Maria mata homem a valente da paraiba

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ESTE FOLHETO É PARTE INTEGRANTE DO ACERVO DO BEHETÇOHO EM FORMATO DIGITAL, SUA UTILIZAÇÃO É LIMITADA. DIREITOS AUTORAIS PROTEGIDOS.


INFORMAÇÕES SOBRE O PROJETO O Acervo Eletrônico de Cordéis do Behetçoho é uma iniciativa que pretende dar consequências ao conceito de (com)partilhamento dos artefatos artísticos do universo da oralidade, com o qual Behetçoho e Netlli estão profundamente comprometidos.

INFORMAÇÕES SOBRE A EQUIPE A equipe de trabalho que promoveu este primeiro momento de preparação e disponibilização do Acervo foi coordenada por Bilar Gregório e Ruan Kelvin Santos, sob supervisão de Edson Martins.

COMPOSIÇÃO DA EQUIPE Isabelle S. Parente, Fernanda Lima, Poliana Leandro, Joserlândio Costa, Luís André Araújo, Ayanny P. Costa, Manoel Sebastião Filho, Darlan Andrade e Felipe Xenofonte


RODOLFO COELHO CAVALCANTE

MARIA MATA HOMEM A VALENTE DA PARAIBA



Uma nova história escrevo Da minha imaginação Da bravura do Nordeste No tempo de Lampeão De Maria Mata-Homem Bandoleira do sertão. Devo chamar a atenção Do leitor desavisado Que enredo semelhante Creio que não foi versando, Somente no fim do livro O assunto é desvendado. Mulher da gênio malvado Que toda luta enfrentava Matava por brincadeira Quando ela se assanhava, Falemos de Vida Torta Que em Itaberaba morava


Vida Torta não brincava Confiando em sua sorte Por isso comprava briga Para fazer o transporte Do cabra que ele pegasse Para o lodaçal da morte. NA Paraiba do Norte Residia a tal valente Por nome de Mata-Homem, Mas em busca de um parente Deixou sua Cajazeiras Nesse projeto somente. Sabia perfeitamente A tal Valente Maria Que daria uma brigada No Estado da Bahia Pois nesse tempo jagunço Sempre no sertão havia.


Vida Torta que vivia Tomando sua “bicaba” Na cidade Rui Barbosa Resolveu tomar chegada Em Itaberaba, seu pasto, Que tinha a vida folgada. Não sabendo ele de nada Em Itaberaba chegou Quando a dita Mata-Homem Ao vê-lo se aproximou E na hora da “bicaba” Para ele assim falou: − Em que lugar é que estou Que não se vê valentão? Vida Torta respondeu: Aqui no nosso sertão Homem não bate em mulher Pra não perder na questão.


Comigo tem isso não Ando comprando e vendendo Porque não respeito homem Na hora que estou bebendo... Sou Maria Mata-Homem Fique de logo sabendo. Também eu vou lhe dizendo Que desmanchou sua horta Se você é Mata-Homem Eu me chamo Vida Torta, Hoje aqui um de nós dois Vai correr por essa porta: Você hoje se transporta Seu moleque vagabundo Que eu não vim da Paraiba Pra apanhar de um negro imundo, Quando um homem me bater Nesse dia acaba o mundo:


Em menos de um segundo Vida Torta aborrecido Deu um sôco na valente Por cima do pé do ouvido Que ela caiu de um jeito Que levantou o vestido. Exclamou ela: − Bandido Você vai comer peixeira... Partiu para Vida Torta Feito hiena traiçoeira Furou a calça do negro Que mostrou toda trazeíra. Vida Torta na peixeira Ia matando Maria Mas essa numa rasteira Deitou-lhe na terra fria O negro aí levantou-se Caso contrário morria.


Naquela hora a porfia Todo bar escureceu, Maria agarrou o negro E disse: − Você é meu... Na cara do seu cadáver Quem vai cuspi-la sou eu: Um tiro recrudesceu Por parte de Vida Torta, Porém Maria abaixou-se A bala pegou na porta... Tinha julgado o valente Que a danada estava morta. − Comigo você não corta Seu baralho coma mão Disse Maria pegando O revólver do negrão E atirou-lhe na cabeça Que o negro caiu no chão.


Nessa mesma ocasião A luta estava findada, Pois o negro quase morto Tinha debaixo a parada E Maria Mata-Homem Foi tomar outra “bicada” Bastante contrariada Rosnava que só uma fera E dizia: Quêde o homem Parecendo Bêsta-Fera?... Nisto a Polícia chegou Para saber o que era. Falou um Cabo: esta terra Não é palco de confusão, Disse Maria: − Este peste Que está caido no chão Veio meter-se a valente Recebeu sua lição.


− Levando seu valentão Que isso não é mister, Quem busca barulho acha Não é assim que você quer?... Agora perdeste a fama Apanhando de mulher: Aqui não é “Pau-de-Colher” O barulho terminou. Maria pediu desculpas Nesse dia viajou Direto pra Paraiba E o parente não achou. Vida Torta ali jurou Que se vingaria um dia, Seguiu para Cajazeiras Deixando sua Bahia, Até que enfim hospedou-se Onde ela residia.


Como quem nada queria Vida Torta na Pensão Do endereço de Maria Teve toda informação, Disse ele: − Hoje é o dia De findar minha questão: Maria de prontidão Já estava o esperar E dizia: − Quem procura Por certo ha de encontrar, Vida Torta hoje eu entorto Não tem pra quem apelar. Maria mandou levar Um bilhete e ele leu: − Bom dia seu Vida Torta Quem deu o endereço meu Por certo ensinou-lhe a casa E por que não apareceu?


− Moro na “Rua do Breu” Número é sessenta e três, Apareça a qualquer hora, Pois o senhor é freguês... Se vem procurar mais briga Venha com cinco ou com seis. Vida Torta dessa vez Não gostou da brincadeira E mandou dizer que estava Na Pensão de Zé Madeira, Que ia falar com ela Á noite, depois da feira. Na venda de João Palmeira Tomou ele uma aguardente E as sete horas da noite Com a cabeça já quente Bateu na porta e falou De Maria: − Aqui tem gente?...


− É você seu indecente Que procura nova guerra? Sou eu mesmo a desta vez Vou mata-la em sua terra, A mulher que bate em homem De outra vez ela se enterra: Disse Maria: esta guerra Já virou uma diversão, Homem que bater em mim Tem cem anos de perdão, Porque eu mato na hora Seja até o pai do Cão: Nesta mesma ocasião Maria logo o atacou, Feriu-lhe o braço direito Que seu colar se quebrou E um retrato de homem No meio da sala voou.


Maria logo pegou: O retrato do colar Conheceu que era o pai dela Quase não pôde falar Abraçou-se com o irmão Ficaram os dois a chorar Começaram a conversar Maria com seu irmão, E essa disse que a tempo Procurava informação, Por isso foi à Bahia Fazer investigação − Sou eu mesma, meu irmão, Filha de Antonio Clemente, Papai veio a Paraiba Me deixou inda inocente E aqui eu fui criada Com meu Padrinho Vicente.


Vida Torta sorridente Disse: − Eu também sabia Dessa irmã na Paraiba Não sabendo se existia Se você falasse antes Nossa questão não havia. Ficou-se toda arrelia De Mata Homem e o irmão, Voltaram para a Bahia Na maior satisfação E nunca mais houve briga Nem qualquer alteração. Esta foi a narração Que um certo amigo me deu, Se é verdade ou se é mentira Isto não garanto eu, Poeta é como repórter Tendo notícia escreve.

FIM



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