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Propriedades do barro
42 PROPRIEDADES
DO BARRO
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Karina das Oliveiras
é uma folha da árvore nascida e criada em Fortaleza. É historiadora da arte, pesquisadora, poeta e criadora audiovisual. Atua nos campos das imagens estáticas e em movimento. Atualmente se dedica a investigar a história da arte de sua vida entre ligações ancestrais, trânsitos territoriais e tempos poéticos. Pesquisa a decolonialidade nas artes e nos cinemas indígenas buscando estratégias de desmantelos das narrativas históricas coloniais.
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44 Deixar-se no mundo enquanto memória hoje é também armazenar mídias. Mídias são meios. Os meios são comunicações, percepções, afetações, exu, a cobra. A ideia fictícia de controle do tempo imposta pela violência colonial começa a se defazer, apresentar tilti, enferrujar. Ela pouco fez sentido real em diferentes cosmovisões e temporalidades ameríndias e afrodiaspóricas.
As narrativas imagéticas que comportam os tempos representam também uma época. O que é o nosso agora? É uma pergunta cantada no eco dos nossos desejos. A ruptura com o tempo colonial também possibilita refletir sobre a imagem no presente e suas histórias contadas. Possibilita, sim, que participemos do nosso processo ao observar o que buscamos quando criamos. Assumimos, portanto, a responsabilidade de conceber de novos imaginários para as futuras gerações e as continuidades do presente. Forjamos noções de verdades e conduzimos os sentidos da visão como parte do nosso plano para virar a cor do medo no Brasil.
Descolonizar antes de termo é prática, é movimento de ação, é plano de descivilização e é, simultaneamente, acreditar nas transformações pelos afetos, pelas histórias múltiplas e pelas linguagens amplas. A composição fotográfica e cinematográfica é parte essencial do projeto na descolonização dos sentidos e nas desmontagens dos esquemas visuais construídos pela colônia. O desfazer da representação é retomada do olhar. É tempo de abudância na reelaboração dos sentidos, estéticas e símbolos no âmbito da produção com imagens e sons.
A configuração das representações acompanha nossos anseios que não são novidades provisórias. É o anseio por criar ao nosso modo a imagem-gesto e a imagem-memória. Apropriar-se dos meios tecnológicos, captar os recursos e se divertir legitimando a própria visualidade é estratégia dos movimentos artísticos com compromissos de transformação.
Qual história no Brasil está se disputando? Qual imaginário está em construção? Como alcaçamos um maior número humano que ao visualizar nossos trabalhos recriam seu repertório do ver e expandem seu mapa topográfico na retina?