A mulher que virou diabo

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ESTE FOLHETO É PARTE INTEGRANTE DO ACERVO DO BEHETÇOHO EM FORMATO DIGITAL, SUA UTILIZAÇÃO É LIMITADA. DIREITOS AUTORAIS PROTEGIDOS.


INFORMAÇÕES SOBRE O PROJETO O Acervo Eletrônico de Cordéis do Behetçoho é uma iniciativa que pretende dar consequências ao conceito de (com)partilhamento dos artefatos artísticos do universo da oralidade, com o qual Behetçoho e Netlli estão profundamente comprometidos.

INFORMAÇÕES SOBRE A EQUIPE A equipe de trabalho que promoveu este primeiro momento de preparação e disponibilização do Acervo foi coordenada por Bilar Gregório e Ruan Kelvin Santos, sob supervisão de Edson Martins.

COMPOSIÇÃO DA EQUIPE Isabelle S. Parente, Fernanda Lima, Poliana Leandro, Joserlândio Costa, Luís André Araújo, Ayanny P. Costa, Manoel Sebastião Filho, Darlan Andrade e Felipe Xenofonte


EDGLEY RIBEIRO E FRANCISCO ZENIO

A MULHER QUE VIROU DIABO



Caros leitores amigos Me prestem muita atenção A algum tempo escrevi Estoria de Lampião Agora entrei na onda Com estória de assombração Se você caro leitor Teme coisa do outro mundo Segure logo a calça Se não vai melar o fundo Antes de ler este verso Medite logo profundo Numa vila sertaneja De nome Varzea da Raz Aconteceu muita coisa Nunca mais lá teve paz Segundo seus moradores Era arte do satanás


Nesta vila residia Maria da Perdição Que não tinha fe’ em Deus Nem em religião Na mesinha do seu quarto Tinha uma estatua do cão Antes de sua morte Nada ali lhe acontecia Vivia só se gabando De tudo que possuia Sou filha do satanás A todo mundo dizia Um belo dia porem Sem ninguem mesmo esperar A Maria aperreou-se E começou a vomitar Sapo, agulha, cabelo E bonequinha de brincar


Dessa ela não escapava Pois ninguem lhe socorreu Diziam todos na vila: Ela é filha de ateu Não durou nem meio-dia E a Maria faleceu Na hora do seu enterro Pode crer, caro leitor Estavam todos aperreados Pra se livrar daquele horror Porem o caixão da defunta Mais de mil quilos pesou Com uma cara de otario Ficou todo pessoal Pra desvendar o mistério Daquele peso sem igual Zeca da venda correu Foi chamar o padre pascoal


O vigário foi chegando E foi dizendo aos seus: Se acalmem, caros filhos E tenham todos fe’ em Deus E rezemos todos juntos A oração de São Mateus Começou naquele instante Uma grande ventania Derrubando casa velha Cerca, cercado e forquilha Sem que ninguem esperar Se levanta a Maria A primeira que deu fé Foi a velhinha Marlu Que disse: valha-me Deus Com todo santo e todo exu! Foi encontrada com seis léguas Em cima de um mandacaru


O Zeca dono da velha O coitado só tremia Pensou que estava correndo E da cadeira não saía Ficou só ele e o padre Enquanto o povo fugia O padre naquele instante Foi jogando agua benta A Maria disse: padre Aqui não meta sua venta Dum espirro que ela deu Foi pior do que pimenta Seus olhos feito uma tocha Ainda tinha um rabo atrás O padre disse: Maria Essas coisas não se faz Diz: ela não sou Maria Me chame de satanás


Ficou olhando pro Zeca Que ainda se tremia Falou: você deixe de roubo Não engane a freguesia Daqui mesmo tu irás Para a minha moradia Nisto ela se levanta E pega o Zeca pelo meio Disse: filho duma egua Você tenha mais asseio De você e desse padre Eu mesmo já estou cheio Sacudiu com vinte braças O corpo do pobre Zeca Coitado nem se tremeu Pois quebrou suas monhecas Dois braços e uma perna E rachou sua careca


O pobre padre pascoal Puxou do bolso uma cruz Disse: volta a teu lugar Em nome do bom Jesus E teu lugar é nas trevas Demonio sujo em luz O coitado do pobre padre Já estava sem aguentar Mas com sua fé em Deus Não parava de rezar Pedindo a Virgem Maria Pra tudo aquilo acabar O satanás só sorria E de pular não parava Fazendo as diabruras Ele mesmo se alegrava Não tem quem possa comigo Para o padre se gabava


O padre não resistiu De pensar enlouqueceu Disse: o mundo esta perdido Eu perder pra esse mateu? Seu coração fracassou Ali mesmo ele morreu A noticia daquele caso Num instante se espalhou Chegou ao ouvido de Cesar Um humilde pescador Homem muito destemido Que em tudo era doutor Chegou em casa apressado Algumas coisas ele pegou Um rosário em crucifixo Deixado por seu avó E um vidro de água benta Que de Padre Cícero ganhou


Despediu-se dos amigos Do pai e do outro avô Pediu coragem a Deus E para estrada rumou No meio de sua viagem Um negro chifrudo encontrou O negro lhe disse: voltas Porque lá encontrarás O homem que manda em tudo Primo do conde Ferrabraz O mundo pertence a ele O seu nome e’ satanás O Cesar aí nem ligou Pro que disse o safado Continuou nas orações O negro ficou de lado Sem Cesar mesmo esperar Foi chegando ao povoado


Na vila ele espantou-se Com aquela ventania As casas todas caídas Em pé só a de Maria O corpo de Zeca da venda Há em um canto jazia Ele orou mais uma vez E para casa seguiu A vila sem habitantes Pois todo povo sumiu Levou um tremendo susto Quando a porta se abriu O que na porta apareceu Era pra terra tremer O diabo em pessoa Nosso leitor precisa crer Toda coragem de Cesar Pareceu esmorecer


Cesar nem acreditou No que na hora ele via Com aquele corpo estranho Que percebeu a Maria Naquele instante sentiu Que o seu sangue subia De Maria só restava O que o diabo vestia Pois mudou suas feições E o rabo ainda crescia Um olho preto outro encarnado E dois chifres que subia Uma metade de gente E outra de animal 15 centimetros de unhas Uma boca sem igual As orelhas tão enormes Que tapava o vendaval


O Cesar disse: Satã Volta ao teu lugar Que a alma de Maria Eu já sei que vais ganhar Pois eu creio em Deus pai E começou a rezar Partiu pra cima do bicho E amarrou suas mãos Com o rosario bendito De Padre Cicero Romão Ali mesmo ela ficou Sem forças caido no cão Quanto mais Cesar rezava Aumentava a ventania E o satanás bufando Chega a terra se tremia Cada urro que ele dava Um pé de arvores caía


Com o vidro da agua benta Cesar o diabo banhou A raiva desse foi tanta Pois sentiu tamanha dor E n達o mais suportando Deu um urro e se estourou O Cesar passou tr棚s dias Para se recuperar Pois o choque foi t達o grande Que n達o quis se alimentar Seguiu para juazeiro Uma promessa pagar

FIM



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