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Publicação anual do Festival de Inverno de Ouro Preto e Mariana Fórum das Artes — Edição 02 — 2012 — Ano II
A América Latina e a arte 318 atividades culturais, entre espetáculos de dança, teatro, shows, fóruns, circuitos culturais, cinema, literatura, patrimônio histórico e atrações infantojuvenis
Expediente Organização Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) Administração reitor: Prof. Dr. João Luiz Martins Vice-reitor: Prof. Dr. Antenor Rodrigues Barbosa Júnior Pró-reitor de extensão: Prof. Dr. Armando Maia Wood Pró-reitor Adjunto de extensão: Prof. Danton Heleno Gameiro coordenações coordenação Geral Prof. Dr. João Luiz Martins Prof. Dr. Armando Maia Wood coordenação Geral Adjunta Prof. Dr. Danton Gameiro coordenação executiva: Júlia Mitraud coordenação de Programação: Flaviano Souza e Silva coordenação de Produção: Mônica Gomes Coordenação de Oficinas: Tereza Gabarra coordenação de comunicação: prof. José Armando Ansaloni e Rondon Marques coordenação Financeira: Kátia Borges coordenação de Logística: Nadja Garbin Bicudo curadorias - infantojuvenil: Flaviano Souza e Silva - Artes cênicas: professores Ricardo Gomes e Rogério Santos Oliveira - Artes Plásticas: Joyce Miranda e Mariella Vilela (Fundação Arte de Ouro Preto – FAOP) - Artes Visuais: prof. Adriano Medeiros e Juan Carlos - Literatura: professores Emílio Maciel e Marta Maia - música: prof. César Buscácio e prof. Guilherme Paolielo; Rodrigo Toffolo e Celso Alves - Patrimônio: Simone Fernandes, Casa do Patrimônio de Ouro Preto – IPHAN
FOtO De cAPA Uma demonstração da arte de uma forma mais ampla, reunindo, em uma única imagem, referências das artes cênicas, plásticas, dança e interlocução com o patrimônio histórico. A foto de capa dessa edição é do espetáculo “Ressonâncias”, do grupo mineiro Quik Cia. de Dança, que propõe a transversalidade da arte para refletir o cenário vivo de cada local de apresentação, permitindo aos interlocutores revelarem suas imaginações. Um misto de movimentos culturais, que é a tradução da miscelânea artística do Festival de Inverno de Ouro Preto e Mariana. (foto de Paula Peçanha)
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revista Festival Assessoria de comunicação institucional - UFOP coordenação Aci - UFOP: prof. José Armando Ansaloni e Rondon Marques coordenação de jornalismo e edição geral: Edwaldo Cordeiro Foto da capa: Naty Tôrres edição de foto de capa: Rondon Marques equipe de jornalismo: Edwaldo Cordeiro - JP/MG 11.388 Gláucio Santos - JP/MG 11.102 Mariana Petraglia - JP/MG 12.458 Verônica Soares - JP/MG 13093 redação: Bruna Fontes, Felipe Sales, Gláucio Santos, João Gabriel Nani, Kamilla Abreu, Kleiton Borges, Kíria Ribeiro, Manuela Ferreira, Mariana Petraglia, Ramon Cotta, Renata Felício, Rolder Wangler, Rondon Marques e Verônica Soares. colaboração: Bruna Sudário e Roberta Nunes. revisão: prof. José Armando Ansaloni e Milena Gallerani contatos Aci-UFOP: (31) 3559-1222/1223 – aci@ufop.br site: www.ufop.br e www.festivaldeinverno.ufop.br. Fotografia Eduardo Tropia, Flávia Tropia, Lucas de Godoy e Naty Tôrres. Coordenação de fotografia: prof. André Luís Carvalho. Bolsistas de fotografia: Adriel Campos, Carol Teixeira, Íris Zanetti, Isadora Faria, Lídia Ferreira, Nathália Viegas, Paula Peçanha, Rodrigo Toledo, Sarah Gonçalves, Tácito Chimato. Projeto gráfico e diagramação: Mateus Marques tiragem: 2.000 impressão: MJR Editora contato: Pró-Reitoria de Extensão (Proex – UFOP) - Assessoria de Artes e Cultura: (31) 3559-1358 Festival de inverno | Ouro Preto e mariana
Editorial ............................................................................4 Poesia ................................................................................5 Lançamento ....................................................................6 Entrevista .........................................................................7 Futuro................................................................................9 Panorama........................................................................10 Circuito Trilheiros ...........................................................13 Circuito Expositivo ........................................................14 Circuito Ateliês ...............................................................15 Artes Plásticas ...............................................................16 Entrevista ........................................................................20 Música .............................................................................21 Conexão ..........................................................................25 Artes Visuais ...................................................................26 Artes Cênicas .................................................................28 Fórum das Artes ............................................................32 Oficinas ...........................................................................38 Distritos ...........................................................................42 Projetos Especiais .........................................................42 Web..................................................................................44 Festival em Números ...................................................45 Entrevista ........................................................................46 Vozes Latino-Americanas ............................................47 Eu “curto” o Festival .....................................................48 Recortes do Festival .....................................................50 Crônica ............................................................................54
Editorial
Instrumento de registro histórico Sem dúvida, uma das características que mais chamaram a atenção do público durante o Festival de Inverno de Ouro Preto e Mariana - Fórum das Artes foi a profusão de atividades culturais oferecidas. Em uma das extremidades do evento, por exemplo, estavam as artes cênicas, as visuais, as plásticas; na outra, a música, a poesia, as oficinas e as palestras, todas se intercalando e produzindo novas reflexões sobre o campo das artes no mundo de hoje. Para isso, a cada ano trabalha-se um tema específico. Em 2012, a América Latina norteou a Universidade Federal de Ouro Preto na organização do que iria compor a programação. O resultado foi a reunião de 318 atrações artísticas — incluindo nela espetáculos internacionais —, colocando, definitivamente, o Festival como evento cultural internacional. Com apoio das prefeituras das duas cidades, da Fundação de Artes Ouro Preto, da Fundação Educativa Ouro Preto e de instituições públicas e privadas, o Festival de Inverno, assim como nos anos anteriores, conseguiu atrair milhares de pessoas de várias regiões do Brasil. Destaque especial para a participação cada vez maior do público local, a partir do projeto Festival com a Escola e nos Distritos. Para registrar todo esse ambiente cultural que se instalou nas duas cidades históricas durante boa parte do mês de julho, a Revista Festival procurou englobar todas as atrações artísticas, tornando-se, assim, importante instrumento de registro histórico do evento para a UFOP e para as duas cidades. A Revista Festival começou a ser produzida e editada em 2011. Assim como na primeira edição, traz coberturas jornalísticas desde o lançamento, em junho, até o último dia, em 22 de julho, abrangendo o maior número possível de áreas culturais participantes. Trabalharam na produção profissionais de várias áreas, entre jornalistas e fotógrafos, apoiados por bolsistas dos cursos de Jornalismo e de Letras da UFOP, sob coordenação da Assessoria de Comunicação Institucional ACI-UFOP. A Assessoria agradece a contribuição de todos durante o processo de produção desta segunda edição da Revista Festival, da Universidade Federal de Ouro Preto. E, como disse o escritor, ensaísta e filósofo argelino, Albert Camus, “sem a cultura e a liberdade relativa que ela pressupõe, a sociedade, por mais perfeita que seja, não passa de uma selva. É por isso que toda a criação autêntica é um dom para o futuro”. Edwaldo Cordeiro, Editor
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Festival de Inverno | Ouro Preto e Mariana
Circuito Venal
Poesia
Por Rondon Marques
Quem quer ser latino-americano? O questionamento ecoa por veias e artérias num pulsar infante que antecede a história de mais de 500 anos. Pulsa, pulsa, pulsa... Bate um coração de paixão por sua terra, onde brotam os sonhos e as vozes de seus antepassados. Pulsa... Latejam na pele as culturas que, num hibridismo constante, insistem em alternar cores e matizes. Pulsa... Palpitam até os pés os ritmos nacionais, sejam quais forem suas mães pátrias ou amadas ou amantes. Popular ou moderna. Dominada ou industrial. Urbanizada ou antagônica. Dependente e imperial. Latinoamérica Pulsa o questionamento: ¿Libertas, Libertad, Liberdade?
Lançamento
Eventos de lançamento aconteceram nos dias 18 e 19 de junho Por Manuela Ferreira
“LATINOAMÉRICA: ¿libertas, libertad, liberdade?”. Esse foi o tema do Festival de Inverno de Ouro Preto e Mariana — Fórum das Artes 2012, lançado para a imprensa da região dos Inconfidentes no dia 18 de junho, no Espaço Cultural da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg). A coletiva contou com a presença do reitor da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), prof. dr. João Luiz Martins, do próreitor de Extensão, prof. Armando Maia Wood, e de autoridades lo-
foto: Lucas de Godoy
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cais, prefeitos e representantes. Belo Horizonte também contou com um lançamento, no dia 19, no Memorial Minas Gerais Vale, na Praça da Liberdade, região Centro-Sul da cidade. No evento, Martins destacou o sentimento de liberdade como parte da história do Festival e a reflexão acerca do tema, que faz todo sentido no contexto de Ouro Preto, de Mariana e da América Latina: “Cultura, arte e patrimônio unem esses países, e a noção de liberdade vem ao encontro da arte”, ressaltou.
foto: Lucas de Godoy
Festival de Inverno | Ouro Preto e Mariana
Entrevista
Armando Maia Wood
“Um grande exemplo de internacionalização”... Por Verônica Soares
Revista Festival (RF): Fazendo uma retrospectiva, qual a sua avaliação da trajetória do Festival de Inverno? Armando Wood (AW): Acho que superamos a fase de consolidação e podemos dizer que o Festival encontrou seu caminho. O evento passou por muitos momentos diferentes: ainda na década de 1950, surgiu como iniciativa do Governo do Estado. Depois, na década de 1960, a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) teve importante papel na sua realização de maneira mais sistemática. Nessa época, o Festival começou a formar gerações de artistas mineiros; os principais grupos musicais de dança e de teatro passaram por aqui. Então, o evento passou por alguns anos de instabilidade, até que, a partir de 2004, quando a UFOP retomou a organização, já havia uma história, um parâmetro, uma exigência de qualidade a ser seguida. Isso fez com que cuidássemos, ainda mais, dos aspectos de planejamento, execução e logística. O Festival de Inverno não surgiu do nada, ele tem história e um espaço que foi sendo conquistado ao longo de todos os anos.
foto: Edwaldo Cordeiro
Após acompanhar de perto o Festival de Inverno de Ouro Preto e Mariana – Fórum das Artes pelos últimos seis anos, o próreitor de Extensão da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) e coordenador geral do evento, prof. Armando Maia Wood, falou da sua trajetória junto à equipe de organização, dos desafios, das conquistas e das expectativas para as próximas edições.
Fórum das Artes 2012
RF: Podemos afirmar que hoje o evento se aproximou de um modelo ideal de gestão? AW: Acho que 2012 foi o ano em que o Festival chegou a outro patamar, mesmo com restrições orçamentárias, mesmo com as crises econômicas e o processo de contenção das empresas. Um sinal muito positivo dessa caminhada é perceber que nossos patrocinadores não nos abandonaram e a cada ano aumenta o interesse e a participação dos parceiros. Isso são coisas que nos deixam felizes, porque nenhum patrocinador vai investir em algo que não tem boa perspectiva. Isso nos faz pensar que estamos no caminho certo. RF: O Festival é o maior evento extensionista da UFOP. Como ele cumpre esse papel? AW: Este ano foi diferenciado, pela variedade de atrações e pelo retorno positivo que recebemos. Internacionalizamos o evento, permitindo inscrições de propostas de artistas e grupos de fora do Brasil, e trabalhamos mais com a base da comunidade nos dois municípios. O “Festival com a Escola”, por exemplo, é um projeto que repercute, porque cria novos espectadores. A gente nota que os shows e as ruas estão mais cheios de moradores, de gente da região. As pessoas estão se apropriando de maneira mais efetiva, elas sentem que esse é um evento delas. Isso é muito importante para nós e para a comunidade também. O cinema na praça, em Mariana, foi um grande sucesso. O trabalho nos distritos de Ouro Preto e Mariana é algo que cria uma afinidade muito grande. Para nós, isso é algo positivo, porque toda Universidade quer trabalhar a realidade local, trazer para discussão uma análise crítica da realidade e também uma contribuição no desenvolvimento e nas possibilidades locais. Criar um evento
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Entrevista
como esse, onde tudo ocorre na prática, é muito valioso. É algo capaz de mudar o presente e o futuro.
“O Festival se tornou um grande exemplo de internacionalização nas áreas da cultura e da arte, criou um modelo muito importante”... RF: Como essa proposta extensionista se alinha às estratégias mais amplas da UFOP, em seu papel acadêmico-científico? AW: Hoje, as universidades têm a missão de se internacionalizar e muitas oportunidades estão sendo criadas para alunos da graduação fora do país. Elas também já se consolidam como uma boa opção para pessoas de outros países que queiram realizar intercâmbio acadêmico e científico. Isso é algo que se espera e acho que a UFOP não se eximiu desse papel. O Festival se tornou um grande exemplo de internacionalização nas áreas da cultura e da arte, criou um modelo muito importante ao trazer grupos como o Workcenter of Jerzy Grotowski and Thomas Richards, com várias atividades, com uma contribuição significativa para os alunos de Artes Cênicas e Música, por exemplo. As conversas que a UFOP propôs no Fórum das Artes também tiveram a sua expressão. Foi um passo importante, mas ainda há bastante coisa a ser feita. RF: Pensando um pouco no tema da América Latina e como ele permeia essa noção de patrimônio imaterial, muito foi falado sobre o que nos une e o que nos diferencia como latino-americanos. Qual sua avaliação sobre a discussão desse tema durante o Festival? AW: Foi riquíssimo ver pessoas de outros países, não só da América Latina, levando a discussão a um nível mais amplo e permitindo o entendimento do que se dá no mundo, não apenas na nossa região. É fato que os países
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Armando Maia Wood
querem soberania e liberdade, mas julgamos ser importante que essa noção de identidade seja formada com base na troca de ideias. É a identidade de cada um, aquilo que diferencia, mas sempre pensando em um sentido construtivo, de aproveitar as boas ideias uns dos outros a fim de aperfeiçoar, de colaborar. Outro ponto importante é a provocação: que América Latina é essa que a gente quer? Quem quer ser América Latina? Nesta contração da economia mundial, podemos pensar em um mercado maior, mais consistente, que supere as crises. Mas, para querer algo de outro país, é importante discutir, conhecer o que é importante para o outro, e acho que a UFOP criou um evento onde isso foi feito de maneira exemplar. RF: Com tantos intercâmbios culturais, qual a identidade do Festival de Inverno da UFOP? AW: Acho que é a educação em sentido mais amplo, é o receber, é a amizade e a convivência que acontecem aqui. Um evento desses quando acontece em São Paulo ou Belo Horizonte, as pessoas se dispersam, se perdem, as cidades são grandes. Mas, em Ouro Preto e em Mariana, você fica esbarrando em todo mundo o tempo todo. Essa convivência gera um método de imersão: são duas semanas para viver essas cidades em um sentido diferente, não só pela questão histórica, mas também pela convivência com as pessoas. RF: É um resgate da hospitalidade mineira? AW: Não tem jeito de deixar de ser, é algo da cultura mesmo. Acho que o Festival, ao envolver os museus, o circuito das trilhas, os ateliês dos artistas locais, cada uma dessas coisas une as duas cidades e dá sentido à movimentação das pessoas, indica os caminhos por onde elas devem passar. Com todos os hotéis e pousadas cheios e os serviços funcionando plenamente, integrados à ideia do Festival, com o mesmo espírito de receber, isso resulta em um receber diferente. Não é só o receber amigável dos mineiros, é algo que se construiu. E, à medida que você faz isso todo ano, de maneira sistemática, você vai aperfeiçoando esse serviço. Cada um que se integra a esse projeto vai crescer e aprender a receber melhor. E aí os ganhos não ficam só para o Festival, mas para a cidade,
para o comércio, para os empresários da região. RF: Que desafios ainda precisam ser superados? AW: Precisamos ampliar o alcance do Festival, atingir mais a sociedade. Conseguimos chegar a seis distritos em Ouro Preto e outros seis em Mariana, mas ainda não chegamos a João Monlevade, que é uma cidade importante para a UFOP. Planejar e produzir o evento em Monlevade é um desafio, a logística é difícil e cara, mas realizar o Festival lá é um desejo da Universidade. Queremos estar em todos os lugares em que a UFOP está, levando cultura e educação para a sociedade e para os moradores. Quando conseguirmos fazer isso, acho que a proposta vai ser completa. RF: Que recado final você deixa para os leitores da revista, que tem um público tão diverso quanto o do próprio Festival? AW: Venham, conheçam o Festival de Inverno de Ouro Preto e Mariana. Todo mundo que veio e experimentou essa oportunidade levou uma boa lembrança. E tem muita coisa para se viver no aconchego das duas cidades: nossa comida, nossa cultura, o Barroco, a questão ambiental com as trilhas, que são muito bonitas. Todo brasileiro deve conhecer Ouro Preto e Mariana. Então, venham conhecer as cidades durante o Festival, unindo os prazeres. Vida longa ao Festival de Inverno!
“Planejar e produzir o evento em Monlevade é um desafio, a logística é difícil e cara, mas realizar o Festival lá é um desejo da Universidade. Queremos estar em todos os lugares em que a UFOP está”. Festival de Inverno | Ouro Preto e Mariana
Futuro
Consolidação e perspectivas Reitor da UFOP ressaltou garantia de recursos para a edição 2013 do Festival de Inverno e a união das cidades sedes, Ouro Preto e Mariana Por Gláucio Santos e Renata Felício
Dança, música, exposições de artes plásticas, peças teatrais, filmes, entre outras atividades culturais, em um total de 318, marcaram o Festival de Inverno de Ouro Preto e Mariana — Fórum das Artes 2012. Nas ruas, praças, teatros ou casas de shows, por onde se passasse lá estava o festival, levando arte, cultura, entretenimento, diversão e debates para as duas cidades. De acordo com a Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), organizadora juntamente com a Fundação Educativa Ouro Preto (Feop) e as duas prefeituras, em 15 dias de evento foi superada a marca de 250 mil pessoas registrada em 2011. Uma das preocupações da UFOP, que conta com apoio e parceria de diversas empresas como Vale, Samarco e Gerdau, é que o Festi-
val siga em frente, com o mesmo padrão de qualidade. “Ele precisa ter vida longa, precisa acontecer independente de prefeito e de reitor. Já inseri, em uma ação para o orçamento do próximo ano, recursos para garantir a execução dele em 2013. Independente do gestor, que o Festival continue com esta força e união das duas cidades, oferecendo cultura e entretenimento”, disse o reitor João Luiz Martins na solenidade de abertura, que contou com a presença de lideranças políticas de Ouro Preto e Mariana. O coordenador geral do Festival e próreitor de Extensão da UFOP, prof. Armando Maia Wood, ressaltou a proposta apresentada pelo reitor, que será encaminhada para apreciação do Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (Cepe). Segundo o coordenador, o objetivo é fazer com que o evento seja considerado institucional, e não fruto de uma única administração. Ele apontou, ainda, outras iniciativas de igual importância: “Há outros eventos da UFOP que devem ser preservados pelo seu nível ativo na comunidade, fazendo com que as pessoas conheçam a Universidade, as cidades de Ouro Preto e de Mariana, valorizando a cultura, a língua e a literatura brasileira — é o caso do Fórum das Letras e do Encontro de Saberes”.
Solenidades A abertura oficial do Festival de Inverno, no dia 08 de julho, foi marcada pela descontração. No palco do Teatro Ouro Preto, no Centro de Artes e Convenções da UFOP, o riso ficou garantido com trechos da peça “O minto das
foto: Íris Zanetti
Fórum das Artes 2012
labdácias – Antígona”, espetáculo adaptado da obra de Sófocles (Antígona), um trabalho de conclusão de curso de alunos de Artes Cênicas da Universidade. Os curadores de música Guilherme Paoliello e Celso Alves interpretaram a canção San Vicente e Soy louco por ti América. Também foi apresentado um vídeo em que membros de todas as curadorias ressaltaram a importância da América Latina e a abordagem do tema no evento. A solenidade contou, ainda, com homenagens entregues pelo coordenador geral, prof. Armando Wood. Foram agraciados o reitor da UFOP, os prefeitos de Mariana e Ouro Preto e as empresas patrocinadoras - Vale, Gerdau, Petrobras e Samarco.
Mariana Na semana seguinte, Mariana recebeu a abertura oficial do Festival, durante a Festa da Panela de Pedra, no distrito de Cachoeira do Brumado. O evento contou com a participação do reitor João Luiz Martins, de representantes da prefeitura de Mariana e de outros convidados. “O Festival enaltece a Festa e o patrimônio regional e preserva a cultura, que hoje é muito importante para as famílias desse distrito”, disse Martins. Uma das atrações da Festa foi o show de Oswaldo Montenegro. Acompanhado pela flautista Madalena Salles, o cantor tocou músicas do seu novo disco “De passagem”, além de grandes sucessos da sua trajetória musical. “A minha alma tem as serenatas de Minas impregnadas nela. Então, quando volto, é como se eu voltasse pra casa”, disse Montenegro. Realizada desde 2005, a Festa procura valorizar o artesanato e a culinária local. Organizada pela Associação de Moradores de Cachoeira do Brumado (AMCB) e pelo Festival, ela atrai cerca de 7 mil turistas todos os anos. De acordo com Juracy Bezerra Eleutério, integrante da AMCB, o fato de a abertura do Festival de Inverno acontecer durante a festa ressalta sua credibilidade e é motivo de orgulho para a comunidade.
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Panorama
Um novo olhar sobre a América Latina Ao todo, foram 318 atividades realizadas pelo Festival de Inverno de Ouro Preto e Mariana — Fórum das Artes 2012. Resumindo, foram 42 espetáculos de artes cênicas, 72 de música, 33 de artes visuais, 64 oficinas, três eventos de literatura, dez de artes plásticas, oito do Fórum das Artes e vários outros. Com isso, o público pôde aproveitar, durante 15 dias, de 08 a 22 de julho, todos os gêneros artísticos e culturais de forma gratuita, com exceção das oficinas e dos eventos da Conexão Festival. A América Latina foi o ponto de apoio para o tema e para as atrações oferecidas em 2012. Na cerimônia de abertura, o reitor da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), professor João Luiz Martins, disse que o evento é importante para a valorização do patrimônio e da pluralidade. “O festival tem que ter vida longa”, ressaltou, destacando a internacionalização como forma de tornar o evento ainda maior. 10
Festival de Inverno | Ouro Preto e Mariana
Por Kamilla Abreu
A expressão América Latina foi utilizada pela primeira vez em 1856, pelo filósofo chileno Francisco Bilbao. Normalmente, usa-se a expressão para se referir a países da América do Sul, América Central e México. Porém, na definição utilizada pela Organização das Nações Unidas (ONU), o México e o Caribe são excluídos. Região onde são faladas línguas românicas – derivadas do latim, principalmente o espanhol e o português e, ocasionalmente, o francês – sua população, em 2008, estava estimada em mais de 569 milhões de habitantes. A América Latina ocupa aproximadamente 3,9% da superfície da Terra. Segundo o historiador e professor de História das Américas e História Atlântica da UFOP, Luiz Estevam de Oliveira Fernandes, a América Latina é muito diversa economicamente. Há países de pobreza extrema, como o Haiti, e há países apostando em modelos desenvolvimentistas, como o Brasil, que vem crescendo nos últimos anos. Essa diversidade também se reflete culturalmente: “Há manifestações de culturas tradicionais, algumas que datam de grupos indígenas e negros, mas também incríveis manifestações atuais e que dialogam com um mundo conectado e globalizado: grafites, uma pulsante produção cinematográfica, cumbias, raps, funks etc”, esclareceu o professor. Ainda segundo ele, a influência que a América Latina recebe de outros países é de duas montas, ambas com a busca atual por um mundo que procure a conciliação entre capitalismo e consumo com uma economia verde: “A primeira delas tem a ver com crescer e distribuir riquezas. Há, fora daqui, sem dúvida, certa idealização de nossas políticas públicas. Com isso, o continente ganha visibilidade. E a segunda tem a ver com as culturas do “Buen Vivir” dos povos andinos, cada vez mais estudadas e presentes na constituição do Equador, por exemplo”, explicou Fernandes. Para ele, o povo latino-americano ainda é identificado pela imagem equivocada de um povo mestiço, pobre, católico, atrasado e comandado por corruptos caudilhos e ditadores. Fórum das Artes 2012
Esta imagem da terra da desordem convive com a do turismo sexual, da festa constante e da vida preguiçosa. Porém, de acordo com Fernandes, cada vez mais essa imagem tem dado lugar a uma nova. “Essa antiga América Latina dá lugar a uma nova idealização de combate à pobreza, crescimento e fortalecimento da democracia. Além disso, se tem a ascensão das esquerdas e a busca de novas formas de crescimento e responsabilidade social”, salientou o especialista. O professor lembrou que ambas as imagens são criações (nem todas falsas, nem todas verdadeiras) e o que se chama de América Latina é uma abstração na qual convivem países muitos distintos entre si, que muitas vezes mal se conhecem. Logo, para superar essas imagens, é preciso conhecer e estudar mais essa região. “O conhecimento é a única forma de superar o preconceito”, analisou.
Uma nova perspectiva Atualmente, devido a motivos econômicos, culturais e políticos, a América Latina é o foco da atenção de outros continentes, principalmente da Europa. O ano do Brasil na França (2005) e em Portugal (2012) são exemplos que demonstram a valorização cultural da região. Outro fator relevante que coloca os países latino-americanos em destaque é a crise mundial que afeta principalmente os norte-americanos e os europeus. Assim, vários artistas veem no “Novo Mundo” a oportunidade de atingir um público maior. Por isso, consta-se um aumento significativo de shows internacionais em turnê nessa área. Nesse cenário, a equipe de coordenação e de curadoria do Festival de Inverno aprovou o tema sugerido pelo reitor da UFOP, uma vez que um debate sobre a América Latina seria produtivo neste momento. Toda equipe da organização buscou, então, nas mais variadas vertentes culturais, referências que enriquecessem a discussão proposta pelo antropólogo argentino contemporâneo Néstor García Cancline: “Quem quer ser latino-americano?”. Decidido o tema, a equipe da Assessoria de Comunicação da Universidade optou pela
assinatura “Libertas, Libertad, Liberdade” que, posteriormente, ganhou pontos de interrogações no início e no final da frase. Assim, a expressão intenciona a referir-se além das questões históricas de colonização e ditaduras, mas também das panorama, a arte que ilustra o Festival retrata todas essas questões. Segundo Rondon Marques, coordenador da equipe de comunicação do Festival, a Assessoria buscou uma obra que fosse leve e clara, fugindo dos padrões escuros e barrocos, presentes no conceito gráfico dos festivais anteriores. A obra “Pipas”, de Jorge Fonseca, refletiu uma gama de possibilidades de leitura e significação, já que os carretéis de linha puderam representar tantos os países latino-americanos como a diversidade das pessoas. Já o céu de pipas apresentou um paradoxo, pois ao mesmo tempo em que abre o horizonte, limita o espaço. Coincidentemente, a obra contém 20 carretéis e pipas, mesma quantidade de países da América Latina.
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Quem quer ser latinoamericano?
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O cenário latino-americano
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, i l a d e i u Daq r a g u l o d de to ,a “A cidade fica bem cheia nte. O população aumenta basta diferente Festival traz alguma coisa para nós”.
boa oportunidade para “Gostei bastante. É uma a parte do cinema, divulgar os filmes.Vi mais nteceram, algumas da as peças teatrais que aco s de regiões vizinhas. própria UFOP, e os grupo das Artes do Festival. Olhei também o Fórum cussões. Acho uma boa Percebi que há várias dis udantes, os interessados, oportunidade para os est er mais sobre a e sab os leigos, para interagir nas Gerais. Foram Mi arte no país e aqui em alternativo; não são bons os filmes, o circuito to acesso; foram bons obras que você tem tan ialistas e estudantes de os comentários de espec ós a sessão. É muito legal cinema sobre o tema, ap ho que isso deixa mais porque dá uns insights. Ac em geral”. acessível para o público io, 29, de Vinhedo, sP. Ana carolina Bonifác
lva, Antônio Gomes da si Preto. 59, morador de Ouro s e encerramos ei de recitais, visitei museu e com a cip rti Pa o. im ót foi no er “O Festival de Inv Mariana.Venho sempr Grupo Galpão aqui em do ão taç en res ap a m co família toda para curtir”. te. terior, de Belo Horizon ex cio ér m co de te en roberto soares, 56, ag
“Acho que é uma ra oportunidade grande pa er ec nh o turista. Além de co a, ric tó toda essa riqueza his compartilhamos muita informação. Acompanhei filmes, alguns shows e apresentações de jazz. ro. Acertei mesmo no rotei r Além de a gente pode rível, conhecer essa cidade inc ar cip podemos também parti ” dos debates e discussões. o Viviane Aparecida Peric da e nt da tu es Alexandre, 33, rá. Pa do lém marinha, de Be
pre faz com que ela fique sem no er Inv de val sti Fe o e, no comércio. E é “Além de divulgar a cidad ente para quem trabalha lm ipa inc pr s, nó ra pa m cheia. É bo e sou taxista.” muito bom para mim, qu pote, 59, conhecido como ca , ta co ho tin os Ag sé Jo eto. morador de Ouro Pr
local. e atrações para o publico rec ofe m bé tam e a for Você tem as de ação rica culturalmente. “O Festival recebe pesso ram og pr a um ta en res ap . Ele Isso é muito interessante cas e outras opções.” sti plá es art , música, teatro do iPHAn, alismo e funcionária rn Jo de e nt da tu es , Lidiane Andrade, 28 a. moradora de marian shows o, algumas peças, alguns lpã Ga o up Gr ao ir ist ass a apresentação de “Tive a oportunidade de 0 anos do Gonzagão e um 10 s do ar, da ão raç mo me co como o de i da programação, do lug ste go : nte ssa ere int ito i mu um grupo de samba. Ache tivas e a paisagem daqui é muito legal”. ep rec são as sso pe cidade. As eira vez no gentina, músico, prim Ar – a ob rd có , os an rodrigo toledo, 26 ão pelo Brasil. tá fazendo um mochil es o, rn ve in de l va sti Fe
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Festival de inverno | Ouro Preto e mariana
Circuito Trilheiros
Experiências históricas
foto: Lucas de Godoy
Por Rolder Wangler
“Foi uma sensação boa, porque gosto bastante de fazer trilhas e desfrutar das belezas que a natureza tem a oferecer. E Mariana e Ouro Preto são exuberantes”, descreveu a estudante de Serviço Social da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), Amanda Resende, 20, natural de Campo Belo, Minas Gerais. Com cinco atividades, o “Circuito Trilheiros” promoveu passeios pelas trilhas de Ouro Preto e de Mariana, em locais por onde passaram os bandeirantes no século XVII. A trilha escolhida pela estudante da UFOP foi Carmagos – Bento Rodrigues, distritos de Mariana, na qual os participantes eram levados a um dos locais mais antigos da cidade, datado da época do pioneirismo da mineração no estado. No total, o “Circuito Trilheiros” promoveu quatro caminhadas e um passeio ciclístico. Os destinos escolhidos foram o distrito de Carmargos, em Mariana, a Chapada, em Lavras Novas, e São Bartolomeu, em Ouro Preto. Todas as trilhas foram elaboradas por uma equipe de montanhistas e brigadistas, profissionais que também orientaram os percursos. Lucca Viersa, 19, morador de Franca (SP), que procurava uma atividade de ecoturismo na região, o Circuito foi incrível. “Além de proporcionar contato com a rica natureza local, pude vivenciar uma experiência histórica fantástica. Esses grandes momentos transformaram minha viagem”, destacou o estudante de Relações Internacionais na Universidade Estadual Paulista (UNESP).
foto:Yasmin Cubas
foto:Yasmim Cubas
nas trilhas dos inconfidentes foto: Edwaldo Cordeiro
Fórum das Artes 2012
foto: Sarah Becker
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Circuito Expositivo
América Latina reunida em museus e em exposições De mostras a intervenções urbanas e exposições, “Circuito” contou com 17 atividades
foto: Adriel Campos
Por Ramon Cotta
Uma vez ouvi falar que Ouro Preto e Mariana são um museu a céu aberto. Nelas, a história do Brasil e da América Latina está documentada em cada igreja, ladeira, rua, casa ou praça. Ambas as cidades são referências para quem quer se aprofundar e conhecer um pouco mais a trajetória histórica latino-americana. Para quem compareceu ao Festival de Inverno, o Circuito Expositivo apresentou produções intelectuais da cultura do continente. Durante os 15 dias de evento, o público pôde realizar um passeio pelo Barroco de Aleijadinho, nas pinturas de Mestre Ataíde, conhecer as relíquias da arquitetura brasileira, os monumentos históricos tombados e outras atrações culturais. Em Mariana, a Catedral da Sé, o Museu Arquidiocesano de Arte Sacra e o Museu da Música também fizeram parte do Circuito. Em Ouro Preto, a Casa dos Contos recebeu a exposição “Mão da América’’. Baseada na escultura de Oscar Niemeyer, instalada na Praça Cívica da Fundação Memorial da América Lati-
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na, em São Paulo, a mostra foi inspirada na obra “As veias abertas da América Latina”, do escritor uruguaio Eduardo Galeano, e apresentou a pluralidade cultural latina. No Grêmio Literário Tristão de Ataíde, também em Ouro Preto, a exposição fotográfica “Faces da Terra’’, da artista Natália Goulart, abordou o cotidiano de diversos países. “Essa exposição foi muito especial para mim. Busquei retratar a história latina, os traços, jeitos, os recortes verdadeiros do nosso cotidiano nas fotografias”, explicou Goulart. Na galeria do Centro Cultural e Turístico do Sistema da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), a exposição “Barroco Liberto”, do “Coletivo Olho de Vidro”, fez uma leitura do tema do Festival, articulada com as especificidades de Ouro Preto. Já a exposição “Amazonas, Amazônia, Amnésia”, apresentou, na Galeria de Arte Nello Nuno, na Fundação de Artes de Ouro Preto (Faop), fotografias, desenhos e instalações da
obra do artista viajante Rodolphe Huguet, que vão desde o Marrocos até a Índia. Além disso, a exposição apresentou as últimas peças do artista, específicas para “Libertas, Libertad, Liberdade”, que, por sinal, foi o eixo temático do evento. “A palavra e o gesto e cores e sons de Lacerda”, que aconteceu no Cine Vila Rica, utilizou o documentário para atingir o público de maneira interativa. Juan Carlos Timótheo, curador de Artes Visuais, enfatizou a importância das exposições: “Uma possível resposta é pensar as exposições como um lugar intencional que deve pontuar a necessidade de um contínuo processo de formação’’, analisou. O “Circuito Expositivo” contou com 17 atividades, entre mostras, sessões de cinema, intervenções urbanas e exposições, além de ter sido um espaço dedicado aos artistas locais, para que eles pudessem apresentar seus trabalhos.
Festival de Inverno | Ouro Preto e Mariana
Circuito Ateliês
Arte local:
pela preservação e renovação Circuito Ateliês contou com a participação de 57 ateliês em Ouro Preto e em Mariana, proporcionando contado direto com artistas locais Por Felipe Sales
As cidades de Ouro Preto e de Mariana são conhecidas no Brasil e no exterior pela sua importância histórica e artística. Mestres da arte como Aleijadinho e Manoel da Costa Ataíde inspiram os artistas locais que ainda entalham, pintam e inovam. Durante o Festival de Inverno, o Circuito de Ateliês proporcionou contato dos visitantes com artistas locais. Nesta edição, participaram 32 ateliês de Ouro Preto e 25 de Mariana, em um total de 57. As peças de arte expostas variavam entre entalhamento em madeira e pedra sabão, pintura, moda, reciclagem e outros trabalhos com materiais, como, por exemplo, o vidro. A artista Anni Souza, 23, natural de Itabira, é proprietária de um ateliê, onde confecciona oratórios. Ela contou como foi o início e o que a levou a seguir essa carreira: “Começou como uma brincadeira de criança. Desde pequena sempre vi minha mãe entalhar a madeira, brincava em meio aos pedaços, fazia de brin-
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quedo peças que ela não utilizava mais e muitas esculturas se tornaram minhas bonecas. Entre tintas e pedaços de madeira, criava meus próprios brinquedos; e meu mundo de diversão era quando minha mãe trabalhava. Quando fiz 12 anos, minha madrinha me enviou um molde de oratórios feitos a partir de caixinhas de fósforo e comecei, dessa forma, a produzir”. Souza relatou, ainda, a felicidade que tinha quando um turista comprava uma peça produzida por ela. “Era algo fascinante para mim, me sentia importante. Tinha meu próprio dinheiro, podia ir a uma loja e comprar aquilo que desejava. Era pouco, porém, para uma criança, era algo surpreendente”. Aos 15 anos, ela decidiu que ser artista era a sua profissão. Aos 22, Souza assumiu o ateliê da mãe em Mariana, pois outro tinha sido aberto pela família em Ouro Preto. Há três anos a artista administra o próprio negócio, no qual produz 40 modelos de oratórios diferentes em pa-
pel, entre eles a réplica do Oratório Lapinha, o Bala e o feito de caixinha de fósforo, com o qual ela começou. Ela explicou um pouco da técnica: “Trabalho com papel paraná, uma placa prensada que possui considerável resistência. Faço aplicações com folha de ouro para o acabamento e um verniz que aumenta a resistência, tornando-o impermeável. Crio peças com certo toque de ilusionismo, dando às pessoas a impressão de serem peças feitas com madeira. Faço a pintura usando a técnica de pátina, o que surpreende quando digo que os oratórios são feitos com papel”, conclui. A latinidade presente na propagação da fé católica por meio dos oratórios e a gratificação por ser intermediária nesse processo foram ressaltadas pela artista: “As peças que produzo proporcionam às pessoas esperança quando oram pedindo ou agradecendo por alguma graça, na fé de que a divindade sempre estará ali presente, intercedendo por elas”.
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fotos: Nathália Viegas
Artes Plásticas
Mistura de core “A economia colonial latinoamericana dispôs da maior concentração de força de trabalho até então conhecida, para possibilitar a maior concentração de riqueza que jamais possuiu qualquer civilização na história mundial. A violenta maré de cobiça, horror e bravura não se abateu sobre estas comarcas, senão ao preço do genocídio nativo.” Trecho do livro “As veias abertas da América Latina”, de Eduardo Galeano
Em parceria com a Fundação de Artes de Ouro Preto (Faop), o Festival de Inverno preparou para o público 10 atrações na área de artes plásticas, entre exposições e intervenções urbanas. Carro chefe do evento, as cicatrizes deixadas pelas histórias de exploração e opressão vividas pela América Latina foram refletidas na exposição “A Mão da América”, nas 30 interpretações de artistas latinos sobre a “Mão”, escultura permanente de Oscar Niemeyer instalada na Praça Cívica da Fundação do Memorial da América Latina, em São Paulo, inspirada na obra literária “As veias abertas da América Latina”, do historiador uruguaio Eduardo Galeano. A exposição aconteceu na Casa dos Contos, em Ouro Preto. Artistas brasileiros, mexicanos, peruanos,
chilenos, uruguaios e argentinos utilizaram as mais diferentes formas para expressar visões sobre o passado de luta e o presente otimista dos países do continente. Por meio da oxidação com arames de latão e aço carbono, o artista brasileiro Nino Millan resumiu a essência das relações entre esses países, ao mostrar que, mesmo parecendo desunidos, os povos estão amarrados uns aos outros e que, juntos, podem progredir e desenvolver melhores condições. Grafite, madeira, apliques de adesivo, desenho, pintura e colagem foram algumas das técnicas utilizadas na produção das peças que compuseram a exposição. A estudante Mariana Marques, mestranda em História pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), considerou que “as visões peculia-
foto: Adriel Campos
es e de culturas
Por Mariana Petraglia
res sobre a América Latina mostraram a diversidade das culturas e as diferentes interpretações a respeito de um mesmo tema”. Para ela, as obras possuem conteúdo bastante politizado. As raízes econômicas, sociais e políticas foram identificadas em diversos momentos da exposição. A escultura “Tupac Amaru”, do artista uruguaio Juan Muzzi, por exemplo, lembrou o líder indígena peruano, um dos símbolos da luta contra a exploração. A miscigenação, a religião e o misticismo também foram refletidos nas obras que formaram o olhar multifacetado dos artistas sobre a América. Para lembrar a expressão religiosa, as manifestações de fé e a forte mistura de raças, a brasileira Sheila Oliveira utilizou nanquim, fotografia e colagem, na obra “Divina América”.
As principais preocupações da atualidade como a destruição do planeta, o desmatamento e o mau uso da tecnologia também foram abordados. Com placas de computador e imagens digitalizadas, o artista brasileiro Walter Miranda trouxe a reflexão sobre a tecnologia alcançada pelo ser humano e a sua má utilização. A conclusão da artista brasileira Aurea Valentim é de que a situação dos países latinos não mudou muito e que ainda se pisa em sangue. Esta é a mensagem transmitida por ela na obra “Artérias Dilaceradas”, produzida a partir de técnica mista. Para a vice-presidente da Faop e responsável pela Curadoria de Artes Plásticas, Joyce Miranda, a exposição traduziu bem a essência do tema do Festival “LATINOAMÉRICA - ¿Libertas, Liber-
tad, Liberdade?”, pois expressa o sentimento dos artistas sobre a história de seus países.
Estética das cores O Brasil é uma mistura de cores, de ritmos e de culturas. A criatividade do povo e o cenário brasileiro, principalmente o mineiro, foram retratados pela artista plástica Vanice Ayres Leite, na exposição “Riquezas de Minas”. Garimpo, colheita, forró, religião e carnaval foram os temas que deram às telas, produzidas em nanquim sobre papel, cores fortes e alegres, fazendo referências às nossas ricas manifestações estéticas. “Batuque”, “Forrozeira Brasileira”, “Carnaval e Choperia”, “Mulheres Fazendo Crochê”, “Pescadores de São Francisco”, “Lavadeiras”, “Congada
artEs Plásticas em Conceição do Mato Dentro” e a “Procissão das Beatas Solteironas” foram algumas das 21 obras apresentadas, retratando as belezas naturais do País, os figurinos típicos, os traços físicos característicos e a animação dos brasileiros. A artista revelou que a sua inspiração é a cultura brasileira: “A mistura de raças, os traços mulatos e negros, as coisas a que as pessoas não dão valor, como as colheitas, o folclore; enfim, o povo me inspira”. A artista de Belo Horizonte ainda explicou: “Faço desenho utilizando nanquim, isso não é muito simples, pois só existem as cores primárias. Tenho que saber misturar para chegar nos tons que quero”. O visitante Eduardo Rodrigues, também de Belo Horizonte, já conhecia o trabalho de Vanice e contou que a beleza das obras e os ícones da mineiridade enfatizados nas telas repletas de cores vivas foram os fatores que mais lhe chamaram a atenção. A exposição ficou em cartaz na Galeria do SESI Mariana.
uma PEculiar simPlicidadE A inspiração para as telas do artista Silva Costa vem do cenário tipicamente mineiro: as
foto: Adriel Campos
ruas, os campos, a sua querida Cataguases e as cidades vizinhas. A utilização de cores quentes e a riqueza dos detalhes são traços marcantes em suas obras. Seu olhar bucólico retrata o cotidiano, as colheitas, as festas típicas e as paisagens brasileiras nas 30 telas que compuseram a exposição “Recontando histórias”. O que leva o espectador a observar minuciosamente cada um de seus quadros é o movimento criado pelas diferentes cenas que acontecem simultaneamente. Em cada ponto da tela, existe um detalhe a ser reparado. Além de descrever a vida interiorana, o artista demonstra seu amor por Minas Gerais ao inserir a bandeira mineira em diversas obras, mesmo que não esteja dentro do contexto da imagem. Utilizando óleo sobre tela, Costa mostrou o seu rebuscamento ao fazer uso do pontilhismo em muitos dos seus trabalhos. Segundo ele, essa técnica é a continuação do impressionismo. “É o neo-impressionismo, uma maneira de formar imagens utilizando pontos coloridos na tela”, explicou com uma peculiar simplicidade. O artista, que sempre pintou por lazer, lembra que a arte o salvou quando o banco em que trabalhava fechou as
portas e deixou muitos desempregados. Hoje, o dom que possui desde a infância é a sua profissão. Para a curadora Joyce Miranda, o estilo desse mineiro autodidata reflete a alma latino-americana por utilizar cores fortes em cenas festivas e nas manifestações religiosas. As obras repletas de vida do cataguasense ficaram expostas no Centro de Convenções de Mariana.
ExPrEssõEs locais Buscando valorizar a cultura local e abrir espaço em uma cidade que respira arte, a exposição “Mariana: um Celeiro de Artistas” mostrou 24 obras de artistas da Associação Marianense de Artistas Plásticos. Utilizando as mais variadas técnicas e materiais como madeira, pedra sabão, lápis de cor, metais e vidros, eles apresentaram sua criatividade em obras que abordavam diferentes assuntos e mostravam a diversidade artística da cidade. Os trabalhos ficaram expostos no Centro de Convenções, em Mariana.
táticas E Estratégias “Táticas Heterogêneas / Aproximações Entrópicas”, do Grupo Estratégias da Arte numa Era
de Catástrofes, da Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), abriu o Festival de Inverno e ficou disponível até o final do evento, no Centro de Artes e Convenções da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP). Caracterizada, como o próprio tema diz, pela heterogeneidade das obras, a exposição reuniu fotografias, relevos em papel, instalações e apresentações de artistas do Grupo e abordou a capacidade da arte contemporânea de criar novos significados para os objetos, lembrando fatos e lugares traumáticos da história, como o terrorismo de Estado na América Latina.
artista visitantE Com peças criadas exclusivamente para o Festival, o francês Rodolphe Huguet utilizou fotografias, desenhos, aquarela e instalações na exposição “Amazonas, Amazônia, Amnésia”. O artista viajante tem a característica de transformar os objetos. Correias de sandálias de plástico coloridas foram coladas na parede e deram movimento à obra “Liberdade”. Fotografias de Ouro Preto e de Belo Horizonte foram penduradas em um varal, mostrando toda a sua criatividade ao trans-
foto: Adriel Campos
formar o mesmo objeto em diferentes imagens. A exposição ficou em cartaz na Galeria de Arte Nello Nuno, na Faop.
a artE Estava Em todo lugar... Distribuídas em vários pontos de Ouro Preto estavam as “Intervenções Urbanas”. Produzidas por professores e alunos da Faop, elas mostraram que a terra é o elemento comum entre os seres vivos e o suporte da vida. A instalação “Recortes”, por exemplo, colocada na fachada do Núcleo de Arte da Fundação, na Praça Antônio Dias, consistiu em uma rede de mandalas de cerâmica de tamanhos e cores diversas sobre um grande painel de tecido pintado com terra. A instalação “Recortes” propôs uma visão velada dos casarões coloniais, ao mesmo tempo em que revelava as paisagens esquecidas da cidade. Para isso, foram utilizadas faixas de pano transparente com impressões de xilogravura. Cegando com argila as janelas das fachadas de prédios do Centro histórico de Ouro Preto, estava a intervenção “Olho Cego”. O objetivo foi mostrar que não só a escuridão pode cegar, mas também o excesso de luz.
Eis a estrada, eis a ponte, eis a montanha sobre a qual se recorta a igreja branca. Eis o cavalo pela verde encosta. Eis a soleira, o pátio e a mesma porta. E a direção do olhar. E o espaço antigo para a forma do gesto e do vestido. E o lugar da esperança. E a fonte. E a sombra. E a voz que já não fala, e se prolonga. Trecho do poema “Cenário”, do livro Romanceiro da Inconfidência, de Cecília Meireles
foto: Adriel Campos
foto: Nathália Vi
foto: Adriel Cam
foto: Adriel Campos
foto: Adriel Campos
Entrevista
É pau, é pedra, é “O Grivo” do lixo à sucata, da sucata à música Por João Gabriel Nani fotos: LídiaFerreira
Quando o convencional já não basta, algo deve surgir. Madeira, caixas de fósforo, latas de tinta, barbante, arame, sucata em geral; uma nova perspectiva de som e espaço; uma maior interação entre a máquina e o homem. Marcos Carneiro e Nelson Soares, do grupo “O Grivo”, buscam uma nova definição para fazer música, sem deixar de fazer arte. Com formação erudita, os belorizontinos sempre concordaram que os concertos lhes soavam tradicionais e conservadores demais. Faltava algo para que seus ouvidos pudessem contentar-se com os espetáculos. Depois de vários estudos, resolveram adentrar na esfera experimental. Como eles gostam de afirmar, ambos estão à deriva. Mixar sons e ruídos distintos a fim de obter música é o ápice do experimentalismo. O uso de piano e instrumentos de cordas os aproxima, ou não, dos músicos convencionais. Mas a questão que fica em voga vai além deles. Revista Festival (RF): No Brasil, existe público para música experimental e para a música como arte? Marcos: Sim. Sempre há. Pequeno, porém há. Acredito que a tendência é de que as pessoas comecem a buscar algo novo, que parem de se contentar com que lhes é ofertado. Eu e o Nelson buscamos algo novo e alcançamos um resultado. Partimos do zero. Com relação à separação de música e arte, no Brasil, o pessoal tem essa mania. Para mim, música é arte. Arte por aqui é muito canonizada, parece algo distante de se obter, algo inalcançável. Nosso trabalho é visto como arte e não como música. Gostaria muito de romper essa barreira. RF: Como é o desenvolvimento do trabalho de vocês, a importância da interação com o espaço e a tentativa de estabelecer um diálogo com estruturas que transcendem a música? Nelson: A gente tenta ocupar o espaço com o som, que é extremamente poderoso, como uma possibilidade de ocupação de espaço, tanto de ocupar o espaço como de criar gestos, criar movimentos. Então, estamos mais preocupados com essa pesquisa. Mais do que tentar estabelecer uma conexão, um diálogo entre um determinado som ou uma estrutura musical com uma imagem qualquer, a gente tem tentado criar referências da peça musical com ela mesma. Então, há variação de velocidade, de intensidade, de tipos de movimento, de gestos. RF: Trabalhar com o experimentalismo abre diversos horizontes. Na carreira de vocês, quais são esses horizontes e as perspectivas sobre novas possibilidades? Nelson: Então, nós viajamos de um ponto ao outro, atingimos várias áreas da arte. Pro-
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duzimos desde trilhas sonoras de filmes até instalações sonoras e exposições de artes plásticas. Essa é a possibilidade que o experimentalismo nos deu, de interagir com áreas restritas até então. Sobre as novas possibilidades, sempre temos algo novo. Sempre, do nosso último trabalho, uma nova porta se abre, uma nova perspectiva. Quando nós começamos, partimos do zero, agora não dá mais para fazer isso. Tudo o que fazemos vem de algo que já fizemos. E, mesmo assim, conseguimos fazer o novo. RF: O que é uma instalação sonora? Marcos: É simples. Nós “misturamos” vários sons distintos em uma sala, onde o público possuirá uma interação sonora e visual completa. Instrumentos feitos a partir de madeira sucateada, ferro sucateado, sucatas em geral, provocam surpresas às pessoas. O instrumento funciona de um lado, o som sai do outro e por aí vai. RF: Sobre trilhas sonoras para o cinema, um dos principais trabalhos da dupla é com o cineasta Cao Guimarães. Como se dá essa parceria? Marcos:Trabalhar com o Cao é uma coisa super especial. A gente vai fazer qualquer coisa e ele participa no processo de criação, discute, aceita as nossas propostas. É muito comum eu mostrar um material para ele e ele simplesmente dizer: “nossa, adorei, quero isso no meu filme”. O Cao nos deixa trabalhar, por isso a parceria tem rendido bons frutos. RF: Para finalizar. O que é a música? Nelson: É o que buscamos saber e expor ao publico a cada apresentação. E, mesmo assim, sempre haverá uma nova definição, ou seja, algo novo. Festival de Inverno | Ouro Preto e Mariana
Música
Beleza harmônica do clássico e experimentalismos sonoros Pela capacidade de se difundir, o Festival de Inverno agregou surpresas, como a da musicista Letícia Bertelli. Moradora de Belo Horizonte, ela sempre veio ao evento de Ouro Preto e de Mariana. Seria então uma coisa rotineira, caso ela não tivesse a oportunidade de, junto com a “Orquestra de Arte Barroca”, apresentar-se dentro da programação em que antes era espectadora. “Os concertos são a forma concreta de proporcionar nosso encontro com o público. A música é construída para este encontro e não há uma segunda chance”, ressaltou. foto: Eduardo Trópia
Por Rolder Wangler
foto: Nathália Viegas
Diante da procura pelas atrações musicais eruditas e experimentais, as casas de shows, teatros e espaços ao ar livre receberam grande quantidade de público, surpreendendo músicos e organizadores. A Curadoria de Música, durante os 15 dias de Festival, proporcionou uma viagem melódica com uma série de concertos realizados em Ouro Preto e Mariana. Segundo o professor do Departamento de Música da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) e um dos curadores, Guilherme Paoliello, cada uma das apresentações procurou destacar aspectos musicais da América Latina. Para ele, no que se refere ao cenário continental, é impossível esgotar a variedade de estilos, gêneros e formas. Para o casal de professores Ricardo Hirata e Amélia Fernandes, de São Paulo, “a variedade da programação serve como fio condutor para que as pessoas não fiquem presas a uma vertente musical, mas que conheçam e apreciem todas”.
Origem Umas das matrizes dos ritmos latino-americanos é a música europeia. Para representar essa faceta, o “Grupo Mónade” realizou o conFórum das Artes 2012
certo intitulado Latina Essentia, no qual fizeram uma apresentação de músicas cantadas em línguas latinas: espanhol, francês, italiano, português e o próprio latim. “Pode-se pensar esse repertório como formador da música que se faz hoje na América Latina”, refletiu Paoliello. O “Trio Mignone” apresentou repertório de compositores brasileiros, no qual as influências da música latino-americana aparecem incorporadas à linguagem da música de concerto. Formado por Afonso Oliveira na flauta, Ricardo Santoro no violoncelo e Miriam Grosman no piano, o Trio interpretou obras de brasileiros como Fernando Ariani, Brenno Blauth e Francisco Mignone, que dá nome ao grupo. Mantendo a tradição de abrir espaço para todo estilo de música, a Curadoria trouxe o grupo de música contemporânea “Derivasons”. Formado por sete compositores ligados à Escola de Música da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o Grupo apresentou repertório diferente, misturando sons e instrumentos com uma característica própria, cuja origem provém da música experimental, faceta presente e importante na América Latina.
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Música Seguindo a linha experimental, “O Grivo” apresentou experiências sonoras, incorporando ruídos, timbres e silêncio na construção da linguagem musical. O espetáculo, criado em 2011 para uma apresentação em um festival cultural, diferentemente de outros, contou com instrumentos desenvolvidos com latas e madeiras, buscando atingir uma musicalidade em notas soltas, sem seguir um estilo musical determinado. O Grupo é composto por Marcos Moreira e Nelson Soares, de Belo Horizonte.
Orquestras apresentam repertórios clássicos e misturas de sonoridades
Passado Trazendo referências de séculos passados, o “Recital de Cravo”, de Edmundo Hora, uma das mais conceituadas autoridades de música antiga no Brasil, fez uma viagem ao século XVIII. “O som que ouvimos no teatro é o som que ouvíamos nos séculos XVII e XVIII. As músicas de hoje certamente já foram tocadas aqui antes”, explicou Hora, que tem mestrado em cravo, instrumento que lembra o piano. Porém, segundo ele, tal instrumento produz sons por outros mecanismos.
foto: Íris Zanetti
foto: Naty Tôrres
Por Bruna Fontes e Ramon Cotta
foto: Íris Zanetti
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Algumas apresentações chamaram a atenção do público durante o Festival de Inverno. Uma delas, a da “Orquestra Arte Barroca”, executou clássicos do século XVII e XVIII no Teatro Ouro Preto, no Centro de Artes e Convenções da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP). Formada em 2007 por Paulo Henes, a Orquestra apresentou sonoridade diferenciada ao utilizar instrumentos do período Barroco: violinos, violoncelo, contrabaixo, guitarra barroca, teorba e cravo. Com repertório baseado em sonatas do músico italiano Vivaldi, os músicos emocionaram os espectadores. Gilberto Chacur, integrante da Orquestra, destacou a importância dos Festivais, que oferecem e divulgam a música erudita: “Ao participar de um evento como esse de Ouro Preto, temos a oportunidade de divulgar a música clássica, no nosso caso, a Barroca, que possui pouco espaço”, disse.
Distritos Em sua sétima edição, o projeto “Orquestra nos Distritos” visitou várias localidades de Ouro Preto durante o Festival. A concepção da ideia foi fruto do anseio de expandir ao máximo o trabalho da “Orquestra Ouro Preto”, como explicou o assessor de imprensa do grupo, Saulo Rios: “Este projeto prima pela formação pública. O nosso diferencial é trazer a música até a população local, proporcionando o contato inicial. Assim, podemos dar a alguém o potencial de transformar este primeiro experimento em algo maior”. Rodrigo Toffolo, maestro da Orquestra, é categórico ao afirmar: “A palavra-chave é a descentralização da arte em Ouro Preto. A cultura que eleva o nome da cidade tem que se fazer presente em todo o território incumbido. A população dos distritos precisa sentir o pertencimento à arte”, ressaltou.
Festival de Inverno | Ouro Preto e Mariana
Possibilidades musicais
um tributo à variedade Mesclando vários estilos, incluindo os recitais e as orquestras, foram apresentadas 72 atrações em 15 dias
Nos palcos montados em Ouro Preto e em Mariana, nas ruas e praças, nas casas de shows das duas cidades, o público pôde acompanhar vários estilos musicais de artistas e grupos, como a Velha Guarda da Portela, Jards Macalé, Marcel Powell e Ithamara Koorax, Leoni, Jorge Aragão, Marcos Sacramentos, Daniel Gonzaga e outros. Por Kamilla Abreu e Kíria Ribeiro
Segundo um dos curadores da área, o músico Celso Alves, “isso é levar cultura às ruas, isso é o Festival de Inverno” . Alves ressaltou que o tema sobre a América Latina abriu uma janela enorme de possibilidades sonoras, passando pela música clássica, popular, experimental e de vanguarda. O músico compõe a curadoria desde 2009 e disse que a cada ano o evento cresce e mantém a qualidade. Outro aspecto relevante, ainda segundo ele, é o apoio dos patrocinadores e das prefeituras das duas cidades.
A força da MPB Irreverência e criatividade marcaram o show do cantor Jards Macalé, que se apresentou no Centro de Artes e Convenções da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), em Ouro Preto, na segunda semana do Festival. Com repertório composto por músicas de sua autoria e parcerias, o músico tocou vários clássicos: “Farinha do desprezo”, “Mal secreto”, “Movimento dos barcos” e “Vapor barato” foram alguns deles. Há 35 anos no cenário musical, Macalé transitou por vários campos, compondo canções para o cinema e para a televisão. “Agradeço à Curadoria de Música pelo convite e quero poder voltar mais vezes”, declarou. Para o comerciante de Belo Horizonte, Eliazar Teixeira, 54, o show atendeu às expectativas porque reuniu diversas canções antigas e as mais recentes. “Foi maravilhosa e bem animada a apresentação. Sou fã do Macalé há muifoto: Lucas de Godoy
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Música to tempo e ter estado aqui foi uma honra para mim”, disse. Marcel Powell, filho do consagrado violinista Baden Powell, em parceria com a cantora brasileira Ithamara Koorax, proporcionou ao público um espetáculo emocionante. “Estou homenageando meu pai que, caso estivesse vivo, estaria completando 75 anos”, disse Marcel durante a apresentação. No show foram apresentadas canções de sucesso de Baden, além das suas composições em parceria com Tom Jobim, Vinícius de Moraes e outros nomes da Bossa Nova. “Uma obra tão peculiar e explêndinda”, ressaltou Koorax, durante o show. A cantora disse ainda que o Festival é bem diversificado e que a todo momento viu, nas ruas de Ouro Preto, uma atração cultural. Um fato inusitado marcou a apresentação de Powell e Koorax: o microfone da cantora parou de funcionar e, mesmo assim, à capela, ela prosseguiu. O público, no Teatro Ouro Preto, aplaudiu de pé a artista, pelo talento e habilidade com a voz. “Ganhei a noite. Foi fantástico”, afirmou a aposentada Vilma Figueiredo Fanan, 59, da cidade de Franca (SP). Na mesma noite, do outro lado da rua, a experiência do cantor Leoni proporcionou, em Ouro Preto, uma apresentação regada a emoção e interação com o público. Com o show “A noite perfeita”, ele tocou grandes sucessos como “Garotos”, “Por que não eu” e “Como eu quero”, animando o público que lotou a Praça da UFOP, em Ouro Preto. Segundo o cantor, a realização deste evento é importante para proporcionar acesso a músicas e a artistas que
foto: Naty Tôrres
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talvez não estivessem aqui em outra situação. Nesse contexto, ele afirmou que “uma das funções mais importantes do Estado é o acesso à cultura para a população. E, quando se cria um Festival como esse, realmente é cumprida sua função social”, observou.
Gingado no pé Calças e camisas brancas, paletós azuis e chapéus estilo panamá, a Velha Guarda da Portela, com a participação do compositor Hildmar Diniz, popularmente conhecido como Monarco da Portela, mostrou a força de um dos estilos musicais mais tradicionais do Brasil. No reportório, canções como o “Mundo é assim”, “A chuva cai”, “Coração em desalinho” e “Vai vadiar” animaram a plateia, que mostrou gingado no pé. Segundo a professora da cidade de Belo Horizonte, Luanna Grammont, 22, o show foi um espetáculo. Ela também elogiou o tema do Festival: “Foi maravilhoso. Gostei também do tema. É um dos festivais que tem programação diária. Saio de casa de dia e volto apenas à noite”, disse. A Velha Guarda da Portela completou 40 anos de história em 2012. Segundo o caçula do grupo, Serginho Procópio, é uma grande emoção fazer parte deste percurso. “Uma história que vem com o nosso professor Paulo da Portela. Uma pessoa tão importante para a descriminalização do samba, da nossa música. É uma responsabilidade e uma honra muito grande fazer parte dessa história”. O ritmo de fazer samba do carioca Marcos Sacramento também se destacou no Festi-
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val. No repertório apresentado em Ouro Preto e em Mariana, músicas de sua autoria e de outros compositores, como “Capucho”, “Alcofra” e “Baden”. Em 2004, o jornalista e escritor Ruy Castro escreveu sobre Sacramento: “Não é apenas um sambista perfeito, mas um cantor completo. Quando quer ser romântico ou ‘sério’, a mesma coisa. Não há muita gente por aí capaz dessas proezas”. O cantor tocou músicas do seu novo disco, em parceria com Zé Paulo Becker, “Todo mundo quer amar”. A estudante de Viçosa (MG), Giselle Rastoldo, 27, disse ter apreciado o show. “Eu gostei demais, pois adoro samba. É a primeira vez que venho ao Festival e estou me sentindo honrada, pois poucas pessoas têm esta oportunidade, disse. Já a médica de São Paulo (SP), Sônia Toledano, 52, impressionou-se com a voz e com o repertório do cantor. No encerramento do Festival de Inverno, Mariana sentiu o calor do samba com o show do cantor e compositor Jorge Aragão, que tocou sucessos como “Alvará”, “Já é”, “Aquarela Brasileira”, “Eu e você sempre”, “Identidade” e “Coisinha do pai”, encantando o público. Para o estudante Tiago Santos, 27, da cidade de Gramado (RS), o show foi uma ótima oportunidade de perceber a importância do samba na cultura brasileira. “Muito interessante visualizar esse cenário no país. Foi ótimo porque pude cantar várias músicas que fizeram parte da minha história”, declarou.
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Festival de Inverno | Ouro Preto e Mariana
Conexão
Integração de estilos CAEM e Sagarana Café-Teatro Por Kleiton Borges e Rolder Wangler
A Conexão Festival ofereceu atrações musicais para diversos gostos, como samba, forró, rock, sertanejo e os ritmos latinos em geral. Na Praça Tiradentes, ponto de encontro de várias tribos em Ouro Preto, encontrase o Centro Acadêmico da Escola de Minas (CAEM) da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), que, paralelamente ao Festival de Inverno, trouxe à cidade bandas como Pedra Letícia, Cachorro Grande e Circuladô de Fulô, além de grupos regionais, somando dez shows. Já em Mariana, o Sagarana Café-Teatro trouxe grupos musicais de rock folk, como a banda L´Avventura, e o soul da Groove de Vinil. Acostumada com a programação da casa, Josiane Vieira, que mora na cidade e trabalha no local, disse que o Sagarana fica bastante movimentado nesse período. “A época do Festival de Inverno sempre é mais movimentada do que normalmente, inclusive com a presença de um público composto por
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estrangeiros, que vai à casa devido à programação divulgada pelo evento”, observou ela. Com apresentações atípicas, a começar pelo horário, geralmente início da madrugada e durando até o raiar do dia, o CAEM é uma opção bastante procurada no Festival. O engenheiro César Seixas Salomão, 26, presente na apresentação da banda paulista Circuladô de Fulô, disse: “Gostei bastante do show, fora que tinha um espaço bom para dançar.” Com programação adaptada ao tema do Festival de Inverno, a Conexão tornou-se uma opção nas noites das duas cidades históricas no mês de julho. Seja na imponente arquitetura do Centro Acadêmico ou no aconchegante espaço do Sagarana, o evento de 2012 proporcionou, além de conhecimento e entretenimento, integração musical entre as duas cidades.
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Um continente sem fronteiras
Artes Visuais
Curadoria ofereceu sessões de cinema e contou com a presença de profissionais da área. Exposições de fotografias apresentaram cores, rostos e recortes da América Latina 26
foto: Íris Zanetti
Por Kíria Ribeiro
“As linhas imaginadas que nos dividem em países não apenas demarcam fronteiras geopolíticas, mas também as especificidades de cada nacionalidade”, afirmou um dos curadores de Artes Visuais do Festival de Inverno, Juan Carlos Timótheo, sobre o cinema da América Latina. De documentários como “Cora Doce Coralina” e ‘Turuna”, do diretor Armando Lacerda, até a incrível viagem ao mundo das fotografias, com exposições abrangendo a cultura latino-americana, a curadoria trouxe um pouco mais do audiovisual do continente para as sessões de filmes, para as mesas de debates, e contou com a presença de vários profissionais do cinema. Uma das atividades realizadas pela curadoria foi o “II Fórum das Artes Visuais”. Compondo o “Fórum das Artes”, discussões sobre diversos trabalhos de profissionais da área, como o da diretora peruana Nora de Izcue, produziram uma série de reflexões sobre o cinema. O II Fórum contou também com debates sobre o cinema em Cuba na década de 1960, sobre as fronteiras entre documento e ficção, além de exibição de curtas. Com o filme “El viento del ayahuasca”, da diretora, cineasta e professora peruana, Nina Tedesco, mostrou aos participantes o universo do cinema latino e exibiu uma série de dados para poder dimensionar e personificar a imagem de Nora. Segundo Tedesco, a diretora não é muito conhecida pelo público brasileiro, mesmo tendo parte de suas criações voltadas para a Amazônia. “Não existem muitos espaços para se discutir cinema, sem ser no meio acadêmico. Por isso, devemos sempre ter em mente o valor de eventos como este”, ressaltou a professora. A participação do público foi intensa durante o evento, com média de 70 pessoas por dia. Para a estudante Elisa Lanza, de Belo Horizonte, o II Fórum ajudou a enaltecer o cinema latino. “Foi
maravilhoso esse encontro. Participei os quatro dias e pude acompanhar discussões importantes sobre trabalhos que até então não conhecia. Foi significativo, principalmente porque quero muito seguir essa área das Artes Visuais”, afirmou. Segundo Timótheo, o II Fórum foi mais uma experiência produtiva neste Festival e proporcionou debates sobre o audiovisual latino. “Esse encontro foi de uma importância extrema, pois, durante os quatro dias, as pessoas puderam conhecer e dialogar sobre as características do cinema latino-americano e conhecer diversas produções belíssimas”, ressaltou o curador.
Mais de 40 filmes e um universo mais colorido para o público infantil A Curadoria promoveu mostras e sessões gratuitas para públicos diversos como a “Mostrinha de Cinema”, a “Armando Lacerda”, a “Estradas e Fronteiras” e a “Sessão Brasil”. Foram exibidos mais de 40 filmes, entre curtas, médias e longas metragens, produções nacionais e internacionais, durante os 15 dias de evento nas cidades de Ouro Preto e Mariana. A “Mostrinha de Cinema”, voltada para o público infantil, apresentou filmes engraçados e divertidos, retomando o universo latino por meio dos aspectos culturais e folclóricos. A “Mostrinha” atingiu públicos de diversos lugares da região dos Inconfidentes, como a pequena Maria Clara Oliveira, de 12 anos, que participou pela primeira vez. “Foi muito legal, nunca tinha ido a um cinema”, contou a aluna da Escola Municipal José Estevão Braga, no distrito de Engenheiro Corrêa, em Ouro Preto. Festival de Inverno | Ouro Preto e Mariana
Além da reprodução dos filmes, o público pôde acompanhar ricos debates entre diretores e pesquisadores de cinema, como os que aconteceram na “Mostra Armando Lacerda”, realizada no Cine Vila Rica, trazendo um olhar mais singular sobre o indivíduo. Nela, a curadoria contou com os comentários de Lacerda, que discorreu sobre a fusão do cinema com o rigor técnico do jornalismo. Lacerda falou, ainda, das suas produções mais famosas: “Cora doce Coralina”, “Juruna” e o “Espírito da floresta”. “Foi importante essa Mostra, porque tive a chance de conversar com o público a respeito de cinema e das minhas obras. Eventos como o Festival de Inverno são de extrema relevância, pois mantém viva a arte no país”, destacou o diretor. Outra oportunidade que o público pôde aproveitar foi a mostra “Estradas e Fronteiras”, que frisou a questão não só das fronteiras geopolíticas estabelecidas durante a história da humanidade, mas também as barreiras linguísticas, a fim de discutir sobre a atualidade do cinema na América Latina. A estudiosa Mariana Mól, após a exibição da cada filme, fez comentários sobre eles. Pesquisadora em cinema e jornalista cultural, Mól proferiu palestras durante o Festival sobre os filmes “Diários de motocicleta”, de Walter Sales; “Cinema, aspirinas e urubus”, de Marcelo Gomes; “E sua mãe também”, de Alfonso Cuarón; “Guantanamera”, de Tomás Gutiérrez; “Família rodante”, de Pablo Trapero; e “Histórias mínimas”, de Carlos Sorin. “Foi muito proveitoso, porque as sessões ficaram cheias, com o público bem atento aos filmes. Na hora dos comentários, sempre apresentava um texto com algumas anotações e, à medida que os dias foram passando, o público ficou mais à vontade para falar, comentar e dar a sua opinião”, ressaltou a pesquisadora. E quem disse que cinema não pode acontecer ao ar livre? A “Sessão Brasil” invadiu a Praça da Sé, em Mariana, levando arte e cultura ao público que passava pelo local. “Macunaíma”, “Cafundó” e “Vida de menina” foram alguns dos longametragens apresentados. “Achei muito legal essa iniciativa. Uma tela de cinema em plena praça foi espetacular. Acompanhei todos os filmes esse ano porque, de fato, me atraiu bastante”, comentou a dona de casa Edméia Pires, moradora de Mariana. Outro destaque da curadoria foi a mostra de filmes produzidos pelos participantes de oficinas. No último dia do Festival, foram exibidas três produções: “O som em foco”, “Crítica de cinema” e “A cidade da Serra”. Os filmes tinham como proposta apresentar um pouco mais da história de Ouro Preto e seus distritos. Para a estudante de História da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), Grazielle Oliveira, a mostra foi de muita importância, porque contemplou o trabalho feito por todos. “Fiquei muito feliz por ter tido o Fórum das Artes 2012
nosso esforço reconhecido. O Festival também é lugar de produção audiovisual e nós conseguimos crescer com tudo isso”, afirmou.
Cores, rostos e recortes fotográficos Fotografias contendo diversas cores, rostos e recortes da América Latina puderam ser vistas pelo público no espaço Grêmio Literário Tristão de Ataíde (GLTA), em Ouro Preto. A exposição “Faces da Terra”, da artista Natália Goulart, abordou os fragmentos do cotidiano de diversos países latinos como Brasil, Peru e Bolívia. A artista pretendeu levar aos participantes questionamentos sobre a delimitação das fronteiras construídas entre as nações, convidando a pensar sobre o que diferencia e o que aproxima o Brasil dos demais países latinos. “Essa exposição foi muito especial pra mim, porque tem um contexto em todas as imagens. Busquei retratar nossa história latina, nossos traços, jeitos, os recortes verdadeiros do nosso cotidiano nas fotografias”, explicou Goulart. Os visitantes da galeria do Centro Cultural e Turístico Sistema FIEMG puderam se encantar com a sensibilidade e o olhar diferenciado do grupo “Coletivo Olho de Vidro’, formado pelo poeta Guilherme Mansur e pelos fotógrafos Alexandre Martins, Antônio Laia, Eduardo Trópia e Heber Bezerra. Na exposição “O Barroco Liberto”, eles interpretaram, cada um com a sua identidade, os diferentes olhares sobre a cidade de Ouro Preto, deixando a marca da arte contemporânea nas Artes Visuais. O grupo buscou mostrar a rica história da cidade expressando, de forma diversa, o barroco oitocentista, além de criar um espaço de apuração e de olhares para o público apreciar a sensibilidade e as visões a partir desse mesmo aspecto: Ouro Preto. Fez parte também da programação a exposição “A Palavra e o Gesto e Cores e Sons de Lacerda”, trazendo um pouco das sensibilidades e traços do Brasil. A exposição foi realizada no Cine Vila Rica, justamente para se aproximar do cinema, das suas especificidades e dos personagens do diretor Armando Lacerda — Juruna e Cora Coralina. “Acredito que a exposição foi inteiramente interativa, pois fez a ligação com minhas criações e personagens que mais me marcaram. Agradeço a organização do Festival pelo espaço de mostrar a arte também por meio da fotografia”, afirmou o diretor.
foto: Carol Teixeira
foto: Carol Teixeira
foto: Íris Zanetti
foto: Íris Zanetti
foto: Íris Zanetti
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Artes Cênicas
O tema do Festival de Inverno de Ouro Preto e Mariana – Fórum das Artes 2012, “LATINOAMÉRICA - ¿Libertas, Libertad, Liberdade?”, sintetizou o que foi a programação preparada pela Curadoria de Artes cênicas, com 42 espetáculos. Com manifestações instigantes, os espetáculos foram recortes expressivos de liberdade artística e reflexiva, capazes de fazer florescer sensações de algo singular. Com a temática do evento, foi possível tornar mais abrangente todo o conteúdo apresentado, garantindo mais opções, dinamismo e um diálogo direto entre culturas.
Por Bruna Fontes
Encetando as apresentações internacionais, o Grupo Casa de Teatro, da República Dominicana, por exemplo, apresentou Al otro lado del Mar, espetáculo ganhador do Prêmio Casa de las Américas 2010. Com dramaturgia de Jorgelina Cerrito e direção do cubano Raúl Martin, a peça abordou as relações pessoais e o esquema burocrático da sociedade, as dificuldades, as frustrações e os anseios de dois personagens, retratados em um meio social cada vez mais regulamentado e indiferente aos sentimentos humanos. O diretor define a encenação como “muito articulada, pois discute um tema universal, que é o ser humano. O diálogo com esses processos e a relação sensorial se tornaram pontos fortes nesta peça”, disse. Por meio da iluminação e réplicas de quadros famosos de impressionistas como Oscar-Claude Monet, foi possível adentrar pelas horas do dia na trama. O “mar”, recriado no palco, levou quem assistia a várias reflexões. Devido às comemorações do bicentenário de independência da Colômbia, Fragmentos de Libertad ilustrou, de forma plena, o tema do Festival: a liberdade. A peça, do grupo colombiano Teatro Varasanta, conduziu a plateia a fragmentos de períodos históricos do país de origem, adornados com belíssimas execuções de movimentos e sensações, além de elementos visuais e sonoros admiráveis.
De cunho altamente crítico, o espetáculo objetivava engajar um diálogo por meio do teatro. Seria também uma forma de resistência pacífica e de expanção do conhecimento histórico, que extrapola as versões oficiais. Marcia Cabrera, integrante do elenco, salientou a participação no Festival: “Foi importante pelo significado, pelo tema, que nos atingia diretamente. A passagem pela independência é uma história em comum das Américas, apesar das peculiaridades de cada país”, refletiu a atriz. Visando redescobrir a palavra poética em sua essência, a companhia italiana WorkCenter of Jerzy Grotowski and Thomas Richards trouxe para o Festival apresentações dos dois núcleos que hospeda: o Focuse Research Team in Art as Vehicule (equipe focada na arte como veículo), dirigido por Thomas Richards, que apresentou a performance The Living Room, e o Open Program (que propõe um diálogo maior com a sociedade), dirigido por Mário Biagini, com os espetáculos I am America e Not history’s bones. Para Biagini, quem assistiu I am America pôde distinguir “uma corrente de estruturas dramáticas que se caracteriza por meio da música, do ritmo, da dança, da poesia e da ação, em que a palavra poética ilumina e provoca o público a questionar a vida social, econômica e cultural”, observou. A peça retratou os anseios, as incongruências
e, sobretudo, a esperança que nasce em solo americano, concomitante a músicas em ritmos contagiantes e poemas, fazendo com que o contato com o espectador e a própria ação artística proporcionasse forte reflexão social. Também diversificada e atraente, a programação nacional na área de Artes Cênicas conquistou mais uma vez o público do evento. Foi praticamente impossível não se deixar envolver pela trágica história de amor entre “Romeu e Julieta”, de William Shakespeare, ainda mais quando a cultura popular brasileira e a leveza, sem fugir aos rumos da narrativa, compuseram a livre montagem do grupo mineiro Galpão. Como no ditado popular “o bom filho a casa torna”, após 20 anos da estreia da peça na cidade de Ouro Preto e da trajetória de sucesso nacional e internacional, o espetáculo regressou à cidade. Atingindo todas as faixas etárias com magia e fascínio, o espetáculo coroou o público com suntuosas atuações dos atores, figurino, cenário e sonoplastia. “Ficamos quase 10 anos sem apresentar esta peça e é magnífico como o espetáculo conservou a capacidade de encantar e comover a plateia. A única coisa que envelheceu foi o elenco, a peça continua a mesma”, brincou Antônio Edson, ator e fundador do Grupo, que também se apresentou em Mariana, no último dia
do Festival. Fabiana Rocha, professora de sociologia e licenciada em Teatro, veio do Rio de Janeiro (RJ) só para assistir à peça: “Todos os elementos, como a inserção da cultura brasileira, as músicas, a comédia, a linguagem do clow entre outras coisas, a tornaram especial. Estou feliz por saber que existem artistas desse nível no nosso país”. In conserto, do grupo Teatro de Anônimo, do Rio de Janeiro (RJ), trouxe a liberdade de construção a partir do erro e da capacidade de encontrar soluções não convencionais para a realidade, tornando a brincadeira o tema central da apresentação. O espetáculo contou com três palhaços que levaram a plateia aos risos em uma série de acontecimentos cômicos, provocando interação e expectativa em todos. “É um grande exercício de palhaçaria clássica. O ofício do palhaço é fazer rir e estou feliz em poder me apresentar na Casa da Ópera, pois era um sonho antigo. Este teatro tem muito da essência do espetáculo, voltado para o clássico”, ilustrou João Carlos Artigos, integrante da companhia, que ainda completou: “É sempre uma alegria voltar ao Festival de Inverno. Já estive em outros anos, com espetáculos diferentes, mas, com esse, é a primeira vez. O Festival possibilita abrir novos caminhos e histórias, e, juntamente com o curso de Artes Cênicas da Universidade Federal de
Do Brasil e do exte
a força do teatro e da dança latino-americano 28 Festival de Inverno | Ouro Preto e Mariana
foto: Naty Tôrres
foto: Naty Tôrres foto: Sarah Gonçalves
Fórum das Artes 2012
foto: Lucas de Godoy
erior,
os
ladas com poemas, levaram o público a suspirar e a cantar. “O Festival de Inverno nos proporcionou fazer um trabalho de mobilização na praça, cujo objetivo foi promover a interação e a literatura, fazendo com que a linguagem fluísse independente da língua”, salientou Sandra Bittencourt, atriz da Trupe, que existe há cinco anos. “É uma honra participar,v pelo tema e pela cidade de Ouro Preto, que carrega uma história, um cheiro, uma cor. Fiquei feliz em contribuir para que a arte da palavra propicie o movimento ao homem”, destacou.
foto: Lucas de Godoy
Ouro Preto, traça novas trajetórias e oportunidades de conhecimento”. Por meio da citação de Frida Kahlo — “A poesia está em todos os lugares” —, pôde-se traduzir a proposta da Trupe Maria Farinha, de Belo Horizonte, que emocionou e contagiou o público. “Ciranda Poética” apresentou como roteiro poemas de grandes autores, tais como Jorge Amado, Frida Kahlo, Carlos Drummond de Andrade, Vinícius de Morais, Jorge Luis Borges, Gabriel García Márquez, Mahatma Gandhi, Pablo Neruda e José Paulo Paes. Músicas popularmente conhecidas também compuseram o espetáculo e, interca-
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Artes Cênicas
Mostra DEART Em meio à abundância de opções teatrais, o Departamento de Artes Cênicas do Instituto de Filosofia Artes e Cultura da Universidade Federal de Ouro Preto (DEART – IFAC/UFOP) mostrou todo o seu potencial com a apresentação de 16 espetáculos, esquetes teatrais, trabalhos disciplinares e de conclusão de curso, que fizeram parte da Mostra DEART – IFAC/UFOP 2012, visando à promoção do ensino e da pesquisa artística, e, sobretudo, a experiência concedida a cada aluno da Universidade em participar de um evento de grande porte, como artista e como espectador. A “Ciranda das Flores”, da Cia. Três Pontos, por exemplo, apresentou uma diversidade de cantigas populares como “O cravo brigou com a rosa”, “Peixe vivo” e “Ciranda cirandinha”, acompanhadas por violão e interpretadas por três palhaças. “A ideia do espetáculo nasceu a partir da vontade de trabalhar com cirandas que tivessem pontos ou personagens em comum. Foi tudo construído através de um processo colaborativo, uma grande brincadeira”, explicou Haylla Ricci, integrante da peça. “Eu gostei muito por envolver as práticas pedagógicas, abordando um tema infantil,” observou Nalini Mendes Gomes, estudante de Pedagogia da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), que participava do Encontro Nacional de Es-
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foto: Lídia Ferreira
tudantes de Pedagogia (ENEP), realizado em Belo Horizonte. Ao visitar Mariana, Nalini conheceu com o Festival de Inverno. Outra peça apresentada foi “Rodadora”, criação independente do Coletivo AdoraRoda, que ofereceu ao público uma bela demonstração de contemporaneidade, com movimentos ritmados e nenhuma fala, representando “o nascimento e a descoberta do mundo por meio das cores e da inocência infantil”, como descreveu Fernanda Bacha, graduanda em Artes Cênicas na UFOP e atuante no Coletivo. Segundo ela, a integração foi o ponto forte da apresentação, já que os espectadores participaram de uma grande brincadeira coletiva, pintando uns aos outros.“A tinta é atrativa. A ideia foi mostrar às pessoas que elas também podem fazer parte da arte”, disse. “É primitivo, lúdico, prazeroso e, acima de tudo, renovador. Voltei a ser criança!”, analisou Henrique Manara, também aluno de Artes Cênicas da Universidade. Construída por meio de atividades curriculares do Curso e a partir de “colagens” entre poemas de Bruna Lombardi e adaptações do clássico de William Shakespeare, Romeu e Julieta, “O que mais é amor?” é um esquete teatral com futuro promissor: “Foi só uma pequena amostra, porque a peça está passando por um momento de construção. É importante para os atores ter este primeiro contato com o público e, a
partir disso, dar forma à nossa criação”, explicou Marrione Warley, diretor do esquete e aluno do 4º período do curso de Artes Cênicas. Ao participar de uma oficina no ano anterior, Carlos Tobias teve a oportunidade de estar presente no processo inicial do esquete, mesmo antes de ser aluno do Curso: “Percebo o quanto a peça cresceu, o quanto já foi acrescentado. Estou ansioso para saber como será o final. É um trabalho bem diferente”, contou ele. Fizeram parte também do set de apresentações do DEART a peça “Talvez tivesse hoje”, da Cia. Três Pontos (Teatro); a “Água-Viva”, do Grupo Incorporar; “A Bufa que pariu”, também da Cia. Três Pontos; “Promete que jura?”, do Grupo Rabiola; “Ó o sol”, do Grupo Os Menino do Bacuri; “Santo arteiros”, da Cia. ArteZÊ de Teatro; “Balada para Romeu e Julieta”, do Grupo Mambembe; “O que mais é amor?,” esquete teatral do DEART; “Relicário”, do Grupo Cena Dois; “A quintessência de Alice”, da Cia. Calor de Laura; “Édipo em quatro estações”, do Grupo Resid(ê)ncia Teatro e Audiovisual; “Ciranda das flores”, da Cia. Três Pontos; “Do pé à prosa: MedeAMAterial”, da Perversa Cia. de Investigação Teatral; “Apareceu amarga(V)ida: ataque verborrágico de dona Margarida - uma mulher; profissão: professora”, do grupo C’est la Vie (Cê/Lá/Vi); e “O jardim do silêncio”, da Cia Calor de Laura.
Festival de Inverno | Ouro Preto e Mariana
“Novos diálogos espaciais e perceptivos” na dança A palavra-chave para definir as performances de dança do Festival de Inverno foi “contemporaneidade”. Diversificada e sugerindo novas propostas a quem assistia, a programação deste ano contou com atrações de Belo Horizonte. Em uma versão mais leve e colorida, o Festival visou disseminar uma ideologia coeva, como ilustra Rogério Santos, um dos responsáveis pela curadoria de Artes Cênicas: “A ideia foi integrar o público ao Festival, propondo novos diálogos espaciais e perceptivos.” A “Quik Cia. de Dança” surpreendeu com o espetáculo “Ressonâncias”, uma apresentação que fugiu aos parâmetros de regularidade e que compunha uma mistura de experimentos na área artística. Leve como um poema e forte como as badaladas do sino da Igreja de Nossa Senhora do Carmo, em Mariana, onde aconteceu o espetáculo, a peça contou com sonoplastia produzida pelos próprios bailarinos e cenografia incomum. O espaço físico e a arquitetura local foram extremamente explorados. “Ressonâncias é toda a percepção que ressoa no momento da apresentação.
Fórum das Artes 2012
Por não ser um trabalho estruturado, tiramos proveito de cada peculiaridade do espetáculo”, explicou Letícia Carneiro, diretora e fundadora da Quik, que existe há 12 anos. Maria Helena Lopes, do Rio de Janeiro (RJ), se deparou com as atividades do Festival e se surpreendeu com a qualidade da apresentação: “Começou de uma maneira diferente, mas depois transformou-se em algo maravilhoso. Achei impressionante como os artistas levaram todo o pú-
foto: Paula Peçanha
blico a participar. Nunca vi nada igual”, frisou. Visando aguçar os sentidos e retomar lembranças remotas vivenciadas, o espetáculo de dança “De Cujus”, do Coletivo de Dança Movasse, abordou, por meio de esquetes, temas que remetiam ao público certa nostalgia. Todos os sentidos puderam ser trabalhados, da forma mais singela a mais intensa, causando, consequentemente, identificação pessoal a quem assistia: “As lembranças dos próprios bailarinos fizeram com que o espetáculo nascesse. Juntamos as histórias, o passado e as fotografias e produzimos
a partir disso”, explicou Carlos Arão, bailarino do Coletivo, que vê no “De Cujus” uma possibilidade de refletir e reviver o passado. Para ele, é uma ótima oportunidade de o público ver e reconhecer o que há muito estava esquecido por causa da intensidade da vida atual. “A Projetista”, performance apresentada pela bailarina e coreógrafa Dudude Herrmann, retratou a dança de forma plena e livre das papeladas demandadas no mundo das artes. Com um misto de monólogo e técnica, crítica à burocracia e ode à liberdade, o projeto da bailarina foi transpor uma reflexão de si mesma ao público, ao manifestar que nenhum documento é capaz de certificar o que é ou não arte. Todos ficaram em êxtase e ovacionaram Herrmann após a frase “a arte tem que ser uma ciência exata?”. Renata Martins, aluna de Artes Cênicas da Universidade de São Paulo (USP), disse que “o artista não pode se prender às burocracias, se rendendo a documentos e leis, deixando que isso interfira na criação artística. Dudude plantou uma árvore em cena, literalmente, ao trazer isso tudo aos palcos”. De forma gradativa, o público pôde experimentar, por duas semanas, uma miscelânea de teatro, imagem e música, traduzidos na essência da dança, de forma plena e intensa. Se, por um lado, a contemporaneidade das performances causou estranhamento ou dúvida, por outro o trabalho intimista dos bailarinos proporcionou uma mudança cultural visível a todos que tiveram acesso aos espetáculos, ao mesclar a própria atividade artística, fruto de técnicas e dedicação, com a espontaneidade e a vivacidade da plateia. Espectadores e artistas cruzaram, juntos, a linha tênue entre a desconfiança e a dança.
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Fórum das Artes
Por Ramon Cotta, Renata Felício, Felipe Sales e Kíria Ribeiro
Olhares voltados para as expressões artísticas latinas O “Fórum das Artes” firmou-se como uma das atividades de maior relevância dentro do Festival de Inverno de Ouro Preto e Mariana, oferecendo ao público informações e debates sobre diversos temas ligados à cultura, das artes visuais à literatura. “A atividade faz com que o Festival não seja apenas um realizador de eventos, mas um importante promotor de atividades intelectu-
ais, que ultrapassa o período de 15 dias”, frisou o curador responsável, Flaviano Silva. Em 2012, discutindo os rumos das artes na contemporaneidade, o Fórum colocou os dilemas latino-americanos como foco das palestras e dos debates ocorridos; para isso, contou com a presença de artistas e pesquisadores do Brasil, de outros países da América do Sul e do Caribe. foto: Íris Zanetti
Cinema e fotografia em debate Compondo um dos temas do Fórum, as Artes Visuais atraíram cerca de 200 pessoas diariamente para participar de 31 exibições cinematográficas, durante a edição 2012 do Festival de Inverno. Segundo a Curadoria responsável, seis mostras foram criadas após uma análise dos filmes inscritos, construindo conceitos que englobassem o tema central. Foram elas: “Mostrinha de Cinema”, “Mostra Armando Lacerda”, “Estradas e Fronteiras”; “Filmes do Festival”; “Sessão Brasil” e “Sessão Aberta”. Ainda segundo a Curadoria, elas contemplaram mais do que apresentações de filmes: possibilitaram estudos acerca do cinema e da fotografia. Além de promover debates sobre o cinema latino-americano, foram apresentadas três exposições fotográficas em Ouro Preto e cinco oficinas, uma delas fazendo parte do programa “Festival com a Escola” e voltada para estudan-
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tes das escolas públicas da região. O resultado foi a produção de um curta-metragem, fruto da junção das oficinas oferecidas. Na “Mostrinha de Cinema”, foram exibidos filmes como “Rio”, “O Caminho para El Dorado” e “Alô, Amigos!”. Na “Mostra Armando Lacerda”, seis documentários que marcaram a história do Brasil e do cinema nacional foram apresentados ao público, contando, inclusive, com a presença do diretor. Na “Estradas e Fronteiras”, filmes como “Diários de Motocicleta” e “Guantanamera” permitiram uma reflexão sobre as geopolíticas existentes e as fronteiras do cinema. Já “Filmes do Festival”, permitiu a produção de películas dentro do evento. No dia 22 de julho, foram exibidos os filmes produzidos e finalizados nas oficinas ofertadas. Na mostra “Sessão Brasil”, nove deles
foram exibidos na Praça da Sé, em Mariana. A “Sessão Aberta” possibilitou a apresentação de filmes alternativos, rompendo os padrões mercadológicos. Durante as mostras, a curadoria de Artes Visuais convidou pesquisadores, realizadores e críticos para debater as exibições. Para Adriano Rocha, um dos curadores, “o mais interessante foi possibilitar o processo de aproximação com o cinema, dentro de uma aspiração que, num futuro próximo, possa almejar mais da linguagem e buscar outros canais”. Quando questionado sobre a participação do público, Rocha revelou: “Achei o público extremamente expressivo, tanto pelo número quanto pela qualidade dos debates oferecidos com os nossos convidados”.
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Reflexões acerca da literatura A América Latina e a questão da tradução na literatura entendida como metáfora da mediação cultural em sentido amplo foram aspectos discutidos durante os “Encontros Literários”, com participação de especialistas e escritores como Idelber Avelar, Wander Melo Miranda, Marcelo Tápia e Simone Homem de Mello. Segundo os organizadores dos Encontros, os professores Emílio Maciel e Marta Maia, da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), o evento foi uma oportunidade para discutir teorias e estabelecer valiosas trocas intelectuais. Para a realização dos “Encontros Literários”, a curadoria de Literatura convidou artistas e intelectuais relacionados ao tema proposto pelo Festival. Maia disse que os convidados procuraram articular a produção brasileira com a da América Latina, de forma a proporcionar um produtivo debate entre textos e contextos. Idelber Avelar, professor de Literatura da Universidade Tulane (EUA), falou sobre o luto suspenso vivido no Brasil por causa da ditadura militar, com todos os espancamentos, torturas e sequestros ocorridos. “Tudo isso nos permanece oculto”, observou Avelar. Segundo ele, sabe-se que tudo existiu, mas esses fatos não
estão incorporados à narrativa sobre o nosso passado. “Seguramente não estão incorporados à narrativa que o Estado brasileiro faz sobre o seu passado, o que torna a situação brasileira absolutamente singular no contexto das ditaduras hispanoamericanas. É possível dizer que a Argentina, o Uruguai e o Chile criaram condições de narrabilidade acerca de seu passado, enquanto no Brasil a esperança recai agora na Comissão da Verdade, instituída em 2012’’, acrescentou Marta. Com participação ampla do público acadêmico, a professora da UFOP ressaltou que o grande desafio agora é ampliar a participação de outras pessoas no evento no próximo ano. Ou seja, trazer para os “Encontros” e para as oficinas a comunidade local. O prof. Emílio Maciel elogiou a participação do público e o espaço para se falar de literatura: “Embora seja pouco valorizada pela mídia e apareça muitas vezes relegada à mera condição de apêndice em muitos currículos escolares, a literatura continua a ser uma via de acesso privilegiada à complexidade do real. Os debates e eventos foram todos de altíssimo nível”, destacou Maciel.
fotos: Nathália Viegas
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A música em um contexto
Fórum das Artes
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interdisciplinar
foto: Isadora Faria
foto: Lucas de Godoy
Os “Diálogos Musicais” propuseram, no “Fórum das Artes”, uma reflexão sobre a música inserida em um contexto interdisciplinar. “A ideia foi abordar aspectos sobre ela, articulando-a com outros campos do conhecimento”, explicou o curador de Música e professor da UFOP, Guilherme Paoliello. Os Diálogos contaram com a participação de músicos, educadores e pesquisadores, em consonância com áreas do conhecimento como a antropologia e a sociologia. Segundo Paoliello, os debates não foram diretamente ligados ao tema central do Festival de Inverno: “LATINOAMÉRICA – ¿Libertas, Libertad, Liberdade?”. “O tema não foi tratado de maneira direta, mas todos os temas discutidos estavam inseridos nesse contexto”, ressaltou. Nesta edição houve três dias de debates. No primeiro, foi discutida a problemática da música na educação, juntamente com o lançamento do livro “Música, Cultura e Educação – os Múltiplos Espaços de Educação Musical”, das autoras Regina Santos, Adriana Di-
dier e Neila Alfonzo. Elas debateram as trajetórias de pensamento e prática da música na escola básica no Brasil. No segundo dia, a professora e pianista Berenice Menegale estabeleceu uma reflexão sobre o papel da música no Festival de Inverno. Ela fez parte do grupo que idealizou e realizou o evento na década de 1970 e foi coordenadora de música até o ano de 1986. Berenice traçou um panorama histórico dos festivais no Brasil, acentuando seu papel na formação, na produção cultural e na criação musical, a partir do estímulo aos compositores engajados na criação musical contemporânea. A música indígena, marcante na cultura latino-americana, foi debatida no terceiro dia. Os professores Rogério Vasconcelos e Rosângela Tugny, juntamente com Marilton Maxacali, debateram as “Poéticas Musicais Indígenas e a Cultura Brasileira”. Foram ressaltados aspectos como o desconhecimento da cultura indígena no espaço educacional e nos meios de comunicação e também a música
Maxakali e seu universo estético singular. Vasconcelos, que também é compositor, trouxe a sua instalação sonora “Cantos e Encantos Tikmu’un”, para a estação do Trem da Vale. Além disso, ocorreu o lançamento do livro “Kõmãyxop - Cantos Xamânicos Maxakali Tikmu’un”, organizado por Toninho Maxakali e Eduardo Pires Rossi, e editado pelo Museu do Índio (RJ). Para Paoliello, neste dia, “a música foi discutida de um ponto de vista antropológico”. A Curadoria buscou representar as formas experimentais do fazer musical e abranger um grande público, com entretenimento de qualidade, superando a dicotomia experimentalismo e comunicação. Paoliello ressaltou também que os “Diálogos Musicais” vêm construindo reflexões sobre composição e sobre o papel da música na sociedade, ajudando a pensar para além das questões técnicas mais imediatas. “A grande contribuição deste evento é permanecer discutindo música num alto nível, reconhecendo sua importância social”, analisou.
Festival de Inverno | Ouro Preto e Mariana
Balaio do patrimônio
Fórum das Artes 2012
e da cultura O debate sobre a importância da preservação do patrimônio imaterial também ocupou os espaços e os auditórios do Centro de Artes e Convenções da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), em Ouro Preto. No evento “Balaio do Patrimônio Cultural”, criado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN/Departamento de Patrimônio Imaterial, as ações voltadas para essa área e o reconhecimento delas foram debatidas sob vários aspectos. Primeiramente, foi discutida a política nacional de patrimônio imaterial, com participação de Corina Maria Rodrigues Moreira, responsável pela área na Superintendência do IPHAN, em Minas Gerais. Depois houve a mesa redonda “Patrimônio Cultural na América Latina – assuntos multilaterais e perspectivas”, com os convidados Marcelo Brito, assessor de Assuntos Internacionais do Instituto, e Célia Maria Corsino, presidente do Comitê Executivo
do Centro Regional para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial da América Latina. Ela ressaltou a relevância do debate no Festival de Inverno: “Achei o público ótimo, muito participativo, o que gerou uma boa discussão sobre a participação e inserção do Brasil no âmbito das políticas públicas, mais especificamente do patrimônio material e imaterial na América Latina“. Simone Fernandes, representante do IPHAN, responsável pela curadoria de Patrimônio Histórico do Festival, lembrou que Ouro Preto é uma cidade considerada patrimônio cultural da humanidade, pois ela guarda o maior conjunto preservado com tipologia urbana e arquitetônica do século XVIII no Brasil, além de ser um lugar onde as políticas públicas e as ações efetivas de conservação, restauração e revitalização serão sempre experimentadas e efetuadas. “Escolhemos temas definidos por área, para suscitarmos discussões a respeito. No ano passado,
fotos: Isadora Faria
trouxemos o ‘II Encontro Nacional de Educação Patrimonial’; neste ano, foi o ‘Balaio do Patrimônio Imaterial’. Vários outros temas poderão ser objetos de interesse nos próximos eventos: patrimônio ferroviário, arqueológico etc. Claro que essas escolhas serão feitas em consonância com o tema do evento”, esclareceu Fernandes.
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I Encontro Latino Americano de Teatro e Dança de Ouro Preto
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fotos: Lucas Godoy
Pela primeira vez realizado no Festival de Inverno de Ouro Preto e Mariana, como parte integrante das atividades do “Fórum das Artes” 2012, o “I Encontro Latino-Americano de Teatro e Dança de Ouro Preto” realizou um “mapeamento” do teatro na América Latina, avaliando quais são as resposta estéticas ao contexto sociopolítico e cultural atual. O evento foi aberto ao público e contou com várias palestras, mesas redondas, aulas mestras e leituras dramáticas, com a participação de professores, artistas e produtores teatrais do Uruguai, Panamá, Cuba e Argentina. A riqueza que existe nesse cenário foi ressaltada na palestra de Vivian Martínez Tabares: “A oportunidade de debater sobre o teatro em um encontro como este é de grande importância
para os artistas, pois o teatro latino-americano é muito rico, tem muito a ser explorado”. Segundo Rogério Santos de Oliveira, um dos curadores de Artes Cênicas, a realização do “Encontro” foi um privilégio. “Foi fantástico para nossa Instituição realizar um evento como este, recebendo pessoas de renome para discutir teatro e dança, pois, além de tomarmos conhecimento das vertentes desenvolvidas pela América Latina, tivemos a oportunidade de criar redes”. Ele concluiu avaliando positivamente: “Entendemos que o encontro foi realizado com êxito e estamos prontos para uma segunda edição, e ainda pensamos em fazer uma edição do material do encontro, possivelmente para ainda este ano”. Festival de Inverno | Ouro Preto e Mariana
“I Encontro de Ex-alunos do Departamento de Artes da UFOP”
foto: Carol Teixeira
Partindo de um desejo de reunir pesquisadores e artistas que se formaram no curso de Artes Cênicas da UFOP, foi realizado, dentro da programação do “Fórum das Artes”, o I Encontro de Ex-alunos do Departamento de Artes da Universidade. O evento teve como objetivo orientar e traçar panoramas sobre a vida dos alunos após o término da graduação. As palestras e os debates ficaram marcados pela descontração, mas, ao mesmo tempo, discutiram-se assuntos relacionados às dificuldades encontradas depois da graduação, como a inserção no mercado, o abandono da profissão e a migração para outras áreas. A ex-aluna Mariella Siqueira, juntamente com Juliano Mendes,
Fórum das Artes 2012
também ex-aluno, idealizaram o “Encontro” e explicaram como foi o evento: “O Encontro foi pensado, para este primeiro momento, como um mapeamento, para que pudéssemos perceber como caminhou a formação desses ex-alunos para o mercado de trabalho. Ações foram pensadas a partir das exposições dos convidados, a fim de que sejam articuladas em conjunto, dialogando com uma ampla área de pesquisa no mercado de trabalho”, avaliaram Siqueira e Mendes. A realização do evento ajudou no reconhecimento: “Foi importante ingressar no Festival de Inverno. A UFOP nos propiciou a institucionalização do movimento, deixandoo mais forte”, ressaltou Mendes.
III Encontro de Arte/Educação
Arte, aprendizado e reflexão foram temas do III Encontro de Arte/Educação de Ouro Preto, realizado no Centro de Artes e Convenções da UFOP, em Ouro Preto. O evento contou com a participação de especialistas da área, como o professor do Departamento de Educação da Universidade, Marco Antônio Franco, a coordenadora do núcleo de Arte e Dança de Viçosa, Patrícia Lima, a professora da Fundação Clóvis Salgado, Marina Miranda, e a professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS),Vera Lúcia Bertoni. Eles discutiram o atual cenário e as perspectivas educacionais e artísticas no Brasil. O Encontro teve como tema “Diversidade, Identidade e Inovação no Ensino das Artes” e buscou analisar as práticas da arte e da educação no ensino formal e não formal, por meio de palestras, debates e exibições de documentários. “É muito prazeroso fazer parte desse encontro, reunir tantas pessoas a fim de um mesmo objetivo, o da reflexão”, afirmou o coordenador geral, professor Emerson de Paula. A palestra de abertura foi “Diálogos entre a Universidade e a Comunidade: Programa UFOP com a Escola”, ministrado pelo professor da Instituição, Marco Antônio Franco, que destacou pontos relevantes de sua caminhada frente à coordenação do “UFOP com a Escola” e de como esse trabalho é desenvolvido. De acordo com Camila Bassoli, aluna do 6º período de Licenciatura do curso de Artes Cênicas da Universidade, o que mais a motivou a participar do encontro foi a oportunidade de acrescentar conhecimento na sua formação acadêmica e profissional. “O Encontro reuniu pessoas importantes da área. É relevante que os alunos participem de eventos desse porte. Sempre que posso, participo”, ressaltou.
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Oficinas
Tradicionais, oficina conhecimento e troc foto: Carol Teixeira
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Festival de Inverno | Ouro Preto e Mariana
Priorizando áreas como cinema, comunicação, música, patrimônio e o público infantojuvenil, 48 oficinas, mais 16 do projeto “Festival com a Escola”, foram ofertadas durante a edição 2012. O objetivo, como nos anos anteriores, foi promover conhecimento e troca de experiências entre os participantes, naquilo que já é uma tradição do evento.
fotos: Íris Zanetti
Por Rolder Wangler
Com mais de mil vagas ofertadas, as oficinas aconteceram em diversos locais de Ouro Preto e de Mariana: no Centro de Artes e Convenções da UFOP, nos núcleos da Fundação de Artes de Ouro Preto (Faop), nos Museus, na Casa da Baronesa e na Casa dos Contos, além dos inusitados Sagarana Café - Teatro e Trem da Vale. O prof. Ewerton Belico, que ministrou a oficina “Voz Off, Found Footage e a articulação entre o documentário e a ficção no Cinema Brasileiro Moderno”, participou de outras edições como oficineiro, e, com sua experiência, trouxe novas discussões para a sala de aula. “É importante voltar ao Festival, como venho fazendo há algum tempo, e repassando o conhecimento que adquiri”, disse. Adequando-se à variação do público, as oficinas ofereceram oportunidades para todas as idades. Nas oficinas de Infantojuvenil, as crianças entraram em contato com atividades que ajudaram a
desenvolver o raciocínio e a lógica, despertando nelas o prazer pela música e colocando-as em contato com os instrumentos. Ao todo, foram oferecidas nove oficinas para esse público. Para Eduardo França, coordenador do projeto “Circo, Arte-Educação e Cidadania”, de Ouro Preto, as oficinas abrem oportunidades: “Muitas crianças chegaram aqui ansiosas para já começar a praticar. Foi um verdadeiro trabalho de equilíbrio, em que o esforço e o empenho delas foram peças importantes”, ressaltou França. A preocupação com a preservação do patrimônio histórico também foi debatida nas oficinas. A curadoria responsável promoveu atividades que valorizavam a relação entre memória, patrimônio e diversidade cultural. Além da preocupação com o material, buscou-se resgatar a importância dos valores imateriais, que, mesmo não podendo ser vistos, carregam, em sua maioria, a construção de uma sociedade.
as promoveram cas de experiências Fórum das Artes 2012
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Oficinas
foto: Nathália Viegas
foto: Íris Zanetti
O gosto pela arte É hora de brincar, de se divertir e de aprender. Estes três verbos resumiram a alegria e a empolgação de crianças e pré-adolescentes durante as oficinas infantojuvenis do Festival de Inverno. “Achei divertido porque desenvolveu a matemática e, quando a gente crescer, a gente vai precisar”, disse Gabriel Alves, 10, morador de Ouro Preto, ao falar de uma das oito oficinas, chamada “Matemática através de jogos — outra lógica”, oferecida no Centro de Artes e Convenções da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP). Quem também falou da experiência foi Giulia Araújo Cota: “A gente aprendeu matemática com vários jogos”, disse a garota de apenas nove anos.
Tenda da cultura
Em outra atividade, na Tenda do Trem da Vale, em Ouro Preto, a professora Fabrícia Rioga, 35, ficou atenta à desenvoltura da filha Lavínia Rioga da Silva, de nove anos. “Acho importante a convivência com outras crianças e com os adultos. Ela sempre gostou de estar envolvida com a arte, com a música”, disse a professora ouro-pretana e moradora do Rio de Janeiro. Rioga trouxe a filha pela segunda vez ao Festival de Inverno. “A Lavínia é carioca, mas tem orgulho de dizer que é de Ouro Preto”, completou a mãe.
Instrumentos e música
Outro exemplo de diversão e aprendizado foi a oficina “UAKTI — instrumentalização e musicalização”, realizada no Colégio Sinapse Anglo, em Ouro Preto.Tabaca, pandeiro, escaleta, teclado, tubos de PVC e outros objetos davam
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tom ao curso para despertar, nas crianças, o interesse pela música. Raíssa Pereira, de oito anos, logo criou identidade com o curso. Bastou a instrutora Pamelli Marafon, arte-educadora do Conservatório de Música Mestre Vicente, em Mariana, tocar “Asa Branca” para a menina correr até o teclado e entoar as notas da canção. Emanoel Victor Souza Silva, de nove anos, também não perdeu tempo ao interagir com os integrantes da oficina. Ao som de “Asa Branca”, o garoto usou o próprio corpo para emitir sons de forma rítmica, a partir das orientações de Marafon. Um dos pontos positivos citados pelo UAKTI foi a possibilidade de as crianças ouvirem o próximo e escutar a diversidade. As oficinas infantojuvenis garantiram, ao todo, a realização de 48 eventos com diversas temáticas nas áreas de Literatura, Patrimônio, Música, Artes Plásticas, Cênicas e Visuais.
Novos espectadores Defensor da proposta de que o Festival de Inverno seja duradouro, o reitor da UFOP, prof. João Luiz Martins, destacou a importância de formar novos espectadores. “O Festival possui algumas tendências interessantes, pois forma público”, observou. A expectativa do reitor se referiu à presença do evento nos distritos de Ouro Preto e de Mariana e ao “Festival com a Escola”, com uma série de atividades nas comunidades e nas instituições públicas de ensino das duas regiões.
Uma ótima participação Festival de Inverno | Ouro Preto e Mariana
foto: Íris Zanetti
e começa cedo Por Gláucio Santos
Diversas atividades destinadas a crianças e jovens foram ofertadas durante a programação do Festival de Inverno, dentro do Fórum das Artes. Com preço máximo de R$ 20,00, as oficinas oferecidas em Ouro Preto e em Mariana abordaram vários temas. Para um público a partir de seis anos, elas contribuíram para despertar a criatividade da criançada. Algumas delas foram “O som das Américas e seus Tambores”, “Matemática através de Jogos – Outra Lógica”, “Hoje é Dia de Circo”, “Oficina de Musicalização Girasom – Brincando com a Música”;“Oficina de Iniciação Teatral para Jovens”;“Cores da América”;“Oficina de Artes Plásticas e Literatura”; “Grupo Curupaco – Música”; “Histórias e Brincadeiras”; “Objetos da Infância” e “Uma Aventura nos Museus: Ciência, Arte e Conhecimento”. O coordenador de programação Flaviano Silva buscou promover atividades que aguçassem os cinco sentidos das crianças, despertando o prazer no ver e no fazer arte. “Os eventos foram divididos e escolhidos de acordo com a classificação etária. Como resultado, conseguimos uma ótima participação do público”, ressaltou.
parceria com o programa “UFOP com a Escola”, da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP). De acordo com o coordenador do projeto, professor Marco Antônio Melo Franco, da área de Educação da Universidade, a proposta foi possibilitar o ingresso dessas pessoas nos movimentos artísticos e culturais que acontecem nas duas cidades durante o evento. “Além disso, buscou-se promover a construção de uma cultura de participação”, enfatizou Franco. O projeto atendeu a crianças e a jovens com idade entre sete e 14 anos e ofereceu oficinas aos professores das escolas atendidas, além de promover diálogos entre a UFOP e a comunidade, por meio da inserção de alunos graduados e graduandos na aplicação de oficinas.
“Festival com a Escola” e o acesso à arte
O projeto “Festival com a Escola” ofereceu oportunidade de acesso à cultura e às artes. Crianças, jovens e profissionais da educação da rede estadual de ensino de Ouro Preto e de Mariana puderam acompanhar 19 oficinas, quatro voltadas para alunos e quatro para professores.As atividades englobaram debates, produção de conteúdos audiovisuais, teatro, dança, música, conscientização ambiental e intervenções nos espaços escolares. No seu segundo ano de atividades, o “Festival com a Escola” é uma
Fórum das Artes 2012
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Distritos
Projetos Especiais
Espetáculos teatrais, exposições fotográficas e música Distritos de Ouro Preto e Mariana, em um total de 12, receberam e organizaram eventos no Festival de Inverno Por Renata Felício
Um dia em Miguel Burnier, em Ouro Preto; no outro, em Padre Viegas, em Mariana. Assim a Caravana Festival percorreu distritos das duas cidades, em um total de 12, levando arte e cultura às localidades que compõem os municípios. Segundo a Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), organizadora do Festival, o objetivo foi a integração das populações que, por vários motivos, não podem participar das atividades que ocorrem nas sedes das cidades. Uma das atrações da “Caravana” foi a Orquestra Ouro Preto, que realizou concertos em Igrejas e em salões dos distritos de Ouro Preto. Integrada à programação do Festival há sete anos, os 16 músicos regidos pelo maestro Rodrigo Toffolo e pelo americano Matthew George, convidado especial, apresentaram repertório diferenciado, executando trilhas famosas como Singin`in the rain, do filme “Cantando na chuva”. A Orquestra reproduziu, por exemplo, o som da máquina de escrever, o sapateado e a apresentação com o Acordeon, sons que foram produzidos especialmente para os distritos. Para Toffolo, um dos curadores de Música do evento, foi importante descentralizar as atividades, levando cultura para as comunidades da região. Segundo Dona Eva das Dores Barbosa, 71, moradora de Engenheiro Correia, distrito de Ouro Preto, há dificuldades de deslocamento para os centros históricos: “É mui-
to difícil o povo sair daqui para aproveitar o Festival nas cidades”, disse. Escolas públicas As crianças, embaladas pela animação das músicas, dançaram e sorriram, transformando o dia em uma grande festa. Esse foi um dos resultados do projeto “Orquestra nos Distritos” que, neste ano, foi realizado também nas escolas públicas. Os estudantes do subdistrito de Mota, por exemplo, tiveram a oportunidade de assistir à apresentação da Orquestra Ouro Preto em Miguel Burnier. Para a professora Geni Ferreira Batista, 61, as apresentações foram o máximo. Segundo ela, muitas crianças nunca tiveram a chance de escutar música clássica. “Meus alunos estavam contando os dias para a apresentação”, ressaltou. Espetáculos, filmes e exposições Adultos, crianças e idosos acompanharam exposições fotográficas, exibições de filmes e peças teatrais. “O Festival de Inverno proporcionou conhecimento e descobertas e possibilitou, também, o desenvolvimento humano por meio do contato com a arte”, ressaltou o coordenador da programação, Flaviano Silva. Segundo ele, para chegar aos distritos e fazer com que as populações dessas localidades se sentissem incluídas no evento, foi necessário um maior processo de descentralização.
foto: Íris Zanetti
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De esta
encenaçõe Poemas, músicas e brincadeiras. A explosão de atrações que invadiu as cidades de Ouro Preto e Mariana durante os 15 dias do Festival de Inverno envolveu a todos em um único propósito: a difusão da arte. Ruas, praças, museus e até vagões de trem viraram palco. Prova disso foi a intervenção artística “Poesia nos Trilhos”, realizada pelos alunos de Artes Cênicas da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), participantes do grupo “Trem que Pula”, durante a viagem de trem, que liga as duas cidades históricas, cujo objetivo foi levar ao público a cultura latina, estimulando a leitura e a apreciação musical. Baseado no tema “LATINOAMÉRICA - ¿Libertas, Libertad, Liberdade?”, o “Trem que Pula” elaborou várias apresentações, com música popular brasileira e poesia, brincadeiras e pequenas peças teatrais. “É um trabalho importante para todos nós. Realizamos intervenções artísticas durante a viagem há muito tempo. O pessoal gosta e é bom ver o retorno das pessoas”, afirmou Jeferson Cunha, integrante da Cia.Trem que Pula.
Festival de Inverno | Ouro Preto e Mariana
foto: Íris Zanetti
ação a estação,
es, poesias e músicas Por Kíria Ribeiro
Os passageiros da viagem elogiaram a iniciativa de levar poesia e música para o trem, como estratégia educativa. “Achei interessante o passeio, já é o segundo ano que venho. Gostei também desse incentivo à literatura através da poesia e da música”, disse a turista vinda da cidade de Lorena (SP), Marlene de Souza. A rua também foi palco das mostras culturais, com intervenções artísticas e outras atividades. Durante o Festival, os espectadores puderam aproveitar, por exemplo, atrações como a “Retreta”, que é uma ação voltada para as manifestações musicais identificadas junto às comunidades de Ouro Preto e Mariana. Homens, mulheres, crianças e jovens se reuniram para conferir a apresentação da Corporação Musical Sagrados Corações de Jesus e Maria, que, desde 2006, anima o público das duas cidades históricas com bolero, samba, maxixe, valsa e marcha-rancho. “É gostoso e importante que a nossa cultura seja mantida. Gosto muito de ouvir música”, salientou a comerciante Graça de Oliveira, de Belo
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Horizonte. A “Retreta” teve como objetivo mostrar às pessoas manifestações musicais, promovendo a realização de eventos que valorizam os ritmos . Declamações de poesias também marcaram esta edição do Festival com o “Sarau de Época”, destinado a promover um espaço de cultura que estimula a leitura e a apreciação musical, aproximando as bibliotecas do público infantil e juvenil. Contemplando a temática “Amor”, o sarau “As sem-razões do amor” teve como mote as lendas latinoamericanas, conjugadas com histórias de personagens tradicionais locais, especialmente a história de amor de Marília e Dirceu, o amor proibido de Sinhá Olímpia e o amor impossível de Alphonsus de Guimaraens. O Sarau contou com poesias, contos e textos de diversos escritores, entre os quais Carlos Drummond Andrade, Cecília Meirelles, Manuel Bandeira e do próprio Alphonsus de Guimaraens. Os apaixonados de plantão se emocionaram com o doce som da voz da cantora Erika
Curtiss, acompanhada do percussionista Gertison Mendes, de Daniel Torquete, no violão, e de Eutíqueo Fonseca, na flauta. Embalados pelo amor, o público cantou e dançou ao som do grupo “Regra Três” as músicas “Eu sei que vou te amar” e “Soneto da Fidelidade”, de Vinicius de Morais, e “Depois”, de Marisa Monte. “Um sarau é importante em qualquer cidade, pois leva cultura à população e enche o nosso coração de alegria”, afirmou a aposentada Aparecida Lopes, da cidade de Mariana. Para a coordenadora de Projetos Especiais, Marilêne Marinho, os programas contribuem para o fortalecimento da identidade histórica e cultural das duas cidades, favorecendo a democratização do acesso à cultura, ao lazer e à educação informal. “Acredito que a “Poesia nos Trilhos”, o “Sarau” e a “Retreta” foram fundamentais para garantir a manutenção da memória cultural coletiva de Ouro Preto e Mariana”, ressaltou.
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Web
curtir | comentar | compartilhar
Mídias e redes sociais, interação com mais de 11 mil pessoas
Facebook e Twitter proporcionaram interatividade com milhares de pessoas; já o site de compartilhamento de imagens Flickr hospedou quase 2,5 mil fotos, mostrando as atrações culturais do Festival de Inverno Por Manuela Ferreira
Na edição 2012, além dos meios tradicionais já utilizados para divulgação, o Festival de Inverno fez uso das redes e mídias sociais, com o objetivo de atingir o maior número de pessoas, proporcionado cobertura completa das atividades culturais e aumentando a interatividade com o público. Além do site, do rádio e da TV, Facebook, Twitter e Flickr foram as ferramentas utilizadas para informar sobre o evento. O “faceboook.com/festinverno” foi uma aposta importante de interação, já que o Brasil é o número dois no mundo em números de usuários, com um total de 51,2 milhões de perfis registrados até julho de 2012. Nele eram divulgados os textos de cobertura jornalística do evento, promoções, programação e curiosidades. Com isso, a equipe de mídias sociais chegou ao final do Festival com mais de 10 mil fãs. O “twitter.com/festinverno” também foi utilizado para divulgações e promoções, atingindo mais de 1,7 mil seguidores. O destaque das duas ferramentas foram as promoções, brindando fãs e seguidores com camisetas, pen drives, bottons e cortesias para passeios de trem. Outra novidade foi o uso dessas ferramentas para levar aos usuários cobertura em tempo real de alguns eventos, com fotos e descrição do que estava acontecendo. Lar de mais de 5 bilhões de fotos no mundo, o Flickr foi utilizado novamente nesta edição do Festival para a hospedagem de imagens fotográficas. Foram quase 2,5 mil fotos, entre coberturas de exposições, peças teatrais, shows, oficinas, bastidores e “Eu Curto” (fotos com os participantes do Festival exibindo adesivos que faziam referência ao botão Like, do Facebook). A equipe responsável selecionava algumas fotos do Flickr e
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compartilhava com os usuários do Facebook e do Twitter, que permitiam marcações e comentários do público. Além dessas ferramentas, o site, a TV e a Rádio UFOP reforçaram a comunicação do evento. O festivaldeinverno.ufop.br trazia a programação completa e a cobertura jornalística dos eventos. Atualizada diariamente, a programação era de fácil acesso e os usuários podiam checar as atividades pelo dia ou pelas categorias “Oficinas”, “Circuito Festival”, “Festival com a Escola”, “Fórum das Artes” e “Conexão Festival”. O site também contava com dicas turísticas, informações sobre as cidades de Ouro Preto e de Mariana, indicações de hotéis e restaurantes para os visitantes conhecerem.
A TV UFOP produziu programas especiais dedicados ao festival. O “Plano Aberto” exibiu entrevistas com artistas e reportagens com curadores e participantes. O quadro “Baú do Festival” mostrou aos espectadores um pouco das edições passadas do evento. A Rádio UFOP Educativa (106,3 FM) levou ao ar o “Panorama Festival”, com coberturas das atrações e entrevistas com coordenadores, oficineiros e curadores, tudo ao vivo. O programa foi transmitido diariamente, informando também as atrações do evento: foram boletins diários, flashes e entrevistas com autoridades e artistas, proporcionando informação instantânea ao público.
Festival de Inverno | Ouro Preto e Mariana
Fe5tiva156790327 3m númer0s2167 318 atividades culturais realizadas entre os dias 08 e 22 de julho FestiVAL cOm A escOLA 19 eventos
1. 2. 3. 4.
O lúdico, a memória e a diversidade – modos de brincar e lembrar Eu pertencente, ser brincante Educação patrimonial através do audiovisual A intervenção/composição como variáveis experimentais na Educação
T���� �� E������ = 243
5.
Fotografar Pessoas e Lugares, Inventando Novas Histórias 6. Teatro e Memória 7. Ginástica Acrobática 8. Um olhar sobre o Palhaço e o Objeto 9. Abracadabra 10. Eu – Espaço Hoje – O Corpo em Questionamento 11. Street Dance Música Conexão Festival Música .......................72 Música Artes Cênicas Conexão Festival ........55 Conexão Festival Artes Visuais Artes Cênicas ............42 Artes Cênicas Evento Artes Visuais ..............33 Artes Visuais Artes Plásticas Artes Plásticas Evento........................12 Evento Infantojuvenil Artes Plásticas............10 Artes Artes Plásticas Plásticas Circuito Trilheiros Infantojuvenil ............10 Infantojuvenil Literatura Circuito Trilheiros ........5 Circuito Trilheiros Patrimônio Literatura .....................3 Literatura Patrimônio Patrimônio ...................1
T���� �� O������� = 48 Artes Cênicas ......................... 7 Artes Cênicas Artes Cênicas Artes Plásticas ....................... 6 Artes Plásticas Artes Plásticas Artes Visuais.......................... 5 Artes Visuais
12. 13. 14. 15. 16. 17. 18. 19.
Criando Histórias Iniciação à Arte do Palhaço Colônia Musical de Férias – Percussão Colônia Musical de Férias – Flauta-doce Colônia Musical de Férias – Violão Colônia Musical de Férias – Teclado Cátedra:Valorização do Lixo que não é Lixo Cátedra: Educação Ambiental
FÓrUm DAs Artes 8 eventos
1. Encontros Literários - Dias 09, 16 e 17 de julho 2. II Fórum das Artes Visuais - Entre os dias 09 e 12 de julho 3. Mostra Estradas e Fronteiras - Entre os dias 16 e 21 de julho 4. Diálogos Musicais IV - Dias 09, 10 e 12 de julho 5. I Encontro de Ex-Alunos do Departamento de Artes da UFOP - Dia 10 de julho 6. I Encontro Latino Americano de Teatro e Dança de Ouro Preto - Entre os dias 11 e 14 de julho 7. 3º Encontro de Arte/Educação de Ouro Preto - Dias 12 e 13 de julho 8. Balaio do Patrimônio Cultural - Dias 19 e 20 de julho
Artes Visuais Conexão Oficina Festival ........ 5 Conexão Oficina Festival Conexão Oficina Festival Infantojuvenil ........................ 8 Infantojuvenil Infantojuvenil Literatura .............................. 6 Literatura Literatura Música .................................. 5 Música Música Patrimônio ............................ 6 Patrimônio Patrimônio
Festival com a escola = 19 eventos Fórum das Artes = 8 eventos Fórum das Artes 2012
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Julia Mitraud
Entrevista
Percepção que vem da experiência A tarefa não foi fácil: fazer acontecer o Festival de Inverno de Ouro Preto e Mariana com mais de 300 atividades. Com experiência em organização de eventos e já tendo participado de várias edições do Festival, a coordenadora executiva Júlia Mitraud contou como foi organizá-lo, os bastidores, os desafios e as alegrias da edição 2012. Valorizando o potencial humano, ela destacou a consolidação e pontuou os caminhos a serem seguidos nos próximos anos. Revista Festival (RF): De modo geral, o que faz um coordenador executivo e quais foram suas atribuições neste Festival? Júlia Mitraud (JM): Procuramos, desde o início, provocar uma coesão. Começamos com reuniões com os curadores, depois inserimos a comunicação, hospedagem e alimentação, transporte, para que entendessem o evento. O compartilhamento da informação foi o aspecto mais importante da gestão. O fato de as pessoas terem sido integradas foi fundamental também para o próprio comportamento e postura diante dos problemas. RF: Como você avaliou esse perfil de gestão que englobou os municípios envolvidos, a Universidade Federal de Ouro Preto e outras parcerias? JM: O Festival vem evoluindo a cada ano. Ele passou a ter características voltadas para os municípios. Isso é um diferencial. Ele é realizado agora por pessoas da cidade, com os professores da cidade, isso ajuda a ter uma visão do que é o município de Ouro Preto, de Mariana e quais são as demandas de cada um, que são diferentes. Ao longo dos anos, as prefeituras também tiveram papel diferenciado, mais entrosado com a gente: nós buscamos o tempo inteiro, eles vieram o tempo inteiro. A UFOP sempre teve potencial e condições para ter esse envolvimento, para ser a realizadora do evento. RF: A UFOP tem também o desafio de formar pessoas que, futuramente, vão trabalhar no Festival. Como é feita a integração dos alunos nesse modelo de trabalho?
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JM: Fiquei impressionada com a capacidade dos estudantes. Trabalhamos com alunos de várias áreas, com perfis diversos, desde os que têm potencial de liderança até os que estiveram ali para serem direcionados. Muitos nos surpreenderam, trabalharam pela primeira vez e já apresentaram potencial de liderança, conduziram processos de forma autônoma. Esse público vai se modificando a cada ano. Então, procuramos trabalhar com alguém com experiência, que veio do ano anterior, e alguém novo, que, no próximo ano, poderá conduzir os demais. Muitas pessoas questionaram como é possível trabalhar com tantos alunos, pois eles realmente tiveram um grau de responsabilidade muito grande e são muito novos. É uma soma, da experiência dos mais velhos com a energia dos mais novos, a vontade de aprender. RF: Quais foram os grandes desafios desta edição? JM: Houve uma mudança de equipe.Várias pessoas que encabeçavam setores estratégicos saíram e passamos a trabalhar com pessoas novas nessas funções, mas que já tinham um conhecimento do Festival. No início, foi um desafio, mas considero que foi rapidamente vencido porque o grupo mostrou uma resposta imediata e positiva. Conseguir uma equipe que desse conta das soluções foi essencial, as pessoas realmente se dedicaram. RF: Como se deu a articulação do tema do Festival com os bastidores da organização? JM: O tema era um desafio. A equipe se perguntava como abordar, como fazer um recorte. Mas, de novo, veio a importância de estarmos todos trabalhando juntos: várias cabeças, ideias, ideologias, mas chegamos a um consenso, um denominador comum. Acho que a participação do reitor prof. João Luiz Martins contribuiu, porque ele tem uma dedicação a esse evento que é importantíssima, ele acredita, está junto com a equipe. O prof. Armando Wood também nos deu muita liberdade de ação, o que facilitou o processo. Conseguimos também uma atuação mais próxima da Fundação Educativa Ouro Preto (Feop), desde a fase de elaboração dos projetos. Ela é a proponente, executa várias ações, então tem que entender como a gente entende, enxergar o Festival como a gente enxerga.
Por Verônica Soares
“O Festival vem evoluindo a cada ano. Ele passou a ter características voltadas para os municípios”. RF: Fazendo um balanço, quais os principais ganhos de 2012? JM: Fizemos um evento do tamanho que nossos braços alcançavam. Foi tudo feito com muita dedicação. A organização, desde o início, determinou qual seria o formato e os eventos vieram depois. Antes era o contrário, a gente recebia os eventos e formava a grade; então, muitas vezes batia uma coisa com a outra. O Festival é para formar público, para formar pessoas, formar ideias, e acho que fizemos um evento mais pautado nisso, para provocar a reflexão. Temos buscado trabalhar com oficinas mais consistentes, para dar chance ao público de se envolver com oficineiros, com quem dificilmente teriam contato fora do Festival, seja porque moram longe, são estrangeiros ou são muito requisitados devido às suas experiências. RF: O que você espera dos próximos Festivais? JM: Que ele continue com essa qualidade, conquistada com um formato de trabalho efetivamente em equipe. Não podemos perder o foco, porque ele é muito importante para a Universidade e para as duas prefeituras, pelo que provoca dentro de seus ambientes. Para os alunos da UFOP, traz a possibilidade de formação, pois aprendem em um mês o que em cinco anos talvez não tenham a chance de experimentar. Para os municípios, especialmente os distritos, é uma oportunidade única para receberem atividades. Então, espero que o Festival continue dando sequência a esse trabalho de integração. RF: Embora o Festival esteja consolidado, o que ainda precisa ser construído? JM: Sempre tem alguma coisa a melhorar, a cada ano a gente tem uma experiência diferente e pensamos que poderia ter sido feito de outra forma. No Festival temos que estar sempre experimentando, testando novos formatos. A recepção em cada uma das cidades é diferente e essa percepção vem da experiência.
Festival de Inverno | Ouro Preto e Mariana
Vozes Latino-Americanas “Se apresentar no Festival de Inverno é uma oportunidade para que meus alunos prestigiem o trabalho de um instrumentista. Aqui, podemos mostrar a eles que existe profissionalismo na música”. - Érico Fonseca, quinteto BH BRASS
“Nada representa Minas como Ouro Preto e Mariana. Tocar no Festival de Inverno foi um prazer”. - Oswaldo Montenegro, cantor
“Fiquei muito feliz em ter sido convidado para participar do Festival de Inverno de Ouro Preto e Mariana”. Marcos Sacramento, cantor
“O Festival é maravilhoso. Em todas as ruas, esquinas, você vê alguém fazendo arte. Uma riqueza cultural fantástica”. - Ithamara Koorax, cantora
“Estamos muito contentes de estar aqui no Brasil, é a sexta vez. Temos uma história parecida e há uma identificação com o personagem de Tiradentes. Estou emocionado de participar do Festival”. - Beto Villada, integrante do grupo Varasanta
“Cultura é uma coisa só, é sempre uma coisa. E isso é o que a proposta do Festival nos mostrou.” - Jards Macalé, cantor “O Festival permitiu discussões das novas tendências, além da troca de saberes e a discussão sobre o que está acontecendo na formação do teatro em outros países da América Latina.” - Zeca Ligiéro, coordenador do Núcleo de Estudos das Performances Afro-Ameríndias (NEPAA)
“O Festival é um hiato, um espaço que fica aberto para esse lugar de experimentação, da proximidade dos artistas, das pessoas que se interessam por arte, e acho que Ouro Preto e Mariana são cidades que recebem isso muito bem”. - Dudude Herrmamm, bailarina e coreógrafa
“Para nós, é um prazer retornar a essa cidade que nos traz ótimas lembranças da nossa estreia. Apresentar em Ouro Preto é sempre emocionante”. - Inês Peixoto, atriz do Grupo Galpão
“Apresentar-me aqui é inexplicável. O Festival tem um público bem aconchegante. Foi uma grande troca e espero voltar mais vezes”. - Letícia Carneiro, bailarina e diretora da Quik Cia. de Dança Fórum das Artes 2012
“É um mosaico, uma integração de todas as culturas formando somente uma. O Festival é isso tudo junto, sem fronteiras”. - “O Grivo”, grupo musical
“O Festival reacende uma vontade bacana de pesquisar, de entrar em contato com outras pessoas, especialmente aquelas que querem fazer arte de alguma forma”. - Regina Rennó, artista plástica
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Festival de Inverno | Ouro Preto e Mariana
F贸rum das Artes 2012
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foto: Ă?ris Zanetti
Crônica
Por Rondon Marques
“La tierra vive ahora tranquilizando su interrogatorio, extendida la piel de su silencio. Yo vuelvo a ser ahora el taciturno que llegó de lejos envuelto em lluvia fría y en campanas: debo a la muerte pura de la tierra la voluntad de mis germinaciones.” Pablo Neruda
Festival, jardim, inverno O pelourinho da Praça Minas Gerais guarda a imagem revivida da liberdade do movimento artístico. Calçamento e jardim foram impregnados de novas cores e movimentos. Outro calçamento, na Praça Tiradentes, guarda resquícios do suor extraído do prazer de fazer arte. Elementos espalhados por diversos espaços e momentos que não existem mais de fato, mas que podem e continuarão a ser acessados nos recônditos da memória de moradores e turistas que estiveram envolvidos em centenas de ações do Festival de Inverno de Ouro Preto e Mariana – Fórum das Artes 2012. Assim como o Jardin de invierno do chileno Pablo Neruda, um evento como esse necessita de cuidados e preparações para florescer e, depois do esplendor, há de “morrer” e deixar sementes para outras germinações. Milhares de mãos já afagaram essa terra e outras tantas hão de revolver um solo fértil de possibilidades artísticas e caminhos a serem percorridos pela mostra da cultura, que mescla o popular e o erudito. Assim como são variados os percursos, também sempre serão os seus resultados. Oriundo de outros Festivais de Inverno e de uma proposta diferenciada de fórum artístico, o evento tornou-se, nos últimos anos, um híbrido que, ao mesmo tempo em que resgata os formatos tradicionais, aponta possibilidades de inovação e internacionalização. Ampliar o horizonte visto da sala de aula, expandir a possibilidade de troca em praça pública, dilatar as fronteiras do reconhecimento das manifestações individuais e coletivas, estreitar o envolvimento e a transformação dos saberes, muitos outros caminhos são percorridos nessa busca. América Latina, Vilas de Minas, Mestre Ataíde, Clube da Esquina, Aleijadinho, Chico Rei, Sinhá Olympia e Estrada Real foram os pontos de partida férteis para o envolvimento de artistas, estudiosos, oficineiros, aprendizes e tantos outros. Divisões geográficas, visões de mundo, formas de expressão e destinos indefinidos servem de pano de fundo para algo indescritível: a arte. Por tudo o que passou e continuará, o sentimento de Neruda descreve o intervalo desse momento cultural. Enquanto as manifestações artísticas não voltam a brotar em praças, teatros, palcos e outros espaços, o pensamento taciturno revolve a terra impregnada em nossa alma, preparando o novo plantio. Em seu tempo, sempre ideal, voltará a germinar o festival de ações, em um jardim cultural com a proximidade íntima do inverno.