TCC | PERCURSO - corpo como experiência crítica do urbano

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PERCURSO corpo como experiência crítica do urbano

Autora: Adele Luiza Depentor Orientadora: Prof.ª Ms.ª Maria Beatriz Andreotti

Trabalho de conclusão de curso (TCC) apresentado à Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade São Francisco como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Arquitetura e Urbanismo. Arquitetura e Urbanismo Universidade São Francisco Campus Itatiba | 2018


Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrônico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada a fonte. email: adele.luiza@gmail.com


Dedico este trabalho a todos aqueles que sonham, arriscam, danรงam, vivem, experimentam e percorrem intensamente por essa loucura chamada vida.


AGRADECIMENTOS

Fotografia: Foto Rondin


Agradeço a Deus e ao Universo pela possibilidade de existir; por todas as vivências e experiências que me fizeram ser quem sou, que me fizeram chegar até aqui, e me deram inspiração para realizar este trabalho. Agradeço aos meus pais, Fernanda e Osvaldo, por apoiar e incentivar as minhas escolhas; por me ajudarem durante todos esses anos de graduação e principalmente nessa etapa final. Ao meu namorado Gustavo, pela parceria e compreensão; por confiar no meu potencial e me incentivar a ir sempre além, por ser um refúgio nos momentos difíceis, e por estar sempre presente. À minha irmã Cecília, meus familiares e amigos, que sempre acreditaram em mim, incentivando, ajudando e escutando-me falar deste trabalho durante o ano todo. Agradeço especialmente à Aline Lencini, quem me iniciou no mundo da dança, mostrandome o quanto a arte de dançar pode transformar a vida das pessoas; agradeço também a todos os meus professores de dança e amigos bailarinos do Studio de dança Aline Lencini, pelos conselhos, apoio e ajuda para enxergar que podemos ser o que queremos, sem nos importar com rótulos e julgamentos. Ao professor João Márcio que me orientou durante a primeira fase do trabalho, e incentivou minha escolha de tema. Obrigada por me fazer seguir essa escolha. Agradeço imensamente à minha orientadora Maria Beatriz Andreotti, que não mediu esforços para me auxiliar nessa reta final. Obrigada por ser uma professora inspiradora, cheia de referências e por ter sido essencial, não apenas nesta etapa, mas na minha formação como um todo. Por fim, agradeço a todos os meus professores, e a todos que de alguma forma contribuíram para este momento. Obrigada!


Fotografia: Mariana MagalhĂŁes


“Na verdade, podemos dizer que o corpo, o espaço e o tempo sempre foram tópicos centrais no desenvolvimento da dança e da arquitetura e não é difícil levantar uma série de similaridades entre os dois campos. De imediato nos vêm à mente o fato de que ambos, arquitetura e dança, lidam com o corpo, ou para ser mais preciso, lidam com o corpo em movimento no espaço. Nesse sentido lidam também com a imagem desse corpo que se movimenta pelo espaço. Também lidam com a questão da força da gravidade como um problema a ser equacionado: a gravidade como algo essencial que tem que ser levado em conta, quer seja para aceitá-la ou para desafiá-la. O desafio do salto se assemelha ao desafio do concreto que vence um grande vão.” (CABRAL, J. 2007)


SUMÁRIO

01 02 03 04 05


APRESENTAÇÃO TEMA

12|13

14|27

REFERÊNCIAS PROJETUAIS 28|35 SÍTIO 36|45 PROJETO 46|69 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

70|72


APRESENTAÇÃO


Introdução É muito comum, quando se pensa em dança, associar imediatamente às pequenas meninas fazendo aula de Ballet Clássico. De fato, essa experiência da criança iniciada no contexto da dança, desenvolve disciplina, postura e ensina a se relacionar em grupo. Porém ainda não é parte do senso comum relacionar a dança a uma experiência livre de conhecimento próprio e do próximo, e real vivência do espaço urbano. A discussão colocada sobre esse trabalho versa sobre a relação corpo e espaço, e propõe como projeto um Núcleo de dança experimental, sendo um lugar que proporciona experimentar a cidade, e expressar-se livremente, funcionando como uma forma de resistência à sociedade atual, que vem se tornando cada vez mais distante da real vivência da cidade. Visa-se um espaço voltado para o indivíduo, onde ele possa estabelecer vínculos com a cidade, com a dança, com outras pessoas e consigo mesmo, por meio de suas manifestações artísticas e experimentações do espaço. Este projeto atenderá tanto aos amadores da dança como prática autônoma, quanto aos interessados em se aprofundar na formação como bailarino, tudo de modo gratuito em um

espaço público e aberto para todos. O local definido para implantação desse projeto localiza-se no município de Campinas, SP, mais precisamente entre a Lagoa do Taquaral e o Ribeirão Anhumas, que apresenta segregações socioespaciais, causadas pela diferença de infraestrutura e classe social dos bairros que pertencem à essa região. Dessa forma, o projeto busca ser um facilitador para unificar a região e fazer com que os indivíduos que ali vivem, apesar de distintos em muitos aspectos, possam interagir, se expressar, e vivenciar juntos e igualitariamente num espaço público.

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01. TEMA


Panorama da urbanidade contemporânea A cidade atual passa por um processo de espetacularização urbana. Esse é um termo vasto que abrange diversas situações urbanas contemporâneas, como a gentrificação (quando ocorre o enobrecimento de áreas centrais com expulsão da população mais pobre) e também a museificação, estetização, que estão diretamente relacionados com especulação imobiliária e as novas estratégias de marketing. Buscam construir uma nova imagem para a cidade, uma marca, que visa atrair turistas e fomentar a economia da cidade através de edifícios atrativos. O ambiente urbano tende a se tornar cada vez mais privatizado, caracterizando-se como um simples cenário em que a experiência urbana cotidiana vem se empobrecendo, fazendo com que os habitantes percam seu vínculo com a cidade e a utilizando de maneira disciplinada e de forma automática, sem se propor a novos meios de apropriação do espaço. Essa discussão já se tornou recorrente no meio acadêmico e esse processo está cada vez mais explícito. Guy Debord (1967), em seu livro “Sociedade do espetáculo”, faz uma crítica a uma sociedade consumista, influenciada por imagens e pela invasão do mercado econômico na vida cotidiana. O autor apresenta o conceito

de espetáculo como uma relação de pessoas mediadas por imagens, fazendo destas pessoas meros espectadores, contemplativos e passivos à vida urbana. Também é possível relacionar a espetacularização com os conceitos apresentados por Hal Foster (2015), em “Complexo Arte-arquitetura”. O autor disserta sobre as singularidades e impasses do mundo contemporâneo a partir das relações entre práticas artísticas e arquitetônicas, tanto de colaboração quanto de competição entre elas, justificando que ambas configuram um espaço de renovação e experimentação estética, mas que ao mesmo tempo podem se tornar apenas atração de negócios e promoção de cidades. Uma das questões abordadas no livro é a perda de autonomia do ser humano diante de algumas edificações “espetaculares”, que são criadas como edifícios contemplativos, onde sua forma acaba se sobressaindo em relação a outras funções da arquitetura. Foster aponta ainda sobre alguns artistas e arquitetos que buscam provocar uma experiência fenomenal diante de suas obras, que acabam fazendo com que as pessoas recebam sentimentos e sensações que em realidade não são próprias delas. Este livro procura incentivar as práticas que insistem 15


na singularidade da experiência vivida no momento e que, nas palavras do autor, resistem à subjetividade atordoada e a sociabilidade atrofiada sustentadas pelo espetáculo. Um trecho retirado da introdução do livro de Hal Foster chama a atenção para a questão da relação entre o corpo e a arquitetura, quando diz que “uma luta importante é travada entre esse tipo de prática ligada ao corpo e ao lugar e uma cultura do espetáculo que visa a dissolver todas essas percepções” Nesse sentido, Paola Berenstein e Fabiana Britto, vem se dedicando à pesquisa sobre essa relação corpo-cidade e a importância da experimentação e vivência da cidade, criando um conceito de Corpografias, descrito como todos os registros e lembranças da vivência da cidade que ficam inscritos, mesmo que involuntariamente, no corpo de quem a experimenta. Também consideram que corpo e cidade se configuram mutualmente, sendo a formulação e traçado da cidade influenciados pelo corpo assim como a cidade também configura o corpo, por meio das memórias. Pode-se dizer que a síntese das pesquisas feitas pelas autoras está na questão da experiência e da prática dos espaços públicos no cotidiano e da própria experiência corporal destes como resistência ao processo de espetacularização urbana. 16

“O espaço público e a experiência artística constituem, assim, aspectos da vida humana cuja dinâmica tanto promove quanto resulta dos modos de articulação entre corpo e seus ambientes de existência. Ambiente entendido não propriamente como um lugar, mas como conjunto de condições interativas para o corpo.” (Paola Berenstein Jaqcues)

Outra possibilidade para enfrentar a falta de apropriação do habitante no espaço, é buscar relacionar a arquitetura com o evento, enquanto acontecimento singular, que se dá através de um tempo e espaço únicos. Assim, deve-se preocupar em equilibrar a determinação e a indeterminação nos projetos arquitetônicos e nos lugares gerados a partir deles, ou seja, dar liberdade ao usuário em questão, proporcionando abertura para a criatividade, para que as pessoas tenham autonomia para utilizar e experimentar o espaço de maneiras que até então não estavam determinadas para ocorrer. É necessário pensar a arquitetura para além de uma simples edificação, devendo considerar também as relações que acontecem entre os habitantes, por meio dessa edificação. (CABRAL, J. 2007)


Contextualizando a dança A dança é um fenômeno que sempre acompanhou o ser humano, demarcando suas transformações ocorridas ao longo da história. Talvez seja devido ao fato de a dança estar incorporada no ser humano desde sempre, que se torna difícil definir o que é dança, sendo que suas definições são sempre subjetivas. Pode-se dizer que o movimento e o gesto são as formas elementares e primitivas da dança e constituem assim a primeira forma de manifestação de emoções do homem e a exteriorização dos seus sentimentos. (FRANCO, N.; FERREIRA, N.V.C.) Ao traçar uma linha do tempo para compreender a evolução da dança, considerase que com o seu desenvolvimento desde a préhistória, a dança começou a assumir um caráter ritualístico, porém com a dominação e poder cada vez maior da igreja, as manifestações corporais foram consideradas como pecado, e transferidas para ruas e praças, tomando características mais populares e relacionada com o cotidiano. (FARO, 1998) Faro descreve o crescimento urbano como um fator que contribuiu para a ruptura entre o religioso e o popular, assim, as danças folclóricas tomaram forma, cada vez mais ligadas a determinadas fases da vida dos povos

e a eventos cotidianos da vida humana, fases essas representadas pelo movimento expressivo que configurava seu viver em sociedade. Além da dança como representação do cotidiano, também surge a dança teatral no Império Romano quando saltimbancos e acrobatas apresentavam suas danças que mais se aproximavam de exibições, o que hoje seria o circo. (FRANCO, N.; FERREIRA, N.V.C.) Assumindo um caráter cívico, na Grécia a dança era acessível a grande parte da população promovendo a comunicação entre os homens e, também, elemento constituinte da formação educativa e do caráter. O século VXII é considerado o verdadeiro marco da existência da dança sob os referenciais que a concebemos hoje, devido à transição entre a Idade Medieval e a Era Moderna. Um aspecto apontado na dissertação de Franco e Ferreira (2016) com base no que dizem Arold Raskell e Faro, é que o balé é uma dança da Era moderna, entretanto a dança é pré-histórica. Ou seja, quando se constitui no imaginário social o balé como significado do que é dança, estamos considerando apenas um período da história. O que conhecemos hoje por dança clássica, surgiu em 1661 quando Luís XIV 17


fundou a Academia Nacional de Dança, hoje Escola de Balé e Ópera de Paris, quando duas principais escolas básicas das danças clássicas se formaram, a francesa, inspirada em movimentos realizados de forma constante e fluida e a italiana, cujas características que predominavam eram mais atléticas e vigorosas. (FRANCO, N.; FERREIRA, N.V.C.) Com a revolução Francesa, inaugurou-se o movimento romântico, que foi caracterizado por colocar a beleza e a fantasia frente aos problemas da realidade. Em 1827, Maria Taglioni inaugurou as sapatilhas de ponta, que colocou a bailarina em primeiro plano, como um ser sobrenatural, de leveza e pureza, e o bailarino apenas como seu suporte. A partir daí a música também começou a importar mais para a dança, sendo composta sob as exigências do coreógrafo. (FRANCO, N.; FERREIRA, N.V.C.) O balé romântico se tornou balé clássico nas mãos de coreógrafos russos como Marius Petipá, responsável pela montagem de grandes balés conhecidos até hoje. O balé era uma arte que pertencia ao povo russo, diferente do que acontecia na França e Itália que pertencia somente às classes mais abastadas. No balé russo foi incorporado passos e figurações vindas de técnicas soviéticas e acrobacias circenses. Com a dança clássica se atingiu praticamente o limite 18

das possibilidades dos bailarinos. Alguns pontos do processo de evolução da dança se refletem nos dias atuais, como a liberação dos trajes, a liberação dos temas, a popularização e o progresso técnico, social e cultural da humanidade no período que caracterizou a dança como arte. A partir desses aspectos, se originaram novas perspectivas da dança, consideradas como dança moderna e contemporânea. A dança moderna surge com Isadora Duncan (1877-1927), com uma dança livre que questionava os movimentos e vestimentas do balé clássico, e dançava descalça, com túnicas, com movimentos livres e inspirados no movimento da natureza. A partir de Duncan, outros precursores da dança moderna surgem, buscando articular a dança ao movimento, ao som e ao espaço no geral, e preocupar-se com a experimentação e percepção dos sentidos, como Martha Graham, em 1926, que desenvolveu uma técnica de dança baseada em movimentos de contração e libertação, com um carater mais dramático e elementos de ataque, baseados nos movimentos naturais do ser humano. Dessa maneira a dança moderna pode ser definida como uma técnica que buscava o diferente e o novo, fazendo oposição à dança clássica. Sobre a dança contemporânea, Faro (2004) define como tudo aquilo que se faz hoje dentro


da dança, não importando o estilo. Implica o hoje, mas não necessariamente o novo. Para Fahlbusch (1990) a dança de expressão contemporânea é a forma coreográfica que reflete ou manifesta o mundo e o tempo real no qual ela foi criada, representando fatos ou acontecimentos que marcaram esse período no âmbito social, político, religioso, entre outros. A dança de expressão moderna reflete, por meio da coreografia, intenções do coreógrafo nos planos psicológico, emocional e literário. A partir de 1930, a dança deixou de ser um privilégio de poucas nações, espalhandose principalmente, pelos países da américa, tornando possível que na atualidade, a dança tenha ganhado impulso. Essa imensa variedade de danças emergentes como o jazz, sapateado, rap, danças urbanas, se fundem aos estilos e técnicas já existentes, quebrando suas tradicionalidades e construindo novos sentidos para suas existências, reafirmando a dança como “um fenômeno que ultrapassa o simples ato de movimentar-se sob o ritmo de uma música. Na verdade, ao dançar representamos um processo expressivo de transformação e ressignificação da cultura corporal do movimento enquanto fenômeno artístico.” (FRANCO, N.; FERREIRA, N.V.C.)

“O homem é um microcosmo que sintetiza em si o macrocosmo, o universo. Nessa visão, as leis que regem a gênese e a evolução do universo são exatamente as mesmas leis que regem a existência humana. E todo esse sistema universal de leis não conhece, em sua manifestação, a permanência estática: tudo acontece na forma de uma perene dinâmica caracterizada pelo movimento. A vida, o mundo e o homem manifestam-se por meio do movimento. Dançar é mover-se com ritmo, melodia e harmonia.” (Luis Pellegrini, prefácio do livro A dança, de Klauss Vianna)

É possível compreender que a dança é uma expressão artística que mescla o corpo mental, o corpo físico e o espaço onde esse corpo vive e atua. Na era contemporânea, diversos bailarinos teóricos de dança desenvolveram técnicas que se fundamentam no comportamento do corpo em relação a suas vivências, aos movimentos naturais do ser humano, e nas relações individuais e coletivas do corpo com a sociedade e a vida ao seu redor. Traz-se então a seguir, as referências de Klauss Vianna e Pina Bausch, que apresentam algumas singularidades na forma de expressar a dança. Klauss Vianna (1928-1992), foi um bailarino coreógrafo e professor brasileiro, pioneiro no estudo do movimento e na conceituação de um 19


trabalho corporal capaz de exprimir o universo interior de dançarinos, atores e pessoas em busca de crescimento. Sua técnica ficou conhecida como um trabalho de consciência corporal e se apoia nas relações corpo-mente e corpo-ambiente. Seu trabalho surge na década de 60, em que se iniciava no país uma contraposição às técnicas mais tradicionais e formais da dança e buscava um aprofundamento no corpo e no movimento. Klauss prioriza em sua dança a sensibilização do corpo, a percepção dos estados corporais, com o interesse em entender as relações entre a mecânica do movimento e a expressão. (MILLER, J; NEVES, N.)

com que eles redescubram sua história e suas o corpo seja repleto de recordações, vivências, memórias, que resultarão na composição de memórias e experiências. Para uma composição cenas que serão a base da coreografia coletiva. coreográfica rica, é necessário possuir “Eu não investigo como as pessoas se experiências intensas de vida, de urbanidade, de movem, mas o que as move.” (Pina coletividade e também de autoconhecimento. Bausch) Ao mesmo tempo, percebe-se que a sociedade No primeiro momento, as cenas criadas contemporânea vem perdendo essa vivência de pelos bailarinos são respostas de suas experimentação, descoberta e se empobrecendo individualidades, expondo seus sentimentos de sentimentos, expressão e liberdade. mais profundos. Depois de apresentadas as Assim sendo, percebe-se a necessidade de respostas, a coreógrafa molda todas essas cenas projetar espaços públicos que retomam essa a partir da sua interferência. experiência urbana intensa, com protagonismo “Pina Bausch alimenta-se da do usuário, para que ele possa vivenciar, subjetividade de cada integrante experimentar e usufruir do espaço com do elenco, sua criação parte do que autonomia e liberdade, contribuindo como é próprio de cada sujeito, mas seu resistência ao processo de espetacularização e “Não é só dançar, é preciso toda uma relação com o mundo à nossa talento consiste em captar o que há fomentando à inspiração artística. volta. Não adianta se isolar em uma sala de aula, isso leva a um completo distanciamento da vida, de tudo que acontece no mundo. O ser humano que existe no bailarino precisa estar atento e receber tudo lá fora, nas ruas.” (Klauss Vianna)

Pina Bausch (1940-2009) foi uma coreógrafa, dançarina e professora alemã, que desenvolveu sua técnica de dança inspirada na Dança Expressionista, que buscava retratar estados emocionais primitivos do ser humano. Pina inova no processo de criação coreográfico utilizando como principal recurso as perguntas e propostas feitas aos bailarinos, fazendo 20

de universal em cada manifestação singular, daí sua capacidade de falar ao humano, de se fazer compreender por diferentes culturas.” (CAMPOS, M.R.B.)

Outros artifícios utilizados nas composições coreográficas de Pina são a recordação e a repetição, pois ela defende que a dança, diferente de outras artes, ocorre no instante da interpretação, e a cada nova repetição, alguma coisa já se modificou, porque o instante não é mais o mesmo. Ao analisar toda pesquisa realizada, podese concluir que para a dança, é importante que


Justificativa Após a observação in loco da região delimitada para desenvolvimento deste projeto, constatou-se a falta de integração entre as distintas classes sociais que habitam esse local, e a inexistência de um equipamento que resgatasse a vivência urbana e possibilitasse aos habitantes se expressarem e interagirem entre si. Para além da compreensão das problemáticas urbanas da área, cuja proposta projetual seria capaz de contrapor, é sabido que a experiência e vivência dentro da dança pode desenvolver habilidades individuais consistentes com a prática crítica da cidade. Durante a pesquisa sobre equipamentos culturais e desenvolvimento da arte em nível nacional, verificou-se a pesquisa realizada pelo IBGE, em 2014 do perfil dos estados e dos municípios brasileiros, referentes à cultura. Dentre os dados apontados na pesquisa, destaca-se a Tabela 1, que aponta o percentual de municípios com equipamentos culturais, com indicação da variação percentual entre 2006 e 2014.

´ PERCENTUAL DE MUNICIPIOS COM TIPO Biblioteca pública

EQUIPAMENTOS CULTURAIS E MEIOS DE COMUNICAÇÃO (%) 2006 2014

VARIAÇÃO 2006/2014 (%)

89,1

97,1

9

Estádio ou ginásio

82,4

91,5

11

Clube ou Associação recreativa

72,6

65,6

-9

Unidade de ensino superior

39,8

39,9

0,3

Centro Cultural

24,8

37

49,2

Espaço para circo

-

34,8

-

Livraria

30

27,4

-8,7

Museu

21,9

27,2

24,2

Teatro ou sala de espetáculos

21,2

23,4

10,4

-

22,2

-

Centro de artesanato Ponto de leitura

-

15,1

-

8,7

10,4

19,5

Shopping center

7

6,7

-4,3

Concha Acústica

-

6,4

-

Ponto de memória

-

4,9

-

Galeria de Arte

-

4,7

-

Circo Fixo

-

0,7

-

Cinema

Tabela 1: Percentual de municípios com equipamentos culturais Fonte: IBGE - Perfil dos Estados e Municípios Brasileiros – Cultura, 2014

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De acordo com a tabela 1, os equipamentos culturais mais encontrados são as bibliotecas, estádios e clubes, sendo que os demais equipamentos se encontram em menos de 50% dos municípios. Entretanto, quase todos eles tiveram um aumento significativo de 2006 para 2014, demonstrando interesse dos municípios em implantar edificações culturais. Também foi constatado na pesquisa, que desde 2005, o IBGE acrescentou as atividades artísticas como um novo tema do perfil dos municípios e estados brasileiros referentes à cultura, afirmando em seu texto que os grupos artísticos existentes nos municípios brasileiros mostram as potencialidades de fluxos culturais prevalecentes nas cidades do país. Na tabela 2, pode-se observar o percentual de municípios com grupos artísticos e sua variação de percentual de 2006 para 2014. Pode-se observar de acordo com esses resultados, que os grupos de artesanato são os mais presentes nos municípios brasileiros, seguidos pelas manifestações tradicionais populares, dança, banda, capoeira, grupos musicais e corais, todos presentes em mais de 50% dos municípios. Percebe-se também o grande aumento de grupos artísticos de 2006 para 2014, com destaque para os grupos de orquestra, cineclube e circo. 22

TIPO DE ATIVIDADE DESENVOLVIDA Artesanato

´ PERCENTUAL DE MUNICIPIOS COM GRUPOS ARTÍSTICOS (%) 2006 2014

VARIAÇÃO 2006/2014 (%)

64,3

78,6

22,2

Manifestação tradicional popular

47,2

71,9

52,3

Dança

56,1

68,5

22,1

Banda

53,2

68,4

28,6

Capoeira

48,8

61,7

26,4

Grupo musical

47,2

54,6

15,7

Coral

44,9

50,4

12,2

Bloco carnavalesco

34,2

46,9

37,1

Teatro

39,9

43,4

8,8

Orquestra

11,5

22,1

92,2

artes plasticas e visuais

22,2

19,6

-11,7

Escola de samba

11,4

14,6

28,1

Associação literária

9,4

13,8

46,8

Cineclube

4,2

13,6

223,8

Gastronomia

-

13,6

-

Arte digital

-

7,2

-

Moda

-

6,8

-

Circo

2,9

6,8

134,5

-

5,1

-

Design

Tabela 2: Percentual de municípios com grupos artísticos, com indicação de variação percentual, segundo o tipo de atividade desenvolvida – Brasil – 2006/2014 Fonte: IBGE - Perfil dos Estados e Municípios Brasileiros – Cultura, 2014.


Ao filtrar a busca para o município de Campinas, foi encontrado o diagnóstico do Plano Diretor do município, realizado em 2006, no qual informou-se que o Censo cultural recebeu 3800 cadastros de grupos artísticos, e conforme demonstrado no gráfico 1, a predominância é dos grupos musicais, seguidos dos grupos de teatro e dança, reforçando a histórica importância que esses três gêneros artísticos assumem na cidade de Campinas, desde o século XIX. (Diagnóstico sociodemográfico de Campinas – Plano Diretor de 2006) Também foi levantado no diagnóstico feito Gráfico 1: Corporações e grupos artísticos de Campinas pela prefeitura de Campinas, a distribuição Fonte: Diagnóstico sociodemográfico de Campinas – Plano Diretor de 2006 ocupacional dos profissionais envolvidos com a produção cultural do município. Conforme o gráfico 2, é possível perceber que do total de profissionais cadastrados, a maior parte se ocupa no artesanato, seguido da música, arteeducação e artes plásticas. A análise dessas informações demonstra que o município de Campinas possui potencial para o desenvolvimento da cultura e da arte, entretanto, necessita de mais incentivo e mais equipamentos para que esse potencial seja melhor desenvolvido e contribua para a história cultural e artística que o município possui. Gráfico 2: Pessoas ocupadas por categoria de ocupação Fonte: Diagnóstico sociodemográfico de Campinas – Plano Diretor de 2006

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Campinas pode ser considerada uma cidade privilegiada pela arte e pela cultura, por ser a cidade natal do mais importante compositor brasileiro de ópera, Antônio Carlos Gomes, que marcou o século XIX com suas composições, e atualmente nomeia diversos edifícios culturais da cidade, em forma de homenagem. Também no meio musical, a Orquestra Sinfônica Municipal de Campinas foi a primeira instituição do gênero a surgir em uma cidade brasileira fora das capitais, em 1929, e permanece ativa até os dias atuais. O município também conta com a Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) que, desde 1970, possui o Instituto de Artes, criado inicialmente como Escola de Música e Dança, e hoje abrange diversas modalidades do meio artístico, como artes cênicas, artes visuais e comunicação social, formando diversos artistas e professores para Campinas e região. Figura 1: Mapa de equipamentos culturais na macrozona 4 de Campinas A região de Campinas estudada neste trabalho Fonte: Elaboração própria está inserida na Macrozona 4, na qual existe uma LEGENDA: 11. Museu da Cidade; 12. Museu de Arte Contemporânea de Campinas José concentração de infraestrutura cultural, mas 1. Museu de ciências Pancetti; 2. Auditório Beethoven ainda assim, deficiente. Por abranger a região 13. Museu da Imagem e do Som; 3. Estação Cultura; central da cidade, é o local para onde a população 4. Teatro Municipal José de Castro Mendes; 14. Biblioteca Infantil Monteiro Lobato; 15. Museu do Café (dentro do Lago do Café); 5. Museu de História Natural se dirige em busca de fruir os bens culturais. 16. Biblioteca Pública Municipal Joaquim de Castro Tibiriçá; Conforme mapeados abaixo, diversos 6. Casa dos Animais Interessantes 17. Casa de Cultura Fazenda Roseira; 7. Aquário Municipal equipamentos estão implantados na região, 8. Teatro Infantil Carlos Maia (Carlito Maia) 18. Casa de Cultura Tainã. entretanto, nenhum deles é dirigido para a dança 9. Centro de Convivência Cultural de Campinas Carlos Gomes; e expressão artística. 10. Biblioteca Pública Municipal Professor Ernesto Manoel Zink;

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Área de intervenção


Por fim, ao constatar as informações socioeconômicas da região estudada, verificouse no CENSO 2010 do município de Campinas o rendimento nominal mensal dos habitantes das áreas envolvidas, classificadas em Unidades Territoriais Básicas (UTBs). Conforme apresentam os gráficos abaixo, a UTB 26 possui em sua maioria, uma população com o rendimento médio de 1 a 2 salários mínimos. Já as UTBs 25 e 27 apresentam rendimentos maiores, entre 3 a 5 e 5 a 10 salários mínimos, mostrando uma diferença significativa entre o perfil econômico dessas UTBs, e reforça o distanciamento social que ocorre entre esses bairros vizinhos. Dessa forma, se faz mais presente o interesse em projetar um equipamento que influencie a relação entre essas áreas.

UTB 25 3500 3000

3265

2500 2000

1916

1500

1525

1000 500 0

71

1280 897

678

488

553

442

UTB 26 7000 6000

6204

5000

5059

4000 3000 2000 1000 0

Figura 2: Localização das UTBs da região estudada Fonte: Prefeitura Municipal de Campinas, com alterações autorais

2380

1923

1728

1281

224

274

UTB 27 4500 4000 3995

3500 3000 2500

1000 0

2686

1933

1500 500

2582

2423

2000

1134 52

604

637

267

Gráficos 3,4 e 5: População residente da UTB 25 por faixas de rendimento mensal em salários mínimos

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Objetivos Gerais • Projetar um núcleo de dança experimental com a intenção de possibilitar ao cidadão a experimentação do espaço público. • Incentivar a expressão artística e corporal, a liberdade, a criatividade e promover a interação social. • Fomentar a cultura local e proporcionar um novo atrativo artístico para Campinas e região.

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Objetivos Específicos • Criar um ponto de concentração de pessoas de distintos níveis sociais; • Consolidar uma ligação entre os bairros através do ribeirão Anhumas; • Oferecer um espaço público de convivência, com ambientes indeterminados, dando autonomia ao usuário para utilizar a área de forma livre; • Desenvolver um contato direto entre os espaços internos e externos que respeite as condicionantes ambientais do terreno e seu entorno; • Projetar um edifício nas condições adequadas de conforto, para que a prática artística seja melhor desenvolvida e aproveitada no espaço;

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02. REFERÊNCIAS PROJETUAIS


PRAÇA DAS ARTES LOCAL: São Paulo – Brasil ARQUITETOS: Brasil Arquitetura ANO DO PROJETO: 2006 ANO DA EXECUÇÃO: 2012 INTERESSE REFERÊNCIAL: Programa, conceito e implantação.

Figura 03: Implantação Fonte: archdaily

O projeto da Praça das Artes ganha forma a partir da singularidade do terreno no qual ele está inserido, proveniente de uma série de lotes que se interligam no miolo da quadra, voltados para três frentes de rua. O projeto responde à demanda de um programa de usos ligados às artes musicais e do corpo, ao mesmo tempo que responde de maneira a transformar a situação física do local preexistente, que possui uma vida intensa e uma vizinhança presente. Por ocalizar-se no centro da cidade, o local possui um entorno repleto de edifícios com alto gabarito de altura, mas por outro lado, possui

uma situação privilegiada de humanidade ao redor, cheio de diversidade, vitalidade, mistura de classes sociais e usos. Cheio de urbanidade. O programa da praça das artes é voltado para o estudo e práticas de música e dança, porém com um caráter público de convivência que envolve todo o conjunto. Além das escolas de dança e música, também faz parte do conjunto, um centro de documentação, uma discoteca, galeria de exposições, áreas administrativas, áreas de convivência, restaurantes, cafés, e dois níveis de estacionamento no subsolo.

Figura 04: Fachada Avenida São João Fonte: archdaily alterada pela autora

Figura 05: Fachada Rua Formosa Fonte: archdaily alterada pela autora

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Figura 06: Planta nivel 1 Fonte: archdaily alterada pela autora

Figura 08: Corte Longitudinal Fonte: archdaily alterada pela autora

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Figura 07: Setorização Fonte: archdaily alterada pela autora


COMPLEXO CULTURAL LUZ LOCAL: São Paulo – Brasil ARQUITETOS: Herzorg & De Meuron ANO DO PROJETO: 2009 NÃO EXECUTADO INTERESSE REFERÊNCIAL: Programa, localização e conceito Figura 09: Implantação Fonte: Herzorg&DeMeuron alterada pela autora

O projeto, não construído, teve como objetivo atuar como complemento ao distrito cultural de São Paulo, se unindo aos demais edifícios culturais e institucionais através de um cinturão verde estabelecendo um novo destino cultural na área central de São Paulo. O projeto também busca regenerar o bairro da Luz, uma das áreas mais desfavorecidas da cidade. Combinando assim, a educação, cultura, artes e eventos para aprimorar a vizinhança do local. O complexo foi projetado para abrigar a Companhia de Dança, a Escola de Música Tom Jobim, Teatro para dança, ópera e musicais, além de espaços públicos livres. O conceito do projeto é propor um destino cultural aberto e dinâmico, como um centro público com diversas atividades

Figura 10: Espaços Internos Fonte: Herzorg&DeMeuron, alterada pela autora

ocorrendo ao mesmo tempo, com alta acessibilidade e visibilidade que incentivam a interação entre diferentes públicos. A forma se dá pelas lâminas horizontais entrelaçadas em diferentes níveis, atuando como ruas da cidade e permitindo trocas entre os espaços. As lâminas formam uma malha de cheios e vazios onde todos os espaços têm contato direto com luz e vegetação. A entrada principal é convidativa ao pedestre, e seus espaços internos atuam como local de entretenimento ao ar livre, onde através do Figura 11: Espaços Livres paisagismo de vegetação tropical é formado Fonte: Herzorg&DeMeuron alterada pela autora um microclima que se integra aos parques e áreas verdes ao redor do edifício. 31


Figura 12: Planta Nivel 1 Fonte: ArcoWeb

Teatros Áreas Públicas Cia. de dança Escola de música Apoio Figura 14: Setorização Fonte: ArcoWeb alterada pela autora

Figura 13: Planta Nivel 2 Fonte: ArcoWeb

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CIDADE DAS ARTES LOCAL: Rio de Janeiro– Brasil ARQUITETO: Christian de Portzamparc ANO DO PROJETO: 2002 ANO EXECUÇÃO: 2013 INTERESSE REFERÊNCIAL: programa, volumetria, estrutura

Figura 15: Localização Fonte: http://www.openstreetmap.com

Figura 17: Area externa Cidade das Artes Fonte: http://www.christiandeportzamparc.com Figura 16: Fachada Cidade das Artes Fonte: http://www.christiandeportzamparc.com

O projeto está localizado na Barra da Tijuca, no cruzamento entre duas rodovias importantes da cidade. A intenção do projeto era implantar um edifício símbolo na cidade, que fosse público e ao mesmo tempo comercial. O prédio se configura como uma pequena cidade elevada em um terraço que flutua sob um parque público. Este terraço, de uso público é um ponto de encontro que dá acesso a todas as instalações do edifício e possui uma vista para as paisagens do Rio, como o

mar, os lagos e as montanhas. O programa da cidade das artes possui uma sala de concertos com infraestrutura para operas e teatros, sala de música, salas de cinema, dança, salas de ensaio, locais de exposições, restaurante e uma biblioteca de mídia. O arquiteto francês buscou inspiração na arquitetura moderna carioca para conceber a volumetria do projeto, usando do concreto com formas orgânicas, grandes vãos, térreo livre, e jogo de cheios e vazios.

Figura 18: Interior Cidade das Artes Fonte: http://www.christiandeportzamparc.com

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Planta Nivel4 Figura 20: Implantação Fonte: http://www.christiandeportzamparc.com

Figura 21: Corte esquemático Fonte: http://www.christiandeportzamparc.com Planta Nivel 3

Planta Nivel 1 Figura 19: Plantas pavimentos Fonte: http://www.christiandeportzamparc.com

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Figura 22: Sala de dança Fonte: http://www.christiandeportzamparc.com


CENTRO CULTURAL SÃO PAULO LOCAL: São Paulo – Brasil ARQUITETOS: Eurico Prado Lopes e Luiz Telles ANO DO PROJETO: 1979 ANO EXECUÇÃO: 1982 INTERESSE REFERÊNCIAL: programa, relação com o entorno, O Centro Cultural São Paulo, está localizado ao lado da estação de metrô Vergueiro, entre a Rua Vergueiro e 23 de maio. Dessa forma, a concepção do projeto foi baseada no contexto urbano que o terreno está inserido, com muita movimentação e fluxo de pessoas. O edificio estabelece uma conexão entre diferentes níveis das ruas do seu entorno, e atua como uma continuação da cidade, convidando o pedestre a entrar, e repleta de espaços para transitação e permanência. O CCSP é um projeto urbano cultural bem-sucedido, porque é um espaço democrático, livre, e recebe diariamente pessoas de idades, classes sociais e interesses diversos. O interior do edificio é bem amplo, buscando sempre a relação com o externo, através de esquadrias grandes e jardins internos. As rampas e caminhos são pontos de destaque do projeto.

Figura 23: Localização do CCSP Fonte: Google Maps

Figura 25: Rampas e passarelas do volume central Fonte: https://spcity.com.br

Figura 26: Jardim da cobertura muito utilizado Fonte: http://misturaurbana.com

Figura 24: Distribuição do programa Fonte: Croqui elaboração própria

Figuras 27 e 28: CCSP em uso | Fonte: http://www.rizomas.

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03. SÍTIO


LOCALIZAÇÃO O município de Campinas localiza-se na região centro-leste do estado de São Paulo, a 100km de distância da capital, e é a maior cidade do interior de São Paulo. O município é o 3º mais populoso do Estado, com 1.080.113 habitantes e um território de 794,571 km². A cidade apresenta uma localização estratégica, no cruzamento entre cinco das principais rodovias do país, e esse é um dos fatores mais importantes que tornaram o município tão importante e com uma forte participação econômica e científica. Campinas possui um grande desenvolvimento econômico, classificada como a 11º cidade com o maior salário médio da população e um PIB de R$48.449,65. Além disso, a cidade é um polo de desenvolvimento tecnológico e possui campus de universidades importantes do país.

_______________________________________ Fonte: IBGE e Prefeitura Municipal de Campinas

1.080.113 hab. 794,571 km² PIB R$48.449,65

Figura 29: Localização Campinas Fonte: Adaptação autoral

A região em que hoje se encontra a cidade de Campinas, conta com pouco mais de 260 anos de história. Esta surgiu na primeira metade do século XVIII como um bairro rural da Vila de Jundiaí, que iniciou como pouso de tropeiros, e por sua vez impulsionou o desenvolvimento de várias atividades de abastecimento e promovendo uma maior concentração populacional. No mesmo período, fazendeiros se instalaram ali nas lavouras de cana e engenhos de açúcar. Então o bairro foi transformado em Freguesia de Nossa Senhora da Conceição das Campinas do Mato Grosso (1774); depois, em Vila de São Carlos (1797), e em Cidade de Campinas (1842); período no qual as plantações de café já estavam substituindo a cana, fomentando um novo ciclo de desenvolvimento da cidade. A partir da economia cafeeira, Campinas passou a concentrar uma grande quantidade de habitantes e já passava por um período de modernização, experimentando novos meios de transporte, de produção e de vida, que permanecem vivos até hoje na memória da cidade. Com a crise cafeeira na década de 1930, a cidade passou a assumir uma economia mais voltada para a indústria e serviços, que em conjunto com o plano urbanístico de Prestes Maia em 1938, propôs ações que impulsionaram novos talentos, como o polo tecnológico do interior de São Paulo. Assim a cidade começou a concentrar uma população significativa e receber diversos imigrantes, e como consequência desse aumento da população, o crescimento dos bairros nas proximidades das indústrias e das grandes rodovias, e se tornou a cidade mais importante do interior paulista, formando a região metropolitana de Campinas que envolve mais 19 municípios do seu entorno.

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MACROZONEAMENTO A partir do Plano Diretor de 2016, o município de Campinas é dividido em 3 Macrozonas, sendo elas: Macrozona Agro-Ambiental; Macrozona de Estruturação Urbana e Macrozona Macrometropolitana. A área analisada se encontra na Macrozona de Estruturação Urbana, definida pelo Plano Diretor como uma zona que visa incentivar o uso misto e fomentar centralidades ligadas ao transporte coletivo, abrindo a possibilidade de um uso e ocupação do solo mais intenso. Essa macrozona engloba diversos bairros distintos da cidade que envolvem desde o centro tradicional, passando pelo centro expandido e chegando aos limites das rodovias principais do município, sendo assim, as

principais propostas do Plano Diretor para essa região são as intervenções do sistema viário para solucionar os problemas de descontinuidade dos bairros. Outras propostas do Plano Diretor de 2016 são valorizar as áreas públicas; incentivar o uso misto compatível com os usos residenciais no interior dos bairros; regularizar as habitações de interesse social de núcleos informais e promover novas habitações de interesse social; requalificar a área central nos âmbitos urbanístico, social e ambiental. Dessa forma, se pode analisar que a região possui grandes potencialidades, entretanto ainda carece de ações para melhor estruturar a conectividade da zona como um todo.

LEGENDA: Macrozona Macrometropolitana Macrozona de Estruturação Urbana Área de Recorte Área de Intervenção Figura 30: Macrozoneamento de Campinas - 2018 Fonte: SEPLURB, com alterações autorais

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ÁREA DE RECORTE

A área escolhida para análise e intervenção é situada na zona central/leste do município e compreende a região do centro expandido seguindo em sentido norte, até os limites da Rodovia Dom Pedro I. A delimitação da área abrange os bairros do Cambuí; Taquaral e Novo Taquaral; Vila Nogueira; Jardim Santana; Parque Anhumas; Jardim Nilópolis e o Núcleo Residencial Gênesis, margeados pelo Ribeirão Anhumas, o qual configura uma microbacia hidrográfica e é um dos afluentes da Bacia do Rio Atibaia, que corta Campinas no sentido norte/ sul. Nas suas margens existem diversas áreas ocupadas informalmente com habitações precárias e em estado de risco, ao mesmo tempo em que também possui grandes avenidas paralelas ao ribeirão. No ano de 2005 iniciou-se um projeto de revitalização do Ribeirão Anhumas, com a readequação das famílias que viviam nas zonas de risco da margem do rio, juntamente com a criação de uma ciclovia e alguns equipamentos públicos lineares ao ribeirão. Entretanto, atualmente o ribeirão ainda se encontra degradado e com moradias precárias em suas margens. Na parte norte da área, próximo ao ribeirão, encontra-se a Estação Anhumas, de onde partem os trens a vapor em passeios turísticos até Jaguariúna, pela antiga e conservada linha férrea.

No seu entorno, existem grandes centros comerciais conectados à Rodovia Dom Pedro I, além de diversos loteamentos residenciais de alto padrão, razões pela qual a área possui infraestrutura que varia entre a extremidade da rodovia com a região do centro expandido, formado pelos bairros do Cambuí e Taquaral, conhecidos como regiões nobres da cidade, por possuir diversos serviços,

bares e restaurantes e o Parque do Taquaral que pode ser considerado como o principal atrativo de lazer da cidade. Entretanto, o que caracteriza a complexidade da área escolhida é que, se por um lado, existem pontos mais favorecidos e com infraestrutura, por outro, temos bairros residenciais mais precários, sem integração e conexão com os demais.

LEGENDA:

1. Shopping Dom Pedro 2. Estação Anhumas - Maria Fumaça 3. Faculdade Anhanguera 4. Shopping Galeria 5. Parque Taquaral 6. Praça Arautos da Paz Área de Intervenção Via expressa intermunicipal Via Arterial municipal Figura 31: Área de recorte Fonte: SEPLURB, com alterações autorais.

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DIAGNÓSTICO Diante dos dados sobre a região definida, é possível chegar a algumas conclusões. O ribeirão Anhumas é um dos principais fatores a ser considerado na intervenção, pois tem potencial para ser utilizado como eixo conector entre toda a área delimitada, em conjunto com seu tratamento. A principal característica da região estudada é a heterogeneidade. Pelo desenho da malha urbana é possível perceber que cada bairro surgiu independente dos demais, sem planejamento de expansão, resultando em bairros com traçados e classes sociais distintas. Mais ao norte, estão localizados os núcleos residenciais de interesse social, e diversas moradias precárias e informais, principalmente às margens do ribeirão. Também há uma concentração de condomínios fechados de alto padrão, localizados mais ao centro, mesclados entre bairros residenciais de classe média e baixa. Nessa região se localiza a lagoa do Taquaral, que em conjunto com a Praça Arautos da Paz, configuram uma área de lazer consolidada, com infraestrutura e bem movimentada. Entretanto o público alvo dessas áreas de lazer são de classe mais alta, que convivem nos bairros mais ao sul da região estudada, que fazem parte do centro expandido e possuem serviços, comércio e infraestrutura. Diante desse conflito, é visível a necessidade de criar meios de conectar essa área como um todo, por meio de uma edificação em um terreno estratégico, que seja uma referência da conexão entre os bairros, aliada à utilização do ribeirão Anhumas como um eixo estruturador.

LEGENDA:

Condomínios Fechados - alto padrão Edificações padrão alto/médio Edificações padrão médio/baixo Edificações precárias / informais Áreas de lazer consolidadas Área de Intervenção

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Figura 32: Diagnóstico Fonte: SEPLURB, alterado pela autora.


ZONEAMENTO

Figura 33: Zoneamento Fonte: SEPLURB Campinas, com alterações pela autora

O entorno do terreno possui em sua maioria um zoneamento que permite residências com serviços domiciliares (Z03); com trechos onde é permitido serviços profissionais de atendimento (Z03CSE), e as zonas destinadas ao comércio e serviço mais variados (Z11). A margem do ribeirão Anhumas é definida como Sem Zoneamento Determinado (SZD), e por fim, além das áreas públicas também existe a Z18, na qual o terreno está inserido cujos usos e ocupações são definidos por meio de estudos específicos. LEGENDA: Z03

SZD

Z03CSE

Área pública

Z11

Z18

SISTEMA VIÁRIO

O terreno localiza-se em um quarteirão entre vias secundárias, de mão dupla e possui proximidade com vias principais. No seu entorno existem várias paradas de ônibus. Em ambos os lados do terreno existem ciclovias e calçadas de caminhada, entretanto esses dois trechos não são conectados.

Figura 34: Sistema Viário e mobilidade Fonte: SEPLURB Campinas, com alterações pela autora

LEGENDA: Vias principais Vias Secundárias

Ciclovia/Ciclofaixa

Sentido das vias Parada de ônibus

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USO E OCUPAÇÃO

Figura 35: Uso e Ocupação do solo Fonte: SEPLURB Campinas, com alterações pela autora

A predominância de usos do entorno é residencial, com serviços e comércios de bairro em alguns pontos. Existe apenas um edifício educativo, e usos institucionais como secretarias municipais e os equipamentos da Praça Arautos da Paz. A proposta é trazer um novo tipo de uso nessa área atraindo mais movimento e segurança, atendendo às diretrizes do Plano Diretor. LEGENDA: Residência

Educacional

Comércio

Institucional

Serviço

Área Verde

Religioso

Terreno Escolhido

GABARITO DE ALTURAS

Figura 36: Gabarito de altura das edificações Fonte: SEPLURB Campinas, com alterações pela autora

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O local possui um gabarito de baixa altura, com edifícios de um ou dois pavimentos, sendo assim, as barreiras visuais são somente derivadas da topografia, podendo então aproveitar alguns eixos visuais no projeto e até mesmo propor um edifício mais alto, tornando-se um marco local, porém com cuidado para não quebrar a uniformidade de bairro. LEGENDA: 1 pavimento

2 pavimentos 3/4 pavimentos


CONDIÇÕES AMBIENTAIS

O terreno possui uma topografia considerável, mas de caída uniforme, em declive no sentido norte ao sul, possibilitando estratégias projetuais para solucionar esse desnível. Outro fator importante a ser considerado é um estreito córrego atualmente canalizado afluente do ribeirão Anhumas que vai em direção ao Lago do Taquaral.

Figura 37: Condicionantes Ambientais Fonte: SEPLURB Campinas, com alterações pela autora

LEGENDA:

Ventos predominantes Solstício Inverno Equinócios Solstício Verão

Curvas de Nível a cada 5m Ribeirão Anhumas Córrego Canalizado Áreas Verdes Vegetação densa

FOTOS DO LOCAL Durante a visita in loco foram fotografados alguns trechos da área de intervenção, apresentados a seguir, em que pode-se observar o Ribeirão Anhumas, o córrego subterraneo, a topografia do terreno, o entorno imediato e a vegetação existente.

Figura 38: Mapa dos pontos fotografados Fonte: Autoria própria.

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FOTOS DO LOCAL 01

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Figura 39: Autoria própria

Figura 40: Autoria própria

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Figura 42: Autoria própria

Figura 43: Autoria própria

Figura 44: Autoria própria

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Figura 41: Autoria própria


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Figura 45 Autoria própria

Figura 46: Autoria própria

Figura 47: Autoria própria

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Figura 48: Autoria própria

Figura 49: Autoria própria

Figura 50: Autoria própria

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04. PROJETO


PROPOSTA URBANA

A partir da análise da região na qual o terreno está inserido e de seu entorno imediato, observa-se a necessidade de um projeto urbano que atue como estruturador e complementar à proposta arquitetônica principal deste trabalho. A área de estudo já possui um núcleo de lazer e esportes devido ao Parque Taquaral e à Praça Arautos da Paz, entretanto esses dois lugares não são conectados ao restante da região, sendo necessários outros pontos de lazer ao longo da área. O Núcleo de dança experimental será implantado no terreno ao lado da Praça Arautos da Paz (indicado no mapa), e dessa forma cria-se uma continuidade em direção ao Ribeirão Anhumas. A proposta visa conectar os locais de lazer existentes e estruturar a partir dele um parque linear ao longo do rio até a Rodovia Dom Pedro I. Sendo assim, formado um complexo de lazer, conectando esses pontos e criando uma identidade de conjunto, bem como acolhendo todo seu entorno de maneira uniforme. LEGENDA: 1. Parque Taquaral 2. Praça Arautos da Paz 3. Núcleo de dança experimental 4. Parque Linear Anhumas Ciclovia existente Ciclovia proposta Proposta de parque

Figura 51: Plano de diretrizes urbanas Fonte: produção autoral

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DIRETRIZES ARQUITETÔNICAS Apesar de o terreno estar situado em um tipo de zoneamento no qual não existem restrições específicas de uso e ocupação e, por se tratar da Z18, onde os usos e ocupações deste zoneamento são definidos através de estudos específicos, existe uma restrição projetual que tem de ser levada em conta: um afluente do Ribeirão Anhumas corta longitudinalmente o terreno, atualmente por meio de uma galeria canalizada com grades de respiro. Dessa forma, há de se respeitar a margem de APP (área de preservação permanente) de 30 metros de cada lado do afluente. Como o projeto tem por objetivo, além de um espaço para prática artística, também funcionar como um local de convívio, experimentação, lazer e conexão do bairro, a faixa de preservação será utilizada como um parque com arborização, ciclovia e espaços livres e permeáveis. A partir de então, a implantação do projeto ganhou forma com um parque acompanhando o sentido do córrego que será trazido de volta à superfície, conservando os maciços verdes existentes e propondo novas vegetações. A edificação será então implantada na faixa cujo espaço não pertence à APP e sua forma foi pensada para acompanhar a forma do terreno e sua topografia. 48

CONSOLIDAR A CONEXÃO ENTRE BAIRROS

PRESERVAR A APP, REABRIR O CÓRREGO E PROPOR UM PARQUE

CONECTAR OS DOIS NÍVEIS DO TERRENO

Figura 52: Croquis de concepção do projeto Fonte: Autoria própria


CONCEITO O terreno escolhido é um local de transição entre bairros, desta forma o conceito escolhido foi o PERCURSO. A intenção é de que até mesmo as pessoas que passam pelo local, apenas como trajeto, também sejam transformadas e instigadas a pensar o corpo na cidade, assim como os que usufruirão da edificação mais intensamente, como lugar de permanência. Figura 53: Infográfico do conceito Fonte: Autoria própria Volume Superior Pavimentos 1 e 2 ACESSO RUA Volume Pavimento térreo

ACESSO PARQUE

O PERCURSO

→ TRANSFORMA.

Volume Pavimento Inferior

Parque Córrego

Figura 54: Volumetria Explodida Fonte: Autoria própria

O PEDESTRE O PERCURSO FAZ VIVENCIAR, POSSUI DIVERSAS POSSIBILIDADES DE → INSTIGA, FAZ PERCURSOS. PENSAR

A volumetria do projeto se configura a partir de duas grandes setorizações: A área do parque e a área edificada, sendo a edificada formada por 3 volumes principais: o inferior, com acesso ao parque; O térreo, com acesso à rua, e o volume dos pavimentos superiores, o qual possui apenas acesso interno. 49


PARTIDO ARQUITETÔNICO O partido arquitetônico originou de 3 condicionantes essenciais para o projeto: O parque; os caminhos; e a concentração de pessoas.

Abertura do córrego existente Parque de preservação da APP Preservação das árvores existentes

01. PARQUE A reabertura do córrego foi projetada redesenhando o traçado natural e criando bolsões para permitir maior capacidade de água e aproximar o córrego dos pedestres. A proposta do parque preserva as árvores existentes, e os caminhos e pontes foram previstos em locais para remover a menor quantidade de árvores possível. 50

Figura 55: Infográfico 1 do partido arquitetônico Fonte: Autoria própria


Rotas caminháveis Conexão transversal entre o desnível do terreno

Ciclovia

Figura 56: Infográfico 2 do partido arquitetônico Fonte: Autoria própria

02. CAMINHOS Seguindo o conceito do percurso, diversas rotas foram criadas. Rampas, escadas, pontes e ciclovias permitem a permeabilidade por todo o terreno, inclusive por meio da edificação, nos sentidos longitudinal e transversal. 51


Área para shows, apresentações Área para projeção Pontos de aglomerações de pessoas

03. PESSOAS Vários espaços amplos e livres foram projetados na intenção de criar espaços de encontro permanência e aglomeração de pessoas, tanto para situações do cotidiano, quanto para eventos específicos como shows, cinema ao ar livre, mostras, apresentações, manifestações, etc. 52

Figura 57: Infográfico 3 do partido arquitetônico Fonte: Autoria própria


SETORIZAÇÃO

Os pavimentos superiores são destinados a usos mais específicos: salas multiuso; salas de dança e ensaio; fisioterapia e academia; ateliê de costura e administração geral do núcleo de dança. Um trecho da cobertura é acessivel a um jardim e à área técnica.

Figura 58: Infográfico setorização Fonte: Autoria própria

Os pavimentos que possuem acesso direto pela rua ou pelo parque (inferior e térreo) são destinados às áreas de permanência, e aos locais que recebem um público maior, como o teatro e o restaurante. Também possui lanchonete, cafeteria, área de estudo e recepção. 53


PROGRAMA DE NECESSIDADES

ÁREA TERRENO:

27.580m²

ÁREA PARQUE :

13.847m²

ÁREA PRAÇAS SECAS:

9676,74m²

ÁREA CONSTRUÍDA:

14.676,03m²

Tabela 3: Programa de necessiades Fonte: Autoria própria

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PROJ ET O

FOLHA03/04


Cor t eBB Esc1: 500

Cor t eCC Esc1: 500

PROJ ET O

FOLHA04/04

Cor t eAA Esc1: 500



DETALHES ESCADAS As escadas externas do projeto seguem sempre a mesma identidade e são elementos que reforçam o conceito principal que é o percurso. Mesclado com os degraus, foram inseridos alguns pontos de permanencia, podendo ter vários usos, como representados nos croquis ao lado. Os traços das escadas seguem a mesma linguagem de linhas geométricas e angulares que o restante do projeto. Figura 59: Perspectiva escada Fonte: Autoria própria

Figura 60: Perspectiva escada Fonte: Autoria própria

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Figura 61: Perspectiva ponte Fonte: Autoria própria

PONTES E DECKS Para a passagem entre os dois lados do córrego, foram projetadas pontes, seguindo o traçado de linhas irregulares e geométricas conforme a linguagem de todo o projeto. Como apêndice dessas pontes, foi prevista uma área de permanência que atua como uma mini praça dentro do parque, com bancos entre as árvores, estabelecendo com o córrego um contato de contemplação. Além das pontes, também foram projetados alguns decks, rebaixados em relação ao nível dos caminhos principais, criando também um contato mais próximo com o córrego. Esses decks seguem a linguagem das escadas, também com traçados irregulares e mesclando os locais de passagem com os de permanência.

Figura 62: Perspectiva deck Fonte: Autoria própria

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Fachada Norte

04

03

01

02

03

Modelo 01 Ø Furo: 25,4mm Entre Centros: 64mm Área aberta: 14%

04 02

Fachada Sul

02 03

Modelo 02 Ø Furo: 6,35mm Entre Centros: 11mm Área aberta: 30% Modelo 03 Ø Furo: 3mm Entre Centros: 4mm Área aberta: 51%

04 03 04 Figura 63: Perspectivas chapas metálicas Fonte: Autoria própria

FECHAMENTOS Nas fachadas norte e sul, os pavimentos superiores recebem um fechamento feito com chapas metálicas perfuradas, formando uma segunda pele. O desenho do fechamento foi feito a partir de triangulações, setorizando áreas com mais visualização e áreas com mais privacidade. As chapas escolhidas possuem diferentes tamanhos de furos e áreas de aberturas distintas para que cada espaço interno tenha iluminação e privacidade necessárias.

02

Modelo 04 Ø Furo: 12mm Entre Centros: 14,5mm Área aberta: 62% Fonte: Catálogo chapas perfuradas Permetal

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SISTEMA ESTRUTURAL O projeto foi modulado a partir de uma malha de 10x10m, para facilitar o posicionamento das vigas e pilares.

LAJE AOVEOLAR VIGAS METÁLICAS DE TRAVAMENTO

O sistema estrutural é misto, de concreto e perfis metálicos. Todos os pilares são feitos em concreto armado e sustentam toda a edificação. Eles são posicionados de acordo com a modulação de 10m. Os pavimentos inferior e térreo, possuem lajes do tipo nervurada moldadas in loco, VIGAS VIERENDEEL suprimindo a necessidade de vigas. As paredes de fechamento destes pavimentos serão CAIXA ESTRUTURAL também de concreto armado. CIRCULAÇÃO As lajes dos pavimentos 1 e 2 serão do tipo VERTICAL aoveolar pré-moldadas, devido a sua facilidade de instalação e redução de seu peso. As vigas serão metálicas, estruturadas nas duas vigas vierendeel, que são as vigas principais deste LAJE NERVURADA volume. As paredes de fechamento destes pavimentos serão de drywall, devido a sua leveza e propriedades termoacústicas. Os paineis metálicos das fachadas serão fixados diretamente na viga vierendeel. 68

PAINÉL METALICO PERFURADO PILARES CONCRETO ARMADO

PAREDES CONCRETO ARMADO

Figura 64: Perspectiva explodida estrutural Fonte: Autoria própria


O principal desafio estrutural do projeto foi o vão de 50m que sustenta o volume do pavimento superior. A solução foi estruturar o volume superior por duas vigas vierendeel, travadas por vigas metálicas tranversais posicionadas a cada 10m

VIGA VIERENDEEL

VIGAS METÁLICAS DE TRAVAMENTO

VIGA VIERENDEEL VÃO 50m

PILARES CONCRETO

Figura 65: Detalhe estrutura metálica Fonte: Autoria própria

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MATERIAIS

Para as salas de dança, ensaio e salas multiuso, o piso escolhido foi o piso flutuante, que proporciona maior conforto e segurança para os dançarinos e usuários pois amortece os impactos, reduzindo o risco de lesões. A aplicação desse piso é feita com um estrado de madeira colocado sobre borrachas amortecedoras, e sobre esse estrado são fixadas chapas de madeira compensada. Por fim, é aplicado o linóleo, que é o acabamento mais indicado para salas de dança.

Figura 67: Detalhe Piso Flutuante Fonte: Qualita Engenharia

As paredes internas serão de drywall, devido a sua leveza e propriedade térmica e acústica mais vantajosa que a alvenaria tradicional. O gesso, por si só, já possui um isolamento acústico melhor que os blocos cerâmicos. Aliado à lã de rocha no espaço interior das placas de drywall, garante-se um isolamento acústico ideal para bloquear a passagem do som de uma sala para outra.

Figura 66: Corte Setorial Fonte: Autoria própria

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Figura 68: Detalhe Paredes Drywall Fonte: Speed Dry


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho oportunizou a união de duas grandes paixões: a arquitetura e a dança, e poder sentir intensamente as relações entre elas. Arquitetura ultrapassa o objetivo de apenas projetar abrigos e espaços para que todas as situações do cotidiano ocorram, não é apenas um cenário. Ela deve ser feita e pensada para as pessoas, por isso influencia diretamente no comportamento de seus usuários. Usuários estes que pensam, sentem, experimentam, vivem e precisam, cada vez mais, de espaços que possibilitem troca de experiências e sentimentos entre eles, numa sociedade que vem se tornando cada vez mais rasa, o que favorece a perda do protagonismo na cidade. Projetar espaços públicos pensando nas pessoas como protagonistas da cidade e fomentando sua criatividade, experiencias e sentimentos pode ajudar a integrar pessoas de diversos nichos sociais, bem como contrapor e combater os efeitos da espetacularização urbana.

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05. REFÊRENCIAS BIBLIOGRÁFICAS


LIVROS FAHLBUSCH, Hannelore. Dança: moderna-contemporanea. Rio de Janeiro: Sprint, 1990. FARO, Antonio Jose. Pequena história da dança. 4ª ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998. FOSTER, Hal. O complexo Arte-Arquitetura. 1ª ed. Ubu: 2017. FRANCO, Neil; FERREIRA, Nilce Vieira Campos. Evolução da Dança no Contexto Histórico: Aproximações Iniciais com o tema. In Repertório, Salvador, nº 26, p.266-272, 2016. VIANNA, Klauss. A dança / Klauss Vianna, em colaboração com Marco Antonio de Carvalho. – 6ª Ed. – São Paulo: Summus, 2005. DEBORD, Guy. A sociedade do espetáculo. eBookLibris © 2003 eBooksBrasil.com http://www.cisc.org.br/portal/biblioteca/socespetaculo.pdf

LEIS E DOCUMENTOS OFICIAIS

PREFEITURA MUNICIPAL DE CAMPINAS, P3B: Diagnóstico Comunitário: Atualização e adequação da regulamentação urbanística de Campinas, 2015. DIAGNÓSTICO SOCIODEMOGRÁFICO DE CAMPINAS http://www.campinas.sp.gov.br/governo/seplama/publicacoes/planodiretor2006/pdfinal/cap3.pdf PREMISSA E PRINCÍPIOS NORTEADORES DO PLANO DIRETOR ESTRATÉGICO http://www.campinas.sp.gov.br/arquivos/desenvolvimento-economico/cidades.pdf

AUDIVISUAIS

FILME: PINA, Wim Wenders, Filme musical/Documentário 1h 43m, 2012.

SITES

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PUBLICAÇÕES

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CAPA: Fotografia: Murilo Destro Bailarinos: Lara Sando e Eduardo Vinicius _____________________________________ Encadernação: L.A. cadernos



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