ESTE FOLHETO É PARTE INTEGRANTE DO ACERVO DO BEHETÇOHO EM FORMATO DIGITAL, SUA UTILIZAÇÃO É LIMITADA. DIREITOS AUTORAIS PROTEGIDOS.
INFORMAÇÕES SOBRE O PROJETO O Acervo Eletrônico de Cordéis do Behetçoho é uma iniciativa que pretende dar consequências ao conceito de (com)partilhamento dos artefatos artísticos do universo da oralidade, com o qual Behetçoho e Netlli estão profundamente comprometidos.
INFORMAÇÕES SOBRE A EQUIPE A equipe de trabalho que promoveu este primeiro momento de preparação e disponibilização do Acervo foi coordenada por Bilar Gregório e Ruan Kelvin Santos, sob supervisão de Edson Martins.
COMPOSIÇÃO DA EQUIPE Isabelle S. Parente, Fernanda Lima, Poliana Leandro, Joserlândio Costa, Luís André Araújo, Ayanny P. Costa, Manoel Sebastião Filho, Darlan Andrade e Felipe Xenofonte
EXPEDITO SEBASTIÃO BATISTA
A ÚLTIMA ENTREVISTA DE PEDRO ANANIA COM O PÁSSARO PRETO
JUAZEIRO DO NORTE 15-5-1973
Como é de meu costume a cumprir a que prometo aqui voltei novamente pra conter neste folheto a derradeira entrevista que tive com o passado preto Pois no segundo volume eu já deixei avisado que logo assim que eu fosse com o pássaro entrevistado o que êle me dissesse eu fazia revelado Mas antes de declarar vou dar esclarecimento de coisas que sobre mim não disse até o momento um resumo biográfico sem exagero e aumento
Pedro Ananias da Cruz é meu nome até a morte nasci a 20 de julho em Juazeiro do Norte no ano de 33 e vivo feliz da sorte De Juazeiro do Norte em criança me mudei com destino a Paraiba então com meus pais fiquei residindo em Cajazeiras onde por fim me criei Como daquela cidade dificilmente saía pois na labuta diária sempre ocupado vivia outra cidade que houvesse por ali não conhecia
Eu só vim acontecer o forte de Catarina e a cidade Cabedelo quando por força divina ali fui iniciar uma romaria fina Porque ao pássaro preto Antes prometi com fé de acôrdo me pediu levar uma cruz a pé de uma 53 quilos dali para o Canindé Devido a muitas promessas que o povo na cruz botava e quando no Canindé meses depois eu chegava uns estenta e um quilos referida cruz pesava
Pra mim aquela cruz não pesava quase nada o que mais em mim pesava era a lingua condenada dessa humanidade ceda que vive na trilha errada Porque antes de eu chagar Com ela no Canindé Só Deus sabe o que sofri Por êste mundo a pé Julgo ter sofrido mais Que um prêso de galé A ordem do pássaro preto era que eu suportasse o que dissessem comigo calado me conservasse e tudo que me fizesse com humildade aguentasse
Houve cidade que eu fui muito bem recebido onde o povo demonstrava coração compadecido me dando hospitalidade como a uma irmão querido Mas houve outras cidades que só o ódio encontrei cujas cidades os nomes delas todas eu já dei no folheto anterior e o que nelas passei Na cidade de Baeux um sendor pra se mostrar bateu mão de um revólver porêm lhe faltou coragem ficou só a me olhar
Porque aquelas correntes que o pássaro tinha me dado era um escudo forte que me trazia guardado contra quem viesse a mim do mal intencionado Em Campina Grande eu passei momentos ruim entre uma multidão de doutrina de caim que com escárnio zombava atirando pedra em mim Mas naquela multidão de coração desordeiro tinha gente de caráter e de coração ordeiro que a mim dava merenda e oferecia dinheiro
Dentre aquela multidão de que eu era cercado veio uma moça que deu-me pra ser por mim merendado um sanduiche que estava por completo envenenado Mas eu nele não toquei porque na ocasião o pássaro preto não deu a mim autorização para eu saborear aquele maldito pão Assim tôda humilhação aguentava todo dia tinha que suportar tudo coisas alguma não dizia porque o pássaro preto assim de mim exigia
Houve cidade que o povo para de mim criticar me cercava anarquizando a cruz querendo quebrar outros quiseram com carro por cima dela passar Outras mais humilhações deste tipo suportei até o dia final que o Canindé cheguei fiquei bastante tranquilo quando a promessa findei Quando aos jornalistas algumas entrevista dei fui a casa dos milagres quando lá a cruz deixei pra cachoeira dos Indios sem mais demora voltei
Logo que ali cheguei eu procurei escondido falar com o pássaro preto por ter êle prometido naquele mesmo lugar que me foi aparecido No dia 30 de maio do ano que foi corrente tive com pássaro preto outra entrevista excelente no qual me agradeceu se mostrando bem contente Depois disse: por ser esta a entrevista final quero que você avise a todo mundo em geral que a terra vai passar por um castigo fatal
Pois uma guerra tremenda brevemente há de vir três quartos da humanidade nela vão se consumir principalmente os homens deixarão de existir Ficarão só as mulheres chorando com desprazer e se um dia um homem por acaso aparecer elas se estraçalharão por cada uma o querer Antes disso sobre a terra aparecerá um mal matando sem haver cura a toda rês em geral só finda quando acabar todo gado universal
E o gado ficará liquidado de maneira que quando uma criança achar uma ossada inteira perguntará de que bicho será aquela caveira Responderão os mais velhos esse bicho não há mais pois foi desaparecido da raça dos animais era êle o bicho boi que houve anos atrás Brevemente sobre a terra virá um furacão forte que com rapidez se estende desde o sul até o norte devastando tôda terra e causando muita morte
Muitos para não morrer com ao paus se abração os que assim não fizer arrebatados serão pelo vento e nos ares para sempre sumirão Virá uma caravana de homens doutras nações quebrando todas imagens de tôdas habitações incendiando estampas e livros de orações Depois reúnem os católicos fazendo separação os que morrerem por êles esses livres ficarão mas os que por Deus morrer martirizados serão
Depois aos falsos católicos êles dizem numa voz: vocês trairam seu Deus poderão trair a nós; ai os pega e mata num sofrimento atroz Estes acontecimentos poderão ser revogados se os povos se unirem fazendo prece, humilhados contritos pedindo a Deus perdão para seus pecados Aqui deu por encerrado o meu derradeiro aviso pois sobre o que há de vir já disse o que foi preciso adeus, seu Pedro da Cruz até Dia de Juizo
FIM