ADEP 20 anos
1999/2019
Introdução
A Associação de Divulgadores de Espiritismo de Portugal (ADEP) celebra em setembro de 2019 o seu 20.º aniversário. Embora a primeira reunião de trabalho tenha decorrido em julho de 1999, foi em setembro que tomou personalidade jurídica. Para recordar essa data, fez-se uma publicação sucinta que desse ideia, nas suas linhas principais, do surgimento e da atividade do projeto até hoje. Como o tempo corre célere, optou-se pelo sistema de pergunta-resposta com um dos fundadores. Dado o interesse geral das ideias espíritas, na sua componente de esclarecimento sobre as leis da natureza que regem a evolução do ser espiritual que somos, a sua divulgação torna-se necessária e deve ser feita com qualidade de conteúdos e de formato. Esse é o desafio que nos é transversal desde há mais de duas décadas. ADEP
Braga, 28 de julho de 2019
Como surgiu a ADEP?
Nada mais. A ADEP veio depois a adquirir personalidade juJ. Gomes – Para responder a essa pergunta vou rídica em setembro de 1999, com a ajuda imporrecorrer à minha memória e a alguns ficheiros tante de Isaías Pinho de Sousa, num notário em impressos para precisar as datas que forem Santa Maria da Feira. mais significativas. Assim, é certo que a Associação de Divulgadores de Espiritismo de Portugal (ADEP) teve a sua Antes dessa reunião de julho de primeira reunião de trabalho na mesma tarde da apresentação do projeto e das suas atividades 1999, o que levou à decisão de a curto prazo, em 31 julho de 1999, ainda como avançar com a criação de uma associação sem personalidade jurídica, em Calassociação de divulgadores de das da Rainha. Ao aproveitar o período de férias profissionais de espiritismo? verão, foram convocadas duas dezenas de pessoas de todo o país para se encontrarem numa J. Gomes – Avançou-se com este projeto porque cidade do Centro de Portugal, Caldas da Rainha, poucos meses antes, tinha sido persuadido por mais acessível para quem vinha do Norte e para Adonay Barreto, de Manaus, Brasil, que sequem se deslocava do Sul. José Carlos Lucas, ria importante avançar e criar uma associação um dos primeiros convidados para este projeto, de divulgadores. Adonay tinha vindo apoiar do era então dirigente na Associação Cultural Es- ponto de vista gráfico um encontro nacional de pírita, de que fora fundador. jovens espíritas em Viana do Castelo (dias 30 de Pelas 14h30 do dia 31 de julho de 1999, sába- abril e 1 e 2 de maio de 1999, o n.º 16, realizado do, estavam lá quase todos os que foram con- numa escola secundária). vidados, vindos de cidades como Braga, Porto, A ideia já tinha surgido antes, pela circunstânCaldas de S. Jorge, Caldas da Rainha, Lisboa, cia das ADE (associações de divulgação do Sines, Olhão. espiritismo) serem, nessa altura, referidas com A ordem de trabalhos dessa tarde foi esta: 1 frequência na imprensa espírita brasileira e na – Explicar o projeto ADEP; 2 – Avançar e organi- internet, que estava a generalizar-se desde há zar planificações e frentes de trabalho; 3 – Di- poucos anos. Porém, como Portugal é um país versos. de pequena extensão, acreditava que esses deEsta foi a primeira vez que os elementos da partamentos de atividade poderiam funcionar ADEP reuniram, por convite, pelo que foi consid- dentro da Federação Espírita Portuguesa (FEP), erada uma reunião inicial de formação da ADEP. de onde acabara de sair por indisponibilidade Nessa altura, apresentou-se um audiovisual ex- após seis anos (três mandatos) seguidos de coplicativo do projeto, incluindo a sua finalidade de laboração intensa. trabalho prolongado no tempo. Essa indisponibilidade surgiu pelo facto de Apresentou-se uma planificação geral de inicia- morar 300 km a norte e a FEP ser uma associtivas da ADEP e cada atividade foi trabalhada e ação sujeita a eleições, como é normal, o que entregue a uma equipa restrita de pessoas, co- não permitia manter projetos de continuidade. ordenada por uma delas, e distribuída por todos Por outro lado, uma boa parte dos dirigentes asos elementos. sociativos espíritas pareciam, até então, muito Nessa reunião, face ao interesse de tomar per- instáveis, como a areia da praia, a ver com um sonalidade jurídica, formou-se uma lista dos olhar depreciativo quaisquer direções e os traórgãos sociais da ADEP, deliberando-se que, balhos federativos. Há projetos de teor federatão breve quanto possível, se faria o registo ofi- tivo que supõem alguma colaboração dos sócicial num notário. os coletivos federados. Sendo assim, era muito Distribuíram-se propostas de sócios pelos ele- pouco produtivo. mentos presentes. Das 20 pessoas convidadas, quatro não puderam estar presentes. Logo à partida foi bem explicado que o único objetivo da ADEP era trabalhar em busca de Que solução poderia surgir? uma meta de qualidade de conteúdo e de forma.
J. Gomes – Haveria vantagens em criar uma associação à qual só se ligassem pessoas sintonizadas com as metas definidas e cujo único interesse consistisse em serem úteis. Teriam de ter conhecimentos doutrinários nada dúbios e caráter participativo. Seria uma associação sem fins lucrativos que se restringisse apenas a trabalho bem orientado, com uma estratégia definida. Em relação aos integrantes, seria melhor ainda se essas pessoas tivessem perfis adequados oriundos das suas profissões: professores para trabalharem do ponto de vista didático os cursos que se viessem a fazer para ajudar a dar mais qualidade a colaboradores do movimento espírita; gente da imprensa que soubesse o que é comunicar de forma correta pela escrita e pela palavra oral; gente que soubesse de língua portuguesa para não dar erros; professores de inglês para traduções de textos; fotógrafos com boa formação; etc. O resultado disso iria surgir na produção de, por exemplo, um comunicado de imprensa bem feito para um evento que alguma associação organizasse, num boletim informativo de uma associação, num site na internet que fosse bom na forma e no conteúdo; etc. Se convidasse meia dúzia de amigos com quem se soubesse à partida que trabalharíamos bem, com personalidades diferentes, claro, mas compatíveis, seria um bom começo. Provavelmente conheceria uma dúzia de candidatos e sabia à partida que provavelmente iriam gostar da ideia. Depois, poderíamos arriscar até às duas dezenas, desde que essas pessoas tivessem perfil de trabalho e acrescentassem algo mais à equipa. Passar desse número, a experiência pessoal dizia que só iria criar desgaste e perda de produtividade. A dada altura havia que começar a organizar serviço. Não foi difícil e em julho de 1999 foi apresentado o projeto. A tomada de personalidade jurídica só surgiu, como se sabe, em setembro de 1999.
Que iniciativas começou a ADEP por desenvolver? J. Gomes – Havia uma folha de planificação com diversas iniciativas que foi entregue naquela altura a responsáveis, embora algumas delas já
estivessem praticamente feitas. Foi o caso do site da ADEP, naquela altura ainda sem domínio próprio, assim como do curso básico de espiritismo disponibilizado pela internet. Na altura este curso funcionava com tutores que acompanhavam os inscritos – tudo gratuito, claro – por correio eletrónico. Como não havia mais recursos, criou-se o boletim «Informativo espírita», de duas páginas, distribuído por e-mail, na verdade, o antecessor deste jornal (JDE), pois durante os primeiros anos ADEP não tinha financiamento para publicar sequer uma única edição impressa. Isso tornou-se possível quatro anos depois graças à ajuda decisiva de Isaías Pinho de Sousa que, em 2003, adiantou o pagamento de publicidade empresarial e por força dessa ajuda foi possível imprimir e criar receita com assinantes para dar continuidade bimestral a este jornal com o seu primeiro número a ser distribuído em novembro/dezembro de 2003. Começaram logo, no início da ADEP, a enviarse os comunicados noticiosos para uma lista de destinatários com notícias a curto prazo do movimento espírita. Em 21 de julho de 2019, se-
manal, ia no seu n.º 1160. Outra iniciativa planeada era a de impacte na Imprensa, que se centrava em enviar notícias do movimento espírita para os jornais, rádios, televisões, e intervir quando confundissem a doutrina espírita (espiritismo) com atividades que nada têm a ver com ela. Pensou-se na criação de um caderno de formação de futuros entrevistados, na recolha e pesquisa de fenómenos medianímicos, na produção de cartoons e num arquivo de canções espíritas, assim como em pesquisas históricas sobre o movimento espírita português desde século XIX. Como futuras ações previa-se uma atividade de digitalização de roteiros de programas de rádio e a elaboração de roteiros para programas de vídeo.
Como sobreviveu? J. Gomes – Entre as duas dezenas de convidados para formar a ADEP houve os que se foram
desligando e os que mantiveram a sua colaboração. Surgiu entretanto um ou outro colaborador de elevada produtividade, o que foi fantástico. Com trabalho, tolerância e solidariedade a produtividade manteve-se e o barco seguiu adiante no fluxo do tempo. Nunca se valorizou aspetos negativos, sobretudo quando vinham do exterior do grupo de trabalho. Era desinteressante. O foco foi invariavelmente o trabalho em curso e tratar de lhe dar seguimento. O volume de trabalho teve uma consistência contínua, sem sobressaltos, pelas características das pessoas envolvidas. Tratava-se de espíritas estudiosos, fraternos, cujo único fito era servir o ideal sem protagonismo. A amizade que os unia já preexistia à criação da própria ADEP, o que permitiu criar consenso e entendimento nas linhas de trabalho a desenvolver. As iniciativas mais produtivas desde o surgimento da ADEP, em 1999, foram talvez as que se seguem. O site da ADEP, na sua função de explicar o que faz a ADEP e como pode ajudar, foi sempre procurado. Já teve vários formatos e encontrase hoje em adep.pt. Decorre daqui, entre outras interações, uma atividade de atendimento aos seus visitantes por e-mail, aos quais se responde com a brevidade possível. Esta presença na internet hoje envolve as redes sociais principais, com uma enorme quantidade de vídeos de diverso teor no seu canal no YouTube e no Facebook. Alinha-se aqui o curso básico de espiritismo online. Inicialmente tinha por principal utilidade facilitar o acesso a conteúdos doutrinários a pessoas que não têm perto de si uma associação espírita onde o possam fazer presencialmente, quer sobretudo no interior de Portugal quer na Lusofonia. Já teve vários formatos. O primeiro foi o acompanhamento pessoal de uma dúzia de tutores por cada inscrito (atividades sempre inteiramente gratuitas executadas mo tempos pós-profissionais dos colaboradores). Depois através da plataforma Moodle, pois o número de inscritos já não se conseguia acompanhar pessoalmente. E por fim, atualmente, uma versão de vídeo que as pessoas vão fazendo ao seu ritmo. O boletim informativo que, quatro anos passados do seu início, se transforma num jornal bimestral de 20 páginas a preço baixo – até hoje nunca falhou uma edição e manteve-se sempre ao mesmo baixo preço, 50 cêntimos: o «Jornal
de Espiritismo». Dá notícias do movimento espírita, publica artigos de opinião, entrevistas e, entre outros, alguns temas em destaque. Entram aqui também os comunicados noticiosos que divulgam uma série semanal de eventos mais ou menos procurados, como as palestras nas associações e eventos regionais e nacionais. Atualmente seguem, gratuitos, pela plataforma Mailchimp. A ADEP.tv é o projeto mais recente. Trimestralmente, numa tarde de fim de semana, de forma inteiramente gratuita também há a emissão de programas experimentais que podem no momento ter interação com quem estiver a ver, mas que fica gravado também nos canais das redes sociais sob o nosso cuidado, concretamente no Youtube e no Facebook.
Ouvimos dizer que há grupos de outros países que vendo o trabalho da ADEP pensaram em criar algo parecido. Que comentário faria a esse facto? J. Gomes – Confesso que não estou muito por dentro desse assunto, mas pelo que ouvi falar, de facto em Espanha, depois de observarem o trabalho de cobertura que foi feito pela ADEP, inteiramente grátis, em Lisboa, durante o Con-
gresso Espírita Mundial de outubro de 2016, pela mão da Federação Espírita Portuguesa, ficaram surpreendidos pela positiva. A verdade é que a replicação de um modelo de serviço inspirado na ADEP não será mecânica. Se se criar uma fórmula inspirada nos processos da ADEP que agregue peças estruturais idênticas e se se tratar de as instalar noutro local, isso não garante de modo algum que surja algo parecido com a ADEP noutro país. Há uma série de características que não são fáceis de encontrar ou de juntar, se quiser. Na ADEP nunca houve nem há patrão, mas há responsáveis pelas tarefas. Quando um colaborador cai, há sempre outro que oferece a sua disponibilidade, e só isso é que permite a continuidade das responsabilidades em andamento. Percebe-se que os seus decisores não pensam necessariamente da mesma maneira, mas têm a capacidade de trocar pontos de vista e ser solidários com aquilo que faça sentido ser um consenso aceitável a favor da qualidade de divulgação doutrinária que nos interessa elevar. Não é fácil encontrar quem esteja disposto a trabalhar por vezes vários dias seguidos sempre de graça, sem retorno algum, pelo simples espírito de compromisso e idealismo que inspira os seus colaboradores. Nos grupos normalmente há pressão pelo controlo e não se sentir isso na ADEP faz do desempenho das tarefas um ato de amor incondicional.
Faz sentido ter fé de que enquanto estas linhas de força se mantiverem na ADEP, ela estará aí a fazer o que lhe for possível.
E projetos para o futuro? J. Gomes – A ADEP.tv é de momento um dos principais projetos experimentais que vamos fazendo igualmente nos tempos livres. Há vários posters já publicados no site da ADEP sobre diversas atividades que focam a análise de dados recolhidos e servem de registo para o envolvimento que essas iniciativas alcançaram num determinado período de tempo. Não temos meios para multiplicar a esmo o que fazemos, pelo que, o que nos interessa é manter regularmente as tarefas que temos em mãos, como o «Jornal de Espiritismo», por exemplo, aumentando a sua qualidade. É preferível do que ceder à tentação de nos envolvermos em demasiadas tarefas e forçosamente perdermos qualidade nas que já desenvolvemos e até possam estar a ser mais úteis aos destinatários. Isto percebe-se pelo facto de ser tudo feito nos tempos livres dos envolvidos, sem financiamentos, nem remuneração. Se os houvesse, poderíamos contratar técnicos que desenvolvessem
conteúdos segundo planos de trabalho que viéssemos a concretizar. Mas isso não só não nos preocupa como nem sequer está no horizonte que temos por diante. Contudo, estamos sempre abertos a sugestões, que analisamos e vemos se fazem sentido, na perspetiva de melhor servir quem procura o que vamos produzindo.