ESTE FOLHETO É PARTE INTEGRANTE DO ACERVO DO BEHETÇOHO EM FORMATO DIGITAL, SUA UTILIZAÇÃO É LIMITADA. DIREITOS AUTORAIS PROTEGIDOS.
INFORMAÇÕES SOBRE O PROJETO O Acervo Eletrônico de Cordéis do Behetçoho é uma iniciativa que pretende dar consequências ao conceito de (com)partilhamento dos artefatos artísticos do universo da oralidade, com o qual Behetçoho e Netlli estão profundamente comprometidos.
INFORMAÇÕES SOBRE A EQUIPE A equipe de trabalho que promoveu este primeiro momento de preparação e disponibilização do Acervo foi coordenada por Bilar Gregório e Ruan Kelvin Santos, sob supervisão de Edson Martins.
COMPOSIÇÃO DA EQUIPE Isabelle S. Parente, Fernanda Lima, Poliana Leandro, Joserlândio Costa, Luís André Araújo, Ayanny P. Costa, Manoel Sebastião Filho, Darlan Andrade e Felipe Xenofonte
JOTAMARO
MULHER SUPER TEIMOSA
FORTALEZA-CE 1981
Meu amigo Guajará Parece até que é prosa Vivo com uma mulher De nome Tereza Rosa Nunca vi na minha terra Outra mulher mais teimosa Tudo, tudo que eu digo Ela responde ao contrário Ela torce Fortaleza Porque sou Ferroviário Eu vou contar prá você Como é o meu calvário Se eu pedir um chá A praga me traz café Se eu lhe mostrar o Zico Ela diz: É o Pelé Se eu vou prá Quixadá Ela vai prá Quixeré
Se eu lhe pedir um prato Ela me traz uma colher Se eu lhe peço o almoço Ela só traz o talher Não quer acordo comigo O diabo dessa mulher Eu digo que vou prá missa Ela diz: tu vem da farra Eu digo: mulher desata O diabo vai e amarra Eu grito: mulher tu solta A tampa vai e agarra Se eu disser que é jarra Ela diz que é um pote Eu digo que é pescoço Ela diz que é cangote Se eu disser que é sapo Ela diz que é caçote
Eu digo que é toicim Ela diz que é banha Se eu disser que é serra Ela diz que é montanha Eu digo que a rã perde Ela diz que a rã ganha Eu digo: mulher tu vai Ela diz: homem não vou Eu digo que ela foi Ela me diz que ficou Eu digo que a rã perdeu Ela diz que a rã ganhou Se eu disser que é papo Ela diz que é muela Digo que é coração Ela diz que é titela Se eu disser que tem dente Ela diz que é banguela
Eu digo que é um padre Ela diz: é um soldado Gosto de milho cozido E ela de milho assado Gosto de um papo legal Ela de papo furado Eu digo que é careca Ela diz é cabeludo Se fulano não tem pelo Ela diz que é peitudo Eu digo que não tem casca Ela diz que é cascudo Quando amanheço alegre Ela amanhece na fossa Eu só gosto da antiga Ela só gosta da bossa Se eu acho a ponta fina Ela acha a ponta grossa
Eu digo que sou sabido Ela diz: tu é um burro Eu digo: mulher te cala A praga dá um esturro Eu digo: mulher me beija O diabo me dá um murro Eu digo que gato mia Ela diz que gato berra Eu digo: mulher vem cá A desgraçada imperra Eu digo que quero paz Ela diz: eu quero é guerra Se eu lhe pedir um copo O diabo traz uma taça Quando eu quero beber água A praga me traz cachaça Eu digo que é combuca Ela diz que é cabaça
Se eu disser que é lombo Ela diz: é espinhaço Eu digo que é frieza Ela diz que é mormaço Eu digo que é cangote Ela diz que é cachaço Eu digo que é nariz Ela diz que é venta Se eu disser que é preta Ela diz que é cinzenta Eu digo: tu fica em pá A praga vai e se senta Se eu disser que é corda Ela diz que é cordão Eu digo que é arroz Ela diz que é feijão Se eu lhe pedir o pé A praga me dá a mão
Se eu lhe pedir a mão O diabo me dá o pé Eu digo que é Zazá Ela diz que é Zezé Eu digo que é Dadá Ela diz que é Dedé Eu digo que é canela Ela diz: é canelêta Eu digo que é papel Ela diz: é papelêta Eu digo que é trombone Ela diz que é trombêta Eu digo que é violão Ela diz que é viola Eu digo que é gândula Ela diz que é gandola Eu digo que é um quadrado Ela diz: é uma bola
Eu digo que é um arco Ela diz: é uma seta Eu digo: tiro do canto Ela diz: tiro de meta Eu digo vai dando volta E a praga vai na reta Eu digo: tu vai na reta O diabo vai dando volta Eu digo que é patrulha Ela diz que é escolta Eu digo: mulher segura A miserável solta Eu digo: tu fica em pé A desgraçada aí cai Eu digo: tu fica em casa O diabo da mulher sai Eu digo: chama a mamãe A praga chama o papai
Carne eu só gosto cozida A desgraçada aí frita Se eu disser que é cabra Ela diz que é cabrita Eu digo: mulher te cala A mulher se dana e grita Sempre uso pouco força E ela força total Se eu disser que é dedo Ela diz que é dedal Se eu vou dançar num clube Ela vai pru descambal Se lhe mostro um parafuso Ela mostra uma arruela Quando eu fico na minha Ela não fica na dela Se eu disser que é feia Ela diz: é muito bela
Uma mulher sem barriga Ela diz: é barriguda Se a coisa não tem ponta Ela diz que é pontuda Se o negócio tem ponta Ela diz que é rombuda Quando eu preciso dela A desgraçada se some Com a barriga espocando Ela reclama com fome Quando se bota a comida A miserável não come Se um dia eu for jantar Ela disser que é ceia Pego um pedaço de pau Lhe derrubo e meto a peia Dou-lhe uma surra danada Embora eu vá prá cadeia
Ela só tá de acordo Com sua programação Quando é às cinco horas Ela diz: acorda João Vamos escutar juntinhos GUAJARÁ NO VARANDÃO
FIM