Experimentus outubro/2017

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EXPERIMENTUS Edição 12 - Outubro/2017

Ramificações do amor Ramificações do amor As desventuras e aventuras de As As desventuras desventuras ee aventuras aventuras de de quem explora as facetas da quem explora as facetas da paixão paixão

Uma jornada de heróis Uma jornada de heróis Onde tudo é igual, porém diferente Onde Onde tudo tudo éé igual, igual, porém porém diferente diferente

O universo dos games O universo dos games Um panorama do Oeste Catarinense

Um Um panorama panorama do do Oeste Oeste Catarinense Catarinense


EXPERIMENTUS Edição 12 - Outubro/2017

EXPEDIENTE UNOCHAPECÓ Av. Senador Atílio Fontana, 591-E Bairro Efapi - Chapecó-SC (49) 3321-8000 www.unochapeco.edu.br Reitor Prof. Claudio Alcides Jacoski Vice-Reitora de Ensino, Pesquisa e Extensão Profª. Silvana Muraro Wildner Vice-Reitor de Planejamento e Desenvolvimento Prof. Márcio da Paixão Rodrigues Vice-Reitor de Administração Prof. José Alexandre de Toni Diretor da Área de Ciências Sociais Aplicadas Prof. Sady Mazzioni Coordenador do Curso de Jornalismo Prof. Vagner Dalbosco Professor Responsável Prof. Franscesco Flavio da Silva Disciplina Prática Laboratorial em Mídia Impressa Produção Quinto Período (2017-1/Matriz 1010) Redação Ana Paula Dornelles Andressa Pomagerski Bruna Brum Bruna Letícia Tomaz Gilmar Bortese Jordane Sartoretto Karina Echer Kelin Regina Wirth Luciana Fernanda Colares Luidy Lazzarotto Roncalio Luiz Felipe Giachini Maryna Dahmer Matheus Antonio Kraemer Rennan Teixeira Tuanny de Paula Túlio Bedin

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EDITORIAL A revista Experimentus chega a sua edição de número 12 reunindo reportagens produzidas pelo então 5º período de Jornalismo de 2017. Como tema central, os estudantes escolheram tratar de visões contemporâneas do cotidiano que entram em contraste com o passado recente, marcando o período de transformação de hábitos e da forma de pensar da sociedade. Nesta perspectiva, diversas pautas foram planejadas para se tornarem reportagens pelo esforço dos estudantes, sob orientação do professor da disciplina. Mais do que gerar ao final do semestre uma revista impressa como conclusão da disciplina, toda a prática buscou evidenciar os desafios do planejamento, produção e fechamento de um produto midiático. Foram desafios que provocaram discussões, debates e o inevitável envolvimento dos estudantes em todo o processo, promovendo aprendizado e repertório para estas jovens carreiras. Temos aqui uma edição que marca o percurso de desenvolvimento profissional dos estudantes, que ainda não se findou dentro do curso, e que nunca deverá sessar fora dele. Reconhecido deve ser o esforço de cada um que encarou os desafios de sua reportagem e da revista, como um todo. Que a experiência inspire, tanto o público como os estudantes, e que o jornalismo continue sendo esse processo constante de aprendizado e (auto)questionamento, tão importantes para quem consome como para quem o produz. Prof. Franscesco Flavio da Silva ACIN JORNALISMO Coordenação Ilka Goldschmidt Projeto gráfico Escritório de Design Vanessa Marquezzan Finalização Alexsandro Stumpf Ana Paula Bourscheid (Opiniões expressas em textos assinados não representam a posição do curso ou da universidade)


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Do papel para a pele

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O lado de cá

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Ramificações do amor

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O universo dos games

da Uma jorna de heróis Fã: explosão de sentimentos

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A deficiência é física, a essência é motora! 16

Conexão

Corpora l

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Crédito: Tuanny de Paula

DO PAPEL PARA A PELE

Expressar atitudes e gostos ganham cada vez mais voz na sociedade. Por Ana Paula Dornelles e Tuanny de Paula São mulheres sensuais, flores, animais, desenhos geométricos, desenhos surreais e tantos outros, marcados na pele para uma vida toda. Caminhar pela rua e ver alguém tatuado é cada vez mais comum, em uma sociedade que segundo Bauman, vive uma modernidade líquida, uma constante transformação. Fixada na cultura de cada povo, várias expressões de arte partiram para a pele e tornaram-se tatuagens. Muitos encontram nela a forma de se expressar, de mostrar a sua identidade, assumindo papéis de tatuadores e tatuados. Atualmente é possível vencer o olhar pré-definido de que a tatuagem pertence apenas às más índoles ou mesmo a grupos fechados, pois ela também se tornou acessível a qualquer classe social. Com as transformações da sociedade e o constante processo de aprendizado e a quebra de tabus, podemos perceber uma constante evolução do perfil de pessoas com tatuagens. De grupos marginais, rebeldes e homens, a tatuagem passou a marcar a pele da comunidade em geral. Nas ruas de Chapecó é cada vez mais comum peles desenhadas, com variados tipos de artes. Com diversos estúdios de tatuagem espalhados na cidade, é possível avaliar com atenção o trabalho dos tatuadores e escolher o que se pretende tatuar. Roxilene Frankeinstein, nome que adotou para si, 24 anos, tatua há dois anos e meio no estúdio Brujah. Formada em design de moda, fazia modelagens de uniformes quando decidiu montar uma loja de roupas com uma amiga. Lá conheceu Feca Lanfredi, tatuadora que se propôs a ensinar Roxilene a tatuar. Atualmente, Rô, como é conhecida pelos clientes e amigos, nota que a procura por suas tatuagens é maior entre mulheres e adolescentes, e acredita que muitas dessas procuras são pelo traço desenvolvido por ela. “Tatuagem é muito 4

massa, principalmente quando me falam pra eu fazer o que quiser”, comenta. A sensação e o motivo de ter a arte estampada no corpo, é diferente de pessoa para pessoa. O desenho eternizado pode trazer diferentes significados. Para Ilka Goldschmidt o objetivo era comemorar seu 45° aniversário. Em um dia comum, ela foi até um estúdio de tatuagem e escolheu o desenho na hora. Saiu de lá com pássaros tatuados no braço e uma mandala nas costas. Professora universitária comenta nunca ter sofrido preconceito, mas já notou olhares por ser uma pessoa mais velha. “Ninguém levava a sério quando eu dizia que queria fazer uma tatuagem, depois viram que eu não estava brincando”, coloca. O caso de Lucian Dalçoquio, 26, conhecido pelos amigos como Cupin, foi diferente. Ele fez sua primeira tatuagem aos 18 anos, com seu primeiro salário. A primeira tatuagem representa a sociedade alternativa de Raul Seixas. Para ele, pintar o corpo é mais do que uma arte, “é como se fosse um desabafo, todas elas significam alguma coisa e as que não significam, foram presentes de amigos tatuadores”. Em relação ao preconceito, Lucian comenta que até pela polícia já foi seguido. “Eu acho um saco esse lance”, desabafa. De acordo com dados publicados pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), em 2012 a taxa média de crescimento de estúdios de tatuagem e piercing no país foi de 413%. Vivendo a realidade local, Joe Zairo, 33, tatuador há 13 anos, diz que já no início de seu estúdio existia uma grande procura por seu trabalho, mas hoje por conta de seu reconhecimento na cidade a procura aumentou. “Não sei falar pelos outros, mas o meu público cresceu”, co-


branças do que ela já foi. “As pessoas sempre falam ‘meu Deus, imagina você velha, toda caída e cheia de tatuagens’, e eu respondo que quando eu for velha, quem não tiver tatuagem nenhuma é que vai ter que se explicar pra sociedade”, conclui.

Tatuagem no ambiente de trabalho

Loila Marisa Schawrz tem 43 anos e trabalha com educação de jovens infratores em Chapecó. Recentemente tatuou uma parte do braço, representando o seu amor por gatos, e conta que pretende tatuar outros desenhos. Na hora de ir para o trabalho procura sempre usar blusas com a manga mais comprida para esconder a tatuagem, afirmando serem regras do ambiente. Por outro lado, Pablo Forlan Rocha Maia, 35 anos, proprietário de uma escola de idiomas, afirma que independente de ter um desenho em qualquer parte do corpo, o que define a pessoa é a atitude, o que faz e a forma como age. Sobre o motivo de suas tatuagens, localizadas nos ombros, fala que “elas só reafirmam o que eu penso de mim mesmo, como se fosse um lembrete de quem sou”.

História Resumida: Tatuagem Crédito: Tuanny de Paula

Luciano Dalçoquio, tatuado desde os 18 anos

Crédito: Freepik

loca. Para ele a tatuagem não é uma arte, e sim uma profissão. “Para mim é uma profissão normal, vou lá fazer o que me mandam e pronto. Tô aqui pra ganhar dinheiro”. Diferente de muitos tatuadores, Zairo optou por não utilizar pinturas em seu corpo e pretende seguir essa linha. “Não precisa ser todo tatuado pra chamar cliente”, argumenta. Já Rafael Alves, 24, proprietário há dois anos do estúdio de tatuagem Puro Sangue em Chapecó, pensa diferente, para ele a tatuagem é uma filosofia de vida. Com pinturas por todo o corpo, Rafael defende que precisa conhecer o cliente para indicar a melhor técnica e desenho para posteriormente não gerar arrependimento. “Quando o cliente vem me pedir uma tatuagem, converso muito com ele antes, pra entender exatamente o que ele quer e depois sugerir algo que tenha realmente haver com ele”. Sobre o preconceito em relação a sua aparência, comenta que não presta atenção nisso. “Se as pessoas ficam olhando não precisa necessariamente ser com preconceito, muitas vezes pode ser por admiração”, acrescenta. Bruna Natali de Castro Keschner, 21, tem quatro tatuagens e conta que pretende fazer mais. Um sentimento de marcar o corpo com tinta cresceu com ela, e mesmo antes de completar os 18 anos fez a sua primeira. Simbolizando o seu amor por livros o símbolo das relíquias da morte, da série de livros Harry Potter, está gravado em suas costas. Na sua opinião acredita que a tatuagem seja a forma mais permanente de dizer o que a pessoa gosta, e talvez daqui a dez anos ela não goste mais daquilo, mas o corpo vai ser um álbum de lem-

A prática de macar o corpo com desenhos remonta cinco mil anos, inseridas na cultura egípcia. Traços marcados no corpo da múmia Otzi, descoberta em 1991, indicam que esta viveu há 5.300 anos, supondo-se que seja o primeiro corpo tatuado na história. O caso da múmia corresponde, segundo estudos, a uma busca de cura terapêutica inserida na cultura. Em outras culturas, através dos anos, é possível perceber o uso de tatuagens como meio cultural, como é o caso do povo nativo da ilha Bornéu, registrado por Charles Hose. O costume relatado conta que homens que tivessem obtido a cabeça de um inimigo em algum confronto teriam a permissão para tatuar as costas e os dedos das mãos. Na década de 1950 e 1960, a tatuagem passou a ser usada por gangues e movimentos contraculturais, como os hippies. 5


Crédito: Freepik

O LADO DE CÁ

Intercâmbio! Experiência incrível, mas e quem fica? Por Luidy Lazzarotto Roncalio e Matheus Antonio Kraemer

Crédito: Freepik

No Brasil, em 2016, cerca de 210 mil pessoas fizeOs mais liberais ram intercâmbio nos mais variados países através de Para Dilmar e Angelina Rizzi, a primeira coisa que agências especializadas ou pela própria instituição de eles sentiram foi o medo, porque quando a sua filha ensino. Inglaterra, Austrália, Estados Unidos e Portu- Thauane Rizzi resolveu realizar o intercâmbio foi na gal são os lugares mais procurados pelos brasileiros em época que aconteceu o acidente com o vôo da Chaperazão da língua portuguesa e inglesa, de acordo com os coense. O destino da jovem era a Colômbia. “Poderia dados do site Uol. acontecer com ela também”, comenta Angelina. EntreEntre os vários motivos que levam uma pessoa a pro- tanto, por serem pais liberais e apoiadores se espelham curar o intercâmbio estão a busca de aperfeiçoamento no exemplo do primeiro filho, Roger Rizzi, que já molinguístico e cultural adquiridos através do contato e rou nos Estados Unidos, e agora está no Brasil planevivência com outras pessoas e jando seu retorno. seus costumes. Outro aspecto Thauane Rizzi desembarcou procurado é a capacitação pronum país atípico da sua realifissional e troca de experiências dade, fator que fortaleceu para “Ela usou desinfetante de proporcionada pela interação o interesse de conhecimento, banheiro nas roupas por não com o meio de trabalho. buscar coisas novas e como Contudo, realizar o intercâmdiz a mãe Angelina, esquecer saber… Ela colocava os róbio não é algo simples, existem os pais.“Os primeiros dias que tulos e tirava fotos, mas eu despesas com alimentação, transela foi, ela nem falava conosco, respondia: Minha filha não portes, moradia e geralmente começou a me dar ciúmes. Era sei Castelhano”. quem se preocupa com tudo isso muita coisa para ela se habituar são os pais. Os pais? Isso mesno começo, ela não dava retorAngelina Rizzi mo! Alguém já falou sobre eles? no, era tudo novidade. Nós ela Segundo o psicólogo Tiago conhecia, ela queria ver pessoas Luiz Pezzini, inúmeros sentinovas”. Questionados sobre almentos são despertados nos pais ou responsáveis do gum momento marcante durante este período de interintercambista. A proteção com o filho é a primeira câmbio os Rizzi comentam que tiveram que fazer um emoção que é despertada, principalmente nos pais su- vídeo ensinando a filha a lavar roupa. per-protetores que se preocupam e tendem a participar Marcante também para os pais de Thauane foi quando desenvolvimento do filho. Outro sentimento que do ela deixou mofar roupas e as teve de jogar fora. O afeta a grande maioria dos pais está ligado à insegu- que para Angelina é algo de vergonha, porque parece rança com o bem estar dos filhos e o convívio com a que não educou a filha, brinca a mãe. família substituta. Receosa quando a filha comentou sobre o inter6


“para minha cabeça, para meu entendimento não era preciso ir, ficar tanto tempo longe de casa”. Um dos momentos marcantes para os pais de Bruna foi quando a levaram até o aeroporto. “Eu não quis levar ela no aeroporto, eu sabia que ia chorar, que eu ia tentar agarrar para não ir, as pessoas podem dizer ‘é só uma viagem’, mas parece que não passa”, comenta Inôemia. “Quando minha filha voltou para casa pensei, vou ficar aqui, que foi aqui que ela me deixou, foi aqui que ela vai me encontrar. Ela vai me encontrar aqui aonde ela me deixou. E graças a Deus ela voltou”, afirma dona Inôemia. Sempre quando as pessoas viajam, sempre voltam diferentes, mudadas, geralmente para melhor, explica o psicólogo Tiago Pezzini. A respeito da Bruna, dona Inoêmia afirma: “ela voltou de lá mais pacienciosa comigo. Nossa relação melhorou. Não sei se ela sentiu minha falta, se foi normal. Porque lá ela se envolvia Os Super-Protetores com outras pessoas, eu aqui não via De acordo com especialistas, os ninguém”. Indagados se pudessem pais tentam proteger os filhos, para ecidid definir a filha em uma única palavra, que tenham uma vida mais fácil e é a h a fil a, com convicção, a palavra carregada melhor do que a que tiveram. Em “Minh alia, ponder v a r de amor “Tudo” é pronunciada por muitos casos gostariam que os filhos a a i l r e c da, para s á Inôemia. vivessem uma vida baseada na perr t a corre s”. e õ Os pais amam, em momentos de feição. Uma das consequências de ç i d con inot b l a sucesso, alegria, dor e sempre ofereos filhos crescerem com pais superB lice cem consolo quando é preciso, mas protetores implica diretamente na inCarme os filhos precisam aprender, andar dependência do mesmo, no qual não com suas próprias pernas, trabalhar, se sente confiante e seguro suficiente para que consigam enfrentar os depara tomar atitudes importantes em safios do mundo quando os pais não sua vida. Outro ponto negativo em estiverem mais por perto. Mas como ter pais extremamente protetores interfere no modo de enfrentar os problemas do dia a dia, a saudade é um sentimento nosso, brasileiro, então porsejam eles derivados do trabalho ou simplesmente pes- que não sentir? É um sentimento difícil de colocar em soais. Ainda dificulta na comunicação e interação dos palavras, envolve tanta coisa. Saudade é lembrança, é filhos com a sociedade devido a falta de preparo e inex- recordação, é falta. Pode vir acompanhada de tristeza, mas não precisa. Sentir saudade nem sempre é ruim. periência que possui no convívio com outras pessoas. Às vezes pais superprotetores não querem que os filhos realizem intercâmbios. É o caso de Bruna Brum, Aqui vai algumas recomendações da filha de Roberto Brum e Inôemia de Jesus Brum, que equipe de reportagem para os pais: viajou recentemente para Colômbia. Inôemia relata sua experiência. “Sentimento de perda, porque você sente • Tomar chá de camomila nos primeiros dias que vai ficar longe da pessoa que você gosta. Aqueles para acalmar os nervos. dias para mim foi como se não tivesse fim”. • Kit conecção: celular com bateria 100% carreQuestionada sobre como foi lidar com a saudade gado- 24horas por dia, wifi liberado ou dados da filha longe de casa Inôemia afirma: “a saudade era móveis. tanta que me sentia desanimada. Eu não tinha ânimo. • Aproveitar para limpar o quarto do filho e desEu era fraca. Queríamos pagar para ela voltar. Não imcobrir seus segredos. portava que tinha que pagar 3 ou 4 mil, para ela voltar • Convidar os outros pais para uma “festinha dos antes. Eu me preocupava se ela tinha comido, tomado que não foram viajar”. banho, colocado uma meia, se os pézinhos dela esta• Quando seu filho voltar de viagem peça para vam quentes, se ela estava respirando bem. São coiele te levar café da manhã na cama. sas que as mães se preocupam.” E ainda acrescentou: Crédito: Freepik

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câmbio, Carmelice Balbinot não se absteve de apoiar. “A Juliana iria para um país desconhecido, mas essa questão ficou em segundo plano porque a experiência é muito maior. Faz parte da emancipação”. Porém, imprevistos podem acontecer. “Ela perdeu o vôo de volta. Me deixou com medo. Fiquei muito nervosa. Aquele dia foi um dia bem intenso”. Para amenizar um pouco a saudade, a tecnologia pode ser uma aliada. A comunicação digital aproxima as pessoas. Um bom exemplo disso é o caso de Juliana Balbinot, que foi assaltada no Peru e ficou sem celular, porém a comunicação com a mãe foi feita pela rede social Facebook. O intercâmbio é algo único e que serve para o viajante aprender a se virar sozinho, amadurecer, e aumentar a bagagem de vida, ou apenas viajar. Entretanto os pais que ficam em casa, muitas vezes sozinhos e isolados, sentem que o coração aperta. Bate aquela saudade, por isso é importante os pais superarem eventuais sentimentos de superproteção e deixar que os filhos vão gradativamente tomando decisões sozinhos e não fazerem tudo por eles, privando-os de qualquer sofrimento ou frustração.

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As desventuras e aventuras de quem explora as facetas da paixão

Por Bruna Brum e Maryna Dahmer O que é amar? Segundo o dicionário, o amor é sentir uma forte afeição por outra pessoa, entre consanguíneos ou de relações sexuais, mas e se envolvesse mais de um indivíduo? Esta é uma questão difícil de ser entendida, mas começou a ser questionada por jovens que buscam novas formas de se relacionar com seus parceiros. No Brasil estamos acostumados com a relação monogâmica, a dois. Um dos motivos para que outros tipos de relações sofram preconceito e até desaprovação da sociedade. Diferente dos relacionamentos monogâmicos, o poliamor acredita que, além de sentir atração e desejo sexual, é possível amar e viver um relacionamento com mais de uma pessoa. Já o relacionamento aberto, é contra a repressão de desejos e permite que os cônjuges tenham experiências sexuais com outro parceiro.

Novos formatos

Algumas pessoas já começaram a experimentar relacionamentos abertos, como é o caso de A*, 18 anos, natural de Planalto Alegre - SC, que admite uma relutância inicial, mas depois de muitas conversas se permitiu experimentar esta forma de se relacionar e não se arrepende da escolha que fez: “Eu sempre achei que fosse egoísmo, você ter uma pessoa, mas ficar com outras e aquela pessoa estar sempre ali para você, mas eu conversei com L.* (que estou em um relacionamento aberto) e ele me mostrou que é uma coisa muito legal. É bem libertador”. Segundo ela, a principal diferença entre seus antigos relacionamentos fechados e o atual é, justamente, o ciúme, “o relacionamento monogâmico tem essa coisa de ciúme, às vezes bastante excessivo e o relacionamento aberto não tem isso, você pode ficar bravo, mas não é um ciúme exagerado”. Sair da rotina Com o passar do tempo um relacionamento pode cair na rotina e buscar uma terceira pessoa para manter 8

relações sexuais pode ser uma válvula para esquentar novamente a relação. Para o ex-casal F e K *, de Chapecó, foi assim. A fim de evitar um possível término, K*, que não estava mais feliz, teve a ideia de incluir mais uma pessoa em suas relações sexuais. Uma tentativa de salvar o namoro, aceita por F, que não funcionou. Segundo a fonte, a confiança entre eles aumentou, pois era uma parceria, quando saíam eram os três juntos. Houveram dois parceiros sexuais convidados pelo casal, o que ocorreu, justamente, pela falta de amor, acarretando no término do relacionamento, e no distanciamento de um de seus amigos, que participou algumas vezes da relação. Todavia, uma relação assim é algo complexo, principalmente pelo medo de julgamentos da sociedade. “É difícil tu saber se vai ter confiança, foi tudo na empolgação, e depois surgiu o medo de que pudesse vazar. A sociedade tem um olhar de desaprovação, ela aceita se for velado, mas se for explícito, não. Existem muitos casos de traição que todo mundo sabe e não se comenta, mas quando admitem uma terceira pessoa na relação, é um absurdo”. Destaca F.

Aceitação

O poliamor e os relacionamentos abertos, são questões que necessitam, ainda, de uma grande discussão, mas o mais importante é descobrir suas crenças, quais valores deseja seguir e entender que cada um tem o direito de fazer sua própria escolha.

Cinema

O cinema, assim como outros meios, é um elemento de impacto na vida das pessoas. Para Dafne Pedroso, pesquisadora em cinema e coordenadora do curso de Produção Audiovisual da Unochapecó, a sétima arte pode ser uma influência, mas também é uma representação. “O cinema, entrando como mais uma forma de entre-

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RAMIFICAÇÕES DO AMOR


Religião

Outro grande divisor de opiniões na questão do poliamor é a religião. Algumas em específico, condenam a prática, como exemplo, a católica e a evangélica, que predominam no Brasil, porém, o que deve ser realmente importante é a interpretação da bíblia, como revela o Pastor Álvaro Maleski, da Igreja Batista Independente de Chapecó. “Não é a questão da religião em si. Se olharmos pela questão da religião cada uma tem a sua opinião a respeito destas questões. Há religiões politeístas, que aceitam a questão de poligamia, mas baseado na bíblia, nos evangelhos, fala a respeito de um homem e uma mulher, o homem ser fiel a mulher e a mulher ser fiel ao homem”.

Cultura

Crédito: Globo

O poliamor está vindo à tona junto com as novas configurações sociais. Como diz Roberto Deitos, psicólogo, antropólogo e professor da Unochapecó, a poligamia é algo condenado há muito tempo em algumas sociedades, tudo isso levando em consideração a expressão cultural, religiosa e jurídica. Por isso, acabamos vendo essa prática em movimentos de pessoas mais novas, em agnósticos e em tribos sociais. “Socialmente podemos viver um relacionamento com mais pessoas, compartilhar amores, mas perante a lei, somos obrigados a viver em monogamia. A questão não é amar uma pessoa só, mas sim o capitalismo. Na

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certidão de casamento não se fala de guarda de filhos, mas a questão de bens é considerada fundamental”. Todavia, para o psicólogo, amar duas pessoas ao mesmo tempo é algo complexo, que depende muito da maturidade do indivíduo. “Uma pessoa precisa de muita firmeza e estar muito qualificada para dizer que ama duas pessoas da mesma forma ao mesmo tempo. O sentimento do amor é o mesmo, mas a forma da relação diferencia-se e isso pode se tornar um problema, para que não se desenvolva ciúmes, que é algo característico do ser humano”, afirma Deitos.

Dicas de filmes sobre poliamor:

• Os três (Nacional, 2011): três amigos inseparáveis moram juntos e acabam se envolvendo em um reality show, como a única forma de permanecerem unidos; • Castillos de Carton (Espanha, 2009): Jaime e Marcos se apaixonam por Maria José, e para não disputar a moça, decidem, junto com ela, ter uma relação poliamorosa; • Sexo dos anjos (Espanha, Brasil, 2012): Carla e Bruno vivem um relacionamento monogâmico, mas Bruno acaba conhecendo Rai e se apaixonando. No primeiro momento Carla se sente traída, mas com o tempo, também desenvolve uma paixão. * As letras não correspondem ao nome das fontes que desejaram se manter anonimas.

“A foi umal i n e ” série d Globo da por M (2009/2011), ca tratava a auro Wilson, riaFlor), qu história de Ali que repoliamo e vivia um relac ne (Maria chling) roso com Pedro ionamento ( Durante e Otto (BernardoPedro Nesclaros osos episódios vã Marinho). o s opiniõesentimentos do tr ficando io e as da socie dade.

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tenimento, com certeza vai nos propor modos de vida, ideais, inspirações. Isso pode nos fazer seguir esses padrões, ou questionar e nos libertar deles. Representação e influências são coisas diferentes, tudo que está no cinema são referências do cotidiano, mas a ideia de colocar em moldes, é algo muito duro, o cinema pode aparecer repetindo padrões ou quebrando eles”. Segundo a pesquisadora, relacionamentos abertos e poliamorosos podem possuir uma representação menor, “culturalmente não é considerado uma forma permitida, correta e moral de relacionamento. Então, se a sociedade não fala sobre isso, o cinema, que é uma expressão da nossa cultura, também não fala”.

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Crédito: Dengame

O UNIVERSO DOS GAMES

Um panorama do oeste catarinense Por Kelin Regina Wirth e Túlio Bedin

Crédito: Kelin Regina Wirth

Quem nunca jogou ou conhece alguém que joga criatividade, estes produtos que atualmente fazem suvideo-game? Um irmão, um amigo, afinal, os games cesso no mercado, ganharam força pela sua inovação. estão por toda a parte. Mas você já parou para pensar, como este mercado funciona? Até onde esta indústria Na região que se tornou tão popular chegou? Santa Catarina, em 2015, estava em quarto lugar no Segundo um estudo publicado pelo instituto nova ranking de Estados produtores de games. Atualmente iorquino, SuperData, o mercado de games movimen- são mais de 20 empresas nesse segmento, com sede em tou US$ 99.6 bilhões em 2016, 8,5% ao ano, faturando cidades como Florianópolis e Joinville, que movimenmais que o cinema e a música somados. Considerada tam até R$16 milhões por ano, de acordo com o Banco uma das maiores do mundo, a indústria dos games Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social. A existe para atender a demanda de diferentes públicos região Oeste de Santa Catarina, infelizmente, ainda é e estilos, desde games de celular (os famosos apps) até muito resistente a essa área. computadores e consoles. Para o professor do curso de Tecnologia em Jogos O Brasil é um grande consumidor de jogos eletrôni- Digitais da Universidade Comunitária da Região de cos. Esse mercado movimenta cerca de R$1,3 bilhões Chapecó (Unochapecó), Hilário Junior dos Santos, a de reais por ano e ocupa a 13ª posição entre os países consumidores de jogos do mundo, sendo o maior da américa latina, segundo a Agência de Investigação e Pesquisa Newzoo. Mas o que nem todo mundo sabe, é que somos um fraco produtor. A grande maioria dos jogos consumidos nacionalmente são de fora do país, um dos fatores que contribuem para altos preços de alguns produtos praticados no Brasil, principalmente para os lançamentos. Mas apesar do mercado de produção de jogos no Brasil caminhar em passos lentos, ele vem crescendo. E a melhor forma de um game crescer sem muito investimento é apostando na diversidade. E é exatamente nisso que são baseados os jogos independentes, ou indie. Os conteúdos indie são nada mais que um jogo produzido por um pequeno núJonas Milan e Eduardo Koller, desenvolvedores do Dengame mero de pessoas. Conhecidos por sua 10


Crédito: Dengame

Crédito: Kelin Regina Wirth

escassez de mercado na região é cultural, “A região tem limitações culturais, o jovem quando vai escolher uma carreira, pesa muito a opinião dos pais, principalmente pela questão financeira. Quando eu fui coordenador do curso de Jogos Digitais, cansei de ouvir: ‘o que vou fazer? onde trabalhar? e quanto vou ganhar?’” Apesar disso, já existem três jogos desenvolvidos aqui no Oeste que estão disponíveis na loja de aplicativos para Android do Google, a playstore. Um deles foi lançado em março deste ano pelos acadêmicos do curso de Design de Jogos da Unochapecó. Denominado “Dengame”, ele foi um dos primeiros produzidos na região Oeste Catarinense a ser disponibilizado para uso. A proposta foi a criação de jogos que pudessem ser relevantes para a sociedade, O jogo conta com uma interface simples e de fácil manuseio como projeto final no curso de Design de Jogos, criando agências de produção de games Os jogos indie, assim como o Dengame, são uma digitais fictícias. Como o próprio nome sugere, o objetivo é acabar com os focos da dengue. O programador das grandes expectativas da região, com grande potendo Dengame e acadêmico do curso, Jonas Francisco cial de crescimento e custo relativamente baixo. O que Milan, comenta que “após a morte do nosso profes- se pode esperar agora, é que mais produtores indepensor de Empreendedorismo, Alisson Klam, causada por dentes invistam nesse mercado que está cada vez mais dengue, escolhemos este tema. Eram três grupos dife- promissor. Independente de qualquer fator financeiro, o que rerentes na turma, aí saíram três jogos”. Por enquanto, o Dengame ainda não inicou o pro- almente chama a atenção do público em um game, é cesso de divulgação, e por conta disso, ainda não gera o seu visual; segundo Hilário. Acredita-se tanto nisso lucro para os produtores. Para iniciar o processo de que o próprio curso de design de jogos da cidade tem o inserção de publicidade dentro do jogo, é necessário seu principal foco no visual de games. É acreditando nessa idéia que os produtores de gaque ele chega a mil downloads. Apesar de ainda não ter sido divulgado, o programador Jonas Milan comenta mes ganham força. Sem a necessidade de ter um granque o jogo já contabiliza mais de 50 downloads e todas de conhecimento na área de programação, levando em as avaliações realizadas na PlayStore receberam nota consideração que já existe no setor tecnológico sites máxima. Além do Dengame, os idealizadores já têm e aplicativos que facilitam a utilização da linguagem outros dois jogos em vista para produzir, um deles é binária da programação, tornando muito mais fácil e uma espécie de história em quadrinhos animada, em acessível a criação de um jogo, já que esta área é de parceria com alguns alunos do curso de Design Visu- difícil acesso. Tendo um conhecimento geral de ferraal, da mesma universidade, e o outro é um jogo estilo mentas gráficos, a mente aberta e muita criatividade, runner, onde o personagem permanece em movimento não há limites. o tempo todo, tentando coletar moedas e outros itens. Para quem quiser experimentar o “Dengame”, pode usar o QRCode disponibilizado ao lado. A interface do game é simples e o objetivo é exterminar o maior número de possíveis focos de dengue para obter pontos. Para isso, o jogador tem um tempo predefinido, e vai arrecadando mais pontos durante o processo. O jogo também memoriza os recordes pessoais de itens coletados, além de contar com três cenários de estações diferentes, mostrando que apesar de os focos aumentarem no verão, podem existir em qualquer estação do ano. 11


Onde tudo é igual, porém diferente

Por Andressa Pomagerski e Rennan Teixeira Pense em seu super herói favorito… Pensou? Ago- elas surgem e de que maneira acontecem. Quando ele ra, busque lembrar da história dele. Provavelmente ele estuda isso, percebe que o mito é basicamente o mesvivia uma vida comum dentro da sua realidade, até que mo, ele só muda o nome e o endereço.” algo aconteceu e o tirou dessa tranquilidade. Depois de Já o professor do curso de Produção Audivisual, Ropassar por muitas provações, demorar a aceitar o que drigo Oliveira, analisa este modelo de narrativa como estava acontecendo com ele, se frustrar, sofrer, passar uma receita para se contar histórias, que não deve ser por altos e baixos, tudo acabou bem, não é? Agora pen- encarada como repetição, já que são muitas as variáse em um outro personagem de algum filme ou história veis em torno disso, muitas maneiras diferentes de se que você goste, uma comécontar uma história. Segundo dia romântica, por exemplo. ele, “o bom de existir esse esProvavelmente muitas coitudo, essa percepção, é entensas dessas aconteceram com der como a Jornada do Herói esse personagem. Coincidêne a desconstruir”. O herói de Campbell é um persona- funciona cia? Não! Isto tem um outro Essa “receita” se divide, gem que vai realizar algo, mas não neces- normalmente, em 12 etapas, nome: Jornada do Herói. Essa forma de contar his- sariamente precisa ter um super poder. Se mas apenas algumas serão tórias foi o resultado de um relaciona mais a um personagem que tem esmiuçadas aqui. A primeira grande estudo desenvolvido etapa é caracterizada como um protagonismo em uma história e que por Joseph Campbell e re“Mundo Comum”, quando o velado ao mundo em 1949. realiza algo. Que vai do ponto ‘A’ ao ponto herói está em sua realidade, Analisando diversas histó- ‘B’, e esses pontos não são necessariamente vivendo sua vida cotidiana, rias desde os primórdios da geográficos, pode ser uma jornada de auto- com seus medos e angústias, humanidade, ele percebeu igual a uma pessoa normal. conhecimento, de evolução. a existência de fatos que se Outro momento é nomeado Rodrigo de Oliveira repetiam em determinados como “Recusa ao Chamado”, pontos e os juntou em uma que acontece depois que o perobra intitulada como “The sonagem é convidado a sair de Hero with a Thousand Faces” sua vida normal, mas nega sua ou “O Herói de Mil Faces”. missão. Como Bilbo o bolseiDe acordo com o professor do curso de Produção ro, personagem do livro O Hobbit, de J. R. R. Tolkien, Audiovisual da Unochapecó, Roberto Panarotto, Jo- ao afirmar que sua espécie não era de se aventurar, que seph Campbell não estudava a narrativa, ele estudava agradecia o convite, mas preferia a segurança de sua a construção de mitos, de histórias que faziam grande casa. Uma história não faria sentido acabando assim, sucesso entre as pessoas. “Campbell passa a estudar a com uma negativa à aventura. lógica das mitologias, onde elas nascem, porque que Para resolver situações como essa e dar todo apoio 12

Crédito: Andressa Pomagerski

UMA JORNADA DE HERÓIS


ria, há o “Retorno com o Elixir”. De volta a sua realidade, é hora de usar tudo que aprendeu em sua jornada para transformar o seu mundo. É claro que nem todas as narrativas usam todos os passos e na mesma ordem, mas esse estudo funciona como uma regra geral, um modelo de se construir histórias que tem grandes chances de agradar o público em uma escala comercial.

Crédito: Thayná Battisti

que o personagem precisar, Campbell categorizou um momento importante neste ponto da jornada, o “Encontro com o Mentor”. Ao falar com o professor do curso de Produção Audiovisual da Unochapecó, Hilario Junior dos Santos, ele revela que um dos maiores medos do público durante a Jornada do Herói é a ideia de que o mentor precise ser sacrificado. “Parte de qualificar o herói para construir toda a sua performance consiste em você derrubar o mentor. A sua morte dá uma certa carga emocional e uma impulsionada na história, fazendo as pessoas pensarem em como o personagem vai chegar ao final sozinho.” E, de alguma forma, o mentor faz o herói passar pela “Travessia do primeiro limiar”, quando ele aceita o seu chamado, embarcando em sua aventura. Jornadas podem ser tempestuosas, e a desse herói segue por esse caminho de dificuldades. As coisas estão longe de ficar bem, uma “Provação” o aguarda, um perigo mortal, daqueles de causar medo em qualquer um. Já imaginou, o personagem principal morrer agora, ou a história toda se desfazer em uma escolha errada? Mas calma, ainda não é hora dessa notícia ruim. Mar calmo nunca fez bom marinheiro. O personagem principal supera e aprende com as dificuldades. São e salvo, depois de alcançar seu objetivo e mexer com o emocional de todos que acompanhavam a histó-

E qual a relação com a minha vida?

Crédito: Freepik

Se a grande maioria das narrativas seguem essa mesma receita, por que lotamos os cinemas na estreia de um filme, por exemplo? Por que, mesmo sabendo que geralmente tudo vai acabar bem, sofremos com os personagens? Esse não é um mistério muito grande. De acordo com o professor Rodrigo, é quase uma necessidade humana ver essas histórias, se divertir, ter coisas mágicas, mesmo sendo por algumas horas. “A vida não tem mágica, não tem grandes viradas e quando tem, normalmente, é para ruim. Quando eu vejo alguém da minha idade, da minha aparência fazendo feitos que eu jamais faria, aquilo me empolga”, revela. Narrativa é uma arte, assim como a plástica, a cênica… e, para Kelvin Cigognini, mesmo ele conhecendo os passos da Jornada do Herói, não deixa de ir ao cinema, por exemplo, por achar que está assistindo mais uma vez a mesma história, apenas com personagens diferentes. “Vou para apreciar uma arte. Me permito sentir as emoções que aquela história pode me passar. Esqueço da jornada e me deixo levar pela narrativa. Saber o que é essa ‘re-

ceita’ que Campbell analisou não interfere na minha forma de apreciar essa arte.” Todos os passos da Jornada visam justamente essa identificação do público, o prender na narrativa. Segundo Suéli Piassini, psicóloga, ao se deparar com cenas, mesmo que fictícias, que envolvem vivências de emoções, as pessoas experienciam sentimentos semelhantes ao do protagonista. “Lançamos ali uma expectativa de que este personagem tenha um desfecho satisfatório e feliz, do mesmo modo que esperamos isto no enredo de nossa própria história e, pelo menos por alguns instantes, vivemos a sensação de um ‘Felizes para Sempre!” Como diz o professor Hilário, “as pessoas acham que as crises ou as adversidades que elas passam fazem parte da jornada delas. Criamos expectativas de vida em relação a propósitos, porque toda jornada do herói tem um propósito, exemplifica que a sua vida não é em vão”. Essa busca pessoal por dar sentido a sua existência, nada mais é que uma forma de Jornada do Herói. É o tipo de jornada que inspirou Campbell ao desenvolver seus estudos sobre os mitos e a vida. O mito é a vida, é a narrativa espontânea, é a Jornada do Herói saindo do mundo real e ganhando os livros, as telas. 13


Até onde a paixão por um ídolo ou por algo é saudável? Por Bruna Letícia Tomaz e Luciana Fernanda Colares Na descrição do dicionário Oxford, a palavra fã sig- tempo existe o fanzine, revistas produzidas pelos fãs. nifica “pessoa que tem muito interesse ou admiração Na década de 1930, os fanzines eram elaborados por por outra pessoa ou coisa em particular”. Já admiração admiradores de algum assunto para compartilhar com é uma tendência emocional para demonstrar respeito, quem também possuía o mesmo interesse. consideração ou simpatia por algo ou alguém. E fanátiDeitos acredita que um nível saudável de ser fã é ir co, ainda no dicionário Oxford, é aquele que demonstra a shows do ídolo e ter alguns momentos de histeria, por um entusiasmo exagerado. exemplo. Quando as atitudes de alguém giram em torno Mas o que leva alguém a apenas de sua admiração pelo ser fã, admirador ou fanátiídolo, já passa a ser uma adco? Segundo o psicólogo e miração patológica. Um nível professor Roberto Deitos, Meu sentimento é uma paixão, um patológico é quando psiquicao principal motivo é sememente de forma inconsciente a lhante para os três casos. Na encantamento por algo que faz o coração pessoa deixa que os elementos bater diferente, algo que tira a gente do da questão de ser fã interfiram infância as crianças projetam o que gostariam de ser, como caminho normal e comum de acordar, tra- na sua vida e nos seus relaciocantor, ator, personagem de balhar, arrumar a casa, dormir e todas as namentos. série, filmes ou até mesmo O assassino do cantor John quadrinhos e desenhos ani- formalidades necessárias para sobreviver. Lennon, que se dizia fã dos mados. Na adolescência isso Não são só emoções boas... é emoção mes- Beatles, já estava num nível continua com mais frequên- mo, de sentir medo, sentir insegurança... patológico. Ele não distinguia cia e intensidade. Se espeo que era real ou imaginário. desestabiliza um pouco. lhar em algo ou em alguém, Mark Chapman era um fanátié importante para a constru- Professor de Design, Rodrigo de Oliveira co que perdeu todo o grau de ção de personalidade. Alguracionalidade sobre o próprio mas pessoas perdem isso e pensamento e suas próprias deixam de ser fã na infância, atitudes. Hilario Junior dos mas outros levam para a vida Santos, professor dos cursos de inteira. Comunicação da Unochapecó, Devido ao amor, carinho e admiração, atualmente acredita que Chapman não era fã do John Lennon, pois os fãs criam grupos no whatsapp, facebook, entre ou- segundo ele, fã é aquele que cultua, como uma possível tras redes sociais, para falarem sobre o amor por algo religião, e não teria a capacidade de matar aquilo que que eles tem em comum. Mas esse tipo de demonstra- ama e admira. ção de carinho não surgiu nos dias de hoje. Há muito Além de professor na Área da Comunicação, Hila14

Crédito: Bruna Letícia Tomaz

FÃ: UMA UMA EXPLOSÃO EXPLOSÃO DE DE FÃ: SENTIMENTOS SENTIMENTOS


Série: entre anjos e demônios

Crédito: Bruna Letícia Tomaz

A estudante de jornalismo, Pâmilla Capelli, é fã há oito anos da série Super Natural originária da emissora NetWork, que estreou em 2005 e tem um carinho especial pelo ator Misha Collins, que interpreta o anjo Castiel. Pâmilla realizou um dos seus sonhos, conheceu Collins em São Paulo no ano de 2015 no Comic Con Experience, um evento de games, filmes, séries e enEntre livros, DVD’s e outros objetos, Pâmilla tretenimento. No evento, Pâmilla tirou respira Supernatural em seu quarto fotos com o ator e ganhou autógrafo. O total gasto na viagem foi de R$ 2.500, entre passagens, hospedagem, alimentação e três fotos. Cada foto tirada ao lado do ator custou R$ 370,00. “O que mais me impressionou é que eu não conseSer fã é poder mostrar ao munguia chorar, era como se eu tivesse um vulcão dentro do que ainda existe amor sem esperar de mim prestes a entrar em erupção, porém, só caiu à nada em troca, é provar que nem ficha quando cheguei ao hotel, olhei para a foto e percebi que aquilo tudo era real, foi quando realmente as sempre é preciso ter alguém de carne lágrimas desceram.” ressalta. e osso ao seu lado para mudar a sua Os pais de Pâmilla não encontram problemas na vida para sempre. sua relação com o ídolo, mas questionam o dinheiro que ela gasta com viagens, objetos de coleção, box das Pâmilla Capelli temporadas e livros. Na visão deles, é dinheiro gasto com bobagens, mas para a jovem, é investimento em sua verdadeira felicidade.

Histórias em quadrinhos é o passatempo preferido da estudante de Direito, Patrícia Brum

Crédito: Bruna Letícia Tomaz

rio também é um grande consumidor de produtos midiáticos e acha importante o culto ao entretenimento. Segundo ele, assistir séries, ou outras formas de entretenimento, podem incentivar a leitura nos jovens.

Fã de super-heróis e histórias em quadrinhos O professor do curso de Design, Rodrigo de Oliveira, nunca foi fã de pessoas, mas se identificou como fã de algo desde a infância. Influenciado pela família, ele sempre gostou de histórias em quadrinhos e desenhos animados como Homem-Aranha, Homem de Ferro, Batman, entre outros. O tempo passou e ele continuou fã, o motivo, foi o desejo de também contar histórias e de alguma forma, poder contribuir e participar delas. Rodrigo viveu os primeiros 20 anos de sua vida sendo muito fã do Homem-Aranha, pois se identificava com o personagem que era rechaçado pelos colegas por ser nerd e fraco, e que de repente encontra força para lidar com esses problemas, preconceitos e chacotas. “Grandes poderes vem com grandes responsabilidades é uma frase que o Tio Ben fala para Peter Parker (Homem-Aranha). Então, essa é frase da minha vida. Se você tem um grande poder, você também tem uma grande responsabilidade”. Rodrigo ressalta que pelo fato de gostar muito de algumas coisas e por essas coisas o fazerem tão feliz, será natural que compartilhe isso com seu futuro filho, alunos e amigos. Ele já foi criticado por ser fã de desenho animado e assim como muitos fãs, já ouviu: “é só uma fase, vai passar’’. Mas sempre teve autocrítica e pensou a respeito de onde o consumo de tais produtos o levaria. E nesse caso, o levou ao seu trabalho como professor e game designer. 15


Crédito: Paula Roselini de Marau

A A DEFICIÊNCIA DEFICIÊNCIA É É FÍSICA, FÍSICA, A A ESSÊNCIA ESSÊNCIA É É MOTORA MOTORA História marcada pela doença, transformação, superação e busca pelo conhecimento Na inocência de uma brincadeira de criança, Eline Ester Grossi vê seu futuro diagnosticado por uma doença rara, degenerativa e agressiva. Os médicos expuseram seu quadro clínico como irreversível e desacreditaram a família sobre sua expectativa de vida. Dessa forma, inicia uma batalha entre um corpo adormecido e uma mente fértil, que desafia o próprio destino a reconstruir sua história. Dores fortes no corpo, principalmente nas pernas, acompanhadas de manchas roxas na articulação e pálpebras foram os primeiros sinais que seu corpo estava entrando em um processo de transformação. Não bastasse as consequências imediatas que atingiam seu metabolismo, a doença ameaçava os sonhos da menina. Ela tinha apenas nove anos quando sua vida se transformou de repente. Após uma queda violenta de bicicleta, os primeiros sintomas foram sendo diagnosticados pela equipe médica, porém, apenas comprovado a partir de uma exaustiva rotina de exames. O que poderia ser a descoberta do que estava ocasionando essas dores, foi apenas o primeiro passo da longa jornada que Eline percorre há trinta e sete anos. Movida por sonhos, era uma criança ativa e brincalhona, tinha como seu maior empecilho as fortes dores em suas pernas e, junto a elas, a perda gradual dos movimentos físicos e a mobilidade motora. Dermatopoliomiosite Juvenil (DMJ) é o nome da doença autoimune caracterizada por vasculopatia sistêmica que “faz parte de um grupo heterogêneo de doenças musculares adquiridas, as miopatias inflamatórias idiopáticas, cujo denominador comum é a presença de fraqueza e infiltrado 16

Por Jordane Sartoretto e Karina Echer

inflamatório em músculo”, segundo o artigo científico publicado em 2008 no jornal da Associação Brasileira de Pediatria intitulado “Fatores de risco associados à calcinose na dermatomiosite juvenil”. Na época do diagnóstico, Eline era o quarto caso dessa doença no mundo. Segundo o artigo científico ela “predomina no sexo feminino, na proporção de 2:1, e que apresenta uma incidência de 3,2/1.000.000 crianças e adolescentes/ano nos EUA”. Sim, a Rondinhense, capricorniana, nascida em 10/01/1980, estava com uma doença esporádica, onde o período entre o diagnóstico e a enfermidade severa, demorou um pouco mais de um ano para se estabelecer. Ativa e inteligente, sempre esteve por dentro de tudo o que estava acontecendo consigo. “Os médicos expunham a situação na minha frente, segundo eles tudo que podiam ter feito o fizeram, avisaram meus familiares que deveriam esperar pelo pior. Eu diria que na época da enfermidade desenvolvi alguns transtornos psíquicos devido ao trauma do adoecimento”, conta Eline com muita emoção. A vontade de viver, foi impulsionada a cada dia que se passava. Com tratamentos e medicações controladas o caso foi sendo monitorado. Não existe uma explicação científica médica para sua superficial recuperação, pois o que eles achavam que seria seu destino, foi superado pela determinação de sobreviver. Os anos foram passando e junto com eles, novos desafios foram surgindo. A enfermidade na forma mais severa atingiu o período da sua adolescência, no qual ela destaca como sendo um dos momentos mais difíceis. Além de conviver com as transformações da ado-


Crédito: Paula Roselini de Marau

lescência, aliada a curiosidade de conhecer o mundo, Eline enfrentava ainda processo de adaptação de um corpo adoecido.

Os passos em busca da recuperação

O amor pela leitura e a vontade de aprender, foram métodos essenciais para enfrentar o adoecimento. Entrar no mundo das histórias fazia Eline se desligar por alguns minutos da dor, e principalmente alimentar sua imaginação para realizar seus sonhos. Ela sempre foi uma aluna dedicada e realizava as atividades com muito comprometimento obtendo resultados satisfatórios. Depois de oito anos afastada dos estudos, Eline retornou ao processo de aprendizagem na sua própria casa onde os professores da escola iriam três vezes por semana repassar o conteúdo. Sua predisposição fez com que continuasse fortemente seus estudos, concluindo todo o Ensino Médio de forma presencial. Por ter uma história que impressionava a todos, a partir de 2006, ela foi convidada a dar palestras com a temática “Valorização da Vida” em escolas. Segundo Eline, o desafio de relatar sua experiência para crianças e adolescentes teria sido algo que ela ainda não havia compreendido, percebeu que as pessoas precisavam de um cuidado que vai além do corpo, que a alma da mesma forma, mantém as pessoas saudáveis. Foi aí que despertou a vontade de se tornar psicóloga. Estudar despertava um bem-estar profundo nela. “Eu ousava sonhar com uma faculdade que, mesmo não sabendo bem em qual área seria, intimamente eu sabia que o curso que escolhesse deveria ser ligado às Ciências Humanas e Sociais. Não mergulhei de cabeça nesse desejo, pois além de dificuldades financeiras, minha compreensão ainda era muito atrapalhada pelo medo”, relatou Eline.

Sete anos após finalizar o Ensino Médio, deu início ao Magistério, uma ideia proposta por sua mãe, para que ela continuasse os estudos. Porém logo as professoras perceberam que seu lugar não era ali, e sim em um curso superior. Contemplada com uma bolsa de estudos na Universidade de Passo Fundo, Eline realizou um de seu objetivos, iniciou a graduação de Psicologia. Entretanto, a introdução na universidade trouxe mais alguns obstáculos. Ela enfrentava diariamente duzentos quilômetros entre ida e volta até a cidade de Passo Fundo onde cursava o ensino superior. A rotina acadêmica se tornou desgastante mas proporcionou momentos maravilhosos, de extrema aprendizagem, onde aumentou ainda mais a paixão pelo saber. Sua mãe, Ivone Felomena Grossi, foi sua grande parceira nesse momento de adaptação, acompanhando-a até a universidade, durante todo primeiro ano do curso. “Para mim ir com a Eline era um passeio, aprendi muitas coisas, fiz amizade, participei de atividade que achei muito boas, era como se fosse um lazer, ainda mais prazeroso por ver minha filha realizando seu sonho. Eu me sinto uma super mãe, aprendi muito com a doença, ela é guerreira e sempre lutou muito para viver”, se emociona muito ao falar de sua filha. Esse período também foi marcado por encontros especiais. Eline no seu período da graduação se aproximou de Tamara Vieira, e leva essa amizade até os dias de hoje. “Ter uma amiga, digo, ter uma melhor amiga como a Eline é ter a certeza de que nunca se está sozinho, de que todos os seus segredos estão bem guardados, sinceramente desejo que as pessoas, ao menos uma vez na vida encontrem alguém como ela, para terem o prazer de viver uma amizade como a nossa”, expõem sua amiga. 17


luz, foi se moldando conforme os acontecimentos, entretanto, se tornou forte o suficiente para não desistir. Psicóloga, palestrante, coautora do Livro Pais Competentes de Filhos Doentes (2012, Méritos), Eline é um exemplo de vida. Durante a produção desta reportagem, ela passou dias internada, tendo de tratar mais um impasse em seu corpo, a paralisia facial, “Logo eu que tenho um sorriso tão largo e estendido fiquei com a boca torta”, declara. Iniciou tratamento com fiosoterapueta para reverter a situação, evidenciando sua personalidade que é incapaz de desistir da vida.

Não superei minha história, o que eu faço é ressignificar as vivências e tirar delas o melhor de mim, não é fácil, mas é possível. Já diz Carpinejar ‘Diagnóstico não é destino’. Dos meus lados sombrios e de sofrimento sempre tento tirar os lados de luz e de afeto. Eline Ester Grossi

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Crédito: Paula Roselini de Marau

Muito além de um diagnóstico

Autoconhecimento foi instrumento essencial para que Eline superasse todos os desafios e as barreiras que encontrou em sua vida. Sempre, ou quase sempre com um imenso sorriso no rosto, nunca deixou o seu lado mulher, esquecido. Estando submetida diariamente ao ataque de fortes dores, também acreditava estar sujeita a um novo dia de próprias descobertas. Eline acredita ser uma pessoa sensível, porém, insegura. Ela prefere a solidão, ao invés de uma vida agitada, mesmo se relacionando muito bem com as pessoas. Sua personalidade forte, como o seu espírito regado de


Arquivo pessoal

CONEXÃO CORPORAL

Pilates Pilates éé alternativa alternativa para para crianças crianças trocarem trocarem smartphone smartphone por por exercícios exercícios físicos físicos

Por Gilmar Bortese e Luiz Felipe Giachini Numa era pós-moderna, em que a tecnologia acaba tomando grande parte do tempo de crianças e adolescentes, alternativas são buscadas pelos pais para suprir as necessidades que o corpo precisa. Comparado a alguns anos atrás, por exemplo, as crianças chegavam em casa da escola e iam para a rua brincar, seja com bolas, bicicletas ou sem nenhum brinquedo, apenas com o corpo em movimento. Atualmente, além de todo esse avanço tecnológico que acaba fazendo parte da rotina de crianças e adolescentes, outro fator que também preocupa os pais e que faz com que muitas dessas crianças fiquem “presas” dentro de casa é a questão da segurança, pois com o aumento da violência e outros possíveis riscos nas ruas, elas acabam ficando condicionadas a videogames, smartphones e computadores. Mesmo com pouca procura, principalmente pela falta de conhecimento da população sobre os benefícios da atividade, o pilates é bastante recomendado por profissionais que garantem que os exercícios aliados à bolas, cordas, tecidos, penduricalhos ou simplesmente no solo, são fundamentais para o desenvolvimento de crianças e para evitar problemas futuros, sobretudo com relação à postura. Flexibilidade, força, consciência corporal, relaxamento e respiração são elementos que tornam o pilates uma atividade essencial para corrigir a postura corporal e melhorar o condicionamento físico e equilíbrio. Os músculos, principalmente da coluna são trabalhados com movimentos lentos e concentrados. A educadora física Laine Perin garante que o pilates é indicado para todos, seja adulto, idoso, gestante, criança ou alguém que esteja se recuperando de cirurgias ou lesões. Conforme ela, para as crianças a prática é fundamental,

pois ela é capaz de prevenir lesões e evitar problemas relacionados ao sedentarismo e a má postura da coluna, que é intensificada pelo comodismo de permanecer muito tempo parado. “O sedentarismo e a obesidade infantil são alguns dos fatores que mais preocupam os pais, muitas vezes intensificado pela falta de opção de uma prática divertida que seja lúdica e estimulante e que desenvolva todas as partes do corpo da criança”. A fisioterapeuta e especialista em Pilates Kids, Fabiani Wouters, reconhece que o lazer das crianças de hoje em dia estão atrelados à tecnologia, o que pode propiciar problemas que poderão surgir futuramente. “A vida moderna não permite que as crianças sejam tão soltas como na época dos pais e avós, que iam brincar na rua e passavam o dia se divertindo com muitas atividades. A maioria das crianças de hoje ficam em casa, pois os pais estão trabalhando, pela violência que assusta diariamente e uma série de riscos. Elas têm uma rotina mais fechada e ficam por muito tempo sentadas, o que é um veneno para a coluna”. Conforme Fabiani há muitos casos de crianças com alteração postural, pois estas ficam muito tempo com a cabeça inclinada em frente a tablets ou celulares; ou até mesmo na escola e em cursos complementares - como informática, idiomas, catequese, em que elas ficam sentadas com a coluna curvada para frente e isso faz com que elas fiquem com a mobilidade prejudicada, a exemplo da hipercifose (curvamento da coluna). “Percebe-se que elas não têm muita coordenação motora, flexibilidade, equilíbrio e não compreendem o próprio corpo, que está mudando o tempo todo. Pelo fato de os ossos estarem em crescimento, elas deveriam ter muita mobilidade e amplitude dos movimentos, mas infeliz19


a questão lúdica é fundamental: o ambiente é bastante colorido; as músicas são alegres; os movimentos remetem aos dos animais - o que traz eles para o mundo infantil, além da cambalhota e das bolas, que faz com que eles façam os exercícios sentindo como se tudo fosse uma brincadeira. Fabiani destaca que as mudanças são percebidas logo de início. “Elas ficam mais alegres, felizes e bem empolgadas com a novidade. Vão para casa e querem que os pais, irmãos e primos façam os exercícios juntos. Elas voltam a ser crianças e mais conscientes com o próprio corpo. Em média de três a seis meses a diferença não só do controle corporal, mas de comportamento, são bem significativas”. A psicóloga Rejane Bacher ficou sabendo do pilates para crianças numa reportagem na internet e não teve dúvidas em inscrever a filha Júlia, de nove anos, nas aulas há um ano e meio. “Percebo que ela tem mais consciência sobre o corpo dela. Posso dizer que ela ama fazer e se pudesse faria todos os dias. Vejo que a atividade física é tão importante quando escovar os dentes, se faz necessária todos os dias e através dela temos controle sobre nosso corpo e tornamos a mente sã. Como mãe e psicóloga indico para todos, pois é um complemento para a boa saúde física e psíquica”. A sensação de liberdade que os exercícios causam à menina são evidenciados com alegria. “Adoro me pendurar, me sinto livre e consigo ter mais conhecimento sobre meu corpo e meus limites”. Uma vez por semana Júlia tem encontro marcado com os professores, que a fazem sentir com sensação de dever cumprido a cada “até a próxima terça” que ouve dos educadores. Geralmente a inserção de crianças no pilates se dá pelo incentivo de quem já pratica, sejam os pais, primos ou amiguinhos da escola. A procura ainda não é tão grande, mas a fisioterapeuta acredita que a divulgação é fundamental para que as pessoas conheçam a imporArquivo pessoal

mente percebemos que as crianças estão muito ‘travadinhas”, destacou. Ela ainda explica que os pais devem estimular os filhos a realizarem brincadeiras em movimento, em espaços amplos, onde eles tenham liberdade para correr, pular e extravasar as energias. Embora pareça solucionar todos os problemas de articulação, o pilates deve ser visto como uma atividade física que todos - a partir dos quatro anos - podem participar e, em casos mais específicos, como algo complementar à fisioterapia para o tratamento de problemas de posição corpórea. O pilates apenas estimula o tratamento, inclusive de problemas respiratórios, como bronquite e asma. O pediatra, a exemplo do Dr. Guilherme Schimith, normalmente indica, mas também cabe aos pais perceberem algumas dificuldade dos filhos, inclusive os exercícios são indicados para crianças hiperativas. Com o avanço tecnológico e a disseminação de informações pela internet, muitas pessoas acabam realizando exercícios em casa com base no que viram nas redes sociais ou em sites e portais. No entanto, o profissional alerta que é importante ter o acompanhamento de especialistas para evitar que movimentos sejam feitos de maneira incorreta e isso crie um hábito que pode prejudicar mais do que solucionar. Comparado ao pilates para adultos, em que os exercícios são mais lentos focados na respiração, na contração do core (músculos que estabilizam o abdome e a coluna), no infantil são desenvolvidas atividades mais dinâmicas, tendo em vista que as crianças são mais ativas e se dispersam facilmente. Outra diferença são os equipamentos: os adultos têm opção de fazer os movimentos em bolas, no solo e em aparelhos, porém, pela dimensão desses aparelhos - que são projetados para adultos - as crianças, na maioria das vezes, acabam ficando no solo e com as bolas. Além do mais, para atrair a atenção dos pequenos,

Primeira à esquerda, Júlia durante apresentação no mês passado no Centro de Cultura e Eventos Plínio Arlindo De Nês, em Chapecó 20


Neopilates:

a ludicidade do circo

Crédito: Luiz Felipe Giachini

tância da prática. Devido a gastos com vestuário, alimentação, farmácia, médico, mensalidades em escolas e cursos complementares dos filhos, muitos pais acreditam que é uma conta a mais e acabam não procurando o pilates, também pelo fato de terem de se dedicar a ir buscar e/ou levar as crianças às aulas. “Quem analisa com calma e observa os benefícios acaba procurando. A busca pelo Pilates Kids ainda é limitada comparado ao de adulto, mas acredito na importância de eles apresentarem a atividade aos seus filhos de modo a evitar problemas futuros”. A pequena Maitê Valmorbida tem nove anos e há dois pratica o pilates. Por influência da mãe Ancila, que também leva o filho Olavo às aulas, a menina aprendeu a apreciar as atividades e demonstra entusiasmo ao expor o que mais gosta de fazer. “Gosto muito de ficar na bola, mas prefiro me pendurar, seja nos tecidos ou na lira, me sinto leve e posso balançar. O mais difícil são os alongamentos, principalmente o ‘elefante’, que requer muito esforço do abdome. Uma das mudanças que percebi foi que, mesmo eu tendo feito balé antes de começar no pilates, não conseguia dar cambalhotas e pegar na ponta do pé, mas agora consigo e me sinto muito feliz por isso”, relatou a menina sorridente.

Maitê não vê a hora de chegar quinta-feira para desfrutar das aulas, que a enchem de conhecimento

Mesmo que o pilates clássico seja o mais indica- forma lúdica para crianças e também adultos”. do, recentemente surgiu o neopilates, que envolve A chapecoense Tatiane Schneider, de 28 anos, traatividades que remetem ao circo: com a utilização de balha em uma academia onde o neopilates é praticado tecidos, movimentos diferenciados nas bolas, a lira e, assim que a filha Laura, de seis anos, ficou sabendo circense, entre outros, que mexem ainda mais com a da atividade, a mãe não hesitou em matriculá-la nas imaginação das crianças. Elas se sentem encantadas aulas. “Ela sempre me pedia: ‘quando terei idade para com a magia do circo e é uma forma de fazer os exer- começar?’ e, como sou grande incentivadora de aticícios de modo que elas se vidades infantis a inscrevi. divirtam ainda mais. ConforVejo que o neopilates tem O grande diferencial do neopilates está me Laine, essa abordagem sido de grande importância nos movimentos lúdicos e também nos diferenciada do neopilates é para a Laura, tanto na quesrecomendada para crianças tão corporal, equilíbrio, posaparelhos que, em sua maioria, são suscom déficit de atenção, além tura e flexibilidade, quanto pensos, como o slackline, lycra do circo, de melhorar a criatividade, a na pessoal, coleguismo, tilira circence, tecidos e outros. Os princísocialização, a autoestima. midez e autoestima. Super A educadora explica que pios do pilates, como o controle da postu- indico essa atividade, pois, ra, o foco na respiração e o trabalho com as aulas são variadas, muipor ser trabalhada de forma os músculos do core são os mesmos, mas lúdica e desafiadora, faz a to atrativas e podem ser individuais ou em grupo, esta criança trabalhar a conscio grau de dificuldade passa a ser maior última é mais comum. “A ência sobre o próprio corpo por ter exercícios que, em sua maioria, interação com os colegas e alcançar o bem estar”. possuem bases instáveis. faz com que essas crianças Há um ano, Laura pratica permaneçam na atividade. O o neopilates e garante que foco da aula depende dos obaprendeu muito. “Adoro ir jetivos ou necessidades da turma. Utilizando bolas, o nas aulas, me divirto muito e meus colegas me ajusolo, aparelhos aéreos, acrobacias, o slackline (corda dam quando não consigo fazer algum movimento. bamba), tecidos e a lira, o neopilates se torna cada Adoro quando os exercícios são no ar (balanços, corvez mais atrativo aos pequenos. A modalidade utiliza das, fitas, etc.). Ainda não consigo plantar bananeira as três técnicas: o pilates, o treinamento funcional e perfeitamente, mas já viro estrelinha nota 10”, brinca a arte circense, que trabalham o corpo e a mente de a menina. 21


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