Fragmento e Moldura Cidade Perceptiva - Taguatinga - DF

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Fragmento e Moldura Cidade Perceptiva Taguatinga DF Fragmento e Moldura Cidade Perceptiva Taguatinga DF Fragmento e Moldura Cidade Perceptiva Taguatinga DF Fragmento e Moldura Cidade Perceptiva Taguatinga DF Fragmento e Moldura Cidade Perceptiva Taguatinga DF Fragmento e Moldura Cidade Perceptiva Taguatinga DF Fragmento e Moldura Cidade Perceptiva Taguatinga DF Fragmento e Moldura Cidade Perceptiva Taguatinga DF Fragmento e Moldura Cidade Perceptiva Taguatinga DF Fragmento e Moldura Cidade Perceptiva Taguatinga DF Fragmento e Moldura Cidade Perceptiva Taguatinga DF Fragmento e Moldura Cidade Perceptiva Taguatinga DF Fragmento e Moldura Cidade Perceptiva Taguatinga DF Fragmento e Moldura Cidade Perceptiva Taguatinga DF Fragmento e Moldura Cidade Perceptiva Taguatinga DF

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Cidade Perceptiva Taguatinga DF Fragmento e Moldura Cidade Perceptiva Taguatinga DF Fragmento e Moldura Cidade Perceptiva Taguatinga DF Fragmento e Moldura Cidade Perceptiva Taguatinga DF Fragmento e Moldura Cidade Perceptiva Taguatinga DF Fragmento e Moldura Cidade Perceptiva Taguatinga DF Fragmento e Moldura Cidade Perceptiva Taguatinga Fragmento e Moldura Cidade Perceptiva Taguatinga DF Fragmento e Moldura Cidade Perceptiva

DF


Fragmento

e Moldura Cidade Perceptiva Taguatinga DF Discente: Adrielly Bárbara Diniz Silva

Orientadora: Doutora Yara Regina Oliveira

Brasília – DF 2019


Estudo apresentado ao programa de Graduação da Universidade Católica de Brasília como requisito parcial à obtenção do título de Arquiteta e Urbanista no Curso de Arquitetura e Urbanismo.

Brasília – DF 2019


Nesta segunda década do século XXI, ainda persiste, no senso comum, a tendência de se achar que o escopo de arquitetos urbanistas que atuam na arquitetura da paisagem se limita ao projeto de jardins (público e privados). Reduz-se a questão da paisagem a uma questão estética, na qual a vegetação entra como elemento de composição de um determinado enquadramento. Ora a composição é dominada pela geometria e a ordem, ora a forma orgânica resulta no mimetismo ao “natural” ou a busca deste. [...] Nossa argumentação é de que a paisagem não deve ser compreendida apenas como uma “composição” e sim como um processo que depende do suporte físico, portanto das condições ambientais, e principalmente da sociedade, composta por grupos sociais movidos por interesses conflituosos. (SILVA, 2017, P.55)


Sumário

03

Introdução

Por que pensar a cidade? Abordagem de conceitos que tratam da percepção da cidade 1. 2. 3.

05

Paisagem urbana Memória e imaginação Fragmento e moldura

Cidade para quem? Interpretação crítica de autores ao tema de espaço público e vida em sociedade 1. 2. 3.

11

Viver em sociedade Cultura e cidade Espaço público e cidadania

Percursos e ponderações: onde é preciso chegar? Contexto histórico, cultural, socioeconômico e manifestações culturais da cidade 1. 2. 3.

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Contexto Histórico Fragmentos e Manifestações Culturais Contexto Socioeconômico

Como fazer Cidades para Pessoas? Apoio para a análise e diagnóstico da área de estudo a partir de Jan Gehl 1. Paisagem perceptiva e participativa - ressignificação cultural urbana 2. Escala humana 3. Cidade da minha memória (narrativa pessoal) 4. Relato da urbanista caminhante (narrativa urbana) 5. “Juntando os nós”

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A rua: cheio ou vazio? Análise e diagnóstico, referências projetuais e diretrizes 1.

2. 3.

Rua das Palmeiras Análise Diagnóstico Referências Diretrizes

41

66 68 78

Conclusão

Anexos

Bibliografia Referências Eletrônicas Referência audiovisual


Resumo Atuando como intérprete de teóricos urbanistas tais como Jan Gehl, Kevin Lynch e Gordon Cullen, constrói-se um produto crítico ao modo de se pensar a cidade pós-modernismo. A setorização de funções e a prioridade das vias para veículos em detrimento de calçadas deu uma percepção diferente ao pedestre sobre suas cidades desde o período pós-guerra. A caminhabilidade e consequentemente a cultura do uso dos espaços públicos se torna postergada pelos indivíduos, a partir do momento que a vida urbana está centrada em condomínios fechados e shopping centers, esvaziando as ruas e tornando muitas culturas como marginalizadas, a mercê da manifestação periférica; tornando-se ainda mais meios de preconceito pelas diferenças de classes. Pretende, se estender aos teóricos das paisagens para fundamentar a análise da cidade na percepção do caminhante e participante ativo. A paisagem urbana é relatada aqui por meio de fragmentos, que juntos, formam enquadramentos, ora citados por urbanistas, ora por teóricos de outras áreas. O território geográfico em questão é Taguatinga, tendo uma rota cultural que se inicia desde a sua fundação, em 1958. Então, as diretrizes que o futuro arquiteto propõe integram a noção de cultura do espaço público, paisagem urbana e vida em sociedade como base para fundamentar o desenho urbano para pessoas e ao futuro das cidades. Palavras-chave: paisagem; urbanismo; espaço público; arquitetura; caminhabilidade.


3 Introdução Cidades são organismos vivos, não é à toa que formas de se fazer urbanismo e de se enxergar a paisagem serão diferentes em cada época e em cada lugar. Aliado a isto, a percepção do espaço não se dá como um todo, mas por fragmentos. Estes fragmentos, são vistos quadro a quadro, como uma moldura. A partir de uma leitura morfológica, segundo a imagem da cidade, apropriando-se de métodos de análises de urbanistas como Jan Gehl (2013), Gordon Cullen (2010) e Kevin Lynch (2011), é proposta uma requalificação de um trecho do Centro de Taguatinga considerando o espaço público como local produtor de cultura e sociabilidade. As primeiras questões que lhe devem vir sobre o tema são: Como identificar o potencial de um lugar? Como garantir que os caminhantes utilizem o espaço proposto? Qual a significância que terá para a cidade? Não só de análises viverá o ser urbanista, mas também de indagações buscando assim chegar à diretrizes projetuais. Este trabalho considera que o ambiente urbano é mutável. Em um primeiro momento esclarece os conceitos do tema para chegar a um questionamento sobre o esvaziamento de avenidas e ruas comerciais, partindo do pressuposto que a rua é um espaço cultural para criar memórias e imaginabilidade naqueles que transitam. [Inspirada pela cidade da minha memória, escolhi Taguatinga como local de estudo: Embora residente em uma cidade do entorno de Goiás - Santo Antônio do Descoberto - a minha cidade dormitório não foi o suficiente para suprir as necessidades do estudar, trabalhar e “devaneiar”. As memórias afetivas que diariamente são criadas nos bairros taguatinguenses me levaram a olhar a cidade e tentar descobrir o que afinal me incomodava em seu centro. A circulação diária de pessoas, o ir e vir, o movimento é interessante. As lojas de doces e fantasias sempre me atraíram. Na Universidade foi onde criei laços. Sinto que faço parte dessa cidade mesmo que não more nela pois foi onde me encontrei. Portanto sinto que devo como futura urbanista contribuir a um local que contribuiu na minha formação como acadêmica e ser humano.

O que me incomodou a ponto de escolher o centro foi o que a cidade dizia a mim. Certamente, a minha própria percepção alterou da infância e mesmo agora ao escrever este caderno ela continua a ser alterada de maneira que consigo ver beleza em seus fragmentos junto à melhorias do espaço. A minha visão de pedestre, junto à visão de outros participantes, agrega à visão de urbanistas e outros teóricos sobre o espaço da cidade, tratando o espaço urbano como imagem, como percepção de sentidos, como locomoção. E ao ter esse entendimento que a vida em conjunto é essencial para a sobrevivência de seres humanos, é que percebo como a rua, espaço público de fato, é o local em que todas as funções se conectam, agrupam e se distribuem. Da rua eu tenho uma visão para edifícios, para jardins, para calçadas, para veículos, para pontos de ônibus. Eu vejo o que a rua tem a mostrar e nesse meio posso sentir a vontade de percorrer ou me esconder, me proteger, ou querer ser visto. O que as ruas de Taguatinga dizem a partir da visão do pedestre, o que dizem a partir da visão do motorista? Essas questões são resultados da herança do urbanismo e arquitetura modernistas que incentivam o uso de carros para a locomoção, não absorvendo os detalhes daquela paisagem. Junto a isso, verifico a questão da identidade arquitetônica. Compreende-se que a falta de uma identidade arquitetônica e urbana de cidades populosas onde se tem grupos sociais de necessidades e culturas diversificadas possa gerar uma falta de pertencimento. Identidade arquitetônica na contemporaneidade reflete as consequências de um modernismo que exigiu, advindo dos materiais industriais e das técnicas modulares de projetação uma estética repetida aos seus edifícios. A identidade é criada por meio de vivências estabelecidas pelo uso do espaço, sua diversidade de indivíduos, grupos e formas de apropriação. Manifestada nos


4 fenômenos culturais e históricos que o cercam, a arquitetura deve se adaptar às necessidades daqueles que a utilizam. A identidade arquitetônica marca períodos, consequentemente modos de vida urbanos.]

Ao refletir sobre as problemáticas do espaço público elege-se questões importantes para ruas comerciais que frequentemente tem seus estabelecimentos fechados ou trocados, fazendo com que a rua se esvazie. Onde não há pessoas circulando, há insegurança, há o vazio, há a morte das cidades. E o que poderia causar esse esvaziamento das ruas? Assim como no Plano Piloto, a construção de Shopping Centers que auxiliou a esvaziar a W3 Sul, os chamados “lazer completo” de habitações verticais são outro artifício contemporâneo que implica no esvaziamento das ruas, bem como a insegurança sentida nos espaços. E para uma cidade que cresceu e se consolidou devido ao comércio como é Taguatinga, a transformação da cidade promove o esvaziamento de avenidas históricas e do espaço público em geral demonstrando um problema que vai além do urbano, originando a pergunta: que cidades teremos no futuro? Com seus diversos ocupantes e visitantes, com suas diferentes regiões, a cidade caminhável (Jeff Speck, 2017) tanto aos residentes locais como do entorno, atrai olhares para a sua história, para os seus espaços. Formulado em 5 partes, os dois primeiros capítulos constituídos em questionamentos,. correspondem a revisões bibliográficas que definem o tema. O terceiro capítulo, destinado ao contexto do local, apresenta os aspectos históricos, culturais e socioeconômicos. O quarto capítulo, fornece o apoio para a análise e diagnóstico a ser feito no quinto capítulo, que por sua vez, além destes, constitui as referências projetuais e as diretrizes para o projeto de requalificação da Rua das Palmeiras e intervenções em seu entorno.


Porque pensar a

cidade? Abordagem de conceitos que tratam da percepção da cidade, enquanto que a noção de paisagem urbana considera o meio construído e o meio natural, segundo Gordon Cullen e Anne Cauquelín; seguido do conceito de imaginabilidade, trata memória e imaginação de acordo com Kevin Lynch e associa o recurso da pintura de Alfredo Volpi, para então tratar de fragmento e moldura citados por Cullen, ilustrados por meio da fotografia.


Fachada posterior do Batalhão da Polícia Militar, Rua das Palmeiras – foto do autor


7 1.

Paisagem urbana

De acordo com Maximiano (2004), a noção de paisagem existe desde o tempo préhistórico, uma vez que se conseguia retratar, mesmo que de forma abstrata, pinturas em cavernas. Mais tarde, povos egípcios mostram uma relação com a paisagem a partir do meio natural e o meio construído, representado nos afrescos. Roma, ressaltava a paisagem com elementos arquitetônicos como pórticos, grutas, santuários. Já no oriente, a relação entre homem e natureza apresentam um equilíbrio com o elemento-chave: água. O que os povos têm em comum, embora a disparidade de tempo, é a noção de paisagem como uma relação do meio natural e o meio construído. A noção de paisagem como é conhecida atualmente começa na Alemanha, com o termo landschaft, “usado na Idade Média para designar uma região de dimensões médias, em cujo território desenvolviam-se pequenas unidades de ocupação humana. Com o ‘século das luzes’, o termo assimilou também um senso semântico, com a noção de quadro, arte e/ou natureza.” (ibidem p. 85) Para Anne Cauquelin (2007), a paisagem divide-se em meio naturante e meio desnaturante. Meio naturante, o meio ambiente, e meio desnaturante, o meio antropomórfico. A filósofa francesa diz que os meios “perderam a capacidade de se distinguir um do outro ao perderem sua referência comum a uma natureza cognoscível.” Eleva a ação do paisagista e do urbanista equivalente ao “administrador de espaços públicos” onde: [...] a paisagem urbana é mais nitidamente paisagem que a paisagem agreste e natural [...] sua construção é marcada, mais constante, ainda mais, coagente. Ali, tudo é moldura e enquadramento, jogos de sombra e de luz, clareira de encruzilhadas e sendas tortuosas, avenidas do olhar e desregramento dos sentidos. (CAUQUELIN, 2007, p. 150).

Na Renascença a paysage, tem um elo intrínseco com o surgimento do paisagismo, expressão de ordem, simetria e axialidade. A organização do meio natural no meio desnaturante (CAUQUELIN, 2007) na Europa a partir do século XIX, indicava uma noção mais ampla do que ‘jardim’. (ROUGERIE et al Apud MAXIMIANO, ibidem). A compreensão de paisagem como idílico começa a ser alterada com as pinturas de Albrecht Durer, entre 1495 a 1505, sendo o recurso artístico notado como um difusor de ideias. Mas só em 1971, a Unesco, “declarou considerar que a paisagem é simplesmente a ‘estrutura do ecossistema’, e o Conselho Europeu, diz que o ‘meio natural, moldado pelos fatores sociais e econômicos, torna-se paisagem, sob o olhar humano’”. (apud MAXIMIANO, 2004). As percepções individuais, em comum, formam o pensamento coletivo de um determinado meio. A memória coletiva pode ser um instrumento para auxiliar o desenho humano. (LINS, et al, 2006). Para criar uma memória coletiva são utilizados recursos tanto da “legibilidade” quanto da “imaginabilidade”.(LYNCH, 2011). Enquanto que legibilidade é o entendimento que se tem a respeito da cidade, imaginabilidade [tratada no próximo tópico] é a imagem que o espaço evoca. Apropriando-se de Kevin Lynch, onde “as imagens ambientais são o resultado de um processo bilateral entre o observador e seu ambiente. (2011, p. 7)” Infere-se que a paisagem urbana é uma construção mutável e interativa, sendo pessoal, classificando-se em objetiva e subjetiva. Ao propor uma percepção objetiva, tem-se a percepção dos sentidos, aquilo que é visto, ouvido, cheirado e tocado, influência no todo ao fazer a leitura do espaço. E que pode ser registrado de forma imagética por meio de fotografias. Já a classificação subjetiva, é mais facilmente descrita pela escrita e ainda pela pintura, resultantes na interação do habitante com o seu meio.


8 2.

Memória e Imaginação

A cidade é temporal e Kevin Lynch, justifica que “a cada instante, há mais do que o olho pode ver, mais do que o ouvido pode perceber, um cenário ou uma paisagem esperando para serem explorados” (2011, p. 1). Cada indivíduo que vivencia tem uma experiência diferente, trazendo para a sua memória a imaginabilidade que um elemento da cidade lhe trouxe. As pessoas e as atividades são chamadas de “elementos móveis” pelo autor. Os arquitetos e urbanistas, juntamente são participantes do meio construído. Lynch, cita que “na maioria das vezes, nossa percepção da cidade não é abrangente, mas antes parcial, fragmentária, misturada com considerações de outra natureza.” (ibidem p. 2) Para Lynch, a imaginabilidade “é aquela forma, cor ou disposição que facilita a criação de imagens mentais claramente identificadas, poderosamente estruturadas e extremamente úteis do ambiente.” (p. 11) A imaginabilidade pode estar associada a um ponto focal, elemento arquitetônico, ou ainda a uma atividade da cidade. Quando a atividade é associada a beleza, apresenta “expressividade, prazer sensorial, ritmo, estímulo, escolha.” (p.12). “Quase todos os sentidos estão em operação, e a imagem é uma combinação de todos eles”. (LYNCH, 2011, p. 2). Alfredo Volpi, pintor, em dado momento de sua vida passou a pintar as paisagens de sua memória. Monteiro (2018) diz que "o processo criativo do artista remete ao que ele apreende da paisagem." Representou cenas de sua infância como as festividades juninas, que de origem rural, foi inserida no meio urbano com o processo de urbanização. "Além das bandeirinhas, [...] existem elementos de fachadas, derivados das imagens de construção arquitetônicas e paisagens urbanas." O percurso de Volpi por cidades brasileiras e europeias a partir da década de 1940, resultaram nas paisagens “memória-imaginação” (MONTEIRO, 2018). Usando cor e pintando quadros de "pureza linear" (SALZSTEIN, apud MONTEIRO, 2018, p. 156) demonstram abstração da paisagem e interpretação espacial. As afeições na criação de imagens "[...] busca a construção de uma 'cidade ideal'". (ibidem p. 157). O recurso da pintura escreve uma leitura da cidade feita por quem vivencia a mesma. Enquanto a fotografia é objetiva e retrata uma parte da cena, a pintura é subjetiva, retratando a moldura apreendida pelo observador. Pensar a cidade, enquanto local formador de memória, necessita que tenha a percepção de várias pessoas para pensar na requalificação dos espaços mesmo que esteja em situação de abandono ou degradação. O que entendem a respeito de determinado lugar e o que desejam contribui para o desenvolvimento urbano, o planejamento, usos do solo e que cidades teremos no futuro. Renato Ortiz (apud LINS, et al, 2006), em imagens do Brasil (2013), trata da memória coletiva e a memória nacional: “A memória coletiva é da ordem da vivência, a memória nacional se refere a uma história que transcende os sujeitos e não se concretiza imediatamente no seu cotidiano (...) a memória coletiva se aproxima do mito e se manifesta, portanto ritualmente. A memória nacional é da ordem da ideologia, ela é o produto de uma história social, não da ritualização da tradição (...) a memória coletiva dos grupos populares é particularizada, ao passo que a memória nacional é universal. Por isso o nacional não pode se constituir como prolongamento dos valores populares, mas sim como um discurso de segunda ordem.”

Assim, o espaço público e a identidade arquitetônica enquanto simbolismo que implicam em memórias coletivas, formam cenas no imaginário que ajudam no “consumo do lugar”. (LINS, et al, 2006). Por este consumo objetiva que o espaço público seja ocupado


9 por grupos sociais diversos, para que não sejam esvaziados, ressignificando a paisagem à medida que os usos necessitam que seus espaços se modifiquem. Por isso recriar locais públicos, requalificar, ressignificar, implica em responsabilidade sócio-cultural, resultante da experiência que o usuário tem com o seu meio. Junto ao conceito de memória e paisagem, a memória não é entendida como um todo. Estas partes se unem aos fragmentos, elementos físicos de um cenário urbano, constituindo as molduras. Todas essas partes auxiliam para imergir no consciente o que é visto, o que é imaginado e o que é requerido pelo urbanista pois coloca em discussão a inserção de projetos de desenho urbano a nível de pedestres para projetar “Cidades para Pessoas” (Jan Gehl, 2013).

3.

Fragmento e Moldura

Fragmento: pedaço; fração [..]; trecho; parte. Moldura: [...] ornato saliente em obras de arquitetura.

Gordon Cullen e Anne Cauquelin, atuantes por volta da segunda metade do século XX, têm em comum a forma de ver a paisagem por meio de enquadramentos. Enquanto que Cullen (2010), no campo urbanístico trata a paisagem por meio da “visão serial” (p. 11), Cauquelin (2007), de forma filosófica conceitua a paisagem como naturante e desnaturante além de citar a “moldura” e a “extra moldura”(p. 138-140), conceitos que podem ser definidos por Cullen como o “aqui” e o “além” (p. 37). Dentre as várias definições de elementos urbanos Cullen traz a visão serial, o território ocupado, a publicidade, o ponto focal e o desurbanismo. Unidos estes elementos, a paisagem pode se apresentar como uma moldura. A visão serial, o mais emblemático destes, revela uma sucessão de pontos de vista. Para o urbanista, a união de elementos da paisagem se dá por três aspectos: a óptica, o local e conteúdo. Anne Cauquelin (2007) emoldura a paisagem, como uma janela. A limitação da moldura compõe um jogo sutil, tendo aquilo que é visto e aquilo que não é visto, “o além”. (CULLEN, 2010). A perspectiva supõe que a paisagem “continua” atrás da moldura evocando emoções e curiosidade a depender de que tipo de paisagem ele está a observar, definindo o que é chamado de extra moldura. Tal meio urbano, de rígidas formas justapostas. Este aglomerado de blocos tem consistência enquanto enquadramento, fazendo imaginar a “extra moldura, devolvendo à natureza, a sua desmesura” fazendo crer que o meio naturante está ali em algum lugar, prestes a ser espreitado. Essa satisfação ao imaginar que “além do simulacro de edifícios” há uma nova paisagem, é o que insere a cidade no meio naturante, unindo e fazendo um só, meio e forma. (CAUQUELIN, 2007, p. 141). A reconexão de texturas e elementos observáveis através dos sentidos foi escrita na Review em 1949 (PAVESI, 2015). A revista londrina, Architectural Review surge em um período de reconstrução pós-guerra, inferindo uma metodologia de Desenho Urbano que surge a partir do movimento e influência urbanistas como Jane Jacobs e David Gosling. O modernismo e os meios de produção estavam em voga, entretanto, a revista chamava a atenção para o ambiente construído entendendo a complexidade e diversidade dos elementos que a compõem. E isto vai resultar na Townscape, termo que antecedeu o Landscape. A fotografia se fez importante para mostrar o tema não só a arquitetos, mas ao público em geral que triviais fragmentos da cidade valorizam o espaço e o diferenciam de planos estéreis praticados no modernismo purista. A questão tratada por Gordon Cullen e a revista Review, é que as percepções da ci-


10 dade mudaram pois os fragmentos que compõem a moldura se alteraram. Ao propor modelos urbanos modernistas de arquitetura modernista, foi criado o padrão do progresso. Assim, ruas estreitas dão lugar a grandes avenidas e boulevards, no lugar de edifícios desalinhados são postos arranha céus de pavimento-tipo, fachadas alinhadas, retilíneas e modulares. Junto a este progresso advindo da máquina, a fotografia se faz um recurso útil para mostrar elementos que transmitiam estímulos. Em 1971, Cullen lança seu livro Concise Townscape, descrevendo elementos da paisagem observados através de fotografias. Estes fragmentos, somente juntos, consistiam na arte do relacionamento. Existe, sem dúvida alguma, uma arte do relacionamento, tal como existe uma arte arquitetônica. O seu objetivo é a reunião dos elementos que concorrem para a criação de um ambiente, desde os edifícios aos anúncios e ao tráfego, passando pelas árvores, pela água, por toda a natureza, enfim, e entretecendo esses elementos de maneira a despertarem emoção ou interesse. (CULLEN, 1959, p. 10).

Assim, a partir da visão do pedestre, Cullen inseriu os conceitos de óptica, local e conteúdo (2010, p.11). Enquanto que na óptica avalia o percurso por meio de visões seriadas, a avaliação do local refere-se ao indivíduo e sua localização no espaço, o aqui e o além. Por fim, o conteúdo relaciona os aspectos: a cor, textura, estilo, a tudo aquilo que individualiza a cidade: ÓPTICA. Imagine-se o percurso de um traunsente a atravessar uma cidade. [...] embora o transeunte possa atravessar a cidade a passo uniforme, a paisagem urbana surge na maioria das vezes como uma sucessão de surpresas ou revelações súbitas. É o que se entende por visão serial. LOCAL. Uma vez que o nosso corpo tem o hábito de se relacionar instintiva e continuamente com o meio-ambiente, o sentido de localização não pode ser ignorado e entra, forçosamente em linha de conta na planificação do ambiente (tal como para o fotógrafo qualquer fonte de luz, por mais inoportuno que seja). [...] CONTEÚDO. Relaciona-se este último aspecto com a própria constituição da cidade: a sua cor, textura, escala, o seu estilo, a sua natureza, a sua personalidade e tudo o que a individualiza.

No Brasil, é o arquiteto David Gosling (1934-2002) quem contribui para a discussão do movimento na década de 1980. Professor do programa de mestrado em Planejamento Urbano em 1976 da Universidade de Brasília, lançou “Fundamentos de Desenho Urbano e do Townscape” (PAVESI, 2015, p.186). “O curso inicia com estudos sobre introdução à psicologia da percepção, explicando que a comunicação com a cidade se dá por meio de uma ‘linguagem de gestos’.” Seu curso vai ao encontro também dos conceitos de Kevin Lynch (2011) onde trata da memorabilidade ou imaginabilidade, referindo-se às memórias que são criadas no imaginário daqueles que participam do espaço urbano. Os problemas apontados por Gosling em cidades brasileiras, são similares, aos levantados pela Review e o movimento Townscape. Dentre eles, a “falta de humanidade” assemelha-se ao “culto do isolacionismo”, onde o autor [Gosling] acusa os urbanistas de não pensar o desenho urbano a partir de aspectos visuais e psicológicos, além dos econômicos e sociais (PAVESI, 2015). Todos estes aspectos conceituais buscam mostrar que a paisagem urbana é pensada desde a década de 1950. Não sendo um tema novo, fragmento, moldura, memória e imaginabilidade vão constituir a paisagem urbana. O fragmento será a partir da fotografia tal como utilizada por Gordon Cullen e a moldura através da visão serial.


Cidade para quem? A sociabilidade como base primordial para a formação da cidade gera cultura e se exprime no espaço público.


Fachada lateral direita do CEMEIT (antiga Escola Industrial), Rua das Palmeiras – foto do autor


13 1.

Viver em sociedade

O direito à cidade, descrito no Estatuto da Cidade, no art.º 2º inciso I, expressa o direito à cidades sustentáveis, e de acordo com Klug e Amanajás (2018, p. 29), “[...] é um direito difuso e coletivo, de natureza indivisível, de que são titulares todos os habitantes da cidade, das gerações presentes e futuras.” A criação do Estatuto da Cidade objetivou ser um instrumento que dispusesse sobre o direito à cidade justa, inclusiva, democrática e sustentável. Art. 2o A política urbana tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e da propriedade urbana, mediante as seguintes diretrizes gerais: I – garantia do direito a cidades sustentáveis, entendido como o direito à terra urbana, à moradia, ao saneamento ambiental, à infraestrutura urbana, ao transporte e aos serviços públicos, ao trabalho e ao lazer, para as presentes e futuras gerações. [...] (ESTATUTO DA CIDADE, Lei nº 10.257, 2001)

Para entender a cidade é preciso entender quem a compõe e por que. A sociabilidade é uma necessidade para a sobrevivência humana. Perpetuar a espécie só é possível pela interação. Comunicar-se, expressar-se é o que torna a espécie humana em realmente humanos. (OLIVEIRA, 2005). Para Dallari (2014), “a sociedade humana é um conjunto de pessoas ligadas pela necessidade de se ajudarem umas às outras, a fim de que possam garantir a continuidade da vida e satisfazer seus interesses e desejos.” Para Oliveira, as pessoas se reúnem em torno de afinidades ou interesses momentâneos e se identificam por algum aspecto externo. Infere-se que é na cidade que tem os diferentes tipos de contatos sociais. Quanto à estrutura sociocultural urbana, está relacionada à formação da identidade de indivíduos e comunidades. A inclusão social e o respeito à diversidade da sociedade brasileira permitem a humanização das cidades uma vez que, os movimentos sociais estimulam “[...] a criação e a preservação do patrimônio urbano material e intangível; o combate aos estigmas que permeiam a exclusão social; [...] o estímulo ao desenvolvimento econômico; a queda da violência pelo estímulo ao sentimento de identidade coletiva, entre outros.” (KLUG E AMANAJÁS, 2018, p. 41). Para Santos (2017), “saber que tipo de cidade queremos é uma questão que não pode ser dissociada de que tipo de vínculos sociais, relacionamentos com a natureza, estilos de vida, tecnologias e valores estéticos desejamos. O direito à cidade é muito mais que a liberdade individual de ter acesso aos recursos urbanos: é um direito de mudar a nós mesmos, mudando a cidade.” Estes argumentos advindos de Henri Lefebvre (2011), dizem que além do espaço, as trocas sociais, as integrações são necessárias ao ser humano. Dita um novo humanismo, o humanismo da sociedade urbana. Neste sentido, habitar a cidade vai além da função de moradia. A reflexão urbanística propõe o estabelecimento ou a reconstituição de unidades sociais (localizadas) fortemente originais, particularizadas e centralizadas, cujas ligações e tensões restabeleceram uma unidade urbana dotada de uma ordem interna complexa, não sem estrutura, mas com uma estrutura flexível e uma hierarquia. (SANTOS, 2017, p. 112)

A construção social dos lugares se dá por meio da sociabilidade, sendo esta, o meio pelo qual diferentes grupos sociais podem manifestar cultura. É nas cidades que as pessoas interagem com os diferentes grupos sociais e “o domínio público de uma cidade suas ruas, praças e parques - é o palco e o catalisador dessas atividades.” (ROGERS, 2012, p. 11). Richard Rogers (2001), traz o conceito de “cidade compacta” que consiste em tratar a cidade como o “habitat ideal” que rejeita o modo de desenvolvimento setoriza-


14 do por funções e a predominância do automóvel. Para ter “cidades compactas” - com várias funções agrupadas de forma diversificada que favorecem a locomoção a pé - é preciso de uma cidadania ativa e uma “vida urbana vibrante” conseguindo isto por meio de proximidade, espaços públicos, paisagem natural e exploração de novas tecnologias urbanas. “A forma da cidade pode estimular uma cultura urbana que gere cidadania e este importante papel precisa ser reconhecido. [...]” (pg. 151). Há uma mobilização em países europeus e americanos para cidades que incentivem e favoreçam o caminhar. Teóricos deste movimento de “Cidade para Pessoas” são Jan Gehl e Jeff Speck. Os dois autores dizem que boas cidades oferecem bons espaços para caminhar. “Atividades sociais exigem a presença de outras pessoas e incluem todas as formas de comunicação entre as pessoas no espaço público [...}.” (Jan Gehl, 2013, p. 22) Para Richard Rogers (2012, p. 10), a vida urbana atualmente se concentra no “egoísmo e na separação” ao invés de basear-se em relações de comunidade, como consequência os espaços públicos são esvaziados, tomados por carros e pedestres apressados. Ao entender que a construção social dos lugares faz parte de um processo cultural [modificado ao decorrer do tempo], e que a cidade é um “conjunto de cenários” (JEUDY, 2006), “mais do que uma cultura, a cidade acolhe, suscita, uma pluralidade de culturas citadinas [...]” o que faz com que o cenário seja cinza, fria, viva, “é o resultado de uma aliança entre as construções e as pessoas que produzem uma atmosfera particular”. (CLAVEL, 2006, p. 68-70).

2.

Cultura e cidade

A partir do conceito antropológico como a capacidade humana de reproduzir comportamentos, cultura é: “É incluir tais comportamentos em seu meio simbólico e linguístico.” (ESTÁCIO, 2014, p. 44-5). É o produto do convívio social. Sofre influência das crenças e tradições. Adotamos como cultura aquilo que conhecemos, rejeitamos e excluímos o que não conhecemos. O que é nomeado como “estranho” passa a ser objeto, diagnosticado e rotulado, não rara às vezes como sujo, errado, inculto. “Por ser influenciada pelas tradições de uma determinada sociedade, a cultura é também uma releitura do passado em tempo presente. A cultura resgata a interpretação de certas vivências, transformando-as e adaptando-as”, promovendo o empoderamento social. (ESTÁCIO, 2014, p. 49) A cultura também se modifica com o passar dos tempos se moldando às novas tecnologias e vertentes de pensamento. Para Juca Ferreira (2015), cultura é a perspectiva do futuro, “não existe educação democrática e libertadora sem o que a cultura pode oferecer [...].” “Portanto, cultura é o sistema de ideias, conhecimentos técnicos que caracteriza uma determinada sociedade. Estado ou estágio do desenvolvimento cultural [...], caracterizado pelo conjunto das obras, instalações e objetos criados pelo homem desse povo ou período; conteúdo social. Assim, a cultura é construída, transmitida e modificada por aqueles que fazem parte dela: nós mesmos.” (Estácio, 2016) “Criar, fazer e definir obras, temas e estilos é papel dos artistas e de quem produz cultura. Escolher o que ver, ouvir e sentir é papel do cidadão. Agora, criar condições de acesso, produção, difusão, preservação e livre circulação, regular as economias da cultura para evitar monopólios, exclusões e ações predatórias, democratizar o acesso aos bens e serviços culturais: essa é a responsabilidade do Estado democrático.” (FERREIRA, 2015).

Para Marilena Chauí (2003), cultura também pode significar cultivo do espírito, como criação de obras de arte e a criação de obras da ciência e da filosofia. Assim, a necessidade em transmitir cultura é para repassar à posteridade a sua história, o seu conhecimento, a sua humanidade.


15 Ao relacionar cultura e cidade, Ohtake (2017), afirma que as cidades crescem de acordo com a sua cultura e de seus habitantes. É imprescindível a afirmação do sincretismo cultural na urbanização e arquitetura brasileira. Do período pré-colonial ao modernista, refletem no tipo de interação social e consequentemente como é vista a cultura. Enquanto espaço coletivo, a rua e os espaços públicos são deixados em segundo plano ou mal resolvidos. Ainda, para Ohtake, “o espírito coletivo, olhar o outro, são atitudes que fazem parte da vida urbana [...].” (ibidem, p. 2). Clavel (2006), diz que a cidade culta poderia ser a cidade expressa em cultura, a cidade dos citadinos cultos e ainda a cidade das mil culturas. Nesse sentido a cidade é uma construção de múltiplas imagens, uma “verdadeira cidade verde” onde os “automóveis teriam que andar devagar” e os “corredores verdes” estariam dentro da cidade. A cidade culta é aquela em que os citadinos sentem prazer com leitura, exposições artísticas, atividades esportivas e frequência em lugares públicos. As mil culturas “reúne as pessoas chegadas das outras cidades, de outros países, de outros horizontes”. A cidade, como gerador de cultura, “acolhe, suscita, uma pluralidade de culturas citadinas, incluindo as culturas desvalorizadas, negadas. “Essa mistura de culturas (...) caracteriza a cidade, a cidade de sempre (...). (p. 67-9) “A cultura da cidade também é feita desse passado, presente, através dos lugares.” Assim como a paisagem da cidade, a cultura não é estática, é a perspectiva do futuro. Para qualificar a cultura nas cidades do futuro é preciso ir além da estética que “valoriza construções e vegetaliza as calçadas”, é necessário uma estética que “alarga as calçadas, convida ao passeio, multiplica os locais a serem admirados”, indo além de um cenário. (p. 71-2). Compreende-se que a urbanidade é a junção da estética com o prazer da vida em sociedade, partindo em direção a construção social dos espaços, tendo-os por naturalmente como culturais.

3.

Espaço público e cidadania “Todos devem ter direito a espaços abertos, facilmente acessíveis, tanto quanto tem direito à água tratada. Todos devem ter a possibilidade de ver uma árvore de sua janela ou de sentar-se em um banco de praça, perto de sua casa, com um espaço para crianças, ou de caminhar até um parque em dez minutos. Bairros bem planejados inspiram os moradores, ao passo que comunidades mal planejadas brutalizam seus cidadãos.” (ROGERS, 2012, p. XI)

Se as cidades “são centros de comunicação, aprendizado e empreendimentos comerciais complexos”, o que o espaço público representa enquanto cultura, enquanto meio citadino? para Richard Rogers (2012) o desaparecimento dos espaços públicos traz consequências à sociedade, tornando-se um processo de declínio. “À medida que a vitalidade dos espaços públicos diminui, perdemos o hábito de participar da vida urbana da rua.” Quando há pessoas circulando, há um “policiamento natural” que é sentido pela presença de movimento. Paredes, barreiras, obstáculos, dão uma falsa sensação de segurança que alienam os citadinos. “Logo, [os] espaços públicos passam a ser percebidos realmente como perigosos e o medo entra em cena”. (p. 10-11). Herança de Cidades-Jardins, Cidades Lineares, foram temas do movimento Townscape [cap. 1. Fragmentos e Moldura] por afastarem a população, gerando uma “desurbanização” ou o “culto do isolacionismo” (CULLEN, 1953 apud PAVESI, 2015, p. 26). Cidade Linear de Sorya y Mata e Cidades Jardim de Ebenezer Howard (BENEVOLO, 2017), são modelos urbanísticos do final do século XIX que promoveram esta desurbanização. Enquanto que no primeiro modelo a cidade era composta por uma longa via e assim distribuídas as atividades, no segundo, a teoria de cidade-jardim, sendo um meio termo entre cidade e campo, consistia em núcleos autônomos cercados por vegeta-


16 ção. Embora estes modelos queiram resolver problemas advindos com o inchamento populacional das cidades industrializadas, cria outros, como a mobilidade dependente de veículos em um período que não era acessível a todos. Tendo maiores distâncias de serviços, trabalho e lazer, os centros urbanos são mais caros, obrigando a população a ir para subúrbios ou a se “espremerem” em cortiços. “Os modernistas rejeitaram a cidade e o espaço da cidade, mudando seu foco para construções individuais.” (Gehl, 2013, p. 4). As cidades são locais de aprendizado, comunicação. Quando os shopping centers se tornam mais atrativos e seguros que a rua, o espaço público perde ‘palco’. Nesses espaços semi privados (universidades, shoppings, teatros, museus) “os pobres são proibidos de entrar” [...]. Aqueles que não tem dinheiro podem ser comparados aos ‘sem passaporte’, uma classe a ser banida.” Assim desaparece a noção de cidadania, de responsabilidade compartilhada por um ambiente, estratificando mais ainda a sociedade e dividindo classes. “As cidades foram originalmente criadas para celebrar o que temos em comum. Agora, são projetadas para manter-nos afastados uns dos outros.” (ROGERS, 2012, p. 11). Uma cidadania ativa e uma vida urbana vibrante são componentes essenciais para uma cidade e uma boa identidade cívica. Para recuperar estes aspectos, onde eles estejam desconsiderados, os cidadãos devem estar envolvidos com o processo de evolução de suas cidades. Devem sentir que o espaço público é responsabilidade e propriedade da comunidade. [...] A esfera pública é o teatro de uma cultura urbana, é onde os cidadãos desempenham seus papéis, é o elemento que pode agregar uma sociedade urbana. (ibidem, p. 16)

A cultura tem a intenção de ultrapassar o status de espetáculo, “inspirada na ideia de que a arquitetura pode modificar a sociedade”. As intervenções sobre os territórios culturais, para Jeudy, (ibidem p. 9) “parecem cada vez mais desprovidas de corporalidade ou sem consistência”. Se a cidade é um conjunto de cenários (JEUDY et. al.) e se a cidade sofre metamorfoses, é inegável que a cidade está disposta a mudar. (p. 7-8). “Uma obra [arquitetônica ou artística] funciona como elo, por se inscrever na história de um lugar, por ser suscetível de modificá-la, ao mesmo tempo respeitá-la.” (p. 14). Para Rogers e Gehl, a cidade pode estimular a cidadania por meio da cultura. A cultura urbana se manifesta em atividades que ocorrem em espaços públicos e interativos. “A visão de cidades vivas, seguras, sustentáveis e saudáveis tornou-se um desejo universal urgente.” (Gehl, 2013, p. 6) A preocupação com pedestres e com cidades para pessoas são mais vistas por urbanistas e teóricos de países desenvolvidos, caso de Jeff Speck e Jan Gehl que falam de cidades norte americanas e europeias, respectivamente. A importância da vida no espaço público, particularmente as oportunidades sociais e culturais, são tratadas por Jan Gehl que percebe uma ligação entre o espaço público, a qualidade do espaço e o comportamento humano. “O fato de as pessoas serem atraídas para caminhar e permanecer no espaço da cidade é muito mais uma questão de se trabalhar cuidadosamente com a dimensão humana e lançar um convite tentador.” (ibidem p. 17).


Percursos e ponderações: onde é preciso chegar? Contexto histórico, cultural, socioeconômico e manifestações culturais da cidade


Centro de Taguatinga – 19?? - IBGE

Escola Industrial de Taguatinga – 1963 – Arquivo Público

Avenida Comercial - 19?? - Getúlio Romão Campos


Centro de Taguatinga – 1960 – Getúlio Romão

Clube Primavera– 1970 – Getúlio Romão


20 1.

Contexto Histórico

Antes mesmo da inauguração de Brasília, em 1958, a Vila Sarah Kubitschek era fundada. A cidade não foi planejada previamente pois pensava-se que após a construção da capital, as pessoas voltariam aos seus estados de origem (BAHOUTH JÚNIOR, 1978). Não se pode tratar como um esquecimento de planejamento que as pessoas não se interessariam por qualidade de vida melhores. Brasília nunca foi pensada para a população pobre, ao contrário, os banqueiros e funcionários públicos tinham seu local reservado no Plano Piloto. Essa discrepância social, econômica e de qualidade de vida persistiu por muitos anos na memórias dos pioneiros de Taguatinga. Contudo, a cidade evoluiu de uma cidade dormitório para um pólo econômico na expansão do Distrito Federal. Cidade Livre, ou Núcleo Bandeirante, foi uma das vilas para operários, além de Planaltina, Luziânia e Brazlândia. Era para ser provisório e a devolução das terras aconteceriam com a inauguração de Brasília, mas a cidade cresceu e os candangos tiveram que procurar outro assentamento. Além disso, a Vila Amaury foi despejada para dar lugar ao Lago Paranoá. Para abrigar tantas famílias, foi necessária uma demarcação em 1961 que adequasse a ocupação existente ao que viria se tornar a primeira cidadesatélite. A “demarcação do território se deve aos topógrafos Maciel e Décio”. (BAHOUTH JÚNIOR, 1978, p. 53) Mas não havia fornecimento de serviços de água, energia e esgoto. O trabalho de planejamento é dado a Lúcio Pontual Machado e Milton Pernambucano, titulares da Assessoria de Planejamento da NOVACAP. (ibidem p. 85) A tipologia urbanística das cidades-satélites teve referência nas Cidade-Jardim de Ebenezer Howard (TREVISAN, 2014). Esse modelo urbanístico visava expandir as cidades criando núcleos urbanos além do núcleo central, ligadas por ferrovias. A preocupação ao seguir este modelo era a criação de uma cidade dormitório, dependente da cidade central, por isso deveria haver o equilíbrio entre moradia e emprego. No início da década de 1960, a cidade dormitório de Taguatinga continuava aumentando seu adensamento. Os edifícios ‘modernos’ surgiram na paisagem. Com vinte anos de fundação, surgia o primeiro conjunto comercial. As boates e os bares ditavam a vida noturna. Os comerciantes se sentiram atraídos pela cidade que crescia e tinha lugar para os “menos favorecidos”. A Feira de Amostras Comercial Industrial de Taguatinga, a FACITA, era a feira mais importante do Planalto Central e motivo por despertar o desejo de imigração (ibidem p. 74-7). A população que constituía Taguatinga foi tanto de outros estados, quanto de outros países. Nordestinos, mineiros, goianos, gaúchos, paulistas, nortistas, portugueses, italianos, árabes, espanhóis e japoneses. (ibidem p. 361).

A luta por tornar Taguatinga uma cidade habitável, fez com que nascesse um bairrismo nos pioneiros. Bairrismo esse que não é tão notado atualmente pela população jovem adulta devido o desenvolvimento da cidade que afasta as interações. Diferente de cidades históricas brasileiras, a cidade satélite não se desenvolveu a partir de uma praça ou uma igreja, as vias foram mais importantes e surgiram primeiro para conectar a cidade à capital. As primeiras casas foram construídas nos setores QNA, QNB, QSA, QSB e QSC. Em 1960, foram construídos os setores QNA, QSA, QND, QNE, QNF, parte da QI e a Vila Matias (QSD). No ano seguinte, a QNH, a QNG, o Setor Central e a CSA. Em 1962, foram implantadas a segunda parte da QI e a Vila Dimas (QSE). Em 1964, a QNJ e em 1966 a QSF (COSTA, 2018), sendo esta a primeira fase de formação do território na qual está inserida a Rua das Palmeiras. Junto ao desenvolvimento urbano, foram criados territórios ambientais, servindo como “cinturões-verdes”, referentes à herança de Cidades-Jardins. Taguatinga tem oito áreas ambientais que são: APA do Descoberto, Parque Boca da Mata, Parque Areal,


N

Mapa de Taguatinga mostrando formação inicial da cidade em laranja e área de estudo com contorno em azul. Mapa do autor produzido com base em .dwg fornecido por SICAD – DF.


22 ARIE Parque JK e o Parque Saburo Onoyama (ibidem), o Parque do Cortado e o Taguaparque. O inchamento populacional pela falta de controle demográfico nas cidades satélites (MORAES, 2004, apud CAMPOS, 2017) obrigou o Governo Federal a organizar as cidades que surgiam por meio de planos de urbanização. Taguatinga, assim como outras cidades modernistas, foi setorizada: setores comerciais, setores residenciais, setores de oficinas. O seu objetivo, sem sucesso, foi conter invasões. As famílias que chegavam apossaram-se do território, lutaram pelo fornecimento de serviços básicos e conseguiram consolidar a cidade como seu meio urbano. Por ter sido a primeira Região Administrativa criada, as cidades em seu entorno (Ceilândia e Samambaia), mesmo as do Goiás (Santo Antônio do Descoberto e Águas Lindas) utilizavam seus serviços e comércios, sendo o local de lazer, compras, trabalho e mesmo educação de diversas pessoas.

N Floresta Nacional

Parque do Cortado

Taguaparque

Parque Saburo Onoyama

ARIE JK

Parque Boca da Mata

Mapa com destaque para as áreas ambientais de Taguatinga. Mapa do autor produzido a partir de MAPBOX STUDIO.


23 2.

Fragmentos e Manifestações Culturais

Uma vez que cultura é a capacidade humana de reproduzir comportamentos e repassar aos seus descendentes, as manifestações culturais são atos públicos onde as pessoas se reúnem para expressar a cultura. Em Taguatinga, as manifestações culturais podem ser de caráter artístico, histórico e patrimonial. De caráter artístico são atividades como apresentações musicais, teatrais, cinematográficas e artesanais. As de caráter histórico e patrimonial, por sua vez, se unem às de caráter artístico para valorizar a própria história da capital e de suas cidades-satélites que foram sendo formadas ao decorrer de sua ocupação. Taguatinga é um dos mais importantes polos culturais do Distrito Federal. Desde a década de 1980, diferentes manifestações artísticas acontecem na cidade, compondo um cenário plural bastante inspirador. Os movimentos organizados, os pontos de cultura e os artistas independentes retratam a efervescência artística da população, que busca, dia após dia, a implantação de políticas públicas […] (BRASÍLIA CAPITAL, 2013).

Para Oliveira (et al, 2019) os espaços culturais de Taguatinga são descobertos à medida que se caminha pela cidade. Como uma cidade percebida através de vias principais e coletoras, esses espaços por vezes se ocultam na paisagem urbana relutando o abandono e o descaso por meio de manifestações culturais e políticas. Giambattista Nolli (apud ROGERS, 2012, p. 69) arquiteto do século XVIII, tinha dois tipos de classificação para os espaços da cidade: espaços públicos e semipúblicos. Espaços públicos são todos aqueles em que é acessível ao cidadão: passagens, ruas, praças e parques. Espaços semipúblicos são as igrejas, prefeituras e mercados. Adaptando para a contemporaneidade, inclui-se as universidades, shopping centers e lojas como espaços semipúblicos. Quanto à formação cultural da cidade, esta pode ser compreendida pelas vilas, pelas avenidas comerciais, pelo centro (Setor Central), pelos mercados, parques, praças e atualmente pelos shoppings. Historicamente, a Vila Dimas e Vila Matias, foram as primeiras edificações de alvenaria de comércios locais (OLIVEIRA, et al 2019). As residências foram construídas em volta e o clima de cidade do interior era formado no que viria a ser parte da metrópole brasiliense. Os Mercados, Sul e Norte, convites de arte, compras e vivência. O Mercado Sul surgiu ainda na década de 50 quando era uma feira. As praças, do D.I., do Bicalho e a do Relógio serviu de ‘palco’ para os diversos grupos e atividades sociais que faziam uso de seus espaços. A mais importante dessas praças, a do Relógio, teve seu marco tombado como patrimônio histórico, por ter surgido juntamente com a cidade (ibidem). Em 1966, a Avenida Comercial já existia e começava a se consolidar (ROMÃO apud DORNAS, 2019). Com os shoppings localizados no Plano Piloto (Conjunto Nacional e Conic), os Clubes eram o alvo de lazer da jovem sociedade Taguatinguense. No Clube Primavera e no Lions Clube aconteciam carnavais e lazer nos dias de calor. Atualmente, além dos pontos já existentes, os Shoppings Centers fazem parte da cultura da cidade. Pelo senso comum é visto como desenvolvimento. ‘Onde não há um shopping a cidade não é interessante.’ O Alameda Shopping é construído em 1990, o Taguatinga Shopping é inaugurado em 2000, e o mais recente, o JK Shopping, em 2013. Embora concentrem o movimento de pessoas em seu interior, os Shoppings ainda trazem pessoas às ruas para chegar até esse edifício. Os beneficiários são os comerciantes informais que se aproveitam do vai-e-vém e se instalam em calçadas, já que não podem pagar pelo aluguel de uma loja (Jornal de Brasília, 2016). Embora visto como um mal para as cidades por muitos urbanistas, os shoppings fazem parte das cidades e são usados por


24 diversos grupos sociais. Cabe ao arquiteto e urbanista, junto a políticas públicas, melhorar o acesso por meios alternativos a estas edificações para que as ruas não sejam esvaziadas. As atividades sociais e os contatos que ocorrem na cidade são consequência do planejamento urbano. “Se há vida e atividade no espaço urbano, então também existem muitas trocas sociais. Se o espaço da cidade for desolado e vazio, nada acontece.” (Gehl, 2013, p. 22).

3.

Contexto socioeconômico

Segundo dados da Pesquisa Distrital por Amostras de Domicílios - PDAD, divulgados em 2018, a população urbana de Taguatinga corresponde a 205.670 habitantes, enquanto que a do Distrito Federal, soma 2.881.854 residentes, resultando que 7,13% da população de Brasília está situada em Taguatinga. Ao construir um quadro socioeconômico da cidade satélite, 34% está entre 25 a 44 anos de idade. O número de crianças e adolescentes também é significativo, compondo 49.761 entrevistados no total, no qual destes, 27.763 são adolescentes na faixa etária de 10 a 19 anos o que corresponde a 13,49%. Quanto a origem, 56,3% dos entrevistados na localidade nasceram no DF. Em idade escolar, entre 4 a 24 anos (57.381 entrevistados), 83,9% dos residentes em Taguatinga frequentam escola na própria cidade. Considerando a mobilidade, 38,6% dos estudantes vão para a escola a pé, enquanto que 30,3% vão de carro particular. Em relação ao DF, 35,8% da população vai até a escola a pé, onde 54% leva até 15 minutos para chegar ao seu destino. Uma vez que o tempo de deslocamento de casa até a escola é de 15 minutos para 55,5% dos taguatinguenses, e de 29,6% para quem leva até 30 minutos. Para os dados sobre trabalho, indicam que 36,5%, com faixa etária entre 18 a 29 anos, não trabalha, nem estuda, porém 53,1% estão ocupadas. E a maior parte dos empregados trabalham no setor de serviços (74,2%). Como deslocamento, os trabalhadores em sua maioria usam carro (50,4%). Somente 31,7% usam ônibus e 6,5% o metrô, para um trajeto em que 23,5% (maioria) da população leva até 30 minutos para chegar ao destino. A publicação afirma que 72% da população possui carro próprio. Quanto a paisagem, de característica majoritariamente horizontal, Taguatinga tem mais casas que apartamentos ocupados, correspondendo a 64,3%. A arborização de ruas é presente em 41,7% nas proximidades de domicílios. Em termos de lazer, 44,6% dos entrevistados relatou parques e jardins nas proximidades, 52,6% quadras esportivas e apenas 19,7% ciclovias ou ciclofaixas. No que se refere a equipamentos, os de segurança são relatados apenas por 38,7% da população. Por fim, quanto ao consumo de cultura, 57% das pessoas assistem TV por assinatura, seguido de 37,6% que consomem os serviços de filmes, músicas, entre outros.


25 Gráficos econômicos segundo o PDAD - 2018 População por localidade

7%

Brasília Taguatinga

População por idade

93%

13,49% Total

34%

25 a 44 anos 10 a 19 anos

100% Locomoção

31%

30%

outros a pé carro

39%

Tempo de deslocamento

15% até 15 min

55%

30%

até 30 min

Habitação

36% casas

64%

apartamentos

Infraestrutura

13% 26%

arborização parques quadras esportivas

33%

ciclovias ou ciclofaixas

28%


26 Conclusão de “Aonde é preciso chegar”: Taguatinga, cidade populosa, histórica, atualmente polo comercial e cultural. Teve no início de sua formação muitas manifestações e buscou a partir dos pioneiros por qualidade digna de vida. Vieram para a capital a procura de uma cidade modernista e tiveram que formar uma vila, começar a própria cidade dos sonhos já que não havia espaço no Plano Piloto para operários. Atualmente, com mais de 200 mil habitantes, a cidade cresceu, evoluindo de cidade satélite para conurbação Taguatinga – Ceilândia – Samambaia. Há emprego, há moradia, há lazer, há comércio. As quatro funções da cidade modernista estão em plena atividade. Contudo, a herança industrial, o apego ao veículo de passeio, enche as ruas de carros, onde os percursos em 55% dos entrevistados (PDAD, 2018) são feitos em até 15 minutos. Ainda nota-se uma grande dependência do veículo. Cidade de muitas mulheres - cerca de 54%, questiona-se a respeito da segurança destas. Se estão sendo assediadas ou mesmo sofrendo abuso. Também há muitas pessoas jovens e adolescentes. Idade ativa e reprodutiva. Pessoas que precisam de interação, ter a rua como extensão de suas casas. Isso é possível se o meio urbano for um local seguro, confortável para o caminhar, que favoreça a mobilidade a pé, bicicleta ou ônibus, sendo cada vez menos dependente de veículos. Se a necessidade por veículos diminui, consequentemente os estacionamentos são menos usados e há espaço na cidade para ser ocupado. Ocupado por cultura. O consumo de cultura por meio de aparelhos eletrônicos demonstra uma necessidade atual, a tecnologia como recurso de interação humana pode vir a favorecer a cidade e o urbanismo. Seja por meio de aplicativos que marcam o estado de equipamentos, de moradores de rua (Bienal de Arquitetura, 2019). Seja por aplicativos que objetivam marcar encontros. As pessoas precisam de locais para que esta interação aconteça e a rua é o espaço público de fato. O adensamento vertical de uma cidade tão horizontal pode vir a favorecer e ir ao encontro ao que Richard Rogers define como Cidade Compacta. Funções diversas próximas favorecem o percurso a pé e isso é possível ao verticalizar imóveis de funções mistas. Contudo, como parte da vida urbana, a vegetação é um elo integrador, além de benéfico para a qualidade de vida e à boa percepção visual. Os parques são presentes, mas estão sendo espremidos pelas edificações. Escondidos, se tornam barreiras. Os parques e áreas verdes necessitam de integração com o meio urbano para que sejam usados, assim serão mais valorizados.


Como fazer Cidades para Pessoas? Apoio para a análise e diagnóstico da área de estudo a partir de Jan Gehl e Jeff Speck, colocando paisagem perceptiva como a paisagem urbana sensorial; o que faz de um lugar uma cidade caminhável a partir da escala humana; seguido de uma intervenção no local de projeto.


Fachada lateral direita do CEMEIT (antiga Escola Industrial), Rua das Palmeiras – foto do autor


29 1. Paisagem perceptiva e participativa - ressignificação cultural urbana Fazer parte da vida nas cidades é sentir o meio em que habita. A escala humana possibilita a vivência humana da cidade fazendo das pessoas partes da paisagem. Ao se locomover de carro, essa percepção se altera e as interações diminuem. Cidades históricas europeias só são possíveis de ser admiradas por que não foram pensadas para veículos. Com a tecnologia móvel, as interações dão-se por meio da internet. É mais prático para marcar encontros, colocar a conversa em dia, discutir pequenos assuntos. Porém, o foco da paisagem urbana se perde e o trajeto do caminhante é "puramente" operacional. O filme “Her” (Spike Jonze, 2013), como as fábulas, traz a moral das relações e interações tecnológicas. Se a vida em sociedade só é possível por haver sociabilidade [cap. 2. Viver em sociedade], os impactos da tecnologia nas relações humanas são evidentes e se equiparam aos impactos dos shopping centers e lazer completo que esvaziam ruas e avenidas, gerando a morte das cidades. A visão e a interação com o meio constitui as partes mais importantes para a participação na vida em sociedade. A visão é o principal meio para compreender o espaço. É pela visão que as pessoas podem se sentir atraídas ou retraídas a caminhar por uma calçada, só para ter o que observar enquanto caminha. A cidade, enquanto espaço perceptivo, é sentida de acordo com suas “escalas“ (GEHL 2013). No campo social de visão, o que está mais próximo é mais fácil de ser percebido, conquanto o que está a mais de 100 metros de distância se torna uma parte da paisagem além. Jan Gehl em seu método de análise, classifica como boas as distâncias até 70m onde ainda é possível reparar em cor e linguagem corporal, sendo a distância de até 7m a favorável para interações pessoais. Quanto maior a distância, não necessariamente a compreensão da imagem aumenta. A não ser que no campo de visão, não haja barreiras. A percepção sensorial é feita por meio de fragmentos que surgem no campo de visão à medida que se caminha pela cidade. O ângulo de visão é um fator que importa, já que a tendência é ser atraído ao que está no horizonte, cerca de 10º abaixo da linha de visão. Além de que é mais confortável olhar para baixo do que para cima. Quando não é possível ver, os outros sentidos "entram em cena". Procura-se ouvir o que está fora do campo de visão, ou cheirar e ainda tocar. Visando incluir pessoas com cegueira ou baixa-visão, jardins sensoriais são implantados para que as pessoas possam estimular os sentidos. Estimulando os cinco sentidos, os jardins sensoriais também são terapêuticos, inclusivos e objetos de sentimento e criação de memória. Na Casa Cor Rio de Janeiro, um Jardim Sensorial foi um dos ambientes expostos na sessão de 2016. Ter um projeto desse nível em um evento que comercializa a arquitetura também serve como publicidade para que novos arquitetos e urbanistas pensem a cidade enquanto espaço perceptivo. Ao entender as definições de paisagem urbana e que seu entendimento se dá por partes enquadradas em cenários, e que por sua vez a compreensão do espaço urbano enquanto espaço cultural é um habitat de metamorfoses, o modo de planejar as cidades em um futuro próximo não serão para automóveis, mas para pessoas que andem a pé ou de bicicleta (Jan Gehl, 2013). Embora o automóvel ainda seja um produto de locomoção desejado pela facilidade em se locomover pela cidade, Jeff Speck (2017) diz que há aqueles que começam a optar por outros meios de transporte por que as pessoas começaram a perceber os custos de se manter um carro. A cultura do veículo só será alterada se alterar o tipo de cidade que é planejada, modificando o meio para uma Cidade Compacta [op. cit. cap. 2. Viver em Sociedade].


30 [...] As cidades devem estar próximas de seus habitantes, propiciando o contato olho no olho, dispostas a agirem como o fermento da atividade humana, da geração e da expressão de uma cultura local. (ROGERS, 2012, p. 40)

A arquitetura voltada para uma via onde há prioridade para pedestres e veículos é adequada ao meio de locomoção e para interações sociais. Os impactos da desurbanização percebidos na cidade afetam a cultura. Para combater o esquecimento de pontos históricos, patrimoniais e culturais, movimentos como o ‘Ocupação Contém’ visam ocupar estes espaços em estado de abandono para que seja reavivado na memória de seus habitantes a persistência de existência e a necessidade de valorização destes locais. “Onde tem gente não tem ruína” (OCUPAÇÃO CONTÉM, 2019). O Ocupação Contém é um coletivo de produtores que procuram ocupar o Parque da Cidade de Brasília desde 2013. Reabrir a Piscina com Ondas era o maior objetivo deste coletivo que foi conseguido em 2019. A Piscina com Ondas não tem mais ondas, mas tornou-se “uma praça de convívio e cultura”, com diversas atividades de lazer. As ruínas ainda permanecem, mas o sentimento de abandono é alterado. As marcas do tempo indicam a história daquele lugar, se misturam na paisagem. A ressignificação do espaço e consequentemente da paisagem foi conseguida através de um movimento cultural, propondo atividades atuais. Trazer estas ocupações e até ressignificações para as outras cidades é necessário para não centralizar o lazer em apenas um local da capital. A Galeria Olho d’Águia, o Mercado Sul e o Tomada Cultural são exemplos de movimentos em Taguatinga que trazem para a vida em coletivo a cultura e o lazer no espaços públicos e semipúblicos. Infere que a Paisagem Urbana é moldada conforme as necessidades daqueles que a ocupam e que desejam manter vivas as memórias e imaginabilidade.

2.

Escala humana

Compreender a escala humana é essencial para o desenho urbano de cidades contemporâneas. Os térreos de edificações que permitem interações do edifício com o espaço público e entre caminhantes e observadores, são térreos onde é possível conversar, ficar em pé e esperar, ou sentar-se, fazer compras, olhar vitrines, ter uma visão de dentro e mesmo de quem está dentro, de fora. (GEHL, 2013, p. 74). As experimentações que ocorrem geram os “espaços de transição”. Os espaços de transição definem espaços individuais e coletivos estabelecendo limites. Mesmo na rua é possível observar estas características. A entrada de uma edificação é um limite, já mesas e cadeiras dispostas na calçada podem ser um convite à permanência. Os andares mais altos também participam da cidade. São plano de fundo para a paisagem. Embora a interação não seja direta, há a interação visual. Os edifícios muitas vezes servem como ponto focal e de referência, algo esquecido pelo urbanista dinamarquês. A verticalização é necessária para a cidade compacta de Richard Rogers e a caminhabilidade de Jeff Speck só é possível quando há a Cidade para Pessoas de Jan Gehl. Pensar no Desenho Urbano como uma justaposição de várias facetas urbanísticas se faz necessário para adequar cidades mesmo no presente. A cidade enquanto sentido, paisagem e memória é resultado de uma boa urbanidade. Lúcio Costa "pecou" ao dividir as escalas bucólica, monumental, gregária e residencial (SEDUH, 2017), tendo como consequência uma cidade ícone do modernismo e espraiamento, rígida em suas formas e em seu planejamento. As Cidades Satélites contudo, menos rígidas ao uso do solo, mais passíveis de modificação, podem vir a ser exemplos para as Cidades do Futuro sendo chamadas de Cidades Evolutivas. A cidade sentida a nível dos olhos é "sedenta" de estímulos tanto verticais quanto horizontais ao longo de uma via, para que sejam mais interessantes. As escalas se mistu-


31 ram favorecendo a locomoção a pé ou por bicicleta. Jan Gehl traz 6 classificações de espaços de transição mais adequadas para a caminhabilidade. São estas: escala e ritmo; transparência; apelo aos sentidos; textura e detalhes; diversidade de funções e elementos verticais. Utilizando do recurso Walkscore, criado pela empresa Maponics, o site calcula o índice de caminhabilidade de cidades do mundo todo (PACHECO, 2013). O método para medir esse índice é analisar a proximidade das atividades de lazer, sociais, culturais e comerciais e a acessibilidade da área. De acordo com o site, localidades brasileiras como, Avenida Paulista em São Paulo, o Centro de Goiânia em Goiás, e o Centro de Taguatinga em Brasília, tem máximos índices de caminhabilidade. Em Taguatinga, a formação do centro da cidade após a década de 1970, beneficiou as lojas e comércios em favorecimento da população. Já que o carro não era um bem que todos poderiam ter, serviços acessíveis eram essenciais. Assim a cidade consolidou-se como uma cidade comercial, que pela sua história e pontos culturais, é entendida como cidade cultural.

Foto noturna, Rua das Palmeiras – foto do autor


32

FRAGMENTO: peças que se encaixam, formando a MOLDURA, as várias sucessões de quadros está inserida na CIDADE ao qual é PERCEPTIVA pelos sentidos, e por meio de seus fragmentos imagéticos, ilustrados por fotografias. A CIDADE é vivida e formada através de MANIFESTAÇÕES CULTURAIS e SOCIABILIDADE que por sua vez é expressa nos espaços públicos sendo ocupado por diversas culturas.


3. Cidade de minha memória (narrativa pessoal) A crônica urbana demonstra as possibilidades de leitura, registrando o cotidiano. Na crônica são relatadas experiências, observações, percepções. Nesse tipo de gênero literário, o eu lírico se debruça a relatar “a beleza ou singularidade insuspeitadas (CÂNDIDO, 1992, apud. ARANHA, 2014, p. 392). Popular no século XIX e início do século XX, traz a significação do autor, a cultura, os valores e os sentimentos de uma época. “O fato é que as cenas literárias exploradas, sugerem que a crônica pode revelar aspectos importantes da vida cotidiana de uma cidade.” (ARANHA, 2014, p. 409). No Brasil, as crônicas surgem pela espontaneidade das conversas, relatando pequenos acontecimentos e a rotina. Se tornou um instrumento para os historiadores urbanos por dizer respeito à uma visão particular das sociedades. Assim, a crônica, constitui-se um elemento descritivo, memórias, além de entretenimento. [A narrativa do tipo crônica, é um recurso que retrata a imaginabilidade. Não poderia deixar de retratar então a minha própria narrativa a respeito da cidade de minha memória e sítio de análise deste trabalho.] Eu cresci em Santo Antônio do Descoberto, no entorno do DF. Lá vivi até meus 17 anos. A partir de então, tive que ganhar o mundo. Esse mundo, embora tão grande para eu no início, é hoje pequeno. É Brasília. Para quem saia de casa sem saber em qual ônibus embarcar e de repente aprende a descrever como se localizar no Plano Piloto... É um salto considerável. É a realidade de muitas pessoas ter que sair da sua cidade, que não tem todas as funções necessárias, para ir a outra, até mesmo para namorar. Eu saio de casa às 8h, volto 23h20. Quando volto. Às vezes o dia é curto para tanta atividade, que preciso usar a casa de alguém para ser meu abrigo. Estas duas cidades de minha memória são fragmentos que compõem parte da minha personalidade. Eu faço parte delas e elas de mim. Em uma aprendi a andar de bicicleta, na outra, o que são as linhas do metrô. Assim, a forma de representar estas memórias é no lirismo das palavras. Em suas mãos estão trechos imagéticos de lembranças, os quais chamo de fragmentos. Você o tem, o toca, até o visualiza, mas não compreende o todo. É este todo que sou eu. 28 de março 2019


Lá vai ela com a bicicleta, saindo de casa e indo para a rua. O sol quente já pela manhã indica ser verão. Dois, três, quatro dias se vão e a menina é livre para ir e vir.

É 1998. Pela janela veem se pessoas que passam num mesmo lote ou fora dele. Caminham, correm, chegam, saem. Há cachorros, terra, planta e tanta cor. Além do limite da casa, a rua e o espaço vazio da quadra ao lado são o parque de diversões. A poeira alaranjada que levanta quando ela pedala indica a velocidade.

Resolveu ir mais a frente e opa! Caiu! Finge que nada aconteceu, levanta, engole o choro e volta pra casa com os joelhos ralados. Os dias passaram, a família cresceu, a casa encolheu. Viajamos para a quadra debaixo. Aqui é diferente. Silêncio! Não se tem mais crianças por todo o lado, os vizinhos estão em si fechados, cercados, enclausurados. De casa só se vê o portão e se ouve o barulho dos carros. Não se pode ir lá fora, cuidado com o homem do saco! A andorinha aprisionada chora de saudade. Largou a bicicleta, os

joelhos sararam e só restaram as cicatrizes de dias ensolarados.

Chegamos a 2011. Andando pela antiga quadra não há mais o campo dos joelhos ralados, foi transformado em um campo gramado. Ladeado por árvores, trazendo sombra a um local que o sol castigou. As pessoas voltam a ser


vistas mesmo no calor. Não fosse a cerca que separa a rua do campo e a jovem moça da grama, seria um ótimo local para um encontro. Precisamos seguir em frente. O mundo da menina se expandiu...é

necessário ir a quadras mais longes,por meio da longa via, em direção a outra cidade, chega-se ao destino passando por tantas outras localidades. Abre o livro e mesmo que ninguém saiba, ela se sente forasteira. Frequentemente, esquece para onde tem que ir. Não sabe se o ponto mais próximo é aqui ou ali. Há muitos bairros, alguns de nomes engraçados. Uma vez ela leu que havia surgido do tupi. Taguatinga, veio estudar aqui. O caminho de casa para a escola, de escola para casa é o mesmo todos os dias. E ainda assim não é monótono. Sinal fechado, sinal aberto, carros e mais carros. Sair daqui e ir ali com o tempo se tornou fácil. Sedutor o

desconhecido e precavido conhecer o caminho. De uma rua, a uma quadra, de uma quadra a outra cidade. De uma cidade a outro estado. Se tornaram diferentes artefatos. Cronológicas, as cidades em minha memória modificam e até edificam a andarilha que me tornei.


4.

Relato da urbanista caminhante

Ao transitar pelo Setor Central, chega-se à Rua das Palmeiras. Além da narrativa do urbanista caminhante, é considerado o relato de adolescentes, moradores, comerciantes e visitantes que circulavam pelo local, buscando a problemática através de perguntas. Considerando o centro de Taguatinga, local onde cultura, comércio, e uso de espaços públicos estão justapostos, a Rua das Palmeiras, avenida histórica desde a formação da cidade, apresenta-se atualmente como local excluído do ambiente urbano, apresentando insegurança, esvaziamento e um potencial para aplicar os conceitos de caminhabilidade, fragmento, moldura e desenho urbano. Narrativa: Sexta (pré-feriado) Saí da UCB de ônibus. Período seco. O Sol começa a se preparar, já é entardecer. As pessoas que circulam pelas ruas estão ávidas para ir para casa ou para ter um momento de descontração, afinal, é sexta-feira e amanhã, dia 7 de setembro. Desço na Praça do Relógio. É horário de pico. A via entre a praça e a Rua é curta, da esquina vejo a Rua das Palmeiras. Circula um número considerável de pessoas por ela. O local tem muitas barreiras, há trechos com fluxo de pessoas mais frequente que em outros. Os carros chegam a ser agressivos. O canteiro central não é bem uma opção. É melhor para caminhar que na Avenida Central, os obstáculos das calçadas são menores, entretanto o assédio e a velocidade dos carros assustam. Não é bem um local convidativo. Narrativa: Quarta (vida noturna) Sai da UCB de carro. Faz calor e já anoiteceu. Vou novamente à rua das Palmeiras, esperando encontrar uma rua escura que me dê medo. Não espero ficar muito tempo. Chego e me deparo com um cenário totalmente diferente. As lojas de fast food, os salões, e as distribuidoras de bebida estão abertas. As pessoas circulam, há crianças com seus cachorros passeando e até a velocidade dos carros diminuiu. Há iluminação até a metade da rua. Descendo a rua, ela é escura e inabitável. Nem me atrevi a seguir em frente. Voltei para ond


onde havia a circulação de pessoas e me sentei em uma das lojas, fiz o meu pedido e nesse meio tempo observei a rua que começava a se esvaziar por volta das 20h30. Me dirijo ao caixa e perguntei à atendente sobre o movimento, no qual tive uma surpresa pela resposta detalhada. A praça, como ela mesma chamou, teve um esvaziamento com o fechamento de uma casa noturna. O número de assaltos cresceu, as pessoas durante o dia se recolheram em suas casas, em seus trabalhos, e deixaram de andar na rua para pedir comida por telefone. O maior problema dito por ela, o da insegurança, precisa ser mudado, para que as pessoas voltem à rua. Espera que algo seja feito pela administração. Mas cadê a solução? Fora o número de estudantes que circulam por ali nos horários de entrada e saída das escolas, a rua tem o movimento predominante dos carros. Narrativa: Quarta (vida urbana) Resolvo saber o que as pessoas pensam sobre a rua. Numa quartafeira por volta do meio-dia com painéis - cheios de enquadramentos - em mãos, vou até à rua pedir a quem estivesse transitando por ali que escrevessem sobre as perguntas que faço. O objetivo é saber que sensações a Rua evoca, melhorias e a imaginabilidade futura. Perguntas feitas: 1. 2. 3.

Que sensações a Rua das Palmeiras te traz? (medo, insegurança, memórias, passatempo…) O que você acha que pode melhorar e como? Como você vê a rua no futuro?

Respostas em comum é a insegurança relatada por estudantes e moradores jovens, tanto na rua, quanto nos becos de acesso. A falta de pontos interessantes, traz um desuso da rua. Houve até quem disse em retirar as oficinas e substituir por comércios que sejam pontos de encontro. Para os moradores mais antigos, a memória é o recurso mais presente, pois viram a formação da cidade, os restaurantes e lanchonetes que ali haviam, sendo local de lazer e encontro. As palmeiras são marcos simbólicos, lembrados tanto por pessoas mais novas, quanto mais velhas, associada por alguns até com um clima tropical.


Como melhorias, há relatos [em anexo] de mudança de pavimento, citando a diminuição de asfalto, haver mais jardins, adensar mais a área, ter mais iluminação e pontos de encontro. Bancos onde possa sentar de qualquer lado. Harmonia entre a praça e as palmeiras. Esperam que no futuro seja um local turístico, um cartão postal. Uma área comercial tanto de dia quanto a noite. Que os comerciantes e os moradores sejam mais envolvidos e conscientes a respeito da rua e sua preservação. Estes relatos demonstram que as pessoas, os moradores, em sua maioria, querem melhorias para a rua, e isso reflete na população mais jovem entrevistada ao dizer que muitas não tinham memórias sobre a rua e não souberam responder sobre que melhorias poderia haver já que não permaneciam nela, só passavam por ela para ir até a escola.

Percurso a pé Percurso de ônibus Percurso de carro

N Mapa de percurso da narrativa


39 5.

“Juntando os nós”

Com os conceitos e definições tragos até aqui, faz-se as diretrizes para o diagnóstico da área de projeto escolhida, a Rua das Palmeiras e os acessos que é preciso fazer do centro para a avenida. As diretrizes de projeto vem por meio de questões a serem respondidas com base em Jan Gehl e Gordon Cullen. Cada cidade evoca uma paisagem urbana diferente. Os fragmentos inseridos na paisagem, são lidos por meio de molduras, objetos citados por Cullen na visão serial. O meio de analisar a cidade através da visão serial tem o objetivo de mostrar a interação dos fragmentos nos enquadramentos, avaliando óptica, local e conteúdo. É preciso saber quem habita e quem frequenta, necessitando da aplicação do contexto socioeconômico nas diretrizes de projeto. Para projetar cidades para pessoas é preciso incentivar a caminhada e entender que a acessibilidade e as limitações de pessoas idosas, crianças e com deficiência também fazem parte do urbano. Assim, é necessário fazer o mapeamento de térreos e saber o que há dentro do raio de 1km para que a caminhada seja prazerosa e convidativa. Unindo estes instrumentos aos 12 critérios de qualidade de Jan Gehl. • Justificativa de recorte Ressignificar a Rua das Palmeiras como praça urbana servindo de espinha dorsal para pontos culturais de Taguatinga é o ponto principal. Foi observada a necessidade de conectar a Rua à Avenida Central pelos becos, tendo uso noturno e diurno com diversificação de atividades. Valorizar o centro por meio da cultura, desenho urbano e elementos arquitetônicos. O recorte foi escolhido após deambular pelo centro e compreender que a rua, existente desde a fundação de Taguatinga perdeu seu significado após as inúmeras expansões da cidade. Atualmente, por ser um meio mais de passagem que permanência, a rua tornou-se um local inseguro mesmo para a população que reside próximo. Os becos entre as edificações, embora iluminados dão uma perceptividade negativa pela falta de movimento, repelindo os caminhantes, principalmente mulheres, por causa do assédio moral que há nesses becos. E uma vez que o percentual de mulheres (54%) é maior que o de homens, o acesso a rua não se faz convidativo. A via dá acesso à primeira escola de Taguatinga, a Escola Industrial, hoje chamada de Centro de Ensino Médio Escola Industrial de Taguatinga - CEMEIT, por isso, tombada como Patrimônio Histórico. Tem pertencente ao seu lote a Biblioteca Braille Dorina Nowill. Os diferentes grupos sociais que frequentam o local (pessoas cegas, adolescentes, pais de alunos, residentes, comerciantes, trabalhadores, caminhantes), exigem equipamentos com diversidade de uso, além de um aumento de gabarito adensando mais a área e modificando a paisagem na escala urbana, arquitetônica e ao nível dos olhos.

Como premissas, valorizar os marcos visuais - as Palmeiras Imperiais - , faz-se necessário por meio de um corredor verde, sendo este o simbolismo da rua. Também a historicidade, presente nas edificações escolares e na própria rua é que auxilia a valorizar o local. Então, os limites da rua e da desurbanização são superados ao integrar a rua com o Parque Onoyama, aos becos e á Avenida Central, direcionando o pedestre para a Rua das Palmeiras, espaço público ressignificado.


40 Quanto aos becos, as intervenções serão feitas de modo que a Avenida Central tenha duas conexões principais, sendo estas a Avenida Comercial e a via Setor Central C7. Na via Setor Central C7 o banheiro público existente necessita de um novo projeto de modo a atender os caminhantes. Seguindo essa temática de equipamentos públicos para todos, os banheiros públicos fazem parte do programa de projeto a ser implantados na Avenida Comercial, além de mobiliários urbanos como bancos, barracas, e meios que contem a história do lugar através da arte urbana e identificação visual, emoldurados por meio de jardins.

Área de projeto

Rua das Palmeiras Setor Central C7 Av. Comercial beco 5 Av. Samdu

beco 3

beco 4 beco 6

beco 2 beco 1

Área de trabalho em destaque – mapa do autor com imagem de satélite fornecida por Google Earth


A rua: cheio ou vazio? Análise e diagnóstico, referências projetuais e diretrizes


Comércio informal noturno, próximo à Rua das Palmeiras – foto do autor


43 Área de análise e diagnóstico inserida no contexto socio cultural de Taguatinga.

12 23

9

2 19 8 4 16

7

N

1 São listados como espaços públicos: 1.Praça do DI 2.Praça do Bicalho 3.Praça do Relógio 4.Parque do Cortado 5.Parque Boca da Mata 6.Parque Saburo Onoyama 7.Parque Urbano de Taguatinga 8.Taguaparque 9.Feira dos Goianos 10.Feira dos Importados 11.Mercado Sul 12.Mercado Norte 13.Praça Vila Dimas 14.Praça Vila Matias 15.Avenida Comercial Sul 16.Avenida Comercial Norte 17.Samdu Sul 18.Samdu Norte

18

6

3 22

10

21

15 17

20 11

13

Espaços semipúblicos de reverberação social: • • •

• •

Locais de culto: cerca de 35 igrejas Locais administrativos: • Administração Regional; • Administração Regional de Ensino. Locais de educação e cultura abertos ao público: • Universidade Católica de Brasília; • Liceu de Artes; • Sesc; • Senai; 19. CEU (Centro de Artes e Esportes Unificados) Centro de Taguatinga Shopping Centers: 20. Pátio Capital; 21. Taguatinga Shopping; Mapa de Taguatinga com principais espaços públicos e 22. Alameda Shopping; semipúblicos e área de análise e diagnóstico destacado em 23. JK Shopping. laranja.

14

5


44 Presente desde a formação da cidade, a Rua das Palmeiras era repleta de bares, restaurantes e outros comércios que favoreciam a vida no espaço público. Por ter perdido parte de seu dinamismo, é analisada como uma área de manifestações culturais, sendo estas entendidas como a própria vida em sociedade. Assim a ZEIC, é um ponto de partida para uma área que busca integrar cultura ao modo de Projetar para Pessoas,

1.

Rua das Palmeiras

A análise da Rua das Palmeiras, é feito por meio de mapas com base nas Zonas Especiais de Interesse Cultural nos Centros - ZEICS, pela sua significação histórica, patrimonial e econômica. As ZEICS, foi uma proposta de Plano implantada em Campo Grande - Mato Grosso do Sul em 2009. O Plano Diretor da cidade de Campo Grande, cria as ZEICS, reconhecendo que a cidade é resultado de culturas e construção coletiva. Estas zonas estão associadas com a ideia de cidade como patrimônio histórico e cultural, simbolizados por edifícios e paisagem que remetem à memória um valor cultural. No modo de elaboração de Plano local de uma ZEICS, são definidos critérios e diretrizes para a construção de um caráter cultural, criando assim uma identidade arquitetônica, incluindo a vegetação urbana. Portanto, a área de recorte é analisada por cinco objetos: aspectos, uso e ocupação do solo, sistema viário, bens de interesse histórico e cultural e os pedestres. Incluindo o diagnóstico com base em Jan Gehl (2013), é apresentado o mapeamento de equipamentos e térreos. Relacionando os conceitos outroras explicitados de fragmento e moldura, é aplicada a metodologia de Gordon Cullen (2010), onde as visões seriais são mostradas por fotos, perfis viários e análise dos fragmentos.

Análise ●

Aspectos

históricos: Cenário importante tanto no passado quanto no presente por abrigar os principais pontos comerciais e fazer parte da formação da cidade. Alguns de seus edifícios ainda são os mesmos dos primeiros anos de formação mas estão desvalorizados e sem manutenção. Há edifícios patrimoniais que são a Praça do Relógio e a Escola Industrial, atual CEMEIT. econômicos: Um dos principais interesses em ir para o Setor Central são os comércios variados, shopping, bancos e o transporte. culturais: Onde ocorrem as principais manifestações culturais da cidade no Teatro da Praça e na Praça do Relógio. A Praça do Relógio muitas vezes é alvo de insegurança, esvaziando-se a noite, comprometendo a vida noturna do centro. infraestrutura: Localização de serviços como a Administração Regional e Administração Regional de Ensino, além de hospitais, escolas, delegacia e corpo de bombeiros. A noite tem boa iluminação na maior parte das vias. A vida noturna é marcada principalmente por trabalhadores e estudantes voltando para suas casas, mas os comércios de caráter diurno dão a sensação de insegurança e de um aparente ‘toque de recolher’.

− − −


45 ●

Uso e Ocupação do solo ○ tipologia das edificações ○ gabarito

N

mapa do autor com base em dwg. Disponibilizado por SICAD DF Misto (habitação e comércio) Praça Parque Comércio Escola Igreja Administrativo Segurança Residência unifamiliar Residência coletiva

Linha do metrô

N

mapa do autor com base em dwg. Disponibilizado por SICAD DF 1 a 3 pavimentos 4 a 5 pavimentos 5 a 10 pavimentos mais de 10 pavimentos

Linha do metrô


46 ●

Bens de Interesse Histórico e Ambiental ○ Praça do Relógio ○ Escola Industrial ○ Biblioteca braile e Teatro da Praça ○ Parque Onoyama

2

4 3

1

N

mapa do autor com base em dwg. Disponibilizado por SICAD DF

1

Praça do Relógio

2

Biblioteca braile e Teatro da Praça

3

CEMEIT (Escola Industrial)

Sistema viário ○ leito carroçável ○ leito de pedestres ○ canteiros e áreas verdes ○ estacionamentos

N

mapa do autor com base em dwg. Disponibilizado por SICAD DF Leito carroçável Leito de pedestres

Canteiros e áreas verdes Estacionamentos

4

Parque Onoyama


47 ●

Os pedestres (mapas quanto ao acesso) ○ Espaços abertos de uso público ○ Espaços semipúblicos

N

mapa do autor com base em dwg. Disponibilizado por SICAD DF Espaços abertos de uso público Espaços de uso semipúblico

Espaços privados Linha do metrô

Diagnóstico ●

Mapeamento ○ tipos de comércios e serviços ○ Térreos ○ edifícios em desuso e fachadas cegas

Após ir ao local, os edifícios são classificados em comercial, educacional, institucional e serviços. Foram listados 75 estabelecimentos existentes ao longo da Rua das Palmeiras, excluindo-se aqueles que se encontram em desuso. A tabela é encontrada em anexo.

N

mapa do autor com base em dwg. Disponibilizado por SICAD DF Edifícios em uso Edifícios em desuso

Linha do metrô Fachadas cegas


48 Função comercial institucional

educacional Quantidade de estabelecimentos classificados quanto à função

serviços

Período de Funcionamento 50 40 Quantidade de estabelecimentos

30 20 10 0 comercial

institucional

educacional

dia

dia e noite

Favorece à Permanência

Sim

Não

Entende-se como favorece à permanência aqueles estabelecimentos que tenham calçadas mais largas em suas fachadas principais, além de mobiliário.

noite

serviços

Mapeamento de térreos

em uso

em desuso

fachada cega

Em desuso compreende-se as edificações que estejam vazias ou terrenos desocupados.

Gráficos segundo dados levantados pelo mapeamento de térreos


49

Visão Serial

A visão serial foi analisada escolhendo-se pontos situados dentro da área de estudo. As 9 visuais são apresentadas por meio de fotografias do autor e identificadas os fragmentos com referência em Gordon Cullen (Paisagem Urbana, 2009). Perfis viários, demonstram a diferença de altura entre os edifícios, além das dimensões da via, mobiliários e vegetação existente, além da circulação de pessoas na humanização. Cada visual compreende um painel, ou um enquadramento.


50

Fragmentos da Rua das Palmeiras, analisados por meio de fotos do autor, com referência em Gordon Cullen (2009).

2b

Visuais 1 e 2.

Pormenores: as paredes ganham vida ao terem cores e texturas variadas.

2a

2c

Apropriação do espaço: “Mas como a maioria das pessoas faz exatamente o que lhe convém e quando lhe convém, verifica-se que também o exterior se encontra ocupado para fins sociais e comerciais.” (CULLEN, 2009, p. 23)

Infelizmente o espaço da Rua das Palmeiras é ocupado por veículos, o que poderia ser um jardim linear, ressaltando as palmeiras e com mobiliários, tornando o simbolismo das palmeiras, motivo de preservação patrimonial.

Privilégio: As linhas verticais das palmeiras e as linhas horizontais do canteiro central são linhas privilegiadas de ocupação. Além de indicar axialidade.

Ligação e conexão - o pavimento: “Hoje em dia o ambiente construído encontra-se totalmente fragmentado.” (p. 55) A diferença dos revestimentos delimita e diferencia os estabelecimentos.

1a Iniciativa local: A arte de Gurulino é o bastante para chamar a atenção e mudar o aspecto de barreira do muro.

1b Vista para o Interior de um recinto: Da rua posso ter um vislumbre do interior da casa por causa da varanda.


Os carros ocupam o que era pra ser as calçadas, além das oficinas existentes no local que favorecem esta ocupação.

1

VISÃO SERIAL ○ PERFIS VIÁRIOS ○ FOTOS ○ FRAGMENTOS

2b

1 3 5 7

2

4

6 N

8

4,5 calçada

9

4,80

7,0 leito carroçável

calçada

2a

2c

2 As calçadas mais largas possibilitam a ocupação por parte do comércio, gerando mais permanência no local.

1a

leito carroçável

leito carroçável

4,0 calçada

2,50

3,0 canteiro

2,50

1,55 calçada

1b


52

Fragmentos da Rua das Palmeiras, analisados por meio de fotos do autor, com referência em Gordon Cullen (2009).

4c

1 Visuais 3 e 4.

3

5 7 8

2

4

6

N

9

4a Aqui e Além: da escola é possível ver que há algo além que continua na rua. A esquina pode ser motivo de curiosidade e mesmo de delimitação, sendo elemento atuante da percepção do espaço.

Continuidade: os edifícios, a perspectiva, o eixo central, a linha de veículos que forma pelo estacionamento, contribui para dar a sensação de continuidade entre a Av, Central e a rua das Palmeiras.

4d Caminho para pedestres: as diferentes pavimentações parecem uma união de “retalhos” onde o asfalto pertence ao carro e outros materiais são pisados pelos caminhantes.

3a Entrelaçamento: o grafite nas fachadas faz com que haja uma unidade, dando a impressão de ser um edifício só.

4b Perspectiva velada: A vegetação oculta a escola dando ao observador somente partes da volumetria. A intenção é proteger os alunos, é uma boa forma de delimitar espaços públicos e privados que não seja recorrendo à alvenaria.

4b

Apropriação do espaço: o ponto de taxi, o banheiro público, constituem uma identidade ao local que não é vista em outros pontos do Centro.

3b 3b Focalização: as cores quentes da edificação em meio a edifícios em estado de falta de manutenção, o torna um objeto sensível a visão.

3c Território ocupado: sombra, calçada e a necessidade de expor os produtos aos caminhantes transformam o espaço em um convite .


VISÃO SERIAL ○ PERFIS VIÁRIOS ○ FOTOS ○ FRAGMENTOS

3 A rua, ora mais larga, ora mais estreita para caber os veículos em bolsões de estacionamento faz com que o canteiro central seja um delimitador da via. Além disso, a falta de faixas de pedestres, torna o canteiro inseguro.

4c

5 7 canteiro

8

calçada

6

3

2

1

4 N

9

calçada

4a

1,50 4,0

3,50

2,70

leito carroçável

4d

2,20

leito carroçável

4b 4

Na rua onde há o Colégio Claretiano há mais vagas para carros que pessoas. A praça do Relógio, paradas de ônibus e estação de metrô estão perto o suficiente para considerar as vagas um exagero. É uma importante via de conexão entre a Av. Central e a Rua das Palmeiras.

calçada

leito carroçável

7,0

estacionamento

calçada

6,5

leito carroçável estacionamento

3,50

7,0

7,0

5,30

3a

4b

3b

3c


54

Fragmentos da Rua das Palmeiras, analisados por meio de fotos do autor, com referência em Gordon Cullen (2009). Visuais 5, 6 e 7.

7b Desurbanismo: edifício isolado, prática funcionalista que afasta o pedestre do local e é sem atratividade.

6a

5a

“as árvores são o papel de parede vivo” (p.85)

Integração de árvores:

o rebaixamento da edificação em relação à caixa da rua, faz com que as árvores presentes a frente da Escola CEMEIT pertençam ao espaço urbano ao mesmo tempo que contrastam.

7a O Espaço Intangível: o espaço urbano com seus altos edifícios mostra que mesmo a medida que o observador se aproxime, parecem ser intangíveis ao olhar para cima. Assim a paisagem tem várias percepções, a nível dos olhos, ou mais acima.


6

VISÃO SERIAL ○ PERFIL ○ VISTAS ○ FOTOS

calçada leito carroçável

7b

calçada

estacionamento

1 14,50

18,0

3,0

3

6,50

7 8

7

7a

O ponto nodal. Conecta a Av. Comercial à Av. Central e por sua vez à Avenida das Palmeiras. Aqui circulam estudantes, moradores, trabalhadores. Há frequência de veículos e pessoas em vários horários. Tem semáforo, faixa de pedestres, estacionamento e calçadas irregulares, lixo e a parada de ônibus não fornece a segurança adequada para o embarque e desembarque de passageiros. Contudo, os três pontos tem potenciais.

9

5

2

4

6 N

6a

5a

5

5b

7a

leito carroçável

leito carroçável

canteiro calçada

calçada

calçada

1,10 1,50 2,50

2,80 0,50

3,60 1,10

2,0 2,60 2,0


56

9a Desníveis: A inclinação da rua em declive leva o observador para a vista do Parque Onoyama, parcialmente encoberto pelo edifício em altura. Fazendo parte do cenário.

9b Perspectiva delimitada: a rua sem saída, envolta por blocos, delimita o olhar para uma perspectiva que um edifício encobre o adjacente, dando destaque para o que está colorido.

Fragmentos da Rua das Palmeiras, analisados por meio de fotos do autor, com referência em Gordon Cullen (2009). Visuais 8 e 9.

8a

Barreiras: A barreira por tela de proteção, permite a permeabilidade visual e delimita o acesso físico. Gera curiosidade e possibilita o conforto ao saber que do outro lado da barreira, há alguém vigilante no Corpo de Bombeiros que pode zelar pela sua segurança.

Mas durante a noite, o edifício, em estado de penumbra, é como um espaço vazio ou morto na cidade, sem uso público. E a permeabilidade visual não é suficiente para ser um convite para um passeio.

8b Saliências e reentrâncias: as edificações salientes e outras recuadas, tiram o aspecto monótono dos muros e permitem a interação do edifício – rua – caminhante.


9

VISÃO SERIAL ○ PERFIL ○ VISTAS ○ FOTOS

estacionamento

estacionamento

1

9a 3 7

leito carroçável

8 muro escola

8e 2,60

2,30

2,50

8b

9b

8 9a

Percebe-se a diferença de gabarito tão diferente ao longo do percurso, onde há poucos edifícios com 10 pavimentos ou mais. A maior parte da paisagem é cercada por blocos de até 5 pavimentos. Presente também são as fiações elétricas “cortando” o céu. Na rua da escola pública (visual 9), as fachadas são muros com árvores ao fundo, onde a barreira física não ajuda a função do edifício pela forma. A cidade é assim encoberta por tijolos e concreto, ficando a cargo das janelas (quando estas são vistas) a interação entre espaço público e privado.

calçada calçada

1,50

leito carroçável

13,0

9,0

8b

8a

9

5

2

4

6 N


58 2.

Referências Relatos do cotidiano - referência conceitual: O que vemos o que nos olha | São Paulo

Proposta da 12º Bienal de Arquitetura, em exposição em São Paulo, a instalação trabalha transparência e o olhar por uma moldura, estabelecendo uma conexão direta com a permeabilidade visual ao espreitar edifícios da década de 1940. O objetivo é fazer o observador refletir sobre a sua relação com o espaço que habita (BARATTO, 2019).

Edifício Schwery (década de 1940) visto do SESC 24 de maio– fotos: André Scarpa

O Jardim de Cenas Emolduradas | Viseu Localizado em Portugal, o projeto une arte e escultura pública para criar um local de encontro em um parque urbano. O projeto, inspirado pela técnica de um pintor renascentista luso, Grão Vasco, por enquadrar o ambiente, tem aberturas emolduradas, enquadrando o plano do parque e o de pessoas que por ali circulam, sendo molduras oscilantes (GONZÁLEZ, 2018).

Instalações do projeto no Parque Fontelo – PT – foto: Luís Belo Projeto: The Open Workshop


59 De espaços mortos a espaços públicos - intervenções em becos abandonados: Veias e artérias urbanas entre edifícios | Seattle O arquiteto e urbanista Daniel Toole usou brinquedos e flores para humanizar os becos (2008), criando espaços de incentivos à abertura de comércios, galerias de arte, transformando os becos outroras perigosos em caminhos para pedestres (ALDERTON, 2017).

Beco em Seattle – Concrete Alley – foto e imagem: Daniel Toole

Resgate das vielas | Texas Dam Cheetham, em 2013, notou que vielas históricas estavam sendo privatizadas e saindo do plano original da cidade de Austin. Por isso, transformou temporariamente o beco -Alley nº 111 na Ninth Street em um espaço público para arte destacando as características históricas do local (ALDERTON, 2017).

Antes e depois da intervenção na Alley nº 111 – fotos: Fyoog Architecture


60 Ruas com prioridades para pedestres - referências nacionais: Ruas Completas | São Paulo Seu objetivo é transformar ruas de espaços urbanos já existentes em uma rua de transporte nodal influenciando a forma como as pessoas se locomovem e como enxergam a paisagem. Conceito novo sendo difundido pelo Brasil através de Seminários Online Ruas Completas (2018) pelo Instituto de Pesquisas WRI Brasil, e a Organização Cidade Ativa. Este tipo de seminário leva à população e até mesmo aos governantes o que são Ruas Completas, a importância da inclusão de pessoas no processo de construção dos espaços públicos, além dos impactos e implementação. Paula M. Santos (2018), diz que o conceito de Ruas Completas é onde o espaço urbano tem uma distribuição destinada aos diferentes tipos de locomoção, veículo particular, transporte público, ciclovia e pedestres. Em uma escala hierárquica, a prioridade é do pedestre, em segundo os ciclistas, em seguida o transporte coletivo, para após se ter o transporte de carga e por fim automóveis e motocicletas. Esse modelo prioriza os meios de transporte sustentáveis e mais vulneráveis no espaço urbano. Uma Rua Completa pode apresentar cinco elementos, que são: caminho para pedestres; caminho para ciclistas; caminho para o transporte coletivo; caminho para os veículos; interseções, transições e integração. Nestes elementos entram o desenho urbano com medidas para que os pedestres se sintam confortáveis. As ruas como lugar para estar tem os elementos de fachadas ativas e mobiliário urbano que são estímulos de caminhabilidade e meios de permanência.

Já foram implantadas Ruas Completas em São Paulo, Porto Alegre e Juiz de Fora. Em São Paulo, a sua primeira Rua Completa obtém o índice de 92% de aprovação pela população usuária (WRI Brasil, 2018). A rua Joel Carlos Borges sofreu uma intervenção urbana em 2017, pertencente ao projeto da Rede Nacional para a Mobilidade de Baixo Carbono. O projeto redesenhou a via, aumentando a circulação de pedestres pintando faixas verdes no leito carroçável, reduziu o limite máximo de velocidade dos veículos e colocou balizadores para educar os motoristas do novo espaço destinado a pedestres que de 29% aumentou para 70% (CIDADE ATIVA, 2018). Ruas da Cultura | Goiânia Em Goiânia, Goiás, a Avenida Tocantins e a Rua do Lazer, compreende a chamada Rua da Cultura que abriga 11 espaços culturais onde tem equipamentos de teatro, cinema, feiras, leitura, exposições, shows, arquitetura, educação, arte urbana e gastronomia. Nela estão localizados o Centro Cultural Cora Coralina, o Teatro Goiânia, o Centro Municipal de Cultura Goiânia Ouro e o Beco da Codorna, entre outros (Redação Curta Mais, 2019). São diferentes manifestações culturais que promovem a vida em espaços públicos e semipúblicos. A Rua do Lazer é um trecho com mobiliário urbano e equipamentos para o esporte. Utiliza artifícios da cor para ter destaque na paisagem. Outras localidades onde há Ruas da Cultura são em Mariana, Minas Gerais e na PUCRS de Porto Alegre.


61

Os oito princípios da calçada e seus elementos – foto: WRI Brasil

Rua Completa Joel Carlos Borges – SP – fotos: WRI Brasil

Rua do Lazer em Goiânia – GO – foto: Marcos Aleotti


62 3.

Diretrizes gerais

Paisagem em movimento para a cidade

Abrir os caminhos para a cidade Humanizar muros com arte Substituir alvenaria por gradeamento Abrir as janelas para a cidade Requalificar fachadas cegas de estabelecimentos comerciais A rua como extensão da casa Inserir equipamentos de cultura e lazer: intervenção artística nos becos onde há assédio moral advindo das oficinas. Reconectando a paisagem naturante Criar conexão com o Parque Onoyama e com o Córrego do Cortado: passagem para pedestres. Viver a cidade Requalificar a Rua das Palmeiras alterando perfil viário, inserindo mobliliário, jardim, outras pavimentações, ressaltando assim os bens tombados (Praça do Relógio, CEMEIT), além do edifício do Corpo de Bombeiros, e Administração Regional, melhor visualizados através de uma boa caminhabilidade.

● −

Ressignificação do espaço para os caminhantes Conforto no andar Alterar medidas de calçada, via e eixo central conforme manual “O Desenho de Cidades Seguras” (WRI Brasil, 2018) Percepção visual Aumentar altura de edifícios situados na Rua das Palmeiras que estejam entre 1 a 5 pavimentos para até 10 pavimentos, adensando mais a área, criando mais circulação diária de pessoas e valorizando território local. Pontos de encontro Criar espaços de permanência nas calçadas com mobiliário, iluminação e pavimentação, trabalhando textura e cor.

• Segurança para todos −

Ultrapassar os limites Reforçar conexão com o centro e os becos para torná-los mais seguros por meio de intervenções artísticas. Estímulos visuais Modificar pavimentação e sugerir revestimentos diversos para valorização de edifícios; Propor jardins urbanos Alterar paradigmas Implantar faixa de pedestres, Reduzir velocidade de veículos na Rua das Palmeiras Fechar a Rua das Palmeiras para o transito de veículos aos finais de semana.

Arquitetura efêmera e conceitual funcional

Instalações comerciais Criar espaço para o comércio informal Criar mobiliário para a instalação dos comerciantes Instalação sanitária Requalificar banheiro público da via C7; Propor banheiro público próximo à delegacia, no terreno em desuso

PRIORIDADE AO PEDESTRE


63 Mapa síntese de diretrizes

Valorização da Administração novo acesso ao Parque para maior visibilidade e acesso deste por

Regional

grafite que remeta ao Parque

moradores locais

Onoyama

substituição dos muros da escola local vazio usado como

Intervenção educacional e artística nos becos que tem oficinas e ocupam a rua com veículos além do abuso moral sofrido por mulheres

estacionamento

Banheiro existente depredado

N

Paisagem em movimento e Ressignificação do espaço

Arquitetura efêmera e conceitual

Segurança

Obstáculos a serem ultrapassados

Patrimônio histórico e ambiental

Alteração de uso do solo

Banheiros públicos

Segmentos cegos

Áreas de permanência

Áreas de paisagismo

Comércio informal

Conexão a ser valorizada (vias principais)

Inserção de mobiliário e

Conexão a ser reforçadas (vias locais)

iluminação urbana

Comércio de uso noturno e diurno

Conexão a ser criada (trajeto a pé ou bicicleta) mapa do autor com base em dwg. Disponibilizado por SICAD - DF


64 Diretrizes específicas Dividido o sítio em 9 áreas de projeto, cada uma apresenta uma diretriz específica, baseada nas 12 características de qualidade do Espaço Público (Jan Gehl, 2013). Dentre estas, são: 1 – Rua das Palmeiras - parte 1: Ter onde sentar Favorecer a permanência nos locais de comércio, adensar verticalmente as edificações compondo um skyline mais homogêneo, e não tão fragmentado, atentando-se para as relações de escala humana; Projetar área de estacionamento permeável, tornar o canteiro central um corredor verde; Substituir a rotária por cruzamento. 2 – Rua das Palmeiras - parte 2: Espaços de permanência Espaços de média permanência e passagem segura, favorecidos pela iluminação; Intervenção nos muros; Aumento do canteiro central para facilitar a passagem de pedestres entre os lados da rua, bem como sinalização. 3 – Rua Setor C Norte QNC: Espaços para caminhar Projetar o caminho que leva até o Parque Onoyama, reconectando-o à cidade por meio do acesso prioritário a pé. 4 – Avenida Samdu: Proteção contra o tráfego Redução de velocidade próximo ao ponto de ônibus; inserção de Jardim Urbano no canteiro central. Alargamento de calçadas pertencentes aos lotes do Batalhão da Polícia Militar. 5 – Avenida Comercial: Segurança nos espaços públicos Redesenho da calçada e faixa de ônibus; Retirada de estacionamento para área de comércio informal, Intervenção na fachada da Escola CEMEIT, junto a inserção de Jardim Urbano. 6 – Avenida Setor Central C7: Possibilidade de observar Retirada de bolsões de estacionamento para o redesenho de calçadas; Inserção de eixo verde; Aumento de gabarito dos edifícios próximos à Avenida Central. 7 – Cinco Becos: Proteção contra experiências sensoriais desagradáveis Projeto de ruas compartilhadas; intervenções efêmeras que evoquem os sentidos; Verticalização de edifícios que estão de 1 a 4 pavimentos para até 10 pavimentos. 8 – Rua do Corpo de Bombeiros Redesenho de calçadas; Intervenção nos muros; Redução de velocidade. 9 – Praça do Relógio: Oportunidade de conversar Inserção de mobiliário com design contemporâneo; Retirada de estacionamento para se tornar um Jardim Urbano, Redução de Velocidade próximo à parada de ônibus; Desenho de vagas de estacionamento de pavimentação permeável. Área 2 - parte 2

Área 1 - parte 1

Área 8 Área 3: beco 1 Área 9 Área 3: beco 2, 3, 4 e 5

Área 6

Área 7

Área 5 Área 4

Diagrama do autor. Ilustração das áreas de projeto.


65 Diretrizes específicas por área Ter onde sentar.

Espaços de permanência. 2

1

Rua das Palmeiras parte 1

Espaços para caminhar.

Segurança nos espaços públicos. 5

Avenida Comercial

4

3

Rua Setor C Norte QNC

Rua das Palmeiras parte 2

Possibilidade de observar.

Proteção contra o tráfego.

6

Avenida Samdu

Proteção contra experiências sensoriais desagradáveis. 7

Av. Setor Central C7

Escala Humana. 8

5 becos

Rua do Corpo de Bombeiros

Oportunidade de conversar. 9

Jardim Urbano Corredor verde Espaços de passagem e/ou permanência Zona de comércio informal Edifícios a serem aumentados o gabarito em até 10 pavimentos Ruas compartilhadas Edifícios a serem aumentados o gabarito em até 6 pavimentos Intervenções em barreiras Intervenções de velocidade Praça mineral e vegetal Estacionamento

Praça do Relógio


66 Conclusão Ao associar os conceitos de fragmento com imagens que evocam estímulos sensoriais, unindo ao modo de projetar cidades para pessoas, a justaposição da escala humana e a criação de molduras imagináveis, tem se a Cidade Perceptiva. Consequentemente, a cidade perceptiva é possível por haver uma Cidade Participativa. O Espaço Público como espaço cidadão deve “dar suporte a diversos usos e funções e criar lugares.” (BORJA, Jordi. 2003. apud ABRAHÃO, Sérgio L., 2008, p. 48) Deve ser espaço cultural, símbolo de identidade de manifestação histórica e do diálogo com os diversos grupos sociais. Uma rua e muitas possibilidades. Unir conceitos urbanos, conceituais e filosóficos para chegar a uma requalificação urbana, motiva o urbanista caminhante a conhecer a cidade e projetar para que a rua seja vista. Projetar para pessoas não é tão simples quanto parece. Ir a campo, fazer diagnóstico, questionar os desejos da população e entender que há pessoas que sabem o que dizer e outras que não sabem como a rua poderia ser melhorada, faz da cidade, local fragmentado, multifacetado. É preciso no entanto ponderar entre o que querem e o que precisam. Há necessidades que nem sempre são vistas pela maioria, mas atendem a uma minoria que também faz parte do espaço urbano. Banheiros públicos, são muito usados por moradores de ruas e prostitutas que existem e estão ali, mesmo que não sejam vistos. E há um banheiro público na principal via de acesso à Rua das Palmeiras que precisa de um projeto novo. Além de um lote vazio em frente à Delegacia que pode atender ao espaço público que há ali. Além disso, os comerciantes informais, que ocupam as calçadas, precisam de um local para continuar com seu trabalho de forma humana, atraindo a população para a Rua das Palmeiras. Entre outros, mostrar a história para a população jovem da cidade é importante para que valorizem a rua como espaço público e local de cultura. Espera-se que o projeto de requalificação da Rua das Palmeiras e as intervenções nos becos, Rua Comercial e Avenida Samdu, seja “abraçado” pela população, assim como relataram nos painéis que desejam mudança. O “espaço público é a cidade” portanto a cidade funcionalista, será ultrapassada e dará lugar a um ambiente urbano coeso e integrado já que para Borja, o espaço é fragmentado, desigual, mono funcionalista e a privatização de equipamentos e serviços gera o desaparecimento dos espaços públicos cidadãos.



Anexos


69

Mapeamento de térreos; Rua das Palmeiras RUA DAS PALMEIRAS especificação tipo período func. açaiteria comercial dia e noite bar comercial dia e noite restaurante comercial dia e noite drogaria comercial dia e noite tintas comercial dia serviços automotivos comercial dia distribuidora de bebidas comercial dia e noite acessórios automotivos comercial dia acessórios automotivos comercial dia refrigeradores comercial dia drogaria comercial dia e noite uniformes profissionais comercial dia acessórios automotivos comercial dia cabeleireiro comercial dia bar comercial noite autopeças comercial dia autoescola educacional dia bar e restaurante comercial dia e noite agência do trabalhador institucional dia copiadora comercial dia pré-vestibular educacional dia e noite venda de bolos comercial dia salgaderia comercial dia restaurante comercial dia pré-vestibular comercial dia escola educacional dia e noite bombeiros institucional dia e noite batalhão da polícia institucional dia e noite loja de roupas comercial dia aluguel de roupas de festa comercial dia barbearia comercial dia distribuidora de bebidas comercial dia e noite aluguel de roupas de festa comercial dia gráfica comercial dia farmácia de manipulação comercial dia manutenções de impressorascomercial dia uniformes escolares comercial dia loja de bicicletas comercial dia tabacaria comercial noite escritório de advocacia serviço dia barbearia comercial dia e noite salão de beleza comercial dia restaurante comercial dia e noite restaurante comercial dia pizzaria comercial noite

quadra permanência C1 sim C1 sim C1 sim C1 não C2 não C2 não C2 não C2 não C2 não C3 não C3 não C4 não C4 não C4 não C4 sim C4 não C4 não C4 sim C4 sim C4 não C4 sim C4 não C4 sim C7 sim C7 sim C7B sim QNB1 não QNB2 não QNA1 sim QNA1 não QNA1 sim QNA3 não QNA3 não QNA3 não QNA3 não QNA3 não QNA3 não QNA5 sim QNA7 sim QNA7 sim QNA7 sim QNA7 sim QNA9 sim QNA9 sim QNA9 sim


70 salão de beleza açaiteria cafeteria restaurante restaurante loja de roupa íntima acessórios automotivos distribuidora de bebidas salão de beleza lanchonete verdurão barbearia ótica gráfica lan house manutenções de impressoras salão de beleza lan house sorveteria bar barbearia advocacia previdenciária aluguel de roupas de festa loja de roupas creche atendimento estético veterinário dentista serviços de climatização advocacia

RUA DAS PALMEIRAS comercial dia e noite comercial dia e noite comercial dia comercial dia e noite comercial dia e noite comercial dia comercial dia comercial dia e noite comercial dia comercial dia e noite comercial dia e noite comercial dia e noite comercial comercial comercial comercial comercial comercial comercial comercial comercial serviço comercial comercial educacional comercial comercial comercial comercial serviço

dia dia dia dia dia dia dia dia e noite dia dia dia dia dia dia dia dia dia dia

QNA9 QNA9 QNA9 QNA9 QNA9 QNA9 QNA9 QNA11 QNA11 QNA11 QNA11 QNA13

sim sim sim sim sim sim não não sim sim não sim

CNB1 CNB1 CNB1 CNB1 CNB1 CNB1 CNB1 CNB1 CNB1 CNB1 CNB1 CNB1 QNB1 QNB1 QNB1 QNB1 QNB1 QNB1

não não sim não sim sim sim sim sim sim não sim sim sim não sim não sim


PainĂŠis enquete da narrativa da urbanista caminhante


PainĂŠis enquete da narrativa da urbanista caminhante


PainĂŠis enquete da narrativa da urbanista caminhante


PainĂŠis enquete da narrativa da urbanista caminhante


PainĂŠis enquete da narrativa da urbanista caminhante


Bibliografia


77 Bibliografia ABRAHÃO, Sérgio Luís. Espaço Público: do urbano ao político. São Paulo: Annablume , 2008. ARANHA, Gervácio Batista. Retratos urbanos: o cotidiano da cidade na ótica dos cronistas. Fortaleza: UFCG. 2014. BAHOUTH JÚNIOR. Alberto. Pioneiros e precursores. Brasília: HP Mendes, 1978. BATISTA, M. N.; BARRA, E.; SCHLEE, M. B.; TÂNGARI, R. V. A Vegetação Nativa no planejamento e no projeto paisagístico. Premissas e critérios para a transformação da paisagem. Rio de Janeiro: Rio Book’s, 2015. BENEVOLO, Leonardo. História da Arquitetura Moderna. São Paulo: Perspectiva, 2017. BUENO, Silveira. Minidicionário da língua portuguesa. São Paulo: FTD, 2000. CAMPOS. Thiago de Oliveira. Gestão do território e planejamento urbano: o caso de Taguatinga. Brasília: UnB, 2017. CASTRIOTA, Leonardo Barci. CARDOSO, Flávia M. Possato. O itinerário enquanto instrumento de preservação do patrimônio cultural: o caso da Estrada Real. Minas Gerais: Fórum Patrimônio, 2012. CAUQUELIN, Anne. A invenção da paisagem. São Paulo: Martins Fontes, 2007. CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 2003. CHOAY, Françoise. Alegoria do Patrimônio. São Paulo: UNESP, 2006. CODEPLAN. Pesquisa Distrital por Amostras de Domicílio - PDAD 2018. Brasília, 2018. COSTA, Marco Aurélio. FAVARÃO, César B. THADEU, Marcos. A nova agenda urbana e o Brasil. Insumos para a sua construção e desafios para a sua implementação. Brasília: IPEA, 2018. COSTA, Graciete Guerra da. As Regiões Administrativas do Distrito Federal de 1960 a 2011. Brasília: UnB, 2011. CULLEN, Gordon. Paisagem urbana. Lisboa: Edições 70, 2010. DALLARI, Dalmo. Viver em Sociedade. Minas Gerais: Prospectiva, 2014. DISTRITO FEDERAL. Arquivo Público. Brasília - 50 anos. A História em Painéis. Brasília: Arquivo Público Distrito Federal, 2010. ESTÁCIO, Centro Universitário. Aspectos Antropológicos e Sociológicos da Educação. 2016. GEHL, Jan. Cidade para Pessoas. São Paulo: Perspectiva, 2013. JACQUES, Paola Berenstein. JEUDY, Henri Pierre. Corpos e Cenários Urbanos: Territórios urbanos e políticas culturais. Salvador: EDUFBA, 2006. LEFEBVRE, Henri. O direito à Cidade. São Paulo: Centauro, 2001. LYNCH, Kevin. A imagem da cidade. São Paulo: Martins Fontes, 2011. MAXIMIANO, Liz Abad. Considerações sobre o conceito de paisagem. Curitiba: UFPR, 2004.


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Referência audiovisual HER. Dirigido por Spike Jonze. Produzido por Annapurna Pictures , 2013. 126 min.



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