Revista Internacional da Igreja Adventista do Sétimo Dia
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Diálogo sobre
RELIGIÃO Protege a LIBERDADE 14
Nossa maior
força
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Daniel: A bênção
da obediência
Ab r il 2016
A R T I G O
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D E
C A P A
Diálogo sobre religião protege a liberdade
Ganoune Diop
Não podemos construir pontes, a menos que saibamos onde moram os outros crentes.
8 Semelhantes a Jesus V I S Ã O
M U N D I A L
14 Nossa maior força C R E N Ç A S
F U N D A M E N T A I S
Jordan Stephan
Algumas pessoas falam sobre unidade; outras vivem unidas.
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V I D A
A D V E N T I S T A
Dez coisas que aprendi plantando igrejas
Júlio César Leal
Comece pequeno e então cresça.
24 Outro filho nativo H E R A N Ç A
A D V E N T I S T A
Ted N. C. Wilson
A melhor maneira de compartilhar nossa fé e refletir o caráter de Cristo.
12 Uma história para contar
Gibson Caesar e Lael Caesar
É sempre compensador observar a orientação de Deus.
D E V O C I O N A L
Ty Gibson
Uma história épica em sete atos.
SEÇÕES 3 N O T Í C I A S
DO
MUNDO
3 Notícias breves 6 Notícia principal 10 Igreja de um dia
11 S A Ú D E N O Zica vírus
MUNDO
RESPOSTAS 26
PERGUNTAS
A BÍBLICAS
A questão da escravatura
27 E S T U D O B Í B L I C O Daniel: A bênção da obediência 28
TROCA
DE
IDEIAS
www.adventistworld.org On-line: disponível em 10 idiomas Tradução: Sonete Magalhães Costa
Adventist World (ISSN 1557-5519) é editada 12 vezes por ano, na primeira quinta-feira do mês, pela Review and Herald Publishing Association. Copyright (c) 2005. v. 12, nº- 4, Abril de 2016.
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F O T O S
D A
C A PA :
B a n a n a S toc k / T h i n k stoc k
N ot í cias do M u ndo Carolina Félix, Divisão Sul-Americana
Jogador do ano, no Brasil, decide
guardar o sábado J a i m e
C osta
Goleiro choca o mundo do esporte no país.
fotos :
O jovem casal que estava entre mim e a janela do avião, sorriu quando deslizei no meu lugar, na cadeira do corredor. Assim que afivelei meu cinto de segurança, o marido se inclinou para a frente. “Somos Jim e Amy”, disse ele, estendendo a mão. “Estou feliz por estarmos no mesmo voo.” Desacostumado com tal cordialidade vinda de um companheiro de voo, retribuí com um sorriso, e murmurei uma pergunta sobre o motivo de fazerem a viagem de três horas de voo. “Trabalhamos para a InterVarsity Christian Fellowship. Estamos indo a uma convenção”, disse Amy com entusiasmo. “E para onde está indo?” “Tenho um compromisso como palestrante”, disse sem energia. Eu já estava cansado e esperava dormir, por isso não queria iniciar uma conversação teológica. Em minutos, já tinham extraído de mim minha identidade como pastor adventista e editor, e meus planos de pregar em uma reunião campal, longe de onde moro, em Maryland. “Verdade?” perguntaram com os olhos arregalados e visivelmente felizes. “Seria muito incomodo se fizéssemos algumas perguntas sobre sua religião? Sabe, nós nunca nos encontramos com um adventista do sétimo dia ao vivo, e gostaríamos de saber várias coisas.” Assim, desenvolvemos meu assunto preferido nos aviões – um intercâmbio inteligente que variou desde o sábado, a segunda vinda, ao estilo de vida adventista. Falamos até sobre o Espírito de Profecia, depois que alguém sorridente de uns 20 anos de idade, duas fileiras atrás (que obviamente estava ouvindo) sugeriu a Jim e Amy: “Perguntem a ele sobre Ellen G. White!” Três horas mais tarde, após muitas perguntas e oração fervorosa, nos separamos no terminal do aeroporto, com a sensação de termos feito o que Jesus queria que fizéssemos. No mundo há milhares de Jims e Amys, seguidores dedicados de Jesus que agora estão reunidos em alguma outra religião, mas totalmente atentos à voz do grande Pastor. “Ainda tenho outras ovelhas, não deste aprisco; a Mim Me convém conduzi-las; elas ouvirão a Minha voz; então, haverá um rebanho e um Pastor” (Jo 10:16, ARA) diz Jesus. Como ouvirão se não iniciarmos a conversa e não fizermos amizade a fim de compartilhar nossa fé? Ao ler o artigo de capa deste mês de como a Igreja Adventista do Sétimo Dia em geral fala com outras religiões do mundo, ore por aqueles a quem, neste momento, o Espírito está levando para iniciar uma conversa com você!
Esquerda: Carlos Vítor da Costa Ressurreição, 30, diz que não estaria jogando futebol se não fosse por Deus. Direita: Carlos Vítor se alongando durante treino com seu time, o Londrina Esporte Clube.
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m goleiro talentoso do futebol desencadeou uma tempestade no mundo esportivo do Brasil, quando anunciou que não mais irá jogar as partidas marcadas de sexta-feira após o pôr do sol até o pôr do sol de sábado. Carlos Vítor da Costa Ressurreição, 30, foi batizado na Igreja Adventista do Sétimo Dia em dezembro passado. Ele anunciou sua decisão em uma coletiva de imprensa, provocando uma onda de surpresa, simpatia e até de raiva dos fãs e comentaristas esportivos que tentavam compreender sua lógica. Em grande parte, a fúria se deve ao fato de Carlos Vítor ter feito várias defesas importantes no ano passado, quando seu time, o Londrina Esporte Clube, subiu da série C para a série B no Campeonato Nacional Brasileiro, o principal campeonato de futebol no país. Carlos Vítor foi nomeado o jogador do ano, resultando em uma oferta de trabalho em um time da Série A, o Chapecoense, que teria dobrado seu salário. O jogador recusou a oferta de trabalho porque não teria permissão para observar o sábado, como especificado no quarto mandamento, publicou o jornal Lance!
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N ot í cias do M u ndo Além disso, o futuro de jogador está no ar porque vários jogos da Série B serão realizados nas sextas-feiras à noite e no sábado. Seu time anunciou que não renovará seu contrato que termina em maio. Mas Carlos Vítor está seguro em suas convicções, e disse em uma coletiva de imprensa, em 20 de janeiro, que, se não fosse por Deus, ele nem estaria jogando futebol. Um ano antes do seu batismo, ele disse que passou quatro longos meses em casa, em Salvador, Bahia, sem assinar contrato com nenhum time. Durante aquele período, a esposa, Gabriela, foi abordada por uma amiga em um salão de beleza, que ofereceu uma sociedade na fabricação de bolsas. As duas mulheres criaram sua própria marca e iniciaram um negócio que cresceu rapidamente, disse Carlos Vítor. “Em pouco tempo, o lucro ficou maior do que tinha sido meu salário no time de futebol”, disse ele. “Foi naquele
momento que compreendi que Deus tinha várias maneiras de cuidar da minha família.” Após essa realização, Carlos Vítor abandonou os temores de não conseguir um contrato, e começou um processo ao qual chamou de “intimidade com Deus”. Ele começou a estudar a Bíblia e a orar todos os dias. “Minha fé não é fundamentada em palavras de um pastor ou coisa assim”, disse ele. “Estudei a Bíblia e cheguei à conclusão de que preciso crescer espiritualmente.” Ao estudar, ele se convenceu de que sua sogra, Tânia Rocha, que é adventista do sétimo dia, estava certa quando falou com ele sobre o sábado, 12 anos antes. Ele foi batizado no dia 27 de dezembro. A incerteza que Carlos Vítor agora enfrenta pode ser a mesma que enfrentou quando estava sem contrato assinado, há um ano. Mas expressou tranquilidade sobre o futuro quando um repórter perguntou se ele estava
preparado para escolher entre a religião e sua carreira profissional. “Sem dúvida, escolho minha religião”, disse ele. “Muitos outros já vieram antes de mim, me dando essa oportunidade de escolha.” Mas ele não está de braços cruzados. À medida que o relógio marca os últimos dias do seu contrato atual, ele começou um grupo de estudo da Bíblia com os jogadores do seu time. “Estou em paz porque minha vida está nas mãos de Deus”, disse ele. “Quando houver times que respeitem minhas crenças, o esporte sempre será minha opção. Se não, o Senhor já me mostrou no passado que irá cuidar de mim.” A postura de Carlos Vítor tem ganhado a admiração de alguns comentaristas esportivos. “Não sou religioso, mas estou tocado pela decisão do Carlos Vítor”, disse Ayrton Baptista, Jr., blogueiro esportivo do Globo Esporte, um dos sites esportivos mais conhecidos no Brasil. “Sua fé fala alto”. n
Andrew McChesney
nemente com o menear da cabeça. Ele disse que tem pensado sobre os árabes que foram manchetes internacionais por dar a vida pela causa em que acreditam, não importando quão errada essa causa possa ser. “Por que nós que cremos em nossa causa não podemos estar dispostos a dar a vida também? ” disse ele. “Essa é uma causa verdadeira; é a causa de Jesus!” Carlos, Juanita e a filha estão entre as 17 famílias adventistas da América do Sul que chegaram ao Oriente Médio, em fevereiro de 2015. Esses profissionais altamente qualificados abriram mão de um estilo de vida confortável em seus países de origem para passar os próximos cinco anos trabalhando em uma das partes do mundo mais difíceis de compartilhar o evangelho. O ano passado foi preenchido com
Morrer Fé
Dispostos a pela
Casal relata por que se mudou para o Oriente Médio
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randes lágrimas brotam dos olhos de Juanita, enquanto envolve sua filhinha nos braços. No entanto, sua voz permanece resoluta ao falar sobre a possibilidade de morrer pela fé, no Oriente Médio.
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“Quando temos certeza do chamado de Deus e do chamado da igreja é mais fácil ir a lugares perigosos porque sabemos que Deus estará conosco”, disse Juanita. “Ele irá nos ajudar. ” O esposo, Carlos, concorda sole-
A R / Mc C h e s n e y A n d r e w
Juanita e a filha de mãos dadas. Juntas seguram a boneca da filha.
aulas de árabe, planejamento intensivo, e o trâmite complicado de documentos, a fim de os casais avançarem uns centímetros na direção de conseguir postos de trabalho em países de acesso restrito. Seu objetivo é servir como fabricantes de tendas: trabalhar na linha de frente, adventistas autossustentáveis que compartilham a fé no local de trabalho. Juanita e Carlos, ao serem entrevistados, foram muito francos ao falar sobre seus esforços. A Adventist World está usando pseudônimos e não revela o local em que eles estão devido aos riscos do seu trabalho. Lágrimas marejaram os olhos de Juanita quando lhe perguntaram se, como mãe, ela pesou os riscos. Juanita disse que, antes de partir da América do Sul, ela e Carlos assinaram um documento dando a custódia da filha para os avós maternos, caso algo aconteça com eles. Juanita disse não ter dúvidas de que Deus chamou não apenas a ela e ao esposo para servir no Oriente Médio, mas à filha também.
“Deus chamou nós três, como um time, ” disse ela, segurando a filhinha no colo. “O chamado também é para minha filha, embora ela não saiba disso. ” A menina já ajudou os pais a fazer avanços numa cultura em que é muito difícil estrangeiros fazerem amizade com os árabes. Não apenas porque os homens e mulheres sejam totalmente segregados, mas porque os árabes e estrangeiros vivem em seu próprio mundo. Outro dia, Carlos estava brincando com a filha em um parque infantil público, quando suas brincadeiras chamaram a atenção de um pai árabe que tinha uma criança da mesma idade. Os dois homens começaram a conversar e acabaram trocando informação de contato. Logo o novo amigo de Carlos o convidou para um jogo de bola em dupla. “Minha filha está fazendo muitos contatos com as pessoas”, disse Carlos. Os relacionamentos pessoais são muito importantes no mundo árabe, pois a literatura evangelística, reuniões
públicas e outras formas de evangelismo, comuns em outras áreas, são proibidas, dizem os líderes. Em memória recente, nenhum adventista foi morto no Oriente Médio devido à sua fé, disse Homer Trecartin, presidente da União da Igreja Adventista no Oriente Médio e Norte da África. “Recebemos alguns telefonemas de alerta, mas não tenho conhecimento de que alguém tenha morrido”, disse ele. Mas Trecartin fala abertamente aos voluntários em potencial que, se aceitarem o chamado para servir no Oriente Médio, devem estar dispostos a morrer. “Não quero que as pessoas venham nos ajudar só pela aventura e emoção”, disse ele. “Quero que venham porque realmente acreditam que Deus os chamou e eles desejam vir, mesmo que isso signifique nunca mais voltarem para seu país natal.” Todas as famílias autossustentáveis que chegaram ao Oriente Médio, no ano passado, foram selecionadas em um processo que envolveu o exame da Divisão Sul-Americana e a aprovação da União do Oriente Médio e Norte Africano. A Divisão Sul-Americana está cobrindo muitas das despesas dessas famílias até que se estabeleçam e possam trabalhar. Carlos disse que não sabe se Deus teria chamado sua família para fazer o sacrifício supremo. Disse não saber se estão prontos ou não para morrer pela causa do evangelho. Mas acredita que Deus vai prepará-los para quando isso ocorrer e se esse momento chegar. “Sabemos que Deus vai nos dar força para enfrentar qualquer dificuldade”, acrescenta, enquanto sua filhinha que agora desceu do colo da mãe, passeia alegremente pela sala. “Se Ele nos chamar para fazer esse sacrifício, será uma honra, claro! Estamos em paz. Se estamos servindo a Deus e fazendo Sua vontade, estamos felizes!” n
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N ot í cias do M u ndo
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ary Roberts, piloto missionário, tem pilotado aviões dos Estados Unidos para destinos como Filipinas, Angola e América do Sul. Certa vez ele até transportou um bebê elefante para tratamento no Chade. Todas essas experiências prepararam Roberts para a entrega de um avião missionário da Áustria para seu novo lar na Aviação Adventista Indonésia, em Papua, uma viagem complexa que envolveu paradas em cerca de doze países, obter permissão de 17 países, e mais de 80 horas de voo. O voo também era pessoal. Roberts estava pilotando o avião que substituiria a aeronave que caiu havia 20 meses, tirando a vida de seu pai, o piloto missionário veterano, Bob Roberts. Entretanto, não foi apenas o legado do pai que compeliu Roberts a fazer o voo de 16.335 quilômetros sobre o Oriente Médio e sul da Ásia, países conhecidos como janela 10/40 (entre 10 e 40 graus ao norte da linha do equador) que têm o maior nível de desafios sócios econômicos e menor acesso à mensagem do evangelho. “Ainda há muita necessidade em muitos países”, disse Gary Roberts referindo-se aos países sobre os quais voou e orou durante a viagem. “Só peço que continuem orando por eles e pela administração da nossa igreja lá.” Ele também expressou gratidão pelas pessoas do mundo todo que oraram por ele durante a viagem, por vezes perigosa e cheia de contratempos, mas também, com oportunidades para falar de Deus. A aeronave Pilatus PC-6 Porter será usada para a missão de evangelizar a janela 10/40 no sul da Ásia. Aquisição do avião
Parece que os obstáculos sempre acompanham viagens de grande magnitude. Roberts enfrentou o primeiro deles quando fazia a inspeção inicial do avião, em Viena, e encontrou corrosão no motor. “Estava tão ruim que consideramos a possibilidade de enviar o motor para
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Teresa Costello, Divisão do Sul do Pacífico
Piloto missionário faz uma impressionante viagem de .
16 000 Km
Um voo da Áustria à Indonésia leva adiante trabalho o do pai.
uma oficina a fim de que fosse aberto, limpo e inspecionado antes da viagem”, disse a esposa Wendy, que acompanhou de perto o voo, da sua casa, em Papua. O proprietário do avião, residente na Jordânia, cancelou a venda quando soube da corrosão. Mas vários meses depois, ele entrou em contato com os adventistas e ofereceu a aeronave por um preço significativamente baixo, levando em conta que o reparo custaria aproximadamente uns 150 mil dólares. Os adventistas souberam que os documentos do avião não estavam atualizados, e gastaram um tempo considerável para resolver essa questão. Depois disso, Gary Roberts viajou à Jordânia para fechar o negócio. Após a compra, Roberts decidiu levar o avião para sua fábrica, na Suíça, para consertar o problema do motor. “Foi então que aconteceu um grande milagre”, disse a esposa. “Quando ele chegou, colocaram uma câmera de alcance no motor e ele estava limpo!” disse ela. O inspetor da fábrica tinha visto as fotos do motor enviadas pelos adventistas anteriormente, e, assustado, perguntou a Gary Roberts: “Tem certeza de que este motor é o mesmo?” “Nós acreditamos que Deus curou o motor”, disse Wendy Roberts.
Para cima e para longe
Muitos meses se passaram enquanto os adventistas lidavam com a documentação e permissão de importação para levar o avião para a Indonésia. No meio de novembro, Gary Roberts foi a Viena buscar o avião. O plano era se encontrar com seu co-piloto, Dwayne Harris do Serviço Adventista de Aviação Médica das Filipinas, e sair de Viena no dia 19 de novembro de 2015. Harris voou de Manila a Viena, entretanto, se atrasou devido a um passageiro doente. Os dois, então, combinaram de se encontrar em Atenas, Grécia. Harris chegou a Atenas no dia 20 de novembro, e logo soube que Roberts havia se atrasado devido ao visto para a Índia, e só chegaria com o avião dois dias depois. Era vital manter o plano de viagem. Roberts tinha começado a planejar o itinerário e a obtenção das licenças para a viagem, em fevereiro de 2015. Algumas das licenças eram válidas por determinado período de tempo, e qualquer atraso inesperado poderia custar um novo procedimento para a licença. Roberts pousou no dia 22 de novembro, conforme planejado, mas ventos fortes os forçaram a esperar até
Esquerda: Gary Roberts pousa com o novo avião da missão, em Papua, Indonésia, após voo de 16.355 quilômetros. Direita: Gary Roberts com sua esposa Wendy e filha, Cherise, na Aviação Adventista Indonésia, em 8 de dezembro.
o dia seguinte antes de seguir para a próxima parada planejada, no Egito. Cedo na manhã seguinte, 23 de novembro, Roberts e Harris voaram para o Egito com complicações mínimas. Em certo aeroporto na praia do Mediterrâneo, uma mulher que ajudou a reabastecer a aeronave perguntou a Roberts o que ele estava fazendo com o avião. Ele falou que trabalhava para Deus. “Deus?” respondeu ela, surpresa. “E Deus existe?” Roberts se lembrou de que os cristãos têm o dever de falar de sua fé em todo lugar aonde forem. “Nós ainda temos muito trabalho a fazer, mesmo nos países modernos”, disse ele. No dia seguinte, 24 de novembro, os pilotos encontraram uma surpresa: Havia gelo quando voavam sobre a Arábia Saudita, na rota do Egito a Abu Dhabi, Emirados Árabes. “Pensamos que, ao cruzar o deserto, teríamos um clima bom porque é seco”, disse Harris. “Mas foi a pior condição climática de toda a viagem.” Quando atingiu a altitude de 3.050 metros, o avião começou a ser perigosamente atingido por gelo. Os pilotos pediram e receberam permissão para mudar a rota e descer para cerca de 2.750 metros. O tempo ruim e o desvio
fotos :
C o r t e s i a
do
G a r y
Rob e r ts
da rota fez com que o avião pousasse várias horas após o pôr do sol. A última perna
Em Abu Dhabi os dois pilotos se separaram. Harris, que não tinha visto de permanência para a Índia, foi à embaixada da Índia solicitar o documento, e Roberts tomou um voo comercial para a Indonésia para participar das reuniões de fim de ano da União Leste Indonésia, conforme planejando anteriormente, pois ele era delegado. Finalmente, como não foi concedido o visto a Harris, ele voltou para sua casa, nas Filipinas. Roberts retornou a Abu Dhabi após quatro dias. Problemas técnicos atrasaram sua saída em um dia. De lá, Roberts voou quase nove horas para a Índia sob tempo bom. Em seguida foi para Chittagong, Bangladesh. Com o apoio de muitas pessoas, em todo mundo, que oraram pela viagem, Roberts seguiu para Borneou, Tailândia, e de lá, para várias paradas na Indonésia, antes de chegar à sede da Aviação Adventista da Indonésia, no dia 8 de dezembro. Roberts é o primeiro piloto missionário adventista a voar longitudinalmente ao redor do mundo em um avião pequeno. Wendy e Cherise, esposa e filha res-
pectivamente, foram se encontrar com ele na pista. Roberts e a família se mudaram para a Indonésia após a morte do seu pai, para continuar seu trabalho com a Aviação Adventista da Indonésia. O irmão Roberts, o pai de Gary, e um passageiro morreram em 9 de abril de 2014, quando o avião Quest Kodiak que ele estava pilotando teve dificuldade para decolar e bateu em uma ponte no fim da pista, na sede da Aviação Adventista da Indonésia. Gary Roberts agora voa nas mesmas áreas em que seu pai voava. A chegada de um novo avião significa que a Aviação Adventista da Indonésia poderá expandir seu trabalho divulgar o evangelho de maneira prática. O avião será usado para transportar pastores, obreiros bíblicos, missionários e literatura às áreas inacessíveis a veículos. Além disso, o avião funcionará como ambulância, transportando pessoas de áreas remotas para o cuidado médico em cidades maiores. “Oramos para que muitos sejam salvos para eternidade com o apoio dessa aeronave dada por Deus para alcançarmos os que vivem em áreas remotas,” disse Wendy Roberts. Contato: Gary Roberts na medical aviation@gmail.com. n
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M U N D I A L
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m dos versos mais importantes da Bíblia é encontrado em 1 João 4:8: “Aquele que não ama não conhece a Deus, pois Deus é amor.”1 Durante Seu ministério terrestre, repetidamente Jesus ressaltou a importância do amor. Quando Lhe perguntaram: “Qual é o principal de todos os mandamentos? (Mc 12:28), Jesus respondeu com uma passagem muito conhecida de Deuteronômio: “[...] Amarás, pois, o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento e de toda a tua força. O segundo é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Não há outro mandamento maior do que estes” (Mc 12:30, 31). Depois de ter lavado os pés dos Seus discípulos, Jesus lhes disse: “Novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros; assim como Eu vos amei, que também vos ameis uns aos outros. Nisto conhecerão todos que sois Meus discípulos: se tiverdes amor uns aos outros” (Jo 13:34, 35). Em 1 João 4:7 e 8, o amado apóstolo João faz eco desse assunto importante com as seguintes palavras: “Amados, amemo-nos uns aos outros, porque o amor procede de Deus; e todo aquele que ama é nascido de Deus e conhece a Deus. Aquele que não ama não conhece a Deus, pois Deus é amor.” Ele continuou no verso 16: “E nós conhecemos e cremos no amor que Deus tem por nós. Deus é amor, e aquele que permanece no amor permanece em Deus, e Deus, nele. Nisto é em nós aperfeiçoado o amor, para que, no Dia do Juízo, mantenhamos confiança; pois, segundo Ele é, também nós somos neste mundo. No amor não existe medo; antes, o perfeito amor lança fora o medo. Ora, o medo produz tormento; logo, aquele que teme não é aperfeiçoado no amor. Nós amamos porque Ele nos amou primeiro” (v. 16 -19). Um lindo diamante
Como um lindo diamante, Deus é multifacetado. O Deus de amor também é o Deus da verdade. Lemos em Deute-
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Semelhantes Falar a verdade com amor ronômio 32:4: “Eis a Rocha! Suas obras são perfeitas, porque todos os seus caminhos são juízo; Deus é fidelidade, e não há nEle injustiça; é justo e reto.” A imutabilidade do amor de Deus é equilibrada com a imutabilidade de Sua verdade. “Porque eu, o Senhor, não mudo; por isso, vós, ó filhos de Jacó, não sois consumidos”, diz Ele em Malaquias 3:6. Deus não muda, portanto, Sua verdade permanece a mesma. Em Sua oração ao Pai, Cristo declarou: “Santifica-os na verdade; a Tua palavra é a verdade. Assim como Tu me enviaste ao mundo, também Eu os enviei ao mundo” (Jo 17:17, 18). A Palavra de Deus, a Bíblia, é Sua verdade, e por ser Sua verdade, é imutável. Jesus envia Seus fiéis a saírem para fazer brilhar Sua verdade. E pelo fato de Sua verdade andar na contramão do mundo, é muitas vezes recebida com hostilidade e rejeição. No entanto, “o amor é paciente, é benigno; o amor não arde em ciúmes, não se ufana, não se ensoberbece, não se conduz inconvenientemente, não procura os seus interesses, não se exaspera, não se ressente do mal; não se alegra com a injustiça, mas regozija-se com a verdade” (1Co 13:4-6). Falar a verdade em amor
Jesus dá muitos exemplos de como falar a verdade em amor. Um dos mais conhecidos está em João 4, onde Jesus falou com a mulher samaritana, no poço de Jacó. Os judeus evitavam interação com os samaritanos porque, em sua opinião, eles praticavam uma forma de religião impura e distorcida. Mas Jesus alcançou
a todos. Ele sabia que tinha uma obra a ser realizada em Samaria e tinha a certeza de que Deus O guiaria. Além disso, Ele queria dar exemplo para os discípulos, revelando que Seu trabalho iria além das fronteiras de Israel. Quando Jesus Se encontrou com a mulher samaritana, no poço, Ele estava com sede não de apenas um copo com água. Ele desejava curar alma dela. Como Jesus não temia falar da verdade em amor, o encontro que começou com um simples pedido se tornou em dois dias de evangelismo, muito efetivo. Uma conversa difícil
O diálogo entre Jesus e a mulher no poço não foi fácil. Jesus precisava dizer-lhe palavras duras. Ele queria que ela percebesse sua necessidade da água viva que Ele tinha para oferecer. Era preciso mostrar a ela que seu modo de vida até então, a tinha afastado de Deus. Após a mulher ter expressado o desejo de receber a água da vida que Cristo lhe estava oferecendo, Ele gentilmente trouxe sua necessidade à tona. “Disse-lhe Jesus: Vai, chama teu marido e vem cá” (Jo 4:16). Constrangida, a mulher respondeu: “Não tenho marido (v. 17). Quando ela admitiu que não tinha marido, Jesus declarou: “Bem disseste, não tenho marido; porque cinco maridos já tiveste, e esse que agora tens não é teu marido; isto disseste com verdade [...]” (versos 17, 18). A verdade machuca, e a mulher não queria conversar sobre o assunto que ela esperava manter em segredo. Procurando desviar a conversa, ela trouxe à tona uma controvérsia teológica: “Disse a mulher: Senhor, vejo que é profeta. Nos-
Jesus Ted N. C. Wilson
a
espírito e em verdade” (Jo 4:23, 24). Conforme disse Jesus, os verdadeiros adoradores adoram a Deus em espírito e em verdade. Não podemos ter só o Espírito ou só a verdade. Precisamos ter os dois. “Em espírito” significa estar de acordo com o Espírito de Deus e seguir o Seu caminho. A verdade sempre está de acordo com Sua Palavra. É nela que a verdade é definida. Deus está buscando os verdadeiros adoradores, os que adoram em espírito e verdade. Deus é o foco – Ele é a fonte da verdade, e é Seu Espírito que nos leva a adorá-Lo, conhecê-Lo e amá-Lo. Não era um homem comum
sos antepassados adoraram neste monte, mas vocês, judeus, dizem que Jerusalém é o lugar onde se deve adorar” (v. 19, 20). Jesus não descartou sua mudança de assunto imediatamente, mas esperou uma oportunidade de trazer a verdade ao seu coração. “Mulher, podes crer-Me que a hora vem, quando nem neste monte, nem em Jerusalém adorareis o Pai” (v. 21). Jesus foi além e declarou: “Vós adorais o que não conheceis; nós adoramos o que conhecemos, porque a salvação vem dos judeus.” (v. 22). Essa foi uma dura verdade para a samaritana ouvir. No entanto, era importante. Paulo reconheceu essa verdade em Romanos 3:1 e 2: “Qual é, IM A g e m :
L D S
M e d i a
pois, a vantagem do judeu? Ou qual a utilidade da circuncisão? Muita, sob todos os aspectos. Principalmente porque aos judeus foram confiados os oráculos de Deus.” Em Espírito e em Verdade
Quando Jesus falou com a mulher no poço, Ele queria elevar seus pensamentos acima da forma, cerimônia e controvérsia. Ele queria libertá-la da escravidão do pecado e do preconceito. “Mas vem a hora e já chegou, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque são estes que o Pai procura para Seus adoradores. Deus é espírito; e importa que os Seus adoradores O adorem em
A mulher samaritana sentiu que a Pessoa com quem havia falado não era um homem comum. E mesmo tendo sido confrontada com verdades difíceis “sentiu, entretanto, que Ele era seu amigo, compadecendo-Se dela e amando-a. Se bem que a própria pureza que dEle emanava lhe condenasse o pecado, não proferia palavra alguma de acusação, mas falara de Sua graça, que lhe podia renovar a mente.”2 Ao sentir o aceitação amorosa de Cristo, ela se atreveu a abordar a questão em seu coração: “Eu sei, respondeu a mulher, que há de vir o Messias, chamado Cristo; quando Ele vier, nos anunciará todas as coisas” (v. 25). Jesus respondeu imediatamente: “Eu sou o que falo contigo” (v. 26). “Ao ouvir a mulher estas palavras, a fé brotou-lhe no coração. Aceitou a maravilhosa comunicação dos lábios do divino Mestre.” Com o coração cheio de alegria, ela “apressou-se em ir comunicar a outros a preciosa luz que recebera.”3 A verdade como é em Jesus
Hoje Deus tem revelado a verdade para estes últimos dias, a verdade como é em Jesus, em Sua justiça e salvação, em Suas três mensagens angélicas, no Seu serviço no santuário, em Sua mensagem de saúde, e em Seu breve retorno. Como adventistas do sétimo dia, não devemos deixar de contar essas verdades
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menos que seja indicado, todo os textos bíblicos foram extraídos da versão Almeida Revista e Atualizada. G. White, O Desejado de Todas as Nações, p. 189. 3 Ibid., p. 190, 191. 2 Ellen
Ted N.C. Wilson é
presidente mundial da Igreja Adventista do Sétimo Dia.
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Igreja de um dia Carrie Purkeypile,
Maranatha Volunteers International
Resposta de um dia para 12 anos de oração I n t e r n at i o n al
ao mundo. Não é nossa verdade: é a verdade de Deus. Ele quer que essa verdade seja levada a cada pessoa, para que todos se salvem. Somos chamados a falar a verdade em amor, mesmo entre nós mesmos, mesmo quando a verdade é contra nossa cultura, conhecimentos mundanos ou princípios. Nosso discurso e convicções devem sempre ser acompanhados de compaixão por aqueles que podem não concordar conosco, sejam eles da igreja ou não. Devemos compartilhar nossas convicções com base na Santa Palavra e na orientação do Espírito Santo, com amor e compaixão, demonstrando o eterno amor de Cristo agindo em nós. A mensagem confiada ao povo remanescente de Deus é transcultural e eterna conforme indicado em Apocalipse 14: “Vi outro anjo voando pelo meio do céu, tendo um evangelho eterno para pregar aos que se assentam sobre a Terra, e a cada nação, e tribo, e língua, e povo” (v. 6 e 7). Nossa mensagem é tão relevante hoje como quando foi proferida pela primeira vez, na década de 1840. De fato, é mais relevante agora porque a vinda de Jesus está mais próxima. Agora é o tempo para o envolvimento total dos membros da igreja e total fidelidade à Palavra de Deus. Agora é o tempo de estarmos “falando a verdade em amor”, para que “cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo, de quem todo o corpo, bem ajustado e consolidado pelo auxílio de toda junta, segundo a justa cooperação de cada parte, efetua o seu próprio aumento para a edificação de si mesmo em amor” (Ef 4:15, 16). n
Ma r a n at h a V ol u n t e e r s
V I S Ã O
Os membros da igreja chegam para assistir à construção da estrutura de sua Igreja de Um Dia, e fazem almoço para os trabalhadores (quadro). Em poucos meses a construção das paredes do prédio foi completada.
No início da década de 2000 os adventistas em Godzo, Zimbábue, concluíram que necessitavam de um lugar para seus cultos. Reuniram os recursos e iniciaram a construção de quatro paredes. Mas como muitas vezes acontece na zona rural da região sul da África, a construção parou quando chegou a hora de comprar materiais como folhas de metal, vigas e o telhado. As paredes construídas com tanta dedicação e entusiasmo trincaram e caíram sob os efeitos do sol, ventos e chuvas copiosas. As paredes construídas em 2002 nunca foram completadas, nem agraciadas com um telhado, e tudo por falta de recursos. A congregação continuou se reunindo sempre que possível e, mais recentemente, em uma sala de aula alugada da escola pública local. Doze anos após terem começado a construção, chegou a resposta em forma da Igreja de Um Dia. Todos esses anos de oração foram respondidos quando a equipe da Maranatha entrou em Godzo e descarregou a estrutura de metal e o painel sólido de alumínio para o telhado. Os membros da igreja ficaram estáticos! Todos compareceram: para observar, ajudar ou preparar uma refeição de comemoração para a equipe. Apenas um ano depois, a Igreja Adventista de Godzo é um belo edifício, completa, com bancos talhados a mão, janelas e portas brilhantes e acolhedoras. Ao receberem a chance de ter uma estrutura sólida e telhado, os membros não perderam tempo e construíram as paredes da igreja, pela qual oraram por mais de uma década! A ASI e Maranatha Volunteers International colaboram financiando e facilitando projetos de Igreja de Um Dia e Escolas de Um Dia. Desde o lançamento do projeto, em agosto de 2009, foram construídas mais de 4.500 Igrejas de Um Dia, em todo o mundo.
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Peter N. Landless e Allan R. Handysides
P i x aba y
Zica vírus
Há alguma coisa que possamos fazer para ajudar?
Estou preocupada porque minha filha está grávida e todas essas notícias sobre o Zica vírus e os bebês com microcefalia estão me deixando nervosa. Que conselho vocês podem me oferecer?
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Zica vírus foi isolado em 1947 de um macaco Rhesus, na Floresta Zica, próximo a Entebbe, Uganda. A recente explosão da epidemia de infecção pelo Zica vírus no Brasil, e o pico temporariamente associado à incidência de microcefalia e da síndrome de Guillain-Barre (doença paralisante), têm causado tremenda ansiedade e preocupação. As epidemias geralmente têm um “ponto crítico”, quando a taxa de infecção é mais alta que o normal. Com a epidemia do Zica, essa probabilidade corresponde ao aumento do número de mosquitos infectados e, consequentemente, humanos. O vírus pertence à arbo vírus, ou doenças transmitidas por artrópodes, como a dengue. Além disso, e o que é preocupante, o vírus pode ser transmitido pelo contato sexual. Grande número de indivíduos afetados permanece assintomático, tornando o controle mais difícil, porque dificulta a documentação sobre o progresso da doença na comunidade. Os sintomas são os de uma infecção viral, com febre, urticária e dor nas articulações – e podem permitir que a infecção permaneça não detectada. Associada à síndrome Guillain-Barre (paralisia) eleva significativamente a preocupação. O potencial de problemas nos bebês (teratogênico) chamou a atenção mundial. O Zica está associado ao desenvolvimento anormal do cére-
bro (microcefalia) nos fetos, o que mais tarde pode estar associado a convulsões e deficiência de aprendizado. Há muitas dúvidas que ainda não foram respondidas. Por exemplo, se para causar problemas no feto a infecção deve ocorrer em um período específico da gravidez? Qual é a porcentagem de mães infectadas nesse tal período específico, que tiveram os bebês afetados? A proteção prévia à infecção oferece proteção duradoura? Se sim, por quanto tempo? Ainda vamos aprender bastante sobre o Zica vírus agora que sua associação a problemas importantes foi descrita, mas o que podemos fazer agora? Evitar a picada do mosquito é a precaução número um. Isso deve ser especialmente observado pelas grávidas, simplesmente evitando ir a lugares em que se sabe que há mosquitos contaminados com o vírus. No entanto, o problema agora é que os mosquitos do nosso quintal podem estar carregando o vírus. Estão sendo tomadas medidas de saúde pública de limpeza do ambiente e remoção até de pequenas quantidades de água suficiente para a reprodução do mosquito. Isso reduz os números. As pessoas devem considerar dedetizar as paredes das casas por dentro e por fora com inseticidas contendo premetrina para matar os mosquitos. As telas devem ser conferidas e consertadas. As autoridades regionais de saúde precisam considerar a realização de campanhas que incluam a pulverização ou mesmo a introdução de mosquitos machos geneticamente modificados que produzem formas de lavas não viáveis.
Experiências com a malária demonstraram a dificuldade do controle do mosquito. Portanto, evitar a picada é uma estratégia muito importante. São recomendados os repelentes de insetos especialmente os que contêm DEET. No entanto, as mulheres grávidas, devem preferir não expor grandes áreas da pele. Mosquiteiros impregnados com premetrina pode se tornar um hábito mesmo em áreas sem a malária. A preocupação com mulheres grávidas também afeta seus companheiros devido à possibilidade de transmissão do vírus através da relação sexual. O ministro da saúde brasileiro sugeriu que os casais devem inclusive adiar a ideia de ter filhos devido à incerteza presente. A microcefalia pode estar associada à deficiência cognitiva e esse é um desafio para toda a vida. Em longo prazo, a vacina pode se tornar disponível e ajudar a conter a epidemia. Em curto prazo, as questões aqui discutidas são muito importantes. Alguns podem achar que a gravidade do problema esteja sendo exagerada, mas é “melhor prevenir do que remediar.” n
Peter N. Landless, médico cardiologista
nuclear, é diretor do Ministério da Saúde da Associação Geral.
Allan R. Handysides, médico ginecologista aposentado, é ex-diretor do Ministério da Saúde da Associação Geral. Abril 2016 | Adventist World
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D evocional
Uma A
para contar Ty Gibson Ty Gibson
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Bíblia não é um livro-texto de teologia sistemática, nem um manual de revisão de texto, ou um livro de bons conselhos morais. Ao contrário, a Bíblia é uma história. É uma grande narrativa, rica de personagens interessantes em uma saga de amor infinito, perdas horríveis e, finalmente, restauração gloriosa. No centro da história levanta-Se uma figura singular. Cada profecia e parábola, cada canção e símbolo, cada oração por justiça e súplica por misericórdia, cada grito de socorro e anseio por amor, cada episódio e promulgação da história, sussurra Seu nome. Essencialmente, todo o Antigo Testamento diz: Ele virá. Todo o Novo Testamento diz: Ele veio. Uma promessa feita e uma promessa cumprida!Em poucas palavras, essa é a história completa da Bíblia. No Antigo Testamento ouvimos Deus dizendo, meu amor por você será fiel não importa o custo. Não importa qual seja sua postura em relação a Mim, nunca deixarei de amar você.
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Irei até o seu mundo e sentirei a sua dor. Levarei sua vergonha sobre Meu coração. Absorverei o seu pecado com o Meu amor, e destruirei o poder que ele tem para destruí-lo. No Novo Testamento ouvimos Deus dizendo: Veja, estou aqui, e cumprirei cada aspecto do que prometi. Vou amá-lo até o máximo de Mim mesmo. Nem toda a raiva que você jogar sobre Mim poderá sequer empalidecer, ou enfraquecer Meu amor por você. E quando Eu for levantado na cruz por Meu amor abnegado por você, o trarei de volta a Mim. Resumindo a relação dos dois testamentos, Paulo brilhantemente observou: “Porque quantas são as promessas de Deus, tantas têm nEle o sim; porquanto também por Ele é o amém para glória de Deus, por nosso intermédio” (2Cr 1:20). Em Cristo, Deus nos mostrou que Seu amor é fiel e verdadeiro ao cumprir cada promessa que Ele fez por meio dos profetas. A história se desenrola em sete atos épicos: Pré-Criação: Era uma vez, na eternidade, Deus era tudo o que existia. Antes de qualquer criação, no passado eterno, o Deus trino existia em um relacionamento centrado no
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Em suas várias formas e fases de desenvolvimento, a aliança é o juramento de que Deus continuará a humanidade caída apesar de sua rebelião.
amando
amor: Pai, Filho e Espírito Santo, o eterno Três em Um. O Deus da história bíblica não é um egoísta solitário, mas uma amizade desprendida, uma unidade social, uma felicidade perpétua. Deus pode ser definido como a abnegação relacional que constitui a base da realidade. Criação: O universo físico, com todos os seres racionais, nasceu como uma inevitável expressão do amorável caráter de Deus. A criação é simplesmente a demonstração profunda do amor de Deus na forma material. Existimos porque Deus é amor e para amarmos como Deus ama. Psicológica, emocional e biologicamente os seres humanos foram criados para refletir o amor incondicional de Deus, amar aos outros e a Ele em retribuição. A queda: O pecado entrou no cenário na forma de egoísmo, com o desejo de viver para si acima e antes dos outros, gerando assim, desconfiança que levou ao isolamento, e daí para a morte. A queda da raça humana foi basicamente por deixar de amar a Deus e uns aos outros. O pecado não é a quebra de regras arbitrárias impostas por um Deus controlador, mas é antiamor, resultando em colapso relacional. A aliança: Em resposta à queda, Deus permaneceu verdadeiro ao Seu caráter. O conceito-chave da narrativa bíblica é a fidelidade relacional de Deus. À medida que a história toma forma, a palavra que veio para sintetizar a integridade relacional de Deus, é aliança. Em suas várias formas e fases de desenvolvimento, a aliança é o juramento de que Deus continuará amando a humanidade caída apesar de sua rebelião. Ele seguirá Seu plano de nos salvar ao custo de Si mesmo. Para realizar o plano da aliança, Deus estabelece em Israel uma linhagem biológica e teológica por meio da qual Seu coração seria promulgado. Os profetas de Israel se tornaram o canal por onde foram proclamadas uma série de promessas de aliança e profecias, e todas apontavam para Jesus. O Messias: O evento Cristo – Seu nascimento, vida, morte, ressurreição e ascensão – constitui o cumprimento completo da promessa da aliança de Deus. Jesus é o amor de Deus encarnado, aprovado e vindicado eternamente. NEle, a aliança é mantida tanto pelo lado divino do relacionamento como pelo humano. Como Deus, Ele foi relacionalmente fiel à humanidade. Como humano, Ele foi relacionalmente fiel a Deus. Histórica e objetivamente, a salvação foi cumprida em
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Cristo como o cumprimento bilateral e completo da aliança. A Igreja: O corpo de Cristo é a Sua comunidade da aliança. Sua missão é ser testemunha, por meio da proclamação e ratificação, da realidade transformadora do amor de Deus. À medida que a boa notícia sobre a fidelidade de Deus é comunicada ao mundo, salvação, liberação e cura acontecem para cada pessoa que diz sim para a mensagem. A resposta sim é o que a Bíblia chama de “fé”, que é exercitada quando elas reconhecem em Cristo a nova humanidade que abraçaram. Essa é a experiência subjetiva de redenção que há em Cristo Jesus. Recriação: Quando a história bíblica alcançar seu clímax, tudo que é contrário ao amor de Deus será erradicado da realidade. Somente o que é bom e bonito permanecerá por toda a eternidade. A história promete a eliminação do mal e a restauração de todas as coisas à pureza edênica. A humanidade redimida finalmente entrará na eterna bem-aventurança, na integração social que Deus havia planejado desde o princípio. O amor de Deus reinará supremo em cada coração como o único motivo por trás de cada pensamento, sentimento e ação. Esse é um vislumbre de toda a Bíblia, e foi para proclamar essa mensagem ao mundo que Deus levantou o movimento adventista. Nossa estrutura doutrinária só cumpre seu verdadeiro propósito quando realizamos a tarefa de contar essa história. Essa é a história mais encantadora, emocionante e incrível que alguém pode contar, porque é o relato verdadeiro de um Deus que ama cada um de nós, mais do que Sua própria existência, e seria capaz de morrer para sempre a viver sem nós! Se contarmos a história, tanto o nosso povo, como aqueles a quem tentamos alcançar, espontaneamente entrarão na narrativa para desempenhar seu papel. n
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Ty Gibson é o pastor da Igreja Adventista Storyline, em Eugene, Oregon (EUA). É autor de oito livros e codiretor do Light Bearers (Portadores de Luz), um ministério internacional de publicação, ensino e mídia. Abril 2016 | Adventist World
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maior
força
(que sempre consideramos fraqueza)
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o centro no saguão do dormitório masculino da Universidade Walla Walla está um monumento com um verso bíblico encravado: “Como é bom e agradável quando os irmãos convivem em união!” (Sl 133:1, NVI). Os adventistas se oporiam firmemente a uma congregação que não guarda o sábado. Uma igreja que prega uma visão incorreta do estado dos mortos causaria um alvoroço. Mas o que dizer de uma igreja desunida? Isso certamente não estaria nas manchetes da Revista Adventista, estaria? Se a unidade em Cristo é uma crença fundamental de nossa igreja, por que somos tão indiferentes quando nossa unidade é desafiada? Uma ilustração africana
Poucas pessoas viajam à África sem aproveitar a oportunidade de visitar a incrível vida selvagem, singular nessa parte do mundo. Tive a oportunidade de ver muitos animais nesse período em que estou morando no Quênia, desde leões régios aos desajeitados rinocerontes. Dois animais africanos ajudam a provar um ponto importante: zebras e avestruzes. Sem dúvida, esses dois animais não são as estrelas principais dos safaris na África. São animais cujas fotos você apaga quando seu cartão de memória fica cheio para abrir espaço para as fotos de elefantes e leões. As zebras são pouco mais do que belos burros, e é provado cientificamente que os avestruzes não são assustadores. Mas é impressionante a maneira pela qual esses animais interagem. As zebras têm pouca visão, mas superam essa deficiência com uma incrível capacidade de olfato e audição. Por outro lado, os avestruzes, têm os sentidos da audição e olfato defi-
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cientes, mas seus grandes olhos têm uma visão acurada. Os dois animais muitas vezes vão pastar nas mesmas áreas para se proteger mutuamente dos predadores, confiando à outra espécie suas áreas deficitárias. Assim como esses animais trabalham juntos usando o que é forte em cada um, também deveríamos procurar os pontos fortes dos outros para fortalecer nossa igreja como um todo. Mas como isso acontece? Se houvesse uma profissão de destacar os problemas dos outros, muita gente traria um salário gordo para casa. (E se ao ler isso, você pensar em alguém em sua vida, talvez você também receberia um bom cheque). Em nossas igrejas, vemos certa senhora como a melhor pessoa para organizar projetos sociais, ou a vemos como a pior diretora do grupo de louvor todo mês? O adolescente é elogiado por trazer seus amigos à igreja, ou o repreendemos porque seus amigos têm tatuagens e brincos? Como os críticos de cinema e colecionadores de obras de arte que procuram itens originais, somos especialistas em achar defeitos. O que mais nos une
Paulo, em sua carta dos romanos, faz a melhor comparação de como deveria ser a unidade na igreja. “Assim como cada um de nós tem um corpo com muitos membros e esses membros não exercem todos a mesma função, assim também em Cristo nós, que somos muitos, formamos um corpo, e cada membro está ligado a todos os outros” (Rm 12:4, 5).1 Observe o círculo dos membros de sua igreja. Todos sabemos quem têm talento para ser as pernas, disposto a ir aonde quer que Deus enviar. Outros são certamente escolhidos para
UNIdade no corpo
de Cristo
A Igreja é um corpo com muitos membros, chamados de toda nação, tribo, língua e povo. Em Cristo somos uma nova criação. Distinções de raça, cultura e nacionalidade, e diferenças entre altos e baixos, ricos e pobres, homens e mulheres, não devem ser motivo de dissensões entre nós. Todos somos iguais em Cristo, o qual por um só Espírito nos uniu numa comunhão com Ele e uns com os outros. Devemos servir e ser servidos sem parcialidade nem restrição. Mediante a revelação de Jesus Cristo nas Escrituras, compartilhamos a mesma fé e esperança e estendemos um só testemunho para todos. Essa unidade encontra sua fonte na unidade do Deus triúno, que nos adotou como Seus filhos. (Sl 133:1; Mt 28:19, 20; Jo 17:20-23; At 17:26, 27; Rm 12:4, 5; 1Co 12:12-14; 2Co 5:16, 17; Gl 3:27-29; Ef 2:13-16; 4:36, 11-16; Cl 3:10-15) – Crenças Fundamentais dos Adventistas do Sétimo Dia, nº- 14
ser os olhos, abençoados com a habilidade de ver a necessidade das pessoas. Alguns são os ouvidos, com a habilidade de morder a língua e simplesmente ouvir, enquanto outros são as mãos, hábeis para arrumar e curar. Todos nós temos aquele amigo que orgulhosamente afirma ser a boca. A unidade cristã não acontece quando as igrejas cultivam pessoas com as mesmas ideias e com os mesmos dons. Ao contrário, é a diversidade que promove o crescimento unido e saudável. Muitas vezes o que nos une é o que pensamos que nos separa: as diferenças. Uma pergunta para você
Você acha que a Igreja Adventista do Sétimo Dia é desunida? Sim ou não? Muitos adventistas, especialmente da minha geração, diriam que não. Inclusive eu, antes de começar este artigo, teria dito não. Mas recentemente tive uma conversa com um aluno católico, aqui na Academia Maxwell que mudou a minha perspectiva. Após discutir as práticas católicas que acho interessantes, estava curioso para ouvir o que ele pensava sobre os adventistas. Por estudar em uma escola adventista, ele é obrigado a estudar nosso curriculum e comparecer aos cultos no sábado. Perguntei se ele admirava alguma coisa no adventismo. Sua resposta me surpreendeu: “Parece que vocês são muito próximos, como uma família!” Essa conversa serviu para abrir meus olhos. Muitas vezes nos esquecemos de algo sobre nós mesmos, até que alguém observa. É possível que nós, como igreja, sejamos mais unidos do que pensamos ser? Nos últimos dois anos, a unidade de nossa igreja esteve sob tremendo ataque. Os assuntos mais divisórios trazem com eles os oponentes mais ardentes com convicções fortes (até extremas). Sempre vi esse quadro como um sinal de fraqueza da igreja. Mas essa conversa me fez repensar essa postura. Algumas coisas estão sendo mais violentamente sacudidas do que
nossa unidade, e Satanás prioriza as áreas em que ele se sente mais ameaçado, então o que isso diz sobre a unidade de nossa igreja? Seria possível que o inimigo ataque nossa unidade por que ela está na iminência de ser o que temos de mais forte (leia Jo 17:20-23)? É difícil imaginar isso porque tendemos a nos concentrar nas coisas erradas. A unidade cristã não é uma questão de concordarmos um com o outro ou pensar de idêntico modo. Podemos discordar e ainda estar unidos. O ponto da unidade não é estar unidos uns com os outros, mas é estar unidos com Cristo. Ellen White falou sobre isso quando escreveu sobre os discípulos: “Teriam suas provas, suas ofensas mútuas, suas divergências de opinião; mas enquanto Cristo habitasse no coração deles, não poderia haver discórdia. Seu amor levaria ao amor de uns pelos outros; as lições do Mestre conduziriam à harmonização de todas as diferenças, pondo os discípulos em unidade, até que fossem de um mesmo espírito, de um mesmo parecer. Cristo é o grande centro, e eles se deveriam aproximar uns dos outros exatamente na proporção em que se aproximassem do centro.”2 Quando olharmos para Cristo, as coisas que nos dividem hoje logo se desfarão. Essa é a verdadeira unidade e pode ser o ponto mais forte de nossa igreja. Realmente, quão bom e agradável isso seria! n 1 Todos 2 Ellen
os textos bíblicos foram extraídos da Nova Versão Internacional. Usado com permissão. G. White, O Desejado de Todas as Nações (Casa Publicadora Brasileira), p. 296.
Jordan Stephan é aluno do quarto ano de Teologia na Universidade Walla Walla. Ele fez uma pausa de um ano em seus estudos para servir como estudante missionário, no Quênia, onde é o preceptor dos rapazes e professor na Academia Adventista Maxwell (escola de ensino médio). Abril 2016 | Adventist World
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RELIGIテグ Protege a
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DE Igreja Adventista a vida
foto :
B a n a n a S toc k / T h i n k stoc k
Ganoune Diop
ssim que descobrem que represento a Igreja Adventista nas reuniões das organizações ecumênicas cristãs, os adventistas do sétimo dia me fazem mil perguntas: “Qual é exatamente a visão da Igreja Adventista sobre a unidade cristã, relações interdenominacionais e ecumenismo?”, “Por que os adventistas aceitam manter a posição de observador e não de membro nas organizações ecumênicas cristãs?” Minha resposta é simples: é legítimo para todas as pessoas de boa vontade se unirem para salvar e proteger vidas, e para afirmar a importância e santidade da vida. É até urgente que todas as pessoas se unam para fazer deste mundo um lugar melhor para todos os seres humanos, contribuindo com mais saúde, educação, trabalho humanitário com toda dignidade, liberdade, justiça, paz e fraternidade. Todos os serviços e atividades da Igreja Adventista do Sétimo Dia procuram promover a vida, e vida em abundância. No cumprimento da missão da igreja, os adventistas se misturam com outras organizações cristãs. Em relação à sua posição nas organizações mundiais, a Igreja Adventista tem mantido a posição de observadora nas reuniões e está aberta para parcerias com outras igrejas em áreas que não comprometam nossa identidade, missão e mensagem. A regra de ouro é não se filiar a nenhum corpo ecumênico que erradica ou apaga a voz adventista distinta, na questão da soberania de Deus o Criador, o Sábado e a Segunda Vinda de Jesus. Em princípio, os adventistas escolheram não se envolver em alianças doutrinárias com outras igrejas devido à defesa das doutrinas que os adventistas consideram marginalizadas, mudadas ou esquecidas no curso da história da igreja. Portanto, “unidade” não é uma palavra má. Os adventistas valorizam a unidade da mesma forma que Deus a valoriza. A unidade está enraizada na existência de Deus Pai, Deus Filho e
Deus Espírito Santo. Os adventistas promovem a unidade pelo bem da missão, para tornar Cristo conhecido entre todos os grupos de pessoas, línguas, tribos e nações. Os cristãos também podem se unir para tornar o mundo um lugar melhor, promovendo saúde, educação, serviço humanitário, e promovendo e protegendo os direitos humanos. Mas os cristãos devem manter em mente que perderão sua vocação primária se não defenderem nem revelarem os princípios espirituais fundamentados no evangelho eterno. As virtudes teológicas da fé, esperança e amor são soberanas no mandato cristão e um presente para o mundo. Essas virtudes podem ser mais aparentes quando a liberdade religiosa é uma realidade. Para os adventistas, a liberdade religiosa é o antídoto do ecumenismo sincretista e um convite a abraçar a verdade com liberdade de consciência inalienável, liberdade de religião ou crença, liberdade para expressar publicamente suas crenças, liberdade para convidar outros a compartilhar dessas convicções ou de se unir à comunidade religiosa de alguém. O ecumenismo de perto
Há um conjunto discreto de tópicos interrelacionados no campo das relações entre religiões e entre igrejas que necessitam mais clareza na questão da unidade, unidade visível, e ecumenismo. Às vezes, são trazidas outras palavras à conversa como se significassem a mesma coisa. Elas são “colaboração”, “parceria”, e “diálogo entre igrejas (ou entre religiões).” A palavra “ecumenismo” é usada diferentemente em vários contextos. A palavra pode se referir à unidade entre as igrejas cristãs do mundo, mas as pessoas frequentemente a usam para descrever o senso geral de relações cordiais, diálogo, ou parceria em um projeto. Historicamente, o concílio da primeira igreja foi chamado de ecumênico no sentido de que muitas igrejas interagiram para definir a ortodoxia. Esse não
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Delegados do Terceiro Fórum Internacional sobre Religião e Paz, onde líderes do espectro político e religioso de toda Rússia se reuniram, em outubro, no Grande Salão do Hotel Presidente de Moscou. O evento contou com a participação de eruditos, oficiais públicos e líderes religiosos representando as comunidades Ortodoxa, Protestante, Judaica, Católica e Islâmica. Ganoune Diop, diretor de Relações Públicas e Liberdade Religiosa da Associação Geral, representou a Igreja Adventista no evento e está na extrema esquerda da foto.
é o sentido empregado hoje. Algumas denominações, como as igrejas Católica Romana e Ortodoxa Oriental, usam nesse sentido pois creem que sejam responsáveis pela ortodoxia. Mas rotular qualquer parceria entre os cristãos como ecumenismo doutrinário pode ser falta de informação e de estudo, pois via de regra não corresponde à realidade. A honestidade espiritual também é necessária na identificação e avaliação do verdadeiro conteúdo das relações interdenominacionais. Definindo unidade
O conceito de unidade tem um sólido fundamento bíblico e teológico. As bênçãos que Deus intentava conceder por meio de Abraão e seus descendentes foram destinadas a todas as famílias da Terra. Deus quer que todo o Seu povo viva em unidade doutrinária. Isso nunca se materializou entre o Seu povo da aliança, Israel. Por exemplo, nem todos os israelitas acreditavam na ressurreição dos mortos. O Novo Testamento
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menciona que os saduceus não acreditavam que os mortos ressuscitariam. Hoje, entre as igrejas cristãs há uma compreensão diferente sobre unidade. Para os católicos, por exemplo, a unidade inclui o conceito da comunhão dos santos, tantos os vivos como os mortos. Na Enciclopédia Católica a comunhão dos santos é descrita como “a solidariedade espiritual que une os fiéis na Terra, as almas no purgatório, e os santos no Céu em uma unidade orgânica do mesmo corpo místico sob Cristo, seu cabeça. [...] Os participantes nessa solidariedade são chamados de santos pela razão do seu destino [Céu] e da sua participação nos frutos da redenção.” Com esse exemplo em mente, a unidade da igreja cristã mundial só poderia ser uma realidade se todos os cristãos adotassem a visão ou compreensão de realidade católica, ou se todos os católicos abandonassem suas crenças mais profundas. Entretanto, há muitos outros fatores que unem os cristãos, começando com o próprio fundamento da unidade.
A unidade é preciosa ao coração de Deus. Todo o plano da salvação demonstra a determinação de Deus em unir Sua família dispersa e dividida, que Ele criou à Sua imagem. A morte de Jesus teve o propósito de trazer as pessoas à unidade. Em João 17 Jesus orou por unidade para o bem da missão, para que o mundo tivesse fé. O Espírito Santo foi enviado para selar a unidade na missão. Os adventistas e a unidade
Os adventistas se unem a Deus em tudo o que Ele está fazendo para salvar o mundo. Deus evangeliza (Gl 3:8); nós também. Deus está comprometido em unir o mundo inteiro sob a liderança do Salvador Jesus Cristo. Unimo-nos a Deus no cumprimento dos Seus propósitos para exaltar o Deus Filho para que o mundo seja salvo. Os adventistas estão comprometidos em convidar todos os povos a fixar os olhos em Jesus (Hb 12:1, 2). Eles lembram a todos os cristãos sobre o que f O T O S :
B e tt i n a
K r a u s e
constitui o cerne de sua crença desde os tempos apostólicos e que também estava presente no credo cristão mais antigo: a segunda vinda de Jesus. O princípio que informa as relações adventistas a outros cristãos tem dois aspectos inseparáveis: verdade e liberdade religiosa. A cofundadora da Igreja Adventista, Ellen G. White, destaca o assunto no livro Atos dos Apóstolos: “A bandeira da verdade e da liberdade religiosa desfraldada pelos fundadores da igreja do evangelho e pelas testemunhas de Deus durante os séculos decorridos desde então, foi, neste último conflito, confiada às nossas mãos. A responsabilidade por esse grande dom repousa sobre aqueles a quem Deus abençoou com o conhecimento de Sua Palavra. Temos que receber essa Palavra como autoridade suprema. Cumpre-nos reconhecer o governo humano como uma instituição designada por Deus, e ensinar obediên-
cia a ele como um dever sagrado, dentro de sua legítima esfera. Mas, quando suas exigências se chocam com as reivindicações de Deus, temos que obedecer a Deus de preferência aos homens.”1 Os adventistas compreendem sua missão mais fundamentalmente, como demonstrado em seu nome, que destaca a verdade da Segunda Vinda de Jesus como a esperança de o mundo finalmente desfrutar a liberdade da morte e do mal, trazendo com ela justiça e paz. Essas convicções são a razão de os adventistas enfatizarem a Segunda Vinda de Jesus e a mensagem de restauração. Os adventistas compreendem que as palavras de Jesus chamando Seus discípulos de “sal” e de “luz” (Mt 5:13-17) também se aplica a eles. Todo aspecto do envolvimento adventista com qualquer instituição, agência ou organização, seja eclesiástica ou política, está fundamentada prin-
cipalmente na razão da existência da igreja: levar esperança à humanidade que está enredada em todo tipo de mal. Para cumprir essa missão, os adventistas empregam o método de Jesus conforme descrito por Ellen White: “Unicamente o método de Cristo trará verdadeiro êxito em aproximar-se do povo. O Salvador Se misturava com as pessoas como Alguém que lhes desejava o bem. Manifestava simpatia por elas, ministrava-lhes às necessidades e granjeava-lhes a confiança. Ordenava então: ‘Segue-Me.’”2 Jesus observava as pessoas, curava e alimentava sem exigir nada em troca. Ele fez com que soubessem e sentissem que eram livres para escolher seu futuro com ou sem Ele. Liberdade de consciência é importante para Cristo. Sem essa liberdade nenhuma aliança é genuína. Isso porque o amor não pode ser imposto.
Como se
relacionar com outros Ellen G. White, cofundadora da Igreja Adventista do Sétimo Dia, oferece um conselho prático na arte e ciência do relacionamento com os cristãos de outras denominações. A seguir, há três deles. “Quando alguns que têm falta do Espírito e poder de Deus, entram em um novo campo, começam a denunciar outras denominações, pensando que podem convencer as pessoas acerca da verdade por apresentar as incoerências das igrejas populares. Pode parecer necessário em algumas ocasiões falar dessas coisas, mas em geral somente cria preconceito contra nossa obra e fecha os ouvidos de muitos que poderiam de outra maneira ouvir a verdade. Se esses instrutores estivessem intimamente ligados a Cristo, teriam a sabedoria divina para saber como aproximar-se do povo.”1 “Ao entrar em um lugar, não devemos levantar barreiras desnecessárias entre nós e outras denominações, especialmente os católicos, de modo que eles pensem que somos seus inimigos
declarados. Não devemos criar desnecessariamente um preconceito na mente deles, com o ato de fazer-lhes um ataque. Entre os católicos, há muitos que vivem incomparavelmente mais de acordo com a luz que têm, do que muitos que professam crer na verdade presente, e Deus os provará tão certamente como nos tem provado a nós.”2 “Alegamos possuir maior soma de verdades do que as outras igrejas. Porém, se essa convicção não conduzir a maior consagração de nossa parte e a uma vida mais pura e mais santa, de que proveito será? Nesse caso, melhor seria que nunca tivéssemos recebido a luz da verdade do que, professando aceitá-la, não sermos por ela santificados.”3 1 Ellen
G. White, Testemunhos para a Igreja (Casa Publicadora Brasileira), v. 4, p. 536. G. White, Evangelismo (Casa Publicadora Brasileira), p. 144. G. White, Testemunhos Para a Igreja (Casa Publicadora Brasileira), v. 5, p. 620.
2 Ellen 3 E.
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Relações entre igrejas
Os adventistas reconhecem os outros cristãos como genuínos membros do corpo de Cristo. Porém, não participam formalmente de organizações ecumênicas primariamente devido a questões de liberdade religiosa. O fato de ser membro de um corpo ecumênico limitaria a liberdade de compartilhar suas convicções, colocando em risco a missão universal para o tempo do fim, na compreensão adventista. Os adventistas não fazem parte de organizações ecumênicas que requeiram filiação, mas apreciam a posição de convidados ou observadores nas reuniões. A parceria com outras denominações cristãs está em conformidade com a visão da igreja adventista sobre outros cristãos. Ellen White, escrevendo sobre temperança, disse dos líderes de outras denominações: “Há, noutras igrejas,
Os cristãos devem manter em mente que perderão sua vocação primária se não defenderem e não mostrarem os princípios espirituais fundamentados no evangelho eterno. cristãos que estão na defesa dos princípios da temperança. Devemos nos aproximar desses obreiros, abrindo caminho para que estejam conosco lado a lado. Devemos convidar grandes homens, homens bons, para apoiarem nossos esforços em salvar o que se havia perdido.”3 Referindo-se à oração, a Sra. White diz: “Nossos pastores devem tentar aproximar-se dos pastores de outras
denominações. Orar por esses homens e com eles, por quem Cristo está fazendo intercessão. Pesa sobre eles solene responsabilidade. Como mensageiros de Cristo, cumpre-nos manifestar profundo e fervoroso interesse nesses pastores do rebanho.”4 Segundo o conselho acima, a Associação Geral, corpo administrativo da igreja adventista mundial, escreveu no
William G. Johnsson
Líderes Muçulmanos Quando me aposentei como editor da Adventist World, minha vida tomou um rumo inesperado. Jan Paulsen, então presidente da Associação Geral, solicitou que eu me tornasse seu assistente pessoal para desenvolver um diálogo com líderes religiosos do mundo. Meu objetivo seria tornar conhecido para eles, quem é a Igreja Adventista do Sétimo Dia, sua missão e princípios. A nova atribuição, para a qual não havia descrição de trabalho, exigiu viagens frequentes ao Oriente Médio, especialmente ao Reino Hashemita da Jordânia. Durante o curso de muitas visitas, conversei com os principais líderes de estado e religiosos. Alguns desses líderes proeminentes se tornaram amigos íntimos. A interação com esses líderes muçulmanos me causou profundo impacto. Eu tinha muito a aprender e muito a desaprender. Descobri que era fácil fazer contato com eles, mas que não tinham nenhum conhecimento dos adventistas do sétimo dia. Nunca tinham ouvido falar a nosso respeito. Ficaram impressionados ao conhecerem cristãos que não comem carne
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de porco e não consomem bebida alcoólica. A crença bíblica na segunda vinda de Jesus apresenta uma oportunidade interessante para discussão. Esses diálogos de alto nível produziram bons resultados. Eventualmente resultaram na organização de um simpósio denominado “Ensino de Respeito às Religiões.” O evento realizado na universidade de Omã, teve palestrantes islâmicos e cristãos, e foi prestigiado por líderes importantes da nação. Essas experiências me levaram a compreender com mais profundidade a importância do diálogo interdenominacional, que é essencial, especialmente neste tempo de ódio, desinformação e fanatismo religioso. Disse o Mestre: “Bem-aventurados os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus” (Mt 5:9).
William G. Johnsson foi o fundador e editor da Adventist World, e
participou de muitos diálogos interdenominacionais entre 2007-2011.
Livro de Praxes da Associação Geral que os líderes da igreja “reconhecem toda agência que enaltece a Cristo diante dos homens como parte do plano divino para a evangelização do mundo, e [...] mantêm em alta estima os cristãos, homens e mulheres de outras denominações que estão engajados em ganhar pessoas para Cristo.” Rejeitar o ecumenismo
Portanto, a unidade que claramente é a vontade de Deus, não é o princípio supremo. A lealdade à verdade de Deus tem primazia. A Igreja Adventista e várias outras denominações que não se afiliaram a corpos ecumênicos organizados objetam o ecumenismo como doutrina ou como um objetivo para fundir as igrejas cristãs em uma igreja mundial, levando à perda da identidade denominacional. Os adventistas e outros cristãos também não aderem a alianças sincretistas que diminuiriam a importância e o peso da verdade, especialmente quando as crenças de algumas igrejas não estão em harmonia com a verdade revelada na Bíblia. A maior preocupação dos adventistas é de que sejam impedidos de compartilhar suas convicções com qualquer pessoa, independentemente de sua crença religiosa ou filosofia. Essa é fundamentalmente uma questão de liberdade religiosa. Os cristãos não podem questionar o direito de liberdade de religião ou crença, quando até o mundo secular aceitou esse princípio básico de direito humano. Conclusão
Embora consideremos os outros cristãos como irmãos e irmãs em Cristo, o princípio que impede a Igreja Adventista mundial de se tornar membro de uma união organizada de igrejas, como o Concílio Mundial, é a liberdade religiosa, pois ela amplia os direitos irrestritos de compartilhar
as convicções religiosas e o direito de convidar outras pessoas para participar de sua tradição cristã sem ser rotulado e acusado de proselitismo. A igreja adventista apoia a unidade cristã, unindo-se ao Deus trino, que está determinado a reunir as pessoas que criou à Sua imagem. O propósito de todo o plano da salvação é restaurar a imagem de Deus e reunir os que foram salvos por Ele. A unidade está fundamentada em Deus. Foi com esse propósito que Jesus Cristo veio ao mundo: Unir todas as famílias da Terra. A unidade doutrinária entre as igrejas cristãs é ilusória e intangível, a menos que as igrejas percam suas crenças distintivas e se unam a uma das tradições religiosas, seja católica, ortodoxa, anglicana, reformada, evangélica, pentecostal, etc. A liberdade religiosa ou de crença é um presente de Deus, inegociável, e que deve caracterizar a liberdade que cada pessoa ou comunidade cristã possui de compartilhar suas convicções, e de convidar outros a se unirem à sua tradição cristã. Obviamente, para o avanço da missão, os cristãos podem se unir para testemunhar de Cristo a um mundo que necessita urgentemente dEle. n 1 Ellen
G. White, Atos dos Apóstolos (Casa Publicadora Brasileira), p. 68, 69. 2 Ellen G. White,A Ciência do Bom Viver (Casa Publicadora Brasileira), p. 143. 3 Ellen G. White, Testemunhos Para a Igreja (Casa Publicadora Brasileira), v. 6, p. 110. 4 Ibid., p. 78.
Ganoune Diop foi eleito diretor do Departamento de Relações Públicas e Liberdade Religiosa da Associação Geral, na última assembleia da AG, em julho de 2015. Desde 2011 ele ocupava o cargo de diretor associado do departamento e de representante da Igreja Adventista nas relações inter-religiosas e relacionadas às Nações Unidas.
Maneiras 10 pelas quais os
adventistas podem incentivar a unidade
Unidade 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Na visão cristã de cuidado, um Deus trino e pessoal; Em uma nova humanidade, recriada à imagem de Jesus Cristo e com a mente de Cristo; Ao entender nosso chamado em comum para amar a Deus com toda a nossa alma e ao nosso próximo como a nós mesmos; Em reconhecer o verdadeiro conflito espiritual entre o bem e o mal, Cristo e Satanás; No comprometimento com a não violência, paz e pacificação, e com a dignidade e integridade da personalidade de todos; Em servir e aliviar o sofrimento, especialmente dos que têm maiores necessidades econômicas, físicas, sociais e outras; Em promover a temperança, uma vida saudável e recreativa; Em promover a liberdade, igualdade, fraternidade e boa vizinhança; Em proclamar as boas-novas dos ensinos de Jesus (o evangelho; as bem-aventuranças); Em enaltecer Jesus Cristo diante do mundo.
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V ida
A dventista
D
urante minha primeira visita à Europa, muitos anos atrás, tentei doar um folheto a uma pessoa, no metrô. Ela rejeitou. Fiquei chocado. Em meu país natal isso acontece raramente. Tive a impressão de que as pessoas aqui não eram tão receptivas ao evangelho. Então, imaginei: Como posso quebrar as barreiras culturais e chegar ao coração das pessoas? Pouco tempo depois, quando viajava de trem, minha filha de dois anos de idade estava “lendo” um livro sobre o dilúvio e a criação do mundo. Um casal ao seu lado ficou encantado com seu entusiasmo e ouvia atentamente enquanto ela mostrava as figuras e explicava a eles o significado. Quando chegamos ao nosso destino, nos despedimos do casal com um sorriso afetivo e espontâneo, o que em outras circunstâncias, provavelmente não teria acontecido. Esse evento me ajudou a compreender que, se usarmos a “chave” certa alcançaremos o coração dos que aparentemente estão “fechados” à mensagem do evangelho.
Nasce uma igreja
Em 2011 fui para Madri, Espanha, para continuar meus estudos de pós-graduação. Comecei me reunindo com um pequeno grupo de adventistas de fala portuguesa, a maioria deles brasileiros. O grupo, inicialmente organizado em 2008, estava crescendo lentamente e sonhava com um prédio de igreja. Eu me ofereci para ajudar. Começamos nossa campanha com oração, e Deus nos respondeu. O Conselho Europeu de Língua Portuguesa, um ministério de apoio que ajuda a coordenar e promover a criação de igrejas de imigrantes de expressão portuguesa na Europa começou a dialogar com os líderes e pastores da União Espanhola da Igreja Adventista do Sétimo Dia (UEI), e se reuniram para discutir as possibilidades. A Divisão Euro-Africana (hoje Divisão Intereuropeia) liberou recursos para o projeto His Hands (Suas Mãos)* para facilitar a fundação da nova igreja, primeira igreja adventista de expressão portuguesa, na Espanha.
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Júlio César Leal
coisas que aprendi
plantando igrejas Pequeno grupo funda primeira igreja adventista de língua portuguesa, na Espanha.
A igreja e a missão
O Senhor abençoou nossos esforços. Conseguimos, gratuitamente, um local pequeno para realizar nossos cultos, aos sábados. Isso fortaleceu nossa confiança de que Deus estava dirigindo e continuamos a avançar, pela fé. O pequeno grupo foi inaugurado oficialmente no dia 23 de março de 2012. Estiveram presentes representantes da EPA, de Londres e Suíça, bem como os líderes da UEI. A princípio, a frequência semanal oscilava ao redor de 30 pessoas, mas os membros abraçaram com entusiasmo a sua missão de alcançar, quantos fosse
possível, dos 20 mil brasileiros e outros de fala portuguesa, morando em Madri. Eles recebiam e calorosamente davam as boas-vindas a cada visitante do pequeno grupo. A chave para o sucesso
Todos os seres humanos têm necessidades espirituais, e necessidade de desfrutar da companhia de outros. Um grupo cristão genuíno e vibrante, biblicamente orientado, pode ajudar a satisfazer essas necessidades. Uma comunidade de imigrantes como a nossa também pode oferecer assistência F otos :
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A u to r
Esquerda: MEMBROS ALEGRES: Membros da igreja de expressão portuguesa, em Madri. Abaixo: SANTA CEIA: Dois membros da igreja Adventista de expressão portuguesa, em Madri, participam da Santa Ceia.
prática, como prover alimento para os necessitados e ajudar a encontrar trabalho ou lugar para continuar os estudos, ou aprender uma segunda língua. Por meio das reuniões dos pequenos grupos nos lares dos membros, foi desenvolvida uma rede de apoio. Quatro pequenos grupos oravam uns pelos outros, compartilhavam as tristezas, alegrias e sonhos. Eles desenvolveram amizade entre si e falavam de sua fé para os vizinhos, parentes e outros. O fato de almoçarem juntos aos sábados desenvolveu o companheirismo. A espontaneidade e alegria em nossas reuniões sociais e cultos religiosos na igreja criou um ambiente atrativo para as visitas. Um sonho realizado
Os pequenos grupos, visitas aos membros, telefonemas frequentes, estudos bíblicos e vida diária na igreja, alimentou a amizade e a confiança. Quando visitava outras igrejas, contava a história da nossa congregação incipiente. Logo a notícia se espalhou na região, resultando em muita oração e mensagens de incentivo.
Logo os adventistas de outras igrejas começaram a migrar para a nossa congregação. Ex-adventistas e pessoas interessadas em aprender sobre o evangelho também começaram a frequentar. Pouco tempo depois, nosso espaço ficou pequeno e precisamos procurar um lugar maior. Um dia, quando conversava com um irmão da igreja em sua oficina, mencionei que estávamos orando e procurando por um novo local para nossos cultos. Ele me mostrou um local para alugar, em frente à oficina. Era do tamanho que precisávamos, com boa localização, perto de uma estação do metrô, em um bairro de imigrantes brasileiros. Sentimos a direção de Deus. Assinamos o contrato em outubro de 2012. O novo local de reuniões precisava de uma boa reforma. Os membros da igreja voluntariamente ofereceram do seu tempo e também recursos. O local precisava de um segundo banheiro, cadeiras novas, sala para as crianças, atualizar o sistema de som e, sem dúvida, limpeza e pintura. A UEI aprovou a inauguração da nova igreja para o dia 13 de novembro, e a dedicação oficial foi realizada no dia 19 de janeiro 2013. Esses primeiros meses de trabalho duro, suor e lágrimas foram finalmente coroados com o desenvolvimento lento, mas sustentável, da primeira Igreja Adventista de Expressão Portuguesa, na Espanha. Lições Aprendidas
A seguir, 10 lições que aprendi ajudando a plantar essa nova congregação: 1. O sucesso depende da chuva celestial e do suor dos que estão trabalhando. 2. Negociações e formalidades administrativas às vezes podem ser secas, lentas e desafiadoras, mas constituem a maneira inevitável de plantar uma nova igreja. 3. Agradar a todos não deve ser um alvo. Mas respeitar as diferenças de opiniões é sinal de maturidade, sabedoria,
e ajuda a evitar muitos problemas. 4. Palavras de incentivo podem aliviar a alma cansada de alguém e fortalecer sua fé. 5. Deus constantemente usa pessoas fracas, humildes e sem habilidades para nos ensinar a depender dEle. 6. Se usarmos a falta de dinheiro como desculpa para não fazer nada, não compreenderemos que Deus realmente está no controle. 7. A menos que amemos as pessoas, gastemos tempo com elas, e nos esforcemos para estar ao seu lado será impossível compartilhar com elas o nosso conhecimento e experiência com Deus. 8. Todo ministério pastoral está além da capacidade humana, mas com Deus todas as coisas são possíveis. 9. A misericórdia e o amor de Deus para com as pessoas perdidas nos permite ser instrumentos de salvação, independentemente de nossas forças e fraquezas pessoais. 10. Às vezes precisamos desaprender algumas coisas para compreender outras lições que Deus quer nos ensinar. Amor prático
A mensagem central do evangelho é o amor prático. Após ultrapassar as muitas barreiras culturais e artificiais que as pessoas impõem para se proteger, descobrimos corações necessitados de amor e compreensão. Cristãos sinceros podem oferecer amizade genuína, e por meio da qual outros podem ter um verdadeiro encontro com Deus. n * His Hands é uma iniciativa da Igreja Adventista do Sétimo Dia. Para mais informação, visite a página www.adventistvolunteers. org/HisHands/
Júlio César Leal, Ph.D.,
é pastor e tradutor, apoia o ministério das prisões em Madri e é orador do programa 7dayradio (www.sevendayradio.com) e 7Day Media Group. É membro do conselho da Sociedade Teológica Adventista, divisão brasileira, com sede no Instituto Adventista de Ensino do Nordeste (IANE).
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H erança
A D V E N T I S T A
N
os primeiros dez anos da minha vida fui um garotinho, em uma vila de uma grande planície, nas magníficas e onduladas planícies da Grande Savana da Venezuela, América do Sul.
Terra maravilhosa
Meu nome é Gibson Ceasar, sou um dos habitantes originais da minha região: Taurepan, Akawaio. Os habitantes ameríndios falam o idioma pemon e vivem em uma região de beleza esplêndida que compartilham com venezuelanos que falam espanhol, guianeses que falam inglês e brasileiros que falam português. Muitos de nós falamos todas essas línguas europeias e várias outras exclusivas do meu povo. Nossa terra possui formações rochosas antigas e dramáticas chamadas tepuis (ou tepuys) que inesperadamente se erguem do chão da savana, isoladas umas das outras. Elas formam cachoeiras espetaculares, uma das quais, a Ayuantepui, é a fonte da Queda do Anjo, a cachoeira mais alta do mundo, com 979 metros, e 807 metros de altura de queda ininterrupta. Seu rio, o Gauja, possui correnteza muito forte e corre sobre essas cachoeiras. A palavra indígena “Guayana” (“Guyana”) é ampla, para explanar a profusão exuberante dessa região (muitas vezes) inacessível. Seu significado “terra de muitas águas” descreve a fertilidade da terra no interior da Guiana, Suriname, Caiena, Venezuela e Brasil. As florestas profundas dessas terras têm provido muitos jardins botânicos e zoológicos do mundo com flora e fauna exóticas. Os próprios parentes, que falam taurepan, ainda transitam livremente pelas fronteiras internacionais na base do Monte Roraima, onde as fronteiras do Brasil, Venezuela e das Guianas se encontram. Aos dez anos, quando me mudei da minha terra natal para a Guiana, ganhei uma nova terra, língua, nome e vida.
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Outro
filho Há muitas maneiras de se tornar um pioneiro.
Gibson Caesar (com Lael Caesar)
Nativo
Paruima, Waramadong, Georgetown
Paruima é uma aldeia indígena ameríndia, do outro lado da fronteira da Guiana, onde os adventistas do sétimo dia tinham uma escola, e Riley Ceasar era professor. Foi a escola que me atraiu para lá. Mas em pouco tempo o professor Riley e sua esposa Lucy, foram mais longe. Levaram-me para sua casa e me deram seu nome. Na época, não conseguia ver o tamanho desse passo em direção ao futuro que Deus tinha para mim. Dois anos mais tarde, em 1948, nós nos mudamos para a aldeia de Waramadong, onde meu pai foi ser o professor da escola. Mas Papai Ceasar logo percebeu que esse seu filho primogênito precisava de mais estudo além do que conseguiria nas aldeias do interior de Akawaio. Portanto, após cerca de dois anos em Waramadong, ele me enviou para a capital da Guiana, Georgetown. Nessa época ele já não estava tão solitário como quando me adotou como seu primeiro filho. Agora havia quatro filhos: eu, 14 anos de idade; Val, 4; com Theron e Lael logo em seguida. Embora não houvesse escolas adventistas em Georgetown em 1950, havia um professor adventista. Papai Ceasar me deixou aos cuidados de Bruce Dummett. Chega a maturidade
Georgetown ainda não era suficiente para minha sede de aprender e nem para os sonhos de meu pai a meu
respeito. E apenas três meses depois da minha chegada, cruzei o Mar do Caribe, até o Colégio de Formação Caribenho, na ilha de Trinidade, onde tinham estudado os meus pais-professores, Riley e Lucy Ceasar. Passei três anos naquela escola, me preparando para substituir meu pai. Pois foi exatamente isso que o Senhor designou que eu fizesse: voltar para minha terra e fazer história para meu povo nativo. Quando papai Ceasar foi transferido para a Costa Essequibo da Guiana para atuar como pastor, fiquei no seu lugar em Waramadong. Com apenas 17 anos de idade, me tornei o primeiro professor indígena na história do adventismo entre meu povo, na Guiana. No tempo em que eu estudava com papai Ceasar na escola de Waramadong, havia na escola uma menina chamada Anita. Seu pai, William Frederick Kenswil, viajava com frequência. Portanto, para a estabilidade da filha, permitia que passasse parte do tempo aos cuidados do Pr. e Sra. Roy Brooks, missionários que moravam e lecionavam na aldeia de Paruima. O Sr. Kenswil visitava semanalmente a sua filha em Paruima, mas um dia, quando ela tinha 13 anos, ele decidiu que ela deveria ir visitá-lo: “Você está crescendo, minha filha”, disse ele. “Você precisa encontrar um esposo … Gibson, ou talvez alguém como ele.” Aquela foi a única conversa desse tipo que ela teria com seu pai. Ele morreu naquela mesma semana.
Gibson, quarto da direita para a esquerda, com membros da família.
Ao me mudar da minha terra natal para a Guiana, ganhei uma nova terra, língua, nome e vida. Longe, em Trinidade, eu pensava comigo mesmo: “Não tenho ninguém”. A solução seria escrever para a Sra. Brooks. Escrevi pedindo que ela guardasse a Anita para mim. Mas a vida nem sempre é simples assim. Após me tornar professor, percebi que no meu mundo havia mais do que uma jovenzinha charmosa e cristã. Continuei pensando em Ester, que gostava muito de mim, e em Anita, longe, na casa do Pr. Brooks, em Georgetown. Um dia decidi visitar Anita. Foi o suficiente. Uma semana depois o Pastor Brooks trouxe Anita para Waramadong para nos casar, no dia 18 de março de 1954 – minha antiga colega de escola e eu; a garota que, quando tinha 13 anos, o pai a havia incentivado a pensar em mim, poucos dias antes de morrer; a garota que pedi à irmã Brooks para guardar para mim. Impressionante, não é? No mínimo foi engraçado, que F oto :
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nenhum de nós pensou em perguntar a Anita o que ela pensava sobre isso tudo. Para minha alegria, Anita estava totalmente favorável em ter a mim como seu companheiro para vida. Vida Juntos
Lecionei em Waramandong por sete anos, e nos últimos seis anos, Anita estava ao meu lado como professora e esposa querida. Mais tarde nos mudamos para Kako, cerca de oito horas de distância, para abrir uma escola. Kako testou todas as minhas habilidades de líder. Deus me ajudou a persuadir a comunidade da aldeia a me ajudar na construção. Construímos tudo, do quadro-negro nas salas de aulas, aos móveis, e o próprio prédio. A vida depois de Kako
Já fiz muita coisa na vida depois de Kako. Trabalhei na mineração, extração de madeira e muitos anos na agricultu-
ra. O preparo dado pelo papai e mamãe, e os meus anos em Waramadong e Kako, me foram muito úteis. Começando pela Mon Repos School of Agriculture (escola de agricultura), em 1973, onde fui professor de curso profissionalizante, lecionando em oito comunidades do meu povo, locais com nomes indígenas melodiosos como Parauíma, Waramadong, Kamarang, Kako, Jawalla (no Alto Mazaruni), Imbaimadai, Chinauyen, e Philippi. Anita deixou o ensino para se tornar parteira licenciada. Trabalhou de 1973 a 2001, baseada em Waramadong, e alcançou o recorde impressionante de nunca ter perdido um bebê durante os 28 anos como parteira no interior da Guiana. Mas meus anos históricos em Waramadong e Kako nunca serão esquecidos. Deus foi muito bom com este garoto que vagueou pela fronteira internacional em busca de sua família e de um propósito para a vida. Mas ela tem suas tristezas e alegrias. Mas sou grato a Deus por permitir que víssemos sete dos nossos filhos, três meninas e quatro meninos, chegarem à idade adulta e bem. Considerando o sucesso deles, o crescimento da educação adventista entre as comunidades indígenas históricas Davis, na Guiana, e a maneira como Deus tem dirigido minha vida, sempre serei grato pelo privilégio que Ele me concedeu de ser um pioneiro da educação adventista entre meu povo. Do outro lado da fronteira da Terra Prometida no Céu, meus filhos, alunos e eu aprenderemos de Jesus na escola da eternidade. n
Gibson Caesar,
aposentado, agora vive na sua cidade natal, Santa Helena de Uairén, estado de Bolívar, Venezuela.
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R E S P O S T A S
A
P E R G U N T A S
B Í B L I C A S
A questão da Por favor, esclareça a lei da escravatura em Êxodo 21:2-6. Deus não era contra a escravidão?
escravatura
Uma série de leis do Antigo Testamento regulava o tratamento dos israelitas e escravos não israelitas. Vamos ter uma visão geral da escravatura em Israel e discutir a legislação à qual você se refere. 1. A escravidão no Antigo Testamento: Não foi uma instituição social estabelecida por Deus, mas uma prática usual encontrada em todo o antigo Oriente Próximo, incluindo Israel. Não foi prescrita por Deus, mas Ele legislou sobre o assunto para proteger os escravos contra abusos e exploração. Deus não nos arranca de nossa cultura, mas vai aonde estamos e nos torna pessoas melhores. De fato, algumas das Suas leis apontam para um tempo em que não mais haveria escravos (a lei do jubileu). O termo hebraico ‘ebed, traduzido como “escravo”, significa “servo, trabalhador, conselheiro, escravo”, etc. A maioria dos escravos eram prisioneiros de guerra que serviam aos que os haviam derrotado, provavelmente em troca da vida. Em Israel, as pessoas se tornavam escravas devido à pobreza (Lv 25:35, 39) ou por ter cometido um crime (Êx 22:3). Nesses casos eles não eram desvalorizados, mas ainda considerados hebreus (Dt 15:12). O abuso físico que resultasse na perda de um membro (olho por olho, dente por dente) era compensado com a libertação do escravo (Êx 21:26, 27). Os escravos tinham o sábado livre para adorar a Deus (Êx 20:10). Para o pobre, a escravidão não era tão má, pois tinha a garantia de alimento e abrigo; consequentemente se ofereciam voluntariamente para a escravidão a fim de quitar suas dívidas. 2. Um caso legal: Êxodo 21:2-6 é uma jurisprudência que legisla sobre como lidar com alguém que se tornou escravo por motivo de dívida. “Se você comprar um escravo hebreu [...]” Essas pessoas trabalhavam até pagar a dívida. Trabalhavam por seis anos, e no sétimo deveriam ser libertas “sem precisar pagar nada” (v. 2, NVI). São mencionados e regulamentados dois cenários: os que tinham família quando se tornaram escravos por dívida, eram libertados com a família. Se não tivesse família e seu dono lhe desse uma esposa, e tivessem filhos, o escravo era libertado sem a esposa e os filhos. Nesse caso, ele podia esco-
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lher permanecer como escravo se tornando parte permanente da casa. Para isso era necessário tomar um voto diante do Senhor e ter a orelha furada para indicar que aquela pessoa tinha se tornado parte da casa. 3. Significado da legislação: Quando colocada diante do grande contexto da lei do Antigo Testamento, essa legislação defende o bem-estar dos escravos. Primeiro, o Senhor não queria que a escravidão fosse um estado permanente. Era limitada a seis anos. De fato, o redentor podia libertar o escravo pagando suas dívidas. E o sexto ano poderia ser diminuído se durante aquele período houvesse um ano sabático, quando todas as dívidas dos pobres eram redimidas (Dt 15:1-6), ou celebrado o jubileu, quando todos os escravos hebreus eram libertados (Lv 25:10). Segundo, a família dos que eram casados, quando se vendiam como escravos, era cuidada pelo seu senhor. Esse não era um benefício gratuito, mas pago pelo trabalho dos membros da família. Terceiro, após seis anos, o proprietário não podia mandar o escravo embora “de mãos vazias”, mas dar “com generosidade dos animais do seu rebanho e do produto da sua eira e do seu tanque de prensar uvas. Dê-lhe conforme a bênção que o Senhor, o seu Deus, lhe tem dado” (Dt 15:13, 14, NVI). Os ex-escravos tinham direito a um novo começo. Quarto, embora a pessoa que era sozinha, quando escravizada, não pudesse levar com ele a esposa e os filhos, tinha o direito de redimi-los; mas isso era difícil para uma pessoa pobre. Assim, havia disponível uma segunda opção legal: tornar-se parte da casa do proprietário. Sob esse acordo, não teriam que se preocupar com a sobrevivência da família. Obviamente, nada disso era o ideal. Mas em um mundo imperfeito, o Senhor legislou a escravatura para torná-la menos desumana possível e, ao mesmo tempo, anunciava a vinda do jubileu final, quando a escravidão, inclusive a do pecado, terá fim (Lc 4:17-19). n
Ángel Manuel Rodríguez está aposentado após servir a igreja como pastor, professor e teólogo.
E studo
B íblico
Mark A. Finley
B . P r att
Daniel
A bênção da obediência
U
mas das principais características dos heróis da fé é o relacionamento de confiança na bondade de Deus que leva à obediência à Sua vontade. Obediência não é legalismo; é fruto da fé. A vida de Daniel revela as bênçãos de alguém cuja fé o levou a obedecer aos mandamentos de Deus, mesmo pondo em risco a própria vida. O estudo deste mês revela lições de um dos heróis da fé, que podem ser aplicadas à nossa vida diária, para que também possamos receber as ricas bênçãos que Deus deseja derramar sobre todo crente.
1 Que trágico evento ocorrido em Jerusalém é descrito em Daniel 1? Leia Daniel 1:1 e 2. Daniel 1 começa com uma derrota para o Deus verdadeiro. Nabucodonosor, rei da Babilônia, atacou Jerusalém, venceu Judá e saqueou o templo dos judeus.
2 Que instrução Nabucodonosor, rei da Babilônia, deu a um dos seus príncipes, Aspenaz? Leia Daniel 1:3, 4. Nabuchodonosor usou uma estratégia comum em tempo de guerra. Quando invadiu Jerusalém, ele instruiu Aspenaz, um dos seus comandantes, a procurar os jovens mais bonitos, inteligentes e talentosos e levá-los cativos para que fossem educados na Universidade da Babilônia. O plano do rei era fazer uma “lavagem cerebral” nesses jovens, para que fossem enviados de volta como representantes da Babilônia em Jerusalém.
3 Como Nabucodonosor pretendia moldar o modo de pensar desses adolescentes hebreus cativos? Descubra a estratégia do rei em Daniel 1:5 a 7.
4 Qual foi a resposta de Daniel ao convite do rei para comer sua comida e beber seu vinho? Leia Daniel 1:8, 11 a 15. Daniel “decidiu” que serviria a Deus. A palavra “decidiu” também significa “determinar” ou “escolher”. O sábio disse “Sobre tudo o que se deve guardar, guarda o coração, porque dele procedem as fontes da vida” (Pv 4:23).
5 Qual foi o resultado da fidelidade de Daniel? Leia Daniel 1:18-20. 6 Como Daniel enfrentou uma prova semelhante no fim da sua vida? Leia Daniel 6:5-9. Na conspiração dos príncipes, descobrimos que o ciúme leva à inveja, a inveja leva à mentira, e a mentira ao desejo de condenar à morte um homem inocente. O pecado acariciado estrangula toda a bondade. Leva as pessoas a praticar atos que jamais imaginariam ser capazes de realizar.
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Qual foi a resposta de Daniel? Leia Daniel 6:10.
Para Daniel, a oração era um modo de vida. Ele sabia que, se negligenciasse sua vida de oração, perderia sua força espiritual.
8 Como Deus honrou a fidelidade de Daniel? Encontre a resposta em Daniel 6:21, 22, 25-27. Como resultado da fidelidade de Daniel, Deus fechou a boca dos leões, o libertou da cova dos leões e influenciou uma nação inteira para o reino de Deus. É a fidelidade a Deus que leva à obediência e traz consigo as bênçãos do Céu. Essa foi uma realidade para Daniel; e é realidade para cada um de nós também. n
A estratégia de Nabucodonosor incluía mudar o nome dos jovens hebreus, impressioná-los com o esplendor da Babilônia; convidá-los para o banquete em honra aos deuses babilônicos e educá-los na universidade de maior prestígio no país.
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TROCA DE IDEIAS
Todos devemos ser lembrados de que, por Sua morte, Cristo não apenas nos livrou das garras de Satanás, mas devolveu nossa vida. – Shirley Mathieu, Austrália
De leitor a contribuinte
Cartas Mais chegado que um irmão
Muito obrigada a Ángel Manuel Rodríguez pelo belo artigo “Mais chegado que um irmão” (dezembro de 2015). É confortante e inspirador. Todos devemos ser lembrados de que, por Sua morte, Cristo não apenas nos livrou das garras de Satanás, mas devolveu nossa vida. Não mais somos vasos sem esperança, mas filhos do Deus vivo, que em breve estaremos passando a eternidade com nosso querido Jesus. Shirley Mathieu Austrália
Oraçãow
Aprecio ser atualizado mensalmente pela Adventist World. Agradeço a Deus por vocês. Muitos etíopes, como eu, a leem todos os meses. Até recentemente, eu recebia a revista pontualmente. No entanto, não quero ser apenas um leitor. Se for da vontade de Deus, planejo contribuir com um artigo. Bereket Feleke Addis Abeba, Etiópia
Procura o legalismo, encontra a hipocrisia
Muito obrigado por publicar o artigo “Procura o legalismo, encontra a hipocrisia” (novembro de 2015). Esse artigo destaca uma questão sobre a qual todos os cristãos devem estar atentos. Gostaria de também receber uma cópia desse artigo em PDF. Matthew Alexandra Austrália
Reanima e encoraja
Eu os saúdo no maravilhoso nome de nosso Senhor Jesus Cristo. Trabalho como enfermeira profissional em um presídio. Esta revista sempre me anima a seguir em frente com minhas obrigações diárias. Musa Sibisi por e-mail
Como enviar cartas: letters@ adventist world.org. As cartas devem ser escritas com clareza, contendo, no máximo, 100 palavras. Inclua na carta o nome do artigo e a data da publicação. Coloque também seu nome, cidade, estado e país de onde você está escrevendo. As cartas serão editadas por questão de espaço e clareza. Nem todas as cartas enviadas serão publicadas.
GRATIDÃO
Por favor, ore por uma promoção, para que eu não tenha que trabalhar aos sábados, e também para que meu esposo consiga um trabalho. Enid Uganda
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Oro para que Deus me ajude e fortaleça nosso relacionamento, para que eu possa senti-Lo e amá-Lo mais. Ronnie Áustria
Por favor, ore para que eu passe nos exames. Clotilde França Por favor, ore por meus netos para que se dediquem a Deus. Agatha Jamaica
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caminhada mais
eficiente?
Caminhar é bom. Mas caminhar com uma mochila pesada, queima mais calorias e melhora a postura. Uma caminhada de 30 minutos queima cerca de 125 calorias. Mas três caminhadas de 30 minutos por semana, carregando uma mochila pesada, pode queimar 31.200 calorias extras no período de um ano, o equivalente a cerca de 4 Kg de gordura. Uma mochila pesada também promove melhora na postura forçando uma postura ereta, aliviando o trabalho dos músculos das costas. Comece com um peso equivalente a 10 por cento do seu peso corporal (8 Kg para alguém que pesa 80 Kg). Use pesos, tijolos ou sacos de sal. Quando se sentir confortável, aumente o peso. Não carregue mais de 15 Kg. Espere alguma sensibilidade até que seus músculos se acostumem com a nova rotina. Mas você desfrutará dos benefícios desse tipo de caminhada ao realizá-la regularmente, pelo menos três vezes por semana. Fonte: MensHealth.com
Definição de
santos Santos
Os verdadeiros santos, os que certamente ocuparão um lugar especial no Céu, muitas vezes são desconhecidos, não reconhecidos, homens e mulheres simples, cuja vida reflete muito mais o amor de Jesus do que suas palavras. Esses são os santos de verdade. – Larry R. Valorozo, Newfoundland, Canadá
P i x aba y / G e r a r do
Agradeço a Deus por responder às orações. Por favor, ore para terminarmos a construção da nossa igreja, pois estamos lutando contra as dificuldades. Chikunda Namíbia
Rojas
Por favor, ore por mim. Meu esposo está planejando vir visitar meus pais, e eu quero ver meu filho outra vez. Eva Uganda
Oração & Gratidão: Envie seus pedidos de oração ou agradecimentos (gratidão por orações respondidas) para prayer@adventistworld.org. As participações devem ser curtas e concisas, de no máximo 50 palavras. Os textos poderão ser editados por questão de espaço e clareza. Nem todas as participações serão publicadas. Por favor, inclua seu nome e o nome do seu país. Os pedidos também podem ser enviados por fax para o número: 1-301-680-6638; ou por carta para Adventist World, 12501 Old Columbia Pike, Silver Spring, MD 20904-6600, EUA.
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TROCA DE IDEIAS
Estamos
cobertos! Em 14 de abril de 1962, o ministro de educação iraniano assinou um documento que permitia aos adventistas estabelecerem uma escola de ensino médio sob o novo nome: Academia Adventista Iraniana. A primeira turma se formou em 1965. A Academia Adventista Iraniana começou a funcionar como internato para meninos, de ensino médio. Foi anteriormente administrada pela Missão Iraniana em um terreno de três hectares, cerca de treze quilômetros ao norte de Teerã, no sopé das montanhas Alborz. Com exceção das aulas de religião, o currículo foi prescrito pelo Ministério de Educação do Irã. Originalmente, a escola mista de ensino médio foi fundada em 1946, em Darband, por Paul C. Boynton, com o nome de Escola Iraniana de Formação, e sem licença do governo. Após dois anos de funcionamento em Darband, o alto custo do aluguel e outros fatores forçaram a mudança para o prédio da missão, em Teerã. Quando Boynton viajou em férias longas, a Missão Iraniana assumiu a responsabilidade de dirigir a escola até a chegada de C. L. Gemmell, que prosseguiu a obra sob condições políticas adversas, até que a escola foi forçada a fechar, e alguns alunos foram transferidos para o Colégio do Oriente Médio, em Beirute, no Líbano.
ALGUÉM
OUVIU
Não podemos ter espaço para Deus se não damos espaço para nosso próximo. – Thomas Hoffman, Maryland, Estados Unidos
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Fonte: A Natural History of the Senses
Livre da Pólio! Ha r n e i s
54 anos
F l i c k r / J u l i e n
há
Nossa pele compõe cerca de 16% do nosso peso corporal (2,7 – 4,5 quilos), e cobre dois metros quadrados. Em média, um corpo tem cerca de 5 milhões de fios de cabelo.
No ano passado, a Nigéria foi um dos últimos países a completar doze meses sem um único registro de caso de pólio. Somente dois países ainda não erradicaram totalmente essa doença tão temida no passado: Afeganistão e Paquistão. Nos últimos 30 anos, foi investido mais de um bilhão de dólares para oferecer a vacina oral contra pólio a milhões de crianças em todo o mundo. Fonte: The Rotarian
Cure a gripe
naturalmente Está bem, tecnicamente a gripe não pode ser curada. Mas podemos minimizar seus sintomas e nos livrar dela mais rapidamente, com remédios totalmente naturais.
“Eis que cedo venho…”
Nossa missão é exaltar a Jesus Cristo, unindo os adventistas do sétimo dia de todo o mundo numa só crença, missão, estilo de vida e esperança. Editor Adventist World é uma publicação internacional da Igreja Adventista do Sétimo Dia, editada pela Associação Geral e pela Divisão do Pacífico Norte-Asiático. Editor Administrativo e Editor-Chefe Bill Knott Editor Associado Gerente Internacional de Publicação Pyung Duk Chun
Kiwi (fruta): Os micronutrientes do kiwi dourado aumentam a concentração dos eritrócitos nas células vermelhas do sangue, aumentando a imunidade.
Iogurte: Microrganismos probióticos podem amenizar a resposta inflamatória do corpo. Prefira as marcas com “culturas vivas e ativas.”
Comissão Editorial Ted N. C. Wilson, presidente; Benjamin D. Schoun, vice-presidente; Bill Knott, secretário; Lisa Beardsley-Hardy; Daniel R. Jackson; Robert Lemon; Geoffrey Mbwana; G. T. Ng; Daisy Orion; Juan Prestol; Michael Ryan; Ella Simmons; Mark Thomas; Karnik Doukmetzian, assessor legal. Comissão Coordenadora da Adventist World Jairyong Lee, chair; Yutaka Inada, German Lust, Pyung Duk Chun, Suk Hee Han, Gui Mo Sung Editores em Silver Spring, Maryland, EUA André Brink, Lael Caesar, Gerald A. Klingbeil (editores assistentes), Sandra Blackmer, Stephen Chavez, Wilona Karimabadi, Andrew McChesney Editores em Seul, Coreia do Sul Pyung Duk Chun, Jae Man Park, Hyo Jun Kim Gerente de Operações Merle Poirier Colaboradores Mark A. Finley, John M. Fowler
Amêndoas: Os polifenóis, encontrados na pele da amêndoa, são compostos que combatem doenças e que podem aumentar a sensibilidade das células brancas do sangue conhecidas como células T, que combatem os vírus.
Conselheiro E. Edward Zinke Administrador Financeiro Kimberly Brown Assistente Administrativo Marvene Thorpe-Baptiste Comissão Administrativa Jairyong Lee, presidente; Bill Knott, secretário; P. D. Chun, Karnik Doukmetzian, Suk Hee Han, Yutaka Inada, German Lust, Ray Wahlen, Ex-officio: Juan Prestol-Puesán, G. T. Ng, Ted N. C. Wilson Diretor de Arte e Diagramação Jeff Dever, Brett Meliti
Mel: Pesquisas publicadas em Pediatrics, descobriram que comem duas colheres de chá de mel 30 minutos antes de dormir reduziram a frequência e severidade de tosse durante a noite.
Consultores Ted N. C. Wilson, Juan Prestol-Puesán, G. T. Ng, Leonardo R. Asoy, Guillermo E. Biaggi, Mario Brito, Abner De Los Santos, Dan Jackson, Raafat A. Kamal, Michael F. Kaminskiy, Erton C. Köhler, Ezras Lakra, Jairyong Lee, Israel Leito, Thomas L. Lemon, Geoffrey G. Mbwana, Paul S. Ratsara, Blasious M. Ruguri, Ella Simmons, Artur A. Stele, Glenn Townend, Elie Weick-Dido Aos colaboradores: São bem-vindos artigos enviados voluntariamente. Toda correspondência editorial deve ser enviada para: 12501 Old Columbia Pike, Silver Spring MD 20904-6600, EUA. Escritórios da Redação: (301) 680-6638 E-mail: worldeditor@gc.adventist.org
Alho: A alicina é um importante composto que bloqueia as enzimas que causam as infeções bacterianas e virais. Quem não quiser usar o alho na forma natural pode encontrar o extrato de alho envelhecido na maioria das lojas de alimentos saudáveis ou farmácias. Fonte: EatThis.com
Website: www.adventistworld.org Adventist World é uma revista mensal editada simultaneamente na Coreia do Sul, Brasil, Argentina, Indonésia, Austrália, Alemanha, Áustria, México e nos Estados Unidos.
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