POR UM URBANISMO INQUIETO por Renato Cymbalista Professor do Departamento de História da Arquitetura e Estética do Projeto da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo O início do século 21 trouxe para a agenda do urbanismo uma grande quantidade de protagonistas que tensionaram o corpo da disciplina. São experiências baseadas em experimentar e performar a cidade, construindo espaços de experimentação. São intervenções de metragem pequena, construídas por coletivos e grupos ativistas. Produzem e oferecem espaços públicos e comuns, experimentais, radicais, em diversas vertentes, como mobiliário urbano, jardins, hortas comunitárias, festivais, ocupações culturais. Fazem parte de movimentos globais de ideias e são reconhecidos por diversos nomes, como coletivos urbanos, microurbanismos, urbanismos táticos, comuns urbanos. Como tudo o que é novo e desestabilizador, estas ações são objeto de crítica e desconfiança. Os questionamentos vêm de, pelo menos, dois lados: por um lado, as intervenções são apontadas como terceirização e precarização da atividade do urbanismo, desincumbindo o Estado de responsabilidades que seriam suas. Por outro, são vistas como ações “pioneiras” que, ao qualificar espaços públicos anteriormente degradados, criam condições para a gentrificação dos espaços privados. Estes questionamentos podem vir carregados de desqualificação geracional – “quando eu era jovem, também achava que podia mudar o mundo”. Muitas vezes, produzem insegurança na atuação dos coletivos que produzem os comuns urbanos: “será que sou mesmo um fantoche do mercado? Será que estou ajudando o Estado a terceirizar suas funções?”. O trabalho da Laura Sobral não passa por esse tipo de crise. Só pega emprestado o pensamento de outros quando eles fortalecem suas próprias ideias. Laura assume radicalmente que o urbanismo dos comuns do século 21 é uma ideia de mundo em seus próprios termos, que não apenas pensa novas cidades, mas as entrega de forma acabada – mesmo que seja em poucos metros quadrados e por pouco tempo. O trabalho vem crescendo e se sofisticando, sempre fiel à ideia de que um componente fundamental do direito à cidade é o direito de 8