ESTE FOLHETO É PARTE INTEGRANTE DO ACERVO DO BEHETÇOHO EM FORMATO DIGITAL, SUA UTILIZAÇÃO É LIMITADA. DIREITOS AUTORAIS PROTEGIDOS.
INFORMAÇÕES SOBRE O PROJETO O Acervo Eletrônico de Cordéis do Behetçoho é uma iniciativa que pretende dar consequências ao conceito de (com)partilhamento dos artefatos artísticos do universo da oralidade, com o qual Behetçoho e Netlli estão profundamente comprometidos.
INFORMAÇÕES SOBRE A EQUIPE A equipe de trabalho que promoveu este primeiro momento de preparação e disponibilização do Acervo foi coordenada por Bilar Gregório e Ruan Kelvin Santos, sob supervisão de Edson Martins.
COMPOSIÇÃO DA EQUIPE Isabelle S. Parente, Fernanda Lima, Poliana Leandro, Joserlândio Costa, Luís André Araújo, Ayanny P. Costa, Manoel Sebastião Filho, Darlan Andrade e Felipe Xenofonte
PEDRO BANDEIRA
MISSAS DO VAQUEIRO DA PRIMEIRA A QUARTA
1ª MISSA 1971 Peço a fôrça de Sansão E a paciência de Jó O talento de David E o poder de Faraó Para dizer em folheto Quem foi Raimundo Jacó Trata-se de um vaqueiro Forte, sincero e humano Talentoso, e destemido Dotado do Soberano A voz que abalava os campos Do sertão pernambucano Era amansador de burro Vaqueiro de empreitada Bom no curral bom no limpo No mato, na vaquejada Era um vaqueiro maneiro Duma munheca pesada
Não respeitava favela Serra, facheiro, cipó Sua calça era a perneira Seu gibão o palitó Fosse a cavalo ou a pé Tudo era uma coisa só Pegava gado de dia Meia-noite, madrugada, Sua arma era um chocalho Uma “carêta” ensebada Uma corda de laçar Fé em Jesus e mais nada Só traquejava no campo Com um cachorro a seu lado Tão simples que não ligava Estar descalço ou calçado Seu fraco era capar bode Tirar leite e pegar gado
Vaqueiro que adivinhava Aonde o gado dormia Onde estava, onde passava Onde entrava, onde saia Onde passava, no campo Onde urrava, onde bebia Sua voz era de Orfeu Seu grito abalava o prado Seu abôio estremecia O sertão velho pelava Zelava mais a fazenda Do que o dono do gado Era primo de Luiz Gonzaga, Rei do Baião Fantasma das vaquejadas Orgulho da região Garganta possuidora Das frutas da inspiração
Casou-se, ficou viúvo Casou-se a segunda vez Com Raimunda a primeira Feliz casamento fez A segunda foi Otilia Que chora na viuvez Passou de quarenta anos Inda gozou esta idade Pai de Francisco Vicente Que estão na orfandade Enquanto uma dor profunda Mata o sertão de saudade Trabalhou como um escravo Na fazenda de seu “São” No velho Açude Quebrado A mais linda do sertão Na fazenda São Geraldo Deu resultado ao patrão
Raimundo era rei do campo E principe da vaquejada Porém o destíno ingrato Jogou pedra em sua estrada Por feliz que o homem seja Tem uma hora minguada No ano cinquenta e quatro No dia oito de julho O céu estava escamado O chão coberto de orgulho E a asa branca do campo Dava o derradeiro arrulho Saiu Raimundo pro campo As duas horas da tarde O seu coração batia Como quem dizia: aguarda A mais sinistra tragédia De um companheiro covarde
Adiante encontraram a rês Por eles já procurada Raimundo botou na frente Pegou-a sem dar massada E quando o outro chegou Já encontrou-a amarrada Nessa hora ninguem sabe O que foi que aconteceu Sabemos que desta vez Raimundo Jacó morreu Seu cachorro ficou perto Guarnecendo o dono seu O Pernambuco gemeu Em menos de um segundo O sertão chorou sentindo O desengano profundo Os companheiros de campo Foram procurar Raimundo
A vizinhança encontrou O corpo num grutilhão O cavalo e o cachorro Chapéu, perneira e gibão E a novilha amarrada Testemunhando a ação Aonde Raimundo estava O cavalo estava perto Olhando para o cachorro Fiel companheiro certo No mais cruel abandono Na solidão do deserto Trouxeram Raimundo morto O cachorro acompanhou Depois que o sepultaram O cachorro ali ficou Morreu em cima da cova De quem tanto lhe estimou
O cavalo tambem foi Acompanhando o entêrro Vaca mugia no campo Garrote cavava atêrro E o sertão estremecia Sentindo a culpa e o êrro Depois de muitos janeiros O padre João da Serrita Resolveu fazer pra alma Uma festinha bonita Que o vaqueiro nordestino Em deus tambem acredita Município de Serrita A festa inédita ganhou Padre João disse a missa Luiz Gonzaga falou Pedro Bandeira fêz verso E a Natureza chorou
Para quem se faz presente Eternamente obrigado Jesus dê paz aos vaqueiros Muita saúde ao gado E imortalize o nome Desse vaqueiro afanado SEGUNDA MISSA−1972 Foi nessa segunda missa Que vi todo pastoril Por cima de pé de angico Catingueira e tamboril Que parecia a primeira Missa do nosso Brasil Coimbra no mês de abril Padre João no mês de julho Onde o vaqueiro foi morto Por cima do pedregulho Provando que a Natureza Condena inveja e orgulho
Ninguem fazia barulho Na grande reflexão Eu atráves da viola Tambem fiz o meu sermão Porque conheço as histórias Dos vaqueiros do sertão Eu fiz a meditação Cantei mas cantei com dó Porque tambem conheci Quem foi Raimundo Jacó Cantando e chamando o gado Nos sertões do Bodoco Uma cruz de pau mocó Mostrava sua figura A missa foi de vaqueiro Baseada na escritura E a comunicação foi de queijo Carne assada e rapadura
Foi a comunhão mais pura Feita com fé e justiça Mais de cinco mil pessoas Ouviram sem ter preguiça E setecentos vaqueiros Montados escutando a missa Maneira como cortiça Uma neblina passava Capinam fazia o filme Luiz Gonzaga cantava O sertão estremecia E a natureza chorava Pedro Bandeira aboiava Que abalava o nevoeiro Duzentos e um veículos Por dentro do tabuleiro Testemunhando êste quadro Da história dum vaqueiro
A viúva em desespêro Chorava mais que ninguém Em cada rosto uma lágrima Em prova de amor e bem Provando a Deus que o vaqueiro É muito humilde também Chegava gente de trem De jipe e de caminhão De pé de camionete Bicicleta e avião Pra ver um padre rezando De guarda-peito e gibão Pedras rolavam no chão Nos cascos dos animais Repórteres cinegrafistas Mais de quatorze jornais A uma missa daquela Quem foi não esquece mais
Esta minha história traz Uma documentação Que ficará na imprensa Rádio e televisão E quem sentir bata palma Para os heróis do sertão TERCEIRA MISSA−1973 Sôbre Raimundo Jacó Cantei a missa primeira Cantei também a segunda Agora canto a terceira E enquanto for repetida Canto até a derradeira A imprensa brasileira Testemunha o festival O rádio e televisão O governo estadual Já consagrou essa missa Como uma festa anual
O governo estadual Furou um poço profundo Onde era um campo sêco A água diz: eu inundo E a missa fica conhecida Em tôda parte do mundo Essa missa de Raimundo Primo do Rei do Baião Está imortalizando O vaqueiro do sertão Graças a Deus que foi quem Inspirou o Padre João O govêrno da Nação Como fiel brasileiro Apoiará nossa idéia Com fé em Deus verdadeiro Sansionará a lei Que dar um dia ao vaqueiro
Pedro Bandeira violeiro Poeta de quengo fino Foi quem primeiro lembrou-se Padre João disse: eu combino Para a gente criar um dia Do vaqueiro nordestino Gonzaga disse: eu ensino Como é que a gente faz A idéia está criada Vamos botar nos jornais Depois de tudo assinado Não se acabará jamais Sei que as leis federais Sem precisar de barulho Darão um dia ao vaqueiro Que para a classe é orgulho Será isso no terceiro Domingo do mês de julho
QUARTA MISSA−1974 Cantei a primeira missa A segunda e a terceira Agora canto a quarta Como cantei a primeira Enquanto Deus me der vida Canto até a derradeira Uma cerca de madeira Uma estatua de cimento Um pista um pavilhão Um palco e um paviamento Estão serindo de marcos Do grande acontecimento Uma lágrima um sentimento Uma dor um desengano Uma cruz um monumento Uma missa todo ano Mostra um grito d justiça No sertão pernambucano
O coração desumano Que assassinou Raimundo Depois desta festa está Com desengano profundo E hoje Raimundo é Um imortal para o mundo Hoje no céu e no mundo Raimundo está consagrado Morreu em 54 Ficou no campo jogado Mas a justiça de Deus Chegou no tempo marcado O governador do estado Sabendo que padre João É honesto humanitário Homem de bom coração Tambem apoiou a missa Prestigiando o sertão
Vai ter inauguração Do parque oficial Por Doutor Eraldo Gueiros Que é Governo estadual Será o parque da missa Ser celebrada anual Vai ter banda cabaçal Música típica brasileira, Cantoria improvisada Na voz de Pedro Bandeira Poeta que escreve a missa Desde da história primeira O poeta Pedro Bandeira Acampanhou Padre João Desde as primeiras passadas Pra essa celebração Cantando ao som da viola Toda história do sertão
Gonzaga Rei do Baião Outro idealizador Amigo de padre João Bom vaqueiro e Monsenhor Too ano sem preguiça Tambem vem cantar a missa Provando a voz do amor
FIM