A ACADEMIA DE GINÁSTICA COMO ESPAÇO DE EDUCAÇÃO POPULAR EM SAÚDE: CRUZANDO TERRITÓRIOS

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UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO ESCOLA SUPERIOR DE EDUCAÇÃO FÍSICA BACHARELADO EM EDUCAÇÃO FÍSICA

ADRIANO JOSÉ DOS SANTOS

A ACADEMIA DE GINÁSTICA COMO ESPAÇO DE EDUCAÇÃO POPULAR EM SAÚDE: CRUZANDO TERRITÓRIOS

RECIFE 2020


ADRIANO JOSÉ DOS SANTOS

A ACADEMIA DE GINÁSTICA COMO ESPAÇO DE EDUCAÇÃO POPULAR EM SAÚDE: CRUZANDO TERRITÓRIOS

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito parcial a conclusão do curso de Bacharelado em Educação Física da Escola Superior de Educação Física (ESEF/ UPE). Orientadora: Prof. Drª. Adriana de Faria Gehres

RECIFE 2020


Dedico esta pesquisa a todas as forças ancestrais que me cercam: a Deus, Sete-flexas, Rudá, Oxóssi e Xangô. À toda instrução que me fazem entender o meu caminho. Eu sei exatamente onde estou! Dedico esta pesquisa a toda comunidade preta, periférica, da zona rural. Aos que vieram antes de mim, e os que virão depois de mim, que se veem na responsabilidade de lutar por uma luta coletiva, lutar pelo seu povo! Dedico este trabalho a minha família, amigos, professores e professoras que ajudaram a colocar o primeiro filho da família numa Universidade Pública. Esse título é nosso! Dedico esta pesquisa a todas as crianças e a todos os leitores deste trabalho, pois acredito no seu potencial para tornar o mundo melhor e trilhar a construção de uma sociedade mais justa e equitativa.


AGRADECIMENTOS

A minha orientadora, Professora Doutora Adriana de Faria Gehres, pela confiança, paciência e dedicação; A Escola Superior de Educação Física (ESEF/UPE) por ser uma grande família que me recebeu e abrigou durante essa jornada; Ao Agrupe – Movimento de Dança da UPE pelas experiências incríveis, e pelas oportunidades de aprendizado mesmo diante dos desafios que passamos juntos; Aos meus alunos e colegas da Escola de Frevo Zezé Corrêa, por me incentivarem e me manterem forte nessa luta; Ao Balé Popular do Recife, à Escola Municipal de Frevo Maestro Fernando Borges e ao Centro de Capoeira São Salomão pelas oportunidades de vivência, crescimento, e ampliação do meu conceito de saúde; A minha mãe, Ana Maria dos Santos, e meu pai, José Carlos dos Santos (em memória), pelo exemplo, por sempre acreditarem no meu potencial e por me amarem incondicionalmente; Aos meus amigos e demais familiares que mesmo de longe vibraram pela minha conquista, meus irmãos e minha amiga Ana Karla pelo apoio e profundo amor por mim; A Wanessa Santos por ser uma grande mestra e amiga, sempre me apoiar nessa empreitada e não me deixar desistir; A Vinícius Barbosa, pelas oportunidades de crescimento e incentivo nessa pesquisa, pelo carinho e amizade de tantos anos, e por acreditar no meu potencial; Às formas ancestrais que me cercam e me enchem de entusiasmo; gratidão por tudo que já é em minha existência!


[...] Estou vivendo como um mero mortal profissional Percebendo que às vezes não dá pra ser didático Tendo que quebrar o tabu e os costumes frágeis das crenças limitantes Mesmo pisando firme em chão de giz De dentro pra fora da escola é fácil aderir a uma ética e uma ótica Presa em uma enciclopédia de ilusões bem selecionadas E contadas só por quem vence Pois acredito que até o próprio Cristo era um pouco mais crítico em relação a tudo isso E o que as crianças estão pensando? Quais são os recados que as baleias têm para dar a nós, seres humanos, antes que o mar vire uma gosma? Cuide bem do seu Tcheru Na aula de hoje veremos exu Voando em tsuru Entre a boca de quem assopra e o nariz de quem recebe o tsunu As escolas se transformaram em centros ecumênicos Exu te ama e ele também está com fome Porque as merendas foram desviadas novamente Num país laico, temos a imagem de César na cédula e um "Deus seja louvado" As bancadas e os lacaios do Estado Se Jesus Cristo tivesse morrido nos dias de hoje com ética Em toda casa, ao invés de uma cruz, teria uma cadeira elétrica. [...]

Trecho da música Exu nas Escolas Composição: Edgar / Kiko Dinucci


RESUMO A academia de ginástica é um importante espaço para a promoção da saúde. É na academia de ginástica, seja ela voltada para o fitness ou wellness, que diferentes debates e perspectivas de corpo, cultura e saúde se cruzam, assim como diferentes expectativas, dos clientes, dos profissionais e da academia de ginástica. Assim como outros diferentes espaços de promoção da saúde, na academia vemos grandes traços do modelo biomédico de saúde, principalmente o culto a beleza corporal, a exacerbada busca pelo condicionamento físico e pela estetização da saúde. A Educação Popular em Saúde (EPS) é um campo de práticas e de conhecimento do setor saúde que tem incentivado o novo modelo de saúde, a partir da educação em saúde e para a saúde. Pensando nisso nos questionamos como podemos abordar a academia de ginástica também como um espaço de educação para a saúde? E quais são as contribuições da Educação Popular em Saúde para a atuação e formação do Profissional de Educação Física na sua atuação nas academias de ginástica? Pensá-la, bem como as temáticas que a envolvem na sua prática, instala-se como uma contribuição para o desenvolvimento da Educação Física. O objetivo desse estudo foi analisar as concepções de corpo, cultura e saúde na academia de ginástica e sua relação com a Educação Popular em Saúde e na formação e intervenção do profissional de Educação Física. Foi realizado uma revisão narrativa na literatura da área da saúde cruzando caminhos alguns referenciais das Ciências Sociais, Antropologia e Pedagogia. Os achados apontam para relações positivas entre a Educação Popular em Saúde e a academia de ginástica, desde que a formação acadêmica, as academias e os profissionais de educação física não só estejam direcionadas a superar a visão reducionista de saúde, do modelo biomédico, mas que nas relações pessoais, seja preconizada a relação sujeito-sujeito, em que haja o reconhecimento do conhecimento do outro, como ser que cria cultura corporal, e portanto, tem suas individualidades.

Palavras-chave: Academia de Ginástica. Educação Popular em Saúde. Educação Física. Educação em Saúde.


ABSTRACT The Gymnastics Academy is an important space for health promotion. It is in the Gymnastics Academy, whether focused on fitness or wellness, that different debates and perspectives of body, culture and health intersect, as well as different expectations, of customers, professionals and the Gymnastics Academy. Like other different spaces of health promotion, in the academy we see great traces of the biomedical model of health, especially the cult of body beauty, the exacerbated search for physical conditioning and the estification of health. The Popular Health Education (HPS) is a field of practices and knowledge of the health sector that has encouraged a new model of health, from health and health education. Thinking about it, we wonder how we can approach the gym also as a space for health education? And what are the contributions of Popular Health Education to the performance and formation of the Physical Education Professional in his performance in the gymnastics? Thinking about it, as well as the themes that involve it in its practice, establishes itself as a contribution to the development of Physical Education. The objective of this study was to analyze the conceptions of body, culture and health in the gymnasium and its relationship with Popular Health Education and in the training and intervention of the Physical Education Professional. A narrative review was carried out in the literature of the health area crossing some references of Social Sciences, Anthropology and Pedagogy. The findings point to positive relationships between Popular Health Education and the Gymnastics Academy, as long as academic education, gyms and physical education professionals are not only directed to overcome the reductionist vision of health, of the biomedical model, but also that in personal relationships, the subject-subject relationship is recommended, where there is recognition of the knowledge of the other, as a being that creates body culture, and therefore, has its individualities. Keywords: Gymnastics Academy. Popular Health Education. Physical Education. Health Education.


SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO

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2. METODOLOGIA

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3. CORPO, CULTURA, SAÚDE E A ACADEMIA DE GINÁSTICA

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3.1. PERCEPÇÕES DE CORPO E CULTURA

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3.2. SAÚDE E A ACADEMIA DE GINÁSTICA

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4. EDUCAÇÃO POPULAR EM SAÚDE

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5. A ACADEMIA DE GINÁSTICA COMO ESPAÇO DE EDUCAÇÃO

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POPULAR EM SAÚDE, A FORMAÇÃO E A ATUAÇÃO DO PROFISSIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA 6. CONCLUSÃO

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7. REFERÊNCIAS

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1. INTRODUÇÃO A Academia de Ginástica é o espaço ou empresa que presta serviços de promoção da saúde, visando o condicionamento físico de forma coletiva ou individual sob orientação de profissionais de Educação Física (CONFEF, 2014), e tem se configurado como um espaço indispensável para a vida das pessoas. Em 2018, o Brasil apontava em segundo lugar em número de academias, com mais de 34,5 mil estabelecimentos registrados, onde frequentavam cerca de 9,6 milhões de clientes (REVISTA ACADBRASIL, 2018). Frente ao crescente aumento de número de estabelecimentos, práticas e métodos, as academias de ginástica têm sido objeto de investigação em diferentes estudos sobre corpo, saúde, estética, e qualidade de vida (EUFRÁSIO; NÓBREGA, 2010; BALESTRA, 2012; FLORES, 2016; FURTADO, 2009; HANSEN; VAZ, 2004; SABINO, 2004; SANTOS; SALLES, 2009; SILVA; FREITAS; LUDORF, 2019). Pensar a academia de ginástica, bem como as temáticas que a envolvem na sua prática, instala-se como uma contribuição para o desenvolvimento da Educação Física. O conceito de saúde preconizado na nossa sociedade é o da Organização Mundial da Saúde (OMS), instituído em 7 de abril de 1948, que considera a saúde como o estado do mais completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de enfermidade. A OMS ainda reconhece o direito à saúde para toda população e da obrigação do Estado na promoção e proteção da saúde. Nessa linha a Constituição Brasileira garante o direito para todos como dever do Estado, através da operacionalização de políticas públicas de prevenção, proteção, promoção e recuperação que se concretizam no Sistema Único de Saúde (SUS) (SCILIAR, 2007). No entanto, essa percepção ampla do conceito de saúde é recente. Nas últimas décadas foi possível observar grandes debates e mudanças acerca desse paradigma1, na passagem do modelo curativo biomédico para o modelo biopsicossocial.

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Paradigma aqui está entendido como um conjunto de conceitos, orientações e conhecimentos que apontam para um certo modelo (padrão) de se dirigir, entender, compreender e atuar na saúde.


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As academias de ginástica, assim como os diversos serviços de saúde acompanharam essas transformações sociais e culturais. Essa transição refletiu principalmente na perspectiva de corpo e atividade física configuradas nesses espaços, e influenciou e ainda influencia diretamente a oferta de produtos e serviços oferecidos nestes espaços. Numa fase inicial houve a valorização do aspecto biológico, com práticas de exercício e treinamento físico e, posteriormente, a incorporação de serviços ligados à qualidade de vida, saúde, entretenimento, valores e princípios de vida, conceitos relacionados à atividade física, presentes até hoje Na Educação física essa reflexão se estabelece em torno das noções de fitness e wellness. Segundo Furtado (2009) fitness é a aptidão física, ou seja, é a prática do exercício físico com o objetivo de desempenho físico e atlético de um indivíduo, e o wellness aponta para a integração de todos os aspectos mais amplos da saúde, como mental, social, emocional, espiritual e físico, através da participação e a manutenção saudável de pessoas em programas de exercícios físicos, ou seja, os clientes são pessoas que buscam bem-estar em todos os aspectos, não só um bom desempenho físico. O wellness contém o fitness, já que no primeiro, o condicionamento físico não deixa de ser enfatizado, porém, são considerados outros determinantes da saúde visando a qualidade de vida e bem-estar (FURTADO, 2009). Contudo, é importante mencionar que, esse processo de mudança não aconteceu para todas as academias de ginástica. Mesmo que o processo de transição tenha envolvido uma movimentação acentuada no mundo empresarial que investia nas academias de ginástica, ainda há aquelas que priorizam o fitness como o orientador dos seus produtos para atender a um determinado mercado da exercitação física. A Educação Popular em Saúde (EPS), por sua vez, é um movimento de educação em saúde que se constituiu no contexto das lutas populares e formulações teóricas em favor de melhores condições de saúde para a população, que permearam o Movimento Sanitário Brasileiro a partir da década de 1970. Emergiu do encontro de trabalhadores de saúde, estudantes e professores universitários, segmentos da igreja e movimentos sociais que resultaram na elaboração de uma ação de ruptura com as práticas hegemônicas


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de Educação em Saúde de caráter preventivista, alicerçadas na Biomedicina e materializadas em prescrições de comportamento feitas de forma unilateral pelos profissionais de saúde. Tomando como base o corpo teórico das produções de Paulo Freire no campo da Educação Popular, a proposta vem trilhando seu caminho para a concretização de um programa de Educação Popular em Saúde, caracterizado por uma compreensão sócio-político-cultural-pedagógica da saúde, voltada para todas as classes e camadas sociais (STOTZ, 2007). Segundo Gomes e Merhy (2011) a EPS é muitas vezes mal interpretada, por acharem que esta tem a intenção de fazer com que a população altere seus hábitos para assimilar diferentes práticas higiênicas e recomendações médicas que evitariam o desenvolvimento de um conjunto de doenças. Entretanto, o seu educar para a saúde indica a compreensão das causas dessas doenças para propor formas de organização para superá-las, tomando como ponto de partida os saberes prévios dos educandos. A EPS se concretiza no SUS através da Política Nacional de Educação Popular em Saúde (PNEPS-SUS), orientada por 6 princípios: diálogo; amorosidade; problematização, construção compartilhada do conhecimento; emancipação e compromisso com a construção do projeto democrático e popular (VASCONCELOS, 2007). Art 2º A PNEPS-SUS reafirma o compromisso com a universalidade, a equidade, a integralidade e a efetiva participação popular no SUS, e propõe uma prática político-pedagógica que perpassa as ações voltadas para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a partir do diálogo entre a diversidade de saberes, valorizando os saberes populares, a ancestralidade, o incentivo à produção individual e coletiva de conhecimentos e a inserção destes no SUS (BRASIL, 2013).

As ações do SUS, em concordância com a EPS, concretizam grandes avanços no enfrentamento do modelo curativo biomédico ainda fortemente presente na prática profissional de muitos profissionais da saúde, e tem possibilitado novos estudos na literatura (OLIVEIRA, GOMES, 2020; LOCH; RECH, COSTA, 2020). Esses estudos problematizam os currículos da formação inicial dos profissionais de saúde, e sua intervenção, a partir desse novo olhar que possibilite ao profissional habilidades e competências para intervir em concordância com o conceito polissémico de saúde.


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A partir destes pensamentos, sendo a academia de ginástica um espaço de promoção da saúde, com oferta de práticas corporais e de treinamento orientadas para a aptidão física (fitness), e/ou para o bem-estar físico, mental, social e espiritual (wellness), que conta com a intervenção de um profissional de saúde qualificado, o profissional de educação física, que atende ao público em geral, como podemos abordá-la também como um espaço de educação para saúde? E quais são as contribuições da Educação Popular em Saúde para a formação do Profissional de Educação Física e na sua atuação nas academias de ginástica? Consideramos que a interface saúde-educação tende a fortalecer e ampliar suas ligações através das experiências de EPS na formação de profissionais das áreas da educação e da saúde. Nesse sentido, pensar a intervenção dos profissionais de Educação Física nas academias de ginástica também como uma prática de educação em saúde, a partir dos conceitos da Educação Popular em Saúde é de suma importância não só para a área da Educação Física, mas para as diferentes áreas que se dedicam aos estudos sociais e da saúde. Assim, abre caminho para um diálogo ainda mais amplo entre diferentes áreas, buscando promover uma intervenção profissional com mais humanidade, proporcionando maior entendimento, visibilidade e atenção aos princípios da EPS, por professores, pesquisadores e interessados na área da Ginástica, e da Educação Física na sua atuação em saúde, de maneira mais ampla. Assim, este estudo tem como objetivo analisar as concepções de corpo, cultura e saúde na academia de ginástica e sua relação com a Educação Popular em Saúde e na formação e intervenção do profissional de Educação Física. Para complementar a discussão sobre o assunto, o presente estudo pauta-se em alguns referenciais das Ciências Sociais, Antropologia e Pedagogia.

2. METODOLOGIA Esta pesquisa pode ser caracterizada como analítica, do tipo revisão narrativa. Segundo Rother (2007, p. 5) “os artigos de revisão narrativa são publicações amplas, apropriadas para descrever e discutir o desenvolvimento ou


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o estado da arte de um determinado assunto, sob ponto de vista teórico ou contextual".

São importantes para a educação continuada, pois buscam

atualizar uma temática específica. Como estratégia de seleção das fontes de pesquisa, realizamos os seguintes procedimentos: (1) por meio eletrônico, busca em bases de dados como Scielo e em portais de periódicos como o Google Acadêmico, e o Portal Capes, utilizando os seguintes descritores: corpo humano, academias de ginástica, e cultura, e os seguintes termos: cultura corporal, educação popular, educação popular em saúde, pesquisados pelos operadores boleanos “and” e “or” e (2) através da seleção na própria bibliografia dos artigos identificados na busca supracitada. O período de busca ocorreu entre janeiro e maio de 2020. Foram adotados como critérios de inclusão, publicações entre 2000 a 2020, em português, já que se verificou a necessidade de estudar o fenômeno em questão por meio de fontes nacionais fossem essas teses, dissertações, livros (bibliografia cinzenta) e revistas. Os critérios de exclusão considerados foram trabalhos em inglês e espanhol, artigos ou textos que não estavam completos. Além da busca por meio eletrônico, foram consultados autores clássicos das Sociologia, Antropologia e Pedagogia, para uma compreensão mais ampla do fenômeno. Foi utilizado como primeiro método a leitura exploratória dos materiais bibliográficos referentes ao tema Educação Popular em Saúde e Academia de Ginástica, possibilitando ter uma linha geral do conhecimento, seguido de uma leitura seletiva de textos relacionados ao tema. A leitura seletiva foi seguida pelo método analítico, no qual foram analisados os achados e comparados entre si. O processo de leitura dos materiais foi finalizado por meio da leitura interpretativa para relacionar o tema proposto com o objetivo da pesquisa. Poucos estudos foram encontrados que associaram esses assuntos no campo científico até o momento. Portanto, iniciaremos fazendo uma explanação dessas áreas de forma separada compreendendo-as conceitualmente, para depois tecer uma relação a partir disso. Iniciaremos essa discussão voltando ao nosso objetivo de analisar as concepções de corpo e cultura na Academia de ginástica e sua relação com a Educação Popular em Saúde (EPS) na formação


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e intervenção do profissional de Educação Física. Nesse sentido, traçamos uma estrutura de diálogo que nos levou a refletir sobre as relações que podem ser feitas entre a Academia de Ginástica, a Educação Popular em Saúde e a formação e a intervenção do profissional de Educação Física. Foram então formulados os seguintes capítulos: (3) Corpo, cultura, saúde e a Academia de Ginástica, no qual discutimos conceitos de partida da pesquisa; (4) Educação Popular em Saúde, no qual buscamos elucidar um percurso histórico e a atuação da EPS, e (5) a Academia de Ginástica como espaço de Educação Popular em Saúde, a formação e a atuação do profissional de educação física, no qual estabelecemos uma discussão sobre as relações e contribuições da EPS para a formação e intervenção do Profissional de Educação Física.

3. CORPO, CULTURA, SAÚDE E A ACADEMIA DE GINÁSTICA

Neste capítulo iremos analisar as percepções sobre corpo, cultura, saúde e a academia de ginástica, a partir da construção histórica desses conceitos, a fim de situá-los como ponto de partida dessa análise. Inicialmente iremos constituir corpo e cultura, a partir uma abordagem sociocultural, para, em seguida, discutirmos sobre as relações entre corpo, cultura e saúde no contexto das academias de ginástica. A compreensão desses conceitos será de suma importância para a discussão proposta nos capítulos seguintes sobre a Educação Popular em Saúde.

3.1 PERCEPÇÕES DE CORPO E CULTURA

A percepção sobre o corpo humano vem passando por diversas transformações históricas e sociais (CRUZ, 2019) e sendo objeto de estudos de diferentes campos acadêmicos e científicos nas áreas das ciências humanas e sociais como Antropologia, Psicologia, Filosofia, História, Estética, Linguística, Semiótica, Economia, Ciência Política, entre outros. O corpo viu-se simultaneamente livre das

suas

supostas

determinações

biológicas,

e desfigurado nas suas múltiplas e profusas figurações teóricas (SILVA; FREITAS; LUDORF, 2019).


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Marcell Mauss (1950), sociólogo e antropólogo francês compreende o corpo como o mais natural objeto técnico do homem e as técnicas corporais como as formas pelas quais os seres humanos produzem seus corpos sociais na tradição. Chamo de técnica um ato tradicional eficaz (e vejam que, nisto, não difere do ato mágico, religioso, simbólico). É preciso que seja tradicional e eficaz. Não há técnica e tampouco transmissão se não há tradição. É nisso que o homem se distingue sobretudo dos animais: pela transmissão de suas técnicas e muito provavelmente por sua transmissão oral (MAUSS, 1950, p.1).

Para Mauss (1950) tais técnicas antecedem a prática de manipulação de instrumentos, pois é através do nosso corpo que vivenciamos e compreendemos o contexto a nossa volta. É, portanto, com o corpo que interagimos com o ambiente e produzimos a cultura corporal e a cultura do movimento na repetição. Podemos compreender a relação entre corpo e cultura quando observamos, por exemplo, como acontece a expressividade numa determinada sociedade. O movimento corporal é uma das formas de expressão do ser humano, um meio essencial de subsistência no mundo físico e de interação no meio sociocultural, ou seja, toda ação humana está relacionada, de um modo ou de outro, ao movimento. Tais movimentos fazem parte de um construto cultural constituído pelo ser humano durante toda sua história e que recebe o nome de cultura corporal ou cultura do movimento (DALLO, 2007). Entende-se como cultura corporal "aquela parcela da cultura geral que abrange as formas culturais que se vêm historicamente construindo, nos planos material e simbólico, mediante o exercício da motricidade humana - jogos, esportes, ginásticas e práticas de aptidão física, atividades rítmicas/expressivas e danças, lutas/artes marciais" (DARIDO et al, 2001, p. 156).

Como afirma Mauss (1974), nossos atos, que são aprendidos ou assimilados de atos bem-sucedidos de outros indivíduos (aprendizado), são submetidos a uma ética psicológica e social, e esta difere de uma sociedade para outra, ou seja, nossa expressão é moldada pela educação e pela sociedade. Assim, somos montagens culturais que fazem parte de um conjunto simbólico, com significados próprios (MAUSS, 1974). Como identificado por Silva, Freitas e Ludorf (2019), na Educação Física existe uma dualidade na perspectiva de cultura corporal, o conceito de cultura


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se apresenta ora em uma acepção mais universalista, ora em uma acepção mais particularista. Essas duas linhas de pensamentos, apontadas por Cuche (2002), é que orientam as intervenções com a profissão. A mais universalista, baseia-se na existência de uma única cultura, e a outra mais relativista, que compreende que há uma diversidade de culturas e especificidades em cada uma. Para Daolio (2010) a cultura é a própria condição de vida de todos os seres humanos. É produto das ações humanas, mas é também processo contínuo pelo qual as pessoas dão sentido às suas ações. Ele afirma também que a cultura se constitui em processos singulares e privados, mas também plurais e públicos, admitindo que esse conceito pode ser compreendido como universal, uma vez que todos os seres humanos a produzem, mas é também local, uma vez que é a dinâmica específica de vida que significa o que o ser humano faz. A visão relativista de Daolio orienta uma intervenção profissional que compreenda e respeite as particularidades de cada cultura, sem subjugar ou enaltecer uma em detrimento da outra, levando em consideração os contextos específicos

de

cada

grupo

social,

valorizando

as

particularidades,

compreendendo o homem como contínuo construtor de sua cultura. O corpo e a corporeidade têm tido um enfoque privilegiado nas ciências sociais como lugar de exercício de poder. Essa abordagem mais política do corpo, é apontada por Michel Foucault (1979) como biopolítica, em que a manipulação do corpo é mantida pelas técnicas de poder, discursos de verdade, vigilância e controle que impulsionam o sujeito a seguir determinado tipo de comportamento. Pela disciplina, o corpo poderia ser manipulado, modelado e treinado através de técnicas de hierarquia que vigiam e das sanções que normalizam, sendo o efeito dessa penetração, o domínio da consciência do próprio corpo e de seus desejos. Tais relações de poder sobre o corpo, configuram-se também através dois modelos científicos da saúde2, que podemos definir como: o modelo de Percepção Biomédica e o modelo de Percepção Biopsicossocial. O modelo de Percepção Biomédica ganhou força durante a revolução industrial, quando a intervenção médica da época combatia as doenças,

Conjunto de elementos culturais, conhecimentos e códigos teóricos, técnicos ou metodológicos compartilhados pelos membros de uma comunidade científica. 2


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compreendendo-as como sendo causadas por organismos patogênicos e disfunções biológicas, sem considerar os contextos psicossociais como causadores ou associados a essas doenças (BARROS, 2002; CRUZ, 2019). O corpo era percebido a partir de uma visão separatista, que incluía padrões matemáticos, e ficou assim conhecido como corpo máquina. O corpo humano, ao ser comparado com uma máquina hidráulica, recebe uma educação que o considera apenas em seu aspecto mecânico, sem vontade própria, sem desejos e sem o reconhecimento da intencionalidade do movimento humano, o qual é explicado através da mera reação a estímulos externos, sem qualquer relação com a subjetividade (MENDES E NÓBREGA, 2004, p. 125).

Como afirma Cavalcanti (2005), a ascensão do capitalismo na sequência da Idade Média, promove uma ruptura na visão de corpo que, antes era tido como sagrado pela religião, passa a ser objeto de estudo a partir de ciências positivas separadas desses valores religiosos, como a medicina, que deu um grande salto na produção de conhecimento em estudos de anatomia humana. Como consequência o corpo é tido como objeto. O corpo passa a ser estudado por diferentes ciências que criam uma nova perspectiva sobre a saúde e a vida. Segundo revisão realizada por Balestra (2012), o enfraquecimento de instituições como a religião, política e a família, favoreceram o surgimento de uma nova moralidade que é em si estética e voltada para o individualismo. “A pessoa apareceria como o maior responsável tanto pela sua aparência física como pela sua saúde, sendo cada indivíduo considerado responsável e culpado por sua juventude, beleza e saúde” (BALESTRA, 2012, p. 66). A busca pelo corpo denominado ideal, associa-se a essa visão mecanicista do corpo, e a visão biomédica de atenção ao corpo permanece predominante (CRUZ; BARRETO, 2019). O desenvolvimento da ciência no século XX, principalmente a biologia, a genética e a medicina tiveram profundas implicações no redimensionamento da categoria corpo e da categoria estética. A partir do momento em que a tecnologia nos permite colocar partes no nosso corpo que são feitos de materiais inorgânicos, e ao colocar poder tirá-las a bel prazer, basta que para isso uma nova moda me constranja a tal, começamos a falar na construção de um corpo pós-orgânico (CAVALCANTI, 2005, pp. 56, 57).

No decorrer do século XIX o sistema biomédico apresentava crises, com a diminuição da importância das doenças transmissíveis e consequente aumento das doenças degenerativas, tirando a ênfase da prática curativa, e dando


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atenção para a prática da prevenção. A ampliação do conceito de educação sanitária impulsionou a ciência a pensar uma abordagem holística da saúde, afastando-se da abordagem higienista, e aproximando-se da promoção da saúde (SANTOS, WESTPHAL, 1999). A saúde de um indivíduo, de um grupo de indivíduos, ou de uma comunidade depende também de coisas que o homem criou e faz, das interações dos grupos sociais, das políticas adotadas pelo governo, inclusive os próprios mecanismos de atenção à doença, do ensino da medicina, da enfermagem, da educação, das intervenções sobre o meio ambiente (SANTOS, WESTPHAL, 1999, p.75)

Toma forma então um novo paradigma da saúde.

No modelo de

Percepção Biopsicossocial, os fatores socioculturais, ambientais e emocionais passam a ser considerados influentes no processo de adoecimento. “O envolvimento dessas questões revela um corpo mais completo, o que nos proporciona uma abrangência maior para verificar o processo – saúde doença, recaído sobre o corpo resultado de todas as implicações que o rodeia” (CRUZ; BARRETO, 2019, p.13). Esse diz respeito não apenas ao modelo que se refere ao corpo com a visão mecanicista em que as partes corporais são mais importantes que o todo, mas sobretudo, para uma visão mais abrangente de terapêutica inserindo em seu contexto a realidade do corpo e como ele se manifesta perante a coletividade que está inserido, agregando para si estas manifestações e impregnando um novo processo de saúde e doença, suprimindo o modelo cartesiano de divisão das partes e contemplando todas as partes como um todo, a fim de promover uma terapêutica completa e eficaz (CRUZ; BARRETO, 2019, p 13).

O novo paradigma tem sua prática sanitária voltada para a vigilância à saúde. Tal prática amplia a atuação do paradigma anterior (curativista), para dar conta da globalidade do processo saúde-doença nas diferentes áreas de intervenção da saúde. Apesar de recente, vem atuando na reestruturação de vários programas de ensino de saúde pública, nos currículos dos profissionais de saúde, no fazer profissional, adotando a ótica da promoção da saúde na concepção do sistema de vigilância como um todo, contribuindo na reestruturação dos programas e das práticas, no sentido do conhecimento amplo dos determinantes da saúde e na indicação de estratégias que permitam envolver outros setores governamentais e a sociedade na resolução dos problemas (SANTOS, WESTPHAL, 1999).


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Atualmente, é possível observar a coexistência desses dois modelos científicos, com forte resistência do modelo biomédico enraizado na sociedade e na intervenção dos profissionais de saúde. No entanto, o modelo biomédico é fortemente impulsionado pelo capitalismo e pelo marketing, já que uma vez que são adotados valores ao corpo, ele torna-se um produto, e a estética uma grande oportunidade para a economia. Como diz Sabino (2004) a beleza e o corpo passam a ser um espetáculo e usado como estratégia da mega indústria do fitness, moda e beleza, promovendo a expansão das academias, o surgimento de novos exercícios e métodos de treinamento, assim como de dietas inovadoras e a divulgação das cirurgias plásticas. Cavalcanti (2005) destaca a influência da globalização e das biotecnologias sob a construção do corpo na atualidade, em que o corpo é exposto como produto de marketing por meio de imagens, expressões corporais, composição e posicionamento, comercializado nas redes sociais associado às vendas. Decorrente disso, a aparência do corpo passa a ser associada à personalidade do indivíduo e a sua saúde, influenciando o julgamento moral das pessoas, podendo ser aprovado ou não diante da sociedade (SUDO, LUZ, 2007; SANTOS, SALLES, 2009). Este fenômeno tem ganho popularidade como “estetização da saúde”, e é fortemente disseminado devido aos processos econômicos e culturais da fase atual do capitalismo, ao qual a indústria e a mídia ditam padrões de corpo, saúde e beleza a serem seguidos. Ferreira (2013) afirma que o corpo sofre incorporação dos valores hegemônicos dominantes, sendo de certa forma reprodutor das normas sociais, mas também assume um lugar de luta e resistência destas mesmas normas. Deste modo, o corpo assume, na contemporaneidade, várias dimensões e facetas, de forma a refletir sua composição, tanto material, quanto social, em uma unificação de ambas para marcação individual e de posição social.


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Nesse sentido, Silva, Freitas e Ludorf (2019) propõem que o debate contemporâneo sobre corpo e saúde precisa ser enfrentado e tematizado, principalmente pelas Políticas Públicas.

3.2 SAÚDE E A ACADEMIA DE GINÁSTICA Os conceitos e percepções sobre saúde vêm se transformando ao longo do tempo e sempre estão relacionados aos paradigmas das diferentes épocas e sociedades para o enfrentamento das doenças. Há diferentes perspectivas de saúde coexistindo nas diferentes classes sociais, sociedades e culturas atuais. Do ponto de vista do Relativismo cultural3, o que há constantemente é a valorização de uma dessas perspectivas em detrimento das outras, pelas classes dominantes. Iremos apresentar algumas abordagens de enfrentamento das doenças que têm forte relação com as distintas perspectivas. Uma dessas perspectivas é a mágico-religiosa (doença relacionada a forças alheias, do pecado ou maldição) que existe desde as primeiras comunidades religiosas e indígenas. Uma outra emergiu com o desenvolvimento da mecânica e da anatomia, nas ideias de René Descartes, no século XVII, e sua visão de homem máquina, e o dualismo mente–corpo (SCILIAR, 2007), chamada de Modelo Mecanicista. Contudo, com os grandes avanços, do século XIX, com o empenho de grandes nações como Estados Unidos e Alemanha houve o desenvolvimento da patologia celular, da fisiologia, da bacteriologia. A disseminação das pesquisas científicas deu lugar à passagem da medicina de ciência empírica para ciência experimental, caracterizada por explicar os fenômenos da vida com visão reducionista, sob a influência da epistemologia cartesiana, dando assim origem ao Modelo Biomédico (BEZERRA, SORPRESO, 2016; SCILIAR, 2007).

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Relativismo cultural é ideia de que o modo de vida de um determinado grupo pode não ser válido ou valorizado em outro sistema social. O relativismo cultural demonstra que os comportamentos humanos não são fundamentados na natureza, mas no desenvolvimento dos costumes.


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Apesar de todas essas perspectivas sobre a relação saúde-doença, até às primeiras décadas do século XX, não havia ainda um conceito universalmente aceito do que é saúde, ato que só foi possível com a criação da Organização das Nações Unidas (ONU) e da Organização Mundial da Saúde (OMS), que definiu saúde como estado do mais completo bem–estar físico, mental e social e não apenas a ausência de enfermidade, divulgado na carta de princípios de 7 de abril de 1948 (desde então o Dia Mundial da Saúde), implicando o reconhecimento do direito à saúde e da obrigação do Estado na promoção e proteção da saúde (SCILIAR, 2007). Este conceito foi duramente criticado por pelos países pela sua amplitude, caráter subjetivo e idealização de perfeito bemestar. Assim em 1978, em decorrência dessas críticas, na Conferência Internacional de Assistência Primária à Saúde (Alma-Ata), promovida pela OMS, foi aprovado um conceito ampliado, agora considerando os diferentes determinantes da saúde, levando em conta as desigualdades entre países desenvolvidos e subdesenvolvidos; a responsabilidade governamental na provisão da saúde; e a importância da participação de pessoas e comunidades no planejamento e na implementação dos cuidados à saúde. Desde então o conceito de saúde vem se transformando ao longo dos anos, “caracterizando-se como um processo que envolve aspectos sociais, políticos e econômicos, estando sob influência de mudanças significativas a depender do contexto inserido” (BEZERRA, SORPRESO, 2016, p.4). No Brasil, o conceito de saúde acompanhou essa modificação da relação saúde-doença e teve grandes avanços com o advento da Reforma Sanitária, que culminou na criação do nosso sistema de saúde atual, o Sistema Único de Saúde (SUS) que com seus princípios doutrinadores de universalidade, integralidade e equidade confronta modelos de saúde hegemônicos como o privatista (suplementar) e sanitarista. A nossa perspectiva de saúde foi descrita na Constituição Brasileira de 1988, como resultante das condições de alimentação, habitação, educação, renda, meio ambiente, trabalho, lazer, acesso e posse da terra e dos serviços de saúde, em conformidade com a definição da OMS. Com a Política Nacional de Promoção da Saúde, instituída em 2006, através da Portaria 687 MS/GM, há o reconhecimento que o processo saúde-


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doença está associado a determinantes e condicionantes mais amplos, como o modo de vida, condições de trabalho, habitação ambiente, educação, lazer, cultura, acesso a bens e serviços essenciais,

favorecendo a criação de

estratégias que extrapolam o potencial do aparato biomédico. Foi implantado a Estratégia Saúde da Família - ESF, e com ela todo o sistema de saúde deixou de centrar-se exclusivamente na promoção da saúde, propondo ações com objetivo de melhorar a qualidade de vida da população e reduzir a vulnerabilidade e riscos à saúde, não mais voltadas para o indivíduo e a doença, passando também para o coletivo, sendo a família o espaço privilegiado de atuação. “Deste modo, após a implantação da ESF, a atuação dos profissionais de saúde voltou-se não apenas para o indivíduo e sua doença, mas a promoção da saúde de toda a família e comunidade” (BEZERRA, SORPRESO, 2016, p.7). “A lógica dos determinantes sociais da saúde pretende reduzir as iniquidades em saúde, melhorar a saúde e melhorar o bem-estar, promover o desenvolvimento e alcançar as metas de saúde” (BEZERRA e SORPRESO, 2016). Carrapato, Correia, Garcia (2017), através de pesquisa bibliométrica, identificam os determinantes que influenciam a saúde, considerando que as condições sociais, ambientais e económicas influenciam grandemente as condições de saúde das populações, identificando três principais determinantes: ambientais, econômicos e sociais, com diferentes intervenções na produção da saúde populacional. Determinantes

Poluição da água e do ar, a biodiversidade, o aquecimento

ambientais

global, a depleção do ozono, as condições das habitações, a qualidade dos transportes, a segurança alimentar, a gestão de resíduos, a política energética, o ambiente urbano.

Determinantes

Desempenho económico do país, rendimento (pode

económicos

condicionar

acesso

a

comportamentos

situação de emprego, ocupação, habitação.

saudáveis),


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Determinantes

Cultura, estilos de vida, género, etnia, grau de inclusão

sociais

social, idade, comportamentos relacionados com a saúde, as condições de vida e condições de trabalho, educação.

Determinantes ambientais, econômicos e sociais da saúde Fonte: CARRAPATO; CORREIA; GARCIA (2017) Carvalho (2012) propõe um dos modelos mais conhecidos dos determinantes sociais da saúde. Neste modelo os determinantes da saúde estão dispostos em diferentes níveis, sendo o centro do modelo os indivíduos (com as características individuais de idade, género e fatores genéticos), os quais vão dos fatores biológicos, ao estilo de vida, às redes sociais e comunitárias, às condições de vida e de trabalho, e por fim, às condições socioeconômicas, culturais e ambientais gerais. O conceito de saúde e seus determinantes têm sido investigados em diferentes espaços de saúde, em busca de garantir os princípios do SUS, superar a visão reducionista do modelo biomédico e definir estratégias de intervenção para a promoção da saúde, compreendendo-a como determinada por diferentes fatores, não apenas o biológico. Um desses espaços de investigação e debate sobre o conceito de saúde são as Academias de Ginástica, que segundo o Conselho Federal de Educação Física (CONFEF, 2014), como já apresentado anteriormente, é o espaço ou empresa que presta serviços de promoção da saúde, visando o condicionamento físico de forma coletiva ou individual sob orientação de profissionais de Educação Física. A Educação Física é a "área de conhecimento e intervenção profissionalpedagógica que lida com a cultura corporal de movimento, objetivando a melhoria qualitativa das práticas constitutivas daquela cultura, mediante referenciais científicos, filosóficos, pedagógicos e estéticos" (BETTI, 2004, p. 151) e tem um importante papel na área da saúde pois possibilita uma visão conscienciosa sobre os benefícios do exercício físico e suas práticas corporais, para que os adeptos, em todas as idades e de todas as formas, entendam melhor o próprio corpo e desenvolvam uma vida saudável (TOSCANO, 2001).


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No Brasil, as academias de ginástica surgiram como uma prática comercial, de distintas formas de atividade física específicas (natação, fisiculturismo, dança, etc.), ocorrendo sua unificação de forma espontânea, nas últimas décadas, até que as mesmas ganhassem o sentido atual, ou seja, espaços com ofertas variadas de prática de exercício físico (DALLO, 2007).

Os espaços das academias de ginástica e de musculação são campos extremamente ricos, que maximizam, muitas vezes, uma série de características e de fenômenos da contemporaneidade. O caráter de performance que vem sendo incorporado pelas práticas corporais oferecidas nesses ambientes remete às (re)significações do corpo na cultura contemporânea e, portanto, aos novos sentidos atribuídos à vida humana que se vê diante das “indesejáveis” limitações impingidas por seu aspecto carnal. (HANSEN E VAZ, 2004, p. 149)

A criação de novas academias e modelos de treinamentos diversificados se constituem como estratégia para atingir os determinantes sociais relacionados aos estilos de vida, com a intenção de minimizar os efeitos do sedentarismo. Para a promoção do bem-estar, saúde e estética, promovem a criação de diferentes instalações, programas, aulas e campanhas (BALESTRA, 2012; FLORES et al., 2016; SILVA, 2016). Para entender o cenário atual das academias no Brasil é necessário compreender dois conceitos muito importantes: o fitness e o wellness. Durante as transformações pelas quais passaram as academias de ginástica, as práticas oferecidas pelas mesmas estavam diretamente ligadas ao conceito de corpo e saúde de cada época. À medida que esses conceitos foram se alterando, os serviços e as concepções nas academias também foram se transformando. Segundo Furtado (2009), o fitness foi o princípio básico das primeiras academias que surgiram no Brasil, pois tinham seus objetivos relacionados unicamente à aptidão física, desempenho físico e atlético, e uma boa estética. A passagem para o wellness aconteceu no momento em que as academias ampliaram seu público e ganharam notoriedade como produtos de mercado e consumo. O wellness é norteador dos administradores de academias pois preocupa-se com todos os aspectos do bem-estar dos clientes não somente de


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exercícios físicos, mas também agindo em outras atividades. Compensa enfatizar que o fitness não foi descartado, uma vez que o wellness o engloba. Como ilustração disso, é possível encontrarmos profissionais em academiasde ginástica orientando seus alunos sobre malefícios que quaisquer práticas em excesso podem promover, a importância da alimentação, a visita periódica a médicos e outros exemplos (FURTADO, 2009). Existe uma relação direta entre esses conceitos, a formação dos profissionais de educação física e o conceito de saúde. Segundo Oliveira e Gomes (2019) a percepção sobre o corpo e o conceito de saúde na formação profissional em saúde estiveram por muito tempo associados à abordagem biomédica, e nesse sentido, ainda com uma concepção de saúde fortemente associado à doença. A transição do fitness para o wellness, como forma de compreender corpo e saúde na academia de ginástica, promoveu uma reflexão sobre o espaço físico e práticas as ofertadas pela academia, o marketing e a postura do profissional de educação física. As alterações no espaço das academias foram potencializadas pelas novas concepções de corpo, que associadas à compreensão de saúde, buscavam proporcionar uma prática que compreendesse os fatores socioculturais, ambientais e emocionais, e ultrapassasse objetivos estéticos. Hoje, podemos visualizar a hegemonia de uma dessas concepções ou a coexistência delas nas academias de ginástica. Furtado (2009) aponta três estágios de desenvolvimento das academias de ginástica no Brasil nas últimas décadas, que foram acompanhadas por esses conceitos. O primeiro, o do surgimento das academias, a hegemonia do fitness, ligado ao halterofilismo e fisiculturismo, o segundo, o surgimento do wellness, com a introdução da ginástica, a dança, a yoga, as lutas (e outros), fortemente impulsionada pela mídia, e o terceiro, assim mais atual, a coexistência desses modelos, ora atuando separadamente, ora atuando juntos no mesmo estabelecimento. Assim, embora deva-se sublinhar que não se trata de uma transformação no sentido linear, é possível argumentar que a academia de ginástica é um lócus de aglutinação desses elementos que tem fortes


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heranças do modelo biomédico, que se desenvolve ao longo do século XX na vertente do fitness e, a partir do início do século XXI, na vertente do wellness. Dito de outra maneira, trata-se de um ambiente que agrega as diferentes vertentes de culto ao corpo (ROSSI, 2014). Por isso, é indispensável conhecer academias que se centram, ainda, apenas em ofertas de serviços voltados a aptidão física, assim como outros formatos de estabelecimentos, com novos nomes, produtos e práticas, visando diversificação e o desenvolvimento de práticas de lazer, artísticas e integrativas. Não obstante, associado à hegemonia ou coexistência desses conceitos, há ainda o interesse dos alunos, como observado pelos estudos de Rossi (2014) e Silva, Freitas, Ludorf (2019), os próprios alunos têm os seus ideais e objetivos definidos, determinando, portanto, a forma como a relação professor/aluno e oferta/necessidade vai ser desempenhada em cada estabelecimento. Nesse cenário, o profissional de Educação Física torna-se o responsável por ministrar e gerenciar as práticas corporais para diversos propósitos, como saúde, lazer, estética, dentre outros (ROSSI, 2014) e criar estratégias de convencimento em sua intervenção para não contrariar os anseios dos frequentadores (SILVA; FREITAS; LUDORF, 2019). Betti (2004) reflete na importância do professor/profissional para o desenvolvimento do ser humano buscando o desenvolvimento biopsicossocial em sua totalidade. A disseminação de informações e sentidos sobre a cultura corporal de movimento por parte das mídias talvez não mais permita que os profissionais da Educação Física se coloquem como intermédios que controlam os estímulos, pois estes agora são desencadeados em grande parte pelo "mercado do corpo", atingindo diretamente os "consumidores", os quais ditariam os sentidos e valores das práticas corporais. Contudo, para que não se submetam irrestritamente aos interesses deste mercado (o que implicaria perder para sempre a Educação Física tal como a conhecemos a partir da sua moderna tradição), poderíamos conceber os profissionais da Educação Física como mediadores que se interpõem entre a cultura corporal de movimento dos nossos tempos e os interessados na exercitação sistemática e intencional da motricidade, auxiliando-os a realizar uma leitura crítica daquela cultura e das suas próprias motricidades. (BETTI, 2004, n.p.)

Silva, Freitas e Ludorf (2019) apontam diferentes perspectivas na relação Professor-aluno/cliente na academia de ginástica, que interferem na


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forma como os profissionais de Educação Física lidam com as múltiplas noções de corpo: uma mercadológica, que a visualiza como espaço comercial e se preocupa em vender serviços de saúde e tais benefícios de suas práticas corporais; e a outra, a da orientação, ao qual o profissional de educação física intervém através de uma postura pedagógica de orientar o aluno. Em seu estudo, realizado no Rio de Janeiro, observaram que tais perspectivas puderam ser associadas às condições socioeconômicas e culturais que enredam o espaço das práticas corporais. Em academias situadas em áreas nobres e de grande porte a atuação dos profissionais eram respaldados pelos interesses do cliente. Nessas academias de ginástica, a ideia de profissional fica associada à de prestador de serviço que a todo instante se articula no sentido de legitimar o seu espaço de atuação com os clientes, a princípio, bastante informados sobre os cuidados do corpo. (IBIDEM, p. 106).

Já em academias situadas em áreas populares, o profissional assumia uma postura pedagógica, impondo seu conhecimento científico a partir do que seria melhor para o aluno, pois ‘‘orientar os alunos em relação ao corpo seria uma tarefa, nesse caso, mais relevante do que propriamente vender as práticas corporais, como ocorreu na perspectiva mercadológica‘‘ (IBIDEM, p. 106). A academia de ginástica, portanto, pode ser considerado um importante espaço de promoção da saúde, com incidência sobre os determinantes relacionados aos estilos de vida, para o Profissional de Educação Física aplicar seu conhecimento científico para a construção e promoção de uma intervenção que considera a saúde em seu aspecto biopsicossocial. 4. EDUCAÇÃO POPULAR EM SAÚDE A Educação Popular em Saúde (EPS) é “um campo de práticas e de conhecimento do setor saúde que tem se ocupado mais diretamente com a criação de vínculos entre a ação assistencial e o pensar e fazer cotidiano da população” (VASCONCELOS, 2007, p. 18). Inspirada nos conceitos de educação popular do educador e filósofo brasileiro Paulo Freire, considera a promoção, prevenção, cura e reabilitação como processos pedagógicos, portanto toda ação de saúde é uma ação educativa, pois interfere direta ou indiretamente no modo de pensar, sentir e agir do paciente (VASCONCELOS, 2007; GOMES; MEHRY ,2011; PINHEIRO; BITTAR, 2017). E nela os saberes


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do povo são valorizados para que haja uma construção de conhecimento compartilhada com as classes populares, para que sejam protagonistas no seu processo de saúde, no enfrentamento das iniquidades, em situações de exclusão social, e na construção de uma sociedade justa, solidária e democrática (VASCONCELOS; CRUZ; PRADO, 2016). Para a EP, a problematização deixa de ser apenas uma estratégia didática, ou, mesmo, um jeito dinâmico de ensinar, para ser um desafio de pesquisa compartilhada entre os educadores e educandos, comprometida com problemas concretos vividos no trabalho e na sociedade. Não é um recurso metodológico para facilitar o ensino de conteúdos predefinidos, mas um comprometimento com os desafios trazidos pela dinâmica de adoecimento e luta pela saúde das pessoas e da sociedade, em um contínuo processo de reflexão, ação, reflexão (VASCONCELOS; CRUZ; PRADO, 2016, p. 837).

Paulo Freire não criou a Educação Popular, mas foi ele, aqui no Brasil, o pioneiro que a estruturou como corpo teórico e prática social. Na década de 50, a partir de intervenções da igreja católica, Paulo Freire e outros intelectuais e educadores, influenciados pelo humanismo personalista que crescia na Europa no pós-guerra, passam a dar forma ao movimento que tinha em seu cerne uma pedagogia social voltada às classes populares do Brasil. Paulo Freire foi um dos maiores pensadores da educação brasileira e deixou inúmeras contribuições sobre suas percepções não só sobre educação, mas sobre aprendizagem, corporeidade e cultura (CECCIM, 2007). Em uma conversa com pessoas que, direta ou indiretamente, estavam envolvidas com o trabalho de educação popular, em 1982, na Cidade de São Paulo, Paulo Freire explanou sobre cinco princípios - que considerava fundamentais – aos educadores e às educadoras: saber ouvir; desmontar a visão mágica; aprender/estar com o outro; assumir a ingenuidade dos educandos(as) e viver pacientemente impaciente. O primeiro desses princípios, o saber ouvir, tem a ver com a constatação de que não estamos sozinhos no mundo, e a compreensão que estamos com o outro, implica dizer que temos que admitir e respeitar o conhecimento do outro (CECCIM, 2007).

Esses princípios nos

ensinam a saber estar com o outro, admitir o conhecimento do outro, considerando que não há um conhecimento absoluto, e ser sempre um(a) aprendiz, com o olhar atento a tudo. “Para Freire, viver a relação paciência e


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impaciência e não perder a crítica, assumir a ingenuidade em si e do outro, recriar, reaprender de novo e, afinal, fazer” (CECCIM, 2007, p. 43). A reflexão de Paulo Freire nos leva a compreender que só iremos superar essa postura de "querer libertar dominando", quando entendermos que não estamos "sozinhos" no mundo e que o processo de libertação não é obra de uma só pessoa ou grupo, mas sim de todos nós (CECCIM, 2007, p.32).

O conhecimento de Paulo Freire contribuiu não só com a criação de um movimento de pedagogia social, mas contribuiu para a reflexão sobre corporeidade, cultura e saúde (GOMES; MEHRY ,2011; PINHEIRO; BITTAR, 2017; VASCONCELOS; CRUZ; PRADO, 2016; MOURA; SANCHONETE; MOURA, 2019). O percurso das ações de educação em saúde no Brasil data das primeiras décadas do século XX. As campanhas sanitárias da Primeira República e a expansão da medicina preventiva para algumas regiões do país, a partir da década de 1940, no Serviço Especial de Saúde Pública apresentavam estratégias de educação em saúde autoritárias, tecnicistas e biologicistas, em que as classes populares eram vistas e tratadas como passivas e incapazes de iniciativas próprias (GOMES; MEHRY, 2011, p. 8).

Profissionais de diferentes áreas da saúde e da educação, insatisfeitos com as práticas de saúde mecanizadas e rotinizadas, inspirados nas ideias de Paulo Freire sobre Educação Popular, acreditavam no processo de saúde como um processo pedagógico e que deveria considerar o conhecimento do povo. Desta feita, organizaram-se de forma contrária ao modelo hegemônico da época, formalizando, nos anos seguintes, o campo de conhecimento que chamamos de Educação Popular em Saúde – EPS (VASCONCELOS, 2007). Na América Latina, a EPS foi se consolidando a partir da década de 60, período em que diferentes concepções e práticas de saúde eram mobilizadas pelas elites políticas e econômicas que atuavam no sistema de saúde brasileiro. Até a década de 1970, tais ações de saúde se traduziam na forma de normas de conduta, que serviam aos interesses das elites, e deveriam ser seguidas à risca pela população. Na saúde se traduzia no modelo biomédico, em que havia uma relação vertical entre o profissional de saúde, o que sabe, e o paciente, o que não sabe. As décadas seguintes foram marcadas por várias lutas políticas e institucionais, e se intensificou devido à participação de vários profissionais da


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saúde, lideranças políticas e organizações da sociedade civil nas políticas públicas de saúde. Na década de 80, as tensões políticas sob o Estado possibilitaram

a

criação

do

Sistema

Único

de

Saúde

(SUS),

e

consequentemente, o desenvolvimento de uma política educacional de saúde que

considere

a

participação

popular

(PINHEIRO;

BITTAR,

2017;

VASCONCELOS; CRUZ, 2011; GOMES; MEHRY, 2011). A Constituição Federal de 1988 afirma, no seu art. 196, que a saúde é um direito universal e responsabiliza o Estado pela realização de políticas públicas intersetoriais que a garantam. Com ela, foi criado o Sistema Único de Saúde, que foi regulamentado com a Lei nº. 8.080, de 19 de setembro de 1990, conhecida como Lei Orgânica da Saúde, que definia como alguns dos princípios e diretrizes do SUS: universalidade; integralidade; equidade; participação da comunidade; descentralização político-administrativa; regionalização e hierarquização da rede de serviços de saúde. Alguns aspectos de sua regulamentação passaram por vetos presidenciais, e foram revistos a partir da Lei nº. 8.142, ainda em 1990, em especial os que tratam da participação popular na gestão e controle do sistema (GOMES E MEHRY ,2011, p.10).

Nas décadas seguintes as lideranças de movimentos sociais, pesquisadores e profissionais da saúde se organizaram em forma de organizações para estudar e disseminar a EPS. Em 1991, organizaram a Articulação Nacional de Educação Popular em Saúde, no I Encontro Nacional de Educação Popular em Saúde, ocorrido em São Paulo, posteriormente chamado de Rede de Educação Popular e Saúde, que funcionou como um espaço de articulação política que promovia a troca de saberes e de formulação de teorias e de propostas alternativas para o funcionamento dos serviços de saúde, como processos educativos para a classe popular. Em 2003 a parceria entre a Rede de Educação Popular em Saúde e o Ministério da Saúde possibilitou a realização de encontros estaduais que culminaram em um encontro nacional no qual se constituiu a Articulação Nacional de Movimentos e Práticas de Educação Popular e Saúde (ANEPS) (GOMES; MEHRY, 2011). As ações de política de saúde desenvolvidas pelo Ministério da Saúde, em parceria com a Rede de Educação Popular em Saúde, foram se reformulando e deram origem a 4 âmbitos específicos de atuação: (1) Atenção Básica, (2) Promoção da Saúde (3) Práticas Integrativas e (4) Academia da Saúde, que nos anos seguintes deram origem a 3 grandes políticas públicas no SUS, e o Programa Academia da Saúde, garantindo em todos os seus âmbitos os princípios da EPS.


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A política pública de Atenção Básica, a política de Promoção da Saúde e a política de Práticas Integrativas foram formalizadas em 2006. A Política Nacional de Atenção Básica é um conjunto de ações de saúde, no âmbito individual e coletivo, que abrange a promoção e a proteção da saúde, a prevenção de agravos, o diagnóstico, o tratamento, a reabilitação e a manutenção da saúde. A Política Nacional de Promoção da Saúde (PNPS) compreende a política de atenção integral à saúde, no âmbito das vigilâncias em saúde (vigilância epidemiológica, vigilância sanitária, vigilância em saúde ambiental, vigilância em saúde do trabalhador e análise de situação de saúde). As Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS) reconhece diferentes práticas de saúde, visando à humanização do cuidado, integralidade da atenção e escuta dos movimentos de educação popular em saúde. Nos anos seguintes, as portarias e as políticas de saúde foram sendo revisadas e reformuladas. A Academia da Saúde, é um dos desdobramentos dessa política de saúde, e foi instituída em 2011, para potencializar as manifestações culturais locais e o conhecimento popular. Seus eixos norteadores incentivam a participação da comunidade e a troca de saberes em seus programas, buscando garantir diante do SUS, a universalidade, a acessibilidade, a coordenação do cuidado, o vínculo e a continuidade, a integralidade da atenção, a responsabilização, a humanização, a equidade e a participação social (CABALLERO, 2015). No SUS, um dos campos de maior atuação do profissional de Educação Física é o Programa Academia da Saúde (PAS), já que é um programa comunitário de práticas corporais e atividade física das políticas públicas de promoção da saúde. Tendo em vista que a produção de publicações científicas da Educação Física nesse contexto são um pouco mais frequentes, iremos voltar a atenção para o PAS, compreendendo que este pode se relacionar com as academias de ginástica (empresa ou espaço), referida também neste trabalho, a fim de conhecer publicações nesse contexto que correlacionem e nos ajudem a aproximar da reflexão proposta nesta pesquisa.


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O programa, instituído em 2011, está diretamente ligado à Política Nacional de Atenção Básica (PNAB) e à Política Nacional de Promoção da Saúde (PNPS), e tem como objetivo contribuir para a promoção da saúde da população a partir da implantação de espaços públicos com infraestrutura, equipamentos e quadro de pessoal qualificado para a orientação de práticas corporais e atividade física e de lazer e modos de vida saudáveis (CABALLERO, 2015), com uma pedagogia holística e transversal baseada nos princípios de universalidade, integralidade e, sobretudo, equidade do SUS (IVO; MALTA; FREITAS, 2019). O programa foi reformulado em 2013 e passou a agregar com mais veracidade os princípios, diretrizes e objetivos das políticas nacionais supracitadas. A construção dessas políticas tem influências de outras iniciativas nacionais de ação sobre os estilos de vida, através do incentivo à prática corporal e ao enfrentamento da inatividade física (PARREIRA et al, 2019), como projetos dos estados de Pernambuco, Minas Gerais, São Paulo, e Goiás. Sendo assim, os objetivos específicos do programa possibilitam I – Ampliar o acesso da população às políticas públicas de promoção da saúde; II – Fortalecer a promoção da saúde como estratégia de produção de saúde; III – Desenvolver a atenção à saúde nas linhas de cuidado, a fim de promover o cuidado integral; IV – Promover práticas de educação em saúde; V – Promover ações intersetoriais com outros pontos de atenção da Rede de Atenção à Saúde e outros equipamentos sociais do território; VI – Potencializar as ações nos âmbitos da atenção básica, da vigilância em saúde e da promoção da saúde; VII – Promover a integração multiprofissional na construção e na execução das ações; VIII – Promover a convergência de projetos ou programas nos âmbitos da saúde, educação, cultura, assistência social, esporte e lazer; IX – Ampliar a autonomia dos indivíduos sobre as escolhas de modos de vida mais saudáveis; X – Aumentar o nível de atividade física da população; XI – Promover hábitos alimentares saudáveis; XII – Promover mobilização comunitária com a constituição de redes sociais de apoio e ambientes de convivência e solidariedade; XIII – Potencializar as manifestações culturais locais e o conhecimento popular na construção de alternativas individuais e coletivas que favoreçam a promoção da saúde; e XIV – Contribuir para ampliação e valorização da utilização dos espaços públicos de lazer, como proposta de inclusão social, enfrentamento das violências e melhoria das condições de saúde e qualidade de vida da população. (BRASIL, 2013, p. 2).


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As ações propostas estão relacionadas às atividades físicas e práticas corporais; promoção da alimentação saudável; práticas integrativas e complementares; práticas artísticas e culturais; educação em

saúde;

planejamento e gestão; mobilização da comunidade; produção do cuidado e de modos de vida saudáveis; que ocorrem no espaço do Programa denominado polo, sob a orientação de profissionais de saúde, e oferecem a oportunidade de diálogo entre os profissionais e a comunidade de forma mútua na construção de uma gestão colaborativa. É importante observar que através das práticas corporais para promoção da saúde, nas ações do programa, há o incentivo à disseminação de práticas como as ginásticas, lutas, capoeira, danças, jogos esportivos e populares, yoga, tai chi chuan, dentre outros; e as práticas artísticas (teatro, música, pintura e artesanato), valorizando e reconhecendo outras práticas médicas, diferentes das preconizadas no modelo biomédico, baseadas na intervenção cientificamente comprovada sobre o substrato anátomo-fisiológico para correção de desvios patológicos da normalidade. “A indicação de práticas corporais e práticas artísticas, além de potencialização a iniciativas populares relacionadas, demonstra a abertura para possibilidades não programáticas. Um dos diferenciais desse programa, inclusive, está no fato de que a oferta é de um espaço físico comunitário, com participação de profissionais de saúde, mas com diversidade nas atividades desenvolvidas” (CABALLERO, 2015, p.66).

Tais ações promovem uma nova reflexão para as intervenções profissionais sobre o corpo, principalmente para o profissional de educação física em saúde, pois proporciona uma visão do corpo diferente da observada nos modelos vigentes, uma vez que compreende o corpo na sua totalidade, e busca o diálogo entre o científico, e o popular, e incentiva as práticas corporais através da ludomotricidade,. Dessa forma, a ampliação do campo de intervenção em saúde pública e coletiva, principalmente através das políticas públicas, tem exigido cada vez mais do profissional. Os avanços proporcionados pelas reivindicações e propostas dos vários movimentos nacionais de EPS no Brasil, culminaram na criação de uma política formalizada, a Política Nacional de Educação Popular em Saúde (PNEPS-SUS), em 2013, que com o apoio do Ministério da Saúde é responsável por muitas


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iniciativas de educação permanente no SUS, como programas de qualificação, programas de extensão, e pesquisas voltadas a EPS no SUS (VASCONCELOS; CRUZ; PRADO, 2016). A PNEPS-SUS contempla 4 eixos estratégicos – participação, controle social e gestão participativa; formação, comunicação e produção de conhecimento; cuidado em saúde; e intersetorialidade e diálogos multiculturais. A participação das camadas populares nas ações de saúde é garantida nos princípios da PNEPS-SUS. O diálogo, a amorosidade, a problematização, a construção compartilhada do conhecimento, a emancipação e o compromisso com a construção do projeto democrático e popular são eixos norteadores para a valorização dos saberes populares, a ancestralidade, o incentivo à produção individual e coletiva de conhecimentos e a inserção destes no SUS (BRASIL, 2012). A PNEPS-SUS define como objetivos os seguintes pontos: -Objetivo Geral Implementar a Educação Popular em Saúde no âmbito do SUS, contribuindo com a participação popular, com a gestão participativa, o controle social, o cuidado, a formação e as práticas educativas em saúde. Objetivos Específicos 1. Promover o diálogo e a troca entre práticas e saberes populares e técnico científicos no âmbito do SUS, aproximando os sujeitos da gestão, dos serviços de saúde, dos movimentos sociais populares, das práticas populares de cuidado e das instituições formadoras; 2. Fortalecer a gestão participativa nos espaços do SUS; 3. Reconhecer e valorizar as culturas populares, especialmente as várias expressões da arte, como componentes essenciais das práticas de cuidado, gestão, formação, controle social e práticas educativas em saúde; 4. Fortalecer os movimentos sociais populares, os coletivos de articulação social e as redes solidárias de cuidado e promoção da saúde na perspectiva da mobilização popular em defesa do direito universal à saúde; 5. Incentivar o protagonismo popular no enfrentamento dos determinantes e condicionantes sociais de saúde; 6. Apoiar a sistematização, a produção de conhecimentos e o compartilhamento das experiências originárias do saber, da cultura e das tradições populares que atuam na dimensão do cuidado, da formação e da participação popular em saúde; 7. Contribuir com a implementação de estratégias e ações de comunicação e informação em saúde identificadas com a realidade, linguagens e culturas populares; 8. Contribuir para o desenvolvimento de ações intersetoriais nas Políticas Públicas referenciadas na Educação Popular em Saúde; 9. Apoiar ações de Educação Popular na Atenção Primária em Saúde, fortalecendo a gestão compartilhada entre trabalhadores e comunidades, tendo os territórios de saúde como espaços de formulação de políticas públicas; 10. Contribuir com a Educação Permanente dos trabalhadores, gestores, conselheiros e atores dos movimentos sociais populares, incorporando


34 aos seus processos os princípios e as práticas da educação popular em saúde; 11. Assegurar a participação popular no planejamento, acompanhamento, monitoramento e avaliação das ações e estratégias para a implementação da PNEPSUS (BRASIL, 2012).

A EPS, através da PNEPSUS e dos seus movimentos sociais, vem orientando inúmeras práticas de atenção em saúde e ações de movimentos sociais que se relacionam com os serviços, buscando sua ampliação, seu aperfeiçoamento e sua construção cotidiana de modo integrado à dinâmica comunitária, de modo valorativo dos saberes, das práticas e das prioridades das pessoas em seus contextos territoriais (VASCONCELOS; CRUZ; PRADO, 2016). A articulação entre o saber científico e o popular, que acontece na EPS é cada vez mais necessária, à medida que foi sendo produzido um distanciamento cultural entre as instituições de saúde e a população, fazendo com que uns não compreendam o modo como os outros operam (GOMES; MEHRY, 2011). Para Vasconcelos, Cruz e Prado (2016) é indispensável que exista as dinâmicas ativas de ensino, de diálogo, problematização, e oportunidade de expressão, para ajudar a explicitar conhecimentos prévios, sentimentos, perplexidades e dúvidas sutis dos educandos e da população. A arte e a cultura se mostraram como importantes estratégias de diálogo com a comunidade, pois permitem abordar e produzir o sujeito em sua totalidade, incluindo as dimensões ética, estética, do corpo, da religiosidade e da afetividade (PINHEIRO; BITTAR, 2017). Recentemente, a EPS passou a refletir sobre a formação dos profissionais de saúde e promover diálogos. Segundo Vasconcelos (2007), nos últimos anos o ensino profissional em saúde brasileiro tem experimentado uma nova abordagem pedagógica, herdada das experiências do Canadá, EUA e Holanda, intitulada "Aprendizagem Baseada em Problemas" (PBL - ProblemBased Learning), em que a estruturação das disciplinas especializadas tem como foco o estudo de problemas concretos de forma interdisciplinar e cooperativa. A Educação Popular em Saúde, que muitas vezes é denominada de pedagogia da problematização, possibilita uma abordagem a partir do problema, que contribui com essa nova abordagem, pois permite um processo contínuo de


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reflexão-ação-reflexão e dessa forma se apresenta como uma prática transformadora para a formação desses profissionais e para a política pública em saúde. Pensar a educação ampliada desses trabalhadores da saúde é fundamental para a ampliação de uma gestão participativa no SUS (VASCONCELOS, 2007).

5. A ACADEMIA DE GINÁSTICA COMO ESPAÇO DE EDUCAÇÃO POPULAR EM SAÚDE, A FORMAÇÃO E A ATUAÇÃO DO PROFISSIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA A área da Educação Física vem crescendo no campo científico e contribuindo com a superação de muitos tabus sobre o exercício físico e a saúde. Seus estudos sobre efeitos do exercício físico em diferentes públicos e patologias representam o avanço da área como campo científico e prático na saúde. E a Educação Popular em Saúde, apesar de ser um campo científico recente, vem tecendo muitos conhecimentos e reflexões para a superação do modelo de corpo e perspectiva de saúde vigentes, através dos seus princípios: diálogo, a amorosidade, a problematização, a construção compartilhada do conhecimento, a emancipação e o compromisso com a construção do projeto democrático e popular. Neste capítulo iremos analisar algumas pesquisas produzidas por profissionais de Educação Física que atuam no SUS e no PAS e, a partir disso, tecer considerações em função do objetivo deste trabalho, buscando responder as seguintes questões: como podemos pensar a academia de ginástica como um espaço de educação para saúde? E quais são as contribuições da Educação Popular em Saúde para a formação do Profissional de Educação Física e para sua atuação nas academias de ginástica? As produções na área da Educação Física diretamente relacionadas à EPS são escassas, pois ainda é um campo mais profissional que acadêmicointelectual, composto com referências muito amplas (filosofia, ciências humanas, ciências sociais, ciências exatas, artes e cultura popular), em que pese a maior ênfase nas ciências biológicas. Muito desse empasse se dá pela disseminação nos cursos de formação da área da percepção biomédica do corpo. Algumas


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produções foram propostas por profissionais de EF atuantes no SUS, e iremos observar os resultados para tecer algumas discussões. Encontramos 3 estudos que relatam a experiência do PEF, atuando no SUS e no PAS, que observaram que há um choque entre a formação dos profissionais, que ascende para uma intervenção pautada no modelo biomédico, e o modelo do programa, que possibilita a promoção da saúde através de uma construção colaborativa, baseada no modelo biopsicossocial. Carvalho, Abdalla e Júnior (2017) analisaram os tipos de atuação do profissional de Educação Física no Sistema Único de Saúde (SUS) e notaram que a atuação está prioritariamente voltada a remediar os efeitos de uma vida sedentária, e diretamente ligada a intervenções com caráter curativo, negando as potencialidades do exercício físico como fator preventivo de doenças crônicas não transmissíveis e como promotora de maior qualidade de vida. Os autores associam

essa

escolha

de

atuação

como

reverberação

do

caráter

tecnicista/biológico da formação desses profissionais e apontam para a necessidade de um olhar abrangente para a formação desses profissionais. Parreira (2019) encontrou resultados parecidos. Em seu estudo, que analisou a intervenção de profissionais da saúde no PAS, no estado de Goiás, confirma a coexistência dos dois modelos, o biomédico, considerado por ele um modelo antecessor, muitas vezes proposto no discurso e na prática dos profissionais, e o modelo de produção social da saúde, proposto pelo programa, considerado emergente. Apesar do choque, observa que os profissionais buscam a adaptação ao Programa, e acreditam que o programa oferece uma oportunidade de mudança paradigmática no campo da saúde através da transição destes modelos. Como proposta para a superação dessa coexistência de modelos, nos diz que é preciso (1) promover práticas voltadas à emancipação através da saúde baseado na perspectiva Educação Popular em Saúde e (2) repensar a formação acadêmica dos profissionais da saúde, reforçando os valores e princípios da saúde coletiva e da promoção da saúde. Um outro estudo é o de Ivo, Malta e Freitas (2019), que investigou a compreensão da relação saúde e doença e suas implicações nas ações de promoção de saúde de 32 profissionais de educação física do PAS de Belo


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Horizonte. Os autores observaram que os profissionais defendem sua presença no NASF e no PAS como atores da promoção da saúde, baseados na tradição biomédica da área, mantenedora do status quo da assistência medicalizada à saúde, conformada à ausência de doença, mas que tentam trazer o novo paradigma por meio da visão holística do programa e das novas experiências na saúde coletiva. Ou seja, os profissionais são conscientes de que sua atuação tem forte influência do modelo biomédico, e defendem isso. Porém, são evidentes os avanços de alguns profissionais para a ultrapassar essa barreira através do diálogo e do trabalho coletivo. Como foi observado nesses estudos, a dificuldade de adaptação do PEF ao SUS, ao cumprimento dos seus princípios e da integralidade das suas propostas, tem raiz na formação inicial desses profissionais, uma vez que os currículos não estão orientados ou não conseguem dar conta de aproximar o aluno a polissemia do conceito de saúde e ao contexto do SUS. Desta forma, numa tentativa de aplicar os princípios da EPS em academias de ginástica (como objetivado no nosso estudo), encontrariam a mesma problemática. Dessa forma, é indiscutível que a solução desse problema passe pela formação inicial desses profissionais. Os estudos de Oliveira e Gomes (2019) e Loch, Rech e Costa (2020) analisaram o currículo e a formação dos profissionais de Educação Física e identificaram essas dificuldades relacionadas à alteração do paradigma de abordagem da saúde e indicaram oferecer a oportunidade de aprofundamento e aproximação da prática durante a graduação. Para Oliveira e Gomes (2019), que investigou a saúde nos currículos de educação física em uma universidade pública, os principais desafios da formação desses profissionais são: as dificuldades de integralização ensinoserviço; da humanização/ampliação do conceito de processo saúde-doença; e da diferenciação do bacharel e do licenciado. Em relação à humanização/ampliação do conceito de saúde, seus achados reportam para a necessidade de romper com uma visão restrita e mecanizada do corpo, voltada para compreender o corpo e a saúde na sua complexidade, e a necessidade de repensar o currículo de formação do curso para ampliação do conceito de saúde, mas também o de dar atenção e fazer emergir o processo de ampliação de outros conceitos importantes para a


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compressão da área, tais como o estudo do corpo e do lazer, pois assim irá “emergir do encontro entre os saberes-fazeres dos vários componentes curriculares formas de compreender e atuar nos cenários de intervenção” (OLIVEIRA e GOMES, 2019, p. 15). Resultados semelhantes são identificados por Loch, Rech e Costa (2020) que analisaram as urgências da Saúde Coletiva na formação em Educação Física, através das lições com o COVID-19, elucidando alguns pontos: - Não se faz uma aproximação, de fato efetiva, com o campo da Saúde Coletiva, somente com a criação e oferta de disciplinas mais específicas a este campo; - A aproximação com o campo da Saúde Coletiva não deve ser apenas para o curso de bacharelado em EF. O licenciado também precisa desta aproximação, pois o contexto escolar e a intervenção pedagógica demandam compreensões ampliadas de saúde. - A Saúde Coletiva se baseia no tripé: Epidemiologia, Ciências Humanas e Sociais, e Política e Planejamento. - O trabalho em saúde é interprofissional. Aprender juntos a trabalhar juntos pode não só qualificar as práticas de cuidado em saúde, mas também prevenir alguns dos desvios e impropriedades de comunicação destacados ao longo desse texto. - Somente a partir de uma compreensão ampliada da realidade, poderemos avançar em direção à uma formação mais humanizada, que contribuiria para se evitar discursos pouco conectados com as reais necessidades e condições de vida das pessoas (LOCH; RECH; COSTA, 2020, p.3515)

Como observado nos resultados desses estudos, a ampliação do conceito saúde doença é uma necessidade indispensável para a superação do modelo biomédico. É urgente que a formação inicial desses profissionais reveja o currículo e favoreça uma visão mais ampliada da saúde, para que professores e profissionais estejam capacitados para atuar nas suas diferentes áreas. Como afirmam Loch, Rech e Costa (2020, p.3515), para que os profissionais de Educação Física “reconheçam que a atividade física não é uma panaceia, uma pílula mágica, uma vez que a saúde é uma dimensão humana extremamente complexa e com muitos determinantes e condicionantes”. Como foi observado, o Programa Academia da Saúde e o SUS colaboram com a formação de um profissional que saiba exercer o conhecimento educativo (saberes disciplinares da área de Educação), o conhecimento sobre cultura de corpo e movimento (saberes disciplinares da área de Educação


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Física), além da atividade física, exercício físico, lazer e recreação (CABALLERO, 2015). Diante do exposto, é possível refletir sobre as questões iniciais. A partir disso, compreender a Recha academia de ginástica como um espaço de Educação Popular em Saúde, é propor a formação, o estabelecimento e o PEF como atores responsáveis e indispensáveis para a promoção da saúde, compreendendo-a em sua amplitude e composta de determinantes sociais, econômicos e social, e o sujeito aluno como um ser que produz cultura e é, em si, cultura e história, e tem um conhecimento prévio que deve ser considerado no seu processo de saúde. Dessa forma, os currículos de formação dos Profissionais de Educação Física, devem se preocupar em promover espaços de aproximação com a prática, seja na escola, na atenção básica à saúde ou na iniciativa privada, no SUS e com a Saúde Coletiva, desde o início do curso; ampliar o conceito da relação saúde/doença; promover espaços de formação interprofissional, assim como valorizar áreas como o esporte, lazer e cultura (OLIVEIRA; GOMES, 2019; LOCH; RECH; COSTA, 2020). As academias de ginástica e o PEF devem assumir a responsabilidade de serem partes indispensáveis para a superação, na sua atuação, das repercussões negativas das tradições biomédicas, como a estetização da saúde, o culto exacerbado do corpo, assim como superar a relação sujeito-objeto para uma relação sujeito-sujeito, centradas no encontro e na escuta atenta, nas quais ambos sejam autores do processo de produção de saúde. O PEF deve trocar conhecimentos com os participantes (clientes), partilhando objetivos com os participantes, sejam eles relacionados à aptidão física e/ou bem-estar de forma a reconhecer o conhecimento do aluno, a sua cultura corporal e do seu contexto (OLIVEIRA; GOMES, 2019).

Seja a academia centrada no fitness, ou no

wellness, é necessário buscar a consonância entre suas características mercadológicas, enquanto empresa, e a responsabilidade de ser um estabelecimento de promoção da saúde que a compreenda em sua totalidade, e assim produzir-se como um espaço de educação em saúde.


40

É fundamental então, propor estratégias educativas para a incorporação da Educação Popular em Saúde nos cursos de formação dos profissionais de saúde, assim como nos cursos de pós-graduação e de formação continuada (VASCONCELOS; CRUZ; PRADO, 2016), assim como capacitar também os profissionais de saúde para trabalhar com base nas propostas da EPS como um processo disparador de reflexões e problematizações na própria rotina dos profissionais de saúde (PINHEIRO; BITTAR, 2017), com o objetivo de garantir a compreensão e o respeito aos seus princípios. Pois “não basta o método ser inovador, ele precisa ser libertador também para o profissional de saúde, convidando-o a refletir sobre a forma como ele pensa e vive a questão da saúde no trabalho e no seu dia-a-dia” (IBIDEM, p. 5). Se pensarmos numa troca de conhecimento entre essas áreas, a contribuição da Educação Física seria o conhecimento especializado sobre os efeitos do exercício físico para a prevenção e promoção da saúde de diferentes públicos, como para diferentes patologias e através de diferentes métodos e modelos de treinamento físico. Já a Educação Popular em saúde contribui com sua construção expansiva e inclusiva para a intervenção do profissional compromissado com a autonomia do processo, com a troca de conhecimento, com o diálogo. Não é redundante dizer que valorizar o modelo biopsicossocial na área da saúde não significa invalidar todo o conhecimento fornecido pelo método biomédico, mas entendê-los e saber utilizá-los na nossa intervenção profissional com autonomia da melhor forma, comprometidos com a nossa saúde e com a saúde das pessoas. Diante de todas as adversidades em torno da intervenção do profissional, ora

orientado

a

seguir,

na

academia

de

ginástica,

a

expectativas

mercadológicas, ora a se orientar por expectativas pedagógicas para a educação em saúde, ora inserido em um mercado com uma demanda incompatível com sua formação, concordamos com Betti (2004) quando afirma que a atuação do profissional de Educação Física precisa estar pautada numa intervenção pedagógica-profissional

que

valoriza

a

interrelação

humana

(o

profissional/professor e o aluno/atleta/cliente) em um ambiente cultural. O papel do profissional de Educação Física é considerar o aluno/cliente também como


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detentor de conhecimento, e facilitar a sua apropriação crítica da cultura corporal do movimento levando-o à autonomia, numa prática pedagógica que permita saber se movimentar e saber sobre o movimento.

CONCLUSÃO Esta pesquisa teve como objetivo analisar as concepções de corpo, cultura e saúde na Academia de ginástica e sua relação com a Educação Popular em Saúde na formação e atuação do profissional de Educação Física. De fato, o aprofundamento desta pesquisa mais nos conduziu do que foi conduzida por nós através de um percurso muito abrangente e rico, desde os caminhos mais conhecidos até os recônditos e vielas que passam despercebidos ao todo, porque dizem respeito à subjetividade. Nesse trajeto, deparamo-nos com as dificuldades da busca pela compreensão de outros contextos como a biopolítica dos corpos e a formação dos profissionais de saúde, que de certa forma, deixaram-nos mais questões do que respostas. O que é bastante interessante para pesquisas futuras. Os achados apontam para relações positivas entre a Educação Popular em Saúde e a academia de ginástica, desde que a formação acadêmica, as academias e os profissionais de educação física não só estejam direcionadas a superar a visão reducionista de saúde, do modelo biomédico, mas que nas relações pessoais, seja preconizada a relação sujeito-sujeito, em que haja o reconhecimento do conhecimento do outro, como ser que cria cultura corporal, e portanto, tem suas individualidades. Tais mudanças só serão possíveis com ações que levem à inserção da EPS nas formações iniciais dos profissionais de saúde, capacitando estes profissionais a atuar num mercado que preconiza a concepção de saúde mais ampla e determinada por diferentes fatores. Para propor a intervenção do Profissional de Educação Física como uma prática pedagógica, concordamos com Mendes e Nóbrega (2004), que teceu uma reflexão acerca da relação entre corpo, natureza e cultura e refletiu nas contribuições desse diálogo para a Educação ao promover diálogos entre as ciências naturais, humanas e a filosofia. Os autores compreenderam a


42

necessidade de buscar o diálogo entre as diversas áreas do conhecimento, no sentido de oferecer uma intervenção que ultrapasse a ideia de fragmentação do sujeito em corpo e mente e reconheça o corpo como uma unidade polissêmica. Assim, sem a intenção de esgotar o assunto ou realizar um receituário acadêmico, essa pesquisa buscou sustentar nossa posição a respeito da urgência da aproximação da área da EF com o campo da Saúde Coletiva. Este estudo se limitou a analisar as concepções de corpo, cultura e saúde e tecer relações entre a Academia de Ginástica e a Educação Popular em saúde para a formação e a intervenção do profissional de EF mais coerentes com o conceito de saúde biopsicossocial, produzindo uma análise no campo discursivo que se limita a promover e expandir a discussão do assunto. Tendo em vista que a Educação Popular em Saúde ainda é pouco estudada associada ao espaço da Academia de Ginástica e a área da Educação Física, sugere-se estudos experimentais nesse espaço e nos diferentes espaços de intervenção do Profissional de Educação Física utilizando os princípios da EPS, assim como estudos que dimensionem e reflitam nas potencialidades da EPS nos currículos dos cursos de graduação de Educação Física e outros profissionais da área da saúde. REFERÊNCIAS BALESTRA, Aline Alcarde. A dor em movimento: corpo e envelhecimento nas academias de ginástica. Cadernos de Campo (São Paulo, 1991), v. 21, n. 21, p. 65-79, 2012. BARROS, José Augusto C. Pensando o processo saúde doença: a que responde o modelo biomédico?. Saúde e sociedade, v. 11, p. 67-84, 2002. BETTI, Mauro. Corpo, cultura, mídias e educação física: novas relações no mundo contemporâneo. Lecturas, Educación Física, 2004. BEZERRA, Italla Maria Pinheiro; SORPRESO, Isabel Cristina Esposito. Conceitos de saúde e movimentos de promoção da saúde em busca da reorientação de práticas. J Hum Growth Dev, v. 26, n. 1, p. 11-20, 2016. BRASIL. Relatório final da 14ª Conferência Nacional de Saúde: todos usam o SUS: SUS na seguridade social: Política pública, patrimônio do povo brasileiro. Brasília: Ministério da Saúde, 2012. BRASIL. PORTARIA Nº 2.761, DE 19 DE NOVEMBRO DE 2013. Institui a Política Nacional de Educação Popular em Saúde no âmbito do Sistema


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