ESTE FOLHETO É PARTE INTEGRANTE DO ACERVO DO BEHETÇOHO EM FORMATO DIGITAL, SUA UTILIZAÇÃO É LIMITADA. DIREITOS AUTORAIS PROTEGIDOS.
INFORMAÇÕES SOBRE O PROJETO O Acervo Eletrônico de Cordéis do Behetçoho é uma iniciativa que pretende dar consequências ao conceito de (com)partilhamento dos artefatos artísticos do universo da oralidade, com o qual Behetçoho e Netlli estão profundamente comprometidos.
INFORMAÇÕES SOBRE A EQUIPE A equipe de trabalho que promoveu este primeiro momento de preparação e disponibilização do Acervo foi coordenada por Bilar Gregório e Ruan Kelvin Santos, sob supervisão de Edson Martins.
COMPOSIÇÃO DA EQUIPE Isabelle S. Parente, Fernanda Lima, Poliana Leandro, Joserlândio Costa, Luís André Araújo, Ayanny P. Costa, Manoel Sebastião Filho, Darlan Andrade e Felipe Xenofonte
JOSÉ HELDER FRANÇA (Dedé)
CRATO ANTIGO
Eu hoje senti saudade Da minha terra querida Lá fiz onde fiz amizade Onde vivi a minha vida Saudade de sua lua Saudade da minha rua Saudade de tudo enfim Saudade do clima quente Saudade da minha gente Que já faz parte de mim Senti saudade do Crato Cidade onde nasci Lugar feliz e pacato Coração do Cariri Senti saudade das feiras Da rua das Laranjeiras De sua água gostosa Que minha sede não mata Da Rua Rabo da Gata Também da rua Formosa
Eu recordo claramente Enquanto o verso rabisco Da Capelinha da gente Do meu santo São Francisco Onde aos domingos eu ia Com muita fé e alegria Onde com gosto rezava Pedindo felicidade Eu até sinto saudade Daquela esmola que eu dava Esta saudade não cala Conversa com a minha dor Recordo a rua da Vala Ladeira do matador E no tempo de menino O açude de <<seu>> Lino Onde ia a meninada Saudade <<dêste tamanho> Saudade também do banho Lá no Pôço da escada
Saudade do Crato amigo De um tempo que não mais vem Saudade do Crato antigo Que inda hoje quero bem Daquele Crato pequeno Saudade do <<mais ou menos>> Onde bebia cachaça Saudade de Joaquim prêto Que vigiava o corêto Localizado na praça Do ébrio Zé das Canetas Cantando pelas serestas Saudade mil das retretas Que para mim eram festas Que tempo fenomenal Da Banda Municipal Perfilada e harmoniosa Que há tempos foi batizada E ainda hoje chamada Como <<BANDA FURIOSA>>
Que tempo bom do passado Daquele Crato risonho Do meu Crato sem pecado Tudo era amor, era sonho Daquele Crato feliz Que no Quadro da Matriz A gente ouvia sermão Ái como eu sinto saudade Daquele tempo em que o frade Ganhava mais atenção Saudade da luz escura Do poste feito de trilho Da feira da rapadura Das velhas vendendo milho Do <<papagaio>> da <<raia>> Do carro de Pedro Maria Das moedas de derréis Dos dramas lá do cassino Quando eu era menino E xingava <<seu Moisés>>
Saudade do futebol Sem ajuda e bem precรกrio Do tempo do<<Penarol>> No campo do Seminรกrio Que a gente com jogo e briga Bola feita de bexiga Fazia time excelente Nรฃo tinha juiz nem mestre Na <<Vazante dos Silvestre>> Fazia o campo da gente O brilhar dos pirilampos Sentindo as noites escuras Na praรงa Siqueira Campos Faziam luz com ternuras Que prazer a gente tinha Nas <<voltas>> lรก na pracinha Todo o passado restauro Da mijada escondida Quando vinha da avenida No <<Beco do Padre Lauro>>
A festa da padroeira Que calor de animação O levantar da bandeira O concorrido leilão Oh! Quanto sinto saudade Daquela rivalidade No meio das brincadeiras Tudo tinha mais valor Eu até toquei tambor No bloco das <<Enfermeiras>> E meditando hoje fico Relembrando com emoção Bar central de Zé Euricó Ponto de reunião Café, merenda e brilhar onde ficava a esperar muita gente como o quê para ouvir, num dia tal no rádio do Bar Central notícias da B.B.C
E continuo a lembrar as coisas que muito amei o velho Grupo Escolar onde primeiro estudei Dona テ「rea, impertinente Apesar de zeladora Gostava de Dona Cila Mas temias Dona Lila A mais dura diretora E tudo vem de mansinho Para escrever no papel Sanfoneiro Zテゥ Neguinho Lテ。 no <<Cafテゥ de Izabel>> Mestre Neco fogueteiro No Cariri o primeiro No meu tempo de menino Como achava isso bom Tempo em que CLETO MILFONT Discursava no cassino
A relembrar me demoro A minha terra natal Recordo <<Seu Deodoro>> Festa do Bar Ideal Onde aprendí a dançar Onde tentava fumar Me engasgando com fumaça Bebendo cerveja quente Onde provei aguardente Onde dançava de graça Com a lembrança já fraca Tento encurtar a distancia Relembro o <<Fundo da Maca>> Onde, vivi minha infância Tinha lá, no quarteirão A Uzina de Algodão Tomando a rua, o formato Fundo da Maca, divina Donde o apito da Uzina Marcava as horas do Crato
A ponta da Batateira A Ladeira da Matança Motivo de brincadeira No meu tempo de criança Relembro as ruas de outrora Com outros nomes agora (Não sei porque esta falha) Rua da Cruz, na entrada Rua da Pedra Lavrada Rua do Fôgo e da Palha Vou me lembrando de tudo Do meu tempo de menino <<Estevo>>, <<Mané Buchudo>> <<Gato>> <<Puliça>> e <<Josino>> Todos gostavam do <<gole>> <<Chico da Luza>>, << Mané Mole>> O bloco dos <<Deodatos>> Tinham repentes com graça Quando bebiam cachaça Pelas bodegas do Crato
Oh! Como sinto saudade Daquele Crato atrasado Cheio de felicidade De Cabaçal e Reizado Me lembro quando à tardinha Eu ia olhar a <<lapinha>> Que tinha lá no <<Pimenta>> Jesus a mula e o boi Na arte de Dona Enoi Que o Crato ainda comenta Também ficou na história Os testes de sabatina A trôco de palmatória Batendo em muita mão fina E muita gente aprendeu E nunca mais esqueceu O ABC do passado Dona Vicença Garrido Deixou o Crato instruido Naquele tempo atrasado
Bolo de Dona Maroca Brincadeira do << Chicão>> O << Figo>> com tapioca Lá na Praça da Estação << Seu Hormínio>>, do cinema As comidas de << Canena>> Servindo café amargo Gonzaga de Melo e o Xote Senen tocando serrote E os bonecos de <<seu Argo>> Tudo me vem de repente Vejo Zá Pinto ao Trombone Vejo Agenor, o <<tenente>> Abelha e o saxofone O mestre Chico Baião A bodega de Dão João Onde sentia de leite O grande mestre Benício E o velho Joaquim Patrício Com seu tijolo de leite
Vejo o gordo João Toscano Cantando sem ter fadigas Tomando cana e cinzano Cantando modas antigas No programa raridade Lá na <<Hora da Saudade>> Que era uma maravilha Tudo alí era bem certo A voz de Vicente Terto A voz de Maria Emília Me lembro da meninada Daquela turma todinha Que aperreava a coitada A pobre da <<Baixeirinha>> O cinturão de Tandor A bodega de Zé Honor Onde o preço era fiel Recordo a turma da praça Contando estória de caça: Mentiras do Mizael
E tudo me vem à mente Me provocando um sorriso Fortificando o repente Dando brilho ao improviso São boas recordações Momentos de emoções Do meu viver bem vivido Dentro em mim guardo o retrato De tudo o que vi no Crato Este meu Crato querido Com muita garra e audácia Tento descrever assim: Me recordo da Farmácia Do grande D. Rolim E tudo me vem bem perto O << Café de João Gualberto>> A grande casa << Abraão>> As marchinas de Audízio Quiosques de seu Anfrízio Lá na Praça da Estação
O velho Zeba, alfaiate! Ninguem esquece jamais Um general no combate Na luta dos carnavais Animava com bravura O Clube da Rapadura Quando eu era menino Meu velho pai, um gigante, Naquela luta incessante Ao lado de Balduino A Pensão de Hermes Lucas A feiura de Ramiro Seu Sá e suas sinucas Fecho os olhos e admiro Embora nada mais tendo Inda hoje vou vivendo Pois me foi um tempo bom E agora é que alguém se assusta: A velha Maria Augusta Zé Alves e Odilon
De tantas coisas me lembro E a tudo dou importância E com saudade relembro Tudo o que vi na infância Essas belezas do Crato Que com saudade retrato Não me saem da memória E esse peito bem meu É um verdadeiro museu Do que ficou na história
FIM