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O processo de formação em Contabilidade para o mercado de trabalho no Brasil A
Contabilidade no Brasil mudou, especialmente a partir da Lei n.º 11.638/2007, com a adoção das normas internacionais de contabilidade, mais comumente conhecidas por IFRS. Essa nova lei introduziu importantes conceitos do direito societário, tendo sido adaptados conceitos legais bastante utilizados em economias mais desenvolvidas, alinhando, também, a normatização brasileira às legislações dos Estados Unidos e de países da Europa, o que, consequentemente, traz impactos substanciais para a profissão contábil, visto que o contador passa a exercer muito mais sua capacidade de julgamento do que no passado recente, com reflexões positivas sobre o status da profissão no Brasil (ANTUNES et al., 2012).
A partir desse cenário, avaliamos as provas do Exame de Suficiência do Conselho Federal de Contabilidade de 2015-1 a 2017-1 e também a prova do Exame Nacional de Desempenho de Estudantes
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(Enade) de 2015 para o curso de Ciências Contábeis. Observa-se, através do Gráfico 1, a crescente mudança no perfil de cobrança de questões que avaliam a capacidade de julgamento do futuro contador (Contabilidade Societária), quando comparadas a questões relacionadas ao processo mais genérico de tomada de decisão (Contabilidade Gerencial).
Por outro lado, o processo de tomada de decisão não envolve apenas questões relacionadas à Contabilidade Gerencial, uma vez que a capacidade de julgamento contábil, quanto mais sofisticada for, poderá levar a empresa a melhores resultados.
Assim, Santos et al. (2014) explicam que o ensino superior da Contabilidade deve propiciar a construção de um perfil profissional com base na responsabilidade social e na formação técnico-científica por meio de uma abordagem integrada com outras áreas do conhecimento, favorecendo a formação de profissionais dotados de competências que reflitam a heterogeneidade das demandas sociais. Logo, observa-se claramente que o ambiente empresarial tem exigido cada vez mais que os contadores ampliem as suas habilidades pessoais, o entendimento do negócio e que tenham participação mais ativa do processo de gestão dos negócios. Nesse contexto, a demanda do mercado de trabalho faz com que haja a necessidade de adequar a formação superior em Ciências Contábeis para a capacitação profissional voltada às novas exigências, em que, na visão de Degenhart et al. (2016), a formação universitária passou a confundir-se com formação profissional, fazendo com que os acadêmicos esperem das Instituições de Ensino Superior (IES) a formação necessária e condizente para ingressar no mercado de trabalho, quando, o que deveria se esperar, é que as IES preparassem um currículo que pudesse entregar para o mercado um contador voltado para a busca da qualidade da informação contábil, tendo como foco principal a sua utilidade para o usuário dessa informação, além de melhorias visando aprimorar a compreensibilidade, a relevância, a confiabilidade e a compa-
Referências
ANTUNES, M. T. P. et al. A adoção no Brasil das normas internacionais de contabilidade IFRS: o processo e seus impactos na qualidade da informação contábil. Revista de Economia & Relações Internacionais, v.10, n. 20, p. 5-10, jan./2012.
SANTOS, D. G. et al. Formação acadêmica em ciências contábeis e sua relação com o mercado de trabalho: a percepção dos alunos de ciências contábeis de uma instituição federal de ensino superior. In: CONGRESSO USP DE CONTABILIDADE E CONTROLADORIA, 14.,2008, São Paulo. Anais... São Paulo: Congresso USP, 2014.
DEGENHART, Larissa; TURRA, Salete; TANIRABIAVATTI, Vânia. Mercado de trabalho na per- rabilidade das informações divulgadas, que são características qualitativas fundamentais e de melhoria da informação contábil que as tornam úteis (ANTUNES et al., 2012).
A investigação da relação entre a formação acadêmica, o perfil profissional dos alunos do curso de Ciências Contábeis e o mercado de trabalho não é recente no Brasil. Pires, Ott e Damacena (2010) investigaram a aderência entre a formação e a demanda do mercado de trabalho do profissional contábil na Região Metropolitana de Porto Alegre. Os resultados mostraram que as IES contemplam em suas grades curriculares disciplinas voltadas ao desenvolvimento e aprimoramento das competências e habilidades requeridas pelo mercado, porém existe certo desalinhamento em função do foco dado pelos cursos. Em nossa visão, isso também pode estar relacionado aos altos índices de reprovação dos alunos nas provas do Exame de Suficiência, uma vez que a Educação Superior no Brasil sempre apresentou baixos índices de qualidade, especialmente em instituições privadas.
Santos et al. (2011) investigaram se a formação acadêmica em Ciências Con- tábeis oferecida pelas IES de Curitiba condiz com as necessidades do mercado de trabalho na área contábil. Verificaram que a maioria das vagas é destinada a profissionais de nível auxiliar com experiência profissional e que conhecimentos relacionados à contabilidade, legislação societária e tributária são os mais requeridos para os níveis de auxiliar e chefia. Para o nível de gerência, conhecimentos em Administração, Economia e Finanças. Temos observado nos últimos anos, que o mercado de trabalho tem exigido cada vez mais dos contadores conhecimentos que ultrapassam o processo específico da contabilidade (eminentemente técnico), pois buscam profissionais com competências que entendam o negócio, com o intuito de orientar o gestor, bem como participar do processo de tomada de decisões, e isso, por sua vez, envolve agora a capacidade de julgamento contábil, que, quanto maior, melhor. Portanto, o desafio é muito maior do que se apresenta. cepção dos acadêmicos concluintes do curso de ciências contábeis do estado de Santa Catarina. ConTexto, Porto Alegre, v. 16, n. 32, p. 77-93, jan./abr. 2016. pela Universidade Estadual de Goiás (UEG), possui MBA em Gestão Financeira, Controladoria e Auditoria pela Fundação Getúlio Vargas (FGV/SP) e especialização em Administração Pública pela FGV/RJ. Cursou as disciplinas Teoria Positiva em Contabilidade, Controladoria Avançada e Avaliação de Empresas II, como aluno especial do doutorado em Ciências Contábeis da Universidade de Brasília (UnB). Atualmente é coordenador dos cursos de graduação em Ciências Contábeis e pósgraduação Lato Sensu do Centro Universitário Alves Faria (UNIALFA), nos seguintes programas: MBA Executivo em Controladoria, Finanças e Gestão de Riscos e Especialização em Planejamento Tributário. É consultor financeiro do Grupo Destra Soluções Empresariais Integradas. Foi servidor efetivo da Secretaria de Gestão e Planejamento do Estado de Goiás. Tem experiência na área de Administração Pública e Privada, com ênfase em Resultados.
PIRES, C. B.; OTT, E.; DAMACENA, C. A formação do contador e a demanda do mercado de trabalho na região metropolitana de Porto Alegre (RS). Revista de Administração e Contabilidade da Unisinos, v. 7, n. 4, p. 315-327, 2010. SANTOS, D. F. et al. Perfil do profissional contábil: estudo comparativo entre as exigências do mercado de trabalho e a formação oferecida pelas instituições de ensino superior de Curitiba. Revista Contemporânea em Contabilidade, v. 8, n. 16, p. 137-152, 2011.