Douglas Pereira
Painel Adufrj
Sinal de alerta: o MEC volta a tramar contra os colégios de aplicação da rede federal. Página 7
Debate: aposentadoria
Auditório da Escola de Serviço Social 28 de Agosto – quarta-feira, a partir das 16h Todos os professores estão convidados!
www.adufrj.org.br Jornal da Seção Sindical dos Docentes da UFRJ
Andes-SN Ano XII no 813 19 de agosto de 2013 Central Sindical e Popular - Conlutas
Bilhões para os juros
O orçamento da União é saqueado por bancos, fundos de investimentos e rentistas em geral Página 7
Consuni retoma debate sobre hospitais da UFRJ
Depois de um intervalo de mais de 60 dias – período no qual um grupo de especialistas investigou as condições dos hospitais da universidade – o Conselho Universitário retoma nesta quinta-feira 22 o debate sobre o futuro das unidades de saúde da UFRJ. Samuel Tosta - 14/08/2013
Privacidade
Google põe UFRJ vulnerável
Em meio a polêmicas sobre violação de privacidade e espionagem internacional na internet, surge no Conselho Universitário proposta para que os correios eletrônicos institucionais da universidade sejam hospedados em servidores próprios. Página 5
Polêmica
Proposta da Andifes causa controvérsia
Nas ruas, pela educação
Os professores das redes municipal e estadual de educação ocupam as ruas da cidade. Eles estão em greve provocada pelas condições indigentes a que os governos de Sérgio Cabral e Eduardo Paes submetem o ensino público. Nas manifestações da semana passada, milhares caminharam até os palácios que sediam os dois governos. Docentes da Faculdade de Educação da UFRJ divulgaram carta de apoio aos grevistas. PAINEL ADUFRJ, página 7
O projeto da Lei Orgânica das Universidades Federais, apresentado pela Andifes, provocou polêmica no Consuni. Página 4
Quem é quem na chapa que concorrerá à direção da Adufrj-SSind Página 2
2
19 de agosto de 2013
www.adufrj.org.br
sEGUNDA pÁGINA
Chapa já está inscrita para as eleições da Adufrj-SSind Prazo para os docentes se candidatarem ao Conselho de Representantes da entidade vai até 1º de setembro Pleito está marcado para 11 e 12 de setembro
Conheça mais os candidatos Marco Fernandes - 31/08/2013
Candidato à presidência da Seção Sindical, é professor da FAU. Participou ativamente da greve de 2012. Recémconcursado, o docente trabalha na UFRJ desde 2011, no Departamento de Urbanismo e Meio Ambiente (DPUR). Foi um dos importantes nomes daquela Unidade no processo de mobilização para a greve. Participou do movimento “Ocupância”.
Silvana Sá
silvana@adufrj.org.br
A
té o prazo final de 12 de agosto, a chapa “Adufrj de Luta e pela Base” inscreveu-se para as eleições à diretoria da Seção Sindical, biênio 2013/2015. O candidato à presidência é o professor Cláudio Ribeiro, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU). Além de Cláudio, a chapa conta com: Luciana Boiteux (Faculdade Nacional de Direito) na 1ª vice-presidência; Cleusa Santos (Escola de Serviço Social) na 2ª vice-presidência; José Henrique Sanglard (Escola Politécnica) como 1º secretário; Romildo Bomfim (Faculdade de Medicina) como 2º secretário; Luciano Coutinho (Faculdade de Administração e Ciências Contábeis) como 1º tesoureiro; e Regina Pugliese (aposentada do CAp) como 2ª tesoureira. Para Cláudio, a greve do ano passado foi um fator decisivo para a formação da chapa. “Essa candidatura é uma decisão pessoal, mas não somente. É principalmente uma decisão coletiva. É resultado da percepção de que a universidade está mudando. Acredito que seja também reflexo da greve, que foi muito importante para retomar o processo de luta da categoria”, afirmou. De acordo com ele, a categoria encontra-se diante de novos desafios: “Esta candidatura reforça a necessidade de os professores participarem da universidade como um todo. Conhecerem, desde cedo, o local onde trabalham”.
Luta de todos
Cláudio Ribeiro destaca a heterogeneidade da chapa, com professores de diversas Unidades: “O ponto mais positivo, o é que nesta chapa conseguimos reunir professores com longa estrada na UFRJ, recém-ingressos e aposentados. Não há dicotomia entre o novo e o velho. Ao contrário, há a soma das experiências”.
Silvana Sá - 18/07/2013
Cláudio Ribeiro
Silvana Sá - 20/07/2013
Cleusa Santos
Candidata à 1ª vicepresidência da Adufrj-SSind, faz parte da atual diretoria da entidade, no cargo de 2ª secretária. A professora trabalha na UFRJ, desde 2007, na Faculdade Nacional de Direito.
José Henrique Sanglard
Silvana Sá - 12/08/2013
Luciano Coutinho
Também é um professor novo na UFRJ. Luciano tomou posse na Faculdade de Administração e Ciências Contábeis em 2011. Participou ativamente da greve de 2012, assumindo, logo em seguida, a função de representante da FACC no CLG. Marco Fernandes - 07/05/2013
Romildo Bomfim
O docente se destaca na luta contra a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares. Atualmente, faz parte do Conselho de Representantes da Adufrj-SSind. Lotado no Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, Romildo é professor da Faculdade de Medicina.
Silvana Sá - 28/06/2013
Professor da Escola Politécnica da UFRJ, do Departamento de Engenharia Naval e Oceânica, o docente faz parte da atual direção da AdufrjSSind, como 1º tesoureiro. Também participou de outras diretorias: no biênio 1985/1987 (como 1º vice-presidente); em 2001/2003, como presidente da entidade; e em 2003/2005, como 1º tesoureiro.
Com 17 anos de UFRJ, atua na Escola de Serviço Social. Candidata à 2ª vicepresidência, Cleusa foi presidente da Adufrj-SSind entre os anos de 2003/2005. Foi, ainda, 1ª vice-presidente no biênio 2001/2003.
Marco Fernandes - 03/05/2013
Luciana Boiteux
Regina Pugliese
Hoje aposentada, a docente atuou no Colégio de Aplicação. Regina fez parte da diretoria da Adufrj-SSind entre os anos de 1999 e 2001, como 2ª secretária. E no biênio 2001/2003, como 1ª tesoureira.
SEÇÃO SINDICAL DOS DOCENTES DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO DO SINDICATO NACIONAL DOS DOCENTES DAS INSTITUIÇÕES DE ENSINO SUPERIOR
Sede e Redação: Prédio do CT - bloco D - sala 200 Cidade Universitária CEP: 21949-900 Rio de Janeiro-RJ Caixa Postal 68531 CEP: 21941-972
Atenção às datas As eleições da Adufrj-SSind acontecem nos dias 11 e 12 de setembro. Quem pretende concorrer ao cargo do Conselho de Representantes tem até o dia 1º de setembro para inscrever as listas. São candidatos os docentes sindicalizados até 14 de maio de 2013. Podem votar os docentes sindicalizados até 13 de julho desse ano.
Tel: 2230-2389, 3884-0701 e 2260-6368
Diretoria da Adufrj-SSind Presidente: Mauro Iasi 1º Vice-Presidente: Luis Eduardo Acosta 2ª Vice-Presidente: Maria de Fátima Siliansky 1º Secretário: Salatiel Menezes dos Santos 2ª Secretária: Luciana Boiteux 1º Tesoureiro: José Henrique Sanglard 2ª Tesoureira: Maria Coelho CONSELHO DE REPRESENTANTES DA ADUFRJ-SSIND Colégio de Aplicação Letícia Carvalho da Silva; Renata Lucia Baptista Flores; Simone de Alencastre Rodrigues; suplentes: Maria Cristina Miranda da Silva; Mariana de Souza Guimarães; Rosanne Evangelista Dias; Escola de Belas Artes Beany Guimarães Monteiro; Patricia March de Souza; suplentes: Cláudia Maria Silva de Oliveira; Rogéria Moreira de Ipanema; Escola de Comunicação Eduardo Granja Coutinho; Escola de Enfermagem Anna Nery Walcyr de Oliveira Barros; Marilurde Donato; Escola Politécnica José Miguel Bendrao Saldanha; Escola de Serviço Social Rogério Lustosa; Janete Luzia Leite; suplente: Marcos Paulo O. Botelho; FACC Vitor Iorio; Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Cláudio Rezende Ribeiro; Eunice Bomfim Rocha; suplentes: Luiz Felipe da Cunha e Silva; Sylvia Meimaridou Rola; Faculdade de Educação Claudia Lino Piccinini; Rosa Maria Corrêa das Neves; Roberto Leher; suplente: Vânia Cardoso da Motta; Faculdade de Direito Mariana Trotta Dallalana Quintans; Faculdade de Letras Gumercinda Nascimento Gonda; Vera Lucia Nunes de Oliveira; Faculdade de Medicina Romildo Vieira do Bomfim; IESC Regina Helena Simões Barbosa; EEFD Alexandre Palma de Oliveira; Luís Aureliano Imbiriba Silva COPPE Vera Maria Martins Salim Instituto de Economia Maria Mello de Malta; Alexis Saludjian; Instituto de Física José Antônio Martins Simões Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional Cláudia Ribeiro Pfeiffer; suplente: Cecília Campello do Amaral Mello; Coordenador de Comunicação Luiz Carlos Maranhão Editor Assistente Kelvin Melo de Carvalho Reportagem Silvana Sá e Elisa Monteiro Projeto Gráfico e Diagramação Douglas Pereira Estagiário Darlan de Azevedo Junior Tiragem 4.000 E-mails: adufrj@adufrj.org.br e secretaria@adufrj.org.br Redação: comunica@adufrj.org.br Diretoria: diretoria@adufrj.org.br Conselho de Representantes: conselho@adufrj.org.br Página eletrônica: http://www.adufrj.org.br Os artigos assinados não expressam necessariamente a opinião da Diretoria.
19 de agosto de 2013
O
debate sobre o futuro da gestão da rede de hospitais da UFRJ retorna com força esta semana. A pauta vai dominar a sessão do Conselho Universitário de quinta-feira, 22 de agosto. Os conselheiros se preparam para discutir o resultado da investigação realizada nas unidades de saúde, nos últimos 60 dias, por um grupo de especialistas. O grupo foi monitorado por uma comissão de acompanhamento, que deverá apresentar suas conclusões às comissões do Consuni e ao plenário do colegiado. A professora Diana Maul (representante dos Associados do CCS naquele conselho) informou, na última sessão do Consuni (dia 15), que os relatórios estão em fase conclusiva e serão entregues em tempo hábil para subsidiar o debate dentro do calendário previsto. A criação, no mês de maio, de uma comissão de especialistas para realizar um diagnóstico da rede de hospitais da UFRJ foi o desdobramento dos debates travados em alta temperatura no Conselho Universitário sobre a área de saúde da universidade – que possui um dos maiores complexos hospitalares do país. O caminho escolhido neutralizou o forte lobby exercido pelo setor interessado em trazer a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh) para a instituição. A meta dos defensores da Ebserh é entregar quatro das nove unidades de saúde da universidade para a empresa. A proposta contraria frontalmente o conceito que justifica a existência de hospitais universitários. Muito além da assistência hospitalar, essas unidades formam quadros na área de saúde, têm responsabilidades primordiais com o ensino e a pesquisa. Os que apoiam a adesão à empresa tentam criar um clima de ‘fato consumado’, no qual não há perspectivas de enfrentamento dos problemas, para aceitação da Ebserh. O próprio governo trabalha pressionando as universidades para contratualizarem com a empresa. Nesta quinta-feira, com a retomada da discussão, a previsão é que isto ocorra já sob a luz dos relatórios do grupo de especialistas.
Diretor de HU da UFF denuncia coação do governo
O diretor-geral do Hospital Universitário Antonio Pedro, da UFF, Tarcísio Rivello, tem dado declarações públicas contrárias à Ebserh. Em entrevista para o jornal O Globo em 8 de agosto, afirmou que há pressão do governo para que as instituições firmem contrato com a empresa. Disse ao periódico ser contrário à adesão: “Há uma pressão que, dentro de um Estado democrático, não deveria acontecer. Isso é coação”.
www.adufrj.org.br
3
Autonomia Universitária
Futuro dos HUs entra em jogo
Consuni terá como pauta única, neste dia 22, o debate sobre a gestão dos hospitais universitários da UFRJ. Resultados da comissão de especialistas sobre as unidades de saúde da instituição serão apresentados Marco Fernandes - 09/05/2013
Como se não bastasse...
Em 9/5, comunidade acadêmica compareceu em peso ao Consuni para protestar contra a Ebserh
Pró-reitora explica “atuação estritamente técnica” no HU Rodrigo Ricardo
Especial para o Jornal da Adufrj
A
pró-reitora de Gestão e Governança (PR-6), Aracéli Cristina de Sousa Ferreira, coordena uma comissão nomeada pela Reitoria para assessorar a gestão do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF) nestes tempos de crise. Em seu gabinete, entre uma reunião e outra – quase todas sobre o HU -, e mesmo considerando ser prematuro um balanço do trabalho desse grupo, a dirigente recebeu o Jornal da Adufrj e rebateu a chamada “intervenção branca”. “Não se trata disso, absolutamente”, negou. Ela ressaltou que sua atuação é estritamente técnica. “Deixo claro, em todas as reuniões na unidade, que
aceito a colaboração de qualquer um que queira ajudar o hospital, independentemente da posição política em relação à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh)”. Contadora de formação, a próreitora reconhece a importância do relatório realizado pelos auditores do Tribunal de Contas da União (TCU), com severas críticas à gestão do hospital (e cujos principais pontos foram divulgados em encarte especial da edição anterior do Jornal da Adufrj). Entretanto, não atribui ao documento a ação mais direta da reitoria junto ao HUCFF. “A crise se deve a um processo histórico. Desde o ano passado, ao prestar o suporte financeiro para o pagamento dos extraquadros, a reitoria já vem neste auxílio e en-
tendeu agora ficar ainda mais próxima para enfrentar uma série de problemas estruturais”, ponderou. Destacou, ainda, que a atual direção do HU não interpõe qualquer obstáculo para o desempenho das atividades da comissão. Segundo a pró-reitora, as compras e o dia a dia administrativo do hospital seguem gerenciados pela equipe do diretor José Eulálio. “Não estou me envolvendo nessa área”, reiterou. Aracéli disse apenas que um novo fluxo de processos administrativos está em andamento, inclusive com a participação dos alunos do curso de Gestão Pública para o Desenvolvimento Econômico e Social (GPDES/UFRJ). “A prioridade neste momento é cuidar da parte elétrica. Há queixas de pane e muitos equipamentos, que apareceram
Sete computadores da Coordenação de Controle Interno do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF) foram furtados. O crime foi confirmado pela Assessoria de Comunicação do HUCFF. A “sala foi invadida pela entrada do ar-condicionado”. A Polícia Federal investiga o caso desde a última segunda (12), quando a falta dos equipamentos foi percebida. Mas, segundo a Assessoria da Reitoria, as ocorrências envolvendo furto de patrimônio seguem a tendência de estabilidade - um caso por mês. A expectativa, a partir deste mês, é que os índices sejam aperfeiçoados por conta de um aumento dos postos de segurança na Cidade Universitária.
encaixotados pelos corredores, nas matérias da imprensa, não podem ser usados pela falta da carga necessária para colocá-los em funcionamento. A estimativa é gastarmos apenas com o projeto algo em torno de R$ 300 mil”. A parte hidráulica e os elevadores também são outros problemas importantes apontados por Aracéli, na mira da comissão da reitoria.
Reitor e diretor não atenderam reportagem
Tanto o reitor Carlos Levi quanto o diretor José Eulálio foram procurados para serem entrevistados pessoalmente sobre o pedido de sindicância das entidades quanto à gestão do HUCFF e o Acórdão do TCU. Entretanto, até o fechamento desta edição, não houve retorno das solicitações.
4
www.adufrj.org.br
19 de agosto de 2013
Universidades
Autonomia em questão
Consuni inicia discussão a respeito de projeto de lei orgânica das universidades públicas federais. Proposta da associação de reitores é regulamentar autonomia das instituições, o que está longe de ser uma unanimidade Elisa Monteiro - 15/08/2013
Texto causa polêmica na sessão do dia 15
Emerência de Nelson Souza e Silva ainda não foi resolvida
Elisa Monteiro
elisamonteiro@adufrj.org.br
U
A “Lei Orgânica das Universidades Públicas” busca regulamentar a autonomia e estabelece alguns princípios e finalidades para o sistema de educação superior federal
No conselho esvaziado pelo recesso acadêmico, discussão da lei orgânica foi o único tema Marco Fernandes - 08/08/2013
“
Há um consenso de que o tema é de grande relevância e de que o debate precisa ser feito com a maior atenção possível
“
ma proposta de 11 páginas da Associação Nacional de Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) deu o que falar na reunião do Consuni da UFRJ, dia 15. A “Lei Orgânica das Universidades Públicas” busca regulamentar a autonomia e estabelece alguns princípios e finalidades para o sistema de educação superior federal. Além disso, entre outros aspectos, cria uma fórmula de financiamento baseada na arrecadação da União, mas ainda sem fonte e percentual definidos. Em mensagem enviada aos conselheiros em 13 de junho, com a proposta de lei orgânica da Andifes, constava um ofício assinado pelo secretário-executivo da entidade, Gustavo Balduino. Nele, o dirigente afirmava que o prazo para retorno de contribuições ao projeto seria 1º de julho. No entanto, segundo declarou o vice-reitor Antônio Ledo ao último Consuni, as universidades “ainda têm tempo para discutir e propor”: “Há um consenso de que o tema é de grande relevância e de que o debate precisa ser feito com a maior atenção possível”, disse. Ledo - que presidiu a segunda sessão consecutiva, em função de reuniões do reitor Carlos Levi em Brasília - apoiou a sugestão para que seja formada uma comissão para “preparar um espaço de discussão”, apresentada pelo pró-reitor de Pessoal, Roberto Gambine, e pelo professor Roberto Leher (representante dos Titulares do CFCH) ao Consuni anterior, do dia 8.
Antônio Ledo Vice-reitor da UFRJ
Debate delicado
Neuza Luzia, representante dos técnico-administrativos, expressou preocupação: “O governo apresenta (atualmente) uma série de políticas que visam reduzir a autonomia universitária. Então, a gente fica com todos os sinais alertas ligados para não correr o risco de produzirmos um instrumento que possa se voltar contra nós mesmos. (A lei orgânica) é um tema bastante importante”, destacou ainda, e “precisa ser profundamente discutida”. O envolvimento de toda comunidade acadêmica na avaliação da proposta também foi defendida pela professora Diana Maul (representante dos Associados do CCS): “É preciso que todos tenhamos uma noção clara de proposta de legislação que está sendo feita e das implicações dela”. Maul falou sobre a necessidade de o debate se es-
tender por toda a universidade. “A letra da lei não é muito fácil de entender”, observou.
Divergências
Pablo Benetti, pró-reitor de Extensão, entre outros pontos, discutiu os prós e contras de regulamentar a previsão constitucional da autonomia universitária: “Tenho amigos que defendem que o artigo 207 é suficientemente claro para que não se tenha uma lei. No entanto, todo dia a autonomia universitária está sendo ameaçada exatamente por não estar especificada essa autonomia”. Para Segen Stefen (Titulares do CT), a UFRJ “não pode perder o bonde”. Em sua análise, a lei orgânica “busca proteger a universidade em razão de inseguranças jurídicas”: “Para garantia da autonomia, é preciso ter uma lei que os órgãos de controle reconheçam”, afirmou.
Andes-SN considera a autonomia autoaplicável
Em entrevista concedida ao Jornal da Adufrj nº 808, de 15 de julho, o 1º vice-presidente do Andes-SN, Luiz Henrique Schuch, observou que o Sindicato Nacional sempre argumentou no sentido da autoaplicabilidade do artigo 207 (que rege a autonomia). Para ele, num cenário em que as iniciativas do governo são radicalmente contrárias à autonomia, o primeiro passo das autoridades deveria ser o afastamento de um “cipoal de instruções normativas, portarias, decretos e artigos de leis francamente inconstitucionais que tolhem a autonomia universitária”.
De acordo com a conselheira Denise Pires de Carvalho (representante dos Titulares do CCS), a emerência do professor Nelson Souza e Silva (Titular da Faculdade de Medicina e diretor do Instituto do Coração Edson Saad) foi “pauta extra” na última Congregação da Unidade, no dia 14. Mas, por questões processuais, ficou para ser debatida em uma próxima reunião. Vale lembrar que a concessão do título ao docente enfrenta certa resistência naquela Unidade. Trata-se de uma oposição que não encontra respaldo no julgamento do mérito da carreira de Souza e Silva, mas em seus posicionamentos políticos francamente contrários à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), proposta do governo para privatizar os HUs. Diana Maul (Associados CCS) informou que pretende consultar a Comissão de Legislação e Normas (CLN) sobre a pertinência de as Unidades acadêmicas subestabelecerem regras de concessão de emerência: “Essa situação exemplifica um problema que não podemos permitir que aconteça. A emerência é atribuição deste colegiado. É uma concessão da universidade a professores Titulares que se aposentaram e que possuem uma carreira da universidade”. Segundo a docente, “infelizmente” são comuns as desavenças “de nível pessoal, inclusive”, dentro de departamentos ou grupos, causarem situações que não deveriam acontecer na universidade, como o impedimento da emerência a Nelson Souza e Silva. Samuel Tosta - 28/03/2013
Diana Maul
19 de agosto de 2013
www.adufrj.org.br
5
Segurança da informação
UFRJ nas mãos da Google?
No Consuni, representante dos técnico-administrativos apresenta proposta para conduzir e-mails institucionais, hoje vulneráveis à ação da empresa norte-americana, para um servidor próprio da universidade Debate estará na pauta de futuras sessões do colegiado Elisa Monteiro
elisamonteiro@adufrj.org.br
E
m meio a polêmicas sobre vazamento de dados e espionagem internacional na internet, chegou ao Consuni uma proposta para que os correios eletrônicos institucionais da universidade – ou seja, os finalizados com o sufixo ‘ufrj.br’ – sejam hospedados em servidores próprios, localizados dentro dos campi da instituição. O pedido partiu do funcionário da Superintendência de Tecnologia da Informação e Comunicação da UFRJ (TIC) e integrante da bancada Fotos: Elisa Monteiro - 13/08/2013
Dezenas de unidades usam o servidor da Google por não implicar em custos e pela falta de uma “cultura” de debate sobre segurança digital
Migração seria realizada em pouco tempo
Na TIC, funcionários observam o fluxo de informações (codificadas) dentro dos sistemas da UFRJ
“
decidem sobre suas próprias contas. Muitas vezes, são decisões sem discussão ou tomadas pelo técnico de informática do local”, explica.
Além de dissertações, pesquisas e patentes, de mensagens pessoais, estamos falando dos e-mails com dados dirigidos a outros órgãos da administração pública
Exposição desnecessária
Nilson argumenta que a exposição é desnecessária: “Sem dúvida, é mais prático você usar um servidor para guardar as mensagens no lugar de fazer backup, de gastar com energia elétrica e climatização etc. Mas em última instância, os e-mails com final ‘ufrj.br’ são de responsabilidade da universidade. Além disso, para o usuário, a diferença é nenhuma. Apenas no lugar de ir para lá, vem parar aqui. ” Outro aspecto mencionado pelo servidor da informática para reforçar sua proposta é a
“
técnico-administrativa naquele colegiado, Nilson Barbosa. Para defender a inclusão do ponto na agenda do Consuni, Nilson citou o contrato de hospedagem de correio eletrônico da Google, segundo o qual “o usuário está de acordo que a empresa pode acessar, preservar e divulgar as informações de sua conta”. A questão central para o conselheiro remete à soberania: “Além de dissertações, pesquisas e patentes, de mensagens pessoais, estamos falando dos e-mails com dados dirigidos a outros órgãos da administração pública. A universidade não pode permitir que uma empresa estrangeira controle informações desse tipo”. Segundo ele, dezenas de unidades usam o servidor da Google por não implicar em custos (é gratuito para as instituições acadêmicas) e pela falta de uma “cultura” de debate sobre segurança digital: “A coluna dorsal da universidade está sob cuidado da TIC em servidor próprio. Mas as Unidades, os departamentos e muitos laboratórios
(PF). Mesmo com a requisição de cópias dos documentos por uma juíza (Salise Monteiro Sanchotene, do Tribunal Regional Federal da 4ª Região), de recurso em recurso, a disputa com a corporação se arrasta desde 2008.
Nilson Barbosa Funcionário da TIC
recusa da Google Brasil em colaborar com a Justiça do país. Nilson dá como exemplo o caso
de um usuário do “Gmail” (serviço de e-mails da empresa) investigado pela Polícia Federal
Ainda de acordo com a proposta do conselheiro, a migração do serviço para a TIC seria realizada em um prazo “não maior que seis meses” a partir da aprovação de uma resolução sobre o tema. Nilson admite que o servidor da universidade não dispõe de estrutura para absorver todos os e-mails institucionais. Mas, “com um planejamento, temos plena condição de fazer”, afirmou. Recentes concursos públicos que equiparam o setor da administração dão fôlego à possibilidade. De acordo com ele, hospedar as mensagens institucionais já estava entre as atribuições previstas na criação da TIC, em 2010. No entanto, o processo não chegou a ser concluído. As tentativas de Nilson para provocar a discussão no Consuni não haviam logrado êxito até o recente escândalo da espionagem norte-americana vir à tona. A expectativa do funcionário é que os acontecimentos estimulem a urgência da reflexão e da mudança de conduta. O pedido de debate sobre segurança da informação foi acatado pelo vice-reitor da UFRJ, Antônio Ledo, e deverá constar de futuras sessões do colegiado.
6
www.adufrj.org.br
19 de agosto de 2013
Convênio Adufrj-SSind/Unimed
Custo baixo atrai docentes
Clientes de planos de saúde da própria empresa relatam economia com a adesão ao convênio da entidade
Estagiário e Redação
C
om preços mais baixos que os praticados em planos de saúde individuais, o convênio recentemente firmado entre a AdufrjSSind e a Unimed já começou a atrair diversos professores. Entre os dias 13 e 16 de agosto, os interessados em obter mais informações sobre o convênio dirigiram-se a plantões de atendimento montados no Centro de Ciências Jurídicas e Econômicas (CCJE), no campus da Praia Vermelha, ou na própria sede da AdufrjSSind, localizada no Centro
“
SSind havia feito convênio com a Unimed, fui correndo atrás de informações para me inscrever”, completou.
Tenho 71 anos de idade e sem esse convênio da Adufrj-SSind seria impossível inserir um plano de saúde dentro dos gastos mensais
“
Darlan de Azevedo
de Tecnologia (CT), na Ilha do Fundão (confira nesta página os próximos plantões). Um deles foi o professor Sérgio Brasil, do Instituto de Psicologia. Para ele, que antes era dependente de um plano de saúde de sua esposa, também pela Unimed, as despesas (agora como titular) compensam a mudança: “Tenho 71 anos de idade e sem esse convênio da Adufrj-SSind seria impossível inserir um plano de saúde dentro dos gastos mensais, pois os valores (de mercado) são muito altos”, afirmou. Francimar Tinoco de Oliveira, da Escola de Enfermagem Anna Nery, de 41 anos, ressaltou que vai manter a mesma modalidade do seu plano Unimed anterior por já conhecer bem a rede hospitalar disponibilizada pela em-
Plano aberto a dependentes
Sérgio Brasil Instituto de Psicologia
presa: “Assinando a mesma modalidade, através do convênio, consigo uma economia de quase R$ 2,5 mil ao ano”, observou. “Quando vi a notícia no jornal de que a Adufrj-
A possibilidade de inserção de dependentes é outro atrativo do convênio AdufrjSSind/Unimed, aprovado na Assembleia Geral da categoria, em 3 de julho deste ano. Victor Melo, de 41 anos, faz parte do corpo docente da Faculdade de Educação e diz que, mesmo já sendo cliente da Unimed, a possibilidade de deixar o filho como dependente diminui ainda mais as despesas: “Possuía a modalidade Delta. Agora com o convênio, se unirmos os novos valores, temos uma economia de mais de R$ 500 por mês”. Ele acrescenta que sua esposa é filiada à Adufrj-
Veja como fazer a adesão
Professores já podem se associar ao plano
N
esta semana, continuam os plantões especiais para atendimento a professores interessados no convênio firmado com a Unimed. Ao lado, você confere a tabela de valores. Os docentes que preferirem agendar atendimento em suas unidades, poderão fazêlo pelos telefones: 9969-1348 (Solange) e 8463-0886 (Miguel). Informações podem ser obtidas também pelos emails: solangejm-1957@hotmail. com ou albuquerqueseguros@hotmail. com. Opcionais Odontológico Unimed-dental................ R$ 22,90 SOS Unimed..................... R$ 7,62 SOS Viagem..................... R$ 3,05 Transporte aeromédico... R$ 7,62 Adicionais gratuitos Unimed-farmácia e Unipsico: atendimentos psicológicos personalizados, seguro de vida e benefício família (nos planos de abrangência nacional).
Abrangência Estadual
Francimar Tinoco de Oliveira Escola de Enfermagem
SSind e aderiu ao convênio: “Como ela também está gastando menos, o dinheiro guardado equivale praticamente a uma viagem no final do ano”.
Relação de documentos exigidos para a adesão ao plano:
TABELA DE VALORES Planos
“
Quando vi a notícia no jornal de que a Adufrj-SSind havia feito convênio com a Unimed, fui correndo atrás de informações para me inscrever
“
Prosseguem os plantões de atendimento aos interessados
Nacionais
Faixa etária
Q. Coletivo
Q. Privativo
Alfa
Beta
Delta
Ômega
00 a 18
91,60
103,70
112,71
139,63
157,96
217,84
19 a 23
123,66
136,31
148,10
180,96
213,23
294,06
24 a 28
139,69
156,69
170,31
207,33
244,75
323,45
29 a 33
153,64
172,39
187,34
229,50
268,80
355,78
34 a 38
158,26
185,26
192,98
244,30
287,95
366,50
39 a 43
177,16
198,76
216,08
251,65
330,41
377,48
44 a 48
230,40
258,47
280,93
342,05
403,12
533,58
49 a 53
286,48
321,39
349,34
409,04
482,16
640,93
54 a 58
343,79
369,63
419,23
508,67
645,61
821,66
59 em diante
549,58
622,20
678,26
837,75
947,30
1.306,81
Preços válidos para os proponentes inclusos até 30/11/2013
1 – o professor titular do plano: contracheque atualizado, comprovante de residência, identidade e CPF.
2 – dependente (esposa(o) ou companheira(o)): certidão de casamento ou Declaração de União Estável lavrada em cartório, mais identidade e CPF. 3 – filhos: certidão de nascimento, identidade e CPF. Importante: O sindicalizado que desejar ingressar no plano deverá fazê-lo sempre até o dia 20 de cada mês para poder ter direito a partir do dia 10 do mês seguinte.
Plantões de atendimento: 19 e 21/8 segunda-feira e quarta-feira
10h às 15h Sala da Administração da Sede da Decania do CCJE (Praia Vermelha)
20 e 22/8 terça-feira e quinta-feira
10h às 16h Sede da Adufrj-SSind (Prédio do CT, Bloco D, sala 200 – Fundão)
19 de agosto de 2013
www.adufrj.org.br
Painel Adufrj CAp na mira O MEC volta a tramar contra a rede de colégios de aplicação da rede federal. O secretário da SESu, Paulo Speller, enviou ofício recomendando aos reitores que abram negociações para transferir suas unidades de educação infantil para a esfera do município. A direção do CAp-UFRJ e da Escola de Educação Infantil da UFRJ reuniram-se com o reitor Carlos Levi para discutir a ameaça.
DA REDAÇÃO
CAp abre vagas
Solidariedade
Os professores da Faculdade de Educação da UFRJ enviaram carta de apoio à greve dos professores das redes municipal e estadual de educação do Rio de Janeiro. O texto relaciona vários pontos que caracterizam a situação de “descalabro” do setor. Cita, por exemplo, “a ausência de um plano de cargos e
salários que garanta a dignidade de vida do professor”. A carta destaca: “O que temos hoje é uma política de sistemático mascaramento das condições salariais por parte das secretarias, através de bonificação e certificação que ferem a isonomia salarial.” A mensagem cita o “assédio moral e políticas
autoritárias na distribuição dos professores nas escolas” e acusa a deturpação do caráter público da escola através de parcerias com empresas privadas. Para os professores da universidade, esta situação só será modificada com a saída dos atuais secretários de educação do município e do estado. Samuel Tosta - 14/08/2013
O resultado desse encontro levou à inclusão do tema da institucionalização da EEI na pauta do último Consuni.
O assunto é pauta única da sessão do Conselho Universitário nesta quinta 22.
Vida de Professor
Depois da pré-inscrição (de 30/9 até 7/10) e pagamento de taxa no banco, os candidatos devem comparecer ao CAp no prazo fixado para a entrega de documentos. É possível solicitar isenção da taxa de pagamento Serão oferecidas aproximadamente cem vagas entre o Ensino Fundamental e o Médio.
Moradia A UFRJ terá uma comissão dedicada a acompanhar de perto as demandas dos moradores da Residência Estudantil, na Cidade Universitária.
HUs
A professora Diana Maul, que integra a Comissão de Acompanhamento dos especialistas, disse que os documentos serão entregue às comissões do Consuni para que o debate se dê no plenário do conselho.
O Colégio de Aplicação (CAp) da UFRJ publicou edital com as regras para a admissão de novos alunos em 2014.
O CAp fica na Av. Lineu de Paula Machado, s/nº, na Lagoa, Rio de Janeiro.
O reitor se comprometeu, ainda, a defender na Andifes e na SESu a permanência das unidades de educação básica na universidade.
Os relatórios elaborados pelos grupos técnicos que investigam a situação dos HUs da UFRJ e a proposta do governo Ebserh estão sendo concluídos.
7
Manifestação dos educadores cobra a responsabilidade dos governos estadual e municipal
Bilhões para os juros
Do orçamento geral da União executado em 2012 – R$ 1,712 trilhão, 43,98% foram gastos com juros e amortizações da dívida, representando quase metade do orçamento no ano passado. Em contrapartida, em educação, saúde e previdência social, foram gastos 3,34%, 4,17% e 22,47% do orçamento, por exemplo. Os dados são da Auditoria Cidadã da Dívida que enviou carta à presidenta Dilma Rousseff mostrando o absurdo.
A comissão será presidida por Carlos Rangel, membro do Consuni e próreitor de Planejamento e Desenvolvimento. Integram o grupo Antonio José Barbosa Oliveira, superintendente-geral de Políticas Estudantis; Maria Leão de Aquino Silveira, representando o Diretório Central dos Estudantes (DCE); Gregory Magalhães Costa, da Associação de Pós-Graduandos; Joseane Rodrigues dos Santos, da Secretaria Nacional de Casas de Estudantes e moradora da Residência Estudantil. Diego Novaes
8
www.adufrj.org.br
19 de agosto de 2013
Entrevista/Luta contra desigualdades raciais
Marcelo Paixão/coordenador do Laboratório de Análises Econômicas, Históricas, Sociais e Estatísticas das Relações Raciais (Laeser)
Lições de Nelson Mandela
Kelvin Melo - 30/04/10
Internet
Darlan de Azevedo Estagiário e Redação
Qual o legado de Nelson Mandela, ex-presidente da África do Sul?
Relendo a história de Nelson Mandela, realmente não há como deixar de se lhe atribuir o reconhecimento de heroísmo, e isto malgrado a famosa frase de (Berthold) Brecht (1898-1956): “Infeliz do povo que precisa de heróis”. Quando chegou ao poder, em 1994, o Congresso Nacional Africano (CNA) abriu mão de grande parte do conteúdo de seu programa anterior. Foi um cálculo político possivelmente baseado no contexto no qual a transição ocorreu (fim da Guerra Fria e o risco do isolamento internacional, caso uma opção mais radical viesse a ocorrer), como, talvez, igualmente, visando gerar um quadro de consenso mínimo para que aquele país pudesse evitar uma Guerra Civil. Porém, diversos problemas legados pelo período do Apartheid se mantiveram desde então: a concentração da terra, da água e dos recursos econômicos, a pobreza e os dramas sociais da maioria da população negra sul-africana, especialmente os elevados índices de violência (e da violência contra as mulheres) e a AIDS. A vida de Mandela deve ser razão de orgulho aos vitimados pela intolerância, dos mais diferentes modos (racial, étnico, de gênero, nacionalidade, religiosa, opção sexual) em todo o mundo. Como tal, creio ser razoável dizer que seu nome pertence a todos os seres humanos de bem. É um patrimônio comum da humanidade a vida, obra e ideias, dos que lutaram e lutam pela liberdade.
Como poderia ser definida a atual conjuntura dos debates raciais no Brasil?
A atual conjuntura forma uma “teia de contradições insolúveis”, como dizia o saudoso Florestan Fernandes no seu clássico A integração dos negros na sociedade de classes. De um lado, é nítido que ocorreram avanços, tendo em vista que este assunto, ainda há cerca de 15 anos, era um completo tabu, cercado de verdades nunca ditas ou reveladas. Hoje debate-se mais abertamente o
tema dos efeitos do racismo, tal qual praticado no Brasil, sobre o desenho de nossa estrutura social. Isto permitiu a geração das primeiras políticas na história republicana brasileira visando mitigar um cenário de crônicas desvantagens dos afrodescendentes, e de forma mais distante, dos povos indígenas, especialmente no que tange ao acesso à universidade e algumas medidas que incidiram sobre os materiais didáticos e currículos nas escolas do ensino básico. Porém, mesmo estes avanços foram pequenos diante do enorme passivo a ser superado. As desigualdades de rendimentos de cor ou raça no Brasil ainda seguem grandes (cerca de 75% a mais para os que se declaram brancos e amarelos), isso além de outros tantos problemas que colhem os negros como maiores prejudicados, tais como a baixa qualidade das escolas, a progressiva degradação do SUS e a violência policial, hoje sintetizada na pergunta que vem movendo milhares de pessoas pelo Brasil e pelo mundo: “Onde se encontra o Amarildo?”, pedreiro pobre e negro que era residente na Rocinha. Portanto, posso reconhecer que alguns avanços ocorreram, mas estes são sempre ameaçados de serem revertidos, seja por conta de alguma eventual futura crise econômica ou política, seja pela presença de concepções conservadoras que ainda seguem fortes no interior de nossa sociedade.
Internet
“
A vida de Mandela deve ser razão de orgulho aos vitimados pela intolerância, dos mais diferentes modos (racial, étnico, de gênero, nacionalidade, religiosa, opção sexual) em todo o mundo. Como tal, creio ser razoável dizer que seu nome pertence a todos os seres humanos de bem
“
Coordenador do Laboratório de Análises Econômicas, Históricas, Sociais e Estatísticas das Relações Raciais (Laeser) da UFRJ, o professor Marcelo Paixão explica a importância de Nelson Mandela, ex-presidente da África do Sul. Após dois meses internado em decorrência de uma infecção pulmonar, “Madiba”, como é carinhosamente chamado, comove o mundo com sua luta pela vida, aos 95 anos. Mandela foi o mais poderoso símbolo de resistência contra o regime segregacionista do “Apartheid”, oficializado em 1948 naquele país. Durante sua militância no partido CNA (Congresso Nacional Africano), mostrou-se um ferrenho opositor das injustiças cometidas pelos governos contra a maioria negra, o que o levou a ficar 27 anos encarcerado. Libertado em 1990, recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 1993 e tornou-se o primeiro presidente negro da África do Sul no ano seguinte.