ESTE FOLHETO É PARTE INTEGRANTE DO ACERVO DO BEHETÇOHO EM FORMATO DIGITAL, SUA UTILIZAÇÃO É LIMITADA. DIREITOS AUTORAIS PROTEGIDOS.
INFORMAÇÕES SOBRE O PROJETO O Acervo Eletrônico de Cordéis do Behetçoho é uma iniciativa que pretende dar consequências ao conceito de (com)partilhamento dos artefatos artísticos do universo da oralidade, com o qual Behetçoho e Netlli estão profundamente comprometidos.
INFORMAÇÕES SOBRE A EQUIPE A equipe de trabalho que promoveu este primeiro momento de preparação e disponibilização do Acervo foi coordenada por Bilar Gregório e Ruan Kelvin Santos, sob supervisão de Edson Martins.
COMPOSIÇÃO DA EQUIPE Isabelle S. Parente, Fernanda Lima, Poliana Leandro, Joserlândio Costa, Luís André Araújo, Ayanny P. Costa, Manoel Sebastião Filho, Darlan Andrade e Felipe Xenofonte
GERALDO MOREIRA DE LACERDA
NOSSA PRIORIDADE
Com a chegada da mudança Aqui de nosso Brasil Também do céu cor de anil, Alguém quiz entrar na dança. São Pedro se fez ministro Para acabar com o cinistro Efeito disolador, Da seca essa crueldade, Deu toda prioridade P’ra o Nordeste sofredor. Do governo toda equipe Teve a recomendação: Quero ali mais forte ação, De Maranhão a Sergipe. Os ministros descuidaram, Mas o velho a quem mandaram Cuidar da chuva atendeu. Sem delonga e sem cansasso, Com todo desembaraço Muita nuvem derreteu.
São Pedro nunca parava Noite e dia a trabalhar E mais água derramava Sem nada lhe atrapalhar. Prioridade ao Nordeste Terra de cabra da peste Chuva com muito truvão. Ninguém vai ficar sem água De mim ninguém vai ter magua Nem precisar de avião. São José sempre piedoso E chefe do meu Ceará, Disse: queira me amparar Com este gesto generoso. Lembre do meu pobre estado Que muito foi castigado, Cinco anos sem chuver. São Pedro disse: Eu lhe entendo E sem demora eu lhe atendo E boto p’ra derreter.
E as águas foram caindo Enchendo grotas e riachos, Arrasando rio abaixo E nas barreiras subindo. O povo todo sofrendo E o rolo d’água descendo Com uma força desmedida. E a força de natureza Nessa forte correnteza Tudo arrasou sem medida. E as águas do Jaguaribe Que já tem por tradição, Não respeita a plantação, Acaba e ninguém proibe. Carregou toda a lavoura Com a força desoladoura, Evacuando as cidades. Virou-se em grande oceano E o povo no desengano Sofrendo todas maldades.
Vendo sofrer tanta gente, São Raimundo e São Tomé Mandaram chamar Noé Que mais entende de enchente. O velho disse a São Pedro: Pode derramar sem mêdo Que a enchorrada está pouquinha Nordeste é prioridade, Ninguém vai sofrer maldade De uma fraca enchetezinha. E assim chuvendo mais forte E os pobres no desabrigo Diziam tudo é castigo. Ficamos ao léu da sorte. E essa grande correnteza Que arrasou toda a pobreza Não parava de aumentar. São Pedro lá derramando E N é recomendando Ainda falta completar.
O estrago da grande enchente Não há quem possa medir, Nem há quem possa acudir A aflição de tanta gente. Toda lavoura perdida, E essa enchente desmedida, Levando tudo em roldão. Os açudes se arrombando E os animais se afogando Sumindo na imensidão. No entender de muita gente Não passava de castigo. Eu também pensei comigo. Foi mandada a grande enchente Por quem mora mais em cima, P’ra fazer cumprir a cina Dessa nova geração, Que a Deus não tem mais temor E esqueceu de todo amor E é fez toda corrupção.
Não há quem possa acudir Me disse o velho Raimundo: São coisas do fim do mundo A terra vai se explodir. Padim CIÇO já dizia Que o mundo se conduzia Para o seu tempo final. E tudo que é coisa ruim Vai chegar marcando o fim Com sofrimento infernal.
FIM