1/7
2LNRXPHQH YLYHU FRQYLYHU QD FDVD H .RLQRQLD FRPXQKmR VmR IXQGDPHQWDLV SDUD D FDPLQKDGD GR &(%, HP GHVYHQGDU D %tEOLD QD OXWD FRQVFLrQFLD H RUJDQL]DomR GR SRYR RSULPLGR $ OXWD GR SRYR FRPR R FHUQH GD LQWHUSUHWDomR GD (VFULWXUD SUHVVXS}H SDUD D FDPLQKDGD HFXPrQLFD TXH D %tEOLD VHMD OLGD H RXYLGD HP PHLR DR FHQiULR SROtWLFR H GDV OXWDV SRSXODUHV
PHPyULDV UHÁH[}HV H H[SHULrQFLDV
1RV SDVVRV GD FHOHEUDomR GRV DQRV GR &(%, VHOHFLRQDPRV WH[WRV TXH IRUDP SXEOLFDGRV QR 3RU 7UiV GD 3DODYUD YROWDGRV SDUD D OHLWXUD HFXPrQLFD H OLEHUWiULD GD %tEOLD 'HVGH R Q PDLR MXQKR GH R EROHWLP SDVVRX D WHU XPD VHomR FRP UHIOH[}HV H WURFD GH H[SHULrQFLDV VREUH HFXPHQLVPR ´4XH WRGRV VHMDP XPµ -R LQDXJXURX HVWH FDPLQKR 0LOWRQ 6FKZDQWHV HP SDOHVWUD QR &XUVR )p H (GXFDomR 3ROtWLFD QD 38& 56 DILUPRX TXH ´R HFXPHQLVPR HVWi QR ERMR GR VRIULPHQWR GRV SRYRV GHSHQGHQWHV H H[SORUDGRV OX] GH VXD OXWD H GR HYDQJHOKR GH -HVXV WDPEpP DV LJUHMDV TXH IRUDP VXUJLQGR H VH HVWUXWXUDQGR QR GHFRUUHU GD KLVWyULD KmR GH HQFRQWUDU XP FDPLQKR FRPXP H XPD Vy H[SUHVVmR RUJkQLFD µ (VWH OLYUR FRP UHIOH[}HV PHPyULDV H UHODWRV GH H[SHULrQFLDV LPS}H FRQWLQXDomR H QRV GHVDILD D WUD]HU j OX] XPD VHJXQGD SXEOLFDomR FRP DV YR]HV H H[SHULrQFLDV HFXPrQLFDV D SDUWLU GDV PXOKHUHV %RD OHLWXUD ERDV OHPEUDQoDV GDV H[SHULrQFLDV ERDV UHIOH[}HV H R GHVSHUWDU GH QRYRV PRPHQWRV
5DIDHO 5RGULJXHV GD 6LOYD 2UJ
,6%1
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BÃblia e ecumenismo: 0HPyULDV UHÀH[}HV H H[SHULrQFLDV
5DIDHO 5RGULJXHV GD 6LOYD 2UJ
6mR /HRSROGR 56
2019
Š Centro de Estudos BĂblicos Rua JoĂŁo Batista de Freitas, 558 B. Scharlau – Caixa Postal 1051 93121-970 – SĂŁo Leopoldo/RS Fone: (51) 3568-2560 vendas@cebi.org.br cebi.org.br
SĂŠrie: A Palavra na Vida – NÂş 383 – 2019 7tWXOR %tEOLD H HFXPHQLVPR 0HPyULDV UHĂ€H[}HV H H[SHULrQFLDV Organização: Rafael Rodrigues da Silva 5HYLVmR RUWRJUiÂżFD 6PLUQD &DYDOKHLUR Capa: JosĂŠ Nunes Editoração: Rafael TarcĂsio Forneck ISBN: 978-85-7733-326-4
5ŕľşŕľżŕľşŕľžŕś… 5ŕśˆŕľ˝ŕś‹ŕś‚ŕś€ŕśŽŕľžŕśŒ ྽ྺ 6ŕś‚ŕś…ŕś?ŕľş, Diretor Nacional do CEBI, assessor do CEBI e professor GD 8QLYHUVLGDGH )HGHUDO GH $ODJRDV FDPSXV $UDSLUDFD 0HVWUH HP &LrQFLDV GD 5HOLJLmR pela UMESP, mestre em Teologia pelo ITESP, doutor em Comunicação e SemiĂłtica pela PUC-SP e Livre-docente em Teologia pela PUC-SP.
Dedicado a Xico Esvael, caminhante cantante do ecumenismo.
;RWH GD YLWyULD Xico Esvael
Se perguntarem sobre o dia da vitória, tu dirás com esperança: tudo aqui vai melhorar, o povo alegre realizará a história H QR ¿P GR WHPSR FHUWR D FROKHLWD VH GDUi A fome haverá? Não! 9LROrQFLD KDYHUi" 1mR Se a nossa força for além da romaria, o Senhor da harmonia afastará de nós a dor. /:Lá, laiá, laiá, laiá, lá, iá, laiá, laiá:/ É caminhando com os olhos no futuro, clareando onde é escuro com a força da união que venceremos quem vai contra a natureza; pois sabemos com certeza: prevalecerá a razão. A fome haverá? Não! 9LROrQFLD KDYHUi" 1mR A nossa terra terá vida abundante p’ra que a gente cante e dance a plenitude do amor. /:Lá, laiá, laiá, laiá, lá, iá, laiá, laiá:/
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Sumário Ecumenismo: pelos caminhos do diálogo nos enfrentamentos dos fundamentalismos e das intolerâncias Rafael Rodrigues da Silva ........................................................................................
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0(0Ï5,$6 ...........................................................................................................
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Ecumenismo no CEBI Eliseu Hugo Lopes ...................................................................................................
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O CEBI e o ecumenismo Marcelo de Barros Souza .........................................................................................
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Um diálogo HFXPrQLFR FHOHEUDWLYR HQWUH os pobres Agostinha Vieira de Mello ........................................................................................
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'HUUXEDQGR DV VHSDUDo}HV Jether Pereira Ramalho ...........................................................................................
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5() / (;®(6 ........................................................................................................
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Bíblia e ecumenismo Bertholdo Weber, João G. Bíehl, Verner Hoefelmann e Tércio Machado Siqueira...
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Ecumenismo a partir dos pequenos Sandro Gallazzi ........................................................................................................
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O ecumenismo no movimento popular Sílvio Meincke ..........................................................................................................
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0RYLPHQWR SRSXODU FRPR HVSDoR HFXPrQLFR Jether Pereira Ramalho ...........................................................................................
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7UDQVIRUPDo}HV QR XQLYHUVR UHOLJLRVR Oneide Bobsin ..........................................................................................................
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2 SOXUDOLVPR GDV UHOLJL}HV 8P GHVDÂżR SDUD R GLiORJR HFXPrQLFR Ervino Schmidt .........................................................................................................
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(;3(5,Ç1&,$6 .........................................................................................
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“IrmĂŁos separadosâ€? estĂŁo se encontrando: Ecumenismo desde a prĂĄtica LĂŠo Z. Konzen...........................................................................................................
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Aprendendo a reler a BĂblia: Uma H[SHULrQFLD HFXPrQLFD JĂşlio Paulo Tavares Zabatiero .................................................................................
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'LiORJR HFXPrQLFR Dezir Garcia .............................................................................................................
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)D]HU FDIp IULWDU RYR OHU D %tEOLD 8PD H[SHULrQFLD HFXPrQLFD Luiz Longuini Neto ...................................................................................................
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Sobre os autores ............................................................................................
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Ecumenismo: SHORV FDPLQKRV GR GLiORJR QRV HQIUHQWDPHQWRV GRV IXQGDPHQWDOLVPRV H GDV LQWROHUkQFLDV Rafael Rodrigues da Silva
A celebração dos quarenta anos do CEBI nĂŁo poderia deixar de fazer memĂłria de uma dimensĂŁo importante em sua caminhada histĂłrica: o ecumenismo. Foram muitos passos dados desde a sua origem e muitas vozes e FRUSRV D SURSRUFLRQDU D LGHQWLGDGH HFXPrQLFD GR CEBI em seu serviço de Leitura da BĂblia junto aos pobres e seu comprometimento com a mensagem do Evangelho do Reino. 6DEHPRV GRV GHVDÂżRV TXH R GLiORJR HFXPrQLFR KRMH HQIUHQWD GLDQWH das leituras manipuladoras, opressoras, fundamentalistas e intolerantes da %tEOLD 4XDQWR D FRQVWUXomR GR GLiORJR HFXPrQLFR VRIUHX FRP R FUHVFLmento e avanço dessas prĂĄticas. (VWH OLYUR TXHU MXQWDU DOJXPDV UHĂ€H[}HV SDUWLOKDV GH H[SHULrQFLDV e lembranças que foram publicadas no Por TrĂĄs da Palavra (PTP) nesses quarenta anos. Escrevo esta apresentação recebendo duas notĂcias: uma do encontrĂŁo de mulheres na Igreja Batista em Bultrins (PE), que em WDPDQKD HFXPHQLFLGDGH ODQoD YR]HV QR FRPEDWH j YLROrQFLD HQIUHQWDGD pelas mulheres e, a outra notĂcia, da PĂĄscoa de JoĂŁo Francisco Esvael, o nosso Xico Esvael, teĂłlogo e mĂşsico da Igreja Anglicana, que muito embalou com suas mĂşsicas profĂŠticas os caminhos do ecumenismo, seja
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pelo Conselho Latino-Americano de Igrejas (CLAI), seja pelo Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (CONIC), seja pela Igreja Episcopal Anglicana do Brasil (IEAB), seja em sua participação no Curso de Verão do Centro (FXPrQLFR GH 6HUYLoR j (YDQJHOL]DomR H (GXFDomR 3RSXODU (CESEEP). 'HGLFDPRV HVWH OLYUR GH PHPyULDV GDV UHÀH[}HV GR CEBI VREUH RV GHVD¿RV H D FDPLQKDGD HFXPrQLFD D HVWH JUDQGH HQWXVLDVWD H FRQVWUXWRU GH HVSHUDQças no diálogo entre irmãs e irmãos no projeto do Reino e no sonho de um outro mundo possÃvel. $VVLVWLPRV KRMH D XP SURFHVVR SUHRFXSDQWH GDV UHOLJL}HV H R XVR de seus textos sagrados numa dimensão totalmente despreocupada com DV TXHVW}HV GD VRFLHGDGH H GD YLGD GR RXWUR RXWUD 3RLV SDUD PXLWRV R que importa é o sagrado e o espaço da minha fé e tudo o que está ao redor não me pertence. Os males do individualismo, da indiferença e competividade amplamente apregoados pelo sistema neoliberal infectaram as mais EHODV SUiWLFDV GD UHOLJLRVLGDGH KXPDQD H DVVLP PXLWDV Do}HV UHOLJLRVDV passaram a praticar o contrário do que apresentam os fundamentos de sua religião, de sua igreja, de sua sacralidade. O espÃrito anticomunitário e o mercado da fé tomaram conta, e muitas práticas religiosas se distanciaram GH VHXV SULQFtSLRV 2 GHVD¿R D VXSHUDU QD VRFLHGDGH H QR PXQGR KRMH D VROLGmR H LVRODPHQWR HP PHLR D XPD VRFLHGDGH SOXUDO 3UiWLFDV FULVWmV ¿pLV ao Evangelho do Reino hoje são rejeitadas em nome do mercado e dos projetos contrários à vida. (LV DOJXQV GHVD¿RV QHVWH HQIUHQWDPHQWR DRV IXQGDPHQWDOLVPRV H jV intolerâncias: 'HVD¿R GH YLYHU SURIXQGDPHQWH R SULQFtSLR PRUDO R TXH YRFr QmR GHVHMD SDUD YRFr QmR R IDoD SDUD RV RXWURV 2. Defender a igualdade dos seres humanos e combater as GLVFULPLQDo}HV 3. Compromisso na defesa da vida.
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4. Diálogo e respeito pela outra pessoa. 5. Interculturalidade e tornar a defesa da vida um costume comum. &RPSURPLVVR GH FRQVWUXomR GD SD] H D QmR YLROrQFLD 7. Criação de redes de solidariedade e práticas da justiça. 8. Prática da tolerância. $ KRVSLWDOLGDGH DFROKLGD FRPR H[LJrQFLD GH KXPDQLGDGH 10. O respeito à s pessoas não crentes. 11. A alteridade e a diferença devem estar sempre no horizonte. 9LYHU R GLUHLWR j GHVREHGLrQFLD UHEHOLmR H R GHYHU GH LQVXUUHLção. Insurgir contra tudo que atenta à vida. 6XSHUDU DV YHUGDGHV SUHVHQWHV H GHIHQGLGDV SHODV UHOLJL}HV H OXWDU por construir um ecumenismo da compaixão e um ecumenismo crÃtico, aberto e de fronteira. Organizamos os textos já publicados nos antigos Por Trás da Palavra HP WUrV SDUWHV PHPyULDV UHÀH[}HV H H[SHULrQFLDV &HUWDPHQWH XPD leitura atenta do material circulante no CEBI e o recolhimento das muitas H[SHULrQFLDV VHPHDGDV DTXL H DFROi IDULDP FRP TXH HVWH OLYUR H[WUDSRODVVH HP PXLWR DV VXDV SiJLQDV (VSHUDPRV TXH D PHPyULD GDV UHÀH[}HV H PRPHQWRV GH HVWXGR FHOHEUDomR FRQYLYrQFLD DQLPHP H IRUWDOHoDP D caminhada e a busca de ler a BÃblia com a irmã e o irmão que professa RXWUD Ip H FRPXQJD FRP D PLQKD Ip .RLQRQLD H SURIXQGD YLYrQFLD H DSUHQdizado com a outra e o outro. Projeto de viver bem debaixo do mesmo teto, da mesma casa. Vida em comum. Oikoumene. 7HUPLQR FRQYLGDQGR FDGD XP FDGD XPD D UHÀHWLU H FDQWDU HVWD EHOD música de Xico Esvael:
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Em Missão Xico Esvael
Do sul ao norte estamos no caminho, Celebrando a vida, partilhando o pão. Do mesmo cálice bebemos vinho, Somos o Teu povo em peregrinação. Na caminhada nossa voz ecoa, Denunciando a morte e a escravidão. Anunciamos nessa terra boa, Que Tu renovas toda a Criação. Igreja, a gente vive com paixão. Igreja é o povo de Deus em missão. Igreja em nova evangelização: É o povo de Deus repartindo o pão. Pelos sinais, pelas boas notícias, Por Tua herança, pelos dons, Senhor. Pelos bons frutos e pelas primícias, Graças te rendemos, Cristo Salvador. Há muito o que fazer neste país; Não basta acreditar na tradição. Jesus ensina a gente a ser feliz, Igreja, a gente vive em comunhão.
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Memรณrias
Ecumenismo no &(%,1 Eliseu Hugo Lopes
“O CEBI ĂŠ genuinamente ecumĂŞnico.â€? Esta expressĂŁo do Prof. Jether 5DPDOKR GHÂżQH QRV VHXV SULPyUGLRV R &HQWUR GRV (VWXGRV %tEOLFRV Mestre AurĂŠlio ensina que genuĂno VLJQLÂżFD Sem mistura, sem alteração, puro. 2. PrĂłprio, natural, autĂŞntico, legĂtimo. Essas devem ser DV FDUDFWHUtVWLFDV GR HFXPHQLVPR TXH GHÂżQH R CEBI. 1XP UiSLGR YRR KLVWyULFR SRGH VH YHULÂżFDU TXH R HFXPHQLVPR FLUcula nas veias do CEBI: 1. Na sua gestação; 2. No seu nascimento; 3. Na sua evolução.
Gestação O processo de gestação do CEBI VH GHVHQYROYHX HP ~WHUR HFXPrnico. Foi concebido pela “necessidade bem concreta, sentida por muita gente, havia vĂĄrios anos, de se articular um serviço que ajudasse o povo das Comunidades Eclesiais de Base no uso e na interpretação da BĂblia, pois a BĂblia estava sendo, de fato a gasolina escondida da renovação da Igreja a partir da base e a luz que iluminava e animava o engajamento 1 Publicado nos Suplementos e SubsĂdios do Por TrĂĄs da Palavra, BĂblia e Ecumenismo. 8P JUDQGH GHVDÂżR n. 3, p. 6-8, 1988.
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de muitos cristĂŁos na luta pela transformação da sociedadeâ€? (Frei Carlos Mesters, Suplemento de n. 25 do Boletim, nov-dez/1984). (VWD QHFHVVLGDGH IRL FUHVFHQWHPHQWH VHQWLGD SRU XP JUXSR HFXPrQLFR GH H[HJHWDV WHyORJRV H SDVWRUDOLVWDV TXH VH UHXQLD WUrV RX TXDWUR YH]HV por ano desde 1974. E para responder a essa necessidade, o grupo instou com Carlos Mesters, um de seus membros, para organizar um centro EtEOLFR $WUDYpV GH VXDV DWLYLGDGHV H VHXV HVFULWRV IUXWR GH VXD H[SHULrQFLD de lidar com o povo, Carlos Mesters, exegeta formado em Roma e JerusalĂŠm, impunha-se como a pessoa talhada para enfrentar essa empreitada. Nos Ăşltimos meses de 1977 foi tomada a decisĂŁo, com o importante H GHFLVLYR DSRLR GR &HQWUR (FXPrQLFR GH 'RFXPHQWDomR H ,QIRUPDomR (CEDI), principalmente por meio do professor Jether Ramalho, Congregacional; bispo Paulo Ayres, metodista e os pastores presbiterianos Carlos Cunha e Zwinglio Dias. Nos dias 23 e 24 de janeiro de 1978 houve a primeira reuniĂŁo para a organização do novo Centro em Angra dos Reis. Um GHWDOKH DR VH GLVFXWLU D VLJOD IRL VXJHULGR &HQWUR (FXPrQLFR GH (VWXGRV BĂblicos (CEEBI) 2EMHWRX VH SRUpP TXH D SDODYUD ÂłHFXPrQLFR´ Mi VH WRUQDUD SRXFR HFXPrQLFD QDTXHOHV WHPSRV GH XP HFXPHQLVPR WULXQIDOLVWD Preferiram entĂŁo que se chamasse CEBI, simplesmente.
Nascimento Nos meses subsequentes, nos intervalos de suas frequentes viagens ou por ocasiĂŁo dessas mesmas viagens, Frei Carlos tenta conseguir alguĂŠm que pudesse ajudĂĄ-lo a tĂtulo de secretĂĄrio do novo centro. Escreve a vĂĄrias pessoas. No dia 17 de fevereiro de 1978, reuniĂŁo no CEDI, antes de viajar para atender a pedidos em CrateĂşs e Aratuba (CE), PropriĂĄ (SE) e Natal (RN) e visitar os amigos de JoĂŁo Pessoa (PB) e Recife (PE). No dia 27 de abril de 1978, vĂŁo ele e Jether a SĂŁo Paulo para conversar sobre o CEBI com a direção do Sedes Sapientiae.
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No dia 19 de junho de 1978, o bispo Paulo Ayres foi a Angra dos Reis e apresentou ao frei Carlos o pastor Iranildes EstĂĄcio Dutra, que alegremente aceitou ser o secretĂĄrio executivo do CEBI. Nos dias 22 e 23 de junho, no Rio de Janeiro, com o pessoal do CEDI, ĂŠ elaborado o primeiro projeto a ser enviado Ă instituição holandesa: Organização CatĂłlica de Financiamento para Programas de Desenvolvimento (CEBEMO) e que ĂŠ assinado por Carlos Mesters, diretor; Jether Ramalho, do conselho diretor; e Carlos Cunha, assessor teolĂłgico. A primeira Circular, datada de 28 de junho de 1978, assim começa: “)RUPXODPRV D SUHVHQWH SDUD LQIRUPi OR RÂżFLDOPHQWH GD FULDomR RX RUJDnização do Centro de Estudos BĂblicos – CEBI – com sede no Convento do Carmo, Angra dos Reis (RJ). O mesmo funcionarĂĄ em carĂĄter ecumĂŞnico, podendo participar dos cursos tanto catĂłlicos como evangĂŠlicos.â€? No dia 12 de maio de 1979, reuniĂŁo em Angra dos Reis com alguns representantes do CEDI, para tratar da estruturação do CEBI. Foi entĂŁo marcada para 20 de julho de 1979 a Assembleia de Fundação que foi FHOHEUDGD HP GHQVR FOLPD HFXPrQLFR SHOD SUHVHQoD GH UHSUHVHQWDQWHV GH YiULDV LJUHMDV VREUHWXGR SHOD FRPXQKmR GH REMHWLYRV H SUHRFXSDo}HV 3DUD todos era tranquilo que a “BĂblia ĂŠ marco de referĂŞncia da fĂŠ para o trabalho e tambĂŠm ĂŠ marco ecumĂŞnicoâ€?, como consta na resenha da reuniĂŁo de 23 de janeiro de 1978.
(YROXomR Em todas as Atas de Assembleia da entidade, por mais formais que tenham sido, a dimensĂŁo ecumĂŞnica aparece como uma tĂ´nica constante. 9iULDV VXJHVW}HV IRUDP GDGDV SDUD GLQDPL]DU R HFXPHQLVPR QR CEBI. &XPSUH DQRWDU DOJXPDV WHQWDWLYDV GHL[DQGR GH ODGR D ([SHULrQFLD (FXPrQLFD GR CEBI/SUL, objeto de matĂŠria Ă parte.
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No primeiro semestre de 1980, o pastor Zwinglio e o Eliseu foram a Vitória para contatar com pastores e lÃderes presbiterianos. Em setembro, naquela cidade, em um curso de atualização assessorado por Frei Carlos, IRUDP SURJUDPDGDV YiULDV UHXQL}HV GH FDUiWHU HFXPrQLFR Em 1981, Zwinglio, em nome do CEDI, e Eliseu, em nome do CEBI, assessoraram um encontro de pastores e pastoras metodistas. Outro encontro análogo foi assessorado por LetÃcia Ligneul, do CEDI, e Vera M. Lopes, do CEBI, em Piracicaba. Para a Semana Nacional de Estudos o CEDI sempre foi convidado e, na medida do possÃvel, se fez presente. Assim também para o Curso GH &DSDFLWDomR $ GL¿FXOGDGH GHVVH FXUVR p TXH GXUDYD XP PrV $VVLP mesmo, em 1981, o pastor José Bittencourt participou. A preocupação com o Ecumenismo está presente em todas as UHXQL}HV GR &RQVHOKR GR CEBI. Ao longo desses anos, tem-se insistido sobre a necessidade e a XUJrQFLD GH XPD ³FRQYHUVmR HFXPrQLFD´ GH WRGRV DTXHOHV TXH VH LGHQWL¿cam com os objetivos do CEBI. Tem-se insistido que não basta a alegação GH TXH VH ID] XPD OHLWXUD HFXPrQLFD GD %tEOLD QHP GH TXH VH SDUWLFLSD GD HFXPrQLFD OXWD GR SRYR 3RU FLUFXQVWkQFLDV KLVWyULFDV H FRQMXQWXUDLV R CEBI HP PXLWDV UHJL}HV DSUHVHQWD XP URVWR FRQIHVVLRQDO 2 JUDQGH GHVD¿R p ID]HU FRP TXH HOH UHDOPHQWH WRPH IHLo}HV HFXPrQLFDV
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2 &(%, e o ecumenismo2 Marcelo de Barros Souza
'H YH] HP TXDQGR D WHOHYLVmR EUDVLOHLUD QRWtFLD GRLV LUPmRV JrPHRV TXH SRU DFDVR VH GLVWDQFLDUDP QD LQIkQFLD ÂżQDOPHQWH VH UHHQFRQWUDP RX atĂŠ mesmo se conhecem pela primeira vez. Evidentemente, a reportagem colhe a emoção do primeiro abraço, ou as lĂĄgrimas felizes da confraternização. Lembro-me bem de ter visto cenas assim na Globo por ocasiĂŁo das ~OWLPDV HOHLo}HV H GD SURFXUD GRV QRYRV WtWXORV HOHLWRUDLV De um modo diferente e sem muitos se darem conta, esta mesma realidade de reconhecimento fraterno tem ocorrido no CEBI. No lugar dos tĂtulos eleitorais tem sido a BĂblia que proporciona a cristĂŁos de diferentes ,JUHMDV D UHGHVFREHUWD IHOL] TXH VmR LUPmRV H TXH WrP D PHVPD YRFDomR H uma missĂŁo neste mundo. A histĂłria das Igrejas testemunha que a BĂblia fechada ĂŠ o livro de todos os cristĂŁos. Quando aberta parece que a BĂblia tem provocado posio}HV RSRVWDV LQWHUSUHWDo}HV GLYHUJHQWHV H GLYLV}HV HQWUH ,JUHMDV Cada uma aprendeu entĂŁo a se automanter. A BĂblia foi entĂŁo lida GH PRGR FRQIHVVLRQDO H jV YH]HV OHYRX PDLV DV SHVVRDV jV RUJDQL]Do}HV eclesiĂĄsticas que ao Cristo vivo.
2 Publicado em Por TrĂĄs da Palavra, n. 43, p. 6-8, 1987, CEBI, e n. 50, p. 7-10, 1989.
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No Brasil, o CEBI tem experimentado um novo modo de ler a BĂblia. 2 SRQWR GH SDUWLGD p D UHDOLGDGH FRQĂ€LWLYD GR QRVVR SRYR H D SUiWLFD GDV comunidades cristĂŁs populares. O jeito de ler ĂŠ levar a sĂŠrio o prĂłprio texto, inseri-lo no contexto histĂłrico, escutĂĄ-lo comunitariamente e na celebração GD Ip /r VH SDUD REHGHFHU j 3DODYUD GH 'HXV QD SUiWLFD GD YLGD -i p XPD descoberta comum no CEBI que ou este processo se farĂĄ ecumenicamente ou nĂŁo serĂĄ possĂvel. Por vĂĄrios motivos. Na descoberta profunda da histĂłria e do texto bĂblico, cada Igreja tem uma contribuição importante a dar. SĂł no diĂĄlogo e no aprendizado comum, cada Igreja poderĂĄ relativizar seus sectarismos e se abrir de novo Ă profecia que vem do EspĂrito. Lutando pela unidade e organização dos pequenos, os cristĂŁos nĂŁo podem continuar divididos. SĂł unidos poderĂŁo cumprir a difĂcil missĂŁo que lhes compete atualmente. Nos Ăşltimos anos, as Igrejas descobriram que a missĂŁo consiste em servir ao Reino de Deus. Isso implica em construĂ-lo no meio dos homens. Por causa disso essas Igrejas se inseriram nos movimentos populares pela justiça, pela terra e pela libertação. Tanto no Brasil como em outros paĂses, hĂĄ cristĂŁos de Igrejas diferentes trabalhando juntos no meio de lavradores, de operĂĄrios, de Ăndios, etc. A Pastoral da Terra tem algumas regionais coordenadas em comum SRU LUPmRV GD ,JUHMD (YDQJpOLFD GH &RQÂżVVmR /XWHUDQD QR %UDVLO H SRU FDWylicos. Eles sentem que realizando juntos aquele trabalho estĂŁo construindo a comunidade das Igrejas. Sem dĂşvida, este ĂŠ um fator importantĂssimo, mas o que ocorre ĂŠ que se esta caminhada comum no campo sociopolĂtico nĂŁo ĂŠ acompanhada por um diĂĄlogo e um esforço de encontro maior no nĂvel propriamente da fĂŠ e da eclesialidade, nĂŁo sĂł este excelente trabalho HP FRPXP QmR EHQHÂżFLDUi WRGD D ,JUHMD FRPR SRXFR D SRXFR RFRUUHUi uma desintegração e separação entre a fĂŠ e a luta, que justamente vai no sentido oposto ao pensamento e ação deles. A luta caminharia ecumeniFDPHQWH $t D Ip H DV FHOHEUDo}HV FRQWLQXDULDP VHSDUDGDV 4XDO D UD]mR
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disso? SerĂĄ que nĂŁo mereceriam a atenção e um cuidado maior? Ou se pensa que enfrentando esses pontos intereclesiais poderĂamos diminuir a OXWD SHOR 5HLQR TXH WHP FDUiWHU GH XUJrQFLD H FRQVLVWH FRQFUHWDPHQWH QR serviço do povo? (VWH DVVXQWR Mi WHP VLGR JUDoDV D 'HXV UHĂ€HWLGR SRU LUPmRV GH vĂĄrias Igrejas. Nesse sentido, como o CEBI lida diretamente com a BĂblia H D VXD OHLWXUD WHP XPD FRQWULEXLomR ~QLFD H HVSHFtÂżFD QD FRQVWUXomR GR diĂĄlogo e da unidade das Igrejas. Aprofundando uma leitura da BĂblia a partir da realidade e das lutas do povo, o CEBI tem a chance de desenvolver um ecumenismo, ao mesmo tempo eclesial e teolĂłgico, como tambĂŠm engajado e popular. É uma graça de Deus que isto ocorra agora, porque a conjuntura internacional de algumas Igrejas, como a prĂłpria Igreja CatĂłlica, nĂŁo tem sido favorĂĄvel ao Ecumenismo, como foi hĂĄ vinte anos. O passo fundamental para o Ecumenismo ĂŠ realmente uma atitude SHQLWHQFLDO XPD FRQVFLrQFLD FUtWLFD VREUH D VXD UHDOLGDGH SHFDGRUD SRU parte de cada Igreja. Qualquer triunfalismo de cristandade, ou fortalecimento das estruturas eclesiĂĄsticas nĂŁo ajudam a caminhada comum das Igrejas cristĂŁs. Nesse sentido, o Ecumenismo aparece como um apelo fundamental e evangĂŠlico Ă ConversĂŁo e Ă permanente transformação. (VWD SRVWXUD FRQWUiULD j DXWRVVXÂżFLrQFLD OHYD RV FULVWmRV H SDVWRUHV a procurarem se conhecer melhor uns aos outros. Evidentemente, este conhecimento mĂştuo se dĂĄ no nĂvel do encontro humano. DĂĄ-se entĂŁo uma descoberta de valores comuns e de problemas DÂżQV TXH VXVFLWD FRPSDQKHLULVPR H DPL]DGH O CEBI 6XO WHP H[SHULrQFLDV H[FHOHQWHV GH HQFRQWURV H FXUVRV GH SDGUHV H SDVWRUHV (P RXWUDV UHJL}HV FRPHoDP FRQWDWRV TXH QRV GmR PXLWDV esperanças.
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(VVDV H[SHULrQFLDV QmR WHUmR FRQVHTXrQFLDV YiOLGDV H GXUDGRXUDV se desde jรก cada um em seu trabalho diรกrio e em sua prรณpria Igreja nรฃo desenvolver uma ecumenicidade que esteja presente em cada elemento da fรฉ e do trabalho. e QHFHVViULR TXH DV FHOHEUDo}HV D IRUPDomR EtEOLFD H GRXWULQDO H a organizaรงรฃo diรกria de cada Igreja sejam nรฃo sectรกrias, mas tenham uma WHRORJLD H XPD HVSLULWXDOLGDGH HFXPrQLFD
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8P GLiORJR HFXPrQLFR FHOHEUDWLYR entre os SREUHV3 Agostinha Vieira de Mello
Impressiona como os pobres levam a sĂŠrio a Palavra de Deus. Porque a leem (acolhem) do lugar da empobrecida pobreza dos pobres. Porque a leem (ruminam) nĂŁo tanto para analisĂĄ-la, mas para praticĂĄ-la. Porque a leem (a levam) na prĂłpria direção para a qual a BĂblia aponta: o rumo das minorias oprimidas (o “restoâ€?) TXH PDQWrP D esperança. 2V SREUHV WrP R ÂłIDUR´ GH “pequeno restoâ€?: acreditam no futuro apesar do presente, furam a histĂłria... Surpreendem os pĂŠs de barro dos Ădolos “vencedoresâ€?. Quando procuram e descobrem este rumo, nĂŁo o fazem unicamente e nem em primeiro lugar atravĂŠs do discurso, da anĂĄlise, do raciocĂnio, mas atravĂŠs de um processo mais amplo que envolve todos os aspectos da YLGD D FRQYLYrQFLD DV celeEUDo}HV as poesias, as lutas, as reuQL}es de grupos, os passos da caminhada. O ecumenismo entre os pobres tambĂŠm experimenta e percorre este mesmo rumo. Aqui no Nordeste ĂŠ este ecumenismo que vai irrompendo. Muito lentamente. É a planta que pega mais. Mas os passos sĂŁo lentos, nĂŁo computĂĄveis. Diria, para alĂŠm do que as Igrejas possam registrar. 3 Publicado em Por TrĂĄs da Palavra, n. 42, p. 6-8, 1987, CEBI.
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Vou relatar dois episĂłdios-sinais. SĂŁo memĂłrias desse “futuro ecuPrQLFR´ TXH GH UHVWR HVWi sendo trabalhado em outros nĂveis Brasil afora.
2 ÂłIDUR´ QR FKmR GH ÂłFDSLP GH FKHLUR´ 2 KRUL]RQWH p R GH FRQĂ€LWR GH WHUUD 2 UHSHWLGtVVLPR quadro da iniquidade do latifĂşndio desenfreado. 8PD OXWD XPD UHVLVWrQFLD de anos dos agricultores de “capim de cheiroâ€?. No Nordeste de muitas pobrezas e de muitas riquezas. No meio desta luta foi, um dia, celebrada uma missa pelo bispo. Entre os agricultores havia um, seu AntĂ´nio, da Assembleia de Deus. Velho e lutador. Velho e atuante. Velho e novo na disposição de enfrentar a dominação dos proprietĂĄrios. Velho e novo, simplesmente. Na hora da comunhĂŁo, lĂĄ estava ele. E comungou. ApĂłs a celebração, as rodas de conversa. Foi-lhe perguntado: – Seu AntĂ´nio, por que o sr. comungou? Serenamente, seu AntĂ´nio respondeu: – Pois eu comungo na pobreza, eu comungo no luto, eu comungo na terra, eu comungo na vida de agricultor, eu comungo nesta caminhada... nĂŁo haveria de comungar nesta hora de fĂŠ e de irmandade?
2 ³IDUR UHVSRVWD´ GH XPD PXOKHU SREUH Foi contado este episódio a uma agricultora católica, de outra årea, tambÊm de coQÀLWR de terra. É poetisa e reagiu com sua arma. Fez estes versos:
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De Capim de Cheiro sinto um aroma parece de MoisĂŠs o braseiro. Seu AntĂ´nio comungando Deus falando... Uma mesa posta pra mim ĂŠ proposta. Uma comida bem temperada no roçado da vida colocada. Um “nĂŁoâ€? Ă cana e ao capim, na luta e na roça um “simâ€?. Um irmĂŁo que come com a gente e engrossa a corrente com a mĂŁo e o pĂŠ QD ÂżUPH]D da fĂŠ. Um velho e a esperança da vitĂłria sem tardança Do roçado da dor, uma luz das coisas de Jesus Guardo essa comunhĂŁo como um bendito de louvação. Creio no caminho que a Palavra estĂĄ fazendo na vida e no coração dos pobres. Deles aprendo este ecumenismo. Artesanato exigente, cujo SURGXWR DSRQWD SDUD XP PXQGR VHP GRPLQDo}HV 0XQGR GH XP Vy 6HQKRU D TXHP VHUYLUHPRV FRP H[SUHVV}HV GLYHUVDV
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'HUUXEDQGR DV VHSDUDo}HV4 Jether Pereira Ramalho
8PD GDV PDLV IRUWHV H[SUHVV}HV HFXPrQLFDV p D TXH HQFRQWUDPRV QD carta aos EfĂŠsios no capĂtulo 2, principalmente nos versĂculos de 11 a 22. Paulo proclama que no ministĂŠrio de Jesus nĂŁo hĂĄ diferença entre judeus e gentios, porque Cristo quebrou o muro da separação entre eles. 2 PRYLPHQWR HFXPrQLFR WHP LQVLVWLGR HP PRVWUDU TXH D YHUGDGHLUD paz sĂł serĂĄ alcançada quando entendermos na sua plenitude e radicalidade R TXH VLJQLÂżFD D H[WHQVmR GHVWD JUDoD Âą WRGRV VHUHP UHFRQFLOLDGRV HP XP sĂł corpo com Deus, por meio da cruz de Cristo (v. 16). $V FRQVWUXo}HV GDV GLYLV}HV HQWUH RV SRYRV H PHVPR GHQWUH HOHV sĂŁo motivadas por muitas causas: econĂ´micas, polĂticas, culturais e atĂŠ UHOLJLRVDV (VVDV GLYLV}HV WrP RULJHQV KLVWyULFDV H LPSHGHP D YHUGDGHLUD paz na humanidade. Nos Ăşltimos anos elas vĂŁo se tornando mais evidentes e perigosas e sente-se todo um movimento no sentido de atenuĂĄ-las. Mas a OLomR GR &ULVWR p PDLV UDGLFDO DÂżUPD TXH VH QHFHVVLWD GHUUXEDU D VHSDUDomR que divide os homens e nĂŁo simplesmente humanizar essas diferenças e FRQWUDGLo}HV 2 HVFkQGDOR DLQGD PDLRU p TXH HVVDV GLYLV}HV WDPEpP VmR DOLPHQtadas nas prĂłprias igrejas cristĂŁs. Motivos diversos dividiram o corpo de 4 Publicado em Por TrĂĄs da Palavra, n. 40, p. 7-8, 1987, CEBI.
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Cristo em muitas partes ao longo da sua histĂłria. Houve momentos trisWHV HP TXH HVVDV H[SUHVV}HV HFOHVLiVWLFDV FRPSHWLDP HQWUH VL FKHJDQGR mesmo a criar inimizades e rancores, esquecendo que o amor de Cristo H[FHGH D WRGDV HVVDV LQFRPSUHHQV}HV H DSHOD SDUD D QRVVD XQLGDGH &RPR pode o mundo crer na mensagem da salvação de Jesus quando aqueles que WrP D REULJDomR PDLRU GH DQXQFLi OD HVWmR GHVXQLGRV H DSHJDGRV jV VXDV FRQÂżVV}HV SDUWLFXODUHV" 2 PRYLPHQWR HFXPrQLFR GR VpFXOR XX, certamente inspirado pelo (VStULWR GH 'HXV HVWi FRQFODPDQGR D WRGRV RV FULVWmRV SDUD DWRV GH SHQLWrQcia, reconhecendo suas falhas mĂştuas. É preciso com humildade trabalhar para derrubar os falsos muros de separação que construĂmos e que estĂŁo obsoletos e ultrapassados. O nosso compromisso maior e mais profundo ĂŠ com a mensagem de Cristo, a verdadeira paz, que ĂŠ capaz de nos reconciliar plenamente no corpo de Deus, quebrando as barreiras construĂdas pelos homens. Mas o nosso compromisso ĂŠ ainda maior e temos que lutar pela prĂłpria unidade do povo, quando entĂŁo os sinais do Reino se tornarĂŁo mais evidentes e a justiça, a paz e a igualdade serĂŁo os seus marcos decisivos.
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5HI OH[}HV
BĂblia e ecumenismo O interesse pelo ecumenismo manifestou-se, especialmente depois do 9DWLFDQR ,, PDLV TXH HP RXWUDV DWLYLGDGHV HFXPrQLFDV QD SURPRomR FRQjunta da difusĂŁo, do estudo e novo apreço da Sagrada Escritura. CristĂŁos GH GLYHUVDV WUDGLo}HV UHFRQKHFHP TXH QmR FRQVHJXLPRV SRU QRVVR SUySULR esforço, encontrar a unidade em Cristo, menos ainda realizĂĄ-la, mas continuamos dependentes de sua mediação atravĂŠs do EspĂrito Santo. Conforme o testemunho bĂblico, isto sucede pela palavra do Senhor e por seus sacramentos, com o auxĂlio das diversas formas de serviço de todo o povo de Deus. Visto que a nossa comunhĂŁo em Cristo ĂŠ mediada pela palavra de Deus, conferida, normativamente, Ă Igreja na BĂblia, o escutar conjunto GD SDODYUD H D SHUPDQrQFLD ÂżHO QR ~QLFR (YDQJHOKR &I *iODWDV constituem passos indispensĂĄveis no caminho para a plena unidade. Um passo essencial e necessĂĄrio nesta caminhada rumo Ă unidade consiste, portanto, em que as Igrejas, sempre de novo, orientem-se conjuntamente pelo testemunho da Escritura Sagrada e vivam Ă luz desse testemunho. (VVD RULHQWDomR FRQMXQWD LQFOXL WUDGXo}HV FRPHQWiULRV GH OLYURV EtEOLFRV e o estudo comum da Escritura Sagrada por teĂłlogos e ministros de conÂżVV}HV GLIHUHQWHV H SRU JUXSRV GH FRPXQLGDGHV GH EDVH LQLFLDWLYDV SDUD DV quais jĂĄ hĂĄ numerosos exemplos em nossos dias. Na questĂŁo teolĂłgica da relação entre Escritura e Tradição, hĂĄ consenso de que nĂŁo se pode mais, de modo exclusivo, opor Escritura Ă Tradição, pois o prĂłprio Novo Testamento ĂŠ um produto da Tradição Original ApostĂłlica. Como tal, porĂŠm, corresponde Ă Escritura uma função normativa para toda tradição posterior da Igreja (cf. Vat II, DV 10;24).
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Por outro lado, GHVWDFRX VH FRPR GLÂżFXOGDGH ODWHQWH TXH OHPRV as Escrituras de diferentes maneiras e enfatizamos diferentes aspectos de nossa compreensĂŁo de textos que dizem respeito Ă doutrina peculiar de QRVVD FRQÂżVVmR 1HVVH contexto ĂŠ de importância decisiva que na teologia, na prĂĄtica da pregação e no estudo comunitĂĄrio da BĂblia, seja tomado em consideração o conteĂşdo inteiro e toda a riqueza da Escritura Sagrada, cujo centro vivo ĂŠ o prĂłprio Cristo, e nĂŁo sĂł uma seleção dela. Isto, porĂŠm, nĂŁo exclui que as Igrejas enfatizem certos temas e textos bĂblicos que WrP um VLJQLÂżFDGR HVSHFLDO QR VHX FRQWH[WR histĂłrico concreto (p. ex., o motivo do r[RGR GD OLEHUWDomR HP QRVVD situação latino-americana). NĂŁo se trata simplesmente ignorarmos nossas diversas tradio}HV HFOHVLDLV H desta maneira abandonarmos a nossa prĂłpria identidade histĂłrica. Essas nossas diversas WUDGLo}HV VH SXULÂżFDdas por um processo crĂtico-renovador pela Palavra de Deus, nĂŁo precisam impedir necessariamente nosso ouvir comum do Evangelho, mas podem complementar e enriquecer nossa interpretação da BĂblia em função do testemunho profĂŠtico no mundo de hoje. A visĂŁo da unidade na diversidade corresponde a uma interpretação comunitĂĄria (inclusive a renĂşncia Ă vaidade confessional e o respeito pela convicção de fĂŠ dos outros) inserida na situação concreta do povo e a serviço de sua libertação integral. A BĂblia ĂŠ o livro do povo de Deus e por isso o povo tambĂŠm ĂŠ o sujeito de sua interpretação correta. No contexto latino-americano o HFXPHQLVPR H D KHUPHQrXWLFD GD BĂblia sĂŁo fundamentalmente fruto da YLYrQFLD GRV SREUHV e de sua luta pela libertação da opressĂŁo para superar estruturas injustas e construir uma sociedade verdadeiramente digna da pessoa humana. Nesta grande tarefa comum, o ecumenismo e a BĂblia cooperam e se condicionam mutuamente. Bertholdo Weber5 5 Publicado em Por TrĂĄs da Palavra, n. 41, p. 3-4, 1987, CEBI.
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Confesso que pensei um bocado para encontrar alguma imagem, DOJXP JDQFKR TXH Âż]HVVH GHVODQFKDU HVWH DUWLJR VREUH %tEOLD H (FXPHnismo. De repente, por umas duas semanas, bateu um branco e essas duas TXHVW}HV SDUHFLDP GH IDWR HQWLGDGHV WRWDOPHQWH GLVWLQWDV XPD GD RXWUD Mas aĂ, ao visitar minha estante. Ah! Velha estante amiga... deparei-me com um texto de Milton Schwantes sobre a “tomada da terraâ€?. Veio entĂŁo DOJXPD LQVSLUDomR TXH HX DJRUD GHL[R WUDQVSLUDU DWp YRFrV Segundo as teorias predominantes entre os especialistas, a conquista GH &DQDm SRU ,VUDHO WHULD VLGR RX SRU LQYDVmR RX SRU LQÂżOWUDomR 0DV 0LOWRQ H RXWURV SURS}HP TXH WHULD HP YHUGDGH VH WUDWDGR GH XP JUXSR GH SHVVRDV oprimidas, os “hapiruâ€? (hebreus), com a proposta de uma ordem social alternativa. Estes teriam se rebelado contra a tirania das cidades-estados e rejeitado tambĂŠm os deuses hierĂĄrquicos do impĂŠrio totalitĂĄrio. Assim, na margem, a partir de diferentes grupos marginalizados, teria surgido um pacto tribal que vislumbrava o estabelecimento de uma sociedade com cores mais justas, tons mais igualitĂĄrios. E JavĂŠ, o Deus do ĂŠxodo, selaria este comprometimento. A lei foi justamente introduzida para regular o relacionamento social, valorizando as categorias marginalizadas como viĂşvas, ĂłrfĂŁos, estrangeiros e, por que nĂŁo dizer, a prĂłpria terra, tĂŁo explorada por plantios avassaladores. Deu para me acompanhar atĂŠ aqui? O problema agora ĂŠ relacionar isto com o tema proposto: BĂblia e ecumenismo. Mas isso nĂŁo ĂŠ tĂŁo difĂcil nĂŁo. Vejam sĂł. Volta e meia estes “hapiruâ€? se reuniam em assembleias tribais para discutir o prosseguimento da caminhada deste projeto de nova VRFLHGDGH ( ID]LDP LVWR DR UHGRU GD /HL GD WUDGLomR FRPXQLWiULD FRGLÂżcada, como atesta o texto de JosuĂŠ 8,30-35. A aliança marginal era, entĂŁo, renovada mediante a Palavra de Deus, na presença da margem. Ouçamos, pois, o v. 35: “Palavra nenhuma houve, de tudo o que MoisĂŠs ordenara, que JosuĂŠ nĂŁo lesse perante toda a congregação de Israel, e das mulheres e dos meninos e dos estrangeiros, que andavam no meio delesâ€?. E nĂŁo ĂŠ isto que tambĂŠm acontece hoje, quando de leituras populares da
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BĂblia? Mulheres, negros, operĂĄrios, jovens, lavradores, se dĂŁo as mĂŁos e, DR UHĂ€HWLUHP VREUH D FRQĂ€LWLYD FDPLQKDGD GR SRYR GH 'HXV UHIRUoDP VXD aliança pelo estabelecimento de “novos cĂŠus e nova terraâ€?. A unidade ĂŠ dada pela posição marginal na estrutura social, pelo sonho do Reino, pela Palavra de Deus, pela prĂĄtica popular libertadora. Mas nĂŁo nos esqueçamos de que a sadia diversidade tambĂŠm estĂĄ presente. Categorias marginalizaGDV GH GLIHUHQWHV FRQÂżVV}HV UHOLJLRVDV GH YiULDV ÂłWULERV´ UHSDUWHP VXDV HVSHFLÂżFLGDGHV PRQWDQGR XP JUDQGH TXHEUD FDEHoDV HFXPrQLFR Sempre faltarĂŁo e surgirĂŁo novas peças. Isso ĂŠ bom e necessĂĄrio, A totalidade sempre estĂĄ em processo. E tambĂŠm nĂŁo nos devem alarmar as possĂveis diferenças “tribaisâ€?. Como diz Roberto Freire, “o consenso ĂŠ sempre parente do autoritarismo e da injustiça socialâ€?6. É ao trocarmos, HP DVVHPEOHLD QRVVDV ÂżJXULQKDV HVSHFtÂżFDV TXH PDQWHPRV DFHVD D IDtVFD da crĂtica e autocrĂtica do processo. E ĂŠ por aĂ que eu entendo o encontro HFXPrQLFR QD UHĂ€H[mR EtEOLFD JoĂŁo G. BĂehl7
Leitura bĂblica e ecumenismo podem relacionar-se de diferentes maneiras, e nĂŁo ĂŠ bom estabelecer princĂpios rĂgidos paro explicar a relação. O EspĂrito Santo ĂŠ criativo e sopra por onde quer, rompendo nossos HVTXHPDV H LGHLDV SUHÂż[DGDV e SRVVtYHO TXH QR SULQFtSLR HVWHMD D SUiWLFD HFXPrQLFD GRV FULVWmRV Por mais importante que seja o ecumenismo realizado em nĂvel institucioQDO p QDV FRPXQLGDGHV TXH HOH WHP DV PHOKRUHV FKDQFHV GH Ă€RUHVFHU 8PD KLVWyULD FRPXP GH RSUHVVmR UHVLVWrQFLD H OXWD PDUFD D YLGD GD PDLRULD GRV brasileiros, dando-lhes uma identidade caracterĂstica. Na prĂĄtica, percebe-se que a solidariedade no sofrimento, na esperança e na luta aproxima 6 FREIRE, R.; BRITO, F. Utopia e paixĂŁo: a polĂtica do cotidiano. Rio de Janeiro: Rocco, 1984, p. 23. 7 Publicado em Por TrĂĄs da Palavra, n. 37, p. 7-8, 1986, CEBI.
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DV SHVVRDV VXSHUDQGR VXDV GLIHUHQoDV GH Ip $ÂżQDO D GHIHVD GD YLGD H R FRPEDWH j PRUWH VmR PDLV LPSRUWDQWHV TXH FRQÂżVV}HV GH Ip Dentro desse contexto vemos com gratidĂŁo e alegria que pessoas de GLIHUHQWHV GHQRPLQDo}HV VH XQHP SDUD FRQVFLHQWL]DU VH D UHVSHLWR GH VHXV GLUHLWRV TXH HVWmR VHQGR SLVRWHDGRV SDUD RUJDQL]DU VH H OXWDU D ÂżP GH UHVJDtar sua dignidade de criaturas de Deus. Naturalmente, a BĂblia desempenha Dt R VHX SDSHO %DVWD OHPEUDU R SDSHO GD UHĂ€H[mR EtEOLFD QRV DFDPSDPHQtos de colonos sem-terra. A trajetĂłria do povo de Deus no Antigo e Novo 7HVWDPHQWR VHUYH GH SDUkPHWUR UHĂ€HWLU D WUDMHWyULD DWXDO GR SRYR VRIULGR H espoliado, que luta sem perder a esperança de viver dias melhores. e SRVVtYHO WDPEpP TXH QR SULQFtSLR HVWHMD D SUySULD UHĂ€H[mR EtEOLFD CristĂŁos sinceros, que leem a BĂblia como um testemunho da histĂłria de um povo com seu Deus, e de Deus com o seu povo, muito cedo vĂŁo ter os seus olhos abertos. É difĂcil (embora comum) ler a BĂblia sem ouvir o apelo que Deus faz ao nosso contexto, Ă nossa situação, ao nosso povo. É difĂcil ouvir o clamor do povo de Deus na BĂblia e tapar os ouvidos para o clamor de nosso povo. É difĂcil ler a BĂblia sem divisar com clareza o seu centro: a libertação histĂłrica do povo hebreu da escravidĂŁo egĂpcia; a cruz de Cristo, como FRQVHTXrQFLD GH VHX FRPSURPLVVR ÂżHO FRP D FDXVD GH 'HXV QHVWH PXQGR H como fruto dos poderes constituĂdos a serviço da morte alheia; a ressurreição de Cristo como um atestado divino da causa justa que ele representou. Quando a leitura bĂblica divisar este centro da Escritura, estarĂŁo GDGDV DV FRQGLo}HV SDUD R HQJDMDPHQWR GH WRGRV RV FULVWmRV QD OXWD FRPprometida por paz e justiça em nosso paĂs. Inicia-se entĂŁo um processo HP TXH D SUiWLFD HFXPrQLFD GDV FRPXQLGDGHV YDL GHL[DU LQVSLUDU QRV SHOR testemunho bĂblico do povo de Deus, enquanto a leitura bĂblica haverĂĄ de clarear a luta libertadora dos cristĂŁos, de acordo com o projeto que Deus tem com a nossa histĂłria. Verner Hoefelmann8 8 Publicado em Por TrĂĄs da Palavra, n. 38, p. 4-5, 1987, CEBI.
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A Bíblia é um livro sem preconceitos, porque o seu Deus não tem SUHFRQFHLWR -DYp p XP 'HXV TXH QmR Yr GL¿FXOGDGHV HP VH UHXQLU FRP outros deuses para promoção do bem-estar no mundo. Leiamos o Salmo 82, porque se situa nesta perspectiva: Deus se levanta no conselho divino, em meio aos deuses ele julga: Até quando julgareis injustamente, sustentando a causa dos ímpios? Protegei o fraco e o órfão, fazei justiça ao pobre e ao necessitado, libertai o fraco e o indigente, livrai-os da mão os ímpios! Eles não sabem, não entendem, vagueiam em trevas: todos os fundamentos da terra se abalam. Eu declarei: Vós sois deuses, WRGRV YyV VRLV ¿OKRV GR $OWtVVLPR contudo, morrereis como um homem qualquer, caireis como qualquer um dos príncipes. Levanta-te, ó Deus, julga a terra, SRLV DV QDo}HV WRGDV SHUWHQFHP D WL O relacionamento e a participação no governo do mundo iam muito bem até que um dia Javé percebeu que seus companheiros estavam sendo negligentes em suas responsabilidades e, assim, colocando em risco a estabilidade do mundo. Na verdade, os deuses não estavam levando a sério o compromisso de devolver aos carentes a dignidade de vida e corrigir os excessos daqueles que provocavam tais irregularidades. A Bíblia narra que Deus está sempre pronto a sentar-se à mesa com aqueles que trabalham para a reconstrução do mundo. Da mesma forma,
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Jesus nĂŁo teve preconceito para com os pecadores, porque sua missĂŁo era a de trazer o bem-estar e a vida Ă sociedade. NĂŁo hĂĄ como fugir a esta verdade! Deus sempre se recusa a participar de uma reuniĂŁo quando este grupo nĂŁo pretende lutar pela promoção do bem comum e recriar condio}HV SDUD XPD YLGD tQWHJUD GRV VHUHV KXPDQRV H GR PXQGR $ LUD GH 'HXV nasce exatamente quando homens e mulheres nĂŁo pretendem trabalhar juntos pela paz, pela justiça, pela lealdade, pela solidariedade e pela bondade. 1HVVH FDVR R 'HXV GD %tEOLD QmR p HFXPrQLFR H QmR WRPD SDUWH HP UHXQL}HV TXH PDTXLQDP R PDO H DUWLFXODP D PDQLSXODomR GRV VHUHV KXPDQRV para o seu prĂłprio benefĂcio. ($ÂżQDO SDUD TXH VHUYH JDVWDU WHPSR FRP IHVWLYDV UHXQL}HV HJRtVWDV e sem sentido?) Toda esta histĂłria ĂŠ lembrada agora para dar ânimo e força na caminhada do povo. Para a BĂblia, hĂĄ ecumenismo quando as forças do povo estiverem voltadas para a recuperação da plenitude da vida dentro do mundo. Consequentemente, o ecumenismo se dĂĄ somente quando as forças vivas da sociedade se reunirem para se opor Ă articulação do mal, j IUDJPHQWDomR GD YLGD j GLYLVmR j IDOWD GH GLiORJR j GHSHQGrQFLD H j HVFUDYLGmR (VWH HQVLQR D %tEOLD QRV OHJRX GH PRGR HFXPrQLFR TĂŠrcio Machado Siqueira9
9 Publicado em Por TrĂĄs da Palavra, n. 36, p. 4, 1986, CEBI [Republicado em: BĂblia e HFXPHQLVPR 8P JUDQGH GHVDÂżR Suplementos e SubsĂdios do Por TrĂĄs da Palavra, n. 3, p. 30-31, 1988].
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(FXPHQLVPR D SDUWLU GRV SHTXHQRV10 Sandro Gallazzi
Talvez seja interessante, como rHĂ€exĂŁo sobre a questĂŁo ecumrnica, meditar um pequeno trecho do Evangelho de Marcos, colocado no coração do conjunto das H[LJrQFLDV feitas por Jesus Ă queles que o quiserem seguir. JoĂŁo disse a Jesus: “Mestre, vimos um homem que expulsa demĂ´nios em teu nome. Mas nĂłs lhe proibimos porque ele nĂŁo nos segueâ€?. Jesus disse: “NĂŁo lhe proĂbam, pois ninguĂŠm faz um milagre em meu nome e depois pode falar mal de mim. Quem nĂŁo estĂĄ contra nĂłs, estĂĄ a nosso favor. Eu JDUDQWR D YRFrV TXHP GHU SDUD YRFrV XP FRSR GH iJXD SRUTXH YRFrV VmR GH &ULVWR QmR ÂżFDUi VHP UHFHEHU VXD UHFRPSHQVD´
A proposta do seguimento de Jesus ĂŠ colocada, por Marcos, na segunda parte do seu Evangelho, de 8,27 atĂŠ 10,52. Esta proposta ĂŠ marFDGD SHOD WUtSOLFH DÂżUPDomR GH -HVXV TXH DQXQFLD D SUR[LPLGDGH GH VXD SDL[mR PRUWH H UHVVXUUHLomR V 2 SDQR GH IXQGR ÂżFD assim marcado por uma decisiva caminhada rumo a JerusalĂŠm, o centro do poder dominador, que matarĂĄ o Filho do Homem. Esta parte do Evangelho, que segue ao segundo anĂşncio da paixĂŁo (9,32-10,31), explicita a importância que os PEQUENOS devem ter aos olhos do discĂpulo-seguidor de Jesus. Eles devem ser “recebidosâ€? (9,37), 10 Publicado em Por TrĂĄs da Palavra, n. 42, p. 3-5, 1987, CEBI.
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não devem ser escandalizados (9,42), não podem ser “impedidos” de chegar até ele (10,14), pois deles é o reino de Deus. 2V SHTXHQRV VH WRUQDP R PRGHOR GD DXWrQWLFD DFROKLGD GR 5HLQR H o critério da entrada no mesmo (10,15). Eles são, ao mesmo tempo, destinatários privilegiados da ação do discípulo e critérios da mesma, modelos exemplares do seguidor de Jesus. O Pai, Jesus e os pequenos passam a fazer parte de uma realidade indissolúvel (9,37) que deve nortear a caminhada do discípulo. É neste conjunto que Marcos, quase de improviso, insere o trecho que estamos meditando. Vai ser difícil descobrir qual o problema presente na comunidade de Marcos e que está por trás deste alerta de Jesus: possiYHOPHQWH XP FRQÀLWR LQWHUQR HP FLPD GD IXQomR GH H[RUFLVPR" O que nos interessa é ver o rumo que Marcos nos aponta, para resolYHU QRVVDV GLYLV}HV HFOHVLDLV -RmR FKDPD -HVXV GH “Mestre” (9,38), mas, na realidade, João e parte da Igreja que ele representa estão caindo no equívoco maior. Os discípulos estão se colocando no lugar de Jesus. Aquele que “não nos segue” deve ser impedido, afastado. O motivo? Só este: “porque ele não nos segue”. Não importa que ele esteja fazendo o sinal maior que Marcos sempre nos presentou como sinal do reino que vem: expulsar os demônios; ele não é dos nossos, então não pode... Jesus devolve o rumo correto da ação do discípulo: o meu nome (8, 39). O gesto libertador, que arranca o pequeno da opressão mais diabólica, vale mais que todas a falas e FRQ¿VV}HV 4XHP ID] PLODJUHV QR PHX QRPH QmR YDL IDODU PDO GH PLP (P hipótese nenhuma, sob nenhum pretexto, ele pode ser impedido. Nenhum RXWUR PRWLYR p YiOLGR H VX¿FLHQWH Cerca de quarenta anos após a ressurreição de Jesus, Marcos vem apontando à sua comunidade o grande perigo que permanecerá ao longo de todos os séculos: fazer da Igreja, da “nossa” Igreja, um ídolo. É a ECLEIOLATRIA. O maior pecado, sempre presente em toda comunidade ou grupo eclesial. Trocar Jesus, trocar o pobre oprimido pelo grupo, pelos nossos, pelos que “nos” seguem.
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Eu acredito TXH XPD GDV UD]}HV GR DWUDVR GD caminhada HFXPrQLFD esteja justamente nessa tentação: cada igreja quer catalogar o seu grupo, quer ver quem sĂŁo os seus seguidores e esquece que o Ăşnico ponto de refeUrQFLD R nosso norte, ĂŠ dado exclusivamente por Jesus e pelos pequenos, sobretudo os oprimidos. O teste da eclesialidade ĂŠ expulsar os demĂ´nios, seja qual for a raça deles; ĂŠ ID]HU PLODJUHV QR QRPH GH -HVXV p WXGR TXH Âż]HUPRV SDUD acolher e receber os pequenos, para nĂŁo os impedir ou afastĂĄ-los. Para depois descobrir que o grande sinal ĂŠ feito ainda por eles, que nĂłs pretendĂamos socorrer, mas que sabem vir ao nosso encontro com um copo de ĂĄgua (9,41). SĂł daĂ vai sair o verdadeiro ecumenismo. Caminhar na mesma direção (o pobre oprimido) vai permitir o encontro de todas as igrejas, de todos os herĂŠticos, de todos os ateus. O entrave estĂĄ no fato de todos os grupos pretenderem falar bem de Jesus e querer demonstrar que os outros estĂŁo falando mal. NĂŁo nos esqueçamos de que o sinal do falar bem ĂŠ fazer milagres em nome dele. O seguimento de Jesus nĂŁo recebe sua OHJLWLPLGDGH GDV GLVFXVV}HV ÂżORVyÂżFDV RX WHROyJLFDV 'Dt QmR VDL R ecumenismo. NĂŁo se trata de eu ser mais eu para me encontrar com o outro. Ecumenismo nĂŁo ĂŠ catĂłlicos se encontrarem com luteranos, ou metodistas com pentecostais, mas sim catĂłlicos, luteranos, metodistas, pentecostais, etc., encontrarem-se ao redor do pobre e, por isso, ao redor do Ăşnico Jesus. Todo aquele que expulsa os demĂ´nios ĂŠ de Jesus. É com sabedoria que Marcos coloca o critĂŠrio Ăşnico da comunhĂŁo eclesial: “Quem nĂŁo estĂĄ contra nĂłs estĂĄ a nosso favorâ€? (9,40). NĂłs brigamos nas cĂĄWHGUDV RÂżFLDLV cada igreja pretendendo estar a favor de Jesus mais que as outras e esquecemos de nos perguntar se por acaso alguma estĂĄ contra. E se nenhuma, teologicamente, estĂĄ contra Jesus, nĂŁo nos esqueçamos, todos, de pedir perdĂŁo pelas inĂşmeras vezes que estivemos contra os pequenos, contra os pobres, do lado do opressor, do demĂ´nio.
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2 HFXPHQLVPR QR PRYLPHQWR SRSXODU11 SĂlvio Meincke
Na AmÊrica Latina, especialmente no Brasil, toma força o ecumeQLVPR GH EDVH 'LVWLQJXH VH WDQWR GR HFXPHQLVPR DFDGrPLFR GRV WHyORJRV quanto do ecumenismo de cooperação das igrejas institucionais. O ecumenismo de base Ê a pråtica da união que ocorre na luta solidåria libertadora dos oprimidos. Acontece nos segmentos populares marginalizados que se empenham na transformação social. Em outras palavras, o ecumenismo de EDVH p XP SURFHVVR TXH XQH DV SHVVRDV QDV RUJDQL]Do}HV SRSXODUHV e R HFXPHQLVPR GR PRYLPHQWR SRSXODU 3DUD FRPSUHHQGr OR SRLV p SUHFLVR antes, dizer algumas palavras sobre o movimento popular.
)X]LV FRQWUD IRLFHV Às seis horas de uma manhã de agosto, estacionam oito ônibus na Praça da Matriz, defronte do Palåcio do Governo, no centro de Porto Alegre. Em torno de 600 agricultores sem-terra descem dos ônibus. Trazem VXDV IHUUDPHQWDV GH WUDEDOKR ¹ IRLFHV HQ[DGDV H IDF}HV ¹ FRPR VtPERORV 11 Publicado em Por Trås da Palavra, n. 68, p. 5-12, 1992, CEBI [Publicado originalmente em Estudos Teológicos, ano 31, n. 1, p. 65-70, 1991).
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GH VXDV UHLYLQGLFDo}HV TXHUHP WHUUD SDUD SODQWDU ,PHGLDWDPHQWH DUPDP as suas tÃpicas barracas de lona preta nas sombras das árvores da Praça. Vieram para cobrar as promessas dos governos estadual e federal. As autoridades tinham prometido uma área da terra a esse grupo de agriculWRUHV SDUD DVVHQWDPHQWR GH¿QLWLYR $OJXQV GHOHV HVSHUDP Ki FLQFR DQRV armando as suas barracas e desarmando-as entre uma promessa e outra não FXPSULGD $JRVWR p R PrV GH SUHSDUDU D ODYRXUD SDUD DV VDIUDV GH YHUmR 6H QmR SODQWDUHP QDV SUy[LPDV VHPDQDV ¿FDUmR VHP FROKHU H RV ¿OKRV SDVVDUmR PDLV XP DQR GH IRPH 3RU LVVR TXHUHP XPD DXGLrQFLD FRP R governador. É para isso que vieram. Enquanto a maioria dos agricultores vindos à Praça se ocupam com a armação das barracas, seus representantes negociam, no Palácio, com os secretários estaduais da Agricultura e da Segurança. ,QHVSHUDGDPHQWH LJQRUDQGR DV QHJRFLDo}HV R FRPDQGR GD 3ROtFLD 0LOLWDU RUGHQD R DWDTXH FRP IX]LV EDLRQHWDV JiV ODFULPRJrQHR H PHWUDlhadoras. Os agricultores, apavorados, se defendem com as suas foices. 1R ¿P GR WXPXOWR FRQWDP VH XP SROLFLDO PRUWR H DJULFXOWRUHV IHULGRV vários deles baleados. Toda a grande imprensa volta-se contra os agricultoUHV TXDOL¿FDQGR RV GH EDQGLGRV DVVDVVLQRV IDQiWLFRV DQLPDLV IHUR]HV $ tal ponto invertem os fatos que o Sindicato dos Jornalistas, indignado com DV GLVWRUo}HV GHFLGH HGLWDU XP MRUQDO SUySULR FRP DV IRWRV H DV PDWpULDV originais, censuradas e manipuladas pelas empresas jornalÃsticas. Entre os agricultores sem-terra há católicos, luteranos, metodistas, congregacionais, umbandistas, espÃritas e adeptos de tantas outras reliJL}HV TXDQWDV FRPS}HP R FRORULGR PRVDLFR GDV LQ~PHUDV H[SUHVV}HV GH fé do sincretismo religioso brasileiro. Une-os a necessidade de lutar pela vida e a esperança de conquistar um pedaço de terra no paÃs do latifúndio. 8QLGRV HQWUH VL VHQWHP VH XQLGRV D RXWUDV RUJDQL]Do}HV SRSXODUHV TXH igualmente, alimentam a utopia de uma nova sociedade.
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$ VRFLHGDGH GLYLGLGD O ecumenismo de base nasce no terreno da injusta divisĂŁo da sociedade. A sociedade brasileira sempre esteve drasticamente dividida. O enorme desnĂvel entre riqueza e pobreza acentua-se cada vez mais. Conforme relatĂłrio divulgado em agosto de 1990 pelo Banco Mundial, a pobreza no Brasil aumentou, entre 1981 e 1987, em 43,48%, ao lado de um vertiginoso enriquecimento de uma pequena parcela da sociedade. O mesmo relatĂłrio revela que, entre todos os paĂses em desenvolvimento, durante os Ăşltimos vinte anos, o Brasil apresentou sempre uma das mais LQMXVWDV GLVWULEXLo}HV GH UHQGD H TXH DWXDOPHQWH Vy SHUGH SDUD +RQGXras e Serra Leoa. Um dos mais baixos salĂĄrios do mundo e a exploração GH PLOK}HV GH ERLDV IULDV WUDEDOKDGRUHV VD]RQDLV QR FDPSR DOLPHQWDP lucros fantĂĄsticos e fazem crescer o latifĂşndio. Assim, o Brasil, como oitava economia do mundo e quinto exportador de grĂŁos, nesse perĂodo de seis anos aumentou o nĂşmero de seus pobres (os que ganham menos de US$ DQXDLV GH SDUD PLOK}HV GH SHVVRDV 7RGRV RV PRYLPHQWRV GH UHVLVWrQFLD SRSXODU IRUDP PDVVDFUDGRV QR decorrer dos 490 anos de histĂłria. O Movimento dos Agricultores Sem Terra, massacrado pelo golpe militar de 1964 e rearticulado a partir de p XP GHVVHV PRYLPHQWRV GH UHVLVWrQFLD +RMH FRQWDP VH QR SDtV QDGD PHQRV TXH IRFRV GH FRQĂ€LWR HQYROYHQGR PDLV GH XP PLOKmR GH IDPtOLDV TXH GLVSXWDP PLOK}HV GH KHFWDUHV Em grandes traços, podemos descrever a divisĂŁo da sociedade caracWHUL]DQGR WUrV VHJPHQWRV VRFLDLV
$ HOLWH GLULJHQWH $ HOLWH FRPS}H D SHTXHQD SDUFHOD GH GDV IDPtOLDV PLOLRQiULDV Moram nos centros das cidades e nos bairros luxuosos. Isolam-se em
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PDQV}HV H FRQGRPtQLRV IHFKDGRV FRP JXDUGDV SDUWLFXODUHV H FmHV IHUR]HV Comportam-se e consomem como se vivessem em outro paĂs, culto e rico. ,JQRUDP D IRPH GH GD SRSXODomR 7rP LQĂ€XrQFLD SROtWLFD H SRGHU GH decisĂŁo. A classe mĂŠdia (25% da população) alia-se politicamente Ă elite.
$ PDVVD Outra parte da sociedade dividida ĂŠ a grande massa dos empobrecidos. Na cidade de SĂŁo Leopoldo, berço da imigração alemĂŁ e considerada uma cidade rica, nos Ăşltimos anos surgiram nada menos do que 113 loteamentos irregulares – nos banhados, Ă beira do rio, sobre os antigos trilhos da estrada de ferro, debaixo da alta tensĂŁo. SĂŁo famĂlias que, em sua maioria vindas do campo, nĂŁo conseguem comprar um terreno para morar. A massa ĂŠ apĂĄtica, nĂŁo acredita na sua força, deixa-se manipular, ĂŠ vĂtima da desinformação veiculada pelos meios de comunicação social, controlados pela elite. Vende o seu voto por um cesto de alimentos, por uma consulta mĂŠdica ou um remĂŠdio contra a dor de dente. Aplaude os polĂticos demaJRJRV GD HOLWH H QmR GHVFRQÂżD TXH YRWD FRQWUD VL PHVPD 'HL[D VH XVDU como massa de manobra, porque estĂĄ desorganizada e despolitizada.
2 SRYR A massa toma-se povo quando descobre as causas profundas da sua pobreza; quando se mobiliza para mudar a situação; quando toma conscirQFLD GD VXD GLJQLGDGH GRV VHXV GLUHLWRV GRV VHXV YDORUHV H GD VXD IRUoD TXDQGR VXSHUD VROXo}HV LQGLYLGXDOLVWDV H SDVVD SDUD D DomR FRQMXQWD TXDQGR JDQKD IRUoD SDUD SDUWLFLSDU GDV GHFLV}HV TXH OKH GL]HP UHVSHLWR TXDQGR DSUHQGH D YDORUL]DU VXDV SRHVLDV VHXV FDQWRV VXDV H[SUHVV}HV religiosas e tem orgulho disso. O povo distingue-se da massa quando se organiza, cria um projeto coletivo próprio e luta por ele.
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2V DQLPDGRUHV Para tornar-se povo, a massa precisa de animadores que saibam interpretar os seus interesses, os seus anseios e as suas necessidades, por viverem no meio dela; que saibam mobilizar as pessoas em torno desses LQWHUHVVHV TXH DMXGHP QD UHĂ€H[mR H QD RUJDQL]DomR TXH HVWDEHOHoDP FRQtato com outros grupos organizados, para ampliar a luta. Esses animadores podem surgir da prĂłpria massa ou podem vir de fora e inserir-se nela. O adjetivo “popularâ€? – movimento popular, educação popular, cultura popular, agente popular, pastoral popular – refere-se a essa parcela oprimida da sociedade que se organiza para a libertação. A elite dirigente sempre usou de todos os meios para impedir esse processo de massa que se faz povo; sempre fez e faz tudo para reverter o processo e jogar o povo de volta Ă sua condição de massa. Para isso, usou H XVD WDQWR D YLROrQFLD GLUHWD FRP D DMXGD GD 3ROtFLD H GDV )RUoDV $UPDGDV quanto a astĂşcia, que confunde, desinforma, engana e manipula.
2 PRYLPHQWR SRSXODU 2 HFXPHQLVPR GH EDVH VXUJH QD SUiWLFD GDV RUJDQL]Do}HV SRSXODUHV $ SDUWLU GR ÂżP GD GpFDGD GH FRP R IUDFDVVR GR UHJLPH PLOLWDU e a consequente abertura polĂtica, o povo voltou a criar as suas organi]Do}HV HP WRGD SDUWH $OpP GR PRYLPHQWR GRV DJULFXOWRUHV VHP WHUUD surgiram o movimento dos sem-teto, o dos meninos e meninas de rua, o GRV SRYRV LQGtJHQDV 6XUJLUDP RV FOXEHV GH PmHV DV DVVRFLDo}HV GH PRUDGRUHV R PRYLPHQWR FRQWUD DV EDUUDJHQV R PRYLPHQWR GH FRQVFLrQFLD negra e tantos outros. Entre os mais bem organizados, em âmbito nacional, estĂŁo os agricultores sem-terra. No Sul do paĂs, eles sĂŁo, em sua maioria, os descendentes dos imigrantes alemĂŁes, italianos e poloneses. No Norte, sĂŁo os descendentes dos escravos negros, dos Ăndios destribalizados, dos mestiços. Dada a injusta e absurda polĂtica agrĂĄria, eles nĂŁo conseguem
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comprar terra ou perderam a terra para os bancos ou tiveram de entregĂĄ-la para pagar despesas mĂŠdicas. Resistem e querem continuar como trabalhadores para nĂŁo caĂrem nas favelas das periferias da cidade. Como forma de pressĂŁo, organizam acampamentos e ocupam latifĂşndios improdutivos. Quando as promessas nĂŁo cumpridas se avolumam, podem se atrever a ocupar uma praça da cidade e acampar defronte do palĂĄcio do governo. Foi LVVR TXH Âż]HUDP HP 3RUWR $OHJUH 2 PRYLPHQWR SRSXODU DÂżUPDP DOJXQV DQDOLVWDV p D IRUoD HVWUXWXrante de uma nova sociedade que, irreversivelmente, vai encerrar o ciclo GR FDSLWDOLVPR VHOYDJHP QD $PpULFD /DWLQD $V LQ~PHUDV RUJDQL]Do}HV SRSXODUHV VmR FRPSDUiYHLV DRV DĂ€XHQWHV GR FDXGDORVR ULR GR PRYLPHQWR popular. Ainda que a elite conservadora obstrua o curso do rio com todo tipo de represas, as ĂĄguas haverĂŁo de transpor e romper os obstĂĄculos para fazer o seu caminho.
2V FULVWmRV QR PRYLPHQWR SRSXODU Muitos cristĂŁos latino-americanos atuam no movimento popular. É a parcela dos cristĂŁos conscientes da realidade social que localiza a pobreza e a fome no injusto dualismo social e luta contra ele a partir dos interesses e da Ăłtica dos excluĂdos. Veem as raĂzes da fome, principalmente no GHVHTXLOtEULR GDV UHODo}HV GH SRGHU HQWUH D HOLWH H D PDVVD H QmR QD IDOWD de produção nem na mistura de raças ou na falta de vontade de trabalhar, conforme querem alguns ideĂłlogos da elite. Uma parte dos cristĂŁos estĂĄ no movimento popular porque eles mesmos sĂŁo marginalizados e, por isso, se unem a outros excluĂdos, para lutar pela mudança. Nessa luta constroem uma nova autoimagem e uma nova identidade. Superando o sentimento de inferioridade e de esquecidos de Deus, passam a descobrir-se como preferidos do Deus Libertador que conduziu seu povo escravizado para a liberdade; que enviou profetas
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para condenar os reis opressores; que se encarnou na realidade humana, sujou suas sandĂĄlias na poeira e se fez rodear dos impuros e pecadores, dos excluĂdos da sociedade de entĂŁo. Percebem a presença de Deus nĂŁo mais somente no templo, na hierarquia, na pregação do pastor, mas nos gestos de solidariedade dos que apoiam o processo de libertação. Outra parte dos cristĂŁos conscientes insere-se no movimento popular, como agentes animadores, porque veem nele uma forma de mediar o amor ao prĂłximo e o novo cĂŠu e a nova terra em que habita a justiça; porque descobriram a realidade social dos pobres como lugar teofânico; porque querem ouvir com Deus o clamor do seu povo; porque entendem a conversĂŁo tambĂŠm como mudança de atuação polĂtica, e nĂŁo sĂł de atuação na vida individual e privada; porque entendem que Jesus sempre veio da periferia e que no centro estavam os seus inimigos; porque entendem que Jesus nĂŁo morreu para nos salvar, mas veio para nos salvar e, por isso, morreu; porque se inspiram na fĂŠ profĂŠtica alimentada pela utopia do Reino; porque entendem que Jesus questiona o ordenamento social injusto, e nĂŁo o sustenta.
2 HFXPHQLVPR QR PRYLPHQWR SRSXODU O movimento popular estå aberto para todas as pessoas e grupos que buscam a transformação social a partir das necessidades dos oprimidos; que buscam a justiça no contexto de injustiças; a igualdade de direitos numa sociedade dividida; a fraternidade numa sociedade excludente; a partilha numa realidade acumuladora de privilÊgios individuais; a dignidade onde ela Ê constantemente pisada; a participação criativa onde as pessoas são usadas como objetos. Nesse esforço, a esperança e a fÊ cristã são uma vertente entre outras. No movimento popular participam cristãos de todas DV FRQ¿VV}HV PDV WDPEpP KXPDQLVWDV PDU[LVWDV XPEDQGLVWDV 3RU LVVR p DPSODPHQWH HFXPrQLFR 2 HFXPHQLVPR Mi DFRQWHFH QR HVIRUoR FRQMXQWR
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para construir a nova oikos (casa) e o novo “ecĂşmenoâ€? (o mundo habitado), para que sejam acolhedores, fraternais, justos, igualitĂĄrios, amorosos. Trata-se de um ecumenismo amplo, que vai alĂŠm das fronteiras das FRQÂżVV}HV FULVWmV H FXMR FULWpULR QmR p D FRLQFLGrQFLD GH GRXWULQDV H GRJmas, mas a promoção da vida. Uma uniĂŁo “religiosaâ€? anterior para, entĂŁo, DUUXPDU D FDVD p XP SURFHVVR SHQRVR FKHLR GH FL~PHV H GHVFRQÂżDQoDV 2 PRYLPHQWR SRSXODU XQH RV RSULPLGRV SDUD DUUXPDU D FDVD 5HĂ€HWH VREUH D WHRORJLD H FHOHEUD DV YLWyULDV H GHUURWDV D FDPLQKR $ UHĂ€H[mR WHROyJLFD H a celebração litĂşrgica do ecumenismo popular sĂŁo um segundo momento. 6mR FRQVHTXrQFLDV GR HFXPHQLVPR Mi H[LVWHQWH QD DomR DR PHVPR WHPSR HP TXH DQLPDP H UHDOLPHQWDP D XQLGDGH QD DomR 2 FXOWR HFXPrQLFR p H[SUHVVmR FHOHEUDWLYD GD VROLGDULHGDGH Mi HP SURFHVVR QD HGLÂżFDomR FRQMXQWD GD FDVD HFXPrQLFD $ FRQWULEXLomR HVSHFtÂżFD GRV FULVWmRV QR PRYLPHQWR SRSXODU p R anĂşncio da boa-nova do amor de Deus a todas as pessoas, ricas e pobres (o rico nĂŁo estĂĄ excluĂdo do amor de Deus. Por isso, ĂŠ convidado a partiFLSDU GR PRYLPHQWR HFXPrQLFR GD FRQVWUXomR GH XPD VRFLHGDGH MXVWD D FRQÂżVVmR GH Ip HP -HVXV &ULVWR FRPR 6HQKRU 6DOYDGRU H /LEHUWDGRU GRV oprimidos; a denĂşncia evangĂŠlica de todos os poderes contrĂĄrios Ă promoção da vida; a leitura da BĂblia como testemunho concreto da histĂłria da libertação de Deus com seu povo: a celebração da presença de Deus na luta do seu povo; a oração a Deus que ouve o clamor do seu povo. Ou seja, ĂŠ tudo aquilo que os pais da Igreja chamam de martyria. A comunhĂŁo, a fraternidade, a partilha transcendem o nĂvel dos interesses porque sĂŁo frutos da libertação do evangelho. Ou seja, ĂŠ tudo aquilo que os pais da Igreja chamam de koinonia. É a gratuidade do serviço que transcende a expectativa da retribuição, por ser resposta ao amor jĂĄ recebido. Ou seja, ĂŠ tudo aquilo que os pais da Igreja chamam de “diaconiaâ€?.
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Essa ĂŠ a contribuição dos cristĂŁos no movimento popular. Outros participantes bebem em outras vertentes, buscam forças em outras conYLFo}HV H VH LQVSLUDP HP RXWUDV XWRSLDV 2 FULWpULR HFXPrQLFR QmR UHVLGH QD XQDQLPLGDGH GH FRQÂżVVmR GH GRXWULQD GH GRJPD GH H[SUHVVmR GH Ip mas na luta conjunta por um projeto comum, qual seja, a libertação dos oprimidos e a promoção da vida. Trata-se de uma libertação ampla, material e espiritual, que abrange todos os campos essenciais e existenciais da realidade humana. As velhas estruturas da sociedade dividida insistem em impedir essa libertação. Os agricultores sem-terra feridos e o policial morto no confronto da Praça da Matriz, ainda que em palcos opostos, sĂŁo protagonistas do mesmo FRQĂ€LWR R FRQĂ€LWR TXH UHVXOWD GR FKRTXH HQWUH RV TXH TXHUHP PDQWHU DV velhas estruturas sociais, porque aĂ se sentem seguros e privilegiados, e os que as querem transformar, porque se sentem por elas excluĂdos.
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0RYLPHQWR SRSXODU FRPR HVSDoR HFXPrQLFR12 Jether Pereira Ramalho
2 HFXPHQLVPR YDL JDQKDQGR QRYDV H[SUHVV}HV QRV GLDV DWXDLV 3HOR VHX GLQDPLVPR H VLJQLÂżFDomR p XP GRV VLQDLV PDLV UHOHYDQWHV GR VpFXOR 20. Ultrapassando os limites eclesiais, alcança os movimentos populares. Esperanças e questionamentos sĂŁo levantados nesse novo estĂĄgio da caminhada ecumĂŞnica. $ DPSOLDomR GD SHUVSHFWLYD HFXPrQLFD WHP VLGR XP GRV WHPDV mais debatidos, nos Ăşltimos anos, na AmĂŠrica Latina. HĂĄ, sem dĂşvida, um processo de ultrapassagem do chamado ecumenismo institucional – sem negar-se o seu valor – para uma concepção mais abrangente, que valoriza nĂŁo somente a unidade da Igreja e dos cristĂŁos, mas que se compromete com a unidade dos povos, primordialmente dos setores populares. 1mR VH WUDWD GH TXHVW}HV VLPSOHV RX GH XPD LQWHQomR GH FRRSWDU SDUD o ecumenismo a crescente pujança dos movimentos populares. A proposta HFXPrQLFD p PXLWR PDLV ULFD H UHVSRQGH jV H[SHFWDWLYDV GRV GLDV GH KRMH Somente grupos cegos pelo sectarismo podem se opor Ă sua caminhada. Possui mĂstica tĂŁo fecunda que nĂŁo pode ser monopolizada, nem SRU LQVWLWXLo}HV QHP SRU FRQÂżVV}HV UHOLJLRVDV e IHQ{PHQR GLQkPLFR H 12 Publicado em Por TrĂĄs da Palavra, n. 144, p. 14-18, 2004, CEBI.
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GHVD¿DQWH TXHVWLRQDGRU GH GRXWULQDV DFDEDGDV H GH YHUGDGHV DEVROXWDV Estå presente na agenda dos povos. É utopia que vai se tornando realidade.
0RYLPHQWR SRSXODU HVSDoR HFXPrQLFR" A prĂłpria concepção de movimento popular ĂŠ abrangente e complexa. Engloba formas diversas de organização do povo, em distintas conjunturas VRFLDLV 1mR VH WUDWD HVSHFLÂżFDPHQWH GH GHWHUPLQDGD IRUPD GH DomR GH WUDEDOKDGRUHV $JOXWLQD H[SUHVV}HV FXOWXUDLV H UHOLJLRVDV SRSXODUHV DOpP GH XP VHP Q~PHUR GH Do}HV TXH DÂżUPDP RV GLUHLWRV IXQGDPHQWDLV GH XPD vida digna. É uma nova concepção de sujeito histĂłrico que estĂĄ irrompendo nos nossos paĂses e que, por ser popular, jĂĄ ĂŠ em si mesma ameaça aos grupos dominantes. A aspiração Ă unidade, nem sempre muito nĂtida, ĂŠ uma das marcas do movimento popular. Certamente que uma concretização assim nĂŁo ĂŠ fĂĄcil, e que atĂŠ apresenta recuos. Mas essa utopia ĂŠ alavanca do processo de fortalecimento do movimento popular, pois seus alicerces fundamentais HVWmR ÂżQFDGRV QRV LQWHUHVVHV FRPXQV GRV SDUWLFLSDQWHV e IRUMDGD D SDUWLU das necessidades dos pobres. É embriĂŁo da vocação protagĂ´nica da grande maioria da população empobrecida e explorada. A unidade simboliza, na sua profunda expressĂŁo, a mais alta aspiração dos pobres do continente latino-americano. Somente unidos podemos vencer, ĂŠ “sloganâ€? por demais conhecido. DaĂ todos os esforços que os que PDQWrP D HVWUXWXUD LQMXVWD GR SRGHU ID]HP SDUD GLYLGLU R SRYR H HQIUDTXHFHU OKH R PRYLPHQWR ( DV UHOLJL}HV WrP VLGR HÂżFD]HV DJHQWHV GH GHVXQLmR A unidade, entretanto, ĂŠ mais que uma aspiração: ĂŠ tambĂŠm prĂĄtica e processo. Por mais frĂĄgil que seja, ĂŠ semente de libertação. É o desencadeamento do projeto histĂłrico que se estĂĄ gestando, passo a passo, ainda LPSUHFLVR H GHÂżFLHQWH QDV RUJDQL]Do}HV SRSXODUHV GRV QRVVRV SDtVHV
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( R TXH VH SRGH WHU GH PDLV HFXPrQLFR TXH HVVH SURMHWR H GD VXD caminhada? O ecumenismo passa a ser bandeira de luta, inspirador e fortalecedor da organização popular. Não se trata de cooptar os movimentos populares, em suas diversas PDQLIHVWDo}HV H FRORFi ORV QRV OLPLWHV GDV LJUHMDV H GDV VXDV SDVWRUDLV 2 HFXPrQLFR PDUFD QRYR QtYHO GH UHODomR HQWUH RV KRPHQV $UWLFXOD XPD QRYD lógica da sociedade a partir da maioria empobrecida da nossa população. 'HVVD IRUPD D¿UPD VH D P~WXD UHODomR HQWUH R PRYLPHQWR HFXPrQLFR GDV ,JUHMDV H D DVSLUDomR GH XQLGDGH GRV VHWRUHV SRSXODUHV $ perspectiva popular do ecumenismo não é algo que vem de fora, pertence j SUySULD HVVrQFLD GD SURSRVWD HFXPrQLFD D GLJQLGDGH GH YLGD SDUD WRGRV 2 PRYLPHQWR HFXPrQLFR UHVVDOWD GXDV JUDQGHV YRFDo}HV TXH GHYHP estar presentes, permanentemente, no projeto popular: a unidade e universalidade. Relativiza as possÃveis diferenças existentes para evitar que se WRUQHP VHFWiULDV XOWUDSDVVD D EDUUHLUD GDV QDo}HV SDUD IXJLU GD [HQRIRELD H GLDORJD FRP DV FRQ¿VV}HV SDUD TXH QmR VH WUDQVIRUPHP HP GRJPDV 2 PRYLPHQWR SRSXODU WRUQD VH HVSDoR HFXPrQLFR QmR Vy SHODV Do}HV concretas que englobam interesses comuns, como a luta pela terra, pelo trabalho, pela justiça, pela paz, mas porque, no seu eixo central, está o que é fundamental no ecumenismo – garantia de dignidade plena de vida para todos.
0RYLPHQWR HFXPrQLFR HVSDoR SRSXODU" 1D RULJHP SULPHLUD GR PRYLPHQWR HFXPrQLFR QmR YDPRV HQFRQWUDU a hegemonia dos interesses da instituição eclesiástica como eixo central. Eram movimentos preocupados com a paz, com o serviço aos pobres, com DV TXHVW}HV GD XQLGDGH H FRP RV GLUHLWRV IXQGDPHQWDLV GD SHVVRD KXPDQD Os sinais do Reino eram os objetivos fundamentais. 3DVVD HP VHJXLGD SRU XPD IDVH HP TXH HVVDV LQVSLUDo}HV VH WUDGX]HP em temas institucionais, e criam-se instâncias capazes de possibilitar-lhe
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D FRQFUHWL]DomR $ rQIDVH KHJHP{QLFD GHVORFD VH WDPEpP SDUD D FRQVtituição de canais de ação conjunta das igrejas ou de foros de diálogos LQWHU FRQIHVVLRQDLV PHVPR DVVLP GHQWUR GDV LJUHMDV R SURMHWR HFXPrQLFR foi compromisso importante apenas para uma minoria dos participantes. O ecumenismo institucional não conseguiu ser um fenômeno popular. Deve-se reconhecer, entretanto, que foi capaz de gerar e dar legitimidade a PRYLPHQWRV HFXPrQLFRV TXH VH FRPSURPHWHUDP IRUWHPHQWH FRP DV OXWDV SHOD MXVWLoD H FRP DV RUJDQL]Do}HV SRSXODUHV Vive-se hoje, em muitos lugares, um novo momento eclesial, que XOWUDSDVVD DV FRQFHSo}HV GD FOiVVLFD ³FRQIHVVLRQDOLGDGH´ $ RSomR SHORV pobres, assumida por diversas igrejas, passou a ser a marca e a condição de ¿GHOLGDGH DR (YDQJHOKR GH &ULVWR 3URGX]LX VH SRUWDQWR XPD QRYD WHQVmR QR PRYLPHQWR HFXPrQLFR TXH SUHVVLRQD PRGL¿FDo}HV QR VHX HL[R KHJHmônico de ação. Ele não pode ser, preferencialmente, instrumento de boas UHODo}HV HQWUH LJUHMDV HVSDoR GH GLiORJR LQWHUFRQIHVVLRQDO RX VH VDWLVID]HU FRP R SURJUHVVR GD XQLGDGH HQWUH RV FULVWmRV e GHVD¿DGR D VH LQWHJUDU QD grande luta pela plenitude de vida, alvo maior dos movimentos populares. A Teologia da Libertação, a leitura da BÃblia na perspectiva dos SREUHV H D QRYD FRPSUHHQVmR GD HVSLULWXDOLGDGH YrP GDU IRUoD D HVVD QRYD prática pastoral e à nova percepção do ecumenismo. $LQGD p ORQJR R FDPLQKR D SHUFRUUHU SHOR PRYLPHQWR HFXPrQLFR para se tornar um espaço popular, de forma a transformá-lo em lugar onde VH H[SUHVVHP DV DVSLUDo}HV DV GHELOLGDGHV RV DYDQoRV H UHFXRV GRV VHWRUHV populares. &RP D RSomR SHORV SREUHV DV LJUHMDV H R PRYLPHQWR HFXPrQLFR tomam partido a favor das maiorias da população, pois estão certos de que esta opção pertence ao núcleo da fé em Jesus Cristo e fazem parte fundamental da missão evangélica. Passam a ser não somente um serviço ao PRYLPHQWR SRSXODU PDV FRQWULEXHP SDUD UHD¿UPDU D SDUWLU GD SHUVSHFWLYD GD Ip DV GLPHQV}HV IXQGDPHQWDLV GR PRYLPHQWR SRSXODU H GR HFXPHQLVPR – a unidade e a universalidade.
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)D]HU GR PRYLPHQWR HFXPrQLFR XP HVSDoR SRSXODU QmR p nem conFHVVmR QHP WiWLFD ([LJH VLJQLÂżFDWLYD WUDQVIRUPDomR GH HVWLORV GH WUDEDOKR de formas organizativas, de conteĂşdo e de perspectivas de sociedade. NĂŁo se desenvolve de maneira genĂŠrica ou espontânea. Vai amadurecendo na prĂĄtica, na compreensĂŁo das novas formas de ser igreja e na construção de uma sociedade igualitĂĄria e fraterna. NĂŁo ĂŠ trabalho fĂĄcil e sem grandes questionamentos. Entre eles FRORFD VH R GHVDÂżR GH FRPR XPD SURSRVWD HFXPrQLFD SRSXODU SRGH VHU DR mesmo tempo proposta para todos e nĂŁo somente para os setores populaUHV 5HFRQKHFHU D P~WXD UHODomR HQWUH D YRFDomR HFXPrQLFD GDV LJUHMDV H D YRFDomR XQLWiULD GRV SREUHV VLJQLÂżFD HQYROYHU VH QR FDPSR GRV FRQĂ€LWRV caracterĂstica de nossa sociedade.
2 HFXPrQLFR FRPR IRUWDOHFLPHQWR GD HVSHUDQoD Certamente para o povo dos nossos paĂses subdesenvolvidos os GLDV DWXDLV QmR VmR IiFHLV 2V PHFDQLVPRV GH GRPLQDomR VH VRÂżVWLFDUDP ganharam novas caras e se encobriram na roupagem da modernidade. HĂĄ mais pobres do que nunca no mundo de hoje, sĂŁo PLOK}HV HP QtYHLV GH miserabilidade. Isso ĂŠ fato questionador, diĂĄrio das Igrejas e da sociedade. HĂĄ, entretanto, outros sinais que nĂŁo podem ser omitidos: a cresFHQWH FRQVFLrQFLD SRU SDUWH dos pobres, da injustiça de sua situação, a PDLRU DPSOLWXGH H GHQVLGDGH GDV VXDV RUJDQL]Do}HV R FRPSURPLVVR GH PXLWDV ,JUHMDV FRP DV OXWDV SRSXODUHV H D SHUVSHFWLYD HFXPrQLFD GH FRQVtrução da paz, da justiça e da vida. 2 PRYLPHQWR HFXPrQLFR VH IRUWDOHFH j PHGLGD TXH H[SUHVVD D grande utopia da unidade dos pobres, e possibilita a universalidade das suas lutas, e celebra as suas conquistas como avanços do Reino. Manter e aquecer a chama de uma nova oikoumene ĂŠ a mĂstica que nos inspira e fortalece.
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7UDQVIRUPDo}HV QR XQLYHUVR UHOLJLRVR Oneide Bobsin
,QWURGXomR13 1mR p GLItFLO FRQVWDWDU TXH XPD SDUFHOD VLJQLÂżFDWLYD GD SRSXODomR brasileira estĂĄ trocando de religiĂŁo, acentuando, assim, o pluralismo religioso como uma das marcas do mundo moderno. A migração religiosa das igrejas tradicionais, especialmente da CatĂłlica, para os “novosâ€? grupos ou movimentos religiosos estĂĄ deixando perplexas as lideranças eclesiĂĄsticas e eclesiais e preocupados os cristĂŁos “praticantesâ€? de sua confessionalidade. A nova FRQÂżJXUDomR GR PDSD UHOLJLRVR UHYHOD XPD WHQGrQFLD FUHVFHQWH GH perda de hegemonia do catolicismo na sociedade brasileira e demonstra, com certa clareza, que o universo religioso ĂŠ cada vez mais, condicionado pela lĂłgica do mercado capitalista. Igrejas, grupos e movimentos religiosos disputam palmo a palmo as “almasâ€?, ofertando bens religiosos de salvação. &RQVHTXHQWHPHQWH R PRYLPHQWR HFXPrQLFR VH Yr GLDQWH GH XPD OyJLFD PDUFDGD SHOD FRQFRUUrQFLD D TXDO YDL OKH LPSRU DOJXQV UHYHVHV Dados estatĂsticos pouco precisos, veiculados pela grande imprensa, revelam que aproximadamente 20% da população urbana da AmĂŠrica 13 Publicado em Por TrĂĄs da Palavra, n. 74, p. 5-8, 1993, CEBI.
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/DWLQD SDUWLFLSD GDV UHOLJL}HV QmR FDWyOLFDV FRPXPHQWH GHQRPLQDGDV de “seitasâ€?, que levam uma carga pejorativa impingida a quem ousou ser diferente por opção pessoal ou por força das circunstâncias. Outros GDGRV RÂżFLRVRV GHPRQVWUDP TXH R Q~PHUR GH QmR FDWyOLFRV Mi VXSHUD R contingente das pessoas catĂłlicas que se dizem “praticantesâ€? de sua confessionalidade. AlĂŠm disso, comenta-se com certo pesar que, anualmente, 600 mil catĂłlicos deixam a sua Igreja e vĂŁo em busca de outras repreVHQWDo}HV UHOLJLRVDV 0HVPR TXH RV GDGRV DTXL DUURODGRV VHMDP GH SRXFD FRQÂżDQoD HOHV UHĂ€HWHP WHQGrQFLDV QR XQLYHUVR UHOLJLRVR TXH SRGHP VHU YLVWRV ÂłD ROKR QX´ 1HVVH VHQWLGR D EXVFD GH QRYDV H[SUHVV}HV UHOLJLRVDV SRXFR LQVWLWXFLRQDOL]DGDV SRU XPD SDUFHOD VLJQLÂżFDWLYD GD SRSXODomR parece ser um fenĂ´meno de certo modo irreversĂvel, que forçarĂĄ as igrejas tradicionais a repensarem sua forma de ação e reprodução na sociedade.
2V ÂłRXWURV´ H ÂłQyV´ Frente Ă expansĂŁo de novos grupos e movimentos religiosos cristĂŁos RX QmR FULVWmRV RX GH WHQGrQFLD PDLV VLQFUpWLFD VH FRQÂżJXUDP GRLV FRPportamentos distintos. De um lado, constitui-se uma postura que procura delimitar o seu universo religioso ou eclesial como o Ăşnico verdadeiro, por conseguinte, inferiorizando a religiĂŁo do outro, do diferente, por ela QmR EHEHU GD IRQWH JHQXtQD GD UHYHODomR (P FRQWUDSDUWLGD FRQÂżJXUD VH um comportamento tolerante e pragmĂĄtico que possibilita a passagem de um universo religioso para o outro sem problemas, desconsiderando, desta forma, as diferenças que sĂŁo reais. Recorre-se ao texto de Guimaraes Rosa (Grande SertĂŁo: Veredas) para caracterizar o comportamento religioso que ignora os contornos, Ă s vezes frĂĄgeis, outras vezes rĂgidos, das diversas UHOLJL}HV 1D ERFD GH VHX SHUVRQDJHP FHQWUDO *XLPDUmHV 5RVD FRORFD DV seguintes palavras: Hem? Hem? O que mais penso, testo e explico: todo-o-mundo ĂŠ louco. O senhor, eu, nĂłs, as pessoas todas. Por isso ĂŠ que se carece principalmente de
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religião: para se desendoidecer, desdoidar. Reza Ê que sara da loucura. No geral. Isso Ê que Ê salvação-da-alma... Muita religião, seu moço! Eu cå, não perco ocasião de religião. Aproveito de todas. Bebo ågua de todo o rio... Uma só, para mim Ê pouca, talvez não me chegue. Rezo cristão, católico, embrenho a certo; e aceito as preces de compadre meu QuelemÊm, doutrina dele, de CardÊque. Mas, quando posso, vou no Mindubim, onde um 0DWLDV p FUHQWH PHWRGLVWD D JHQWH VH DFXVD GH SHFDGRU Or DOWR D %tEOLD H ora, cantando hinos belos deles. Tudo me aquieta, me suspende. Qualquer sombrinha me refresca. Mas Ê só muito provisório. Eu queria rezar – o tempo todo. Muita gente não me aprova, acham que lei de Deus Ê privilÊgios, invariåvel. E eu! Bofe! Detesto! O que sou? – o que faço, que quero, muito curial [...].
Em contrapartida, nos meios eclesiĂĄsticos tradicionais sempre viceMDUDP H[SUHVV}HV TXH HVWLJPDWL]DP RV QRYRV PRYLPHQWRV UHOLJLRVRV $Wp bem pouco tempo era comum se ouvir de lideranças e de pessoas que se VHQWLDP SRUWDGRUDV GD UHOLJLmR RÂżFLDO H[SUHVV}HV FRPR DV TXH VHJXHP DR se reportarem aos novos movimentos religiosos: “alienadosâ€?, “fanĂĄticosâ€?, ÂłLQVWUXPHQWRV GR LPSHULDOLVPR´ HWF 7DLV H[SUHVV}HV UHYHODP FHUWR GHVconhecimento por parte das pessoas do que aparece de “novoâ€? no meio religioso e revelam uma postura pouco dialogal, que se caracteriza por FHUWR DXWRULWDULVPR FDPXĂ€DGR 7DPEpP QRV PHLRV DFDGrPLFRV SHUGXUDUDP SRU PXLWR WHPSR WHRULDV TXH VH UHSRUWDYDP jV UHOLJL}HV SRSXODUHV FRPR UHVTXtFLRV GH SRYRV subdesenvolvidos, com cultura inferior, como se existisse uma cultura superior de Primeiro Mundo a sepultar para sempre os resĂduos culturais dos povos atrasados quando entrĂĄssemos na modernidade. Sabemos, hoje, que no Primeiro Mundo crescem movimentos religiosos de cunho oriental, UHYHODQGR DVVLP D LQHÂżFiFLD VLPEyOLFR UHOLJLRVD GR PXQGR PRGHUQR QD satisfação das necessidades de sentido da vida. 2EVHUYDPRV QRV ~OWLPRV WHPSRV JUDoDV jV FRQWULEXLo}HV GDV FLrQcias sociais e da Teologia da Libertação, uma tentativa de resgate do SRSXODU 3HUFHEHPRV SRU GHFRUUrQFLD XPD PXGDQoD GH FRPSRUWDPHQWR
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diante da religiosidade do povo nas suas mĂşltiplas e contraditĂłrias maniIHVWDo}HV 'HVWD IRUPD VmR FRORFDGRV RV ODVWURV GH XPD SRVWXUD GLDORJDO com o diferente. Descobrimos, ao mesmo tempo, que os membros das igrejas tradicionais, com exceção de minorias organizadas, sĂŁo tĂŁo alienados quanto os que participam das “seitasâ€?. A propĂłsito, alienação ĂŠ um fenĂ´meno inerente Ă forma como nossa sociedade se produz e reproduz, e nĂŁo uma realidade que possa ser atribuĂda ao indivĂduo. 0DV DÂżQDO SRU TXH WDQWR HVSDQWR GLDQWH GR FUHVFLPHQWR GH ÂłQRYRV´ movimentos religiosos? NĂŁo seria mais frutĂfero olhar para dentro de nossas igrejas e ver na sua forma de atuação a causa do nosso “fracassoâ€?, em vez de colocar a culpa nos de fora? Parece que o motivo do espanto pode estar no fato de que o novo assusta e ameaça. NĂŁo conseguimos colocĂĄ-lo em nossas gavetas mentais e ele foge aos nossos esquemas dogmĂĄticos. EntĂŁo reagimos, na maioria das vezes, de forma um tanto irracional. Pode ser tambĂŠm que os nossos temores provenham do medo de perder a hegemonia religiosa na sociedade. NĂŁo vejo muito problema nisso. As igrejas sempre se constituĂram em porta-vozes do liberalismo. Por que, entĂŁo, nĂŁo DFHLWDU D FRQFRUUrQFLD QR FDPSR UHOLJLRVR" Perguntamos, por outro lado, se a nossa perplexidade diante de tantos grupos e movimentos religiosos nĂŁo tem origem na compreensĂŁo de que nossos bens de salvação, ou nossos sĂmbolos e discursos, nĂŁo respondem Ă s novas perguntas pelo sentido da vida. Por Ăşltimo, a nossa preocupação tambĂŠm pode brotar da necessidade de articulação de uma pastoral libertadora que busca superar as formas individualistas de lutar contra os sofrimentos e suas causas. Todas essas possibilidades podem estar na raiz GD QRVVD DSUHHQVmR GLDQWH GR ÂłQRYR´ GDV UHOLJL}HV TXH FUHVFHP IRUD GR controle eclesiĂĄstico. Quando se pretende compreender os “outrosâ€?, os diferentes, ĂŠ necessĂĄria uma postura marcada pela alteridade. Retoma-se, como exemplo, tĂŁo EDWLGR SRU RFDVLmR GDV FRPHPRUDo}HV GRV TXLQKHQWRV DQRV GH LQYDVmR GD
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AmĂŠrica pelos europeus, a postura do colonizador diante dos indĂgenas e dos africanos. O “nĂłsâ€? do colonizador se constituĂa no centro do mundo. Fora do europeu, branco, macho e catĂłlico nada existia na humanidade. (VWD YLVmR HWQRFrQWULFD GHVTXDOLÂżFRX R GLIHUHQWH SDUD GRPLQi OR GH IRUPD mais violenta possĂvel. De certa forma, hĂĄ resquĂcios da evangelização colonizadora nas diversas igrejas ocidentalizadas, sejam elas de origem europeia ou norte-americana, protestante ou catĂłlica. Na evangelização colonizadora ou “civilizadaâ€? procura-se negar ao diferente o direito de apresentar-se como uma das formas religiosas de representação do mundo. Quantas e quantas vezes os programas de evangelização nĂŁo reproduziram de maneira autoritĂĄria a homogeneização ideolĂłgica, tĂŁo criticada pelos cristĂŁos em relação aos comunistas burocrĂĄticos e estatizantes? Portanto, se nĂŁo predominar nos meios eclesiais um espĂrito de alteridade, corremos o risco de ver no diferente um bloco monolĂtico, perdendo-se a riqueza da diversidade e da FRQWUDGLomR 9HPRV D Ă€RUHVWD PDV QmR DV iUYRUHV 8PD SRVWXUD VROLGiULD H QmR VLPSOLÂżFDGRUD GDV GLIHUHQoDV GR FRPSOH[R XQLYHUVR UHOLJLRVR QR TXDO HVWDPRV HQYROYLGRV QRV PRVWUDUi TXH SRU WUiV GDV UHSUHVHQWDo}HV UHOLJLRVDV hĂĄ seres humanos, de carne e osso, que sofrem, amam e sonham com um mundo novo, uns no alĂŠm, outros no aquĂŠm. NecessĂĄrio se faz introduzir uma contradição dialogal entre uns e outros, para que um dia “todos sejam XP´ DSHVDU GDV GLIHUHQoDV TXH QRV LGHQWLÂżFDP
'LYHUVLGDGH UHOLJLRVD14 No capĂtulo anterior abordamos a postura dialogal diante do diferente no universo religioso, chamando a atenção para o fato de que nĂŁo se deve assumir uma atitude niveladora frente Ă diversidade do fenĂ´meno religioso. Reiteramos este aspecto porque nos meios eclesiais e eclesiĂĄsticos, 14 Publicado em Por TrĂĄs da Palavra, n. 75, p. 5-9, 1993, CEBI.
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de modo especial entre os catĂłlicos que se sentem numa posição hegeP{QLFD H[LVWH XPD WHQGrQFLD GH FRORFDU VRE R PHVPR JXDUGD FKXYD movimentos religiosos e igrejas distintas entre si, imputando-lhes a marca pejorativa de “seitasâ€?. Bem sabemos que em nossas igrejas e mesmo nos PRYLPHQWRV UHOLJLRVRV Ki WHQGrQFLDV LQWHUQDV FRQĂ€LWDQWHV 1mR SRGHPRV nos esquecer de que o fenĂ´meno religioso, como produto social e humano, JXDUGD DV PDUFDV GD DPELJXLGDGH QD VXD HVVrQFLD H DV PDUFDV GD FRQWUDGLção na sua manifestação. Por esta razĂŁo faz bem repetir o que dissemos no capĂtulo anterior. &RPHWH LQMXVWLoD TXHP ROKD SDUD D Ă€RUHVWD H QmR SHUFHEH D GLYHUVLGDGH GDV ĂĄrvores. Incorre em erro de anĂĄlise quem nĂŁo percebe a “biodiversidadeâ€? no universo religioso e eclesiĂĄstico, para usar um termo tĂŁo badalado na ECO-92 $ DXVrQFLD GR SOXUDOLVPR H SRUWDQWR GD GLYHUVLGDGH RSRUWXQL]DGD o desenvolvimento de hegemonias no universo religioso, restringindo a liberdade de expressĂŁo e a criatividade. Diante da “confusĂŁoâ€? religiosa – diversidade religiosa – hĂĄ uma tenGrQFLD GH FODVVLÂżFDomR FRORFDQGR FDGD JUXSR RX PRYLPHQWR GHQWUR GH gavetas, ordenando, assim, aquilo que se percebe como caĂłtico. Isso nos mostra que o ser humano nĂŁo consegue conviver com o que julga caĂłtico e desconhecido. Por essa razĂŁo, tanto o pensamento mĂĄgico ou religioso TXDQWR R FLHQWtÂżFR SURFXUDP DQDOLVDU D UHDOLGDGH FODVVLÂżFDQGR RV IDWRV H DV LGHLDV 1HVVH VHQWLGR SRGHPRV RXVDU GL]HU TXH D IRUPD FLHQWtÂżFD GH anĂĄlise ĂŠ sucessiva ao pensamento religioso ou mĂĄgico. 4XH FULWpULRV VHJXLU SDUD FODVVLÂżFDU D GLYHUVLGDGH UHOLJLRVD EUDVLleira? O assunto ĂŠ tĂŁo complexo quanto a prĂłpria religiĂŁo. Depende muito GR SRQWR GH SDUWLGD GH FDGD DQiOLVH RX GD SRVWXUD SHVVRDO GH TXHP FODVVLÂżFD 3DUWLPRV GD VXVSHLWD GH TXH WRGRV RV FULWpULRV GH FODVVLÂżFDomR VmR DUELWUiULRV H UHODWLYRV ORJR SRXFR H[SOLFDWLYRV $ GLÂżFXOGDGH GH FODVVLÂżFDomR UHVLGH VREUHWXGR QR IDWR GH TXH RV VtPERORV UHOLJLRVRV VmR SROLVVrPLFRV LVWR p VmR DEHUWRV H SRVVLELOLWDP P~OWLSODV LQWHUSUHWDo}HV
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7RPH VH FRPR H[HPSOR R 6DQWR 'DLPH TXH p XPD H[SHULrQFLD UHOLJLRVD FXMD RULJHP VH HQFRQWUD QD Ă€RUHVWD DPD]{QLFD HQWUH RV tQGLRV peruanos. O ex-seringueiro Mestre Irineu ĂŠ o seu “fundadorâ€?. O Daime ĂŠ extraĂdo das folhas e raĂzes de plantas. Ao ser ingerido, a pessoa passa por XPD H[SHULrQFLD LQGHVFULWtYHO TXH D FRORFD HP VLQWRQLD FRP RV HVStULWRV GD Ă€RUHVWD $ H[SHULrQFLD UHOLJLRVD ID] FRP TXH D SHVVRD VH VLQWD SDUWH GH XP todo harmĂ´nico. Neste sentido, compara-se o Daime (dai-me?) Ă hĂłstia da celebração eucarĂstica. $ QRYD H[SHULrQFLD UHOLJLRVD HVWi VHQGR DEUDoDGD SRU SHVVRDV GR mundo urbano: artistas, polĂticos progressistas, jovens e outros. Tal H[SHULrQFLD UHOLJLRVD QRV UHYHOD TXmR GLItFLO p HVWDEHOHFHU FULWpULRV GH FODVVLÂżFDomR 3HVVRDV FXOWDV GDV FLGDGHV JUDQGHV VLWXDGDV QRV VHWRUHV PpGLRV GD SRSXODomR DGHUHP D XPD H[SHULrQFLD UHOLJLRVD QDVFLGD QXPD Ă€RUHVWD &ODVVLÂżFDU H GDU QRPHV VmR DWULEXWRV GH TXHP WHP SRGHU UHOLJLRVR ou eclesiĂĄstico. Isto nos leva a pensar que poder-se-ia adotar como critĂŠrio GH FODVVLÂżFDomR R FRUSR GRXWULQiULR GH XPD UHOLJLmR RX ,JUHMD HVWDEHOHcendo, assim, os limites claros de um determinado fenĂ´meno. A realidade QRV PRVWUD SRUpP TXH WDO FULWpULR SRXFR VLJQLÂżFD SDUD D PDVVD GH ÂżpLV Tudo indica que o sentimento de pertença a uma Igreja, por exemplo, nĂŁo ĂŠ condicionado por ideias dogmĂĄticas. AlĂŠm disso, a capacidade de sincretização “por baixoâ€? desfaz qualquer fronteira confessional, oportunizando, desta forma, o “contrabandoâ€? de seus bens simbĂłlicos por meio de agentes QmR RÂżFLDLV GD UHOLJLmR GR SRYR PoderĂamos recorrer Ă forma como o poder ĂŠ distribuĂdo entre os membros de uma Igreja ou movimento religioso que se encontra na sua base instituinte para uma declaração das fronteiras entre uns fenĂ´menos e outros. Mas tambĂŠm este critĂŠrio nos parece pouco convincente, porque hĂĄ uma distância relativa entre o poder eclesiĂĄstico ou carismĂĄtico e as necesVLGDGHV UHOLJLRVDV LPHGLDWDV RX GHVHMRV GD PDLRULD GRV ÂżpLV
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1mR SRGHPRV GHL[DU GH ID]HU UHIHUrQFLD jV RULJHQV GDV UHOLJL}HV FRPR IDWRUHV TXH DSURIXQGDP D GLYHUVLGDGH QmR REVWDQWH D WHQGrQFLD SRVWHULRU j IDVH GH DÂżUPDomR TXH SURSLFLD R HVPDHFLPHQWR GDV IURQWHLUDV rĂgidas. Em nosso meio, a umbanda pode servir de exemplo de sĂntese de LGHLDV UHOLJLRVDV GH RULJHP GLYHUVD &RQĂ€XHP QD PHVPD H[SUHVVmR UHOLgiosa ideias originĂĄrias do cristianismo, do espiritismo, de cultos africanos e tambĂŠm indĂgenas. Nesse sentido, hĂĄ “arranjosâ€? religiosos para necessiGDGHV H GHVHMRV YDULDGRV FRQIRUPH JUXSRV pWQLFRV IUDo}HV GH FODVVHV H DWp de indivĂduos. Ao mesmo tempo em que se manifesta a diversidade no campo UHOLJLRVR GXDV UHOLJL}HV SRGHP HQFRQWUDU DÂżQLGDGHV QR FDPSR SROtWLFR LGHROyJLFR $VVLP VH Âż]HUPRV XP FRUWH UHOLJLRVR WHUHPRV XP PDSD PXOWLFRORULGR $JRUD VH ODQoDUPRV PmR GH XP FULWpULR GH FODVVLÂżFDomR EDVHDGR no comportamento polĂtico-ideolĂłgico dos agentes religiosos, entĂŁo verePRV XP PDSD PHQRV FRPSOH[R 3DUD H[HPSOLÂżFDU HVWD DQiOLVH DUURODPRV uma histĂłria relatada num grupo de estudos sobre religiĂŁo e polĂtica. Numa universidade catĂłlica da Argentina, o reverendo Moon recebera das mĂŁos de um bispo o tĂtulo de doutor honoris causa. Este acontecimento mostra como as diferenças confessionais sĂŁo deixadas de lado em nome de compromissos polĂticos e ideolĂłgicos de direita. Percebemos que fatos como esses se repetem em outros nĂveis no meio progressista. Nesta linha de raciocĂnio trazemos o exemplo de uma mulher negra que exerceu os mandatos de vereadora e de deputada federal eleita no Rio de Janeiro pelo Partido dos Trabalhadores sem romper com o ideĂĄrio religioso pentecostal. Esta mesma mulher, originĂĄria de uma favela carioca, FKHJRX DR VHJXQGR WXUQR GDV HOHLo}HV SDUD D SUHIHLWXUD GR 5LR (VVHV IDWRV QRV PRVWUDP TXH DV FRQWUDGLo}HV H DPELJXLGDGHV SHUPHLDP R IHQ{PHQR religioso. O real transborda os contornos socioanalĂticos, aproximando ideias e fatos que nos parecem irreconciliĂĄveis.
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HĂĄ poucos dias, uma vizinha contou que participa desde 1970 dos cultos da Igreja Pentecostal Deus É Amor, em Porto Alegre, e de um terreiro de umbanda, confessando-se catĂłlica. Ela ĂŠ procurada por pobres e por pessoas da classe mĂŠdia que vĂŁo ao seu encontro buscar conselhos, curas e ervas para chĂĄs. Comportamentos como esses nos levam a levantar a hipĂłtese de que a religiĂŁo foi abstraĂda de sua prĂłpria visĂŁo de mundo, restringindo-se a “tĂŠcnicasâ€? pragmĂĄticas pelas quais se manipula o sagrado, R TXH RV HVWXGLRVRV FKDPDP GH PDJLD 0DV HVWD WHQGrQFLD WHP VLPLODU QD SROtWLFD +i XPD WHQGrQFLD GH GHVLGHRORJL]DomR GD SROtWLFD WRUQDQGR D pragmĂĄtica no que diz respeito Ă Administração PĂşblica. Como temos visto atĂŠ aqui, sob o guarda-chuva “seitasâ€? encontram-se H[SHULrQFLDV UHOLJLRVDV PXLWR GLYHUVDV 2 SHQWHFRVWDOLVPR SRGH VHU WRPDGR como exemplo. Nele hĂĄ grupos extremamente sectĂĄrios e movimentos que jĂĄ alcançaram um grau avançado de institucionalização. Nesse sentido nĂŁo podemos colocar, por exemplo, a Assembleia de Deus e Deus É Amor, esta dirigida por Davi Miranda, num mesmo patamar. Enquanto a primeira DVVXPH FDGD YH] PDLV RV WUDoRV TXH D LGHQWLÂżFDP FRP XPD ,JUHMD D VHJXQGD se aproxima das caracterĂsticas de uma “empresa de cura divinaâ€?, dirigida por um “empresĂĄrioâ€?, que ĂŠ seu dono. TambĂŠm hĂĄ, no movimento penteFRVWDO JUXSRV TXH WrP XPD DEUDQJrQFLD QDFLRQDO DR SDVVR TXH Ki RXWURV muito localizados, frutos de rupturas que se devem a lideranças autoritĂĄrias que nĂŁo conseguem conviver sob a mesma organização. Enquanto umas se especializam em curas e exorcismos, nĂŁo exigindo de sua clientela um compromisso comunitĂĄrio, outras se aproximam das igrejas e requerem XPD GHÂżQLomR PDLV FRQIHVVLRQDO TXH VH H[SUHVVD HP ODoRV HIHWLYRV H FRPSRUWDPHQWRV EHP GHÂżQLGRV TambĂŠm nĂŁo podemos deixar de mencionar o avanço de movimenWRV UHOLJLRVRV H ÂżORVyÂżFRV GH RULJHP RULHQWDO 0HGLWDomR 7UDQVFHQGHQWDO Movimento HolĂstico Contemporâneo, Seicho-No-Ie, Perfect Liberty, etc., estĂŁo cada vez mais presentes em nosso contexto religioso, disputando
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as “almas”. Estudiosos desses movimentos imputam o seu crescimento à SHUGD GH SODXVLELOLGDGH GDV UHOLJL}HV RFLGHQWDOL]DGDV Após essas pinceladas críticas a respeito dos critérios de classi¿FDomR GD GLYHUVLGDGH UHOLJLRVD OHYDQWDPRV D SHUJXQWD SHODV UD]}HV GR crescimento e expansão de novos grupos e movimentos religiosos. Em QRVVDV FDEHoDV HVWmR SUHVHQWHV SHUJXQWDV TXH EXVFDP DV UD]}HV GHVWD explosão incontrolável de algo que estava submerso. Adiantamos que as UD]}HV VmR YiULDV H WRGDV GHYHP VHU UHODWLYL]DGDV FRPR R IRUDP RV FULWpULRV GH FODVVL¿FDomR GD GLYHUVLGDGH UHOLJLRVD 1HVWH FXUWR HVSDoR DUULVFR uma explicação entre outras que serão analisadas nos próximos capítulos. ,QLFLDOPHQWH GHYHPRV D¿UPDU TXH VRD IDOVR GL]HU TXH RV GHXVHV estão de volta. Como estão de volta, se nunca foram embora? Já mencionamos a ideia de que eles estavam submersos, encobertos por discursos DFDGrPLFRV RX UHOLJLRVRV TXH QmR DGPLWLDP VXD SUHVHQoD FODQGHVWLQD HP QRVVR PHLR 7DPEpP GHYHPRV GLVFRUGDU GDTXHODV LQWHUSUHWDo}HV TXH D¿Umam que por trás de tudo estão os interesses do capitalismo, especialmente R QRUWH DPHULFDQR TXH YLVDP D DFDOPDU D FRQVFLrQFLD FUtWLFD GR SRYR Ninguém pode negar que a ideologia capitalista procura ocupar todos os espaços para reforçar sempre mais a hegemonia das elites, mas esta verGDGH SRU VL Vy QmR H[SOLFD DV UD]}HV TXH OHYDP DV PDVVDV D FULDU H UHFULDU bens simbólicos que satisfaçam sua sede de sentido de vida. Gostaria de remeter os leitores à análise feita pelo sociólogo catóOLFR /XL] $ *RPHV GH 6RX]D QR TXH FRQFHUQH jV UD]}HV GR FUHVFLPHQWR religioso e à sua postura diante da diversidade religiosa. Ele olha para o FRPSOH[R PXQGR GDV UHOLJL}HV SHUJXQWDQGR VH HVWD GLYHUVLGDGH QmR p XP lugar privilegiado para captar novos horizontes para a humanidade. EviGHQWH TXH VXD SHUJXQWD SHOD XWRSLD SUHVHQWH QDV UHOLJL}HV QmR R ID] FHJR diante do uso ideológico da religião para manter a dominação (SINAIS DOS TEMPOS, p. 15).
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3HUVHJXLQGR HVWH UDFLRFtQLR SRGHPRV DÂżUPDU TXH D GLYHUVLGDGH p XP “sinal dos temposâ€?. Seria um sinal de que algo novo estĂĄ prestes a tomar forma social, como espera o sociĂłlogo referido acima? Mesmo partilhando desta esperança, ĂŠ bom colocar um ponto de interrogação nisso tudo. TambĂŠm devemos admitir que a diversidade religiosa pode ser um sinal de que algo envelheceu nas nossas igrejas ocidentalizadas, o que ĂŠ muito difĂcil de DFHLWDU 3RU TXH RV VtPERORV UHOLJLRVRV LQVWLWXFLRQDOL]DGRV LQĂ€XHQFLDGRV por uma civilização cristĂŁ ocidental, branca, machista, moralista e mercanWLOLVWD QmR UHVSRQGHP PDLV jV SHUJXQWDV SHOR VHQWLGR GD YLGD" $V UD]}HV GR crescimento dos “outrosâ€? nos fazem voltar para dentro de nĂłs mesmos e de nossas igrejas. Respondemos Ă s perguntas com uma nova pergunta, desta vez voltada em nossa direção, jĂĄ que gostamos de encobrir nossos “fracassosâ€? com o “sucessoâ€? dos outros. Podemos admitir que os novos movimentos religiosos sĂŁo sinais dos tempos. Mas de que tempos? Repito o que disse um cientista polĂtico brasileiro a respeito da construção de uma sociedade sem exploração: o futuro nĂŁo tem dono.
%LEOLRJUD¿D LANDIM, L. (Org.). Sinais dos tempos – igrejas e seitas no Brasil. Cadernos do ISER, Rio de Janeiro, n. 21, 1989.
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2 SOXUDOLVPR GDV UHOLJL}HV 8P GHVDÂżR SDUD R GLiORJR HFXPrQLFR15 Ervino Schmidt
Em todas as ĂŠpocas e em todas as sociedades o pluralismo foi uma realidade. É que o humano como tal ĂŠ extremamente rico. NĂŁo ĂŠ possĂvel LPDJLQDU WRGD ULTXH]D GDV H[SUHVV}HV GH YLGD FRPSULPLGD HP XPD XQLGDGH uniforme. Assim, nĂŁo hĂĄ, na verdade, uma Ăşnica religiĂŁo, manifestação cultural, ideologia ou tradição. Especialmente nas sociedades modernas compreende-se cada vez melhor que o pluralismo ĂŠ uma realidade legĂtima. Aceitando o pluralismo, percebe-se o valor das diferenças. NĂŁo hĂĄ absolutamente necessidade de se harmonizĂĄ-las ou de sufocĂĄ-las. Ao contrĂĄrio, o reconhecimento do diferente pode ser visto como enriquecimento do singular. Isso vale para toda sorte de expressĂŁo do humano. InteresVD QRV DTXL HP SDUWLFXODU R IHQ{PHQR GR SOXUDOLVPR GDV UHOLJL}HV 1R Brasil, o campo religioso ĂŠ especialmente multifacetado. NĂŁo se pode mais falar do monopĂłlio de uma das tradicionais igrejas, chamadas histĂłricas. HĂĄ, isso sim, um grande nĂşmero de grupos religiosos. Muitos deles nem DSUHVHQWDP VHTXHU FRQWRUQRV PXLWR GHÂżQLGRV $OJXQV SRGHP VHU LGHQWLÂżcados por seus rituais que trouxeram da sua tradição indĂgena ou africana. Outros apresentam nitidamente elementos orientais. Mas isso nĂŁo vem ao
15 Publicado em Por TrĂĄs da Palavra, n. 82, p. 5-8, 1994, CEBI.
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caso neste contexto. Importa mesmo ĂŠ chamar atenção para o fato de que nĂŁo podemos ignorar o pluralismo religioso. 4XDLV DV DWLWXGHV TXH SRGHPRV REVHUYDU QR HQFRQWUR GDV UHOLJL}HV" &RPR SRGHUtDPRV FDUDFWHUL]i ODV" +i HVWXGLRVRV TXH PHQFLRQDP WUrV DWLtudes bĂĄsicas: exclusivismo, inclusivismo e paralelismo. 2 H[FOXVLYLVPR SUHVVXS}H TXH VH FRORTXH WRGR SHVR QD FRQYLFomR GH VHU D VXD SUySULD UHOLJLmR D YHUGDGHLUD 2 FUHQWH VH Yr REULJDGR j GHIHVD KHURLFD GD YHUGDGH $ UHYHODomR GH 'HXV R FUHQWH Yr JDUDQWLGD VRPHQWH na tradição. Carlos Alberto Steil, em seu artigo “O diĂĄlogo inter-religioso QXPD SHUVSHFWLYD DQWURSROyJLFD´ DÂżUPD TXH HVWD DWLWXGH GLÂżFXOWD HP muito uma postura objetiva ou racional no diĂĄlogo inter-religioso. É muito mais seguro fechar-se no exclusivismo de sua “religiĂŁo verdadeira a ter TXH GLDORJDU FRP RXWUDV UHOLJL}HV´ 3RU LVVR R H[FOXVLYLVPR p XP ULVFR TXH ameaça constantemente o diĂĄlogo inter-religioso. Associadas ao exclusivismo estĂŁo as atitudes de intolerância, de hybris e de combate religiosoâ€? (TEIXEIRA, 1993, p. 27). 2XWUD DWLWXGH HQFRQWUDGD FRP IUHTXrQFLD p D GR LQFOXVLYLVPR 6mR DGPLWLGRV QDV GLYHUVDV WUDGLo}HV UHOLJLRVDV HOHPHQWRV GH YHUGDGH TXH podem ser valorizados. Considera-se, porĂŠm, elementos positivos aqueles que se assemelham Ă prĂłpria tradição. Com isso, no entanto, nĂŁo se levam VXÂżFLHQWHPHQWH D VpULR DV GLIHUHQoDV 'H FHUWD IRUPD EXVFD VH QDV RXWUDV WUDGLo}HV VRPHQWH R TXH FRQYpP 1mR Ki QHFHVVLGDGH GH FRQGHQDU R RXWUR de entrar numa “belicosa hostilidadeâ€?. Cada qual pode seguir seu prĂłprio caminho, sem se deixar questionar. Parece uma posição inofensiva e irĂ´nica. Mas permite que grupos privilegiados determinem o lugar que outros devem ocupar no universo religioso. A terceira posição pode ser chamada de paralelismo. Cada religiĂŁo ĂŠ vista como um caminho correto e vĂĄlido. Todos os caminhos levam Ă GLUHomR GR PHVPR KRUL]RQWH H WrP FRPR UHIHUrQFLD R LQÂżQLWR &RP HVVD
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SRVWXUD WHQWD VH UHVSHLWDU H GHL[DU YDOHU RXWUDV WUDGLo}HV UHOLJLRVDV 0DV corre-se o risco de indiferentismo. Descrevem-se algumas das atitudes possĂveis. Elas podem ser encontradas de fato e, na maioria das vezes, aparecem misturadas. TamEpP SRGHU VH LDP HQFRQWUDU RXWUDV GHVLJQDo}HV SDUD FDUDFWHUL]DU DV diversas posturas, como, por exemplo, “atitude de combate violentoâ€?, “irenismoâ€?, etc. Quer-me parecer, porĂŠm, que nĂłs, como cristĂŁos, temos de assumir uma atitude de destaque, sobretudo, a perspectiva relacional, a perspecWLYD GR GLiORJR VLQFHUR H FUtWLFR 2 YHUGDGHLUR GLiORJR HFXPrQLFR UHMHLWD tanto o indiferentismo quanto o espĂrito proselitista. Diz o teĂłlogo catĂłlico romano Pe. Jesus Hortal, membro da comissĂŁo jurĂdica do CONIC: “A atitude de aproximação e diĂĄlogo, de fraternidade e amor nĂŁo pode excluir propriamente ninguĂŠmâ€? (HORTAL, 1993, p. 29). 1D YHUGDGH R GLiORJR RFRUUH QmR WDQWR HQWUH UHOLJL}HV PDV HQWUH pessoas que se podem enriquecer mutuamente, sem perder sua prĂłpria identidade religiosa. O CONIC UHFHQWHPHQWH IH] XPD SULPHLUD H[SHULrQFLD DWp FHUWR ponto tĂmida, de diĂĄlogo inter-religioso. Em sua programação de estudos HFXPrQLFRV RUJDQL]RX XP VHPLQiULR VREUH R WHPD Âł,QFXOWXUDomR H 6LQFUHWLVPR´ FRP rQIDVH QDV UHOLJL}HV DIUR EUDVLOHLUDV $OJXPDV SDVVDJHQV GR UHODWyULR ÂżQDO LQGLFDP R FOLPD QR TXDO WUDQVFRUUHX R GLiORJR H GmR SLVWDV pastorais: “Aconteceram momentos de fraternidade e crescimento e tambĂŠm PRPHQWRV GH WHQVmR H UHVLVWrQFLD TXH PRVWUDP TXH D FDPLQKDGD HFXPrnica exige despojamento, solidariedade, humildade, perseverança e muito amor.â€? &RQYLGDPRV SRUWDQWR DV LJUHMDV D UHĂ€HWLUHP FRQRVFR DV VHJXLQWHV TXHVW}HV
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• Como trabalhar no cotidiano das comunidades os preconceitos e as prĂĄticas que levam Ă discriminação? • 2 HQFRQWUR FRP RV ÂżpLV GDV UHOLJL}HV DIUR EUDVLOHLUDV QRV GHVDÂżD a rever nossa maneira de trabalhar os pontos comuns e as diferenças. Por onde começar nas comunidades? 0RWLYDGRV SRU HVWD H[SHULrQFLD H QD TXDOLGDGH GH ÂżOKRV GR PHVPR SDL QyV SDUWLFLSDQWHV ID]HPRV DV VHJXLQWHV UHFRPHQGDo}HV • &ULDU HVSDoRV SDUD Do}HV FRQMXQWDV HP IDYRU GD YLGD YLVDQGR j EXVFD GH VROXo}HV SDUD SUREOHPDV FRPXQV GR SRYR • (VWLPXODU R GLiORJR H D YLYrQFLD HP QtYHO LQWHU UHOLJLRVR QDV comunidades para mĂştuo enriquecimento. • Favorecer e apoiar ensaios de inculturação nas realidades regionais de cada igreja, pois isso ĂŠ um pressuposto da evangelização. Marcelo Azevedo, no prĂłlogo ao livro “DiĂĄlogo de PĂĄssarosâ€?, toca QXP SRQWR DWXDO GR GLiORJR LQWHU UHOLJLRVR (OH DÂżUPD TXH R SULQFtSLR chave ĂŠ: “Buscar e construir a unidade na diversidade, acreditar que ĂŠ possĂvel intuir a identidade a partir da descoberta e acolhida das alteridadesâ€? (p. 19). (P WRGR FDVR R GLiORJR LQWHU UHOLJLRVR p XP JUDQGH GHVDÂżR SDUD DV igrejas ÂżOLDGDV DR CONIC, bem como para todos os cristĂŁos e as diversas WUDGLo}HV UHOLJLRVDV HP JHUDO $ Ip HP &ULVWR QmR LQLEH QHP OLPLWD R GLilogo inter-religioso, antes, para ele, encoraja.
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([SHULrQFLDV
³,UPmRV VHSDUDGRV´ HVWmR VH HQFRQWUDQGR (FXPHQLVPR GHVGH D SUiWLFD16 Léo Z. Konzen
Durante muito tempo os cristãos e evangélicos não se entendiam mais, e chegaram mesmo a combater-se mutuamente. Não se permitiam casamentos mistos, não se podia frequentar um culto de outra religião, nem se devia escutar um programa de rádio feito por um pastor de outra igreja. Até mesmo em torno da Bíblia se criaram problemas. Criticava-se a interpretação dos outros e era preciso cuidar para não ter uma Bíblia protestante, mas católica, no caso de a pessoa ser da Igreja católica. Hoje estamos presenciando um forte movimento de superação desVDV UHMHLo}HV P~WXDV 1R TXH GL] UHVSHLWR j %tEOLD, por toda parte nota-se o VXUJLPHQWR GH HQFRQWURV HFXPrQLFRV GH HVWXGR GD %tEOLD. O próprio CEBI é a expressão nacional deste reencontro dos “irmãos separados” em torno da Bíblia. Já percebemos que há mais unidade entre certos grupos de evangélicos e católicos que dentro das próprias igrejas. Quer dizer, há em cada Igreja cristã linhas diferentes de interpretação da Bíblia, que diferem muito entre si, enquanto há uma linha de interpretação que une diversas Igrejas.
16 Publicado em Por Trás da Palavra, n. 39, p. 8-9, 1987, CEBI.
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É neste ponto que queremos concentrar nossa atenção. O que ĂŠ que faz com que, de repente, nos encontramos diante do “milagreâ€? do reencontro, procurado de tantas maneiras, mas que nĂŁo surgia com a força esperada? Qual ĂŠ o ³¿R da meadaâ€? que nĂŁo estava sendo encontrado? Para responder precisamos lembrar outro ponto de encontro, que ĂŠ fundamentalmente parecido com este da BĂblia. SĂŁo as lutas populares por terra, por PHOKRUHV FRQGLo}HV GH vida nas periferias das cidades, por direitos polĂticos, etc. Em torno dessas lutas de OLEHUWDomR JUXSRV PXLWR VLJQLÂżFDWLYRV de cristĂŁos das vĂĄrias FRQÂżVV}HV FULVWmV IRUDP VH HQFRQWUDQGR QD PHVPD solidariedade, provocando em todos um processo de revisĂŁo de sua prĂłpria fĂŠ. E aĂ entrou tambĂŠma perspectiva de uma nova leitura da BĂblia, mais histĂłrico-sociolĂłgica que doutrinĂĄria. A pergunta, ao ler a BĂblia, nĂŁo ĂŠ mais tanto sobre a doutrina do texto bĂblico, mas sobre o como o texto bĂblico ajuda a fazer a caminhada do povo hoje, rumo Ă libertação das RSUHVV}HV TXH R GLPLQXHP na sua humanidade. A BĂblia ganhou um novo sentido, uma nova “funçãoâ€? – se assim podemos falar. Por isso, tambĂŠm passou a ser lida de modo diferente. Procura-se ver nela a vida concreta do povo daquele tempo, explicitar os FRQĂ€itos que existiam, e como os oprimidos buscavam a libertação, animados pela fĂŠ em Deus. Desta leitura, que podemos chamar de sociolĂłgica, surge tambĂŠm uma nova teologia bĂblica. Quer dizer, descobrem-se aspectos de Deus que atĂŠ aqui nĂŁo tinham sido tĂŁo bem percebidos e desenvolvidos. E adquire-se uma nova mĂstica, funGDPHQWDGD QD H[SHULrQFLD GH XP 'HXV OLEHUWDGRU GRV RSULPLGRV 2 ÂłVHJUHGR´ RX R ³¿R GD PHDGD´ TXH faz acontecer o “milagre do reencontro ĂŠ, portanto, um encontro mais profundo com Deus, atravĂŠs de uma solidariedade comum em torno do irmĂŁo oprimido. A base ĂŠ a nova prĂĄtica, em torno da qual nasce uma nova leitura da BĂblia sob a mesma chave KHUPHQrXWLFD GR pobre e da sua luta pela libertação.
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$SUHQGHQGR D UHOHU D %tEOLD Uma H[SHULrQFLD HFXPrQLFD17 Júlio Paulo Tavares Zabatiero
A leitura da BÃblia a partir dos pobres é XPD H[SHULrQFLD SOHQDPHQWH eFXPrQLFD pois se fundamenta na realidade comum a todo o povo de Deus – independentemente da Igreja a qual se pertença – a realidade de 17 Publicado em Por Trás da Palavra, n. 63, p. 5-8, 1991, CEBI.
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sofrimento e luta pela vida. As comunidades populares buscam na BĂblia subsĂdios para sua organização, motivação e esperança. Buscam na BĂblia RV VLQDLV GD SUHVHQoD GH 'HXV QD KLVWyULD D ÂżP GH SRGHUHP SHUFHEHU RV sinais da presença e da atuação de Deus hoje. (VVD OHLWXUD HFXPrQLFD GD %tEOLD SRUpP QmR DQXOD DV FDUDFWHUtVWLFDV SUySULDV GH FDGD FRQÂżVVmR FULVWm $V FRPXQLGDGHV FDWyOLFDV WrP VHX MHLWR de ler a BĂblia – sua tradição multissecular de interpretação da Escritura Âą H YmR DGDSWDQGR HVVH MHLWR j QRYD HVSLULWXDOLGDGH GH UHVLVWrQFLD H FRPSURPLVVR OLEHUWDGRU 1HVWH FDPSR RV FDWyOLFRV Mi WrP DQGDGR XP ORQJR caminho – que para os evangĂŠlicos estĂĄ apenas começando. $ ÂżP GH UHOHU VXD SUySULD KHUPHQrXWLFD JUXSRV GH HYDQJpOLFRV WrP VH UHXQLGR VRE D FRRUGHQDomR GR 3URJUDPD GH %tEOLD GR &HQWUR (FXPrQLFR de Documentação e Informação (CEDI). Dos vĂĄrios encontros jĂĄ acontecidos, participei de um especialmente relevante para o aprofundamento da leitura popular entre nĂłs, evangĂŠlicos. O encontro tinha como tema a “Leitura da BĂblia no Fundamentalismo e no Pietismoâ€?. Fundamentalismo ĂŠ uma corrente teolĂłgica predominante entre as igrejas protestantes de missĂŁo no Brasil (Batistas, Presbiterianos, Congregacionais, Metodistas). Seu jeito de ler a BĂblia ĂŠ “literalistaâ€?, em busca de “doutrinasâ€? (dogmas) corretas. Crer nas doutrinas certas ĂŠ o aspecto mais importante da espiritualidade fundamentalista, e a BĂblia ĂŠ entendida como o celeiro sempre DEXQGDQWH GH GHÂżQLo}HV GRXWULQiULDV 1HVVH HQFRQWUR QRV SHUJXQWDPRV &RPR DMXGDU DRV HYDQJpOLFRV IXQGDPHQWDOLVWDV D ÂżP GH TXH HOHV SRVVDP ler melhor a BĂblia? NĂŁo hĂĄ muitas respostas para esta pergunta. O espĂULWR IXQGDPHQWDOLVWD p H[WUHPDPHQWH GRPLQDGRU H PDVVLÂżFDGRU $ PHOKRU ajuda possĂvel para o fundamentalista ĂŠ tirĂĄ-lo dos domĂnios desse jeito de encarar a fĂŠ e a espiritualidade cristĂŁs. É preciso a¡ ação profĂŠtica de “derrubarâ€? e “destruirâ€? (Jr 1,10). Fizemos a mesma pergunta a respeito do Pietismo. O Pietismo ĂŠ XPD WHQGrQFLD GH HVSLULWXDOLGDGH HYDQJpOLFD TXH HVWi SUHVHQWH HP WRGDV DV
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Igrejas Protestantes – em maior ou menor grau. O pietista ĂŠ aquele crente TXH EXVFD XPD SURIXQGD H[SHULrQFLD SHVVRDO FRP 'HXV DWUDYpV GD RUDomR OHLWXUD GD %tEOLD H GR FXOWR FRPXQLWiULR 3DUD HOH HVVD H[SHULrQFLD FRP Deus deve se manifestar, na vida, atravĂŠs de uma ĂŠtica pessoal rigorosa (nĂŁo fumar, nĂŁo beber, etc.). A leitura pietista da BĂblia nĂŁo procura doutrinas (como os fundamentalistas). Procura, sim, por princĂpios de vida. Quer descobrir “o que Deus diz para mim, neste texto?â€? Nesse sentido, ĂŠ um tipo de leitura que se assemelha muito Ă leitura da BĂblia entre os pobres. A diferença fundamental ĂŠ ideolĂłgica: os pietistas, na sua grande maioria, acham que as mudanças sociais sĂŁo fruto da mudança “do coraçãoâ€? dos indivĂduos. NĂŁo hĂĄ como mudar estruturas, dizem eles, se nĂŁo mudarmos o “coraçãoâ€? das pessoas. No Encontro, vimos que a leitura pietista tem muito mais possibilidades que a fundamentalista. A leitura pietista nĂŁo nega a ação de Deus na histĂłria. Pelo contrĂĄrio, estĂĄ sempre interessada em descobrir a mĂŁo de Deus na realidade. TambĂŠm ĂŠ uma leitura que compromete a pessoa: a BĂblia ĂŠ lida para ser vivida, para ser praticada. Como ajudar os evangĂŠlicos pietistas? É mais simples que com os fundamentalistas: nĂŁo ĂŠ necessĂĄrio “demolirâ€? seu pietismo. É necessĂĄrio, sim, abrir os seus horizontes ideolĂłgicos. O pietista, apĂłs perceber que a realidade social funciona de um jeito prĂłprio, diferente da realidade do indivĂduo, ĂŠ capaz de achar na BĂblia, o agir libertador de Deus. E mais, achando o agir libertador de Deus, o pietista certamente irĂĄ se comprometer com ele. Tais descobertas sĂŁo fundamentais para o progresso da leitura popular da BĂblia entre os evangĂŠlicos – especialmente se queremos alcançar comunidades ainda nĂŁo participantes das lutas libertadoras. Precisamos, primeiro, descobrir qual ĂŠ D WHQGrQFLD GH OHLWXUD EtEOLFD QD FRPXnidade – fundamentalista ou petista – para, assim, agir de acordo com a mesma. HĂĄ poucas chances de os fundamentalistas aceitarem uma leitura libertadora da BĂblia. HĂĄ maior esperança entre os pietistas: aliĂĄs, quase todos os participantes do Encontro que fazem leitura popular da BĂblia, jĂĄ foram
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pietistas “roxos”! De fato, entre os batistas, presbiterianos e metodistas que participam do CEBI, a maioria é de tradição pietista. Outra pergunta foi feita no Encontro: Que contribuição a leitura SLHWLVWD SRGH ID]HU j OHLWXUD SRSXODU GD %tEOLD" $OpP GH SDUWLFLSDomR HFXPrnica, achamos que D rQIDVH pietista na H[SHULrQFLD H compromisso pessoal com Deus é uma contribuição importante para a leitura da Bíblia entre os pobres. A leitura popular privilegia a luta pela transformação estrutural da sociedade – e com razão! Não será prejudicada, entretanto, se incorporar ao seu método e espírito, a pergunta pelo aspecto “pessoal” da ação de Deus: perguntar sobre como deve ser a nossa ação dentro da família, dentro da comunidade, na relação pessoal com Deus. A nova sociedade que buscamos também é a nova sociedade composta de novas pessoas. Novos homens e mulheres, com novos valores econômicos, sociais, sexuais, comunitários. A presença pietista no CEBI pode nos ajudar a aprofundar essa dimensão da espiritualidade libertadora. Saímos enriquecidos do Encontro. O tempo que gastamos na busca da compreensão de nosso passado – de nossa viva tradição – nos ajudou a entender PHOKRU R QRVVR SUHVHQWH 'HVD¿RX QRV D OHU D %tEOLD de forma HFXPrQLFD H popular junto a nossas próprias comunidades. Preparou-nos para trabalhar melhor entre os evangélicos pietistas. Ficamos entristecidos, porém, com as sombrias perspectivas em relação ao fundamentalismo evangélico. No entanto, “para Deus nada é impossível”, palavras de Jesus. Eis um grande GHVD¿R HFXPrQLFR DOFDQoDU RV HYDQJplicos pietistas e fundamentalistas, conviver com eles, ler a Bíblia com eles; ajudar a transformar o “eles” em “nós”. Ensinar e aprender; transformar e ser transformados. Esses verbos fazem parte do ecumenismo popular, na leitura da Bíblia!
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'LiORJR HFXPrQLFR18 Dezir Garcia
Com o objetivo de reanimar e incentivar o ecumenismo na Região Sul, o CEBl-SUL UHDOL]RX HP ¿QV GH HP 6DQWD 0DULD/RS, um grande 'LiORJR (FXPrQLFR )RL XP HQFRQWUR GH IUDWHUQLGDGH HVFXWD H DPL]DGH Depois da apresentação individual, em que cada participante expressou suas expectativas e anseios, tivemos um momento de espiritualidade a partir de João 17, 20-25 e do Salmo 23, com participação espontânea. Falamos sempre que o Reino Ê maior que as confessionalidades. Mas elas são importantes, porque somos fruto delas. Para um Diålogo EcuPrQLFR GH LUPmRV H LUPmV SUHFLVDPRV DQWHV GH PDLV QDGD FRQKHFHU QRV mutuamente. Para viabilizar nosso propósito, dividimos os trabalhos cm cinco momentos: 1. Quem somos como igreja? Como nos vemos e como os outros nos veem. 2. Quais são as maiores mågoas que temos entre nós? 3. Pedido de perdão mútuo entre nós, celebração da unidade reconquistada. 4. Como WUD]HU SDUD R GLiORJR HFXPrQLFR FRPR GHVSHUWDU DV SHVVRDV TXH QRV YHHP FRP ROKRV GHVFRQ¿DGRV" &RPR DYDQoDU QR WUDEDOKR HFXPrQLFR MXQWR
18 Publicado em Por TrĂĄs da Palavra, n. 81, p. 5-8, 1994, CEBI.
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aos leigos, nas comunidades? Este Ăşltimo ponto parece ser o principal. PorĂŠm, os primeiros sĂŁo importantes para um inĂcio de conversa. 'HSRLV GH WHUPRV WUDoDGR R UXPR GH QRVVD FRQYHUVD Âż]HPRV XP trabalho em grupo, segundo a denominação a que pertencemos. A seguir, em plenĂĄrio, nos apresentamos. Esse foi um momento de muita riqueza, XPD YH] TXH VXUJLUDP TXHVW}HV QRYDV 7LYHPRV HVSDoR SDUD SHUJXQWDV H respostas. No segundo dia, iniciamos nossos trabalhos rezando o Salmo 25, que fala do perdĂŁo de JavĂŠ. O Salmo encerra rogando pela unidade de Israel. Sentimos o momento seguinte como as tribos de Israel, em busca do perdĂŁo e pela unidade. )RL XP GLiORJR PXLWR VLQFHUR HP WRUQR GDV PiJRDV TXH GLÂżFXOWDP D QRVVD FDPLQKDGD $V HVWUXWXUDV H R OHJDOLVPR GHQWUR GH QRVVDV LJUHMDV WrP nos prendido, por vezes, a coisas vĂŁs, levando-nos a trilhar por caminhos mesquinhos, distantes do primeiro amor. Nesse sentido, perdemos de vista o que Jesus veio fazer. Ele nĂŁo veio fundar igreja e, sim, trazer o Reino. Vontade circunstancial ĂŠ que a igreja seja o canal para fazer a ligação com Deus. Muitas vezes nos esquecemos disso e nos tornamos “igrejeirosâ€?. Na opiniĂŁo de um dos participantes, “na luta pela concretização do Reino de Deus nĂŁo hĂĄ confessionalidade, estruturas e nem fronteiras. Somos WRGRV DV ÂżOKRV DV GR PHVPR 3DL H JRYHUQDGRV SHOR PHVPR HVStULWR´ Por um longo tempo as igrejas cristĂŁs se perceberam como contrĂĄrias, digladiando-se entre si. Erroneamente, procuravam defender sua LGHQWLGDGH QD QHJDomR GD RXWUD LJUHMD H QmR QD DÂżUPDomR GH VL PHVPR Ora, os contrĂĄrios se repelem, se chocam, se distanciam. Para haver ecumenismo precisamos nos reconhecer como diferentes. Cabe lembrar que nosso linguajar, muitas vezes, nos trai. Ironizamos frequentemente coisas que sĂŁo sagradas para determinada igreja. Atitudes desse tipo apenas nos separam cada vez mais. As crĂticas irĂ´nicas e debochadas nĂŁo contribuem para o ecumenismo. Ao contrĂĄrio, levam ao fechamento. NĂŁo podemos
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HVTXHFHU TXH WHPRV GLIHUHQoDV GRXWULQiULDV H FRQFHSo}HV WHROyJLFDV YDULDdas. Nem por isso a luta pela defesa da vida nĂŁo nos ĂŠ comum. Precisamos nos conhecer molhar para superar nosso obscurantismo frente a determinadas atitudes de uma igreja irmĂŁ. Os diferentes precisam aprender a WUDEDOKDU D SDUWLU GH VXDV WUDGLo}HV “Em muitos ambientes catĂłlicos as pessoas nĂŁo respeitam os nĂŁo catĂłlicos. Falam das outras igrejas. Isso acontece tambĂŠm entre os luteranos em relação aos metodistas e anglicanos. E, o que ĂŠ pior, nĂłs todos(as) QmR UHVSHLWDPRV R SHQWHFRVWDOLVPR e XPD PDVVLÂżFDomR VRIULGD SUDWLFDGD e ainda existente em relação Ă s minoriasâ€? (fala de um dos participantes). “O preço que a Igreja CatĂłlica Romana paga por ser maioria ĂŠ muito alto. A ala mais progressista, muitas vezes, toma certas atitudes por tradiomR H OHJDOLVPR QmR SRU FRQYLFomR FRQVFLHQWH GH TXH DV PXGDQoDV YrP GH dentro para fora. Preferem continuar dentro da estrutura e lutar por mudanças a longo prazo, do que sair fora. Nesse sentido, ocorre que pessoas de LJUHMDV HYDQJpOLFDV DFKDP TXH DV WUDQVIRUPDo}HV GHYHULDP VHU PDLV UiSLdas ...â€? (fala de um dos participantes). A devoção mariana, dentro da Igreja CatĂłlica Romana, nĂŁo raras vezes atrapalha o ecumenismo. As igrejas histĂłricas esperam que a Igreja CatĂłlica puxe Ă frente nas GLIHUHQWHV SURJUDPDo}HV $ TXH VH GHYH LVVR" $OJXQV SDVWRUHV DV YHHP LPSRUWkQFLD QD RÂżFLDOLGDGH GRV FRQYLWHV 0HVPR DVVLP PXLWDV YH]HV SURmetem participar de determinado evento e nĂŁo aparecem! 1DV DWLYLGDGHV SDVWRUDLV Ki PXLWRV FRQĂ€LWRV 0XLWDV YH]HV R legalismo e a estrutura de uma igreja excluem pessoas que nĂŁo estĂŁo regularizadas com ela. Com isso, as pessoas buscam outras guaridas, surgindo assim desentendimentos com o pastor(a), padre ou a prĂłpria comunidade. “Em muitos lugares estamos ajudando a dividir os pobres com a manipulação do Evangelho. É um pĂŠssimo testemunho para o ecumenismoâ€?.
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Outra constatação: no trabalho das comunidades parece haver, inĂşmeras vezes, certas lideranças com autoridade de direito, mas nĂŁo de fato. NĂŁo falam do Reino, nĂŁo animam o povo e sĂŁo verdadeiros fardos para a comunidade. Parece que sua autoridade nĂŁo vem pelo serviço, mas pelo SRGHU Âł6H -HVXV YROWDVVH j WHUUD FHUWDPHQWH HVVHV QmR VHULDP VHXV ÂżOKRV SUHGLOHWRV H VLP YHQGLOK}HV GR WHPSOR SRU FDXVD GH VXDV SRVWXUDV´ O ecumenismo real e pleno talvez nĂŁo exista. Mesmo assim, ansiaPRV SRU XPD FDPLQKDGD HFXPrQLFD QD TXDO QHQKXPD FRQÂżVVmR SUHYDOHoD sobre outra. No atual momento, onde as igrejas histĂłricas estĂŁo se fechando, ĂŠ salutar perceber que nĂłs estamos nos reunindo ecumenicamente, para dialogarmos. Para fortalecer ainda mais essa leitura bĂblica a partir dos empobrecidos precisamos conquistar mais pessoas a se engajarem nessa proposta. A luta pelo ecumenismo acontece tambĂŠm dentro das prĂłprias igrejas. Fazendo um trabalho interno podemos contribuir para a abertura das fronteiras... 3HOD DYDOLDomR TXH Âż]HPRV SDUHFH TXH R HQFRQWUR DJUDGRX D todos(as). Foi um momento riquĂssimo de conhecimento, troca de experirQFLDV H SDUWLOKD P~WXD $R ORQJR GR GLiORJR IRPRV SHUFHEHQGR FDGD YH] mais, que, apesar de nossas diferenças, temos tambĂŠm muitas coisas em comum. As lutas concretas em defesa da vida, por exemplo, precisam ser assumidas conjuntamente, alĂŠm dos limites estruturais de nossas igrejas. 7RPDUD TXH SRVVDPRV FRQWLQXDU QRVVD UHĂ€H[mR HP EXVFD GH XP YHUGDGHLUR ecumenismo de base, em que as diferenças confessionais sejam superadas pela grande batalha em defesa do pobre e oprimido. Aproveitamos a Ăşltima tarde para fazermos uma visita a uma ocuSDomR GRV VHP WHWR GH 6DQWD 0DULD H DR 7HPSOR (FXPrQLFR TXH IRL construĂdo no local. Rezamos conjuntamente e fomos para a Comunidade GD 9LOD &DUDPHOR RQGH Âż]HPRV WUDEDOKR HP JUXSR H SOHQiULR WHQGR FRPR guia as seguintes perguntas:
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1. Continuidade desse grupo e encaminhamentos prĂĄticos. 2. Compromisso que assumimos nas nossas comunidades a partir desse encontro. 3. Como reforçar a caminhada leiga dentro do ecumenismo das igrejas cristĂŁs e nĂŁo cristĂŁs. 4. Que tipo de atividades o CEBI-SUL poderia propor a partir desse encontro? 0DUFDPRV XP VHJXQGR 'LiORJR (FXPrQLFR SDUD WHQGR como tema a “Ceiaâ€?, abordando o enfoque teolĂłgico de cada igreja. Assumimos o compromisso de adotarmos uma postura mais ecuPrQLFD GH SUHVWDU DVVHVVRULDV HQWUH DV LJUHMDV GH IRUPD HFXPrQLFD GH participar ativamente na Semana da Unidade; de redescobrir os documentos jĂĄ existentes sobre ecumenismo; de pensar cm organizar ecumenicamente um curso sobre Ecumenismo, com cerca de quinze dias de duração, no qual seja garantida a participação leiga; de continuar com este grupo e divulgar o CEBI para dentro de nossas igrejas.
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)D]HU FDIp IULWDU RYR OHU D %tEOLD 8PD H[SHULrQFLD HFXPrQLFD19 Luiz Longuini Neto
“Disse-lhes Jesus: Vinde comei. Nenhum dos seus discĂpulos ousava perguntar-lhe: Quem ĂŠs tu? porque sabiam que era o Senhor. Veio Jesus, tomou o pĂŁo e lhes deu, e, de igual modo, o peixe.â€? Evangelho de JoĂŁo 21,12 e 13.
$ TXHVWmR HFXPrQLFD VRIUH KRMH HP GLD YiULRV WUDWDPHQWRV 9DL GHVGH DV FRPLVV}HV PLVWDV GR &RQVHOKR 0XQGLDO GH ,JUHMDV H GR 9DWLFDQR atĂŠ a realidade das Comunidades Eclesiais de Base, onde catĂłlicos e protestantes se encontram em pobreza para ler a BĂblia, orar e prosseguir na caminhada. HĂĄ tambĂŠm os que dedicam suas vidas para combater o ecumenismo e os que se entregam de todo coração para defender e propagar a causa ecuPrQLFD 1HVVH PHLR H[LVWHP RV TXH GHIHQGHP R HFXPHQLVPR VRE R FHWUR de Roma e outros que o defendem sĂł entre protestantes. Fui “educadoâ€? numa corrente teolĂłgica que abomina o ecumenismo, ainda que tenha uma visĂŁo bastante deturpada do que ĂŠ realmente 19 Publicado em Por TrĂĄs da Palavra, n. 43, p. 9-10, 1987, CEBI.
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HFXPHQLVPR H R PRYLPHQWR HFXPrQLFR PXQGLDO )XL RULHQWDGR D QmR WHU DPL]DGH FRP SDGUHV H DSUR[LPDU PH GH FDWyOLFRV Vy SDUD FRQYHUWr ORV DR protestantismo. O EspĂrito Santo sopra onde quer e como um vento impetuoso arrancou de minha vida certos preconceitos, e gozando dessa liberdade vi-me GLDQWH GH VLWXDo}HV PDUDYLOKRVDV RQGH R FRPSURPLVVR FRP R SUy[LPR PH OHYDUDP D XP QRYR HQWHQGLPHQWR GD SUiWLFD HFXPrQLFD Éramos um grupo de aproximadamente 120 alunos, homens e PXOKHUHV )RPRV HP EXVFD GH IRUPDomR DFDGrPLFD HP QtYHO GH FRPSOHmentação, nos encontramos face a face para cumprir um perĂodo de vĂĄrios meses e em vĂĄrias etapas. Era o inĂcio de uma caminhada. Os grupos foram se formando e conosco nĂŁo foi diferente. FormaPRV XPD ÂłUHS~EOLFD´ XP SDGUH WUrV VHPLQDULVWDV FDWyOLFRV H GRLV SDVWRUHV protestantes, um batista e um presbiteriano. $ H[SHULrQFLD GH FRQYLYrQFLD WUDQVIRUPRX VH QXPD PDUDYLOKRVD H[SHULrQFLD HFXPrQLFD 4XHEUDPRV RV SUHFRQFHLWRV TXH IRUDP GLWDGRV pelas cĂşpulas eclesiĂĄsticas, estĂŠreis e autoritĂĄrias. Encontramo-nos no serviço, no amor e na pobreza. Sim, pobreza, ali estĂĄvamos como peregrinos, sem casa, sem comida, sĂł com esperança. E foi assim que o ecumenismo teve outra dimensĂŁo para todos nĂłs. No limpar da casa, no fazer compras, no lavar roupas, no fazer cafĂŠ, no fritar ovos, nisso tudo nĂłs nĂŁo ĂŠramos catĂłlicos ou protestantes. Veio a ideia, e como irmĂŁos em tudo e no compromisso cristĂŁo, toda manhĂŁ lĂamos a Palavra de Deus, comentĂĄvamos e D UH]D RUDomR QRV DFRPSDQKDYD 4XH H[SHULrQFLD JUDWLÂżFDQWH 7RGRV QyV IRPRV WUDQVIRUPDGRV SRU HVVD H[SHULrQFLD H DV DPL]DGHV SHUGXUDP DWp KRMH WUrV DQRV GHSRLV Parece-me que nos vĂĄrios enfoques do ecumenismo existe um que PDLV IRUWH p D SUiWLFD D YLYrQFLD QXPD FRPXQLGDGH GH Ip H VHUYLoR -HVXV DVVRX SHL[H SDUD RV VHXV DPLJRV H RV VHUYLX 1RVVD H[SHULrQFLD HFXPrQLFD foi a mesma, dar comida aos amigos.
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Sobre os autores (ŕś…ŕś‚ŕśŒŕľžŕśŽ +ŕśŽŕś€ŕśˆ /ŕśˆŕś‰ŕľžŕśŒ in memoriam
De tradição católica, foi secretårio executivo do CEBI desde a sua fundação, em 1979, em Belo Horizonte/MG e foi responsåvel pelo serviço de documentação e dos primeiros anos do Boletim Por Trås da Palavra.
0ŕľşŕś‹ŕľźŕľžŕś…ŕśˆ ྽ྞ %ŕľşŕś‹ŕś‹ŕśˆŕśŒ 6ŕśˆŕśŽŕś“ŕľş Monge beneditino, biblista, assessor do CEBI, de movimentos populares e Comunidades Eclesiais de Base (CEBs).
$ŕś€ŕśˆŕśŒŕś?ŕś‚ŕś‡ŕś ŕľş 9ŕś‚ŕľžŕś‚ŕś‹ŕľş ྽ྞ 0ŕľžŕś…ŕś…ŕśˆ in memoriam
Monja beneditina, uma das fundadoras do CEBI, integrou por anos o Conselho Nacional na dimensĂŁo da espiritualidade.
-ŕľžŕś?ŕś ŕľžŕś‹ 3ŕľžŕś‹ŕľžŕś‚ŕś‹ŕľş 5ŕľşŕś†ŕľşŕś…ŕś ŕśˆ Leigo da Igreja Congregacional, sociĂłlogo, professor aposentado da UFRJ, com intensa PLOLWkQFLD HFXPrQLFD QDFLRQDO H LQWHUQDFLRQDO 3DUWLFLSRX GD FULDomR GH YiULRV RUJDQLVPRV HFXPrQLFRV H DWLYD SDUWLFLSDomR QD OXWD GH UHVLVWrQFLD j GLWDGXUD 8P GRV IXQGDGRUHV GR CEBI, do CEDI, integrante do Koinonia e foi presidente do CESEEP.
%ŕľžŕś‹ŕś?ŕś ŕśˆŕś…ŕľ˝ŕśˆ :ŕľžŕľťŕľžŕś‹ in memoriam
Natural de Linha Marcondes (8Âş distrito de SĂŁo Leopoldo e hoje municĂpio de Gramado/ RS), Pastor da IECLB, ecologista, defensor dos Direitos Humanos e atuante no diĂĄlogo FDWyOLFR OXWHUDQR 3URPRYHX D ÂżOLDomR GD IECLB QD &RRUGHQDGRULD (FXPrQLFD GH 6HUYLoR (CESE) H IRL PHPEUR DVVRFLDGR GR &HQWUR (FXPrQLFR GH &DSDFLWDomR H $VVHVVRULD (CECA). Em 1998 recebeu o tĂtulo de Doutor Honoris Causa pela Escola Superior de Teologia (EST – SĂŁo Leopoldo).
-ŕśˆŕśžŕśˆ *ŕśŽŕś‚ŕś…ŕś ŕľžŕś‹ŕś†ŕľž %ŕś‚ŕľžŕś ŕś… AntropĂłlogo e professor de Antropologia na Universidade de Princeton e ĂŠ co-diretor do Programa Global de SaĂşde e PolĂtica de SaĂşde. Fez pesquisa de mestrado sobre o movimento dos Muckers em SĂŁo Leopoldo e ĂŠ autor do livro De Igual pra Igual.
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9ŕľžŕś‹ŕś‡ŕľžŕś‹ +ŕśˆŕľžŕľżŕľžŕś…ŕś†ŕľşŕś‡ŕś‡ Pastor da IECLB, biblista, exegeta do Novo Testamento, professor e coordenador do curso de Teologia da EST (Escola Superior de Teologia) em SĂŁo Leopoldo/RS.
7ŕśŁŕś‹ŕľźŕś‚ŕśˆ 0ŕľşŕľźŕś ŕľşŕľ˝ŕśˆ 6ŕś‚ŕśŠŕśŽŕľžŕś‚ŕś‹ŕľş 3DVWRU PHWRGLVWD GRXWRU HP &LrQFLDV GD 5HOLJLmR FRP FRQFHQWUDomR HP (VWXGRV GR $QWLJR 7HVWDPHQWR SURIHVVRU DSRVHQWDGR GR 3URJUDPD GH 3yV *UDGXDomR HP &LrQFLDV GD 5HOLJLmR e da Faculdade de Teologia da Universidade Metodista de SĂŁo Bernardo do Campo/SP.
6ŕľşŕś‡ŕľ˝ŕś‹ŕśˆ *ŕľşŕś…ŕś…ŕľşŕś“ŕś“ŕś‚ 'RXWRU HP &LrQFLDV GD 5HOLJLmR ELEOLVWD H DVVHVVRU GH PRYLPHQWRV SRSXODUHV GR CEBI, da CPT e das Comunidades Eclesiais de Base.
6ŕś‚ŕś…ŕś?ŕś‚ŕśˆ 0ŕľžŕś‚ŕś‡ŕľźŕś„ŕľž TeĂłlogo e pastor da IECLB. Foi professor da EST e assessorou movimentos populares pelo &HQWUR (FXPrQLFR GH &DSDFLWDomR H $VVHVVRULD (CECA). Atualmente estĂĄ morando em Schwäbisch Hall, sul da Alemanha.
2ŕś‡ŕľžŕś‚ŕľ˝ŕľž %ŕśˆŕľťŕśŒŕś‚ŕś‡ Pastor da IECLB 0HVWUH HP &LrQFLDV GD 5HOLJLmR H GRXWRU HP &LrQFLDV 6RFLDLV SURIHVVRU da EST H IRL VHFUHWiULR GD (GXFDomR GH 6mR /HRSROGR 7HP PXLWDV SXEOLFDo}HV VREUH R universo religioso brasileiro.
(ŕś‹ŕś?ŕś‚ŕś‡ŕśˆ 6ŕľźŕś ŕś†ŕś‚ŕľ˝ŕś? Pastor da IECLB, foi secretĂĄrio do CONIC e membro da ComissĂŁo de diĂĄlogo CatĂłlicoLuterana.
/ŕľžŕśˆ = .ŕśˆŕś‡ŕś“ŕľžŕś‡ PresbĂtero da Igreja CatĂłlica, Diocese de Santo Ă‚ngelo/RS, tem mestrado e doutorado em Teologia na ĂĄrea de Teologia BĂblica.
-ŕśąŕś…ŕś‚ŕśˆ 3ŕľşŕśŽŕś…ŕśˆ 7ŕľşŕś?ŕľşŕś‹ŕľžŕśŒ =ŕľşŕľťŕľşŕś?ŕś‚ŕľžŕś‹ŕśˆ Pastor da Igreja Presbiteriana Independente, doutor em Teologia pela EST, com concenWUDomR HP H[HJHVH EtEOLFD H KHUPHQrXWLFD $WXDOPHQWH p SURIHVVRU GD )DFXOGDGH 8QLGD GH 9LWyULD (6 RQGH FRRUGHQD R PHVWUDGR HP &LrQFLDV GD 5HOLJLmR
'ŕľžŕś“ŕś‚ŕś‹ *ŕľşŕś‹ŕľźŕś‚ŕľş ྽ྺ 6ŕś‚ŕś…ŕś?ŕľş 3RVVXL PHVWUDGR HP &LrQFLDV 6RFLDLV $WXDOPHQWH p SURIHVVRU GD EST e atua na administração e gestĂŁo da Faculdade. Membro da Direção da Fundação Luterana de Diaconia.
/ŕśŽŕś‚ŕś“ /ŕśˆŕś‡ŕś€ŕśŽŕś‚ŕś‡ŕś‚ 1ŕľžŕś?ŕśˆ 3DVWRU GD ,JUHMD 3UHVELWHULDQD SURIHVVRU IRUPDGR HP 7HRORJLD H ÂżORVRÂżD PHVWUDGR HP &LrQFLDV GD 5HOLJLmR SHOD UMESP H GRXWRUDGR HP &LrQFLDV GD 5HOLJLmR HP +DPEXUJR Alemanha.
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2LNRXPHQH YLYHU FRQYLYHU QD FDVD H .RLQRQLD FRPXQKmR VmR IXQGDPHQWDLV SDUD D FDPLQKDGD GR &(%, HP GHVYHQGDU D %tEOLD QD OXWD FRQVFLrQFLD H RUJDQL]DomR GR SRYR RSULPLGR $ OXWD GR SRYR FRPR R FHUQH GD LQWHUSUHWDomR GD (VFULWXUD SUHVVXS}H SDUD D FDPLQKDGD HFXPrQLFD TXH D %tEOLD VHMD OLGD H RXYLGD HP PHLR DR FHQiULR SROtWLFR H GDV OXWDV SRSXODUHV
PHPyULDV UHÁH[}HV H H[SHULrQFLDV
1RV SDVVRV GD FHOHEUDomR GRV DQRV GR &(%, VHOHFLRQDPRV WH[WRV TXH IRUDP SXEOLFDGRV QR 3RU 7UiV GD 3DODYUD YROWDGRV SDUD D OHLWXUD HFXPrQLFD H OLEHUWiULD GD %tEOLD 'HVGH R Q PDLR MXQKR GH R EROHWLP SDVVRX D WHU XPD VHomR FRP UHIOH[}HV H WURFD GH H[SHULrQFLDV VREUH HFXPHQLVPR ´4XH WRGRV VHMDP XPµ -R LQDXJXURX HVWH FDPLQKR 0LOWRQ 6FKZDQWHV HP SDOHVWUD QR &XUVR )p H (GXFDomR 3ROtWLFD QD 38& 56 DILUPRX TXH ´R HFXPHQLVPR HVWi QR ERMR GR VRIULPHQWR GRV SRYRV GHSHQGHQWHV H H[SORUDGRV OX] GH VXD OXWD H GR HYDQJHOKR GH -HVXV WDPEpP DV LJUHMDV TXH IRUDP VXUJLQGR H VH HVWUXWXUDQGR QR GHFRUUHU GD KLVWyULD KmR GH HQFRQWUDU XP FDPLQKR FRPXP H XPD Vy H[SUHVVmR RUJkQLFD µ (VWH OLYUR FRP UHIOH[}HV PHPyULDV H UHODWRV GH H[SHULrQFLDV LPS}H FRQWLQXDomR H QRV GHVDILD D WUD]HU j OX] XPD VHJXQGD SXEOLFDomR FRP DV YR]HV H H[SHULrQFLDV HFXPrQLFDV D SDUWLU GDV PXOKHUHV %RD OHLWXUD ERDV OHPEUDQoDV GDV H[SHULrQFLDV ERDV UHIOH[}HV H R GHVSHUWDU GH QRYRV PRPHQWRV
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