Prece pelos pombais de avoantes

Page 1


ESTE FOLHETO É PARTE INTEGRANTE DO ACERVO DO BEHETÇOHO EM FORMATO DIGITAL, SUA UTILIZAÇÃO É LIMITADA. DIREITOS AUTORAIS PROTEGIDOS.


INFORMAÇÕES SOBRE O PROJETO O Acervo Eletrônico de Cordéis do Behetçoho é uma iniciativa que pretende dar consequências ao conceito de (com)partilhamento dos artefatos artísticos do universo da oralidade, com o qual Behetçoho e Netlli estão profundamente comprometidos.

INFORMAÇÕES SOBRE A EQUIPE A equipe de trabalho que promoveu este primeiro momento de preparação e disponibilização do Acervo foi coordenada por Bilar Gregório e Ruan Kelvin Santos, sob supervisão de Edson Martins.

COMPOSIÇÃO DA EQUIPE Isabelle S. Parente, Fernanda Lima, Poliana Leandro, Joserlândio Costa, Luís André Araújo, Ayanny P. Costa, Manoel Sebastião Filho, Darlan Andrade e Felipe Xenofonte


WILLIAN BRITO

PRECE PELOS POMBAIS DE AVOANTES



Meu bom Deus não sei rezar Não deu fuga de aprender Mais queria prosear Um pouquim com vosmicê Também não tenho instrução Quero logo de antemão Avisar e prevenir Não vim cá fazer promessa Também na nossa conversa Pra mim nada eu vim pedir. Eu vim pedir proteção Pros pombal de avoante Que enfeitam meu sertão Quando dá de março em diante As pombinhas meu Senhor Vindo seja donde fôr Ocupa o mesmo lugar E vem cá mode crescer Como mandou vosmicê Produzir e aumentar.


Tem muito mal elemento Sem juízo, sem noção Que levanta o pensamento Contra a lei da criação. Tem muito cabra safado Que por causa duns trocados Pelo prazer de matar Vem de picos, Juazeiro De Araripe, Saboeiro Pra Aiuaba pá caçar. Vem gente do Piauí, De Pio IX e de Fronteiras. Vem gente do Cariri De Barbalha e de Porteiras. Vem gente de Pernambuco Cada qual com seu trabuco E com farta munição; E rola tanta cachaça Que acaba havendo desgraça Por artimanha do cão.


O senhor e a natureza Fizero a arribação Uma pomba sem defesa Que bota os ovos no chão E lhe dero por castigo Um punhato de inimigo Cada qua do mais tinhoso. Cobra, tiu, carcará Home, furão, quem será Deles o mais perigoso? Tem a raposa e o gato O quaxinim e o guará E outros bichos do mato Que eu num careço falar. Pro mode se defender O que é que pode fazer As pombas de arribação? Bate as asas e avoar E Senhor não quis lhe dar Outro mei de salvação.


As pombas vem pro sertão Só no tempo de invernada Quando o Senhor com a mão Faz a terra abençoada. Quando nós esquece as mágoas E as fontes ronca com as água Que faz cá uma beleza Quando o marmeleiro bota E nós sertanejo nota A festa da natureza. Fora da reprodução Pro mode matar a fome Quando a seca no sertão Tange os bichos e o verde some; Aí meus Deus inda vá. Mas o cabra se largar Do emprego, do roçado, Deixar os seus quifazer Pra vim matar pra vender Eu acho que seja errado.


Tenha clemença Senhor Dessa pobre criatura Vê se toca os caçadô Daí do céu, das artura. Abrande seus coração Finge essa perseguição Tão terrível e imorá Contra uma pomba indefesa Das mais pura com certeza Que o Senhor pode criar. Ajude os Home Senhor Que lutam sem condição Pá acabar co´s caçadô Que infestam meu sertão. Converta os pobre coitado Que abandonam seus roçado Mode sujar suas mão. Faça o sangue do inocente Purificar essa gente De seus crime, suas ação.


Faça esse povo entender Que tudo na criação Tem sua razão de ser Seu papel, sua função. Que a avoante e o agreste. A Caatinga do Nordeste Tudo é coisa do Senhor Que o Home não tem direito De dá fim de nenhum jeito Ao que ele não criou. Fico muito agradecido Do Senhor ter me escutado Seu trabai é mei crescido O Senhor muito ocupado. Não tenho merecimento Mas lhe peço atendimento Depressa ligeiramente. Os pombal meus Deus do céu Se ficar jogado ao léu Vão sofrer terrivelmente.

FIM



Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.