Jornal laboratório do sexto período do curso de Jornalismo
- Ano Edição 20 014 ro Dezemb /2
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Foto: Vanderleia Tramontina
O entretenimento e a decadência dos programas televisivos
Página 12
Internet aumenta divulgação de informações, mas não tem credibilidade como televisão, rádio e jornal impresso Página 2
Assistimos, ouvimos ou lemos o resultado da nossa influência e não percebemos o quanto a mídia também nos influencia Página 4
Jornalismo se molda devido ao surgimento de novas tecnologias da informação Página 21
Reinterpretando o “papel” jornalístico Página 5 Foto: Abraão Prudente
A irreverência do humor no jornalismo Página 11
Jornalista x comentarista: a crônica esportiva divide profissões? Páginas 13 e 14
Jornalismo político: seriedade ou tendenciosidade? Distorções no tratamento da notícia contribuem para que o público se mostre cada vez mais desinteressado na cobertura eleitoral
Ao conscientizar e mobilizar, rádios comunitárias conquistam espaço
Última página
Página 23
Atenção, selecione a pluralidade
Artigo: André Zanfonatto
Internet é o terceiro meio onde as pessoas mais buscam se informar, porém a credibilidade ainda está bastante ligada aos veículos de comunicação mais tradicionais
Um clique e, pronto, você tem as informações do mundo em suas mãos. Nunca foi tão fácil ficar informado, mas também se pode dizer que nunca foi tão fácil ser enganado. A notícia nunca esteve tão acessível quanto agora. Todos podem divulgar informação, em poucos caracteres. Talvez seja aí que surge o diferencial que as mídias tradicionais devem usar para não perder espaço: é explorar o extra, dar mais do que a simples informação. Desde 1981, com a invenção do primeiro computador pessoal, e na década seguinte com a chegada da internet, o Jornalismo os utilizou para a melhoria dos processos produtivos, como por exemplo a velha máquina de escrever, que foi deixada de lado. Após isso, como o autor português Jorge Pedro Sousa explica, o Jornalismo entrou em uma segunda fase, a de se modificar formas e formatos de difusão de informação. Daí, o produto jornalístico já não era mais o mesmo e precisava se adaptar. A internet, em especial as redes sociais, proporciona hoje um “fazer jornalismo” diferente. Hoje, todos nós podemos reportar o fato através de um celular, pelo aplicativo de mensagens instantâneas, ou pelas redes sociais. Porém, até que ponto esse jornalismo de celular pode ser absorvido com veracidade? Até onde podemos saber se há uma preocupação com aquela informação e que, de fato, há responsabilidade de quem a publicou?
Apesar de todas as informações que circulam na web, o jornal, a televisão e o rádio continuam mantendo a tradição de confiança. Em uma pesquisa feita pela Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, com quase 20 mil pessoas, em março deste ano, se notou que 97% dos entrevistados buscam e checam informações através da televisão. Logo após vem o rádio, com 61% e em terceiro a internet, com 47% das pessoas buscando se informar nela. Já o jornal impresso ficou em quarto lugar, com apenas 25% dos entrevistados buscando informações nesse tipo de veículo de comunicação. Essa pesquisa demonstra que o brasileiro anda consumindo mais informação online, mas que a credibilidade continua nos tradicionais veículos. Mas por que isso acontece? Será que desconfiamos demais do que vemos dos compartilhamentos dos nossos amigos? Alguns falam da manipulação das notícias na internet, já que “qualquer um” pode “ser jornalista”, mas à boca pequena sabem como são as redações, onde, por vezes, a produção da notícia sofre interferência graças a interesses particulares, muitas vezes comerciais. A democratização da informação é um dos pontos mais evidentes dessa conexão. Hoje podemos ter o contraponto de ideias, todas na “nuvem”, como dizem os profissionais da tecnologia da informação. O que precisamos está aí. A queda do muro de Berlim, que completa 25 anos em 2014, poderia ter sido contada de outra forma, se fosse hoje? Disso não
há dúvidas. Porém, quem garantiria que aquele muro caiu mesmo? Uma foto com um texto de 140 caracteres? Talvez ainda seria para a televisão que pediríamos socorro. Por mais que se saiba o que aconteceu, com a internet podemos procurar algo novo, a história nas entrelinhas, construímos e desconstruímos a realidade até que cheguemos em um consenso. Ou não. Quem faz Jornalismo sabe como é difícil reportar o fato nos seus detalhes, se eximindo de qualquer opinião que possa interferir na notícia e, quando se vai para o “amadorismo”, essa desconfiança sobre o real se torna maior. A responsabilidade com a informação nem sempre é a necessária. O aprofundamento, salvo excessões, ainda continua no raso do fato, a não ser que o texto postado seja o mesmo que se veiculou no jornal impresso, por exemplo. Por mais que estejamos na era do jornalismo digital, começando, talvez, a dar adeus à folha de papel, como profetas do jornalismo falam, os veículos tradicionais não perdem força diante da atualidade, mas sim se aperfeiçoam. Inúmeras vezes se disse que o rádio e a televisão iriam acabar e, depois de várias tentativas de assassinato, continuam aí, divulgando suas informações. O que há para se fazer é pensar duas vezes no que se coloca na rede, analisar qual é o impacto que a informação errada e pouco analisada pode causar. Deve-se pensar duas vezes antes de dar o “enter”. Todos os veículos agregam informação, basta saber filtrar o que se consome e pluralizar o modo de se informar.
Expediente
Jornal laboratório do quinto período do curso de Jornalismo
Reitor: Profº. Odilon Luiz Poli Vice-reitora de Ensino, Pesquisa e Extensão: Profª. Maria Aparecida Caovilla Vice-reitor de Planejamento e Desenvolvimento: Profº. Cláudio Alcides Jacoski Vice-reitor de Administração: Profº. Antônio Zanin Diretor da Área de Ciências Sociais Aplicadas: Profº. James Antônio Antonini Coordenador do curso de Jornalismo: Profº. Vagner Dalbosco R. Attílio Fontana 591-E, Bairro Efapi, Cx. Postal 1.141, CEP 89809-000, Fone (49)3321-8254 / Chapecó/SC www.unochapeco.edu.br Disciplina: Impresso IV (conteúdos de Jornalismo Opinativo) Professor/editor responsável: Hugo Paulo Gandolfi de Oliveira (Jornalista/ MTE4296RS)
(Opiniões expressas em textos assinados não representam a posição do curso ou da universidade)
Redação: Abraão Prudente, André Zanfonatto, Camila Mendo, Camilla Constantin, Carine Ester Salvador, Daiana Fátima Brighenti, Daniel Mendes Moreira, Daniela da Silva, Débora Favretto Pinto, Douglas Scherer, Eduardo Henrique Bender, Fabiane Kempka, Fernanda Filippi, Guilherme Júnior Rachelle, Janquieli Ceruti, Jessamine Pereira, Kamila Scopel Pinto, Laisa Verona Dal Forno, Letícia Aparecida Sechini Cenci, Marcieli Giordani, Tatiane Defiltro, Taulan Cesco, Vanderleia Vanessa Tramontina e Vinicius Eduardo Schneider. Coordenação Acin Jornalismo: Mariângela Torrescasana Assistente de editoração: Aline Dilkin Editoração eletrônica: Acin Jornalismo - Marina Pessalli Favero
Jornalismo na Pauta - 2
E.T, fique 10 minutos na janela Artigo: Débora Favretto Pinto
Assim é que um extraterrestre desbrava um novo planeta: saindo da nave, buscando informações, descobrindo acontecimentos não vistos Foto: Débora Favretto Pinto
O barulho é quase ensurdecedor. Carros, motos e os benditos caminhões. A menina que tenta atravessar a rua não aguenta mais esperar. Ninguém para. Ninguém quer perder a chance de continuar na terceira marcha. A menina loira olha para um lado, olha para o outro, arrisca ir até a metade da rua, mas como ela já deveria imaginar, teve de esperar mais um pouco para poder chegar ao outro lado. Até que uma alma bondosa a deixou passar. O parágrafo anterior foi escrito para este texto em alguns segundos de observação na rua. A observação da sociedade e da comunidade em que o jornalista vive é essencial para poder trabalhar em favor da mesma. No entanto, este exercício tem dado lugar aos olhos em frente aos monitores nas redações, que ficam geralmente ligados às redes sociais e se esquecem do contato diário necessário. E quando fazem esse contato são como extraterrestres entrando no território a ser descoberto. A nave espacial, ou melhor, a redação dos veículos de comunicação, tem se atualizado todos os dias. A cada ano novas tecnologias são lançadas e facilitam a vida dos “ET’s jornalistas”. Os profissionais passaram a viver sobre a pressão da era da convergência e da informação rápida. Isto os levou a produzir sem sair da nave, usando das novas armas de buscas, o que pode estar prejudicando o jornalismo mais humanizado feito em favor da comunidade. A participação do jornalista a partir da experiência da observação faz o diferencial para a produção de conteúdo e pode amenizar os estereótipos enrustidos. O ir a campo, “fazer contato” com o real da vida da população dá ao jornalista um novo olhar, pois não se pode apenas falar sobre algo sem que se conheça a realidade de perto. Hoje vivemos uma quebra nas relações humanas e ruídos de percepções, por não chegarmos, jornalisticamente, mais perto dos habitantes deste planeta. Um exemplo que pode ser seguido, para os ET’s que querem fazer contato e explorar o novo planeta, é a jornalista
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Eliane Brum. Em seu livro “A vida que ninguém vê”, Eliane narra em crônicas histórias de pessoas comuns. A autora traz a vida que nunca virará notícia em um olhar único. E escreve: “[jornalista tem] um olhar cegado confundido por uma espécie de catarata causada por camadas de rotinas, decepções e aniquilamentos. Um olhar que vê, mas não consegue enxergar”. Ou seja, já estamos cheios de nós e ainda não tiramos tempo para termos mais do outro. Já o sociólogo francês Michel Maffesoli expressa o triste jornalismo acomodado com a frase “quanto aos jornalistas, infelizmente, limitam-se a pôr em cena a mediocridade ambiente”. Perdermos nas narrativas jornalísticas feitas fechadas em redações. Perdemos em não descobrir histórias, perdemos em não descobrir novos protagonistas. Queremos por a culpa nas tecnologias, que ditam a regra da bunda na cadeira, o e-mail aberto e o telefone na orelha. Está mais do que na hora de voltarmos a por os pés nas ruas e os olhos na vida. O jornalista não precisa ser notado, ele é quem precisa notar. Precisa notar o olhar do entrevistado, que por e-mail não pode ser visto. Sentir o cheiro da primavera, que para ser descrita precisa ser sentida de perto. Ver o desespero da mãe que luta pela vida de um filho que não tem atendimento médico. Ouvir o silêncio dos protagonistas, pois muito se fala no que não é dito em voz alta. Assim é que um extraterrestre desbrava um novo planeta: saindo da neve, buscando informações, descobrindo acontecimentos não vistos. É preciso ao menos 10 minutos na janela. Pelo menos isso, para que a observação da sociedade já mude conceitos pré-definidos e crie novas inquietações. A observação possibilita conhecer o problema de perto e tentar achar a causa “vivendo na pele”. É preciso ter uma alternativa desamarrada da cadeira da pós-modernidade, da acessibilidade fácil da informação e do comodismo. É preciso que os ET’s saiam de suas naves e explorem o novo mundo. Nem que seja por 10 minutos fora da redação.
Vide a bula: influência de quem? Ilustração: Carine Estér Salvador
Artigo: Carine Estér Salvador
Segundo o teórico Walter Lippmann (1922), opinião pública não existe. É por meio de informações vindas da mídia, mais estereótipos que conduzem às ações, que a opinião é elaborada. Somos influenciados pela cultura já existente. Nascemos e crescemos ouvindo o que é certo ou errado para a sociedade e como tratar determinados assuntos. Constantemente somos cobrados para por em prática os estereótipos que carregamos, sejam positivos ou não. Para ler uma matéria, por exemplo, precisamos resgatar conceitos de determinados assuntos para assim entendê-la. Definimos antes de ver, pois fomos criados assim. Por isso, muito do que interpretamos tem forças culturais, ideológicas ou políticas que já nos foram traçadas. Quando nos dizem algo, criamos em nossa mente uma imagem que aparece levando em consideração nossa experiência com o tema e o que ouvimos de outras pessoas. Nem sempre o que imaginamos é o que realmente existe, justamente pelos estereótipos que já carregamos.
Nossos estereótpos são os condutores do nosso pensamento e é através dele que influenciamos a mídia Ao contextualizar opinião pública, Lippmann fala que ela não existe em sua essência. O que há é uma opinião baseada nos estereótipos e no que as outras pessoas acrescentam. A opinião pública é vista
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como meia verdade, em função de que não é a opinião da pessoa, mas a dela levando em consideração esses aspectos. Há possibilidade de relacionarmos os conceitos com a atualidade, a exemplo das últimas eleições de outubro. Cada um tem informações a respeito de seus partidos preferidos, sejam de esquerda ou de direita. A opinião se reflete dos mandatos anteriores, da performance como candidato ou eleito. Mas também daquilo que ouvimos falar que ocorreu em 1900 ou anos depois, do que nossos pais ou avós rotulam e das próprias vivências. Também daquilo que observamos na televisão ou lemos nos jornais. Somados, esse conjunto de informações culmina no nosso pensamento. Não decidimos sozinhos e quando nos damos conta, essas interferências já fizeram parte. É inevitável. O Jornalismo também absorve a influência da coletividade de maneira a publicar o que ela está interessada e disposta a ler/ouvir ou assistir. É fato que atualmente há muitas opções e o canal que permanecer ligado, por exemplo, será aquele que melhor irá suprir as necessidades do telespectador. Para isso, a mídia também é influenciada pelo público na escolha de suas pautas. Uma matéria bem acessada, num portal de notícias, tem chances de permanecer no ar por mais tempo, mesmo que já tenha sido veiculada em outro meio. O público, muitas vezes, contesta matérias que assiste, mas não se dá conta de que, assim como as pessoas são influenciadas pela mídia, também a influenciam. Mesmo que jornalisticamente isto não seja sensato, a notícia, para muitos veículos, é uma mercadoria. Infelizmente, lidamos com essas situações nas quais a ética se torna questionável. Por vezes, uma notícia sensacionalista, com grande audiência, permanece em horário nobre somente em função disso. Mesmo que o veículo se adapte à demanda do público, é necessário sempre levar em consideração o que hoje muitos estão deixando de lado, que é o teor jornalístico. São desafios da mídia moderna que precisam se adaptar às novas tecnologias e ao novo perfil dos leitores, telespectadores, ouvintes ou internautas, sempre considerando o papel social do Jornalismo.
É mais que evidente nos dias de hoje o sentimento de pertencimento do homem ao meio digital. Muito além de uma simples ferramenta que auxilia em seus modos de ação, esse meio acabou tornando-se, por vezes, a própria forma de execução da ação. Já não há mais motivos para raciocinar demais, as máquinas o fazem pelo homem. As únicas três coisas ainda insubstituíveis são o nascimento, a necessidade de alimentar-se e o sexo – por reprodução –, embora este seja discutível. A tecnologia virtual invadiu de modo abrupto, mas permitido, a vida humana a ponto de reestruturar desde a comunicação ao modo como cada qual age individualmente, o consumo, as escolhas, as atitudes, os valores, os preços, os sentimentos, a natureza. Não por menos, essa “invasão” causa efeitos, que por sua vez causa reações, que por sua vez causa contra ações e assim continuadamente, até esgotar-se ou não. Enfim, nesse vendaval sem antecedentes, vemo-nos em dimensões antes não vislumbradas, dialogamos como se estivéssemos frente a frente, quando na verdade existem quilômetros distanciando-nos. É a era da informação, a era da comunicação, que percorre não a velocidade da luz, pois seria audácia tal comparação, mas uma velocidade
quase inalcançável e demasiadamente desgastante. Acompanhar as informações atualmente é o mesmo que piscar os olhos por alguns segundos. Imediatamente algo aconteceu – outra piscada –, aquilo já é velho, tudo mudou. Outra piscada, já não existe, um novo chegou. E os jornalistas, como ficam os jornalistas? Perdidos, conturbados, atentos, acordados, sonolentos. Já não bastasse a velocidade que as informações percorrem, atribui-se ao papel do jornalista, com a nova era da informação, outras funções: historiador, cientista social, pseudo-herói, analista de dados, analista de sistemas, redator. É o profissional multifuncional, capaz de milagres. Mas não, santos eles não são, certamente. Sem escapatória, ou adapta-se às demandas ou não sobrevive. E como não sobreviver ao sistema, o que é mais desgastante? Os jornalistas aprenderam a ser multifuncionais. Ou melhor, estão em processo de alfabetização, o que é pior. Pois as apelações “paliativas” parecem ser suas únicas saídas. Imagine só: basicamente três matérias por dia, no mínimo seis entrevistados, 15 matérias por semana, 30 entrevistados por semana, 60 matérias por mês, 120 entrevistados por mês e uma vida para gerir. Além, é claro, de todas as imprevisibilidades que Foto: Taulan Cesco
Artigo: Taulan Cesco
Ontologia jornalística
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acontecem durante todo esse processo. É mais do que certo, também, que desta forma o jornalista procurará meios de saída para conciliar seus problemas e completar suas pautas diárias, semanais e mensais. Um deles é a internet. Rápida, instantânea e sem distâncias ou limites. O que melhor para um multiatarefado do que um instrumento com tantas qualidades assim? Pois bem, qualidades uma vírgula, pois até que ponto a matéria produzida de uma redação, apenas por meios virtuais, preserva sua essência de apuração? Até que ponto sua profundidade é palpável? De que modo consigo descrever os fatos e “comproválos”, se nem ao menos estive no ambiente e aguardo pelas possíveis fotos, não com as mãos cruzadas, mas lesadas de tanto digitar e clicar no botão “Enviar”. Encaminhamo-nos ao jornalismo “redatório”? Talvez, sim. E negativamente parece que não há saída. Na medida em que a vida se esvaece de compromissos, o jornalismo se articula de modo a acompanhar as superficialidades criadas pelo homem. Porém, não pensemos em um jornalismo fajuto, mas apenas mal interpretado e sem comprometimento com a informação aprofundada, rente como o mar que observo nesse fim de tarde.
Os jornalistas aprenderam a ser multifuncionais. Ou melhor, estão em processo de alfabetização, o que é pior. Pois as apelações “paliativas” parecem ser suas únicas saídas. Imagine só, basicamente três matérias por dia, no mínimo seis entrevistados, 15 matérias por semana, 30 entrevistados por semana, 60 matérias por mês, 120 entrevistados por mês e uma vida para gerir
Foto: Fernanda Filippi
Artigo: Fernanda Filippi
Atualizar
Editor-chefe de impresso revesa os afazeres da redação com a locução no rádio. Nos últimos anos vemos uma tendência crescente de consumo de mídias inovadoras que vão ao encontro de desejos antes desconhecidos. Novas formas de comunicação vão surgindo a cada dia e a facilidade de contato com elas faz com que os outros meios mais tradicionais possam estar sendo deixados de lado. Com o surgimento das novas mídias, o meio impresso parece estar se enfraquecendo perante as outras. Diante disso é preciso saber o que fazem os profissionais dessa área, para que os jornais, tradicionais companheiros de todas as manhãs, não sejam substituídos pelas novas plataformas midiáticas. O dia a dia de um jornal é muito corrido, porém a função do jornalista impõe, além de uma rotina frenética, uma tensão no ato da apuração dos fatos e a fidelidade narrativa que envolve o contexto e os personagens inseridos nele. É um embate que contém dilemas éticos, pois é peculiar do profissional a atuação em descobrir a verdade, encontrar provas, buscar isenção, e assim achar a melhor forma de repassar as informações para os consumidores. Com o advento do computador e da internet, a leitura não se restringe agora apenas à materialidade do papel, mas também se estendeu para outros suportes digitais. Um novo acesso aos textos e um novo meio de ler se estruturou. O
manuseio de cada página de um jornal impresso se transfigurou em uma relação virtual. Assim, frente às tecnologias eletrônicas, uma nova relação entre leitor e texto se configura, por meio digital. Em meio a tantas mudanças, com o surgimento das novas tecnologias, o profissional do meio impresso precisa se reinventar todos os dias, inovar e buscar novas formas de redigir e atrair a atenção do leitor. Seja com novas abordagens nos textos redigidos, novas contextualizações, títulos mais atrativos, novas fontes e muita sensibilidade na hora de escolher o que é ou não interessante para o leitor. Outra questão importante para essa inovação no meio impresso, é a leitura. O jornalista precisa ler muito e estar sempre atualizado, assim como em todos os meios. Empiricamente, sabe-se que os jornais impressos chegam diariamente às mãos dos leitores com uma grande quantidade de erros, que também existem nos outros suportes. Falhas que na maioria das vezes não são reconhecidas e tratadas na edição seguinte como uma forma de respeito e fidelidade ao leitor. Devido à falta de tempo que os jornalistas enfrentam em uma redação, esses erros ocorrem muitas vezes pela falta de atenção e até mesmo preguiça de parar e analisar se o texto está adequado para ser publicado ou não. Claro que a falta de tempo é inimiga de todas as redações,
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mas para manter os leitores fieis ao jornal é preciso redobrar a atenção na hora de escrever, evitar erros e sempre ouvir todos os lados. Contudo, percebe-se que a criatividade tem um papel fundamental para que o meio impresso siga firme, inovando e atraindo cada vez mais a atenção dos leitores, não deixando cair no esquecimento um dos meios mais importantes da mídia.
Para manter-se, o meio impresso precisa inovar, modificar suas perspectivas de abordagens diante de uma matéria e, assim, atrair cada vez mais o público leitor
Novos tempos no Jornalismo Online Artigo: Fabiane Kempka Alguns aspectos da vida social das pessoas foram afetados pelas novas tecnologias, pois de tão acostumadas que estão, hoje ninguém vive sem elas. Um exemplo disso é a relação dos meios de se comunicar que as pessoas têm umas com as outras, hoje mais por e-mail, torpedos e redes sociais do que pessoalmente, o que para muitos especialistas também é um problema, pelo isolamento individual. Hoje em dia, o prazo de validade de uma notícia é menor do que em outros tempos, sobretudo na internet, já que são atualizadas constantemente. Com toda essa mudança acontecendo, as pessoas precisam aprender a se adaptar neste mundo moderno, onde a tecnologia a cada dia vem modificando e aperfeiçoando suas técnicas, bem como o modo de viver das pessoas.
Escrever para o meio online se tornou mais prático, devido à exigência da veracidade das informações, que são passadas em tempo real. Hoje é possível escrever bons textos, independentemente do seu tamanho Foto: Fabiane Kempka
Nos últimos anos, várias mudanças e avanços tecnológicos contribuíram para o desenvolvimento da sociedade. Tanto que estamos vivendo num mundo onde a informação está em todos os lados, em todos os locais aonde vamos e a qualquer hora. Devido a esse avanço nos meios de comunicação, na internet, TV, aparelhos celulares, rádios e outros, o ser humano presenciou a transformação na forma de agir e pensar, enfim nas atitudes sociais de cada um. A introdução de novas tecnologiasnos meios de comunicação proporcionou agilidade na apuração da informação e na busca de conteúdos. Com isso, todos estão sendo desafiados a participar desta nova realidade midiática, que traz consigo mudanças de adaptação da vida e do mundo do trabalho. Essas mudanças fazem com que o Jornalismo Online experimente novas formas de manuseio. Escrever para o meio online se tornou mais prático, devido à exigência da veracidade das informações que são passadas em tempo real. Hoje é possível escrever bons textos, independentemente do seu tamanho. No Jornalismo Online, a liguagem é mais curta e fragmentada e possibilita a interatividade do leitor com a notícia. Nesse caso o leitor pode comentar e expor a sua opinião de maneira individual, dependendo do assunto abordado e do seu interesse. O jornalismo online vem ganhando força a cada dia e hoje é um dos meios de se comunicar que recebe cada vez mais a preferência. As maiores mudanças na produção online estão relacionadas à maneira de se produzir a notícia e na maneira de apresenta-lá. A participação do leitor em tempo real contribui muito na produção do fazer jornalismo, além de estimular o compartilhamento em redes sociais. Tudo se movimenta com muita rapidez. A internet, além de promover a atualidade do conhecimento e possibilitar o uso imediato das informações, possibilita a qualquer pessoa acessar e ler o que deseja também a qualquer momento. Tanto que boa parte da população busca a informação na internet por meio do jornalismo online, pela facilidade das plataformas disponíveis, com o tablets, notebooks e smartfones.
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Foto: Janqueli Ceruti
Para ganhar a capa Artigo: Janqueli Ceruti
Critérios de noticiabilidade se diferenciam entre os veículos, mas há um quesito que não muda: a pesquisa em outros meios. Corpos despidos sempre aparecem no noticiário. Quase como que uma regra, é só ligar a tevê ou abrir uma revista para encontrar barrigas saradas e pernas esguias na página central ou no horário mais nobre. Os glúteos torneados de Beyonce ou a cintura de Katy Perry são as pautas para jornalistas toda vez que as cantoras pisam na areia. Mas, pelo visto, as duas musas do pop precisarão mostrar ainda mais pele se quiserem continuar nos holofotes. A manchete da vez são os peladões anônimos que ganharam as ruas gaúchas e catarinenses na última semana. Quatro pelados e peladas, em dias diferentes, foram o centro das atenções em Porto Alegre. E, parece que a moda vai pegar. Depois das três mulheres e do homem mostrarem as partes íntimas sem tarjas, foi a vez de um morador de Vargem Bonita, aqui no Oeste, mostrar a todos como veio ao mundo. Com tanta gente nua desfilando pelos parques e avenidas, a nudez publicitária de atrizes e cantoras teve espaço somente nas notas das colunas sociais. A capa da vez é o peladão sendo colocado pelos policiais no camburão. Por essa as musas globais não esperavam. Nem, a gerente de jornalismo da RIC TV Record Xanxerê, Angela Piana. Acostumada a selecionar homicídios, entregas de prêmios e campanhas de saúde pública para o noticiário do dia, ela quase nem acreditou quando um dos repórteres avisou que havia flagrado um xanxerense pelado numa rua de Vargem Bonita. A cena inusitada entrou direto para o cardápio do Jornal do Meio-Dia. Além de matéria, o assunto ganhou entrada ao vivo do repórter na programação e foi tema da chamada do dia feita pelo âncora na fanpage do programa. A seleção da jornalista pelo material foi, principalmente, pela regionalidade
do fato. Além de ter acontecido numa cidade dentro do raio de cobertura da emissora, o foco das atenções é natural de Xanxerê, local onde o veículo de comunicação está instalado. A novidade do fato e o furo de reportagem também foram ingredientes importantes para que a informação virasse notícia. E, conforme Angela, estes são, rotineiramente, os principais critérios de noticiabilidade utilizados por ela: proximidade, novidade e interesse público. Em Porto Alegre, o quarteto de pelados ganhou destaque maior do que o peladão de Xanxerê. Já no município do Oeste Catarinense, o fato não foi lembrado até acontecesse que na cidade. É visível que a nascente da notícia anda em conformidade entre os veículos, mas que há fatores determinantes para que o texto seja manchete, nota ou deixado para mais tarde.
No rádio ou na tevê a luta diária é pela manutenção e ampliação da audiência, mas para isso não basta somente o conteúdo da informação. Se não for novidade e não atrair o público, não rende O acadêmico de Jornalismo Juliano Arno, que por três anos trabalhou na rádio Momento FM, também de Xanxerê, compara os critérios de noticiabilidade do meio com alguns dos utilizados para veicular uma música. Arno explica que o texto deve “prender” o ouvinte ao chamar sua atenção e, de preferência, ser desenrolado por ele entre o grupo de amigos, familiares ou de trabalho.
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O futuro jornalista salienta que o “caso dos pelados” seria selecionado por ele mesmo sendo o de Porto Alegre, devido à novidade do fato, mas que, com um adepto em Xanxerê, o tempo de exposição do tema aumenta. Seja no rádio ou na tevê, a luta diária é pela manutenção e ampliação da audiência. E, para isso, não basta somente o conteúdo da informação. Pode ser importante, salvar vidas e até ter sido divulgada por um grande intelectual. Se não for novidade e não atrair o público, não rende. Marcos Schettini, editor-chefe do Lê Notícias, um jornal impresso instalado em Xaxim, tem a regionalidade dos fatos, quesito apontado também pela gerente de jornalismo da RIC Xanxerê, como o principal critério de seleção das notícias. No jornal gerenciado por Schettini, entram fatos regionais com destaque para o local. O furo jornalístico e a produção própria também são fatores determinantes para o conteúdo do diário. Nas páginas, estão estampadas fotos e informações que, além de contribuir com o papel social a que o meio se propõe, têm o objetivo de conquistar novos leitores. Para ser manchete na emissora de televisão, é imprescindível a existência de boas e variadas imagens. Quando vai para o jornal impresso, a foto do falante é um bom começo. Para o rádio, o que interessa é a factualidade. A notícia não é a mesma para todos os meios de comunicação. Cada jornalista seleciona o que é manchete, capa ou destaque para comentário de acordo com o interesse público. Aliada à proximidade do fato, a aceitação do público é o quesito de seleção mais plural entre os veículos. O critério contribui para despertar o interesse do leitor, mas, quando mal interpretado, pode culminar em textos sem consistência e banhados de sensacionalismo.
Telejornalismo, onde está você? Artigo: Daniel Moreira apresentador, emitir opinião sobre o tema abordado. Atualmente é muito comum os apresentadores conversarem com o público de casa. Essa linguagem mais solta permite muita interação. Por conta dessa linguagem é que vivemos em um outro momento no telejornalismo. A população se vê representada pelos jornalistas. Os problemas sociais nunca foram tanto utilizados como pauta. Há diálogo entre o jornalista (tanto âncora quanto repórter) com o telespectador que está em casa, ou no trabalho, ou até mesmo na rua. A possibilidade que a internet trouxe de interação faz com que os pontos negativos observados pelos telespectadores sejam rapidamente transmitidos pela rede, e cheguem até esses emissores. Esse feedback, em um curto espaço de tempo, faz com que conteúdos melhores sejam desenvolvidos a cada dia. Outra possibilidade que a internet trouxe ao telejornalismo foi a reprodução de seu material. Hoje, os conteúdos dos telejornais estão nas páginas da internet, um espaço mais democrático do que a mídia tradicional. Nessa perspectiva, é possivel entender que a internet absorveu grande parte do público do telejornalismo e, com isso, se cria um novo desafio para o telejornalismo: o de atualizar e aprimorar cada vez mais seus produtos.
Concorrer com a internet não é fácil, pois o acesso à informação tem se tornado cada vez mais igual. Os telejornais apresentam praticamente as mesmas notícias e o que os diferencia é justamente a maneira como as notícias são apresentadas Foto: Daniel Moreira
A televisão está presente na maioria das residências brasileiras e é através dela que grande parte da população tem acesso às informações do cotidiano. É pelos noticiários da TV que a maioria das pessoas têm acesso às noticias que acontecem durante o dia. A televisão ainda é o veículo de comunicação mais acessível e mais presente na vida das pessoas e assume um importante papel social na vida cotidiana. Como o famoso Jornal Nacional, que ainda possui uma grande influência no que as pessoas estão pensando. Com o tempo, a televisão ganhou mais espaço por conta da expansão da infraestrutura técnica e também porque começou a oferecer variedade de programação. Muitos avanços já foram feitos e ainda muitos estão por vir. Com as novas tecnologias digitais, o jornalismo de TV, e também toda a sua programação, se viram em um impasse, o de como sobreviver num mundo marcado pela velocidade, pelo fim da intermediação dos meios de comunicação onde o cidadão pode acessar informação na hora em que desejar? Foi por conta dessa pergunta que o telejornalismo tem evoluído bastante nos últimos anos, e, junto com ele, a produção, os textos, as reportagens, a linguagem utilizada e também a performance dos apresentadores da noticia. Concorrer com a internet não é fácil, pois o acesso à informação tem se tornado cada vez mais igual. Dessa forma, os telejornais apresentam praticamente as mesmas notícias. O que vai diferenciá-los é justamente a maneira como essas notícias são apresentadas e quem as apresenta. É aí que entram os novos formatos, a inclusão de elementos nas reportagens, os enquadramentos diferenciados, pois o texto ficou cada vez mais leve e mais próximo. Junto com essas mudanças, a linguagem também precisou evoluir. Ela nem sempre foi tão clara como vemos nos dias de hoje. Inicialmente a linguagem seguia certos padrões de intensidade e formato que limitavam a forma em que o telespectador interpretava. O formato engessado foi ganhando força ao longo dos anos, devido à necessidade da padronização da transmissão. Não cabia ao repórter ou ao
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Jornalismo é entretenimento?
Artigo: Camila Mendo
quadro do programa, o repórter busca a informação e deixa bem claro qual é o proposito em estar naquele lugar. O entretenimento é mostrado quando o profissional sai em busca de um responsável pelo assunto. Normalmente vestido com o tema, o repórter aborda a pessoa e faz com que a situação cômica se torne séria. Porém, hoje em dia percebe-se que o Jornalismo está mais para o interesse do público do que o da informação. Os programas jornalísticos, ou mesmo os que mesclam os gêneros, estão mais difíceis de encontrar na televisão aberta. Hoje a predominância é de programas de auditório. Esses programas normalmente trazem polêmica, música e experiências de vida, como o programa Esquenta, da Rede Globo, apresentado nos domingos de tarde. Ou mesmo a jornalista Fátima Bernardes, que trabalhou por 13 anos na bancada do Jornal Nacional e agora comanda o Encontro com Fátima Bernardes, um programa de entretenimento, que até mescla algumas vezes notícias jornalísticas, mas prioriza o entretenimento. O programa não foi bem aceito no início, mas agora o público já se acostumou, mas se gosta ou não é outra questão. Para o mesmo caminho está Patrícia Poeta, que começou como moça da previsão do tempo, foi repórter especial nos Estados Unidos, trabalhou no Fantástico e ficou por três anos na bancada do Jornal Nacional, após a saída de Fátima. Hoje Patrícia tem um projeto
de entretenimento para a programação da Globo. A grande pergunta é: Onde esses programas de entretenimento serão colocados na programação? No período da manhã será meio impossível porque inicia com o Mais Você, da apresentadora Ana Maria Braga. Logo após há o Bem Estar, com Mariana Ferrão e Fernando Rocha, e no final da manhã o programa de Fátima Bernardes. O jeito é colocar no sábado ou domingo, já que a emissora tem muitas opções em sua grade.
Percebe-se que o Jornalismo está mais para o interesse do público do que o da informação No século XXI o Jornalismo tornouse uma mercadoria unida à publicidade. O que percebemos é que fica difícil o jornalismo estar aliado ao entretenimento, já que hoje é mais importante mostrar as celebridades, crimes, sexo, ciúme, mortes e sensacionalismo, deixando a informação e o conteúdo em profundidade de lado. É claro que a mídia não vive sem publicidade, mas não deixa de ser preciso pensar mais na informação do que no entretenimento, pois se é só entretenimento que se oferece, a população acaba não buscando outra opção. Ilustração: Camila Mendo
O tema que confunde jornalistas e receptores é: o Jornalismo pode ser considerado entretenimento? Essa pergunta pode ser respondida por alguns estudiosos que trabalham com o jornalismo e o entretenimento como informação. Segundo Dejavite (2007), o gênero pode ser utilizando como o “jornalismo de infotenimento”, ou seja, trabalha os dois lados, informação e entretenimento. O infotainment está no processo de comercialização e comunicação, além das mudanças que ocorreram na comunicação midiática global. Com objetivo de entreter o público como papel social, o entretenimento está muito mais presente do que o Jornalismo. A notícia para o jornalista, ou mesmo, a informação, pode ser considerada entretenimento para o profissional. O entretenimento pode ser visto de formas diferentes para o profissional que lida com a informação e seus receptores, sejam eles leitores, ouvintes ou telespectadores. Como a mídia está cada vez mais veloz, a utilização de smartphones, tablets, mídias sociais e sites se torna mais frequente e as informações concorrem com o entretenimento. Pensando dessa forma, quais seriam os programas na atualidade que trabalham com jornalismo e entretenimento? O CQC, o Custe o que Custar, da TV Bandeirantes, é um exemplo de programa que trabalha com os dois gêneros, além de trabalhar com o humor. Ao assistir o programa, é fácil perceber que os repórteres fazem os dois papéis. Com o Proteste Já,
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O humor como alternativa
Artigo: Jessamine Pereira
O Jornalismo tradicional, bemfeito, é reconhecido pela seriedade e compromisso com a verdade. Num primeiro momento, muitos pensam que o Jornalismo pode ser incompatível com o humor. Pode parecer estranho, mas o humor e o jornalismo são velhos aliados no Brasil. Mesmo lá nos tempos antes da República, os jornais semanais já traziam a notícia de modo cômico, e durante a passagem da Monarquia para a República, época marcada por lutas e diferenças políticas, a produção de sátiras aumentou e evidenciou os desentendimentos entre os políticos. Assim, o humor era uma via de escape para expressões de ódios e de antipatia contra a política da época. Com a era da tecnologia, a imprensa vem sofrendo transformações na sua prática. A representação de forma cômica do cotidiano nacional ganhou muito mais força. Hoje, os jornais trazem espaços para opiniões populares, assim como seus êxitos e anseios, não esquecendo, é claro, das revistas e dos programas humorísticos que contam com um empurrão dos avanços das técnicas de impressão e dos elementos de edição televisivos. Esse jeito audacioso de informar parece que vem agradando ao público, o que colabora para que o humor se espalhe para as mais diversas mídias. Frente a essa dinâmica jornalística, surge a questão: o humor é um aliado confiável para o Jornalismo? Os princípios éticos não vão de encontro a esse aliado? Em uma entrevista para o blog da Universidade Federal de Goiás, a professora de Comunicação da Universidade Federal de Goiás e gerente da TV UFG, Rosana Borges, defende: “Assim como acontece como qualquer outro enfoque, não é este ou aquele gênero que atribui credibilidade e confiabilidade ao conteúdo da informação, e sim o rigor e a ética que a elabora”. Um dos exemplos do uso de humor no Jornalismo, que temos hoje na mídia
É preciso perceber a diferença entre jornalismo humorístico e jornalistas irresponsáveis que se bancam de “engraçadinhos” brasileira e que define bem a ideia do jornalismo humorístico, é o programa Custe o Que Custar (CQC), exibido na Rede Bandeirantes. Partindo da versão argentina “Caiga Quien Caiga”, o programa faz um resumo semanal, com muito humor e sátiras, de notícias sobre política, esporte e entretenimento. Com terno preto e óculos escuros, os repórteres correm atrás da notícia e a repassam de um jeito diferente, que além de informar diverte o telespectador. Os apresentadores e repórteres abusam da ironia, do sarcasmo e de perguntas de duplo sentido. O uso desses elementos provoca, no público, uma visão crítica ao assistir o programa. Tal modo de realizar as reportagens muitas vezes desmascara certas figuras públicas importantes diante das câmeras. Os integrantes passam a ideia que eles são o “Quarto Poder” e investigam, principalmente, os acontecimentos dentro do cenário político brasileiro. É tanta a ousadia e petulância que, em 2008, a equipe foi proibida de realizar seu trabalho dentro do Congresso Nacional. Retornaram depois com o forte movimento na internet “CQC no Congresso”, provando que mais uma vez a internet tem grande responsabilidade na vida pública.
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Mesmo com as vantagens que o programa tem dentro do Jornalismo, Rosana Borges afirma que o telespectador deve ficar atento à grande irreverência do CQC: “Neste tipo de programa, muitas vezes a informação pode ser distorcida por falta de rigor e ética na abordagem e angulação construídas”. O Brasil mostra que tem gosto especial por essa receita formada por humor e jornalismo. Porém, é importante destacar que o humor pode ser impreciso ou irresponsável, o que contraria os princípios do Jornalismo. É preciso perceber a diferença entre jornalismo humorístico e jornalistas irresponsáveis que se bancam de “engraçadinhos”. Esse modo de praticar Jornalismo divide e forma diferentes opiniões. Como o público jovem considera este tipo de programa uma forma inovadora de manter-se informado, o público tradicional já não concorda com a audácia no tratamento dado à notícia. Certamente, o programa CQC nunca será comparado, por exemplo, ao Jornal Nacional, mas pode ser considerado como um enfoque especial dentro do Jornalismo, como uma alternativa moderna para quem já está cansado do Jornalismo padrão de sempre, oferecido pela mídia tradicional.
Mais conteúdo, menos bunda Foto: Vanderleia Tramontina
Ensaio: Vanderléia Tramontina
Nada era mais incrível do que possuir uma televisão em casa. A família toda parava atenta, após seus afazeres, em frente ao aparelho. O lazer, a distração e a comédia estavam ali, sem precisar sequer sair de casa. Seria hipocrisia dizer que essa não foi uma das mais incríveis invenções do século passado. Os programas dominicais, de forma especial, tinham e têm até hoje o dever de alegrar. Entretanto, o início da era televisiva se deu, basicamente, por programas de cunho cultural. A televisão, em seu patamar histórico, mantém programas mistos, indo do jornalismo ao entretenimento em um piscar de olhos. É preciso atrair o telespectador. A questão cultural já não é mais o foco principal das atrações.Agora a busca é por um público fiel, que aceite sem muitos questionamentos as repetidas piadas dos programas dominicais. Com a chegada da internet, outro ponto aflorou, pois agora temos a maior disseminação das informações. A manifestação de ideais e opiniões agora é aberta, ou melhor, escancarada. É preciso, no entanto, distinguir ‘‘mídia’’ com liberdade de expressão do meio online. A primeira requer apuração, seleção de enfoques, pautas e critérios. Exige responsabilidade com a verdade e o que será emitido ao público. A segunda, por sua vez, se baseia mais no senso comum, no individual. É aquilo que se pensa e acredita formado através das visões de mundo e manifesto, principalmente, pelas redes sociais. A diferença é que antes se tinha apenas os meios tradicionais, rádio, TV, revista e jornal impresso, cada qual com seu modo de comunicar e entreter. Eis mais um ponto crucial, para tentar explicar a mudança de viés dos programas
televisivos, pois as inúmeras ‘‘telas’’ são justamente a possibilidade de acessar de tudo a todo o momento. Inclusive, o que a televisão já exibiu anteriormente. De acordo, com o estudo Social TV, desenvolvido pelo Ibope Media, no Brasil pelo menos 16 milhões de pessoas acessam a internet e assistem televisão ao mesmo tempo. Essas novas janelas de acesso nos levam a pensar: a televisão e seus inúmeros programas estão mesmo tendo queda de audiência ou é apenasmigração de conteúdo? Entretanto, é inegável que os programas de entretenimento da atualidade, como o Big Brother Brasil (BBB), são o clássico exemplo de apelação. Definido como reality show, o programa conta com determinado grupo de participantes, os quais são escolhidos em um processo de seleção. Entre eles, mulheres sexys, homens ‘‘bombados’’ e, normalmente, um homossexual. Todas as edições focaram em personagens parecidos. É a alma do negócio. Um pouco de cada contraste e o ‘‘bolo’’ está pronto. A falta de criatividade é nítida. Mudam as cores da casa, o formato da piscina e os objetos de decoração. Permanecem as mesmas futilidades, e o prazer em reforçar a ideia de que ‘‘mulher loira é bonita, porém burra’’. Basta assistirmos a alguns episódios para percebermos que a vulgaridade é exigência. Sobram bundas de fora e discussões inúteis. Porém, falta qualidade, novidade e mais do que isso, conteúdo. No famoso (e caloroso) BBB, a luta incansável pelo prêmio coloca em cheque valores. O que impressiona é que não é apenas nesta atração que o corpo é objeto de enfeite, como símbolo de uma sociedade machista, que usa, sem receio, Jornalismo na Pauta - 12
o corpo da mulher como mercadoria. É a cultura do físico, que perdura desde as primeiras campanhas publicitárias veiculadas. O dominical ‘‘Hora do Faro’’, veiculado na Rede Record é outro exemplo de entretenimento babaca. Com o rumo que está se seguindo, é difícil pensar em melhores conteúdos na televisão. Afinal, as atrações do mesmo viés seguem caminhos quase idênticos, sem esquecer as apelações eróticas nas novelas. É aquela velha história: o medo de perder audiência resulta na repetição e na impossibilidade de arriscar, falta inovação e todas as redes apelam. A televisão se prendeu nas amarras da burocracia e da criatividade repetitiva. Está atrelada a grupos hegemônicos, que ditam os rumos a seguir, no conteúdo editorial ou de entretenimento. É preciso, no entanto, se adaptar ao novo e, consequentemente, melhorar, para agregar qualidade aos programas. Eles devem ter como função entreter, por meio de conteúdos pluralistas, que valorizem a cultura e abordem outros pontos de vista. Que façam contrapontossaiam da mesmice e trabalhem além do sensacionalismo. A televisão não irá se perder em meio a tantas telas. Pelo contrário, irá se encontrar, em todos os lados e seu conteúdo será transmitido cada vez mais em outras plataformas. E no final, as famílias continuarão optando por este adorável aparelho. Na frente dela assistirão, ansiosamente, pelo último capítulo da novela, pelo tão esperado filme(que não seja ‘‘Lagoa Azul’’) ou pelo jogo do fim de campeonato. Enfim, que os criadores de conteúdo, realmente criem. Abusem e utilizem dessa vastidão de coisa boa e relevante que tem por aí.
A dor e a delícia de ser repórter esportivo
Ensaio: Letícia Sechini
Brasil, pentacampeão mundial de futebol, sediou a Copa do Mundo Fifa. E hoje só se fala em remo se o assunto for a série C do Campeonato Brasileiro, em que disputa o paraense Clube do Remo. Fique claro aqui que a autora deste texto desacredita em jornalismo esportivo feito com frieza, distanciamento e imparcialidade. Informação esportiva é crônica. Lidem com isso. É fato que as coisas melhoraram com o fenômeno evolutivo da comunicação. No entanto, engana-se quem pensa que o estigma do cronista esportivo modificouse em muitos tons. Cronista sofre em diferentes matizes. Para quem olha de fora, vivenciar a prática esportiva na televisão ou no rádio é uma profissão dos sonhos: analisar jogos, assistir a treinos, acompanhar delegações e comentar depois. Diariamente, as redes sociais de cronistas e jornalistas ligados ao futebol recebem comentários cujos autores pensam dessa maneira. Esta que vos escreve, por exemplo, já perdeu a conta de quantos questionamentos precisou responder quando o assunto era a rotina da cobertura esportiva. O estereótipo de matraca ainda piora aos cronistas que atuam em outras frentes, como o rádio. “Todo mundo”
entende de esporte. Mesmo que não saiba sequer o nome do treinador, “todo mundo” afirmará que o comandante do time é burro ao colocar o camisa 11 mais para frente, ou atuar com quatro atacantes no segundo tempo. E aí sim, coitado do comentarista. Vira outro na multidão, vira a voz do “todo mundo” futebolístico - ainda que tenha a devida gradação para tal. “Ninguém entende mais do assunto do que um garoto de 12 anos”, garante o jornalista Mauro Cezar Pereira, da Rádio CBN. Há, todavia, o cronista de luxo, o apaixonado por esportes que acabou de deixar os bancos da universidade e se entrevera pela crônica esportiva mesmo sabendo o que enfrentará. Há quem diga que sejam os mais perigosos aqueles que o fazem voluntariamente. “Talvez não haja área do jornalismo tão sujeita a intempéries quanto a cobertura de esportes”, escreve o célebre jornalista Paulo Vinícius Coelho, o PVC, da ESPN Brasil e da Folha de S. Paulo. “O profissional enfrenta o preconceito dos próprios colegas, que consideram a editoria menos importante, e também do público, que costuma tratar o comentarista ou repórter como um mero palpiteiro” - o alvitre definitivo. Obrigado, PVC. Foto: Letícia Sechini
No fim do século XIX, quando as disputas de remo eram consideradas o esporte do século, e o futebol entrava lentamente no gosto nacional, o escritor Graciliano Ramos cometeu o maior engano da história do desporto brasileiro. Em um tempo quando ainda era moda ser brasileiro no Brasil, o autor de “Vidas Secas” desacreditou do sucesso da modalidade trazida pelos ingleses. “Futebol não pega, tenho certeza. Estrangeirices não pegam na terra do espinho”, foi o comentário do escritor. Talvez o “palpite furado” de Graciliano tenha sido o primeiro na ramificação mais controversa do jornalismo: a crônica esportiva. Naquela época, era impensável que o esporte um dia tivesse espaço na capa dos jornais, ocupadas somente por importantes decisões políticas, alvoroços mundiais e movimentações econômicas – ou campeonatos de remo. Ser repórter esportivo no fim do século XIX se resumia a ser um grande palpiteiro, desacreditado e, possivelmente, funcionário de um jornal de ainda menos prestígio – ora, onde já se viu, falar de futebol, um esporte para tão poucos. Em 7 de maio de 1919, o jornal “A Rua” já se referia ao futebol como “a coqueluche da cidade”. Em 2014, já no século XXI, o
A cobertura de entrevistas coletivas, como na Chapecoense, é uma das tarefas de quem faz jornalismo esportivo. Jornalismo na Pauta - 13
Cobertura esportiva é como montanha-russa
Ensaio: Leticia Sechini
Até se certificar de que está na profissão certa, o cronista esportivo viverá uma montanha-russa. Cobrirá coletivas de imprensa intermináveis, repletas de discursos repetidos. Ouvirá quase todos os dias a garantia do jogador de “fazero-que-o-professor-mandar-conseguiros-três-pontos-jogo-complicado-apoiodo-torcedor”, ad infinitum. Precisará agitar todos os contatos possíveis e correr por todas as possibilidades de conseguir uma informação, uma palavra que seja diferente, um ângulo inexplorado em um mundo de possibilidades.
Para quem olha de fora, vivenciar a prática esportiva na televisão ou no rádio é uma profissão dos sonhos: analisar jogos, assistir a treinos, acompanhar delegações e comentar depois O cronista que torce secretamente por um time, sofrerá ao escrever o texto que narra a derrota de seu time na final do campeonato e, acima de tudo, será a pessoa mais feliz e inspirada em um raio de 100 quilômetros ao produzir a crônica perfeita, a obra prima, o relato do momento em que o ídolo de seu time levanta a taça de campeão – não importa do quê. Prova viva dessa afirmação é o jornalista Gilberto Pace Thomaz, repórter e comentarista da Rádio Chapecó. Aos 27 anos, Giba, como é chamado, acompanhou a Chapecoense do inferno ao céu. Dos Campeonatos Catarinenses de 1996, 2007 e 2011, quando o clube foi campeão, aos anos de vacas magras, nos quais o risco de fechar as portas era uma realidade, até o momento em que, aos 30 do segundo tempo, Paulinho Dias alçou a bola para Bruno Rangel, que cabeceou para o fundo das redes, marcando o acesso da Chapecoense à Série A do Campeonato Brasileiro - em novembro de 2013, - o topo do futebol nacional. No entanto, a certeza da profissão veio para Giba no dia 22 de março de 2009. A Chapecoense entrava em campo contra o
Figueirense, pelo Campeonato Estadual. “Esse jogo foi espetacular pela forma como ocorreu. A expulsão de Bruno Cazarine, a Chapecoense buscando o empate, o estádio lotado, indo à loucura. Foi a primeira emoção gostosa que o jornalismo esportivo me proporcionou”, lembra o jornalista. Giba nunca escondeu a paixão pelo clube, onde já atuou até mesmo como assessor de imprensa. No entanto, admite: “às vezes falo mais com o coração do que com a razão, e isso é uma ninharia*” (a autora do texto optou por substituir palavrões proferidos pelas fontes). Já o jornalista Laion Espíndula, do Globoesporte.com, vive outra realidade. Torcedor de um time não revelado por razões profissionais, o repórter precisa deixar o coração de lado. Ainda na faculdade, Laion não tinha o jornalismo esportivo como um objetivo. “Me interessava mais ou menos. Gostava de esporte, assistia futebol, acompanhava o time. Mas não gostava porque sempre achei muito próximo do entretenimento”, diz. Hoje com liberdade para criar textos mais autorais, o jornalista já desapegou da seriedade do hard news. A cobertura da Seleção do Equador na Copa do Mundo de 2014 contribuiu nesta desconstrução. “Era uma seleção que eu não fazia ideia de quem jogava, tive que descobrir em uma semana. Como foi uma coisa muito intensa, um período muito curto, a gente bolou pautas legais. Os apelidos, as tatuagens, os cabelos, e até a imprensa equatoriana, que é muito diferente da nossa”, conta.
Cronista esportivo precisa agitar todos os contatos possíveis e correr por todas as possibilidades de conseguir uma informação, uma palavra que seja diferente, um ângulo inexplorado em um mundo de possibilidades
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O desafio de sair de Porto Alegre para realizar a cobertura jornalística da Chapecoense não é o mais complicado que o repórter do Globo Esporte já se viu diante. Então, não há tempo ruim. “Você lida com pessoas que têm um interesse político muito grande, há presidentes que acabam sendo deputados, e por aí vai. Dirigentes também são vaidosos. Se você escreve algo que ele não gosta, ou se o teu veículo de comunicação tece críticas duras, ele acaba te cortando”, explica Laion, “mas isso é do jogo”.
“Se você escreve algo que ele não gosta, ou se o teu veículo de comunicação tece críticas duras, ele acaba te cortando, mas isso é do jogo” Laion Espíndula
Dentre os dois bacharéis em Jornalismo, Giba é mais passional, deliberado no amor pelo clube e um visível apaixonado pela crônica. “O futebol é uma bomba, mas me proporcionou grandes alegrias. Conheci lugares que jamais pensei em conhecer. Neste ano mesmo, graças à Chapecoense, eu pude trabalhar em um estádio de Copa do Mundo, o Itaquerão, uma baita experiência. Não adianta, você acaba se envolvendo com o clube. Eu em jogo já xinguei, chutei placa de publicidade (risos). É errado, mas o stress dá nisso. É do jogo”, descreve. Indiferentemente do que garantam os estudiosos de coisa nenhuma e os inventores de fatos, a crônica esportiva é só uma, e é tudo isso. É ser palpiteiro e especialista com diferença de apenas um intervalo comercial. É chutar a estrutura do estádio enquanto mantém uma calma estritamente profissional no link ao vivo com a rádio. É vivenciar um intenso triângulo amoroso, entre clube, repórter e jornalismo. É um jogo infinito de envolvimento, remo e futebol. Obrigado, Graciliano Ramos. Ser palpiteiro é bom demais.
O Jogo Aberto está em alta na TV brasileira e engana-se quem pensar que ele pertence à Rede Globo, à Record ou ao SBT. Esse programa faz parte da rede Bandeirantes desde 5 de fevereiro de 2007 e está presente para o público que gosta do assunto futebol. Para quem não conhece, ele é um programa jornalístico com um design diferente dos demais da área, como o Globo Esporte, da concorrente Globo. O programa da Band tem a finalidade de debater o mundo do futebol de maneira diferente. Com os comentaristas Ronaldo Jeovaneli (ex-jogador do Corinthians) Denilson (ex-jogador do São Paulo), Ulices Costa (narrador), Paulo Morça e a apresentadora Renata Fan, o programa vai ao ar ao vivo às 11h de segunda a sexta-feira. Entre os aspectos considerados bons na produção das notícias, estão a rapidez na informação, o aprofundamento das matérias, a busca por solução de um problema de um time ou até a construção de uma trajetória de um clube. Há, também, críticas que variam conforme as regiões do país. Isso tudo ocorre principalmente porque em momentos o programa deixa de lado o interesse geral para apenas se concentrar em São Paulo, local sede da Band. Isso arrematou uma perda considerável da audiência.
Jogo Aberto está no ar de segunda a sexta feira às 11h na Rede Bandeirantes. Quem apresenta é a Renata Fan, comentaristas e convidados para debater o futebol Com o surgimento dos flashes ao vivo, com os jornalistas Everton Guimarães, da redação em Minas Gerais, e Xico Garcia, de Porto Alegre, houve uma mudança no conteúdo apresentado e se aproximaram os times desses respectivos Estados ao programa e, consequentemente, as criticas ruins diminuíram. Porém, ainda peca muito na questão da regionalidade,
Jogo Aberto Foto: Vinicius Eduardo Schneider
Artigo: Vinicius Eduardo Schneider
pois no término da programação do Jogo Aberto outro programa vai ao ar, “Os Donos da Bola”, que tem a mesma finalidade, mas aborda apenas o futebol de São Paulo, e isso acarreta em perda de audiência por conta da má formatação do programa. O conteúdo poderia ser melhor distribuído, como o Jogo Aberto relatar assuntos do futebol em geral, como a Chapecoense, e o programa seguinte focar no público estadual. No programa de 11 de novembro, por exemplo, o assunto principal foi a rodada do final de semana, e o futebol do Sul teve destaque por conta do Grenal. O Grêmio venceu o time da apresentadora Renata Fan, o Internacional, por 4X1, e por isso teve esse espaço nada normal na programação. Houve discussão, brincadeiras, provocações, explicações e até o choro da apresentadora. O programa, por se tratar de um meio de entretenimento com jornalismo, gera uma grande audiência, porque é diferenciado, com matérias bem apuradas, com um estilo sério. Porém, tem comentários e brincadeiras que a população em geral costuma criticar ou elogiar. As matérias apresentadas na programação quase sempre são informativas, com a valorização sempre dos maiores e isso gera uma sensação de desvalorização dos pequenos. Como acontecia na segunda divisão do Brasileirão do ano passado, quando a Chapecoense liderava o campeonato e os integrantes do programa, fora a apresentadora,
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defendiam a hipótese de ela ser campeã, o restante apostava no Palmeiras, por ser um clube de “tradição” e paulista. Para quem não conhece, o programa geralmente funciona da seguinte forma: há um fato em discussão entre torcedores ou na mídia, é feita a apuração e os participantes comentam com uma grande base informativa do assunto. Além desses comentários, que surgem no decorrer da programação, alguns de ultima hora ou que estão acontecendo naquele momento, são apresentadas matérias de cunho informativo e interpretativo, quase sempre aprofundadas sobre um determinado fato, como a goleada do Grêmio em cima do Inter. Os convidados geralmente são jogadores dos clubes brasileiros, que comentam sobre o assunto apresentado, além de responder a perguntas. Há brigas, desentendimentos, choro, brincadeiras, “alfinetadas”, muitas vezes exageradas ou constrangedoras, mas mesmo assim eles ainda conseguem manter o público ligado na telinha da Band. O programa atende a vários públicos e tem a aceitação por ter um conteúdo diferente do padronizado pelos concorrentes, por expor a opinião e não apenas relatar o fato por si. Porém, às vezes fazem “bico feio” para ganhar audiência, e essas brigas chamam a atenção do público, mas em algumas circunstâncias o Jogo Aberto se torna um verdadeiro “Programa do Ratinho” e não um programa jornalístico esportivo.
Um olho no campo, outro no papel
Estar na beira do gramado em uma partida de futebol, para muitos significa fazer atividade física e praticar esporte. Mas não, muitas vezes se está ali sem o ter praticado, apenas para trabalhar e executar sua função como repórter esportivo. Chega o domingo, dia de jogo. Duas horas antes tem que estar no estádio para pegar entrevista com torcedores e acompanhar a chegada dos times. O credenciamento para entrar em campo é um fator importante para um repórter, pois sem ele não se tem a credencial e o colete que identifica a pessoa como “imprensa” dentro no gramado. Em Santa Catarina cada repórter, para trabalhar em campo, deve ter a carteirinha da Associação dos Cronistas Esportivos de Santa Catarina (Acesc). Isso facilita a entrada dos profissionais nos jogos e outras coberturas esportivas. Para um repórter de televisão não é tão difícil ter acesso ao campo, pois geralmente a emissora de televisão o transmite, com ampla estrutura. Este é o caso da repórter da Rede Bandeirantes/Santa Catarina, Elizandra Vissotto, que salienta: “A maior dificuldade de ser um repórter esportivo é o credenciamento, pois sem ele não temos acesso a nada”. Quando rola a bola, o repórter tem de estar atento a todos os lances e detalhes, para depois poder fazer um comentário apenas ou uma matéria maior. Mesmo trabalhando na televisão não se pode dispensar o bloco de anotações. Fica tudo anotado para depois selecionar o que é mais importante e montar a matéria. O lance do gol sempre é mais importante em uma partida de futebol, mas aquele fato corriqueiro também é interessante e chama a atenção do público. Ser repórter, por isso, é estar ligado em tudo. Com chuva ou sol, o repórter tem que estar lá no campo, pois é ele quem irá passar a informação ao público. Em dia de treino não é diferente, pois a população quer saber de todos os acontecimentos sobre o time importante da cidade. Com o
Foto: Marcieli Giordani
Artigo: Marcieli Giordani
Como todas as profissões, o jornalista precisa ter habilidade para escrever, inclusive no campo de futebol passar dos tempos, os repórteres passaram a ser um pouco mais valorizados e, para Elizandra, na Arena Condá não é diferente. Ela comenta: “Para a TV é mais fácil o acesso hoje em dia, a estrutura mudou e está muito melhor, ficamos em um espaço mais reservado vendo o jogo, pois não tem como aparecer na TV toda molhada né!”. Quando acaba o jogo vem a entrevista, e quem não quer entrevistar aquele que mais se destacou em campo? Aquele que fez o gol da vitória ou salvou o gol? Em Chapecó, a imprensa não pode pisar no gramado para pegar a palavra de jogadores e treinadores. Deve esperar eles sairem para, assim, poder entrevistá-los. Muitos dos jogadores não gostam de dar entrevistas e estar na frente dos holofotes, pois sendo expostos ficam conhecidos e se jogarem mal depois vêm as críticas. Ser criticado ninguém gosta. “Houve algumas mudanças nas entrevistas também, a assessoria do time chama o jogador e ele tem que dar entrevista, não existe mais essa de fugir”, salienta Elizandra. Quando o destaque passa todos o abordam e, sempre, as emissoras de televisão têm preferência. Depois da entrevista na beira do gramado, o repórter tem tempo de fazer uma “passagem” para a reportagem e realizar entrevista
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com a torcida para depois ir à coletiva. Geralmente quem concede coletiva é um jogador e o técnico. Depois disso, acaba o expediente na Arena Condá. No outro dia, o repórter tem que estar presente ao treino, para ver a escalação do técnico, quem está se destacando, e assim deve estar atento. Sempre depois dos treinos um jogador do time dá entrevista. O técnico, como é mais importante, fala somente na quinta ou na sexta-feira. Ele dá dicas de como será escalado o time e quem está lesionado, entre outros enfoques. Durante a semana é mais tranquilo para o repórter. Ele pode dar atenção às outras modalidades do esporte. Pode cobrir partidas de futebol amador, voleibol da cidade e o automobilismo, mas nem sempre é isso que ocorre e o que se vê, normalmente, é futebol e mais futebol, quase como esporte único. Então, ser repórter não é acordar de manhã e falar: - Vou ser repórter! Exige uma preparação muito grande e se deve ter amor pelo que faz. Muitos dos que estão lá peleando dia de chuva e dia de sol, geralmente não são bem reconhecidos como mereceriam, inclusive financeiramente. Ser repórter esportivo requer habilidades, e ele recebe cobranças assim como qualquer outra função de jornalista.
Cada pauta um perigo Artigo: Tatiane Defiltro do próprio mal da sociedade. É um país que teoricamente não está em guerra, mas que não deixa de ser mortífero. E onde a impunidade impera devido à ausência de vontade política e a um sistema judicial ineficaz, além do claro descaso com a classe. E é claro, pelo menos para que tem um pouco de conhecimento, que essa frequência de ataques indicam a intenção deliberada de cercear o trabalho da imprensa e revela as condições de trabalho dos jornalistas no Brasil, mostrando o nível de insegurança e o poder do crime organizado.
Brasil, vergonhosamente, é o terceiro país que mais registrou morte de jornalistas na América Latina, com 38 assassinatos, entre 2000 e 2014 A censura, que por motivos óbvios ocorre de forma indireta, resulta das ameaças partidas de milícias e grupos clandestinos ligados ao narcotráfico ou de autoridades de governos que rejeitam todo tipo de crítica. E é justamente essa não aceitação de críticas que faz emergir a censura, a qual parece estar se tornando uma tendência na América Latina. Até porque os mandantes têm a certeza de que calando o jornalista nada vai acontecer, e essa impunidade origina também uma autocensura, pois os jornalistas acabam se calando diante de assuntos graves para se preservar e preservar quem está ao seu redor. O que acaba ferindo bruscamente a liberdade de imprensa e o direito a informação. E isso, é repetitivo dizer, se deve ao advento das grandes empresas capitalistas, ao interesse público, e aos anseios da alta burguesia, que buscam monopolizar
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mercados a qualquer custo. É a imersão do capitalismo, o qual pode abalar a liberdade de imprensa e estabelece controles inimagináveis de grandes mídias, mantidas por aqueles que têm muito a esconder. E se esconde justamente porque o papel principal da mídia, ou pelo menos deveria ser esse, é possibilitar aos cidadãos o direito de receber informações relevantes a fim de que possam proceder as escolhas livres na definição dos rumos de seu país. Essas definições, se não correspondentes com o esperado por quem detém o poder, podem afetar diretamente sua estrutura. Na maioria dos lugares, e especialmente no Brasil, a violência contra jornalistas é caracterizada pela ação de milicianos, traficantes ou oligarquias políticas e fundiárias, que encomendam os crimes. Dessa forma, a força do crime organizado, em certas regiões do país, acaba por tornar arriscado o tratamento de temas como corrupção, drogas e tráfico de matérias-primas. E a pressão, por vezes estabelecida pela concorrência, ou mesmo pela busca da realização profissional, expõe o jornalista ainda mais e o faz arriscar a própria vida para ir a fundo em suas pautas. Foto: Tatiane Defiltro
Jornalistas vivem em um regime de terror, num Brasil dominado por traficantes e coronéis que, em muitas regiões, tornam o país como um dos mais perigosos para exercer a profissão no mundo. É clara uma disposição intimidatória, de tentar evitar que os jornalistas façam o seu trabalho, de tentar barrar a liberdade de imprensa dos veículos e, principalmente, dos profissionais. Normalmente, os jornalistas são vítimas de sua vontade de denunciar a ingerência, as violações de direitos humanos, o crime organizado e a corrupção. São vítimas do próprio sistema estabelecido, que deveria garantir a liberdade de expressão e a segurança, mas que fecha os olhos diante de autoridades corrompidas, e se mostra contrário aos próprios conceitos. O Brasil, vergonhosamente, é o terceiro país que mais registrou morte de jornalistas na América Latina, com 38 assassinatos, entre 2000 e 2014. É um dado alarmante, que mostra a realidade podre de falsa liberdade de imprensa. Você pode investigar o que quiser, mas se descobrir algo, vai morrer. Essa é a liberdade que se tem, ou seja, quanto menos se sabe, mais seguro se está. Mas aí, onde fica o dever do jornalista de apurar e investigar o que está acontecendo? Onde fica a essência do jornalismo de mostrar o que ninguém quer que seja mostrado? Fica escondido atrás das ameaças ao profissional e à família, atrás da necessidade do emprego e do salário. Fica a mercê de uma classe dominadora que estabelece o que pode ou não ser divulgado, e que descumprindo o que é imposto pode-se pagar um alto preço. São jornalistas, blogueiros, comunicadores sociais e colaboradores de veículos de mídia que morrem e, na maioria dos casos, não se descobre a motivação exata do crime. Até porque a motivação do crime é algo a ser escondido, e quem descobrir, talvez tenha o mesmo fim. É um ciclo vicioso, uma roda viva de vidas que se perdem em busca de um mundo digno. Vidas que são ceifadas pela simples utopia de melhorar a sociedade em que se vive, e que acabam sendo vítimas
Ei jornalismo, é hora de se assumir! Foto por: Guilherme Rachelle
Artigo: Guilherme Rachelle
Um dos maiores questionamentos da sociedade na última campanha política foi: por que a mídia não assume formalmente a sua preferência por um candidato ou candidata às eleições presidenciais? Na última eleição ficou evidente a forma imatura com que os veículos vêm atuando nas coberturas políticas no país. A necessidade de denunciar supostos crimes, para discretamente se opor ou apoiar um lado, começa a fragilizar a credibilidade do nosso jornalismo. A pergunta “Por que a mídia não assume?”, feita por Vera Magalhães, ombudsman da Folha de São Paulo no inicio de agosto, continua sem resposta, mas com a certeza fica a garantia de que as coisas continuarão do mesmo jeito. Os jornais americanos e europeus, a partir de seus princípios já estabelecidos, elaboram, antes mesmo da disputa presidencial inicial, uma espécie de declaração de voto. A antecedência com que é publicada é exatamente para que os leitores tenham uma breve noção do
tipo de cobertura que aquele veículo realizará no ano. A manipulação e a influência que podem ocorrer, caso esse apoio se dê durante a corrida presidencial, são os principais motivos desse posicionamento. A mudança que ocorreu com os veículos de comunicação, após a queda da ditadura, foi a última mudança significativa do jornalismo brasileiro. Os aspectos que podem ser analisados talvez
ou por ter fontes não muito seguras. Esse caráter irônico e subliminar de posicionamento utilizado por diversos veículos brasileiros mostra o quanto a nossa imprensa tem dificuldade em se ajustar às regras e buscar equilíbrio em suas publicações. Um exemplo é toda a especulação armada por trás da repercussão da suposta declaração do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, disparada pela platônica Veja. A revista, apesar de não definir devidamente o seu lado, assume um papel na função de “doa quem doer”. A necessidade de converter o maior número de pessoas a favor do que publica mostra o quão dissimulado e pueril é o nosso jornalismo. Os grandes grupos de mídia, por meio de seus conteúdos, impõem claramente um posicionamento com base na sua ideologia. As oscilações dos candidatos na eleições deste ano resultaram na perda do discernimento por parte de certos veículos. O jornalista, o espetáculo formado e as entrevistas ríspidas promovidas em cima dos presidenciáveis criaram uma espécie de falso autoritarismo dos comunicadores, motivado principalmente pela visão de poder que os profissionais assimilaram junto à população. Ou seja, o poder que inspeciona, avalia e denuncia o poder. Por isso, os jornalistas e o jornalismo brasileiro precisam recuperar sua força, aumentar a credibilidade. Esse propósito pode ser alcançado quando os veículos decidirem apoiar determinado lado, e pararem de utilizar das entrelinhas e
Necessidade de converter o maior número de pessoas a favor do que publica, mostra o quão dissimulado e pueril é o nosso jornalismo possam ser a falta de confiança que estes veículos têm em determinar a quem eles apoiarão. O que se viu na última eleição foi uma chuva de denúncias, que para muitos são desqualificadas e imorais. Muitas criticadas por faltas de provas
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dos recortes para elucidar uma situação. Ou que se empenhe em fazer ou se aproximar ao máximo do jornalismo baseado na neutralidade, na pluralidade das fontes e das opiniões, na apuração bem desenvolvida e na análise mais aprofundada dos fatos.
Foi dada a largada O “Jornalismo” não é moderno. O que é moderno é a forma como se faz jornalismo, a maneira pela qual se transmite a informação. A história da imprensa é antiga, e quem nunca ouviu falar de Johannes Guttenberg, aquele que aperfeiçoou a técnica de reprodução de textos por meio dos tipos móveis? Enfim, o homem que desenvolveu a tecnologia da prensa móvel utilizando caracteres avulsos, gravados em blocos de madeira ou chumbo. Mas será que podemos arriscar e dizer que a onda agora é o webjornalismo? Em meados dos anos 1970, o jornal The New York Times foi o primeiro jornal a disponibilizar serviços online, o News e Observer foi o próximo a aderir à nova onda tecnológica. Já em 1994, o San Jose Mercury News começou a fornecer gratuitamente os resumos de notícias via América Online, e logo após muitos jornais de todo o mundo foram se adequando a nova era digital. No Brasil, a primeira empresa jornalística a aderir ao novo meio de comunicação foi o grupo O Estado de São Paulo, mas o primeiro jornal brasileiro a fazer uma cobertura no espaço virtual foi o Jornal do Brasil, em 28 de maio de 1995. Hoje são muitos os veículos que utilizam a internet para a publicação de notícias. Talvez seja a praticidade da informação que esteja caindo nas graças do povo, e por conseqüência esteja transformando os hábitos da sociedade, deixando-a mal acostumada. A internauta Julia Zeni, de 26 anos, de Chapecó, diz: “Eu passo aproximadamente 12 horas por dia ligada no Facebook, já saí de vários empregos por ser privada
Diário Catarinense é o maior jornal em triagem do Estado de Santa Catarina
de usar o celular para entrar na internet, hoje trabalho com meu pai em uma loja de celulares, onde tenho acesso à internet 24 horas por dia e faço bom uso dessa liberdade, é o emprego do sonho esse”. Segundo a Pesquisa Brasileira de Mídia, divulgada em julho deste ano, a internet é o segundo meio de comunicação mais utilizado, perdendo apenas para a TV. De acordo com a pesquisa, a internet é usada todos os dias por 26% dos entrevistados; a televisão é assistida diariamente, por 65% e o percentual de uso diário do rádio é de 21%. Já o dos jornais impressos é 6% e o de revistas semanais é de 1%. O levantamento do Ibope, instituto contratado por meio de licitação pelo governo federal, ouviu 18.312 brasileiros em 848 municípios. A internet é a mais nova fórmula revolucionária de comunicação. Esse meio digital conta com ferramentas que disponibilizam texto, áudio, vídeos e imagens, um kit completo e prático de informação. Outro fator que difere o webjornalismo é que suas páginas são alimentadas 24 horas por dia. Hoje os principais jornais de grande circulação no Brasil aderiram às notícias pela internet. Alguns dos jornais online apresentam a mesma diagramação do papel e têm páginas no Facebook e no Twitter. No ranking dos 10 maiores jornais do Brasil, encontramos: a Folha de São Paulo, de São Paulo, com circulação de 332.354; O Globo, do Rio de Janeiro, com 299.821; Super Notícia, de Belo Horizonte, com 292.998; O Estado de São Paulo, com 233.415; Daqui, Goiânia, com 215.671; Extra, do Rio de Janeiro - 203.537; Zero Hora, de Porto Alegre - 181.772; Diário Gaúcho,de Porto Alegre - 150.214; Correio do Povo, também de Porto Alegre - 134.998; e o Aqui, de Belo Horizonte, com circulação de 129.674. O editor do jornal Correio do Povo, Tiago Medina, fala sobre a edição online do jornal: “O Correio do Povo é o mais antigo da capital gaúcha, mas a versão online ganhou forma em 1997 e consolidou-se em 2009, quando o site do jornal passou a atualizar as notícias constantemente. Segundo ele, a equipe do jornal online
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Foto: Kamila Scolpel Pinto
Artigo: Kamila Scopel Pinto
é composta por 10 jornalistas e a meta é conquistar cada vez mais leitores e para isso se busca manter a credibilidade. “Há menos de um mês passamos por uma reformulação, para disponibilizar mais conteúdo na capa do site, além de nos fazermos presentes em redes sociais, como Twitter e Facebook”, informa o jornalista. O Diário Catarinense também é o maior em triagem de Santa Catarina. Possui uma página online com notícias atualizadas 24 horas por dia. Impresso, esse jornal foi implantado em 1986, com sede em Florianópolis, e depois marcou seu nome na era digital. O DC foi o primeiro jornal a usar computadores na redação, ao invés de máquinas de escrever, e desde então vem na corrida pela primeira colocação no quesito informação rápida e precisa. Todos os meios de comunicação, sejam eles impressos, TV, rádio, revista e online, têm seus espaços garantidos. Talvez não com a mesma dimensão numérica que o outro, mas com a mesma intenção: a de levar a informação com credibilidade e respeito até o leitor. Cada veiculo tem suas características, mas mesmo assim precisam inovar na hora de comunicar, afinal, a corrida contra o tempo e em busca de leitores ávidos continua.
Jornalismo: caso de amor, vida e morte A receita para o sucesso profissional todos sabem: fazer o que se ama. Porque tudo que é feito com amor se torna leve e gratificante. Assim como dizia o filósofo chinês Confuncio: “Escolhe um trabalho de que gostes, e não terás que trabalhar nem um dia na tua vida”. Com a profissão de jornalista não deveria ser diferente. É preciso, sim, muito amor, desde a escolha do curso no vestibular, até a prática do dia a dia. Além do que, ao contrário de muitas outras profissões, nós jornalistas formados, teremos que concorrer a vagas junto com pessoas que nunca tiveram uma aula sequer de graduação. Porque, ao ver da maioria das pessoas, o ato de informar é fácil e o de opinar também. Porém, só quem realmente se prepara para exercer essa profissão sabe o quão complexo é o “fazer jornalismo”, e que essa atividade vai muito além de sentar na frente do computador e escrever algumas palavras soltas sobre algum fato. Todos devem saber que o que se escreve em jornais, revistas, o que se fala na rádio ou o que passa na televisão pode impactar a sociedade, causar ódio, amor, temor, devoção, ressentimento e até raiva. E é aí que mora o perigo. Um estudo divulgado no dia 30 de setembro último, feito pela ONG Repórteres Sem Fronteiras (RSF), aponta o Brasil como o terceiro país com o maior número de mortes de jornalistas na América Latina, com 38 mortos desde o início do ano 2000. Esse número é alarmante. O Brasil conseguiu passar até o México, que é considerado um país muito mais violento. Ainda conforme esse estudo, em 2013 houve a morte de cinco jornalistas, todos eles envolvidos com o que a ONG chama de “primavera brasileira”, que foram as manifestações realizadas no mês de junho, quando milhares de pessoas foram para as ruas reivindicar por algumas mudanças no país. Assim como a repressão dos policiais diante das pessoas envolvidas foi grande, essa pressão também atingiu os jornalistas. Também alguns manifestantes não entendiam o real papel do jornalista dentro desse contexto e usavam da violência verbal e física para afastá-los,
Foto: Laisa Dal Forno
Artigo: Laisa Verona Dal Forno
pois não se viam bem representados em jornais, rádios e televisões. Com isso, 114 jornalistas acabaram feridos. Porém, as mortes dos cinco jornalistas foram todas ligadas direta ou indiretamente à polícia. Isso significa que é a volta da ditadura? Não. Não significa isso, sabe por que? Porque indireta ou diretamente sempre fomos controlados e censurados. O que nós temos é a doce ilusão de que vivemos em um país livre em que temos o direito de ir e vir. Mas isso não acontece. E essa conclusão se tira através de toda a violência que ocorreu e ocorre contra os jornalistas, essas pessoas que fazem o máximo para retratar a realidade e informar o povo de maneira direta, objetiva e imparcial. É uma vergonha ver as pessoas que deveriam ser nossos olhos, diante dos fatos em que não conseguimos estar presentes, sendo mortos pelo simples fato de realizar o seu trabalho. Todas as pessoas, sem exceção, têm o direito à vida. O triste é ver que assim como a maioria dos direitos que nos são dados, ou conquistados, isso ocorre apenas no papel, apenas na palavra e não na ação, ou seja, na proteção que se precisa no dia a dia.
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O que se escreve em jornais, revistas, o que se fala no rádio ou o que passa na televisão pode impactar a sociedade, causar ódio, amor, temor,devoção, ressentimento e até raiva. E é aí que mora o perigo
Jornalismo do futuro? Artigo: Eduardo H. Bender é que fazem a diferença. Muitas vezes, as matérias são publicadas contendo parte do contexto, em função da dificuldade de acesso a fontes. Porém, dificilmente uma entrevista bem-feita terá como resultado uma matéria incompleta.
Devido ao surgimento das novas tecnologias da informação, tem se discutido qual o futuro dos meios de comunicação tradicionais. O que tudo indica é que essa evolução não deverá se estagnar, e a atualização dos profissionais será fundamental O jornalista deve estar atento no momento em que faz as interrogações às suas fontes. Pode ser que o entrevistado queira se promover com a matéria, principalmente se está representando algum órgão público ou empresa privada, no sentido de mostrar somente o lado
positivo da questão. Assim, não há nada de errado em checar informações relacionadas a qualquer dúvida. Tudo depende da forma de abordagem e da condução da entrevista, ou da apuração do fato, além da fonte propriamente. A preparação do jornalista conta muito nesse caso, ou é o que mais conta. Dizer que o jornalista, hoje, procura o furo, é uma afirmação duvidosa. A lógica é que o jornalista é o mais preocupado com o furo. Mesmo que um determinado meio de comunicação não seja o primeiro a repassar a informação, deverá sempre publicar a notícia sob uma óptica de consistência, o que pode diferenciar em relação aos principais concorrentes, e a partir disso conquistar maior credibilidade do leitor. Os meios de comunicação estão cada vez mais próximos das pessoas, além da possibilidade do leitor aprofundar a informação de várias maneiras. Daí, o desafio está em escrever bem, ser claro e preciso. O leitor de internet, por exemplo, que busca informação cotidiana, quer um texto mais direto. Ele busca de forma rápida entender o que aconteceu ou o que está acontecendo. Já o leitor de jornal, pode consumir textos maiores, desde que a disposição na página seja atraente e o conteúdo lhe chame a atenção. Ele quer a matéria que provoque e o faça ficar atento. O desafio, hoje, é saber usar melhor as palavras e ter a criatividade para produção do conteúdo jornalístico. Foto: Eduardo Bender
O monopólio da comunicação, embora ainda esteja nas mãos dos grandes veículos, começa a apresentar novos caminhos. Hoje, com a internet e as redes sociais, é possível ter contato rápido com os novos fatos e também dar voz a quem antes não tinha espaço. Se antes era necessário esperar as informações proporcionadas pelos meios de comunicação para ficar informado, hoje qualquer um pode gerar conteúdo e acabar pautando os veículos de comunicação. Essa facilidade levanta alguns questionamentos: Como produzir notícias hoje? Podemos falar que a mídia tradicional ainda agenda os assuntos que serão discutidos pela sociedade? Esses questionamentos estão presentes no cotidiano jornalístico. Para o jornalismo tradicional permanecer no mercado, deverá fazer o diferencial e buscar o aperfeiçoamento. Frustrar a expectativa do leitor é ruim para o profissional e mais ainda para o veículo de comunicação. Ninguém procura por um conteúdo incompleto duas vezes. A busca pela informação não depende apenas do jornalista. Porém, a responsabilidade de publicar uma informação incompleta ou mal apurada é do profissional, prioritariamente, depois é do veículo. Para o desenvolvimento de uma boa matéria, é necessário o levantamento correto das informações, para o qual as fontes são fundamentais. Elas deixaram apenas de contribuir na apuração da notícia. Passaram também a produzir e oferecer conteúdos para produção jornalística, levando a mídia a divulgar os seus fatos e a manter seus interesses em relevância. No decorrer da profissão, o jornalista irá se deparar com fontes que dificultam o acesso à informação. Especialmente quando o assunto é pessoal e referente a atraso de pagamento, dívida, resultado negativo, acusação em processos judiciais, por exemplo. O jornalista não divulga somente o certo e o bom. Mesmo quando a informação tem como objetivo envolver a comunidade, ou provocar reflexão através do texto quanto ao que poderia ser diferente, existem fontes que não facilitam. Nesse caso, mais uma vez, a bagagem de conhecimento do profissional sobre o assunto, atrelada à interpretação do fato,
Jornalista Mariana Dal Piaz, durante rotina de trabalho na redação do jornal FolhaSete e da Rádio Belos Montes
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Democratização da mídia: o espetáculo “grande mídia”. Estamos falando de qualquer pessoa ou grupo, independente da sua formação profissional, social e cultural, que sinta a necessidade de criar o seu próprio meio de se comunicar. Eis a questão: aos jornalistas, o que resta é um cenário de sobrevivência; continuar sujeitos ao monopólio dos grupos de comunicação, geridos, no geral, puramente por interesses comerciais, ou entrar em cena para medir forças e disputar espaço com as mídias alternativas.
Não é de hoje que a Rede Globo se tornou sinônimo de manipulação para as pessoas. Apesar dessa rede ocupar o posto central neste enredo, a população precisa compreender que o espetáculo não é apenas comandado pela “globalização” da televisão Dizem as más línguas que este projeto tramita há tempos no Congresso entre uma modificação e outra. No entanto, alguns jornalistas e muitas pessoas comuns não possuem uma visão clara do que exatamente se trata o denominado
“Marco regulatório da mídia” e como, de fato, o modo de passar informação que conhecemos hoje se modificaria com a aprovação do mesmo. O palco está armado, o debate está no ar e a entrada é gratuita. Porque existe um desconhecimento quase geral dos efeitos e consequências de um assunto que discute não apenas a democratização dos meios de comunicação, como também a liberdade de imprensa no Brasil. O debate precisa se diluir e alcançar outras esferas, para que a mídia passe a ser pensada tanto por quem a faz, como também por quem a consome. Infelizmente, este tema acaba sendo diminuído apenas ao desejo de destronar a família Marinho. Não é de hoje que a Rede Globo se tornou sinônimo de manipulação para as pessoas. Apesar dessa rede ocupar o posto central neste enredo, a população precisa compreender que o espetáculo não é apenas comandado pela “globalização” da televisão, e que, sim, existe uma estrutura e um sistema macro de poder econômico e ideológico em torno de toda a mídia brasileira. Já em relação ao papel dos meios de comunicação, talvez a grande resposta para essa nebulosidade toda que têm permeado o debate em torno da democratização da mídia esteja resumida em apenas uma frase do sociólogo e cientista político Venâncio A. Lima: a mídia brasileira não discute a si mesma. Foto: Daniela Silva
Artigo: Daniela Silva As cortinas do palco se abrem, para contar uma história que já está defasada e gasta. Porém, ela não é antiga e está longe de ser completamente esgotada. Se tornou um tema clássico, mas tão atual quanto suas ferramentas. O novo, o tecnológico, a internet, a democratização da mídia. Eles estão na boca da sociedade, para o bem e para o mal. Será utopia pensar na existência de uma imprensa livre dos monopólios comerciais? Não em uma sociedade que aparentemente se cansou da Rede Globo. Ao falarmos mais especificamente de televisão, nos deparamos com telespectadores insatisfeitos, que jogam sua programação em um posto de qualidade condenável. As pessoas reclamam do baixo calão de seus “realities shows” e dos enredos medíocres de suas novelas, que somente fazem massificar e estereotipar a cultura brasileira. Um conteúdo que nos é enfiado goela abaixo no horário nobre, enquanto temas de maior interesse e relevância são reduzidos e subjulgados a horários isentos de audiência. Diante dessa indignação geral e nunca tão exaltada quanto hoje, surge a necessidade da compreensão das pessoas acerca da transformação que a existência de um marco regulatório da mídia poderia trazer a esta caixinha preta, presente em cerca de 96,9% dos lares brasileiros. Durante a corrida à Presidência da República deste ano, este tema apareceu inúmeras vezes em meio à campanha e aos pronunciamentos. A impressão que ficou é de que, tanto para aqueles que disputavam o cargo de maior importância do Brasil, quanto para a população, o marco regulatório é uma medida de interesse coletivo e de relevância pontual para a democracia. No entanto, eis a dualidade. A liberdade e a lei. O que significa, de fato, democratizar a mídia. Como defender a liberdade de imprensa, através do apoio a um marco regulatório que obriga a pluralizar. Defender o fim da ditadura comercial, sem cair na ditadura do estado. Disseminar conteúdo de qualidade ou apenas se preocupar em gerar conteúdo para todos os públicos. Junto a essa imprensa livre, juntam-se as mídias alternativas, o midialivrismo. A informação que encontrou espaço na internet e que nasce de dentro das comunidades, feita por tribos que não se sentem representadas e não possuem voz na chamada
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A vontade de ter um canal de comunicação diferente, fácil e acessível inserido no cotidiano das comunidades, faz brotar uma ideia: a comunicação comunitária. Esse tipo de mídia é uma interlocução da e para as comunidades, para grupos geralmente excluídos diretamente da midiatização pelos meios de comunicação tidos como convencionais, como rádios, TVs, revistas e jornais. As rádios comunitárias são hoje um tipo de mídia que obtém maior representação em grupos em termos de abrangência midiática. Atuam com o propósito de trazer o foco para as comunidades, onde as mídias não são convencionais, porque forma imagens, fala para milhões, é veloz, não possui fronteiras, é simples e é barata, e está bem perto. As rádios comunitárias no Brasil são emissoras de caráter público, sem fins lucrativos. Desempenham importante papel no processo de conscientização e mobilização social sobre questões relativas à vida e segmentos da população descriminada socialmente. A história desses meios é marcada por debates e desentendimentos entre o Estado, empresários da comunicação e sociedade. O Estado defende a regulamentação da comunicação, os empresários a comunicação como um produto à venda e restrito à classe dominante. Já para a sociedade, a comunicação é um bem que deve ser partilhado para refletir as necessidades do povo. O surgimento das rádios comunitárias, muitas vezes citadas preconceituosamente como “clandestinas” ou “piratas”, deu-se no início na década de 1970, numa época em que o regime militar estava em vigor e os meios de comunicação permaneciam nas mãos de grupos privilegiados. A primeira experiência foi a Rádio Paranóica. Seus idealizadores eram dois irmãos, mas os contrastes e a escassez de liberdade daquele tempo resultaram em um afrontamento para os militares. Porém, o que parecia ser uma simples brincadeira resultou em um instrumento de resistência pela democratização dos
Uma onda no ar meios de comunicação no Brasil. Elas foram criadas e operadas pelos movimentos populares a fim de divulgar as demandas sociais que envolviam os segmentos menos favorecidos da sociedade. A transmissão de programas por alto-falante também foi e continua sendo, em muitos locais, o veículo de comunicação a que as organizações comunitárias tiveram acesso para poderem levar suas mensagens aos habitantes de determinados lugares. A luta pela legalização das rádios livres no Brasil durou aproximadamente 20 anos. Através da lei nº 9.612, de 19 de fevereiro de 1998, todas as emissoras chamadas como “piratas” pelas rádios comerciais ganharam um marco legal para a proteção de suas transmissões e o reconhecimento do governo brasileiro. Consideradas como legítimas, após a legalização uma possuem a função social importante no processo de convivência e desenvolvimento comunitário. É uma história de obstáculos, vontade e perseverança que demonstra a capacidade de realizar o que as comunidades demandam. São vistas e engajadas nas atividades comunitárias e portadoras de um potencial que contribui para o desenvolvimento social e para a construção da cidadania. Para serem chamadas “comunitárias” algumas características devem ser consideradas em sua programação. Por exemplo: diversificação dos meios; conteúdo crítico; finalidade educativa e cultural; não ultrapassar o alcance máximo de um quilômetro de raio; oportunizar a difusão de ideias; tradições e hábitos sociais; prestar serviços de utilidade pública; garantir a gratuidade dos horários da sua programação para todos os cidadãos; respeitar os valores éticos e sociais da pessoa e da família; inserir propaganda cultural a não ser sob a forma de apoio cultural; e sempre desenvolver a integração da comunidade atendida. Segundo Denise Viola, da Rede de Mulheres da Associação Mundial de Rádios Comunitárias (Amarc), “todas as comunidades organizadas e entidades sem fins lucrativos devem ter o direto de
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Ilustração: Daiana Brighenti
Ensaio: Daiana Brighenti
fundar emissoras sem limites arbitrários ou pré-estabelecidos. Para isso, é necessário estabelecer outro conceito comunitário, um que não esteja restrito à localização geográfica”. Entretanto, um obstáculo imposto no Brasil para as rádios comunitárias é a proibição de realizar publicidade, o que prejudica a sustentabilidade financeira das emissoras. A comunicação concebida como processo simples e livre se transforma em dominante e monopólio nas mãos dos grandes conglomerados da comunicação. Para o país, a radiodifusão comunitária significou fomento para a democratização da comunicação e que serve, hoje, de reconhecimento de novas habilitações para comunitária. De acordo com o Ministério das Comunicações (2010), existem 4.020 canais registrados para rádios comunitárias em todo o país. Em Santa Catarina, o número é significativo: são 170 rádios comunitárias Uma emissora comunitária trata-se de uma pequena estação de rádio, que oferece para a comunidade um canal de comunicação inteiramente dedicado a ela. O que importa não é o meio de comunicar nem a propriedade da emissora ou do jornal, mas a maneira como ela é gerida e os resultados de seu trabalho para a comunidade. Uma boa rádio comunitária é aquela que a comunidade se faz presente dentro do estúdio e não somente no radinho de pilha. A dimensão cidadão é o ponto forte.
Apoio cultural ou comercial? Artigo: Abraão Prudente Conforme a lei nº 9.612, de 19 de fevereiro de 1998, as rádios comunitárias devem operar com baixa potência e cobertura restrita. O serviço se limitada ao máximo de 25 watts ERP, com a altura do sistema irradiante não superior a trinta metros, atingindo o raio de um quilômetro. Realmente não dá para entender por quê inventaram isso, se há rádios passando dos limites e chegam às cidades vizinhas, até com sinal local. Apesar de não ser cobrado ás rádios comunitárias uma taxa de impostos, os anúncios devem ser feitos em forma de apoio cultural e não é permitido anunciar marca e nem o preço de um produto. Como é proibido, quem está fazendo isso pode levar uma multa, e corre o risco de o Ministério das Comunicações fechar a rádio. Porém, isso parece estar somente no papel mesmo, pois é raro encontrar uma emissora comunitária que segue todos os critérios. No Oeste de Santa Catarina, várias rádios comunitárias desenvolvem Foto: Tyno Moraes/Rádio Cidade FM
As rádios comunitárias vêm causando ameaça para as emissoras comerciais em todo o território nacional. Com o surgimento desse novo meio de comunicação, o rádio AM e FM perdeu um pouco de espaço, além dos pequenos anunciantes, principalmente nas cidades do interior, onde nem sempre são denunciadas as irregularidades. Por outro lado, o serviço de Radiodifusão Comunitária contribui para o desenvolvimento de uma comunidade, possibilitando a divulgação de ideias e promovendo a cultura, as tradições, os hábitos sociais. Enfim, ajudando nos serviços de utilidade pública, entre outros benefícios, além de oportunizar o aprendizado para novos radialistas e jornalistas. Os profissionais que atuam na área, muitas vezes, não têm carteira de trabalho assinada e ainda ganham pouco e trabalham muito. Aqueles que mais se destacam recebem propostas melhores das próprias rádios comerciais concorrentes.
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No Oeste de Santa Catarina, várias rádios comunitárias desenvolvem papel fundamental para ajudar no crescimento da comunidade um papel fundamental e de extrema importância para ajudar no crescimento da comunidade, como uma voz ativa do povo. Grande parte não recebe investimento do poder público municipal ou estadual, muito menos do governo federal para se manter no ar. A realidade deveria ser outra, já que até em nossa região há comunitárias que cometem algumas irregularidades. Seria necessário investimento para não acontecer a concorrência desleal. Outra possibilidade seria liberar a divulgação dos preços, mudando a legislação, o que, certamente, iria contra as emissoras comerciais, que teriam maior concorrência. No cenário da comunicação radiofônica comunitária, pouco se faz para ter projetos que beneficiem os meios de comunicação hoje em dia. Se as comunitárias são fracas e ainda atuam de maneira irregular, é culpa do governo, pois libera concessões sem medir o tamanho das consequências. E agora, o que poderemos esperar da nova fase do rádio, da migração do rádio AM para FM? Se já era confuso, poderá ser uma verdadeira lambança na comunicação radiofônica. Que pelo menos a Associação Brasileira de Radiodifusão Comunitária (Abraco), ou a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), possam agir de verdade por uma regulamentação justa.
Um novo jeito de fazer rádio Artigo: Douglas Scherer
Durante algum tempo, com a criação da TV como meio eletrônico, muitos falavam que o rádio iria acabar. Porém, vem ano e passa ano e o rádio se renova, a essência e a grande audiência continuam. Mesmo com a concorrência dos novos meios, a magia não se acaba. Em Chapecó, ultimamente, um programa se destaca e o estilo vem sendo adotado em outras emissoras. É o programa Som e Café News, da Rádio Oeste Capital FM, na frequência de 93,3. Tem a interatividade como a maior virtude. As manhãs na Oeste Capital FM possuem um tom especial, com direito a música, oferta de empregos, prêmios e a participação dos ouvintes. O Som e Café News informa, discute e até mesmo anima a manhã dos ouvintes que sintonizam em 93.3. O principal motivo do sucesso é o fato de as pessoas terem a oportunidade de opinar sobre tudo, por isso as opiniões e reclamações são centenas todos os dias. Os comunicadores ajudam os ouvintes, que participam enviando mensagem através de SMS, Facebook e, principalmente, pelo Whatsapp. As mensagens são de diversos temas, mas os principais tratam de problemas que o cidadão enfrenta no dia a dia. Os apresentadores narram os fatos
e em seguinte opinam. Após a audiência do programa aumentar, os governantes começaram a acompanhar e dar uma resposta ao público. Isso trouxe maior credibilidade para o programa e a emissora.
Programas com interação do ouvinte ganham força na cidade de Chapecó Com anos de rádio, o comunicador Rafael Henzel é um dos nomes mais conhecidos do rádio chapecoense. Antes de iniciar com o programa, o jornalista, já atuou como apresentador em Chapecó mesmo, na RBS TV e na RIC Record, entre outros veículos de comunicação. Além dele, o programa Som e Café News conta com a apresentação dos comunicadores Ory Rodrigues e Edu Santos. Com o sucesso que o programa Some
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Café News alcançou, surgiram na região outros programas com o mesmo estilo. Um deles é o programa Ronda da Cidade, que estreou no inicio de abril deste ano e vai ao ar de segunda a sexta-feira, das 22h às 24h na Rádio Super Condá AM 610. De acordo com o apresentador do programa, Junior Spindola, o Ronda da Cidade surgiu a partir da ideia de fazer um novo jeito de jornalismo à noite na Rádio Super Condá. Com a futura migração das rádios AM para FM, a direção da Rádio Super Condá observou a possibilidade de organizar a programação e colocar jornalismo na noite. A idéia foi criar um programa dinâmico, com uma característica diferente do que a rádio já apresentava e utilizar as ferramentas tecnológicas de interatividade. Nenhum outro programa da rádio Super Condá utiliza o Whatsapp, apenas o Ronda da Cidade. É justamente essa interação com o ouvinte o ponto forte do programa. Além do Som e Café News e do Ronda da Cidade, foi criado há pouco tempo, na Antena 1 FM, um programa com o mesmo estilo. O diferencial desse meio é utilizar o ouvinte como repórter, comentarista, ou seja, dar voz e vez para quem ouve.
Jornalistas e o processo eleitoral Artigo: Camilla Constantin
Jornalismo político brasileiro ainda é extremamente carregado de opinião tendenciosa, o que transparece, muitas vezes, na voz, e, principalmente, no semblante de cada jornalista
Durante as eleições de 2014, alguns veículos tornaram-se alvo de críticas durante a cobertura política. A revista Veja, por exemplo, foi amplamente criticada por uma parcela da população em relação ao modo de tratamento das notícias, pois tornava todo o seu conteúdo em denúncia contra o PT. A Rede Globo também foi alvo de críticas em relação às perguntas feitas para os presidenciáveis. A política deixou de ser tratada como notícia de interesse do eleitor para se tornar um verdadeiro palco publicitário para os candidatos. Essa distorção contribui para que o público se mostre cada vez mais desinteressado na cobertura eleitoral. Infelizmente, o jornalismo político brasileiro ainda é extremamente carregado
Foto: Camilla Constantin
Durante o período eleitoral, a função do Jornalismo foi debatida intensamente. De modo geral, a imprensa ocupa um papel importante para que a população possa conhecer os candidatos e posteriormente fazer sua escolha. Espera-se da mídia uma postura ética e séria, de forma a levar conhecimento para o público sobre o perfil dos candidatos, partidos e propostas. A imprensa é o ponto fundamental para a sociedade conhecer o processo político e entender o contexto em que estão sendo realizadas as eleições. Um jornalismo feito com responsabilidade, feito por profissionais éticos e qualificados são condições básicas para o fortalecimento do jornalismo político no país. Porém, não é o que vemos diariamente nos veículos de comunicação. Muitas vezes, a imprensa está preocupada apenas em defender seus interesses e, infelizmente, essa tem sido uma marca forte do jornalismo no período eleitoral. de opinião tendenciosa, o que transparece, muitas vezes, na voz, e, principalmente, no semblante de cada jornalista. As pesquisas eleitorais podem contribuir para o estabelecimento do debate cívico. Entretanto, a importância das pesquisas não elimina a necessidade do seu aprimoramento. O problema está em apenas divulgar o resultado das pesquisas, sem o mínimo de interpretação. Por isso, é preciso uma cobertura de qualidade e aprofundamento. O papel do jornalista é ouvir as pessoas, conhecer suas queixas, identificar suas carências e cobrar soluções dos candidatos. Em meio a algumas coberturas altamente criticadas, a jornalista Renata Lo Prete, comentarista política no Jornal das Dez, da Globo News, mostrou um desempenho forte durante o período eleitoral. Alexandre Garcia, também da Globo News, ganhou destaque ao debater com políticos e autoridades temas de interesse publico, como segurança, a questão agrária, o projeto Fome Zero e outros assuntos importantes esquecidos nas demais entrevistas, como a prostituição infantil.
O papel do jornalismo político nas eleições é justamente esse. É preciso mostrar diferentes temáticas e, mais do que isso, as diferenças entre o discurso dos candidatos e a realidade. Durante esse período podemos acompanhar campanhas milionárias e promessas irrealizáveis por parte dos candidatos. Tudo isso visando seduzir o grande público, mas, no fundo, vazio de conteúdo e carente de seriedade. Nesse contexto, os jornalistas são, ou deveriam ser, o contraponto a essa tendência.
Jornalismo na Pauta - Curso de Jornalismo/Unochapecó
Política deixou de ser tratada como notícia de interesse do eleitor para se tornar um verdadeiro palco publicitário para os candidatos. Essa distorção contribui para que o público se mostre cada vez mais desinteressado na cobertura eleitoral.