em paralelo // uma hipótese de construção metropolitana

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// em paralelo


UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO


TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

MAURÍCIO ADDOR NETO ORIENTADOR // HERALDO F. BORGES

SÃO PAULO // 2019

// em paralelo um ensaio sobre a ocupação do espaço aéreo sobre tecidos consolidados como uma hipótese de adensamento urbano



// para FlĂĄvia, MaurĂ­cio e Maria Fernanda.


agradecimentos //


Em primeiro lugar, à minha família, aqueles que sempre estiveram do meu lado, e que do meu lado sempre estarão. Pelos valores, conhecimento, suporte infinito, amor, carinho, e pelo senso de lugar no mundo. Mãe, Pai e minha querida irmã, meu muitíssimo obrigado. A vocês, serei eternamente grato.

Por todo carinho, atenção e presença, obrigado Cândida e Lúcia.

Pela amizade, compreensão, lealdade, carinho, amor, amadurecimento, cumplicidade e confidencialidade. Pelo apoio total e parceria em todos os sonhos e frustrações. Por todos esses quatro anos e por todo tempo que certamente virá. Em especial, pelo suporte inquestionável e pelo auxílio insubstituível neste último ano. Obrigado minha Juba. Pelas risadas, parcerias, camaradagem, brisas, conversas, aprendizados, e anos de interfau, agradeço ao Xorume. Em especial ao Deds, Rex, Magris, Maga, Gika, Tuts e Digo. Obrigado pela amizade que permeou outras instâncias.


Pela amizade, lealdade e conhecimento, obrigado Futema.

Pelo apoio e por ter conseguido ajudar a materializar as ideias, obrigado Philip.

Pela parceria e confiança, obrigado Sofia.

Pela amizade, cumplicidade e desabafos, obrigado Izabel.

Pela camaradagem e pelo aprendizado, obrigado Pepo.

Pela amizade e por todas as risadas, obrigado Natalie.

Por todas as boas quartas-feiras, regadas de conversas, amigos e bons momentos de alívio e descompressão, obrigado Videocrema. Aos parceiros de vida, pessoas que a faculdade trouxe a mim. Pela lealdade, amizade, parceria e todos os bons momentos. Obrigado Vander, pelos rolês, pela amizade franca e pela pele marcada. Obrigado Gabriel, pelos concursos, novidades, e pelo amadurecimento profissional e pessoal. Obrigado Breno, pela amizade leve e conexão profunda, e por todas os momentos de parceria, pessoal e profissional. Obrigado aos três, por terem sido vocês mesmos, cada qual à sua maneira, insubstituíveis. Sem vocês, minha graduação não seria a mesma. Pela orientação e pelo apoio no desenvolvimento integral deste trabalho, obrigado Professor Antônio Cláudio e Professor Heraldo Borges. Pela amadurecimento, ao Handebol. Pela parceria, ao Handbrothers. Obrigado aos dois, pelos anos de quadra e pelas experiências coletivas.


Pelo aprendizado, aventuras e conhecimentos agregados, agradeço à Associação Atlética Acadêmica Arquitetura Mackenzie, em especial, à Chapa TIT. Por aquele um dia do semestre, que empolga, contagia e faz aflorar o ser carnal. Pela bagunça, molecagem, amizades, histórias, memórias, aventura e coletividade. Obrigado, Café com Leite. Por todos os momentos, pelos anos bem vividos, pela felicidade e pela realização pessoal. Serei eternamente grato por esses 6 breves e marcantes anos, cujo final é tão empolgante quanto seu início. Obrigado a todos que de algum jeito, marcaram essa fase e me fizeram enxergar esse novo mundo, que agora, mais uma vez, abrirá outras portas. Obrigado por ter acontecido exatamente do jeito que aconteceu.

Obrigado e fumumtit.


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conto 14

prólogo //

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introdução // em paralelo // parte 1

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sobre os contextos // A

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sobre os conceitos // B

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teoria

sobre as utopias // C em paralelo // parte 2 epílogo // anexo // referências //


// sumรกrio

sumรกrio //


“...A arquitetura já não é tanto a arte de projetar edifícios como a brutal extrusão ao céu de qualquer terreno que o promotor tenha conseguido reunir.” Rem Koolhas, 1978


“Uma característica notável, que salta aos olhos em qualquer cidade moderna, é o fato de que amplas zonas da mesma estão formadas por enormes imóveis, cada um financiado, programado e projetado como uma entidade única. O tamanho de cada unidade – o superbloco, como decidi chama-la - não está determinado por nenhum fator físico... existe sempre um fator comum: as enormes reservas de capital da economia moderna que permitem que a iniciativa pública, privada ou mista chegue a controlar extensões cada vez maiores de solo urbano.” Alan Colquhoun, 1975


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prรณlogo // 14


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S

ão Paulo no futuro. O ano é 2060. A cidade está densa, mais do que já se foi pensado em outrora. Com a finalidade de usufruir dos equipamentos públicos e de toda a infraestrutura provida pelo centro da cidade, milhares migram das periferias da grande mancha da região metropolitana da capital do estado todo ano. A cidade está cada vez mais congestionada, adensada não somente em habitantes, mas também em construções, informações, dados e tecnologia. Como palco dessas movimentações de massa, a capital paulista transforma-se como um organismo vivo, ampliando e se deformando conforme às necessidades de seus habitantes. Seu tecido urbano já sofrera uma boa parcela no século passado, fragmentando-se à infinita expansão, até onde o capital era visto e não visto, tentando acolher todos aqueles cujos ouvidos receberam as tão prósperas promessas de boa vida.

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Sem continuidade e organização do todo, as partes foram tomando forma, como amebas deslizando sobre uma placa de Petri. Desumanamente, surge a metrópole tupiniquim, a capital de negócios da América Latina, com seus arranha-céus envidraçados em estilo internacional e cortiços se aglomerando e se multiplicando como uma célula disfuncional, não muito distantes entre si. Porém essa discrepância era apenas um sintoma. A sua principal doença era aquela do abandono. Como uma criança mimada que cresce trocando seus brinquedos sem muita cerimônia, esquecendo seus velhos parceiros da imaginação nos fundos de uma gaveta ou de um baú colorido, São Paulo foi deixando seus velhos cenários ao longo de todo um século, transformando-se sempre em novas urbanidades às custas daqueles bairros em que um dia se fez cidade viva e ativa. Sem interesse em conceber uma cidade onde já se haviam ocupantes, as melhorias urbanas e os palcos de novos empreendimentos imobiliários adquiriram uma força centrífuga no qual o efeito colateral foi o esquecimento, ricocheteado em direção daqueles que não tiveram como opção seguir o vetor de investimento. Tomados como perdidos, bairros inteiros se deixaram ser levados pelo tempo e pelas não tão coerentes administrações, cujas

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decisões, certas ou não, convergiram para essa condição. A principal estratégia foi sempre a mesma – busca, compra, desapropriação, demolição e por fim, a construção, que ao longo da virada do milênio, era ditada pela especulação e pela dúbia promessa de segurança. Muros e cercas rasgam os bairros, criando fronteiras artificiais entre o meu, seu e nosso. Um apartheid de classes, cujos recipientes que fazem borbulhar tal dinâmica são justamente aqueles que prometem melhorá-la. Sem relação entre si e tampouco com seu contexto urbano, torres e mais torres foram surgindo, dividindo e segregando, eliminando quaisquer chances de atividades favoráveis a vitalidade urbana, fechadas em si, atrás de suas guaritas e cercas elétricas. Nesse movimento a lá Ville Radieuse, contextos consolidados que possuem uma identidade que traz significado aos seus reais usuários são totalmente apagados e destituídos de forma. Quando se viu, já tinha construído ali, um troço, eliminando as memórias e alterando a paisagem.

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introdução // 18


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O presente trabalho tem como objetivo flertar com as possibilidades de ocupação territorial que somente uma metrópole teria a chance de testemunhar. Vivemos em uma era onde as mudanças e transformações culturais, sejam elas por adição ou subtração, são cada vez mais frequente, cuja velocidade se equipara com as dos dispositivos e ferramentas que hoje preenchem e complementam nossas vidas. Esse fator de constante mudança, inerente a sociedade contemporânea de uma cidade de caráter global como São Paulo, está indissociável à construção espacial da mesma. Cultura e tecnologia afetam o espaço construído em um ciclo sem fim, cuja as consequências por vezes somente são percebidas após tais mudanças ocorrerem. A metrópole paulistana se formou ao longo do século XX em uma expansão territorial que não conhecia limites, inflando-se horizontalmente conforme seu número de usuários e habitantes cresceram exponencialmente. Com a necessidade de adensar a cidade e aproximar as pessoas das infraestruturas e equipamentos urbanos, seu tecido urbano foi transformado e alterado, criando cada vez mais distintas paisagens, porém nem sempre em harmonia e em conjunto com suas pré-existências e seus antigos cenários.

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(1) Demolições na Avenida João Dias, 1973. Busca, compra, desapropriação, demolição, e por fim, a construção.

Neste ensaio, é entendida tal situação como um paradoxo contemporâneo, no qual aqueles responsáveis por conceber a urbe necessitam construir seus edifícios, devido a existência de uma demanda real de adensamento; e por outro lado precisam preservar seus tecidos, suas malhas, suas tipologias e até suas construções comuns, pois esses são elementos que carregam consigo valor e memória, caracterizando o sítio e definindo seu estado no acervo imagético popular. “Estender o conceito de preservação de monumentos à fisionomia da cidade como um todo, tem a finalidade de gerar uma nova postura nas intervenções urbanas, cujo tecido histórico – como trama do existente – deve ser considerado dentro do seu contexto tal qual um sistema contínuo de referências para a transformação e tutela dos valores históricos e culturais.” (BARDA, 2009, p.21)

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Através desta perspectiva, é especulado aqui uma condição espacial extraordinária, não como espetacular, mas sim como “extra-ordinário”, fora do comum. Um possível meio de enfrentar este dilema seja conceitualmente através da sobreposição de necessidades – adensar / preservar; e fisicamente, através da ocupação do espaço aéreo sobre estes tecidos urbanos consolidados. A condição tecnológica, imaginativa e sobretudo cultural que a sociedade do século XXI se encontra, permite tal ensaio e visão de cidade, da mesma maneira que a humanidade já presenciou outros estados de transformações, como quando os renascentistas redescobriram as artes, os iluministas reinventaram o significado do indivíduo, os modernistas reimaginaram nosso território e os situacionistas reinterpretaram a relação homem-tecnologia. Entende-se aqui, que vivemos em um contexto que permite tal devaneio, apenas necessitamos adentrálo sem preconceitos e embarcar nessa viagem. Todo conteúdo deste ensaio já tem sido trabalhado por aproximadamente um ano e meio até agora, quando realizei o curso do Istitute of Architecture and Urban Studies IAUS, em meados de 2018. A perspectiva defendida aqui só foi possível graças à análise realizada no curso de um dos mais ambiciosos projetos do século XX, o Rockefeller Center, em Nova Iorque, Estados Unidos. Curiosa é a relação de ambos – edifício e malha urbana; cuja dinâmica tem como fruto este ensaio. É uma visão que está sendo lapidada com a finalidade de não se esgotar neste trabalho, mas prosseguir adiante ao longo dos futuros anos de profissão e estudo acadêmico.

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O texto será dividido em duas tipos - conto e teoria. O primeiro servirá para explicar, através de uma narrativa, como se conceberia formalmente o futuro da metrópole, partindo da ocupação do espaço aéreo e da criação de uma malha urbana tridimensional como uma hipótese de construção urbana. O segundo tipo servirá para a contextualização histórica e embasamento teórico da proposta, no qual serão discutidas brevemente a relação pela qual o homem concebeu seu modo de habitar a metrópole, de meados do século XIX até a virada do milênio. O conto surgirá no início e no final do trabalho, sendo dividido, portanto, em duas partes. Entre elas, desenvolver-se-á toda a teoria, incluindo: o desenvolvimento analítico de uma parte da região central de São Paulo, a fim de melhor compreender o território que irá receber a proposta de sobreposição; a conceituação desenvolvida no IAUS, como estudo analítico de Manhattan e posteriormente do Rockefeller Center; e uma breve passagem sobre as utopias urbanas das décadas de 1960 e 70. No final, surgirá como anexo, a proposta de sobreposição urbana como alternativa para o adensamento de Manhattan, que nada mais é do que o projeto final desenvolvida para o IAUS.

Este ensaio é uma ode a metrópole.

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ega o trem, cruza cidades, chega na intermodal da Barra Funda. Esse é o percurso básico de quem chega para habitar São Paulo. Saindo da estação, algumas paradas extras de ônibus até parar no local desejado. “Saiu ali mais um empreendimento bom para morar!”, lê-se no panfleto holográfico da esquina, sobre o relógio digital que alterna com o termômetro oficial. Com a curiosidade gerada virtualmente através das conexões das mídias sociais, muitos estão se locomovendo para testemunhar essa mais nova façanha da mistura do poder público e privado. É bom? É ruim? Não se sabe, pelo menos não por agora, daremos tempo ao tempo. De longe vê-se um mastodonte estrutural, um tanto quanto confuso à primeira vista. É vertical? Horizontal? É vazado? Cheio? O que ocorre ali? Um marco não muito sutil no skyline urbano define agora novos meios de morar e ocupar a cidade. O feito mais curioso do conjunto é a criação de novos planos públicos, que surgem em

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(2) "Um marco não muito sutil no skyline urbano define agora novos meios de morar e ocupar a cidade".

continuidade. A malha urbana, antes bidimensional, toma outra forma. Acrescida de mais um eixo, ampliase horizontalmente através da verticalidade, adquirindo uma nova dimensão. Uma mistura de usos e possibilidades surge dentro de uma megaestrutura nunca antes vista. O aglomerado metálico surge como uma hipótese de ocupação desse território, tendo como finalidade maior a preservação de uma situação urbana e seu adensamento extremo. “Já que vamos construir, por que não dessa maneira?”, frase lida agora na própria tela do telefone – mensagem automática recebida pelos transeuntes daquele contexto, emitida pela gestão atual para promover o empreendimento. Apoiando-se em meio aos vazios urbanos e lotes subutilizados, barras horizontais pairam sobre toda uma comunidade: a velha igrejinha do bairro, a sexagenária padaria da família Silva, a escola infantil que testemunhou e formou inúmeras gerações de cidadãos e mais outras dezenas de sobrados e pequenos comércios locais. Curiosa é essa preservação. “Há valor ali? Precisa de tudo isso?” já dá pra sentir os questionamentos no ar dos que ali esperam pra receber maiores informações. De perto, fica tudo mais claro. O novo conjunto

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arquitetônico e urbano nada mais é do que uma junção de edifícios convencionais que funcionam como pilares e pontos de apoio para uma grande nuvem horizontal de apartamentos, que por sua vez, funciona como viga e elemento de conexão entre as torres. A condição inovadora que mais caracteriza o conjunto é o fato dessas massas horizontais apoiarem uma nova cota urbana e pública. Em seu nível mais elevado, um novo passeio público, com acesso franco e de livre apropriação surge como coroamento generoso do edifício.

(3) Perspectiva da altura do pedestre da megaestrutura a partir da Avenida Barão de Limeira.

“Eu posso ir ali? Como?” indaga um dos interessados em obter uma unidade residencial do complexo. Simplesmente só pegar o elevador ou a escada rolante! Dá pra se perceber o alvoroço, e as pessoas querem logo experimentar essa nova sensação – ascender. Altura sempre foi sinônimo de poder, quanto mais alta uma unidade comercial ou residencial, maior a influência e status. Aqui, o mais alto é o pedestre, a oficina, a lojinha, a calçada. A rua é duplicada, uma sobre a outra, gerando maior superfície de adensamento sobre os mesmos metros quadrados. O espaço aéreo conforma agora, um novo meio para livre apropriação e distintas trocas urbanas. Uma camada

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extra é adicionada ao experiente contexto, a fim de gerar diferentes dinâmicas. Como uma rua elevada, essa possui endereços elevados, praças elevadas, casas elevadas e lotes elevados. Uma nova área onde uma construção e ocupação podem surgir. Essa condição favorece um adensamento rico e variado, pois aposta na concentração de elementos distintos, que mais que dobra em quantidade, promovendo uma maior densidade demográfica, construtiva e programática, do que qualquer outra proposta. A hibridização do espaço é plena, promove o encontro físico e visual de diversos tipos de usuários com diferentes objetivos para com o edifício. A experiência de especulação acadêmica e imobiliária de adensamento urbano surge no foco das discussões acadêmicas do mais alto nível – a ocupação do centro de São Paulo. A área em questão é Campos Elíseos, que em outrora foi concebida como a versão brasileira das alamedas e boulevards parisienses. Esta ChampsElyssés, porém, ao contrário de sua progenitora, padeceu ao longo dos anos, sofrendo um êxodo financeiro e negligência governamental, mudando drasticamente sua paisagem ao longo de décadas.

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Essa louca extrusão urbana desenvolve-se por cima de seis quadras em uma área de transformação, fácil de chegar, próxima a estação Júlio Prestes de metrô e do terminal rodoviário Princesa Isabel. A facilidade com que Campos Elíseos absorveu e aceitou esses polos urbanos de transporte ao longo de sua história influenciou as grandes empresas de tecnologia, logística e transporte a desenvolverem suas sedes e suas próprias “estações”, por assim dizer, ao longo da região. Com a frequente diminuição da cultura de posse do veículo automotivo privado, novas dinâmicas urbanas surgem através dos novos meios de transporte, seja de bens ou de pessoas, tão influentes como seus predecessores. Em um mundo onde a Tecnologia da Informação dominou praticamente todas as indústrias e campos de atuação profissionais do ser humano, é fácil e frequente encontrar centros logísticos de start-ups, bases de distribuição de veículos autopilotados, postos de aluguel de bicicletas, patinetes, seg-ways e quaisquer outros brinquedos de infância cuja demanda metropolitana conseguiu transformar em elemento de mobilidade urbana. Há também, não muito distante, um polo logístico de drones cuja performance se assemelha aos antigos e finados

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motoboys, antigas hemoglobinas urbanas. Todo esse esforço tecnológico para garantir uma metrópole hiper conectada e em constante movimento.

(4) "Como uma rua elevada, essa possui endereços elevados, praças elevadas, casas elevadas e lotes elevados."

A cultura molda a sociedade, que transforma suas demandas, apoiadas e transformadas pela tecnologia, em um círculo virtuososo, que não cessa em sua metamorfose. Com o complexo urbano utópico não poderia ser diferente. Essas mudanças radicais nos meios de pensar e conceber a vida humana atinge o espaço construído de uma maneira visceral, cuja possibilidade e a necessidade de questionar os mecanismos tradicionais de ocupação do espaço superam qualquer mentalidade retrógrada e conservadora. Os mais recentes usuários da megaestrutura vibram energeticamente num frenesi programático, no qual todas suas vontades e necessidades são concretizadas em um raio de duas quadras somente! É inacreditável o quanto se pode realizar em um único dia quando tudo está ao alcance em menos de 5 minutos de caminhada. O que extrapola esse limite temporário é facilmente resolvível – um drone aparece como servo fiel do homem com um simples toque em um ícone de aplicativo, que além de ser encontrado em qualquer aparelho móvel de comunicação, é visto também em totens inteligentes

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espalhados por toda a cidade. Em uma metrópole, você nunca está sozinho.

(5) Na imagem está destacado o conjunto, ao lado da Avenida Rio Branco.

Essa condição espacial e tecnológica única confere aos usuários mais facilidade e velocidade ao realizarem seus objetivos cotidianos pessoais e profissionais, permitindo um maior tempo para o lazer, descanso, cultivo de hobbies, práticas esportivas diversas, maior contato com os entes queridos e amigos; um cenário positivista e hedonista. Trabalho, moradia, diversão; tudo é fundido em ações únicas, fazer um não significa sabotar o outro. Possivelmente, até Karl Marx indignar-se-ia com a facilidade que o homem conseguiu livrar-se do peso do trabalho com o avanço da tecnologia e da comunicação. Da Avenida Rio Branco até a Alameda Barão de Limeira, da Alameda Eduardo Prado até a Alameda Nothmann. Esse recorte urbano da metrópole paulistana testemunha essa sobreposição formal e programática absurda, ainda difícil de ser aceita por alguns cidadãos. Os acessos ao conjunto são uniformemente distribuídos ao longo dessas seis quadras, cada um conferindo algum tipo de atividade diferente – cultural, comercial, educacional, esportiva ou residencial. Não há portas, guaritas ou muros. O contato da estrutura do edifício com o solo que demarca o início de sua área efetiva.

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(6) "Não há portas, guaritas ou muros. O contato da estrutura do edifício com o solo que demarca o início de sua área efetiva"

Uma vez adentrado, é possível identificar os espaços distribuindo-se verticalmente, preenchendo a malha estrutural conforme as necessidades programáticas e espaciais. Nenhum andar é igual ao outro. Ambos os eixos – horizontal e vertical, ou ainda, planta e corte; são livres para construção e apropriação, conferindo um aspecto poroso ao volume real do edifício, como um queijo emmental cujas moléculas se reorganizaram, transformando-se num pedaço quadrático e ortogonal de explosão de sabor. Há porem o medo dessa malha subverter-se às necessidades do capital. Uns dizem que há um sério risco de influentes incorporadoras de adquirir grande parcela do conjunto e estimular uma especulação imobiliária do espaço aéreo. Essa retícula tridimensional tem a mesma característica que as retículas viárias urbanas. Podem ser compradas, negociadas e alugadas. Portanto, ela se encontra sob os mesmos riscos da cegueira mercantil provocada pela ganância como qualquer pedaço de lote urbano. Agentes do governo, advogados, urbanistas e líderes de associações de bairro lutam fervorosamente no plano judicial para que o sistema não saia do controle. Somente o tempo dirá como será essa ocupação.

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Devido à grande escala do projeto e de seu impacto urbano nada sutil, a malha tridimensional ergue-se como uma peça de infraestrutura, comportando todos os sistemas prediais, contendo suas próprias estações de tratamento de água e esgoto, coleta e distribuição dos recicláveis, compostagem de lixo orgânico, centros de distribuição de energia elétrica e água encanada com uma parcela dessas adquirida respectivamente através de placas fotovoltaicas e pontos de captação de água pluvial, distribuídas uniformemente sobre toda a estrutura. É um sistema de circulação vital, comparável ao de um ser humano, irrigando o conjunto através de uma logística única e indissociável a sua existência. Nele se encontra toda a base para que se desenvolva o adensamento demandado pela metrópole. É necessário apenas que seja ocupado. Em um pavilhão efêmero erguido logo em frente ao conjunto encontram-se os vendedores e negociantes da malha tridimensional. Incorporadores, investidores e construtoras, todos sendo remediados por representantes do poder público, a fim de adquirir um trecho da superestrutura e lá construir o que bem entender. Há, porém, uma lista de programas obrigatórios, como contrapartidas urbanas, definidos através de uma profunda pesquisa e análise espacial, desenvolvida por secretarias urbanas e financiada por algumas empresas privadas, a fim de promover um adensamento com qualidade, e não apenas quantidade. 40


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"Qual o esquema", um dos magnatas do mundo corporativo pergunta arrogantemente. O Plano Diretor Estratégico de São Paulo de 2056 já atende e entende esse novo sistema na lógica da cidade. É necessário incluir em qualquer produto imobiliário elementos como fachada ativa, equipamentos públicos, mobiliário urbano, postos policiais e de saúde, e totens inteligentes. A cota pública elevada é o elemento de maior contrapartida. Essa nova rua, erguida fisicamente através de todo programa, é parcelada e dividida uniformemente, no qual o responsável pela venda, locação e manutenção é também a mistura do poder público e privado. Finalmente haverá a palestra de explanação sobre a metodologia de inserção da ideia, independente do contexto urbano. Se respeitada e seguida fielmente, a nuvem de densidade agora poderia ser replicada em qualquer ponto de São Paulo. Muitos se aglomeram na área improvisada para sanar as dúvidas e entender melhor o ambicioso processo. É seguida uma apresentação em hologramas, e para os VIPs, um passeio em realidade virtual. Um urbanista respeitado da prefeitura inicia seu discurso. O primeiro passo é o de análise contextual. É escolhida um local que possa atender a demanda e receber um projeto de tal escala. Inicialmente a ideia surgiu para ser desenvolvida na área delimitada pela

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Operação Urbana Centro. As regiões da Sé, República, Santa Ifigênia e Campos Elíseos foram as sorteadas da vez. No futuro espera-se que possam ser replicados nas outras operações - Água Branca, Água Espraiada, Faria Lima e Bairros do Tamanduateí.

(7) "A área em questão é Campos Elíseos, que em outrora foi concebida como a versão brasileira das alamedas e boulevards parisienses."

Depois de estudados as quatro regiões, Campos Elíseos surgiu como o melhor cenário para a experiência. Foram analisados dados coletados ao longo das últimas décadas, em conjunto com outras instituições de renome internacional. Dentre os elementos pesquisados, as principais condicionantes eram a topografia, densidade demográfica, malha viária, eixos urbanos e patrimônios tombados. A densidade construtiva e qualidade espacial proveniente da mesma também foram características de peso para decisão final. Uma vez definido que o local seria Campos Elíseos, o estudo muda de escala e a análise recai sobre a escala do bairro, mais precisamente em 1:2500. Curiosamente, os eixos urbanos, patrimônios tombados e equipamentos urbanos ocorrem em uníssono, sobre as mesmas alamedas projetadas e definidas em 1879, no qual comportam e articulam todas as possibilidades concebidas por essa relação simbiótica mutualista. Como se Nothmann e Glete soubessem que o desenho de seu plano original sobreviveria ao longo do século e além disso, seria o responsável por abrigar toda vitalidade e energia urbana.

(8) Colagem do conjunto no contexto urbano de São Paulo.

É sobre as alamedas aristocráticas de outrora que surge a metrópole hiper adensada de amanhã. Uma metamorfose urbana de respeito. 0

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1. Felipe Correa, São Paulo: Uma Biografia Gráfica, 2018, pág. 10

A escolha das quatro regiões para este estudo inicial – Sé, República, Santa Ifigênia e Campos Elíseos, se dá pelo fato de constituírem os tecidos urbanos mais resilientes de São Paulo. É neles que se encontram as construções mais antigas, as vias mais caminhadas e os visuais mais consolidados. Todos sendo elementos que configuram a memória e a paisagem urbana paulistana. Em cada esquina, encontra-se história. Apesar da origem da cidade remontar ao século XVI, sua maior parte foi construída nos últimos cento e trinta anos. As áreas em questão testemunharam essa evolução urbana e fizeram parte dela, a partir da origem de seus traçados viários e de sua morfologia urbana. Esse traçado foi consequência das obras de infraestrutura hidrológica e de mobilidade cuja finalidade era a obtenção de um paraíso industrial, visto seu posicionamento geográfico entre o interior abundante em recursos e o porto de Santos como porta de saída comercial internacional. Portanto a metrópole brasileira teve em seu início aspirações completamente utilitaristas, desvinculadas de aspirações cívicas e urbanas1. “Consequentemente, hoje, São Paulo é uma cidade caleidoscópica, composta de um conjunto de microbairros culturalmente ricos, fragmentados por grandes infraestruturas (...) que foram concebidas para atender à cidade, mas nunca projetadas para fazer parte da vida da cidade, portanto interrompendo seriamente a continuidade do tecido urbano.” (CORREA, 2018, p.10) Os desafios para a São Paulo do século XXI são justamente a relação dessas infraestruturas para com a urbe; sejam elas ferrovias, rodovias, pontes, rios canalizados, instalações logísticas, etc. E também como prosseguir quando for necessário conceber novas infraestruturas urbanas.

(9) Mapa da região central de São Paulo, destacando as quatro áreas de estudo inicial.

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Ao comparar as quatro regiões, é possível conferir as distinções das projetadas e não projetadas, que coincidem com a ordem cronológica de apropriação e também com sua topografia. Todas possuem amplo acesso à transportes públicos e a equipamentos urbanos, e ao mesmo tempo se assemelham marjoritariamente nos tipos de usos, o que confere um aspecto de urbanidade durante o dia, porém um outra distinta durante a noite.


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são paulo_centro (9)

campos elíseos

santa ifigênia

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sé 2. Para conferição do significado do termo, ver pág. 90 deste trabalho.

A Sé tem em seu tecido um desenho mais irregular, com topografia muito mais acentuada do que as outras. Ela se configura próxima da região inicial da cidade, São Bento, cuja ocupação se deu através de uma clássica operação estratégica de colonização que remonta as épocas jesuíticas – a conquista do terreno mais elevado, a fim de garantir segurança frente aos diversos obstáculos inerentes à época. O que gerou um desenho de geometria irregular, o que pode dificultar a navegação e consequente localização. Por conter poucas vias em proporção a sua área, uma boa parte delas configuramse como eixos urbanos, que conectam a região aos seus arredores. Porém essas vias caracterizadas como eixos possuem praticamente as mesmas dimensões que as outras, de caráter mais local. Consequentemente, há um estrangulamento do tráfego de automóveis, uma vez que tais vias não foram desenhadas para conter tamanho fluxo. A volumetria e tipologia de seus edifícios remonta a época e legislação de suas construções. São edifícios sem recuos laterais, ocupando grande porção do lote, gerando poucos resíduos urbanos. Os vazios são concentrados em locais específicos, como a Praça da Sé, localizada em frente a Catedral da Sé (1954) e o Palácio da Justiça (1933), ambas construções em estilos não coerentes com a vanguarda de sua época de concepção, remetendo a um passado glorioso da humanidade. O gabarito médio não é elevado, há uma série de construções de 2 a 4 pavimentos, principalmente na porção sul, mais próxima ao bairro da Liberdade. Quando comparado densidade construtiva e demográfica, percebe-se uma divergência. A região de elevado gabarito, à noroeste, possui uma menor presença populacional se comparado a região mais ao sul, de menor gabarito. Conferindo veracidade ao dito popular “tamanho não é documento”. Ou seja, há uma concentração construtiva que não se equipara com a concentração demográfica. Isso se dá devido aos tipos de usos que ocorrem nesses edifícios, em sua maioria serviços e comércio. O que proporciona uma cidade ativa e informal durante o dia, porém uma outra cidade no período noturno, vazia e sem ocupação urbana. Condição esta que embasa o argumento do movimento pendular2 e da baixa densidade na região central.

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A região da República configura-se já como “Centro Novo”, apelido dado as áreas ocupadas na época que se localizavam além do vale do Anhagabaú, cujo vão fora vencido e a conexão estabelecida através do Viaduto do Chá, construído em 1888. Aqui já há um desenho relativamente mais claro, nos quadrantes noroeste e sudeste. Neste último, porém, as vias são exclusivas ao tráfego de pedestres. Por consequência, há também um elevado número de vias caracterizadas como eixos urbanos, principalmente a Avenida Ipiranga, que atravessa a região pelo meio. Esse eixo já conta com uma calha maior para o tráfego de automóveis, devido a sua importante função de conectar o “Centro Velho” ao um outro tipo de centro, o comercial e empresarial, localizado na região da Avenida Paulista, através da Rua da Consolação. Outro importante eixo é o da Avenida São João, conectando mais uma vez o Centro Velho à toda porção noroeste do centro expandido, como a Barra Funda, e posteriormente a Perdizes, Pompéia e Água Branca, quando se transforma na Avenida Francisco Matarazzo. A volumetria das edificações do bairro é de certa maneira homogênea e regular. Os edifícios ocupam a maior parte do lote como a Sé, principalmente na região de vias exclusivas à pedestres. Muito semelhante aos moldes europeus, porém sem o miolo de quadra como articulador urbano. Na verdade, os vazios urbanos na República quase não existem, configurando-se apenas em praças junto à edifícios de caráter institucional, como a Praça da República e o prédio Caetano de Campos (1894) que serve hoje como sede da Secretaria de Educação do Estado, a Praça Dom José Gaspar em conjunto com a biblioteca Mário de Andrade (1925), e a Praça Ramos de Azevedo, com a o Theatro Municipal de São Paulo (1911), que serve como conexão com a cota inferior do Vale do Anhangabaú.

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Portanto, para incrementar o percurso do pedestre, especialmente na área destinada exclusivamente ao seu percurso, uma série de edifícios possuem fruição pública e comportam-se como galerias, conectando vias distintas por dentre o desenho regular da malha, como a Galeria Metrópole, Galeria do Rock, Praça das Artes, Sesc 24 de maio, Conjunto Zarvos e Copan. Nesse caso é um ótimo exemplo de uma boa relação do edifício e malha urbana.

3. Ver ensaio da Sol Camacho intitulado "Copan: hoje, um verdadeiro edifício metropolitano", in Felipe Correa, São Paulo: Uma Biografia Gráfica, 2018, pág. 163

A densidade construtiva na República é bem elevada, as edificações possuem elevado gabarito, com uma média de 10 a 15 pavimentos. Nela se encontram também os gigantes clássicos da arquitetura moderna brasileira como o edifício Circolo Italiano do arquiteto Franz Heep, de 1960, com 46 andares de uso comercial e de serviços; ou também o Copan, do pritzker brasileiro Oscar Niemeyer, cujo ano de início de construção é de 1952 e sua inauguração é de 1966, sendo esse um dos projetos mais ambiciosos do século para a cidade, sendo até anunciado como o Rockefeller Center de São Paulo na época3. Porém, quando comparada a densidade demográfica da República com esse elevado número de construções chega-se a uma outra incoerência semelhante a encontrada na Sé. Toda área dotada da excelente fruição pública e vitalidade urbana que se assemelha aos consolidados centros europeus possui baixíssima densidade populacional. Essa região sofre do mesmo problema que a Sé, um número baixo de residentes integrais, tendo a habitação, portanto, como um uso não predominante.

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santa ifigênia Localizada a norte da República, a Santa Ifigênia surge como um resquício, sitiada em uma geometria triangular, entre as regiões da República e Campos Elíseos e das peças de infraestrutura da ferrovia e a Avenida Tiradentes. Seu traçado, completamente regular compostas por quadras de tamanho homogêneo, proporciona familiaridade para o transeunte. Ele mescla-se com a malha viária de Campos Elíseos, quase como se fosse um anexo que se desprendeu dos planos de Nothmann e Glete. Sua topografia é praticamente plana, o que propicia a trama reticular. Proporcionalmente, possui mais vias e cruzamentos que a República e a Sé, que, quando aliado à uma topografia amena, pode gerar maior vitalidade urbana devido a quantidade de encontros e possibilidades de percursos ao pedestre, fato que pode ser comprovado empiricamente por ser um dos mais famosos pontos comerciais de eletrônicos da cidade. A região possui apenas três eixos urbanos, sendo eles as arestas de sua forma, elementos de conexão que mais dizem respeito à outras regiões do que à própria Santa Ifigênia. Sua densidade construtiva é especialmente baixa quando comparada com as de seus vizinhos, sendo suas construções, na maioria das vezes, sobrados. Morfologicamente, as edificações preenchem as quadras quase que em sua totalidade, e quando comparada essa forma com a quantidade de edificações, é possível identificar, proporcionalmente, um elevado número de lotes, conferindo um número maior de usuários. Outro fato que comprova que a região é bastante usada, apesar dos baixos gabaritos e pequenas construções, é o fato de ter uma elevada densidade demográfica, com média maior que a Sé e a República. Portanto pode-se chegar a conclusão que estes sobrados são de uso misto, no qual o uso predominante na cota térrea é o comércio e sobre ele, uma residência. Essa mistura condiciona a região a ser uma das mais ativas comercialmente do centro da cidade, apesar de seu tamanho e volume construído. Santa Ifigênia pode ser uma pequena amostragem de que para obter uma cidade ativa, não necessita de um alto número de construções, especialmente quando há coerência entre malha urbana, topografia, volume de construção e mistura de funções.

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Enfim chega-se a Campos Elíseos, a maior área das quatro, com 1.497.000 m2. Evidentemente, a região não é mais a mesma desde seu projeto original de 1879, expandindo-se principalmente a sudoeste. Seus limites se dão a sul através da Avenida São João, que posteriormente configura-se como Santa Cecília, e ao norte pela linha ferroviária, cuja estação localiza-se dentro de seu domínio, a Estação Júlio Prestes. Sua malha reticular é proveniente do traçado humano, primeira região a ser planejada e loteada oficialmente na cidade de São Paulo. Sua topografia levemente acentuada dissipa-se ao longo de sua extensão.

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4. Reportagem Folha de S.Paulo, https://www1.folha.uol.com.br/ seminariosfolha/2017/09/1920660regiao-central-deve-ganhar-5-milmoradores-com-novos-edificios.shtml, acesso em 20/11/2019.

Seu volume construído não é tão elevado como na República ou na Sé, e tem em suas características morfológicas as mesmas situações que na Santa Ifigênia. Os edifícios possuem em média 4 pavimentos, de 12 metros de altura. Em sua totalidade, são 3.130.464 m2 de área construída, e 11.383 pavimentos. Em relação ao seu tamanho, não possui uma elevada densidade construtiva, tendo um Coeficiente de Aproveitamento médio de 2,86. Curiosamente, os vazios urbanos são mais frequentes na região central, próxima do cruzamento da Avenida Rio Branco e da Alameda Nothmann; e, em sua maioria, surgem como resquícios dos lotes que contém os centenários casarões, remanescentes da época gloriosa da indústria cafeicultora. Há, porém, a presença de vazios como articuladores urbanos, como a Praça Princesa Isabel e Praça Júlio Prestes. Por ser uma região relativamente abrangente, possui uma variedade tipológica elevada, contendo sobrados, os casarões de caráter eclético e edifícios modernistas e contemporâneos, sejam eles residenciais e comerciais. Sua densidade demográfica tem uma média elevada, comparável ao da Santa Ifigênia, cujos maiores índices se encontram mais ao sul, próxima da região da Avenida São João. Isso ocorre provavelmente devido ao fato de que ao longo deste eixo, foram construídas uma série de edifícios residenciais, cujo perfil de usuários mudou drasticamente depois da construção do Elevado João Goulart. A região de menor densidade é aquela mais próxima da estação de trem, local onde antigamente localizava-se um terminal de ônibus. Este terminal mudou de endereço, transferindo-se ao lado da Praça Princesa Isabel, a fim de aproximar-se do principal eixo urbano, a Avenida Rio Branco. No lugar do antigo terminal, ao lado da Praça Júlio Prestes, está em curso hoje a construção do primeiro conjunto habitacional de interesse social proveniente de uma PPP – Parceria Público Privada, cujo projeto é do escritório de arquitetura Biselli Katchborian. Com 1.202 unidades, um eixo comercial no térreo que se conecta com a Santa Ifigênia, uma creche, um mercado, e a sede da EMESP Tom Jobim – Escola de Música de Estado de São Paulo, a região testemunhará um aumento nos índices demográficos nos anos que estão por vir4.

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5. A listagem completa desses imóveis pode ser conferida no documento de Processo de Tombamento de Campos Elíseos - Proc. SC 24.506/86 do CONDEPHAAT - Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo, de 17/03/1986

Campos Elíseos surge como o local de ensaio devido ao potencial de transformação mais elevado do que as outras regiões analisadas. Seu ambiente construído e sua morfologia é mais flexível que a Sé e a República, o que naturalmente atrai o mercado imobiliário. Seu traçado viário possui uma malha reticular, de escala coerente com a proposta, e uma topografia de leve variação, em contraste com a Sé, por exemplo. A região possui mais infraestrutura e conexões urbanas do que a Santa Ifigênia, apesar da similaridade do tecido urbano. Quando somados todas essas condições e se for levado em conta a quantidade de imóveis tombados sob seu contexto, sendo estes mais de 405, cujas construções e alamedas já testemunharam mais de um século de mudanças políticas, econômicas, culturais e sociais, pode-se chegar a conclusão que o futuro de Campos Elíseos será um eterno embate de entidades com inclinações preservacionistas e patrimoniais e outras favoráveis à construção e alteração da paisagem a fim de aproveitar o momento gerado pelo interesse em habitar o centro. Em outras palavras – preservar e adensar.

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(30) Mapa da mancha urbana de São Paulo de 1890. Já é visível a retificação do rio do Tamanduateí, tipologia de obra de engenharia e infraestrutura que prevaleceu durante toda a evolução da cidade. No centro da imagem é possível identificar a Várzea do Carmo, que hoje é o local do Parque Dom Pedro II.

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Campos Elíseos transformou-se gradual porem fortemente ao longo de décadas. Surgiu como o primeiro loteamento planejado da cidade, em 1879. Feito sob encomenda e financiado por dois europeus – Victor Nothmann e Frederico Glete, que compraram e lotearam a chácara que ali existira6. Suas ruas eram espaçosas e de desenho claro, no melhor estilo reticular e ortogonal que até Haussman ou Cerdá7 se orgulhariam. Repletas de vegetação e árvores escolhidas a dedo, configurou-se como as mais modernas alamedas da época, alamedas estas que perduram até hoje e, que por si só, como malha urbana, contiveram todas as possibilidades de que um dia poderia surgir ali.

6. Idem Ibidem 7. Referência aos responsáveis pelos planos urbanísticos de Paris (1853) e Barcelona (1860), respectivamente, cujo traçado viário predominante é regular, com a típica ocupação perimetral denominada quadra européia, ao contrário, porém, das tipologias de implantaçãos dos casarões paulistanos.

Como um produto da visão centrífuga de Ebenezer Howard, essa planície era a nova menina dos olhos da elite cafeeira do final do século XIX. Próxima do triângulo histórico que poderia até ser considerado como capital econômica e de negócios do Brasil. Foi um bairro aristocrático e elitizado, preenchido majoritariamente por casarões e mansões, isoladas em seus lotes-jardins e alienadas em sua realidade europeia fictícia. Sua importância como bairro era tanta que até a residência oficial do governador do estado lá se encontrava, o Palácio Campos Elíseos. Era uma região pouco densa, bastante verde, com grande concentração de renda.

(31) Vista de Campos Elíseos na década de 1910. A região foi epicentro da expansão da capital paulista. (32) Palácio Campos Elíseos nos dias de hoje. Uma das poucas construções da época que resistiram com o passar das décadas. (33) Vista aérea de Campos Elíseos. Em seu início, a metrópole ja demonstrava sinais do horizonte interminável da ocupação humana. A direita, é posssível identificar a ferrovia como elemento de gênese urbana.

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(34) Projeto da reforma da Estação Julio Prestes, de Cristiano Stockler das Neves. (35) Versão final da estação, após as mudanças de quase 15 anos de obras devido a crise de 1929.

Em paralelo, testemunhou-se o surgimento inevitável da linha ferroviária paulista, favorável ao progresso, conectando interior e costa marítima, transportando e exportando os bens do campo numa lógica indissociável à cidade - estações de trem surgem agora como polo transformador dos territórios em que se inserem. Em Campos Elíseos não poderia ser diferente. Iniciada em 1872 pela Estrada de Ferro Sorocabana, a antiga estação que hoje é conhecida como Estação Júlio Prestes sofreu uma reforma e ampliação em 1925, projetada por Cristiano Stockler das Neves e Samuel das Neves, porém somente foi finalizada em 1938, em função da grave crise econômica global de 1929. Com a Grande Depressão, é dada a largada à lenta e duradoura decadência do bairro. A elite cafeeira aos poucos começa a perder poder e influência. A ferrovia, que era sinônimo de progresso e gênese urbana, agora transforma-se em seu significado. Há a deterioração do entorno próximo do sítio de implantação, processo que foi acelerado e intensificado com a adoção de planos rodoviaristas que culminaram na total negligência administrativa para com a ferrovia como meio de transporte de bens e de pessoas.

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Aos poucos, as peças de infraestrutura que caracterizavam Campos Elíseos como polo aristocrático e elitista foram se deteriorando, caindo no esquecimento enquanto os novos investimentos seguiam os novos ricos e seus novos endereços, como Jardins, Avenida Paulista e Higienópolis; curiosamente, na mesma lógica de Campos Elíseos – pouco densa, verde e com alta concentração de renda.

(36) Cartão Postal de São Paulo do início do séc XX, de Guilherme Gaensly, retratando a Avenida Paulista, no sentido Paraíso.

A praça, a estação, a igreja, o colégio, os casarões. Aquelas construções que sobreviveram ao longo das décadas, mantiveram-se fieis aos seus usuários, porém o contrário não é verdadeiro. O perfil das pessoas alterou-se em conjunto com a transformação urbana. Surgem as classes operárias e imigrantes, os cortiços e sobrados pobres e, num futuro não tão distante, uma crise social que amarga a todos que por ali passam, a cracolândia. Largados pelo poder público, esses diferentes perfis se apropriaram do espaço na melhor maneira que lhes convieram. (36)

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(37) Edifício de uso misto com estabelecimentos comerciais emparedados na Alameda Dino Bueno. (38) Praça Princesa Isabel após polêmica ação policial na região, em 2017, tomada por moradores de rua e rastros da crackolândia.

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(39) Esquina da Alameda Dino Bueno com Rua Helvétia, após mesma ação policial. Má gestão pública aliada à crises socioeconômicas se traduzem em um cenário urbano prejudicado e mal utilizado.

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metrópole 8. Ebenezer Howard, Cidades-Jardins de amanhã, 1996, p.116, in https:// www.vitruvius.com.br/revistas/read/ arquitextos/04.042/637, acesso em 20/11/2019.

A cultura de concepção urbana transformou-se, muito por consequência dos experimentos do século XX, onde na prática surgiu desde Manhattan até Brasília, e na teoria, desde Ville Radieuse de Le Corbusier até a Plug-In City do Archigram. Um verdadeiro laboratório de utopias construídas e não construídas, em que a tecnologia foi surgindo cada vez mais como principal fator inerente à urbanidade, do elevador à ponte, e que em nela, todas as possibilidades estão contidas.

(40) As Cidades-Jardim, Idealizada para a elite de uma Londres industrializada do século XIX. (41) Plano de Avenidas de São Paulo, esquema teórico segundo Prestes Maia, que ditou o desenvolvimento urbano a partir de 1968, com uma estrutura radial de grandes avenidas. (42) Corte esquemático de uma via do Plano de Avenidas, cujo principal usuário é o veículo automotivo.

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Na virada para o Século XXI, a principal crise era a da sustentabilidade. Ou melhor, da falta dela. Há um despertar global na consciência humana, sobre como construímos nossos mundos e de como utilizamos os mesmos. As cidades então, tornam-se alvos de investigação. A dispersão urbana causada pelos modelos rodoviaristas fortemente apoiados e desejados globalmente na século XX mostraram-se insustentáveis. Era um meio de morar que na verdade surgiu no final do século XIX e que apenas foi intensificado pela inclusão do automóvel. As cidades-jardins, idealizada por Ebenezer Howard em 1898, foram uma resposta às crescentes mazelas das novas cidades industrializadas: a superpopulação, pobreza, insalubridade e poluição8. Era uma visão romântica e saudosista da relação homemnatureza, mas que ia somente de encontro àqueles que podiam pagar o preço. Para o resto, sobrou o cinza urbano.


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9. O termo cidade compacta foi extraído do livro de Richard Rogers, Cidades para um Pequeno Planeta, 1995. 10. Opnião pessoal concebida a partir do estudo da disciplina

Esse modelo de cidade gerou bairros residenciais distantes, conectados entre si e com o centro através de vias expressas destinadas somente e exclusivamente ao automóvel particular que rasgaram o tecido urbano, fragmentando-o e dividindo-o por zonas com funções distintas. Ironicamente, nasceu como uma fuga à poluição, porém transformou-se no principal mecanismo de geração de poluentes. Na virada do milênio, um outro modelo surge como resposta à essa infindável expansão horizontal - a cidade compacta. Para poder absorver o crescimento e expansão urbana com sustentabilidade, a cidade precisa voltar para si. O planejamento urbano agora é uma disciplina holística e abrangente, envolvendo ecologia, economia e sociologia9. Numa cidade compacta, quem comanda é a densidade, construtiva e populacional, programática e funcional. Por definição, densidade é a concentração de elementos em um determinado meio, quanto maior a densidade, maior o número do mesmo elemento em um sistema fechado e limitado. Em outras palavras, e traduzindo para o âmbito urbanístico, é um maior número de pessoas morando na mesma região, usufruindo de infraestruturas urbanas e equipamentos públicos próximos, gerando uma sobreposição de atividades econômicas, culturais e sociais, promovendo a multifuncionalidade e a mescla de usos e funções distintas num mesmo quadrante urbano, com uma estrutura flexível e um forte senso de comunidade dada através da geração e expressão da cultural local10.

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(43) Trecho do livro de Rogers, que explica conceitualmente as diferenรงas da cidade dividida por zonas, vulgo moderna, e da cidade compacta.

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10. Palimpsesto é uma palavra de origem grega, datada do século V a.c., que denomina um pergaminho já utilizado, cujo conteúdo pode ser apagado para subsequente reutilização. O significado literal é "aquilo que se raspa para escrever de novo". Devido à escassez de pergaminhos durante os séculos VII a IX, houve uma generalização dos palimpsestos, que se apresentavam então como uma superfície com textos superpostos. A raspagem desses, porém, não eliminava por completo os caracteres precedentes, montrando-se por vezes, ainda visíveis, possibilitando a recuperação. Sobre o palimpsesto como metáfora da cidade, ver Benedito Lima de Toledo em “A cidade de São Paulo é um palimpsesto – um imenso pergaminho cuja escrita é raspada de tempos em tempos, para receber outra nova”, in São Paulo, três cidades em um século, 1981 11. L'architettura della città, 1978 12. O termo movimento pendular está vinculado a uma das linhas de pesquisa em Geografia Urbana, cuja dinâmica influencia a construção metropolitana. In Movimento pendular e perspectivas de pesquisas em aglomerados urbanos, Rosa Moura; Maria Luisa Gomes Castello Branco; Olga Lúcia C. de Freitas Firkowski, 2005.

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A densidade é mensurada por habitantes por hectare. Esse dado traduz a ocupação territorial, indica se a região está sendo eficiente em relação à oferta e procura da condição mais básica de um cidadão numa cidade – habitar. A palavra habitar surge aqui como real definição do que é almejado na morada urbana. A cidade torna-se extensão do lar, oferece o contraste perfeito entre público e privado, com uma boa dose de sentimento de pertencimento ao usuário, que o torna inconscientemente responsável por ela. Como palco de transformação social e cultural, a cidade contemporânea é melhor definida como um palimpsesto10, que se sobrescreve a cada instante, acrescentando distintas camadas ao longo do tempo. A essência urbana, porém, é mantida se forem preservados os elementos e aspectos que justamente caracterizam a região. As tipologias arquitetônicas juntamente com a malha urbana e o traçado viário são os principais contenedores das dinâmicas urbanas, e são eles que as definem. São, na melhor concepção de Aldo Rossi, seus artefatos e monumentos11. A evolução urbana, portanto, deve seguir se transformando junto com sua sociedade, porém ser fiel às características que a distingue e traz identidade e pertencimento ao usuário. Cabe aos arquitetos urbanistas saber fazer a releitura com responsabilidade. Porém uma filosofia surge às vezes, somente para não ser seguida. Em São Paulo, o adensamento urbano ocorreu às custas dos espaços públicos e da qualidade e vitalidade dos mesmos. Há uma elevada concentração de infraestrutura em seu centro histórico, seja lazer, serviços, transportes e negócios, que em grande parte, é usufruída por uma população que lá não reside. Esse processo gera uma dinâmica chamada movimento pendular, no qual uma massa populacional se desloca por grandes extensões, diariamente, vivenciando a cidade em retalhos e fragmentos, e não como um espaço fluido e contínuo12.


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A população estimada de São Paulo em 2018 é de 12.178.866 habitantes (IBGE), sendo que na região da Sé (centro), a população chega a apenas 431.106, e no centro expandido – zona delimitada pelos anéis viários dos Rios Pinheiros e Tietê, há cerca de 2.102.851 habitantes. Portanto, são mais de 10 milhões de pessoas que não possuem as mesmas qualidades e facilidades urbanas que a região oferece. Com o objetivo de trazer mais pessoas para o centro, edifícios são construídos aos moldes tradicionais do mercado imobiliário, que apenas respondem a demanda num mecanismo frio e calculista, demolindo as pré-existências e levantando espigões sem valor arquitetônico e urbanístico algum, sem relação com a cidade, fechados em si mesmos, intensificando a vida privada apenas, gerando cada vez mais uma cidade segregada, uma cidade de pontos13.

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13. Termo extraído do livro São Paulo: uma biografia gráfica, 2018, de Felipe Correa, que possui um capítulo de mesma alcunha. Nele, discorre-se sobre a construção e a evolução da tipologia do arranha-céu em São Paulo. Iniciase com o apontamento dos edifícios pioneiros, sendo eles Edifício Guinle (1916), Edifício Sampaio Moreira (1929), e Edifício Martinelli (1929). Porém, finaliza afirmando que nas últimas 4 décadas testemunhou-se uma verticalização a favor da vida privada apenas - "comunidades verticais fechadas", "separadas da vida urbana da cidade", págs. 73-88.

(44) Condomínio residencial vertical fechado. Construção típica para responder a demanda de habitação em São Paulo.

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14. Rem Koolhas, Delirious New York, 1978 15. De acordo com o autor, a cultura da congestão era o objetivo máximo dos arquitetos da Manhattan do início do século XX, no qual se dava através da conquista de toda a quadra por um único empreendimento. Cada um possibilitaria quaisquer tipos de ocupação que o universo privatizado permite. Seriam "cities within a city", tão únicos em sua existência que atrariam seu próprios habitantes. Congestão é a representação de uma densidade infinita de todos os elementos que compõem uma metrópole.

A linha que divide o pensar arquitetônico e o urbano é cada vez mais tênue. Para lidar com essa cidade contemporânea, há de se pensar em projetos que correspondam ao entorno e ao contexto, gerando novas dinâmicas urbanas e evidenciando as características inerentes do sítio. Como uma das grandes lições do século XX, há de se pensar a cidade como memória. Saber identificar as condicionantes urbanas que trazem identidade e noção de pertencimento à região, e também os elementos que a caracterizam. Não se pode pensar em cidades como tábulas rasas para se intervir. E qual seria a alternativa? A situação aqui proposta surge como um ensaio urbanístico de ocupação territorial. Uma hipótese de adensamento urbano no qual especula-se a criação do novo em conjunto com o antigo. Uma possível interpretação da máxima de Antoine Lavoisier (1743-1794) – “Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma.” É sob tal filosofia que se especula aqui a metrópole contemporânea. Uma eterna transformação do âmbito construído, coerente com que já se encontra sob seu domínio.

(45) Horizonte infindável de edifícios. São Paulo ocorre até onde a vista alcança. Em destaque, o Edifício Circolo Italiano, conhecido como Edifício Itália, e o Copan.

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Essa possibilidade conceitual surgiu como fruto de uma análise de outra metrópole. Nova Iorque, ou mais precisamente Manhattan, a progenitora das cidades globais, pioneira na invenção da mais incrível tipologia arquitetônica: o arranha-céu, que na visão de Rem Koolhas14, possibilitou uma verdadeira cultura de congestão15 e pavimentou o caminho para um modelo urbano condizente com a cultura de sua época, a globalização.


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No início do Século XVII, embarcações de imigrantes holandeses atracaram numa península fria, chuvosa, pantanosa e lamacenta. Era um novo mundo para a contínua exploração e progresso da humanidade, apelidada aqui de Nova Amsterdã. Apenas a ponta dessa grande ilha foi colonizada, da mesma maneira que se é percebido um Iceberg através somente de uma pequena porção que desponta sobre a linha tênue da superfície da água. Nova Iorque, a cidade moderna de excelência, antes de mais nada, era esse Iceberg.

(46) Mapa da Nova Amsterdã, de 1672, palco da futura metrópole de excelência, do gravador francês Jollain. (47) Mapa da situcação construída de Manhattan como colônia, murada e fortificada contra as ameaças dos nativos.

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1. Dados extraídos do capítulo "Prehistory", do livro de Rem Koolhas, Delirious New York, 1978, págs. 13 - 29.

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Passados aproximadamente 200 anos, uma manobra atraente dá luz ao restante da ilha. Com o esforço simples da pressão da pena com nanquim sobre o papel, uma malha reticular de 12 avenidas Norte-Sul e 155 ruas Leste-Oeste surge como matriz organizadora. A retícula de Manhattan, composta por 2028 quadras, facilita o então mais novo empreendimento do Novo Mundo. Esse era a Proposta da Comissão de 1811, elaborada por Simeon de Witt, Gouverneur Morris e John Rutherford. Um desenho que deu ordem e possibilitou a prospecção de toda futura ocupação1.


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De repente, toda ilha era uma porção de terra vendável, um antro à especulação imobiliária. Em sua totalidade, toda a extensão do Iceberg foi descoberta, e com isso, todas as suas possibilidades. Nova Iorque nasceu através desta simples operação. O Grid – denominação a ser usada aqui dessa malha urbana, fez com que se surgisse ali, naquela península, a capital global financeira e de negócios da virada do milênio. É como se todas as possiblidades e potencialidades da cidade estivessem contidas nesse plano, projeto de cidade.

(48) Plano do grid Proposta da Comissão, de 1811.

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O Grid, em sua essência é Manhattan. E Manhattan é o Grid. 99


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Rem Koolhas disserta sobre o que é esse grid e seu potencial teórico em seu ensaio “The City of the Captive Globe”, de 1972. Mesma época em que escreve um manifesto sobre o que é essa Manhattan em “Delirious New York”, em 1978. Nesse ensaio é observado que todas essas 2028 quadras são percebidas como ilhas, isoladas entre si através da retícula urbana. Um mosaico de episódios arquitetônicos distintos, sob a cultura de congestão, no qual nenhuma construção dialoga com a outra, mas ao mesmo tempo, tudo é possível. A malha atua como um caldeirão efervescente de distintas arquiteturas cuja receita inclui obrigatoriamente o capital. Entretanto há um limite de expansão horizontal definida pelo desenho urbano, restando apenas como escapatória a ascensão total ao céu. “em um único quarteirão – a maior área possível que pode ficar sob o controle da arquitetura – desenvolve uma unidade máxima de ego urbanístico*”2. Ou seja, tudo pode e tudo é quisto, porém apenas até o limite definido pelo meio fio. Curiosamente essa lógica passa a ser desafiada na década de 30, por um empreendimento visionário, grandioso e expoente de uma visão modernizadora, desenhado no mais refinado Art Déco, o Rockefeller Center. Esse empreendimento é consequência de uma condição muito especial em que a humanidade estava inserida no início da era moderna e vanguardista do século XX, fruto de utopias e sonhos. Reconhecer esse contexto é essencial.

1. *Texto original: "In a single block – the largest possible area that can fall under architecture control – it develops a maximum unit of urbanistic ego". Rem Koolhas, "The City of the Captive Globe", 1972, in Delirious New York, 1978, págs. 294-295. (tradução autoral)

(49) The City of the Captive Globe, 1972 (50) Proposta de Richard Meier, Peter Eisenman, Gwathmey Sigel e Steven Holl, para o concurso do World Trade Center Memorial Square, de 2002, pós atentado do 11/09/2001. Nela, a aposta é em retratar o grid como símbolo fundamental de Manhattan, que verticaliza-se heroicamente, assumindo agora a função de arranha-céu. (51) Rockefeller Center, hoje. Todos os edifícios retratados na imagem fazem parte do conjunto.

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2. Yuval N. Harari, Sapiens - A Brief History of Humankind, 2015 3. Para maiores informações, ver capítulo "Visionary cities/ Vertiginous Metropolis", in Parallel Cities: The Multilevel Metropolis, Jennifer Yoos, Vincent James, 2016, págs. 17-45.

Em um cenário pós-iluminista, na gênese da industrialização, a sociedade testemunhava mudanças no paradigma urbano e no potencial intelectual do homem. O surgimento de ideologias humanistas, sejam elas conservadoras, liberais, de direita ou esquerda, concebidas ao longo do século XVIII e XIX, fez com que o homem como indivíduo conquistasse uma voz perante a sociedade2. Pode parecer trivial na contemporaneidade, porém numa época não muito distante desta, a maioria das nações eram monarquistas, no qual um simples cidadão, não possuía valor e muito menos voz diante dos grandiosos governadores. Essa mudança de posição e responsabilidade do homem na sociedade foi culturalmente reivindicada e definida, traduzindo em novas possibilidades na maneira de ocupar, habitar e morar na cidade. Espaços para fomentar a discussão começaram a ser imaginados. Experiências diversas surgem ao redor do globo sobre como pode ser essa nova cidade, que abriga essa nova cultura, sendo principalmente um produto do contexto político-econômico em que estão inseridas. O mundo gradativamente passa a ser dividido numa concepção binária – direita e esquerda; porém uma visão urbanística futurista e progressista surgia de maneira ambidestra. A modernidade significa oportunidade. No contexto soviético, surgem os construtivistas com um projeto de futuro utópico no qual a urbe é a resposta para todas as mazelas da sociedade. Surgem os Condensadores Sociais. No contexto capitalista, (leia-se aqui manhattanista), surge um projeto de futuro progressista no qual tudo é possível se gerenciado pelo livre fluxo do capital. Surgem os Arranha-Céus3.

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(52) Representação de um condensador social, trabalho produzido por estudantes da Vkhutemas, no qual há uso misto e estandardização das unidades residenciais

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(53) Corte do Downtown Athletic Club, dos arquitetos Duncan Hunter e Starett & Van Vleck. Exemplo do empilhamento de usos completamente distintos, sem perturbação. Possibilidade advinda na tipologia do arranha-céu.

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(54) Habitação coletiva como uso fundamental para a existência de um condensador social. Proposta em um concurso da equipe Lovopra, na então denominada Lenningrado, 1930. (55) Narkomtiazhprom, proposta dos irmãos Vesnin para Moscou, com uso misto, conexões aéras e padronização da habitação, 1933-1934.

(54)

(56) Edifício Flatiron, de Daniel Burnham, com 22 andares, 1902. Um dos primeiros arranha-céus de Nova Iorque. Como não havia ainda uma legislação para esse tipo de construção, que viria somente com o zoneamento de 1916, os prédios surgiam como extrusão total do lote, o que justificara sua forma singular e inclusive seu nome. (57) Edifício Benenson, de Francis Kimball, com 144 metros de altura, 1908. Outra extrusão de lote irregular, alinhada no estilo vigente do Art Déco.

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(56)

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4. Idem, Ibidem, págs 20-24.

As cidades passaram a receber um outro tipo de atenção e planos de modernização começaram a surgir em todo mundo. Um dos mais famosos que foi realizado é a transformação de Paris por Georges-Eugène Haussmann, em 1853. Nele, parte do tecido urbano parisiense foi redesenhado, sendo rasgado por novas vias e eixos urbanos, atendendo a uma nova maneira de conceber a cidade para os tempos modernos.

(58) Plano de Haussmann para Paris, 1853.

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Esse projeto foi o gatilho para encorajar mais arquitetos e urbanistas a imaginarem a cidade ideal. Henri Jules Borie, concebe volumes maciços de 10 andares como habitação coletiva em "Aérodromes", 1865. Jules-Antoine Moilin, em contraste a Paris de Haussmann, imagina em seu livro “Paris nos anos 2000”, uma malha peatonal elevada, sobrepondo-se a toda cidade velha, em 1869. Eugène Hénard desenha uma via de serviços totalmente subterrânea em "Cidades do Futuro", 1910. Não muito divergente, mais tarde com CharlesÉdouard Jeanneret, ou Le Corbusier, é concebido o "Plan Voisin" em 1925. Todas propostas para uma Paris ideal4.


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(59) Aérodromes, Jules Borie 1865. (60) Cidades Eugène Hénard, 1910

do

Henri Futuro

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(61) Plan Voisin de Le Corbusier, em contraste com o tecido parisiense. (62) Croqui de Le Corbusier retratando o cenário no nível do pedestre. (63) Vista de uma maquete do Plan Voisin.

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5. Idem, Ibidem, págs 24-29.

No caso de Manhattan, esse futuro possível, porém incerto passou também a ter uma imagem. A utopia aqui era o adensamento extremo, criando cidades multiníveis, organizadas pela intensidade do tráfego e sua velocidade. Cidade de camadas e em constante movimento, no qual a infraestrutura molda o meio urbano. Os empreendimentos imobiliários aliados à tecnologia e ao laissez-faire do capital fez com que radiantes centros urbanos fossem imaginados e veemente ilustrados pelos arquitetos do cenário capitalista. Era o início da metrópole.

(64) King's Dream of New York, 1900. (65) The City You May Live to See,1925

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Em 1900, Moses King publica "King`s Dream of New York". Harvey Wiley Corbett, com um desenho, exemplifica como seria esse adensamento de Manhattan por camadas em "The City You May Live to See", 1925. Em 1927, vai ao ar o filme distópico "Metropolis", de Fritz Lang, com um ar mais sombrio do metabolismo urbano. Hugh Ferris, em 1929, idealiza a Manhattan do futuro em "The Metropolis of Tomorrow", no qual vias elevadas de pedestres e de automóveis se apoiam nos recuos dos arranha-céus, definidos pelo Zoneamento de 1916. No mesmo ano, Raymond Hood publica "Manhattan of 1950", no qual as pontes que conectam a ilha aos outros distritos são ocupadas com edificações de elevadíssimos gabaritos e uso misto, cruzando ambos os rios que cercam Manhattan, unificando arquitetura e infraestrutura em uma simbiose metropolitana5.


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Aspectos de todos esses projetos e visões utópicas podem ser encontrados no Rockefeller Center - a ser denominado aqui como RFC. Ao longo de quase uma década, do início do projeto ao fim da primeira fase de construção, os então chamados Arquitetos Associados, liderados por Raymond Hood, foram os responsáveis pelo primeiro grande empreendimento imobiliário capitalista da história do homem. Esse projeto funcionou como um catalisador das utopias vanguardistas da época6.

6. Ver capítulo "How Perfect Perfection Can Be: The Creation Of Rockefeller Center", págs, 161-235, in Rem Koolhas, Delirious New York, 1978 (66) William R. Leigh, Great City of the Future, 1908 (67) The Metropolis Tomorrow, Hugh Ferris, 1929

of

(68) Metropolis, Fritz Lang, 1927

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(69) Detalhe do plano de Hood para Manhattan, ilustrando a junção do edifício com a ponte. (70) Manhattan of 1950, Raymond Hood, 1929

(71) Raymond Hood (72) Arquitetos Associados analisando modelos para o RFC. Em pé: J. O. Brown, Webster Todd, Henry Hofmeister, Hugh S. Robertson. Sentados: Harvey W. Corbett, Raymond Hood, John R. Todd, Andrew Reinhard, Dr. J. M. Todd.

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rockefeller center 7. *Texto original: “It would be impossible to estimate the number of oficial minds that have engaged in untangling the complexities of the problem; and certainly the number of unofficial mids that have pondered over it is even a more meaningless guess. Architects, builders, engineers, real estate experts, financiers, lawyers – all have contributed something from ther experience and even from their imagination”, Raymond Hood, "The Design of Rockefeller Center", Architectural Forum, Janeiro 1932. In Idem, Ibidem, pág. 178.

À pedidos do magnata e empreendedor John D. Rockefeller Jr., o grupo de arquitetos teve a singular oportunidade de por em prática todas as ideias de metrópole ultramoderna no qual tiveram suas mentes debruçadas incansavelmente no último quarto de século. Tudo se iniciou em 1926, quando era necessário alocar a Metropolitan Opera em um espaço condizente com seu significado cultural. O projeto segue ambiciosamente com a concepção de edifícios de escritórios, galerias comerciais no térreo e no subterrâneo, e por fim, terraços ajardinados que a priori eram de acesso público. Foram inúmeros projetos e ideias que evoluíram por praticamente 4 anos, quando começou a construção. Como o próprio Raymond Hood descreve: “seria impossível de estimar o número oficial de mentes que tiveram um engajamento em desvendar as complexidades do problema; e certamente o número não-oficial de mentes que se debruçaram sobre, é um chute ainda mais impreciso. Arquitetos, construtores, engenheiros, especialistas do mercado imobiliário, financiadores, advogados – todos contribuíram com algo proveniente de suas experiências ou até mesmo de suas imaginações*”7.

(73) John D. Rockefeller Jr. (74) Radio City Music Hall, auditório para 6000 pessoas que ficou no lugar da Metropolitan Opera, após a crise de 1929

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(75) Raymond Hood, Wallace Harrison e Andrew Reinhard, com modelo do RFC. (76) Proposta de Bejamin W. Morris para o RFC. Os edifícios de escritórios surgem massiva e perifericamente, protegendo a cultura representada internamente pela praça e o edifício da Ópera. Os quatro arranha-céus são elementos verticais monumentais, demarcando a paisagem e o limite do conjunto. (77) Modelo preliminar do RFC sendo apresentado, em 1931.

(78)

(78) Diagrama demonstrando o máximo de messa construível a partir dos recúos do Zoneamento de 1916. (79) Diagrama dos arquitetos Reinhard e Hofmeister, no qual o potencial construtivo é transferido marjoritariamente para o edifício central, proposta que seguiu conforme o desenrolar do projeto.

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(80) Desenho de projeto mais amadurecido, mostrando a implantação do conjunto com os pavimentos tipo e os terraços ajardinados sendo conectados a partir de passarelas elevadas.

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// B 8. "Rockefeller Center", Fortune, Dezembro 1936, págs. 139-153. In Idem, Ibidem, pág. 178. 9. Esta frase ficou famosa após a grande quantidade de vezes que surgiu no filme como fala do personagem vivido por Richard Attenborough (1923-2014), que faz alusão a todo investimento direcionado ao parque dos dinossuaros, cujo limite fora inexistente. As traduções possíveis do termo seriam: "não poupamos os gastos", ou "não nos preocupamos com os custos".

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(83)

As principais premissas para o projeto eram dois paradoxos que somente Manhattan poderia se dar ao luxo de conter – o máximo de congestão com o máximo de luz e espaço; e gastar com o mais belo possível com o máximo de lucro e retorno financeiro8. Quase como aos moldes do mentor e visionário personagem John Hammond em Jurassic Park (1993) – “We spared no expenses!”9.

(81) RCA Building, o principal edifício do Rockefeller Center. (82) Building, 1931.

The

Empire

State

(83) Chrysler Building, 1930.

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A construção do conjunto RFC teve início na década de 30, período mais conturbado economicamente do século, após a quebra da bolsa de valores de Nova Iorque, em 1929. Ironicamente, foi uma boa fase para a obra. A mão de obra e os materiais de construção, além de abundantes devido à baixa procura, eram baratíssimos; as leis trabalhistas, quase não existiam. A oferta de emprego para a construção supriu a demanda. Em plena crise. Mais um paradoxo que somente Manhattan poderia testemunhar.


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Ao final dos anos 30, já eram 11 edifícios, de uso misto, ocupando 4 quadras. Um verdadeiro masterplan pra região, sob o guarda-chuva de um único empreendimento, primeiro de seu tipo. O conjunto se dissolve por entre o Grid, gerando dinâmicas urbanas que seus contemporâneos The Empire State (1931) e Chrysler Building (1930) jamais puderam se equiparar. A idealização e mitificação do conjunto arquitetônico e urbano é tanta que no centro do projeto, em uma praça rebaixada, denominada Sunken Plaza, em frente ao edifício principal, é encontrada uma estátua dourada da figura mitológica Prometheus, carregando o fogo divino que deu luz a humanidade em uma época sombria de dúvidas e incertezas. O RFC é essa figura, e seu fogo é a dinâmica que se espera desenvolver através de seu desenho. Em outras palavras, o RFC consolidou-se no DNA de Manhattan, pavimentando o caminho para ela se tornar uma cidade densa, plural e vertical; além é claro, de demonstrar o que poderia ser atingido com um projeto multifuncional.

(84) Sunken Plaza, com a estátua do Prometheus no centro (85) Prometheur traz o fogo à humanidade. Óleo sobre tela do alemão Heinrich Fuger (1751-1818), 1817.

(84)

(85)

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(86) Vista do eixo central, focando a perspectiva ao grandioso RCA. (87) Edifícios X, Y e Z, expansões à Sexta Avenida, na década de 60, já em estilo internacional, porém tendo em suas linhas uma revisitação à verticalização intencional do projeto de 1930. À frente dos prédios, praças provenientes do recuo na implantação, com conexão subterrânea com o Concourse Level. (88) Vista do RCA Building, a três quadras de distância. (89) Vista do eixo transversal, paralelo à Quinta Avenida. Boulevard comercial, de percurso exclusivo aos pedestres. (90) Entrada principal do Auditório, na Sexta Avenida.

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(88)

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Por ser um conjunto arquitetônico de escala urbana, o RFC altera a relação Edifício – Grid. Os mosaicos isolados de Rem Koolhaas agora sofrem por padecer sob um único estilo arquitetônico capitalista de glamour e possibilidades. O grid é recortado e subvertese aos moldes das vontades de Hood e companhia. No projeto original, o conjunto é definido por dois eixos públicos, nos quais novas vistas e caminhos são criados. O eixo vertical, paralelo à Quinta Avenida, é uma nova abertura, transformando a malha urbana, criando novas superfícies rentáveis. O eixo horizontal funciona como organizador dos visuais, inserindo como ponto focal o edifício principal e a Sunken Plaza. Em sua expansão pós-guerra, nos anos 60 e 70, o complexo extravasa para além da Sexta Avenida. Mais espaços públicos e galerias comerciais surgem a partir dos recuos dos novos edifícios. A maioria dos espaços internos visam a fruição pública e livre conexão para com os oputros lados da quadra. Um transeunte pode cruzar todo o empreendimento sem a real necessidade de usá-lo, e ainda assim, deleitar-se com as vitrines de lojas requintadas, cafés e ar condicionado. E essa conexão não ocorre somente no térreo, mas também sob ele. O Concourse Level conecta o RFC com o metrô, se estendendo por até 8 quadras, tendo como elemento central principal a Sunken Plaza, localizada na intersecção dos eixos de projeto, aflorando no coração do conjunto, que pulsa vitalidade urbana. 121


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rfc_volumetria

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rfc_térreo

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externo interno

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concourse

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rfc_programa escritórios comércio e serviços auditório emissoras amenidades

O complexo é constituído hoje por 17 edifícios, 2 estações de metrô, auditório para 6000 pessoas – Radio City Music Hall (finada Ópera), 83 lojas, 12 restaurantes, 6 cafés, 3 bancos, 1 emissora de TV (NBC) e um escritório dos serviços de correios americano, o United Postal Offices, além de outras amenidades como áreas de exposições, galerias a céu aberto, espaços para eventos e um mirante no topo do edifício principal – On Top of the Rock, conferindo ao mastodonte nova-iorquino uma metragem quadrada construída de aproximadamente 1,7 milhões m2. É uma cidade dentro de uma cidade. É interessante comparar a escala e o desenho urbano do Rockefeller Center com sua pré-existência. Pode-se verificar em qual ponto exato o desenho do Grid foi alterado a fim de gerar novas espacialidades urbanas. Porém é necessário ressaltar e relembrar que o Grid em si é uma peça fundamental para o desenvolvimento de Manhattan. Um elementochave que no qual sem ele, o cenário nova-iorquino poderia ser completamente diferente.

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rfc_contrastes

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pré-existência

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o grid (100)

Eis então que surgem as questões: Qual a real importância do Grid? Como se dá a relação do Grid para com a Manhattan construída como um todo? Essas alterações da malha urbana, que tanto caracteriza o espaço, são necessárias? grid_manhattan

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Ao ampliar a escala de análise da ilha, é possível identificar outros momentos em que o desenho do Grid é alterado. Se o RFC for encarado como uma semente plantada


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para aflorar no imaginário das outras centenas de arquitetos que projetaram outros milhares de edifícios, qual o verdadeiro paradeiro do Grid e sua consequência na morfologia urbana de Manhattan? Na atualidade é possível conferir que essa retícula ortogonal que resistiu bravamente desde 1811, é interrompida, alterada e transformada por diversos elementos, caracterizados aqui como Transgressores, sendo eles Parques, Infraestrutura e Empreendimentos.

rfc_semente

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grid_manhattan

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empreendimentos infraestrutura parques grid_transgressores

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grid_manhattan

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empreendimentos infraestrutura parques grid_transgressores

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grid_manhattan

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empreendimentos infraestrutura parques grid_transgressores

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grid_manhattan

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empreendimentos infraestrutura parques grid_transgressores

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Transgressão por Absorção - Transformam dois ou mais quarteirões em um, tornado-se em uma espécie de superquadra, no qual o usuário faz tudo em seu interior. Há, portanto, uma menor relação com o tecido urbano em ambos aspectos formais e funcionais. Um pedestre não entrará no conjunto se não houver necessidade ou razão de usá-lo.

(106) Desenho dos Empreendimentos que transformam o Grid por Absorção

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Transgressão por Mutação - Alteram a dinâmica do Grid através da fragmentação do programa em dois ou mais quarteirões, transformando o tecido urbano. Pode haver também a criação de novas vias e percursos, gerando fluxos públicos distintos e novos eixos de conexão. Um pedestre pode atravessar o conjunto sem a real necessidade de usá-lo, podendo até fazê-lo de maneira despercebida.

(108) Desenho dos Empreendimentos que transformam o Grid por Mutação

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grid_manhattan

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mutação absorção empreendimentos infraestrutura parques grid_transgressores

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Essas transgressões do Grid ocorrem em diversos momentos e sob os diversos tipos de usos. O mais frequente, porém, são as alterações realizadas pelos empreendimentos cuja função principal na cidade é habitação. Em sua maioria, conjuntos habitacionais do programa New York City Housing Authority, ou NYCHA, que em um movimento corbusiano, arrasam conjuntos inteiros de quarteirões, abrem novas vias e redesenham uma parcela significativa do Grid, criando uma espécie de microcosmos, que em nada se relaciona com a Manhattan reticular. 148


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COMERCIAL - 1 2.12% MUSEU - 1 2.12% RELIGIOSO - 2 4.25% SERVIÇOS - 2 4.25% INSTITUIÇÃO - 3 6.4%

programa

SAÚDE - 4 8.5% EDUCAÇÃO - 4 8.5% HABITAÇÃO - 30 64%

CONDOMÍNIO - 15 50%

SOCIAL - 15 50%

MULTIFUNCIONAL - 33 70%

MONOFUNCIONAL - 13 30%

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(112);(113) Há muita similaridade entre a proposta de Le Corbusier e um dos projetos do NYCHA denominado Stuyvesant Town.

(112)

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A vitalidade desses novos espaços não é comparável, porém, aos desvios realizados pelo RFC. Aqui não há uso misto, espontaneidade, trocas humanas e visuais significativos, apenas um percurso bucólico por dentre as árvores e os edifícios residenciais isolados no lote. Uma revisitação popular das Cidades Jardins? Uma releitura americanizada do Plan Voisin? Entretanto, há de se reconhecer que a principal função desejada em um centro urbano é a habitação, principalmente em uma metrópole com tanta infraestrutura e equipamentos urbanos como Nova Iorque, mais precisamente Manhattan. Portanto há o interesse em adensar a região e trazer mais pessoas pra dentro da ilha. Isto posto, o Grid como elemento organizador consegue atender as demandas de uma cidade contemporânea?

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Da mesma maneira que os Arquitetos Associados enfrentaram uma série de paradoxos ao projetar o conjunto do Rockefeller Center, é possível compreender essa situação que Manhattan testemunha como um novo paradoxo. Ora, há a necessidade e a vontade da região ser adensada, porém há também o interesse acadêmico em preservar aquilo que justamente a define como cidade – o Grid e sua consequente morfologia urbana. Esses elementos podem ser entendidos como verdadeiros fatos urbanos10; e como diria Leslie Martin em seu texto The Grid as Generator (1972), esses mesmos geram e contém todas as dinâmicas e possibilidades urbanas. Para Martin, a malha urbana como elemento é peça fundamental para o desenvolvimento saldável da urbe, contenedora de todas as espacialidades projetadas e não projetadas, força motriz para espontaneidade e vitalidade urbana, no qual é através de seu desenho que será possível conceber as diversas maneiras que os usuários podem ou não se apropriar dela. As utopias têm que respeitar e compreender o contexto consolidado, pois ele já faz parte do imaginário popular e da consciência coletiva. Conforme o tempo avança, esse tecido se transforma em monumento e memória11. E quem em sã consciência está disposto se desfazer de sua memória?

10. O conceito de fato urbano foi criado pelo arquiteto italiano historicista e pós-moderno Aldo Rossi, explicado em seu livro L'architettura della città, de 1978. O fato urbano pode ser uma arquitetura, um espaço e qualquer elemento da cidade que se conecta com a história de seu contexto, criado através da somatória das experiências da população, ao decorrer do tempo, para com o local. É através da dinâmica das pessoas em relação aos fatos urbanos que é gerada a memória. São "l'anima della città". 11. Idem, Ibidem.

X (114) Adensar e preservar - Paradoxo contemporâneo para a metrópole.

(114)

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a sobreposição

densidade

(115) Diagrama explodido do desenvolvimento da densidade metropolitana como uma quarta camada ao contexto

edificações

malha urbana

metrô

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adensar

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preservar (116)

Um caminho para enfrentar tal dilema seja talvez através da sobreposição de necessidades. A metrópole já funciona em camadas – há a camada das edificações, espelho do contexto geográfico, cultural e econômico em que se insere, no qual toda a vida privada e parte da pública existe, e pelo qual o verdadeiro abrigo do ser humano ocorre. Em seguida, a camada da malha urbana, que caracteriza e define todas dinâmicas objetivas e subjetivas das edificações, contém o rés do chão e a rua, definida como espaço público por excelência, totalmente apropriável e flexível, local para manifestação cultural e social de seus habitantes. E por último, porém não menos importante, na realidade essencial para as demandas da metrópole, há o metrô, elemento conector na urbe e difusor das massas, encontrado sob todas construções e vazios urbanos, que articula e possibilita as funções de uma cidade contemporânea, transportando seus usuários e movimentando a urbe. E se houvesse uma camada extra? Um elemento que se sobrepusesse sobre todo este contexto através de eliminações específicas, compreendendo a característica energética da metrópole, gerando tensões e conflitos saudáveis em um ambiente multifuncional e diverso, abrigando uma série de atividades distintas em um programa complexo, digno da intenção de se construir numa cidade global, preservando as dinâmicas sociais definidas pelas outras três camadas, porém atendendo a uma demanda que talvez não consiga encontrar espaço nas mesmas - o adensamento. O poder conceitual e toda carga utópica e visionária convergida no empreendimento liderado por Raymond Hood é tão intensa que consegue se transportar para as visões contemporâneas de concepções urbanas. Nos faz imaginar, através de seus feitos, como pode ser pensada a metrópole no futuro. Interessante pensar como a compreensão de um conjunto arquitetônico em seu contexto no espaço-tempo pode enviesar e moldar o pensamento para o amanhã. O Rockefeller Center é a semente.

(116) Possibilidade de construção na metrópole - sobreposição de necessidades (117) Contexto plural e diverso, respeitando as pré-existências e possilitando o desenvolvimento da metrópole

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os situacionistas 1. Publicado originalmente em 1938, o Homo Ludens, do hitoricista holandês e teórico cultural Johan Huizinga (18721945), seria o homem que entende que a diversão é importante e elemento fundamental, porém não o suficente, para a geração cultural. Essa perspectiva foi fundamental para dar alicerces aos discursos marxistas da época, que viam na obrigação do trabalho um elemento de degeneração do homem. Para Karl Marx (1818-1883), o desenvolvimento total do homem implica na superação do trabalho, ou como diria Henri Lefebvre (1901-1991) sobre a produção teórica de Marx: "o trabalho só tem por sentido e por obetivo o não trabalho." (Lefebvre, 1999, págs. 128-129, in Ribeiro, 2017, pág 185.). Já Friedrich Engels (18201895) não almeija o fim do trabalho, mas "torná-lo livre e atraente" (Idem, Ibidem, pág. 185).

Além da possibilidade de o RFC ter servido como um guia conceitual para os grandes empreendimentos do século XX, outros fatores tiveram responsabilidade de aguçar a mente de arquitetos, urbanistas, sociólogos e filósofos nos anos que se sucederam. O período pós-guerra dos anos 1950 a 1970 testemunhou uma transformação no imaginário da sociedade advindas com o estado do bem-estar social e dos avanços tecnológicos da época. Da mesma maneira que as mentes modernizadoras e vanguardistas fizeram ao depararem-se com as transformações culturais e tecnológicas provenientes do início da Idade Contemporânea, uma nova era de questionamentos ocorreu para a humanidade, surgindo então uma série de visões utópicas como resposta a este cenário. “O contexto que engendrou essas propostas era a sociedade pós-industrial, que injetou um otimismo desmesurado que parecia demandar novas cidades para um novo cidadão global, capaz de transitar livremente pelo globo.” (RIBEIRO, 2017, p.179) Em seu artigo “Arquitetura Radical em disputa: discussões sobre utopias entre o fim dos anos 1950 e início dos anos 1970”, de 2017, publicado no periódico da Universidade Federal de Minas Gerais, Diego Mauro Muniz Ribeiro disserta sobre quais eram esses tipos de utopias, cuja principal questão era de uma idealização de sociedades nômades libertarias provenientes da superação do trabalho, mas que acabam se transformando em prisioneiros voluntários da arquitetura.

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Com o crescimento da tecnologia, o homem se libertaria do sedentarismo, e o indivíduo poderia finalmente dedicar-se puramente à criação. Porém as utopias se transformam em instrumento de crítica, cujos elementos positivos e negativos se confundem, transformando a arquitetura em um elemento de aspecto condicionador e opressor, no qual os usuários voluntariamente se inserem nela, a fim de proteger-se de um mundo cada vez mais hostil. Para poder gozar abertamente dessa nova liberdade, era evidente que esse novo homem não poderia seguir vivendo pelos limites do relógio e imperativos do domicílio fixo. Estava em curso uma nova visão de ser humano, o Homo Ludens1 (do latim ludens lúdico), cujas aspirações não mais seriam baseadas na vontade de trabalhar e de possuir propriedades privadas. Este conceito de novo sujeito foi referência pera artista holandês Constant Nieuwenhuis (1920-2005), membro da Internacional Situacionistas2 (IS), cujo principal trabalho no âmbito urbanístico foi a New Babylon (1959).

2. A IS (1957-1972) foi formada a partir da junção de intelectuais do Internacional Letrista (IL), do Movimento Internacional por uma Bauhaus Imaginista (MIBI) e da Assosiação Psicogeográfica de Londres. O fundamento da IS era "Momento da vida, concreta e deliberadamente construída pela organização coletiva de uma ambiência unitária e de um jogo de acontecimentos" (IS. "Definições". IS #1, junho, 1958, in Ribeiro, 2017, pág. 179). 3. *Texto original: "If modern conformity was collectively planned, then fostering the creative agency of individuals would require a non-plan". Simon Sadler, The Situacionist City, 1988, pág. 47, in Jennifer Yoos; Vincent James Parallel Cities: The Multilevel Metropolis, 2016, pág. 80 (tradução autoral)

Neste cenário hipotético, são eliminados e refutados todos os preceitos elaborados pela Carta de Atenas, de 1933, que regulamenta a cidade moderna ideal, dividindo-a em funções: habitar, lazer, trabalho, etc, cujo papel fora fundamental na disciplina urbanística do século XX. Em New Babylon, toda porção do edifício é desprendida do solo, apoiada em pilares, e sobre ela, toda a pré-existência e circulação de veículos. Seu conteúdo é completamente mutável, a fim de absorver quaisquer necessidades de seus usuários. "Se a conformidade moderna era planejada coletivamente, então o fomento da criatividade individual iria requerer um não-plano*"3

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4. Ribeiro, 2017, pág. 180 5. O CIAM foi uma organização fundada em 1928 e posteriormente desmontada em 1959. Tem como um de seus cofundadores o arquiteto Le-Corbusier, e era composta por 28 arquitetos em seu corpo principal. A organização era extremamente influente, e funcionava como principal expoente das ideias do modernismo na época. Eles acreditavam que a arquitetura poderia ser vista como uma ferramente econômica e política, que poderia ser usada para aprimorar o mundo através das construções e do planejamento urbano. Tudo aos moldes da ortogonalidade da visão moderna, é claro. Ver Jennifer Yoos; Vincent James Parallel Cities: The Multilevel Metropolis, 2016, págs. 45-91

New Babylon, assim como a Ville Spatiale de Yona Friedman, foram os percursores das megaestruturas, que, de acordo com o japonês Fumihiko Maki, é “uma grande estrutura na qual cabem todas as funções de uma cidade ou de parte dela. A tecnologia tem tornado isso possível (...)”. (MAKI, 1964, p.5-17)4. Friedman fundou em 1957 o GEAM – Group d’Etude d’Architecture Mobile, que iria em contradição com alguns preceitos defendidos pelo CIAM – Conferencia Internacional de Arquitetura Moderna5, de Dubrovnik, em 1956. Alguns dos pontos defendidos pelo GEAM, por exemplo, eram: “(...) a reforma pelo direito de propriedade a fim de ocupar o espaço aéreo pelos próprios habitantes; construções variáveis de uso cambiável, empregando largamente a préfabricação; adaptação da cidade e do planejamento urbano ao desenvolvimento do tráfego; locais residenciais e de trabalho, assim como áreas para a cultura física e espiritual, devem ser intercalados por todos os setores individuais da cidade.” (RIBEIRO, 2017, p.180)

(118) Maquete do projeto conceitual New Babylon, de Constant (119) Croqui de Ville Saptiale, de Yona Friedman sobre Nova Iorque, 1964

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New Babylon supunha uma realidade cuja revolução marxista e situacionista fosse bem-sucedida, impondo a questão da mobilidade a todos os cidadãos, já Ville Spatiale era destinada às cidades existentes com seus tecidos consolidados, permitindo o indivíduo aceitar ou não aquela mobilidade.


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(118)

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6. Ribeiro, 2017, pág. 181 7. Yoos; James, 2016, págs. 125-127; 226

Posteriormente, na década de 1960, o grupo inglês Archigram usaria da utopia como uma ironia, e não como uma aposta. Em Walking City, de 1964, a cidade é projetada literalmente como uma megaestrutura móvel e caminhante, que passaria por cima dos diversos contextos, naturais e artificiais, cuja sociedade é desprendida e não conhece limites. Para eles, a tecnologia e o software eram capazes de resolver tudo, e o futuro da humanidade seria progressista e magnífico. Algo que também seria visto em Plug-in City, também de 19646. Simutaneamente, do outro lado do globo, surgia o Metabolismo, movimento que convergia o contexto físico e geográfico do Japão com o entendimento de que as megaestruturas seriam na verdade uma parte do processo de urbanização inerente a sociedade. Nela há a aceitação da cidade como um 'processo', cuja natureza nao era mais estável e fixa, mas dinâmica e orgânica7. Os maiores expoentes de tal visão eram o Kenzo Tange, curador da Expo Osaka de 1970 e o Arata Isozaki, Pritzker 2019. A partir da década de 1960, o urbanismo moderno hermético e sanitarista, como se viu sendo defendido pelas conferências internacionais do CIAM, já mostrava sinais de colapso, juntamente com o comprometimento social auto-atribuído à arquitetura do movimento moderno. Além dos situacionistas, houveram outros autores propondo uma reflexão sobre o traço prometeico e o endeusamento do arquiteto moderno, como Jane Jacobs em seu livro The Death and Life of Great American Cities, de 1961, que ataca as premissas urbanísticas americanas, e Bernard Rudofsky, que por meio de sua exposição sediada no MoMA em 1964, intitulada Architecture Without Architects, chama a atenção para a reconsideração das particularidades de cada local e o engrandecimento da arquitetura vernacular, que até o momento fora menosprezada pela história.

(120) Archigram, 1964.

Walking

City,

(121) Archigram, 1964.

Plug-in

City,

(122) Edifício da emissora Fuji Television, Kenzo Tange, Tóquio, 1996. (123) Projeto para um sistema urbano metabolista, com diversas camadas para tráfego automobilístico e torres verticais conectadas por volumes horizontais treliçados, de Arata Isozaki, Tóquio, 1960.

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8. Superstuido, Il monumento continuo/ storyboard per un film, 1971, pág. 21, in Ribeiro, 2017, pág. 189 9. Ribeiro, 2017, pág. 191-193

Na virada da década de 60 para 70 é que as utopias urbanas transformam-se na verdade em distopias, cujas melhores representações de tais pontos de vistas se encontram no Monumento Contínuo (1969) do grupo italiano Superstudio, que posteriormente evoluiria para As Doze Cidades Ideais (1971) e também com Rem Koolhas, Elia Zenghelis, Zoe Zenghelis e Madelon Vreisendrop em Exodus (1972). No seu célebre trabalho Monumento Contínuo, Superstudio parte da premissa de um monumento síntese de todos os monumentos, algo que pudesse representar um mundo unificado pela cultura, tecnologia e por quaisquer outras formas de imperialismo. A proposta nada mais é do que um volume prismático sólido e de traço claro que percorre distâncias globais, passando por cima de diversas paisagens distintas, suprimindo as diferenças. O gesto máximo do arquiteto como entidade organizadora do caos8. Em Exodus, trabalho final de graduação de Koolhas e Zenghelis, há uma inversão dos valores da arquitetura como entidade divisora, baseados no texto de Koolhas The Berlin Wall as Architecture, de 1971, mas que foi publicado somente em 1993. O foco do texto era demonstrar o muro de Berlin como uma arquitetura que circundava uma área capitalista e desejável no meio do terreno soviético, cujo único fim era impedir a mobilidade de cidadãos do lado “ruim” para o lado “bom”, uma arquitetura opressora e aterrorizante.Já em Exodus, o efeito contrário é desejado, propondo uma arquitetura cuja intenção é de se separar da cidade, transformando-se numa espécie de oásis, cuja forma é representada como uma barra horizontal que surge sobre uma Londres em ruínas. É uma arquitetura que já nasce murada e protegida, a fim de preservar todos aspectos positivos em detrimento da cidade9.

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(124)

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(124) Monumento ContĂ­nuo, Superstudio, 1969. (125) Exodus, Rem Koolhas, Elia Zenghelis, Zoe Zenghelis e Madelon Vreisendrop, 1972.

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(126)

(127)

(126) Loteamento Residencial 1, em Alphaville, 1976.

do

(127) Residencial 1, em 2003

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Qualquer semelhança que pode ser atribuída aqui aos condomínios fechados e conjuntos de torres residenciais monofuncionais não é mera coincidência. Através do êxodo rural que culminou em surtos populacionais na capital paulista da década de 70 e 80, a cidade e seus arquitetos se viram impotentes em regularizar e propor uma urbanização que contivesse o aumento significativo de cidadãos. A urbanização ocorreu, na verdade, de uma maneira orgânica e espontânea, preenchendo desde os resíduos e interstícios urbanos gerados pelas infraestruturas urbanas, até as regiões periféricas da região metropolitana paulistana.

10. Sacchi, 2003, pág. 142

Com isso, surgiu uma crise social que até hoje afeta e molda a paisagem de São Paulo, algo que pode ser percebido através do número de construções derivadas do mercado imobiliário que configuram condomínios fechados no meio da cidade. Ou até mesmo bairros inteiros, planejados unicamente para a circulação de automóveis privativos e residências unifamiliares protegidas atrás de muros condominiais, como Alphaville, projetada pelo engenheiro Yojiro Takaoka, cujas compras de terras datam de 1973 e, em 1975, o loteamento do Residencial 1, o primeiro condomínio fechado horizontal do Brasil10. Os ensaios idealizados ao longo do século XX, de certa forma, premuniram e anteviram as maneiras de conceber as cidades globais. As metrópoles com todas suas vantagens e desvantagens, suas carências e potencialidades e seus defeitos e virtudes, devem e muito a toda especulação teórica e conceitual que irrigou o imaginário de intelectuais, artistas, empreendedores e aqueles responsáveis por gerenciar e conceber a urbe. Cabe somente ao indivíduo comum, que de certa maneira e nas suas limitações, é responsável por moldar cultura de sua sociedade, escolher se deseja presenciar em seu futuro uma utopia ou uma distopia. Como escolher? E como saber o que realmente é o que?

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em paralelo // .2 169


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(128) 170


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U

ma vez passado a fase analítica inicial, essa parcela da cidade é encarada como um microcosmos com suas próprias condicionantes, deficiências e potencialidades. O urbanista explica ao público presente a interessante condicionante das alamedas de Campos Elíseos. Provenientes do plano original, o que antes servia como elemento organizador do espaço elitista paulistano, agora recebe a maioria dos equipamentos públicos da região, condicionando o uso na atualidade e ainda mostrando-se presentes na dinâmica urbana. Finalmente é encontrada uma situação de seis quadras para que se abrigasse a extrusão. Cada imóvel é estudado e analisado, a fim de determinar situações específicas de remoção, para que em sequência sejam erguidos os pontos de verticalização, isto é, as torres que servirão como apoio e elemento de conexão para os futuros volumes horizontais.

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análise contextual alamedas eixos urbanos área de intervenção equip.culturais equip.educacionais imóveis tombados (129) As alamedas como malha urbana foram responsáveis por todo desenvolvimento do bairro.

(129)

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análise contextual área de intervenção remoções

(130) Remoções específicas através da análise individual dos imóveis. São estes galpões subutilizados, estacionamentos, e pequenos sobrados mal conservados cujo programa poderia ser facilmente realocado na superestrutura.

(130)

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// .2

1. Kinda Al-Sayed, Space Syntax Methodolgy, a teaching guide for the Space Syntax Course, 2018, pág 7

Nesse momento, o urbanista faz uma breve pausa em sua apresentação para chamar ao palanque um especialista estrangeiro. Sua participação no processo foi essencial para o desenvolvimento dos programas recomendados no térreo e das especulações volumétricas que surgiriam através dos eixos de projetos, definidos pela articulação dos lotes que seriam desocupados para construção das torres. O indivíduo veio direto de Londres, explicar essa metodologia de análise espacial inovadora denominada Space Syntax. Através do desenho, que é entendido pelo sistema analítico londrino como uma série de poligonais, eixos provenientes dos vértices das formas geométricas são traçados, e com eles, um conjunto de parâmetros, cujas informações são posteriormente analisadas e transformadas em decisões projetuais1. A audiência fica em êxtase, agora que há uma metodologia que gera dados tangíveis e quantificáveis, podendo ser posteriormente comparáveis, o projeto ganha maior credibilidade. O londrino finaliza sua fala e retorna ao seu assento.

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25 0

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100 50

400 200

N


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O urbanista retorna ao posto principal do discurso, e com o microfone embutido em uma espécie de colar, começa a falar sobre como a análise espacial é transformada em área computável. As seis quadras são entendidas como um único lote, no qual possui seu próprio coeficiente de aproveitamento (CA), chegando até 6, por ser uma área de Operação Urbana (CAop). Por conter pré-existências, a área total de intervenção é definida através de uma operação matemática básica no qual acha-se o CA possível para construir, o Delta (Δ), através da subtração do CAop pelo CA existente (CAe).

imóveis tombados pontos de verticalização + grau de conexão (131);(132) Mapa da área de intervençã0 e mapa axial demonstrando as potencialidades de cada rua através da análise do Space Syntax. Esse tipo de desenho funciona como diretriz para determinação programática em cada ponto de verticalização. Cada terreno pode receber determinada função através do grau de conexão.

É necessário identificar, portanto o CA das construções existentes. Esse valor foi achado através da multiplicação da Área de Projeção dos edifícios pelo Número de Pavimentos dos mesmos. Em seguida, o valor encontrado é dividido pela Área Total dos Lotes. Esse resultado é então subtraído do potencial construtivo concedido pela Operação Urbana, encontrando assim o Delta. Para conferição dos valores, é só encontrar o quanto de área construída poderia ser obtida com CAop (Atop), e em seguida subtrai-se este valor pelo total de área construída das pré-existências (Atpe), achando assim área exata que se pode construir (At).

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// .2

Matematicamente falando:

CAe =

(Aproj) x (n) (At lotes)

Δ = (CAop) - (CAe) Δ = CA Atop = (CAop) x (At lotes) At = Atop - Atpe

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// .2

Na situação, portanto, o potencial construtivo é exatamente o existente, ou seja, o dobro. O urbanista fez outra breve pausa para procurar um papel que continha o número exato, resultado dessa conta matemática. De dentro do bolso esquerdo do paletó, é removido o valor total – 257.000m2 de área a ser construída. A plateia aplaude em espanto a área disponível para se aventurar sobre o mesmo espaço já consolidado! É demonstrada então a origem desse valor com os números da região:

CAe =

267.000 87.336

= 3,05

Δ = 6 - 3,05 = 2,95 = CA

2,95 é, portanto, o potencial construtivo adicional que se pode ter nas seis quadras. O próximo passo é saber o quanto poderia construir com CA 6, para conferição das metragens quadradas:

179


// .2

(133) "Teremos na verdade 257.000m² de área apropriável, em uma nova malha urbana, agora, tridimensional.”

Atop = (6) x (87.336) = 524,016 m2

At = 524,016 - 267.000 = 257.000 m2

O urbanista apresenta em seguida um diagrama no qual é comparado o que é essa metragem quadrada nos moldes tradicionais e na alternativa que estava em voga. A diferença é facilmente percebida por todos na sala. “Portanto todo o conjunto terá 257.000 m2 construídos?” Indaga um dos ouvintes. “Não!” responde o urbanista, “esse é o valor máximo que a estrutura poderá comportar, mas essa metragem quadrada será alcançada com o passar do tempo, conforme a economia e as necessidades programáticas. Teremos na verdade 257.000m² de área apropriável, em uma nova malha urbana, agora, tridimensional.” Todos começaram a compreender melhor. “Na verdade, agora multiplicamos a área de construção, e quando necessário, recorreremos a ela, e não a desapropriação de terrenos já consolidados e à demolição de construções que já carregam em si um valor arquitetônico, urbano e imagético na consciência coletiva. A memória é preservada.”

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// .2

181


// .2

Continuando a apresentação, é demonstrado como ocorre o desenvolvimento volumétrico, uma vez que já se tem a metragem máxima que pode ser atingida. É iniciada nessa fase uma especulação formal restrita aos números encontrados posteriormente. Uma parcela do potencial construtivo é deixada para as extrusões verticais dos lotes, sendo elas o aproveitamento máximo dessas metragens quadradas. Em sequência, experimenta-se em um plano bidimensional quais desenhos das barras horizontais, que surgem como elemento de conexão das torres, seriam os mais eficientes. Nesse contexto de estudo conceitual, o Space Syntax é mais uma vez utilizado, em conjunto com outros parâmetros comumente conhecidos como insolação, iluminação natural, sentido dos ventos e céu observável. “Foram estudadas três opções”, argumenta o urbanista. Os três estudos são demonstrados na sala através das projeções em holograma. As massas conceituais carregam consigo alguns dados essenciais para melhor compreensão do projeto, como área construída, área de sombra, número de unidades residenciais possíveis (média de 60 m² a unidade), população total do conjunto (média de 3,2 habitantes por unidade) e a densidade populacional, em habitantes por hectare.

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// .2

área de intervenção torres como extrusão (134) Extrusão vertical dos lotes subtraindo do potencial construtivo diponível.

(134)

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// .2 25 0

100 50

400 200

N

(135)

(136)

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01

02

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// .2 (135) Estudo bidimensional dos volumes horizontais como pura conexão das torres.

(137) 00

01

(136) Mapa axial dos três estudos já dentro dos limites do potencial construtivo restante. .01 - dupla; junção de 3 quadras _pontos de apoio: 11 / 7 _quantidade de eixos: 78 _conexões (max): 37 _conexões (mín): 13 .02 - trio; junção de 2 quadras _pontos de apoio: 3 / 6 / 9 _quantidade de eixos: 69 _conexões (max): 22 _conexões (mín): 14 .03 - único; junção de 6 quadras _pontos de apoio: 18 _quantidade de eixos: 164 _conexões (max): 91 _conexões (mín): 46

02

03

(137) Análise volumétrica do contexto e dos três ensaios. .00 - 266.929,75 m² _c.a.: 3,05 _densidade: 207 hab/ha .01 - 134.160 m² (vol. horizontal) _c.a.: 6 _área de sombra: 33.540 m² _no. unidades: 1677 _população: 5367 hab _densidade: 1602 hab/ha .02 - 136.230 m² (vol. horizontal) _c.a.: 6 _área de sombra: 34.057 m² _no. unidades: 1704 _população: 5453 hab _densidade: 1604 hab/ha .03 - 141.098 m² (vol. horizontal) _c.a.: 6 _área de sombra: 35.274 m² _no. unidades: 1764 _população: 5645 hab _densidade: 1600 hab/ha

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// .2

área de intervenção modelo 03 (138) O modelo escolhido no final é uma consequência das análises volumétricas e espaciais. Como exercício de adensamento máximo, essa opção é a que possibilita maior número de unidades residenciais e consequentemente um população maior, de 5645 habitantes integrais. Curiosamente é a com menor densidade, se comparado o dado bruto (1600 hab/ ha), justamente devido à sua área, que é um pouco mais elevada. Quando analisados os mapas axiais, esse modelo é o que oferece, de longe, a maior quantidade de eixos e conexões, portanto, a potencialidade deste desenho como espaço é maior. Isso ocorre graças a possibilidade de junção das seis quadras na cota elevada. As outras opções perdem força pois fragmentam o todo, dividindo-se em uma dupla de três extrusões, ou um trio de duas extrusões.

(138)

186


// .2

Em seguida o londrino volta a falar um pouco sobre como sua metodologia foi utilizada nessa parte do processo. Sua fala é em inglês nativo, com um forte sotaque puxado, como se carregasse uma batata na boca enquanto fala. Graças a tecnologia, um ponto auricular traduz simultaneamente sua fala, não deixando ninguém a mercê daquelas aulas cabuladas de inglês: “Nessa parte, é interessante destacar a quantidade de eixos gerados pura e simplesmente pela geometria das edificações. Esses eixos, quando analisados em conjunto, definem conexões, grau de escolha, grau de interatividade, dentre outros parâmetros que somente o desenho, sem a intervenção do homem, diz para nós. É uma representação de quanto o design pode articular as relações humanas, demonstra as intenções espaciais possíveis que algumas vezes podem não estar na mente do arquiteto urbanista enquanto projeta.”2 Finaliza o britânico.

2. Idem, Ibidem.

Esses valores são então comparados com outros projetos, construídos ou não, de escritórios de renome cuja escala de intervenção é semelhante. São citados ‘The Interlace’, do OMA, ‘# building’ do BIG e o ‘Vanke Centre’ do Steven Holl Architects. Todos os líderes de tais corporações arquitetônicas já não estão mais entre nós, porem seus legados sobrevivem fortemente através da academia e do mercado imobiliário. Quando se imaginou que ambos concordariam em algo, não?

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(141)

(142)

(143)

(144)

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// .2 (139)

(140)

(139);(142) _The Interlace, OMA (2007-2013) Singapura, Malásia (170,2 hab/ha)

(140);(143) _# Building (projeto - 2012), BIG Seoul, Coréia do Sul (81,62 hab/ha)

_terreno: 81.500 m² _área construída: 170.000 m² _t.o.: 22% _c.a.: 2 _gabarito: 88 m _densidade: 640 hab/ha

_terreno: 21.000 m² _área construída: 96.534 m² _t.o.: 13,5% _c.a.: 4,6 _gabarito: 237 m _densidade: 1380 hab/ha

Complexo residencial fechado, cujo térreo é um grande parque, exclusivo aos condôminos. As circulações verticais se dão através de cores fechados, com um hall para 4 apartamentos, sendo 8 por andar em média.

Torres residenciais unidas por duas barras horizontais, com terraço na cobertura de uso comum, exclusivo aos condôminos. As circulações se dão, na vertical, através de dois cores fechados, e na horizontal, através de corredores, cuja dobra para se conectar com os cores, geram vazios que garantem iluminação natural em seu interior

(141)

(141);(144) _Vanke Centre (2006-2009), Steven Holl Architects Shenzen, China (86 hab/ha) _terreno: 82.400 m² _área construída: 120.445 m² _t.o.: 29% _c.a.: 1,4 _gabarito: 35 m _densidade: 150 hab/ha Único exemplo de arranha-céu horizontal construído do mundo (This is Hybrid, 2011), é um edifício híbrido de uso privado, porém o solo abaixo dele é um parque de acesso público e franco. Seu programa é variado - habitação, escritórios, hotel, institucional (Vanke), comércio, esportes, lazer - e sua circulação se dá através de um eixo semi-público interno ao edifício, com alguns cores de acesso restrito para setores fechados do conjunto

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Após essa demonstração dos ensaios volumétricos, há uma pausa na sessão. É iniciado o famoso coffee break, essencial em todas as palestras, a fim de dar uma dinamizada nos monólogos técnicos, e para que haja um networking, trocas de contatos profissionais e aquela boa e velha inflamação dos egos alheios, também conhecida como “puxação de saco”. Há chá, café, água, suco de laranja, pão de queijo, bolo de cenoura com cobertura de chocolate, biscoitos e pães diversos com manteiga. Parece que, apesar de todo o avanço tecnológico e transformações culturais, algumas coisas atravessam imutáveis na linha do tempo.

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// .2

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P

assada meia hora, todos voltam aos seus lugares, de mãos cheias para não passar fome – a sessão estava na metade. O urbanista agora convida o engenheiro chefe do desenvolvimento do projeto, para explicar como transformar aquele volume conceitual colossal em matéria, edificação habitável. A ideia de malha urbana tridimensional agora se transforma do sentido figurado para o literal. O engenheiro então inicia seu discurso: “A melhor solução encontrada foi a proposição de uma malha estrutural tridimensional isostática, constituída por um sistema construtivo préfabricado, cujo material de preferência é o aço.” Apesar da tecnologia ter evoluído, possibilitando arranha-céus de madeira e residências em grafeno, uma empreitada dessa escala e ambição deveria retornarse a um sistema que a humanidade já conhecia em sua

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totalidade. A estrutura metálica, desde sua invenção no século XIX, vem se aprimorando, tendo em sua liga constituinte cada vez mais metais nobres, e com a inclusão da nanotecnologia, esta poderia mandar um feedback automático dos esforços e tensões estruturais ao vivo nas telas dos aparelhos. Como se a estrutura falasse. Infelizmente, essa tecnologia ainda é muito restrita, e seu real funcionamento não veio a público, limitando sua explicação até aqui, somente. Todos ficam fascinados com a então aparente facilidade que foi dar vida ao conceito. A malha é definida sob uma dimensão fixa, um módulo, tendo seus vãos, intercolúnios e níveis, separados sempre pela mesma distância. “De 5 até 8 metros”, completa o engenheiro. Esse intervalo é o ideal pois possibilita espaços amplos e diversos, independente da demanda. Os perfis metálicos não possuem dimensões exageradas, pelo contrário, as partes se diluem no todo, e quando trabalham em conjunto, podem vencer vãos imensos, atravessando inclusive a quadra. “As peças se unem formando pilares, treliças e vigas de transições; na mesma lógica que perfis pequenos constituem treliças para galpões, ou pilares para estruturas efêmeras.” Argumenta o engenheiro, desta vez apontando para a estrutura do próprio salão em que eles se encontravam, usando-a como exemplo de sua explanação.

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área de intervenção modelo com malha (145) Modelo com malha estrutural tridimensional isostática aplicada

(145)

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3. Existem 3 tipos de perfis, os CS, VS e CVS. Os dois primeiros são específicos e mais eficientes para funcionar como pilar e viga, respectivamente. Já os perfis CVS tem propriedades híbridas, por assim dizer, possibilitando o uso em ambas situações. O que permite tal possibilidade é o fato de possuírem maior espessura se comparado com os anteriores, tendo portanto menores dimensões e maior rigidez e, consequentemente, maior esbeltez. Em contrapartida pode haver um maior consumo de matéria prima em sua composição.

Na sequência, ele adentra um assunto muito técnico e específico, entediando alguns da sala. “Nesse projeto em questão, o módulo fixo definido foi de 6 metros. Utilizamos, portanto, perfis CVS3, que reagem bem tanto à tração quanto à compressão. Sua escolha se deu através da compreensão dos tipos de usos que a estrutura poderia comportar, ou seja, todos.” A média de todo esse cálculo de cargas atuantes era de 1.200 kgf/m². A partir desse dado, foi conferida a carga atuante em um único pilar, definido matematicamente como:

Cp = (N) x (Ai) x (Cat) Onde Cp é o valor desejado, isto é, carga no pilar, que é o produto do número de pavimentos (N), com a área de influência do pilar (Ai) e a carga atuante (Cat). Portanto:

Cp = (12) x (36) x (1200) = 518.400 kgf A escolha dos 6 metros como módulo estrutural é feliz, pois consegue ser subdividida facilmente em dois pavimentos de 3 metros de piso a piso, dimensão ótima

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para comportar a maioria das atividades humanas. Portanto o número de pavimentos escolhido, que no caso foi 12, podem transformar-se em 24 andares, quando for uma extrusão vertical. Podendo chegar até 72 metros de altura, um edifício de escala condizente com o conjunto e a metrópole.

4. Toda base para escolha do sistema, cálculo estrutural e dimensionamento de perfis foi extraída dos seguintes autores: Henio Engel, Sistemas Estruturais, 2001; e Luís A. M. Dias, Estruturas de Aço, Conceitos, Técnicas e Linguagem, 1997

Em seguida, é definida a Área do Perfil (Ap), através da Cp, expressa pela simples operação matemática:

Cp

Ap =

σaço

No qual σaço é a tensão admissível do aço, portanto:

Ap =

518.400 1.470

= 355 cm²

“Com essa área, abre-se um leque de opções quando batido esse valor à tabela de perfis. O mais eficiente para o caso foi o Perfil CVS 600 x 278, cujas dimensões principais são 550 x 400 mm de altura e base, respectivamente.” Finalizou o engenheiro4.

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(146) Ilustração da conexão da barra horizontal com a torre. Em primeiro plano, a treliça com 12 metros de altura. Na torre, é possível conferir os contraventamentos de tirantes metálicos.

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Nesse momento, alguns espectadores entediados já se encontravam dormindo ou mexendo em seus aparelhos, sorte que tinham em suas mãos cafés e bolos, se não já se teria testemunhado ali um motim. Com a finalidade de incrementar o sistema estrutural e garantir maior estabilidade no deslocamento horizontal da estrutura, contraventamentos de cabos de aço preenchem toda a superfície do projeto, em conjunto com os cores de circulação vertical de concreto moldado in loco. Com exceção deste último, todo o edifício possui uma lógica pré-fabricada de construção, movimentando a indústria e garantindo uma montagem seca, calculada e precisa. As peças que o compõe são concebidas em galpões, transportadas até o canteiro, e por fim encaixadas no local como um grande Lego Technic, linha de brinquedos mais complexa e avançada que a originária, cuja composição é de blocos regulares coloridos de encaixe macho-fêmea. Uma alusão, talvez, às diferenças das potencialidades plásticas e construtivas de perfis metálicos para com o tijolo. A malha tridimensional modular, para poder vencer os grandes vãos nas extensões das barras horizontais que conectam as torres e criam a rua elevada, tendo por vezes um vão que se aproxima dos 100 metros, necessita de altura proporcional ao comprimento total, comportandose como uma espécie de viga. Para que este feito seja possível, essas barras constituem-se de dois módulos na vertical, sendo estes vencidos integralmente por uma treliça de 12 metros de altura e quatro pavimentos em seu interior, sendo três dedicados à habitação e o superior à cota pública. “Esse elemento surge como a única transformação plástica do módulo estrutural, composta por perfis metálicos ligeiramente maiores, de 700 x 550mm” conclui o engenheiro.


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área de intervenção modelo fragmentado (147) Modelo fragmentado por dentro da estrutura. (148) Porosidade volumétrica a partir do programa.

(147)

200


// .2

Após seu discurso, ele agradece e retorna ao seu assento. O urbanista convida agora um dos arquitetos da equipe para explicar como preencher essa malha urbana tridimensional de infraestrutura. “A massa total é dissolvida de acordo as necessidades programáticas” inicia o arquiteto. Conforme os visitantes perceberam antes de adentrar o pavilhão, o conjunto do lado oposto da rua possui um aspecto poroso. O arquiteto demostra na verdade uma das possibilidades de ocupação. Não é de sua responsabilidade projetar o edifício todo, apenas especulá-lo projetualmente, da mesma maneira que não se projeta edifícios de toda uma área que é concebida em um projeto urbano tradicional, apenas suas massas e volumes. “Como vocês podem perceber nesse esquema ilustrativo, nossas intenções são de nortear e gerar diretrizes de ocupação a partir do programa.” A porosidade volumétrica está em função do uso. É definido que atividades comerciais e coloquiais do dia-a-dia são aquelas cuja tradução na arquitetura poderão flertar mais com vazios e transparências. Já do outro lado do espectro, encontram-se os programas de infraestrutura do conjunto e as habitações em si, cuja necessidade de privacidade e estanqueidade acarretam em um maior número de vedações e fechamentos.

(148)

201


// .2

(149)

baixo gabarito

baixo gabarito e esquina

202

gabaritos variados_A

alto gabarito e esquina_A

gabaritos variados_B

alto gabarito e esquina_B

alto gabarito

afastamento e isolamento


// .2

área de intervenção habitação cultural/educacional escritório lazer/esportivo comercial/serviço áreas técnicas (149) Tipologia de ocupação e fragmentação volumétrica a partir do contexto imediato. (150) Modelo com malha estrutural tridimensional isostática aplicada.

(150)

203


// .2

área de intervenção volume do conjunto circulações cota pública elevada (151) Circulações do conjunto ilustrando as conexões principais através dos cores verticais, as passagens internas da área residencial contida nas barras horizontais e no topo do volume a cota pública elevada. (152) - (154) Exemplos de tipos de ocupação da cota elevada. Sendo elas Alameda, Parque e Boulevard, respectivamente.

(151)

204


// .2

No topo, sobre todo esse volume construído, surge a nova rua paralela, atendendo quaisquer demandas, conectando quadras inteiras e intensificando as dinâmicas internas do projeto. Uma espécie de recuo no eixo z, retornando de volta à cidade um espaço para que ela ocorra, da mesma maneira que, em tempos atrás, as construções deveriam respeitar as leis de recuos frontais, gerando calçadas vivas com fachada ativa. A estratégia é a mesma, só se acrescentou mais uma dimensão, a vertical. “Obviamente, há diversas maneiras de ocupar e definir essa cota elevada.” Argumenta o arquiteto. Três alternativas foram imaginadas pelo grupo a fim de melhor ilustrar à plateia as potencialidades do espaço. “Podemos pensar que essa cota seja uma alameda de comércios e serviços, sendo coberta e abrigando diversas atividades cotidianas como ir ao mercado, costureiro ou dentista. Pode-se pensar também uma área livre e aberta, aos moldes de um parque linear. Devido a largura da barra elevada, podemos desenvolver simultaneamente áreas mais exclusivas à prática esportiva e espaços de livre apropriação e estar público. Há também um meio termo, por exemplo, no qual a natureza espacial assemelha-se mais a um boulevard, com pequenas praças e comércios surgindo em sequência, gerando mirantes e pequenas áreas de encontro e reuniões espontâneas.”

(152)

(153)

(154)

205


// .2

alameda

módulo comercial

6,00

módulo comercial

+51,30

10,95

2,00

6,00

4,22

1,00

5,60

6,00

módulo comercial

6,00

0,20 0,72

6,00

1,05

0,40

1,05

+51,30

6,00

5,80

vazio

1,00

circulação

206

módulo comercial

módulo comercial 0,72 0,20

módulo comercial

módulo comercial

(155)


// .2

(155) Planta da Alameda comercial e de serviços da cota elevada, com módulos de tamanhos variados e vazios nas laterais das circulações para iluminação e ventilação natural. (156) Axonométrica em corte da Alameda comercial e de serviços da cota elevada.

(156)

207


// .2

parque

0,10

1,70 2,90

0,10

6,00

banco jardim

6,73

0,50

6,00

6,00

0,50

6,00

3,81

+51,30

4,90

2,00 4,00

1,05

circulação

+51,30

0,25

bicicleta

1,56

1,56

6,00

corrida

0,10 0,90 0,10 0,90 0,10 6,48

1,28

clarabóia

1,00

6,00

4,90

1,00

praça

208

(156)


// .2

(157) Planta do Parque linear da cota elevada. Em um lado há a possibilidade de concentrar atividades esportivas específicas, e no outro uma área sem programa definido, configurando-se como estar público. (158) Axonométrica em corte do Parque da cota elevada.

(158)

209


// .2

boulevard 6,00

praça

0,10

2,58

módulo comercial

6,62

4,30

6,00

1,50

1,00

1,00 0,20

+51,30

5,80

1,55

2,90

módulo comercial

3,30

0,20

5,95

0,82

6,00

0,13

6,00

1,05

4,90

2,00 4,00

6,00

4,90

1,00

11,85

1,00

circulação clarabóia

5,80

+51,30

6,00

6,50

5,85

módulo comercial

módulo comercial 0,13

praça

210

0,82

módulo comercial

praça

(155)


// .2

(159) Planta do Boulevard, que surge como mistura das duas propostas anteriores, unindo módulos comerciais e pequenas praças e espaços de encontro e permanência. (160) Axonométrica em corte do Boulevard da cota elevada.

(160)

211


// .2

5. Ver Felipe Correa, São Paulo: Uma Biografia Gráfica, 2018, pág. 75

A palestra chega ao fim com o urbanista dando ênfase na natureza da estrutura. É uma malha urbana tridimensional que agora clama por ser preenchida. A metrópole agora funciona em níveis sobrepostos, tendo no projeto uma tentativa de ilustrar tal situação, sendo um símbolo de sua complexidade, como já se foi pensado por exemplo no Edifício Copan de Oscar Niemeyer. “Projetado em 1952 e influenciado pela Unité d`habitation, de Le Corbusier, a ideia de um edifício-cidade surge através da mistura de usos, criações de cotas coletivas elevadas e de uma alta variedade tipológica. A densidade era tão elevada que foi concedido a ele seu próprio CEP! Esse é o Copan 2.0.” Finaliza com orgulho, o urbanista5. Toda a plateia aplaude e exalta a equipe multidisciplinar. Foi um feito único, no qual o esforço intelectual e logístico para realizar tal empreitada compara-se à era dos Arquitetos Associados de Raymond Hood ao projetar o complexo multifuncional do magnata do aço e das ferrovias, o John D. Rockefeller Jr. A sessão de explanação transforma-se agora em um stand de vendas. O pavilhão de palestras sucumbe em natureza e todo seu layout é transformado. As cadeiras são rapidamente removidas e dobradas em si, como grandes origamis, e posteriormente guardadas sob o palanque.

212


// .2

Mesas com panfletos, contratos e maquetes do conjunto se materializam sobre o espaço, nos mesmos moldes dos antigos stands imobiliários que surgiam antigamente para cada novo prédio na cidade, transformando a construção e o espaço urbano em produto. É chegada a hora de alimentar os tubarões.

(161) Detalhe da elevação do volume horizontal e seu sistema estrutural

213


// .2

214


// .2

215


// .2

área de intervenção volume do conjunto área desenvolvida (162) Área definida do conjunto para desenvolvimento projetual.

(162)

216


// .2

N

egociações são iniciadas para a compra do último lote da estrutura, tendo seu endereço principal na Alameda Barão e Limeira, no quarteirão entre as Alamedas Ribeiro da Silva e Nothmann. Selvagens, os incorporadores transformam rapidamente o espaço em uma espécie de leilão extraoficial, sedentos pela última chance de levar um pedaço da grande estrutura. Um promotor consegue sobressair-se sobre todos os outros e finda a agitação com uma bela assinatura realizada pelo gesto de um dedo, sobre uma tela holográfica, selando virtualmente um contrato que acarretará em uma construção real. Agora inicia-se uma fase que já é natural para quem é do ramo, e um escritório de arquitetura por enquanto incógnito entrará como um terceiro nessa lógica, alheio a toda essa negociação prévia, como se via ocorrer também nas construções tradicionais.

217


// .2

6. Para a escolha das técnicas construtivas, foi consultado o livro de Francis D. K. Ching, Técnicas de Construções Ilustradas, 2016

(163)

O papel desse escritório será o de projetar o edifício entremeando-se nessa malha tridimensional, de dar forma às dinâmicas que nele são aguardadas e trazer vida ao aglomerado metálico. Após a contratação, o projeto foi desenvolvido com afinco por dentro da gaiola, constituída por duas torres, separadas uma da outra por 74 metros, tendo esse vão vencido integralmente pela dupla de treliças da barra horizontal de habitação. Os fechamentos e vedações são compostos por peças industrializadas – lajes de painéis alveolares de concreto protendido; peles de vidro com esquadrias em alumínio e janelas basculantes para todo conjunto de programa coletivo; paredes compostas de placas de MDF com isolamento termoacústico para todo programa residencial; paredes simples de MDF para divisórias internas de lojas e restaurantes; e coberturas leves de telhas metálicas do tipo sanduíche, com claraboias para iluminar e proteger a circulação das barras horizontais. No topo do conjunto, sobre toda a cobertura, placas fotovoltaicas surgem em desenho harmonioso ao módulo, ocorrendo apenas onde há estrutura6.

218


// .2

(163) Isométrica síntese do sistema construtivo do conjunto.

(164)

(164) Isométrica do sistema estrutural do conjunto, com módulo em destaque.

219


// .2

(165)

(165) IsomÊtrica dos componentes do conjunto, indicando vedaçþes, fechamentos, lajes e cobertura

220


// .2

A partir das diretrizes programáticas bem evidenciadas pela equipe responsável por projetar o conjunto, já se era sabido o que poderia ocorrer ali, como uso principal. Nesse caso, um empreendimento de uso misto tradicional, unindo comércio, serviço e espaços de trabalho nos volumes verticais e, por fim, habitação nos volumes horizontais. Há variedade tipológica em relação ao programa, é pensado diferentes formas de ocupação para com o mesmo uso. Nas lajes comerciais há a possibilidade de espaços para co-working ou aluguel em sua totalidade para um determinado escritório. Nas residências, há unidades simples, duplex e quitinetes, conferindo assim maior diversidade em relação aos tipos de usuários. São dois os pontos de apoio da massa total do conjunto sobre essa área demarcada, ambos com comércio e amenidades do térreo. No primeiro volume vertical, à direita, o caráter comercial eleva-se até o nono andar, sendo essa distância vencida por quatro lances de escada rolante de livre acesso, como visto nas famosas galerias comerciais do século XX, a Galeria do Rock e Galeria Metrópole, por exemplo, ou outros edifícios institucionais de peso do início do século XXI, como o Instituto Moreira Sales na Avenida Paulista ou o SESC 24 de maio, porém este último tendo optado pelo livre percurso e derivas das rampas tradicionais.

221


// .2

comércio/serviço lajes comerciais área comum apto duplex apto simples área técnica sanitários

(166) Isométrica distribuição programática e respectivas circulações.

da suas

(166)

222


// .2

Já na segunda torre, com uma coluna de módulos a mais, permite maiores superfícies de planos horizontais livres, tendo então em si uma maior concentração de lajes comerciais para aluguel de escritórios, fazendo com que a área de lojas, serviços e alimentação se limite até o terceiro andar somente. A partir daí o acesso é controlado, sendo permitido somente a conexão direta até a cota pública elevada, que nesse caso encontra-se no décimo sétimo andar, a 51,30 metros da cota zero, o solo. Na barra horizontal, onde localiza-se o verdadeiro adensamento, habitação e espaço público desenvolvemse verticalmente em harmonia. São quatro pavimentos, porém somente três com circulação interna. Entre o segundo pavimento e a cota elevada, há um distanciamento natural dos percursos gerado pela presença da unidade duplex, que surge como solução arquitetônica. A privacidade das unidades é preservada com esse pé-direito elevado. As circulações se dão de uma maneira interessante – as passarelas que conectam todo edifício são pensadas como um órgão a parte do conjunto, diferenciando -se do restante pela sua lógica construtiva. A fim de obter um caráter formal mais leve, esses corredores internos são pendurados por cabos de aço, que por sua vez são ancorados na grelha estrutural principal. Passarelas suspensas para residências flutuantes.

(167) Corte longitudinal E, demonstrando as circulações e os cheios e vazios do conjunto. (168) Isométrica da solução plástica e técnica da passarela suspensa. (169);(170) Cortes da passarela, evidenciando sua estrutura.

223


// .2

224


// .2 (167)

(168)

(169)

(170)

225


B

C

AL. RIBEIRO DA SILVA

// .2

E A

AL. BARÃO D

R.N.=733,00 R.N.=0,00 0

5

(171) 226

10

C

B

25

50

10


D

AL. NOTHMANN

// .2

E A

00,00

DE LIMEIRA D

1:250 N

00

227


// .2

+84,30 +81,30

(171) Implantação térrea da área desenvolvida projetualmente, demonstrando os dois acessos francos do conjunto e o alinhamento com as construções pré-existentes. (172) Corte longitudinal A, evidenciando os cores estruturais com suas respectivas circulações, e as unidades residenciais em conjunto da cota pública elevada. (173) Corte transversal B, passando pela primeira torre, evidenciando a circulação através das escadas rolantes e do core estrutural. (174) Corte transversal C, passando pela barra horizontal, demonstrando a relação da habitação para com a cota pública. (175) Corte transversal D, passando pela segunda torre, evidenciando os cheios e vazios, e a circulação pública que se dá através dos elevadores. (176) Ampliação do corte C, evidenciando as soluções estruturais e compositivas. (177) Ampliação do corte A, evidenciando as soluções estruturais e compositivas. (178) Ilustração do conjunto total escolhido para desenvolvimento projetual.

(172)

+78,30 +75,30 +72,30 +69,30 +66,30 +63,30 +60,30 +57,30 +54,30 +51,30 +48,30 +45,30 +42,30 +39,30 +36,30 +33,30 +30,30 +27,30 +24,30 +21,30 +18,30 +15,30 +12,30 +9,30 +6,30 +3,30

228

0,00


// .2

229


// .2 (173)

+66,30 +63,30 +60,30 +57,30 +54,30 +51,30 +48,30 +45,30 +42,30 +39,30 +36,30 +33,30 +30,30 +27,30 +24,30 +21,30 +18,30 +15,30 +12,30 +9,30 +6,30 +3,30

230 0,00

(174)


// .2

+84,30

(175)

+84,30

+81,30

+81,30

+78,30

+78,30

+75,30

+75,30

+72,30

+72,30

+69,30

+69,30

+66,30

+66,30

+63,30

+63,30

+60,30

+60,30

+57,30

+57,30

+54,30

+54,30

+51,30

+51,30

+48,30

+48,30

+45,30

+45,30

+42,30

+42,30

+39,30

+39,30

+36,30

+36,30

+33,30

+33,30

+30,30

+30,30

+27,30

+27,30

+24,30

+24,30

+21,30

+21,30

+18,30

+18,30

+15,30

+15,30

+12,30

+12,30

+9,30

+9,30

+6,30

+6,30

+3,30

0,00

+3,30

231

0,00


// .2 A

B 6,00

6,00

6,00

01

5,56

04

0,44

5,51

+54,30

0,56

2,48 1,21

1,16

0,33

0,70

1,21

0,43

03

0,27

1,18

0,15 0,25

0,28

0,30

1

5,51 0,35 0,35

2,48

02

0,28

1,20 0,56 0,60

D

C

06

07

1,42

2,40

2,45

0,75

05

21

3,54

0,90

1,17

5,65

23

08

3,00

2,73

2,75

22

10 13

16

05

09

+48,30

12 12,70

04

1,53

15

18

10

19

06

2,87

2,97

17

1,92

2,32

2,71

2,22

1,04

1,00

0,10

1,10

1,80 2,00

+45,30

0,10

1,10 09 15

17

20

3,00

3,04

1,83

16

06

1,04

2,38

2,78

5,65

0,16

0,28

3

1,00

0,20

4,60

6,00

0,40

0,80

+42,30

0,14

5,63

4,01

0,20 0,60

0,40

6,00

4,61

0,20

0,70

1,74

0,40 0,28

0,72

0,14

0,10

0,26

3,79

6,00

11

14

0,16

0,40 0,38 0,28

0,26

5,61

2

+51,30

09

0,28

0,26

6,00

08

13

5,80

1,00

18,55

(176) 232


// .2

S

6,00

4,00

6,00

08

02

03

04

09

25 26

1,06

4,95

5,60

0,40

5,60

2,00

2,00

2,00

1,06 0,76 0,05 0,40

04

0,10 0,05

0,55

1

0,10

6,00

+57,30

09

+54,30

0,28

4,95

0,40

0,240,25 0,12 0,140,44

1,06

V

2,73

6,00

U

T

0,40 0,20 0,28

R

2,13

Q

05 04

17 09

21

2,45

2,40

07

2,40

3,01

17

13

08

5,61

+51,30

0,18

0,28

0,26

6,00

5,85

23

08

1,00

0,20 0,10 0,10

13

08

17 09

04

0,55 12,55

2

+48,30

5,83

2,70

14

24

0,26

2,90

2,73

3,00

1,75

22

2,94

17 08

0,18

+45,30

2,83

0,28 2,76

3,04

2,78

6,00

0,26

09

2,53

16

19

2,99

2,42

2,97

2,71

2,99

2,76

0,10

2,95

0,10

2,83

1,04

04

0,40

5,60

0,40

5,60

0,10

0,16 0,55

3

0,40

2,40

0,10 0,14

0,10

0,26

2,90

09

1,08

17 18

+42,30

2,58 3,63

+39,30

(177) 233


//

epĂ­logo // 234


//

P

assam-se alguns meses até ser finalizada a obra. Enquanto estava em fase de construção, essa área do conjunto foi temporariamente selada por uma espécie de tapume transparente, materializado como um campo de força intransponível para aqueles cuja retina não estava cadastrada no banco de dados do empreendimento. Um véu invisível que impede a invasão de estranhos à obra, mas permite que todo processo seja visto e testemunhado por quem ali passar. E enfim, é dada a inauguração do último trecho apropriável da malha urbana tridimensional. A estética é dada através da racionalização estrutural e da fragmentação volumétrica. A técnica surge por entre os parafusos e os tirantes metálicos. A ética nasce vitoriosa na cota elevada e na livre circulação pública.

235


// .2

É testemunhado através do conjunto uma tentativa de construção urbana, alternativa de ocupação territorial através da apropriação do espaço aéreo. Nele é fomentado um hiper adensamento que altera e caracteriza a morfologia urbana. Hipótese possível em apenas poucos centros urbanos que tem a benção e maldição de carregar o título de cidades globais, que sob seu domínio, diferentes culturas e usuários se mesclam ativamente, no qual o fluxo de informações e comunicações não cessam e se transformam constantemente, elevando-se a enésima potência conforme a cultura e a sociedade englobam a tecnologia e vice-versa, gerando simultaneamente novas potencialidades e novas deficiências através de suas condicionantes.

O projeto é uma ode à metrópole.

236

(178)


// .2

237


//

anexo // 238


//

Aqui será demonstrado a proposta final desenvolvida no período do curso do Institute of Architecture and Urban Studies, que é fruto da pesquisa e da análise de Manhattan e sua morfologia urbana, já demonstrada no capítulo "B - conceito". (págs. 122-155) O estudo seguiu a partir de um questionamento - e se o Rockefeller Center tivesse sido construído de uma maneira diferente, aplicando o conceito de um volume elevado, de mesma escala, no contexto pré-existente? Uma especulação formal se desenvolveu, cuja metodologia de inserção serviu de fundamento e base para que a mesma ideia pudesse surgir em São Paulo. Foram estudadas as formas básicas de implantação de edifícios, sugeridas no conjunto "50 urban blocks", do grupo de pesquisa catalão "a+t". A partir deste ponto, um diagrama de ramificação linear de massas conceituais foi criado, como ume guia para a experimentação, sempre respeitando o limite máximo de área possível de construção, proveniente da subtração da área do RFC pela sua pré-existência. Praticamente, no mesmo molde que a operação matemática descrita na segunda parte do conto. (págs 178-180)

239


//

RFC 1.747.354 m²

-

Pré-existência 386.354 m²

240

= 1.361.000 m² =

área máxima para experimentação


//

1.361.000 m² construídos no mecanismo tradicional

241


//

projeção no solo - formas da massa elevada

242

01

fechado e contínuo

02

aberto e contínuo

03

rede e matriz

04

elementos singulares


//

natureza das conexões massa horizontal - extrusão contínua do quarteirão, maior ocupação do solo, menor verticalização

massa vertical - extrusão de pontos específicos, menor ocupação do solo, maior verticalização

híbrido - torres como ponto de referência e conexão, massa abrigando a densidade e novos planos 243




// extrusões

super quadra

serpente

arranha-céu

extrusão periférica

grande serpente

extrusão das avenidas

miolo de quadra

espiral

barras modernistas

246


//

super quadra

serpente

arranha-céu

extrusão periférica

grande serpente

extrusão das avenidas

miolo de quadra

espiral

barras modernistas

247


//

248


//

249


//

aplicação do conceito em quarteirão genérico A partir do desenvolvimento formal, foram optadas hibridizações dos modelos, tentando abraçar as condicionantes e potencialidades de mais de uma alternativa. Nesse cenário, a primeira estratégia é utilizar da Extrusão do Miolo de Quadra como ferramenta para ocupação inicial. O potencial construtivo inical é dividido em duas torres, que serviriam para abrigar programas de uso coletivos. Em seguida, há eliminações específicas das construções, criando parques nos interiores das quadras, gerando diversidade programática e espacial na escala da rua e do pedestre. As torres então abrem caminho para conectarem-se com as avenidas, agragando qualidade espacial através da permeabilidade urbana em todas as direções.

00

01

01

05

06

06

A Extrusão Periférica da Quadra surge para abrigar a densidade habitacional. Pela geometria, é o tipo de desenho que agrega maior compacidade, atingindo uma elevada população com menor verticalização. O contexto pré existente é "recortado" da massa, conferindo um desenho único, espelho de suas especificidades. A massa eleva-se afim de garantir iluminação e ventilação natural para todo ambiente construído, e para os novos espaços criados. No topo do volume, cria-se uma nova cota apropriável, paralela à cidade, no qual poderia abrigrar novas adições em uma possível necessidade futura de adensamento

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09 251


// aplicação do conceito no contexto do rfc

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00

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05


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253


//

referĂŞncias // 254


//

(1) (2-4)

Foto: Stefania Bril. Disponível em: https://ims.com.br/exposicao/sao-paulo-tres-ensaios-visuais/. Acesso em: 25/10/2019.

(5)

Desenho do autor. Dados: Geosampa.

(6)

Desenho do autor.

(7)

Desenho do autor. Dados: Geosampa.

(8)

Desenho do autor.

(9)

Desenho do autor. Dados: Geosampa.

(10-29)

Diagrama do autor. Dados: Geosampa.

(30)

Mapa: Publicado por Jules Martin. Disponível em: http://www.arquiamigos.org.br/info/info20/img/1890-download.jpg. Acesso em 25/10/2019.

(31)

Foto: Juan Esteves. Disponível em: https://vejasp.abril.com.br/blog/memoria/campos-eliseos-livro-fotografia/. Acesso em 25/10/2019.

(32)

Foto: Palácio Campos Elíseos. Disponível em: http://vecprojetos.com.br/portfolio_page/palacio-campos-eliseossp/. Acesso em 25/10/2019.

(33)

Foto: Campos Elíseos. Disponível em: https://www.pinterest.ie/pin/471541023476869274/?lp=true. Acesso em 25/10/2019.

(34-35)

Foto: Acervo Fau/USP. https://i.pinimg.com/originals/f4/d3/2b/f4d32bb9cf18f5ec604f73e28d29e21f.jpg. Acesso em 25/10/2019.

(36)

Foto: Guilherme Gaensly. https://spcity.com.br/serie-avenida-paulista-do-palacete-von-bulow-ao-edificio-pauliceia/. Acesso em 25/10/2019.

(37-39)

Foto: Fabio Tito. https://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/antes-e-depois-fotos-mostram-mudancas-na-cracolandiaapos-acao-policial.ghtml. Acesso em 25/10/2019.

(40)

Imagem: Ebenezer Howard. Acesso em 25/10/2019.

(41-42)

Imagem: Toledo. https://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/07.082/259. Acesso em 25/10/2019.

(43)

Imagem: Richard Rogers. Disponível em: http://serimovel.com/index.php/desenvolvendo-projetos-e-cidades-com-umavisao-holistica-ensaios-por-arq-flavio-westmann/. Acesso em 25/10/2019.

(44)

Foto: Fernando Boari. Disponível em: http://www.labhab.fau.usp.br/wp-content/uploads/2012/02/ferreira_2012_ produzirhab_cidades.pdf. Acesso em 25/10/2019.

(45)

Foto: Caio Pimenta. Disponível em: http://imprensa.spturis.com.br/wp-content/gallery/imagens-aereas-de-sao-paulo/ fotos_aereas_jun11_caiopimenta-14.jpg. Acesso em 25/10/2019.

(46)

Mapa: Jollain, Gérard. Disponível em: https://collections.leventhalmap.org/search/commonwealth:x633fb58s. Acesso em 25/10/2019.

(47)

Mapa: New York Public Library. Disponível File:CastelloPlanOriginal.jpg. Acesso em 25/10/2019.

Desenho do autor.

iconografia

https://www.archdaily.com.br/br/780323/10-ideas-utopicas-de-planejamento-urbano.

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https://en.wikipedia.org/wiki/Castello_Plan#/media/

255


//

(48)

Mapa: New York City. Disponível em: http://beyondcentralpark.com/images/Park/Bridges%201811.jpg. Acesso em 25/10/2019.

(49) (50)

Imagem: Rem Koolhaas. Disponível em: https://dome.mit.edu/handle/1721.3/21258. Acesso em 25/10/2019.

(51) (52)

Foto do autor.

(53)

Imagem disponível em: KOOLHAS, Rem. Delirious New York. A Retroactive Manifesto for Manhattan. Nova Iorque: The Monacelli Press, 1995 (p. 154).

(53)

Imagem disponível em: KOOLHAS, Rem. Delirious New York. A Retroactive Manifesto for Manhattan. Nova Iorque: The Monacelli Press, 1995 (p. 154).

(54)

Imagem disponível em: YOOS, Jennifer; JAMES, Vincent. Parallel Cities: the Multilevel Metropolis. Minneapolis: Walker Art Center, 2016 (p. 50).

(55)

Imagem: Detroid Photographic DC. Disponível em: det/4a20000/4a21000/4a21300/4a21395v.jpg. Acesso em 25/10/2019.

(57)

Imagem disponível em: KOOLHAS, Rem. Delirious New York. A Retroactive Manifesto for Manhattan. Nova Iorque: The Monacelli Press, 1995 (p. 86).

(58)

Mapa: Haussmann . Disponível em: Mapa: New York City. Disponível em: http://beyondcentralpark.com/images/Park/ Bridges%201811.jpg. Acesso em 25/10/2019. Acesso em 25/10/2019.

(59)

Imagem disponível em: YOOS, Jennifer; JAMES, Vincent. Parallel Cities: the Multilevel Metropolis. Minneapolis: Walker Art Center, 2016 (p. 21).

(60)

Imagem: Eugène Hénard. Disponível em: http://urbanplanning.library.cornell.edu/DOCS/henard.htm. Acesso em 25/10/2019.

(61)

Imagem: Le Corbusier. https://i.pinimg.com/originals/6c/1e/b4/6c1eb4a54380022963fcbaceca558761.jpg. Acesso em 25/10/2019.

(62)

Imagem: Le Corbusier. http://cycle-space.com/healthy-green-transport-for-a-small-city-part-4/radiant-city-le-corbusier/. Acesso em 25/10/2019.

(63)

Foto: Artists Rights Society (ARS). https://www.businessinsider.com/le-corbusiers-plan-voisin-for-paris-2013-7. Acesso em 25/10/2019. Imagem: Moses King. http://www.vidin.co/?m=201712&paged=3. Acesso em 25/10/2019.

(64) (65)

256

Imagem: Richard Meier. Disponível em: https://www.thoughtco.com/buildings-you-wont-see-ground-zero-178530. Acesso em 25/10/2019. Imagem disponível em: YOOS, Jennifer; JAMES, Vincent. Parallel Cities: the Multilevel Metropolis. Minneapolis: Walker Art Center, 2016 (p. 50).

https://cdn.loc.gov/service/pnp/

Imagem: Harvey Wiley Corbett. https://www.pinterest.co.uk/amp/pin/119908408804523439/. Acesso em 25/10/2019.

(66)

Imagem: William R Leigh. https://urbangeographies.tumblr.com/post/127713040662/urbanfreakde-urbain-visionarycity-of-new. Acesso em 25/10/2019.

(67)

Imagem: Hugh Ferriss. https://global.ctbuh.org/resources/papers/download/4056-skybridges-a-history-and-a-view-tothe-near-future.pdf. Acesso em 25/10/2019.


//

(68) (69)

Imagem: Fritz Lang Film. https://www.the-philosophy.com/metropolis-fritz-lang-review. Acesso em 25/10/2019.

(70)

Imagem: Raymond Hood. https://nyc-urbanism.tumblr.com/post/186308567827/mapmondays-raymond-hoodskyscraper-bridges. Acesso em 25/10/2019.

(71)

Imagem disponível em: KOOLHAS, Rem. Delirious New York. A Retroactive Manifesto for Manhattan. Nova Iorque: The Monacelli Press, 1995 (p. 163).

(72)

Imagem disponível em: KOOLHAS, Rem. Delirious New York. A Retroactive Manifesto for Manhattan. Nova Iorque: The Monacelli Press, 1995 (p. 179).

(73)

Imagem disponível em: KOOLHAS, Rem. Delirious New York. A Retroactive Manifesto for Manhattan. Nova Iorque: The Monacelli Press, 1995 (p. 180).

(74)

Imagem disponível em: KOOLHAS, Rem. Delirious New York. A Retroactive Manifesto for Manhattan. Nova Iorque: The Monacelli Press, 1995 (p. 209).

(75)

Imagem disponível em: KOOLHAS, Rem. Delirious New York. A Retroactive Manifesto for Manhattan. Nova Iorque: The Monacelli Press, 1995 (p. 193).

(76)

Imagem disponível em: KOOLHAS, Rem. Delirious New York. A Retroactive Manifesto for Manhattan. Nova Iorque: The Monacelli Press, 1995 (p. 180).

(77)

Imagem disponível em https://www.drivingfordeco.com/tag/hildreth-meiere/. Acesso em 25/10/2019.

(78-79)

Imagem disponível em: KOOLHAS, Rem. Delirious New York. A Retroactive Manifesto for Manhattan. Nova Iorque: The Monacelli Press, 1995 (p. 182). Imagem disponível em: KOOLHAS, Rem. Delirious New York. A Retroactive Manifesto for Manhattan. Nova Iorque: The Monacelli Press, 1995 (p. 205).

(80)

Imagem: Raymond Hood. https://www.skyscraper.org/EXHIBITIONS/FUTURE_CITY/NEW_YORK_MODERN/walkthrough_ hood.php. Acesso em 25/10/2019.

(81)

Imagem: RCA Building. https://www.printcollection.com/products/rockefeller-center-new-york-city-rca-building-generalview-from-old-union-club#.XdsG9ehKh3h. Acesso em 25/10/2019.

(82)

Imagem: Empire State Building. https://grandoldpartisan.typepad.com/blog/2019/05/empire-state-building.html. Acesso em 25/10/2019.

(83)

Imagem: Chrysler Building. https://www.etsy.com/uk/listing/498158146/1930-chrysler-building-new-york-city-ny. Acesso em 25/10/2019.

(84)

Imagem: Prometheus. https://encircleworldphotos.photoshelter.com/image/I00007hlwmRPyJzE. Acesso em 25/10/2019.

(85)

Imagem: Prometheus. https://hadrian6.tumblr.com/post/56082262535/prometheus-brings-fire-to-mankind-1817heinrich. Acesso em 25/10/2019.

(86)

Imagem: RCA Building. https://www.rockefellercenter.com/food-and-drink/sixtyfive/. Acesso em 25/10/2019.

(87)

Imagem: The XYZ Buildings. https://nyc-urbanism.tumblr.com/post/170235034197/the-xyz-buildings-rockefeller-centerexpansion. Acesso em 25/10/2019. Fotos do autor.

(88-90)

257


//

(91-111)

Diagramas do autor.

(112)

Foto: Artists Rights Society (ARS). https://www.businessinsider.com/le-corbusiers-plan-voisin-for-paris-2013-7. Acesso em 25/10/2019.

(113)

Foto: Google Earth. Acesso em 25/10/2019.

(114-117) Diagramas do autor. (118)

Foto disponível em: https://medium.com/designscience/constants-new-babylon-485e6a6592f9. Acesso em 25/10/2019.

(119)

Imagem: Yona Friedman. http://www.yonafriedman.nl/?page_id=78. Acesso em 25/10/2019.

(120)

Foto disponível em: https://www.moma.org/collection/works/814. Acesso em 25/10/2019.

(121)

Imagem: Peter Cook. Disponível em: https://www.reddit.com/r/ImaginaryArchitecture/comments/ai0d6x/the_plugin_city_ by_the_group_archigram_1964/?utm_source=ifttt. Acesso em 25/10/2019.

(122)

Imagem: Yona Friedman. Disponível em: http://figure-ground.com/japan/a-d/0015/. Acesso em 25/10/2019.

(123)

Imagem: Arata Isozaki. Disponível em: https://www.moma.org/collection/works/815. Acesso em 25/10/2019.

(124)

Imagem: Superstudio. Disponível em: https://www.archdaily.com/538307/city-as-a-vision-tribute-to-michelragon/53f1b87bc07a80388e0003ba-city-as-a-vision-tribute-to-michel-ragon-image. Acesso em 25/10/2019.

(125)

Imagem: Rem Koolhas. Disponível em: https://www.moma.org/collection/works/104692 Acesso em 25/10/2019.

(126)

Foto disponível em: SACCHI, Even. Yojiro Takaoka, o construtor de sonhos. Barueri: ASA Editora, 2003 (162).

(127)

Foto disponível em: SACCHI, Even. Yojiro Takaoka, o construtor de sonhos. Barueri: ASA Editora, 2003 (163).

(128)

Imagem do autor.

(129-138) Diagramas do autor. (139-141) Desenho do autor. Dados: Geosampa. (142)

Imagem disponível em: http://www.stevenholl.com/projects/vanke-center-masterplan. Acesso em: 25.10.2019.

(143)

Imagem disponível em: https://www.plataformaarquitectura.cl/cl/02-155944/big-presenta-sus-bloques-de-viviendascruzadas-en-seul-corea/yon__image-by-big_05. Acesso em: 25.10.2019.

(144)

Imagem disponível em: https://kienviet.net/2017/03/21/interlace-nhung-phan-vi-ngang-toi-uu-cho-vung-nhiet-doi-oma/ the_interlace_by_oma_ole_scheeren_photo_-%C2%BC_iwan_baan_04-copy/. Acesso em: 25.10.2019.

(145-178) Diagramas e imagens do autor. (anexo)

258

Imagens do autor.


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261


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