No tempo da clarabóia

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ESTE FOLHETO É PARTE INTEGRANTE DO ACERVO DO BEHETÇOHO EM FORMATO DIGITAL, SUA UTILIZAÇÃO É LIMITADA. DIREITOS AUTORAIS PROTEGIDOS.


INFORMAÇÕES SOBRE O PROJETO O Acervo Eletrônico de Cordéis do Behetçoho é uma iniciativa que pretende dar consequências ao conceito de (com)partilhamento dos artefatos artísticos do universo da oralidade, com o qual Behetçoho e Netlli estão profundamente comprometidos.

INFORMAÇÕES SOBRE A EQUIPE A equipe de trabalho que promoveu este primeiro momento de preparação e disponibilização do Acervo foi coordenada por Bilar Gregório e Ruan Kelvin Santos, sob supervisão de Edson Martins.

COMPOSIÇÃO DA EQUIPE Isabelle S. Parente, Fernanda Lima, Poliana Leandro, Joserlândio Costa, Luís André Araújo, Ayanny P. Costa, Manoel Sebastião Filho, Darlan Andrade e Felipe Xenofonte


FANKA SANTOS

NO TEMPO DA CLARABテ的A

JUAZEIRO DO NORTE-CE 2001



Tu apagas minha arte, Eu acendo meu poema Nessa noite de escuro Absurdo do meu tema Vou pichando pela rua Com olhos lá da lua Onde rimo meu dilema A palavra é meu escudo No escuro desse breu Quando roda, rodopia, Faz poesia pra morfeu Faz poema para chuva Para a pêra para a uva No clarão que anoiteceu Tu apagas minha vida Privatiza meu saber! Avisou o caro Brecht Comentando pra você Disse ser analfabeto Todo povo sem afeto, Sem política entender


Ele tange a claridade Presidente escuridão Tira a luz e bota fome Na cidade e no sertão Eita fernandinho paia Para todos dessa laia Chamo a vaia da nação. Eu clareio meu poema Com a vela desse luto Candeeiro bem aceso Pra você ficar astuto Pra você não ser otário Vendo o tio Monetário A roubar, cada minuto. Nós estamos nessa nau Desde Pedro, saqueados Velejando descontentes Nesse mar de cadeados Se são tantos Severinos Nessa Pátria de cretinos Porque ficam tão calados?


Vós do banco mundial, Enlatou nossa energia Fez o rio ser culpado Com a sua hipocrisia Ave César, ave Sam O macaco de Tarzan Do tiotio é freguesia Apesar desse apagão O sistema consumista Continua promovendo Um consumo inrealista Gravador e geladeira Novo micro, batedeira O produto está na lista Furnas eras do Brasil Hoje es a estrangeira Es sugada em teu país Destruída na fronteira Cor de verde, pica pau Meu país só tem lalau? Parece de brincadeira


Ele pensa que você É um tolo e um bobo A viver amordaçado Assistindo TV globo Fora Xuxa e Faustão Dom Henrique apagão Tire a pele desse lobo. Nessa lira cangaceira Minha rima é o escuro Um pretexto a debater A vergonha desse abuso O doutor pós graduado Quer a gente abestado Servindo a dona U$A Eles querem destruir A nossa terra natureza A beleza da Amazônia Está indo na avareza. Essa corja de bandido É pior que um vampiro A sugar nossa riqueza.


Lamparina minha musa Ó velinha dê coragem! A rainha das candeias Nos proteja na viagem Afaste de nossa gente A bosta do presidente, E a gang da fuleragem! Quando cai um ditador Todo povo se acende Se ilumina para a vida, Se renova, pois atende Um chamado que reluz Cada sonho, pois da luz Nasce o sol clarividente Será lírio que extasia Ver o sol na cachoeira A bater no veio d’água Escorrendo verdadeira Será sonho de candura Ter prazer e água pura Sem a dona estrangeira


O meu verso foi à mata Brincar com o passarim Mas o céu tava um lixo Mandado por mandarim O verso saiu ceguinho E vôo desse bichinho Virou foi um querubim Nas 3 noites de escuro Vou plantar a umburana Não me calo nesse breu Tanjo toda a mucurana Vou beber doce mastruz Desfrutando sem ter luz Provocando a taturana Na calada noite preta Lobisomem vem tocar Se amiga com a Cuca Com Saci a requebrar Nessa noite pavorosa Não se ouve uma prosa Só um medo a beliscar.


Meu pezim de Juazeiro Tá no escuro esquecido Igualzinho a bananeira O pau d’arco carcomido Que fizeram com a mata Com a dança da cascata? O planeta está perdido! Meu sertão de um apagão Fez sumir a estrela Dalva Apagaram as três Marias O uni(verso) já não valsa! Apagou-se a verde mata Na queimada que desmata E agora quem nos salva? Um país que nem o meu Onde canta o passarinho, Onde brota o babaçu.... Muita uva para o vinho Como pode se entender Ver a fome só crescer, Ter na vida tanto espinho?


Eu cago pro presidente Tu caga em governador Ele joga a bosta em nós Nós tamo num cagador? A merda já tá fedendo E no Fundo tá metendo Matando o trabalhador. Vou tecendo sob o sol Meu folheto clarabóia Rejeitando a escuridão De quem vive sem a bóia Claro-escuro é barroco Mata morta vira é toco Porém triste ela abóia Clarabóia é minha musa No compasso, escuridão Atravessa os meus olhos Nas trevas, que solidão! Clarabóia meu protesto Eu repito, pois detesto Essa droga de apagão!


Brazil meu brasil cadê? Cadê onde estais pifou Quem foi que te apagou Quem foi que lhe atirou Na fossa e sem claridão Na brenha da escuridão Porquanto ele te rifou? Vou lamber a água doce Do meu sonho magistral Quando ver à meia noite Quando ver na matinal Nossa gente resistindo Todo o povo insistindo Unidos contr’esse mal. Meu poema lhe dou voz Meu silêncio dou poesia Faiscando muita chama Na fogueira que me guia Eu acendo um vaga-lume Para ver todo o seu lume, No apagão da burguesia FIM



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