Jornalismo Na Pauta 21 - 2015/2

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Jornal laboratório do quinto período do curso de Jornalismo

- Ano Edição 21 5 1 Julho/20

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Programa televisivo estadual é produzido em Chapecó Foto: Matheus Graboski Casanova

Página 20

Página 2 Foto: Maurício Tonetto, ZH

Charge: quando a brincadeira com assuntos sérios vira ofensa Páginas 4 e 5

Profissionais abordam desinteresse por eventos e expressões culturais Páginas 2 e 3

Emoção a flor da pele durante uma cobertura jornalística Páginas 6 e 7

Indispensável: Assessoria de Comunicação assume papel crucial nas prefeituras

Carlos Wagner fala da trajetória como repórter do jornal Zero Hora por 31 anos

Páginas 14 e 15

Páginas 8 e 9


Fecham-se as cortinas: o jornalismo cultural sai de cena Jornalista e artistas abordam a desvalorização da área nos veículos de comunicação

Por Liziane Nathália Vicenzi

Um espetáculo de dança, a produção de uma peça de artesanato, a apresentação de um coral, capoeira nas ruas da cidade, a banda municipal que rufa os tambores, a estreia de uma peça de teatro. Tudo isso não vai estar na capa do jornal amanhã. A avaliação pessimista é sobre a situação do Jornalismo Cultural, que na maioria das vezes é esquecido pelos veículos de comunicação. A área tem como objetivo provocar reflexões sobre a cultura, com aprofundamento, aspectos históricos e características de cada produção. Daniel Piza (1970-2011), no livro “Jornalismo Cultural”, escreve que o marco do início desta área é 1711, quando dois ensaístas ingleses, Richard Steele (1672-1729) e Joseph Addison (1672-1719), fundaram uma revista diária chamada “The Spectator”, em português “O espectador”. No Brasil, essa área ganhou força apenas no final do século XIX, com o escritor Joaquim Maria Machado de Assis, que na época começava a carreira como crítico de teatro. Dois séculos depois, milhares de pessoas no Brasil não estão acostumadas com as expressões culturais, diferente do que ocorre em países europeus. A afirmação é da gestora de cultura de Xaxim, formada em Artes Cênicas pela

Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Daniela da Silva. Segundo ela, na Europa as pessoas costumam lotar os teatros. “No Brasil, algumas pessoas consomem novelas, como quem come pão. Os olhos e os ouvidos se acostumam com esse tipo de produção. Por isso, esse espectador não consegue ir para um teatro e ser tocado por essa arte, porque não é o mesmo padrão artístico”, declara. A mídia valoriza atualmente os eventos rotineiros, que ocorrem todo final de semana. Daniela aponta o exemplo de shows, como mais valorizados do que um trabalho cultural produzido por uma escola. A profissional acredita que existe uma mídia mercantil que produz conteúdo sobre o que garante lucro, e não para algo que pode provocar reflexões nas pessoas. “Vivemos com uma mídia mercantil que valoriza um show no final de semana, mas esquece de valorizar artistas, artesãos, aqueles que tocam viola ou que contam ‘causos’. Isso vai se perdendo e isso é cultura”, reforça. Outro protagonista da valorização da cultura é o maestro Rafael Vargas. Com formação em música e pós– graduado em Música e Práticas Sociais pela Censupeg, ele é regente de coral e orquestra há 25 anos. Morador de São Lourenço do Oeste, ele acredita que o trabalho cultural que realiza, em todos

estes anos ainda não é valorizado pela imprensa local e regional. “É uma pena abrir um jornal, ouvir rádio ou assistir televisão e não ver nada sobre jornalismo cultural. É só o conveniente e não o necessário para o crescimento cultural e intelectual das pessoas”, afirma. Conteúdos sobre Jornalismo Cultural poderiam ser explorados pelos veículos de comunicação. Segundo o maestro, existem variadas atividades e expressões culturais na região. O problema, apontado por ele, é que os veículos de comunicação abordam mais matérias sobre divulgação de eventos, do que informação cultural propriamente. A dependência financeira também é citada como entrave para o Jornalismo Cultural ter destaque. “Enquanto os veículos de comunicação dependerem de propaganda e de matérias sensacionalistas para se manter, o Jornalismo Cultural não terá espaço. A arte e a cultura infelizmente não são valorizadas. Isso é muito triste pois é onde nasce toda a nossa origem, a nossa maneira de ser e de agir”, enfatiza o maestro. A dependência financeira também é citada como entrave para o Jornalismo Cultural ter destaque. “Enquanto os veículos de comunicação dependerem de propaganda e de matérias sensacionalistas

Expediente Jornal laboratório do quinto período do curso de Jornalismo (Opiniões expressas em textos assinados não representam a posição do curso ou da universidade)

Reitor: Profº. Odilon Luiz Poli Vice-reitora de Ensino, Pesquisa e Extensão: Profª. Maria Aparecida Caovilla Vice-reitor de Planejamento e Desenvolvimento: Profº. Cláudio Alcides Jacoski Vice-reitor de Administração: Profº. Antônio Zanin Diretor da Área de Ciências Sociais Aplicadas: Profº. Sady Mazzioni Coordenador do curso de Jornalismo: Profº. Vagner Dalbosco R. Attílio Fontana 591-E, Bairro Efapi, Cx. Postal 1.141, CEP 89809-000, Fone (49)3321-8254 / Chapecó/SC www.unochapeco.edu.br Disciplina: Impresso III (conteúdos de Jornalismo Interpretativo) Professor/editor responsável: Hugo Paulo Gandolfi de Oliveira (Jornalista/ MTE4296RS)

Redação: Alessandra Lara Zuanazzi Seidel, Ana Carolini Fragoso, Bárbara Cristina Milioransa Michailoff, Carlos Eduardo Guimarães Pereira, Carlos Miguel Benedetti, Cleberson Cagol, Cristiano Pinto Zamboni, Cristina Gresele, Dalvana Tremea, Daniel Paulus, Emily Midiã Machado, Gabriel Wildner Kreutz, Janaína Aparecida Chagas da Cruz, Janete da Costa Thies, Juliana Regina Matielo, Lidiane Pagliosa, Liziane Nathalia Vicenzi, Lucas Tadeu Lobor, Marina Folle Schielke, Marina Oliveira, Maristela Eli dos Santos, Matheus Graboski Casanova, Nádia Lidia Michaltchuk Cunha, Rafael Rodrigo Bressan, Simone Guimarães Pereira, Stefani Specht e Viama Baú. Coordenação Acin Jornalismo: Mariângela Torrescasana Assistente de editoração: Aline Dilkin Editoração eletrônica: Acin Jornalismo - Carlos Eduardo Pereira

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Foto: Liziane Nathália Vicenzi

Gestora de Cultura, Daniela Silva, destaca que as pessoas sempre vão ser tocadas pelos eventos culturais para se manter, o Jornalismo Cultural não terá espaço. A arte e a cultura infelizmente não são valorizadas. Isso é muito triste pois é onde nasce toda a nossa origem, a nossa maneira de ser e de agir”, enfatiza o maestro. Uma das saídas para a valorização do Jornalismo Cultural, segundo Rafael, seria ter mais profissionais interessados neste assunto, enfim, editores preocupados com a cultura da região. Ele aponta que há necessidade de mais conteúdos nos jornais para valorizar a expressão da arte. Segundo ele, com mais profissionais interessados em cultura, haveria mais interesse das pessoas.

Jornalismo precisa de apreciadores das expressões culturais Não é somente no encerramento do ano que os municípios do Oeste contam com apresentações culturais. O crescimento da área cultural é avaliado pela jornalista Lisiane Kerbes, formada pela Unochapecó em 2004.

Com o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) “Informações artísticoculturais: limitações e perspectivas de uma prática jornalística”, Lisiane explica que o objetivo foi traçar um paralelo de matérias artístico-culturais publicadas em jornais diários de Chapecó, com o resultado de informações coletadas em entrevistas com artistas do município. Em nível regional as produções de Jornalismo Cultural são fracas, mesmo proporcionalmente comparadas às produções em níveis estadual e nacional, nas quais os jornais têm páginas ou cadernos específicos para o tema. Na avaliação de Lisiane, a falta de cobertura de eventos culturais ocorre pelos jornais possuírem poucas páginas, sem especificidade para o tema. “As equipes reduzidas são um fator que impede de cobrir certos eventos, que acontecem à noite ou em fins de semana. Os repórteres se ocupam com outras pautas e, como cultura geralmente não vai para a capa, acaba ficando de fora”, explica. A jornalista aborda que explicar sobre o tema na universidade é um

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caminho para a valorização. Outra mudança, segundo ela, é que Chapecó cresceu na área cultural e que, com incentivo para as pessoas frequentarem eventos culturais, consequentemente haverá maior interesse pelo assunto. “Nos últimos anos, Chapecó cresceu muito na área cultural. Se tem gente que diz que Chapecó não tem evento, não tem teatros, não tem boas apresentações musicais, é porque está desinformado”, avalia a jornalista. O mercado cultural vive uma crise porque as pessoas não se interessam em presenciar os eventos culturais. Esse apontamento é da gestora de cultura em Xaxim, Daniela da Silva, para quem acreditar que as pessoas vão se apropriar destes gostos e enaltecer as expressões culturais no Oeste de Santa Catarina. “Eu odeio ouvir que não adianta fazer este trabalho cultural. Eu afirmo que não adianta se não fizer. Não precisa reunir milhares de pessoas. Tudo depende da proposta e do público que se quer atingir. Alguém sempre vai ser tocado com uma expressão cultural, isso é que importa”, declara Daniela.


Traços tênues, entre a seriedade e o humor Foto: Carlos Eduardo Pereira

Por Carlos Eduardo Pereira

Em novembro 2011, uma bomba incendiária foi jogada no escritório da Charlie Hebdo, horas antes de chegar às bancas a edição que possuia como capa uma sátira à Maomé Uma diferente forma de comunicar, transmitir informações com humor, sobre o cotidiano social e político da cidade, do Estado, do país ou do mundo. As charges são conhecidas pelos leitores brasileiros desde 1837, data da arte do pintor e poeta Manuel de Araújo Porto Alegre. Intitulada “A Campanha e o Sujo”, a arte circulou por 160 réis nas ruas do Rio de Janeiro, com uma sátira que ilustrava a denúncia do jornalista Justiciano José da Rocha sobre as propinas recebidas por um funcionário do governo ligado ao Correio Oficial.

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Pelas ironias apresentadas nos desenhos e texto e por retratar casos polêmicos, o uso das charges se tornou um meio de informar assuntos sérios em tom de brincadeira. Contudo, muitas vezes a brincadeira com assuntos sérios pode virar uma ofensa e até ocasionar tragédias. O atentado contra a revista satírica Charlie Hebdo, ocorrido em fevereiro deste ano, em París, é um dos exemplos de quando a brincadeira vira caso sério. No dia 7 de fevereiro, três homens armados com armas automáticas entraram na sede do


semanal. No ataque 12 pessoas morreram, das quais dois polícias e 10 jornalistas e cartunistas. As constantes publicações do jornal de charges hostilizando Maomé, o profeta do povo islâmico, teriam desencadeado a chacina. A publicação satírica vivia em estado de alerta desde 2006, quando veiculou uma série de charges que indignaram o povo muçulmano. Em novembro 2011, uma bomba incendiária foi jogada no escritório da publicação, no 11º arrondissement em Paris, horas antes de chegar às bancas a edição do Charlie Hebdo que possuia como capa uma tirinha de Maomé, no qual diz no balão de discuso: “100 chicotadas se você não morrer de rir”. No Brasil, também há exemplos de publicações de charges que ocasionaram ofensas. Em 2013, o chargista Marco Aurélio Campos de Carvalho foi afastado do jornal Zero Hora após a publicação de uma charge alusiva às vítimas da tragédia em Santa Maria. A charge polêmica retrata uma fila de estudantes no céu, diante de um prédio identificado como USP, “Universidade de São Pedro”. Da porta, São Pedro recebe e direciona os jovens conforme a especialidade: arquitetos, sala 5 com Niemeyer; gente da pedagogia, com Gilberto Freyre; medicina, sala 7 com Zerbini e assim por diante. “Toda a direção viu minha charge, mas só eu estou no refrigerador”, desabafou Marco, em entrevista para o site Coletiva. O chargista acrescentou que teve a defesa negada pelo Grupo RBS. “Até quem comete uma injustiça tem o direito de se defender. A RBS me negou esse direito”, afirmou. O editor-chefe do jornal Folha de Chapecó, Luiz Fernando Barp, explica que em caso de ofensa por parte de algum leitor, como no caso de Marco Aurélio, tanto o jornal, quanto o chargista têm a responsabilidade. Mas Luiz ressalta que no caso em que a ofensa seja sentida por alguém e apresentada apenas de forma verbal, cabe ao editor-chefe conversar com o ofendido e buscar uma solução para o problema. “Isto pode ocorrer apenas por meio do dialogo ou de forma que se faça uma correção ou pedido

de desculpa”, pontua. No entanto, no caso em que a acusação seja movida judicialmente, dependerá a quem ela for direcionada, à empresa ou ao chargista. “Em ambos os casos, a empresa utiliza do seu departamento jurídico para resolver o problema”, completa o editor.

“Posto uma ideia e, se der alguma repercussão, desenvolvo a charge a partir daquilo”, revela Zé Dassilva. Processo de publicação de uma charge De acordo com Zé Dassilva, chargista do jornal Diário Catarinense, o processo de criação de uma charge se inicia ao ficar atento ao noticiário o tempo inteiro. Ele conta que usa as redes sociais como um termômetro. O cartunista do jornal Folha de Chapecó, Alessandro Rosalino, avalia que todas as charges devam passar por um filtro, primeiro pelo chargista, depois pelo editor do jornal, sempre buscando não ofender nenhuma pessoa seja por escolhas políticas, culturais ou sexuais. “Algumas vezes é necessário descartar determinada charge pelo texto ou desenho”, destaca. O editor-chefe Luiz Barp explica que diariamente o chargista envia para a redação algumas charges já finalizadas, com base nos últimos acontecimentos nacionais e locais, ou mesmo datas comemorativas. “Cabe ao editor avaliálas e identificar qual das opções melhor se enquadra para a edição em que será veiculada”, ressalta. Após o envio do material pelo chargista, o editor-chefe utiliza de critérios éticos e jornalísticos para definir por sua publicação ou não. De acordo com Luiz, o processo de julgamento também se assemelha ao realizado diariamente em relação às matérias veiculadas, com base na linha editorial, interesse social e factualidade do conteúdo. “Entendo que assim como

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qualquer reportagem, a charge é um conteúdo jornalístico e deve ser analisada de acordo com os princípios éticos da profissão”, atesta.

Livre para expressão Após o caso da revista francesa Charlie Hebdo, muito se discutiu sobre até onde vai a liberdade de expressão, pois o jornal não abordava com publicações provocativas somente o terrorismo islâmico, mas também o catolicismo conservador, o Partido Comunista, a hierarquia judaica e a extrema direita. Na opinião de Alessandro, não houve exagero nas publicações do jornal, pois para ele “as charges têm um compromisso social de criticar os exageros da sociedade”. Porém, salienta que talvez a Charlie Hebdo não tenha tido a devida seriedade em relação ao radicalismo do povo islâmico. “Quando a opinião deixa de ser crítica e passa a ser ofensa já passou dos limites”, conclui. Já para Zé Dassilva, muito se discute sobre os limites do humor, mas, para ele, deviam ser debatido os limites da seriedade. No entanto, ressalta que as charges devem ter o mínimo de embasamento. “Não dá pra sair dizendo que alguém é corrupto sem ter a mínima evidência disso”, afirma. Para Luiz, apesar de qualquer deslize que possa ter ocorrido no caso, a agressão física não se justifica, pois existem outros meios legais para qualquer tipo de ofensa. “Creio que o veículo e o chargista devam sempre se colocar no lugar daquele que está sendo citado na charge e avaliar se a crítica, em forma de brincadeira, é de cunho pessoal ou com embasamento”, avalia. No Brasil, a Constituição Federal de 88, em seu artigo 5º, inciso I X, estabelece que é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença. No entanto, o responsável por notícias difamantes, injuriosas e mentirosas poderá ser responsabilizado por eventuais danos materiais ou morais gerados por suas alegações.


Desafios da profissão Foto: Rafael Bressan

Emoções e barreiras enfrentadas por jornalistas em coberturas de tragédias

Se o público que consome se emociona, o jornalista que produz também

Por Rafael Bressan

O dia 27 de janeiro de 2013 não amanheceu, em Santa Maria-RS, para 242 jovens presentes na boate gaúcha Kiss, vítimas que foram de um incêndio. Tragédia que arrasou não apenas a vida de familiares e amigos, mas sim de um país. O domingo, celebrado como um dia de alegria, dia em que milhares de brasileiros, apaixonados por futebol, vão aos estádios para gritar por seus times, mas então se calaram. Ou pior, gritaram! Mas de dor. Algumas horas a frente da boate estava ocupada por curiosos, familiares e amigos das vítimas desesperados, mas esperançosos por uma informação positiva. Ainda havia os envolvidos profissionalmente

com o caso, como policiais bombeiros e jornalistas. A tragédia ecoou no Oeste Catarinense. Quatro vítimas eram da região. No dia seguinte, o jovem repórter Murilo Souza, de 23 anos, foi encarregado pela sua emissora de televisão RIC SC, de Chapecó, da difícil tarefa de cobrir o funeral das quatro jovens catarinenses. Para Murilo, aquela segunda-feira não foi apenas mais um dia de trabalho. “Foi a primeira vez que chorei fazendo uma reportagem, acho que era impossível não se emocionar com a dor das famílias e dos amigos das vítimas”, revela o repórter. Ao chegar nos locais onde aconteciam os velórios

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e ver tamanha comoção, repórter e cinegrafista, juntos, decidiram não fazer imagens dos caixões. A alternativa foi ficar do lado de fora para fazer as entrevistas e saber mais sobre as jovens que se foram. “Maior dificuldade era chegar nos locais, abordar as pessoas, eu me sentia invadindo a privacidade nesse momento de luto e comoção.” Mesmo com um clima totalmente desfavorável, o repórter afirma que a emoção do momento não atrapalhou seu trabalho, pelo contrário, fez com que ele se tornasse mais sensível e humano. Assim deixou de tratar o fato apenas como uma notícia, uma pauta a ser cumprida. “Acredito que


cumprimos nossa missão acima de tudo com ética e respeito”, diz ele. Assim como Murilo, Luis Lopes, hoje apresentador do Jornal do Almoço pela RBS catarinense, em Chapecó, ainda jovem teve o compromisso da cobertura de um acontecimento trágico. Em 2008, o Vale do Itajaí foi assolado por uma grande catástrofe ambiental, tragédia que atingiu dois milhões de catarinenses, sendo que 135 perderam a vida. As chuvas começaram em setembro, mas o ápice foi em novembro. Como diz o ditado, “a hora mais escura vem antes do amanhecer”. De 19 a 26 de novembro, foram 1.007 milímetros de chuva, volume de água suficiente para abastecer uma cidade como Blumenau por 15 anos e nove meses. “A cobertura, em si, começou em novembro e somente terminou seis meses depois da tragédia. Foi uma experiência sem precedentes já que essa foi considerada a primeira grande tragédia climática do país,” esclarece Luis. A cobertura de desastres naturais tem muitas dificuldades, como o acesso às áreas atingidas, mas também tem o fator emocional. Famílias viveram o drama de ver casa, roupas, outros bens materiais conquistados com anos de trabalho, sonhos, e, principalmente vidas, serem arrastados pelas águas. Para o apresentador, a principal barreira “é se deparar com a impotência diante da força da natureza e da perda de vidas inocentes, principalmente crianças”. E é dentro desse cenário que o jornalista deve exercer, com excelência, sua função. Vencer os obstáculos físicos e psicológicos para levar informações verídicas ao maior número de pessoas possível. “Nesse momento é preciso ter consciência de que há um trabalho a ser feito e de que você é profissional. Porém, na qualidade de ser humano, relatar uma tragédia nunca é algo bom ou que se queira vivenciar. As marcas ficam e a gente não esquece”, atesta Luis.

No campo do drama Laion Espíndula, repórter que atua como setorista do globoesporte.com na cidade de Chapecó, saiu do campo de futebol para entrar no drama. Fez a cobertura de um múltiplo assassinato na Linha Fernando Machado, distrito de Cordilheira Alta. No dia 26 de fevereiro de 2015, em uma propriedade

do interior, foram encontrados seis corpos. A suspeita foi de que o pai teria matado a esposa, filha, sogro, sogra, cunhada e depois se suicidado. A barbárie comoveu a pequena localidade, situada a 17 quilômetros do centro de Chapecó. “Os assassinatos chocaram os moradores, havia um clima muito pesado. Em certo momento fui proibido de tirar fotos do velório”, revelou o jornalista. Como nos casos anteriores, a grande dificuldade relatada é a de abordar as fontes num momento extremamente delicado. “Tive certa resistência para escrever o perfil da Lana (jovem de 16 anos assassinada), mas com a pressão do chefe e da redação de São Paulo, tive que ir atrás. Conversei com as amigas dela. Acho que foi o pior momento. Ouvir a história de uma adolescente cheia de sonhos e ter sensibilidade e cuidado com as perguntas.”

Preparação nas universidades e nos veículos Nas grades curriculares dos cursos de Jornalismo há inúmeras disciplinas que buscam aprimorar as técnicas jornalísticas. Porém, na cobertura de um acontecimento trágico envolvendo muitos feridos, mortes e uma alta carga emocional, isso não é suficiente. Para os jornalistas Murilo Souza e Laion as universidades ficam devendo quando se trata de um preparo psicológico e emocional, pois nem todas possuem disciplinas que tratam da questão. “Lembro de alguns professores contando histórias e de algumas discussões sobre o limite do jornalismo na cobertura de uma tragédia, mas nada muito aprofundado”, comenta Laion. Já Luis Lopes pensa diferente: “Eu acho que na maioria das universidades já existem. Porem é algo inerente a profissão, só se aprende na prática”. Nos veículos de comunicação não é diferente. A preparação e instruções são para cuidados com os limites e com a ética jornalística. “Nunca houve uma preparação direta com um profissional, mas sempre recebemos orientações para que a gente não se arrisque, que saiba respeitar os limites e não forçar nada nesses momentos de maior comoção em que as pessoas já estão fragilizadas”, lembra Murilo.

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Após 31 anos de reportagens no jornal Zero Hora, repórter desfruta da aposentadoria Carlos Wagner conta como foi sua trajetória, experiências e as dificuldades que teve como repórter investigativo Por Janete Costa

Repórter gaúcho de Porto Alegre, que sempre trabalhou na área do Jornalismo Investigativo, ganhou mais de 35 prêmios, incluindo sete Prêmios Essos Regionais. Wagner também escreveu 20 livros até agora. Ele trabalhou no jornal Zero Hora e foi free lancer em algumas revistas, entre elas a extinta Manchete. Hoje está aposentado e nesta entrevista fala sobre a possibilidade de atuar como professor. Quando você identificou a vontade de ser jornalista e como foi essa escolha? Foi em 1970, aos 24 anos. Eu fui influenciado pelos caras da Cooperativa dos Jornalistas de Porto Alegre (Coojornal), uma proposta alternativa de trabalho da época. Na Coojornal, eu fui burocrata, motorista e acabei montando o departamento de circulação. Ela foi extinta no ano de 1980, mas deixou um legado muito legal que pode ser encontrado no livro, editado pela Libretos, “Coojornal - um Jornal de Jornalistas sob o Regime Militar. Sobre sua formação acadêmica: em que ano iniciou e concluiu o curso de Jornalismo? Entrei na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) em 1975 e passei por vários cursos, como Letras. Finalmente me formei em Jornalismo em 1983. Além do jornalismo, você concluiu mais algum curso acadêmico? Qual? Não, e lamento não de ter concluído o bacharelado em Letras, na UFRGS. Quais foram às dificuldades como estudante e qual a disciplina que você menos gostava no curso? A minha maior dificuldade foi a cadeira de fotografia, não gostava da

matéria. No mais, a universidade foi só festa, principalmente na Churrascaria Santa Helena, boteco lendário da minha geração que ficava nas proximidades da faculdade de comunicação da UFRGS. Como foi o início da sua carreira jornalística e qual foi sua primeira função? Comecei como repórter no jornal “Interior”, em Carazinho, cidade agrícola no Norte do Rio Grande do Sul. Depois fiquei de free lancer durante três anos em Porto Alegre, enquanto terminava a faculdade. De 1983 a 2014, fui repórter especial da Zero Hora, Porto Alegre (RS). Agora, aposentado, trabalho para a empresa Carlos Alberto Wagner & Reportagens. Escrevo livros de reportagens, faço palestras sobre Jornalismo Investigativo e pretendo dar aulas. Agora aposentado, com a possibilidade de se tornar professor, você atuaria em qual disciplina do Jornalismo? Gostaria de dar aulas sobre técnicas de investigação jornalística, um assunto que é minha especialidade. Quais as dificuldades de ser repórter e por quê do apelido “Puro-sangue”, dado nas redações ? A faculdade forma o jornalista. A lida diária o torna um repórter ou o transforma em burocrata de redação, editor. Escolhi o caminho mais difícil na profissão, ser repórter. O apelido “Puro-sangue” foi dado pelo jornalista Augusto Nunes, que então, em 1992, era diretor de redação da Zero Hora, para designar aqueles que eram reporteiros. Nesses 31 anos de RBS, como você

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avalia a experiência e o que lhe deixa mais saudades? Avalio de uma forma muito legal, rodar pela América do Sul e parte da África somando experiências e reportagens na minha formação e currículo foi muito gratificante. Sobre a saudade, eu vou ser bem sincero: não sinto. Acabou o meu período na Zero Hora.Nos textos que você escreve, como você classifica a valorização do que é informativo e do que é interpretativo? Eu acabo valorizando a informação e depois a interpretação, mas é muito relativo. Para deixar mais clara a minha posição sobre esta valorização vou citar um exemplo. No anoitecer de segunda-feira, dois agricultores foram mortos a pauladas e tiros por índios Caingangues em Faxinalzinho, pequena cidade agrícola no Norte do Rio Grande do Sul. Em duas linhas, eu dei a informação. As linhas a seguir vão ser a minha interpretação do que possa ter acontecido e o que irá significar o acontecimento no futuro do confronto entre agricultores e índios. Portanto, na maioria dos casos, o informativo vem sempre antes do interpretativo. O que você considera uma boa pauta no jornalismo investigativo? A caixa-preta do dinheiro do SUS. Quando se trata de alguma reportagem investigativa, qual a maior dificuldade na elaboração da matéria? As campanas, que consiste em ficar longas horas vigiando os envolvidos. Muitas vezes é preciso dormir dentro de carro, uma merda.Qual a sua opinião sobre a imparcialidade jornalística? É possível?


Foto: Maurício Tonetto, ZH

Uma grande mentira. O que se deve ser é ético, não mentir.Depois da reportagem “Os senhores do jogo do bicho gaúcho”, de 1993, você percebe se hoje, em 2015, há alguma mudança para melhor em relação a esse tipo de problema? No início sim. Mas depois os caras voltaram operar e se modernizaram. Na tua trajetória, há algum fato ou pequena história que você achou engraçada ou lamentável, exercendo a profissão de repórter? Tem muitas histórias. Certa vez, um cara, que havia sido denunciado em uma reportagem minha, me ligou na redação e ameaçou: - Vou te processar e tirar todo o teu dinheiro. Depois vou mandar te matar, canalha. Eu respondi: - Chegou tarde, as minhas exmulheres já me pelaram e também vivem me ameaçando. O cara riu. Qual foi o prêmio que mais te emocionou e por quê? Sinceramente, eu não sei. Pelo singelo motivo de acreditar que depois que se publica um trabalho tudo pode acontecer, até se ganhar um prêmio. Além do Português, você fala um outro idioma fluente? Portunhol, ah ah ah ah ah ah! Você acredita que o jornal impresso pode perder sua importância por causa dos meios online? Eu acredito que por muitos anos o papel e a internet vão andar de “mãos dadas”. Com a evolução da tecnologia, como você avalia a liberdade de expressão neste momento do Jornalismo? Creio que o repórter vive o seu maior momento de liberdade de imprensa no Brasil e em outros países do mundo. A plena liberdade foi trazida pelas novas tecnologias que nos permitem ter publicações independentes - blog, sites, etc...Lembrou que há menos de uma década era necessário se trabalhar em um jornal, rádio ou TV para publicar nossas matérias. Hoje não. Sobre o repórter de hoje, muitas vezes, precisar ser multimídia, o que você pensa, principalmente em termos de evitar o conteúdo superficial? Eu acredito que o problema não é o repórter ser multimídia - não tem como existir na profissão não sendo multimídia. O problema é outro: a questão do

Como um típico gaúcho, repórter aproveita nova fase em estilo tradicional conteúdo. Se o repórter tem uma boa por ano estive por aí pela Zero Hora. formação, ele irá publicar matérias Você sempre morou no Rio Grande do profundas em todas as plataformas. Os Sul? Sim, sou da turma do churrasco de currículos das faculdades de Jornalismo precisam ser mudados. Atualmente eles costela gorda. Entre os livros que escrevi dão atenção para a questão da tecnologia há um chamado “Brasil de Bombachas”, deixando para lá a formação em outras que conta a história da gauchada que matérias - como história, política, desbravou as terras do outro lado do Rio Uruguai.Você postou recentemente conhecimentos gerais etc... Como um profissional muito uma noticia no seu facebook, que estaria apaixonado pela função de repórter, escrevendo um livro para 2015 sobre sempre buscando as melhores pautas, reportagem. Fale um pouco sobre este é difícil conciliar a vida pessoal, livro. Ainda não dá para falar, mas está principalmente quanto à família? Um monte de separações, mostra ficando legal. que não tive sucesso em consolidar as Dos livros que escreveu, qual você mais gostou de trabalhar e qual foi o mais duas coisas. Você já veio a Chapecó ou outra complicado de fazer? “Monges & Barbudos: O Massacre cidade do Oeste Catarinense? Em Chapecó fui muitas vezes, do Fundão”, feito em parceria com o a primeira vez foi em 1974. Nos jornalista André Pereira, nos anos 1980. anos seguintes várias vezes, sou fã da Foi o meu primeiro livro. Conta a Churrascaria Barriga Verde. Também já história de uma comunidade rural que estivem em Águas de Chapecó, em 1986, lutou contra as empresas do fumo no 1996, 2011 e outras vezes. Já bebi muitas interior de Soledade. O mais complicado foi “País Bandido”, que narra como a cervas em Águas de Chapecó (risos). Por qual motivo visitou estas cultura dos criminosos moldaram o modo de vida nas fronteiras. cidades? Para ler algum de seus livros, qual Sempre trabalhando: ocupação de terra em Abelardo Luz pelo MST, você indicaria? Te indico dois. “País bandido” e retomada de terras por índios em Chapecó e várias outras matérias. Nas “Os Infiltrados: Os olhos e Ouvidos da ultimas três décadas pelo menos uma vez Ditadura Militar”. Jornalismo na Pauta - 9


O prato do dia Telejornais veiculados no horário do meio-dia informam Todos os dias na casa da “Vó Iracema”, como é conhecida dona Iracema do Carmo Fragoso, a hora do almoço é sagrada. Não pode faltar o feijão, o arroz, nem a carne de panela. O que também nunca falta é a televisão ligada. A dona de casa, de 63 anos, que mora no bairro Jardim América, em Chapecó, gosta de estar bem informada sobre o que acontece na cidade, por isso passa o dia com o rádio ligado, e na hora do almoço saboreia as notícias fresquinhas que os telejornais da cidade oferecem. Segundo ela, a refeição inicia em um canal e quando chega à sobremesa estão assistindo a outra emissora. Acompanhar os telejornais veiculados no período do meio-dia é uma característica cultural de Chapecó. Na cidade, a RICTV, afiliada da Rede Record, e a RBS TV, afiliada da Rede Globo, competem de segunda a sábado pelo paladar dos chapecoenses. A gerente de jornalismo da RICTV, Diana Bordin, explica que o “Jornal do Meio Dia” é voltado especialmente para as notícias regionais. “Hoje em dia, com a internet, se sabe muito sobre o mundo inteiro, sobre o que se passa longe, mas a pessoa nem sempre sabe o que acontece perto, na sua rua”, explica Diana. O jornal abrange uma região de 54 cidades. O coordenador de jornalismo da RBS TV, Gilmar Luiz Fochessato, afirma que o “Jornal do Almoço” tem um alcance de 86 cidades. Segundo ele, as notícias são regionais, mas como o maior público está em Chapecó as reportagens são mais voltadas para a cidade, por exemplo, com ações promovidas destacando os bairros chapecoenses, a história, os apelos e características de cada comunidade.

Foto: Ana Carolini Fragoso

Por Cristina Gresele

Vó Iracema já acompanha o telejornal enquanto prepara o almoço e arruma a mesa para receber a família

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A RICTV também tem ações na comunidade, voltadas ao assistencialismo, que destaca histórias de chapecoenses e pessoas que de alguma forma buscam ajuda. “Nesse ponto, a nossa intenção principal é minimizar as dificuldades de quem precisa, independente se é de uma única pessoa ou de um grande grupo”, salienta Diana.

Esporte, notícias policiais e opinião na TV O “Jornal do Meio Dia” aborda em sua programação esportiva a Chapecoense, Inter e Grêmio, times de futebol que, segundo Diana, a maioria da população Chapecoense torce, além de dar foco ao esporte amador. Da mesma forma procede o “Jornal do Almoço”, na RBS TV Chapecó. No bloco esportivo, a RICTV traz comentaristas sobre o assunto, que opinam e discutem o desempenho dos times. Já na RBS, Gilmar afirma que o “Jornal do Almoço” não tem comentaristas. “Não temos uma pessoa que a gente considere apta para isso, nem dentro da empresa, nem no mercado. Acredito que para isso seja necessário um profissional qualificado”, explica Gilmar. O bloco policial no “Jornal do Almoço”, segundo Gilmar, apresenta a informação de forma sucinta, e o âncora não costuma se delongar em comentários ou em expor sua opinião. “O que o âncora diz geralmente representa a reação de quem está assistindo. Isso é importante para que o público se identifique com o telejornal, mas não passa disso. Não podemos simplesmente falar por falar”, destaca o coordenador de jornalismo da emissora. Diana explica que o bloco policial na RICTV mudou com o passar do tempo. Antes conhecido pela violência, hoje já não mostra mais cenas chocantes ou pesadas. O bloco tem como marca pessoal a opinião do âncora depois de cada notícia. Segundo a coordenadora de jornalismo, o comentário feito é uma forma de dar voz ao público, falando aquilo que os telespectadores gostariam de dizer ao assistir aquela notícia. O âncora possui autonomia para decidir o que comentar, mas em casos mais

polêmicos o costume é discutir o que será dito, levando em consideração a repercussão que poderá ter.

A propaganda e a notícia O “Jornal do Meio Dia” apresenta uma característica peculiar, que a outra emissora não adota. São os merchandisings, presentes no programa. Eles são feitos ao vivo pelo âncora ou apresentador no fim de cada bloco, antes dos intervalos comerciais. Diana defende que hoje eles já não se confundem com as notícias, pois ficam no fim dos blocos e têm o tempo máximo de um minuto. Contudo, para o antropólogo, mestre em Filosofia pela Universidade Federal de Santa Maria e professor da Unochapecó, Luciano Jaeger, isso pode, sim, afetar a percepção da notícia pelo público. Ele critica, dizendo que “se apresenta uma notícia importante inconclusa, para a seguir um comercial, no ar, ser divulgado pelo próprio apresentador, sem nenhuma dimensão qualitativa”. Em tempos de convergência midiática, a televisão anda lado a lado com outras ferramentas digitais. O “Jornal do Almoço” divulga notícias regionais online, e disponibiliza seus vídeos através do portal G1 Santa Catarina. O “Jornal do Meio Dia” também divulga notícias regionais e os vídeos do telejornal na página online do jornal “Notícias do Dia”, pelo site NDOnline. O conteúdo também é compartilhado em uma página no facebook. As publicações na internet permitem que o público dos dois telejornais se comunique com a redação e exponha sua opinião. Nesse ponto, os dois editores concordam ao dizer que o que é publicado na rede repercute e serve como indicador do gosto do público, além de dar ao telespectador a oportunidade de sugerir pautas e fazer denúncias.

Telejornal multimeios Em tempos de convergência midiática, a televisão anda lado a lado com outras ferramentas digitais. O “Jornal do Almoço” divulga notícias regionais online, e disponibiliza seus vídeos através do portal G1 Santa Catarina. O “Jornal

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do Meio Dia” também divulga notícias regionais e os vídeos do telejornal na página online do jornal “Notícias do Dia”, pelo site NDOnline. O conteúdo também é compartilhado em uma página no facebook. As publicações na internet permitem que o público dos dois telejornais se comunique com a redação e exponha sua opinião. Nesse ponto, os dois editores concordam ao dizer que o que é publicado na rede repercute e serve como indicador do gosto do público, além de dar ao telespectador a oportunidade de sugerir pautas e fazer denúncias.

O que o público procura O antropólogo e professor Luciano Jaeger diz que o público do Oeste Catarinense busca nos telejornais a narrativa do cotidiano, o retrato do que vive. Ele destaca que o telejornalismo chapecoense apresenta essas narrativas, massa peca ao investigar e aprofundar pouco. “Para mim, na região Oeste, me parece que se tem uma cobertura boa, num certo nível. Ela é muito atualizada, recorrente ao momento, ao que acontece efetivamente, mas, por vezes, não passa disso”. Para a jornalista, documentarista, mestre em Comunicação Social pela Universidade Metodista de São Paulo e professora de Telejornalismo na Unochapecó, Ilka Margot Goldschmidt, o público, por ter acesso à informação através de outras mídias, procura no telejornalismo um aprofundamento das notícias, informações além dos fatos. “As pessoas buscam na televisão acrescentar informações aos fatos que elas já sabem, algo que influencie suas vidas. Por isso o telejornal tem que ter mais conteúdo, não retratar os dois lados, mas todos. Trazer menos assuntos, com mais profundidade e mais pontos de vista”, analisa Ilka. A professora ainda avalia que o desempenho dos telejornais caminha para isso. “A gente percebe que há uma mudança, uma tentativa de aprofundar. As matérias já não são tão curtas, mas ainda falta questionar mais as fontes, exercer a força que a televisão tem de confirmar os fatos”.


Foto: Facebook

Do Oeste de Santa Catarina para o mundo Ex-correspondente internacional da TV Globo conta os desafios do jornalismo internacional

Por Marina Oliveira

Globalização, copas do mundo, guerras, grandes eventos, escritórios fixos. Todos esses são motivos para emissoras enviarem jornalistas para os mais diversos países, como correspondentes internacionais. Ao falar em correspondente internacional, logo é relacionado a um certo glamour em trabalhar fora do país pois, notícias de fora e a curiosidade pelo estrangeiro faz com o que correspondente adquira maior relevância. Entretanto, com o “glamour” vêm as responsabilidades e desafios. Para a jornalista Sônia Bridi, natural de Caçador-SC,que formou-se em Jornalismo pela Universidade Federal de Santa Catarina e foi correspondente internacional em Londres (1995), Nova Iorque (1996/1999), Pequim (2005/2006) e Paris (2007/2009), pela Rede Globo, o principal desafio em trabalhar fora do país é a falta de estrutura. “Montar um escritório dentro de casa em Pequim ou Paris significa ser pauteira, produtora, repórter, editora, técnica de internet, contadora, enfim, fazer tudo. Por outro lado, essas dificuldades ensinam muito”, conta Sônia. Além de se virar nos trinta em cumprir sozinho a função de uma redação inteira, o jornalista internacional precisa estar atendo às pautas. Cada emissora tem um jeito de trabalhar, mas é papel do jornalista estar atento aos últimos acontecimentos do país onde está instalado para sugerir pautas e casar com a realidade do país de origem. Por

A jornalista viajou por diversos países para elaboração de reportagens e livros exemplo: se no Brasil se discute sobre a maioridade penal, é interessante que cada correspondente explique como funciona isso no país onde instalado. Os desafios do jornalista internacional não param por aí. Fazer cobertura de guerras ou conflitos entre países está entre os mais difíceis. Todos os anos, dezenas de jornalistas são feridos ou mortos, sequestrados, durante coberturas em áreas de risco. Foi o caso de dois jornalistas espanhóis correspondentes do jornal espanhol El Mundo no Oriente Médio, sequestrados na Síria em setembro de 2013, pelo Estado Islâmico, e libertados quase um ano depois.

Experiências que renderam boas histórias Sônia Bridi, que teve a oportunidade de conhecer diversos países ao lado de seu marido, Paulo Zero, que também é seu cinegrafista, aproveitou para escrever dois livros. Desta parceria surgiu o primeiro livro, Laowai, lançado em 2008 onde o casal narra a experiência de viver por dois anos em Pequim, do outro lado do mundo, com um filho de três anos. Além de encarar a peleja de montar a primeira base da Rede Globo no Oriente, o casal teve de encarar o choque cultural, com costumes completamente diferentes e sem dominar o idioma local. Em 2012 o casal lançou outro livro, Diário do Clima, depois de viajar por 14

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países, enter eles, Austrália, Groenlândia e Itália, buscando explicações e possíveis soluções para o aquecimento global. Além da descrição desta experiência, que o casal teve de se preparar fisicamente para encarar altas altitudes nos cinco continentes, o livro conta com 48 páginas de fotos exclusivas, feitas por Paulo Zero. Assim como as viagens renderam à Sônia boas histórias, a jornalista ainda carrega no currículo uma lista de grandes entrevistas. Como Edward Snowden, ex-agente da NSA, a Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos, que em 2014 revelou um esquema de espionagem americano. Atualmente Sônia está trabalhando em reportagens especiais para o Fantástico, programa que vai ao ar todos os domingos, das 21h às 23h20, na TV Globo. Com tantos anos de experiência como correspondente internacional e repórter da TV Globo, Sônia conta que não teve nenhum acontecimento ou entrevista que tenha marcado sua vida. “Com tantos anos, é difícil buscar o que foi mais marcante. Eu diria que talvez a minha experiência cobrindo violência no Rio de Janeiro tenha sido o mais marcante. Vi coisas que correspondentes de guerra não veem. Cobri as chacinas da Candelária e de Vigário Geral. Subi morro em tiroteio. Era uma época em que o repórter estava lá”, conta.


Jornalismo Online faz parte do dia a dia de leitores da região Com acesso à internet e a busca pela informação instantânea, o Jornalismo Online ganha espaço na região

Por Cleberson Cagol

ela. Vilma Aguiar, de 29 anos, que reside em Xanxerê, representa bem o novo consumidor de notícias. “Nunca tive o costume de ler jornais ou revistas, mas com o surgimento dos portais de notícias online na região passei a acessar e ler diariamente notícias de minha cidade”, ressalta ela. O Jornalismo Online, assim como qualquer outro setor que está em crescimento, exige planejamento e muito trabalho. Com a facilidade ao acesso à rádio e TV, o online surge como um veículo que se diferencia pela agilidade e multimídialidade. “Talvez façamos a função de rádio, mas sem áudio e com textos. A diferença é que podemos usar a interatividade da internet para trazer mais informações dentro de um mesmo assunto, com fotos, vídeo, hiperlinks e gráficos”, destaca Andressa. Thaise Cristina de Salles Borges, de 22 anos, também de Xanxerê, ressalta que costuma acessar portais de notícias online para ver, principalmente, notícias de acidentes e mortes. “Assim que fico sabendo de algum acontecimento como acidente ou morte vou direto para a internet conferir mais detalhes sobre o caso”, diz ela. E essa é uma característica forte do consumidor de notícias online da região. Andressa ressalta a procura por conteúdos dessas editorias. “As matérias policiais e ligadas a acidentes são as com maior acesso. A curiosidade é saber quem são as vítimas, parte pelo gosto por tragédia que não sei de onde vem, mas todos temos”, enfatiza.

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Futuro do Jornalismo Online regional Com a procura cada vez maior por notícias locais, de mais fácil acesso e instantâneas o Jornalismo Online tem um grande público ainda a conquistar. Andresa comenta que o desafio do online regional é manter o foco no local. “Acredito que as informações nacionais e mesmo estaduais são facilmente encontradas na TV e na internet nos portais das grandes corporações, então nosso foco é manter o olho em nossa cidade e nas próximas”, argumenta. Andressa ressalta que o conteúdo para o online precisa ser mais bem pensado e produzido. “O Jornalismo Online ainda carece de atenção e matérias aprofundadas, que ainda não aparecem muito por aqui. O que se vê é um ‘copia e cola’ e de repente o texto migra de um portal para o outro”, conclui ela.

Foto: Cleberson Cagol

Eram quatro da tarde quando Andressa Nascimento ligou para cancelar a entrevista. De última hora ela precisava fazer cobertura jornalística de um acontecimento para o portal Tudo Sobre Chapecó, um dos principais canais de notícia online da cidade, onde ela exerce o papel de editora. Isso demonstra fielmente o que é o Jornalismo Online, o agora, o instantâneo. Estamos inseridos em um mundo onde a internet vem sendo uma das principais ferramentas de trabalho, conexão com o outro e agilidade. A entrevista com Andressa, que não pode ser presencial, seguiu então por e-mail. Tudo está voltado cada vez mais à web, e o jornalismo, assim como se adaptou ao rádio e posteriormente à televisão, agora também trilha o caminho do online. Segundo pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2010, Chapecó tinha pouco mais de 22.390 moradias com acesso a internet, uma representatividade de 12,8% da população. Os números deixam claro que o acesso à internet ainda é baixo e essa é uma área que tem muito a crescer, assim como o Jornalismo Online. Andressa enfatiza o crescimento do Jornalismo Online na região. “Temos alguns portais consolidados, mas ainda há muito a explorar, sobretudo nos pequenos municípios, que muitas vezes não têm um veículo próprio para receber as informações locais”, destaca

Seja no computador ou celular o jornalismo está cada vez mais voltado ao mundo digital


Voz do Vale O desafio das assessorias de comunicação nas prefeituras de Arabutã, Ipumirim e Lindóia do Sul

Foto: Eduardo Bender

Por Alessandra Lara Zuanazzi Seidel

Entre as atividades diárias, o chimarrão aquece as ideias e desperta a inspiração dos assessores A icônica xícara de café preto dá lugar à tradicional cuia de chimarrão. A intenção não é fugir das manhãs frias, características no Oeste de Santa Catarina, tão pouco espantar o sono. Somente o que se busca aquecer e despertar são as ideias. Entre uma cuia e outra, engole-se a água quente e amarga a fim de dar vida e voz à inspiração. Engana-se quem pensa que a assessoria de comunicação das prefeituras dos pequenos municípios tem vida fácil. Buscar e produzir conteúdo e torná-lo bom o suficiente para a aceitação das pequenas, mas criteriosas populações é a árdua e instigante missão dada aos jornalistas que se inserem nesse meio. Lutar pelo profissionalismo da área e abolir os apadrinhamentos políticos também está no cardápio das

dificuldades – salvo exceções. Não há espaço para comodismo. O desafio é sempre o prato do dia. Ipumirim, Lindóia do Sul e Arabutã. São cidades pacatas, mas que fazem jus ao ditado que sugere que há bons perfumes nos pequenos frascos. Com poucos anos de emancipação, um número modesto de habitantes e uma economia baseada no agronegócio, os três municípios, “edificados” entre um relevo rico em contrastes, receberam a alcunha de “Vale da Produção”. Porém, se por um lado a agricultura é referência e o rendimento é farto, por outro a produção de notícias ainda deixa a desejar. Não há jornal local em circulação no “Vale”; as únicas mídias ativas são as rádios comunitárias e os periódicos dos municípios vizinhos, que oferecem

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pouco ou nenhum espaço para as três cidades. Ademais, as prefeituras ainda carecem de se acostumar à presença e a entender a necessidade de um assessor de comunicação. Na entrada do “Vale”, entre casas com arquitetura germânica e o aroma da famosa cuca, que faz jus ao título da cidade como capital da iguaria, está a prefeitura de Arabutã. No menor dos três municípios, quem exerce a função de assessor é Alex Pacheco. Alex é jornalista, formado pela Universidade do Contestado (UNC), conhecido comunicador da Rádio Atual FM, de Concórdia, que alia à sua principal função a atividade na prefeitura. O município não possui página oficial nas redes sociais e o trabalho desenvolvido por Pacheco consiste


na produção noticiosa. Os materiais geralmente são publicado na própria rede social ou enviados aos jornais dos municípios vizinhos que circulam no Vale. Alex chama a atenção para o fato de a produção e divulgação de conteúdo ainda serem restritas, mas reitera a relevância dos avanços que tem acontecido, “Os administradores sabem da importância que a assessoria tem no contexto. O jornalista preparado consegue administrar as crises e mostrar as cidades para seu público”, afirma ele. Juliane Rell, jornalista, também formada pela UNC, faz a assessoria de comunicação da prefeitura de Ipumirim – o coração do Vale da Produção -, há dois anos. Concilia a atividade com a prestação de serviços à rádio local. Desde o início do desempenho das atividades à frente da prefeitura, estabeleceu uma meta para o próprio serviço: beneficiar o município, que é o maior interessado. Partindo dessa máxima, sempre praticou a assessoria no âmago. Sabe que não se faz um bom jornalismo apenas na comodidade da “redação”, “Faço diariamente uma coleta de informações junto ao setor administrativo e estabeleço um contato semanal com cada secretário. Após esse contato busco ir até o local dos fatos, e aí sim inicio a produção das matérias”, afirma a profissional. Juliane cobre os eventos municipais, atualiza a fanpage e o site de Ipumirim com conteúdo multimídia e redige, bimestralmente, um informativo impresso destinado aos munícipes. O ipumirinense Diego Spricigo, de 24 anos, que atua como engenheiro ambiental em Ipumirim e sempre morou na cidade, chama atenção para a eficiência da assessoria, “As informações são sempre expostas de maneira clara e chegam facilmente até a população. Tanto nas redes sociais quanto nos informativos, é tudo muito elucidativo”, afirma ele.

Inversão de papéis: interesse político acima da ética da profissão Há oito quilômetros do coração do Vale da Produção, em Lindóia do

Sul, Alison da Silva, também jornalista formado pela UNC, exerce a função de assessor de comunicação da prefeitura. Diferente do município vizinho, em Lindóia as divulgações sobre a cidade são feitas quase que estritamente através das redes sociais. Não há produção de periódicos. O trabalho do assessor consiste no agendamento de entrevistas, na atualização das redes sociais e na divulgação de informações pontuais, como eventos comemorativos e afins. Para Jéssica Wermeier, 18 anos, que é universitária e já atua como professora na cidade, a assessoria do município ainda deixa a desejar. “Muitas informações são irrelevantes. As notícias parecem se basear mais em boatos do que em fatos”, aponta. Outras fontes ouvidas, que preferiram não se identificar, apontaram o fato de que as notas divulgadas são explicitamente tendenciosas e por vezes até mesmo partidárias, o que causa desconforto em alguns cidadãos. “Sou um cargo político. Vivo da política. Procuro manter um limite, mas, confesso, é difícil”, admite o próprio assessor.

Reconhecimento do trabalho e profissionalização da função Apesar de ainda possuírem atuações tímidas, observa-se a evolução das assessorias e, principalmente, a presença de profissionais adequadamente habilitados atuando no meio. Tendo em vista que essa área da comunicação é sinônimo de desenvolvimento, eficiência e consolidação da imagem das prefeituras, é importante o reconhecimento do trabalho realizado, dentro do que permitem as limitações. Além de enfrentarem resistência dos próprios órgãos públicos, os assessores tem de lidar com a disputa de espaço da notícia com a publicidade, o acúmulo de funções, a censura implícita e até mesmo a tentativa de manipulação do próprio governo vigente. Entretanto, apesar das circunstâncias adversas, uma certeza ficou evidente e comum às três assessorias: entre um gole e outro de uma rotina, por vezes, tão amarga quanto o mate, os resultados alcançados compensam o desafio.

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Uma profissão bem votada Na área do jornalismo, função ainda gera muita discussão pelo fato das práticas não condizerem com algumas regras Por Gabriel Wildner Kreutz

Foto:: Gabriel Wildner Kreutz

Aplicar as técnicas jornalísticas para construir e melhorar a imagem de alguma instituição, ou de alguma pessoa perante a mídia, são a base de uma assessoria de imprensa, e ela é o ramo que mais contrata jornalistas. Pessoas públicas, como políticos, necessitam e procuram assessores capacitados, para poder se relacionar com a mídia e fazer com que suas atividades estejam sempre em evidência. Acompanhar e registrar o assessorado em reuniões, definir roteiros, participar de compromissos políticos em outras cidades, agendar entrevistas e observar a imprensa para realizar clipagem de tudo o que é publicado referente ao assessorado diariamente. Estas são algumas das atividades que fazem parte da rotina de trabalho de Giancarlo Bristot Araúna, assessor do deputado estadual Marcos Vieira (PSDB-SC). Giancarlo é graduado em Jornalismo, pós-graduado em Comunicação nas Organizações e MBA Master em

O assessor de imprensa política precisa manter a imagem do parlamentar em todas plataformas da mídia

comunicação. Sobre sua experiência, destaca o relacionamento com a imprensa e a participação em atividades que beneficiem a população, além de poder conhecer o Estado, como as principais partes boas da profissão. Porém, cita a dificuldade da manutenção de uma boa imagem, devido ao desgaste da classe política. Segundo Araúna, não é necessário que um jornalista assuma a função de assessor, podendo ser qualquer profissional da área da comunicação. Resalta ainda, que é importante ter trabalhado em algum veículo de comunicação antes de atuar na área da assessoria “Considero que seja importante para o profissional, ter atuado em veículos de imprensa tradicionais e ter conhecimento acadêmico sobre política, administração e legislação” acrescentou o assessor. Entre as atividades desenvoldas por Ester Koch da Veiga, assessora da deputada estadual Luciane Carminatti (PT-SC) estão funções como divulgar a atividade da parlamentar, se relacionar com a imprensa e atuar na redes sociais, além de realizar a comunicação interna e com a base eleitoral do partido. Ester é formada em Jornalismo pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e pensa que a assessoria de imprensa é uma das atividades do jornalismo, tanto quanto seguir a carreira de repórter fotográfico, apresentador, radialista, etc. “O conhecimento técnico do jornalista facilita o trabalho das instituições e assessorados, desde a seleção das informações até o contato com a imprensa.” Afirma também que a única diferença da assessoria de imprensa é que representa somente um lado da notícia, mas como nas outras áreas do jornalismo é a ética que deve prevalecer. “Esse exercício a academia não ensina”, avalia Ester quanto a junção da técnica jornalística com o discernimento político. Segundo ela, o jornalista precisa também compreender o contexto político

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para que o resultado do seu trabalho esteja de acordo com a atuação do mandato e com a expectativa dos eleitores que confiaram o voto ao assessorado. A jornalista ressalta que o assessor de imprensa política se torna referência aos meios de comunicação quando atua com a veracidade dos fatos e exerce uma relação de confiança com os profissionais de imprensa. Também compreende que desempenha papel de grande relevância social, ao dar voz a grupos ou demandas das comunidades, que buscam na política a defesa dos seus direitos.

Desafios do jornalista como assessor Para o colunista do Diário Catarinense Moacir Pereira, não há qualquer impedimento ético ou legal ao jornalista profissional atuar como assessor parlamentar, político ou de qualquer autoridade ou organização. Ele pode, inclusive, ser uma excelente fonte de informação para seus colegas que atuam nas mídias tradicionais. Ressalta, ainda, que a maior dificuldade situa-se em ser ético,ou seja, não mentir e nem deixar mentir. “Minha experiência profissional revela que isto é perfeitamente compatível. O que não pode é um Assessor ter uma atividade num veículo de comunicação, há conflito de interesses, competência e ético” explica Moacir. Ainda segundo o colunista, para melhorar esse tipo de assessoria, em primeiro lugar é necessária a qualificação dos jornalistas assessores. Em segundo, diálogo franco entre os profissionais da ativa e os assessores. Sobretudo, em qualquer atividade – na mídia tradicional, na assessoria ou em outro setor –, o treinamento deve ser permanente, sobretudo pelas novas ferramentas do mundo digital, indica Moacir Pereira.


Fazer sem ter: jornalistas têm nova opção de sobrevivência Crowdfunding, ou financiamento coletivo através da internet, é alternativa para a produção de conteúdo desvinculado da grande mídia

Foto:: Daniel Paulus

Por Daniel Paulus

O jornalismo tem se mostrado uma área bastante dinâmica nos últimos anos. A maneira como se dá a notícia, como se divulga a informação e até mesmo modelos de negócio envolvendo o Jornalismo mudaram. Ao mesmo tempo, uma crise econômica também atinge essa profissão. Em muitas empresas a ordem é reduzir gastos. Como forma de adaptação e sobrevivência do Jornalismo, novos modelos de investimento e negócios começam a ser explorados. Uma nova tendência surge na profissão: produzir jornalismo desvinculado de grandes empresas, o tal do jornalismo independente. Mas mesmo os “independentes” dependem de algo. Não é possível fazer uma produção jornalística sem algum investimento financeiro. O crowfundingou financiamento coletivo é uma alternativa que fomenta o desenvolvimento de projetos dos mais variados, dentre os quais está o jornalismo. Trata-se de uma espécie de “vaquinha” na web, para a arrecadação de verbas através de doações populares. Funciona da seguinte forma: alguém tem uma ideia criativa e desenvolve um projeto explicando o que, como e quais os resultados que pretende alcançar. Depois é necessário divulgar a ideia

através de uma plataforma desenvolvida especificamente paraessa finalidade. No Brasil, uma das mais atuantes é o Catarse. A ideia de crowdfunding, que se difunde na atualidade, surgiu de iniciativas de sucesso postas em prática mundo afora, onde o financiamento de reportagens e repórteres por parte do público, conforme o interesse da maioria, está se difundindo. Centros de jornalismo investigativo, como é o caso da Agência Pública, no Brasil, também aderem ao financiamento coletivo para fomentar a produção de conteúdo de qualidade.

No Brasil há quatro grandes “bancos” É claro que o país já possui dezenas de meios que possibilitam o financiamento coletivo. A grande maioria se situa na rede mundial de computadores e é na internet que existem quatro grandes plataformas que são buscadas pelos jornalistas. O Catarse apresenta atualmente a maior visibilidade no cenário de arrecadação de fundos. O canal apresenta várias subcategorias de financiamento, sendo“o Sujeito” um meio específico Jornalismo na Pauta - 17

para a possibilitação financeira de projetos da área comunicacional. O site foi fundado em 2011 e de lá para cá já financiou 1.707 campanhas. Em seguida aparecem os sites Benfeitoria, Kickante e Impulso, todos seguindo o mesmo viés do pioneiro.

Crowdfunding é bem mais antigo do que parece Não é de agora que ele existe. O financiamento já está presente há muito mais tempo do que se conhece o crowdfunding propriamente dito. As primeiras inciativas dearrecadação pela internet aconteceram há cerca de 20 anos, principalmente para fomentar eventos culturais. O primeiro site específico a ser reconhecido foi o Indiegogo, em 2007. Indiretamente, outras ações também usam um recurso semelhante. A AACD promove anualmente a campanha do Teleton, que, em pequenas quantias, arrecada dinheiro da população para alcançar uma meta. Em 2008 o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, financiou sua campanha através de colaborações populares. Na verdade, foi a partir daí que o sistema se propagou mundo afora.


Dependência do jornalismo independente De fontes a publicidade, como se organiza uma das formas mais polêmicas de jornalismo

Por Ana Carolini Fragoso

Livre de editorias e desvinculado de “satisfações para patrocinadores”. É assim que se posiciona o chamado jornalismo independente. Muito polêmico e questionado por sua posição de independente, esta forma do fazer jornalístico está crescendo cada vez mais no Brasil e por muitos não foi considerada como jornalismo. A palavra independente existente na denominação é um dos pontos mais polêmicos deste tipo de jornalismo. Os questionamentos surgem a partir da pergunta: “Independente do quê?”, já que as produções jornalísticas dependem de muitas coisas para que cheguem a um resultado final, desde dependência financeira até dependência de fontes ou editorias. Segundo o professor Vagner Dalbosco, mestre em Ciência da Informação pela Universidade Federal de Santa Catarina e coordenador do curso de Jornalismo da Unochapecó, o “independente” citado nesta classificação de jornalismo remetese à não dependência de editorias ou de vínculos com possíveis financiadores, apoiadores ou patrocinadores. Assim, para ele, este tipo de jornalismo está livre de pressões e limitações em suas pautas, tendo maior liberdade em suas abordagens.

Produção da independência Uma das maiores dificuldades para a produção do jornalismo independente é

o financiamento das matérias, já que não está atrelado ao eixo dos grandes veículos de comunicação e muitas vezes não conta com patrocinadores. Para Vagner, até mesmo um jornalista que trabalha em seu blog pessoal é considerado participante do jornalismo independente, mas mesmo ele depende financeiramente, pois possui desgaste de material e contas para exercer sua função. Apesar de se intitularem independentes, há veículos de comunicação desta classificação que possuem anunciantes em seus materiais. É o caso da revista Caros Amigos, analisada por Marcelo Barbosa Câmara em sua tese de mestrado no ano de 2002. Câmara, agora mestre em Ciências Sociais pela PUC de São Paulo, cita em sua análise a separação que a revista faz entre suas pautas e seus patrocinadores. Segundo a editoria da revista, não há vínculos entre seus anunciantes e suas pautas. Assim, tem liberdade para publicar quaisquer informações, desde que de interesse de seu público. Neste ponto, Vagner ressalta: “Por mais que haja uma separação entre pautas e patrocinadores, o vínculo e dependência daquele anúncio pode refletir no texto elaborado pelo jornalista”. Assim, ele ressalta que a dependência financeira do anúncio pode interferir na construção, abordagem e destaque que o veículo dará à matéria de seu patrocinador. Já aqueles veículos de jornalismo independente que não possuem ou aceitam participação de anunciantes podem

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optar por outra forma de contribuição financeira: o “crowdfunding” ou financiamento coletivo. Apesar de no Brasil o público não possuir como cultura a doação de valor monetário para a elaboração de conteúdo jornalístico, a Agência Pública é um bom exemplo de jornalismo independente que se mantém com ajuda do financiamento coletivo. Usando da plataforma Catarse.me na internet, que possibilita que o público doe dinheiro para financiamento de produções, a Agência Pública arrecadou neste ano R$70.072,00 para a produção de 10 reportagens investigativas. Esse valor custeará viagens, pagamento dos repórteres e compra de materiais necessários para a elaboração das reportagens. Além disso, a Agência Pública promete neste ano maior interação com o público, o que é considerado um dos diferenciais do jornalismo independente, ao ser comparado com a nomeada “mídia tradicional” dos grandes veículos de comunicação.

O público na credibilidade A participação do público é outro aspecto polêmico e questionado no jornalismo independente. Vagner Dalbosco afirma sua preocupação na grande participação do público nas produções jornalísticas. Para ele, o jornalista deve tomar muito cuidado com esta participação e seguir as técnicas jornalísticas que orientam sempre checar as informações.


Infográfico Ana Carolini Fragoso

A preocupação surge pelo desleixo que pode existir ao receber uma informação do público que está interagindo e então publicá-la como verdade sem que haja antes checagem de todos os dados. Por outro lado, a Agência Pública ressalta a participação como diferencial de suma importância para que o jornalista realize pautas que possuam real interesse do público. O veículo de comunicação que atua via internet possibilita que o público vote para escolher entre três opções de pauta, e então a vencedora começa a ser produzida. Porém, mesmo havendo colaboração do público, o jornalismo independente se diferencia do jornalismo colaborativo, como o produzido pela Mídia Ninja. A principal diferença entre os dois está na forma de interação do público, que no jornalismo independente possui sua interação na escolha de pautas e,no jornalismo colaborativo age diretamente, com informações e agindo como produtor e não apenas como fonte. Um dos aspectos mais importantes a serem observados nestas duas classificações jornalísticas é a credibilidade de suas publicações. Segundo pesquisa realizada pela Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República em 2014, a internet é a última colocada pelo público como fonte de informações de credibilidade. O dado pode ser alarmante para jornalistas independentes, já que a maior porcentagem deste tipo de jornalismo no Brasil encontram-se na internet. Segundo a pesquisa, a maior porcentagem de pessoas que acessam informações pela internet usam das redes sociais como fonte, o que para Vagner pode ser um ponto positivo para o jornalismo. “Hoje vivemos com um misto de informações vindas da internet, no entanto o público tende a confiar nas informações após estas passarem na TV, no rádio, em um portal confiável de informações jornalísticas ou no jornal impresso.”

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Produção televisiva chapecoense ganha espaço em Santa Catarina RIC Rural, exibido semanalmente, é transmitido para mais de 200 cidades catarinenses Por Matheus Graboski Casanova

Foto: RICTV Record

A região Oeste de Santa Catarina concentra a maior área para plantio de grãos do Estado e 70% da produção leiteira do estado está concentrada também nesta região. Santa Catarina é o Estado brasileiro que mais produz suínos e a grande parte desta produção está concentrada no Oeste. Esses são alguns fatores pelo qual um programa de televisão segmentado na agricultura e pecuária é produzido na Capital do Oeste, em Chapecó. Durante cinco anos, diretores de três emissoras afiliadas à mesma rede, a Record, discutiram alternativas de implantação do programa, que já estava em funcionamento no Estado vizinho, o Paraná. Era fundamental que uma emissora que tem os maiores índices de audiência oriundos de cidades do interior tivesse um programa direcionado à este público. Depois de muitas pesquisas e análises de como o programa seria desenvolvido em Santa Catarina, e em qual região do Estado ele deveria ser produzido, o programa saiu do papel há pouco mais de um ano e meio e, de acordo com os dados coletados no site da emissora, chega a dois milhões de residências semanalmente.

O diretor da RICTV Record Chapecó, Roberto Winter, fez parte desta equipe e foi um dos mentores do projeto. Ele ressalta o quanto foi difícil fazer a direção da emissora acreditar no potencial econômico do Oeste, para financiar a produção do programa, “Nós tínhamos todas as provas que o programa daria certo, estamos em uma região que vive da agricultura, que precisa do trabalho dos agricultores para sobreviver, e aqui assunto para abordar no programa não faltaria em hipótese alguma”, destaca o diretor. Há pouco mais de um ano no ar, a atração é exibida nos domingos pela manhã, às 9h30. Atualmente o programa é de responsabilidade da jornalista Elizandra Gomes, que além de ter a função de apresentadora é também editora-chefe do programa. A produção acontece na sede da RICTV Record em Chapecó. E a gravação ocorre semanalmente em diferentes propriedades rurais da região. Aproximar-se do público alvo e fazêlo sentir-se em casa é um dos objetivos da produção. Elizandra destaca o quanto se sente acolhida quando visita as propriedades para as gravações de matérias: “A gente percebe o quanto eles gostam da gente; esses dias um senhor disse: ‘você, da TV, aqui em casa? eu achei que isso nunca seria possível’”. A apresentadora prossegue: “Sempre ganho presentes quando visito as famílias, tento explicar que a gente não está lá para ganhar nada, mas eles se ofendem se a gente não aceita a lembrança”.

Do Extremo-Oeste ao Litoral

Elizandra Gomes é editora-chefe e apresentadora do programa produzido em Chapecó e mais de 2 milhões de pessoas podem assistir

Produzir conteúdo para todo o Estado e interligar as regiões não é problema. É possível fazer com que o produtor de soja de São Miguel do Oeste, no Extremo Oeste, receba informação útil para sua propriedade ao mesmo tempo que o produtor de mariscos em Florianópolis também ocupe

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desta informação em sua localidade. A linguagem do programa é simples, e o texto das reportagens elaborado de forma coloquial, fundamental para que todas as pessoas possam entender facilmente as informações transmitidas. A apresentadora Elizandra ressalta a importância de “traduzir” siglas e, principalmente leis: “É difícil encontrar nas propriedades rurais, pessoas mais velhas que frequentaram a faculdade; eles sabem ler e escrever, e a gente sabe das dificuldades que a grande maioria teve em não poder ir para a escola”. Elizandra destaca os cuidados da hora de produzir. “Por isso eu tomo cuidado quando escrevo o texto, eu redijo a matéria de uma forma que o agricultor que está lá no interior entenda sem problemas o conteúdo transmitido”, ressalva a apresentadora. A produção do programa conta com o apoio de todas as equipes de jornalismo da RICTV-SC, localizadas nas cidades de Xanxerê, Blumenau, Itajaí, Joinville e Florianópolis. Semanalmente a apresentadora e editora-chefe levanta pautas e indica para as praças que devem colaborar e produzir o material. Normalmente cada equipe tem uma semana para desenvolver o conteúdo e enviar para Chapecó. A matéria vem pré-editada e passa por um processo de análise pela editora até a finalização. A gravação do programa ocorre nas quartas-feiras, e a equipe de edição tem dois dias para finalizar e colocar o programa no correio, que vai diretamente até a emissora na capital do Estado. O programa é gravado em alta definição, por isso cuidados e padrões estéticos são seguidos à risca pela apresentadora. “Cuido das minhas roupas para que não chamem muita atenção, minha maquiagem é sempre leve, e meu cabelo sempre normal, afinal faço um programa para os agricultores e suas famílias assistirem no domingo de manhã”, finaliza Elizandra.


Por Juliana Regina Matielo

O questionamento surgiu após veículos de comunicação transformarem assuntos aparentemente irrelevantes em notícias, aderindo ao fenômeno das viralizações na web. Jornalistas norteamericanos levantaram a discussão e realizaram estudos para descobrir por que esse fenômeno está tomando as páginas online e impressas e a programação desses veículos, em boa parte do mundo. O jornalista Alexis Sobel Fitts, colunista no jornal norte-americano Columbia Jornalism Review, realizou uma análise sobre a cobertura da fuga de duas lhamas de um recinto. O fato ocorreu no estado americano do Arizona e tomou proporções nacionais. A agência de notícias Associated Press foi a primeira a noticiar a fuga, que já era muito comentada nas mídias sociais. As emissoras de televisão ABC, NBC e CBS citaram o caso em seus noticiários noturnos. O impresso Los Angeles Times produziu uma narrativa para descrever como a perseguição evoluiu de um telefonema para o serviço de emergência, até o noticiário nacional. Já o Washington Post deslocou nada menos do que seis repórteres para acompanhar o caso. Alexis conta que, logo após a repercussão do caso, muitos jornalistas criticaram a postura desses veículos, acusando-os de dar atenção demais a um fato banal. Os críticos apontaram o princípio jornalístico de que um fato precisa ter relevância e ser de interesse público para se tornar notícia. “Seria plausível ver uma história como esta em sites como Mashable ou BuzzFeed,

Foto: Juliana Matielo

Da web para o jornal Por que o irrelevante se torna notícia? Jornalistas discutem a relevância dos fatos noticiados por grandes veículos de comunicação

especializados em investigar como determinados assuntos viralizam na rede”, explica Alexis. Por sua vez, o vice-presidente da Associated Press, Lou Ferrara, explicou que se o grande público comenta um caso massivamente nas mídias sociais, a imprensa se vê obrigada a entrar na conversa, ou deixará de fazer parte da notícia. Sendo assim, é esperado que editores e repórteres monitorem as mídias sociais durante suas programações diárias. “O julgamento do que é notícia deve levar em conta a opinião do público, caso contrário corre-se o risco de ficar fora de sintonia”, disse. Ferrara alertou, no entanto, que é preciso haver discernimento. Para ele, nem toda conversa em mídia social define as notícias, mas apenas influencia o ângulo de abordagem e a cobertura. Na conclusão de sua análise, Alexis acredita que histórias aparentemente banais se tornam notícia, pois acabam encontrando um grande público nas mídias sociais, o que, por definição, as tornam dignas de atenção. “Se antes apenas a imprensa pautava a imprensa, agora as redes sociais também pautam a imprensa”, salienta.

Fenômeno em Chapecó A transformação de assuntos virais da web em notícia acontece no mundo todo, inclusive em Chapecó. Alguns veículos de comunicação começaram a inserir nas pautas assuntos pertinentes às mídias sociais. É o caso do jornal Folha de Chapecó e portal online RedecomSC,

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ambos pertencentes a mesma rede de veículos de comunicação. Segundo o jornalista esportivo e colunista do jornal, Natan Silveira, para o impresso não há uma regra específica que limite ou proíba a veiculação de assuntos virais. “Dificilmente a gente faz uma reportagem sobre esses assuntos. Isso acontece quando memes (termo utilizado para definir vídeo, foto ou assunto que se torna popular na internet) tem forte influência sobre a população”, explica. Já para o portal online, Natan conta que há mais incidência de reportagens sobre esses assuntos. “Temos uma política de produzir material que chamamos de curiosidades, aí entram os memes, apps e outras novas tendências do mundo digital”, afirma. Mas para ele, mesmo que sejam publicados somente na web, esses assuntos ajudam a banalizar o jornalismo. “Hoje tudo é informação. Entretanto, nem tudo é notícia. Quem ganha com isso são os sites de curiosidades, fofocas e variedades. Em suma, acho que vale a repercussão, mas para sites segmentados e não com essência jornalística”, revela. Para a jornalista Petra Sabino, que já atuou tanto em jornais impressos quanto em veículos especificamente online em Chapecó, tudo depende do público que se quer atingir. Uma vez definido o público-alvo, fica muito mais fácil definir “notícia”. “Há espaço para todas as histórias, locais, municipais, regionais, estaduais, nacionais, internacionais. Segundo Petra, assuntos que não tem interesse público, não deveriam ganhar espaço, mesmo que a web borbulhe a notícia.


Aprovação da PEC do jornalista gera discussões no meio profissional Liberdade de imprensa e maior valorização da profissão foram os principais argumentos dos que são pró e contra a emenda Foto: Carlos Miguel Benedetti

Por Carlos Miguel Benedetti

Cursos de Jornalismo esperam aumento de acadêmicos após a aprovação da emenda que obriga o profissional a ter o diploma No dia 7 de abril, Dia do Jornalista, o Senado Federal aprovou a Proposta de Emenda Constitucional, (PEC) 206/2012, que restaura a exigência do diploma de nível superior em Jornalismo. O texto do senador Antonio Carlos Valadares (PSB-SE) teve 60 votos a favor e quatro contra. No texto da Emenda, o senador argumenta que não é cercear a liberdade de expressão de alguém ao se exigir formação acadêmica para exercer a profissão. Antonio Carlos acha até razoável exigir isso de uma profissão tão sensível e fundamental que repercute diretamente na vida das pessoas. A PEC vai contra a decisão do Supremo Tribunal Federal, (STF), que derrubou a obrigatoriedade em 2009. A proposta ainda será votada pela

Câmara de Deputados, se aprovada, a decisão final será da presidente Dilma Rousseff, que poderá sancioná-la ou não. A obrigatoriedade do diploma de jornalista para exercer a profissão. É um tema que começou a ser mais discutido em 2001, quando a 16ª Vara Federal de São Paulo concedeu uma liminar que suspendia a obrigatoriedade do diploma para ter o registro profissional. Porém em 2005 essa liminar foi revogada pela 4 ª Turma do Tribunal Regional Federal da 3ª Região, (TRF – 3). Já em 2006 o Ministério Público e Sindicato de Empresas de Rádio e Televisão de São Paulo, pediram o fim da exigência do diploma. Em novembro daquele ano, o ministro do Supremo Tribunal Federal,

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Gilmar Mendes concedeu uma liminar que garantia o exercício da profissão a profissionais que já trabalhavam na área sem graduação ou registro no Ministério do Trabalho. Em 2009, com um recurso protocolado pelo Sindicato das Empresas de Rádio e Televisão no Estado de São Paulo (Sertesp) e pelo Ministério Público Federal (MPF), o STF votou por derrubar a obrigatoriedade do diploma de jornalista para exercer a função. Na época, os ministros Cármen Lúcia, Ricardo Lewandowski, Eros Grau, Carlos Ayres Britto, Cezar Peluso, Ellen Gracie e Celso de Mello votaram junto com o relator do projeto. O Presidente do STF, Gilmar Mendes concordou com o argumento de que a exigência do diploma não está


autorizada pela Constituição de 1988. Em sessão realizada no dia 17 de junho de 2009, Gilmar Mendes disse que a formação em cursos de Jornalismo não é um meio idôneo de evitar riscos à coletividade ou danos a terceiros. Único voto contrário a decisão, o ministro Marco Aurélio Mello, na mesma sessão, argumentou que o jornalista deve ter uma formação que viabilize a sua atividade profissional.

O que fala a Emenda 206-A A proposta da PEC 206/12, sobre a obrigatoriedade do diploma de Jornalismo para exercer a função, é uma emenda ao texto constitucional. Serão acrescentados os incisos 7º e 8º, ao artigo 60 da Constituição Federal. O texto do inciso 7º diz que “A profissão de jornalista é privativa de portador de diploma de curso superior de Jornalismo, expedido por instituição oficial de ensino, e seu exercício será definido em lei”. Já o inciso 8º diz que a exigência de diploma a que se refere o inciso 7º não é obrigatória ao colaborador, assim entendido aquele que, sem relação de emprego, produz trabalho de natureza técnica, científica ou cultural, relacionado com a sua especialização, para ser divulgado com o nome e a qualificação do autor”. No mesmo texto do senador Antonio Carlos, o artigo 2 dessa Emenda, fala que essa exigência não é obrigatória para o profissional que comprovar que está efetivo na profissão até a data da promulgação da Emenda.

Entidades, cursos e profissionais favoráveis à PEC A Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), é quem tem tomado a frente da defesa da obrigatoriedade do diploma, para o profissional de Jornalismo, há décadas. Seu presidente, Celso Augusto Schröder, indica que a formação superior em Jornalismo é uma garantia ao povo brasileiro de que o profissional levará ao público conteúdo seguindo as boas técnicas da profissão e a ética acordada pelos próprios profissionais de imprensa. A decisão do Supremo Tribunal Federal derrubando a obrigatoriedade do diploma, em 2009, foi uma afronta às

ideias da Fenaj sobre a formação superior em Jornalismo. Para Celso Schröder, essa decisão dos ministros do STF foi um equívoco, baseado em argumentos inválidos. “Um grande erro assentado sobre um preconceito. Primeiro através de uma visão medíocre e obscurantista das formações profissionais, fato que levou os ministros do STF a retirar a obrigatoriedade sobre uma alegação equivocada de que o jornalismo atentaria sobre a liberdade de expressão, quando é exatamente ao contrário. A profissão de jornalismo é a que garante essa liberdade a população brasileira.” Os cursos de Jornalismo, por todo o Brasil estão interessados na exigência do diploma. Para o coordenador do curso de Jornalismo da Unochapecó, Vagner Dalbosco, a obrigatoriedade do diploma é uma questão de qualidade na profissão de jornalista. “Por que eu digo qualidade? Após a queda do diploma em 2009, qualquer pessoa poderia se auto intitular jornalista, podendo ir ao Ministério de Trabalho e Emprego e requisitar um registro profissional, se autointitulando jornalista. Isso precarizou muito o exercício da profissão no país”. O coordenador explica que hoje em dia, qualquer profissão precisa ter uma formação acadêmica que habilite a exercer a função, e no jornalismo essa atividade é de extrema importância. Segundo Vagner, no curso, além de aprender as questões técnicas da profissão, o acadêmico sai da universidade com uma formação ética, teórica e com conhecimento em áreas de humanas, entendendo melhor a sociedade, que no futuro relatará seu dia a dia. O Brasil é o único país que terá exigência do diploma de Jornalista escrita na Constituição Federal. Por esse motivo, profissionais que trabalham na área sem diploma e até jornalistas formados vão contra a Emeda 206-A. Eles acreditam que a obrigatoriedade do diploma faz crescer o número de “universidades fáceis” no Brasil, criando inúmeros profissionais formados que são jogados ao mercado sem mínimas possibilidades de emprego. Outros dizem que esse sistema de exigência é um problema para a inovação dentro do jornalismo. Em um texto publicado no Observatório de Imprensa, em novembro de 2001, o jornalista Luiz Weis critica a obrigatoriedade, dizendo que a mesma somente serve para encher o bolso dos donos das escolas de Comunicação. “Com

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o entusiasmado apoio dos sindicatos de jornalistas, criou-se uma reserva de mercado que, a rigor, só serviu para encher os bolsos dos donos das escolas de Comunicação e despejar às portas das redações uma atônita peonada de canudo em punho, que, salvo as raras e proverbiais exceções, passou pelo menos quatro anos de vida sem aprender nem a profissão nem o bê-á-bá do vasto mundo de que ela se ocupa.”

Valorização do profissional de jornalismo A Fenaj, acredita que nos últimos anos os cursos de Jornalismo no Brasil tiveram um aumento de qualidade e quantidade, mas Celso Schröder admite que melhorias ainda devem ser feitas. A partir da decisão do Senado, a Federação dos Jornalistas espera a maior valorização do profissional de imprensa, pois acredita que a função de jornalista é fundamental para entender a sociedade e os fatos da vida brasileira. O coordenador Vagner concorda com a fala da Fenaj, mas faz outra análise em relação à valorização do profissional. “As empresas que se preocupam com a informação de qualidade, mesmo não havendo a obrigatoriedade do diploma, buscam o profissional formado. Aí percebe-se que a questão da formação profissional não virou uma questão só em ter um diploma, um canudo, mas o próprio mercado percebe que um estudante que passou quatro anos estudando, sai mais preparado para exercer a profissão.” Outro aspecto a se observar dentro da PEC é que funções dentro da imprensa serão mantidas sem o diploma. Um exemplo são os comentaristas. Um jurista ou economista ainda poderão emitir suas opiniões dentro do veículo de comunicação. Sobre esse ponto, Vagner avalia que cai por terra o argumento de alguns setores que falam que a obrigatoriedade é uma forma de censurar o exercício da profissão. “A obrigatoriedade do diploma não fere a liberdade de expressão, as pessoas vão continuar se expressando. As diferentes profissões vão continuar fazendo seus comentários. Só o que muda, é que para determinadas atividades características do jornalismo, a obrigatoriedade se torne uma exigência”.


Um curtir na informação Páginas no Facebook de programas televisivos servem como complemento para veiculação de informações Por Dalvana Treméa

Foto: Dalvana Treméa

Uma pesquisa divulgada no site do Centro de Estudos Avançados em Democracia Digital mostrou que o brasileiro utiliza cerca de três horas e 40 minutos diárias na internet. A televisão ainda predomina em 97% dos lares brasileiros, mas a pesquisa aponta que a internet já é o segundo meio preferido para diversão e para se informar. O Facebook é o site mais acessado: cerca de 68% dos internautas utilizam essa rede social. O surgimento das redes sociais provocou mudanças nas mídias tradicionais e trouxe uma nova ferramenta para a divulgação de informações. Os programas televisivos

O mercado multimídia de informações cresce em ritmo acelerado

e grupos de televisão utilizam páginas no Facebook como uma plataforma inovadora para incrementar e exibir os trabalhos realizados dentro da redação televisiva. A facilidade de acesso e compartilhamento na rede social faz com que as notícias circulem com maior rapidez. Assim os conteúdos produzidos viralizam-se na rede e, em consequência o grupo e o programa de TV tornam-se mais visíveis. O Jornal do Almoço, da RBS TV, Chapecó já utiliza o Facebook há três anos, para divulgar as principais reportagens exibidas no jornal e outras notícias de interesse da região Oeste de Santa Catarina. A página possui 3.530 curtidas e uma média de 200 acessos por dia. Segundo Eveline Poncio, jornalista da RBS TV, os conteúdos são atualizados diariamente pelos próprios repórteres da TV. Publicar diariamente informações valoriza a periodicidade e dá credibilidade ao público que acessa e que vai assistir o jornal, afirma Eveline. “Buscamos sempre seguir uma linha nas publicações no Facebook, já que é um público diferenciado”, comenta a repórter. Uma pesquisa feita pela Secretaria de Comunicação da Presidência da República, em 2014, mostrou que a maioria dos internautas são as pessoas mais jovens, entre 18 e 25 anos, e que 32% deles julgam o Facebook como um dos melhores meios para se informar, por ser de fácil acesso e sem custo. A jornalista comenta que o profissional precisa ser inovador neste novo meio: “U samos a página no Facebook a chamar o pessoal a assistir o Jornal do Almoço, usando recursos visuais como fotos e vídeos curtos, que atraem a atenção do pessoal da internet a migrar a TV e acompanhar a programação”. Eveline salienta que a internet é uma ferramenta que aproximou ainda mais a TV com as pessoas, e que apesar de parecer um meio simples ele é muito complexo. “Uma das chaves para que a página e os conteúdos tenham muitas

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visualizações é observar os horários em que as pessoas mais acessam e quais as matérias mais assistidas e curtidas, que normalmente são as locais e regionais”, aponta a repórter.

Internet e credibilidade de informação A pesquisa feita pela Secretaria da Comunicação da Presidência da República mostrou ainda um contra ponto. Mesmo sendo o meio preferido para se informar, cerca de 57% dos entrevistados dizem não acreditar na veracidade das informações que circulam na web. O motivo apontado é a facilidade de produção e publicação de conteúdos por qualquer pessoa. A TV aberta foi apontada por 69,4 % das pessoas como o meio mais confiável, seguida pelo rádio, com 7,2 %, enquanto 6,5% das pessoas acham que a internet é o meio mais confiável. Morgana Osmarin, estudante de Odontologia da Universidade de Passo Fundo, diz que o único meio usado por ela para se informar é a internet. “Sempre procuro por sites mais conhecidos, como O Globo e o G1, pois é difícil acreditar em qualquer conteúdo lançado na rede, há inúmeras possibilidades de se produzir conteúdos. E nem todas as pessoas apuram aquilo que publicam”, salienta Morgana. Uma pesquisa da Unesco sobre Tecnologia da Informação e Comunicação, mostrou que, em 2006, 27% dos lares brasileiros tinham acesso à internet. Já em 2014 a pesquisa da Secom mostrou que esse número subiu para 65% dos lares brasileiros com acesso à rede. A perspectiva é que até 2018 esse número aumente mais de 30%. Com isso a circulação de informações via redes sociais tende a aumentar, daí o jornalista deverá adaptar-se ao novo modo de fazer jornalismo. E tem como desafio aumentar a confiança no meio.


Rotina dos editores-chefes Entre suas atribuições, está a coordenação de jornalistas e a decisão do que entrará na próxima edição

Foto: Arquivo pessoal

Foto: Simone Pereira

Por Simone Pereira

Para Iunes Ferraz, a preparação para o trabalho inicia a cada fim de edição O editor-chefe é quem comanda um determinado grupo de jornalistas. Para chegar até essa função, exige-se dedicação, esforço e a busca do aperfeiçoamento. Na situação que se encontram os meios de comunicação impressos brasileiros, após a massificação da internet, muitas vezes o editor-chefe, com sua escassa equipe de reportagem, se esforça para produzir conteúdos, relevantes para buscar a permanência de seus leitores. Para entender como funciona a rotina da função de chefia dentro das redações dos jornais impresso, a editora do jornal Voz do Oeste, de Chapecó, Lisiane Kerbes, e o editor-chefe do jornal Data X, de Xaxim, Iunes Ferraz, relatam como é atuar neste cargo, que exige, além de dedicação, conhecimento das técnicas jornalísticas.

Histórico A editora Lisiane Kerbes atua na área de jornalismo há 10 anos. Já passou por diversas empresas de comunicação e atualmente trabalha no Voz do Oeste e presta assessoria para o Sindicato dos Trabalhadores na Indústria de Carnes e Derivados (Sitracarnes), de Chapecó. Já Iunes Ferraz, editor do jornal Data X, é formado em Jornalismo em 2002. Ele começou atuar na área durante a graduação, no meio impresso, e em 2010 foi sua primeira atuação.

Lisiane Kerbes afirma que para ser uma boa editora é necessário circular por várias editorias

A respeito da preparação para o dia de trabalho, Iunes e Lisiane afirmam que não há uma preparação específica, porém se deve estar atento nos acontecimentos da região Oeste do Estado. A editora Lisiane afirma que lê muitos jornais, na versão online. Para Iunes, a preparação começa a cada final de edição. “Mesmo que o desejo seja de descansar no final da noite, é preciso estar ligado para o que será notícia no dia seguinte”, relata ele.

Rotinas Em relação aos horários de trabalho, os dois editores atuam no período vespertino. Lisiane, por opção, inicia às 15h e, segundo ela, não passa de sete horas diárias de atividades. Já Iunes inicia às 13h30 e fica até o fechamento da edição, por volta das 20h. A rotina de trabalho dos dois é semelhante: discussão de pautas, verificação de e-mails e participação em reuniões. Lisiane chega no jornal e discute com o diagramador o projeto gráfico do dia, ou seja, como serão distribuídas as matérias e os anúncios comerciais. Após, ela analisa quais conteúdos irão entrar no jornal. Iunes afirma que a edição do jornal Data X é feita de forma compartilhada, e dessa forma os repórteres ajudam no processo. Para os dois editores, o relacionamento, com as equipes de vendas dos jornais é bom, pois com diálogo é

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possível chegar ao entendimento. Os dois afirmam que o comercial, muitas vezes, indica pautas para a redação, algumas impossíveis de realizar, mas para eles basta saber lidar com esses pedidos que o convívio é tranquilo. “Quando não tem condição de render pautas, conversamos e explicamos o porquê”, afirma Lisiane. Para Ferraz, se a apuração dos fatos for feita de forma profissional, ou seja, utilizando técnicas, não haverá conflitos. Eles afirmam que para chegar à função de editor-chefe, exige-se dedicação. Para Lisiane, a experiência de seis anos como repórter foi extremamente importante para seu desenvolvimento como profissional. “Atualmente eu consigo orientar melhor os repórteres para as pautas; consigo dialogar e defender melhor os interesses da redação e do jornalismo com o comercial e a direção do jornal. Vai muito da experiência e de aprender a ter uma postura mais impositiva do que propositiva em algumas questões”, relata ela. As dicas que Lisiane e Iunes deixam, para os que almejam a vaga de editor-chefe, são: muito esforço e dedicação, adquirir o máximo de experiência possível, circular entre diversas editorias, ter domínio da Língua Portuguesa, ter muita paciência e saber lidar com pessoas.


As diferentes possibilidades na profissão de jornalista Se desafiar pode ser o caminho para quem escolheu ser um formador de opinião Por Marina Folle Schielke

Após experiências diferentes no Jornalismo, Caroline não tem dúvida de que rádio foi com o que mais gostou de trabalhar

O Jornalismo é uma atividade que exige dinamismo, responsabilidade, ética e muita dedicação. O jornalista é um formador de opinião, alguém que vive a notícia 24 horas por dia, é quem conhece “de tudo um pouco”. A profissão permite passar por vários meios que são completamente diferentes um do outro, mas que não deixam de ter a mesma raiz. Jornalista formada desde 2009, Caroline Maldaner ama a profissão. Desde muito pequena tinha facilidades de comunicação e apreço por matérias como Português e História, além de gostar de ler. Parece clichê, mas para ser jornalista, é preciso estar interessado “em tudo o tempo todo” e ter apreço por ler e escrever, pois conhecimento é algo que permanece por toda a vida. Com expressão amável e delicada, Caroline não deixa transparecer na aparência a experiência que tem. Ingressou no mercado de trabalho, na área do jornalismo, ainda no início da faculdade, como estagiária de assessoria de imprensa da Secretaria da Comunicação do Governo do Estado de Santa Catarina. O emprego surgiu quase dois meses após o início do primeiro semestre de Jornalismo. Um ano depois, Caroline foi trabalhar no Departamento de Transporte, e Terminais (Deter) do Governo do Estado, também como assessora de imprensa. Esse início rendeu uma faculdade na prática. Em questão de apuração, texto,

fotografia, o trabalho a ajudou na hora das aulas. A formatura do curso aconteceu em Brasília, onde Caroline encerrou a faculdade pelo Centro de Ensino Unificado de Brasília (Uniceub) e foi convidada para trabalhar como assessora de imprensa do senador Neuto De Conto. Para ela, o cenário entre o modo como o jornalismo é desenvolvido no Oeste de Santa Catarina e em Brasília é diferente. “Em Brasília é onde tudo acontece, é onde as coisas são decididas. Lá nós não tínhamos tempo para comer. Aqui, os horários e a demanda de trabalho são mais acentuados.” Os primeiros passos foram importantes para Caroline conhecer o jornalismo e se firmar na carreira. O retorno para Maravilha, sua cidade natal, foi um passo importante para, novamente, se descobrir na profissão. Ao chegar, Caroline optou por abrir sua própria assessoria de imprensa, mas apesar de ter realizado vários trabalhos precisou encerrar as atividades. “Quando cheguei, achava que Maravilha já comportava uma assessoria de imprensa, mas as pessoas ainda não entendem a diferença entre assessoria de imprensa e publicidade e acabam por não ver isso como um investimento, e sim como um gasto”. Foi assim que Caroline iniciou no jornalismo diário. Quando a sua empresa ainda estava no início, ela foi convidada para ser editora-chefe do jornal “O Líder”, que estava em processo de criação, o que foi demorado. Foram aproximadamente quatro meses para decidir o direcionamento do jornal, o projeto gráfico e montar a equipe. Segundo Caroline, a transição de assessora de imprensa para um jornal diário foi intensa. “Foi um desafio muito grande. O jornal é uma atividade cansativa, porque exige muito tempo, ainda mais quando você preza por um bom trabalho, por um texto bem escrito, mas tudo isso valeu a pena. Hoje olho para as primeiras edições e brinco: ‘Nossa, como pudemos fazer algo assim’. Mas isso faz parte de um Jornalismo na Pauta - 26

processo para sempre melhorar”, explica. Além do cargo no jornal impresso, Caroline ainda trabalhava na rádio Líder FM. Foi ali que descobriu uma nova paixão no jornalismo. “Eu apresentava um programa de manhã e outro ao meio dia. Era eu quem montava o script, fazia a edição, decidia o que ia para o ar. Então, de manhã eu me dedicava ao rádio e à tarde para o jornal. Foi uma experiência incrível. Espero um dia poder voltar a trabalhar com rádio”, diz ela. Por necessidade familiar, Caroline precisou se afastar do jornalismo para trabalhar na empresa da família, em uma função completamente diferente da área com que estava habituada. Hoje, ela é supervisora financeira da FM Pneus, em Maravilha, o que não diminui o carinho pela profissão. “Apesar de não trabalhar mais no dia a dia como jornalista, escrevo o informativo da empresa, que é lançado a cada trimestre, e ainda mantenho contato com o pessoal do jornal, e quando eles precisam de ajuda entram em contato comigo, e nos ajudamos”, afirma.

Assessoria de imprensa e o jornalismo impresso Algo comum nos jornais regionais é a publicação dos textos quase fiéis vindos das assessorias de imprensa. A discussão parte de que para o assessor isso é importante, segundo Caroline, pois o que ele quer é que a notícia saia como ele escreveu. Ela também usa o exemplo de quando a notícia chega de alguma empresa que é anunciante do jornal, e ainda é mais comum ver a matéria publicada na íntegra, o que é ruim para o jornalista, que preza pelo conteúdo da sua matéria. “Infelizmente, a realidade dos jornais do interior não permite ignorar a matéria e prezar por uma linha de conteúdo independente, pois é dos anunciantes que vem o sustento do jornal. O necessário é que se encontre um equilíbrio em não deixar a desejar no conteúdo e nem para os anunciantes”, opina a jornalista.


Mudanças na produção de conteúdos, gerados pela internet Futuro da profissão e a forte tendência do jornalista especializado

Por Janaína Chagas O Jornalismo tem inovado cada vez mais a forma de disseminação de conteúdo. Isso se deve à chegada da internet, que tornou mais rápida e fácil a divulgação da informação. Foi-se o tempo em que o cidadão ficava em casa sentado no sofá esperando a notícia ser anunciada pela televisão, rádio ou jornal impresso. O papel do receptor tem mudado e muito, pois hoje em dia, além de receber informação ele também dissemina. Muitas vezes ele presencia o fato e acaba filmando ou escrevendo sobre o que viu, divulga nas redes sociais, chegando mais rapidamente às pessoas do que os próprios veículos tradicionais, mas isso não é jornalismo. Toda essa transformação fez com que os veículos de comunicação fossem em busca de uma nova forma de disseminação de conteúdo, deixando-o mais atraente, buscando chamar a atenção do receptor, para que ele se interesse pelo que está sendo divulgado. O perfil do profissional de jornalismo também acabou sofrendo algumas alterações, pois o profissional, que antes tinha que escrever para apenas uma mídia, hoje tem que se adaptar, escrevendo o mesmo conteúdo para as diferentes plataformas. Segundo o coordenador do curso de Jornalismo da Unochapecó, Vagner Dalbosco, essa mudança na forma de produção de conteúdos mexeu com os veículos de comunicação como negócio, “cada vez mais a gente vê empresas que tinham apenas um jornal impresso criando um portal na internet. Isso tudo fez com que se busque um outro perfil de jornalista.” Assim, a uma necessidade de profissionais preparados, para moldar o mesmo conteúdos para diversas mídias. Essa nova configuração na forma de informar tem gerado bastante discussões, e várias críticas quanto ao trabalho desempenhado pelo profissional multimídia, pois muitas empresas se aproveitam do discurso multimídia. “Porque é muito mais tranquilo, ao invés de contratar três ou quatro jornalistas, contratar apenas um que faz tudo isso”, ressalta o coordenador. O presidente do Sindicato dos Jornalistas de Santa Catarina, Aderbal

João da Rosa Filho, afirma que “em nível nacional desde 2014 há uma redução de postos de trabalho, principalmente nos jornais impressos, mas ainda não é possível afirmar se há uma ligação direta com o profissional multimídia, já que não se tem um registro destes dados”. Além da polêmica que há em torno desta situação, outro ponto de discussão é o da remuneração profissional, que diverge muito. Em geral é um salário fixo a partir do piso, que é de R$ 1,9 mil, mais reajustes conforme a empresa, e pode chegar a R$ 3,0 mil, relata Rosa Filho. O profissional multimídia Para destacar a importância do trabalho desempenhado por este profissional, podese perguntar: As pessoas gostam de ver o mesmo texto no Twitter, no Website e no Facebook? A resposta certamente será “não”. A assessora e coordenadora de mídias sociais Kaehryan Fauth, que atua em uma assessoria de comunicação em Chapecó, relata que “ isso ocorre porque a própria dinamicidade das informações na internet faz com que fiquemos ansiosos pelo novo e acabamos exigindo assim um conteúdo diferenciado para cada mídia” . Conforme a jornalista, sua rotina é muito similar aos demais profissionais de imprensa. A diferença está centrada na capacidade de dar uma abordagem diferenciada ao conteúdo, na possibilidade de escrever sobre o mesmo assunto e moldálo conforme as características das diferentes mídias. Kaehryan frisa que “produzir conteúdos diferenciados requer tempo, prática e estudos referentes à produção nas mídias digitais, principalmente porque estão em constante evolução”. As empresas de comunicação encontram bastante dificuldade no que diz respeito à contratação de profissionais multimídia. Para Kaehryan isso está ocorrendo porque ainda é necessária uma evolução no que se refere ao conteúdo, além de atuar nos meios digitais, mas o caminho ainda é longo. “A chave do sucesso é a especialização consciente do caminho que o jornalista quer seguir”, comenta a assessora.

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O futuro da profissão Atualmente os cursos de Jornalismo têm buscado cada vez mais inserir matérias, que preparem os acadêmicos para este novo mercado. Conforme o professor Vagner, a universidade continua com as matérias básicas do Jornalismo, bem como as disciplinas na área de humanas. Porém, cada vez mais tem sido ampliada a oferta de disciplinas, que trabalhem outras características que surgiram em função das novas tecnologias. “Então, o curso continua oferecendo as disciplinas tradicionais relacionadas à cada mídia, e cada vez mais é maior o número de disciplinas voltadas para essa produção multimídia”, afirma o coordenador. Na nova matriz curricular de Jornalismo On-line na Unochapecó, há tem produção hipermídia, Prática Laboratorial para Jornalismo Impresso, e Jornalismo de Base de Dados. São quatro disciplinas, que não havia nas matrizes curriculares mais antigas. “É promovido debate em outras disciplinas sobre o assunto, em Teorias da Comunicação, por exemplo, se faz mais uma discussão sobre internet, cibercultura, se dá mais espaço as outras coisas que envolvem essa produção multimídia”, relata o coordenador. As universidades têm que preparar o jornalista para atuar nas diferentes mídias, e essa diversidade de atuação depende muito do perfil de cada profissional. “Alguns se dispõem a trabalhar nas diferentes mídias e outros não”, comenta o coordenador. Uma tendência muito forte que há é o jornalista especializado. Dalbosco diz que o profissional “vai se especializar não só em uma mídia, como antigamente, que era o jornalista de rádio, o de televisão, o de jornal impresso, a especialização era por mídia e hoje é por conteúdo”. Um jornalista que é especializado na área econômica, precisaria estar preparado para falar nas diferentes mídias. O especialista em política vai fazer um comentário no rádio, na TV, vai escrever uma coluna no jornal impresso e vai ter um blog. Conforme o coordenador, “cada vez mais a gente vai ver menos profissionais generalistas falando de tudo, e mais especializados em uma área, falando em diferentes mídias”.


A política a serviço do interesse público Jornalismo em cidades pequenas

Por Cristiano Pinto Zamboni

Foto: Cristiano Pinto Zamboni

Os discursos políticos e as promessas de campanha são um atrativo que interfere a imaginação das pessoas e na realidade de uma sociedade. Algumas propostas podem ser executadas, algumas entram em andamento e outras podem nem sair do papel, não serem iniciadas. O Jornalismo político direciona a atenção de uma parcela da população, que tem interesse em saber quais os projetos que estão sendo viabilizados para a comunidade da qual faz parte e o que os políticos têm a falar sobre seus feitos pela comunidade. Essas pessoas querem saber sobre o trabalho que o político está desenvolvendo. Com esse propósito de informar, o jornalista Manoel Gaboardi inicia a rotina de trabalho às 6h50, quando sai de casa em direção à Rádio Clube de Nonoai. Manoel registra a chegada na emissora às 7h, quando começa a realizar um balanço das principais notícias das editorias de política, social e cultura. Manoel faz participações nos programas Café com Informação, Show da Manhã e Jornal do Meio Dia. Manoel Gaboardi é formado pela Unochapecó, ainda em 2003 e há 12

Manuel Gaboardi é jornalista na Rádio Clube de Nonoai

anos trabalha na emissora AM 1230, que tem abrangência regional e um raio de 60 quilômetros e é ouvida em 10 municípios. Segundo o jornalista, diversos assuntos podem se tornar pauta do dia, dependendo da factualidade e do interesse público. No que se refere às notícias da editoria de política, são selecionadas pelo interesse público, garante ele. Segundo Manoel Gaboardi, quando um vereador realiza uma viagem para a capital do Estado ou Brasília, é disponibilizado o espaço para ele expor os interesses da viagem e quais os avanços, resultados, ou se a viagem teve ganho para a comunidade. Para o poder executivo, prefeito e vice-prefeito, também é usado o mesmo padrão, a realização de entrevistas sobre assuntos pertinentes para o momento, levando informações de interesse público para a população.

Jornalismo com imparcialidade A abordagem é de forma igualitária para ambos os lados, quando se trata de assuntos especificos. Gaboardi revela que recentemente fez um programa destinado a falar sobre a lei que determina que não haverá mais uma coligação na proporcional para as próximas eleições. Para haver um tempo justo, foi disponibilizado espaço para que todos os presidentes de partidos políticos da cidade expusessem as opiniões a cerca da pauta. Ele revela que determina que o tempo de uma entrevista com um político pode ser de até 10 minutos, não podendo ultrapassar esse tempo. Quando ocorre que o político esteja excedendo o tempo, é feita uma abordagem para Jornalismo na Pauta - 28

afunilar a entrevista e finalizar. O jornalista argumenta que os assuntos em nível federal são destacados quando beneficiam o município. Os deputados estaduais ou federais ganham espaço extra se estiverem defendendo um projeto que vai beneficiar diretamente a população, e o tempo também não excede os 10 minutos. Contudo, Manoel ainda entra em contato com os políticos que tiveram votação em Nonoai estão envolvidos em alguma notícia de repercussão estadual ou federal. Para o motorista Dionir Binotto, as matérias jornalisticas sobre política são importantes. Ele escuta os programas de rádio para se inteirar sobre os assuntos de interesse que possam mudar a realidade do município. Conforme Binotto, é necessário saber o que ocorre na cidade para reivindicar as metas diante dos politicos. O agricultor Carlos da Silva relata que faz pesquisa em outros veículos de comunicação, como jornais, para se inteirar dos últimos acontecimentos. Apesar de garantir que mantém a ética jornalística, Manuel Gaboardi avalia que os veículos de comunicação são tendenciosos, porque na editoria de politica são obrigados a divulgar as boas ações. Ele ainda comenta que fica inviável um veículo de comunicação, em uma cidade pequena, ter uma abordagem editorial crítica, ao abordar assuntos que geram polêmica, ou desagradem autoridades, ou pessoas com pode na cidade. Nessa linha de pensamento a população sai prejudicada porque sabe apenas as coisas boas, não tendo uma visão detalhada sobre o que envolve um determinado projeto.


Jornalismo: uma paixão que ultrapassa limites geográficos

Uma fronteira entre dificuldades e privilégios de ser jornalista em cidade pequena Por Stefani Specht

Distante dos holofotes de grandes redações e de pautas que geram repercussão nacional. É assim que o jornalista de cidade pequena, as conhecidas “cidades do interior”, em sua maioria, trabalham. Contudo, o trabalho não deixa de ser melhor ou pior. Nesse contexto, o profissional tem a oportunidade de estar mais próximo de suas fontes e do público-alvo. Para a jornalista do jornal Força D’Oeste, de Itapiranga, Camila Stuelp, ao trabalhar em cidades interioranas, o profissional irá se deparar com dificuldades. Contudo, admite que ao mesmo tempo existem vantagens que a atuação em centros maiores não possibilita. “Geralmente é fácil encontrar as pessoas, elas podem ser suas fontes ou conhecem alguém que pode. Por outro lado, em cidades pequenas nem sempre há especialistas em determinados assuntos para auxiliar nas pautas com enfoques mais específicos”, avalia Camila. Outros fatores que se diferenciam da atuação em municípios de maior abrangência são o ritmo de trabalho e as funções de cada um no veículo de comunicação. Para Camila, o profissional, nessas condições, deve desenvolver um serviço diferenciado. “A meu ver, o jornalista de interior precisa ser multifuncional: um pouco vendedor, repórter, saber atender e lidar com as pessoas”, acredita. O acesso a informações mudou muito, se pensarmos na época de nossos antepassados. Nossa vida é uma sucessiva transformação e há tempos a informatização vem progredindo, sem deixar de acompanhar as diversas mudanças do dia a dia das pessoas. As máquinas de escrever foram substituídas

por computadores modernos, diga-se de passagem, de última geração. Quadrosnegros deram vez a equipamentos multimídia e, cada vez mais, os cinemas e bibliotecas são menos frequentados. Tudo é consequência da sapiência humana. A informatização começou e o futuro é decorrente do presente. A história, os hábitos e os contextos diários são aspectos que guiam a sociedade. Em Itapiranga há dois jornais impressos, o jornal Força D’Oeste e o jornal Expressão, ambos de veiculação semanal, e duas emissoras de rádio, a Itapiranga AM (Rede Peperi) e a Onda Positiva FM. Todos esses veículos realizam a divulgação de notícias, além da “forma comum”, através de sites, portais ou mídias sociais. Até porque, diante dessa constante evolução midiática, os veículos de comunicação também avançaram degraus e se adequaram conforme as circunstâncias. Nessa esfera de progresso dos suportes de mídia, todos os indivíduos podem ser produtores de informação através da internet, um recurso rápido, barato e disseminado. Diante disso, é necessário filtrar e discernir as informações. Em uma pesquisa divulgada na internet pela Yahoo!, 80% dos conteúdos divulgados no meio online são frutos de produções dos próprios internautas. Em 2009, o Supremo Tribunal Federal extinguiu a exigência de diploma para atuação como jornalista. Com isso, há muitos que debatem o assunto de forma favorável ou contrária. Quem defende acredita que o diploma garante um nível maior na qualidade do trabalho desenvolvido e assegura maior reconhecimento profissional. Os argumentos adversos

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acreditam na liberdade de expressão e que o desenvolvimento de um bom lead, por exemplo, não é exclusividade para profissionais formados na área de comunicação, sem impedir o tráfego livre de notícias e informações. Elias Teixeira, radialista da Rede Peperi – Itapiranga AM, considera a formação acadêmica como algo muito relativo. “Talvez seja a única profissão no mundo que a formação acadêmica não é tão relevante. O jornalismo está no sangue, no amor e na dedicação ao exercício da profissão”, destaca Teixeira.

Os caminhos do jornalismo Itapiranga possui atualmente cerca de 16 mil habitantes e, como já citado, com uma diversidade de veículos de comunicação. Nesse contexto, a concorrência é mais explícita. Paulo Simch, jornalista do jornal Expressão, vê essa oposição com bons olhos. Para ele, “é exatamente a concorrência que faz com que os jornais busquem inovar, trazer assuntos e abordar temas diferentes. Ela é muito importante em qualquer meio, pois torna o trabalho mais desafiador”. Simch acredita, também, que o “jornalismo têm uma longa vida pela frente, porém, o desafio está em saber se reinventar, em inovar e buscar novos assuntos, trabalhar temas diferentes que realmente chamem a atenção do público. Hoje, a sociedade está cada vez mais exigente e a busca pela audiência é incessante. Segundo dados, a divulgação das notícias através das mídias sociais é extremamente importante para o veículo não parar nessa linha do tempo.


Radialista se encantou pelo Jornalismo desde criança Foto: Emily Machado

Por Emily Midiã Machado

Foi na década de 1960, ao sair do matiné, quando a Rádio Cultura de Joinville recentemente havia sido inaugurada, que nasceu um desejo de uma criança de apenas seis anos de idade. No momento em que subiu no segundo andar dos estúdios da rádio, havia a certeza de que essa era a profissão que seguiria a vida toda. “Eu fiquei maravilhado, era aquilo que eu queria”, relata Casemiro Roberto Vieira, que há 50 anos trabalha em rádio. No sótão de sua casa, de uma família humilde, Casemiro montou a sua própria rádio imaginária, com inspiração na Rádio Cultura. “Eu elaborava textos, fiz muita leitura e passei a ser um radiodifusor na época sem saber.” Entretanto, o sonho se tornou realidade e com 12 anos Casemiro já estava atuando profissionalmente em rádio, mas como operador. Porém, após educar e desenvolver a sua voz ele passou a ser radialista e acompanhou muitas mudanças.

Adaptação contínua

Casemiro trabalha em rádio há 50 anos

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Desde a época em que Casemiro iniciou na profissão as coisas ficaram mais acessíveis. Para ele, a rádio de “agora” possui mais facilidade diante de tamanha tecnologia. “Antigamente nós acompanhávamos tudo conforme podíamos, era com sacrifício e muita luta e os gravadores eram grandes. Então passamos a fazer esse trabalho de captação das notícias via outras emissoras, datilografávamos para folhas


de papel e depois liamos as notícias na rádio.” Segundo ele, a rádio sempre fez esse papel de informar e aproximar a comunidade, pois é dinâmica o suficiente para se adaptar ao que acontecer no futuro, da mesma forma que se adequou à internet. Além disso, para o comunicador a rádio tem um aspecto que é muito importante: o detalhe é depois. “A pessoa sofreu um acidente, por exemplo, e a rádio dá imediatamente aquilo, pois a partir do momento que souber vou ligar e transmitir para minha emissora, e isso a rádio faz como nenhum outro veículo vai fazer”, afirma. Depois, o ouvinte vai acompanhando na sequência da programação as informações mais detalhadas. “No outro dia você lerá o jornal e verá os detalhes, mas já passou isso no rádio anteriormente”, afirma Casemiro. Esses “tantos detalhes” já fizeram parte da vida do radialista. E quem nunca ouviu falar da rádio escuta? Casemiro conta que era preciso fazer rádio escuta e verificar se as informações realmente eram verídicas: “A rádio vinha por meio de agências noticiosas também, em termos de Brasil era só correria, a agência nacional de Brasília era quem passava as informações”. Casemiro ainda relata que tinha que ir até o plantão policial e anotar as informações no papel, levar para a rádio, para então fazer a redação. “Você tinha que ir atrás do prefeito para ver se era verdade aquela declaração, saia atrás dos vereadores, não existia celular, você tinha que acompanhar na Câmara Municipal”, diz. Para ele, era muito mais trabalho do que hoje. Incêndios, acidentes e outras ocorrências, na maioria das vezes, faziam

o povo ir até às rádios para passar informações, mas isso não acontece mais com tanta frequência. Apesar de toda essa interação com o ouvinte não ter acabado, hoje a forma mais frequente é pelo whatsapp, na opinião de Casemiro. “Aqui na rádio o ouvinte sempre nos informa e interage, ele é o ouvinte repórter, entra no ar para conversar conosco e isso sempre continuará.”

A mais lembrada Conhecida por muitos e considerada marcante, a voz de Casemiro, que há 40 anos está na Rádio Chapecó, sente o gosto da responsabilidade, o que para ele é sinônimo de satisfação e felicidade. “Dos seis até os 12 anos falando sozinho no sótão, numa rádio imaginária que eu criei, a voz só podia ficar assim. Deus me deu e eu procuro preservá-la”, agradece ele. Segundo Casemiro, é preciso ter talento para passar o que o receptor quer ouvir, ainda mais para o ouvinte mais exigente. O comunicador, avalia o radialista, tem que gostar do que faz e ter uma preparação com a voz e uma boa dicção para que o ouvinte entenda a informação. O jornalista entende que muitas vezes na televisão alguns apresentadores fazem um bom trabalho, mas tem dificuldade em algumas pronúncias. “Para alguns parecem certas, mas para quem entende e está há tanto tempo na rádio como eu, essas palavras são percebíveis.” Apesar de terem surgido outras oportunidades, “a voz de Casemiro queria permanecer em Chapecó”, e neste ano o comunicador completa 40 anos na Rádio Chapecó. Ele gostou da cidade, até saiu daqui, mas o destino o Jornalismo na Pauta - 31

trouxe novamente: “Descobri que estava apaixonado por Chapecó e não quis mais sair. Eu gostei da cidade e vi o desenvolvimento dela”. E aqui prêmios como o melhor noticiarista de Santa Catarina e de cidadão honorário foram conquistados pelo comunicador. Muito se fala que “qualquer pessoa” pode ser jornalista, até porque atualmente não precisa ter diploma, mas para Casemiro que conquistou a carteira de jornalista pelo tempo de trabalho, o ensino acadêmico é fundamental. “Não dá para acreditar em uma pessoa que não tem credibilidade e passa qualquer informação na rede social. Ele prejudica o trabalho que os jornalistas fazem e os professores que estão dando aula a vocês”, argumenta. Para ele, primeiramente é necessário buscar e averiguar uma situação antes de passá-la adiante. Muitas pessoas às vezes confundem a opinião do comunicador. Segundo Casemiro, os jornalistas são cidadãos como qualquer outro, cada um tem um partido político e sua opinião. “Eu posso ser filiado ao partido do prefeito, ser amigo de um político e fazer uma crítica contra ele ou não, e ainda ser jornalista da empresa Rádio Chapecó, ter a minha opinião e fazer o meu trabalho”, afirma ele. Com anos de experiência, Casemiro Vieira guarda lembranças inesquecíveis, algumas infelizes, como o acidente na época de uma feira. “Morreram mais de 20 pessoas e isso foi uma das coisas mais tristes que eu presenciei e acompanhei envolvendo a comunidade”, relata o noticiarista. Assim, leva uma bagagem com muitas experiências, oportunidades e valores, os quais não podem ser tirados, a não ser passados adiante.


O cotidiano de um assessor de imprensa Uma rotina cheia de novidades a cada minuto

Foto: Viama Baú

Por Viama Baú

União entre colegas auxilia na troca de ideias para as finalizações das matérias Em uma segunda-feira, aparentemente normal, em uma sala de cor bege com mesas abarrotadas com folhas e bloquinhos aonde não parecia ter nada de muito especial, encontravam-se pessoas que, visivelmente, estavam trabalhando sem muito entusiasmo. Esse é o dia de um assessor de comunicação da Unochapecó, mas há algo de errado nessa história! Quem não conhece, pode achar que a função de assessor de comunicação é fácil, sem muito com o que se esperar, que é somente chegar na redação sentar e verificar os e-mails, escrever os releases e ligar para os veículos de comunicação. Porém se engana, quem pensa que é somente isso o dia de um assessor de comunicação. Começa com uma reunião tranquila, em uma sala, aonde irão discutir a pauta do dia, em um clima descontraído, mas com toda a concentração voltada para a reunião. Todos os integrantes da redação sentam em um circulo com as pernas cruzadas, e seus blocos e canetas na mão, para ver as

pautas em andamento, dar finalização a algumas matérias pendentes e encaminhar novas matérias a serem feitas. Em sua mesa, o assessor fica concentrado em sua mesa, para realiza as atividades que foram previamente definidas, com seu fone de ouvido para escutar as entrevistas realizadas para as construções de suas matérias.

Decisão difícil de se tomar: Aceita ou Não Franscesco Flávio da Silva, professor e jornalista formado, teve uma grande decisão para tomar, referente à sua carreira, ou seja, aceitar ou não o convite para ser assessor de comunicação da Universidade Comunitária da Região de Chapecó – (Unochapecó) como ele revela. “Não foi algo muito premeditado. Estudei as possibilidades e condições e decidi investir nesta área, e deu certo. Não me arrependo”, destaca franscesco. Na rotina diária de correr atrás das informações para escrever textos para Jornalismo na Pauta - 32

a imprensa, o assessor de comunicação muitas vezes passa desapercebido. Eles são até estereotipados como oportunistas de informação, que se utilizam de um “poder” de saber das notícias antes, para passar essas sugestões de pautas, para quem eles querem. Porém, não é bem assim. Não é que o assessor de imprensa possua algum “poder” em especial para conseguir levantar as informações que serão passadas aos veículos de comunicação, e sim o assessor de comunicação auxilia os jornalistas sugerindo pautas, que serão aproveitadas, sim ou não em seu respectivo veiculo de comunicação. Na perspectiva do assessor de imprensa, Franscesco diz que a assessoria é um meio aonde as empresas e instituições encontram um canal através dos veículos de comunicação e outros meios, como internet, e-mail, para a comunicação tanto interna como externa. E a assessoria auxiliando assim a difundir informações importantes para todos os públicos.


Jornalismo digital: será o futuro da comunicação? Dados registram crescimento de 25% no faturamento das agências digitais no Brasil

Por Nádia Lidia Michaltchuk Cunha

A difusão da internet começou a ganhar força no Brasil na década de 1990. Desde então, a propagação das tecnologias digitais vem transformando a atividade jornalística. Antes, o habitual era o livro e o jornal impresso. Com a inclusão dos novos formatos de disseminação dos conteúdos, o usual recebeu impacto do rádio, seguido da televisão e, principalmente, da internet. O mercado, na área da comunicação, está vivendo um momento de profundas modificações tecnológicas. Contudo, é notório o crescimento de demissões em massa, conforme os sindicatos dos jornalistas seguidamente denunciam. Por outro lado, as agências digitais estão, cada vez mais, ganhando espaço no mercado da comunicação. Essas agências servem de suporte para empresas que necessitam de serviços voltados à área do desenvolvimento técnico e criativo de produtos relacionados à internet. Um exemplo é o fornecimento de jornalistas para produção de conteúdo online. De acordo com pesquisas realizadas pela Associação Brasileira de Agentes Digitais (Abradi), em 2011 o número de agências digitais registradas no Brasil era de 2.787. Já em 2013, aumentou para 3.388. O faturamento das agências digitais cresceu de R$ 1,47 bilhão em 2011 para R$ 3,36 bilhões em 2013, o que representa uma evolução de 25% em 2013. O comunicólogo com habilitação em Jornalismo Mattheus Rocha, morador do Rio de Janeiro, que atua na área de marketing digital desde 2006, ressalta a importância da qualificação do jornalista

no meio digital. “É preciso fazer a diferença, mergulhar fundo no mercado digital, porque a comunicação tradicional está passando por um momento difícil e os salários estão extremamente baixos. Já o marketing digital está se expandindo, mas ainda não existem profissionais suficientes para atender essa demanda”, aponta o jornalista.

Comunicação presencia a transição de jornalistas para a área da convergência digital. Isso exige que o profissional redefina suas técnicas utilizadas no jornalismo tradicional para garantir sua vaga no mercado de trabalho A preparação para o mercado digital Atualmente a comunicação presencia a transição de jornalistas para a área da convergência digital. Isso exige que o profissional redefina suas técnicas utilizadas no jornalismo tradicional para garantir sua vaga no mercado de trabalho. Portanto, é necessário que as instituições de ensino alterem seus perfis, incluindo, no desenvolvimento das aulas, ferramentas que interem os estudantes com o campo da comunicação midiática. Mas será que as universidades estão preparadas para garantir a formação desses profissionais?

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A Unochapecó disponibiliza o curso de pós-graduação especializado em Jornalismo e Convergência Midiática, voltado para jornalistas interessados em produzir conteúdos para plataformas digitais. A formação garante a ampliação de conhecimentos acerca do cenário tecnológico criado pelas mídias digitais. O profissional poderá atuar em empresas de comunicação e em produtoras de conteúdo para plataformas digitais. Também tem como opção ser analista de comunicação digital, monitorando repercussão e marcas na web. A coordenadora do curso, professora Angélica Lüersen, destaca que até pouco tempo a maioria dos cursos de Comunicação do Brasil não tinha disciplinas voltadas à área das novas tecnologias. Além disso, ela explica a importância da interação do profissional com o Jornalismo Digital. “Esse mercado tem um potencial muito grande, tanto de expansão, quanto de oportunidades que o jornalismo tradicional não oferece. Não existem limites de tamanho no jornalismo online, por exemplo. Isso possibilita a feição de novos desdobramentos e um aprofundamento maior da pauta. Outra possibilidade é o desenvolvimento de produções mais independentes.” Apesar das inúmeras possibilidades, a coordenadora lembra que a área ainda pode ser melhor explorada. “Os profissionais ainda desconhecem muitas ferramentas e plataformas utilizadas nesse meio. É claro que a universidade não esgota tudo o que é possível, mas fornece indicativos e os alunos podem buscar conhecimento fora da sala de aula”, finaliza.


A inserção da mulher no mundo do futebol Jornalismo como porta de entrada para a mulher no cenário futebolístico

Por Bárbara Michailoff

Não há limites aos brasileiros quando o assunto principal é o amor ao futebol e a mulher. E tudo isso fica ainda mais especial quando junta esse caso de amor e trabalho: jornalismo esportivo produzido por mulheres. Em meados de 1960, Germana Garilli, famosa Gegê, se tornou a primeira jornalista esportiva mulher no Brasil. Gegê foi radialista, programadora musical e repórter esportiva das emissões ao vivo. A paixão e a audácia de Gegê renderam muitas críticas positivas e negativas sobre “o que seria o lugar ideal da mulher”. Para muitos ou muitas, menos no futebol. Defensora do bom futebol e do futebol feminino, ela encorajou centenas de outras mulheres a seguirem este caminho. Tamanha determinação e peregrinação para ocupar um espaço no futebol, hoje resulta em um grandioso cenário futebolístico com a participação de mulheres. E, nesse palco, vem cada vez mais se conquistar maior adesão do público feminino. Com dois amores interligados, o jornalismo e o esporte, a pioneira contentava seus olhos ao ver e sentir a vibração de cada jogo e ouvir os gritos da torcida. No ditado popular: “Juntou a fome com a vontade de comer”. Gegê se realizou no seu trabalho e na sua paixão ao futebol.

Um sentimento feminino chapecoense Tomadas às proporções que o futebol tem a cada ano e campeonatos, novos torcedores surgem. Torcedores e torcedoras de todos os cantos do Brasil e do mundo. Em Chapecó a cenário não poderia ser diferente. E desta vez conquistando mais e mais os corações de profissionais e estudantes de Jornalismo. Esse é o caso da estudante Letícia Sechini, que cursa o sétimo período de Jornalismo na Unochapecó. “Não sei o que seria da minha vida sem o futebol. Hoje, ele é minha casa, minha maior paixão, meu instrumento de trabalho, meu ganha pão”, comenta Letícia, que esbanja dedicação e agudez em suas palavras explicando tal sentimento. Nas aulas, seu corpo e mente sentiam querer buscar algo a mais, pois tudo aquilo que estava aprendendo ainda não supria suas angustias e necessidades. “Precisava me encontrar”, diz ela. Muitas vezes chegou a pensar em desistir de tudo e cursar Design ou Arquitetura. Salvo o dia em que lembra com tamanha alegria o convite de um amigo para escrever em um blog sobre o time da cidade, hoje da Série A, a Chapecoense. Seus olhos brilharam com a oportunidade de escrever sobre Jornalismo na Pauta - 34

algo que tanto gosta, o futebol. Nada o fez desanimar, apesar de nunca ter se imaginado atuar no Jornalismo Esportivo. Agarrou a oportunidade com as duas mãos e decidiu não desistir do Jornalismo. “No início tive medo. Eu mesma tive um certo preconceito, porque o esporte, o futebol em si, é um ambiente muito masculino, por isso, muitas vezes arredio por achar que mulher não sabe de nada, não entende de futebol, mas eu fui de cabeça para esse desafio”, desabafa Letícia. As portas para o mercado de trabalho se abriram e o blog cresceu, conforme o time foi subindo de nível, até chegar à desejada Série A. Antes, visto como um pequeno meio para escrever sobre o Verdão, e alguns sonhos de torcedores, o blog atualmente é uma referência. A utlização das técnicas de Jornalismo, somadas a pitadas de críticas e arte literária no texto esportivo, são estopim para o sucesso, conta o segredo a estudante. De olhos e ouvidos apurados, cada milimetro no estádio era observado pela jovem aprendiz. Desde uma piscada de olhos do técnico, a um gesto do jogador ou de um torcedor triste ou alegre com a partida. Nada passava pelo olhar atento e detalhista de Letícia. Tudo era registrado minuciosamente, anotado


Letícia Sechini diz não saber o que é ser jornalista sem o futebol e não pretende seguir outro segmento do jornalismo

em seu bloquinho e através das lentes de sua câmera. Ela descreve o resumo desse balé esportivo, como detalhes e sentimentos de uma complexa poesia. Talvez o jornalismo e o esporte sejam realmente um casamento perfeito, construído diariamente com cada pequeno detalhe. Porém, muitas vezes suado e sofrido. A voz contagiante e vibrante ao falar de futebol com tamanho domínio e agudez, os olhos se entristecem ao relembrar de alguns momentos onde foi julgada por ser “incapaz” de escrever sobre esporte devido ao sexismo do “ser mulher”. “As vezes que sofri, na verdade, ainda sofro, é sobre a questão de ser do sexo feminino. No inicio me sentia constrangida e até desvalorizada. Tudo isso foi passando ao longo do tempo quando muitas pessoas começaram a acompanhar meu trabalho e elogiar. Isso me fortalece, porque sei que sou capaz de fazer um bom trabalho,

tanto quanto um homem”, afirma. Atualmente, Letícia escreve para sites do Brasil. Ela também dá entrevistas e comenta jogos na tevê e em rádios da região. “Ser mulher não me impede de nada. Sei que sou boa no que faço, como sei que preciso estar sempre melhorando. Não deixarei que ninguém passe por cima de mim, porque entendo de futebol. Tenho um diferencial, uma visão mais ampla. Porém, não desmereço o trabalho e audácia de grandes mestres do Jornalismo e das cronicas esportivas, como a de Nelson Rodrigues e Eduardo Galeano.” Letícia acredita que o jornalismo esportivo está ganhando uma nova ferramenta de sensibilidade para o futebol, com a inserção da mulher. Uma vez que o futebol era visto somente como jogadores correndo atrás de uma bola para marcar o gol, isso não é mais.

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“O futebol é um complexo bombardeio de sentimentos encruzilhados. Choro, alegria, gargantas inchadas de tanto gritar, unhas roídas, vaias e discussões. São 90 minutos de uma longa e intensa explosão de desespero e uma felicidade extrema. A mulher só vem a contribuir e dizimar essa intenção entre as pessoas e o futebol.” A conclusão da estudante, que deseja nunca abandonar o esporte e o jornalismo, é que o instigante mundo futebolístico possa ser comparado a uma analogia de trocas. “Durante toda a vida o ser humano, seja ele homem ou mulher, troca de casa, carro, namorado, namorada, cabelo, entre outros. Entretanto, uma coisa não muda, o amor à camisa que veste desde que muito pequeno, a do time de futebol. Tudo se troca, tudo se aperfeiçoa e tudo se inclui, e isso inclui a mulher no futebol”, argumenta Letícia.


Do “vitrolão” ao rádio digital Rádios AM de Chapecó se preparam para fazer a mudança para a faixa FM

Por Lucas Tadeu Lobor

Chapecó conta atualmente com seis emissoras rádios, sendo que todas elas possuem grande interatividade com o público chapecoense. Uma delas é a Rádio Super Condá AM, que possui uma programação diferenciada, quando o assunto se trata de participar ativamente da comunidade. O fundador da rádio Super Condá, o jornalista e advogado Alfredo Lang, conta um pouco sobre a trajetória da emissora e das muitas dificuldades que enfrentou no início. “Quando viemos pra Chapecó enfrentamos um desafio, o pessoal achava que não podia ter outros veículos de comunicação”, comenta Lang. Gaúcho de Getúlio Vargas, Alfredo veio para Chapecó aos 26 anos. Casouse no Rio Grande do Sul com a técnica em contabilidade Clara Mirian, com quem teve quatro filhas. Lang iniciou sua carreira profissional no ramo da radiodifusão em 1968, como fundador da Rádio Sideral, em Getúlio Vargas, onde exerceu o cargo de diretor executivo. Chegou em Chapecó no ano de 1971 e está há 44 anos na Capital do Oeste. Veio com o intuito de trabalhar como advogado, mas percebeu que havia a necessidade de se ter mais um meio de comunicação na cidade. “Quando cheguei aqui, só tinha a Rádio Chapecó e o jornal semanal Folha do Oeste”, comenta Lang. Então, com a ajuda de um grupo de empresários, fundou

em 1974 a Radiodifusão Índio Condá. “A gente entendia que o município não podia ficar mudo, tinha que ter um veículo que botasse a manifestação do povo, que liderasse muitas reivindicações comunitárias”, ressalta Além de promover gincanas e mateadas, a emissora possui programas que se dirigem as comunidades. Conta também com uma grande participação em eventos culturais de forma marcante, fazendo promoções que envolvam bastante a comunidade. Segundo Lang, o Sistema Condá de Comunicação conta com repórteres circulando nas diversas áreas, com programas de debates e programas que abordam com profundidade os temas sociais. “Se as emissoras não se capacitarem a levar a boa informação, elas vão acabar perdendo seu público”, comenta Lang. É com essa visão empreendedora que a família Lang decidiu atuar no espectro da FM. Em 1985 surge em Chapecó a Oeste Capital e mais recentemente, em 2013, a rádio Sonora FM.

Programa de entrevistas e debates “Estúdio Condá” é um dos mais populares em audiência no radiojornalismo chapecoense Jornalismo na Pauta - 36

Evolução e migração para FM Em breve as emissoras passarão por mudanças. Irão migrar do AM para o FM por conta de uma mudança na legislação e no sistema de transmissão. Este é um assunto onde o Brasil será pioneiro, pois, nos outros países ainda se mantém as duas opções, tanto em AM quanto para FM. O certo é que a qualidade do som em FM é muito mais agradável, mas a abrangência do sinal se limita. No caso da Super Condá, ela atinge atualmente cerca de 400 municípios, mas nessa migração a abrangência ficará em torno de 200 municípios. O único problema encontrado pelas rádios AM é o lado financeiro, porque todo os equipamentos velhos não terão mais utilidade. Para Lang, umas das soluções mais rentáveis será a exportação destes equipamentos para outros países que ainda mantenham o sistema AM. Lang também acredita que a emissora não irá diminuir seus índices de audiência por conta da migração porque a audiência da rádio está muito ligada com a qualidade da programação. Atualmente a Rádio Super Condá ocupa o espaço 610 na faixa AM. Na FM, possivelmente, conforme estudo preliminar, ela estará na frequência 78.3 Logo após a mudança para o FM, a emissora poderá operar concomitantemente com AM por cinco anos.


Jornalismo em Rádio Comunitária Rádio Efapi, a única emissora comunitária de Chapecó, atua há cerca de um ano e apresenta a realidade da comunidade

Por Lidiane Pagliosa

Profissional da área, Zander Meira no programa de entrevista Tribuna Efapi Atualmente as emissoras radiofônicas seguem duas linhas, a comercial e a comunitária. A rádio comercial é uma emissora que vai gerar lucros. De certa forma vai vender durante suas programações. Já a comunitária possui um viés voltado para a comunidade, para atender as necessidades da localidade e vive das contribuições ditas como patrocínios culturais.

O jornalista trabalha com apuração, com a busca de informação e transcreve isso de acordo com a factualidade e relevância, em uma linguagem que o receptor consiga compreender o fato da forma que ele ocorre. E, para aquele que atuará em radiojornalismo, essas técnicas e habilidades aprendidas na teoria serão aplicadas no rádio. Mas, esse meio possui limitações, entre elas a de disputar a atenção do ouvinte com outras atividades. Portanto, trabalhar jornalismo em rádio é diferente do que ocorre, por exemplo, com o impresso onde o leitor tem a possibildade de ler a notícia novamente, se não compreender. No rádio isso não é possível.

A cidade de Chapecó possui uma rádio comunitária, localizada na Rua Dionisio Cerqueira, no Bairro Efapi. A Rádio Efapi fez sua primeira transmissão em 6 de maio de 2006. Segundo um dos colaboradores da emissora, que trabalha no Departamento de Jornalismo, Ademir Domingos Calvi, desde o surgimento a rádio destinou um espaço para a produção jornalística. Porém, por ser uma rádio comunitária, a produção sempre foi mais reduzida, pois não recebem nenhum tipo de recurso público, como os outros meios. A emissora hoje destina diariamente cerca de três horas para a veiculação de informações jornalísticas.

Foto: Douglas Scherer

Nascer, crescer e escolher o caminho pelo qual pretende trilhar. Quando criança o momento mais esperado é o início da fase adulta, e quando essa chega, um impasse: a escolha da profissão que se pretende seguir. É no trabalho que muitas pessoas permanecem grande parte de suas vidas. Entre muitas profissões, uma escolha é pela de jornalista. Profissão que possui um amplo campo de atuação, tais como: televisão, online, impresso, assessorias, fotografia e o rádio.

Rádio Comuitária da Efapi

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Há programas de entrevistas, programa esportivo diário com destaque para a produção de conteúdo local e inserção de informações curtas dentro da programação. Estes são alguns dos formatos jornalísticos que fazem parte da programação da Rádio Efapi. Ela ainda veicula diariamente o Jornal dos Trabalhadores (JT), que é uma programação de todas as emissoras comunitárias do Estado. Conforme Ademir, isso faz com que a programação local, se torne estadualizada. “Sempre sob a ótica de comunicação comunitária”, afirma ele. Quanto à infraestrutura para desempenhar o jornalismo, Calvi destaca que atualmente a Rádio Efapi já conta com espaço físico e equipamentos para trabalhar os mais diferentes programas. “Sempre há a necessidade de buscarmos melhores condições, especialmente de equipamentos e técnicas”, acrescenta. Em relação à produção de conteúdo, segundo ele é local e são coletadas informações junto à comunidade. De acordo com Calvi, são várias as fontes de informações e surgem a todo o momento. Para a produção de conteúdo em nível nacional, os profissionais de jornalismo que atuam na emissora contam que algumas agências disponibilizam as informações para serem usadas. A principal dificuldade, segundo o profissional, nas rádios comunitárias é em relação à situação financeira. A rádio comunitária tem o perfil de atender os interesses da comunidade. Com isso, esse tipo de emissora é, para muitos o principal meio informativo. O fato de tratar de informações locais, desperta o interesse do público e garante audiência à emissora.


Uma relação tão próxima que beira ao casamento A boa convivência entre o repórter e o cinegrafista Por Maristela Eli dos Santos

atenção que gostaria. Concatto diz que se pudesse escolher outra profissão que não a dele optaria por ser cineasta, pois adora trabalhar com imagens e o cinema proporciona maior detalhamento, tempo e atenção para desenvolver o produto final.

Uma visão frente e verso às câmeras Para Lárarson Machado Cortelini, repórter da RIC TV de Chapecó, o profissional que atua diariamente ao seu lado é fundamental na produção das matérias. “Costumo dizer que sem o cinegrafista não existe TV”, afirma Lárarson. Para ele, trata-se de um trabalho de troca e a pauta pode até virar se o profissional ver algo que o repórter não vê. Cortelini sempre consulta quem está ao seu lado, seja o cinegrafista, o pauteiro, o produtor ou o editor, pois acredita que para que tudo dê certo. Há um trabalho de toda uma equipe por traz das câmeras. O repórter aparece a ser visto pelo público, mas para que ele saia bem no vídeo. Há muitos profissionais que se esforçam para isso acontecer, lembra. Lárarson acredita que o Jornalismo o escolheu. Ele conta que quando foi se inscrever no vestibular colocou Jornalismo como primeira opção e não Publicidade como antes pretendia cursar. Ele vê sua profissão como responsabilidade social e ética . Em cinco horas diárias de trabalho, busca levar informações com dedicação e profissionalismo aos telespectadores. Cortelini traz à tona o sensacionalismo e afirma que em certas situações os temas não deveriam ser explorados, mas que infelizmente é bastante rotineiro nos veículos de comunicação atualmente. Jornalismo na Pauta - 38

Neste contexto de sensacionnalismo, veio na mente de Lárarson algo que marcou em sua carreira e que ele nunca irá esquecer. Em suas lembranças ele relata a história de um menino de nove anos que, ao brincar com um amigo, pegou a arma de seu pai e acidentalmente atirou em sua própria perna. O amiguinho se assustou e saiu correndo, enquanto o garotinho ficou sozinho e acabou morrendo por hemorragia. Como Cortelini estava recém formado e atuando na área, sua tarefa era fazer um perfil do garoto falecido, com entrevista aos parentes, que num momento difícil ainda tinham que esclarecer tudo ao profissional. Cobrir o velório e entrevistar o amigo que se assustou e não pediu ajuda, também foi algo que pesou e não sairá de sua mente. “Explorar notícias como esta é desumano”, concluiu Lárarson.

Foto: Maristela Eli dos Santos

“No Jornalismo não têm como você dizer ‘Faz o teu e eu faço o meu’. Se você fala isso, com certeza alguma coisa vai faltar no final do produtoomo uma imagem, um erro no texto, alguma informação que não está corretamente anotada, alguma coisa sempre escapa”, relata Arvito Concatto Júnior, cinegrafista atuante na RIC TV de Chapecó. A convivência entre o cinegrafista e repórter deve estabelecer uma relação de trabalho em equipe, pois diferente de que muitos pensam, onde só o repórter faz tudo, há muito que acontece por traz das câmeras. Desde a saída da redação e com a pauta em mãos, começa a parceria e o trabalho que envolve esses dois profissionais que trabalham para informar da melhor maneira a população. Num trajeto até o local marcado para a produção da matéria, os dois revisam a pauta e começam a dialogar para ver qual a melhor maneira de desenvolvê-la. Arvito chama esse diálogo de uma troca de ideias e diz que deve de haver sintonia entre ambos, pois um ajuda o outro e os dois complementam a matéria. Para ele, o repórter é a cabeça da equipe, mas o cinegrafista também pode contribuir com informações para acrescentar e até mesmo com fatores que podem dar um novo rumo à matéria, já que vê tudo num ângulo diferente. Noções como melhor ângulo ou luz ou ajeitar uma gravata também contribuem para um bom resultado final. Atuante há 26 anos e com seis horas de trabalho diário, Concatto garante que desempenha sua rotina com prazer, pois gosta da profissão que escolheu. Ele relata que é bem exigente com ele próprio, e com a correria do dia a dia nem sempre tudo sai como o zelo e

Uma dupla que atua diariamente para informar à população


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