São Paulo, 8 de agosto de 2061
Anotações do capítulo primeiro do livro: “Mitos, lendas e o poder de mudança.”
Por entre os becos escuros e vielas daquela região, a noite nada se via a não ser os mortos que transitavam cada um em busca de suas verdades, mentiras, vícios, aventuras inimagináveis, sonhos que começavam com as primeiras quantidades ingeridas, fumadas e cheiradas de veneno lúdico e real ao mesmo tempo, o reino da mentira e da verdade nua e crua, do tudo momentâneo e do nada, do bem e do mal. Na penumbra destes becos e vielas, ele observava a tudo e a todos, seus gestos, seus traços, suas forças e fraquezas, suas convicções e ilusões com respeito a salvação eterna do pós mundo, convicções estas que talvez fossem o motivo pelo qual todos ali se sentiam fortes em se auto destruir e sofrer, sem terem noção nem parâmetros do que realmente é sofrer, e ser forte. A sua presença naquele ambiente hostil e primordial à evolução humana, era quase imperceptível, como uma pequena brisa de vento que bate no rosto e não é percebida nos dias em que temos a absoluta certeza de que não há vento algum. Uma espécie de presença invisível, oculta, mágica, misteriosa, porém real. Um pequeno abalo sísmico dentro da massa encefálica daquele crânio desconhecido, fez com que ele saísse dos becos
e vielas em busca de novos horizontes, novos desafios, novos inimigos, pois as drogas, as armas, a ignorância, a ganância, a cegueira e o maior dos problemas mundanos que é ter dinheiro para se sentir alguém, já não eram mais inimigos à sua altura, haviam sucumbido perante ele. Queria e precisava de inimigos reais, respeitáveis, grandes, nobres e fortes. Após este dia único e mágico, um fantasma começou a rondar por São Paulo, e a única coisa que sabiam a seu respeito era que seu nome era A boca maldita, mas o que viria a acontecer depois, somente o tempo responderia.
Por: Sophia Gama