ESTE FOLHETO É PARTE INTEGRANTE DO ACERVO DO BEHETÇOHO EM FORMATO DIGITAL, SUA UTILIZAÇÃO É LIMITADA. DIREITOS AUTORAIS PROTEGIDOS.
INFORMAÇÕES SOBRE O PROJETO O Acervo Eletrônico de Cordéis do Behetçoho é uma iniciativa que pretende dar consequências ao conceito de (com)partilhamento dos artefatos artísticos do universo da oralidade, com o qual Behetçoho e Netlli estão profundamente comprometidos.
INFORMAÇÕES SOBRE A EQUIPE A equipe de trabalho que promoveu este primeiro momento de preparação e disponibilização do Acervo foi coordenada por Bilar Gregório e Ruan Kelvin Santos, sob supervisão de Edson Martins.
COMPOSIÇÃO DA EQUIPE Isabelle S. Parente, Fernanda Lima, Poliana Leandro, Joserlândio Costa, Luís André Araújo, Ayanny P. Costa, Manoel Sebastião Filho, Darlan Andrade e Felipe Xenofonte
JOSÉ COSTA LEITE
A ONÇA E O BODE
1981
Uma pobre onça vivia Em uma mata deserta Dormindo alí, acolá Não tinha morada certa Exposta a chuva e o vento Cochilando no relento Sem travesseiro ou coberta. Certa vez a onça estava Pensando na sua vida Havia chovido a noite Ela estava enfraquecida Com fome e toda molhada Alem disso, resfriada Pois se molhou na dormida. A onça disse consigo: “Isso assim não fica bem Vivo por dentro dos matos Sofrendo como ninguem Nunca pude preparar Uma casa pra morar E quase todo bicho tem.
E esse plano na mente Pegou idealizar Dizendo assim: Quando chove Eu só falto me acabar Se Deus do céu me valer Brevemente eu vou fazer Uma casa pra morar. Na ribanceira dum rio Viu o canto apropriado A onça limpou o terreno Deixando tudo ciscado Resolveu ir descansar Pra depois recomeçar Quando passasse o enfado. Aconteceu que o bode Teve o mesmo pensamento Disse: Eu durmo no mato Passo a noite no relento Exposto a muitos perigos A sanha dos inimigos Sujeito a chuva e o vento.
─ Eu vou cuidar em fazer Uma casa pra morar Quando estiver chovendo Eu tenho aonde ficar Fazendo inveja aos demais Pois todos os animais Zombam vendo eu me molhar. Na ribanceira dum rio Achou um lugar varrido O bode disse: Eu aqui Farei o meu lar querido Aqui ninguem me aperreia O rio dando uma cheia Eu estarei garantido. Cortou madeira no mato E cavou na mesma hora Os buracos dos esteios Jå com a lingua de fora Cansado de trabalhar Resolveu ir descansar Tomou banho e foi embora.
A onça chegando viu O trabalho prosperado Disse assim: É Deus do céu Que está me ajudando Cortou folhas de palmeira Trabalhou a tarde inteira E foi-se embora cantando. O bode chegando achou O serviço quase no fim Disse: “Parece que Deus Está ajudando a mim Pegou tapar o mocambo Trabalhou que ficou bambo Plantou até um jardim. Tomou banho e foi embora E quando a onça chegou Botou portas no mocambo E o que faltava tapou Cortou folhas de palmeira Fez na base de uma esteira Forrou tudo e se deitou.
O bode chegando teve Uma alegria danada Já viu a casa com portas Porem não foi caçoada Foi chegando perto dela E quando olhou da janela Avistou a onça deitada. E quando o bode falou A onça disse que tinha Feito a casa pra morar Pois sofrendo muito vinha Porém o bode na hora Disse: Minha não senhora Porque esta casa é minha. A onça disse: Eu limpei O canto e fui descansar O bode disse: Eu cortei A madeira e fui cavar Os buracos dos esteios Assim por todos os meios Nela sou quem vou morar.
A onça disse: Eu cortei Palmeiras e cobri ela O bode disse: Eu tapei E fiz o jardim perto dela Disse a onça: Eu vou caçar Pois eu não quero brigar Só sei que vou morar nela. O bode ficou deitado E a onça foi caçar Lá ela matou um bode E trouxe para jantar O outro bode, coitado Vendo seu irmão sangrado Deu vontade de chorar. A onça disse ao bode: ─ Quando me ver pinotear É que está chegando em mim A vontade de brigar Da minha casa eu não saio E de fome sei que não caio Todo dia irei caçar.
Disse o bode: Quando eu Ficar em pé, espirrando Pinoteando bem alto E a barba balançando Estou rosnento e voraz Pior do que Satanáz É bom ir se preparando. Na caçada o bode viu Uma onça pendurada Tinha caido no laço Ele matou-a de pancada Chegou em casa com ela A onça vendo a irmã dela Ficou toda arrepiada. Fez um churrasco da onça E comeu que ficou deitado Depois pegou espirrar Dando salto agigantado Com a barba balançando Deitando e se levantando Com o maior bodejado.
A onça com medo dele Tambem começo pinotear Para dizer que estava Com vontade de brigar Nos dois pés se levantou Mas o bode nem ligou E danou-se pra espirrar. O bode de cara feia Ficou perto da janela Pra pinotear e correr Antes do fim da novela Ela estava no pagode Era com medo do bode E o bode com medo dela O bode espirrou de novo Fez um grande bodejado A onça saltou no terreiro E entrou no mato fechado O bode correu tambem No mato inda hoje tem O mocambo abandonado FIM