a gente tem tanta coisa que fazer, tantos olhares que a gente tem que ter, que as escolas cobram, que eu acho que a gente tem que... isso facilita pra gente.

P2: É, de várias experiências, né... é o que o Valente fala, não adianta a gente substituir, tirar o giz e colocar um computador, não adianta, você colocar equipament tecnológico, não adianta... a coisa vai muito mais além. Eu trabalho com robótica, eu pesquiso robótica, agora eu me atrevi a colocar um curso a distância, pelo moodle, mas... é inacreditável o que eu vejo. Eu tenho que mudar todo o meu curso porque as pessoas não conseguiam mandar um e-mail pra se escrever no curso! Então... é incrível! E o teu curso, com tá indo (perguntando para P1), tá tendo evasão?

P1: Não, mas é como eu disse, amanhã era pra ter aula, e são as datas...


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P2: Tem outra problemática, a instituição.

Abigail: De contra, o que vocês podem dizer? Além da questão, não é tão uma ferramenta tão fácil como parece, como vocês falaram...

P1: Acho que se não for muito bem trabalhada, ela...

P2: É isso mesmo, isso que a P1 falou...

P1: É, aí não dá certo.

P2: Só só lá, se ele for dá aula só com giz e o quadro... se ele não se planejar é a mesma coisa.

P1: Não, mas se o professor tiver experiência, ele vai, mas aqui não... o professor vai tentar usar uma ferramente, aí, ai meu D’us do céu, não sabe como...

P2: É, tem o agravante do aluno tá no mundo dele, né. Porque quando eu tô no quadro, falando de divisão celular, eu tô falando grego, agora aqui no blog é a vida dele, né, não entra aí que eu... (risos).

P1: Ou fazer também pra dizer que fez, usou tecnologia, sem depois dar uma atualização... dar um retorno... Não que precise ficar respondendo a tudo que o aluno coloca, você pode estar respondendo em outros momentos, né, mas eu acho que tem que ter alguém, que saber a finalidade pra ver o que vai fazer... porque senão ele fica perdido...

Abigail: Ter um sentido pra ele...


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P2: esse é o blog da professora de biologia (mostrando-o no computador). Confesso que não tenho entrado nele. Seria interessante você dar uma olhada nele, pra poder... Acho que tem que fazer uma diferenciação do tipo de blog que ela tá usando. O blog pode ser uma ferramenta educacional de diferentes maneiras, pode ser só pra consulta, pode ser... então depende...

P3 Volta.

Abigail: E além, do blog, quais são os outros recursos didáticos que você usam?

P1: Ferramentas?

Abigail: É, no caso de vocês ferramentas...

P2: Bom, a gente tem uma unidade não tecnológica, mas agora a gente está entrando em uma linha de trabalhar por série, porque cada série se adéqua a determinados trabalhos. Por exemplo, ensino médio a gente tá trabalhando mais edição de imagens, o segundo ano, que não sou eu que trabalho, né, é...

P3: É, a gente trabalhando animação, com o flash, é isso que eu tô... (risos) saindo e entrando agora.

P2: É, não tem uma ementa, né, pra informática, hoje é tudo muito novo...

Abigail: Essa adequação com a idade foi com relação ao interesse dos alunos, ou...

P2: Sim, sim, a gente tem percebido que tem melhorado muito os trabalhos. Comparado com os primeiros anos. Tem também o que a P1 falou, com a mudança...


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P1: É, a gente viu o que eles não tinham, vamos dizer assim, baseados nessas faltas, deficiências, né, mas essas faltas que estavam refletindo no trabalho dele, na produção, no resultado, então aí... a gente partiu pra essa, é... se baseou no que a gente deveria estar trabalhando durante o ano. A Animação, o Corel Draw, o Photopaint... isso ele precisa ter, ele vai usar depois no segundo ano, ah o que ele vai precisar ter e assim... E também o que eles fazem, né, blogs, se quizer usar, fazer alguma coisa na imagem, isso é uma coisa. A gente fala, olha... direitos autorais, e não sei o que... a gente tá sempre falando disso também...

P3: É. E esse ano a gente teve uma preocupação maior pra estabelecer o que trabalhar com cada série. Por exemplo, no oitavo ano a gente trabalha com edição de áudio. Então a gente trabalha só a ferrame... um programa chamado Audacity, só áudio. E eu achei que foi bastante... eu gostei bastante. Porque você pode trabalhar o programa em todas as suas nuances, em todos os seus detalhes... né, e eles têm curtido, né.

Abigail: Não dá pra aproveitar isso pra física, ou pra..

P3: Daria, com certeza...

P2: Olha... se você visse o que daria pra fazer com robótica também. Mas aí é uma mudança que... é mais complexa...

P1: É devagar...

P2: Tem professores aqui que tem 19 anos de casa... magina!

P3: É, o P2 que é da parte técnica, é da formação dele, durante a aula, na parte de edição de áudio ele sempre fala da parte física, das ondas... ele sempre procura dar essa parte... mesmo com relação ao blog, a programação que está


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por traz, nem do html... mas é uma preocupação nossa, né, dele, praticamente... então é complicado.

P2: É, eu não entendo porque a educação é ainda tão fragmentado. Agora é professor de matemática – matemática, agora é de física – física... não entendo... e aí vai continuar assim, porque a gente não tem política educacional no Brasil...

Abigail: Deixa eu aproveita, já que você falou da formação... queria saber qual a formação de vocês... a formação acadêmica.

P2: Ó, eu sou tecnólogo, informática, formado pela Fatec, fiz especialzação agora na PUC, e tô entrando em outra especialização me mecatrônica, né, e fico indignado com algumas pedagogias da vida...

(risos)

P3: Eu fiz o, eu sou pedagoga, depois eu fiz tecnologia, então eu fiz os dois. Preciso fazer uma especialização, acho necessário mas...

P1: Eu sou da área de matemática, fiz matemática. E depois eu só fiz especialização, mesmo.

Abigail: Legal, eu agradeço muito à vocês.


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