Jornal da Adufrj-SSind - Edição 873 - 22/12/2014

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AOS LEITORES

A edição impressa do Jornal da Adufrj volta a circular na segunda-feira, 2 de fevereiro. Na noite de sexta-feira, 30 de janeiro, a referida edição já estará disponível na internet. Durante o mês de janeiro, as informações serão concentradas no site da Adufrj-SSind (www.adufrj.org.br) e no nossos perfis nas redes sociais. Com esta edição, circula o nº 3 dos Cadernos Adufrj que traz como tema a Proteção Social.

UFRJ deve alterar regra que dá exclusividade à língua portuguesa em um concurso para Titular. Página 4

Jornal da Seção Sindical dos Docentes da UFRJ

Marco Fernandes - 06/12/2014

www.adufrj.org.br

Arquivo dos porões Filme mostra registros policiais para discutir ditadura

Andes-SN Ano XIII no 873 22 de dezembro de 2014 Central Sindical e Popular - Conlutas

Arrocho na universidade

Orçamento da UFRJ para 2015 será aproximadamente 30% inferior aos recursos destinados à universidade em 2011, considerando a inflação do período. O conselheiro Roberto Leher apontou o subdimensionamento das verbas na última sessão do Consuni. Página 3

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Adufrj-SSind deseja a todos um ano de lutas pela valorização do professor e pela defesa da educação pública em todos os níveis. Um promissor

2015

Marco Fernandes - 15/12/2014

São seis mil títulos catalogados à venda na livraria da UFRJ especializada em publicações das editoras universitárias de todo o país. O estabelecimento foi inaugurado no dia 15 e ocupa uma área ao lado do ex-Canecão onde funcionou um bingo. Página 8

UFRJ inaugura livraria


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sEGUNDA pÁGINA Fotos: Marco Fernandes - 06/12/2014

Busca-se um distribuidor para ampliar a audiência do filme

Retroatividade nos pedidos de progressão/ promoção

Filipe Galvão

Estagiário e Redação

D

e imagem em imagem, faz-se a memória. Ou a traz de volta ao jogo. É o que mostra “Retratos de Identificação”, uma espécie de narrativa dos limites. Limites da vida, dos corpos, da lembrança, da barbárie. O documentário de Anita Leandro é o único a ter como protagonistas, não os agentes, mas os arquivos da ditadura. “É o primeiro filme que faz do arquivo o personagem principal. Até então eles só foram usados como ilustração”, diz. É um filme entrecortado de relâmpagos. Dos relatos, da listagem de assassinos e torturadores, dos negativos nos porões da ditadura. Não há um só movimento de câmera durante os 71 minutos de duração e, ainda assim, sobra eletricidade. Toda a dinâmica e violência vêm dos retratos de identificação dos ex-guerrilheiros dos grupos Var-Palmares e da Ação Libertadora Nacional (ALN). O ritmo do documentário é o confrontamento. Dois sobreviventes, Antônio Roberto Espinosa da Var-Palmares e Reinaldo Guarany da ALN, encaram pela primeira vez os documentos que Anita garimpou no acervo das polícias políticas do Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro e do Superior Tribunal Militar. Assim, o passado cru sem intermediação da memória ou do tempo. “Eles não conheciam as imagens que eu tinha. Eu levei as imagens pra filmagem no momento que eu ia entrevistar cada um deles e mostrei na ordem cronológica dos acontecimentos. Então eu filmei, não só a fala deles, mas a reação e a análise específica de cada documento”, conta Anita, que é professora da Escola de Comunicação Social da UFRJ e pesquisadora sobre os processos de montagem no cinema. O desafio foi trazer para o campo do documentário as micro-histórias perdidas dentro de um acervo imenso. “Quando encontrei esses arquivos eu descobri a diversidade. Achei que ia encontrar meia dúzia, mas lá existem milhares”, diz. O volume retrata o quão prolíficos foram os aparelhos de guerra e controle do Estado no que se refere ao registro. “São os arquivos mais volumosos da América Latina”, aponta a diretora.

dicoíurJ Jurídico

Uma das exibições ocorreu dentro do projeto Cineclube Ciência em Foco, da Casa da Ciência

Um fotograma e o abismo Documentário dirigido pela professora Anita Leandro, da Escola de Comunicação da UFRJ, discute ditadura a partir dos registros das polícias políticas

Meta agora é ampliar o alcance do filme

O movimento do filme pode ser entendido como um segundo passo na consolidação da verdade sobre a história recente do país. Com a conclusão dos trabalhos da Comissão Nacio-

nal da Verdade no final de 2014, o país tem um núcleo duro para produzir reflexões e cimentar a memória coletiva. O terceiro passo é chegar até o público. O filme de Anita ainda está restrito a mostras e festivais. A diretora tem participado de

exibições em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Fortaleza. O retorno é bom, mas o alcance é curto. A ideia é conseguir um distribuidor que potencialize a capacidade de pulverização do documentário.

Anita Leandro, da ECO, sobre os registros da ditadura brasileira: “São os arquivos mais volumosos da América Latina”

SEÇÃO SINDICAL DOS DOCENTES DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO DO SINDICATO NACIONAL DOS DOCENTES DAS INSTITUIÇÕES DE ENSINO SUPERIOR

Sede e Redação: Prédio do CT - bloco D - sala 200 Cidade Universitária CEP: 21949-900 Rio de Janeiro-RJ Caixa Postal 68531 CEP: 21941-972

Em diferentes universidades federais, a regulamentação interna da lei da carreira tem causado prejuízos aos docentes. Especialmente no que diz respeito ao direito de o professor receber proventos retroativos no caso de pedidos de progressão e promoção: os efeitos financeiros ganham como data de referência somente a data em que o processo é homologado (via Comissão Permanente de Pessoal Docente – CPPD - local ou reitoria). Não é o que ocorre na UFRJ. Segundo a resolução nº 08/2014 do Consuni, o docente faz jus à concessão de sua promoção/progressão, preenchidos os requisitos elencados, a partir da data da solicitação. E, para fins de contagem do interstício visando a promoção/progressão posteriores, os efeitos não financeiros na Carreira podem ter vigência anterior à data do protocolo do pedido, desde que cumpridos pelo interessado os requisitos definidos na resolução. A exceção seria para os docentes que completaram dois anos de interstício no nível 4 da Classe D, com a denominação de Professor Associado, da Carreira de Magistério Superior ou no último nível da Classe D IV da Carreira de Magistério do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico até a data de publicação daResolução no Boletim da UFRJ, em 18 de setembro. Eles teriam um prazo de 60 dias após a publicação para apresentar o pedido de promoção, o qual, se aprovado, teria seus efeitos a partir da data em que o docente tivesse completado o referido interstício. Os docentes ainda com dúvidas podem procurar o plantão jurídico da Adufrj-SSind, que retoma o atendimento normal a partir de 7 de janeiro. Marcações de horário devem ser feitas com a Secretaria da Seção Sindical.

Adufrj-SSind

Plano de saúde

Desde agosto do ano passado, a Adufrj-SSind possui um convênio com a Unimed. A tabela dos valores, com o mais recente reajuste anual da operadora, já pode ser conferida em http://migre.me/n9z04. O próximo aumento só vai ocorrer em dezembro de 2015. Há carência zero para as adesões até este dia 29 de dezembro, mês de aniversário do contrato (menos para doenças pré-existentes) – neste caso, os professores poderão utilizar o plano a partir de 10 de fevereiro de 2015.

Agendamento

Para mais informações sobre o plano de saúde, entre em contato com o telefone 994-110-361 e 976-866-793 ou pelo e-mail convenio.unimed@ adufrj.org.br. Tel: 2230-2389, 3884-0701 e 2260-6368

Diretoria da Adufrj-SSind Presidente: Cláudio Ribeiro 1ª Vice-Presidente: Luciana Boiteux 2ª Vice-Presidente: Cleusa Santos 1º Secretário: José Henrique Sanglard 2º Secretário: Romildo Bomfim 1º Tesoureiro: Luciano Coutinho 2ª Tesoureira: Regina Pugliese CONSELHO DE REPRESENTANTES DA ADUFRJ-SSIND Colégio de Aplicação Renata Lúcia Baptista Flores; Maria Cristina Miranda Escola de Serviço Social Mauro Luis Iasi; Luis Eduardo Acosta Acosta; Henrique Andre Ramos Wellen; Lenise Lima Fernandes Faculdade de Educação Claudia Lino Piccinini; Andrea Penteado de Menezes; Alessandra Nicodemos Oliveira Silva; Filipe Ceppas de Carvalho e Faria; Roberto Leher Escola de Comunicação Luiz Carlos Brito Paternostro Faculdade de Administração e Ciências Contábeis Antônio José Barbosa de Oliveira Instituto de Economia Alexis Nicolas Saludjian Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional Cecilia Campello do Amaral Mello Faculdade Nacional de Direito Mariana Trotta Dallalana Quintans; Vanessa Oliveira Batista Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Eunice Bomfim Rocha; Luciana da Silva Andrade; Sylvia Meimaridou Rola; André Orioli Parreiras Escola de Belas Artes Patrícia March de Souza; Carlos de Azambuja Rodrigues Faculdade de Letras Gumercinda Nascimento Gonda; Vera Lucia Nunes de Oliveira Escola de Educação Física e Desportos Luis Aureliano Imbiriba Silva; Alexandre Palma de Oliveira; Marcelo Paula de Melo; Michele Pereira de Souza da Fonseca Escola de Enfermagem Anna Nery Walcyr de Oliveira Barros; Gerson Luiz Marinho Coppe Vera Maria Martins Salim Escola Politécnica José Miguel Bendrao Saldanha; Eduardo Gonçalves Serra Coordenador de Comunicação Luiz Carlos Maranhão Editor Assistente Kelvin Melo de Carvalho Reportagem Silvana Sá e Elisa Monteiro Projeto Gráfico e Diagramação Douglas Pereira Estagiários Filipe Ferreira Galvão e Samantha Su Tiragem 4.000 E-mails: adufrj@adufrj.org.br e secretaria@adufrj.org.br Redação: comunica@adufrj.org.br Cadernos Adufrj: revista@adufrj.org.br Diretoria: diretoria@adufrj.org.br Conselho de Representantes: conselho@adufrj.org.br Página eletrônica: http://www.adufrj.org.br Os artigos assinados não expressam necessariamente a opinião da Diretoria.


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UFRJ

Bem menos dinheiro para 2015 Arrocho do governo para garantir pagamento dos juros atinge a universidade em plena expansão

Aumento nominal é inferior à inflação Silvana Sá

silvana@adufrj.org.br

O

orçamento da UFRJ para 2015 será aproximadamente 30% inferior ao que a universidade tinha em 2011, considerando a inflação do período. Esta é a conclusão de levantamento feito pelo conselheiro Roberto Leher, representante dos Titulares do CFCH no Consuni. “Nosso orçamento está subdimensionado em quase um terço em relação ao que tínhamos em 2011. Na matriz da expansão, o problema é ainda mais grave. Naquele ano, contávamos com R$ 90 milhões. Para 2015, estamos planejando R$ 40 milhões. Menos da metade, portanto. Não podemos naturalizar que estamos diante de uma situação de calamidade”. O assunto foi abordado durante sessão extraordinária do Conselho Universitário, no dia 18 de dezembro. Na ocasião, foi aprovado o orçamento da UFRJ para o próximo ano. E, embora o parecer da Comissão de Desenvolvimento apontasse para a aprovação da Proposta Orçamentária apresentada pela administração central, não faltaram críticas. Uma delas é que a proposta carece de dados concretos com relação ao número de bolsas em 2015, na área de assistência estudantil. Além disso, ficaram inalterados, em relação a 2014, os valores destinados ao apoio à pesquisa e à extensão. Na sessão, ficou acertado que a UFRJ encaminhará um documento à presidenta Dilma Rousseff, aos ministérios da Educação e do Planejamento, ao parlamento e à Andifes para demonstrar seu descontentamento com o congelamento dos recursos. Outros pontos que farão parte do texto são: o desacordo com a substituição de servidores por terceirizados; a solicitação de reforço para atender à demanda de assistência estudantil; a necessidade de revisão da matriz Andifes com aporte de recursos para o Complexo Hospitalar e novos campi; e a solicitação de uma reu-

Em 2011, eram R$

90 milhões para

iniciativas de expansão da UFRJ. Em 2015, serão apenas

R$ 40 milhões. nião com parlamentares para apoio político à universidade.

Abaixo da inflação

Maria Malta, professora do Instituto de Economia e representante dos Adjuntos do CCJE no Consuni, reforçou que não há aumento real das verbas da UFRJ. “O orçamento, em termos nominais, aumentou 5,39% (de R$ 414,75 milhões para R$ 438,40 milhões). Este percentual está abaixo da inflação desse ano e em um contexto de taxa de juros de 12%”, declarou. “A peça orçamentária mais uma vez nos faz discutir o tamanho do estrangulamento da universidade”. Relator da Comissão de Desenvolvimento do colegiado, o técnico-administrativo José Carlos Pereira reiterou a necessidade de uma discussão mais aprofundada sobre o orçamento participativo (uma pequena parte do dinheiro da UFRJ que é compartilhado entre Unidades e Centros). “Sugerimos a criação de uma comissão composta por um representante de cada pró-reitoria para proporem uma matriz de distribuição dos

recursos do orçamento participativo, que deverá ser apresentada em junho de 2015 ao Conselho Universitário”.

Assistência estudantil em perigo

A estudante Taís Lara Souza Barbas apresentou números que demonstram diminuição de recursos para a já desamparada assistência estudantil: “Para 2014, foram R$ 51 milhões para assistência estudantil. Em 2015, serão R$ 45 milhões para a área (recursos do Plano Nacional de Assistência Estudantil - PNAES). A proposta orçamentária para o próximo ano é de redução de investimentos”, declarou. Ela lembrou aos conselheiros que, na reunião anterior do Consuni, houve o entendimento que a assistência estudantil é central para a universidade. Por isso, a bancada discente, após a votação e aprovação do orçamento, apresentou uma proposição para a UFRJ lançar, no primeiro semestre de 2015,

edital para novas 500 bolsasauxílio e, no segundo semestre, outro edital para mais 500 bolsas. O texto foi aprovado pela maioria dos conselheiros, mas o reitor fez questão de ressaltar de que a iniciativa só será concretizada se a universidade conseguir recursos extras. A própria Superintendência Geral de Assuntos Estudantis (SuperEst) reconheceu em que o aumento dos recursos do PNAES para assistência estudantil é de cerca de 6%, porém, o aumento estimado da demanda é de 20% “o que torna a situação, já ruim, ainda mais crítica”. O órgão declarou que realiza nesse momento a pesquisa Perfil Nacional do Graduando, com objetivo de levantar dados para pressionar o Congresso Nacional na discussão do orçamento.

Cadê o dinheiro?

Uma parte considerável dos recursos da universidade vai para o pagamento de serviços terceirizados. O maior montante é destinado à segurança patrimonial e serviços gerais. O estudante Gabriel Rodrigues chamou atenção para o problema: “Quase 30% do orçamento vão para o pagamento de firmas terceirizadas, mas os trabalhadores não recebem seus salários e as empresas declaram falência. É preciso saber para onde está indo esse dinheiro. Não podemos naturalizar a terceirização. Esses trabalhadores são invisibilizados, especialmente os da limpeza. Isto é problema da universidade”. Silvana Sá - 18/12/2014

O orçamento, em termos nominais, aumentou 5,39% (de

R$ 414,75 milhões

para

R$ 438,40 milhões). Este percentual está abaixo da inflação dos últimos doze meses, de 6,65% (até novembro, segundo o Dieese).

Para

2014, foram

R$ 51 milhões para assistência estudantil. Em 2015, serão

R$ 45 milhões

Conselho Universitário aprovou o envio de um documento ao governo e à Andifes para demonstrar o descontentamento da UFRJ com os recursos previstos para o próximo ano

para a área (recursos do Plano Nacional de Assistência Estudantil - PNAES)


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22 de dezembro de 2014

CONCURSOS DA UFRJ

Mudança ficou para 2015 Sob críticas de vários conselheiros, reitor Carlos Levi consegue modificar obrigatoriedade do Português em um edital de concurso para Titular-Livre. Mas sessão é encerrada sem definir os critérios da alteração Assunto deverá voltar ao colegiado em fevereiro Elisa Monteiro

elisamonteiro@adufrj.org.br

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Conselho Universitário extraordinário do dia 18 virou uma Torre de Babel com a reabertura de discussão quanto à exclusividade do Português nos concursos docentes da UFRJ. A regra foi aprovada pelo colegiado em novembro, mas, sob o pretexto de prejuízo aos certames para cursos de outras línguas da Faculdade de Letras, o reitor Carlos Levi pediu para voltar ao tema. Mas o fez sob protesto de vários conselheiros: Levi conduziu uma votação “contra ou a favor” de alteração da resolução. E ganhou. O detalhe é que os critérios da mudança ficaram para 2015. No início da sessão, o presidente da Comissão de Legislação e Normas (CLN), Segen Estefen, apresentou uma proposta que passava a autorizar a realização de provas para ingresso na carreira do magistério da UFRJ em inglês, espanhol e francês. Com o exame de proficiência em Português em dois anos. A resolução passaria a englobar todos os concursos e não apenas para Titular-Livre, como previsto anteriormente. A própria diretora da Letras, Eleonora Ziller, que ainda por cima é integrante da CLN, afirmou desconhecer a proposta apresentada. O parecer apresentado pelo presidente da comissão trazia apenas a sua assinatura. Sem, portanto, a manifestação dos seis demais integrantes. Questionamentos em relação ao método da administração central para lidar com a questão derrubaram, inicialmente, a matéria da pauta. No entanto, horas depois, uma “nova” formulação voltou à mesa – houve uma reunião emergencial da CLN durante a sessão, o que impediu muitos conselheiros de debater o orçamento (leia mais na página 3). Segundo a nova proposta, apresentada pela professora Eleonora Ziller, ficaria estipulado que as provas “devem ser realizadas em língua portuguesa”. No caso da Faculdade de Letras, para concursos de línguas estrangeiras, outros idiomas poderiam ser previstos, considerando também a Língua Brasileira de Sinais. Mas ficaria autorizada a prova escrita em

língua estrangeira se o candidato assim o solicitar e a Congregação permitir. A certificação em Língua Portuguesa seria antecipada para até seis meses a contar da data de sua admissão, com casos excepcionais não previstos sendo avaliados no âmbito do Conselho de Centro.

Instabilidade institucional

Lilia Pougy (Decana CFCH) criticou duramente o procedimento da reitoria. A decana sublinhou que a resolução pela obrigatoriedade do português foi uma “decisão colegiada, fruto de um amplo debate”. “Não se trata de xenofobia ou coisa do tipo”, disse, “Mas apenas de recepcionar o artigo 13 da Constituição Federal que coloca a língua portuguesa como idioma oficial do Brasil”. Pougy chamou atenção para abertura de precedente perigoso: “A democracia é feita de conflitos. É preciso que quem sabe ganhar também saiba perder”, disparou. “Não precisamos trabalhar com este tipo de instabilidade institucional”, completou. Roberto Leher (Titulares CFCH) questionou, em primeiro lugar, o parecer sem debate na CLN e, em seguida, o método de votação “fica ou muda”, encaminhado pelo reitor. Alegou que, antes disso, seria necessário consultar o Conselho sobre a necessidade de mudar a decisão anterior. Ao alerta de

descumprimento de normas regimentais, Levi restringiu-se a dizer “que estava registrado”.

Internacionalização ou desnacionalização?

Roberto Leher lembrou que foi o médico sanitarista e político Sérgio Arouca (1941-2003) quem garantiu na Constituinte a possibilidade de estrangeiros atuarem na pesquisa brasileira. “Eles são indubitavelmente parte constituinte da universidade”, disse. Mas destacou que a discussão de internacionalização hoje deve ser contextualizada em um novo cenário. Nele, as universidades do Brasil são pressionadas via Capes por meio da imposição de “rankings internacionais”, cujos critérios são, em realidade, inatingíveis para a maioria das instituições de ensino superior. Leher destacou que restrições como a exigência de dezenas de prêmios Nobel, publicações em um número restrito de periódicos, estão entre as razões que levaram a União Europeia a questionar a listagem, que, ao fim e ao cabo, só incluem instituições com financiamentos da ordem de bilhões de reais. Autora da proposta da obrigatoriedade da prova de concurso para o magistério em português, Maria Malta (Adjuntos do CCJE) enfatizou que com apenas 13,9% dos jovens matriculados no ensino superior, estando a maior parte na ini-

ciativa provada, o Brasil ainda tem “um longo caminho a percorrer”. Mesmo para alcançar países vizinhos, como o Chile, onde o percentual equivale a 52%. Para Maria, a mudança no ingresso para universidade, “que hoje traz estudantes de todas as partes do país, revelando o Brasil que existe”, “aumenta a responsabilidade” para contratação de professores. Mais uma vez, a docente reafirmou a importância do domínio do português para atender os alunos. E destacou que é preciso cuidado para não confundir “internacionalização” com “desnacionalização”. “Muitos dos que defendem o uso de uma língua universal ignoram que a dominação também tem expressão na ciência”, alertou. Carlos Eduardo Martins (Adjuntos do CFCH) esteve entre os que defenderam a manutenção da resolução anterior. Em sua avaliação, o esforço para internacionalização não pode se dar em uma ação pontual : “Acabamos de aprovar um orçamento que destina apenas R$ 10 mil para congressos internacionais. De que tipo de esforço de internacionalização estamos falando afinal?”. A sessão foi encerrada sem votar nem a fórmula da CLN, nem a da diretora da Letras. Uma vez que janeiro é mês de recesso do Consuni, a última palavra ficou para a sessão de 12 de fevereiro de 2015. Kelvin Melo - 11/09/2014

Para Roberto Leher (representante dos Titulares do CFCH), as exigências dos “rankings internacionais” são inatingíveis para a maioria das instituições de ensino superior

Eleições para a reitoria vêm aí Consuni referenda comissão organizadora do processo sucessório

F

oi composta, parcialmente, a comissão que coordenará a consulta à comunidade acadêmica para a reitoria da UFRJ em 2015. Os centros e os conselhos superiores, em sua maioria, já escolheram seus representantes. Os nomes foram apresentados na sessão extraordinária do Conselho Universitário, no dia 19 de dezembro. A primeira reunião da comissão já tem data marcada: será em 7 de janeiro, às 10h, na sala anexa ao salão do Consuni, no prédio da reitoria. Pelo Consuni foram indicados: Bruno Souza de Paula (titular) e Roberto de Barros Faria (suplente); Edson Vargas da Silva (titular) e José Carlos Pereira (suplente); Gabriel Souza Zelesco (titular) e Taís Lara Souza Barbas (suplente). Pelo CEG: Renata Baptista Flores (titular) e Claudia Lino Piccinini (suplente); Luiz Solon Gallotti (titular) e Maria Inês Tavares (suplente). Pelo CEPG: Fernando Alves Rochinha (titular) e Marcelo Torres Bozza (suplente); Maria Tereza Mello (titular) e Marcos Roberto Borges (suplente). Pelo Conselho de Curadores: Alberto Gabbay Canen (titular) e Sebastião Amoêdo de Barros (suplente). Pelo CCS, as professoras Diana Maul de Carvalho (titular) e Elizabeth Accioly (suplente). Pelo CCMN, os professores Nelson Quilula (titular) e Glória Regina Braz (suplente). Pelo CCJE, o professor Luciano Coutinho (titular, que será o presidente da Comissão). O CFCH indicou a professora Maria Aparecida Mota (titular) e o professor Elídio Alexandre Borges Marques (suplente). O CLA, CT, FCC e campus UFRJ-Macaé ainda não indicaram professores. Os representantes do corpo técnico-administrativo são: Aluizio Paulino do Nascimento, Aroldo de Jesus, Marcilio Alves, Geraldo Teotonio da Silva, Luciano da Cunha do Nascimento, Paulo Cesar Marinho e Soraya Silveira Rodrigues. Os estudantes ainda não indicaram nomes.


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SAÚDE

Produtivismo mata

Tese de doutorado estudou situação dos docentes da UFRJ e encontrou “carreira doente” Processo de intensificação do trabalho é o grande culpado

áreas de saber; a precarização das condições de trabalho que fazem coexistir na universidade setores de “primeiro e terceiro mundo”; um novo processo de trabalho que exige um profissional polivalente, adequado ao instrumental de novas mídias e ao novo perfil do aluno que se comporta como consumidor; a competição estrutural entre os pares; e os indicadores de produtividade estabelecidos por atores externos ao universo acadêmico. “Alguns elementos que geram o sofrimento já existiam, mas a maioria surge com o novo estilo de gestão da educação”, aponta Alzira.

Filipe Galvão

Estagiário e Redação

T

Muita cobrança, pouca saúde

A motivação para a pesquisa foi política. Da graduação ao doutorado, toda a formação de Alzira foi pela UFRJ. “Senti que era um momento em que eu deveria devolver alguma

Projeto deve seguir

coisa para a universidade”, diz. A ideia surgiu em uma aula do então presidente da AdufrjSSind, Mauro Iasi, professor da própria ESS. “Na aula, eu perguntei do que o movimento organizado dos docentes estava precisando e ele me disse que precisavam conhecer um pouco mais da saúde do professor”, relembra. A partir daí, Alzira entrevistou seis professores de três unidades diferentes — a ética da pesquisa garante o anonimato das fontes e dos lugares. E, depois de identificados os agentes desencadeadores de doença na carreira (processos de privatização e mercantilização da educação), a divisão foi feita entre unidades que concordavam, neutras e as que não concordavam com o processo de transfiguração da educação em mercadoria. Assim também foi possível comparar os efeitos (ao fim, iguais, todos estavam

Alguns elementos que geram o sofrimento já existiam, mas a maioria surge com o novo estilo de gestão da educação

rabalho é suplício. Etimológico e concreto. Enquanto o sofrimento da palavra (do latim “tripaliu”) vem de um instrumento de tortura romano, o sofrimento prático diz respeito às relações de opressão e dominação. Nem professor escapa. É o que conclui Alzira Guarany em sua tese de doutorado “Trabalho docente, carreira doente” que analisou os impactos na saúde dos docentes da UFRJ. A tese, defendida na Escola de Serviço Social no dia 9 de dezembro sob a orientação do professor Eduardo Mourão Vasconcelos, analisa o histórico do avanço do capitalismo no campo da educação. Até meados do século passado, a carreira de professor ainda habitava outro espaço na dinâmica do trabalho, sendo considerada uma vocação, e não uma atividade laboral. Um lugar no qual o docente era valorizado por seu tempo de reflexão e análise. Em sua tese, a professora identifica as crises do capitalismo como o motivador que transformou os setores de produção imaterial como educação e saúde em fatias a serem devoradas pela burguesia internacional.

Alzira Guarany Recém-doutora pela Escola de Serviço Social

doentes) entre os que aceitavam e os que não aceitavam. Foram mais de cem folhas de transcrição de entrevista. As histórias de vida chocam. Há a professora que trabalhava tanto a ponto de não ter tempo de perceber que já tinha quatro cânceres no corpo. Ou a do infarto que matou o professor que mal se alimentava ou dormia para dar conta do volume de trabalho. Fora depressão, patologias de pele, alteração da taxa de colesterol. A fragilização da saúde física e mental dos docentes depois dos anos 90 é pura barbárie. “Essa intensificação irracional do ritmo de trabalho não respeita o sofrer e o prazer: é aí que surge a possibilidade do adoecimento”, diz Alzira. Os elementos que deterioram a saúde dos docentes elencados na tese são: as parcerias público-privadas que não respeitam o ritmo das diferentes

Por enquanto, a reitoria ainda não procurou Alzira para estudar de que maneira a tese pode ajudar a proteger a saúde de seus quadros. A expectativa é que a pró-reitoria de Pessoal (PR-4) convide a doutora para conversar já que a professora Silvia Jardim, que faz parte da pró-reitoria, participou da banca. Alzira listou três caminhos possíveis e complementares para entender mais a fundo o impacto na saúde dos docentes da UFRJ. Os dois primeiros são promover debates sobre eixos temáticos para sensibilizar a comunidade acadêmica e criar grupos de encontro para os professores vulnerabilizados e deprimidos. O outro é mais ousado. Fazer um estudo epidemiológico quantitativo abordando toda a comunidade docente. Assim seria possível saber quantos são, exatamente, os professores doentes. Os problemas da última proposta dão dois: o custo e a urgência. “O tempo de agora é o da denúncia, a situação é seriíssima”, concluiu a doutora.

UFRJ

Escola de Educação Infantil tem eleição homologada A primeira direção eleita para a Escola de Educação Infantil da UFRJ teve a vitória homologada pelo Conselho do Centro de Filosofia e Ciências Humanas no último dia 15. A data da posse só será decidida com a volta do ano letivo em

2015. A duração do mandato da gestão é de quatro anos. Apesar de o pleito contar com uma só chapa, a votação foi adiada a pedido dos professores substitutos para que as propostas fossem melhor debatidas. Os professores pediram

mais espaços de diálogo com a direção sobre as questões de administração e gestão. “Foi uma sugestão deles que a gente acolheu e vai implementar. A ideia é termos reuniões quinzenais”, diz Alessandra Sarkis, diretora eleita.

A chapa “Ressignificar para consolidar” foi eleita com 94,4% dos votos válidos. Segundo Alessandra, a Escola de Educação infantil, que até pouco tempo era creche, pode se tornar um colégio de aplicação. “Nós já somos

educação básica na universidade e a ideia agora é nos consolidarmos como CAp. A partir daí podemos discutir a questão orçamentária com o MEC, que tem uma matriz orçamentária específica para esse setor”, conclui.


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22 de dezembro de 2014

CRIMINALIZAÇÃO DOS MOVIMENTOS

Professora grevista perseguida Dayse Oliveira, da rede estadual, sofre represálias por suas atividades político-partidárias e sindicais Fernando Frazão/ABr - 13/09/2013

Sindicato da categoria entrará com uma representação na Justiça Silvana Sá

silvana@adufrj.org.br

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esde que voltou da licença para disputar o governo do Rio, pelo PSTU, Dayse Oliveira sofre perseguições onde leciona, na Escola Estadual Menezes Vieira, em Niterói. Entre os ataques, estão cartas anônimas que chamam a professora de racista, enviadas à Secretaria Estadual de Educação. Além disso, as notas de seus alunos foram lançadas sem a sua autorização durante o período de greve da categoria neste ano, interferindo frontalmente na autonomia da educadora. Dayse responsabiliza o governo do estado pelos ataques. “Por sua política de plano de metas e meritocracia, pelo autoritarismo”. Para ela, que também é dirigente do Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação (Sepe) de São Gonçalo, está claro que as perseguições ocorrem em represália às suas atividades político-partidárias e sindicais. “Eu tenho uma conduta de oposição à política do governo. Essa meritocracia está acabando com a vida do professor, com a qualidade da educação”, disse. Dayse aplica em sala de aula a Lei 10.639/2003, que tornou obrigatório nas escolas o ensino de história e cultura afro-brasileira e africana. “O racismo são

Além da repressão policial nas manifestações, professores estaduais também sofrem com perseguições em seus locais de trabalho suporta fazer discussões de si próprio. Estão me chamando de racista, querendo dizer que eu sou uma professora negra que só falo sobre negros”. O Sepe entrará com uma representação contra as arbitrariedades cometidas contra a docente e está acompanhando de perto o caso. “Esses ataques agridem a todo o conjunto de professores da rede. Há outros professores sofrendo retaliação após a greve. Isto é muito grave”. Sobre as notas lançadas in-

devidamente, como entendeu que geraria mais prejuízos aos estudantes suspender as notas – eles perderiam o ano letivo – resolveu relevar: “Os alunos não merecem ser penalizados por isso. A própria coordenadoria reconheceu que errou”, alegou. O Sepe-Niterói e o PSTU lançaram notas de apoio à pro essora. Pais e estudantes da escola onde Dayse dá aulas se solidarizaram com a educadora.

Adufrj-SSind rechaça criminalização dos movimentos sociais

Presidente da Adufrj-SSind, Cláudio Ribeiro também manifestou-se sobre o caso: “A criminalização dos movimentos sociais é uma das formas mais perversas de opressão e evidencia o caráter truculento da transição conservadora pós-ditadura empresarial-militar que enfrentamos no Brasil. O movimento docente não se intimidará e seguirá lutando pela garantia de

uma educação pública, laica, de qualidade socialmente referenciada e gratuita. A companheira Dayse representa muitos colegas que sofrem com essa perversa opressão que ganha maiores contornos pelo fato de ser mulher e negra num contexto machista e racista. A Adufrj-Ssind rechaça toda forma de criminalização dos movimentos sociais, do direito à greve, da organização sindical e apoia a luta de todas e todos que seguem se movimentando em prol da construção de uma sociedade justa e igualitária.”

TJ-RJ nega habeas corpus a ativistas Defesa vai levar o caso ao Superior Tribunal de Justiça Samantha Su Estagiária e Redação

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roibidos de participar de quaisquer manifestações até o julgamento, Igor Mendes, Karlayne Moraes (“Moa”) e Elisa Quadros (“Sininho”) são integrantes de um grupo de 23 presos preventivamente, na véspera da final da Copa do Mundo no Brasil, acusados de associação criminosa, lesões corporais, posse de arte-

fatos explosivos, entre outras denúncias. Como noticiado na edição anterior do Jornal da Adufrj, o juiz Flávio Itabaiana pediu prisão preventiva dos três, após participação deles em um ato cultural na Cinelândia, em 15 de outubro, pela educação e contra a violência policial. Apenas Igor foi encontrado e está preso na Penitenciária de Gericinó. Karlayne e Elisa são consideradas foragidas. O Instituto de Defesa dos Direitos Humanos, com os advogados dos indiciados, entrou com pedido de habeas corpus dos ativistas por achar

a decisão desproporcional. Segundo o DDH, a participação dos três não apresentou risco à ordem pública, como alegou o juiz. Porém, na terça-feira (16) o recurso foi negado pela 7ª Vara Criminal do Rio de Janeiro. Apenas o desembargador Siro Darlan votou a favor; os outros dois, Sidney Rosa e Maria Angélica Guedes, indeferiram o pedido. Segundo Lucas Sada (do DDH), a alternativa será levar um pedido de habeas corpus substitutivo para o Superior Tribunal de Justiça, que deve demorar para emitir uma resolução.

Nilo Batista entra na defesa dos acusados

Um dos maiores criminalistas do país, o advogado Nilo Batista vai interpor o recurso ao STJ para que os três réus possam responder ao processo em liberdade. Nilo, que em 1990 foi eleito vice-governador na chapa de Leonel Brizola, ganhou grande notoriedade ao defender presos políticos durante a ditadura militar. O advogado é professor aposentado de Direito Penal da UFRJ e, entre 1985 e 1986, presidiu a seção do Rio de Janeiro da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).

Primeira audiência pública no caso dos 23 ativistas

No mesmo dia 16, ocorreu a primeira audiência pública dos 23 acusados por formação de quadrilha na 27ª Vara Criminal do Rio. Cinco testemunhas de acusação foram ouvidas. Entre elas, dois policiais que dizem ter encontrado mochilas com morteiros durante a prisão de Camila Jourdan e Igor Mendes; a delegada responsável pelo caso, Renata Araújo; e Felipe Brás, ex-integrante da Frente Independente Popular (FIP). No início de 2015, devem acontecer as audiências para ouvir a defesa e, logo após, os réus.


22 de dezembro de 2014

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Painel Adufrj

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Fotos: Internet

estes dias ainda sob a repercussão do relatório da Comissão Nacional da Verdade (CNV), o vínculo dos empresários com o Golpe de 64 é tema secundarizado, escondido mesmo, por razões claras: grupos nacionais e internacionais, burgueses (ainda vivos ou seus herdeiros) que conspiraram para derrubar o presidente Goulart dão as cartas em parte do sistema de poder no Brasil. Os barões da mídia, cabe o destaque, exerceram papel importante na operação que pôs a guarda pretoriana no comando das ações no país e na manutenção do regime. No início deste ano, o site Viomundo publicou entrevista com Fabio Venturini, cuja dissertação de mestrado na PUC-SP tratou precisamente desse tema. O PAINEL ADUFRJ reproduz, agora, algumas revelações de Venturini. Com o Golpe de 64, “a economia nacional foi colocada em função das grandes corporações nacionais, ligadas a grupos internacionais, e o Estado funcionando como grande financiador e impulsionador deste desenvolvimento, desviando de forma legalizada — com leis feitas para isso — o dinheiro público para a atividade empresarial privada”. Para neutralizar a resistência operária ao novo modelo, o governo golpista tratou de quebrar a espinha dorsal do movimento sindical com muita repressão. Foram intervenções, prisões e cassações. O grupo Ultra (distribuição de gás), presidido por Henning Albert Boilesen, foi tratado com muita atenção. O governo alargou o prazo para pagamento de matéria-prima e de

Vida de Professor

DA REDAÇÃO viaturas de distribuição de jornal para ações de buscas da Operação Bandeirante (a Ultragás, do Grupo Ultra, fez o mesmo com seus caminhões de distribuição de gás). Mais tarde, a Folha entregou um de seus jornais, a Folha da Tarde, à repressão. Essa publicação virou uma espécie de diário oficial dos porões.

SEM ESCRÚPULOS. Roberto Marinho

BOILESEN. Empresário e torturador

Globo, Folha e a ditadura recolhimento de impostos, o que equivalia a fazer um empréstimo sem juros, além de outras vantagens. Boilesen, aliás, foi um dos empresários que fizeram caixa para a tortura. Ele comparecia pessoalmente ao DOI-CODI para assistir ao martírio de presos. Foi justiçado por guerrilheiros. Octávio Frias de Oliveira, do Grupo Folha (que edita a Folha de S.Paulo), também esteve na mira dos guerrilheiros. Frias e seu sócio Carlos Caldeira ficaram com o espólio do jornal que apoiou João Goulart, Última Hora. Mas o que motivou o desejo da guerrilha de justiçar Frias foi o fato de que o Grupo Folha emprestou

As pesquisas de Fabio Venturini informam que a empresa mais beneficiada pela ditadura foi a Globo. Roberto Marinho participou da articulação do golpe, fez doações para o Ipes [Instituto de Pesquisas Econômicas e Sociais, que organizou o golpe]. O jornal O Globo deu apoio durante o golpe. Em 1965, a contrapartida foi a concessão dos canais de TV: TV Globo Canal 4 do Rio de Janeiro e Canal 5 São Paulo. As negociatas de Roberto Marinho com a ditadura assumiram proporções que afetam o Brasil até hoje. Diz Venturini: “Na década de 70, a estrutura de telecomunicações era praticamente inexistente no Brasil e foi totalmente montada com dinheiro estatal, possibilitando entre outras coisas ter o primeiro telejornal que abrangesse todo o território nacional, que foi o Jornal Nacional, que só foi possível transmitir nacionalmente por causa da estrutura construída com dinheiro estatal.” No Brasil da ditadura foi montada uma empresa privada, de interesse privado, para ser portavoz governamental.

DITADOR Castelo Branco adulado por Ademar de Barros (então governador de SP), ao centro, e Octávio Frias (à direita)

Em 1985, lembra o pesquisador, quando a ditadura acabou, “Roberto Marinho era dono da opinião pública”. Diego Novaes

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22 de dezembro de 2014

UFRJ Há descontos para alunos, docentes e técnicosadministrativos Silvana Sá

silvana@adufrj.org.br

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cidade do Rio de Janeiro ganhou esta semana uma livraria especializada em publicações das editoras universitárias de todo o Brasil. O espaço foi inaugurado pela UFRJ, em 15 de dezembro, no endereço que abrigava o antigo Bingo Botafogo (ao lado do ex-Canecão). De acordo com o professor Michel Misse, diretor da editora, o novo ponto, de frente para a rua, ajudará a estreitar as relações da instituição com a sociedade. “Para a editora, a livraria é relevante porque cria uma relação mais direta com o público. Antes, ficávamos muito restritos à comunidade acadêmica. Agora, poderemos atingir toda a sociedade”. Ele rememorou o histórico de lutas da UFRJ — movimento que contou com o apoio da Adufrj-SSind (leia quadro) — pela retomada de toda aquela área, só conseguida em 2010, após 40 anos. “Essa obra só foi possível após anos de luta na Justiça. Esses imóveis estavam alienados nas mãos de empresários inescrupulosos. Hoje estamos devolvendo essa área para a cidade”. Misse adiantou, ainda, uma novidade: no segundo piso da livraria, ainda em obras, funcionará a editora. “Nossa produção editorial virá para este prédio até o fim de 2015. Essa é a nossa expectativa”. O sonho de criar a livraria era antigo: “Em 1997, conseguimos abrir nosso primeiro ponto de venda no CCMN. Em 2001, abrimos no Palácio Universitário”, contou emocionada Fernanda Ribeiro, vice-diretora da Editora UFRJ. “Aqui temos representada uma diversidade de saberes e de culturas do Brasil inteiro. Este lugar se transformou em um espaço de divulgação do conhecimento”.

Construção do conhecimento

O reitor Carlos Levi compareceu à abertura da livraria e, junto do vice-reitor Antonio Ledo, do diretor Misse e do coordenador do Fórum de Ciência e Cultura, Carlos Vainer, descerrou a placa de inauguração do lugar. “Este é um momento muito simbólico de retomada do espaço público. Nesta época de festas de fim de ano, a cidade ganha um grande presente”, disse Levi. Para ele, a Livraria UFRJ assume uma tarefa nobre: “Este é um espaço de articulação entre as editoras universitárias de todo o país. Embora muitas obras não tenham apelo comercial, e por isso não sejam encontradas nas livrarias convencionais, são produções de extrema importância para a

Editora da universidade inaugura livraria

Fotos: Marco Fernandes - 15/12/2014

Espaço fica localizado na rua Lauro Müller, 1A, em Botafogo

Ronaldo Lima Lins, emérito da Letras, prestigiou abertura da livraria

construção do conhecimento”. A “Esquina Carioca de Arte, Cultura e Ciência” seguirá em expansão. De acordo com o professor Vainer, no curto prazo será lançado um café em área contígua à livraria. A última etapa de constituição da “esquina”, que já conta com a Casa da Ciência e, agora, com a livraria, será a recuperação e abertura do lugar onde funcionou a antiga casa de espetáculos.

Seis mil títulos à venda

Com seis mil títulos catalogados à venda, a Editora UFRJ dá um grande passo em direção à disseminação do conhecimento científico. A Livraria, que ocupa espaço de 200m2, fica na Av. Lauro Müller, 1A, Botafogo. Foi financiada com recursos da Fundação de Amparo à Pesquisa do estado (Faperj), por meio do Edital de Apoio às Editoras Universitárias do Rio de Janeiro. Para alunos, professores e técnicos-administrativos da UFRJ, há desconto de 20% nos livros da própria editora. E de 10% nos títulos das demais editoras universitárias.

Ciência e arte

A professora Maria Malta, do Instituto de Economia, o professor Bruno Borja, da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro e pesquisador do LEMA-UFRJ, e o estudante de mestrado da Faculdade de Letras, Heyk Pimenta, fizeram apresentações poéticas durante a inauguração. Foram lidos textos de Pablo Neruda, Manoel de Barros, Torquato Neto, além de poesias de autoria dos próprios Bruno e Heyk. “Estamos aqui para reivindicar espaço para a literatura, tanto como linha editorial, quanto para publicação das artes literárias”, afirmou Bruno Borja. Heyk completou: “Hoje, a editora só trabalha com produção científica. Temos muita produção literária nas universidades”.

Heyk Pimenta foi um dos que fizeram leitura de poesia

Visitantes têm seis mil títulos à disposição

Seção Sindical participou da luta de retomada daquela área Ao longo de 2010, a Adufrj-SSind lutou pela retomada do espaço ocupado pela antiga casa de espetáculos e, claro, também do terreno ocupado pela ex-bingo. Entre outras atividades, a entidade organizou dois grandes atos com o lema “O Canecão é nosso”. Velha Guarda da Portela, Orquestra Céu na Terra, Cia. de Folclore do Rio de Janeiro, Teresa Cristina, entre outros artistas, embalaram essas mobilizações. Em 2012, durante a greve da UFRJ, os estudantes ocuparam o exCanecão (iniciativa que contou com o apoio da Adufrj-SSind). E não há dúvidas de que aquela ocupação acelerou as medidas que hoje começam a sair do papel.


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