Segredos em Prosa

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2ª Edição, Luis Souza, Marjorie Guerreiro, Cesar Floriano e Maisa Almeida, SEGREDOS EM PROSA As memórias dos moradores do entorno dos córregos Segredo e Prosa e às margens do rio Anhanduí, EE PROF. SILVIO OLIVEIRA DOS SANTOS, Campo Grande, 2020.


Título original: EBOOK MEMÓRIAS Orientador: Cesar Floriano Coorientadoras: Maisa Almeida Mirian Duran Leite Edna Pita Preparo de originais Mirian Duran Revisão Edna Pita Liliane Durães Projeto gráfico e diagramação Ado Biagi Capa Ado Biagi Fotografias Priscilla Cristiane Bigetti Valentin Manieri EE PROF. SILVIO OLIVEIRA DOS SANTOS R. Pedro Soares de Souza, 154, Conjunto Aero Rancho, Campo Grande - MS, 79085-030 Diretora Jaqueline Dias Diretor Adjunto Leandro Colombo Pedrini Coordenadora Pedagógica Gabriella Menezes


LuĂ­s Souza Marjorie Guerreiro Cesar Floriano Maisa Almeida Campo Grande - MS 2020


Agradecimentos A Deus, por nos inspirar e conduzir. Ao nosso orientador Cesar Floriano, que mergulhou em todas as etapas do projeto, desde a 1ª Edição do EBOOK MEMÓRIAS produzido para a Feira Científica Cultural Silvio (FECCS 2019) até a 2ª Edição do e-book SEGREDOS EM PROSA para a Feira de Tecnologias, Engenharias e Ciências de Mato Grosso do Sul (FETECMS 2020) e para a Feira de Ciência e Tecnologia de Campo Grande (FECINTEC 2020). A coorientadora Maisa Almeida, em nos apoiar a continuar a dar vida ao projeto para a Feira de Tecnologias, Engenharias e Ciências de Mato Grosso do Sul (FETECMS 2020) e para a Feira de Ciência e Tecnologia de Campo Grande (FECINTEC 2020). A diretora Jaqueline Dias e ao Diretor Adjunto Leandro Colombo Pedrini, por acolherem a proposta. A Coordenadora Pedagógica Gabriella Menezes, pelo carinho em nos motivar.


As professoras Mirian Duran Leite e Edna Pita, por tornar possível este projeto interdisciplinar. Aos nossos colegas do 1° ano do ensino médio, turma F de 2019, estudantes envolvidos no projeto, que se não fossem suas escritas este e-book não teria chegado a 2ª Edição. As técnicas da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano (SEMADUR), Aryane Oliveira Custódio Aredes e Talita Terra Macedo, por visitarem a escola e apresentarem aos estudantes do 1°ano F a época, as ações desenvolvidas pelo Programa Córrego Limpo, programa de fiscalização e desenvolvimento de atividades de Educação Ambiental para conscientizar a população e rede de monitoramento dos córregos e rio dentro do perímetro urbano de Campo Grande. Ao ex-aluno Guilherme Cardoso, pela dedicação em produzir o EBOOK MEMÓRIAS e a primeira versão do QR Code para a Feira Científica Cultural Silvio (FECCS 2019). Ao publicitário Ado Biagi, pela identidade visual de cada página diagramada desta edição do e-book. A fotógrafa e Engenheira Sanitarista e Ambiental Priscilla Cristiane Bigetti, que revelou lindas paisagens ao decorrer da 2ª Edição. Ao repórter fotográfico Valentin Manieri, por transmitir os registros fiéis de situações através das lentes de sua câmera. Ao Jornal O Estado de Mato Grosso do Sul, pelos arquivos cedidos de fotografias jornalísticas para ilustrar capítulos do livro. Aos moradores do entorno dos córregos Segredo e Prosa e às margens do rio Anhanduí, retratados no livro que contribuíram com suas memórias de vida.



Este livro é dedicado aos moradores do

entorno dos córregos Segredo e Prosa e às margens do rio Anhanduí.



“Minha mãe me deu um rio.

Era dia de meu aniversário e ela não sabia o que me presentear”, (Manoel de Barros)


Prefácio As pessoas necessitam constantemente de histórias que as inspirem, ou seja, elas apenas precisam ser contadas e escutadas. Pensando neste princípio, e também na preservação do meio ambiente, os estudantes da Escola Estadual Professor Silvio Oliveira dos Santos escreveram um e-book, livro em formato digital que pode ser lido em equipamentos eletrônicos, com acesso por meio de QR Code, uma espécie de código de barras bidimensional que pode ser facilmente escaneado usando telefones celulares equipados com câmera. Esse código é convertido em texto, um endereço de site, um número de telefone, uma localização georreferenciada, um e-mail, um contato ou um SMS. No nosso caso direciona para o e-book. O propósito do projeto foi narrar a história de vida dos moradores que residem nas proximidades dos córregos Segredo e Prosa e do rio Anhanduí, que são os principais contribuintes da microbacia, na área urbana de Campo Grande, capital do Mato Grosso do Sul, que em sua confluência formam o rio Anhanduí. Por meio

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de entrevistas com os moradores, que residem a décadas nesses locais, foi possível compreender as fases de construção da vida que ganha espaço quando conta com essas contribuições sociais, levando-nos, jovens escritores, a perceber o protagonismo do personagem que “vira” capitulo deste livro digital. Além de darmos voz às pessoas, que não pensaram duas vezes em abrir os portões para contar um pouco das histórias, as mesmas acabaram despertando em nós o prazer de aprendizagem, e a apreciação de cada história que nos foram narradas. Além de aliar a sustentabilidade ambiental à responsabilidade social, a prática da leitura sustentável é uma inovação dentro das escolas públicas e acompanha as novas tecnologias que ocupam um espaço e um tempo muito grande na vida de jovens e adolescentes, tornando acessível e de forma gratuita o contato com o livro. A proposta inicial do projeto interdisciplinar entre Projeto de Vida e Língua Portuguesa, era conhecer o plano de vida dos moradores convidados para compor o e-book da escola e escrever os “segredos” em forma de prosa, gênero literário homônimo ao córrego, mas o livro digital ganhou outro itinerário com a nossa autoria e demais colegas, estudantes da turma. Foi necessário realizar o levantamento de dados e “investigar” os possíveis participantes do e-book que tiveram as histórias narradas e memoradas. Após contatar o “personagem”, a equipe de professores e estudantes foi a campo munida de gravadores para coletar depoimentos dos envolvidos, que autorizaram a publicação. A produção escrita foi o gênero memórias em prosa, que desperta a afetividade ao ouvir as histórias através dos personagens. Dos mesmos, conclui-se que, o processo de confecção do livro, em formato virtual, da Escola Estadual Professor Silvio Oliveira dos

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Santos, visou salientar por meio desta forma de registro, a importância da sustentabilidade nas produções dos estudantes e está disponível para acesso através de QR Code. Os resultados foram significativos, pois foi possível conhecermos a vida de pessoas importantes na construção da identidade da região.

Luis Souza e Marjorie Guerreiro

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Apresentação Boa parte da minha infância cresci as margens do córrego Prosa. Morava no Jardim Aclimação e algumas vezes atravessava a avenida Fernando Corrêa da Costa para brincar de jogar pedras na água, enquanto me fascinava observar o curso dela. Me lembro que, corajosamente eu desci algumas vezes e caminhava no entorno. Criança gosta de conversar com a natureza. Algumas vezes proseava com o córrego Prosa. Hoje moro na Região Urbana do Segredo. Uma época, no início da minha juventude, descobri onde ficava a nascente desse córrego, era preciso coragem também para enfrentar o matagal até chegar nela. O tempo passou e o córrego não saiu de mim. De alguma forma as minhas memórias sempre trazem o afeto pelo Prosa e pelo Segredo. Comecei a trabalhar na Escola Estadual Professor Silvio Oliveira dos Santos em 2019. Todos os dias percorria 17 km para ir da minha casa à escola, até encontrar a rota ideal, tracei diversos destinos,


um deles era a avenida Ernesto Geisel. Até então eu trafegava ao lado do córrego Segredo. Muitos de nós campo-grandenses chamamos o rio Anhanduí de córrego segredo. Foi uma vergonhosa e grande descoberta saber que, as águas que banham a região da escola são do rio Anhanduí. A confluência entre os dois córregos, após o Horto Florestal, era a oportunidade que tinha de unir, como o encontro das duas águas, as fases da minha infância e juventude. Comecei a refletir o que o Prosa queria me contar depois de tantos anos seus segredos. Surgiu então a oportunidade de um projeto interdisciplinar, entre os componentes curriculares Projeto de Vida e Língua Portuguesa, e pelo afeto com a turma F do 1° ano do Ensino Médio fizemos a escolha da sala de aula na qual iríamos desenvolver nos estudantes a temática “Bioeconomia: Riqueza e diversidade para o desenvolvimento sustentável do Mato Grosso do Sul” para a Feira Científica Cultural Silvio (FECCS 2019). O tema suscitou o desejo de olhar com atenção a Bacia Hidrográfica do Segredo, Prosa e rio Anhanduí. Entrei em contato com um amigo que à época trabalhava na Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano (SEMADUR) e ele me apresentou o Programa Córrego Limpo. Ele intermediou a comunicação com duas técnicas da SEMADUR e as convidei para apresentar as ações desenvolvidas pelo programa, que visa monitorar e acompanhar a qualidade das águas superficiais de Campo Grande e demonstrar os trabalhos inerentes ao combate à poluição nos córregos e rios. A relação entre o Programa Córrego Limpo e o material criado no final do projeto, ou seja, o e-book se mostra extremamente importante para as questões ambientais, bem como históricas tam-


bém, visto que a gênese da cidade se deu na localidade onde as primeiras memórias foram narradas por moradores da Rua Rosa Cruz, no conjunto Sargento Amaral. Até chegarmos às casas dos moradores foi um percurso imenso de discussões que caminhavam na mesma direção, além de trabalhar metodologicamente a abordagem de todo o processo de ensino aprendizagem. Chegamos à conclusão que, por ser uma ação integradora entre Projeto de Vida e Língua Portuguesa, certamente queríamos ouvir histórias de vida e projetos que inspiram no entorno dos córregos, despertou em nós também o interesse em ouvir histórias e escrever em prosa as memórias para valorizar concomitantemente, o gênero literário que leva o mesmo nome do córrego Prosa. Assim como narra a antiga lenda de que os primeiros moradores de Campo Grande ficavam horas proseando à margem de um dos córregos, por que não prosear com estes moradores e trazer aspectos locais e regionais que devem ser valorizados? Por que são “segredos” em prosa? A fala dos entrevistados são mesmos segredos ou de alguma forma, eles difundiram isso no meio em que vivem e logo não se caracteriza como segredo? As memórias dos moradores do entorno dos córregos Segredo e Prosa e do rio Anhanduí apresentam o espaço de estudo. É interessante ressaltar que quando se trata de entrevistas e do trabalho com a memória, existe um Termo de Cessão de direitos para uso das falas dos entrevistados. Assim, demos ouvidos aos moradores que em 2019 abriram prontamente a porta da sala e fizeram-nos sentir em casa e respeitamos os moradores que não se negaram a colaborar com o projeto, mas preferiam o direto de manter a identidade preservada. Moradores esses que muito contribuíram para a formação

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da identidade da Região do Anhanduizinho. O objetivo do projeto é abordar o projeto pessoal de vida desses moradores por meio do e-book. Os e-books estão cada vez mais presentes no cotidiano das pessoas, dentre as diversas possibilidades de leitura ecológica. O trabalho foi de suma importância para a sustentabilidade ambiental, a evidenciação das memórias e o fomento à valorização da história da capital de Mato Grosso do Sul, a qual a cada dia é acrescida capítulos de progresso e desenvolvimento ao longo do percurso dos córregos e do rio, trazendo inovação, empreendimentos e avanços, fortalecendo assim a bioeconomia que traz riqueza e diversidade para o desenvolvimento sustentável do Estado. Apresento a vocês uma enxurrada de histórias, memórias, lembranças e segredos em prosa. Boa leitura! Cesar Floriano

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“A obra traz à tona as memórias de moradores que vivem no entorno do rio Anhandui. Trata-se de um “mergulho” em suas próprias origens visto que a maioria dos estudantes nasceram e cresceram às margens desse rio. Pesquisar, ouvir e reproduzir as histórias contadas pelos moradores da região, além de ser um resgate histórico é também um resgate das memórias da própria Escola Estadual Professor Silvio Oliveira dos Santos, construída há mais de 30 anos bem ao lado do referido rio”. Jaqueline Dias

“É importante que os nossos estudantes conheçam outras realidades por meio de projetos inovadores que, aliados ao processo de ensino favoreçam aprendizagens alternativas que abordem temas contemporâneos e transversais dentro e fora da escola. Ainda que muitos deles se considerem desfavoráveis socioeconomicamente, perceberam ainda que por meio dos estudos possam encontrar o caminho mais assertivo para as escolhas e tomadas de decisões, pois protagonizar ações tão significativas como a produção de um livro digital, que narra a construção histórica de moradores da nossa comunidade escolar, deixa uma marca na vida desses estudantes que a longo prazo recordarão de todas as habilidades que foram desenvolvidas na execução do projeto e assim a escola cumpre o papel social de formar cidadãos para um mundo melhor, com outras histórias a serem contadas de formas variadas, como estas que eles transformaram em capítulos.” Leandro Colombo Pedrini

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“A minha participação juntamente com o protagonismo dos estudantes da Escola Estadual Professor Silvio Oliveira dos Santos foi gratificante e de grande interação, pois fizemos uma pesquisa de campo, com o seguinte tema “SEGREDOS EM PROSA: MEMÓRIAS CONTADAS EM TORNO DOS CÓRREGOS SEGREDO E PROSA E ÀS MARGENS DO RIO ANHANDUÍ”. Através das entrevistas com os moradores mais antigos do entorno dos córregos Segredo e Prosa, podemos contemplar momentos inesquecíveis e de enriquecimento cultural, tanto para os docentes, quanto para os discentes. Essa elaboração de conteúdos pesquisados gerou um livro digital, disponível nas plataformas virtuais, com acesso por meio de QR Code. O projeto interdisciplinar contemplou as disciplinas de Projeto de Vida e Língua Portuguesa, no qual eu, professora Mirian Duran Leite e o ex-aluno Guilherme Cardoso, elaboramos cada detalhe da 1ª Edição do EBOOK MEMÓRIAS. Eu creio que todo projeto tem a sensibilidade não só de destacar determinado tema, como fazer uma interação entre professores e estudantes, aprendendo uns com os outros, e nos tornando pessoas cada vez melhores, como também, cidadãos com respeito à cultura e valores de outros.” Mirian Duran Leite

“Participar da elaboração da 1ª Edição do EBOOK MEMÓRIAS foi enriquecedor em vários aspectos, tais como: contato mais próximo com estudantes, compartilhar conhecimento e formas de trabalho com os professores envolvidos e conhecer a comunidade a qual a escola está inserida. Quero frisar aqui, a importância do trabalho em equipe, um auxiliando o outro. O colocar-se no lugar do

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outro, sentir suas dificuldades, suas dores e promover novas soluções para os problemas que surgem no processo é um aprendizado para vida. “Gente precisa de gente para ser gente”. Vejo que não adianta colocar em prática qualquer projeto se não enfatizarmos questões tão importantes como essas. Acho que conseguimos. Estudantes e professores aprendem juntos. Nos completamos. Que mais projetos significativos como esse venham!” Edna Pita

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Sumário Recordações líricas e épicas do meu amado Roxo .................................26 O Rio que assoprava a suave brisa matinal.............................................30 Rio Anhanduí - Outrora silenciosa e suas vanguardas inquietantes.....34 Lembranças inundadas.............................................................................38 Lembranças: sapatos, profissão e o esplendor da natureza....................42 Ventos que trazem o frescor suave de um novo amanhecer...................46 Descubra o segredo de prosear e degustar dos temperos da Cássia...50 Tempos Vindouros .....................................................................................54 Enxurradas de emoções............................................................................58 A natureza revitalizada...............................................................................60 Cardumes clamando por oxigênio...........................................................62 Um novo raio de sol sorrirá ao amanhecer...............................................64 Gotas de Empatia ......................................................................................68 A esperança de um novo amanhecer ......................................................70 Outrora: Caminhos e segredos de um novo amanhã .............................72 Diversões das molecadas no rio Anhanduí .............................................76 Chuvas de vitórias e conquistas ...............................................................78

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Foto: Priscilla Cristiane Bigetti


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Recordações líricas e épicas do meu amado Roxo

Por Giovanna Aparecida Azevedo de Souza

Filomena Marques, 66. “Quando eu tinha meus 14 anos, morava em uma cidadezinha chamada Poxoréo - MT, naquela época a educação era muito rígida, O namoro tinha como objetivo o casamento e a formação da família. Havia uma ordem muito clara de que todos deveriam se casar e quem não o fizesse era muito mal visto. A ideia do amor era mais romântica. Os namoros eram em casa, mas eu era muito namoradeira e não casei cedo. Quando eu tinha meus 25 anos, eu conheci um rapaz com o apelido de Roxo, por ser bem negro e eu sempre tive uma paixão por homens morenos, muito mais novo que eu, nos conhecemos e começamos a conversar, durante alguns meses, começamos a ficar muito próximo até nos apaixonarmos, todavia, minha família não aceitava o relacionamento. Então eu e o meu amado Roxo resolvemos fugir e viemos para à cidade de Campo

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Grande –MS, não tínhamos nada e resolvemos alugar uma casinha situada em torno da preciosidade “Rio Anhanduí”. Naquele tempo só havia mato, mas hoje podemos perceber um imenso conjunto chamado Aero Rancho. A aposentada Filomena Marques Lopes, 66 anos, crítica a população e as pessoas que andam e trafegam pelas redondezas do rio, jogando lixo, até móveis residenciais é possível encontrar em torno do rio. A moradora ainda diz, que é um Patrimônio Histórico e um lugar inesquecível, em que as pessoas conversavam e trocavam experiências do dia a dia. Nos dias atuais, vive sozinha com suas recordações, pois o seu amado Roxo veio a falecer há alguns anos, mas nunca se esquecerá que nesse lugar viveu momentos felizes com seu eterno amado.

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O Rio que assoprava a suave brisa matinal

Por Carolyne Barbosa da Silva

Dona Maria Maria Januário da Silva de Araújo, moradora em torno do rio Anhanduí, teve uma infância simples, porém inesquecível. Era uma época difícil, tanto na área financeira quanto na área residencial: “Era uma casa simples de tábua, não havia asfalto, era estrada de chão, porém vivíamos momentos felizes em torno do rio. À tardezinha, eu fechava meus olhos e sentia uma brisa agradável que batia na minha face, e me transportava para outros lugares interessantes e imagináveis. Esse momento era único. E quando abria meus olhos, voltava para aquela vidinha de sempre. Nessa época, eu era uma adolescente que andava de pé no chão e brincava com meus irmãos ao redor da casa e em torno do rio, esse tempo éramos tão inocentes diante do mundo atual. O tempo passou e me casei, eu e meu marido abrimos um bar e com o passar dos anos esse lugar tão

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aconchegante tornou-se extremamente perigoso. O asfalto ainda não havia chegado, lembro que o caminhão da Coca-Cola veio trazer meus refrigerantes para vendas e tombou; o motorista e os entregadores ficaram furiosos e decidiram parar de entregar minhas mercadorias por um bom tempo. Sem contar que quando chovia o rio transbordava e trazia suas inúmeras sujeiras para dentro do bar. A urbanização chegou e trouxe prejuízos ao meio ambiente. ” Ela comenta que as próprias pessoas que moram em torno do rio não colaboram na conservação dele, jogando tudo quanto é tipo de lixo no local, sem contar os vários moradores que se drogam nesse local, tornando um lugar perigoso e de constantes assaltos. “É uma tristeza observar, que aqueles dias de alegria e paz não voltarão mais, em que a brisa vinha beijar minha face com seu suave toque de amor”.

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Foto: Priscilla Cristiane Bigetti


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Rio Anhanduí Outrora silenciosa e suas vanguardas inquietantes

Por Carolyne Barbosa da Silva

Sr. Manoel “Quando eu tinha meus quinze anos, eu morava perto do rio Anhanduí, lugar exuberante, com seus matos verdinhos e um vasto cardumes de peixinhos coloridos que nadavam ali, eu dizia para todos que era “nosso pequeno Pantanal” cheio de fauna e flora, é assim que víamos aquele local”, quem conta essa história com lágrimas nos olhos é o simpático morador senhor Manoel Valmir da Silva, que solta uma risada larga e diz “claro que eu nessa época nem sabia esses nomes “fauna e flora”, pois eu não estudava, tinha que trabalhar desde cedo para sobreviver”. Ele conta que criou seus filhos tomando banho no rio e hoje fica triste ao ver a situação que se encontra aquele belo lugar. Com o crescimento populacional, as pessoas não respeitam o meio ambiente, jogam lixo e sujam o rio, aqueles lindos peixinhos coloridos clamam por oxigênio, e

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muitos acabam morrendo. Sr. Manoel conta também que há alguns anos, aconteceu uma enchente assustadora, muitas pessoas que não tinha condições financeiras de alugar ou comprar uma casa, moravam em barracos de lonas ao redor do rio e quando a chuva vinha inundava tudo, e levava os móveis que os moradores conseguiram com muita dificuldade. Para ele, o que resolveria o problema da população seria a prefeitura viabilizar obras para recuperar o rio e acabar com esses alagamentos nos dias que chove intensamente. “No fim do ano, a preocupação é dobrada, pois chove tanto que ocorre as enchentes. Para nós, moradores desse pequeno “Pantanal” é que possamos nos alegrar com as brisas aromatizantes e a sutileza das paisagens de cores vivas diariamente. E que, nos dias vindouros os peixes e as tartarugas sobrevivam diante da poluição e das enchentes ocasionadas pelo homem. ”

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Foto: Valentin Manieri


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Lembranças inundadas

Por Carolyne Barbosa da Silva

Anônimo, o entrevistado não quis ser identificado. “Lembro-me como se fosse hoje, estava muito feliz no dia da inauguração da minha borracharia em torno do rio Anhanduí, havia flores e pássaros cantando naquele tapete verde que cobria ao redor do rio. Era tudo muito bonito, uma época em que as pessoas valorizavam o meio ambiente. As estradas eram bastante feias e de chão, onde passavam carroças e carros diariamente. Eu trabalhava muito para sustentar minha família e precisava me firmar naquele lugar até então calmo e agradável. Ao amanhecer quando chegava ao meu trabalho, a primeira melodia que ouvia era o cantarolar dos pássaros e o grasnar das araras com suas cores azuis e vermelhas. Nossa!! Esse momento era único, pois é como se eu fosse transportado para o meu passado, quando vivia em uma chácara com meus avós e todas as manhãs acordava com o galo e as aves cantando.

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Com o tempo o rio Anhanduí, que tinha uma bela paisagem e hoje pede socorro contra a poluição e o mau cheiro de animais mortos, entulhos, lixos e até móveis velhos são jogados ali”, comenta o morador. O borracheiro reclama que quando chove na região, ocorre alagamentos. Ele dá um suspiro e desabafa com lágrimas nos olhos e bastante entristecido, por tais acontecimentos: “Eu acho que os córregos Prosa e Segredo e o nosso rio Anhanduí deveria ser canalizado para evitar que a água transborde em época de chuva”, para finalizar, ele fica pensativo e comenta com alegria, que o rio mesmo poluído, traz um acalento ao amanhecer e entardecer com suas belezas naturais para todos os moradores das redondezas.

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Foto: Valentin Manieri


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Lembranças: sapatos, profissão e o esplendor da natureza

Por Bruna da Rocha Maia e Mariana Ferreira Cassiano

Sr. Valdivino de Souza, 49. Em torno do córrego Segredo, o senhor Valdivino de Souza tem sua loja de sapatos. Começou a trabalhar muito jovem, aos sete anos de idade, e não teve oportunidade de terminar os estudos, ele parou no 1° ano do ensino fundamental. Ele se considera um privilegiado de morar em um lugar maravilhoso, em que a natureza esplendorosa o recebe com braços abertos todas as manhãs. Hoje aos 49 anos de idade, ele tem uma profissão que ama muito, a de sapateiro. Com todo esse carinho pela sapataria, ele inaugurou sua própria fábrica de sapatos. Porém, a fábrica faliu e ele teve que fechá-la. Sua vida sempre foi muito árdua, mas isso não o impediu de lutar pelos seus objetivos, aposentado, seu Valdivino gerencia sua pequena loja de consertar sapatos e relata que uns dos feitos mais marcantes na sua vida foi quando conseguiu formar suas filhas em

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uma universidade. “Foi muito gratificante ver minhas filhas se formando e tendo oportunidades na vida que eu não tive a sorte de ter” diz o senhor. Contou também que, um dia bandidos entraram pelo vão das telhas de sua loja e quando não acharam nada para levar, resolveram roubar a loja ao lado. Ele tinha tudo para ser infeliz, todavia, pelo fato de ter uma bela família, um emprego bom e fazer o que gosta, já é o suficiente. Ele recebe com um sorriso encantador todos os clientes que ali frequentam e acreditam em um futuro melhor, e se recorda das velhas raízes e princípios ensinados por seus pais e avós. Ele salienta que, com a revitalização da via, a região e os imóveis serão mais valorizados, e aumentará o número da clientela.

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Ventos que trazem o frescor suave de um novo amanhecer

Por Leandro Felipe Ferreira Ramos

I Cristina, 55. A empresária de 55 anos, Cristina, inaugurou no dia 25 de maio de 2018 uma empresa chamada “Linear”, que faz limpeza e consertos de ar condicionado, localizada na avenida Ernesto Geisel, lembra que, naquela época, prometeram revitalizar o córrego, mas até o momento estão arrumando somente a parte em frente ao Shopping Norte Sul, disse que são feitos apenas reparos emergenciais: “é necessário que sejam feitas bocas de lobo para levar as águas das enxurradas que descem e deixam as lojas tudo alagado e um bom recapeamento das pistas, pois dependemos de uma rua estruturada para receber nossas clientelas”. Cristina, comenta que já viu moradores de rua que mora embaixo da ponte, com doenças sérias, como a dengue ou até mesmo bactérias e isso, acaba prejudicando-os e levando-os até a morte ou até mesmo passando para

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outras pessoas, devido ao acúmulo do mau cheiro, animais mortos e lixos acumulados, que afeta a população que mora ao redor do córrego. “Nessa ampla avenida, podemos ver casas, hospitais, comércios, escolas, postos de combustíveis e um shopping que margeiam o rio, deixando-o mais urbanizado. O que falta mesmo, são as pessoas que moram na região se conscientizarem da degradação que elas fazem com o meio ambiente em que vive. Ao invés, de cultivar e deixar a natureza mais vivificada, elas fazem ao contrário, acabam destruindo o nosso lindo córrego Segredo”, lamenta a empresária.

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Descubra o segredo de prosear e degustar dos temperos da Cássia

Por Maria Eduarda Conceição Novaes

Cássia Rodrigues A empresária de um brechó chamado “Brechó Cácia” na Rua Dom Aquino com a Ernesto Geisel, trabalha nesse lugar há mais de 20 anos, vendia na época as roupas por R$ 2,00. A loja dela já foi assaltada duas vezes, os bandidos entraram pelo telhado e estragaram o forro, sendo que o prejuízo foi muito alto. A empresária e moradora vive insegura com medo de que sua loja seja roubada novamente, por mês a dona da loja paga 40,00 reais para garantir a segurança. A dona do brechó relatou que tem mau cheiro, ratazanas e bichos mortos que são jogados no córrego Segredo e muitos buracos ao redor do comércio dela. Com um largo sorriso, comenta que quando comprou seu estabelecimento ouviu várias histórias do córrego e ficou fascinada por estar em um lugar tão privilegiado. Seu rosto quando fala do lugar irradia um brilho de muita alegria. É

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tanto amor por esse lugar, que seu sonho é montar uma pizzaria ao lado da loja dela, já comprou a loja ao lado e a inauguração será em 2020. A empresária Cássia, espera que seja feita um bom recapeamento na avenida e revitalização do mau cheiro do córrego para que possa trabalhar com tranquilidade, visto que ela trabalhará com comida no próximo ano e seria horrível para a clientela comer e sentir o mau cheiro que se encontra naquele local. Ela com muita fibra e força de vontade acredita que dias melhores virão e a sutiliza do córrego trará momentos de muitas prosas entre seus clientes.

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Tempos Vindouros

Por Kenzo Marques Barbosa

Anônimo, o entrevistado não quis ser identificado. Essa região perto da avenida norte sul era um local muito sujo, repleto de insetos, bichos e outros tipos de animais e tem alguns relatos de que nessa época havia onça na redondeza do córrego, antes do bairro Aero Rancho começar a se desenvolver, também era um local com muito mato e pouco explorado pela população. Há alguns anos, o progresso chegou em torno do córrego Prosa e houve um grande desmatamentos e fábricas foram surgindo, dessa forma, os comerciantes que se instalaram nesse lugar tiveram dificuldades com as ruas esburacadas e as enchentes que surgiam toda vez que chovia muito e inundava tudo. Além de casas, hospitais, comércios, escolas, postos de combustíveis, também foi construído um shopping que margeia o rio, as pessoas que moram na região comemoram o crescimento, no entanto, não deixam de criticar o estado

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em que o Anhanduizinho, como é mais conhecido, se encontra. “O rio Anhanduí já foi um local muito diferente do que é hoje” lembra o comerciante com saudades daquela época, em que tomava banho no rio, e pulava da “pinguela” e todos se divertiam bastante. Nos dias atuais, ele fala com tristeza que ficaram lindas lembranças de um tempo que não volta mais, onde havia um ar e ambiente limpo e agradável, “Hoje ficou um rio sem aspectos positivos, o rio ficou sem brilho e sem alegria, com a chegada e o aumento da população, veio a poluição, as sujeiras jogadas no rio, animais mortos, e outros acontecimentos que entristece o ser humano, é necessário a conscientização das pessoas e a importância de preservar o meio ambiente para nós e para as futuras gerações”.

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Enxurradas de emoções Por Rafael Lima Balta

Anônimos, os entrevistados não quiseram ser identificados. O morador próximo à Avenida Ernesto Geisel está ansioso para que as que as obras acabem com os alagamentos frequentes em dias de chuva intensa. “Quando chove alaga tudo. No final do ano, minha família começa a guardar, armazenar e subir em cima das mesas alguns móveis, pois quando a enxurrada vem com força acaba levando tudo”. Ele diz que já perdeu as contas de quantas vezes teve prejuízo devido aos alagamentos. A esposa compartilha do mesmo sonho e faz planos de melhoria na casa para o dia em que a chuva não for uma ameaça de dano aos seus pertences. “ Espero que o rio seja canalizado para que evite futuras enxurradas, pois é o único que atravessa toda a cidade de Campo Grande”, diz ela. Ele diz que outra antiga reivindicação da população é sobre o perigo do desmoronamento do asfalto às margens do rio. “Espero que esse problema seja solucionado com o controle da erosão que avança sobre o asfalto e atrapalha o tráfego próximo ao Shopping Norte Sul, o asfalto estava cedendo. Tornando um perigo para o motorista como para o pedestre”.

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A natureza revitalizada

Por Paulo Ribeiro dos Santos

O morador José Alfredo conta que devido ao constante assoreamento e a falta de limpeza no leito do córrego, faz com que o rio Anhanduí, quando chove, transborde em toda a via: “As inundações que atingiam a casa de meus pais faziam com que todos acordassem de madrugada com cerca de um metro de água dentro de casa, resultando em grandes prejuízos como a perda de móveis, eletrodomésticos, livros, documentos, etc.”. Não suportando as constantes calamidades, mudaram-se dali, ficando a casa fechada por um longo período. Eles retornavam quando as chuvas acabavam. Para ele, é necessário que sejam feitas obras de revitalização para controlar as enchentes, e estancar a erosão que ameaçam as pistas da Avenida Ernesto Geisel.

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Cardumes clamando por oxigênio

Por Beatriz Dias Paiva

Anônima, a entrevistada não quis ser identificada. “ Eu agradeço a Deus por morar em um lugar privilegiado, a única reclamação que tenho são as queimadas nos matos ao redor do córrego, as pessoas jogam lixos nos matos e o rio, ocasionando muitas vezes na morte dos peixes e dos outros animais que vivem por ali. Minha felicidade hoje é ver o progresso surgindo velozmente, e isso nos trouxe benfeitorias, como asfalto, prédios surgindo próximo ao bairro Aero Rancho”. 63


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Um novo raio de sol sorrirá ao amanhecer

Por Marjorie de Souza Guerreiro

Doraci de Oliveira, 68. Dona Doraci, aposentada, conta que sempre fora uma pessoa determinada, materna e solidária, que vê sempre o lado bom das coisas e da vida, nunca guarda mágoa e muito menos rancor de alguém, pois acha que as pessoas sempre merecem uma segunda chance. Ela fala um pouco também sobre como foi morar perto dos córregos Prosa e Segredo por 49 anos. Inicialmente, um dos maiores problemas que ela apontou foram os mosquitos que ali residem (principalmente à noite), muita movimentação de carros, visto que sua casa é em frente à Avenida, e principalmente a falta de iluminação. No ano de 1976, aproximadamente, relata que começaram as intensas chuvas, que traziam muitos problemas tanto para moradores mais próximos quanto para ela, as enchentes começaram a alagar suas casas: “ainda bem que naquela época havia poucas

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casas e moradores, tudo era cercado de mato, mato e mais mato, mas o bairro foi aos poucos se urbanizando com tempo”. Em 1981, quando uma das chuvas mais fortes chegaram, fazendo com que toda sua casa alagasse, com a água chegando até sua cintura, dona Doraci fala como se revivesse até hoje essa cena, pois quando isso ocorreu, ela pegou seus dois filhos pequenos nos braços e correu, correu para se salvar, correu para salvar seus filhos, sem nem pensar em sua casa alagada, e não tinha infelizmente o que fazer, toda sua mobília estava sendo carregada pela enxurrada. Ela diz que não temia apenas as chuvas que causavam as enchentes, mas também os animais que apareciam em sua casa junto com a chuva, as cobras eram as mais frequentes. Ela se abrigava de favor na casa de moradores pedindo por ajuda. Além das chuvas drásticas, em quesito de criminalidade, ela conta que não há muito o que dizer, pois acha seu bairro bem tranquilo, apenas alguns furtos comuns que tem em todos os bairros. Hoje em dia, ela diz que a única coisa que precisa melhorar ainda mais em seu bairro é a iluminação, para que raros furtos parem de acontecer, tirando isso seu bairro vai de bem para melhor em questão às enchentes.

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Gotas de Empatia Por Luis Felipe de Oliveira Souza

Sr. Udinei, 74. “Meu nome é Udinei, tenho 74 anos, nascido em Campo Grande. Eu moro há 45 anos aqui perto dos córregos Prosa e Segredo. Um dia eu estava dormindo quando começou a chover, era uma chuva muito intensa eu comecei a fechar as janelas, as portas e o meu portão não parava de bater por conta do vento; então eu escutei alguém batendo no portão pedindo ajuda e eu fiquei assustado mesmo assim eu fui lá ver quem era, quando eu abri o portão estava uma vizinha minha da casa de baixo com a sua filha, ela estava precisando de ajuda, porque a água da enchente tinha entrado na casa dela, deixei ela entrar e a água já estava entrando na minha casa; então nós corremos para o quarto, porque era o único lugar que ainda não tinha entrado muita água e quando a chuva começou a diminuir nós percebemos que alguns móveis tinham sido estragados e a da minha vizinha tinham sido totalmente destruídos por conta da água na casa dela. Quando tudo isso acabou eu percebi que não era o único que estava abrigando vizinhos, todos que moravam naquela localização estava colaborando e graças a Deus não teve nenhum acidente e todos estavam bem ”. 69


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A esperança de um novo amanhecer Por Camilly Pereira do Nascimento

Anônima, a entrevistada não quis ser identificada. “ Numa noite o pior aconteceu, eu estava dormindo junto com os meus gatos, e do nada acordo com uma gritaria e quando abro os olhos, eu vejo a água em meu quarto, o desespero bateu forte, a água foi cada vez mais forte e atingindo a minha cama ao ponto dela boiar, tudo aquilo parecia um pesadelo, que logo eu iria acordar e nada daquilo estaria acontecendo. O impossível aconteceu, fiquei ilhada, não tinha bateria no celular e não conseguia gritar e nem escutar ninguém, achei que ali morreria, nunca pensei que iria morrer com a minha casa alagada por conta de um córrego, justo um córrego que não deveria transbordar tanto assim a ponto de inundar uns pontos de uma grande capital. Quando havia perdido a esperança, um “anjo” me apareceu, o meu vizinho com duas capas e com muita força e equilíbrio entrou com tudo na casa para me ajudar e me resgatar e também ajudar meus gatos. Foi por pouco que algo pior não aconteceu, eu consegui sair ilesa da situação, só tive perdas de bens materiais, e o mais surpreendente é que eu nunca imaginei que o córrego Segredo iria transbordar tanto como nesse dia”.

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Outrora Caminhos e segredos de um novo amanhã

Por Amanda Silvério

Dona Maria Joana Dona Maria teve um AVC, perdeu os movimentos do corpo e a visão, após um período de recuperação eles foram voltando gradativamente. O marido havia saído do emprego há cinco anos e os mesmos não tinham condições de se manterem somente com a aposentadoria da dona Maria, então ela teve a ideia de fazer crochê para ajudar nas despesas da casa. Eles se mudaram do Paraná para Campo Grande, Mato Grosso do Sul, e compraram uma casa com um excelente ponto de referência para venda de estofados, “lugar cheio de árvores, pássaros e a natureza nos alegrando todos os dias”. Conta-se várias histórias desse lugar maravilhoso. Seu esposo comenta: “Ouvir dizer, que no início da criação da cidade, as pessoas sentavam-se ao redor do córrego e ficavam a prosear por horas, e que muitos segredos eram guardados ali pelos morado-

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res. Todas as informações transmitidas para mim, tocou meu coração e me contagiou ainda mais a lutar pelos meus sonhos. Como eu e minha esposa não estávamos trabalhando, e precisávamos de dinheiro para solucionar nossos problemas, resolvemos ir à empresa de estofado que vendiam ali e fizermos de nossa casa um ponto de vendas”. Compraram um caminhão de um sócio da empresa e começaram a vender estofados na rua. O caminhão ficava na Avenida Ernesto Geisel, e a todo o momento a fiscalização aparecia por lá. Certo dia, a fiscalização apreendeu o caminhão, nesse mesmo dia a mãe de Maria Joana faleceu, e depois disso eles foram à Prefeitura para conseguir “abrir novamente o nosso trabalho, pois era a única fonte de renda da família”, diz ela. Com o dinheiro que eles conseguiam com a venda de estofados no caminhão sustentaram a família e mais dois idosos, formaram a filha em Medicina e o filho em Direito.

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Diversões das molecadas no rio Anhanduí Por Rodrigo Ribeiro Magalhães Júnior

Edson Mattoso O morador lembra saudosamente que quando eles, irmãos e colegas, eram crianças, soltavam pipas na beira do rio e jogava bola também. Um domingo bem de tardezinha, eles e os amigos se reuniram para jogar um futebol na pedreira e lá tem um espaço bem interessante; é a parte mais funda do córrego. Era ali que eles viviam momentos maravilhosos e contagiantes, apesar que uma vez um dos meninos, por não saber nadar, acabou se afogando. Ele conta que também quase se afogou “Um dos meninos, com medo de pular no fundo do rio para salvá-lo, me agarrou pelo braço e me puxou para perto das pedras e graças a Deus tudo deu certo. Depois do susto continuamos a nos divertir”. O morador disse que quando começa a anoitecer ninguém consegue jantar e nem ficar fora de casa, por causada do mau cheiro do rio. O desejo dele é que o governo resolva os problemas de infraestrutura em torno do rio Anhanduí, pois para ele aquele lugar é um ambiente riquíssimo e merece todo cuidado e atenção, pois faz parte da história da nossa cidade. 77


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Chuvas de vitórias e conquistas

Por Ricardo Wilba da Silva Filho

II Cristina, 55. Cristina de 55 anos, uma empresária que inaugurou sua loja de ar condicionado próximo ao córrego Segredo, disse com um largo sorriso que morar próximo ao córrego para ela é um privilégio, pois pela manhã ouvir o cantar dos pássaros e respirar uma brisa que toca sua face é encantador. O único problema que atormenta sua vida são os dias de chuva, então ela fica apreensiva, pois chove tanto que inunda todo o córrego e invade toda sua loja, ficando difícil trabalhar e receber sua clientela. Ela alega que o descarte irregular do lixo que é despejado por moradores próximos é uma falta de conscientização por parte das pessoas que acabam fazendo esse ato. Cristina relata que desde o tempo da inauguração da loja, ela e sua família, não sofreram nenhum ato de violência, pois em questão de segurança sempre acaba passando rondas então assim tem uma segurança a mais. Ela sorri e comenta que pretende envelhecer nesse lugar, porque foi ali que conquistou e conseguiu todos os seus objetivos.

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Segredo e Prosa são os dois córregos principais que cortam a cidade de Campo Grande. É no encontro dessas duas águas que a Cidade Morena, como é conhecida e carinhosamente chamada por seus habitantes, (a capital do Mato Grosso do Sul), teve o seu marco inicial desbravado por José Antônio Pereira. O próprio nome desses córregos conta uma história curiosa que somente foi guardada na memória de uma comunidade já quase silenciada pelo tempo e pela modernidade. Reza a lenda que os antigos moradores da margem de um dos córregos, ficavam horas a fio “ferrados na prosa”, conversando, em costumeiro e aprazível ponto, sob a copa enorme de uma Figueira Brava; e o que ‘tem as suas cabeceiras nos espigões do Norte’ ganhou seu nome por não ter, João Pereira Martins guardado segredo dos amores ocultos de Manuel Olivério, revelação que teve no lugarejo a retumbância do primeiro escândalo (MACHADO, Paulo Coelho, A Rua Velha, 1990). Esta lenda não somente nos revela curiosidades sobre o nome dos córregos como também revela a possibilidade da existência de outras comunidades anteriores à chegada de José Antônio Pereira. Assim como a lenda dos córregos Segredo e Prosa, muitas outras histórias e causos permeiam os povoados brasileiros. Desta forma, “SEGREDOS EM PROSA” nasce do interesse de registrar, recontar e divulgar a cultura abscôndita nas memórias dos moradores do entorno dos córregos Segredo e Prosa e às margens do rio Anhanduí, formado pela junção desses dois córregos. O rio Anhanduí é chamado por muitos moradores de Campo Grande apenas de córrego.


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