Os martírios de antonieta

Page 1


ESTE FOLHETO É PARTE INTEGRANTE DO ACERVO DO BEHETÇOHO EM FORMATO DIGITAL, SUA UTILIZAÇÃO É LIMITADA. DIREITOS AUTORAIS PROTEGIDOS.


INFORMAÇÕES SOBRE O PROJETO O Acervo Eletrônico de Cordéis do Behetçoho é uma iniciativa que pretende dar consequências ao conceito de (com)partilhamento dos artefatos artísticos do universo da oralidade, com o qual Behetçoho e Netlli estão profundamente comprometidos.

INFORMAÇÕES SOBRE A EQUIPE A equipe de trabalho que promoveu este primeiro momento de preparação e disponibilização do Acervo foi coordenada por Bilar Gregório e Ruan Kelvin Santos, sob supervisão de Edson Martins.

COMPOSIÇÃO DA EQUIPE Isabelle S. Parente, Fernanda Lima, Poliana Leandro, Joserlândio Costa, Luís André Araújo, Ayanny P. Costa, Manoel Sebastião Filho, Darlan Andrade e Felipe Xenofonte


JOSÉ COSTA LEITE

OS MARTÍRIOS DE ANTONIETA OU A MENINA PERDIDA

RECIFE-PE




Peço ajoelhado nos pés Da Virgem Mãe de Concebida Nesta história dolorosa Que vou contar em seguida Os Martírio de Antonieta Ou a menina perdida. Em 1904 Houve seca no sertão Que depois de 77 Foi a de mais aflição Matando várias pessoas Em mais de uma região. Aquela seca maldita Todo Nordeste enlutou Onde a metade do povo Do sertão se acabou Foi grande a carnificina Aonde a seca passou.


Entre Souza e Cajazeiras O velho Pedro Morais Com sua esposa Jandira Vivia na santa paz Com três filhinhos pequenos Júlio, Antonieta e Braz. Mas é que a grande seca Fez uma devastação Acabou com toda lavoura E também com a criação Deixando o pobre do velho Morrendo a falta de pão. Primeiro faltou comidas E depois a água faltou Toda lavoura morreu E o gado fim levou A sede matava aos poucos E o dinheiro se acabou.


A fome apertava tanto Que o velho se maldizia Um chorava sem ter pão Outro de fome caía Júlio e Braz seus dois filhos Morreram ambos num dia. Antonieta, a menor Com 3 anos de idade Chorava sentindo fome Que causava piedade Jandira lhe amamentava Sem lhe matar a vontade. Jandira morta de fome Não tinha leite no seio Para a sua Antonieta Ficar de buchinho cheio Jandira se maldizia Pois o tempo estava feio.


O velho Pedro Morais Com a esposa combinou Pra sairem pelo mundo E logo os troços juntou Com o mutulão nas costas Com a esposa viajou. A pobre Jandira saiu Com a filhinha nos braços Coitada! Morrendo a fome Que muito mal dava os passos Na terra quente do sertão Lamentando os seus fracassos. O Sol era muito quente E a terra inda era mais Sempre procurando água Alí por vários canais Porém água não havia Que a seca era demais.


A pobre Jandira dizia: Sei que a fome nos consome Comia folhas de mato Que nem sabia do nome A pior guerra dom mundo Só é a guerra da fome. E Pedro Morais já sem forças Com fome se lastimava Comia casca de pau Pra ver se a fome passava Nem um rato ou um calangro Para comer não achava Antonieta chorava Junto de sua mãezinha Jandira lhe dava o peito Beijando sua filhinha Para lhe matar a fome Mas é que leite não tinha.


Com 10 légua de distância Jandira não pôde mais Debaixo de um juàzeiro Disse: Vou dormir em paz Deitou-se com sua filha E orou a Deus Pai dos pais. Chorava aconchegando Sua filhinha ao peito Pedindo pra Deus salvá-la Pensando em fazer efeito Mas não existe remédio Quando a coisa está sem jeito E Pedro disse: Eu vou ver Água pra gente tomar E desceu uma ladeira Dificil de penetrar Vendo o “verdão” lá em baixo Ele resolveu passar.


Levando o chapéu de couro Com o peito cheio de mágua Pra beber água e trazê-lo Para Jandira, com água Que a pobre estava caida Com os olhos razos dágua. Pedro Morais na descida Ouviu uma onça rosnar Se armou para matá-la Lutando para escapar Mas Pedro morto de fome Sentiu ela lhe pegar. Terminou Pedro morrendo Nas mãos da onça malvada E Jandira ficou caida No juàzeiro, coitada! Morrendo de fome e sede Com a filhinha abraçada.


Passou-se o resto do dia E Pedro não apareceu Com mais 2 dias depois A pobre Jandira morreu Debaixo do juàzeiro Cumprindo o destino seu. Antonieta ficou Dando gemido e ais Com três anos e poucos meses Por dentro dos matagais Sem pai sem mãe sem parentes Chorando de mais a mais Ela rezava uns “pesinhos” De uma forte oração De Nosso Senhor do Bonfim Na sua grande aflição Pedindo socorro a Deus E a padre Cicero Romão.


Portanto, caros leitores Vamos ouvir em seguida Todos os seus sofrimentos No seu acabar de vida Os Martírios de Antonieta Ou a Menina Perdida. Ela se recomendava Ao padre Cicero Romão Comendo folhas de mato Por sua alimentação Bebendo água de lama Dia sim e dia não Completando 4 anos Seu vestido se acabou Ela ficando despida Como bicho se criou Nua por dentro dos matos A mão de Deus lhe amparou


Um dia ela viu numa furna Uma onça meia sonsa Que tinha perdido os filhos E deitou-se toda esconsa Antonieta com fome Mamou nos peitos da onça Antonieta com medo Se aproximou com efeito E a onça como quem diz: ─ Pode mamar qu’eu aceito Ela mamou a vontade A onça mesmo eu jeito A onça gostava dela E com ela se abraçava Para ofender a menina Ninguém se aproximava A onça matava ratos E pra menina levava.


Uma noite ela sonhou Com o padre Cicero Romão Lhe dizendo: Antonieta O Santo Deus de Abraão Te salvará destas brenhas E dar-te-á salvação Eu me agrado de ti Porque te lembras de mim Tu rezas a oração De Nosso Senhor do Bonfim Que ele te salvará Deste viver tão ruim Escute bem os conselhos Do padre Cicero Romão Quando saires do mato Ensinas a oração Do Nosso Senhor do Bonfim Ao povo da região


Antonieta acordou-se Estava muito suada Parecendo ainda ouvir Aquela voz sublimada Mas só avistou a onça Pertinho dela, deitada Acontece que certo dia Um caçador foi caçar Alí onde Antonieta Vivia a perambular Pois era difícil alguém Caçar naquele lugar. A menina ouvindo os tiros Tratou de se esconder Mas o caçador viu ela E atraz pôs-se a correr Ele dizia: Por Deus Não queira me ofender.


Ele disse: Minha filha Eu pretendo lhe levar Para a minha residência E minha mulher lhe criar Se você anda perdida A seus pais vou lhe entregar. Estavam nessa conversa Quando a onça foi chegando O caçador quis matá-la A menina pediu chorando E seguiu levando a onça Como uma cabra, puxando. Cassimiro o caçador O pedido dela fez Seguiram assim todos três Terminou-se a sua dor A onça com muito amor Lhe beijava sem pantim E Antonieta, enfim Inda vive a recomendar Todos deverão rezar Esta oração do Bonfim. FIM



Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.