Jornal aduff outubro1 2015 artefinal internet (1)

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Huap de portas fechadas Suspensão de internações no Antonio Pedro reforça receio de uso da crise para privatizar

Contra o ‘ajuste fiscal’, os cortes nos orçamentos dos serviços públicos e em defesa dos direitos dos trabalhadores.

Seção Sindical do ANDES-SN

6 Luiz Fernando Nabuco

ADUFF SSind

Ato dia 23 de outubro, 17h, na Candelária

Luiz Fernando Nabuco

Associação dos Docentes da UFF

Filiado à CSP/CONLUTAS

Outubro de 2015

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Ato no Rio, em agosto

130 dias de defesa da universidade pública Zulmair Rocha

Greve chega ao fim sem superar ‘ajuste fiscal’ e projeto do governo que asfixia e ameaça a universidade pública, mas constituiu polo de resistência que deve buscar ampliar a luta contra os cortes no orçamento e no financiamento público, a terceirização e a privatização via OS ou Ebserh Páginas 2 e centrais

Luiz Fernando Nabuco

Assembleia no final de setembro, maior reunião docente da história da UFF, que acatou indicativo do Comando Local de Greve pelo fim da paralisação

Todas as obras da UFF em Niterói estão paralisadas ou quase Página 3 Obra do Iacs no Gragoatá: sem previsão de término e problemas com TCU

Câmara ameaça votar ‘fim’ da CLT

Delegada abre inquérito sobre atropelamento em ato

UFF atende à reivindicação docente

Página 8

Página 7

Notas da Aduff, página 6


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Jornal da ADUFF Foto: Luiz Fernando Nabuco/Arte sobre foto: Gil castro

Outubro de 2015 • www.aduff.org.br

Editorial

Volta às aulas: em que condições? sobre a Universidade Pública, o trabalho docente e os direi‑ tos dos trabalhadores em geral pairam graves ameaças. Tra‑ ta‑se de perceber que as ame‑ aças crescem em um volume e ritmo assustadores e já estão se transformado em perdas reais. Alguns exemplos muito con‑ cretos dos últimos dias não dei‑ xam espaço para dúvidas. No Congresso Nacional, a medi‑ da provisória que altera o fa‑ tor previdenciário foi adorna‑ da com uma nova emenda que tornará obrigatória a adesão à Funpresp para o conjunto dos servidores ingressantes após a criação do referido fundo. Até aqui, a adesão está na casa dos 15%, porque o conjunto dos servidores contratados nos úl‑ timos anos percebeu que o tal fundo é uma armadilha, em que nenhuma garantia efetiva de complementação da aposen‑ tadoria proporcional às contri‑ buições está assegurada. O mesmo Congresso, em uma manobra tão ou mais sor‑ rateira, tenta agora incluir na medida provisória que cria o “Programa de Proteção ao Em‑ prego” um artigo autorizando que leis trabalhistas sejam “fle‑ xibilizadas” pelos acordos cole‑ tivos, ou seja, retorna-se à pro‑ posta da prevalência do acorda‑ do sobre o legislado, que havia sido rechaçada nos tempos de Fernando Henrique Cardo‑ so. Em tempos de crescimen‑ to acelerado do desemprego, a proposta do Programa em si (autorização de corte de 30% dos salários para o empregador, com complementação parcial dos salários através do FAT) já

Outubro 16 – Reunião do Grupo de Trabalho da Aduff-SSind sobre gênero, etnicidade e classe, com o tema: “Formas de enfrentamentos à onda conservadora nos espaços acadêmicos e escolares”, às 15h, na sede do Sindicato. 16 a 18 – A Reunião conjunta do GTPAUA e do GTC&T, do Andes-SN, em Brasília

é um grave ataque aos trabalha‑ dores e com o acréscimo de au‑ toria do deputado Daniel Vile‑ la se transforma numa ameaça ainda maior.Também no Sena‑ do começa a avançar mais um projeto de “regulamentação”/li‑ mitação do direito de greve do funcionalismo público. Enquanto isso, no bojo das reformas ministeriais para ga‑ rantir a maioria parlamentar, cedendo mais ministérios à tur‑ ma comandada pelo presidente da Câmara, às voltas com suas contas na Suíça, sai Janine, volta Mercadante no MEC. O mi‑ nistro que (re)entra mostrou logo ao que veio, tratando os cortes orçamentários como ine‑ vitáveis e afirmando que é pre‑ ciso “fazer mais com menos”. Já o que sai, depois de quatro meses de greve nas Federais se omitindo e recusando-se a re‑ ceber os docentes, agora tem muito a dizer: cerra fileiras com os defensores do “escola sem partido” (abordada nesta edi‑ ção) para criticar a proposta de Bases Curriculares Nacionais de História como “ideológica” e mente acusando o Andes-SN de propor a redução de verbas do ensino básico para repassar ao ensino superior. Janine mos‑ tra-se, além de omisso, ressen‑ tido com a greve docente que desnudou seu papel meramente decorativo à frente do MEC. A greve docente acabou na UFF no dia 5 e no plano na‑ cional está sendo encerrada, nas instituições em que ainda con‑ tinuava, nesta semana de 13 a 16 de outubro. As razões que nos levaram à greve continu‑ am presentes, exigindo a con‑ tinuidade das mobilizações e, dada a dimensão dos ataques, dos quais listamos uns poucos

exemplos, faz-se cada vez mais necessária uma articulação mais ampla, do conjunto das organi‑ zações sindicais e sociais que vi‑ sam representar os interesses da classe trabalhadora, de forma a construir lutas em um patamar mais elevado. Para ficarmos na situação da UFF, no retorno às aulas, os es‑ tudantes – com o atraso de pelo menos uma semana – encon‑ traram os bandejões dos cam‑ pi de Niterói sendo reabertos. Mas, nenhuma perspectiva de restaurantes universitários nos campi fora da sede. Seguem os atrasos frequentes nos salários dos trabalhadores terceirizados e a troca de empresas contra‑ tadas para alguns serviços au‑ menta a insegurança em rela‑ ção à manutenção desses tra‑ balhadores e das funções vitais que ocupam. Os usuários do Hospital An‑ tonio Pedro, no mesmo dia em que se encerrava a greve dos servidores técnico-administra‑ tivos, foram surpreendidos pelo anúncio da suspensão tempo‑ rária de internações, em razão da ausência de medicamen‑ tos e insumos básicos para o bom funcionamento da uni‑ dade hospitalar. Enquanto isso, aumentam os rumores sobre o processo já adiantado, mas nada transparente, de adesão do Huap à Ebserh (a famige‑ rada empresa de gestão privada dos hospitais federais públicos). E quem achou que os qua‑ tro meses de greve tinham sido um tempo razoável para que avançasse a construção dos novos prédios, essenciais para a garantia de condições mí‑ nimas de trabalho universi‑ tário de qualidade, só encon‑ trou decepção. Prédios que já

foram inaugurados, mas não possuem condições de fun‑ cionamento (como o do Bio‑ médico) continuam fechados. Na Biologia, que funciona em um prédio que chegou a ser interditado, o prédio novo, anunciado para ser entregue no início deste ano, continua no mesmo estágio de obras que há quase um ano. Idem para o prédio da Química. E o que falar dos esqueletos pra‑ ticamente abandonados em Campos, ou dos dois prédios que viraram um, e ainda assim precário, em Rio das Ostras? E de todas as demais unidades que funcionam em condições precárias de estrutura? Pro‑ blemas com os cortes de ver‑ bas deste ano de ajuste fiscal? Mas, a maioria dessas obras fez parte do projeto da UFF no Reuni, cujo prazo de exe‑ cução se encerrava em 2012 e desde lá vêm se arrastando. Com as declarações do rei‑ tor em nossa edição passada, de que só estão previstas a entre‑ ga de dois prédios (Biomédico e Computação) nos próximos meses e as conclusões do TCU – também divulgadas na edição passada – de que houve má uti‑ lização das verbas públicas em algumas dessas obras, pode-se prever que sua conclusão ain‑ da deve se arrastar por muito mais tempo. O Jornal da Aduff percorreu algumas dessas obras nos campi de Niterói de forma a dar uma ideia da dimensão do atraso e dos problemas. Ou seja, voltamos às aulas, mas as condições de trabalho e estudo continuam a se de‑ gradar. A resposta necessária a esse quadro precisa continuar a ser construída, por toda a co‑ munidade universitária.

Luiz Fernando Nabuco

ivemos uma situação re‑ V almente grave. Já não se trata apenas de constatar que

AGENDA

20 – Debate em dois horários na Faculdade de Educação: “Projetos Atuais e Futuros: Participação e Eleições Internas”, às 9 e 19h, no auditório Florestan Fernandes. 23 – Ato no Rio e nos demais estados contra o ‘ajuste fiscal’ do governo Dilma e em defesa dos direitos dos trabalhadores. Saída da Candelária, ao fim da tarde. 23 a 25 – Reunião do Grupo de Trabalho de Política Educacional - GTPE do Andes‑SN, em Brasília 29 – Festa do Dia dos Professores. O evento, para sindicalizados e um acompanhante, acontece das 20h a 1h, no Clube Gragoatá (Praia Gragoatá, nº 69). Interessados podem confirmar presença até o dia 27 deste mês, no email aduff@aduff.org.br. - Debate em dois horários na Faculdade de Educação: “Formação de Professores na UFF – Diretrizes Curriculares e Reforma do Ensino”, às 9 e 19h, no auditório Florestan Fernandes. 31/10 a 1/11 –­­ Reunião do Grupo de Trabalho de Política e Formação Sindical - GTPFS do Andes-SN, na Secretaria Regional do Andes-SN, no Rio de Janeiro.

Presidente: Renata Vereza – História/Niterói • 1º Vice-Presidente: Gustavo França Gomes­– Serviço Social/Niterói • 2º Vice-Presidente: Juarez Torres Duayer – Arquitetura • Secretário-Geral: Elizabeth Carla Vasconcelos Barbosa – Puro • 1º Secretário: Isabella Vitoria Castilho Pimentel Pedroso – Coluni • 1º Tesoureiro: Wanderson Fabio de Melo – Puro • 2º Tesoureiro: Edson Teixeira da Silva Junior – Puro • Diretoria de Comunicação (Tit): Paulo Cruz Terra – História/Campos • Diretoria de Comunicação (Supl): Marcelo Badaró Mattos – História/Niterói • Diretoria Política Sindical (Tit): Sonia Lucio Rodrigues de Lima – Serviço Social/Niterói • Diretoria Política Sindical (Supl): Wladimir Tadeu Baptista Soares – Faculdade de Medicina • Diretoria Cultural (Tit): Ceila Maria Ferreira Batista – Instituto de Letras • Diretoria Cultural (Supl): Leonardo Soares dos Santos – História/Campos • Diretoria Acadêmica (Tit.): Ronaldo Rosas Reis – Faculdade de Educação • Diretoria Acadêmica (Supl): Ana Livia Adriano – Serviço Social/Niterói

Biênio 2014/2016 Gestão ADUFF em Movimento: de Luta e pela Base

Editor Hélcio L. Filho Jornalistas Aline Pereira Lara Abib

Projeto Gráfico Luiz Fernando Nabuco Diagramação Gilson Castro

Imprensa imprensa.aduff@gmail.com Secretaria aduff@aduff.org.br

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Rua Professor Lara Vilela, 110 - São Domingos - Niterói - RJ - CEP 24.210-590 Telefone: (21) 3617.8200

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Luiz Fernando Nabuco

Jornal da ADUFF

Iacs, no Gragoatá: obra paralisada. Relatório: seria entregue no 1º semestre de 2015

Luiz Fernando Nabuco

Obras da UFF em Niterói: paradas e sem previsão Reportagem do Jornal da Aduff percorreu as oito obras da UFF em Niterói e constatou que todas estão paralisadas ou em ritmo simbólico; Farmácia é a mais atrasada

Computação, Praia Vermelha: prédio dos laboratórios, praticamente paralisada. Previsão de entrega: 1º semestre de 2015

Zulmair Rocha

Zulmair Rocha

Farmácia, Praia Vermelha: obra no início e paralisada. Previsão relatório: 2º semestre de 2015

Geociências, na Praia Vermelha: obra Biomédico, Valonguinho: perto de ser praticamente paralisada; concluída, mas praticamente paralisada. Previsão de entrega: 1º semestre de 2015 Previsão: relatório diz que já está pronta

Biologia, no Gragoatá: Menos de dez operários Química, na Praia Vermelha: obra paralisada; trabalhando. Previsão de entrega: 1º semestre de 2015 Relatório: seria entregue no 1º semestre de 2015

Luiz Fernando Nabuco

Luiz Fernando Nabuco

rá ser o prédio do Instituto de Biologia parece um canteiro de obras sem obra. Com um pouco de atenção, é possível observar que há operários ali, poucos. A reportagem apurou que não chegam a dez – menos de 10% dos mais de 110 que já trabalharam na construção. A obra é uma das oito inaca‑ badas nos campi da UFF em Niterói, quase todas iniciadas a partir do Reuni e com previ‑ sões iniciais de conclusão bem anteriores ao ‘ajuste fiscal’. O prédio de cinco andares da Bio‑ logia tem dois pavimentos, os superiores, quase concluídos. Os outros estão em fase de aca‑ bamentos e mobílias. Esse ano a obra estagnou. Relatório da Gestão de 2006 a 2014 do reitor Roberto Salles, de quem o atual reitor, Sidney Mello, foi vice, previa concluir a obra no primeiro semestre de 2015. Não foi, como não fo‑ ram nenhuma das outras cinco com iguais previsões de térmi‑

Medicina, no Huap: obra paralisada Previsão: 1º semestre de 2015

Luiz Fernando Nabuco

arde de uma quinta-feira T de outubro. Cercado por tapumes, o que um dia deve‑

no: Iacs, no Gragoatá; Geoci‑ ências, Computação e Quími‑ ca, na Praia Vermelha; e Fa‑ culdade de Medicina, anexa ao Hospital Universitário. A Fa‑ culdade de Enfermagem, com quatro andares previstos para o segundo semestre de 2015, só teve dois pavimentos erguidos, ainda sem paredes. No Institu‑ to Biomédico, no Valonguinho, pendências financeiras impedi‑ riam a finalização do prédio. Em entrevista ao Jornal da Aduff, em setembro, o reitor sustentou que as obras não es‑ tão paradas – mas em ritmo lento. Prometeu reinaugurar o Instituto Biomédico “de pre‑ ferência ainda esse ano” e o de Computação no início de 2016. Nada disse sobre as de‑ mais obras. Algumas delas, caso do Iacs e da Biologia, tiveram irregularidades apontadas pelo Tribunal de Contas da União (TCU), que também obser‑ va prejuízos com os atrasos. A Reitoria promete investigar, mas não explica como e quan‑ do pretende concluir as obras e o que fará para impedir que o prejuízo aumente.

Luiz Fernando Nabuco

Hélcio Lourenço Filho e Aline Pereira Da Redação da Aduff


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Jornal da ADUFF

Greve termina, mas luta em defesa da universidade pública não para Fim da greve foi indicado pelo Comando Local de Greve, transformado em Comando de Mobilização; assembleias gerais vão traçar rumos do movimento Lara Abib Da Redação da Aduff

pós quatro meses de uma A intensa greve de ocupa‑ ção na Universidade Federal

Fluminense (UFF), os docen‑ tes decidiram encerrar o movi‑ mento grevista na instituição. A decisão foi fruto de assem‑ bleia geral da categoria, realiza‑ da no dia 29 de setembro, que contou com a participação de 576 professores, a maior da his‑ tória do sindicato. A proposta foi encaminhada pelo Coman‑ do Local de Greve, que defen‑ deu encerrar a paralisação na UFF no dia 5 de outubro, com reposição integral das aulas. Foram 464 votos pelo encer‑ ramento da paralisação, 94 pela permanência, e 9 abstenções. Carta do CLG entregue aos professores observava que o término do movimento gre‑ vista não significa suspender a mobilização. Pelo contrário, avalia que a greve cumpriu um importante papel de combater o ‘ajuste fiscal’, que retira re‑ cursos das universidades, e de denunciar os graves problemas nas condições de trabalho nos campi de Niterói e de fora da sede. Além de pressionar o Mi‑ nistério do Planejamento nas negociações salariais, que, se não obteve avanços significa‑ tivos, ao menos fez o governo recuar na sua política de reajus‑ te zero. Também critica a pos‑ tura do governo de se recusar a negociar efetivamente a pauta de reivindicações específicas e o reitor da UFF por não rece‑ ber os comandos de greve e não avançar na pauta interna. “A greve tem nos possibilita‑ do um momento único de reu‑ nião de centenas de professores em assembleias gerais, reali‑ zação de muitas atividades de greve em todos os espaços da universidade e articulação de professores das diversas unida‑ des e diversos campi – conhe‑ cendo e combatendo melhor os graves problemas pelos quais já passavam diversos desses espa‑

ços, em função da forma preca‑ rizada como se deu a expansão e que foram agravados pelos cortes recentes de verbas orça‑ mentárias”, diz trecho da carta. Os docentes votaram tam‑ bém pela continuidade de ações unificadas de luta com o conjunto dos servidores pú‑ blicos federais, especialmente contra a Proposta de Emen‑ da Constitucional 139/2015 (fim do abono permanência) e a suspensão dos concursos públicos. Também delibera‑ ram por intensificar a pres‑ são junto a deputados fede‑ rais e senadores, nos estados e no Congresso Nacional, pela rejeição da PEC 395/2014 (autoriza cobranças de men‑ salidades na pós-graduação).

Possível acordo Na semana seguinte ao en‑ cerramento da greve, os pro‑ fessores da UFF se reuni‑ ram novamente em assem‑ bleia para avaliar os rumos da mobilização. Ponderaram que embora a proposta do gover‑ no não seja uma vitória (com índice de reajuste muito in‑ ferior aos 27,3% em parcela única reivindicado pelos tra‑ balhadores), ela foi uma con‑ quista da greve dos docentes e das diversas categorias do funcionalismo público. Frisa‑ ram que negociar acordo com o governo não significa aban‑ donar a pauta de luta da gre‑ ve, mas minimizar as perdas inflacionárias da categoria. Os professores da UFF de‑ liberaram encaminhar ao Co‑ mando Nacional de Greve (CNG) as seguintes proposi‑ ções: autorizar o CNG a ne‑ gociar acordo com governo, tomando como patamar mí‑ nimo os 10,8% em duas ve‑ zes (sendo 5,5% em agosto de 2016 e 5% em janeiro de 2017) mais auxílio-alimentação de R$ 373 para R$ 458, auxílio à assistência saúde de R$ 117,78 para R$ 145, auxílio-creche de R$ 73,07 para R$ 321; buscar negociar que esse acordo con‑ temple o máximo de elementos

da contraproposta apresentada pelo Sindicato Nacional (An‑ des-SN); manter a luta nacio‑ nal nas Instituições Federais de Ensino Superior pelas condi‑ ções de trabalho e convocar o setor das federais para avaliar a greve e seus desdobramentos para o primeiro final de semana após o fim da greve nacional. Na última reunião do CNG, definiu-se o período do dia 13 ao dia 16 de ou‑ tubro como a data de saída unificada da greve.

Com saída de Janine, ‘Pátria Educadora’ tem três ministros em nove meses Aline Pereira Da Redação da Aduff

rês diferentes nomes já es‑ T tiveram à frente do Minis‑ tério da Educação (MEC) nos

nove primeiros meses da segun‑ da gestão de Dilma Rousseff, caracterizada pelo ‘combo’ crise política e econômica, que tam‑ bém afetou em cheio o setor, levando ao contingenciamen‑ to de verbas nas universidades. Quando se considera as pas‑ sagens pela pasta desde o ínicio do primeiro mandato da pre‑ sidente, em janeiro de 2011, o número de ministros sobe para seis: Fernando Haddad, Aloi‑ zio Mercadante, José Henrique Paim,Cid Gomes,Renato Jani‑ ne Ribeiro e agora, novamente, Mercadante. Esse último dei‑ xou a Casa Civil para retomar à função exercida entre 2012 e 2014. Com a reforma ministe‑ rial, no início de outubro, o pro‑ fessor titular da Universidade de São Paulo, Renato Janine, foi dispensado da função que ocupou por seis meses. O troca-troca político talvez revele muito da política edu‑ cacional no país. O professor Márcio Malta, da UFF em Campos dos Goytacazes, que integrava o Comando Local de Greve, afirma que o slogan ‘Pá‑ tria Educadora’é “somente uma

peça publicitária” para uma re‑ tórica vazia. “O MEC serviu como abrigo para um político tradicional como Cid Gomes e agora como segunda opção para Mercadante que foi alijado da Casa Civil. Nesse ínterim, o desenxabido intelectual Renato Janine,que dedicou maior parte de seu tempo ao avião e ao fa‑ cebook”, disse o docente. Ele também critica o corte de mais de R$ 11 bilhões no setor, que aprofundou o cená‑ rio de precarização nas institui‑ ções públicas de ensino superior e contribuiu para a deflagração da greve docente em maio deste ano. Segundo Malta, o gover‑ no pode promover novos cortes no setor porque tem priorizado pagar os “juros da dívida a ban‑

queiros” e beneficiado o setor privado em detrimento dos in‑ vestimentos no ensino público. Sem tecer expectiativas po‑ sitivas quanto a Mercadante, o docente diz que o ex-ministro não deixará saudades. “O pro‑ fessor Renato Janine conseguiu ludibriar parte dos docentes com sua áurea de especialista em temas éticos, mas a sua pas‑ sagem no passado pela Capes já apontava para uma gestão au‑ toritária e tirânica, tal como o tema de um dos seus autores preferidos, Thomas Hobbes. Ele entra para a história como o primeiro ministro a se negar reunir com o Andes. O epíteto de fantasminha cai como uma luva. Não irá deixar saudade”, analisa.


Jornal da ADUFF

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Outubro de 2015 • www.aduff.org.br Zulmair Rocha

ENTREVISTA - Professor Fernando Penna

‘Projeto destrói as bases da educação escolar’

Assembleia na quadra da Educação Física, no Gragoatá, que definiu pelo fim da greve

Comando de Greve defendeu debate sobre calendário e reposição das aulas

O

Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (CEPEx) da Universidade Federal Fluminense (UFF) se reuniu, no dia 2 de outu‑ bro, para definir o calendário de reposição e retomada das aulas após a greve docente na instituição. A convocatória foi realizada sem conversa prévia com os comandos locais de greve, embora a Reitoria te‑ nha se reunido com militan‑ tes de partidos políticos que a apóiam para debater a ques‑ tão, desrespeitando as repre‑ sentações legítimas dos três segmentos da comunidade universitária. O Comando Local de Gre‑ ve dos docentes (CLG) este‑ ve presente na reunião presi‑ dida pelo vice-reitor Antonio Claudio Lucas da Nóbrega – a ausência do reitor da UFF, Sidney Mello não foi justifi‑ cada - e apresentou documen‑ to em que defendia a consti‑ tuição de uma comissão para elaborar o novo calendário acadêmico, com representa‑ ção da administração superior e dos Comandos de Greve. Os docentes indicavam também o retorno das aulas no dia 5 e uma proposta de calendário que garantisse aos estudan‑ tes o direito à reposição in‑

tegral das aulas interrompi‑ das pela greve (na graduação e na pós-graduação), levando em conta as especificidades do Coluni e das diferentes situa‑ ções dos campi fora da sede. O mesmo documento foi apre‑ sentado horas antes à admi‑ nistração da UFF em reunião com o Comitê Gestor da UFF com o CLG. No CEPEX, os conselhei‑ ros decidiram pela retomada das aulas no dia 5 de outu‑ bro, período que pode ser es‑ tendido até o dia 13 do mes‑ mo mês, em consideração às especificidades dos cursos, principalmente os dos cam‑ pi fora da sede. Uma comis‑ são paritária do CEPEx foi formada para acompanhar a implementação do calendá‑ rio e a reposição das aulas. Ela será composta por qua‑ tro conselheiros: dois estu‑ dantes e dois professores. O conselho orientou que co‑ missões como essa também sejam criadas nos cursos e ve‑ tou os docentes de aplicarem provas e avaliações durante a primeira semana de aula. As aulas do segundo semes‑ tre de 2015 começam no dia 25 de novembro, com térmi‑ no previsto para 2 de abril de 2016. (LA)

Integrante do movimento “Professores Contra o Projeto Escola Sem Partido”, Fernando Penna acredita que pouco se fez até agora para barrar uma ameaça à escola que forme consciências capazes de refletir, criticar e interpretar a realidade. Para o professor da Faculdade de Educação da UFF, o PL 867/2015, que tramita na Câmara dos Deputados, e o “Movimento Escola Sem Partido” criminalizam a atividade docente. Caso aprovado, alerta, o projeto afetaria professores de todas as áreas. A seguir, trechos da entrevista concedida por email à jornalista Aline Pereira. A íntegra está na página da Aduff-SSind na internet.

Jornal da Aduff - Qual é o teor do PL 867/2015? Fernando Penna - O PL 867/2015 visa incluir, na Lei de Diretrizes e Bases da Edu‑ cação Nacional, o “Programa Escola Sem Partido”. Existe uma organização homônima, criada em 2004, que vem de‑ fendo que professores não são educadores e que não têm li‑ berdade de expressão na práti‑ ca da sua atividade docente. O projeto se propõe a impedir a “doutrinação ideológica”, sem definir precisamente o que se‑ ria isso, mas o que conseguiria, se aprovado, é destruir as bases da educação escolar. O proje‑ to proíbe “atividades que pos‑ sam estar em conflito com as convicções religiosas ou mo‑ rais dos pais ou responsáveis pelos estudantes”, mas como seria possível evitar tudo que possa ir contra as convicções de qualquer aluno? A ideia é formar uma geração distanciada do pensamento crítico?

Luiz Fernando Nabuco

Professor da UFF explica por que considera o projeto ‘Escola Sem Partido’ uma ameaça à autonomia docente

O professor Fernando Penna, durante debate na greve O maior prejuízo seria o fim de um projeto de escola que concebe essa instituição como um espaço de educa‑ ção para a cidadania e forma‑ ção de profissionais respon‑ sáveis. A escola passaria a ser um local de instrução, onde seriam transmitidos conteú‑ dos sem relação alguma com a vida dos alunos. Reproduzo a seguir o primeiro critério pro‑ posto pelo site da organização Escola Sem Partido para iden‑ tificar o ‘professor doutrina‑ dor’: “você pode estar sendo vítima de doutrinação ideo‑ lógica quando seu professor se desvia frequentemente da matéria objeto da disciplina para assuntos relacionados ao noticiário político ou interna‑ cional”. Essa dissociação entre a matéria objeto da disciplina e o mundo onde vivem os alunos destruiria qualquer possibili‑ dade de uma educação voltada para uma interpretação da re‑ alidade na qual vivemos. É um projeto de escola no qual essa instituição deixa de ser um es‑ paço de educação e passa a ser um espaço de mera instrução. Com essa proposta, professores das áreas de humanas já seriam estigmatizados e postos ‘sob vigilância’? O projeto não afeta apenas os professores das áreas de humanas, mas todas as dis‑ ciplinas. Imagine o trabalho de professores de ciências que não pudessem realizar “ativi‑ dades que possam estar em conflito com as convicções religiosas ou morais dos pais ou responsáveis pelos estudan‑ tes”? Como ficaria o ensino de teoria da evolução para alu‑ nos que são filhos de pais que acreditam no criacionismo? E o professor de artes que fos‑ se discutir a cultura africana com alunos que aprenderam

com seus pais que aquilo era ‘coisa do demônio’? A esco‑ la ficaria impedida de com‑ bater o racismo e o machis‑ mo. Discutir gênero em sala de aula ficaria proibido, pois isso seria “ideologia de gêne‑ ro”. Os professores de todas as disciplinas seriam afetados e postos ‘sob vigilância’ por par‑ te de seus próprios alunos. O projeto prevê um canal direto entre alunos e as secretarias de educação [para] denúncias anônimas. O que tem sido feito para barrar o PL? Eu acredito que ainda mui‑ to pouco. Nossos esforços têm sido no sentido de conscienti‑ zar os professores do conteúdo de projetos de lei dessa natu‑ reza, mas muito mais preci‑ sa ser feito. Sindicatos e as‑ sociações científicas precisam se posicionar e adotar medidas no combate a essas propostas. Na página do “Escola Sem Partido”, no Facebook, algumas pessoas que apoiam o PL afirmam que os docentes são o câncer da sociedade... Ao representar o professor sempre como um criminoso que deve ser denunciado por vampirizar crianças inocen‑ tes, esta organização estimula comentários de ódio direcio‑ nados contra esses profissio‑ nais. A página do Facebook “Professores Contra o Escola Sem Partido” foi alvo de uma campanha de ódio, na qual um visitante comentou que pro‑ fessores que não se limitassem a ensinar português ou mate‑ mática deveriam ser espanca‑ dos ou processados. Acredito que esse discurso de ódio não constitui um caso isolado, mas é algo estimulado pelas ima‑ gens dos professores veicula‑ das pela organização Escola Sem Partido.


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Jornal da ADUFF

NOTAS DA ADUFF

Cine-Debate: Educação O Cine-Debate apresentou na quarta (7) a segunda parte do documentário “A Educação Proibida”, produção de 2012 dirigida por Germán Doin. Como sempre, a exibição na Praça da Cantareira, em Nite‑ rói, foi seguida de debate. Fi‑ nanciado coletivamente, o do‑ cumentário foi realizado por jovens de oito países para ser lançado na web e traz entrevis‑ tas com mais de 90 educadores. Iniciado na greve, o Cine-De‑ bate será mantido.

Bandejão A administração da UFF informou que os restaurantes universitários do Gragoatá, do Huap e da Reitoria reabriram dia 13 de outubro, assim como o refeitório da Praia Verme‑ lha. O retorno deste último era uma demanda da pauta dos comandos de greve de es‑ tudantes, técnicos e professo‑ res. A reabertura do bandejão, após a greve, se dá em meio à troca da empresa que terceiri‑ za boa parte da mão de obra do setor, que estaria sendo re‑ contratada – o receio de novos problemas, diante do corte de verbas, persiste.

Direito de greve A Comissão de Direitos Humanos do Senado aprovou projeto que trata do direito de greve dos servidores. O PLS 287/2013 vai agora para as co‑ missões de Constituição e Jus‑ tiça e de Assuntos Sociais. O relator é Paulo Paim (PT-RS). O texto é menos restritivo que o projeto do senador Aloysio Nunes (PSDB-SP), mas sin‑ dicatos veem a regulamenta‑ ção como tentativa de limitar o direito de greve.

Hospital Universitário: por que parou?

Sem ter como explicar as contas e os depósitos de mais de cinco milhões de dólares em banco na Suíça, o castelo do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), parece começar a ruir. Como agravante, o parla‑ mentar mentiu em depoimen‑ to anterior ao negar que tivesse contas no exterior. Com isso, por tabela, a campanha conser‑ vadora pela redução da maiori‑ dade penal perde uma de suas principais lideranças e fica um tanto desmoralizada. Afinal, não fica bem alguém que está sendo acusado de assaltar em milhões os cofres públicos po‑ sar de moralista e defensor da ordem social.

Luiz Fernando Nabuco

Atendendo à reivindicação encaminhada pela direção da Aduff-SSind à Reitoria da UFF, o Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (Cepex) aprovou regra que permite o reposicionamento na carreira de docentes que ingressaram por meio de concurso público e já eram professores efetivos em outras universidades. Agora, a classificação anterior será leva‑ da em consideração no enqua‑ dramento na carreira. A reivin‑ dicação foi apresentada na reu‑ nião da Mesa Permanente de Negociação, no início do ano. Posteriormente, por decisão de assembleia, a Aduff-SSind sus‑ pendeu a participação na mesa enquanto a Reitoria não retirar processos que move na Justi‑ ça contra o Sintuff e dirigente sindical.

Contas de Cunha

Quem quer ministérios? o dia seguinte ao fim da greve dos téc‑ nico-administrativo, o diretor-geral do N Hospital Universitário Antônio Pedro, pro‑

fessor Tarcísio Rivello, comunicou a suspen‑ são das internações eletivas na unidade de 8 a 19 de outubro. Justificativa: desabasteci‑ mento de materiais médico-hospitalares, su‑ ficientes apenas para atender a quem já está internado. À reportagem do Jornal da Aduff, o assessor de gabinete Carlos Augusto Ma‑ cedo minimizou: “A internação dos pacientes em estado grave está garantida”, disse. Ale‑ gou que a crise se deve ao atraso no repasse das verbas federais. Para Ligia Martins, da

Com a reforma ministerial, o governo Dilma esperava pôr fim ao impasse em torno do veto ao projeto que reajusta os salários dos servidores do Ju‑ diciário Federal, cujo impacto quando integralizado daqui a quatro anos e meio é de 36% sobre a folha salarial. Mas não conseguiu quórum na sessão do Congresso Nacional convocada para a semana seguinte à distri‑ buição de ministérios para base parlamentar. Revoltados com o uso do reajuste como moeda de troca por parlamentares, servi‑ dores levaram para o Congres‑ so miniaturas de ministérios e perguntaram a deputados e senadores quem queria cargos.

coordenação do sindicato dos técnicos (Sin‑ tuff ), só os cortes no orçamento federal não explicam o problema, já que o Huap tem contrato com a prefeitura de Niterói.“É pre‑ ciso que se divulgue, de forma transparente, as contas do Antônio Pedro. Quanto entra e quanto sai dessa verba? Parece que estão forjando uma crise para justificar a adesão à Ebserh”, questionou. O diretor da Aduff Gustavo Gomes também critica uma polí‑ tica que parece proposital de sucateamento. “Quando perguntamos, dizem que a adesão da UFF à Ebserh não está em pauta, mas, a toda hora, ela ressurge”, observa.

Após fracasso, Funpresp e governo apelam A Funpresp, fundação que cuida do fundo complementar de direito privado direcionado ao funcionalismo, dá sinais de estar mal das pernas. Criado há apenas dois anos, por en‑ quanto não paga benefícios a ninguém, só ar‑ recada. Mas a baixa adesão, na avaliação de es‑ tudiosos do tema, pode torná-lo insustentável. Apenas 15% dos 60 mil empossados no ser‑ viço público no período teriam aderido. Entre os antigos servidores, números mais risíveis. A inclusão de contrabando na MP que trata do

fator previdenciário do ingresso automático de novos servidores ao plano seria a confissão do fracasso. Sindicatos consideraram a medida, que agora vai à sanção presidencial, arbitra‑ riedade que a presidente tem o dever de vetar. Há mais sinais do fiasco. Administrações de órgãos públicos estão mandando mensagens a servidores convidando-os a aderir – iniciativa que parece incapaz de reverter a ideia de uma aplicação de alto risco em nada similar à segu‑ rança da previdência social.

Estatuinte na UFF

Luta continua “Por que paramos por 130 dias”.Professores e es‑ tudantes da UFF distribuíram panfleto com res‑ postas a essa pergunta no ato em frente às Barcas, no dia 5 de outubro, que marcou o encerramento da greve e, ao mesmo tempo, refirmou a necessi‑ dade de seguir lutando em defesa da educação pú‑ blica.“É uma vergonha uma das maiores universi‑ dades de uma das maiores economias do mundo não ter recursos para funcionar”, disse a professo‑ ra Lorene Figueiredo.

Luiz Fernando Nabuco

Carreira docente

Debates na Educação Professores e estudantes da Faculdade de Edu‑ cação promoveram debates sobre a greve e a uni‑ versidade na manhã e noite de 7 de outubro, no auditório Florestan Fernandes, no Gragoatá. Pela manhã, participaram da mesa o professor Julián Gindin, a professora Kênia Miranda e a estudante Clara. À noite, o professor Marcos

Barreto, a professora Zoia Prestes e a estudan‑ te Stephany Ribeiro. Outros dois debates estão marcados: dia 20 de outubro, “Projetos Atuais e Futuros: Participação e Eleições Internas”; e dia 29,“Formação de Professores na UFF – Diretri‑ zes Curriculares e Reforma do Ensino”, sempre em dois horários, às 9 e às 19 horas.

O reitor da UFF,Sidney Mello, publicou a portaria 54644,de 28 de setembro de 2015, que cons‑ titui grupo de trabalho nomeado por ele para estudar o material apresentado pela comissão de sistematização da estatuinte da UFF e apresentar nova propos‑ ta ao Conselho Universitário em 90 dias. O estatuto da UFF é da época da ditadura militar e a sua reformulação é reivindicação an‑ tiga da comunidade acadêmica. A portaria, no entanto, foi ques‑ tionada no último CUV. Con‑ selheiros mostraram preocupa‑ ção por esse debate não ter che‑ gado primeiro ao órgão máximo de função normativa, delibera‑ tiva e de planejamento da uni‑ versidade. Afinal, já existe uma minuta elaborada por um gru‑ po de trabalho eleito no próprio CUV, em 2012, que sistemati‑ zou as propostas da Estatuinte de 1998/1999 para a reformula‑ ção do estatuto. A preocupação é que esse trabalho, de elabora‑ ção coletiva e fruto de amplo de‑ bate, seja jogado para escanteio por conta da proposta da reito‑ ria. Estamos de olho!


Jornal da ADUFF

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Outubro de 2015 • www.aduff.org.br

Delegada abre inquérito para investigar atropelamento

Niara Aureliano Da Redação da Aduff

dono do veículo que fu‑ O rou bloqueio e atropelou dois manifestantes no pro‑

testo em frente à Reitoria da UFF, no dia 3 de setembro, foi identificado e será chamado para depor na 77ª Delegacia de Polícia ainda em outubro. É o que afirma a delegada ad‑ junta Helen Sardenberg, res‑ ponsável pelo caso. Será a terceira vez que o ho‑ mem é convocado para pres‑ tar depoimento sobre o caso; nas outras duas, não compa‑ receu. Segundo a delegada, se isso persistir, o caso deve‑ rá ser encaminhado à justiça em novembro. A trabalhadora sem-teto Daiane de Oliveira Rimes e o estudante Felipe da Cunha Freitas, e mais uma terceira pessoa que não prestou quei‑ xa, foram atropelados no ato­

Luiz Fernando Nabuco

Delegada que investiga atropelamento no protesto da greve em frente à Reitoria da UFF diz que caso será encaminhado à Justiça se o proprietário não comparecer para depor vigília da greve na reitoria da UFF, em Icaraí, por um Mer‑ cedes conduzido por um ho‑ mem que furou bloqueio da via após passagem de uma ambulância. Segundo Helen, o inquéri‑ to foi aberto no dia 6 de ou‑ tubro e a investigação estaria "correndo bem", já que víti‑ mas e testemunhas teriam sido ouvidas e o suspeito foi intimado duas vezes. A dele‑ gada disse que polícia espera pelas imagens de câmeras de segurança do local, mas ain‑ da não obteve resposta à so‑ licitação. Porém, de acordo com Helen, mesmo sem as imagens, ou mesmo que sus‑ peito novamente não com‑ pareça, as vítimas e as tes‑ temunhas serão chamadas para que façam o reconhe‑ cimento dele – mesmo que por fotografias. "Não podemos obrigar o envolvido a vir a delegacia prestar esclarecimento, mas

Ato em frente à reitoria, em Icaraí, dia 3 de setembro: motorista avançou contra manifestantes eu posso não mais qualificá‑ -lo como 'envolvido'; e pro‑ vavelmente com a identifica‑ ção das vítimas, eu já man‑ do para a Justiça, para que lá sim as medidas sejam to‑ madas", afirmou a delegada, salientando que após o caso

Luiz Fernando Nabuco

CUV repudia atropelamento de manifestantes e questiona nota da Reitoria sobre ato da greve

Reunião do Conselho Universitário da UFF, no dia 30 de setembro Lara Abib Da Redação da Aduff

Conselho Universitá‑ O rio da UFF repudiou o atropelamento de manifes‑

tante durante o ato realiza‑ do na reitoria no dia 3. Em carta apresentada pelo conse‑ lheiro estudantil Felipe Rimes e aprovada pela maioria dos presentes, a reunião do CUV do dia 30 de setembro ainda

problematizou o tom da nota elaborada pela Reitoria um dia após o acidente, publicada no site da instituição com o título “UFF rompe negociações com o movimento grevista após in‑ vasão da reitoria”. O documento assinado pelo reitor Sidney Mello não faz menção ao fato de que o moto‑ rista fugiu sem prestar socorro aos feridos. A nota também se refere aos integrantes do Mo‑ vimento dos Trabalhadores

Sem Teto (MTST) que par‑ ticipavam do ato como “pes‑ soas estranhas à universidade”. Para a maioria dos conse‑ lheiros universitários, entre‑ tanto, estranho é que “na refe‑ rida nota a Reitoria culpabilize os manifestantes e não o mo‑ torista, sem prestar nenhum tipo de solidariedade aos fe‑ ridos”, critica a carta aprovada no CUV. Além de repudiar “a ação criminosa do motorista que efetuou os atropelamen‑ tos”, o Conselho Universitá‑ rio da UFF também prestou “completa solidariedade aos que se acidentaram durante o ato” e saudou “o exercício de‑ mocrático de livre manifesta‑ ção”, além de “reconhecer o MTST como um movimento social legítimo”. Por fim, o CUV deliberou que a carta aprovada na ses‑ são do dia 30 de setembro e as resoluções relativas ao caso fossem publicadas no site da universidade: www.uff.br. Até a conclusão deste texto, no dia 9 de outubro, a carta ainda não havia sido publicada no site da UFF.

ser encaminhado à Justiça, o proprietário do veículo será obrigado a comparecer. De acordo com o Código de Trânsito Brasileiro, ele po‑ derá ser enquadrado no ar‑ tigo 303, acusado de "prati‑ car lesão corporal culposa na

direção de veículo automo‑ tor", com pena de seis meses a 2 anos de prisão, além da suspensão da permissão de dirigir. Segundo a delegada, como fugiu sem prestar so‑ corro, haverá aumento de 1/3 até metade da pena.

“Sou do curso mais precarizado, vou a todas manifestações” diz estudante Hélcio Lourenço Filho Da Redação da Aduff

manifestação da gre‑ A ve em frente à reitoria transcorria sem incidentes.

Para chamar a atenção para a situação da UFF diante dos cortes orçamentários, as pis‑ tas da orla de Icaraí foram fechadas por alguns minutos. Por volta das 17h20 daquela quinta-feira, 3 de setembro, um motorista dirigindo um Mercedes furou o bloqueio e atropelou três pessoas sem prestar socorro – duas mulhe‑ res do movimento por mora‑ dia (MTST), que apoiavam o ato em defesa da educa‑ ção púbica, e um estudante da UFF. Todos foram leva‑ dos ao hospital, receberam socorros e foram liberados na mesma noite. O estudante Felipe Freitas, de 23 anos, uma das vítimas, presenciou os instantes que antecederam o atropelamen‑ to. Disse que ao perceber que o motorista ameaçava avan‑ çar, sinalizou para ele que não fizesse isso e avisou às mulhe‑

res do perigo. O motorista insistiu e avançou, acertando Felipe na perna direita e uma das mulheres, a mais jovem. A outra vítima, que não che‑ gou a ser atingida diretamen‑ te, conseguiu se esquivar do carro, mas passou mal com o susto e desmaiou. O estudante diz ter certe‑ za que o homem que condu‑ zia o veículo tinha noção da gravidade do que estava fa‑ zendo. “Ele sabia que se ele passasse iria atropelar uma pessoa”, disse. “Tinha duas mulheres, ele podia ter ma‑ tado alguém, ele sabia que ia pegar”, complementa. Quando foi atingido, Feli‑ pe pensou no pior. “Na hora que eu voei eu fechei os olhos, quando parei de rolar eu vi: estou vivo", relata. Chorava, não de dor, ressaltou, mas de raiva da atitude do motoris‑ ta. Indagado sobre porque estava no protesto, estranha a pergunta. "Sou do Serviço Social, o curso mais preca‑ rizado da universidade. Vou a todas as manifestações", responde.


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Outubro de 2015 • www.aduff.org.br

Jornal da ADUFF

MP ameaça leis trabalhistas Item incluído na medida provisória que permite reduzir salários no setor privado faz com que patrões possam negociar corte de direitos da CLT Luiz Fernando Nabuco

Hélcio Lourenço Filho Da Redação da Aduff

Medida Provisória 680, A que permite a redução de salários como forma de evitar

demissões, abriu caminho para, que a proposta, que torna nu‑ las as leis trabalhistas diante de negociações entre empresários e trabalhadores, voltasse à bai‑ la. Emenda incluída na MP ressuscita a ideia de que o ne‑ gociado deve prevalecer sobre o legislado. A MP 680 já era polêmica na essência. Editada pela pre‑ sidente Dilma sob a justificativa de conter as demissões, ela per‑ mite que empresas em supostas dificuldades financeiras adotem um programa que reduz salá‑ rios e jornadas em até 30% – sendo que metade do valor se‑ ria restituído ao empregado por meio do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT). A redução de salários e jor‑ nada mediante acordo coleti‑ vo não é novidade – a Consti‑ tuição Federal já permite isso. O que é novidade é o incen‑ tivo financeiro estatal. Seja como for, o programa lança‑ do pelo governo e abraçado por centrais sindicais como a CUT e a Força Sindical já era polêmico porque os efeitos de soluções assim são questiona‑ dos no Brasil e em países em que foram aplicadas em larga escala, caso do exemplo clás‑ sico da Espanha. Os críticos afirmam que as demissões não são contidas, enquanto o valor da mão de obra despenca. A aprovação pela Comissão Mista do Se‑ nado e da Câmara da emen‑ da do deputado Daniel Vi‑ lela (PMDB-GO) que faz o negociado prevalecer sobre a CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) turbinou as crí‑ ticas. O parlamentar resgatou algo que, nos anos 1990, o então presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) tentou, mas não conseguiu fazer. A MP vai para apreciação nos plenários da Câmara e do Senado. A emenda resguarda direitos previstos na Constituição. O problema é que muitos deles não estão ali – o FGTS, por exemplo, poderia ser reduzido a percentuais simbólicos. Além disso, a proposta aponta para o fim dos direitos trabalhistas. Tendência que, se não for rever‑ tida, dificilmente não irá além, com reflexos futuros também nos serviços públicos.

Moviento SOS Emprego participa de ato da greve em defesa da UFF pública e gratuita, na reitoria

Movimento ‘SOS Emprego’ une trabalhadores para defender direitos Demissões em massa no Comperj, Estaleiro Mauá e outros setores leva à formação de movimento que aposta na luta solidária entre trabalhadores para enfrentar ataques Aline Pereira Da Redação da Aduff

uando a opressão au‑ “Q menta/muitos se de‑ sencorajam/mas a coragem

dele cresce”, dizem os primei‑ ros versos do poema “Louvor do Revolucionário”, de Ber‑ tolt Brecht. As palavras do dramaturgo alemão, embora datadas de meados do século 20, cabem à luta de milhares de pessoas que batalham pela sobrevivência em um país em crise, com cerca de 8,6 mi‑ lhões de desempregados, con‑ forme os dados deste trimes‑ tre da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Con‑ tínua (Pnad). É o caso dos ex-funcioná‑ rios da Alumini Engenharia (antiga Alusa), empreiteira que atuava no Complexo Pe‑ troquímico do Rio de Janeiro, em Itaboraí, ligado a Petro‑ brás. Em meio à conjuntura política e econômica difícil e à paralisação das obras no Comperj, no ano passado cer‑ ca de 2.500 foram demitidos pela empresa terceirizada, in‑ vestigada na Operação Lava‑

-Jato por fraudes contratuais. Desde o final de 2014, muitos ex-funcionários ainda reivin‑ dicam o pagamento de direi‑ tos trabalhistas, como salários em atraso, vale-alimentação, 13º e férias proporcionais. Aguerridos, fortaleceram a mobilização no âmbito do Movimento SOS Emprego, que aglutina os trabalhado‑ res do Comperj, os demiti‑ dos do Estaleiro Eisa-Petro (antigo Mauá, em Niterói) e mais outros tantos que per‑ deram o emprego e, hoje, lu‑ tam por postos de trabalhos e para que as empresas cum‑ pram com suas obrigações nas rescisões de contratos. Por força da pressão da ca‑ tegoria, uma decisão judicial garantiu ganhos parciais aos ex-funcionários da Alumini. De acordo com Ronaldo Moreno, da coordenação do Movimento SOS Emprego, esses trabalhadores consegui‑ ram obter 10% da indeniza‑ ção a que têm direito, cerca de R$ 4 milhões, com a interme‑ diação do Ministério Público do Trabalho. O valor seria di‑ vidido de forma proporcional

entre ex-funcionários da em‑ preiteira. Segundo ele, dian‑ te de um plano de recupera‑ ção judicial, foi determina‑ do que, provavelmente ainda este mês, metade do que resta da indenização seja paga. Os outros 50% serão parcelados. Para a Professora Sonia Lú‑ cio Rodrigues, professora da Escola de Serviço Social da UFF/Niterói e dirigente da Aduff-SSind, seção sindical que tem prestado solidarie‑ dade à luta desses trabalhado‑ res, essa decisão se fez possível devido à pressão que eles têm feito, há muito tempo, para receberem os direitos traba‑ lhistas. Os ex-funcionários do Polo Petroquímico também foram a Brasília, tentar audi‑ ência com a presidente Dil‑ ma. Oportunamente, estive‑ ram no último Congresso do Andes-SN (fevereiro, 2015), recebendo a solidariedade de professores de todo o país. “A crise política e a crise econômica levaram à dimi‑ nuição drástica das ofertas de emprego no Brasil. No caso do Comperj, estimam-se 20 mil desempregados; no an‑

tigo Estaleiro Mauá, 3.700 pessoas foram postas na rua. Esse processo gerou a cons‑ tituição do Movimento SOS Emprego, importante foco de resistência e solidarieda‑ de de classe. Hoje, ele se ar‑ ticula com outros trabalha‑ dores desempregados. Tam‑ bém tem buscado a unidade da luta, apoiando os servido‑ res públicos federais, porque sabe que o contexto que vive‑ mos é extremamente difícil”, diz a docente. De acordo com Sônia Lú‑ cio, os trabalhadores, muitos vindos de outros estados, per‑ deram tudo e não consegui‑ ram sustentar a família. No entanto, em meio a um cená‑ rio tão adverso, eles não cede‑ ram à cooptação, à repressão ou à dispersão. “Lutam contra a lógica do capital e contra a política do governo, que visa a assegurar a transferência de recursos públicos para o pri‑ vado; dão uma resposta à cri‑ se, ao desemprego. Resistem no campo classista, de forma muito solidária, travando uma luta maior, que é pelo empre‑ go”, complementa.


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