Alexandre Lopes
Parque das Ă guas
“ Este livro é uma homenagem a minha rosa perdida. Até um dia, que certamente chegará.”
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Para minha querida amiga Thais, a primeira a ouvir, incentivar e ler. Para minha mãe Irene e meu pai Almir, pela oportunidade que me deram de caminhar na jornada da vida. A minha irmã Elisandra e minhas sobrinhas Milena e Ana Julia por me acompanharem no caminho. Para meus amigos do Grupo Espírita Amar, Que abriram as portas de um novo mundo, e os demais queridos amigos pela cumplicidade na dor e na alegria. Dedico esta obra a minha filha Stéphanie, meu doce presente e minha maior conquista. Te amo! A meu querido avô Antônio que muito me ensinou e onde quer que esteja ainda me ensina. A Deus Pai Celeste de infinita bondade, Jesus nosso Senhor Divino Mestre e toda Espiritualidade que permanentemente derrama sobre nós a infinita caridade.
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"Pois muitos s達o chamados, mas poucos s達o escolhidos." (Mateus 22:14)
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Prólogo “Procurei em meu leito, à noite, aquela que é o amor de minha alma; procurei e não a encontrei" (Cânticos 3:1) Há 11000 anos a.c
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alvez eu tenha descoberto tarde demais que tudo aquilo não valeria a pena, olhava nos olhos dela em minha mente, nem
precisava vê-los pessoalmente para me lembrar de cada detalhe, sabia que poderia ser a ultima vez, só não contava que essa ultima vez nunca iria acontecer. Corria muito pelas vielas da grande cidade, faltava pouco para chegar no Parque das águas, lugar a qual combinamos nos encontrar, mas de repente minha ofegante respiração parecia não responder ás minhas decisões. Cansado, vi repentinamente tudo desabar, o horizonte mudava de forma e minha visão se embaçava, clamei como nunca, a ultima oportunidade de vê-la, queria senti-la mais um pouco, não podia perdê-la. Naquele instante, nos segundos finais, senti que uma angustia diferente iria explodir em meu coração, toda treva, toda
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mágoa, toda escuridão ficavam para trás, eu só queria ela, mais um pouco. Senti esvair de mim meus últimos suspiros, já era tarde, como nunca me toquei do quão grande era o amor que eu sentia por ela? Procurei a ira que eu conservava no meu coração, mas só encontrei um arrependimento. Naquele momento o bem estava ao meu lado, e o desejo de tocar a luz se fazia presente, logo eu, a quem chamavam de o imperador da escuridão. *** Cápitulo 1 Em um tempo não tão distante Os noticiários não paravam de informar os acontecimentos, a população estava em pânico, seria um vírus ou uma bactéria? Ninguém sabia ao fato, apenas que acontecia de forma misteriosa. Os governantes tentavam em vão acalmar o povo, focos de saques e vandalismo começavam a surgir, ninguém entendia as ligações possíveis entre cada caso, até o momento por volta de mil em todo o globo, religiosos em geral pregavam o fim do mundo, alguns
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diziam que era o inicio do arrebatamento, outros o apocalipse, de certo apenas, que as pessoas caiam de repente em coma profundo. Já era por volta das dez da manhã, e o trafego era insuportável. André testava sua paciência fixando sua mente nas músicas que tocavam no rádio, "o mundo parecia desabar", pensava ele. Sabia que estava atrasado para o trabalho, mas continuava tranqüilo, lembrou-se de ligar para sua esposa para perguntar a hora marcada do jantar com seus amigos à noite. Tudo parecia calmo e normal quando ouviu um som estridente de uma buzina descontrolada, era o carro da frente que não se mexia. Várias pessoas correram para ver o que tinha acontecido, quando se depararam, com mais um caso da epidemia do coma, nome a qual todos chamavam o incidente. André ficou assustado, seu coração deu um salto de pavor, pensou em sair do carro e correr para bem longe, mas já era tarde, sua musculatura relaxou sem controle, um sono perturbador surgiu pesando suas pálpebras, não conseguia formular pensamentos, seus olhos se fecharam e o tempo parou.
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No Plano Espiritual Não sabíamos ao certo o que estava acontecendo, percebia apenas que ocorria uma movimentação anormal dos irmãos superiores. Jamal, um amigo bastante próximo estava vindo em minha direção com um ar apreensivo. - Cassiano! Estou a sua procura, preciso que você me acompanhe. Disse Jamal sem respirar. - O que está acontecendo? Perguntei curioso. - Venha comigo! Preciso levá-lo a presença de alguns irmãos, eles vão lhe por a par dos acontecimentos. Respondeu-me com sua postura militar. Afinal, Jamal fazia parte de uma falange de guardiões das sombras, destacamento responsável por resgates e defesas em altas investidas nas trevas. Trabalho no qual era reconhecido como um dos mais capacitados e condecorados, não sei muito a respeito de sua história, o conheci em alguns de meus estudos a respeito do reino das sombras, ou o lado negro da escolha como alguns preferem nomear. Ele foi um dos instrutores que palestraram brilhantemente na Grande Conferencia, um evento que procura esclarecer sobre o papel do seu destacamento para os candidatos que pleiteiam uma
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vaga de guardiões. Tirando esta postura imponente, séria e totalmente disciplinada, o que é comum na maioria dos guardiões, Jamal é muito dócil em suas palavras e possui um coração grandioso. Logo que nos aproximamos do grupo a qual Jamal se referia, ele não perdeu tempo e me apresentou a todos, olhei fixamente para cada um dos presentes e ergui a minha mão oferecendo meus cumprimentos. Todos elegantemente me saudaram e se propuseram imediatamente a me informar o que acontecia. - Luz e paz meu irmão, meu nome é Maria e com muita preocupação venho pedir sua ajuda em uma missão altamente importante. Apresentou-me uma mulher ruiva aparentando seus 35 anos, e de uma beleza esplendorosa, ela expressava um olhar encantador, adornado por um sorriso tímido, demonstrando a seriedade do assunto. Dispôs-me solicito e perguntei como poderia ser de tamanha ajuda. Mas antes mesmo de Maria me responder, um senhor por volta de 70 anos começou a falar: - Meu irmão, somos parte do Conselho de Aruanda, no momento o plano físico da terra esta sendo assolado por uma imensa e ousada investida das trevas, e segundo algumas informações estamos a um passo de travar a maior batalha entre o bem e o mal já vista neste planeta. Afirmou o homem que me
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lembrava Jamal com seu estilo e porte de um militar disciplinado, de alta patente, seu nome era Tobias que falava de forma acelerada. Maria o interrompeu e pediu calma para todos, com seu jeito dócil, apresentou o restante dos irmãos, os guardiões Plínio e Sara e deu inicio a uma história que me deixou impressionado. Os conselheiros então me explicaram, que algo tenebroso vem sendo tramado pela legião das sombra, alguns de nossos agentes infiltrados trouxeram informações que comprovam que os cientistas das sombras conseguiram desenvolver dispositivos que permite criar poderosos campos de energia, tornando-se quase impossível de serem detectadas por nossos guardiões. Em paralelo, está ocorrendo vários seqüestros de almas dos irmãos encarnados na terra, e segundo fontes de nossos agentes, estão preparando o desprendimento grandioso de energia na crosta, o que pode resultar em imensas tragédias. Não sabemos, mas desconfiamos que é algo jamais visto. - Afinal não conseguimos identificar para onde estão indo os irmãos que estão sendo seqüestrados. Disse Sara, uma mulher muito jovem, porém com um semblante bastante sério. - Informações nos apontam que pretendem promover uma invasão a uma de nossas colônias, buscando coletar energias vitais para seus propósitos. Nossa preocupação é que agora eles dispõem
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de uma proteção perigosa, estão praticamente invisíveis. Afirmou Maria dando uma profunda pausa. Atento a história dos conselheiros, perguntei de que forma eu poderia ajudar nesta batalha. Tocando com suas mãos levemente em meu rosto Maria me respondeu: - Existe um irmão que pode nos ajudar, ele possui uma grande importância para esta missão, mas no momento se encontra encarnado, como não podemos tirá-lo forçadamente de sua encarnação, devido aos desígnios especiais que requer sua trajetória na terra, preparamos algo exclusivo, montamos uma operação com um forte destacamento de guardiões e irmãos superiores para colocá-lo temporariamente em desdobramento, induzindo o que na terra chamamos de coma. Estabelecemos um campo eletromagnético de alta intensidade o que permite dessa forma trazê-lo sem prejudicar seu corpo físico, no entanto sua consciência ainda levaria tempos para se desprender da sua realidade carnal, e aí entra sua participação, pois na sua vida anterior vocês eram grandes amigos, e ele ira confiar em você. Por isso pedimos para que nos ajude a esclarecêlo sobre este mundo e o auxilie para que sua mente possa se lembrar de tudo que ele conhece de suas vidas anteriores, o que nos é de grande importância.
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Após várias observações entendi que se tratava de André, um grande amigo que tive na minha ultima caminhada na terra. Fiquei surpreso com a história e impressionado com a operação montada para trazê-lo ao nosso plano, vários guardiões foram postos ao lado de seu corpo físico, e muitos ainda se estabeleceram como verdadeiras sentinelas em torno do hospital onde se encontra o seu corpo material que naquele instante se apresentava em coma profundo. “ Ele deve ser muito especial ”. Pensei de forma ofegante, afinal um misto de excitação e medo pairava sobre minha alma. *** Cápitulo 2 Pouco a pouco conseguia abrir seus olhos, ainda pareciam sensíveis as iluminações forte que aquele quarto apresentava. André procurou entender o que acontecia, ainda cambaleando, esfregou seus olhos com os dedos procurando adaptar-se a luz do ambiente. Olhou atentamente cada canto, eram paredes altas e brancas, acima uma iluminação de dar inveja nos melhores centros cirúrgicos. Grandes quadros decoravam as paredes oferecendo
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pinturas que a principio lhe pareciam renascentista, flores das mais variadas cores davam o tom alegre ao ambiente. “Que hospital diferente”. Pensou tentando formular um pensamento. Maria se colocou imediatamente ao lado de sua cama, com seu doce toque, fez um leve carinho em sua face abrindo um lindo sorriso. - Meu irmão seja bem vindo. Disse a bela Conselheira. André ainda não tinha a menor noção do que se passava, pouco a pouco os outros conselheiros se aproximaram e iniciaram o esclarecimento do que tinha acontecido. Apesar de muitas informações precisarem ser ditas imediatamente, os irmãos demonstravam a sublime paciência, explicando passo a passo cada parte daquela incrível “viagem”. Após algumas horas fui chamado para me apresentar a André, que até aquele momento acreditava esta fazendo parte de um sonho bastante criativo. Quando me aproximei, seus olhos mudaram e com um tímido sorriso ele me chamou de amigo. Foi muito bom rever meu irmão, estivemos bastante juntos na minha ultima caminhada, já fazia mais de cinco anos na terra que tínhamos nos separados. Foram necessárias cerca de 12 horas para que ele começasse a acreditar que não estava louco, sonhando ou morto. Mas apesar de toda história fantástica ser explicado em curto tempo, seu entendimento foi surpreendente. Após nossa
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jornada de informações, ele descansava tranqüilamente, sendo velado por passes de energias ministradas por Tobias.
*** Eu olhava atentamente a paisagem confortante da colônia espiritual, lindos campos se estendiam sob a luz de um pôr do sol que parecia ser desenhado a mão pelo criador. Preparei minha pequena caderneta para minhas futuras anotações, Maria permitiu que eu pudesse registrar nossa aventura, um fato como esse precisava ser lembrado aos detalhes, ainda guardava neste plano meu encanto pela escrita. Plínio se aproximou lentamente, só percebi sua presença quando tocou suas mãos em meu ombro direito. Ainda não tínhamos conversado muito a sós, parecia uma boa oportunidade para conhecê-lo. - Fico pensando como é bom viver integralmente nesta aurora de amor. Sussurrou Plínio se referindo a Colônia, visto que o irmão guardião passava maior parte, atuando nas esferas inferiores. Dei um sorriso expressando minha concordância, ele respirou fundo virando-se para mim disse:
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- Casiano, se prepare, pois nossa viagem não é um pequeno passeio. Sei que você esta muito empolgado e também com medo, mas tenha muito cuidado com seus pensamentos, lembre-se sempre de que somos representantes do cordeiro e que você é um dos poucos escolhidos para levar luz às trevas, tenha força, seu amigo André é de suma importância para nosso sucesso nessa batalha. Contamos com vocês. Que a paz e o amor estejam sempre presentes na sua mente assim como estão permanentes em seu coração. Naquele instante me senti um soldado sendo convocado para lutar por sua pátria, um bom orgulho fez crescer sobre minha alma, uma enorme vontade de lutar. Não me via apenas como um mero escritor, mas por alguns instantes me senti como um verdadeiro guerreiro. Plínio me deu um forte abraço e um belo sorriso e saiu caminhando pela vasta paisagem que nos rodeava. Fechei meus olhos e pedi ao nosso senhor que me desse força e sabedoria para enfrentar minha grande e difícil tarefa. Conforme eu falava em meus pensamentos com Deus, senti um frescor diferente me rodear, um calor moderado tocava meu corpo e no fundo bem distante ouvia um cântico diferente parecendo um coral de vozes bem afinado. Lembrei-me de uma grande amiga que me dizia que quando orávamos os anjos cantavam, talvez fosse os
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anjos, o certo apenas que era um canto divino que ecoava em meu coração. O bem naquele momento estava ao meu lado. ***
Cápitulo 3 Posto de Socorro de Santa Bárbara Torres enormes se estendiam por toda entrada da base central, criada por forças mentais superiores a pequena vila parecia ser um pequeno forte da idade média, elevadas estruturas se apresentavam com volumosas abóbadas que iluminavam cada salão onde se localizavam os resgatados pelos guardiões em suas investidas nos acampamentos da legião. Este posto de socorro, nome usado pelos médicos responsáveis pelas atividades, servia de preparo para a regeneração dos espíritos que até pouco tempo estavam sob o julgo das sombras, se localizava no alto do vale de Santa Bárbara no plano espiritual de São Paulo. Os guardiões se colocavam em alta observação das redondezas, postos quase que imóveis no portal da base, eram peças chaves na proteção do forte, apesar de toda a atenção a qual se encontravam, não esperavam nenhuma
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ação incomum, afinal este posto de socorro não se localizava em áreas tão perigosas. Diversas atividades médicas eram realizadas no local, os irmãos resgatados do jugo das sombras eram primeiramente tratados neste posto, que os preparavam para a remoção em direção a uma Colônia espiritual. O Posto de Santa Bárbara tinha um essencial trabalho de socorro, sua posição estratégica em meio as dimensões umbralinas, oferece um resgate mais ágil e eficiente, no entanto chamava forte atenção dos espíritos inferiores, que viam o posto como fonte de energia vital e fluidos etéreos mas nada difícil de conter. Uma névoa diferente apareceu na atmosfera externa dos portões, uma gélida brisa pesava o ar, os guardiões sentiram algo diferente mas não conseguiam detectar o que era, olharam estranhamente um para os outros, pareciam se comunicar pelos olhos, ficaram mais alerta, quando em instantes uma enorme nebulosa os envolveu, jamais haviam visto coisa parecida, sentiram suas energias esvair de seus corpos espirituais, a franqueza era iminente e assustadora. Nada poderia ser feito, pois não conseguiam nem ao menos se mexerem. Olharam espantados as pegadas que surgiam no solo da base, passos de algo ou alguém que não podiam ver, mas como um passe de mágica as pegadas ganhavam formas, suas
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imagens apareciam pouco a pouco, seres com mantos negros surgiram andando vagarosamente em direção a um dos salões. Não era possível ver as suas faces, pois estavam escondidas em um capuz vermelho, das suas mãos saiam raios azuis que pareciam imobilizar qualquer um que tentava impedi-los, procuravam por algo, caminhavam em direção a cada um dos resgatados olhando um a um, após alguns minutos, ouve-se um som parecido com um berrante fazendo com que todos os seres fossem em uma única direção, parece que encontraram o que queriam, andavam sem pressa formando um fila quase que fúnebre quando suas faces foram iluminadas por uma grande explosão. Bombas eletromagnéticas de alta vibração foram lançadas de forma precisa, no alto via-se verdadeiros soldados empunhando o que parecia ser espadas de luzes, viam montados em brancos cavalos alados. Como num grande ataque coordenado os falangeiros da espada como eram chamados esses guardiões, surpreenderam os seres das sombras, que logo tentaram contra atacar com seus raios misteriosos, mas a numerosa esquadra que se adentrava por ar e terra no pequeno posto os assustaram, imediatamente o toque do berrante cessou e na velocidade da luz, sumiram sem deixar nenhum vestígios.
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Os guardiões foram libertos da manta energética estranha que da mesma forma que apareceu também sumiu; misteriosamente. O general da falange que defendeu brilhantemente o posto seguiu imediatamente para uma das enfermarias, e foi procurar o que motivou os seres das sombras a atacar este posto, após uma rápida olhada, avistou um homem sentado na maca completamente catatônico, não tinham dúvidas era aquele o irmão a qual procuravam, leu imediatamente sua ficha que o identificava como Victor Camilo ex-guardião das sombras. ***
Cápitulo 4 Olhava atento a paisagem exuberante que se apresentava a nossa volta, sentado na sombra de uma árvore André parecia esta hipnotizado com o lugar, cheguei de forma bem tranqüila e sentei ao seu lado. - Como você se senti? Perguntei a André. - Tranqüilo. É engraçado, pois não sei bem o que esta acontecendo e por mais que tudo me parece novidade me sinto
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familiar com este lugar. Isso parece um sonho. Disse de forma ofegante. - Cassiano! Como é viver aqui? Indagou. - Na verdade meu amigo, apenas o começo foi difícil, pois levei certo tempo para aceitar a idéia de que estava morto, ou melhor, vivo, mas em outro plano da vida. Pouco a pouco minha consciência foi se distanciando da mente carnal e pude me lembrar de parte do que já vivi. É um processo gradual, mas pode acreditar você esta indo muito bem e logo vai se lembrar de que já viveu muita história neste mundo. Respondi fazendo questão de lhe dar um abraço afetuoso. - Como é bom lhe ver amigo, senti muito a sua falta. Sussurrou André em meu ouvido. Caminhamos por alguns minutos no imenso campo da cidade, lembrávamos dos momentos que vivemos juntos na terra. Ele se mostrava muito adaptado, em conta de que tudo aquilo parecia novidade demais para ele em pouco tempo. Surpreendiame em ver sua capacidade de entendimento. "é verdade, ele deve ser mais antigo do que eu!", Pensei lembrando-me do que Maria me disse. - Cassiano, porque fui chamado para essa missão? Perguntou dando uma pausa em nossa caminhada.
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- Não sei ainda meu amigo, mas pode ter certeza que na hora certa irão nos informar, acredite nada é por acaso. Respondi pousando minha mão em seu ombro. Voltamos a caminhar sem pressa, é adorável estar de novo ao lado de meu grande amigo e apesar das circunstâncias que nos levaram a este nosso precoce encontro, está naquela linda Colônia com ele era sem duvidas um grande presente do criador. O bem nos acompanhava e sem saber que o mal se aproximava a passos acelerados sorriamos como crianças. *** Enormes estruturas que pareciam ter sido construídas com aço e vidro se elevavam ao longo daquele imenso palácio. De fora envolto pelo grande vale que se estendia por todo o horizonte, as paredes pareciam ser de um vidro diferente, seu brilho ao refletir a luz solar se apresentava aos nossos olhos como mais um lindo adorno para a paisagem exuberante da Colônia. Na sua grandiosa entrada, cobrindo uma área considerável, uma fabulosa cobertura metálica que lembrava as mais lindas esculturas do século XXI. Víamos inúmeras pessoas trajando as mais variadas roupas, parecia
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um verdadeiro túnel do tempo, mulheres e homens com estilos do século XV até os mais ainda inimagináveis trajes futurísticos. No salão central superior estava reunido o Conselho de Aruanda, discutiam e planejavam todas as estratégias para aplacar a crise que se apresentava. Investigavam as diversas informações reunidas pelos guardiões e procuravam entender quais as intenções dos ataques da legião. Adentramos no salão, um pouco tenso André olhava surpreso cada detalhe daquela base. – Algo aqui me parece familiar. Disse de forma sutil. Eu também estava muito intrigado com tudo que acontecia, afinal muito já tinha ouvido falar da base do Conselho, mas não imaginava que tão cedo estaria participando de uma das suas reuniões. O Conselho de Aruanda é um grupo irmãos espíritos superiores altamente conhecedores de poderes incríveis, suas atividades se referem a manter o equilíbrio das leis divinas. Quando este agrupamento é reunido, significa que fatos muito preocupantes estão a ocorrer nos mundos. “Deve ser por causa do seqüestro de espíritos na terra”. Pensei rapidamente. - Acredite muito mais coisas estão acontecendo. Falou Tobias olhando diretamente para mim, com um sorriso maroto. Ler pensamentos, esse é mais um dos poderes dos conselheiros.
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Sentamos em volta de uma enorme mesa redonda, parecíamos na Távora do Rei Arthur. Brincadeiras à parte o clima no salão era de muita seriedade. Levantando-se de sua cadeira Tobias deu inicio a reunião. - A paz a todos os nossos irmãos.Sabemos que muitas coisas estão ocorrendo entre ambos os mundos,
informações atuais
demonstram que a Legião planeja ataques perigosos as nossas bases de socorro. A menos de algumas horas o Posto de Socorro de Santa Bárbara foi atacado com armas que nunca tínhamos conhecimento de suas existência, o Guardião Domenico que comandou a falange da espada na defesa do posto veio até aqui nos por a par de maiores detalhes. - Luz e paz irmãos, o Posto de Santa Bárbara não oferecia nenhum atrativo para a invasão da Legião, mas parece que um dos irmãos resgatados que estava sendo preparado por nossa equipe médica era o alvo principal, no entanto o irmão deve ser detentor de algo que muito os interessa, pois o ataque foi feito presencialmente pelos magos negros. Após este comunicado do comandante Domenico houve um silencio ensurdecedor na sala. - O que esta acontecendo? Porque os Magos estariam se expondo dessa forma e em grupo? Interpelou Sara perplexa.
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Os Magos Negros eram conhecidos principalmente por seu total isolamento e dificilmente eles mesmos atacam seus alvos, costumam usar outros espíritos como verdadeiros capangas. - O irmão a qual interessava aos Magos já foi interrogado? Perguntou Plínio. - Estamos nesse momento tentando destituir o campo sombrio que o envolve, ele antes de ser resgatado numa investida feita pelos guardiões das sombras em um acampamento da Legião, era um dos guardiões dos laboratórios, e sua mente estava totalmente sob o julgo dos Magos. André olhava ansioso por respostas àquela conversa para ele fantasiosa demais, quando se levantou de forma tempestuosa: - Com licença eu gostaria de entender onde eu entro nessa história? Perguntou inesperadamente mostrando sua total impaciência. Domenico olhou diretamente para André de forma severa, com seu rosto sisudo, queixo angular e olhos grandes penetrantes com ar de quem foi perigosamente interrompido, se colocou pronto para dar uma disciplinada resposta ao meu amigo, quando repentinamente sua expressão mudou, a face gélida deu lugar a uma expressiva surpresa.
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- Estou sentindo a presença de... Falava perplexo quando foi novamente interrompido, dessa vez por Maria: - Sim Domenico, mas nosso irmão ainda precisa de tempo para grandes revelações. Paciência e calma eu te peço André logo vai entender com clareza sua participação nestes acontecimentos, por hora só peço tempo para o tempo. Era de uma prazerosa admiração ver a doçura que exalava de Maria. André como quase que anestesiado sentou-se novamente e ficou atento à conversa. Após o curto comentário do comandante percebi que revelações surpreendentes ainda estariam por vir. *** Após alguns minutos, recebemos a informação de que o guardião resgatado estava pronto para falar, Tobias então pediu que trouxessem o irmão para a sala. O homem parecia está muito debilitado, andando com o apoio de outros guardiões que o trazia para a reunião. Sentou-se em uma cadeira próximo da parede, Maria imediatamente pos se à frente do irmão e iniciou passes de energia. Após a intervenção de Maria, Tobias começou o interrogatório.
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- Sabemos de sua participação na Legião, você era um de seus guardiões que protegia laboratórios utilizados para experiências. Que tipos de experiências praticavam neste acampamento? - Não tenho conhecimento das atividades do laboratório, apenas tinha a incumbência de guardá-lo. Disse o homem aparentando fraqueza, mas se colocando solicito a cooperar. - Você sabe alguma coisa sobre os seqüestros de almas na terra? Continuou Tobias. - Seqüestro? Perguntou o homem se mostrando surpreso. - Então já começaram os processos. Disse o homem espantando a todos. - Que processo? Do que esta falando? Perguntou Domenico demonstrando impaciência. - Não sei muito bem, apenas que nos fora comunicado que em breve os Senhores da Escuridão iriam dar inicio a um processo de dominação na terra. Respondeu o irmão totalmente atordoado. - Os Magos tentaram chegar até você no posto de Santa Bárbara, você sabe o que eles queriam? Perguntou Maria. - Não sei, acho que talvez não gostariam que eu lhes informasse algumas coisas, pois antes de guardar aquele posto de comando, fiz parte da guarda de Elloc, e pude acompanhar algumas de suas conversas com os Senhores.
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- Quem é Elloc? Perguntou André. - Um Mago Negro. Respondeu Sara. - Então nos conte o que sabe meu irmão, esta é oportunidade de você se ajudar e nos ajudar. Disse Maria tentando confortá-lo. - Lembro de que em uma de suas conversas falaram algo a respeito de um acordo que tinha sido quebrado. Naquele instante os conselheiros se olharam espantados. - Não sei bem do que se trata, apenas que isso faria parte de um plano para uma dominação dos mundos, os cientistas descobriram algo que os deixaram muito contentes. Elloc organizou uma grande reunião entre os Senhores da Escuridão que o confiaram a direção deste plano, mas infelizmente não tenho maiores informações, pois durante nossa guarda, percebi que Elloc estava disposto a tudo para por seus planos em funcionamento, e não pensava duas vezes quando precisava sacrificar um de nós em suas missões nefastas, com medo das atrocidades com que ele nos comandava, fugi de um dos acampamentos aproveitando uma invasão dos guardiões do cordeiro. Pela benevolência divina fui resgatado e isso provavelmente os fez me considerarem um traidor.
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- Onde esta localizada a base central da Legião. Perguntou Jamal. - Não sei, lembro-me de ter ouvido apenas de que a luz vai esconder a escuridão. Após ouvir tais informações os conselheiros nos pediram para sairmos da sala, depois de algumas horas nos avisaram para descansarmos, pois em breve iremos partir em caravana para as áreas inferiores. André foi colocado novamente deitado nas câmaras de energia, onde recebeu passes magnéticos que tinham o propósito de acelerar o clareamento de suas memórias espirituais. Caminhei por algumas horas no vale fazendo algumas anotações para meus relatos, mas a cada momento mais e mais dúvidas se faziam presentes na minha mente, mas aquela frase me chamou atenção "a luz vai esconder a escuridão", ainda não tinha nenhum entendimento do que acontecia, sentia como se tivesse um véu muito grande na história, véu este que parece que irá ruir a qualquer momento. Um misto de medo e excitação tomavam conta de mim, precisava pensar em algo bom, minha mente não podia se desequilibrar. Parei por alguns instantes e foquei meus olhos no lindo pôr do sol que se mostrava sutilmente, sereno como se nada perturbasse sua harmonia, respirei fundo e lembrei-me de Jesus e de sua infinita bondade, a oportunidade que todos nós recebemos
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de escrever nossa história, da graça divina que permite irmãos como este Victor ser resgatado da escuridão. Lembrar de Deus acalenta a minha alma, um perfume de flor se aproximava de meu recanto e uma energia suave se estabeleceu a minha volta. O bem continuava do meu lado. *** Cápitulo 5 “Durante muito tempo, no inicio do desenvolvimento da civilização da terra, vários sábios criaram escolas especiais para distribuir o conhecimento da magia. Naquela época o mundo ainda não continha uma carga tão pesada de pensamentos ruins, a atmosfera mental do planeta não era tão densa o que possibilitava a estes homens o uso fácil da magia, conseguiam poderes incríveis na terra, mas após milhares de anos, a humanidade cresceu e se desenvolveu, junto aos avanços da tecnologia, medicina e outras áreas a atmosfera mental do planeta tornou-se mais pesada, devido a pensamentos de ódio, ira, mentiras e outros males. O uso da magia tornou-se mais difícil na terra, em nosso mundo, na esfera espiritual ainda era possível sua utilização, porém mais e
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mais grupos de espíritos sucumbiam ao lado sombrios de suas escolhas, criando mundos de trevas e sofrimento em nosso plano assim como na terra. Em nossa esfera etérea, a força que predomina é a energia mental, o desequilíbrio das emoções nos ajuda a criar mundos, sensações e “prisões” tão reais e sofríveis, mas completamente ilusórios. Passam a se esconder nas sombras e muitos se tornam escravos de suas “prisões” mentais, “prisões” estas fortalecidas pelos Magos que os mantém nas sombras para sugar suas energias vitais, energias estas essencial para que possam crir suas nações das trevas e sustentem atividades sombrias. Naquelas escolas do inicio das eras, alguns aprendizes se desvirtuaram da ética e moralidade do uso da Magia, por motivos diversos tornaram-se reféns de prazeres fáceis, a estes foram chamados de Magos Negros, espíritos especializados em manipulação de fluidos da natureza e exímios conhecedores das leis que os regulam. Porém os Magos Negros passaram a ganhar almas através de suas trocas de favores na terra, disseminando assim a magia negra. Os Magos Brancos ainda usam a ética e moralidade respeitando sempre as leis divinas que regem a vida. Receberam iniciação espiritual nas diversas escolas iniciáticas como na antiga Atlântida, Templos Maias e até no
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Antigo Egito, desenvolveram sua disciplina mental e seus conhecimentos, sob tutela de seus mestres, tudo tendo em vista o despertar de uma civilização voltada para o bem, para o uso dos elementos da vida e da magia procurando o aprimoramento da humanidade. Ao receber a titularidade de Mago, os aprendizes recebiam a autorização a tutelar outros iniciados, procurando disseminar o conhecimento da magia branca. Infelizmente alguns sucumbiram ao uso irresponsável de seus poderes, perceberam os seus domínios mentais sobre os irmãos inferiores e se desvirtuaram dos propósitos éticos e morais do uso da magia, passaram a restringir o acesso ao conhecimento e a influenciar os irmãos ao uso incorreto dos poderes, poluindo a atmosfera psíquica do planeta dificultando os avanços da magia branca. A partir daquele momento, passamos a criar em nosso plano, verdadeiros exércitos militares para lutar numa batalha entre o bem e o mal, em pró de nossos irmãos que estão na jornada evolutiva de suas existências, em paralelo as sombras procuraram desenvolver seus exércitos e acompanhar a evolução tecnológica e mental, com intuito de sabotar a evolução do planeta.” Maria explicava rapidamente a todos, a respeito dos Magos Negros, utilizando-se de uma imensa tela plasmada acima das
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árvores do vale, que exibia cenas geradas mentalmente pelos conselheiros ilustrando de forma simples e objetiva todas a explanação de nossa irmã. André se mostrava atento a cada detalhe e parecia entender de forma incrível tudo que se falava na apresentação. – Parece que já sabia de tudo isso. Falou-me André. - Talvez André, porque você sabe mais do que pensa. Falou Sara bagunçando de forma carinhosa os seus cabelos. Após nosso descanso, Tobias veio nos comunicar que precisávamos dar inicio a nossa caminhada, um grupo formado a principio por André, eu, Jamal, Maria e o próprio Tobias, junto a alguns guardiões iríamos para as áreas inferiores de nosso plano, Sara e Plínio seguiriam junto a uma imensa falange auxiliar no equilíbrio da terra que naquele momento entrava no caos. Nos abraçamos em tom de temporária despedida, desejando para cada um sorte e paz. Tobias nos explicou que iríamos nos encontrar com outros irmãos no caminho que se juntarão a nossa pequena caravana. Fechamos nossos olhos e em alguns segundos estávamos em frente a um grande muralha parecida com aquelas utilizadas no século XIII. Jamal tinha informações de que aquele local na verdade escondia um acampamento dos Magos Negros e que dados importantes poderiam esta presente naquela construção.
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Quando entramos, percebemos que o forte estava abandonado: - partiram minutos antes. Disse Jamal. O que encontramos foram espíritos em grande sofrimento estavam com parte de seus corpos enterrados numa espécie de lama pegajosa, ouvíamos seus gritos e lamurias, se mantinham aprisionados na idéia de que suas carnes queimavam em um imenso lago de fogo. A realidade daquela “prisão mental” de que falava Maria naquela mini palestra era tão presente, que nos assustamos com tamanha dor. A atmosfera do forte pesava em nossas mentes. Preocupado com nosso desequilíbrio, Tobias imediatamente fechou seus olhos e riscou com seus dedos alguns símbolos estranhos no céu, da imagem criada, seres até então desconhecidos para mim surgiram em imensa quantidade, pareciam mini cometas que se lançava de forma acelerada em encontro a atmosfera de baixa vibração daquela região. Pareciam varrer uma grande nuvem escura, queimando a névoa instantaneamente. Após aquela limpeza, os gritos cessaram, os irmãos caiam em sonolência. Um raio de luz cortou aquele céu acinzentado, era uma imagem fantástica. Maria pediu para que ficássemos com os pensamentos voltados para o bem. No meio daquele feixe de luz, desciam mulheres belíssimas, que trajavam uma espécie de
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armaduras romanas. Cada uma daquelas amazonas segurava a mão dos irmãos aprisionados na lama. Aquele contato parecia romper suas celas mentais. Maria se aproximou de mim e André e percebendo nossa curiosidade nos explicou: - Aquelas são as amazonas astrais, os irmãos enterrados na lama, são pessoas que morreram acreditando não terem tido suas almas salvas em vida, e devido aos seus pecados esperavam encontrar o lago de fogo em que suas religiões pregavam. Em suas consciências já se consideravam perdidos e sem esperança, se apegaram a suas religiosidades exacerbadas, os Magos Negros aproveitaram suas criações mentais e deram mais realidade a seus sofrimentos, dessa forma se mantinham por suas involuntárias vontades presos a este forte e através daquela lama pegajosa, retiravam assim as energias vitais de cada irmão. - O que acontecerá com eles? Perguntei aflito ao sofrimento daquelas almas. - Serão levados pelas amazonas para um posto de socorro onde terão suas mentes clareadas por passes energéticos e serão esclarecidos da realidade. Logo perceberão que estão livres para recomeçarem as suas jornadas evolutivas. Mas não é um processo fácil, requer tempo e amor de nossas equipes médicas. Mas tudo será resolvido. Explicou-me pacientemente a nobre irmã.
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- O que era aqueles flamejantes seres que varreram a atmosfera? Perguntei novamente deixando minha curiosidade aflorar. Mas antes de Maria responder André se antecipou e disse: São as salamandras, seres que nos auxiliam na limpeza de energias negativas de certos ambientes. Boquiaberto com o conhecimento demonstrado por André, perguntei: - Como sabe disso? Ele de forma confusa me respondeu que não tinha a menor idéia do que ocorreu. Maria sorrindo disse: - é irmão André, vejo que suas lembranças já estão começando a voltar. Ele sorriu. *** Maravilhados com os acontecimentos, seguimos o grupo que se direcionavam para uma construção aparentemente muito antiga, era um prédio com uma arquitetura bastante rústica, no alto adornando a frente da fachada um enorme relógio com misteriosos símbolos no lugar dos números se mantinha paralisado. O local expressava um total abandono. O lodo gosmento que cobria todo o pavilhão subia a poucos metros pelas paredes do lugar. Caminhávamos lentamente pelas sombras espantosas das colunas da construção. Ao adentrarmos no edifício, vimos um hall com enormes lustres de cristais cobertos por relvas
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misteriosas, que ofereciam ao cenário uma verdadeira atmosfera de terror. Tobias parou no centro do salão, fechou seus olhos e com um leve balançar de sua cabeça iniciou o que aparentemente parecia uma varredura mental do local. De olhos fechados viravase para cada canto do pavilhão, ao apontar para uma porta metálica de altura considerável, abriu seus olhos, com uma expressão de quem encontrou algo, logo fez um sinal para Jamal que ordenou a um grupo de guardiões que abrissem a porta. Os guardiões utilizando-se de grande força abriram a porta com um pouco de dificuldade, com as mãos colocadas atrás de seu corpo Tobias caminhou lentamente para dentro do cômodo aberto. Todos então seguiram no mesmo ritmo o velho sábio, ao entrar tamanha foi a nossa surpresa ao ver estruturas e equipamentos de alta tecnologia e modernidade. Um imenso corredor se estendia ao fundo da sala, olhávamos atento cada detalhe daquele ambiente que mais parecia ser um imenso laboratório. No corredor descobrimos diversos compartimentos parecidos com prisões com suas portas abertas. Dentro podiam se ver grandes tonéis transparentes comportando um líquido azul brilhante. Um cenários impressionantes, tenebrosos mais de rara beleza. - Não tem mais nada Tobias. Disse Jamal.
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- Pelo jeito abandonaram este laboratório com bastante pressa. Respondeu o velho conselheiro completando: - Veja que nem ao menos destruíram seus arquivos. Os guardiões se puseram em guarda vigiando todos os cantos daquela construção. – Jamal, faça uma varredura completa nos arquivos e veja se encontra alguma coisa. Ordenou Tobias. Maria que tinha ficado no terreno ajudando nos resgate dos irmãos aprisionados na lama astral entrou na sala perguntando se havíamos encontrado alguma informação útil. Tobias envolto num silencio, olhando detalhadamente os tonéis, disse: - Irmã, tenho uma intuição a respeito das experiências que estavam sendo feitas neste laboratório. Disse esfregando seu queixo com desconfiança. - Acredito que tentaram criar clones de duplo etéreo. Maria não esboçou nenhuma reação, olhando diretamente para Tobias disse: - Será que conseguiram? Tobias com um olhar frio respondeu: - Acredito fortemente que se não conseguiram chegaram bem perto.
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Cápitulo 6 Saímos do prédio com uma enorme interrogação na mente, afinal do que se tratava o diálogo de Tobias e Maria? Jamal nos explicou que o duplo etérico é, um corpo fluídico, que se apresenta como uma duplicata energética do indivíduo, interpenetrando o seu corpo físico, ao mesmo tempo em que parece dele emergir. O duplo etérico emite, continuamente, uma emanação energética que se apresenta em forma de raias ou estrias que partem de toda a sua superfície. Ao conjunto dessas raias é que, geralmente, se denomina aura interna. Ele recebe os impulsos do perispírito e os transfere para a carne, agindo também em sentido inverso. A função mais importante do duplo etérico é transmitir para a tela do cérebro do homem todas as vibrações das emoções e impulsos que o perispírito recebe do Espírito. Conseguindo criar uma duplicata artificial do duplo eterico a Legião pode alcançar inúmeras possibilidades de ações assustadoras a humanidade, como, por exemplo, manipular de forma direta as funções do encarnado, tornando-o mero fantoche das sombras. André com um olhar estranho parecia identificar tudo ao seu redor, com um ar investigativo passou a caminhar a passos lentos
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pelo enorme pátio que se estendia atrás do prédio. Apalpando as paredes dizia consigo mesmo que algo existia naquele lugar, fixou a palma de suas mãos em uma pintura de uma estrela e com a habilidade de quem um dia esteve por ali empurrou uma espécie de botão escondido, o chão imediatamente tremeu, Jamal e Tobias correram imediatamente para ver o que estava acontecendo, quando se depararam com uma espécie de escadaria que surgia no centro do pátio. - Como não detectamos esta passagem? Perguntou Jamal completamente desconsertado. - Não sei meu amigo, mas temo que estamos em um lugar muito mais importante para Legião do que imaginávamos. Respondeu Tobias. Olhei espantado para André e como se lesse meus pensamentos me disse que não tinha idéia do que fizera. - Lembranças meu irmão, elas estão voltando. Falou Maria repousando suas mãos no ombro de André. Descemos as escadas atentos a qualquer surpresa, acima os guardiões se colocaram em atenção, Tobias nos pedia um pouco de pressa, pois toda aquela construção poderia desabar a qualquer instante, afinal, não estavam mais sendo mantidas pelas forças mentais dos Magos. Ao terminarmos a descida, nos encontramos
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em um local que lembrava túneis de mineração, Jamal ascendeu uma tocha, que iluminava o ambiente com uma chama azul, o que acentuava mais ainda as sombras da caverna. Um frio tenebroso tornava o lugar ainda mais assustador, dava pra sentir uma energia pesada, Tobias nos pediu para que mantivéssemos nossos pensamentos elevados, imediatamente pensei em uma oração que aprendi em uma das minhas existências. Logo passei a ouvir sussurros, sibilantes, parecendo o silvo da língua de uma serpente, me virei para André que demonstrava um leve desconforto em seus ouvidos, entendi logo que ele também ouvia os sussurros. Maria se antecipou ao grupo e colocando suas mãos como se estivessem prestes a rezar, entoou um canto, belo, porém, em um idioma desconhecido para nós. Cada vez mais que Maria aumentava seu tom, mais forte ficava o sussurro sombrio, numa rivalidade de tom. - O que é isso? Perguntou André, tentando tapar seus ouvidos em vão. - São forças das sombras tentando confundir nossos pensamentos, não se deixem levar pelo medo, lembre-se que somos representantes do cordeiro, elevem seus pensamentos. Ordenou de forma severa Tobias. Jamal com sua face endurecida pelo pressentimento ruim liderava nosso grupo na caminhada, mostrando-se inquieto com os
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permanentes sussurros deu um golpe forte com sua espada no solo. Imediatamente um silêncio sepulcral pairou no local. Com um sorriso maroto, Tobias balançou a cabeça com sinal de agradecimento a Jamal. Após alguns metros de caminhada, encontramos uma porta estilo medieval fechada a nossa frente, inscrições estava entalhada por toda rocha que se estendia a nossa volta formando a parede do túnel, no alto da porta uma em especial me chamou a atenção, pela sua enigmática transcrição: “Senti a primeira fagulha da verdade queimar dentro de meus desejos ao possuir a semente do conhecimento. Quando o véu que cobria meus olhos tocou o solo e me libertou, senti frio e medo. Por poucos instantes vislumbrei as maravilhas daquele poder, até o momento em que sua traição me tirou a vida eterna”. Olhando atentamente, percebi que a maioria das inscrições pareciam relatar textos bíblicos, naquele instante Tobias entendeu bem onde estávamos. – Irmãos! Estão prestes a adentrar numa área muito sombria, estamos na porta de um dos templos da Legião. Tenham cuidado!
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Após o aviso, Tobias acenou para Jamal que ordenou a dois guardiões abrirem a porta. Só não contávamos com o que veríamos lá dentro. *** Na soleira da porta já dava para ver que um grande salão se abria a nossa frente, parecia ter mais de 30 metros de altura, escavada na rocha escadarias em espirais contornava a imensa clareira. Abaixo de nós na superfície plana do salão, inúmeros espíritos maltrapilhos voltavam seus olhos para uma espécie de pulpito erguido por uma grande pedra, onde via-se três figuras tenebrosas trajando volumosas vestimentas, parecendo-se com túnicas negras, com capuz vinho seguido de uma imponente capa da mesma cor. - O que esta acontecendo aqui? Perguntou André atônito. - Aqueles em destaque são os Magos Negros, abaixo os quiumbas ou vampiros como são chamados os capangas dos Magos, sugam energias vitais de outros seres e servem aos seus senhores nas tarefas mais nefastas. Respondeu Tobias sem nem expressar um piscar de olhos.
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- Estão em uma reunião sacerdotal, servem aos Magos como se fossem Deuses. Completou Maria. - Será que não nos verão aqui? Perguntei, deixando escapar um pouco de tensão em minha voz. - Fique tranqüilo! Nossa vibração energética é muito mais elevada, esses seres vivem dos pensamentos e sentimentos mais infelizes, suas vibrações são baixas, não poderão nos ver. Respondeu o velho sábio sem saber que algo estava errado. O Mago que parecia liderar o culto olhou para nossa direção, erguendo seus braços pediu para todos ficarem em silencio. Como um general que comanda sua tropa, sua ordem foi cumprida imediatamente. – Sinto a presença de uma energia estranha. Falou olhando fixamente para nossa direção. Logo um gemido oco ressoou das profundezas quebrando o silencio. Uma ave gigantesca, lembrando um ser pré-histórico surgiu a nossa frente pairando no ar como um beija-flor. Do alto de sua cabeça um Mago Negro surgiu portando um cajado florescente o apontando para nosso grupo. – Soldados do Cordeiro, que ousadia interromper nossa cerimônia, irão se arrepender por vosso desrespeito. Falou o ser com uma voz turva e demoníaca.
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Ao balançar do cajado do Mago, os quiumbas alçaram vôo e em circulo passaram a sobrevoar o teto do recinto, os Magos se enfileiraram no centro do salão. Tobias e Maria se puseram à frente de nosso grupo, Jamal imediatamente se preparou junto com os guardiões para o ataque. Parecia as batalhas coreografadas do século XVIII, onde os combatentes se enfileiravam frente a frente esperando o primeiro ataque. André arregalou seus olhos parecendo surpreso com a cena, os Magos levantaram suas mãos que ascendiam com uma chama vermelha. Nesse momento o velho Tobias, fez sinais no ar com sua bengala, um redemoinho envolveu o seu corpo junto ao de Maria, raios luminosos davam aquela estranha energia um belo bailar de luzes. No lugar daquele velho e simplório sábio, vi se formar uma figura de alta estatura, com olhos cintilantes e trajes egípcios. Maria também transformava sua imagem, no meio daquele mini trovão, uma belíssima mulher jovem trajando um vestido azul, carregando em sua cabeça uma espécie de adorno prateado, elevou-se sobre o ar. Os Magos Negros, não temendo as figuras lançaram de suas mãos raios em direção ao grupo, imediatamente, Tobias criou um campo de força retendo os raios.
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Os quiumbas partiram em nossa direção, eu e André corremos para o canto da parede, procuramos nos defender em uma fenda esculpida na rocha. - Jamal! Proteja André, ele não pode ser atingido. Ordenou Tobias, remetendo ao fato de que nosso irmão ainda estava encarnado e seu corpo físico poderia sofrer danos se atacado. No mesmo instante os guardiões formaram uma barreira e impondo um escudo de material translúcido como cristais, passaram a nos proteger dos ataques dos quiumbas. Olhei espantado para o solo e percebi que o mesmo estremecia como em um terremoto, o tremor se alarmava ainda mais, pedras caiam do teto, a caverna parecia que ia desabar em instantes. Maria prontamente lançou raios luminosos que davam a impressão de segurar a estrutura. - É melhor desistirem, não há mais tempo. Gritou um dos Magos completando com uma cavernosa risada. - Não vêem que nada poderá ser feito, nossos senhores já estão à frente de vocês. O pacto foi quebrado. Continuou o Mago. Tobias lançando raios contra os magos, formando uma verdadeira guerra de forças retrucou - Vocês não podiam quebrar o pacto. - Mas vocês o quebraram primeiro. Quando o cordeiro foi a terra, vocês pensam que sua intromissão passaria em branco! Exclamou
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o Mago. - Não interferimos, apenas mostramos o caminho. Vocês é que precisam entender que a derrota é iminente. Desistam das sombras venham adentrar a luz. Disse Tobias acentuando sua energia contra os seres das sombras. - Nunca!!! Gritaram os Magos, quando um deles deferiu nos guardiões um raio poderoso, os lançou atordoados a uma certa distância. Num ato heróico Jamal arremessou uma lança flamejante que cravou no peito do Mago, que em instantes se evaporou deixando um rastro de pó negro no ar. Um dos quiumbas partiu para atacar André, que acuado fechou seus olhos temendo o pior. Próximo do ser desfigurado, que rosnava como um réptil, senti que deveria fazer algo para protegêlo, sem pensar nas conseqüências usei a única arma que tinha a minha disposição, ergui minhas mãos e me lancei no pescoço daquele asno, rolamos por escadaria abaixo, o quiumba parecia espantado com minha atitude, minhas mãos não o largara na queda, logo senti em minha nuca um choque que enrijeceu meu corpo espiritual. Não percebi que tinha sido alvejado por uma arma de raios dos quiumbas. Naquele instante o som cessou, no meu coração surgiu uma angustia sem explicação, tentei organizar meus
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pensamentos, mas minha mente não respondia, olhei em minha volta e só tive consciência de um medo nefasto que subia na minha espinha como um calafrio. O tempo parou e um silêncio pavoroso se estabeleceu, me vi caindo em um poço sem fim, lembranças de fatos tristes de minhas existências passavam como relâmpagos em meus olhos. - Cassianooooo. Uma voz quebrava o silencio, era o grito de André que como um despertador me acordou deste transe assustador. Olhei ainda tonto e o vi me chamando com os olhos esbugalhados de pânico, foi quando um estrondo pairou no ar, olhamos para cima e vimos o teto sendo destruído, raios luminosos do sol rasgavam o lugar, da grande abertura que surgira da explosão desciam cavalheiros armados em veículos futurísticos. Mas uma jovem amazonas me chamou atenção, era morena de cabelos cacheados, olhos negros puxados, segurava em sua mão uma lança adornada por algas, parecia que lutava em câmera lenta tamanho era seu encanto. Aterrisou ao nosso lado nos acenando que estava tudo bem. Os quiumbas foram rapidamente imobilizados pala falange que adentrara no recinto, um verdadeiro reforço que fizeram os Magos sumirem deixando apenas uma nuvem de pó negro. Tobias e Maria voltaram a sua antiga forma, Jamal auxiliava no socorro aos
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guardiões atacados. André sentou-se no chão e cansado me deu um sorriso tímido. - Precisamos nos retirar imediatamente este lugar irá desabar. Falou Maria. Uma batalha que eu nunca acreditara que pudesse existir neste plano, armas, raio, tudo aquilo parecia surreal. Mas o que martelava a minha cabeça era a visão daquela jovem, pois inerte a sua presença meus olhos não paravam de segui-la. “Quem era ela?” Uma pergunta que eu faço questão de responder logo. *** Cápitulo 7 O destino quisera assim, tanto tempo esvaindo-se em pesquisas, estudos e teste para nada, ritmado por vozes ocultas às noites não eram mais calmas e intensas, antes vivia naquela bela e pacata sala gelada dos laboratórios alemães, hoje sentado próximo a janela assistindo de camarote tantas decisões erradas. O tempo não parou ao calar da vida, mas, no entanto ele percebeu o quanto desperdiçou seus talentos. A sombra era apenas uma desculpa para continuar seus experimentos, deixou claro para si mesmo que podia controlar sua mente, tratou logo de preparar um dispositivo que permitiria manter sua consciência intacta, longe das hipnóticas forças da legião. Sabia após passar para esta dimensão que mais e mais
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possibilidades se ofertava para saciar sua curiosidade cientifica, esperava trazer ao mundo grandes descobertas, imaginava que sua aliança com a legião era um preço barato a se pagar pelo avanço da humanidade, mas nos últimos períodos se viu apenas criando tecnologias para agradar aos propósitos, mas obscuros. Viu sua equipe que outrora fazia parte de suas experiências na terra, tão comprometidos com seus ideais, que concordaram em fazer parte da aliança, tornarem-se seduzidos pelos poderes inimagináveis proposto pelas sombras, mas ele não, ainda lampejava de forma minúscula um ar de racionalidade em sua mente, sabia que não dava mais para compactuar com as ações do lado negro da escolha, percebeu que fora longe demais nas suas descobertas. Parado sobre a enorme cadeira cintilante no salão principal do galpão cientifico, pasmado com o que acabara de descobrir, ficou inerte, petrificado, assustado. Imaginou o quanto acabou de dever a humanidade, que seu talento, seu ideal de ajudar o mundo o levou a deixar um legado tenebroso a história da terra. “Mas como desistir”. Pensou ele procurando a solução desta equação arrepiante. Seu nome era Hugger Geiger, cientista renomado e responsável pelo maior salão cientifico das sombras, após inúmeras experiências viu-se abismado pelas ultimas descobertas feitas pela legião. Após horas inertes aos seus pensamentos, percebeu que era preciso fazer algo contra aquele nefasto
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plano das sombras, precisava apenas descobrir uma forma de impedi-los. Mas entendia quão difícil era burlar o cerco de seus ardilosos mestres. Levantou-se da grande poltrona, e partiu em direção aos aparelhos tecnológicos que circundavam o salão. Olhou novamente as informações e temendo ser pego queimou seus rabiscos, respirando fundo lembrou de uma única forma de ajudar a humanidade, parecia um contraste imenso, afinal o planeta estava correndo sérios riscos, graças as suas descobertas. Olhou atentamente sua imagem refletida na tela de 42 polegadas de seu computador, por alguns segundos sentiu vergonha de si mesmo, no fundo de seus olhos disse que era preciso, um sacrifício seria feito. Abaixou sua cabeça, fechou seus olhos e ligou sua traquitana, correu imediatamente para dentro de uma cúpula translúcida, e em milésimo de segundos se desintegrou imediatamente.
***
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Cápitulo 8 “Então disse o SENHOR Deus: Eis que o homem é como um de nós, sabendo o bem e o mal; ora, para que não estenda a sua mão, e tome também da árvore da vida, e coma e viva eternamente, O SENHOR Deus, pois, o lançou fora do jardim do Éden, para lavrar a terra de que fora tomado." (Gênesis:3:22-23 ) Há milênios a.c Milhares, este era o imenso contingente de espíritos para fazerem a travessia, enormes arcas transportavam todos com suas imensas diversidades de pensamentos e desejos. Naquela viagem, seu pensamento não se separava nenhum instante dela, sua imagem dançando na pedra trazia um misto de dor e saudade. No pavilhão, podia ver todos os seus amigos revoltos com a imposição, "fomos expulsos" gritavam sem parar. Aportando no novo mundo, era essa a expressão usada pelos guardiões intergalácticos. Precisavam se reunir imediatamente com os guias, cada um tinha tarefas essenciais a cumprir. Na antiga morada gozavam de plena liberdade, mas agora era necessário entender suas novas oportunidades, distante de tudo
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que tinham, estavam tensos com este novo planeta, todos pareciam arredios, preocupados, os guardiões os recebiam com grandes sorrisos, diziam que a nova oportunidade não era uma punição, mas a forma de serem verdadeiramente úteis e responsáveis. O planeta Terra, muito se assemelhava com sua antiga morada, Capela parecia se refletir nesta nova dimensão, paisagens exuberantes e uma diversidade de flora e fauna lindíssimas. “Um verdadeiro e primitivo espelho de nossa pátria” Pensava. Sabiam
que
o
principal
foco
era
ajudar
no
desenvolvimento dessa humanidade terrena, afinal, os poderes tão comuns em Capela, aqui se destacava nobremente. “Engraçado, éramos atrasados para nosso orbe, mas evoluídos para este mundo” Disse a si mesmo. Um poder corria em seus corpos, mas a saudade dela o entristecia a cada momento. Olhava para o céu, via as estrelas, "onde será que você esta agora?" Pensou chorosamente.
***
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Cápitulo 9 Ainda espantado procurávamos entender tudo que tinha acontecido a nossa volta, Tobias e Maria cuidavam de cada um dos guardiões atingidos pelo ataque. Uma sensação estranha ainda tomava conta de meus pensamentos, após aquele raio invadir minha alma com imagens e sentimentos sombrios, senti minhas energias desequilibradas. Jamal percebendo minha aflição colocouse de pé atrás de mim e empunhando sua espada iniciou um ritual de energização de minha áurea, imediatamente senti minhas forças revitalizadas, minha mente escura deu lugar a uma clara e reconfortante paz. Olhei carinhosamente para Jamal e agradeci sua ajuda, respondida apenas com um leve sorriso do guardião. Lara, esse era o nome daquela deslumbrante guardiã, que se apresentava a Tobias com total reverencia. - Senhor estou a sua inteira disposição, conforme seu chamado. Disse a jovem amazona. Tobias se virou para nós e apresentou a mais nova integrante de nossa caravana. Lara reforçava ainda mais nosso grupo, responsável por tratar habilmente de questões emocionais tinha segundo Jamal importância imensa em nossa missão. Boquiaberto com tamanho encanto, eu não conseguia
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disfarçar minha empolgação com a presença da guardiã, não compreendia ao certo o que estava acontecendo, mas André de forma muito peculiar se aproximou de mim e me disse sorrateiramente em meu ouvido “Que gata". "Tirou as palavras da minha boca" pensei discretamente. Tobias parecia perplexo com os últimos acontecimentos, indagava com Maria e Jamal como os Magos os identificaram. Senti uma energia diferente, me parecia uma vibração mais elevada, longe da baixa energia das sombras. Disse Maria olhando atentamente para Tobias. Depois de passado o susto, fui logo anotar detalhadamente as inscrições gravadas nas rochas, André ficava ao meu lado atento a tudo. Lara vasculhava junto com os guardiões todo pavilhão inferior em busca de informações úteis para nossas investigações. Interrogações pairavam no ar. Precisávamos responder algumas perguntas, Tobias nos reuniu convocando a todos para retomarmos a caminhada. - Precisamos renovar nossas forças, logo chegaremos a uma colônia amiga, lá poderemos nos preparar para nossa jornada. Anunciou Tobias oferecendo seu carinhoso sorriso. ***
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Após algumas caminhadas chegamos a um maravilhoso lugar denominado Colônia Areia Branca, um portal belíssimo adornado por multicoloridas flores campestres nos recebia na entrada, logo avistamos um campo vasto de vegetação verdejantes que se misturava com uma facha de areia branca próximo a um imenso mar de águas cristalinas. Inúmeros
espíritos
trajando
vestes
claras
se
confraternizavam uns com os outros, grupos formavam rodas sentados concentrados em leituras e estudos. Toda atmosfera era cativante e nos envolvia com um sentimento de paz e alegria. Era impossível deixar de sorrir neste lugar, aves e pássaros davam ao ambiente uma familiaridade com as reservas ambientais da terra. Ao chegarmos fomos recebidos com calorosos abraços dos irmãos responsáveis pelo equilíbrio e os serviços da Colônia, Segundo Tobias, esta é uma colônia bem próxima da Terra em plena região inferior, que funciona como instituto de socorro imediato aos que são surpreendidos na Crosta com a morte física, em estado de ignorância ou de culpas dolorosas. Maria nos convidou a conhecer melhor esta colônia e é claro descansar nossa mente e nosso espírito para as longas caminhadas que ainda estão por vir.
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- Realmente depois da batalha que travamos este lugar é formidável, sinto que minhas energias estão renovadas. Disse André maravilhado com a beleza do local. Avistamos ao longo da praia várias crianças brincando na areia, usavam coroas de flores em seus cabelos e demonstravam uma alegria contagiante. - Que horizonte maravilhoso. Falava André observando o mar que nos cercava. - Isso tudo é incrível! Completei abraçando meu amigo. Após algumas caminhadas descobrindo a colônia, escolhemos repousar debaixo de uma confortante macieira que nos oferecia uma sombra maravilhosa. - Ah! Que aconchegante. Espreguiçava André quando foi interrompido por um golpe travesso de uma maçã em sua cabeça. - O que foi isso? Perguntou. Quando olhamos para cima da árvore vimos uma linda menininha com uma maça na mão dizendo: - Não fui eu não, foi a árvore. Com um sorriso maroto e dissimulado ela culpava a árvore por sua travessura. - Oi tio! Lembra de mim? Perguntou ela a André. - eu te conheço? Não me lembro. Respondeu. - Poxa! Tio esqueceu de mim. Nos conhecemos há tanto tempo... Afirmou a menina descendo agilmente do galho da árvore.
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- Olá lindinha meu nome é Cassiano e o seu? Perguntei a doce espertinha. - Meu nome é Maria Luz, mas todo mundo aqui chama eu de mariazinha por causa que sou pequenina. Respondeu dando um empolgante sorriso. - Tio quer uma maçã? Ergueu uma maçã para André que agradeceu imediatamente. Era uma menina muito sagaz, tinha olhos grandes e um lindo sorriso marcava seu rosto com grande encanto, cabelos negros cacheados adornados por uma boina amarela, vestindo um casaquinho vermelho, olhava a todo instante para André, com seu ar de menina travessa passou a nos guiar pela exuberante praia.
*** Sentado em frente ao belo mar praticamente imóvel, André parecia viajando em seus pensamentos, o calor suave do sol dava um brilho dourado em seu rosto refletindo as ondas da água. Mariazinha brincava na beira da praia, procurava algo, remexia na água em busca de uma concha especial, pegava uma a uma e testava seu som junto ao seu ouvido. Após inúmeras tentativas enfim pareceu encontrar o que queria, correu imediatamente para André e pediu que ouvisse o som do mar
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“guardado” pela concha. André pôs a concha em seu ouvido, Mariazinha colocou suas pequeninas mãos em seus olhos, pedindo para que os fechasse, André atendeu prontamente o pedido da menininha sapeca, e após uma respiração mais profunda se concentrou para ouvir o “mar guardado na concha” como repetia Maria Luz. Eu olhava com deslumbre aquela singela e inocente cena, a pouco mais de 3 metros assistia tudo como um disciplinado espectador, Mariazinha olhou para mim com um lindo sorriso mantendo sua boca fechada desejando não atrapalhar a concentração de André, foi nesse instante que algo fabuloso aconteceu. Lindas estrelas se formaram em volta de André, num bailado de cores e formas abrilhantaram aquela tarde, Mariazinha olhava a tudo com um esplendoroso e maroto sorriso, um suave, porém perceptível vento surgiu levantando sutilmente uma pequena nuvem de areia, o mar se aquietou e todas as lindas crianças que brincavam a nossa volta se sentaram nos cercando com incrível silencio. Pensei no que será que André está sentindo. “ Respirei fundo, afinal não queria frustrar a pequena menina, coloquei a concha em meu ouvido e pude logo perceber um doce som do mar, quando tudo mudou. Pude ver uma silhueta de uma bela mulher dançando em frente à
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praia, um coral de cânticos pareciam surgir do mar, meu coração acelerou e um sentimento de amor e saudade transbordaram de meu ser, pude sentir o cheiro de rosas que parecia exalar daquela que era naquele momento para o meu coração o amor da minha vida, meu Deus quanta saudade, quanta familiaridade, quem será esta mulher, onde estará esta beleza? “ André adormeceu profundamente com um sorriso estampado em seu rosto. Mariazinha acariciou seus cabelos e disse: - Tiosinho ta dormindo, que preguiçoso! Piscou pra mim após leve gargalhada. *** Intenso, porém agradável, o sol com seus raios brilhantes nos ofertava grande energia nesta colônia, André seguia em seu sono majestoso, Mariazinha sentou-se ao seu lado e iniciou a construção de um belo castelo de areia. Aproveitei a oportunidade e resolvi relaxar também, passei então a observar cada uma daquelas inocentes e doces crianças, mas algumas dúvidas surgiam em meus pensamentos. Foi quando Maria se aproximou. - Vejo que André esta descansando. Disse a nobre irmã sentandose ao meu lado. - Incrível o que ocorreu. Completei entusiasmado.
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- Mariazinha é muito especial e André parece merecer muito seu cuidado. Continuou a conselhera com sua mansa voz. - O que são essas crianças desta colônia, afinal o espírito quando desencarna aos poucos não recupera suas lembranças de espírito, ou seja, não ficam preso a desejos e atitudes infantis? Perguntei a Maria. Bem Cassiano, na verdade é muito bom tratarmos desse assunto, afinal muito se mistificou esses espíritos ao longo do sincretismo e invencionice dos homens. O espírito quando inicia sua trajetória evolutiva, digo como energia inteligente, ele passa por ciclos parecidos com os irmãos na terra, a principio seu espírito pouco conhecedor das manhas e vícios humanos estabelece em seu ser uma ingenuidade infantil, pois ainda não são conhecedores totalmente do que é certo e errado. Nessa fase onde a ignorância ainda prevalece, alguns irmãos tende a atitudes negativas, porém ingênuas em suas intenções, ao desenvolver sua evolução e digo tanto por conhecimentos como por moral, o espírito ganha a vontade e o exacerbado instinto por novas descobertas; como num estado jovial, é a fase onde se têm as decisões mais preocupantes, pois estão com certo conhecimento que o desperte a querer descobrir
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mais e mais, no entanto, não possuem a experiência necessária para seus julgamentos, pois sua moral ainda esta em formação. Ao longo de várias encarnações o espírito ganha mais conhecimento e evolução moral e opta por ter uma atitude mais séria e madura, devido ao longo saber e de sua capacidade moral bastante elevada procuram expressar em seu perispírito uma imagem mais envelhecida, o que lhe oferece mais respeito e atenção por parte dos espíritos mais jovens. - Então a vida humana de certa forma imita o ciclo de crescimento do espírito. Comentei a Maria. - Correto Cassiano, pois conforme nossa mente absorve conhecimento e moral, nossas atitudes se tornam mais adequadas ao nosso saber, e você sabe que a nossa imagem perispiritual condiz com nosso campo mental, dessa forma nos apresentamos de acordo com nossa condição evolutiva. Entendi, mas e as crianças? Perguntei ansiosamente. No caso desses nossos irmãozinhos algo especial ocorreu, na verdade esses espíritos evoluíram seu conhecimento de forma muito excepcional e acelerada, deu o que chamamos de saltos evolutivos, escolheram caminhos de forma acertada, mas, no entanto por ser espíritos novos, mantiveram suas atitudes de ingenuidade e ainda olham os seus ambientes com olhar inocente, porém travesso como das crianças da terra.
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Sua moral evoluiu de carona com o extenso conhecimento que obtiveram, dessa forma ganharam o direito de continuar sua jornada evolutiva trabalhando como pequenos mentores e guardiões dos irmãos encarnados, pois a expiação da encarnação não se faz, mas necessário. Para ilustrar melhor é como crianças super dotadas da terra, detêm alto conhecimento e destreza para entender e resolver problemas, mas continuam sendo crianças, pensando como crianças e agindo como crianças, vale lembrar de que mesmo infantis muitos nem precisam passar pelos primeiros anos de estudo indo imediatamente para graus mais elevados. Disse Maria pousando suas mãos em meu ombro. - Que barato! Mas eles ainda irão “evoluir” esse estado de espírito, ou seja, deixará algum dia esse comportamento infantil? - Sim, pois ainda estão em evolução, pouco a pouco ganharão mais desenvolvimento em suas mentes, pois são como computadores que armazenam grande quantidade de conhecimento, mas ainda não possuem um processador adequado para utilizar todo potencial. As crianças ou erês como alguns denominam, são como estes computadores, detêm conhecimento e por manter sua ingenuidade e bondade característica de suas poucas idades
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espirituais, não precisam evoluir mais através da gestação encarnatória, mas continuam seus caminhos de crescimento aqui neste plano, praticando o bem e a fraternidade, dessa forma desenvolve mais suas mentes e suas energias para utilizar totalmente seus dons potenciais. São grandes conhecedores dos poderes mentais e dos mistérios universal, mas adoram uma brincadeira, pois suas almas vibram numa energia constante de alegria e diversão. São muitos dóceis e grandes espíritos. Explanou Maria com um lindo sorriso. Senti-me muito enriquecido pelas explicações de Maria, e olhei com mais apreço e admiração para a doce Mariazinha, não imaginava quão especial era essa sapeca irmãzinha.
*** “Olhos se abrem, pisca uma, duas e mais vezes, a visão ainda parece embaçada, mesmo nublado pode-se perceber um painel luminoso piscando cada vez mais de forma acelerada, um súbito ar surgiu forçando o tubo de oxigênio, oferecendo uma sensação desconfortante. Olhos piscam, uma, duas, e mais vezes, esta vivo, vivo”
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Uma correria paira na sala especial de quarentena do hospital militar, uma das vitimas da epidemia do coma mostra sinais milagrosos de recuperação, médicos e enfermeiros correm para ver as informações dos equipamentos, ao som de alarmes e vozes o homem parece demonstrar vitalidade. - Vivo, vivo. Sussurra o jovem militar ainda preso aos emaranhados fios e tubos que até poucos segundos o único meio que a mantinha vivo. - Vivo, Vivo. Repetia de forma empolgante. - Calma amigo, você esta vivo sim. Afirmou um enfermeiro tentando confortar o paciente. O médico de plantão, observou os sinais vitais e constatou a belíssima recuperação do jovem militar. Olhou docilmente para o paciente pedindo que se acalmasse que tudo estava bem e que logo chamariam sua família. Todos muito contentes e alegres deixaram o paciente descansar após dias de coma profundo. Feliz com a possibilidade de cura da doença fatídica que assola o mundo o Médico liga imediatamente para o centro de crise do governo para colocá-los a par das ultimas noticias. Sargento Carlos Antônio Brandão esse era o nome do paciente que despertara milagrosamente naquela noite, mal sabia todos que na verdade seu espírito passou a se chamar Hugger Geiger, cientista responsável pelo maior salão cientifico das sombras. - Vivo, vivo, consegui. Gritou o cientista. ***
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Ainda pouco atordoado, André apertou seus olhos procurando focar sua visão, se sentia totalmente revigorado, o que parecia um breve cochilo na verdade foi uma regeneração de energia, tendo seu profundo sono velado a todo instante pela sapeca menininha pôde então perceber que algumas lembranças o acompanhavam mais claramente. Mariazinha que ainda brincava com seu castelo de areia olhou brevemente para André e o convidou a conhecer seu reino encantado. O irmão sorriu e decidiu entrar na brincadeira da menina, estendeu sua mão em direção a pequena portinha do castelo de areia e disse: - toc toc, posso entrar? Mariazinha colocou suas mão na cintura e com um semblante fechado interpelou André: - Tio você não se acha muito grande para brincar em castelinhos de areia, meu reino não é esse, e sim aquele. André surpreso acompanhou o dedo indicador da menininha que apontava para um lindo palácio de cristal erguido próximo as árvores do campo. - Vêm tiosinho, vêm. Dizia Maria luz puxando pelo braço André. - Vem também tio. Gritou a menina olhando para mim. - Vai Cassiano, você terá bonitas surpresas. Disse-me Maria. Entramos admirados no pequeno palácio adornado por lindas cortinas rosas, parecia uma casinha de boneca um pouco
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maior. Mariazinha seguia a nossa frente mostrando cada detalhe do lindo lugar. – Esse é o meu reino, aqui eu posso ver cada um dos tiosinhos, mas o vovô briga se eu me meter muito na vida deles. Falou Maria luz tampando sua gargalhada com suas pequeninas mãos. O vovô a qual se referia Mariazinha era o velho Tobias, que naquele instante estava reunido com alguns irmãos ao longo da Colônia, os víamos nos espelhos de cristais que se erguiam ao longo da pequena sala do palácio de cristal. – É muito lindo seu palácio Mariazinha. Afirmei à menina sapeca. André parecia um pouco intrigado com tudo aquilo. – O que foi André. Perguntei. - Eu já estive aqui. Disse meu amigo. – Tio isso é para você. Falou Maria Luz entregando uma echarpe branca para André. André respirou fundo para sentir o perfume doce e forte que exalava naquele tecido. Parecia reconhecer aquela peça. – O que é isso André? Perguntei demonstrando minha curiosidade. – É de um grande amor que me espera bem longe. Disse com o olhar cravejado de lágrimas. – Como assim? Insisti sem entender o que acontecia.
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- Não sei bem, apenas que sinto saudades dela, mas não lembro quem é ela e onde está. Afirmou André quando interrompido por Mariazinha. - Tio vem ver o barquinho. Ao chegarmos na saída atrás do pequeno palácio vimos um barquinho que parecia quebrado, abandonado na areia da praia. André ficou inerte àquela embarcação e se aproximou parecendo pouco desorientado. Mariazinha chegou bem pertinho e disse: - Tio faz tanto tempo, mas este barquinho o fez descobrir que o amor que carrega no coração faz o bem vencer o mal, faz ser forte, trás a certeza de que seja qual for as suas duvidas e angustia a luz vai sempre brilhar, mas quando as sombras tocar sua mente ou seu coração, você vai se lembrar da estrelinha que um dia o guiou neste barquinho. Neste instante André sorriu, foi quando percebi que Mariazinha falava de uma das vidas de que meu amigo trilhou. Maria se aproximou de nós e com um leve e doce sorriso nos disse que a nossa hora chegou e que Tobias nos esperava para continuarmos a caminhada. Mariazinha se despediu de forma bem carinhosa, e entregou a André uma correntinha com um pingente dourado de uma estrelinha do mar. Após beijar a sua face o apertou fortemente com um abraço sussurrando: – Tio pede pro vovô
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deixar eu comer doce. Demos uma alegre gargalhada e vimos Mariazinha correr para o grupo de crianças rolando e pulando nas areias da praia. Sapeca mais especial. Pensei, respirando fundo expressando minha felicidade. *** Sentindo o frio subir pelos seus pés nus que tocava o chão gélido e úmido do corredor que o levara direto para saída dos fundos do hospital, Hugger se sentia um pouco desequilibrado, parecia desacostumado com a densidade da vida neste plano. Vestindo as roupas que roubou no armário de um dos enfermeiros continuou a vagar pelas sombras criadas por grandes colunas do Hospital Militar do Estácio. Descendo a imensa escadaria que se apresentava a sua frente, via aquele caminho como uma eternidade, o Hospital fora construído no alto de um monte, após um ofegante lance de escadas uma rampa parecia a melhor opção para a fuga sigilosa do cientista. - Preciso encontrar imediatamente meu amigo, o tempo esta se esvaindo não sei quanto ainda tenho. Disse saltando degraus a degraus. Acelerando seus passos de forma perigosa pela rampa, Hugger enfim chega à rua sombria da cidade. Respirando fundo pensou “já tinha me esquecido o que é o cansaço da vida”.
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Olhou para o céu recheado de estrelas, por um instante vislumbrou o resultado de suas descobertas cientificas “impressionante” afirmava para si próprio, quando um miado de um gato o assustou. “é preciso se concentrar, corro perigo” disse Hugger olhando para todos os lados. Levantou a gola do jaleco que vestira e de forma sutil e misteriosa e lançou sua figura pálida nas sombras, desaparecendo na escuridão da longa e tenebrosa rua. *** Aproximando-se do grupo formado numa espécie de cais, avistamos uma deslumbrante caravela que parecia pronta para zarpar, após todas as despedidas Tobias nos revelou que iríamos fazer uma travessia neste imenso mar. André ainda um pouco confuso acariciava o pingente dourado procurando entender seu significado. Mas era nítido o semblante de todos, aparentando calma e alegria. Nossa rápida estádia na colônia nos renovou certamente, além de demonstrar a grandiosidade do trabalho realizado pelos irmãos locados nesta região. Após os resgates, as almas recém desencarnadas
passam por
processos
de
energização
e
esclarecimento de suas potencialidades e missões, buscam se ocupar de tarefas que os auxiliam no seu processo evolutivo e no
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desenvolvimento de méritos para poder usufruir dádivas, como reencontrar alguns entes queridos. A Colônia propicia um ambiente de paz e tranqüilidade aos irmãos oferecendo-os a oportunidade de organizar seus pensamentos e compreender mais das regras divinas que regem nossa existência. Grupos de afinidades se formam em busca de sabedoria, conhecimentos novos e ações de caridade. Pude acompanhar rapidamente alguns destes encontros sentados no campo da colônia, e experimentei as mais diversas informações sobre amor, vida e regeneração. Subimos por uma estreita escada à linda caravela, o vento inflava as velas a espera da partida. Maria se aproximou de nós e pediu para que mantivéssemos nossa mente elevada, pois a viagem que estávamos prestes a fazer seria um pouco complicada, pois logo iremos entrar em regiões inferiores bem próximas do plano terrestre, ou seja, nos aproximaríamos da dimensão da vida material na terra. Acomodei-me em um dos bancos e olhei maravilhado a colônia se distanciar de nossos olhos. ***
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Dentro de um ônibus em alta velocidade na Avenida Brasil, Hugger Geiger se remexia no ultimo banco de plástico do veículo. As fortes luzes que vinham do teto irritavam seus olhos, e ele lutou contra o impulso de deixar as pálpebras se fecharem, mesmo que apenas por um segundo. Uma sensação de sono parecia esvair suas forças a cada minuto “preciso chegar logo” pensou espremendo-se no canto procurando esconder-se, comemorava o fato de haver dinheiro no bolso do jaleco roubado o que permitiu pegar uma condução para o local de destino, “a sorte esta ao meu lado” sussurrou esquivando seus olhos de um homem que o encarava com um olhar inexpressivo e petrificado numa espécie de transe. Atônito a tudo que poderia ocorrer abaixou sua nova face respirando fundo “não há de ser nada, apenas paranóia da minha mente” pensou tentando controlar a tremedeira espontânea que expressava seu medo. “O mundo parece tão diferente” disse olhando atentamente os prédios e casas que passavam rapidamente pela janela, pensou em suas descobertas e em tudo que seus senhores estavam preparando para a humanidade, precisava detê-los de alguma forma, mas tinha consciência que isso era uma tarefa muito difícil, logo a legião vai perceber seu desaparecimento e encontrá-lo imediatamente. “Espero que ele possa me ajudar” rogou Hugger tentando se livrar dos pensamentos incômodos, preferiu passar a acreditar em seu destino, fora convocado pela legião porque conheciam seu verdadeiro potencial, não seria dessa vez que iria falhar em seus planos. “Contudo”, pensou “mesmo que de
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alguma forma eu consiga revelar o esconderijo desses antigos segredos, não sei se poderei dar fim a tempo dessa maldição”. “Por outro lado, não posso subestimar o poder da luz, preciso acreditar, afinal não tenho mais volta”. Olhou mais uma vez para o homem, e viu que o mesmo estava dormindo, “paranóia, paranóia” pensou Hugger balançando sua cabeça procurando se acalmar. *** Capitulo 10 “No suor do teu rosto comerás o teu pão, até que te tornes à terra; porque dela foste tomado; porquanto és pó e em pó te tornarás.." (Gênesis:3:19 ) Há milênios a.c Todos se apertavam nas imensas filas para receber as tais instruções, neste novo mundo os Capelinos se sentiam distantes de tudo aquilo que acreditara ser realidade. Akhenaton ainda muito abatido entrou imediatamente em uma das filas, os olhares decepcionados de seus companheiros o seguia a todo instante.
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Não acreditavam no que viam, o grande Akhenaton Imperador das Sombras, líder da maior legião de senhores da escuridão de Capela, estava naquele momento sendo mais um entre tantos. Não aceitavam a passividade e entrega de seu mestre, esperavam uma atitude de revolta para livrá-los desta prisão. Tanta devoção nos templos sombrios, desde a penosa iniciação para fazer parte da ordem dos Dragões, tanta dedicação e fidelidade a este homem que hoje se mostra prostrado e vencido. Analilith, sua mais fiel comparsa não consegue esconder a frustração, ainda mais sabendo que ele estava os abandonando pelo amor que sentia por Sophia, mas sabia que naquele instante a prisão serviria para um propósito, pois a princesinha estava distante o que permitirá que reconquiste Akhenaton. Cada um era recepcionado por um mentor ou guia, deles recebiam as instruções e esclarecimentos do que ocorrerá em suas vidas. Akhenaton estava distante em seus pensamentos, quieto a espera de sua vez, fora interrompido por um guardião que o chamou para uma sala reservada no imenso pavilhão. Um homem de estatura alta, ar imponente, pele clara e olhos claros o recebeu com um reconfortante sorriso.
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- Seja bem vindo Akhenaton, o estava aguardando com muita ansiedade. Disse o homem abrindo seus braços oferecendo uma calorosa recepção para o Capelino. - Obrigado, mas não tenho motivos para tamanha empolgação nessa minha chegada. Respondeu Akhenaton com semblante abatido. - Ah! Que isso meu irmão, ouvi falar muito a seu respeito e tenho certeza que seremos grandes amigos. - Nossa! Imagino quantas coisas boas ouviu falar de mim. Afinal não tenho muito que me orgulhar. Disse Akhenaton sentando-se em uma cadeira. - O que passou, passou, é isso que a bondade divina nos oferece, a chance da remissão. Akhenaton não veja este mundo como uma punição, mas a oportunidade de recomeçar de forma correta. Falou o homem pousando suas mão no ombro de Akhenaton. - Quem é você? Perguntou - Desculpe, tamanha foi minha empolgação que esqueci de me apresentar, meu nome é Tobias e serei seu mentor nesta sua nova jornada. - Tobias! Não consigo vislumbrar este novo mundo.
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- Akhenaton, não pense assim, pois antes também não sentias o amor e a paz que mora agora em seu coração, o que prova que tudo pode ser diferente quando desejamos, você conquistou a retirada do véu que ofuscava sua visão, aquela sede constante e exacerbada por poder deu lugar ao arrependimento, pois perder o grande amor da sua vida o faz entender a renuncia que cometeu todo este tempo, ao escolher trilhar o caminho das sombras. - Te ofereço um novo tempo, um novo mundo e um novo começo. Disse Tobias apontando para o imenso paraíso que se estendia fora da sala. - Akhenaton, você foi retirado de um mundo em que você não fazia mais parte, um planeta que precisava continuar seu ciclo evolutivo, a qual você não permitia, suas atitudes quase levaram Capela à extinção. Neste planeta, você poderá consertar sua trajetória, ajudando esta civilização a evoluir mais rapidamente e por conseqüência auxiliar acelerando a evolução desses espíritos que ainda se encontram bem atrasados em suas caminhadas. - Mas não mereço ter essa oportunidade, pois como posso auxiliar na evolução de pessoas se muito influenciei para que outros Capelinos me seguissem. Vejo nos olhos deles que me culpam por terem perdido o paraíso que era nosso planeta.
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- Akhenaton, por esse mesmo motivo te chamei aqui. Pois preciso que você lidere todos os emigrantes na construção de uma nova civilização. Esta será a sua oportunidade de agora levar seus irmãos a trilharem o caminho correto, e lhe entrego junto, à promessa de que ao fim dessa missão poderão regressar a vossa pátria. - Tobias, não sei se sou capaz de tamanha responsabilidade, afinal só sabia fazer o mal, não sei bem o que fazer e nem como convencê-los a se arrepender. - Meu irmão, você será capaz. Acredite! Confiarei-lhe segredos únicos a ti, terá a possibilidade de revelá-los a quem quiser e da maneira que desejar, mas lembre-se que com novas oportunidades para o bem, vem acompanhada de novas oportunidades para o mal. A reencarnação será o ponto de partida para a evolução de seu povo, mas um grupo será separado e te dou o poder de decidir se a morte vos será necessário, a principio serás eternos nesta terra, mas poderá escolher ter os mesmos direitos dos nativos para seu povo. - Tobias! Como posso carregar o fardo de uma decisão como essa, e como podes confiar todo este poder a mim, depois de tudo que fui. - Akhenaton, você disse bem, foi, mas acredito em você, é uma aposta na qual não tenho medo de perder. Vá! Meus irmãos irão
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lhe mostrar melhor este novo mundo e não tenha medo do labor que te espera, pois o paraíso de Capela vive em seu coração. Que Deus o abençoe. Disse Tobias dando um forte abraço em Akhenaton. - Te vejo? Perguntou o Capelino. - Sempre! Respondeu Tobias. *** A casa de Nicolau tinha uma vista estonteante para uma praça arborizada recheada de crianças brincando. Um sobrado contendo atrás em um grande terreno uma pequena casa onde semanalmente acontecia a reunião mediúnica de seu grupo espírita. Desde pequeno vivenciou em sua família o apego às questões espirituais, sempre se viu assombrado por estranhas lembranças de vidas e vidas anteriores, sua capacidade mediúnica o tornou em sua juventude um médiummuito requisitado. Após inúmeras ocasiões em que se viu confrontado com suas responsabilidades, Nicolau preferiu trocar de cidade, abandonar sua doce Minas Gerais por um recanto bem simples no interior do Rio de Janeiro, mas precisamente na Baixada Fluminense, nesta nova vida, escondeu a totalidade de sua mediunidade, mas sem abandonar suas raízes criou um grupo espírita nos fundos de sua casa onde atua como dirigente.
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Nicolau, sempre ficava em sua janela olhando as estrelas, o céu exuberante o fazia pensar na vista perdida de Minas, embora soubesse que deveria ficar feliz, pois no rio que constituiu sua linda família. O apito da cafeteira avisou que seu café matinal estava pronto, sempre antes das seções mediúnicas, senta em sua varanda tomando um delicioso café, colocando seus pensamentos em harmonia com a natureza. Seu terreno bastante verde oferece uma atmosfera de tranqüilidade ao local. Após alguns minutos resolveu levantar-se para arrumar a sala onde será realizada a seção, logo, logo, os companheiros estarão chegando, acertou o relógio da parede, faltam apenas 10 minutos para as 19h, a sessão em breve começará. *** André estava parado na proa da caravela, hipnotizado, absorvendo a força do cenário à sua frente. Depois de tantas surpresas, ele agora admirava uma das paisagens mais espetaculares que tinha visto na vida. A beleza daquele oceano contrastava-se com a tenebrosa sensação de calafrios que surgiam em meu perispírito. Maria se aproximou de nosso grupo procurando nos tranqüilizar. – Admirem a beleza deste mar. Realmente era um espetáculo ver os raios solares tocarem sutilmente as ondas do oceano, formando
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faíscas douradas no azul do mar. Tobias encostou-se no mastro central da embarcação e junto a Jamal pareciam combinar os detalhes de nossa jornada. - Para onde estamos indo? Perguntei a Maria. - Estamos indo para o plano material, pois recebemos uma informação de um de nossos guardiões que mantém vigilância constante em um dos acampamentos da Legião, de que os magos estão se aglomerando de forma muito suspeita. Acreditamos que estão preparando um ataque a uma de nossas bases de socorro na terra. André sentou-se ao nosso lado e de forma muito confusa perguntou: - Maria, eu ainda não entendo o que esta realmente acontecendo e do que posso ser útil a tudo isso? - André! Sei que ainda paira muitas dúvidas em sua mente, mas te peço calma, sei que é difícil, mas é preciso. Não sabemos ainda ao certo o que a Legião está tramando, a terra está vivendo um verdadeiro caos após os seqüestros de almas, e sinceramente estamos muito preocupados por não saber o que ocorrerá e nem onde estão estes irmãos. O ataque dos Magos no templo e no posto de socorro de Santa Bárbara nos intrigou muito, pois percebemos poderes que antes não acreditávamos ser possíveis.
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- Mas vocês não têm o controle de tudo, afinal Deus não é onisciente? Exclamou André. - Sim, mas o livre arbítrio ele é incontestável também neste plano, não podemos ir contra as decisões. Tecnologias são possíveis e passiveis de descobertas a todo instante aqui em nosso plano, Deus tem um inesgotável estoque de compaixão e não interfere diretamente nos passos escolhidos e dados por nós. Respondeu Maria. - Mas fique tranqüilo que tudo acabará bem, minha intuição afirma que estamos perto de descobrir o que esta por trás de tudo isso logo, logo. Lara parecia compenetrada com uma leitura que a aprisionava num silencio sepulcral, ao nosso lado não conseguia deter meus olhos de admirá-la, além de uma beleza incomum ela trazia em sua forma uma postura militar que lhe dava o tom de total seriedade, mas um charme fabuloso. Percebendo a vigilância constante de meus olhos, quebrou sua concentração olhando para mim de forma inesperada, tentei disfarçar, mas naquele instante era impossível esconder meu encanto. - Gostaria de falar algo? Perguntou Lara fechando seu livro.
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- O que está lendo? Disse a ela não conseguindo esconder meu constrangimento. - A bíblia. Respondeu. - Nossa não percebi que és muito religiosa. - na verdade estou tentando me concentrar para as possíveis batalhas que iremos travar. - Deve ser muito excitante ser uma guardiã. - Apesar da grande responsabilidade que temos, é muito legal tudo que aprendemos a cada dia em nossas missões. Completou Lara deixando escapar um pequeno sorriso. Lara me contou que durante muito tempo se viu aprisionada pela sua mente numa espécie de transe. Fora uma mulher muito bonita em sua ultima encarnação, viveu cada dia através de sua beleza, teve de tudo que desejava e todos os amores que quis viver, mas não soube lidar com alguns contratempos da vida, foi em sua juventude uma mulher muito tempestuosa e logo entrou para um mundo de drogas e excessos, em conseqüência se matou ao perceber que seu corpo e a sua beleza estavam se esvaindo. Por muitos anos se viu sofrendo no vale dos suicidas, não conseguia organizar sua mente o que permitia que os sentimentos domassem sua realidade, fora resgatada por uma equipe das
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guardiãs e após sua recuperação decidiu se candidatar a uma vaga, após estudos e preparos recebeu a permissão dos irmãos superiores para incorporar na tropa de guardiãs cuja experiência de seu sofrimento poderia ser de grande utilidade a resgates voltados com problemas emocionais. Antes de ser convocada para esta missão, estava auxiliando no equilíbrio de energias dos irmãos na terra no meio do caos que se aplacava. Fora chamada imediatamente pelo conselho de Aruanda, e aceitou com grande fervor este destino. Após conhecer sua história, fiquei muito mais admirado por Lara e percebi que atrás de um semblante de seriedade existe um ser tão humano quanto cada um de nós. Senti-me seguro ao lado dela, o bem estava ali. *** Todos chegaram no exato momento em que o relógio da parede marcava dezenove horas e trinta minutos, Nicolau recebeu todos os participantes e alguns convidados com um aconchegante abraço. Apressando-se em se posicionarem ao redor da mesa, todos se enfileiraram criando um circulo, os convidados se sentaram nas cadeiras postas de frente à sala principal do centro, deu-se então inicio a sessão.
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Nicolau começou explanando a todos uma breve palestra sobre a caridade e o equilíbrio que precisamos ter neste momento muito tumultuado de nosso planeta, lembrou das ultimas noticias da epidemia que assolava a população e comentou sobre a necessidade de uma limpeza interior de cada ser humano deste orbe. Com muita atenção os convidados a cada momento sentiam-se recebendo vibrações positivas de amor e sabedoria. Nicolau continuou agradecendo em uma oração à presença dos irmãos de luz que estavam naquele momento abrilhantando os trabalhos. De pé ao lado de Nicolau, Sara e Plínio assistiam com muita seriedade as atividades dos espíritos responsáveis pela casa. Uma egrégora de amor e caridade se formava ao longo de uma imensa planície que se estendia ao redor daquela pequena casa no mundo astral. Uma cúpula de energia, parecendo um grande campo de força ofertava um canal de luz que se abria como um imenso holofote de raios ao céu. Sara e Plínio, estavam ali para protegerem Nicolau e sua equipe de trabalhadores de um mal que se aproximava a passos acelerados. Ao longo de uma das cadeiras da mesa, sentava-se um homem franzino de estatura mediana, aparentando seus 30 anos, era Alberto, homem dedicado e muito conhecedor da doutrina espírita, um verdadeiro aficionado por espiritismo, ávido leitor e um dos mais comprometidos com os trabalhos do centro.
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Sua quase extremista participação criava em alguns irmãos sentimentos de irritação, ciúmes e inveja. Apontado por alguns como discípulo de Nicolau, Alberto parecia sempre muito compenetrado com as suas atividades. Fiel às obrigações da casa, pontual nos compromissos do grupo, tornava-se um verdadeiro e leal membro da ordem espírita. Dotado de dons mediúnicos de grande magnitude, já podia nos últimos meses ouvir claramente a voz de seu mentor, mas fora orientado a não revelar tal acontecimento para não despertar maior negatividade por parte dos irmãos. Alberto fechava seus olhos procurando concentra-se na voz de Nicolau, que orientava a mesa para o primeiro trabalho de desobcessão. Sara e Plínio, assistia a belíssima ação dos mentores de Nicolau, que a todo instante o inspirava nas ordens dos trabalhos. Alberto tentava conter sua ansiedade, afinal sabia que a qualquer momento a hora chegaria e seu mentor o permitiria a se pronunciar na mesa. Controlava com dificuldades sua excitação, logo, logo, todos saberiam que se comunicara de forma clara com seu mentor, tentava imaginar a reação dos irmãos, mas naquele instante precisava se concentrar,. “um ponto, preciso focar meu pensamento num ponto” pensava Alberto respirando fundo. *** A sessão correu como deveria, com a grata sensação de um dever cumprido, Nicolau encerrou a noite com uma linda oração seguida por calorosos abraços
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entre os irmãos. Alberto parecia ser o mais entusiasmado, demonstrava todo seu afeto e carinho aos trabalhadores e convidados. Auxiliando na arrumação do centro se despediu com muito amor de Nicolau, que para ele era mais do que seu dirigente, mas um verdadeiro mestre. Ao caminhar pela rua em direção a sua casa, Alberto ainda sentia uma pequena fagulha de frustração. “Ainda não foi dessa vez” pensava. Acreditava que hoje seria o dia em que mostraria a todos que mantinha contato direto com seu mentor, mas ele insistia “calma, ainda não está na hora” sussurrava em seu ouvido a voz estranha. Dentro da casa Sara e Plínio estavam encantados com os trabalhos, no entanto notaram uma estranha névoa em volta de Alberto, uma energia que não conseguiram distinguir, aproximaram-se de Nicolau que imediatamente os notará, fazendo em seguida uma reverência aos dois irmãos que trouxeram paz e luz para seus trabalhos. - Obrigado irmãos, sei que estamos perto de uma grande batalha, e podem contar com minha parte. Disse Nicolau aos espíritos. - Que a luz e graça do cordeiro esteja em seus caminhos, obrigado pelo carinho. Respondeu Sara desaparecendo junto com Plínio, afinal outras tarefas precisavam de suas presenças. Nicolau sentiu a saída dos irmãos, apagou as luzes da sala, trancou a porta e respirando bem fundo pensou “tarefa cumprida”. ***
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Todos estavam admirados com a beleza da viagem, que não lembrava em nada as batalhas que ainda iríamos enfrentar. Ao lado de Lara, me descontrai dos medos que ainda pontuavam em meu coração, nossa conversa se tornou mais prazerosa quando Maria nos deu a honra de sua companhia, Tobias ainda se estabelecia compenetrado nos longos planos que estavam sendo traçados com Jamal. A nossa volta vários guardiões se mantinham alertas a qualquer anormalidade. Comecei a perceber a grandiosidade daquela aparente antiga embarcação, no seu exterior uma enorme caravela do século XV, mas amparada pelos mais modernos equipamentos conhecidos pela terra. Uma verdadeira calmaria tomou conta de nossos corações, André aparentava bastante encantado com o balé de alguns golfinhos que saltavam a nossa volta, logo avistamos algo fabuloso, lindos e grandes barcos adornados com estátuas de sereias em sua proa com seus cascos brilhando com um dourado estonteante, embarcados, homens e mulheres com vestes claras, segurando lanças e espadas, todos com uma expressão serena, porém séria, enfileirados partindo como uma verdadeira esquadra. Passaram ao nosso lado numa velocidade bem maior do que nossa caravela era uma quantidade imensa de embarcações, talvez milhares que cobriam o mar até o horizonte.
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Tobias imediatamente chamou Maria e ao lado de Jamal subiram na parte mais alta do convés acenando para a frota marítima que nos cercara, não demorou muito para que eles nos ultrapassassem e se distanciasse velozmente, quando de cada barco subiu ao céu feixes de luzes coloridas como fogos de artifícios que formavam símbolos no ar. Lara olhou para mim e disse o quanto era lindo essa aproximação. - O que é isso? Perguntei a Lara. - São os falangeiros de Iemanjá, estão se direcionando para o mar da terra no plano físico, são guardiões da mais alta patente no comando da governante dos mares. - Estes símbolos são as chancelas de cada comando, nos dando saudações. Disse Lara com seus olhos cravejados de lágrimas. Tobias ergueu suas mãos para o alto, e luzes surgiram de seus dedos, naquele instante todos os guardiões de nossa embarcação incluindo Jamal ergueram suas armas e num verdadeiro showpirotécnico Tobias lançou ao céu um raio de fogo brilhante formando um símbolo de Três estrelas interpostas que iluminaram fortemente nossa Caravela. André fechou seus olhos e iniciou em silencio uma breve oração, não pude conter minha emoção estava diante de uma cena
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mágica e solene, resolvi então seguir meu amigo e iniciei minha prece agradecendo por fazer parte desta missão. Após alguns minutos André se pronunciou: - Afinal o que significa esta chancela? Maria se prontificou imediatamente a nos explicar: “O espírito antes de possuir sua porção inteligente, se desenvolveu através dos elementos da natureza, na verdade ainda era apenas uma energia sem consciência, que evoluiu através de cada parte dos elementares signos da existência, se complementando no reino vegetal, mineral e animal. A cada passagem dessa energia pelos diferentes reinos básicos da vida, foi sendo formado as partículas necessárias para se compor à inteligência, tornando a energia que fazia parte de um todo, ou seja, que complementava o planeta, antes coletiva e dispersa em espírito individual e inteligente. Para a organização divina de nossas jornadas, cada espírito se tornou parte de uma falange de espíritos, cujo objetivo é de serem como espíritos irmãos, auxiliando uns aos outros no seu processo evolutivo. Estas chancelas que vimos a pouco representa simbolicamente de que falange fazemos parte. É claro que essas falanges são providas
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de forte sintonia entre os irmãos, independente de seu grau de evolução ou da antiguidade de seu espírito.” - Então isso significa que todos nós fazemos parte da mesma falange? Perguntou André. - Isso mesmo irmão, por isso todos fomos reunidos, pois nossa sintonia, nos permite maior força e integração. Respondeu Maria sob os olhares carinhosos de Tobias que a tudo ouvia. - Mas para onde estavam indo? Continuou André. - Isso que me preocupa. Disse Tobias - Jamal recebeu informações de que uma forte concentração de energia foi detectada nos profundezas do oceano na terra, temo que seja mais um ataque da Legião, só que dessa vez será no plano físico. - Essas esquadras de Iemanjá estão se encaminhando para o ponto desta energia, com o propósito de auxiliar nos resgates de possíveis vitimas e na tentativa de diminuir as proporções deste ataque. Complementou Jamal. Olhei espantado para Lara que seguiu imediatamente para uma reunião com alguns guardiões, a tranqüilidade deu lugar a uma forte preocupação. André sentou-se ao meu lado, e perguntou a Maria: - O que podemos fazer?
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Maria com um tímido sorriso disse: - No momento apenas orar. Pois nossa parte será ainda mais difícil e a mais necessária, precisamos encontrar as respostas para tudo que esta acontecendo e acabar de vez com essa ameaça. Todos na embarcação estavam acelerados, se preparando para maiores acontecimentos, pensei nos irmãos encarnados que estão prestes a sofrer uma grande catástrofe. *** Capitulo 11 “E havendo lançado fora o homem, pôs querubins ao oriente do jardim do Éden, e uma espada inflamada que andava ao redor, para guardar o caminho da árvore da vida..." (Gênesis:3:24 ) Há milênios a.c Muitos ainda estavam atribulados com as novas tarefas, sabíamos de nossas responsabilidades, auxiliar essa humanidade primitiva a crescer com passos largos no ciclo evolutivo deste planeta.
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Os olhares reprovativos e cheios de mágoas ainda norteavam os antigos seguidores de Akhenaton, o processo de reencarnação dera seu inicio, o que para os homens da terra significa saltos de anos e anos, para nós representava minutos, cada um dos antigos habitantes de Capela chegava através da gestação materna à terra de remissão, mas alguns poucos tiveram a escolha de liderar as novas civilizações que surgira. Akhenaton tinha o dever de ser o guia deste novo grupo, devido a sua liderança única e suprema no reino das sombras de sua terra natal, ao seu lado, seus eternos seguidores, reencarnaram trazendo em seus novos corpos físicos lembranças claras de sua memória espiritual e, por conseguinte todo poder que conheciam. Mas o principal dom divino que lhes fora concedido, era a imortalidade, permitindo que utilizassem o máximo de suas vidas para acelerar a construção de uma nova era. Akhenaton possuía a decisão de revogar esse direito no momento que lhe fora necessário. Ainda atordoado com tamanha confiança depositada por aquele homem estranho, que sabia de todo seu passado nebuloso, Akhenaton assumiu o compromisso de reescrever sua história procurando não errar em suas decisões. Preocupado com sua capacidade de discernimento, caminhava pelos vales da eternidade
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a espera do momento de sua caminhada para a terra, olhava cada detalhe daquela cidade celeste, percebia como a paz e o bem predominavam sobre aquele planeta, que apesar de conter uma atmosfera ainda em estado inicial de evolução, oferecia um ar de bebê, a qual precisará ser cuidado. Envolto com seus tumultuados pensamentos percebeu ao longo de seu passeio um homem que se avistará a alguns metros de distância, sereno e imponente o homem aparentava uma luz que Akhenaton jamais avistará em suas vidas, sentiu uma atração que o levará diretamente para aquele espírito, que naquele momento olhará para si e abria um gratificante sorriso de braços erguidos e abertos. “Olá meu irmão, estava ansioso por conhecê-lo, segundo meus irmãos você é o novo escolhido” afirmava o homem abraçando Akhenaton. - Escolhido! Eu? Disse Akhenaton totalmente desconcertado. “isso! Escolhido para ajudar este planeta na sua mais sublime fase, a da remissão desses nossos irmãos que ainda são tão pequeninos em suas jornadas espirituais. Sei de suas dúvidas e medos Akhenaton, mas você saberá tomar as melhores decisões” - Como podes saber? E afinal quem é você? Perguntava Akhenaton surpreso.
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“Digamos que se Deus é um Rei eu sou o governante de uma das suas províncias, mas é claro que isso é meramente formalidade, pois sou seu irmão e igual a você em todas as coisas” - Mas a que devo tamanha honra de sua atenção. Disse Akhenaton com ar irônico. “Você é muito engraçado, fico feliz, pois o que seria desta terra sem humor” respondeu o homem com graça e benevolência. “Akhenaton, estamos ao seu lado a todo o momento e pode acreditar que nada é por acaso, não percebes a importância que carregas em suas mãos? Pois bem, faça, não tenha receio do correto ou do errado, o bem e o mal, reside nas nossas intenções, atente para o instante mágico que podes mudar tudo na sua vida.” - Mas não sei se sou capaz de liderar todas estas pessoas numa tarefa que nunca imaginei cumprir. Respondeu Akhenaton assustado. “ Mas você foi escolhido por sua capacidade e não pelas suas dividas” - e como saberei se estou fazendo o certo? “não saberá, isso é que é relevante, busque apenas a sua boa obra e o restante será apenas conseqüência” - Mas são as conseqüências que me assustam.
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“ não fique apreensivo, pois estarei ao seu lado a todo instante, e no momento certo eu chegarei pessoalmente para lhe mostrar o seu resultado” - Mas me diga o seu nome para que eu vos reconheça em minha nova vida! “ Te direi e afirmo que ainda nos veremos muito em breve” “meu nome é Jesus” Disse o homem sorrindo para Akhenaton e desaparecendo em sua frente. *** Chovia forte no Rio de Janeiro, quando uma figura pálida e sombria saltou do ônibus ainda quase em movimento. Hugger Geiger caminhava com rápidas passadas em direção ao objetivo de sua missão. Visualizava claramente o mapa que mentalizará antes de sua chegada na terra, por tempos procurava este espírito, amigo de longas encarnações, o identificará em uma das investidas de sua equipe nos centros espíritas a procura de cobaias para suas experiências. Tinha conhecimento das novas escolhas traçadas por seu amigo, diferente de sua direção sombria, ele decidiu por fazer parte da luz, tinha mágoa de sua escolha, afinal, acreditava que depois de tantos sonhos e planos ficariam inseparáveis, mas Hugger decidiu seguir com suas experiências custe o que custar. Agora estava ali, apressado em busca de uma solução para
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amenizar sua dor, sua punição. Pensara em Deus “será que ele irá me perdoar um dia?” mas sabia que dificilmente conseguiria sair ileso de uma punição dolorosa, “talvez o inferno exista” continuou pensando. Esgueirando-se nas sombras a procura de proteção, Hugger está a metros de seu destino, de pé apoiado em um poste, esperou impacientemente todos saírem daquela casa, “ a sessão já deve ter terminado”. Quando viu as luzes se apagarem, dirigiu-se imediatamente para a porta, onde estava um cartaz informando que a próxima sessão seria no dia seguinte. *** Nicolau já estava sonolento quando ouviu as batidas desenfreadas na sua porta, levantando-se bruscamente pelo susto, ascendeu à luz da sala e dirigiu-se rapidamente para a entrada. Ao abrir a porta, deparou-se com um homem desconhecido trajando um uniforme hospitalar completamente naufragado pela densa chuva que começava a assolar a noite. Avistando um médico conturbado em sua porta imaginou que algo grave tinha ocorrido com alguém. - Meu Deus! O que posso ajudar? Perguntou Nicolau bastante preocupado. O homem esboçou um sorriso ao contemplar a figura daquele velho vestido com roupas brancas, de forma apreensiva, olhou fixamente para os olhos, sim, era ele.
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- Meu amigo, quanto tempo. - Perdoe minha memória, mas de onde o conheço? - De muitos e muitos tempos, a final não esta reconhecendo seu velho amigo de laboratório? Olhando atenciosamente para os olhos do estranho homem a sua porta, Nicolau sentiu que o conhecera, mas ainda, descobriu logo quem era. - Como podes? Esta reencarnado? - Sim! Apesar de estar neste corpo jovem, sou eu mesmo, seu velho amigo Hugger Geiger. Disse o cientista entusiasmado pelo encontro. *** Maravilhados com a passagem dos falangeiros, continuamos nossa viagem rumo ao plano físico da terra, Jamal havia nos explicado o que os irmãos guardiões teriam descoberto; uma concentração anormal de energia contrária aos propósitos divinos, logo a legião atacaria o planeta causando danos imensos. Perguntei como poderíamos evitar este atentado, Jamal me respondeu que não temos condições de evitar, apenas amenizar os estragos, diminuindo as conseqüências, e deslocando para área afetada irmãos que terão seus desencarne condizente com esta
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tragédia. Após nossa conversa percebemos um tremor assustador fazendo estremecer toda embarcação, espantados com o acontecimento Tobias, Jamal e Maria iniciaram imediatamente uma prece procurando elevar nossos pensamentos, mas o tremor se tornou mais forte, André temeroso perguntava o que estava acontecendo. Maria no meio do balançar arrepiante da caravela respondeu: - Este é o impacto do ataque da legião na terra, estamos próximos do plano material e essa energia desestabilizou nossa dimensão. O tremor se tornou mais fulminante, ondas gigantescas puseram a se elevar como imensas paredes a nossa frente, Tobias nos pedia calma a todo instante, mas André parecia aterrorizado, o mar tornou-se em coloração avermelhada, parecendo um manto de sangue, num choque desconcertante das ondas na caravela, André foi lançado bruscamente para fora da embarcação, caindo ao mar. Imediatamente corri para a proa da caravela procurando encontrá-lo no meio da furiosa tormenta, Lara juntou-se aos guardiões e deu inicio a uma cintilante concentração de energia, liderados por Tobias a força constituída pelas espadas divinas dos nossos defensores acalmaram a caravela. Tobias notando meu espanto tentou me tranqüilizar.
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- calma Cassiano, esta perturbação já esta se encerrando. - Mas Tobias! Precisamos salvar André. Dando uma pausa como se tivesse ouvindo algum amigo oculto ao seu lado, Tobias mudou sua expressão carrancuda para um olhar fraterno e respondeu: - Na verdade André já foi salvo e logo estaremos com ele, vamos aproveitar o restante da viagem. *** “Ao cair no mar revolto e avermelhado, André não conseguiu manter-se em superfície devido ao extremo pavor que corria por seu corpo, a força protuberante de seu desequilíbrio mental o puxava como imã para o fundo do mar, ainda carregando consigo a sensação da matéria pôs a afogar-se nas profundezas, o ar não surgia a sua volta, fechando fortemente sua boca, procurando não engolir água. Balançava inquietante em sua angustia, buscava pensar em Tobias tentando pedir seu auxilio, mas nada via, quando percebeu que não teria mais como segurar a pouca respiração que restara, fechou seus olhos soltando seu corpo em busca da morte, quando fora interrompido por uma linda sereia que o olhava bem de pertinho, ofertando um calmante sorriso, dando-lhe um beijo
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carinhoso, fazendo surgir em seus pulmões, o ar necessário para a salvação de sua mente, olhou para os lados e percebeu que muitas outras sereias o circulavam, ainda atordoado, deu as suas mãos para aquele belo ser e fora levado em um passeio irreal pelo fundo do mar. Chegando ao litoral direcionado pelas lindas sereias, que davam alegres acenos com suas mãos para André, já de pé nas areias alvas da praia assistindo o mergulho das lindas mulheres do mar. Olhou ao se redor e via apenas uma ilha inteiramente deserta, procurou ao longo do horizonte a embarcação que o levara, mas nada existia além de um imenso oceano, tornou a observar novamente a ilha, quando percebeu um farol erguido à cima de uma colina, caminhou diretamente até o local, na esperança de encontrar alguém que poderia ajudá-lo. Chegou até a pequena porta do Farol e gritou: - Boa noite tem alguém aí? Nada respondia, entrou sutilmente procurando explorar o ambiente, viu uma pequena mesa de madeira vazia, apenas com um livro pequeno de capa preta no centro. Uma lamparina acesa oferecendo uma atmosfera lúdica à pequena sala. Uma luneta encostada no canto da parede circular do Farol. Olhou para cima e viu a tortuosa escadaria que certamente levava até a luz guia provinda da torre.
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Não conseguindo segurar a curiosidade abriu o pequeno livro, diretamente numa página marcada por um velho lápis, logo percebeu que se tratava de uma bíblia e leu para si o trecho sublinhado: “Lâmpada para os meus pés é a tua palavra e luz para os meus caminhos”. Quando ouviu duas batidas na estreita porta, avistou um homem alto, branco, aparentando seus 40 anos, em suas mãos duas canecas com café quente. Com um olhar convidativo e um sorriso sereno em seus lábios o olhou e disse: - Olá André, creio que está com frio, afinal foi molhada a caminhada, que bom que está aqui já estava ansioso por nosso encontro. André estupefato respirou fundo olhando para o desconhecido à porta do Farol. *** A noite se erguia no céu, caminhando rumo a uma pequena choupana de madeira, André ainda se sentia desconcertado por sua curiosidade, afinal quem seria este homem misterioso que tanto o aguardava. Ainda em silencio, seguiam pela tortuosa trilha após aceitar o convite daquele estranho. Não contendo suas perguntas, quebrou o silencio interpelando o homem:
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- Bem, você parece me conhecer, aceitei de imediato seu convite para um café na sua casa, mas você ainda não se apresentou para mim. - Desculpe minha indelicadeza, mas sou o faroleiro, responsável por este nobre farol, luz que guia os navegantes. Respondeu mantendo o mistério. - Não sabia que os espíritos precisavam de um farol? Disse André. - Na verdade guiamos os nossos irmãos encarnados. - Qual o seu nome? Disse André. - Existem tantos! Alguns me chamam de São Jorge, outros Orixá Guerreiro e outros Ogum. Respondeu dando um sorriso travesso. - Mas qual o correto? Perguntou impaciente. - Me chame de um simples Faroleiro, tantos nomes que nada modificam minha tarefa. - Um Orixá! Exclamou espantado após cair a ficha. - Mas eu esperava um ser mítico e supremo! - Não se deixe enganar pelas aparências irmão, afinal os pequenos serão grandes no Reino de Deus. Respondeu o Faroleiro pousando suas mãos aos ombros de André. - Venha chegamos, tem uma outra pessoa lhe aguardando. Ao entrar na choupana, viu André uma Senhora segurando um lindo bule de cristal.
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– Mais café? Perguntou. - Olá meu irmão que alegria recebê-lo em minha humilde casinha. Disse a Senhora completando o café nas canecas do Faroleiro e de André, que ainda desconfiado, pergunta à senhora o que estava acontecendo, logo após vários acontecimentos inimagináveis, este lugar saltava aos seus olhos com muita estranheza, afinal o mundo estava correndo perigo enquanto este casal toma café calmamente em uma praia quase que deserta e ainda por cima se dizendo Orixá. Mas como tudo parecia ser possível neste mundo, resolveu afastar os maus pensamentos e procurar entender o que ocorria naquele instante. Após completar as canecas de café, a doce senhora senta-se ao lado de André e pegando nas suas mãos se apresentou: - Você pode me chamar de Dora. O nobre faroleiro deu um leve sorriso dizendo que agora poderíamos conversar sobre tudo o que lhe aflige. André imediatamente começou a fazer uma numerosa e acelerada quantidade de perguntas, o faroleiro olhou para Dora e juntos deram uma fervorosa gargalhada. - Nossa! Quantas perguntas meu irmão, você deveria questionar menos, afinal quanto menos você quiser saber mais você irá descobrir. Disse o faroleiro dando fortes goles no café.
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- Mas não sei o que está acontecendo, e nem o porque de eu estar aqui com vocês, afinal quem são e o que querem de mim? Perguntou André demonstrando uma forte aflição. - André, como lhe disse somos muitos nomes, na verdade estamos aqui por um único propósito o de pedir um pequeno favor a você. Sabemos da grande batalha que se aproxima, e o mal que ocorrerá desta luta, mas estamos tranqüilos, pois confiamos no bem, afinal, como posso temer o que não existe? Disse o faroleiro. - Você está me dizendo que não teme o mal que assola a humanidade? Perguntou André inquieto. - Está vendo, você continua a questionar, quando é preciso apenas raciocinar. Respondeu o faroleiro. - Veja meu filho, o mal não existe, não é produto da criação de Deus, o mal nada mais é do que a ausência do bem. É claro que sabemos de todas as conseqüências desta ausência, mas no final o equilíbrio divino, que inteligentemente rege nosso mundo; vence. Tende para o lado mais forte, onde existe algo que o complete, o preenche, ou você acha que o vazio consumirá o bem? Completou a senhora, apalpando as mãos de André. - Mas certamente precisamos lutar, mas não com o pensamento de destruir o vazio existente, mas completá-lo com o bem, não podemos querer eliminar nossos irmãos que estão nas sombras,
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pois apesar das escolhas errôneas fazem parte do plano da criação, e mais cedo ou mais tarde irão alcançar o progresso. A luta é para diminuir a dor, daqueles que sofrem as consequencias, como daqueles que vive distante da luz. Disse o Faroleiro. - Entendi! Mas onde entro nesta história e porque todos me tratam com tamanha importância? Perguntou André. - Porque tudo na vida tem um começo, e você é esse ponto de partida, talvez ainda não podes compreender, mas precisar acreditar, que muitas vidas se passaram e muitas coisas, atos e decisões ocorreram. Você um dia tomou decisões que lhe levarão a este ponto do espaço/tempo. É como um emaranhado de dominós empilhados e enfileirados, um pequeno sopro, aos olhos inocentes simples e sem valia, pode e irá acarretar grandes acontecimentos. O faroleiro terminou sua resposta olhando firmemente para os olhos de Dora e então continuou seu discurso. - André, seus amigos estão chegando na costa e você poderá encontrá-los, mas te peço um pequeno favor, que se acalme e ouça tudo que temos a lhe dizer, e enquanto conversamos comeremos estes deliciosos biscoitos feitos pela Dora. Terminou o Faroleiro retirando a tampa de um lindo vaso de cristal recheado de suculentos biscoitos. André parecia ainda um pouco confuso, mas a principal pergunta corria pela sua
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mente, pois o Faroleiro disse que era um orixá, mas como estes simples irmãos poderia ser tais entidades. Antes que pronunciasse a tal pergunta, Dora o interrompeu dizendo. - O mais simples elemento da vida é o mais forte na complexidade da existência. Não deixe se enganar por pequenas e simplórias imagens, que podem guardar grandes essências. Mas vamos nos deliciar com os biscoitos, afinal fiz com tanto carinho para recebêlo. André sentiu-se em paz e resolveu envolver-se mais na atmosfera harmônica daquele momento, mastigou com doçura os biscoitos e maravilhou-se com o sabor.
***
Entrando sorrateiramente pela porta dos fundos após pular de forma ágil o muro do quintal, Alberto parecia um soldado seguindo rigorosas ordens de seu mentor. Esgueirando-se cautelosamente pela cozinha procurando não ser descoberto, ouviu a voz de Nicolau e colocou-se bem abaixado atrás do armário. Seu coração pulsava aceleradamente, excitado pela ação sinuosa que fazia, nem teve tempo de raciocinar o porque daquela ordem, apenas acatou, palavras que se repetia em seus ouvidos: “não deixem que o veja”.
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Nicolau espantado com a presença de seu amigo cientista, rapidamente o convidou a entrar em sua casa, ainda tenso com o inesperado visitante, correu para cozinha em busca de umquente café para Hugger, passou tão confuso que nem notou a presença obscura de Alberto que como um gato não deixara nem notar sua respiração ofegante. Sentando-se na confortável poltrona de antiga aparência, surrada pelo tempo, deram inicio a intrigante conversa: - Meu Deus, afinal o que esta acontecendo Hugger, é você mesmo? Perguntou Nicolau assustado. - Sim, meu amigo, sou eu mesmo, estou com grandes problemas, e preciso de sua ajuda. Respondeu o cientista com forte aflição. Explicou detalhadamente todo o acontecido, que após a sua decisão de se corromper para o lado da Legião em busca de liberdade para suas experiências, percebeu que fora usado para aumentar a capacidade das maléficas ações dos Senhores das Sombras, quando notou que sua descoberta poderia causar um mal nunca visto pelo homem, precisou imediatamente avisar aos guerreiros da luz os planos da Legião, mas seus passos eram seguidos e vigiados, sabia que por sua condição moral não seria fácil aproximar-se da luz, foi quando decidiu utilizar uma das suas nefastas invenções procurando encontrar Nicolau para passar as informações para o nobre amigo, observador do cordeiro.
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Pediu a Nicolau um caderno para que ele possa descrever todo plano da Legião e as informações vitais para a derrocada dos Senhores das Sombras, Nicolau imediatamente buscou lápis e caderno para o cientista. Hugger sem pestanejar e apesar de sentir sua energia vital esvaindo, pois sabia que a qualquer momento sua temporária vida se extinguiria, iniciou sua escrita com uma rapidez incrível. Nicolau ainda surpreso olhava atentamente os olhos e cada detalhe do rosto do Jovem a sua frente, procurando entender à suposta invenção que Hugger usara. Alberto procurou se aproximar mais dos antigos amigos, rastejando como uma cobra, colocou-se atrás do grande e velho sofá aguardando as novas ordens, trazia consigo uma garrafa de vinho encontrada na cozinha e uma faca bem afiada, ordens de seu mentor. Após ouvir os rascunhos do lápis no papel feito pelas escritas de Hugger, fora interrompido com novas ordens, só que dessa vez elas o espantou. Perguntou mentalmente ao seu mentor: “é isso mesmo que você quer? Mas isso é correto?” Interpelou o jovem atônito pelas palavras de seu Mentor: “sim! Faça agora”. Respirando fundo, Alberto surgira como um leão desvairado em busca da presa, em um golpe certeiro, acertou a cabeça de Nicolau com a garrafa de vinho, espantado com o súbito agressor que surgirá das sombras Hugger nada pode fazer contra o ataque de Alberto que de forma tempestuosa o alvejou com seguidas facadas em seu peito.
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O cientista caído na sala de Nicolau nem teve tempo para perceber o verdadeiro malfeitor que tornara o descontrolado Alberto em um assassino. Hugger deu um ultimo suspiro e gritou: “Deus me perdoe”, fechando seus olhos para uma segunda morte. Alberto, ainda eufórico com suas ações, nem teve tempo para contemplar que cumprira como ninguém as ordens de seu fiel mentor. Afirmava sem parar a si próprio que aquilo fora necessário para o bem da humanidade, procurou afoito o caderno escrito pelo cientista, dirigiu-se para cozinha e com um incandescente fósforo pôs fim às inscrições de Hugger. Sentindo seu coração acelerado e barulhento, procurou respirar fundo, olhou atentamente para o corpo de Nicolau caído no confortável e antigo sofá, então pensou: “é o fim, não, é o inicio” entendeu que agora tomaria o lugar de Nicolau, mas mal sabia ele, que na verdade não era nada. *** Capitulo 12 Nicolau se encontrava inconsciente devido ao ataque insano de Alberto, seus guardiões acalentaram o golpe evitando um fim trágico do Dirigente, no entanto, Hugger Geiger não teve a mesma sorte, envolto de sombras tenebrosas, não fora defendido por sua falange que há muito o havia abandonado, após as seguidas e sanguinárias facadas de Alberto, seu espírito fora lançado em súbita
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queda rumo ao desfiladeiro das sombras, levado sem dó pelos seus antigos parceiros em encontro a sua mais temível punição, ser julgado pelo senhor das sombras, afinal sua traição fora descoberta e não seria perdoada. Alberto ainda em êxtase por suas ações, imediatamente continuou a seguir as ordens desconcertantes de seu mentor, envolveu o corpo do jovem soldado em um tapete velho, limpou suas digitais dos objetos, lavou-se na pia do banheiro tendo sempre o cuidado de limpar quaisquer indícios de sua identidade, ao lavar suas mãos olhou fixamente seu reflexo no espelho, por alguns instante ouvia uma voz no fundo do seu intimo condenando suas atitudes, por aquele instante não se reconheceu, jazia no espelho a imagem de um assassino, seu momento de lucidez fora interrompido pelas vozes rígidas de seu mentor “Vá, apresse seus passos, jogue o corpo no rio e me encontre na viela, hoje você me conhecerá pessoalmente”. Impressionado com as novas ordens e empolgado com a possibilidade de estar frente a frente com seu mentor, pôs-se imediatamente a cumprir de forma eficaz e urgente os mandatários de seu mestre. *** Caminhando rumo ao desconhecido, era essa a sensação estranha que teimava em afligir o coração sombrio de Hugger, aprisionado por seus algozes, sentia naquele tenebroso vale, a ira constante e impiedosa de seus antigos senhores, dores indescritíveis, e a ameaça de tornar-se desfalecido em sua própria
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consciência, se fazia presente na pouca lucidez que restava, já não a sentia mais, a razão se exauria passo a passo, naquela fúnebre paisagem, não encontrava saída, apenas às inúmeras almas que sofria do mesmo pavor, não havia justiça, nem ao menos regras, os amontoados espíritos se agrediam mutuamente em busca de restos de comidas, que eles acreditavam saciar a fome meramente mental. Fantasia da mente insana de vida presa a matéria, torturavam os mais fracos, subjulgando-os a fazerem suas vontades, iludindo com proteções fantasiosas os obrigando a obsedar irmãos encarnados procurando sugar suas energias vitais. Hugger estava preso a um sofrimento sem razão, sua consciência se perdia velozmente, já não existia luz, nem propósito que o colocasse de volta aos sentidos racionais, seus carrascos o deixava imerso em energias trevosas, criando cenas assustadoras em sua mente doente, o velho cientista perdia sua capacidade de discernimento e sua mente antes seu maior triunfo, rica em criatividade, tornava-se seu maior inimigo. Apressando o processo de degradação de seu períspirito ao tomar a decisão de utilizar sua invenção para o bem, apenas facilitou o trabalho da Legião em puni-lo pela traição, logo sua forma tomará a imagem de um réptil e em seguida apenas um ovóide, sem consciência, sem utilidade, uma verdadeira e perversa morte espiritual.
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Faltava pouco para a grande caravela atracar na costa da América central, local que há minutos antes se devastara com o imenso terremoto, um verdadeiro pandemônio se instalou naquela pobre nação, o que era uma pacata cidade via-se como um imenso amontoado de entulhos, milhares de corpos se estendiam ao longo das estradas, tornando mais assustador o cenário da destruição, vários bombeiros e sobreviventes tentavam quase que inutilmente salvar os feridos e soterrados que ainda jaziam em gritos tenebrosos pedindo socorro. Ao atracar na costa, Tobias imediatamente ordenou aos guardiões que protegessem a área complementando a cúpula energética que se apresentava ao alto, já criada pelos guardiões que guardava o local, Lara junto a Maria, foram se colocar à parte aos irmãos socorristas da situação em que se encontravam os desencarnados. Era uma visão espantosa, me coloquei pasmado diante das inúmeras vitimas que se lançavam cegos e desesperados, ainda sentindo o sufocante e pesado escombros que aprisionavam seus corpos, ainda não tinham o esclarecimento de que haviam desencarnado. Jamal junto a Tobias iniciou a ação de um pequeno grupo de resgate para levar estes irmãos aos vários postos de socorros espirituais espalhados no continente.
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Mas eu ainda pensava em André, mas me mantinha calmo com o nobre amigo, pois tinha a certeza de Tobias que logo o veríamos bem. Do alto chegavam milhares de espíritos de luz, eram os socorristas, enfermeiros e médicos, em missões de resgate, a todo canto energias de amor e caridade chegavam como velozes pontos luminosos originários das casas espíritas e das orações de irmãos em todo o globo. Os espíritos que tinham desencarnado na tragédia eram acalentados por essa energia e levados rapidamente aos socorros espirituais. O sofrimento era tamanho, que atraia espíritos trevosos, em busca de vitimas para seus propósitos nefastos, os guardiões interpelavam esses intrusos os inibindo com grande magnetismo de vibrações elevadas. Eu tentava auxiliar os irmãos socorristas, era uma tarefa árdua e tortuosa, Tobias sempre pedia para que as vibrações se mantenham em constante elevação, para que o trabalho tenha êxito e não venhamos a ser alvo de influências inferiores.
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Após o maravilhoso café completado pelos suculentos biscoitos de Dora o Faroleiro convidou André para uma caminhada. - Vamos caminhar um pouco André. Disse o nobre faroleiro André entusiasmado pelo encontro resolve acompanhá-lo, Dora se despede com um lindo sorriso, começando a preparar uma maravilhosa torta. Os dois irmãos iniciam a caminhada pelos extensos vales verdejantes daquela terra estranha. - Gostaria de lhe mostrar nosso mundo André. - Adoraria conhecê-lo. Concordou. Em algum momento da nossa efêmera existência na terra, acreditamos em sonhos, mas o que seria nossos sonhos, senão apenas uma forma tão sinuosa de nos fazer caminhar. “Já teve sonhos André?” - Alguns! Mas nenhum que tenha movido totalmente minha vida, na realidade nunca consegui encontrar as verdadeiras motivações da minha existência. - Talvez porque você nunca desejou tê-las, um dia preferiu abrir mão daquilo que nos move, com medo de nunca mais ter a verdadeira condição de consertar seus erros. André olhou fixamente para o Faroleiro, não sabia como e nem porque, mais alguma coisa o fazia entender suas palavras.
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- Olha este céu. Disse o faroleiro apontando para as lindas nuvens multicoloridas. - É lindo! Tão perfeito que parece uma pintura. Disse André abrindo um largo sorriso. - Mas podemos dizer que é uma pintura. – De Deus! Afirmou André interrompendo. - Sim e não, mas uma pintura da sua mente. Tudo aqui André é construção de uma imaginação, não aquela ilusória, mas mental. Neste nosso mundo o físico torna-se irreal e o imaginário se torna real. - Então sou capaz de apenas pensar e criar? Perguntou André ainda um pouco descrente. - Com certeza, faça um teste. Desafiou o faroleiro. - Posso voar? – Porque não? O céu é tão convidativo seria um grande passeio. André fechou seus olhos e pensando profundamente se imaginou voando, ainda com olhos fechados percebeu que o vento tornarase mais forte. - Abra os olhos André. Disse o faroleiro. Ao abrir seus olhos, se assustou com a altura em que se encontrava. Num misto de medo e entusiasmo, abriu seus braços procurando nadar no vento, seu coração parecia explodir em sua
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alma, entre cambalhotas e mergulhos, parecia uma criança que descobre um novo brinquedo. - Isto é incrível! Gritou André. - Não é incrível? É a vida meu irmão! Respondeu o faroleiro dando gargalhadas pela alegria do irmão. - Como desço? Perguntou ainda cheio de excitação. - Apenas feche seus olhos e imagine! André seguiu as orientações de seu amigo e suavemente posou ao seu lado. Abrindo seus olhos sem conseguir inibir seu sorriso disse: - isso é maravilhoso! O nobre faroleiro o abraçou e continuou a sua caminhada. - Tudo isso parece um sonho, às vezes acho que ainda estou dormindo. Disse ainda eufórico pela experiência. - Mas André o que é o sonho senão apenas um pequeno passeio em nosso mundo. Você é apenas uma centelha de luz, que pode viajar na velocidade de um pensamento, e criar na benevolência de vossas ações. - Então onde mora esta centelha, em minhas mãos, em meus olhos? - em sua mente! Respondeu o faroleiro apontando para testa de André. - Mas porque tenho este corpo se sou apenas uma centelha?
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- Porque você ainda precisa se ver neste corpo, para aceitar sua existência. - às vezes acho sem propósito nossa criação, somos tão pequenos e insignificantes neste mundo, porque Deus precisou nos criar. - André, existem afirmações que fogem as nossas compreensões, mas uma coisa é fato, se não existíssemos a própria existência de Deus seria inútil, seria sem propósito, seria sem porque. Logo entendemos que a nossa humilde insignificância oferece a Deus sua significância. Neste emaranhado de espíritos, de mundos, de vidas, todos nós independentes de nossas escolhas, de nossas ações somos parte de uma grande engrenagem. Minhas mãos auxiliam suas mãos que um dia auxilia e auxiliará outros e assim, por conseguinte. Formamos uma rede eterna de ligações, e entre todas as nossas experiências de vidas, construímos a moral, os ensinamentos e a divindade da Luz, logo, essa grande e eterna rede permite que esta luz seja também eterna, e o que seria a luz, senão a própria existência de Deus. Mas não a sua origem, mas o seu propósito de existir. - Porque me fala sobre tudo isso, e porque não a todos jaz esse conhecimento? Perguntou André intrigado. - Simples! pois nem todos ainda conseguem entender e aceitar estas verdades.
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- Mas porque eu? - Porque você André faz parte desta verdade. Após caminhar por alguns minutos, André se deparou com uma das mais esplendorosas vistas, um imenso vale se estendia logo abaixo, adornado por imensas colunas contendo inúmeros livros, ao centro, espíritos das mais variadas épocas flutuando ao longo da imensa biblioteca ao ar livre, suavemente era possível ouvir uma linda orquestra proporcionando uma atmosfera de tranqüilidade ao lugar. Extasiado pela maravilhosa biblioteca, André se coloca petrificado frente a colossal obra. O nobre faroleiro percebendo o espanto do irmão o abraçou com grande calor lhe dizendo “seja bem vindo André ao jardim do conhecimento”. - este é alguns dos locais onde disseminamos o conhecimento entre os espíritos, daqui parte as maiores inspirações para a humanidade, ao longo dos séculos e conforme os merecimentos e a evolução humana, enviamos o saber para nossos irmãos encarnados. - Nossa, são como grandes bibliotecas secretas. Disse André. - Mais ou menos isso, mas não são secretas, apenas protegidas. Como já lhe disse, as informações são passadas conforme seu uso possa se fazer presente e possível para os irmãos na terra.
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André se encontrava deslumbrado com a grandiosidade daquela biblioteca, um verdadeiro cenário surreal, ainda procurando compreender tantas surpresas, olhou atentamente cada detalhe daquele local, o nobre orixá cautelosamente o levou a uma das mesas de leituras onde um senhor de idade, trajando grande sobretudo estava sob uma compenetrada leitura. - André gostaria que conhecesse um grande amigo. Disse o faroleiro interrompendo a leitura do senhor. O homem retirou seus óculos de leitura e apertou os olhos para ver melhor o jovem que lhe era apresentado. – Nossa, a cada vida você parece cada vez melhor. - o Senhor me conhece? Perguntou André surpreso. - é claro meu amigo, mas vejo que você não lembra de mim, afinal ainda está encarnado. Então me apresento novamente, meu nome é Atanael, e por muitas e muitas vidas fomos grandes amigos. - Nossa como não consigo me lembrar? - não se preocupe meu irmão isso é muito comum, o importante é que você me parece muito bem. Quando me falaram de sua presença percebi que algo muito grave estava ocorrendo. - O que minha presença faz de tão especial. Perguntou André. Atanael olhou fixamente para o faroleiro com olhar espantado e comentou: - Ele ainda não sabe?
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- Não é o momento. Respondeu. - Mas do que vocês estão falando, porque de tantos mistérios? Exclamou André se mostrando irritado com tantos segredos. - Fique calmo meu irmão, tudo ao seu tempo. lembrou o faroleiro. - Entendo sua aflição meu irmão. Disse Atanael colocando novamente seus óculos. - Se é um espírito, porque ainda não enxerga bem? Perguntou irônico André percebendo a necessidade dos óculos. - Vícios meu irmão, vícios da vida na terra, que eu ainda não abandonei. Respondeu seguido de uma discreta gargalhada. - André vou resolver algumas questões e já volto, fique a vontade, o nobre irmão Atanael lhe fará companhia. Disse o faroleiro desaparecendo em seguida. - Você disse que me conhece de outras vidas? Perguntou André. - Sim, mas isso é uma história para outro momento. Respondeu Atanael fechando um grosso livro que lia. - Vê essas imensas estantes, são sabedorias de milênios, mas nem todos nós estamos autorizados para ler. Disse Atanael se levantado em direção a uma estante. Ao colocar o livro que lia em um espaço vago, André percebeu que se tratava de filosofia celestial de Aristóteles. Percebendo a observação do amigo, Atanael esclareceu:
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- é meu irmão! Muitos ainda continuam a escrever seus pensamentos aqui no outro lado da vida, este livro, por exemplo, ainda irá inspirar muitas gerações na terra, aguardamos apenas a hora certa de enviar essas informações para os homens encarnados. - Será como uma psicografia? Perguntou André. - Na verdade, será uma inspiração. Como tudo que ocorre hoje na terra. Tudo provém de uma inspiração celestial vinda de nosso plano. Grandes descobertas cientificas, criações belíssimas da arte e de outros segmentos são muitas das vezes inspirações enviadas por nós. - Veja! Nessa imensa biblioteca guardamos conhecimentos de gerações passadas e futuras, assim como troca de conhecimento com outros planetas amigos, como informações vindas de Óriom, local de onde vim e Capela um planeta muito importante para a terra. - Capela! É um nome que me lembra alguma coisa. Disse André coçando a cabeça. - Certamente você conhece, afinal muito dos irmãos deste planeta veio um dia de lá. São emigrantes celestes. - Como assim emigrantes? Perguntou demonstrando-se confuso.
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- Cada planeta é a morada de espíritos que estão numa jornada em busca de suas evoluções espirituais. - a busca pela purificação? Disse André lembrando de algumas orientações que recebeu quando criança de sua mãe espírita. - Correto, cada planeta representa um ciclo de desenvolvimento, como se fosse uma série de escola. Existe o Planeta de mundo primitivo, onde se reside espíritos em estado primitivo de evolução, destinados à encarnação de Espíritos ainda saídos das mãos do Criador. Mundos de Expiação e Prova que correspondem a mundos em que ainda predomina o mal. A superioridade da inteligência, num grande número de seus habitantes, indica que eles não são um mundo primitivo. Suas qualidades inatas são a prova de que os Espíritos ali encarnados já realizaram um certo progresso, mas também os numerosos vícios a que se inclinam são o indício de uma grande imperfeição moral. Este é o estado atual da terra, têm por caráter comum servir como meio de expiação aos erros do passado e apresentar provas para o futuro, onde, através das dificuldades, da luta, enfim, contra as más inclinações os Espíritos ali vinculados poderão alçarse a globos menos materializados.
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- Existe também o Mundo de Regeneração, que servem de transição entre os mundos de expiação e os felizes. As almas que busca uma evolução consciente, neles encontram a paz, o descanso, e os elementos para avançarem, mas nesses mundos o homem ainda está sujeito às leis que regem a matéria. A humanidade ainda experimenta as nossas sensações e os nossos desejos, mas está isenta das paixões desordenadas que nos escravizam; Neles não há mais orgulho que emudece o coração, inveja que o tortura e ódio que o asfixia. Nesses mundos, contudo, ainda não existe a perfeita felicidade, mas a aurora da felicidade. Os Espíritos vinculados a eles necessitam muito evoluir, em bondade e em inteligência. - Até que encontramos os Mundos Felizes, São aquele onde o bem supera o mal, a matéria é menos densa, o homem já não se arrasta penosamente pelo solo, suas necessidade físicas são menos grosseiras, e os seres vivos não mais se matam para se alimentarem; o Espírito é mais livre, tem percepções que desconhecemos, e a mediunidade intuitiva é bem mais evidente do que entre nós; a intuição do futuro e a segurança que lhes dá uma consciência tranqüila e isenta de remorsos fazem que a morte não lhes cause nenhuma apreensão;
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Continuou Atanael: - a duração da vida é bem maior, pois o corpo está menos sujeito às vicissitudes da matéria grosseira; a infância existe, mas é mais curta e menos ingênua; a autoridade é sempre respeitada, porque decorre unicamente do mérito e se exerce sempre com justiça; a reencarnação é quase imediata, pois a matéria corpórea sendo menos grosseira, o Espírito encarnado goza de quase todas as faculdades do Espírito; a lembrança das existências corpóreas é mais precisa; as plantas e os animais são mais perfeitos, sendo os animais mais adiantados do que na Terra. - E por fim temos os Mundos Celestes ou Divinos que é onde se localiza a morada dos Espíritos purificados, onde o bem reina sem mistura. - Capela assim como outros planetas estão também em evolução, e num determinado período se encontrava na transição de um mundo de Expiação e provas para um mundo de regeneração, e os espíritos que não conseguiram seguir a evolução do planeta foram levados para um mundo condizente com suas evoluções. No caso de Capela, os capelinos que não tinham suas evoluções de acordo com o mundo de regeneração foram trazidos para a Terra, que tinha passado de mundo primitivo para mundo expiação e provas. O objetivo era que estes irmãos auxiliassem
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com seus conhecimentos os espíritos daqui que ainda engatinhavam na roda da evolução. Este fato chamamos de migração de espíritos. - Nossa que viagem! Exclamou André. – e por acaso eu faço parte destes espíritos? - bem meu irmão, isso você ainda vai descobrir. Disse Atanael pousando seu braço nos ombros de André. - vejo que todos os espíritos possuem uma função aqui neste plano. Ainda estou muito confuso, pois algumas horas atrás eu estava numa grande caravela com meus amigos e de repente me encontro junto a um homem que se diz ser um orixá e depois vejo toda essa construção. Na verdade estou é muito confuso. - Imagino! Mas é preciso ter calma, pois você esta recebendo muitas informações privilegiadas, pois não é todos que tem a autorização para transitar neste local. - André este mundo, este plano é imenso, existem vários ambientes, construções mentais de espíritos da mais alta estirpe, o nosso irmão Faroleiro, que muitos vêem como orixá, é um espírito de alto grau evolutivo, a imagem que vemos aqui personificada, é uma parte da sua grandeza, digamos que o que você e eu vemos é apenas 1% do espírito deste irmão. Pois sua evolução, sua luz é tão
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purificada que nossos olhos espirituais e nossa mente não agüentaria vê-los. - Mas ter a permissão de encontrá-los é raro, nobre e um grande privilégio, você com certeza deve entender que todos os espíritos que tem acesso a este local, pertencem a uma eximia categoria evolutiva. Nosso encontro não foi por acaso, vale ressaltar que você já percebeu que acaso é algo inexistente. - Realmente cada espírito possui uma função determinada, temos irmãos que atuam nos resgates aos espíritos que estão desencarnados, porém perdidos nas suas prisões mentais, têm irmãos que fazem parte da maravilhosa falange de guardiões que auxiliam na guarda de nossas jornadas e muitos outros, logo você entenderá sua participação nisso tudo, em poucos momentos você irá recuperar sua memória espiritual e compreenderá melhor tudo que para você ainda se apresenta como mistério. - Mas sua mente ainda esta apegada aos pensamentos materiais, devido ao fato de você ainda esta encarnado, esse desprendimento demora e sua ansiedade acaba atrapalhando. - Entendi, mas me incomoda o fato de eu não conseguir ainda respostas para minhas perguntas. Disse André demonstrando ainda certo desconforto.
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- Compreendo sua aflição, venha comigo. Os dois irmãos se dirigiram a uma estante de livros blindada por uma imensa parede translúcida, Atanael ergueu suas mãos que atravessaram a parede como se fosse mágica, e pegou um pequeno livro de cor vermelha. - Veja André, este livro irá lhe ajudar na sua caminhada aqui em nosso plano. André imediatamente abriu o livro e se espantou com as descrições, uma língua estranha se apresentava para seus olhos. - Mas eu não estou entendendo nada, como vou ler esse livro? - Bem, você irá conseguir, esse é seu diário e foi escrito por você. Digamos que é uma aquisição muito valiosa para nossa biblioteca. - Que legal, cada vez que procuro respostas vocês me oferecem mais dúvidas. Falou André um pouco decepcionado, guardando o pequeno livro em seu bolso. - Mas Atanael você não me disse qual a sua função neste mundo. - Ele é o barqueiro. Falou o Faroleiro interrompendo a conversa chegando ao lado de Dora. - Barqueiro? Perguntou André. - Sim! Disse Atanael completando: – Minha função é gerenciar as equipes que fazem o corte dos fios de prata ou fios liames, promovendo o desencarne de nossos irmãos encarnados. Fazemos
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a passagem de seus espíritos do mundo físico para o mundo espiritual, ganhamos esse nome de barqueiro, devido às lendas mitológicas de que um barqueiro levava os mortos para o céu. - Nossa! Exclamou André. - É um trabalho muito árduo e de alta importância, pois o desprendimento de energia no momento do desencarne é muito grande o que leva a cobiça de alguns espíritos trevosos em busca de energia vital. Continuou Dora. - Atanael, é um dos principais coordenadores dessas equipes, e sabe lidar bastante com as energias que oferecemos para a esta tarefa. Completou o Faroleiro. - Nossa Atanael, digamos que você é a morte! - Bem meu irmão André! Vamos dizer que a morte é um estado do corpo físico, e que auxilio na transformação natural que deixa o corpo físico nesse estágio, é claro que ao longo dos tempos os encarnados construíram a idéia de a morte parecer com um ser personificado, com vestes fúnebres e imagem esquelética carregando um ceifado, e as pessoas que não possui a mente desperta para a verdade, quando vê um anjo da morte, o identifica sob essas características, quando na verdade são irmãos belíssimos, com trajes brancos e feições de grande respeito e carinho.
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- Quando cumprimos com nossas tarefas, que para alguns é uma pena ou punição, nós ficamos muito contentes, pois sabemos da importância e benção da missão. - O retorno a nossa pátria espiritual no momento da morte é um grande choque para a consciência do homem, que ainda carrega as impressões da matéria. Completou Dora. - Neste momento a consciência e o juízo do desencarnado se desprende fazendo uma retrospectiva da vida do espírito, ele analisa sua caminhada vendo os passos errados e certos da jornada na terra, muitos carregam em sua consciência tanta culpa, que acaba dando importância apenas nas suas falhas, criando prisões mentais, ficam presos a estados hipnóticos e de fascinação, que não aceitam seu próprio julgamento e as vezes não acreditam na morte, se prendem a uma dimensão paralela, e continuam as vezes nas suas casas ou cidades, sem muitas das ocasiões ver os encarnados, acreditam estar loucos e passam a obsediar lugares ou pessoas, suas prisões em alguns são tão profundas que os levam ao isolamento espiritual, sendo vitimas fáceis de outros espíritos inferiores que povoam as mesmas culpas e prisões mentais, construindo assim verdadeiros mundos, o que chamamos de umbrais.
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- Lá vivem uma vida predatórias, onde os mais fracos são subjugados, a degradação mental se amplia de tal forma que o ambiente fica cada vez mais primitivo, e pelo cruzamento excessivo
de
pensamentos
degradantes
ficam
sombrios,
pantanosos e assustadores. - Por isso, a equipe de barqueiros, socorristas e médicos, fazem um grande trabalho na preparação destes desencarnes, é claro que respeitando o merecimento e o livre arbítrio de cada espírito. Nosso irmão Atanael faz um primoroso trabalho, treinando, selecionando e orientando essas equipes. Disse Dora - Uma função muito importante para um extraterrestre. Falou André descontraindo a conversa. - é Verdade, mas assim como ele, muito outros irmãos vieram de outras orbes como Atanael já lhe explicou. Falou o Faroleiro com um grande sorriso no rosto. - Assim como você também André, um grande viajante de Capela. Disse Dora pousando sua mão no ombro do irmão. - Então sou um emigrante? - Sim! Disse Atanael. - Vamos meu irmão, temos muito ainda o que conversar. Falou o Faroleiro.
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- Atanael foi muito bom conversar com você. Espero vê-lo novamente em breve. Ou melhor, não tão breve. Disse André causando grandes risadas. - Pode deixar André, quando chegar à hora irei pessoalmente buscá-lo ao retorno a pátria espiritual. Brincou Atanael dando um forte abraço no velho amigo. André e os orixás caminharam de volta a pequena choupana. - Nossa então sou um capelino? - Isso mesmo André, vejo que ficou bastante intrigado! Exclamou Dora - Com certeza, pois fico imaginando quantas coisas vivi, e muito que tenho a me lembrar. - Como é Capela? Perguntou André. -
Bem,
uma grande
civilização,
muito
mais adiantada
tecnologicamente e moralmente que a terra, um mundo onde o mal já não predomina como aqui. Mas um dia com certeza você e os outros capelinos voltarão a sua terra natal. Respondeu o Faroleiro. - André! Sei que muitas dúvidas ainda o atormentam, mas tenha calma, pois os próximos acontecimentos que você junto a seus amigos viverão, irá exigir muita concentração, as respostas irão aparecer ao passo que você conseguir acalmar sua mente.
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Você é um espírito que carrega uma grande bagagem espiritual e possui muito conhecimento. Tudo será esclarecido, mas ao seu tempo. Certo? Muitas dessas construções monumentais que esta vendo aqui, foi construído com sua ajuda, o Jardim do Conhecimento, por exemplo, fora ampliado com seu auxilio. Contou Dora com seu doce carinho. - Nossa! Exclamou André espantado. - Mas muitas encarnações foram necessárias, a última grande leva de Capelinos chegou a mais ou menos 11000 anos antes de Cristo. E cada um que aqui chegou, tem sua parcela de importância na evolução desse planeta, bem como, a evolução pessoal de cada um. Continuou Dora que em instantes modificou seu olhar. - Um grande terremoto de proporções calamitosas ocorreu na terra, muitos irmãos desencarnaram de forma trágica e devido ao repentino desencarne estão ainda presos ao sofrimento material, seus amigos já chegaram ao local do acidente e estão auxiliando nos resgates dos irmãos, logo você deverá se juntar a eles e continuar a jornada, pois os responsáveis por essa tragédia foram a Legião das Sombras e precisamos muito que vocês impeçam novos ataques. Deixo você em companhia de meu irmão e vou auxiliar no equilíbrio das energias para os resgates. Disse Dora se despedindo de André.
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- Dora! Posso lhe fazer uma pergunta. - Claro André. - Qual Orixá você é intitulada pelos irmãos na Terra? - Bem muitos me chamam de Oxum, mas ainda prefiro que me chame de Dora é menos místico. Respondeu com um belo sorriso. - Dora é uma grande irmã, assim como outros cinco espíritos nosso trabalho é muito árduo, mas satisfatório. Falou o Faroleiro vendo Dora desaparecer na caminhada. - A terra é um grande planeta. Disse André - é verdade! A terra é um grande laboratório, e nos oferece uma enorme quantidade de informações, são comportamentos, escolhas, conseqüências, que nos permitem aprimorar nossas ações aqui neste nosso mundo. - Você acha André que fazem morada na terra, apenas os espíritos que precisam evoluir e pagar suas dividas? Pois saiba, que muitos irmãos fazem verdadeiras peregrinações e missões voltadas para vários propósitos, existem os missionários que tem como objetivo adiantar o processo evolutivo da humanidade com seus conhecimentos, temos os observadores que nos alimentam com informações vitais de suas vastas observações do mundo encarnado, temos os protetores com missões de proteger certos
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conhecimentos e alguns irmãos importantes para a evolução da terra, na qual preparam a ascensão destes espíritos. - Digamos, que nesta borbulhosa trama de propósitos, as imperfeições humanas nos permite bilhões de possibilidades para as mais variadas escolhas. Mas para tudo isso funcionar é necessário um equilíbrio, é o que as leis divinas regem e protegem. - Nós orixás como somos conceituados na terra, um dia fomos tão pequenos como cada espírito que habita hoje em carne este planeta, lutamos e caminhamos em busca de nossa eterna evolução, galgamos passo a passo nossas escadas na cadeia celestial e hoje somos responsáveis por gerir as energias que compõe os elementos existentes neste orbe. - Afinal tudo precisa de energia para ter existência, tanta energia acumulada nos elementos do planeta seria um risco sem controle, por isso auxiliamos nosso irmão Jesus na governança deste mundo. - Mas porque vemos na terra tanto misticismo em torno de vocês? - pois André, a humanidade tende sempre a complicar o simples, cada cultura que predominou na terra trouxe um pouco deste misticismo para nós, nos tornamos deuses, entidades místicas, que nos deixou mais longe do humano, no entanto, ajuda a nos perpetua
na
mente
do
homem,
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levando-os
a
entrar
constantemente em nossa sintonia, oferecendo a todos a possibilidade de utilizar-se de nossas energias para os passos da caminhada de suas jornadas. - É claro que muitos utilizam essa energia para o mal, nós não o fazemos, pois gerimos a energia, para que a mesma não entre em desequilíbrio, sendo letal para vossa compreensão, mas ela está lá a disposição de qualquer um, e sua utilização é permitida pelo livre arbítrio, mas o propósito cabe a cada um, é uma escolha individual e impossível de ser impedida. - Então cada um de vocês ajuda a equilibrar estas energias? - sim, são essas energias que permitem que a roda da vida gire corretamente, e ofereça o cenário necessário para a existência dos mundos, tanto o físico como o etéreo a qual estamos neste momento. - Veja André. O faroleiro levantou suas mãos acima do lago, e surgiu de forma tridimensional o planeta terra, a cada movimento dos dedos do Faroleiro acendia na imensa projeção holográfica os elementos que eram governados por ele, André ficou impressionado em como os elementos mais simples como as rochas se ligavam aos seres humanos e como cada elemento formava uma simbiose na vida.
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Após essa demonstração, o nobre Faroleiro deu um breve sorriso para André, que retribuiu a imensa honra de conhecê-lo. - Cada elemento existente no Universo se liga e se completa, veja não existe nada que se perde, que desaparece na Terra, tudo se transforma mais continua lá, é claro que com novas formas e nova evolução, para cada transformação os elementos estagnam ou evoluem, mas nunca regride, uma rocha hoje se transforma num belo minério, e um dia um ouro, que após sua transformação pode dar origem a uma vida biológica, animal ou vegetal, por isso o carbono segue como elemento básico para todas as formas materiais na Terra, é o registro físico da ligação de todos, como um DNA que demonstra tal ligação. - A reencarnação, também oferece essa transformação, pois é a ligação do mundo espiritual com a matéria, o espírito se utiliza das energias e elementos dispostos no Planeta para sua estadia, e ao partir seu corpo material retorna para a Terra, dando origem a outras formas e elementos. - “Do pó vieste e para o pó retornará” Disse André. - Correto meu irmão! Tudo esta interligado, por isso as energias devem ser equilibradas para que as transformações ocorram sem perda e sem excesso.
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- Essas energias e elementos estão à disposição de todos, como um grande supermercado, basta querer e saber manipular para os interesses de cada um. No entanto, alguns ainda utilizam para o mal, pois seu livre arbítrio o permite tal decisão, mas a cada mal existe um retorno, pois a lei do equilíbrio mantém a justiça divina, e a mesma energia empregada no mal, se transforma e dar subsídios para a formação da sombra, das trevas e da maldade. - Mas essa energia empregada é também enviada para cobrir a lacuna deixada e oferece ações de justiça contra aquele que a utilizou de forma incorreta. É a chamada justiça divina, que nunca falha. - Entendi! Mas o mal se alimenta dessas energias, criadas pelas nossas escolhas? - Sim! Pois cada decisão tomada reflete em um desprendimento de energia e por seguinte reage dando origem a uma conseqüência, é o que chamamos de causa e efeito. - Nós Orixás, ou Faroleiros, controlamos tal concentração de energia, e podemos em determinadas situações aumentar a energia disponível, mas jamais diminuir. - Cada individuo segue na jornada como uma pilha se carregando de um pequeno estoque de energia, que ao longo se descarrega, essas energias o permite ter forças para criar conseqüências, doar
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energias para outros seres, carregar ou descarregar elementos, ambientes e gerir seu corpo físico, espiritual e sua caminhada. Mas é claro tudo isso pode ser usado para o bem ou para o mal. Mas cada qual com a sua conseguinte conseqüência. - Alguns irmãos conseguem aumentar essa carga energética, pois alcançam maiores sintonias com nossas vibrações, desde o principio da vida espiritual, quando apenas eram o principio inteligente, força intuitiva que anima o reino mineral, depois o reino vegetal, o reino animal, até alcançar o reino hominal, onde se torna espírito inteligente, em cada elemento que este espírito estagiou ele acumulou influencias energéticas de cada vibração de nós Orixás, e aquele que predominou em sua jornada evolutiva, passa a acompanhá-lo com mais influencia devido a sintonia criada no seu desenvolvimento de principio inteligente até espírito, é o que alguns irmão na terra chama de Orixá de frente ou coroa. - Já ouvi muito falar disso, disseram que meu Orixá de frente era Ogum! Você! Disse André sorrindo e entusiasmado pelos ensinamentos que estava recebendo. - Isso mesmo André, minhas energias auxiliam seu espírito na caminhada, como as vibrações de Dora que também lhe oferece forte sintonia. Mas somos apenas transformadores dessa energia,
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servimos como gestor e maior manipulador dessa força, a sua origem vem da força criadora de Deus, que a depositou no universo, essa força circula livremente se não fosse controlada por nós, e se alimenta pelas variadas transformações ocorridas na vida, tanto material como espiritual. São sete vibrações elementares que se cruzam de forma acelerada no universo, por isso somos sete irmãos responsáveis por essa gestão. Damos auxilio ao governante deste mundo nosso irmão maior Jesus Cristo. - Que honra! Tudo isso é tão grandioso, jamais imaginária tal grandeza, essa energia também tem haver com a capacidade de cura de alguns irmãos, me lembro de algumas vezes que minha mãe me levava para receber passes de cura na minha infância? - Sim! Pois assim como alguns irmãos conseguem aumentar esse estoque pessoal de energia, alguns conseguem distribuí-la, beneficiando outros irmãos na cura das suas enfermidades. - Mas meu amigo, a cada dia que passa vejo mais e mais pessoas encarnadas e já pude perceber que muitas outras estão aqui, de onde vêm esses irmãos, são ainda migrações de outros planetas? - Boa pergunta André, vejo que já entrou na sintonia de nossas mentes, as migrações não cessaram, mas o que você vê também é à força da energia predominante. Bem, como eu disse toda matéria
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possui energia, que por sua vez nunca se perde e sim se transforma. Certo? - A força criadora de Deus nunca para, Deus cria a todo instante, mas lembre-se que você, eu ou qualquer outro irmão foi criado a sua imagem e semelhança, e como fazemos parte de Deus também possuímos sua força criadora, pois a cada transformação o espírito desprende o que chamamos de força essencial ou centelha primária, é a partícula mais próxima de Deus, digamos ser o gen principal da nossa formação molecular que demonstra nossa origem, da essência Divina. Imediatamente assim que desprendida esta força essencial ocupa a lacuna deixada por uma transformação, e de acordo com o elemento formado por essa lacuna essa força essencial passa a receber a energia provinda da governança dos equilíbrios, ou seja, de uma das vibrações de nós Orixás, essa força essencial ao receber essa energia se torna um principio inteligente que futuramente se tornará um espírito, que por sua origem passa a carregar uma afinidade genética, é o que chamamos de almas amigas ou almas gêmeas, que tem sempre essa afinidade genética aflorada, para receber auxílios e afeto na caminhada evolutiva de outros irmãos, que logo por intuição os identificam. - Então o Cassiano, por exemplo, pode ser uma alma amiga?
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- Sim pode, mas não se esqueça André que durante nossa caminhada evolutiva conquistamos novos amores, novos amigos que nada tem haver com nossas afinidades genéticas, mas sim afinidades advindas da fraternidade. - Feche seus olhos André precisamos ir rapidamente visitar um local. André sem pestanejar fechou seus olhos e após a ordem do Amigo faroleiro os abriu e se viu em um beco numa cidade da terra.
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Alberto tremia de nervoso, um misto de pavor e entusiasmo tomava conta de seu coração, após jogar no rio o decrépito tapete velho que embalava o corpo gélido do jovem militar, se sentiu sujo carregando em si, as pistas de seu homicídio. Mas sua culpa dava lugar à lealdade ao seu mentor, não via a hora de chegar ao local marcado, para testemunhar mais uma de suas mediúnicas faculdades, a clarividência, seu mentor prometeu aparecer para ele no beco, e logo lhe oferecerá maiores ordens para sua ascensão como um grande espírita. Já passou da uma da manhã quando Alberto chegava ao local marcado, pálido pelos últimos acontecimentos, se colocava inquieto a espera do grande momento. Sombras obliquas ofereciam ao local uma atmosfera de pavor, digna de filmes de suspense, o médium teve o silêncio interrompido pelas vozes ríspidas de seu mentor. – Feche seus olhos Alberto, logo estarei a sua frente. Alberto sem pestanejar fechou seus olhos, apertando-os com bravura, suas mãos tremiam de medo, e um frio arrepiante subia pela sua espinha dorsal. - Abra seus olhos meu querido protegido. Alberto abriu seus olhos e se deparou com um homem alto, forte, trajando um capuz branco, a fraca iluminação da rua permitiu apenas que o médium percebesse um cavanhaque bem cortado e olhos dourados, os traços fortes do rosto foram ampliados pelas sombras predominante no beco. Alberto entusiasmado pôs se de joelhos diante de seu mestre.
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- Obrigado Deus por me permitir conhecer meu mentor, um verdadeiro querubim. Bradava Alberto aos pés de seu mestre. - Bom menino, Alberto você será recompensado por sua lealdade, pois muitas maravilhas iremos fazer juntos. Disse o suposto mentor oferecendo sua mão direita para o beijo respeitoso de seu pupilo. Impávido com a cena que assistia, André se colocava em silencio a alguns metros de distância, seguindo as orientações do Faroleiro. – Apenas observe André. Podia ver uma imensa névoa que envolvia a quilômetros o corpo de Alberto, o nobre Orixá explicou que aquela névoa fora criada pela legião das sombras e seguindo aos pensamentos invejosos, e vaidosos do médium que permitiu tal invasão em sua vida, aquela névoa afastava sua falange e seu mentor, que apesar de conterem grande força não podiam impedir o livre arbítrio de Alberto que preferiu dar direitos ao suposto mestre. O médium como um cão obediente imediatamente beijou a mão de seu mentor, ofuscado pelo brilho de um belíssimo anel de ouro, os olhos de Alberto estavam nublados de tanta alegria. “Agora poderei substituir Nicolau e me tornarei um dos maiores médiuns do mundo, um novo Chico Xavier” Pensava. O suposto mentor o levantou lhe oferecendo novas ordens, pediu para que Alberto fechasse seus olhos e orasse o pai nosso. - Não estou sentindo boas vibrações. Disse André ao Faroleiro. Alberto fechou seus olhos e começou a orar.
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– Pai nosso que estai no .... Fora interrompido por uma dor aguda e angustiante em seu peito, suas forças foram cessadas e nem um grito conseguiu expressar. André aterrorizado, via aquela figura encapuzada cravar sua mão direita dentro do peito de Alberto. – Precisamos fazer alguma coisa! Gritou André sentindo a dor do médium. - Não podemos fazer nada, ele escolheu isso, sua falange esta impedida de lhe proteger, além de estarmos em outra dimensão André. Veja o que acontece com Alberto, ocorre várias vezes na Terra. O centro espírita que ele freqüenta esta sendo cobiçado pelas sombras, como a entrada de espíritos trevosos é permitida como forma de resgatá-los, muitos desses espíritos tentam atingir a casa através dos médiuns, que por sua vez confundem seus dons com poderes e se submetem a mentiras fáceis com o intuito de alimentar suas vaidades ou outros sentimentos baixos. - Ao dar ouvido a este espírito, Alberto mesmo sendo avisado por sua falange, através de sinais, outros irmãos, ele pelo seu livre arbítrio abriu mão de sua proteção e este é o final de sua escolha, o uso inadequado da energia a qual lhe falei. Alberto caiu de joelhos, completamente catatônico, o suposto mentor feriu seu perispirito quase que mortalmente. Caído e sem consciência, mas de olhos arregalados o médium se tornava um verdadeiro cadáver vivo, a loucura transportava sua mente a uma viagem sem volta.
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O Faroleiro pediu para que André observasse o suposto mentor. Nas suas mãos uma luz pulsante fora retirado do peito de Alberto, que não apresentava nenhum sinal de ferimento, “energia vital” disse o Faroleiro, o suposto mentor olhou para cima com ar de superioridade, alongando sua cabeça como se tivera cansado de encenar. Começou a caminhar para o fim do beco, a cada passo suas vestes fora se transformando em roupas escuras e maltrapilhas, sua face bela, dava lugar a uma horripilante imagem, quando uma nebulosa de cor negra surgiu a sua frente. Uma figura bastante conhecida de André apareceu; um Mago Negro, “talvez o mesmo que lutara anteriormente”, pensou André, apenas observando. - Mestre cumpri minha missão, mas achei que poderíamos continuar com este medíocre médium a entrar no centro espírita. Disse o mal trapilho - Você não acha nada! Entregue-me a energia vital. Exclamou o Mago. O Espírito inferior entregou a luz pulsante ao mago que a colocou em uma cúpula cilíndrica aparentemente de vidro. – O que eles estão fazendo? Perguntou André. - Estão armazenando a energia vital de Alberto. - Ele está morto? Perguntou. - Não, apenas em estado catatônico, será considerado louco pela ciência humana. O mago guardou o objeto e com uma espécie de cajado abençoou seu capanga colocando-a em sua cabeça.
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- Bom trabalho, mas até aqui já foi o suficiente. - Mas mestre ainda posso ajudar mais, me conceda mais energia para que eu possa continuar com essa capacidade de influenciar diretamente estes patéticos, tenho contas a acertar com meus inimigos que estão encarnados. - Você acha que os meus propósitos devem se preocupar com os seus? Gritou o Mago dando um choque no capanga com seu cajado, no mesmo instante duas sombras surgiram agarrando sem piedade o infeliz e desaparecendo todos de uma só vez. - Veja André, nas sombras não existe cumplicidade, aquele irmão que esta subjugado pelo Mago, esta sendo levado para uma das prisões da Legião, e a energia vital de Alberto será usada emuma das suas experiências. - O que podemos fazer? Perguntou André. - Precisamos descobrir os planos dos Senhores das Sombras e localizar onde estão sendo mantidos reféns os irmãos que foram seqüestrados no plano material. Você irá se encontrar com seus amigos e juntos irão até um dos umbrais localizados nas áreas inferiores para regatar um irmão que contem grandes informações sobre os planos da legião, para lhe ajudar estaremos direcionando a vocês um Guardião que conhece muito bem essas áreas inferiores para guiá-los e protegê-los nesse resgate. - Como saberei qual será o irmão que devemos resgatar? - Todas informações já foram passadas ao irmão Tobias, que colocará vocês a par de tudo. Meu irmão siga em paz, sua estadia aqui com certeza serviu para
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lhe fortalecer, pois você ainda esta encarnado e precisava ser carregado de uma energia diretamente de nós. Lembre-se que estamos ao seu lado sempre e que o mal não existe, mas apenas é a ausência do bem. André abraçou o nobre orixá com grande alegria e muito agradecimento pelas inúmeras informações. Não o via mais como uma figura mítica e suprema, mais como um espírito de luz, nobre em suas tarefas e de um coração humilde porém superior. - Feche seus olhos irmão e em breve estaremos juntos.
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Capitulo 13 “Quando passares pelas águas estarei contigo, e quando pelos rios, eles não te submergirão; quando passares pelo fogo, não te queimarás, nem a chama arderá em ti.” (Isaias: 43:2 ) Há milênios a.c Anos se passaram após o nascimento daquela pródiga criança, Akhenaton vinha ao mundo com eximias habilidades, despertando desde criança a atenção dos líderes do povoado. Após o seu desabrochar de infância, na qual sua mente ainda precária devido à natureza infantil, sua memória espiritual começou a retornar. Assim como seus antigos seguidores, os Capelinos do novo êxodo renasciam em milhares espalhados pelas civilizações existentes no planeta. Cada qual continham sua bagagem espiritual despertando em suas memórias e pouco a pouco iniciavam a preparação de uma nova era. Akhenaton logo aos 16 anos passa a liderar seu novo povo, rumo a um avanço evolutivo. Sob
olhares ainda desconfiados de seus antigos
subalternos, se prontificou logo a cumprir sua missão. “Uma nova tentativa”, disse Tobias, mentor sempre disposto a lhe orientar.
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Ele se referia ao fato de que os antigos emigrantes, não tinham conseguido cumprir a tarefa de adiantar a Terra, a primeira leva de espíritos construíram uma grande nação, mas se perderam ao longo de sua própria grandiosidade. Ainda era possível ver as ruínas da Cidade dos Portais de Ouro, os atlantes nativos tiveram acesso à manipulação da energia Vril, força bruta controlada pela mente, ensinada pelos estrangeiros, o que disseminou a cobiça por poder e a extinção daquela linda e avançada nação. Naqueles tempos, os estrangeiros eram conhecidos como raça branca, e não conseguiram oferecer de forma prudente tanto conhecimento à espíritos ainda poucos evoluídos. Como nova oportunidade, Akhenaton era visto pelo seu já famoso potencial de liderança, firmeza e destreza com seus seguidores, afinal, se fora capaz de levá-los ao mal, seria fácil conduzir espíritos inferiores a pratica do bem e da evolução. Muito se apostou na suposta reforma de Akhenaton, após perder sua amada Sophia, atentou-se para a inutilidade do poder, mas entendia como ninguém a força da sedução que o mesmo trazia. A cada dia nesse novo Planeta, ele coordenava seu povo, na construção de belíssimas arquiteturas, grande centros de
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aprendizado e primava pela reforma do conhecimento como trampolim para um avanço ético e moral de cada individuo. A noite, logo ao termino de suas atividades, contemplava as estrelas, Capelinos e nativos de outras orbes, buscavam locais mais altos para vislumbrar a constelação do Cocheiro, onde a pátria amada se localizava. Cada construção era uma homenagem às inúmeras terras distantes que os emigrantes sentiam saudades, Capelinos, Orions e outros mais, sentiam a nostalgia ocupar seus corações. “A noite o céu é tão próximo aqui neste planeta” pensava Akhenaton olhando para as lindas e brilhantes estrelas. O céu se estendia de forma sobrenatural, parecia tão perto, a um palmo dos olhos, dava até vontade de tocá-las com as mãos. – Um presente de Deus Akhenaton, para se sentir mais perto de casa. Sussurrou Tobias aos seus ouvidos. Durante décadas o agora adulto Akhenaton, muito revolucionou o Planeta, distribuindo sua liderança e conhecimento aos outros povos guiados por seus seguidores, deu um grande passo para o avanço da civilização nativa, procurou trazer conhecimento, construindo belíssimas bibliotecas, praças de conferências, instigando as discussões filosóficas, deu origem às escolas iniciáticas, onde difundia de forma prudente a manipulação da energia vril.
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A sua grande capacidade de manipulação dessa energia se devia ao fato de ter uma força mental invejável, além da atmosfera terrestre possuir ainda uma vibração branda, longe naquela época das inúmeras projeções mentais de baixa vibração encontrados hoje no planeta. Afinal eram poucos os habitantes encarnados neste orbe. Essa destreza com a energia vril permitia deslocar imensas rochas a quilômetros, auxiliando nas colossais construções. Cada seguidor de Akhenaton seguia a risca suas orientações, pelo menos era o que esperava o grande faraó. No entanto sentia pouco a pouco os comentários de seus amigos, “não vê que temos um mundo só para nós, podemos ser reis eternamente”. Esses comentários assustavam Akhenaton, que sempre repreendeu seus seguidores, o que importava para ele não era mais a sede de poder e sim cumprir com êxito e rapidez a sua missão, pois precisava retornar a Capela e reencontrar Sophia. Tobias e os demais espíritos responsáveis pelo avanço do Planeta davam todas as assistências aos planos de Akhenaton, orientando e oferecendo intercâmbios com outros orbes. Isto o permitia aprimorar suas energias, além de fortalecer seus seguidores na liderança desses povos espalhados pela Terra. ***
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Nicolau ouviu atentamente tudo que tinha ocorrido em sua ausência, seu Mentor o colocou aparte dos acontecimentos. Perplexo e atordoado com as atitudes de Alberto e o fim trágico, porém misterioso de seu amigo de outras encarnações, o dirigente sentou-se na cadeira e pôs-se a orar. Sara e Plínio estavam ao lado da Falange de espíritos que cuidavam do local, há dias que percebiam algumas energias diferenciadas circulando a humilde casa, no entanto nada descobrira. Sabiam da grande importância que tinha o nobre dirigente, e precisavam a todo instante protegê-lo. Após o ataque inconseqüente de Alberto, ficou clara a enorme ousadia da legião, mas como sabiam que Huger Geiger iria procurar Nicolau? Ou será que os propósitos eram outros? Pelo jeito a visita do cientista foi um golpe extremo de azar de Hugger, e uma enorme sorte da Legião. Mas o que intrigava era a presença desses sombrios inimigos, infelizmente, os guardiões não podiam blindar Alberto de suas próprias decisões, percebiam que aquele suspeito irmão, muito solicito e altamente dedicado, trazia a sua volta algumas obsessões, mas não puderam detectar a grandeza das influencias. De sorte, Nicolau fora salvo por seus protetores, mas este posto de resgate corria sérios riscos. Sara identificou uma movimentação vibracional inferior, como numa espécie de radar plasmático, um pequeno aparelho acoplado ao seu pulso, viu aumentar inúmeros pontos brilhantes em volta da casa, arregalando seus olhos, mirando-os em Plínio o avisou mentalmente do sinal.
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- precisamos criar um grande campo de energia em volta desta casa. Disse Plínio. - é muito grande! Não teremos força suficiente. Respondeu Sara - Precisamos tentar. Retrucou o guardião erguendo suas mãos, junto a Sara e os guardiões presentes, criaram uma cúpula energética para defender a casa de Nicolau. Nicolau vendo o ocorrido reforçou suas orações e espantado percebia o que acontecia, o seu pequeno centro espírita estava sob ataque da Legião das Sombras. ***
Ao abrir seus olhos, André se viu no meio de uma enorme pilha de escombros. Imediatamente o avistei de longe. - André! Gritei entusiasmado em vê-lo bem. - Cassiano! Que bom te encontrar novamente, você não pode imaginar tudo que me aconteceu. Disse André sendo interrompido por Tobias e Maria que estampavam uma expressão muito severa. - Você terá muito tempo para contar André, mas precisamos urgentemente ir para outro local, já recebi as novas ordens e temos que partir.
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- Que bom te ver novamente meu irmão, tenho certeza de que seu pequeno passeio foi muito edificante. Disse Maria com todo seu carinho. - Onde estamos? Perguntou André. - Estamos no local de um grande terremoto, veja meu irmão quantas vitimas. Expliquei para meu amigo. André transformou sua face, de grande alegria e entusiasmo para uma enorme expressão de pavor, corpos se misturavam a escombros, espíritos aparentando ferimentos horríveis vagando perdidos ao longo da multidão, milhares de anjos desciam e subiam em grandes aeronaves, transportavam feridos em macas espirituais. Aquela cena jamais seria retratada num filme com tamanha fidelidade de detalhes. “Surpreendente!!!” pensava André. Nos reunimos próximo da embarcação que nos trouxera ao local trágico do acidente, a qual nos informaram sobre a obra da Legião. Aguardando nossa retirada do local, André me foi contando passo a passo sua pequena aventura, mais tarde anotarei cada detalhe, pois as descobertas de meu amigo eram fascinantes. Tobias conversava com Jamal, Lara e Maria, pareciam traçar as novas rotas de acordo com as ordens recebidas, de certo apenas, que segundo André iríamos conhecer mais um irmão que nos
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levaria aos confins umbralinos, essa possibilidade me assustava, mas meu espírito escritor empolgava-se com esta viagem. Tobias reuniu todos em um circulo riscado de forma luminosa na areia branca da costa, pediu para que fechássemos nossos olhos, pois seriamos tele-transportados para outro local, aqui mesmo no plano físico do planeta. Milésimo de segundo depois já estávamos em uma rua deserta de frente a uma grande batalha.
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Cercando uma pequena casa, um enorme exército se posicionava aguardando as ordens do comando era uma visão extraordinária, Guardiões das mais altas patentes se misturavam a outras falanges numa perfeita harmonia e sincronismo. Uniformes diferenciavam os destacamentos, ao longo uma falange de índios portando enormes arcos de flechas se preparando para a batalha chamou nossa atenção. Maria nos explicava o que estava acontecendo, aquela pequena e simples casa era um centro espírita, a legião das sombras estava se preparando para invadir o local, que guardava um portal para o plano espiritual, além de servir de grande estoque de energia vital, útil aos interesses para os fins das sombras. - Mas é necessário tanto guardião para defender um centro espírita? Perguntou André espantado pela grandiosa movimentação emdefesa do centro. - Na verdade meu irmão estamos defendendo muito mais do que o centro, mas sim o morador principal desta casa, um irmão muito importante para nossas estratégias. Respondeu Maria criando ummistério em torno de todo o ocorrido. Nicolau devido a sua habilidosa mediunidade, sentia um pequeno tremor que ia se ampliando a cada segundo, energias de vibração inferior começavam a circular pela casa, Sara e Plínio pareciam mais tranqüilos devido ao reforço que cercava o local, com o pensamento elevado ajudavam os outros guardiões a blindar Nicolau.
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No lado de fora era possível ver no alto do telhado uma grande nebulosa negra se formando, um cheiro de podre exalava ao vento, logo, sombras em milhares circulavam de forma sorrateira as paredes da casa. Nicolau concentrado em sua oração foi interrompido pelas batidas na porta, era Caroline, ou Carol como preferia ser chamada, Sobrinha de Nicolau, que chegava para passar alguns dias.. Carol participava das seções espírita de seu tio, mas ao entrar para a faculdade, não conseguia ser uma médium freqüente, dotada de grande mediunidade, teve uma juventude tumultuada, vivendo fortes depressões e repentinas mudanças de humor, a sua mente inquieta era para si um tormento. Nos últimos anos, parecia ter descoberto no desenvolvimento mediúnico a tranqüilidade mental que tanto buscava, admiradora principal do tio, adorava ouvir seus ensinamentos e suas orientações. Mesmo com sua forte mediunidade, não percebera o que ocorria a sua volta, ao entrar na casa, foi recebida por seu tio aparentando uma expressão de medo, sem entender o que estava acontecendo, sentou-se ao seu lado na mesa procurando acalmá-lo. - Tio o que foi? Que cara é essa? - Minha filha, preciso que você se concentre comigo em oração, os espíritos inferiores estão nos atacando. Disse Nicolau atônito. - Mas como assim nos atacando? Perguntou Carol demonstrando sua dúvida. - Eles estão tentando atingir nossa casa, vamos orar minha filha.
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A menina como sempre, seguiu fielmente as ordens de Nicolau, afinal sabia da capacidade mediúnica de seu tio, considerado por muitos da família como louco, mas ela tinha demonstrações claras de seu potencial, ela mesma já experimentava as faculdades de sua mediunidade, muitas das vezes pressentia acontecimentos, ouvia espíritos e pouco a pouco essas impressões aumentavam ainda mais, devido às atividades que fazia parte no centro de seu tio. Sem pestanejar, fechou seus olhos e junto a Nicolau começou a orar. Sara e Plínio preocupados com a presença de Carol, rogaram pela aproximação das entidades protetoras da menina. Um feixe de luz se lançou da jovem para cima da casa atravessando o teto, um holofote cruzava o céu, não muitos, mais milhares de guardiões surgirão da luz, a pequena casa parecia aumentar de tamanho, um verdadeiro exército fortaleceu a cúpula translúcida de força criada por Sara e Plínio. Do lado de fora da casa, Tobias pedia para que eu e André aguardássemos a espera, Jamal, Lara, Maria e o próprio Tobias se juntaram aos guardiões e lançaram o ataque mortal aos trevosos que nada percebiam, a falange guerreira dos índios deram os primeiro ataques, lançando flechas florescentes que ao atingir a casa pareciam explodir chamas azuis de energia, as sombras vultuosas que circulavam o local imediatamente se agitaram como um formigueiro. Os falangeiros seguintes partiram com todas as armas para cima da casa, uma batalha impressionante, tudo parecia seguir bem, quando do meio da nebulosa, quatro figuras muito conhecidas surgiram, eram magos
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negros, no mesmo instante uma cúpula amarelada se formou em volta da casa, aprisionando os guardiões que estavam no telhado, suas armas pareciam não funcionar mais, e em meios a gritos sufocantes uma espécie de choque elétrico paralisavam os protetores. Em meio a esta visão pavorosa, Maria novamente se transformou na figura mítica e junto a Tobias lançavam raios de luz acima da cúpula das sombras, mas nada parecia surtir efeito. Do lado de dentro da casa, o telhado tremia, como se estivesse em um terremoto, manchas negras surgiam em instantes no teto, a casa estava sendo tomada. Nicolau e Carol continuavam orando. Sara, Plínio e os milhares de guardião já não conseguiam suportar a pressão que era produzida de fora para dentro do campo de força que criaram, ninguém entendia o que acontecia, subestimaram as forças da Legião. Lara junto aos guardiões que estavam de fora da cúpula amarelada continuaram a atacar o campo sombrio que aprisionava seus amigos, mas tudo parecia em vão. Eu e André tremíamos de pavor, não acreditávamos no que acontecia, pois a derrota parecia iminente. Carol se concentrava mais e mais, já tinha percebido que algo terrível estava acontecendo, a casa tremia muito. Tobias e Maria evocaram mais reforços, quando do alto pode-se avistar uma espécie de aeronave, guiada por um guardião alto e imponente, localizado em cima do veículo. Com uma espada dava ordens para atacar, um canhão lançou um raio forte de uma luz tão cintilante, a assombrosa arma atingiu em cheio a cúpula da legião e pela
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primeira vez percebemos que o campo de força das sombras começava a se abalar, um buraco formou-se na lateral, e imediatamente o estranho guardião partiu para dentro da cúpula com Jamal e Lara o acompanhando. Carol se sentia fora do corpo, e na velocidade do pensamento via-se do lado de fora da casa olhando a terrível cena da batalha, sem pensar e seguindo seus instintos, correu de forma incrível para cima do telhado, Sentimos um vulto passando ao nosso lado, sem identificarmos o que foi, acreditamos ter sido uma impressão devido a nossa tensão. Carol subiu velozmente como um gato no telhado da casa e tocou com suas mãos na cúpula que explodirá como uma fina casca de ovo, a menina fora lançada bruscamente de volta ao corpo, a médium perdeu a consciência e caiu sobre a mesa. Sara e Plínio ficaram impressionados com o poder desta menina. Os guardiões que estavam aprisionados caíram sem força e ainda atordoados, Lara convocava os outros guardiões para a luta, Jamal e o estranho guardião atacavam com suas espadas os Magos Negros que encurralados pareciam recuar. Tobias e Maria deixavam os capangas dos magos imóveis com seus raios de força, logo tudo se acalmava e de forma estratégica os Magos desapareceram. Sara e Plínio, davam graças pelo fim da batalha que quase fora perdida. Nicolau se levantou acordando sua sobrinha, que exibia uma grande dor de cabeça e muitas dúvidas. O dirigente olhou para os espíritos agradecendo todo o carinho e proteção.
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- Não foi dessa vez meus irmãos. Obrigado! Disse o dirigente. - Meu irmão fique na luz do Cristo Jesus, estaremos sempre a postos, afinal seu trabalho aqui na terra ainda não acabou e precisamos muito de você. Respondeu Sara. Fora da Casa, um perfume maravilhoso ocupou o lugar do cheiro de podre advindo das sombras, os guardiões um a um eram socorridos por espíritos enfermeiros e encaminhados a cidade celeste para se refazerem da batalha. Jamal auxiliava na coordenação da limpeza do local, os índios faziam um ritual de limpeza das energias negativas que ficaram presas no ambiente. Um lindo trabalho de cooperação podia ser visto. Eu fiquei maravilhado, dei um forte abraço em Lara, elogiando sua coragem, André ficou entusiasmado com a grandiosidade do que acontecera, Tobias e Maria se aproximavam junto com o estranho guardião. - Meus irmãos este é nosso nobre companheiro que nos guiará em nossa próxima missão. Apresentou Tobias. - Olá meus amigos é com muita alegria no coração que os ajudarei na difícil caminhada, alguns ainda não me conhece, outros ainda não lembram. Disse olhando para André. – Então me apresento a todos vocês, meu nome é Marcus Lucius e farei parte deste nobre grupo. Todos os cumprimentamos, mas fiquei bastante curioso, quem era esse nobre irmão, com ar imponente, trajes militares romanos e um olhar bastante
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misterioso. Certo apenas que o bem continuava do nosso lado a cada instante e o novo amigo trazia em si uma grande força, dava pra sentir a distâncias, afinal, quem seria Marcus Lucius.
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Capitulo 14 A
chamada
Comunidade
Nova
Atlântida,
conforme
a
denominação adotada a cerca de 2 mil anos, é uma das mais antiga, importante e original organização política do mundo espiritual. Tem raízes em todos os continentes e abrange uma superfície total de cerca de 7 milhões de km2, onde vivem uns 3 milhões de habitantes, isto é, uma das maiores colônias espirituais da terra. Constitui uma associação de colônias praticamente soberanos que juntamente com seus territórios, se acham reunidos ao Conselho de Aruanda por laços energéticos, constituindo uma fraternal solidariedade. O centro dessa colônia encontra-se no Norte do Brasil que se ergue pelo Continente Sul Americano. Não representa apenas o papel de grande colônia; é como se fora o
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irmão mais velho de uma grande família, cujos membros, embora ligados por estreitos laços de amizade, se governam por si e podem divergir de seus pontos de vista, apesar de procurar sempre coexistir uma harmonia nas decisões. Criada pelos espíritos originários das primeiras migrações, com o objetivo de constituir uma nova Atlântida, em referencia a frustrada tentativa da criação de uma grande civilização na terra. A colônia servia no principio de alicerce para o acolhimento aos milhares de espíritos que sofreram conseqüência dos erros iniciais da terra. Sendo aprimorada em novas construções e de decisões políticas no mundo espiritual pelos irmãos de outras migrações, tornou-se referência em tecnologia espiritual e manipulações de energias. A colônia Atlântida, no processo de amadurecimento espiritual da terra com a descida do Cristo e do avanço das sombras na humanidade como reação ao acontecimento, passou a ser chamada de Comunidade Nova Atlântida, pois se tornou o centro político integrando os governos das colônias espirituais espalhadas pelo globo. Tobias explicava um pouco sobre a colônia, pois apesar de ter estado lá, André ainda não conhecia a história. Após encontrarmos com Marcus Lucius, embarcamos em um veículo
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ultramoderno e numa velocidade inimaginável atravessamos as dimensões vibracionais, pousando suavemente em frente aos portões de bela arquitetura grega da Colônia espiritual. Desde que cheguei aqui há alguns anos atrás após meu desencarne, a cada dia descobria mais e mais novidades nessa imensa morada espiritual, falei para André das imensas galerias de arte e das inúmeras câmaras de socorro espiritual, como aquela que ele mesmo conheceu quando chegou ao nosso plano. André se mostrava mais consciente e tranqüilo de tudo que acontecia, a sua rápida assimilação de um novo e fantástico mundo me deixava surpreso. Logo que entramos na cidade, Tobias, Jamal, Maria e Lara se direcionaram ao prédio fabuloso onde se reunia o Conselho de Aruanda, enquanto seguiam na presença do guardião Marcus Lucius, eu fui incumbido de mostrar para André um pouco mais desta maravilhosa cidade espiritual. Caminhamos pelas imensas ruas e jardins da cidade, mostrei ao meu amigo as belíssimas construções que pelo seus estilos datava os momentos de crescimento da cidade, podia se ver arquitetura grega, romana, egípcias e até estruturas altamente futurísticas. Ao longo das ruas, casas e prédios muitas pessoas portando grandiosos sorrisos nos davam as boas vindas.
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Nova Atlântida fora construída sobre um mapa celeste que representava a constelação de Orion, chamada por muitos como o berçário das estrelas, uma constelação mãe, de onde partiram as grandes migrações que ajudaram a formar numerosos planetas e galáxias. Ao centro, o prédio de cristal do Conselho de Aruanda, ao redor, imensas construções que abrigam diversas atividades, desde o socorro aos espíritos resgatados até o preparo para a encarnação dos irmãos espirituais. A
Comunidade
Nova
Atlântida
guardava
uma
peculiaridade, é uma colônia que abriga uma das maiores faculdades médicas do mundo espiritual e uma das maiores academias de formação de guardiões do planeta. Devido a sua posição central, acima da grande floresta amazônica, que abastece suas bases energéticas com a forte força vital originária da diversidade de flora e fauna, oferecendo poder curativo para os trabalhadores da Seara do Cristo Jesus. Caminhamos por horas, André se entusiasmava pela beleza da Cidade. – Jamais poderia imaginar que isso existiria nesta outra vida. - é meu amigo, infelizmente poucos tem conhecimento na terra, da existência dessa e de outras colônias. - isso tudo é muito incrível. Exclamou André. - Veja! Você ainda não conheceu a grande jóia de Nova Atlântida.
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- O que seria? Perguntou curioso. - Venha comigo, é melhor ver do que ouvir. Caminhamos um pouco mais entre os lindos bosques da colônia, no caminho já podia se ouvir o som das quedas de águas. - Bem meu amigo, seja bem vindo ao Parque das Águas. André ficou petrificado com a beleza do local, sete quedas de águas que viam de uma imensa cordilheira verdejante caiam em torno de um imenso espelho de água com cerca de 12 mil metros quadrados, elevações com flores e folhagens que mudavam de cores a todo instante, e brilhavam como luzes florescentes ficavam suspensos como mágica no alto do imenso lago. - Esses André fazem os jardins suspensos da Babilônia parecerem uma maquete. No centro, flutuando a mais ou menos sete metros do lago, se estende uma grandiosa pirâmide de cristal de mais ou menos 2000 metros de altura por 4000 metros de largura. As sete quedas de águas possuíam cintilações de cores diferentes, se apresentavam como áureas das águas. Umas cataratas de arco íris. As correntes se encontravam no centro do lago logo abaixo da imensa pirâmide que de seu topo canalizava através de uma linda cruz também de cristal, a luz do sol, que incandescia toda a pirâmide tornando-a iluminada, as águas eram elevadas para
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dentro da base como uma queda inversa e saiam como chafariz de águas transparentes e claramente iluminadas, expelidas das quatro pontas do elemento, as águas então eram recolhidas por quatro estátuas de querubins sobre quatro elevações de jardins, e de forma harmoniosa e simétrica caia por outras elevações abaixo com outras estátuas de anjos segurando o que pareciam ser pratos até chegarem como fontes a quatro rios afluentes que surgiam nas bordas do lago. No Parque das Águas, ouve-se a todo instante, melodias angelicais em volumes equilibrados, nem alto e nem baixo, de forma suave para os ouvidos. Contei para André que ao amanhecer os espíritos residentes da colônia, principalmente os que representam o governo de Nova Atlântida se reúne no ritual da aurora, uma oração é proferida pelo governador da cidade e cânticos ilustram o nascer do sol. Ao anoitecer o espetáculo fica ainda mais belo, pois o brilho multicolor e incandescente das águas, folhagens e flores junto à iluminada pirâmide que passa a receber a força vinda da lua, oferecem uma atmosfera pirotécnica de grande beleza. - Cassiano para onde esses rios se direcionam e o que representa tudo isso? Perguntou André.
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- bem meu amigo, não sei detalhes de tudo, apenas que essa linda construção foi criada por volta de 5 mil anos antes de cristo, a principio como representação de um local de Capela, uma forma dos espíritos emigrantes se lembrarem de sua terra natal. Mas ao longo dos anos, seu uso se tornou mais importante, pois é a partir deste ponto que as energias responsáveis pelo abastecimento energético tanto de Nova Atlântida como das outras colônias se inicia. Cada colônia espiritual que se apresenta na terra tem um pequeno posto de abastecimento que alguns chamam de bosque das águas, recebe um pouquinho das águas dos quatro rios que nascem aqui que ao longo do planeta se liga a outros numerosos rios, para abastecer suas reservas de energia. A pirâmide energiza as águas advindas da terra, com a luz enviada pela esfera espiritual superior para nosso uso, nos resgates, nas comunicações, nos socorros e tratamentos e é claro na produção e manutenção de toda essa construção mental. - Posso tocar nas águas? - Claro André! Nada aqui é impuro, fique a vontade. André se apoiou próximo à borda do imenso lago e com suas mãos recolheu um pouco das águas, molhando seu rosto,
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provando-a em seus lábios. Suas mãos acendiam como vagalumes, André ficava super alegre. - Cassiano é reconfortante a sensação que estas águas produzem. Gritou super feliz me molhando com sua peraltice, um convite agradável para uma doce brincadeira de infância, o bem tocava nossos corações. - é Cassiano, não imaginava conhecer o Parque das Águas. Falou André em meio a gargalhadas de paz. Enquanto nos divertíamos na beira do grande espelho de água, Tobias, Maria, Lara e Marcus Lucius se aproximavam. - Veja! Nossos irmãos estão bastante alegres. Disse Tobias demonstrando grande sorriso. - Que bom que é possível sentir um pouco de alegria em meio a tantas turbulências. Completou Maria. - Mas irmã, como não podemos sentir tamanha alegria e tranqüilidade neste local. Veja, até nosso irmão Marcus Lucius está expressando um lindo sorriso. Disse Tobias em referência ao fato do guardião sempre se colocar em expressão severa e firme. - Verdade meu nobre irmão, vivo em meio a cenários de dor e sofrimento que até me esqueço às vezes, que sou capaz de sorrir. Respondeu Marcus demonstrando uma feição alegre e amigável.
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- Não se esqueça nunca meu irmão, o sorriso é uma virtude que não podemos jamais deixar de cultivar. Falou Tobias. - Sabias palavras, guardarei em meu coração. Respondeu Marcus abraçando carinhosamente o conselheiro. - Lara venha se divertir conosco. Gritou André ao perceber a presença de todos. A linda guardiã não se conteve, e mesmo portando a postura militar, olhou para Marcus que com um pequeno aceno autorizou a peraltice da jovem. Lara correu para junto de nós e a alegria se tornou mais completa. - Que bom que eles estão se divertindo, precisamos revigorar nossas energias, ao amanhecer partiremos para nossa missão. Disse Maria envolvendo Marcus e Tobias com um abraço afetuoso. ***
Logo após o maravilhoso espetáculo do amanhecer, onde todos os irmãos assistem o nascimento do sol diante ao Parque das águas, saímos pelos imensos portões da Colônia rumo as dimensões inferiores, no qual chamamos de umbral.
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Na etimologia espanhola (umbral), é o nome da pedra que se coloca na parte de baixo de uma porta. Nas construções antigas, e ainda hoje, costuma-se colocar uma pedra (na maioria das vezes de mármore), com a mesma largura da porta para funcionar no nível do piso como demarcação de separação entre os dois ambientes, ou seja, a passagem entre dois ambientes é chamada de umbral. Dessa forma, a palavra também tem o sentido conotativo de "entrada". Por causa desse sentido primeiro, a palavra “umbral” foi usada para designar o objeto de estudo da psicofísica; ramo da psicologia que estuda a relação entre a magnitude de um estímulo físico e a intensidade com que este é percebido por parte de um observador. A experiência mais conhecida de medição de “umbrais” é a mínima mudança necessária na intensidade de uma luz para que a alteração seja perceptível para o espectador. Usado nesse contexto, o termo ganha os sentidos conotativos de "penumbra" e "escuridão", como na frase: "Antes de abrir as cortinas, a sala era um umbral". Por causa desses dois sentidos anteriores, foi a palavra exata para designar na obra “Nosso Lar”, psicografado por Chico Xavier e ditada pelo irmão André Luiz, o “estado ou lugar transitório por onde passam as pessoas que não souberam
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aproveitar a vida na Terra”. É interessante notar que o sentido guarda os dois sentidos anteriores: primeiro por se tratar de uma dimensão que está "entre" a dimensão material (ou física) e a dimensão espiritual (ou sutil); Depois porque esse lugar seria mal iluminado, cheio de "trevas", (que é a primeira imagem que vem à mente quando se fala de umbral no sentido da psicofísica). Após aparecer em “Nosso Lar”, com esse significado, passou a ser usado de forma recorrente em obras mediúnicas, de maneira que foi incorporado ao jargão espírita no Brasil. Assim sendo, entende-se como um período posterior ao desencarne que possibilita à alma entender o seu atual estado espiritual. O tempo de permanência no Umbral, e a ocorrência de processos dolorosos de culpa e flagelação vão depender do estágio evolutivo do espírito e do reconhecimento humilde das faltas cometidas. Em verdade o Umbral lembra a idéia do “purgatório” pregado na doutrina católica. Contudo, está presente a idéia de “evolução espiritual”. Como todo espírito tem como objetivo ascender no seu progresso moral e intelectual na direção do Amor Divino é nessa zona que ele, após a morte do corpo material, fica enquanto continuar com vibrações inferiores. No momento em que consegue sintonizar com as vibrações positivas ele identifica seus
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interventores espirituais que estão lá para auxiliá-lo. Esse período de tempo pode ser curto ou longo, mas é passageiro. Após algumas caminhadas, que diferente do mundo material, o tempo é ainda mais relativista, poucos passos representam quilômetros de distancias, Lara chama de passos de luzes, na nossa realidade visual identificamos o tempo em sua normalidade durante a caminhada, mas se um observador de fora nos avistar, veria um feixe de luz em alta velocidade. Chegamos a um lugar a poucas milhas da colônia segundo o irmão Tobias, um deserto árido e sem vida se apresentava a nossa frente, o sol era forte e intenso, o horizonte se perdia nas nuvens do céu, não tínhamos idéia da existência deste local. - Chegamos! Disse Marcus Lucius - Este é o Umbral? Perguntou André, mas eu imaginava algo escuro, tenebroso e cheios de pessoas sofrendo. Após algumas tímidas gargalhadas, Jamal colocou sua mão direita no ombro de André e pediu paciência. – Veja meu irmão, nada é como parece. Marcus Lucius nos entregou uma espécie de medalhão. - o que é isso? Perguntei. - esse é o passaporte de vocês, que permitirá entrar e sair desta dimensão sem problemas. Respondeu Tobias.
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Que logo junto a Maria riscaram um estranho símbolo no ar, de imediato percebemos a existência de uma superfície gelatinosa e invisível, formando uma parede transparente, André apontando para o medalhão, notou que o símbolo riscado era o mesmo que estava gravado no objeto que o guardião nos deu. Logo após o símbolo ser formada pelos irmãos, uma brecha surgiu como uma fenda que apresentava um mundo escuro e escondido no deserto. - Mas o que é isso tudo? Perguntei - Senhores esta é a entrada para o famoso Umbral. Disse Jamal - Mas num deserto como poderia imaginar! Exclamou André. - Ora não se lembra que Jesus foi ao deserto ser tentado por satanás? Perguntou Maria. - Mas esta parede invisível... Disse André estupefato. - Isso é um campo refletor, uma cúpula dimensional, que procura impedir que os espíritos inferiores ultrapassem este campo energético, ela reflete o ambiente desértico criando um esconderijo para a dimensão. O símbolo, ao ser mostrado para um portal, abre a passagem para este mundo. Respondeu Tobias. - Nossa! Então eles nunca conseguem passar por este campo de força? Perguntou André se referindo aos espíritos localizados no umbral.
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- infelizmente alguns mais espertos sempre conseguem escapar. Disse Jamal. - Venham irmãos precisamos correr. Exclamou Maria segurando a brecha do portal aberta. Assim que entramos, uma corrente fria atravessou nossos perispírito, notava-se logo um ambiente pesado e denso. Era parecido com o deserto a qual estávamos, mas sombrio, frio e apavorante. Uma nova brecha se abriu a nossa retaguarda e vimos Marcus Lucius adentrar no portal, o segurando para a passagem dos demais guardiões. Deu para perceber o mesmo símbolo do medalhão tatuado no pulso do guardião que vestia um traje de centurião romano, porém com uma capa branca. Quando todos entraram pelo portal, o irmão Marcus atravessou totalmente a brecha, que se fechou logo em seguida por trás do guardião, no mesmo instante a capa branca se tornou vermelha e toda sua veste romana se transformou em uma imponente armadura. A mesma transformação ocorreu com os demais guardiões, mas Marcus Lucius se mostrava visivelmente superior a todos. Lara notando nossa observação nos informou que o Marcus Lucius é um guardião preparado para investidas nas mais baixas vibrações dimensionais, e é considerado um modelo de
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guardião para os aspirantes, que assim como ela inicia os passos na função. - Marcus é um grande exemplo, tenho muito que aprender com ele. Disse Lara demonstrando um leve sorriso de admiração. O cheiro presente no ar, era de algo extremamente putrefato, a superfície era enlameada e o gás metano advindo das criações mentais de vibrações baixíssimas exalava além do odor uma neblina rasteira e fria, a pouca vegetação ainda resistia a intensa ausência de luz, no entanto exibia uma aparência mortuária e sombria, via-se claramente a degradação de um ambiente de dor e sofrimento, cada vez que nos aproximávamos, os espíritos se amontoavam em pequenos grupos, pareciam assustados tentando esconder-se de nossa caravana. Era realmente assustador, e ao mesmo tempo nos emocionava o estado mental em que se encontravam. - Veja! Exclamou Maria. - Eles estão fugindo de nós, pois a sua condição mental não os permite ver quem somos, neste momento somos como uma luz que incomoda e os fazem nos enxergar com nossa imagem representando aquilo que os mais amedronta. - Quando mudam suas vibrações e passam a sentir o amor advindo de suas consciências, na busca de ser salvo, no pedido de ajuda,
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deixam de se autopunir por suas culpas, demonstram por cansaço ou piedade, o amor por si próprio, são então resgatados por nossas equipes de socorristas. - É claro que para alcançar esse nível mental que lhe permitem nos enxergar como somos, portadores do resgate, precisam ser assistidos por nossas equipes, e por todas as fontes de carinho e luz que brotam do mundo dos encarnados, nas preces, nas casas espíritas, nas santas missas e outras formas de canalizar um pedido de intervenção ao ente que partiu do plano material. A cada passo Maria continuava a nos explicar o que ocorria. Gemidos de dor, fome e saudade confundiam-se aos gritos das imensas aves pré-históricas que davam vôos rasantes assustando ainda mais os irmãos perdidos. Ao longo, um horizonte sem fim se apresentava com imensas cordilheiras, contornadas por nuvens negras e um céu nebuloso. À frente chegamos a um imenso lixão, via-se ratos e outros animais peçonhentos rastejarem junto a espíritos que brigavam por alimentos. Maria nos informou que aqueles bichos na verdade eram larvas astrais, criações dos medos mais presentes nos irmãos, que somados a vibração baixa do local, se materializa e ganha vida, se alimentando de medos, maus pensamentos, uma forma independente de canalizador de energia ruim.
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Ao nosso lado, ainda nesse grande lixão, que mais seria um depósito de maus pensamentos e desejos, outros grupos se violentavam procurando dominar outros grupos inferiores. Continuando nossa caminhada assistimos mulheres fugindo de homens que tentavam a todo custo sodomiza-las em busca do prazer sexual. A cada cena que nos abalava, criando a necessidade de ajudar os irmãos, Marcus dizia para todos em tom severo: - Não baixem as suas vibrações, não estamos aqui para resgatar estes irmãos, nos cabe apenas dedicar a eles as nossas orações. - Tobias! Nosso convidado já esta nos aguardando no cais. Disse Marcus com forte expressão de contrariedade. - Fique calmo meu irmão, nos fora informado que ele já esta em condições de nos ajudar, não se esqueça que todos nós podemos e temos capacidade de mudar de lado. Respondeu Tobias procurando acalmar o guardião. Olhei para André que logo demonstrou curiosidade sobre quem eles estavam falando, mas não demorou muito para termos a resposta, mais à frente chegamos a uma espécie de cais abandonado, vários navios enferrujados e destruídos decorava o horripilante local, um mar tranqüilo, porém pantanoso se abria a nossa frente, uma outra equipe de guardião estavam nos esperando
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junto ao nosso convidado, que após horas de preparo espiritual, se candidatou para nos ajudar nessa missão. A nossa frente estava o Sr. Victor Camilo, ex-guardião do maior laboratório das sombras, salvo pelos guardiões da espada, no ataque da legião ao Posto de Socorro de Santa Bárbara. Marcus Lucius, demonstrava leve incômodo com a presença do irmão, mas a oportunidade foi confiada a Victor e nada podia ser feito. Tobias e Maria abraçaram-no e pediram que se juntasse a nós na missão. Marcus Lucius ainda descontente, ordenou a todos a embarcar numa pequena balsa feita de madeira, pois a viagem seguiria pelo imundo mar de lodo. Após alguns minutos navegando nas sombrias e pantanosas águas, Tobias riscou novamente o símbolo dos medalhões no ar, só que agora o projetou de forma grandiosa, imediatamente um portal se abriu revelando um novo umbral, o mar de lodo, que parecia sem fim escondia uma nova entrada para outro mundo. A balsa seguiu para dentro do portal que se fechou logo a seguir, o ambiente se tornou ainda mais pantanoso, o que era um imenso mar se tornou um estreito rio, coberto de folhagens escuras e fantasmagóricas, a frente uma pequena casa de madeira fora construída acima do pântano, pequenos lampiões a gás
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iluminava a porta de entrada, um fogareiro dava cores vivas a janela da casinha, que de aspecto velha e abandonada nos tornava mais apreensivo. - Onde estamos? Perguntou André. - Vamos visitar uma velha amiga. Respondeu Marcus Lucius que auxiliava no atracamento da embarcação frente à casa. Entramos na pequena morada feita de bambus e palhas da região pantanosa, o interior estava abarrotado de objetos, parecia um verdadeiro antiquário, em cima de uma mesa improvisada, recipientes aprisionavam uma coleção de insetos de diversas espécies. Marcus entrou na frente do grupo, seguido de Tobias e Maria, logo de dentro de uma sala secundaria, uma mulher trajando roupas excêntricas, uma mistura hippie e cigana, com um enorme colar feito de dentes aparentemente humanos, veio ao nosso encontro com uma feição debochada e petulante. - Ora, ora, nosso querido Marcus Lucius, a que devo tamanha honra da visita. Disse a estranha senhora procurando cobrir com um sujo pano a sua horripilante coleção de insetos. Marcus Lucius olhou de forma severa e demonstrando conhecer as ironias da senhora respondeu: - Chega de falsas bajulações Padilha, preciso de algumas informações sobre um visitante.
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- Nossa esse chorão deve ser muito importante, há tempos que não via uma caravana de tamanha vibração. Disse remexendo nas poucas tranças de seus cabelos. - Esse é o nome do visitante, preciso da localização exata. Falou Marcus estendendo um papiro para a estranha senhora. Ao abrir o papel, ela foi até uma entulhada estante de bambus e buscou alguns cadernos, após revirar as folhas, seu olho direito ficou branco, sua face irônica ficou bastante assustada. - Ele esta no vale das feras, você sabe que nada poso fazer, não me aproximo deste local, não me peça para buscá-lo! - Nossa Padilha, para quem se mostra bastante esperta e autosuficiente, vejo que ainda se conforta em seus limites. Exclamou o guardião. Todos ficaram quietos durante este encontro, apenas o guardião se pronunciava, a estranha senhora, olhava rasteiramente para cada um de nós. Aproximando-se de Marcus sussurrou: - porque carregas um traidor contigo? Cuidado velho amigo sabe que vejo muito além. - Bem, já me deu o suficiente, e não pense que não estou a par de seu cultivo de larvas astrais, você sabe muito bem que isto fere nosso acordo. Falou Marcus destampando a horripilante coleção e
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procurando não demonstrar preocupação com o que Padilha lhe falara. - Mas são apenas para meu estudo. Tentou se justificar ao Guardião. Saímos imediatamente daquele estranho encontro em direção à localização entregue por Padilha. Já embarcado nas balsas, virei para Maria e perguntei o que tinha sido tudo aquilo que correu. Segundo Maria, Padilha era um espírito neutro, ou exu, como alguns denominam. Esses espíritos são dotados de dons militares, mas infelizmente, devido a suas imperfeições morais acabam residentes dos mais diversos níveis de umbrais, como possui grande vigor nos desafios e em sua maioria muito conhecimento, passam a dominar os outros espíritos, criando verdadeiros feudos nesse plano vibracional. Conhecedores das regras fazem um acordo com a luz, que em troca de alguns favores como convencer irmãos a segui-los, localizar espíritos perdidos, recebem autorização para continuarem sem serem perturbados nos umbrais. Utilizam-se das energias vitais que recebem dos espíritos encarnados, para assim, criar suas pequenas construções e permitir suas entradas aos planos da terra. Através de estratégias sutis, conseguem trocar favores com os encarnados e desencarnados, que assim permitem suas influencias
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sem serem considerados invasores. Auxiliam em contrapartida, na execução dos carmas determinados e através desta permissão conseguem criar verdadeiros seguidores em busca de soluções para seus problemas. Chama-se exu, por acabar mantendo um eixo de comunicação entre a luz e a sombra. Possui também um acordo com a Legião, que deixa as migalhas de espíritos sob suas tutelas em troca de favores ilícitos. Assim, se colocam em posição de puro egoísmo, fazem o bem procurando ter permissões e atuam no mal a bel prazer e interesse. Não pretende participar da guerra entre o bem e o mal, mas indiretamente auxiliam ambos os lados. Por isso se intitulam neutros. Exu, pois funcionam mantendo o equilíbrio entre o bem e o mal, o bom e o ruim, a luz e a sombra. Muitos desses irmãos acabam se prendendo demais a matéria, mesmo possuindo a compreensão correta da espiritualidade, na sua maioria possui imensa sabedoria das palavras de Cristo Jesus. Estão ali por opção, por vontade, constrói assim o submundo da vida, o poder paralelo, muitos deles interessam a luz, pois suas habilidades são inerentes a um futuro Guardião, por isso dizemos que todo guardião é um exu, mas nem todo exu é um guardião. ***
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Após navegarmos vagarosamente por entre restos de troncos destruídos e mortos, sob aquele pântano fedido e assustador, chegamos a uma orla que mais parecia um deserto úmido, enlameado e frio. Caminhamos nos mais terríveis cenários, a cada passo ouvíamos os gemidos desesperadores dos irmãos perdidos, descíamos a cada quilometro os estranhos e montanhosos percursos que nos apresentava. A impressão que tínhamos é de estarmos descendo um imenso desfiladeiro. Tobias nos lembrava da importância de mantermos a nossa vibração acima do ambiente. Precisávamos a todo instante vigiarmos as nossas mentes e nossos pensamentos. Uma atenção especial dos guardiões se fazia presente, apesar de estar emanando uma força energética fora do comum, provavelmente advinda da terra a qual foi há poucos horas atrás, André ainda era um espírito encarnado, e seus laços com a matéria, atraia a atenção dos espíritos mais sombrios. - Cassiano! É engraçado, não sinto tanta falta assim de minha família na terra, apenas dos olhos de alguém que não me lembro. Confidenciou-me André. - Bem meu amigo, apesar de pouco tempo, me parece que sua consciência já se adaptou facilmente a este nosso mundo espiritual. Respondi-lhe quando fomos surpreendidos por uma imensa ave
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negra, um gavião gigante que surgia a nossa frente de dentro de um desfiladeiro. - Fiquem calmos! Exclamou Jamal, vamos continuar a descida. Olhamos bem assustados uns aos outros, Lara ao meu lado me dava confiança, apesar daquele lugar não me inspirar tranqüilidade. Neste ponto estávamos caminhando por um estreito caminho que de forma espiral descia um grande desfiladeiro de rochas e lamas. Não havia mais vegetação. Abaixo, gemidos ainda mais agudos aumentavam de intensidade a cada descida, estávamos se aproximando de nosso objetivo. - Chegamos! Este é o Vale das Feras. Apontou Marcus Lucius. Uma visão que me desnorteou, uma clareira se formava abaixo do desfiladeiro, a escuridão só era quebrantada por uma luz opaca que ainda cortava o céu nublado e turva. Milhares de espíritos se rastejavam como se fossem imersos a uma espécie de ácido, seus corpos perispirituais se deterioravam como uma geléia, outros corriam de um lado a outro segurando parte de seus corpos que caiam como uma lepra acentuada. Irmãos que estendiam suas mãos pedindo ajuda, em seus pequenos lampejos de lucidez, o sofrimento em instantes dava lugar a fúrias incontroláveis, eles se agrediam por nada e para nada. De repente feras como imensos leões, leopardos e cobras saiam de fendas nas rochas e mutilavam
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ou depredavam os irmãos em maiores estados de gravidade mental. - Tranqüilizem seus corações e suas mentes meus irmãos. Disse Maria Tobias completou: - Estes irmãos estão nos estados mais profundos de culpas e sofrimento, suas consciências se perderam praticamente em sua totalidade, a mente não consegue manter sua forma física humana, passam a regredir em suas faculdades mentais, começam a projetar formas animalescas e selvagens, as feras que surgem são produzidas pelas baixas vibrações mentais, ao mutilar seus perispíritos, sugam as forças vitais remanescentes e os penitenciam por suas próprias culpas. - O que são aqueles espíritos que estão torturando os outros irmãos. Perguntou André. - São os carrascos da Legião, cumpre as ordens de punição dada pelos Senhores das Trevas, os irmãos na sua embriagues de culpa, aceitam
como
forma
de
sacrifício.
Respondeu
Victor
demonstrando seu conhecimento ao seu antigo trabalho. Todos estavam assustados, Marcus após breve conversa com os guardiões localiza o local exato onde esta aprisionado nosso irmão.
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- Olhem para as inúmeras entradas de cavernas que se encontram a nossa volta, cada uma é um portal para uma prisão dimensional, criada pelos Magos Negros para dificultar o resgate dos irmãos. Tobias fechou seus olhos e estendendo suas mãos para cima, projetou uma tela plasmática a nossa frente, podíamos então ver nosso irmão aprisionado, era uma cena aterrorizante, o espírito se chocava contra as paredes da caverna, sua consciência se perdia em um estado profundo de loucura. - Precisamos agir com urgência em poucos minutos o estado de nosso irmão será quase que irreversível, lembrem-se que não podemos ficar muito tempo nessas cavernas, pois a energia do campo de força produzido pela Legião tendo como base as piores vibrações mentais pode nos levar a perder a nossa consciência nos ofuscando para sempre, André você não vai entrar conosco, sua condição de encarnado pode lhe prejudicar, preciso de sua força para nos auxiliar elevando nossas energias, mantenha seus pensamentos focados em nossa missão. Disse Marcus Lucius. Quando todos estávamos preparados para entrar na Caverna, Marcus parou nosso grupo, parecendo farejar algo, olhava para todos os lados, gritou para os demais guardiões: - Fiquem em posição.
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Eu olhei assustado para Lara que com um sorriso apático, mentalmente me disse para ficar calmo. A nossa frente uma enorme cortina negra de fumaça ergueu-se de forma instantânea, cerca de 10 Magos Negros surgiram a nossa frente lançando raios magnéticos de baixa vibração. Os guardiões imediatamente arquearam seus escudos de proteção, Tobias e Maria se colocarão a nossa frente e após uma súbita transformação a qual já tínhamos presenciado em outras ocasiões criaram uma cúpula energética de proteção. Jamal, Marcus e os demais guardiões iniciarão ataques de força estrondosa contra os Magos. - Cassiano, Victor, Lara corram, entrem na caverna e resgatem o irmão, o tempo é curto. Gritou Marcus, vendo que todos os demais estavam impedidos de atuarem no resgate, pois naquele momento precisavam conter o ataque das sombras. - Cassiano venha. Gritou Lara. Não vendo proteção para André Tobias não teve escolha e o mandou que fosse conosco sob a proteção de Lara. Corremos para a entrada da caverna e nossos amuletos novamente abriram o portal. Dentro da sombria caverna Hugger Geiger, jazia em puro sofrimento, caído em um canto, em posição fetal, desprotegido e vendo sua lucidez se perder. Lara imediatamente pediu para todos
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enviarmos mentalmente pensamentos de amor e alegria para nosso irmão, neste instante de nossa fronte e nossas mãos víamos raios luminosos partirem em direção ao cientista, sua áurea apareceu para nossos olhos, de cor escura dava sinais de que clareava em alguns pontos, no entanto na altura da cabeça uma névoa escura turvava nossa visão. Tudo ia bem, quando como um sopro forte e sorrateiro, nos derrubou ao chão, na queda nossos amuletos caíram ao solo, Victor imediatamente nos ajudou recolhendo os objetos, os vultos continuavam a percorrer o pequeno e sombrio ambiente, eram quiumbas os capangas da Legião. Lara lançou forte ataque aos invasores, numa luta corporal de espadas, a qual a jovem amazonas demonstrava grande habilidade, três espíritos a cercavam tentando derrubar nossa heroína. – Continuem rapazes eu os mantenho ocupados. Gritava Lara Eu e André nos esforçávamos para manter nossas mentes equilibradas, mais a preocupação por Lara nos dificultava a atenção, nossos raios luminosos não eram mais intensos como os anteriores, notamos então que Victor não conseguia nos ajudar, parecia imóvel a tudo que ocorria. Minha atenção novamente fora interrompida quando dos olhos de André uma luz que eu nunca
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presenciei surgiu tomando nosso irmão Hugger Geiger. A áurea do cientista começava a dar sinais de melhoras, pouco a pouco o cientista abria seus olhos procurando um fôlego de consciência, eu estupefato pelo poder de André, fiquei paralisado como Victor. Lara já não tinha mais forças para lutar, e demonstrava sinais de cansaço. Ao término do passe de André, a luz cessou e o meu amigo caia no solo completamente desfalecido de suas forças. - André, você está bem? Perguntei correndo para auxiliá-lo. - Sim Cassiano, só estou me sentindo fraco o que aconteceu? Lara correu para junto de nós e numa ultima tentativa, criou um campo de força nos protegendo dos capangas das trevas, mas seria por pouco tempo suas forças estavam se esgotando. - Victor, trás o amuleto precisamos sair. Gritou Lara. Olhando para Hugger que já apresentava total lucidez, Victor sorriu para nós e se despediu, num gesto traidor abriu o portal e o fechou levando consigo a chave da nossa salvação. Estávamos amontoados no canto da sombria caverna, eu apavorado, André desfalecido, Hugger sem ação e Lara, uma guerreira sozinha mantendo com suas ultimas forças a nossa proteção.
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Não tinha mais esperança de conseguir vencer, quando do solo mais sombras e vultos se aproximavam por todos os lados, Lara já demonstrava os finais de sua força. - O que é aquilo Cassiano. Disse André apontando para o alto. Um feixe de luz surgiu no ambiente, de uma fumaça luminosa surgia uma mão plasmada a nossa frente. Era nosso resgate. – Vão! Esse é o nosso socorro eu seguro eles. Disse Lara Hugger foi o primeiro ergueu suas mãos e foi puxado imediatamente para a luz, outra mão surgiu puxando André que ao tocar viu suas forças retornarem. Mas eu não queria deixar Lara, pois não havia quem a protegesse. - Vá Cassiano! Exclamou. - Não posso deixá-la - eu me viro, vá já cumprimos nossa missão. - Não posso Lara, não posso. Segurei o braço de Lara e ergui a minha mão para o mais alto que eu podia, uma mão suave e quente se aproximou com mais força e me agarrou, me puxando em seguida, no momento que Lara perdia suas forças por completo e desmaiava. A luz aumentou de intensidade e ofuscou incrivelmente a visão dos quiumbas que se afastaram, e eu consegui levar comigo o amor da minha vida. As mãos que nos salvaram foram de Carol.
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Longe dali, no plano material, Nicolau seguindo orientações de Plínio e Sara, faziam uma reunião mediúnica, com o propósito de através de uma viagem astral nos auxiliar no resgate ao cientista. Com o poder mediúnico de Carol fomos localizados e resgatados pela seção espiritual de nossos irmãos. Do lado de fora, os Magos recuaram seu ataque, pois em vão não conseguiram impedir o resgate. Marcus ao ver Victor sorrindo com os amuletos nas mãos partiu em direção ao traidor, impedido por Tobias de baixar sua vibração ouviu impotente às palavras traidoras de Victor: - Obrigado irmãos pela oportunidade de me redimir junto aos meus senhores. Uma névoa negra o envolveu e Victor desapareceu completamente. - Eu avisei Tobias, eu avisei. Gritava Marcus. - Calma meu irmão, tudo tem um propósito você sabe disso. - Como estão nossos irmãos? Perguntou o guardião. - Pela graça de Deus salvos e conseguiram cumprir nossa missão, vamos retornar para Nova Atlântida e descobrir no que nosso cientista pode nos ajudar. Disse Tobias ao lado de Maria.
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Capitulo 15 Caídos sob um tapete de grama e flores, só podíamos diante de nossas franquezas ficar deitados olhando para o lindo céu azul que nos radiava de energia. A nossa frente os portões de Nova Atlântida, “salvos” pensei. Respirávamos fundo, após o acordar do resgate, procurei Lara, poucos metros a minha frente parecia desacordada. Corri para ajudá-la, mas ela não respondia a minha voz. – Lara, acorde!!! Nenhuma reação, de forma incoerente tentei escutar seu coração, balancei a cabeça por causa da inútil idéia “hora somos espíritos”. - Lara acorde!!! Naquele momento minha preocupação era com o estado de consciência que ela estava, afinal desprendeu tanta energia para nos defender. - Lara acorde!!! Nada nenhum sorriso. Comecei a rogar: - Deus tanta luta não a deixe sofrer.!!!! Quando minhas lágrimas espirituais começavam a cair, senti uma mão invisível limpar meus olhos, transfigurando-se a minha frente uma linda mulher vestindo uns cintilantes véus brancos, trazendo em sua cabeça uma coroa de flores, me falou:
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- Fique tranquilo, achas mesmo que uma linda e forte guerreira seria abandonada aos olhos de Deus? Ela olhou para Lara e soprou várias pequenas fadinhas, de asas e vários serezinhos que eu só conhecia nos contos infantis. - Nossa Cassiano o que é isso? Exclamou André acompanhando a cena. - São os seres de luz que nos ajudam renovando e limpando nossas energias, assim como as larvas astrais são produzidas pelos maus pensamentos, pela energia ruim depositada na atmosfera, esses seres encantados são exatamente o contrário, são criados a partir do amor e da alegria e povoam todos os nossos mundos trazendo paz, alegria e pureza. Disse a encantadora fada. - Veja Cassiano esses são produzidos pelo seu amor por essa guerreira. Não se esqueça de que o amor é a essência pura de Deus, e não existe em nenhum lugar maior poder do que o amor de Deus. Explicou virando-se para André. – Olá André seja bem vindo ao seu lar. Disse se despedindo em seguida. Os seres renovaram as forças de Lara, geraram uma energia transformadora, desapareceram alegres e astutos. Lara abriu seus olhos e me mostrou uma expressão que eu nunca tinha visto, sem aquela postura de guerreira, nos meus braços ela parecia frágil,
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sensível. O bem naquele instante era o meu amor e o meu amor era Lara. André em silencio apenas olhava, sorrindo, talvez pensando o quanto o amor renova, salva e transforma, com certeza lembrava dos olhos de sua misteriosa amada que povoava seus sonhos, seu imaginário e sua curiosidade. Não demorou para que os portões de Nova Atlântida se abrissem, de lá vieram imediatamente nossos nobres conselheiros de Aruanda e os demais irmãos trabalhadores da seara do cristo Jesus. Os irmãos colocaram Hugger na maca e o levaram imediatamente para as câmaras de socorro, passes serão ministrados. Hugger em silencio apenas sorria, “fui salvo” pensava “fui salvo”.
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“Todas as nações se congreguem, e os povos se reúnam; quem dentre eles pode anunciar isto, e fazer-nos ouvir as coisas antigas? Apresentem as suas testemunhas, para que se justifiquem, e se ouça, e se diga: Verdade é..” (Isaias: 43:9 ) Há milênios a.c Após assumir oficialmente o governo do Egito, Akhenaton passou a se preocupar com os caminhos que seu povo estava seguindo, seus antigos amigos agora governadores das províncias não respeitavam os desígnios a qual ele defendia. Em seu reinado, lutou por fazer prevalecer à crença no único Deus. O povo admirava os visitantes, que ainda apresentavam feições Capelinas em seus corpos o que fisicamente os diferenciava dos outros, tinha o rosto pontudo e olhos largos. Quando os Guardiões do mundo Superior vinham a terra para dar maiores orientações, apenas Akhenaton tinha permissão de comunicar-se o que causava total respeito e adoração de seus irmãos nativos da terra. Diziam que Akhenaton e seus antigos seguidores eram Deuses vindo das estrelas, barcos voadores eram vistos a todos os instantes, resultado do intercambio entre os
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irmãos de outros planetas, auxiliando no desenvolvimento da humanidade. Porém, pouco a pouco Akhenaton perdia o controle sobre seus amigos, que se aproveitavam da ignorante adoração do povo e se auto-intitulavam Deuses. O faraó aumentou as mudanças religiosas contra os múltiplos deuses que surgiam, removia todas as imagens e instituiu o símbolo do Sol, para representar a força celeste de Deus. Analilith, sua fiel companheira de desastrosas atividades sombrias, não mais acatava as ordens de seu antigo líder, não conseguia aceitar o fato de retornar a Capela, terra que a expulsou. Não podia mais permitir a Akhenaton, que os movesse a essa restituição, guardava em seu coração, a mágoa pela paixão por Sophia, desejava este amor todos os dias, e aguardando ser amada por ele o acompanhou em suas estreitas decisões, hoje se vê abandonada em um mundo estranho, e ele mesmo longe, ainda luta pela princesinha. Analilith decide reunir seus amigos e tramam o fim do Faraó, juntos impõe a ele a decisão de dominarem a terra, e subjugar esses espíritos inferiores que aqui resides. - Aqui somos reis, somos deuses. Gritava para seus comparsas.
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Akhenaton foi então derrubado de seu governo, e via que não tinha mais as rédeas de sua missão. - Tobias, o que esta acontecendo é culpa minha, todos esses irmãos que se voltam contra mim, eu estraguei vossas vidas no passado, e pelo meu erro condenei este planeta. - Akhenaton, não se culpe, você ainda pode mudar tudo isso. Disse Tobias. - Não consigo, já não tenho forças para lutar, a saudade de minha casa e de minha Sophia, corrói meu coração. Agora vejo nos olhos de Analilith que estou condenado, não tenho mais esperança. Nos anos seguintes, Analilith e seu grupo espalharam pelo globo uma onda de engano, sacrifícios, abusos e a cada dia os diversos deuses nublavam a face do senhor. A terra prometida agora era palco das trevas. Akhenaton vendo toda essa devassidão, e se culpando pelo ocorrido procurou Analilith para uma conversa definitiva. - Agora ele se rendeu ao meu valor, esse sim é o Akhenaton que eu amei, que eu conheci. Pensava a sombria líder. - vejo nos seus olhos as trevas que não nos levarão a nada! Exclamou Akhenaton. - Pare com essa misericórdia, não vê que aqui poderemos ser felizes, somos maiores que todos, construiremos um mundo
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nosso. Veja quantos homens inferiores a nós. Damos-lhes alimento e fé. - Uma fé falsa Analilith, este não é nosso mundo, precisamos nos redimir ajudar este planeta a se transformar e por méritos retornar a nossa querida Capela. - Nunca! Sei muito bem o que você quer, é a sua princesinha de volta. Não! Gritou Analilith. Akhenaton olhou triste para a face envaidecida e irada de Analilith e seus seguidores. – Não tenho mais escolha. Retirando de sua cintura um punhal dourado Akhenaton cravou o objeto brilhante no peito de Analilith. - Eis a morte, o único poder capaz de impedir-te. Disse o ex-faraó com os olhos encharcados de lágrimas. Analilith caiu sobre os pés de Akhenaton, imóvel sem fala. Os seus seguidores sentiram seus poderes se esvaindo, embriagados pela presença da morte agora em seus corpos avançaram em Akhenaton e o assassinaram brutalmente.
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Já no Parque das águas, se revigorando eu e Lara vivíamos um lindo romance, sentados próximo ao bosque, refletíamos sobre os acontecimentos, André e os demais irmãos que naquele momento tinham acabado de retornarem da missão no mundo inferior, estavam descansando nas sombras refrescantes das inúmeras árvores que embelezava o local. - Lara! Tive muito medo de perder você. - Cassiano, nunca pensei sentir o que estou sentindo, parece que nos conhecemos há tanto tempo, é uma sensação de reencontro. - Com certeza ainda temos muito que lembrar de nossas outras vidas, pois o que sinto não é desse mundo. Disse acariciando seu rosto. - Lara! Alguma coisa estranha me aconteceu no resgate. - O que foi? - Aquela mão que me puxou lá do nosso ponto de luz, me fez sentir uma certa familiaridade e principalmente uma força incomum. - Bem! Provavelmente foi um médium de grande poder, pois conseguiu nos resgatar naquele local de baixíssima vibração. - é verdade, mais fiquei intrigado com tudo. ***
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Na câmara de socorro, os passes eram ministrados por uma equipe altamente especializada, Hugger não precisou de muito tempo para se reabilitar totalmente, pois a energia doada por André já tinha reparado praticamente todos os danos mentais do cientista. Sentindo-se melhor e contente por estar em segurança, Hugger levantou-se contrariando as ordens das enfermeiras e lançou-se a correr por entre as ruas da cidade, chegando logo em frente ao imenso espelho de água de Parque das Águas se jogou na borda procurando saciar sua sede de amor e paz. Os irmãos vendo o ocorrido correram para auxiliá-lo. “Calma meu irmão você agora esta seguro” Disse Maria acariciando seus cabelos. - Nossa que felicidade quanto tempo não vejo este abençoado lugar. Falava o cientista demonstrando forte emoção. Naquele mesmo instante André sente uma familiar lembrança daquele lugar, se vê em outro tempo, uma visão imediata de uma era distante. - nossa acabei de ter uma visão da construção deste local. - O que viu meu amigo? Perguntei ansioso. - Vi muitas pessoas numa espécie de obra.. Respondeu intrigado.
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- Calma meu irmão, essas lembranças serão ainda mais claras e presentes. A sua memória espiritual esta se completando. Disse Maria. - Então eu já estive aqui há muito tempo. Continuou André admirado pela descoberta. Tobias e Jamal procuravam acalmar os ânimos de Hugger, que ainda demonstrava uma felicidade explosiva. Sempre sério e quieto Marcus Lucius a tudo assistia sem expressar uma única palavra. O cientista mais calmo se pôs a explicar o que estava acontecendo: - Desde o momento que passei a trabalhar para a Legião, achei que poderia ser útil para a humanidade, pois sempre acreditei que estava no controle. Mas descobrir um meio, um dispositivo de trazer um espírito invasor para a vida, tomando o corpo de outro irmão encarnado na terra. - Como assim? Perguntou Jamal. - Isso mesmo, um dispositivo capaz de animar com uma aparente vida um corpo aprisionado em coma. Conseguimos criar um receptáculo, uma duplicata do duplo etérico que funciona como um veículo para transportar um espírito para o controle das funções do corpo escolhido. Na verdade não é vida, mais uma ligação temporária que permite o domínio total do encarnado, o
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controle é tão intenso que gera a mesma sensação de esta novamente em vida. - No entanto precisávamos de muita energia para manter essa ligação por um período de longa duração, criamos então um acumulador de energias mentais, e através das ondas vibracionais emanadas pelos encarnados podemos abastecer esse aparelho e pôr a nossa criação em uso. - Meu Deus!!!!! Exclamou Maria. - então isso explica os seqüestros na terra. Disse Tobias. - Na verdade é parte de um plano mais maléfico, as vitimas dos seqüestros, estão sendo mantidas em baias de energias e alimentam com fluido vital as forças da Legião, os espíritos estão sendo induzidos a projetarem bons pensamentos, através de hipnose, acreditam estar vivenciando seus maiores desejos e sonhos. - Através desses pensamentos deixam a disposição das sombras um estoque inesgotável de energia em alta vibração, o que permite aos Senhores da Escuridão não serem detectados em suas investidas. - A luz esconde a escuridão. Disse André lembrando-se da frase do traidor Victor. - Tentei a todo custo chegar até o irmão encarnado na terra com o atual nome de Nicolau, por saber da capacidade mediúnica que ele
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possui, era uma maneira que eu encontrei de passar todas essas informações, mas não sei o que aconteceu. O irmão esta bem? Perguntou o cientista. - Felizmente sim, chegamos a tempo de evitar uma tragédia com Nicolau. Respondeu Jamal. - Mas Hugger você ainda não nos explicou qual o plano principal da Legião? Perguntou Tobias. - Bem, as catástrofes naturais foram uma forma de distrair os guardiões da luz, pois na verdade o interesse esta em um espírito a qual todos os Magos chamam de “mestre”, este espírito aqui no mundo espiritual conseguiu criar uma quase impossível união entre as sombras, todos voltados para um único propósito, este “mestre” reencarnou na terra, em local estratégico, o dispositivo que criamos busca através da troca dos espíritos nos corpos encarnados, auxiliar na ascensão deste espírito, que ainda não despertou para suas reais intenções. - e qual é essa intenção? Perguntou Maria. - Reconstruir Cruzada, novamente na terra. Essa resposta modificou a face de todos, de apreensão para pavor. Naquele instante Marcus esboçou uma única frase: - Me diga imediatamente onde encontramos a base em que esse acumulador esta guardado?
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Hugger respondeu: - No antigo império do ultimo príncipe de Cruzada. Todos entenderam que se tratava de Adolf Hitler e esta informação nos levava a Europa. Mas Hugger não sabia descrever o local exato, pois nunca tinha saído dos laboratórios e jamais atentou para sua localização. Hugger abaixou a cabeça e entorpecido
de
culpa pediu perdão.
carinhosamente e o confortou.
***
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Maria o
abraçou
Sob a penumbra de um lindo abajur que mais parece um vaso de flores cintilantes, Nicolau velava o sono dócil e tranqüilo de Carol. Logo após o término da seção espírita, como de costume se despediu de todos os amigos, arrumou a pequena sala enquanto a jovem se recolhia para descansar, afinal muita energia tinha sido desprendido naquele final de tarde. Quieto e imóvel, sentado na cadeira de palha frente à cama da querida sobrinha, pensava em tudo que tinha acontecido naqueles dias estranhos, se preparou por toda a sua vida procurando nunca precisar sentir tamanhas emoções. Desde que partira do mundo espiritual, para o útero materno da vida corpórea, tinha a noção exata da responsabilidade, fora escolhido entre vários irmãos, por possuir de outras encarnações uma forte afinidade com a menina, mesmo não precisando retornar para pagar por suas faltas, aceitou de forma contundente a missão, queria ajudar sua amiga e protegê-la do mal que a persegue. Nicolau era um protetor e observador, um espírito que veio a terra para uma especial tarefa, durante sua infância, teve despertado sua lembrança espiritual pouco a pouco, sua encarnação foi delineada pelos irmãos superiores, que à todo instante intervieram em suas decisões procurando sempre mantê-lo na direção traçada. O nobre dirigente precisava cuidar de Carol, orientando e protegendo seus caminhos. Veio como tio, pois sabiam que os ataques da Legião se dariam primeiro entre os pais de Carol, o que logo ocorreu em seus primeiros anos de vida em um trágico e preparado acidente de transito.
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Nicolau se viu na posição de tutor da menina, e fez de tudo para ocultá-la das sombras. Sua mente vagava nas lembranças, se sentiu fraco, respirou fundo, mas um sufocador sentimento no coração o pressionava em seu peito, tinha medo de não conseguir protegê-la, afinal, tantos anos de fuga e nada valeu. Sentiu a presença de Tobias, que entreva sorrateiramente em seu quarto, se materializando a sua frente. Com sua capacidade de clarividência, podia ver os irmãos espirituais com facilidade, sem olhar para Tobias sentia sua presença, quando o velho sábio colocou sua mão esquerda em seu ombro direito. - Olá! Velho amigo. Disse Tobias acentuando seu toque procurando confortar o dirigente. - Olá Tobias. Quantos problemas! Exclamou Nicolau. - Quero agradecer por todo o trabalho, graças a sua seção e a condução da mesa conseguimos resgatar nossos irmãos. - Hugger está bem? Indagou o dirigente. - Sim! Pela graça de Cristo, seu sacrifício lhe concedeu o resgate, logo ele irá se preparar para recomeçar a caminhada. - Lembro-me de nossas vidas, eu e Hugger éramos tão sonhadores, mas ele se perdeu no caminho, às vezes me sinto culpado Tobias, parece que não fiz o suficiente para ajudá-lo. - Não se culpe meu amigo, a vida é aquilo que plantamos, quem semeia amor cultiva amor, Hugger não é uma má pessoa, apenas desvirtuou seus valores,
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acreditando que a via mais fácil seria necessária para auxiliar a humanidade com seus inventos, no final ele tinha a pressa que eu e você, e todos nós temos de retornar a Capela. - Capela! Já nem sinto tanta falta, Tobias aprendi a amar essa terra, esses irmãos. - Quando chegamos aqui, acreditamos que podíamos transformar esse planeta numa Capela melhor, nossa como a Terra era linda, infelizmente alguns de nossos irmãos não pensaram como nós. Disse Nicolau derramando uma lágrima de tristeza. - Sem tristeza meu irmão, veja tudo que esta acontecendo agora, era inevitável, sabíamos que um dia precisaríamos resgatar este passado, nossos erros, nossas falhas e nossas dividas. Afinal nunca aceitamos o fato deles terem falhado. - Tobias! O que será de Alberto? - ele esta sendo assistido meu amigo, mas as escolhas que ele fez, envaidecendo seu coração e cegando seus olhos, o faz rejeitar a ajuda do Cordeiro. Esta lançado na sorte de seu próprio destino. Mas rogaremos por auxilio. Sabemos que o irmão foi usado em sua fraqueza. - e Carol? Quando isso irá terminar? - Quando for a hora certa para o reencontro. Nicolau mais uma vez obrigado, trago este agradecimento direto do Conselho de Aruanda. - Tobias obrigado por vosso carinho, mande minhas alegrias para meus irmãos de Aruanda, não vejo a hora de retornar para nossa terra espiritual.
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Tobias sorriu para Nicolau e partiu deixando um suave aroma de flores no ambiente. Nicolau devolveu o sorriso, levantou-se da cadeira e acariciou os cabelos de Carol. - Minha princesa! Durma Bem!
***
Ao retornar a salão de informações do Conselho de Aruanda após sua visita ao irmão Nicolau, Tobias se juntou a todos em frente à imensa mesa de reuniões, era preciso identificar o ponto preciso da base da Legião que segundo Hugger estaria próximo da Alemanha, antigo império das Sombras. - Ainda não consigo aceitar o fato de que aquele verme nos traiu. Exclamou Marcus ainda não aceitando a outra face de Victor. - Calma Marcus, não baixe sua vibração, demos uma oportunidade ao irmão que não aproveitou, no entanto nada foi feito ao acaso. Respondeu Tobias, que continuou.
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- Lembre-se que todo irmão após serem resgatados, tem sua estrutura energética identificada, o que nos permite acessar nosso banco de dados cósmico. - Banco de dados? Indaguei curioso. - Sim irmão Cassiano, todos os espíritos possuem uma ficha cadastral, onde levantamos suas vidas pregressas, débitos a compensar, bônus horas e tudo o que corresponde à existência do espírito. É claro que nem todas as informações são autorizadas a serem acessadas cada esfera superior possui uma autorização. No entanto através de nosso registro podemos tentar rastrear a posição de nosso irmão perdido Victor. Respondeu Maria mantendo a suavidade de sua voz, basta para isso que ele esteja emanando energia ainda mesmo que pequenas de sintonia conosco. Tobias se aproximou de uma espécie de aparelho acima da mesa e apertou um botão, imediatamente uma projeção holográfica em 3d do planeta surgiu a nossa frente. Num globo terrestre que parecia vivo era possível visualizar milhares de pontos de luz em diferentes tonalidades de cor, eram os irmãos espirituais que habitavam nossa esfera. Tobias aprofundou a pesquisa a algumas zonas mais inferiores, a cada aprofundada mais escuras as tonalidades das cores se apresentavam.
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Todos olhavam maravilhados o efeito lúdico que produzia, quando uma luz deu-se a piscar, era Victor, que mesmo com sua baixa vibração ainda manteve resquícios das energias a qual foi imerso na colônia. O local estava encontrado, agora sabíamos bem para onde nossa caravana irá. - Vamos nos preparar irmãos logo partiremos para a base das sombras. Disse Marcus mantendo sua severidade que completou sussurrando: - pelo menos para isso este traidor serviu. *** “Após as inúmeras tentativas de transformar o ser humano, através das diferentes trocas de auxilio entre os irmãos de diversas escalas evolutivas, através dos avatares que a cada época se estabelecia como profetas e sacerdotes, procurando despertar as civilizações para trilharem um caminho de reforma moral, espiritual, buscando sempre o reino dos céus e não dando ênfase na matéria. Os engenheiros siderais iniciaram o processo de limpeza da atmosfera psíquica do planeta para a vinda pessoal do Governante da Terra, para sua descida a faixa vibratória deste orbe, Anjos e Arcanjos prepararam um verdadeiro remanejamento
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dos espíritos que não aceitavam os propósitos do Cordeiro, uma falange assomou a terra, retirando bilhões de espíritos inferiores, cujas intenções beiravam as maledicências. Naquelas instâncias de 1000 anos antes de Cristo até o século primeiro, passo a passo o reino das sombras se tornou mais organizado e estruturado do que se poderia imaginar”. Com essas palavras Marcus Lucius iniciava uma palestra sobre Cruzada para um numero imenso de guardiões. Continuava o irmão: “Para essa preparação, um pacto foi determinado entre a sombra e a luz, os espíritos receberiam sua própria morada em troca de permitir que a humanidade caminhasse por si, sem as influencias maléficas das sombras, Deus com sua infinita bondade lhes concederia a energia necessária para a construção desse mundo. Em 1000 anos seriam liberados a retornarem a terra, buscando conviver com as lutas da vida. A espiritualidade esperava assim conter as vibrações sombrias residente em cada espírito, os conduziram então, para uma determinada região do espaço da Terra, na linha do Equador, para que a total incidência dos raios e radiações cósmicas e solares, queimasse suas vibrações mentais e contaminadas. Na esperança de reabilitar cada um, trazendo-os de volta com coração quebrantados.
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De maneira invisível, foram ajudados pela espiritualidade responsável deste projeto a construir uma cidade com organização e tudo o mais, pois entre esses espíritos havia grandes intelectuais, grandes magos, desenhistas, estadistas, guerreiros, grandes chefes de tribos e conquistadores. E no total eram bilhões de almas. Através da energia do Parque das Águas mantiveram suas bases sólidas de estrutura mental necessária para sua existência. Esta cidade
assim foi
construída,
com recursos
que
eram
disponibilizados a estes seres e teve como nome A Cruzada. Os habitantes da Cruzada esperavam no passar dos séculos, o cumprimento da promessa de que, após 1.000 anos seriam liberados a retornar. Durante este período, eles se prepararam, assim como a espiritualidade se preparava para receber sua maléfica influência. Deus, na sua misericórdia, serviria deles em benefício deles mesmos, pois como filhos não se encontravam perdidos e condenados eternamente. A Terra teria que os receber de volta, mas por serem voltados a propósitos involutivos, a espiritualidade tinham que dar-lhes um trato educativo . Neste período Nosso Senhor Divino Mestre Jesus veio a terra trazendo as boas novas, luz do caminho, preparando a humanidade para mais um salto evolutivo. No entanto, alguns
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residentes de Cruzada não cumpriram o acordo, vendo a interferência direta de Jesus e não aceitando abrir caminho para a luz, os espíritos mais fortes em conhecimento conseguiram burlar as energias que os aprisionavam e atuando com suas forças tentaram impedir a ação do Cordeiro. No entanto, a maioria desprovida de energia suficiente para sair da prizão de cruzada, aguardou pelos 1000 anos, conservando o ódio pela suposta enganação da luz, aumentaram assim suas poluições mentais, turvando o céu da cidade e impedindo a luz retificadora. Após os 1000 anos iniciou-se a descida gradual destes seres e o Planeta entrou numa era terrível de guerras, conquistas, que geraram fome e pestes por todos os lados. Mas foi na França, o berço onde se fermentaram as idéias mais nefastas da Terra. Foi lá que este numeroso grupo achou ambiente propício. Ninguém melhor do que o próprio Papa Urbano II. Em outubro de 1095, no Concílio de Clermont, o Papa inspirado por estes seres, deu o grito de guerra contra os turcos.: DEVERIA MATAR OS MULÇUMANOS EM DEFESA DO SANTO SEPULCRO. E diante da multidão proferiu.: "É Deus que o quer"; "Ide sob a égide de Cristo". Estes - mulçumanos - daquela época, por sua vez, tinham suas origens também na Grande Cidade Cruzada - inimigos do
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Cristianismo. Assim a lei levava as sombras lutarem entre si carma com carma. Não conseguindo impedir que os ensinamentos de Jesus fossem passados a humanidade, decidiram se apoderar das verdades, tornando-as restritas e má interpretadas. Todavia, este grupo de seres da Cidade, que inspiravam aqueles que tinham retornado ao Planeta, temendo que as cruzadas acabassem, organizaram no século seguinte, um movimento semelhante. As Cruzadas eram comandadas por homens nefários, sem qualquer sentimento de fraternidade. Foram mais de sete cruzadas. Uma cada vez pior que a outra. Para se ter uma idéia da primeira Grande Cruzada, foram arregimentados mais ou menos 1.000.000 de todas as raças e posições sociais. A tomada de Jerusalém era um pretexto para a destruição, matavam em nome do próprio Cordeiro. Príncipes, reis, condes e todo o alto escalão da nobreza partiam para a Guerra sob a ameaça do Papa Urbano II que os intimidava com a condenação eterna no Inferno. Para aqueles que iam, a promessa de serem perdoados por pecados por mais graves que fossem. A terra foi assolada pelas sombras. A Idade Média marcou na história as maiores perversidades até então praticadas. O lançamento do livro o Martelo das Bruxas, deu inicio a inquisição, procurando exterminar da face da terra os irmãos que
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traziam a comunicação com os irmãos de luz procurando impedir um maior esclarecimento da humanidade. A Cidade se chamou Cruzada, porque a planta do local era em forma de cruz, que se quebrava nas hastes, o símbolo antigo da esperança, “a energia em curso evolutivo”, sendo que em cada uma delas foi criado um reino, cada qual comandado por um príncipe e um imediato. O solo da cidade era de matéria viscosa, o que lhes dificultava o movimento, mas com o passar do tempo, desenvolveram exatamente como na Terra recursos e solidificaram as ruas, tornando-as mais agradáveis. A pouca água de que dispunham possuía substâncias eletroquímicas que os alimentavam e renovavam suas energias, advindas do Parque das Águas com a finalidade de auxiliar na transformação das energias mentais, porém, devido a corrupção de suas intenções os rios secavam devido a matéria densa de dejetos mentais de baixa vibração. Os vícios ali desenvolvidos foram incontáveis. A falta de pudor sem limites; o sexo em desalinho tomava proporções assustadoras; a sofisticação da brutalidade e da prepotência era a condição maior dos dragões que tinham nas mãos o domínio e o comando daqueles espíritos. Desdenhavam a Terra, alegando que os homens eram medíocres e lhes faltava à inteligência que sobrava neles,
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afirmando que a meta era a liberdade. Cada príncipe de Cruzada se preparou para ascender na terra, buscando criar o império da Legião no orbe terrestre, em revolta as investidas do Cordeiro e procurando impedir a evolução planetária que lhes tiraria o poder. Hitler foi um dos príncipes que ajudaram a governar a grande cidade das almas nos céus do Equador, foi uma das feras enjauladas por mil anos que, ao assumir o controle do Estado Germânico, tinha uma tarefa odienta com a sua consciência e os seus comandados preguiçosos, reencarnados como judeus, objetivando eliminar toda a raça. E ele, como símbolo, traz a grande cruz aberta nas hastes, planta da cidade das sombras, cuja quarta parte comandara com rigidez e orgulho.” Marcus Lucius, terminava sua palestra, atônitos a essas informações,
nosso
grupo
estava sentindo
o
peso
da
responsabilidade e entendendo a gravidade dos acontecimentos. Lara segurava forte a minha mão, me senti confiante, com uma imensa pretensão de proteger essa guerreira, logo eu, um mero escritor, almejando ser forte para a bela Lara, que de imediato olhou para mim, com expressão sorridente e beijou minha mão, agradecendo por estar ao lado dela. Com certeza ela ouviu meus pensamentos e tentou me confortar, olhei para André que não
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mostrava nenhum espanto, mal sabia eu, o quanto nós já conhecíamos essa história e ainda não lembrávamos. Observei a quantidade de irmãos a nossa volta, homens e mulheres se preparando para uma grande batalha, não estava em jogo uma bandeira, nações ou posições, mas as fronteiras das nossas decisões, do lado claro e sombrio das escolhas. Lembrei-me dos espíritos irmãos encarnados, que nada sabem dessa grande guerra entre o bem e o mal, imaginei as crianças, espíritos iluminados que nos cercam, da infância que o espírito vivencia na matéria, despreocupado com os problemas do corpo e do espírito, verdadeiras férias para uma caminhada de lutas e provações. Recordei-me das histórias de meus avós na terra, da queda do homem no éden, do inicio do mal no mundo, quando deu Deus ao homem a condição de conhecedor do bem e do mal, oferecendo o livre arbítrio em troca de uma purificação, uma evolução que fizesse circular entre todos o amor divino. Marcus Lucius terminava a explanação, instigando os guardiões para a batalha, Tobias e Maria, iniciavam uma bonita oração. Lara apertava minhas mãos com fervor, um friozinho de medo e ansiedade tocava meu perispírito e meu amigo André fechava seus olhos, não era mais aquele André perdido, com medos e dúvidas, mas outro André com face de guerreiro e
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propósito de luta. O bem fazia força contra o mal que ainda tentaria nos encobrir. *** Capitulo 16 “E foi precipitado o grande dragão, a antiga serpente, chamada o Diabo, e Satanás, que engana todo o mundo; ele foi precipitado na terra, e os seus anjos foram lançados com ele.” (Apocalipse 12:9) Há milênios a.c Após sua morte, os seguidores de Analilith iniciaram uma forte caçada aos leais súditos de Akhenaton, numa sangrenta e impiedosa destruição a tudo que lembrava seus princípios e ensinamentos. Templos, estátuas e bibliotecas foram destruídos. Akhenaton foi então recebido por Tobias no mundo celeste, ainda atordoado pelo desencarne, não escondeu a frustração de ter
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falhado em sua missão. Na sua mente via-se cada vez mais longe de Sophia. Analilith não aceitou o inesperado fim de sua encarnação na terra, desolada e ainda guardando ódio por Akhenaton, passou a vagar nas inferiores dimensões umbralinas. Sentindo o frio da morte, se revoltava a cada instante. “Como ele pôde me tirar o poder que eu tinha por direito, tantas vezes em que troquei a minha vida diante de seus propósitos” gritava perambulando pelo vale da sombra da morte. Em meio aos espíritos que vagavam envoltos de dor e sofrimento, Analilith começou a descobrir que esse mundo de sombras e trevas tinha uma atmosfera menos densa que a terra, o que oferecia um cenário aterrador, porém mais facilitador diante do imenso conhecimento que trazia em sua memória espiritual. A traição de Akhenaton dava aos seus instintos o motivo essencial para iniciar ali mesmo, neste vale trevoso, a construção de seu império. – Se não posso executar minha obra na terra, sob a pena da morte, aqui ela não me tem por direito. Após sua chegada na Colônia Atlântida, Akhenaton percebe ainda mais a importância de sua missão, passou então, a auxiliar os engenheiros celestes nas belíssimas construções que visavam ampliar a Colônia, tendo como referência toda arquitetura
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de Capela, procurava incansavelmente, encontrar uma forma de corrigir as conseqüências de seus erros do passado, Analilith era uma criação sua, assim como seus seguidores, os conquistou através da ilusão de um reino pessoal, a qual utilizando-se de todos os meios ilícitos, tentaram a um alto custo implantar em Capela, mas foram surpreendidos pela transformação evolutiva a qual o planeta passou. Sua legião do mal teve seus dias de maldade extintos, não antes do coração de Akhenaton se renovar diante do amor por Sophia. Era ela a real razão de tanta tristeza e desesperança que pairava sobre seu coração, sua volta e seu reencontro pareciam ainda mais distante, recebera como punição separar-se de seu amor, nesta terra desconhecida procurou dedicar-se ao máximo no bem, em busca da regeneração, acreditando um dia tocar nas mãos suave de sua princesa. Tantos anos e milênios já havia passados, aprendeu a gostar dessa terra, mas a maldade que depositou em seus ex-amigos, agora se voltava contra ele e contra toda humanidade. No mundo das sombras, Analilith percebe as facilidades a qual esta dimensão oferece, inicia então, a criação de um novo império, descobre que este novo mundo livre da matéria permite que ela possa atrapalhar ainda com mais facilidade a evolução do
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Planeta, retardando o regresso a Capela e atrapalhando o encontro de Akhenaton com Sophia.
***
Auschwitz – Polônia O complexo dos campos de concentração de Auschwitz era o maior de todos os estabelecidos pelo regime nazista. Nele havia três campos principais de onde os prisioneiros eram distribuídos para fazer trabalho forçado e. por longo tempo, um deles também funcionou como campo de extermínio. Os campos estavam a aproximadamente 60 quilômetros a oeste da cidade polonesa de Cracóvia, na Alta Silésia , próximos à antiga fronteira alemã e polonesa de antes da guerra, mas que em 1939, após a invasão e a conquista da Polônia, foi anexada à Alemanha nazista. Chegamos pouco tempo apenas do amanhecer, o tempo frio desta terra nesta época do ano tornava o lugar que até o momento aparentava vazio, num gélido sepulcro de dores e medos daqueles que por aqui sofreram nas mãos da Legião.
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Logo a nossa frente rosas colocadas por visitantes nas cercas de arame farpados dão cores as construções imponentes, mas sem vida. Uma verdadeira fábrica de horrores, o portão de ferro e as barricadas ainda preservadas pelo tempo proporcionam ao local ar de prisão e fortaleza. Diante de nosso grupo, espíritos de irmãos ainda caminhavam perdidos pelo pátio, parecem que não conseguem ver a saída, diferente do que imaginei, Auschwitz não me parecia povoado por inúmeros espíritos remanescentes da Segunda Guerra Mundial, poucos ainda resistiam a esta prisão. No segundo pavilhão cerca de aproximadamente um milhão de judeus e perto de 19.000 ciganos perderam suas vidas, utilizados por experiências diversas que não respeitava a ética moral e humana, ou sendo utilizados para torturas prazerosas com o objetivo de calar aqueles que um dia lutaram contra as sombras. Entramos no pavilhão principal, Tobias e Marcus seguiam a nossa frente, Jamal e os demais guardiões nos dava a defesa da retaguarda, Maria apontava para as imensas galerias, onde beliches rústicos de madeiras, completamente desconfortantes foram utilizados como dormitórios para os prisioneiros, podíamos claramente ver entalhes de descrições, orações e pedidos de
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socorros, muitos feitos com as próprias unhas daqueles que sentiam o horror do nazismo. A construção do pavilhão II, iniciou-se em 1941 como parte da Endlösung der Judenfrage (solução final). O campo tinha área de 2,5 por 2 km e estava dividido em várias seções, cada uma delas separadas em campos. Os campos, como o complexo inteiro, estavam cercados e rodeados de arame farpado e cercas elétricas “alguns prisioneiros utilizaram-nas para cometer suicídio” Comenta Maria. O objetivo principal do campo não era o de manter prisioneiros como força de trabalho, mas sim de exterminá-los. Para cumprir esse objetivo, equipou-se o campo com quatro crematórios e câmaras de gás. Cada câmara de gás podia receber até 2.500 prisioneiros por turno. O extermínio em grande escala começou na primavera de 1942. A maioria dos prisioneiros chegava ao campo por trem, com freqüência depois de uma terrível viagem, em vagões de carga, que durava vários dias, os trens chegavam diretamente ao campo. Algumas vezes, logo após a chegada, os prisioneiros eram conduzidos diretamente às câmaras de gás. Em outras ocasiões, os nazistas selecionavam alguns prisioneiros, para ser enviados a campos de trabalho ou para realizar experimentos.
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Geralmente as crianças, os anciãos e os doentes eram enviados diretamente para as câmaras de gás. Quando um prisioneiro passava pela seleção inicial, era enviada a passar um período de quarentena, após o que se lhe atribuía uma tarefa no próprio campo ou era enviado a trabalhar em algum dos campos de trabalho anexos. Passamos em silêncios pelos vazios e horripilantes corredores da morte, como foi batizada a passagem a qual levava as câmaras de extermínios, aqueles que eram selecionados para exterminação eram enviados a um dos grandes complexos de câmara de gás/crematório nos extremos do campo. Tobias nos explicava que apesar de todas as intervenções feitas pelos espíritos superiores para a limpeza deste pesado ambiente, Auschwitz ainda oferecia grande atmosfera psíquica para a Legião, pois cada visitante que passam por aqui todos os anos depositam uma vibração baixa de energia, além é claro de Auschwitz se tornar sinônimo de dor, sofrimento e tragédia, a história se encarrega de perpetuar uma áurea de baixa vibração. Realmente era notória, a nossa percepção vibracional se abalava a cada instante, não havia gemidos e nem almas sendo torturada, mas o silencio, as imagens petrificadas dos ambientes nos despertavam um forte desespero, lembra a atmosfera das
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regiões umbralinas. Marcus a nossa frente parecia farejar o portal de entrada para a base da Legião, este óbvio lugar, até o momento em nada parecia abrigar tamanhas atrocidades dos Senhores das Sombras. Seguimos nossa caminhada, atentos a todos os detalhes da sinistra construção, quando nos aproximamos dos crematórios Krema II e Krema III, que tinham instalações subterrâneas, uma sala para despir e uma câmara de gás com capacidade para milhares de pessoas. - Naqueles dias, para evitar o pânico dos prisioneiros, informavase às vítimas que receberiam ali uma ducha e um tratamento desinfetante. A câmara de gás tinha inclusive tubulações para duchas, embora nunca tenham sido conectadas à rede de água. Ordenava-se às vítimas que se despissem e deixassem seus pertences no vestiário, onde supostamente poderiam recuperá-las ao final do "tratamento" recomendando-se que recordassem o número da localização de seus pertences.. Contava Tobias continuando: -
Uma vez selada a entrada, descarregava-se o agente tóxico
Zyklon B pelas aberturas no teto. As câmaras de gás nos crematórios IV e V tinham instalações na superfície e o Zyklon B se introduzia por janelas especiais nas paredes. Os corpos eram
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levados por prisioneiros selecionados para trabalhar na operação das câmaras de gás e fornos crematórios - chamados Sonderkommando, a uma sala de fornos anexa, para cremação. Ao entramos no crematório Krema III, André ao meu lado se mostrava impávido, isento das vibrações do local. Lara sempre condizente com meus sentimentos me abraçou, os guardiões estavam de prontidão, logo abaixo havia uma câmara subterrânea utilizada para as experiências nefastas de cientistas que em nome da ciência compartilhava das facilidades oferecidas, outros que eram obrigados a cumprirem as tarefas impostas, acabavam sendo executados por sabotar as experiências ou se negar à cumplicidade. Descemos por uma pequena escada até o subterrâneo, o local tinha o teto baixo, dutos de ar que viam pelas paredes de concretos traziam oxigênio ao local que, mas parecia um sepulcro, pequenas luminárias ao teto ofereciam uma iluminação precária ao ambiente. Tobias aproximou-se da parede e acariciou algumas marcas de balas cravejadas na cinzenta e úmida sala, que ainda apresentava manchas escuras, do sangue de homens e mulheres executados por fuzilamento. - Essas são as marcas de um grande amigo. Disse Tobias com olhar compadecido
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- Ele hoje faz parte de nossa colônia, responsável pelo corpo médico de nossa principal faculdade espiritual, morreu sob os olhos enegrecidos da Legião ao recusar-se fazer parte das atrocidades aqui executadas. Olhamos curiosos e caridosos com a história contada por Tobias, que com nostalgia nos olhos nos revelou o nome do irmão. – Um dia vocês terão a honra de conhecer nosso estimado Dr. Hermann Fritzenn. Já tinha ouvido muito falar do tal doutor, Maria nos contou que o irmão no momento estava em missão especial na terra, encarnado com o nome e a vida de Nicolau. Dr. Hermann, era um espírito de alta estirpe, após seu desencarne na grande guerra, ficou pouco tempo na pátria espiritual, aceitando em seguida a difícil missão de resguardar Carol, devido a sua mediunidade a menina viria ser alvo de constantes investidas da Legião que não gostava em nada da proteção a qual a jovem recebia da luz. Tobias e Maria iniciaram uma breve oração em homenagem à dor daqueles que ali sofreram. Após a linda prece, Marcus Lucius apontou para o canto da saleta, onde flores colocadas no chão em homenagem as vitimas do Holocausto, escondiam o portal que tanto procurávamos.
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Erguendo sua brilhante espada, o guardião rasgou o ar abrindo o portal, de longe podíamos ver dentro da rocha maciça, os corredores fúnebres da base central da Legião se revelando para nós. Tobias nos aconselhou a manter o pensamento elevado para o bem, chegou o momento, a batalha dava inicio ao seu mais temido confronto. *** “Então disse o SENHOR Deus: Eis que o homem é como um de nós, sabendo o bem e o mal; ora, para que não estenda a sua mão, e tome também da árvore da vida, e coma e viva eternamente.” (Gênesis: 3:22) Há milênios a.c “Senti a primeira fagulha da verdade queimar dentro de meus desejos ao possuir a semente do conhecimento. Quando o véu que cobria meus olhos tocou o solo e me libertou, senti frio e medo. Por poucos instantes vislumbrei as maravilhas daquele poder, até o momento em que sua traição me tirou a vida eterna”.
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Com essas palavras Analilith passou a ser chamada de Lilith e seu grupo de Legião das Sombras. Após anos, já organizava um pequeno grupo de aliados, seu vasto conhecimento permitia subjugar aqueles espíritos inferiores perdidos na escuridão. Em pouco tempo já era adorada por seus seguidores, o Império do Mal andava a passos largos. Akhenaton nada sabia do que tinha acontecido com Analilith, e nem o caos em que se encontrava a terra, preocupado com o estado de culpa que assolava o irmão, Tobias evitava a todo custo mostrá-lo o que acontecia. Lilith se tornou temida pelos espíritos, e de forma covarde e sorrateira espalhava entre os irmãos encarnados o mal e a devassidão. Pouco a pouco, ela descobrira todas as formas de influenciar e atacar os irmãos na terra, os espíritos superiores se detiveram a se organizar em busca de preparar uma ofensiva contra Lilith e seu grupo, que naquele momento já arrebanhava milhões de espíritos para a Legião. O tempo não seria capaz de esconder de Akhenaton as atrocidades cometidas em conseqüência de suas atitudes do passado, mesmo mostrando a todo instante que bastava o perdão de Deus, ele ainda não se perdoava.
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– Eu sou o responsável pelos atos de meus antigos seguidores, suas almas estão perdidas, pois os ceguei com minha maldade e meu egoísmo. Dizia se penalizando pelo passado de trevas. Procurando conhecer um pouco mais das organizações dos mundos inferiores Akhenaton, junto a alguns irmãos das esferas superiores, foram conhecer de perto o Reino de trevas criado por seus companheiros de Capela, Lilith somava suas forças a outros Senhores das Sombras advindos de passados ainda mais distantes, e a cada dia se perdia totalmente na própria loucura, a proximidade de mundos ainda mais inferiores a levava a perder sua forma física se tornando cada vez mais horripilante. “um caminho sem volta” pensou Akhenaton. Olhando o resultado a que se tornou sua mais fiel companheira de maldades, tomou então consciência dos fatos, se culpando pelos atos de Analilith e seus seguidores, pois foi ele mesmo em Capela que despertou o mal existente em cada um, mal curado pelo amor e pela perda por Sophia. Os espíritos superiores decidem se preparar para as investidas da Legião, com seu conhecimento, Akhenaton ajudou a criar novos destacamentos de guardiões, bibliotecas e escolas iniciáticas. Mas o que mais cuidava com carinho era o Parque das Águas, local criado pelos primeiros imigrantes de Capela, uma réplica exata do grande Jardim de
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energia de sua antiga morada, local onde se encontrava com Sophia, onde aprendeu a amar, e descobrir que existia uma luz grandiosa em seu coração. Todas as noites ao fim do trabalho árduo, ele e os antigos capelinos se reuniam para homenagear Capela. Mas a tristeza o abatia no instante em que via as atrocidades incentivadas e lideradas por Analilith, se sentia impotente diante das maldades que ela e sua legião lançava no mundo, não demorou muito para um grupo de apenas 12 pessoas se multiplicar em milhares e depois em milhões, a Legião crescia rapidamente e sem escrúpulos, não respeitava nada e nem ninguém. As esferas superiores tentavam de todas as formas convencê-los a se renderem aos ensinamentos do Cordeiro, porém as intenções das sombras ficavam mais obscuras, já faziam o mal por mero prazer, a causa se perdia, Lilith e todos os seus seguidores caminhavam para sempre nas trevas. Do traumático cenário das sombras, Akhenaton verificou a terra que deixou nas mãos de Lilith, o planeta se encontrava numa onda de sangue, sacrifícios e a distorção completa dos valores morais defendido por ele, as civilizações passaram a adorar seus governantes, confundindo com deuses diversos, porém como não detinham seus poderes, perdiam o trono com facilidade, pouco a
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pouco os próprios seguidores de Analilith retornaram ao mundo espiritual, vitima do desequilíbrio a qual eles criaram e não detiveram o controle. Akhenaton, a cada instante sofria pela culpa que teimava em abatê-lo, mesmo com os conselhos de seu mentor Tobias, nada o fazia esquecer que fora o estopim inicial de toda a tragédia, pensava em seus ex-amigos, e o fim que eles estão preparando para suas vidas, o distanciamento de Deus e os milhares e milhões de vidas que se corromperam pelas mãos de seu antigo grupo das trevas. Lembra de quando o amor por Sophia retirou de seus olhos o véu das sombras que cegava seu coração, pensava que não seria merecedor de viver na luz, tinha medo de não alcançar o tempo perdido, mas os olhos e o coração da Princesinha o ajudou a acreditar em um futuro diferente, mesmo que fosse longe de seu amor. Aceitou as determinações do destino e estava aqui nesta terra estranha lutando para retornar a sua casa, mas seus erros no passado, não foram resgatados, sabia da sua cumplicidade no mal espalhado pela Legião, precisaria resgatar tudo isso, consertar e reparar as conseqüências da loucura de Analilith e seu grupo, mas não via como, não via saída. Completamente envolto da desesperança, Akhenaton resolveu retornar a terra, mas pedindo para as esferas superiores que pudesse ter uma vida simplória de
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provações, para desta maneira sofrer junto aos irmãos encarnados os ataques da Legião que indiretamente ajudou a construir, queria retirar de sua memória todo o ocorrido, queria ser outra pessoa, recomeçar sua história em outro tempo. Os espíritos superiores deram a permissão em compaixão ao sofrimento do irmão, sua memória espiritual fora bloqueada, encarnado ou desencarnado, Akhenaton não existiria mais, não em suas lembranças, uma decisão baseada no livre arbítrio do antigo imperador da escuridão, “de pés descalços quero apenas plantar o bem em troca do mal que causei”. Com essa afirmação Akhenaton se lança em suas novas vidas até um dia resgatar o mal que despertara em seus irmãos da sombra. Tobias o abençoou e nunca saiu de seu lado, em vidas e vidas procurou orientá-lo até o momento que fosse necessário acordá-lo novamente.
***
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Capitulo 17 Antes de entrarmos no portal da base da Legião, Marcus recebeu através de uma comunicação tele-cinética a informação de que duas catástrofes tinham ocorrido no planeta. – Eles estão acentuando os ataques. Disse Jamal. - Querem nos confundir. Completou Maria. - Vamos! Precisamos continuar! Respondeu Marcus Lucius. Éramos apenas 16 pessoas, afinal segundo Marcus não queremos alertar nossa chegada, uma movimentação maior de guardiões poderia colocar tudo a perder, de acordo com Hugger, Elloc o mago negro responsável por essa base, deve esta se preparando para sua maior investida. Próximo de Auschwitz, um grande destacamento de guardiões estava aguardando o comando de Marcus para iniciar o ataque, milhares de guerreiros da luz de prontidão para a batalha. Entramos no portal, em instantes pude perceber que a atmosfera psíquica daquele sombrio corredor se tornara mais pesada, André sempre em silêncio me passava uma estranha segurança, Lara mudou sua face, estampando em seu rosto a expressão atenta e severa de uma guardiã. O corredor era caustrofóbico, paredes úmidas e estreitas, teto baixo, uma leve
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inclinação mostrava que pouco a pouco estávamos descendo, essa angulação promovia aos nossos olhos o efeito ótico de que o longo corredor se estreitava a cada passo. Algumas portas trancafiadas por grandes correntes, surgiam nas laterais do corredor, olhávamos para as celas, e entre uma pequena janela de grades víamos os cubículos vazios. Mas à frente ouvíamos um pedido de socorro. “por caridade, me deixem sair” clamava um homem aprisionado em uma das celas, nos aproximamos da porta e vemos alguns irmãos vestindo jalecos azuis e verdes, pareciam cientistas todos com faixas nos olhos tampando suas visões, gemiam de dor e lamentação. Meu coração ficou aflito: - Precisamos ajudá-los. - Infelizmente Cassiano, esses irmãos estão sob efeito hipnótico, não podemos auxiliá-los agora, precisamos nos ater a nossa missão. Disse Tobias me puxando da janela. - Cassiano tranqüilize-se, logo eles também serão resgatados. Confortou-me Maria pousando sua mão em meu ombro. Continuamos nossa caminhada indo mais à frente no sufocante corredor, chegamos logo ao final da travessia em uma porta basicamente destruída, além dos restos remanescentes da antiga porta nada mobiliava a estranha sala, que mais parecia um hall.
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Imediatamente Marcus nos apontou uma outra passagem escondida numa falsa parede, que vista de frente se alinhava com a verdadeira parede. A passagem nos levou a um conjunto de salas divididas por biombos, algumas lâmpadas astrais, lançava uma claridade bruxuleante ao salão, macas vazias lembravam uma horripilante e suja enfermaria de hospital, mas tudo parecia abandonado. Atravessamos o salão, até uma porta bem ampla, com este formato provavelmente para permitir o trânsito das macas, Jamal observava os estranhos equipamentos que compunham este mausoléu hospitalar. A porta nos levava a um outro sinistro corredor, novamente víamos portas de celas dispostas uma à frente da outra, olhamos uma a uma e nada encontramos. - Estranho! Parece que esta tudo vazio. Disse Jamal. - Não se engane meu irmão. Provavelmente estão reunidos para seus fins nefastos. Completou Marcus. Ao final do corredor mais um enorme salão se apresenta, dessa vez rico em tubos de ensaios e outros apetrechos científicos, com certeza encontramos o laboratório da base da Legião. Atentos a qualquer surpresa, uma estranha visão nos enche os olhos; Victor Camilo de pé. - Nossa! Vocês demoraram, venham precisamos correr.
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Com os olhos esbugalhados Marcus partiu em fúria na direção do traidor, Tobias imediatamente interpelou nosso querido guardião. – Calma Marcus! O Victor esta do nosso lado. - Como! Gritou Jamal.
Todos nós surpresos com a noticia
ficamos imóveis procurando entender o que tínhamos ouvido. - Victor aceitou fazer uma encenação com as Sombras, na verdade voltou a se infiltrar na Legião procurando nos oferecer um elemento surpresa a nossa missão. Disse Tobias que logo fora interrompido por Marcus. - Mas que elemento surpresa! Tobias porque não me contou? - Marcus, não podíamos correr o risco de ter nossa comunicação rastreada pela Legião, não tínhamos a noção exata dos poderes que eles estão tendo sobre nossas vibrações. Victor baixou sua vibração despertando suas lembranças do tempo em que servia aos Magos, é obvio que como eles escondem as sombras na luz, resolvemos esconder a luz nas sombras. Explicou Tobias. Não foi difícil para compreendermos a ousadia e engenhosidade do plano de Tobias, realmente Victor era um exímio artista. - Mas Tobias corremos grande risco com esse plano. Indagou Lara. - Com certeza minha irmã, mas Victor precisava de um gesto forte que mostrasse a Legião que suas intenções de retornar eram
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legitimas, por isso pedi ao meu amigo Nicolau que fizesse uma reunião mediúnica visando nos auxiliar caso ocorresse qualquer imprevisto. - E foi o que ocorreu com muita eficiência. Completou Maria. Nossa! Ficamos admirados pela sabedoria e preparo de Tobias, é claro que apesar de concordar com o excelente plano, Marcus ainda não velava de amores por Victor, era notório o seu olhar de desconfiança, talvez seja apenas um jeito normal de um guardião calejados de lutas, afinal traidores o nosso querido Marcus deve ter conhecido muitos. Victor nos indicou o caminho para o salão principal, onde se reunia Elloc e seus comparsas, nos entregou um estranho papel, disse para decifrarmos a escrita que levará a um código que ele não foi capaz de descobrir, explicou sobre o grande invento de Hugger, e nos ensinou a desligar o equipamento. Olhei para o pequeno pedaço de papel, eram símbolos e escritos que me parecia familiar, mas André na hora percebeu que se tratava da mesma escrita do livro a qual Atanael lhe deu na Biblioteca do Conhecimento Universal. - Era isso! Exclamou André. Este livro, meu diário nos permitirá traduzir essas escritas. Lembrou-se André, afinal na colônia
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percebeu que havia em algumas partes do pequeno diário, uma espécie de dicionário. - Que bom! Vamos então continuar. Disse Marcus ainda olhando atravessado para Victor que preferiu se refugiar junto aos outros cientistas aprisionados a espera do resgate. Chegamos na entrada do imenso galpão, abaixo uma visão aterradora, milhares de baias parecendo ovos gigantes de vidro, se enfileiravam mantendo homens e mulheres adormecidos, fios estranhos ligavam suas cabeças a uma grandiosa máquina ao centro. Era visível a energia circulando pelos fios, Hugger tinha razão em seu desespero, criou uma máquina assustadora e sombria. Segundo as informações detalhadas do cientista, aquela traquitana era um gigantesco acumulador de energias mentais, os espíritos nas baias, tinham em suas mentes a falsa impressão de estarem vivendo seus mais profundos desejos e sonhos. Criando assim, vibrações de alta e intensa força psíquica, canalizados pelos fios até o acumulador. Essa energia de vibração alta permitia a legião criar poderosas armas e servia de combustível para a mais aterrorizante conquista, substituir o duplo eterico da vitima, oferecendo uma falsa vida para outro espírito invasor.
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Olhei para Jamal e perguntei se não podíamos destruir toda aquela aparelhagem tecnológica, em vez de perdermos tempo tentando decifrar esta escrita para desligar o aparelho? - Não, pois se destruirmos o aparelho, os laços fluídicos ligados aos irmãos vão transformar o coma em que seus corpos físicos estão em morte cerebral súbita e isso não podemos permitir. Respondeu o guardião. Acima das baias, um giral suspenso por enormes estruturas de aço, várias cápsulas gigantes vazias eram preparadas pelos cientistas das sombras, algo estava prestes a acontecer, Elloc supervisionava todas as movimentações, era fácil notar sua presença, era o único Mago que trajava vestes mais sofisticadas, uma clara vaidade querendo demonstrar sua superioridade em relação aos outros espíritos. - Como eles ainda não nos detectaram? Perguntou André. - Estão tão certos do sucesso que parecem nem preocupados em se defender. Respondeu Maria. - Marcus vamos atacar, chame os guardiões. Ordenou Tobias. Marcus Lucius tentava emitir uma comunicação teleci-nética, mas algo impedia. - Estranho! Não estou conseguindo.
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Tobias olhou a sua volta e percebeu um campo vibracional impedindo o contato com o mundo exterior. O silencio era sorumbático, apenas os ruídos dos equipamentos sobressaiam aos nossos ouvidos. - André! Você e Cassiano vão para o equipamento e tentem decifrar o código, contamos com vocês para desligarmos o equipamento. Disse Tobias. Caminhamos sorrateiramente abaixados, nos escondendo sobre enormes equipamentos que circulavam o computador central, seguindo as informações de Hugger e Victor, chegamos até a tela de comando, procurando fazer o máximo de silencio possível. Mas já era tarde, os quiumbas, marginais das sombras de prontidão detectaram nossa movimentação, Elloc e seus comparsas Magos Negros se aprontaram para o ataque. Tobias e Maria apressaram-se em criar uma cúpula de proteção a nossa volta, dentro os quiumbas lutavam arduamente contra Marcus, Jamal, Lara e os outros nove guardiões. André imediatamente começou a decifrar o texto do papel que Victor nos dera e eu teclava cada letra que ele me passava. Toda confusão me deixava cada vez mais nervoso, André procurava se concentrar, mas a movimentação a nossa volta não ajudava. Uma sirene soava como alarme, logo outros quiumbas
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surgiam de um tipo de poço, que aparentava ser um portal de passagem para a subcrosta umbralina. Mais e mais quiumbas surgiam, Maria e Tobias se esforçavam ao máximo para nos proteger. -André rápido! Gritou Lara. Enquanto André procurava traduzir as palavras folheando rapidamente aquele pequeno livro, eu ia teclando as letras que ele me passava. O nervosismo tomava conta de meu perispírito. Tobias e Maria mantinham fortemente a cúpula protegida, Marcus e Jamal junto aos poucos guardiões lutavam bravamente contra os quiumbas. Elloc entrava na câmara da imensa centrifuga de energia, os Magos procuravam mais defendê-lo do que nos atacar. A poderosa figura de capuz negro olhava ironicamente para cada um de nós. André lia rapidamente o livro em busca das ultimas frases, a ansiedade baixava minha vibração, Marcus sem sucesso ainda tentava contato com os guardiões que aguardavam a poucos quilômetros seu comando para agirem. Elloc fechava a câmara de vidro plasmático, ao seu lado dentro de uma cúpula, imerso por um líquido azulado o perispírito desacordado de um irmão que parecia ter sido seqüestrado há poucas horas. Com sua força mental, Elloc dá o comando de ataque a seus aliados, do
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acumulador
de
energias
mentais,
uma
estranha
força
eletromagnética se aglutina nas mãos dos sombrios espíritos, que naquele momento invoca da subcrosta da terra, cerca de quarenta outros Magos, juntos erguem as mãos e sincronizados enviam um ataque quase mortal a cúpula mantida por Tobias e Maria. O golpe transforma o poderoso campo de força, numa casca de ovo, todos nós fomos lançados a metros de onde estávamos, ao cair me senti instantaneamente debilitado, uma forte angustia aplacava minha mente, os quiumbas rosnavam como cães ferozes, enlouquecidos para nos avançar, mas pareciam presos a coleiras pelos seus Senhores. Os olhares atrozes demonstravam o desejo que tinham de nos devorar, a nossa energia saltava aos olhos daqueles vampiros de fluido vital, olhei para Tobias e Maria, que pareciam inconscientes, Lara, Jamal e Marcus, tentavam bravamente se levantarem, mas a força a qual os Magos nos golpearam, extraiu nossas energias, a mente formava uma verdadeira guerra mental, ficava difícil estruturar um pensamento, estávamos perdendo a razão. - André você esta bem? Perguntei olhando para meu amigo que fora lançado próximo ao portal umbralino, uma espécie de poço profundo que levava as camadas inferiores da terra.
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- André? Perguntou Elloc saindo da câmara e se aproximando de meu amigo. - é essa a vida imbecil que você preferiu, onde está o grande Akhenaton? O imperador das sombras! Ou melhor, o bom mocinho da luz! Gritava em tom irônico. - André! Um mero doutorzinho da terra! Pensa que não sabíamos onde você estava? Mas de tão medíocre sua existência que preferimos deixar vagando como um mero mortal neste planetinha junto à ralé do universo! Cadê a princesinha? Tanta dedicação, tantas conquistas para isso! O grande Akhenaton caído aos meus pés! Que Destino! André olhava para o mago sem nada compreender. - Nossa! Você não se lembra! Continuava Elloc dando fúnebres gargalhadas. - Pobre Akhenaton, esta confuso? Minha Senhora vai adorar tê-lo em suas mãos! Vou te mostrar um mundo de ranger de dentes, onde dor e sofrimento serão suas companheiras eternas, assim, as sombras se encarregarão de mostrar o verdadeiro caminho de poder e força. Terra onde os mais puros não ousam entrar e onde qualquer um perde o caminho de volta até nos encontrar. Bem vindo a Legião meu amiguinho.
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Elloc olha bem fundo nos olhos de André, a iluminação do ambiente, revela a face desconstruída e tenebrosa do Mago, que lança um raio fulminante no irmão que cai no profundo fosso em direção as trevas. ***
“Caindo sem direção num abismo profundo, sua mente se perdia ainda mais da razão, cenas de tudo o que viveu saltava aos seus olhos; a infância feliz de sua ultima encarnação, as tragédias da vida, lembrava de Mariazinha, do sorriso de Maria, do olhar revelador do barqueiro, uma verdadeira confusão de sentimentos. Uma forte sensação de angustia e ódio despertava dos mais profundos instintos, lembrou-se das atrocidades que cometera no passado as vitimas de sua maldade. A queda acordou de sua alma as sombras que por muito tempo o dominou, sentia medo, sentia frio, se sentia merecedor das dores que o aguardavam no abismo. Mergulhou no inferno que guardava há tempos em seu coração, das maldades que assolaram o mundo, do olhar dos inocentes que suas escolhas fizeram sofrer. Não se reconhecia naquilo tudo, mas era inegável sua memória espiritual estava despertando, e a figura que via no espelho de sua existência era maléfica. Lembrou-se de Analilith, a doce jovem que corrompeu para as sombras, e que até hoje ajuda a perpetuar o império do mal. Do
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pequeno Elloc que pela astúcia e ousadia, o levou a convocá-lo para sua rede criminosa de crueldades. Vidas perdidas que pesam na sua consciência, olhou abaixo e pode ver as feras alvoroçadas para recebê-lo, as almas sofredoras daqueles que perderam o caminho da luz para segui-lo. Achou-se merecedor, era a hora de receber a punição devida, resolveu se entregar, resolveu que era o fim”. André fechou os olhos e esperou a queda final. De seu bolso, a echarpe branca presente de Mariazinha, soltou-se na gravidade do abismo, e sua ponta tocou o rosto de André, o cheiro do tecido o fez despertar uma lembrança que ainda não tinha sido revelada, aquele perfume era familiar. André fechou seus olhos tentando formular um pensamento, viu em sua mente os olhos de alguém que tanto lhe fez bem. “As lembranças surgiam de seu coração como uma explosão de euforia, o tempo parou e André se viu no Parque das Águas, sentado no banco do jardim, esperando ansioso para vê-la. - Será que ela virá? Pensou olhando para os lados com medo de ser reconhecido por seus algozes. - Acho que ela não vem! Seria burrice dela esta aqui!! Afinal ela merece coisa melhor! Falava sozinho, a beira do imenso lago. De repente seus olhos
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brilharam num dourado excelso, a sua frente entre as rosas azuis originais de Capela, surge à linda princesinha. Seu perfume envolve o ambiente, o coração de Akhenaton sente algo que ele até pouco tempo não conhecia. - Meu coração acelera quando te vê. Disse para ela. - Meu amor, estava com saudades de você. Respondeu Sophia acariciando o seu rosto. - Sophia quando te vejo nada mais me importa. Mas sei que não lhe mereço, meu passado de atrocidades não me permite tê-la. Disse com os olhos cravejados de lágrimas que teimavam em não cair. - Akhenton, não diga isso, meu amor é maior do que seu passado, você pode ser diferente, podemos fazer uma nova historia de nossas vidas. - Não sei se consigo, Sophia, não posso esquecer quem fui e quem ainda sou. - sinta meu coração! Falou Sophia colocando as mãos de Akhenaton no seu peito. - Isso é amor! Nada importa pra mim, apenas que quero viver esse amor com você. A princesa pegou a mão de Akhenaton e colocou em seu peito para que o imperador da escuridão sentisse seu próprio coração. -Veja! Isso é amor. Você é capaz de amar tanto quanto eu. - Como posso me perdoar por tudo que fiz? Perguntou Akhenaton. - Fazendo o bem a partir de agora! Meu amor, não quero te perder para as sombras. - Minha princesa! Preciso ir.
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- Meu amor não desista de mim, perdoe seu coração em nome do nosso amor. Estarei aqui a sua espera eternamente. Volte pra mim, volte pra mim!” Essas palavras soavam em sua mente, “volte pra mim!”, André abriu seus olhos a queda estava chegando ao fim, “Volte pra mim!” a sua frente estava Sophia indo em sua direção e erguendo sua mão direita o tocou, a princesa aproximou-se e beijou seus lábios, o coração espiritual de meu amigo acelerou de emoção, que saudade da princesa. “Volte para mim!”. A imagem de Sophia tinha desaparecido, mas agora André sabia quem era e sentiu uma energia que jamais experimentara fluir de seu corpo espiritual, e com facilidade se pôs a subir em alta velocidade, abaixo as feras se desesperavam ao vê-lo fugir de suas garras, o rosnar das bestas ficavam cada vez menores ao tempo que André se distanciava. Elloc ligara o aparelho e como passe de mágica se desintegrava, o perispírito do pobre homem ao lado agora era visto envolvido em um negro líquido. Caídos ao chão do imenso laboratório, presenciamos a chegada de Akhenaton, vestindo uma roupagem egípcia, saia do poço das sombras com uma face determinada e tranqüila, os Magos se alvoroçaram, meu amigo envolto por grande energia lançou um feixe de luz que rasgou o
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laboratório. Era esse o sinal que faltava para o ataque dos guardiões, numa épica luta, os quiumbas surgiam do poço em milhares e milhares de espíritos, os guardiões adentravam imediatamente no local, a batalha estava iniciada. André, ou melhor, Akhenaton, lançou fortes fluidos para nossos corpos espirituais, renovando Tobias, Maria, Marcus, Jamal e Lara que logo atacaram os magos com grande poder, que imediatamente fugiram para a sub crosta. Eu no despertar de minhas forças recobrei parte de minha memória espiritual, lembrei-me de Akhenaton meu grande mestre, fui um de seus seguidores na sombra e na luz. Olhei para meu amigo, agora sabíamos de onde vinha tanta cumplicidade, em meio a batalha que acontecia a nossa volta nos abraçamos, mas ainda tínhamos que encerrar os planos da Legião. Voltamos para o acumulador de energia, e sem precisar do caderninho, pois agora éramos capazes de entender as palavras Capelinas, que nos levava ao código, SOPHIA. – que ironia! Pensamos juntos. No instante que digitamos o código, o aparelho iniciou a desconexão dos irmãos preso às baias de vampirismo. As energias do acumulador começaram a se desfazer. Logo Elloc voltaria, sem sucesso em sua estadia ao mundo dos vivos. ***
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Capitulo 18 “Poderia ser tão diferente, mas talvez não teria graça, o momento pedia um espetáculo”, é o que pensava o grande Elloc, um dos mais fortes Magos Negros da Legião. “Bem vinda Alvorada” Exclamou o mago, demonstrando sua alegria a poder ver o dia na terra, afinal já estava cansado de tanta escuridão. Olhou petrificado para o mundo que o cercava, o alto daquele prédio em que se encontrava o permitia ver a cidade como uma pequena maquete. “Essa é a doce Itália!” Exclamou. “Bem vindo dia” dizia constantemente, “agora sim posso transformar o mundo”. Avistou ao seu lado um pequeno casebre onde se guardava a ferramenta do nobre servente, “nossa! Tanto valor em pele de mero escravo” pensou ridicularizado pelo corpo que tinha escolhido, no entanto sabia que esse era o único que facilmente tinha acesso a seu mestre, vestiu-se com a roupa do servo e desceu as escadas procurando encontrar seu objetivo. Viera de tão longe, para devolver aos seus Senhores a oportunidade de redimir-se afinal, havia falhado com seu ultimo mestre, quando não conseguiu controlar a fúria da vaidade que o assolava, Adolf Hitler, se perdeu nos doces e viciantes sabor das conquistas e caiu diante do cordeiro, hoje fora aprisionado em outro orbe, longe de seus antigos seguidores.
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No corredor luxuoso, adornado por entalhes dourados, Elloc aproximava-se da porta onde em sono inquietante jazia seu mestre. Foram preciosos anos de preparo para todo esse plano, não conseguindo evitar mais a reencarnação, seu mestre junto aos Senhores das Sombras bolaram um brilhante plano, estabeleceram habilidades a sua encarnação que o permitiu ascender para o mundo, no entanto o plano era ousado demais, adentrar na luz, poderia distorcer os princípios naturais do mestre, o ensinar a esconder as sombras de sua alma. E foi justamente o que ocorreu, em sua caminhada desprovida de sua memória espiritual o antigo Mago das trevas, príncipe de cruzada, venceu seus tormentos e caminhou fora do plano traçado pela Legião. Elloc estava ali, para reparar o engano, desenvolveu junto aos cientistas renomados, a tecnologia adequada para fazer cumprir os propósitos de seus Senhores, como imediato da colônia sua tarefa era oferecer o suporte necessário para que se cumpra o desígnio de seu mestre. Por um momento se envaideceu de sua importância. - Lilith e meus Senhores irão me agraciar após meu êxito. Avistou a maçaneta e apertou forte, “entrada triunfante” pensou, ergueu sua cabeça e abriu a porta do quarto de seu mestre. Interrompido pelo servo, responsável por seu suporte na residência suprema, o nobre Cardeal, acabou acordando de um sono tumultuado por estranhos pesadelos. Olhou assustado a intrépida entrada de seu funcionário, a sua frente o homem parecia diferente, a altivez que estampava em sua face contradizia com seu esguio físico e o sujo
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uniforme, munido de ferramentas, olhava profundamente em seus olhos. Sentindo que algo estranho ocorrera, Elloc percebeu que suas forças se esvaiam rapidamente. “Droga! Conseguirão destruir a base” pensou, correu imediatamente para frente de seu mestre. - mestre acorde! Você precisa retornar para sua missão. Disse sacudindo o Cardeal. - Missão? O que você esta falando? O que esta acontecendo? Indagava o velho não entendo a estranha atitude do servo. - Você não pode se corromper a esse cordeiro, acorde mestre. Continuava Elloc sentindo um profundo desespero, afinal percebia que a única oportunidade que tinha estava partindo, e não tinha como despertar seu mestre. O plano não era esse, não se preparou para tal acontecimento, “era infalível!” Pensou. Lembrou-se que tentara influenciar de todas as formas, mas o ambiente sacro a qual seu mestre se infiltrara, e as constantes liturgias e orações, o impediam de aproximar-se com mais efetividade. Vendo suas forças se esgotarem Elloc se desesperou e golpeou seu mestre com uma chave inglesa. Caindo emseguida para sua segunda morte.
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Ao retornar para o mundo espiritual, Elloc se viu nas mãos dos guardiões, procurando por seus aliados a sua volta, nada encontrou, suas forças se perderam, olhou para André procurando demonstrar piedade, quando uma luz reluzente surgiu no alto da base, espíritos superiores sob a forma de anjos como as místicas figuras do imaginário popular tocando trombetas de luz apareciam anunciando a entrada de três grandes seres, que desciam de forma sublime, era uma cena linda. Os Arcanjos como os guardiões os chamavam com suas imensas alvas asas, arqueadas e iluminadas, declararam a sentença do Mago e o levou para ser aprisionado em outro orbe celeste. Um deles virou-se para nós, sua face angelical os envolvia numa áurea de amor e tranqüilidade, uma voz suave e harmônica nos agradeceu em nome do Cordeiro. Tobias depois me revelou que aquele sublime irmão era o Arcanjo Gabriel. Elloc o mago que fez à luz esconder as sombras, é resgatado pela luz para as sombras. André olhou atentamente a cena, e não se comoveu, pois entendeu que todos temos a oportunidade de mudar nossas escolhas, não poderia mais se penalizar pelas decisões que levaram Elloc ao triste fim, as trevas são ausência de luz que seu antigo seguidor não quis conhecer. Pensou André lembrando-se das palavras dos nobres Faroleiros.
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A legião perdia suas forças, pouco a pouco os quiumbas foram sendo derrotados, os guardiões bradaram a vitória, em uma grande comemoração, todos hastearam suas armas como bandeiras em sinal de alegria. Tobias e Maria se abraçavam, Marcus e Jamal sorriam, e a doce Lara corria ao meu encontro. André caminhava em silencio, não era nem preciso entrar em sua mente para saber em quem estava pensando, com certeza na Princesa Sophia, o amor e o bem de sua vida. Cumprimos nossa missão, os irmãos aprisionados nas baias eram libertados após auxilio dos espíritos socorristas, em seguida serão levados às câmaras de socorro para equilibrar suas energias e harmonizar seu psique, logo voltarão aos seus corpos e suas vidas, a epidemia do coma estava encerrada. Os cientistas, assim como Victor, foram resgatados pelos guardiões e passarão por um processo de aprendizagem e equilíbrio de suas consciência, terão novas oportunidades de se redimirem de suas ações, o grande artista capaz de enganar a todos inclusive os Magos, com certeza terá sua pena reduzida. O ambiente de Auschwitz estava sendo limpo, a base da Legião será desativada, é claro que muitas outras existem no globo, mas essa não funcionará mais, Maria me informa que será utilizada toda essa construção mental, para a criação de um grande hospital
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socorrista para irmãos em sofrimento nesta parte do planeta. Ficamos muito felizes com a noticia. Caminhamos para fora do campo de concentração, a atmosfera era mais harmoniosa, menos densa, vimos alguns turistas encarnados passeando pelo local, a serenidade dos visitantes, contradizia com o que tinha ocorrido. - Interessante como eles não tem noção do que ocorreu aos seus pés. Disse Lara. - Esse é nosso constante trabalho minha irmã, permitir que vivam suas vidas com a tranqüilidade que lhes é devida. Completou Maria sempre doce e gentil. Eu e André conversávamos sobre nosso passado, nossas descobertas, lembrei-me de tudo que aconteceu, nem tinha noção de quanto já vivenciei, sou um capelino e agora saudoso pela pátria que não lembrava, mas a maior felicidade é saber que Lara já fora minha companheira em outras vidas. Diante do campo orvalhado de Auschwitz, avistamos um grupo alegre e festivo de espíritos ciganos, Tobias nos revelou que eles estão fazendo a limpeza do local, agora livre do jugo psique da Legião. – Estes irmãos foram vitimas deste campo de concentração. Informou Jamal.
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Uma linda mulher de cabelos cumpridos e ondulados, recheada de apetrechos coloridos, anéis e jóias diversas, aproximou-se de André lhe oferecendo uma Rosa Azul. André agradeceu ofertando um lindo sorriso e aceitou com carinho o belo presente. Marcus se aproximou da irmã e a abraçou. - Grande companheira, vamos retornar ao nosso trabalho, afinal, existe um lindo posto de socorro a ser criado, onde poderemos amar com toda nossa dedicação. - Esta é Rosa Maria, uma grande trabalhadora da seara do cristo Jesus, a qual devo a honra de exercer algumas tarefas no mundo dos irmãos encarnados. Disse Marcus nos apresentando a bela cigana. - Luz e Paz meus amigos, obrigado por libertar nossos queridos irmãos do julgo das sombras. Falou Rosa Maria nos dando um belo sorriso, retornando ao seu grupo entoando cantigas alegres e caridosas. - Meus irmãos meu trabalho com vocês termina aqui, certamente voltaremos a nos ver, mas agora preciso ir, outras tarefas contam com minha presença. Em nome do Cristo Jesus eu lhes digo obrigado. Disse o irmão Marcus Lucius, nobre guardião e novo amigo.
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André deu um forte abraço em Marcus e lembrando-se de seu passado, disse: - Obrigado meu amigo é um prazer revê-lo, dessa vez foi você que ajudou a me guiou para o verdadeiro caminho. Marcus o abraçou e seguiu para junto de seu destacamento de guardiões. Seguimos para Nova Atlântida, pois André precisava retornar para sua vida na terra e nós continuarmos as nossas tarefas no mundo espiritual. Certamente estávamos envoltos de um sentimento de dever cumprido, uma grande jornada trilhamos e um grande triunfo carregaremos em nossas lembranças.
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Capitulo 19 Chegamos em Nova Atlântida no final da tarde, o sol morada dos espíritos superiores estava se pondo, levando seus raios de amor e luz, a outros cantos do Planeta Terra. Após receber as honrarias do Conselho de Aruanda fomos até o Parque das Águas relembrar de nossa Capela e é claro sentir um pouco da energia renovadora deste imenso jardim. André, aproveitou para plantar no local a Rosa Azul que recebeu de Rosa Maria, apesar das inúmeras flores de Parque das Águas essa ainda não tinha morada nas belezas do local, ela lembrava de Sophia, da última vez que Akhenaton a viu. - Será que um dia vou vê-la novamente meu amigo? Perguntou André demonstrando leve tristeza. - Confie em Deus André, após tantas lutas, e longas caminhadas, só resta confiar. - Cassiano, é tudo tão normal, as lembranças parecem nunca terem saído de minha mente, aquele sentimento de angustia e tristeza que permeava a minha vida na terra, agora eu entendo, sempre tive a forte sensação de que algo me faltava, lembro-me de tantos sonhos que tive com ela, e ao acordar ficava procurando-a em minhas lembranças, mas nada fazia sentido.
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- Imagino meu amigo, mas o que importa é que agora tudo retornou a sua mente, mesmo que ao voltar para sua vida na terra, se faça novo bloqueio; tenho certeza de que tudo será diferente para você. - Onde será que ela esta neste momento? Perguntou André olhando para as estrelas, e continuou: - Cassiano, algo me diz que ela ainda espera por mim. - André, apenas confie, confie... André deitou-se na grama e se perdeu entre as estrelas do firmamento, estendeu sua mão como se conseguisse tocar Capela com os dedos. O sofrimento, a saudade de seu coração o permitia ao fechar os olhos sentir os lábios de Sophia. Pensou no quão real foi àquela visão. Deitei-me ao lado de meu amigo, também ainda surpreso com todo o meu passado espiritual que ainda não conhecia, olhei para nossa casa e me fiz a mesma pergunta: “onde ela está?”. *** Em um pequeno monte acima de nós, Maria se aproxima suavemente de Tobias, aperta de forma carinhosa o seu ombro e lhe fala mentalmente: “queria tirar esse vazio de André”, “eu
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também Maria, mas tudo deve acontecer conforme os planos da vida” completou Tobias. *** Logo ao amanhecer, André se preparou para retornar a sua caminhada na terra, agora mais forte e revitalizado para combater o bom combate. Após uma chorosa despedida ele subiu na rampa da Aurora que leva a câmara de retorno, os irmãos trabalhadores irão acompanhá-lo em seu encontro ao corpo ainda hospitalizado. - Até breve meu amigo! Irei sempre lhe visitar na terra e estarei o aguardando aqui no mesmo lugar. -Até breve Cassiano. Despediu-se meu amigo. André abraçou Maria e agradeceu pelo carinho e cuidado que teve com ele, a Tobias olhou como quem admira seu mestre, seu eterno mentor, agradeceu o companheirismo na jornada da vida. Deu um forte abraço em Lara pedindo para que ela me protegesse. Tobias e Maria aproximaram-se ao meu lado se despedindo de André. Lara sempre quieta olhava atenta a despedida. - Como será a caminhada de meu irmão? Perguntei olhando para um novo André que partia de nossa Colônia.
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- Com certeza de muitas conquistas e tranqüilidade. Respondeu Maria. - Que bom que tudo terminou bem? Disse Lara. - É! Mas temo que vencemos a batalha, porém, ainda não acabamos com a guerra. Exclamou Tobias com ar de preocupação. - Bem! Não vamos deixar as preocupações nos tirar essa sensação maravilhosa de paz. Certo? Interrompeu Maria sempre doce e gentil. - É verdade! Vamos direcionar boas vibrações para André e que ele possa realizar todos os seus sonhos. Completou Tobias se desvencilhando das preocupações. - Ele agora é um novo homem! Exclamei. - Sabe meus irmãos! Talvez nunca iremos descobrir o que lhe fez ser outra pessoa, mas o certo apenas é de que tudo tem haver com o amor que sentia por Sophia. Perdê-la o fez compreender a vida, o significado de suas decisões e o poder da trilha que seguia. - Quando o olhar é puro, o coração perde suas mascaras e se revela, bobo somos nós, que procuramos nos apresentar de outras formas para agradar, ser aceito ou ganhar algo. Mas é preciso descobrir que Deus nos fez maior do que estamos agora. Disse Tobias continuando:
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- A grande resposta para as perguntas mais entrelaçadas de dúvidas segue agora, quando descobrirmos que Deus não é um ser substancial, mas parte de um todo, uma energia maior que vibra de pequenas partes em cada um de nós, Deus é a tradução mais perfeita de um amor em coletivo e constante desenvolvimento. Sua inteligência é indiscutível, assim como seu poder é eterno e imensurável, mas sua essência ainda está se completando. Pois Deus é cada um de nós. - A vida é um campo de possibilidades, essa história me fez pensar em Deus e na sua onisciência, com certeza já traçou nossas vidas e conhece nossas decisões. Completei. Tobias sorriu e continuou: - O lobo pasta junto às ovelhas, meus queridos irmãos, pois essa inteligência suprema percebia as conseqüências de uma humanidade apenas do bem, precisávamos conhecer a face oculta ou exposta do mal. No tabuleiro gigante da existência humana seja ela em vida ou em astral Deus nos concedeu regras imutáveis e nos ofereceu a liberdade constante e eterna. - Mas soube colocar cada pequena peça em seu devido lugar antevendo para cada jogada uma reação oposta. Segue o nosso ilusório querer e entra na nossa mente a decisão de que somos mais do que parte, mas o próprio Deus. Uma equação matemática
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perfeita, uma ação quântica exata. No paradoxo do desejo de Deus em criar o homem, segue as decisões, mas acertada da criação; aprender a amar, pois o amor conecta e nos torna uma só alma. Maria completou: - Não fomos criados apenas a imagem e semelhança, mas carregamos dentro de cada um de nós os poderes inimagináveis de Deus, sabemos criar, sabemos tirar, sabemos conhecer. Deus não nos quer como meros bajuladores de sua força nem de seu nome, não deseja que sejamos uma espécie de alto ego de seus poderes, Deus não nos criou na intenção de saciar sua carência afetiva ou sua solidão, Deus nos criou para que ele mesmo possa existir e deseja que venhamos a evoluir para que ele mesmo possa crescer. - Somos nós os culpados pela definição de pai vingativo, que puni e que persegue. Colocamos de forma demasiada Deus acima dos homens, pois no mundo real, não existe uma hierarquia verticalizada, mas responsabilidades maiores, tarefas possíveis para aqueles que tenham condições de recebê-las. Como Akhenaton, a qual nosso divino mestre Jesus o escolheu para trazer a essa terra um pouquinho do seu amor por Sophia. - Deus é a alma do mundo dos alquimistas, a grande transformação do espírito. Após o longo e difícil processo evolutivo o homem fundirá seu espírito ao espírito de Deus e trará
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consigo não só a sua parcela de amor, mais parcelas de conquistas, conhecimento e vida. Deus deu a vida e muitas vidas, para que venhamos a entender que a vida foi feita para ser vencida. Tobias apontou para o céu e continuou seu precioso ensinamento: - Sejamos um na certeza de que Deus nos colocou em sintonia constante na comunhão dos corpos, onde olhares se combinam e sonhos se entrelaçam em objetivos e metas. No mundo superior a distancias e distancias de nossos mundos, o amor maior e incondicional promove uma atmosfera de eterna felicidade. - Mas podemos ter calma, pois a promessa de Deus ao seu povo é que um dia chegaremos lá, todos, cada um ao seu tempo, chegaremos lá e ajudaremos a completar a alma do mundo. Veja nossos irmãos nas sombras, um dia eles também alcançarão a essência sublime de Deus, cada qual ao seu tempo, proporcional a suas escolhas, porém nenhum dos filhos do pai celeste ficará perdido. - Olhe para você queridos irmãos e veja a grandiosidade de sua importância e seja mais do que um andarilho na vida, mas um verdadeiro imperador de Deus, imperador da sua existência, para estes a palavra conquistar é muito maior do que vencer. Foi isso que André percebeu quando descobriu seu amor pela princesinha,
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mas não compreendeu de imediato, foi preciso que ela abrisse mão de sua jornada para que ele entendesse as lições da sua existência. - Deus alimenta as conquistas daqueles que amam a si e ao próximo, ajudando dessa forma a mudar e transformar vidas e vidas, independente de nosso passado, de nossas culpas e de nossas imperfeições. Eu e Lara estávamos encantados e agradecidos por ouvir tanta sabedoria. - Será que um dia ele encontrará novamente com Sophia? Indaguei. - Mais cedo do que ele espera. Disse Maria. - Na verdade ela já esta bem próxima. Completou Tobias, sorrindo para Maria que se demonstrava surpresa pelo Velho peralta revelar para mim essa confidencia. - Seu velho imprevisível, isso é típico de pai Joaquim. Disse Maria se referindo como o irmão é conhecido no Conselho de Aruanda. Eu e Lara olhamos curiosos para os dois, que logo nos envolveram com um forte abraço, se despedindo em seguida, afinal, outras tarefas esperavam por eles em esferas superiores. - Adeus Cassiano! Adeus Lara! Em breve voltaremos, o trabalho continua, Luz e Paz para todos. Falou Maria se transformando junto com Tobias em um ponto incandescente de luz.
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- Que a paz te acompanhe meu irmão, conte suas histórias para o mundo, eles precisam de palavras verdadeiras. Disse Tobias já completamente transmutado em uma fonte de luz, numa velocidade incrível, juntos rasgaram o céu até seus brilhos se confundirem com as estrelas do firmamento. Lembrei da visão que André me relatou e pensei no que Tobias tinha dito, logo percebi que Tobias falava de Carol. Dei uma risada espontânea “agora entendi tudo, certamente Carol teve um lindo sonho” pensei abraçando Lara e ouvimos uma linda gargalhada de meus amigos espíritos superiores Maria e Tobias. O bem vencia, pelo menos por enquanto, mas a vida, essa sempre continua.
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Epílogo
A
cordou do sono mortuário, o ferimento apenas o levara ao
inconsciente, chegou em parte do caminho do fim, sentiu
que ao retornar do frio gélido da morte, sua mente se libertara das amarras da terra. Sua consciência estava estendida, dilatada e novas informações faziam parte de sua vida. “Vida! Nossa!” Entendeu tudo, despertara para sua missão, percebeu que quase teria perdido a oportunidade, afinal 65 anos na terra já não é tão moço assim. Precisava agir rápido. “Nossa! Como meus servos fizeram o trabalho perfeito” comemorava, afinal sua vida permitia alcançar seu objetivo. Trilhou o caminho correto mesmo cego pela pouca lembrança que jazia até agora. “Preciso me livrar deste fétido corpo” pensou olhando para o corpo caído do pobre servente, mas ainda não é hora, o reino será aqui, “preciso me lavar deste sangue mortal” disse correndo para o lavatório e aplacando o ferimento com uma toalha. Agora entendeu tudo, as certezas saltam sobre seus olhos, “sei quem eu sou” disse para sua própria face, olhando-se no espelho, ”como eu poderia ter esquecido?”. Acabou de lavar-se, foi até o armário de madeira maciça, estava vestindo uma simples
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batina preta, precisava estar a altura, e trajou seu opulento roupão vermelho, exuberante veste, digna de um exímio Cardeal. Abriu as janelas de seu quarto, respirou o doce ar do Vaticano, olhou suntuosamente para a Capela Sistina, mirou mais ao lado e apertou os olhos para ver melhor o Palácio Apostólico morada do Santo Papa, respirou fundo e deu um fúnebre sorriso. “O tempo chegou” pensou ele.
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EM BREVE
Continuação da Saga de Parque das Águas
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