AW Português -Outubro 2016

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Revista Internacional da Igreja Adventista do Sétimo Dia

Ou t u b ro 2 01 6

11 Os adventistas e as drogas prescritas 22 Deus restaura corações aflitos 26 O que Jesus disse ao ladrão

Quebrando a

Maldição

Jesus desfaz maldição centenária entre os animistas


Out ub ro 2016

A R T I G O

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D E

C A P A

Quebrando a maldição

Sandra Blackmer

Em Benin, estratégias missionárias de longo prazo estão produzindo resultados.

8 Pronto para responder V I S Ã O

M U N D I A L

A Bíblia tem muito a dizer sobre a morte. E não é bom para a morte.

22 Deus restaura corações aflitos V I D A

A D V E N T I S T A

Kathleen e Jonathan Kuntaraf

Sobrevivendo à tristeza de enterrar um filho. A T U A I S

Merling Alomía

A filosofia da Nova Era não consegue dizer sobre a morte nada a mais do que já sabemos.

12 Ele também sofre

Jesus não tinha medo da morte.

Frank M. Hasel

D E V O C I O N A L

O que há de novo sobre a morte?

Os adventistas não têm nada a temer. Vivemos com esperança.

Gerald A. Klingbeil

Q U E S T Õ E S

Ted N. C. Wilson

F U N D A M E N T A I S

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14 “A morte já não existe” C R E N Ç A S

SEÇÕES 3 N O T Í C I A S

DO

MUNDO

3 Notícias breves 6 Notícia Especial 10 Igreja de um dia

11 S A Ú D E N O M U N D O Os adventistas e as drogas prescritas

27 E S T U D O B Í B L I C O Questões de vida e morte

RESPOSTAS 26

28

PERGUNTAS

A BÍBLICAS

TROCA

DE

IDEIAS

O que Jesus disse ao ladrão

www.adventistworld.org On-line: disponível em 12 idiomas Tradução: Sonete Magalhães Costa Adventist World (ISSN 1557-5519) é editada 12 vezes por ano, na primeira quinta-feira do mês, pela Review and Herald Publishing Association. Copyright (c) 2005. v. 12, nº- 10, Outubro de 2016.

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F O T O

D A

C A PA :

C O R T E S I A

D E

H E N R Y

S T O B E R


Esperança no meio da noite “Visto, pois, que os filhos têm participação comum de carne e sangue, destes também Ele, igualmente, participou, para que, por Sua morte, destruísse aquele que tem o poder da morte, a saber, o diabo, e livrasse todos que, pelo pavor da morte, estavam sujeitos à escravidão por toda a vida” (Hb 2:14-15, ARA).

NOTÍCIAS DO MUNDO

ASI e a igreja

se unem no ETM

Pela primeira vez, presidentes das Divisões comparecem à convenção da ASI*

A

ssentamo-nos silenciosamente na sala de espera da enfermaria pediátrica, ouvindo os ruídos ocasionais que, às duas horas da manhã, interrompem a rotina hospitalar. Esta era mais uma noite de crise: a doença autoimune que afligia a filhinha, de dois anos de idade daquele casal, parecia levá-la ao seu limite, enquanto os médicos e enfermeiros se esforçavam para manter aquela frágil vida. Já há alguns meses, o hospital estava sendo sua segunda casa, mas a criança, primeira filha, continuava lutando pela vida e contra a terrível doença. Era impossível não perceber a dor e o medo na face daquele jovem casal à minha frente. Não era assim que a história deveria terminar: os filhos não deviam preceder os pais à sepultura. Eles viam o fantasma do vazio que a ausência de sua filhinha causaria em sua vida. Assustados com o futuro, questionavam-se se a vida ainda teria sentido. Será que algum dia teriam alegria na vida? Será que seriam felizes outra vez? É em momentos terríveis, mas familiares como esse que a história de Jesus vencendo a morte, relatada nos Evangelhos, soa como uma grande e poderosa promessa. É porque a Bíblia responde ao doloroso enigma do quebrantamento e temor humanos que a fé em Jesus continua a mover o coração de milhões de pessoas em todo o mundo, até mesmo no meio da sua noite. Ao ler esta edição especial e temática da Adventist World, ore pelo desejo de compartilhar o que você sabe sobre a esperança da ressurreição e vida eterna, que só é possível por meio da vitória de Jesus sobre a morte.

Andrew McChesney

P

ela primeira vez, quase todos os presidentes das Divisões da Igreja Adventista do Sétimo Dia em todo o mundo estiveram presentes à convenção anual da ASI, num momento em que a liderança da igreja toma a iniciativa de encorajar os membros Da esquerda para direita: Glenn Townend, presia compartilhar o dente da Divisão do Sul do Pacífico; Ezras Lakra e evangelho ativamente Saw Samuel na seção de perguntas e respostas como parte do programa na convenção da ASI, em Fênix, Arizona (EUA). Envolvimento Total dos Membros (ETM). M Y L O N M E D L E Y / A N N Doze dos treze presidentes de Divisão e Rick McEdward, presidente da Igreja Adventista no Oriente Médio e Norte da África, viajaram para o estado americano do Arizona para participar da reunião anual de membros leigos: empresários, profissionais liberais e ministérios de apoio. Ted N. C. Wilson, presidente da Igreja Adventista disse ter convidado os líderes da igreja no mundo para ir a Fênix, de 3 a 6 de agosto, para que compreendam melhor a ASI e também para ver os membros leigos em ação no evangelismo. “Eles ficaram bem impressionados e levarão consigo grande apreciação pela variedade de atividades missionárias realizadas pelos membros leigos”, disse Wilson à Adventist World. “Irão retornar com um zelo renovado para combinar o esforço dos leigos e dos obreiros, no Envolvimento Total dos Membros. Vão retornar com uma abordagem de unidade, e por meio do poder do Espírito Santo, terminar a obra de Deus em seu território.” Steve Dickman, presidente da ASI, disse estar entusiasmado ao ver que a igreja está preparada para trabalhar de mãos dadas com os membros leigos para completar a missão de espalhar o evangelho pelo mundo. “Os membros leigos são o elemento central do ministério e precisam ser utilizados em sua totalidade, disse Dickman. A ASI e a igreja agora estão tentando trazer a teoria para a ação de uma forma concentrada e positiva.” Ele disse que, no passado, em algumas partes do mundo, os adventistas tiveram suas lutas, pois o ministério leigo não era aceito por alguns pastores, anciãos e outros líderes da igreja local.

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“Isso será um incentivo para o membro leigo que quer fazer algo para o bem”, disse ele. Os presidentes de Divisões, muitos pela primeira vez em uma convenção da ASI, reuniram-se com os líderes da associação e organizações parceiras para compreender melhor como estabelecer ministérios de apoio como o Ministério ASAP (Adventist Southeast Asia Projects), que está trabalhando com a Igreja Adventista e treinando membros locais para ser missionários entre o seu próprio povo na Ásia, ou como os membros da ASI estão financiando as publicações dos livros de Ellen G. White em árabe, farsi e turco para as igrejas da União do Oriente Médio e Norte da África. A experiência abriu os olhos de alguns deles. “Foi muito informativo – muita interação”, disse Ezras Lakra, presidente da Divisão Sul-Asiática, cujo território inclui Butão, Índia e Nepal. “Estou muito satisfeito de estar aqui com os membros leigos que de outra forma não teria conhecido.” Lakra, que participa de uma convenção da ASI pela primeira vez, disse que estava conversando com outros líderes da Divisão sobre como fundar uma ASI em sua Divisão. Saw Samuel, presidente da Divisão do Pacífico Sul-Asiático, com sede nas Filipinas, participando também pela primeira vez, disse já ter seis filiais da ASI funcionando em sua Divisão, mas seu trabalho seria melhorado com base no que observou em Fênix. “Lá, nós temos membros leigos em busca de recursos, mas aqui as pessoas vêm para doar”, disse ele. “Portanto, temos que fazer um pequeno ajuste.” Os presidentes das Divisões participaram em uma sessão televisionada de perguntas e respostas, no salão principal da convenção, no sábado pela manhã. Em seguida, o Pr. Ted Wilson reuniu os líderes no palco e pediu aos administradores da ASI para colocar as mãos sobre eles para uma oração de consagração. n *Associação de empresários e profissionais liberais e ministérios de apoio da América do Norte.

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S A D

NOTÍCIAS DO MUNDO

Mais de 60 presidiários adorando em uma nova igreja adventista em uma prisão, em Sorocaba, SP, Brasil.

Andrew McChesney

O número de membros da Igreja Adventista

alcança os 19,5 milhões Igreja cresce 2,3 por cento em seis meses

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número oficial de membros da Igreja Adventista do Sétimo Dia ultrapassou os 19,5 milhões na primeira metade de 2016, em parte pelo batismo recorde de 100 mil pessoas, em Ruanda. “Louvado seja o Senhor! Agora temos mais de 19,5 milhões de adventistas no mundo!” disseram os líderes do departamento de Arquivos, Estatística e Pesquisa quando anunciaram os novos números, no Twitter. Em 30 de junho, a igreja tinha 19.578.942 membros, um aumento real de 452.495 pessoas, ou 2,37 por cento, desde 31 de dezembro, quando foi contado pela última vez. “Louvamos a Deus por Suas bênçãos maravilhosas, dando-nos 19,5 milhões de irmãos e irmãs batizados, em todo o mundo!” disse Ted N. C. Wilson, presidente da Igreja Adventista na sua página do Facebook. “Deus continuará a usar cada um que estiver disposto a participar do Envolvimento Total dos Membros, alcançando 7,5 bilhões de pessoas do mundo que necessitam saber sobre Cristo, Sua justiça, salvação e segunda vinda em breve.

Entre os recém-conversos estão as 100.777 pessoas batizadas após duas semanas de evangelismo em Ruanda, no mês de maio. Foi o maior batismo após uma série evangelística, nos 153 anos de história da Igreja Adventista. O crescimento acontece quando a igreja, fundada em 1863 com apenas 3.500 membros, realiza uma auditoria geral no número de membros para certificar-se de que os relatórios estatísticos refletem a realidade das igrejas. As perdas pela auditoria torna difícil prever se o número de membros chegará aos 20 milhões até o fim do ano, disse David Trim, diretor do departamento de Arquivos, Estatística e Pesquisa. “Não duvido que a adesão real irá exceder um milhão outra vez, mas o crescimento é afetado pelas perdas também”, disse Trim. O número de membros da igreja cresceu mais de um milhão de membros anualmente nos últimos doze anos, com o recorde de 1,26 milhões de adesões, em 2015, segundo relatório recente do Departamento de Arquivos, Estatística e Pesquisa. n


F O T O S :

J O H N

R .

B E C K E T T

Andrew McChesney

Testemunho da

Pen drive de papel contendo “Heróis” da Bíbia”.

próxima geração

A igreja une forças com o inventor do pen drive de papel

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inventor Andrew DePaula senta-se no avião ao lado de um rapaz entre seus 18 e 20 anos. O jovem parece mais interessado em olhar pela janela do avião do que em conversar, até que DePaula puxou um pedaço de papel do tamanho de um cartão de visitas. De Paula mostrou ao seu companheiro de voo que um pedaço de papel com aparência comum podia ser dobrado e se transformar no primeiro e único pen drive de papel. “Cara, é demais!” disse o rapaz puxando o cartão da mão de DePaula. Disse ao rapaz que podia ficar com o cartão, e o jovem pegou sua carteira que estava presa por uma corrente, onde, cuidadosamente, guardou o presente.

Andrew DePaula segura em uma das mãos um pen drive comum e na outra o pen drive de papel.

“Vou mostrar isso para todos os meus amigos”, disse ele. DePaula acabava de presentear o rapaz com uma cópia do livro O Grande Conflito, da co-fundadora da Igreja Adventista, Ellen G. White, sem tocar no assunto de religião. “Eu nunca teria conseguido dar o livro para ele”, disse DePaula ao relatar o incidente à Adventist World. “Ele nunca teria aceitado. Mas tenho certeza de que ele levou o cartão para casa e mostrou para seus amigos. Quem sabe o que o Espírito Santo vai fazer?” A Igreja Adventista do Sétimo Dia fez parceria com DePaula e sua empresa intelliPaper, sediada em Spokane, Washington, para produzir uma nova geração de ferramentas para o evangelismo, baseadas nos cartões pen drives de papel. Os cartões com imagens coloridas nos dois lados, estão disponíveis por apenas um dólar cada, e contém cinco títulos, entre eles, A Grande Esperança, versão abreviada de O Grande Conflito; Caminho a Jesus, uma versão moderna, em inglês, do Caminho a Cristo. A Grande Esperança também está disponível em espanhol, e estão trabalhando em outras traduções. Nancy Lamoreaux, diretora do departamento de informática da Associação Geral, elogiou o pen drive de papel como o próximo passo para compartilhar a fé adventista. “Hoje, A Grande Esperança e outros títulos estão disponíveis nos cartões da intelliPaper e é uma maneira incrivelmente efetiva de colocar a mensagem

nas mãos de pessoas que de outra maneira não estariam interessadas”, escreveu ela na edição de verão/outono da revista Inside ASI. A origem do pen drive de papel remonta ao início dos anos 2000, quando DePaula trabalhava como diretor associado do ministério Bibleinfo.com na Associação Upper Columbia, em Spokane. Ao procurar uma maneira barata de compartilhar sua fé, ele carregou o website da Bibleinfo.com com a Bíblia em quatro idiomas, e outra informação em um miniCD quadrado que era vendido a um dólar cada. Mais de cem mil miniCDs foram distribuídos antes que uma disputa de patentes não relacionada ao trabalho de DePaula interrompesse abruptamente a produção dos discos. Procurando por outra maneira de evangelizar, DePaula começou a imaginar como poderia criar um pen drive por menos de um dólar. Em 2008, ele foi à exposição para Consumidores de Eletrônicos, em Las Vegas, para procurar por uma solução, mas descobriu que não conseguiria colocar o preço por menos de três dólares, preço muito alto para distribuir. Sentindo-se desanimado, DePaula começou a mexer no seu crachá da exposição de consumidores de eletrônicos, no hotel, em Las Vegas, e percebeu um caroço. Ele pegou o crachá e descobriu que dentro havia um dispositivo de rastreamento por rádio RFID, que possibilitava aos organizadores da exposição rastrear seus movimentos. “Naquele momento, uma luz se acendeu”, disse DePaula. “Era como se Deus

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NOTÍCIAS DO MUNDO tivesse feito um dump (dado um lampejo) no meu cérebro, e pensei: se eles podem fazer isso com um chip e uma antena, porque não posso fazer um pen drive de papel?” Foram necessários três anos para DePaula desenvolver um protótipo do trabalho e outros três anos para desenvolver o processo de manufatura. O cartão pen drive de papel, que tanto pode ser usado no ministério, como comercialmente, contém um pequeno chip de silicone capaz de armazenar livros, estudos bíblicos, links da internet e páginas da web. Os cartões produzidos em parceria com a Igreja Adventista contêm 1 mb de memória e é só para leitura. Eles estão disponíveis em pacotes de dez, na página Adventist.cards. O 11º cartão do pacote permite que o consumidor registre os cartões e upload uma foto e mensagens para os destinatários. Quando o destinatário insere o cartão na entrada de USB do seu computador, a foto e a mensagem aparecem junto com um convite para se comunicar online com o doador do cartão. Mas isso não é tudo. “Nos bastidores, o cartão registra que ele foi aberto e onde foi usado”, disse John R. Beckett, diretor do departamento de Software Global e Internet na Associação Geral, que trabalhou no projeto ao lado de DePaula. “Portanto, ao distribuir os cartões, você pode ter a informação de que seu presente valeu a pena porque as pessoas estão acessando e olhando.” Embora DePaula esteja trabalhando em pequena escala com companhias como FedEx, American Chemical Society e Malwarebytes, ele disse que sua prioridade é encontrar uma aplicação dessa invenção no ministério. “O ministério está no meu sangue”, disse DePaula, que cresceu como filho de missionário na África Ocidental. “Isso não apenas pode facilitar o trabalho missionário, mas daqui um tempo, também pode ser um bom negócio para patrocinar o ministério.” n

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Denis ri ao segurar um hamster, e é observado por IIyusha, na cama, e Ruslan em um quarto da Alfa-Nik, em Mykolaiv, Ucrânia.

Andrew McChesney

Na Ucrânia,

órfãos encontram um lar adventista

Mas Alfa-Nik é mais do que um orfanato.

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pequeno Roma saiu correndo de uma igreja ucraniana, após o culto de sábado, e foi direto ao encontro de uma avó que brincava com seu netinho em um parque infantil, em frente à igreja. “A senhora é crente?” perguntou ele. A senhora idosa ficou surpresa com a pergunta vinda do garoto de sete anos de idade, de cabelos loiros e um rosto honesto. Ela confirmou que acreditava em Cristo. “Então por que a senhora não estava na igreja?” disse Roma. Enquanto a mulher tentava encontrar uma resposta, Roma a convidou para o culto do próximo sábado. “Ele é o nosso pequeno evangelista”, disse Evgeniy Tkachishin, o pai adotivo de Roma, com um sorriso ao relatar o incidente. Mas Roma é mais do que um pequeno evangelista. Ele representa o cumprimento do desejo do seu pai de levar o evangelho ao sul da Ucrânia e além.

Tkachishin é pastor adventista do sétimo dia, pai biológico e adotivo de nove crianças, e cofundador de um centro de influência singular, na Ucrânia. Sua organização, a Alfa-Nik, administra um orfanato, uma pré-escola e um centro comunitário dentro de um campus murado, onde há uma igreja adventista, em Mykolaiv, cidade no Mar Negro, com meio milhão de habitantes. “Nós nos encontramos e fazemos amizade com as pessoas através de nossos programas, e cremos que com o tempo, elas vão abrir o coração para Deus”, disse Tkachishin à Adventist World. Vinte e nove crianças vivem com cinco casais adventistas em apartamentos espaçosos no campus, que Tkachishin adquiriu por 200 mil dólares, em 2010. Desde então, outros 500 mil foram gastos em reformas na propriedade, e parte do recurso veio da Associação Ucraniana do Sul da Igreja Adventista, que destinou 800 mil dólares para 2016. Mas a maior parte do

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dinheiro veio de doadores particulares. No prédio de três andares onde as crianças moram, está sendo concluída a construção de apartamentos de um quarto para mães com bebês recémnascidos. As mães – algumas solteiras, outras de lares com bêbados abusivos – poderão permanecer por até seis meses e receber aulas sobre maternidade com um psicólogo.

Evgeniy Tkachishin, cofundador do Alfa-Nik e pastor adventista, mostra os planos para o complexo. A Igreja Adventista Mykolaiv Nº 7 ocupa um prédio vizinho e sua nave já esteve lotada com 35 membros e 25 crianças em um sábado, no verão passado. As crianças têm suas classes de Escola Sabatina no prédio e, em outra sala, durante a semana, funciona uma pré-escola para as crianças da vizinhança. O parque infantil onde Roma abordou a avó está localizado bem em frente ao prédio da igreja. Completo e com brinquedos coloridos, esse é o único parque infantil numa área de dois quilômetros quadrados, tornando-o um magnético para crianças de todos os tamanhos. Ao longo do ano, Tkachishin

organiza atividades educacionais no parquinho e, todas as vezes, centenas de vizinhos participam. Uma visita ao campus em 2014 e outra neste ano, revelou, em primeira mão, como suas atividades estão se expandindo. Um prédio cinza, em mau estado, foi transformado em um refeitório bonito, com conjuntos de mesas e cadeiras confortáveis e uma cozinha totalmente nova. O prédio tem várias funções: refeitório para a pré-escola, escola de culinária para a comunidade, local para festas de aniversário e para realizar reuniões para as mulheres e jovens adventistas, disse Tkachishin durante a visita. Embora o campus supra muitas das necessidades da comunidade, a prioridade são os meninos e meninas órfãos ou abandonados. “A família está crescendo”, disse Anatoly Gurduiala, cofundador da Alfa-Nik com Tkachishin, e seu primo, que atualmente é pastor da igreja adventista russa, em Glendale, Califórnia (EUA). Ele visita a instituição diversas vezes ao ano, e sua igreja arrecada milhares de dólares para a Alfa-Nik anualmente. “Esse é um projeto missionário grande”, diz Gurduiala. “Creio que as crianças se tornarão bons membros da igreja.” A vida das crianças já está sendo transformada, disse Tkachisshin, que também pastoreia outras duas igrejas. Ele contou sobre Seryozha, que perdeu a mãe quando tinha dez anos, e foi enviado para morar com parentes alcoólatras. Negligenciado em seu novo lar, o menino implorava aos vizinhos por comida e assistia à televisão através das janelas dos apartamentos deles. No ano passado, as autoridades tiraram Seryozha de sua casa e o enviaram para Alfa-Nik. “Hoje o menino tem 12 anos de idade e participa em programas de

evangelismo e recolhe oferta na igreja”, diz Tkachishin. “Vemos que Deus tem realizado um grande milagre em sua vida, tirando-o de uma situação na qual não tinha nada para comer e não era desejado. Hoje, ele tem tudo de que precisa, e tem a Deus em sua vida.” Outro garoto, Dima, também chegou ao Alfa-Nik no ano passado. Sua mãe se mudou para a Itália para trabalhar e nunca mais voltou. Ela abriu mão dos seus direitos sobre o menino e entregou a guarda para o pai. Um tempo depois, o pai morreu e, sem mais nenhum parente, Dima foi colocado em um orfanato do governo. Hoje, Dima, 11 anos, ora regularmente e canta na igreja com outras crianças durante os cultos. “Você ouviu hoje como as crianças cantam”, disse Tkachishin após o culto de sexta-feira à noite. “A verdade é que ninguém os força a cantar. Eles cantam porque querem.” Alfa-Nik continua a crescer. Os planos são abrigar um total de 50 órfãos e, um dia, abrir uma escola adventista de ensino fundamental. Tkachishin não se preocupa com os recursos, e diz que nos últimos seis anos, Deus tem provido além de suas expectativas. “Nosso projeto é um projeto de fé”, diz ele. “Não sabemos quando ou quanto dinheiro vai entrar. Cremos, somente.” O campus recebe um constante fluxo de visitantes estrangeiros, que expressam sua admiração com o que veem. “O que é mais triste, é que Alfa-Nik só é uma gota no balde de todas as crianças que precisam ser atendidas”, disse Esme Ross, que visitou o campus duas vezes com seu esposo, Robert Ross, pastor da Igreja Adventista do Sétimo Dia Triadelphia, em Maryland (EUA), durante campanhas evangelísticas na Ucrânia, em 2012 e 2013. “Seria tão bom se o que eles fazem pudesse ser repetido muitas e muitas vezes.” n

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V I S Ã O

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ecentemente, um amigo meu foi abordado por seu vizinho. “Eu sempre achei que, pouco a pouco, o mundo iria melhorar – mas não melhora”, disse o vizinho. “Não sei o que está acontecendo, mas pode ser que você saiba. Gostaria de falar com você sobre o assunto.” Ao longo dos anos, meu amigo desenvolveu uma grande amizade com seu vizinho. De vez em quando surgia o assunto sobre religião, mas o vizinho sempre insistia em dizer: “Se você for honesto, e trabalhar duro, a vida será boa.” No entanto, dessa vez, as coisas foram diferentes. Preocupado com o grande amento do terrorismo, com a instabilidade econômica, convulsões sociais, e problemas políticos, o vizinho estava pronto para ouvir, e meu amigo estava pronto para abrir a cortina e oferecer ao seu vizinho uma visão dos eventos atuais através das lentes do Grande Conflito, da profecia e da verdade bíblica. A Bíblia nos diz: “Antes, santificai a Cristo, como Senhor, em vosso coração, estando sempre preparados para responder a todo aquele que vos pedir razão da esperança que há em vós (1Pe 3:15)1. Se alguém lhe perguntar sobre a sua esperança, você está pronto para dar uma resposta? Introduzir as doutrinas bíblicas

A edição da Adventist World deste mês é sobre os ensinamentos bíblicos em relação à morte. Este poderia ser um assunto muito sombrio se não fosse

pelo fato de que nós, os adventistas do sétimo dia, não “nos entristecemos como os demais que não têm esperança” (1Ts 4:13). Duas das principais razões para isso são: (1) Compreendemos, pela Bíblia, que a morte é um sono (ver 1Ts 4:16, 17; Jo 11:23, 24; Dn 12:2; Mt 27:52; At 13:36, etc.); e (2) nós temos a maravilhosa esperança de reencontrar nossos queridos quando Jesus voltar e de ficar com eles na eternidade (ver 1Ts 4:16, 17; Jo 11:23, 24, etc.). Nossa compreensão sobre a morte – conhecida como o estado dos mortos, ou a imortalidade da alma – foi uma das primeiras doutrinas bíblicas a ser estabelecida pelos adventistas após o grande desapontamento de 22 de outubro de 1844. Essa doutrina, e outras, baseadas na Bíblia, entre elas

a purificação do santuário celestial, o sábado do sétimo dia e as três mensagens angélicas de Apocalipse 14, mais tarde foram identificadas, por Ellen G. White, como “antigos marcos”.2 Foi a dedicação à Palavra de Deus e à verdade que encontramos nela que guiou nossos pioneiros a uma profunda compreensão das profecias bíblicas e à importância de sua aplicação para o povo dos últimos dias, que aguardam o retorno de Cristo. Eles descobriram que os ensinamentos da Palavra de Deus definem: n  Quem somos como um povo (Ap 12:17); n  Qual é a nossa missão (Mt 28:19, 20); n  Que mensagem do tempo do fim devemos proclamar (Ap 14:6-12).

Ted N. C. Wilson

Pronto para

responder Levando esperança a quem perguntar


A doutrina é importante

A Bíblia afirma a importância da doutrina, enfatizando que toda doutrina verdadeira vem do próprio Deus. “Porque vos dou boa doutrina; não deixeis o Meu ensino” (Pv 4:2). E Jesus disse: “O Meu ensino não é Meu, e sim dAquele que Me enviou. Se alguém quiser fazer a vontade dEle, conhecerá a respeito da doutrina, se ela é de Deus ou se Eu falo por Mim mesmo” (Jo 7:16). Após a ressurreição de Jesus, o sumo sacerdote da nação estava furioso quando exclamou para os apóstolos: “Expressamente vos ordenamos que não ensinásseis nesse nome; contudo, enchestes Jerusalém de vossa doutrina e quereis lançar sobre nós o sangue desse Homem.” (At 5:28). “Se alguém quiser fazer a vontade dEle, conhecerá a respeito da doutrina, se ela é de Deus ou se eu falo por Mim mesmo” (Jo 7:17). Paulo mencionou a doutrina quatro vezes em sua carta de instrução a Timóteo. “Expondo estas coisas aos irmãos, serás bom ministro de Cristo Jesus, alimentado com as palavras da fé e da boa doutrina que tens seguido […] aplica-te à leitura, à exortação, ao ensino […] Medita estas coisas e nelas sê diligente, para que o teu progresso a todos seja manifesto” (1Tm 4:6-16). Toda a Escritura é proveitosa

Na segunda carta a Timóteo, Paulo afirmou: “Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça” (2Tm 3: 6). Ele também alertou “Pois haverá tempo em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, cercar-se-ão de mestres segundo as suas próprias cobiças, […] e se recusarão a dar ouvidos à verdade, entregando-se às fábulas” (2Tm 4:3, 4). Em sua carta a Tito, Paulo ensina que é por meio da sã doutrina que temos poder “para exortar pelo reto ensino como para convencer os que o contradizem” a fiel palavra de Deus – a Bíblia (Tt 1:9). E finalmente, o apóstolo João escreveu: “Todo aquele que ultrapassa a doutrina de Cristo e nela não permaneF O T O :

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As doutrinas bíblicas nos ensinam o que precisamos saber. Elas nos informam quem somos nós e quem é Deus. ce não tem Deus; o que permanece na doutrina, esse tem tanto o Pai como o Filho” (2Jo 9). Falsa dicotomia?

Dada a importância da sã doutrina (os ensinos bíblicos), parece estranho que alguns tentem separar Jesus da doutrina, fazendo perguntas como: “O que é mais importante, as doutrinas ou Jesus? A graça ou a verdade?” Como vemos nas Escrituras, essas são dicotomias falsas. A graça e a verdade são parte uma da outra; a sã doutrina vem do próprio Deus. Elas são parte de quem Ele é. João escreveu: “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus” – que é Jesus Cristo (Jo 1:1). E o salmista declara: “Lâmpada para os meus pés é a Tua palavra, e luz para o meu caminho” (Sl 119:105), referindo-se nitidamente às Escrituras. Jesus é a Palavra, e Seus ensinos (doutrinas) são encontrados em Sua Palavra – a Bíblia. A Palavra Viva de Deus

A Bíblia não é apenas um documento impresso – é a Palavra viva de Deus viva que, com a orientação do Espírito Santo, fala conosco hoje tão claramente como quando foi escrita. Então por que a ênfase na doutrina? Porque as doutrinas bíblicas nos ensinam o que precisamos saber. Elas nos informam quem somos nós e quem é Deus. Elas definem o problema do pecado e revelam o remédio para ele. Revelam o futuro e nos dão um vislumbre da eternidade. Elas separam a verdade do erro, e nos ajudam a nos tornar o povo que Deus deseja que sejamos. As doutrinas bíblicas nos ensinam sobre a graça. Ellen G. White escreveu: “O maior

conhecimento e mais essencial é o conhecimento de Deus e de Sua Palavra [...] O cristão crescerá em graça à proporção em que depender e apreciar os ensinos da Palavra de Deus, e se habituar a meditar nas coisas divinas.”3 Pronto a responder

Conheço dois jovens adventistas que trabalham como salva-vidas em uma piscina pública, não muito longe da sede da Associação Geral, em Silver Spring, Maryland (Estados Unidos). Um dia quente, no fim do mês de julho, um dos seus colegas de trabalho quase perdeu a vida quando de repente, perdeu a consciência, caiu como uma pedra até o fundo da piscina. Quando foi içado, não estava respirando e nem tinha pulso. Lutando ferrenhamente para salvar sua vida, os salva-vidas ficaram aliviados quando ele começou a recuperar os sentidos. Após a ambulância chegar e levar o jovem para o hospital, a conversa no escritório dos salva-vidas girou em torno de um assunto sério: “O que acontece quando nós morremos?” “Deus existe?” “Por que acontecem coisas ruins” Por saberem no que criam e por que criam, esses dois jovens salva-vidas adventistas puderam dar para os outros salva-vidas, respostas bíblicas que fazem sentido. Eles estavam dispostos e prontos a compartilhar de um modo natural, relevante e atual o que os adventistas creem sobre o estado dos mortos, a existência de Deus, o Grande Conflito e mais. Agora é o tempo

E você? E se seu vizinho, amigo, colega de trabalho, parente ou qualquer outra pessoa o abordar com a declaração: “Eu não sei o que está acontecendo,

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M U N D I A L

mas talvez você saiba; eu gostaria de conversar sobre o assunto.” Você estaria pronto para dar uma resposta satisfatória, baseada na Bíblia? Agora é o tempo de estudar nossa Bíblia. Agora é o tempo de realmente conhecer e compreender a beleza dos ensinos baseados na Bíblia que nós, adventistas do sétimo dia, cremos. Aprendemos as doutrinas bíblicas não para usá-las para provar que estamos “certos” e os outros “errados”. Não! Aprendemos as doutrinas para compartilhar o que acreditamos ser verdade, e para dar a outros a mesma esperança e certeza que a verdade trás. Além disso, somos lembrados de que “ter um conhecimento intelectual da verdade não é suficiente [...] A Palavra deve entrar no coração. Pelo poder do Espírito Santo ela deve morar ali. A vontade deve estar em harmonia com seus requerimentos. Não apenas o intelectual, mas o coração e a consciência devem estar de acordo na aceitação da verdade.”4 Algo incomum está acontecendo no mundo, e as pessoas estão buscando respostas. Seu coração e consciência concordam com sua aceitação intelectual da verdade? Você está pronto para dar uma resposta sobre a esperança que você tem? Se quiser conhecer mais das crenças dos adventistas do sétimo dia, ou rever nossas doutrinas bíblicas, gostaria de incentivá-lo a baixar uma cópia grátis das 28 Crenças Fundamentais dos Adventistas do Sétimo dia, na página http://www. adventistas.org/pt/institucional/crencas/. n 1 Todos

os textos bíblicos foram extraídos da versão Almeida Revista e Atualizada. 2 Ellen G. White, The Ellen G. White 1888 Materials (Washington, D.C.: Ellen G. White Estate, 1987), p. 518. 3 Ellen G. White, in Review and Herald, 17 de abril de 1888.
 Ellen G. White, in Review and Herald, 25 de setembro de 1883. 4 Ellen G. White, Review and Herald, 25 de setembro de 1883.

Ted N. C. Wilson é

presidente da Igreja Adventista do Sétimo Dia.

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Adventist World | Outubro 2016

Igreja de um dia Carrie Purkeypile

Orando por 45 anos

Esquerda: Essa igreja em Mjena, Zimbábwe, foi construída e reconstruída muitas vezes devido aos elementos que, periodicamente, destróem os materiais naturais. Direita: As duas fundadoras da Igreja Adventista de Mjena, Sharon Khumalo (vestido vermelho) e Esina Dube (blusa branca e saia verde) têm 87 anos de idade. Elas oraram 45 anos por uma igreja com estrutura sólida. Sharon Khumalo e Esina Dube fundaram a Igreja Adventista do Sétimo Dia de Mjena, no Zimbábue, em 1971. As duas amigas começaram realizando os cultos em casa. As famílias se reuniam às 4h00 da manhã, duas vezes por semana, para implorar a direção e provisão de Deus. Eles oravam por uma igreja. À medida que o grupo foi crescendo, começaram a se reunir sob uma árvore, mas devido às variações extremas do tempo, em muitos sábados não era possível se reunir. Mesmo assim, continuaram orando. Há aproximadamente 15 anos, as duas mulheres perderam os esposos. Ambas ficaram sozinhas, não apenas em casa, mas também como líderes da igreja que agora era 100 por cento formada por mulheres e crianças. A congregação orou por uma igreja, e Deus lhes deu o terreno. Assim, elas teceram um telhado de sapé e construíram sua pequena igreja. Ela ficou linda! Mas os cupins destruíram os postes de madeira e o telhado de sapé. Começou a chover dentro e derreteu as paredes de argila, o que fez com que o prédio precisasse ser reconstruído de tempos em tempos. Neste ano, Sharon e Esina completaram 87 anos de idade. Mas isso não as impediu de convidar todos os membros da igreja para um acampamento fora de sua igreja, quando souberam que a Maranatha Vonlunteers Interantional estava em seu distrito. Os membros da igreja oraram, cantaram, cozinharam, dormiram, e oraram mais. A equipe da Maranatha finalmente chegou, em abril de 2016. Para o espanto de Mjena, a equipe construiu a estrutura da igreja adventista em menos de quatro horas. “Não podíamos acreditar! Parecia um sonho”, diz ela. Sharon e Esina se comprometeram a vender suas melhores vacas para financiar a construção das paredes da sua Igreja de Um Dia. Elas louvam a Deus porque essa igreja vai durar por muito tempo!


S A Ú D E

N O

M U N D O

Peter N. Landless e Allan R. Handysides

Os

Qual é o equilíbrio entre viver a mensagem adventista de saúde e as injeções de drogas prescritas? Sou diabético e uso insulina e comprimidos de metiformina.

É

necessário um pequeno resumo histórico. A medicina, no início do século dezenove, estava em crise. A expectativa de vida era a mais baixa de todos os tempos. Nos tratamentos padrão era liberado o uso da sangria, de derivados de metal pesado (mercúrio), arsênico, álcool em diversas preparações, tabaco e ópio. O calomelano, um composto do mercúrio, era usado em muitos tratamentos, inclusive contra febre amarela. A catártica era usada como purgante, e muitas vezes a ponto de o paciente perder o cabelo e os dentes (toxidade do mercúrio). Essa era a época da “medicina heroica”, representada por métodos e práticas agressivas muito usadas no século dezenove. Os corpos já enfraquecidos dos doentes, eram deteriorados ainda mais por esses métodos perigosos e de eficiência não comprovada, que muitas vezes provocavam danos ainda maiores. D. E. Robinson se refere a esses anos como “tempos de ignorância” em seu livro The Story of Our Health Message (História de Nossa Mensagem de Saúde).1 Ele relata a experiência do primeiro presidente dos Estados Unidos, George Washington que, em sua doença final, foi enviado a um “sangrador” e não a um médico. No dia seguinte, o médico da família foi chamado e prescreveu uma segunda sangria. Além de toda a perda de sangue, o pobre Presidente Washington foi submetido ao calomeF O T O :

G E O R G E

H O D A N

Adventistas e as

drogas prescritas

lano (catártica/laxativa), à indução do vômito (tártaro emético) e inalações com vinagre e água. O resultado desse “assalto” devastador na existência do presidente, já em colapso, termina com o último pedido de Washington: que permitissem que ele morresse sem mais interrupções! Isso foi em dezembro de 1799. Havia debates entre a “fraternidade médica” britânica, europeia e a norteamericana, sobre a efetividade dessa variedade de “tratamentos”. O pêndulo oscilava entre as tentativas de usar a medicina “heroica” para diminuir a vitalidade excessiva (pela sangria, eméticos e catártica), que podia se manifestar como febre, e a utilização de estimulantes e álcool a fim de recuperar a vitalidade (que pensavam ser a causa da febre). Ignoravam que a dieta, o estilo de vida e o saneamento fossem importantes para o bem-estar do paciente e restauração da sua saúde. Em meio a toda essa “confusão terapêutica”, Ellen G. White advertiu contra os medicamentos da época: “Com o uso de drogas venenosas, muitos trazem sobre si doença para toda a vida, e perdem-se muitos que poderiam ser salvos com o emprego de métodos naturais.”2 É muito claro que Ellen G. White está advertindo contra as drogas tóxicas de metal pesado, e opiáceos, tabaco e álcool usados em seu tempo. Ela incluiu amplamente em sua lista o quinino, em que as pessoas mascavam indiscriminadamente a casca de quina, esperando algum benefício. Entretanto, está registrado que ela incentivava o uso contra a malária. O quinino continua a ser usado efetivamente contra a

malária, porque, a despeito de seus efeitos colaterais já conhecidos, ele salva vidas. Ellen G. White também tomou vacina contra a varíola e incentivou outros a fazer o mesmo. Somos abençoados por viver em um tempo em que há medicamentos seguros, testados e efetivos para o tratamento de muitas doenças, inclusive a insulina e a metiformina. Todos os medicamentos devem ser usados com cautela, para as indicações corretas, e com o monitoramento cuidadoso de seus efeitos colaterais. Mudanças no estilo de vida e as intervenções devem sempre fazer parte de nossas abordagens e intervenções de saúde, fundamentais nos melhores tratamentos médicos, comprovadamente seguros. Fique tranquilo: use a insulina e metiformina, e não deixe de caminhar, beber muita água pura, descansar, ser cuidadoso com a alimentação, ser temperante e, acima de tudo, confiar em Deus, o autor e consumador da nossa fé. n 1 D. E. Robinson, The Story of Our Health Message (Nashville: Southern Pub. Assn., 1965), p. 13 2 Ellen G. White, A Ciência do Bom Viver (Casa Publicadora Brasileira), p. 126, 127.

Peter N. Landless, médico cardiologista

nuclear, é diretor do Ministério da Saúde da Associação Geral.

Allan R. Handysides, médico ginecologista aposentado, ex-diretor do Ministério da Saúde da Associação Geral. Outubro 2016 | Adventist World

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D E V O C I O N A L

Ele

Gerald A. Klingbeil

também sofre

A morte não tem lugar no coração

O

silêncio do dia era pontuado pelo lamento dos cantores e as notas lancinantes dos flautistas. A morte estava no ar quando Jesus entrou na vila de Naim. O doutor Lucas a chama de “cidade” (Lc 7:11), mas na realidade devia ser apenas um conjunto de casas galileias humildes, construídas de pedras rústicas com telhados planos de estrutura de madeira. As pessoas que viviam em Naim, localizada 32 quilômetros a sudoeste de Cafarnaum, e 10 quilômetros a sudeste de Nazaré, não pertenciam à elite social judaica. Semelhantemente a muitos que viveram na Palestina no primeiro século d.C., esforçavam-se para fazer face às despesas e se sentiam pressionados pela impiedade dos ocupantes romanos. A esperança não morava em Naim. No entanto, naquela manhã, em particular, no cenário mais improvável, a Esperança havia decidido visitar Naim. A Esperança compareceu a um cortejo fúnebre. Um Deus em quem podemos tocar

O ministério terrestre de Jesus é caracterizado por um fato em particular: A Palavra viva, o Deus que, por meio da

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Adventist World | Outubro 2016

L D S

M E D I A

de Deus

palavra, trouxe galáxias e Universos à existência, tornou-Se um conosco. Por mais de 30 anos, Jesus compreendeu as lutas do povo ao Seu redor. Ele participou dessas lutas ao trabalhar como carpinteiro, em Nazaré. Agora, Ele sentia a tristeza e dor daqueles a quem veio salvar. Lucas relata que Jesus não entrou sozinho em Naim. Seus discípulos e uma multidão viram quando Ele curou o doente e ensinou a Palavra de um modo como nunca tinham ouvido antes de segui-Lo. Eles foram recebidos por um longo cortejo fúnebre, que deixava a aldeia em direção ao cemitério de Naim (Lucas 7:11, 12). No primeiro século d.C., os ritos funerais judeus exigia que a pessoa fosse enterrada no mesmo dia. Muitas vezes o corpo era ungido e embrulhado no tecido próprio para o enterro antes de ser levado em uma prancha até a sepultura ou cemitério, localizado fora da cidade. Normalmente os membros da família lamentavam por 30 dias. Mas a morte não é normal. Ela é a maneira de Satanás reivindicar sua soberania sobre o Planeta Terra. Toda vez que enfrentamos a morte reconhecemos que vivemos em um


O Criador não pode ser insensível à dor das Suas criaturas. mundo caído, de pecado, que precisa de redenção. Nossas lágrimas refletem a dor e perda que sentimos quando temos que fechar os olhos de um ser querido, pela última vez. Jesus deve ter sentido a devastação e a dor causadas pela morte, antes de entrar em Naim. A ausência de José, pai de Jesus, na narrativa do Evangelho após retornarem do Egito, sugere uma morte prematura que deixou Jesus órfão de pai.1 É possível, ainda, que Jesus conhecesse o falecido e sua família, considerando a proximidade entre Naim e Nazaré. No entanto, a familiaridade de Jesus com a morte e a perda, não O tornou insensível à dor de Suas criaturas. Lucas observa uma resposta em três etapas quando Jesus encontrou o cortejo fúnebre a caminho do local de descanso do falecido. Jesus vê, sente compaixão, e então fala (v. 13). O que podemos dizer do Seu “Não chore” a uma viúva enlutada? Falar é fácil, diz o ditado, e as pessoas devem ter estranhado a ordem de Jesus. Todos nós choramos diante da morte (inclusive Jesus; cf. Jo 11:35). Mas Jesus não fala somente – Jesus age! O Deus que age

As pessoas prenderam a respiração quando viram Jesus caminhar em direção do esquife que carregava o corpo sem vida. Todos param quando Ele tocou o jovem, o “único filho de uma viúva” (Lucas 7:12). A lei Mosaica proibia contato com o cadáver, que exigia o ritual de purificação (Nm 19:11, 16). Quem tocasse um corpo morto não podia comparecer à presença de Deus. Mas Jesus não apenas tocou. Ele falou – com autoridade e convicção: “Jovem, Eu lhe digo, levante-se” (Lc 7:14). Por um instante parecia que ninguém ousava respirar ou emitir qualquer som. Imagino o silêncio que seguiu à ordem de Jesus. Então, aconteceu – primeiro imperceptivelmente, depois, mais claramente. A voz melodiosa de Jesus pôde dar vida ao um homem morto. A voz que havia dito “Haja luz” traz luz para a escuridão do cortejo fúnebre. O jovem se assentou e começou a falar. Jesus o ajudou a descer do caixão e o levou até sua mãe, que estava em prantos. Não lemos sobre abraços felizes e agradecimentos barulhentos. O curto relato de Lucas não nos dá todos os pormenores – mas podemos sentir o toque divino nesse momento em que a impossibilidade absoluta se torna em realidade tangível. Quando Deus enfrenta a morte, ela sempre retrocede. Quando Deus vê perda e dor, Ele sussurra em nosso coração: “Não chore.” A multidão ficou atônita ao testemunhar esse milagre. O coração dos que observavam se encheu de admiração e temor. Essa admiração os leva a glorificar a Deus. O sentimento popular é que havia surgido um grande profeta no meio deles e que Deus havia visitado Seu povo (v. 16). A

primeira reação relembra dois grandes profetas do Antigo Testamento, Elias e Eliseu, que também devolveram queridos filhos às suas mães (1Rs 17:21-23; 2Rs 4:31-35). A segunda chega mais perto da verdade – embora ninguém tenha compreendido o fato de Deus ter vindo apenas para uma curta visita, mas tenha Se comprometido pela eternidade. O Deus que sente a nossa dor

Jesus ressuscitou da morte mais de uma pessoa durante Seu curto ministério na Terra. Esses milagres funcionam como ilustrações tangíveis do Seu poder sobre as trevas. Eles falam de um Criador cuja palavra significa vida. Embora sejam declarações teológicas importantes, também nos mostram o Deus que vence e sente a nossa dor. Gosto muito da análise que Ellen G. White faz dessa história: “Aquele que Se achava ao lado da desolada mãe à porta de Naim, vela ao pé de todo enlutado, à beira de um esquife. É tocado de simpatia por nossa dor. Seu coração, que amava e se compadecia, é de imutável ternura. Sua palavra, que chamava os mortos à vida, não é de maneira nenhuma hoje menos eficaz do que ao dirigir-se ao jovem de Naim. Diz Ele: ‘É-Me dado todo o poder no Céu e na Terra’ (Mt 28:18). Esse poder não diminui pelo espaço dos anos, nem se esgota pela incessante atividade de Sua excessiva graça. A todos quantos creem, continua a ser um Salvador vivo.”2 Deus chora com toda mãe e pai enlutados. Deus chora com todo esposo e esposa que choram. Deus conhece a tristeza causada pela morte no coração de todo irmão, irmã, tio, tia, avô ou avó. Deus sabe – e Ele se prepara para o impossível. A vida eterna que nasce na manhã da ressurreição não é muito para Ele. Pergunte à mãe gritando louvores à entrada de Naim. Ouça a Marta e Maria enquanto abraçam a Lázaro. O dia da ressurreição está chegando; está ali, na esquina. Você é capaz de imaginar o dia em que “não haverá mais morte” (Ap 21:4)3 e as lágrimas e tristezas forem apenas uma leve lembrança que finalmente se apagará da mente para sempre? n 1 Reconheço

que José não era o pai biológico de Jesus. Mas ele foi chamado por Deus, o Pai celestial, para proteger e cuidar de Jesus, o Deus-Homem, quando veio a este mundo. G. White, O Desejado de Todas as Nações (Casa Publicadora Brasileira), p. 319. 3 Todos os textos bíblicos foram extraídos da Nova Versão Internacional. 2 Ellen

Gerald A. Klingbeil é editor associado da Adventist World, que aguarda ansiosamente a manhã da ressurreição. Outubro 2016 | Adventist World

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C R E N Ç A S

F U N D A M E N T A I S

NÚMERO 26 Frank M. Hasel

“A

H

á uma experiência que assusta todo ser humano. Ela paira sobre todos. Para alguns ela virá mais cedo; para outros, mais tarde. Mas certamente virá. Desde o princípio ela é parte da história humana. Os seres humanos, de todo o mundo, têm de enfrentá-la. Todos – vermelhos, amarelos, negros e brancos – são afetados por ela. Homens e mulheres, ricos e pobres, velhos e jovens, confrontam suas terríveis consequências. Ninguém consegue fugir dela, porque a morte é inevitável.

O lado escuro da morte

Em algum ponto da vida, todos já confrontamos a morte. Ela é tão terrível porque é final. Experimentamos o antônimo de vida como algo absolutamente permanente, algo que não pode ser mudado. Mesmo com todo conhecimento médico moderno e os avanços da ciência não conseguimos fugir da morte ou revertê-la. Uma vez que ela acontece, nada pode ser feito a respeito. Sentimo-nos impotentes, vulneráveis e desesperadamente sozinhos. Uma consequência terrível da morte é a separação. A morte é absolutamente destrutiva e violenta para todos os relacionamentos. Talvez, por essa razão, a morte seja a experiência que nós seres humanos mais tememos enfrentar! Aos jovens, a morte pode parecer muito distante, mas ela pode estar escondida na esquina; simplesmente não sabemos quando teremos que enfrentar o fim da nossa vida. Ao lado do amor, nenhum outro sentimento é tão intenso como a experiência agonizante da morte. Não admira que a morte e a manifestação da dor, tristeza e perda que ela provoca, sejam termos proeminentes e recorrentes na literatura, filmes e música. A realidade da morte nos leva às lágrimas. Por quê? Sentimo-nos assim porque com a morte a vida cessa e nosso corpo humano se torna sem sentido e frio, para logo se desintegrar. Voltamos ao pó, a matéria-prima usada por Deus para modelar o corpo do primeiro ser humano criado (Gn 2:7). Nesse estado sem vida, o sábio rei Salomão, sob inspiração, escreveu que “não há atividade nem planejamento, não há conhecimento nem sabedoria” (Ec 9:10).*

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morte já não existe ”

Antecipe o poder e a glória da manhã da ressurreição.

O caráter de Deus e a morte

A morte é a ausência de tudo que marca ou define a vida. De fato, a morte é a destruição da vida, portanto, o fim de relacionamentos de amor. Ela termina com a vida que todos desejamos viver. Deus criou os seres humanos para viver e desfrutar da vida em comunidade, com os outros e com o Criador. Assim, para o Deus triúno que tem vida e companheirismo em Si mesmo, a morte é o “último inimigo” (1Co 15:26). A morte nunca foi um mecanismo da criação de Deus. Ela vai contra a Sua própria natureza. Para Deus, a morte não é um princípio divino usado por Ele para que a vida evolua por meio do desaparecimento de grupos populacionais inteiros. Tal procedimento cruel não combina com Sua personalidade terna e compassiva, deturpando grosseiramente a Sua natureza e caráter amorosos. Deus sabe que a experiência da morte é assustadora. Ele compreende a tristeza e dor causada por ela. De fato, o próprio Deus, em Seu Filho Jesus Cristo, dispôs-Se a passar pelos efeitos dolorosos da morte no momento da separação, quando Jesus morreu na cruz, por nossos pecados. Embora


Embora tenhamos nascido para viver, Jesus nasceu para morrer por nós. tenhamos nascido para viver, Jesus nasceu para morrer por nós. Sem Sua morte sobre a cruz, Jesus não poderia ser o Messias prometido nas Escrituras (cf. 1Co 15:3), e a Bíblia estaria errada. Embora a morte voluntária de Cristo na cruz seja tão crucial e central para nossa salvação, somente a Sua morte não seria suficiente. Para vencer a morte, Jesus “ressuscitou no terceiro dia, segundo as Escrituras” (v. 4). No esplendor e glória da Sua ressurreição o poder da morte foi derrotado. Sem a ressurreição de Cristo, nossa salvação estaria incompleta. “E, se Cristo não ressuscitou, inútil é a fé que vocês têm” escreveu o apóstolo Paulo, e nós ainda estamos em pecado, e até “os que dormiram em Cristo estão perdidos” (v. 17, 18).

O salário do pecado é a morte. Mas Deus, o único que é

experiência mais alegre. O que a morte separou por causa do pecado, a ressurreição reúne. A morte interrompe nossos relacionamentos, mas a ressurreição restaura. A morte acaba com a vida e provoca o desespero, mas a ressurreição cria nova vida e restaura a esperança. E porque a morte elimina a existência corporal, a ressurreição de Deus restaura com um corpo novo que receberemos quando Jesus retornar em poder e glória (cf. v. 42, 44; 1Ts 4:14-18). Na ressurreição de Cristo, Deus triunfa sobre a morte, o último inimigo. “A morte foi destruída pela vitória” (1Co 15:54). Na ressurreição a autoridade do amor de Deus é muito maior do que o poder da morte. Podemos dizer que a ressurreição é o ato culminante do amor de Deus. O Deus que é amor (1Jo 4:8, 16) também é imortal (1Tm 6:16). Ele vive para sempre. Ele nunca morre. Portanto, Seu amor ressurreto deixa uma herança que nunca tem fim e que é mais permanente do que a morte: ela oferece vida eterna. Essa vida nunca mais será corrompida pelo pecado ou interrompida por suas terríveis consequências. É uma vida sem lágrimas, sem tristezas ou dor (Ap 21:4). A vida ressurreta será cheia de jubilosa alegria pelo que Deus fez por nós, e pelo que só Ele pode fazer. Os que ressuscitarem expressarão grande gratidão por Jesus Cristo, seu Salvador. Ficarão admirados por Ele não ter permanecido morto, mas porque ressurgiu da tumba no terceiro dia, e louvam a Deus porque todo aquele que crê em Jesus, tem vida eterna. A ressurreição é tão maravilhosa e gloriosa como o próprio Deus.

imortal, concederá vida eterna a Seus remidos. Até aquele

* Todos os textos bíblicos foram extraídos da Nova Versão Internacional.

O tempo está correndo

A ressurreição de Cristo marca o reverso da morte e de todas as suas consequências maléficas. Se a morte é a experiência humana mais temida, a ressurreição será nossa

e Morte Ressurreição dia, a morte é um estado inconsciente para todas as pessoas. Quando Cristo, que é a nossa vida, Se manifestar, os justos ressuscitados e os justos vivos serão glorificados e arrebatados para o encontro de seu Senhor. A segunda ressurreição, a ressurreição dos ímpios, ocorrerá mil anos mais tarde. (Jó 19:25-27; Sl 146:3, 4; Ec 9:5, 6, 10; Dn 12:2, 13; Is 25:8; Jo 5:28, 29; 11:11-14; Rm 6:23; 16; 1Co 15:51-54; Cl 3:4;

Frank M. Hasel foi eleito, recentemente, diretor

associado do Instituto de Pesquisa Bíblica na Associação Geral dos Adventistas do Sétimo Dia, em Silver Spring, Estados Unidos. Antes dessa função, trabalhou como pastor, professor e diretor do Departamento de Teologia no Seminário Bogenhofen, Áustria.

1Ts 4:13-17; 1Tm 6:15; Ap 20:1-10) – Crenças Fundamentais dos Adventistas do Sétimo Dia, nº- 26

– Crenças Fundamentais dos Adventistas do Sétimo Dia, nº- 21

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A R T I G O D E C A PA

DANÇA FÚNEBRE: Fotografia rara de uma dança tribal durante funeral em uma aldeia, em Benin.

Quebrando a

Sandra Blackmer

Falando de Jesus com animistas tribais na África Ocidental 16

Adventist World | Outubro 2016

F O T O :

C O R T E S I A

D E

H E N R Y

S T O B E R


O

coração do pai estava pesado ao se ajoelhar diante do altar da família e apresentar seu sacrifício ao espírito do seu ancestral. “Tu que nos deste filhos, salva-os dos caminhos dos homens brancos”, implorava ele. “Veja a desgraça que caiu sobre eles. Um vento forte está soprando contra eles. Os colonizadores franceses estão forçando nossos filhos a lutar em uma guerra que não tem nada que ver com o nosso povo. E os missionários estão nos fazendo enviá-los para a escola a fim de aprender coisas sem valor, quando precisamos de nossos filhos para nos ajudar a trabalhar na lavoura para que tenhamos comida. Nossos filhos vão crescer sem conhecer sua própria cultura e sem praticar nossas tradições tribais. “Tu que estás perto de Deus, vais ficar indiferente? Eu ordeno que ajas! Torne nossos filhos inúteis aos olhos dos seus sequestradores tirando seu conhecimento e poder. Use o vento de todas as quatro direções para confundir seus sentidos. Se tu fizeres, serás beneficiado por muitos sacrifícios que constantemente ofereceremos a ti. Aceite este primeiro sacrifício como um adiantamento pelo contrato assinado que coloco diante de ti. Não permaneças indiferente, mas saia e aja agora, traga nossos filhos de volta.” Assim, por volta de 1915 (próximo

ao início da Primeira Guerra Mundial), nasceu a maldição entre a tribo Otammari, na região de Natitingou, em Benin, África Ocidental. Apresentando Aquele que quebra maldições

“Por décadas eles tentaram quebrar essa maldição de um século, mas não conseguiram”, explica Jason Harral, obreiro da Adventist Frontier Missions (AFM), natural de Wyoming, Estados Unidos, mas que serviu na região de Natitingou, em Benin Ocidental, desde 2011. “Eles não têm esperança.” Segundo os obreiros da AFM, em Benin, o povo Otammari crê que a maldição continua a impedir o sucesso e desenvolvimento da sociedade. E realmente, as estatísticas indicam que quase toda a população Otammari trabalha em cargos mais baixos. “Essa maldição faz com que não tenham nenhuma ambição”, diz Ulrike (Uli) Baur-Kouato, obreira da AFM, natural da Alemanha, que trabalha na região há 17 anos. “Eles não veem necessidade de ajudar seus filhos a estudar além da escola primária, pois dizem: ‘Isso é desnecessário. Não podemos ir além disso pois a maldição está sobre nós.’ As pessoas nem tentam alcançar uma posição mais alta na sociedade. A maioria vive apenas pela comida. Eles plantam em seus campos,

mas mal roçam as lavouras.” Os líderes espirituais tribais, ou feiticeiros, não conseguem quebrar a maldição, explica Uli, porque a pessoa que pronunciou a maldição está morta e ninguém sabe exatamente o que ele disse ou que sacrifício usou. Assim, segundo as crenças tribais, a maldição não pode ser quebrada. “É aí que entram nossos evangelistas”, diz Jason. “Dissemos a eles: ‘Conhecemos Alguém que estava lá. Seu nome é Jesus, e Ele sabe como quebrar essa maldição. Sua história está na Bíblia. Você quer ouvir Sua história?’” E acrescenta: “Essa é uma ferramenta muito poderosa para captar o interesse deles para o estudo da Bíblia. Nós os ensinamos sobre Jesus, Aquele que Se tornou maldição por nós porque Ele foi dependurado em uma cruz e quebrou a maldição original que ocorreu no Jardim do Éden. E se Ele quebrou a grande maldição, dizemos a eles, também pode quebrar essa pequena maldição da sua tribo.”

Acima: MISSIONÁRIA DE LONGA DATA: Ulrike (Uli) Baur-Kouato, obreira da AFM alemã, que serviu em Benin por 17 anos, sentada do lado de fora da sua casa. Esquerda: LÍDER: Chefe da aldeia de Kounitchangou, em Benin, onde Jean e Charles, evangelistas locais da AFM, dirigem estudos bíblicos semanais.

Adventist World

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Direita: AULAS AO AR Jason e sua esposa Magnhild (Maggi), LIVRE: O evangelista local natural da Noruega, trabalham para a da AFM Jean Akolim AFM desde 2009 e serviram em (camisa azul), auxiliado Benin por cinco anos. Eles e seus três pelo evangelista Charles filhos – Reuben , 7; Kaia, 5 e Petra, 3 – Korrobessaga (camisa sentem-se em casa. vermelha) falam de Jesus “No início, sofremos um choque aos aldeões sob a “árvore cultural e passamos por momentos de reuniões” oficial, em muito difíceis, mas agora nos sentimos Kounitchaungou. como um nativo. Somos parte disso aqui”, disse Jason. Antes da chegada de Jason a Natitingou – cidade com cerca de cem mil habitantes – Uli e Suzie Baldwin, que também trabalham para a AFM, ministraram em Benin por quase duas décadas. Ambas chegaram em 1999. Primeiro trabalharam com outra família de missionários que partiu em 2003. Em 2007, Uli se casou com um homem beninês, chamado Toussaint, portanto, eram em apenas três antes da chegada da família Harral. Eles se dedicaram a conhecer as pessoas, a se familiarizar com a cultura, a ajudar nas necessidades da comunidade, a fortalecer a igreja local, e a desenvolver a confiança do povo. “Toussaint e eu nos esforçamos Acima: EVANGELISTAS muito para ministrar em nosso bairro”, DA AFM: Jason Harral, disse Uli. “Especialmente tentamos evangelista da AFM ajudar as crianças e os jovens a se (centro) caminha com os desenvolverem, a estudar e avançar evangelistas locais a quem nos estudos. Basicamente tentamos ele ajudou a treinar: Charles interagir com as pessoas e ajudá-las em suas necessidades individuais.” Korrobessage (esquerda) e Jean Akolim (direita). Estabelecendo as bases

Evangelismo com sensibilidade cultural

Quando Jason e Maggi chegaram, ela começou ajudando com o ministério da comunidade. Uma vez que muito no aspecto relacional já havia sido desenvolvido, Jason se concentrou no evangelismo. Seu alvo principal foi treinar as pessoas locais que já haviam aceitado a Cristo e que se uniram à Igreja Adventista do Sétimo Dia, a se tornarem evangelistas. Segundo ele, os moradores do lugar nunca aceitariam ou responderiam a um membro da AFM, a quem viam como estranho, como o fariam a alguém da sua própria cultura e que fala seus dialetos tribais. Assim, ele começou com sessões de

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Acima: Hyacinthe Tinati. Direita: Mulher busca água para sua família em um poço local.


o dilúvio, Abraão, a assim por diante. As outras fases subsequentes dos estudos se tornam mais temáticas, muitas abordando problemas sociais, como a poligamia e o alcoolismo. Mais tarde, abordam o desenvolvimento de liderança. Evangelistas locais

treinamentos semanais. Cerca de dez pessoas, em sua maioria homens, frequentaram, inclusive os obreiros da AFM, líderes da igreja local e outras pessoas interessadas. “Costumávamos ter a participação de mais mulheres, mas as que moram aqui têm a vida muito ocupada”, explica Jason. “Não temos tantas mulheres quanto gostaríamos.” Para ser sensível à cultura Otammari, o grupo desenvolveu estudos bíblicos que apresenta o evangelho de um modo que seja relevante para o povo e que esteja baseado na maldição que ainda afeta a comunidade. Os estudos começam com as histórias da Bíblia, iniciando com a criação e continuando com a queda, origem do mal, a batalha no Céu,

B

Hyacinthe Tianati, Jean Akolim, e Charles Korrobessaga, são três homens locais que frequentaram o treinamento e estão desempenhando papéis importantes para compartilhar a mensagem do evangelho na região circunvizinha. Hyacinthe, que já serviu como evangelista por muitos anos, mora em Boukoumbé, cerca de 50 quilômetros de Natitingou. Ele dirige a igreja de Boukoumbé e coordena a série evangelística da AFM em várias aldeias da redondeza. Jean mora em Kouaba, cerca de 25 quilômetros de Natitingou, e trabalha nas aldeias de Katayinka e Kounitchangou. Charles mora em Natitingou, onde dá estudos bíblicos para as pessoas da comunidade. Ele também ajuda Jean no seu trabalho evangelístico e dirige a livraria adventista local. “Hyacinthe vai pelas aldeias como um homem otammari, dizendo: ‘Eu cresci nessa cultura. Cresci sob essa maldição. Quero ver nosso povo ser

República de Benin

enin tem 112.622 quilômetros quadrados de área, faz fronteira com Niger, Burkina Faso, Nigéria e Togo; sua população é de cerca de 10 milhões de pessoas. Quase metade da população está abaixo dos 15 anos de idade, e a maioria vive nas regiões central e sudeste. O clima é tropical, com uma estação seca e uma estação chuvosa. Porto Novo, no sudeste, é a capital do Benin, mas a sede do governo é na vizinha Cotonou, maior cidade do país. Embora a língua nacional seja o francês, também são falados mais de 50 línguas e dialetos. As refeições no geral são cozidas ao ar livre, mesmo nas áreas urbanas e muitas casas não têm refrigeração. A refeição básica é formada por amido, como batata-doce, arroz ou milho, preparados como mingau e comido com um molho contendo vegetais, carne ou peixe. Há disponibilidade de grande variedade de frutas tropicais. Cerca de metade da população ganha a vida com a agricultura, embora a falta de estradas nas áreas rurais dificulte o transporte

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libertado dela. Eu estou livre da maldição pelo que Jesus fez.’ Dificilmente as pessoas resistem a isso”, diz Jason. “Sempre que Hyacinthe conta essa história, o resultado é um grupo de pessoas desejando estudar a Bíblia, desejando se reunir todas as semanas. Isso é muito poderoso. Agora ele está treinando jovens, rapazes, que vão com ele e aprendem como fazer evangelismo e aprendem a contar a mesma história. É uma coisa linda!” Jean é natural do Togo mas, no Ensino Médio, frequentou a escola em Boukoumbé e aprendeu o idioma local. Agora ele mora em uma pequena casa de argila, em Kouaba, e, semanalmente, dirige estudos bíblicos e os cultos aos sábados, em sua casa e sob as árvores, em duas outras aldeias próximas. A primeira vez que Jason assistiu a um dos estudos bíblicos de Jean, ele diz que ficou impressionado e feliz. “Ver o Jean ensinando, ver sua energia, foi como dia de pagamento para mim”, diz Jason. “Ele estava sentado em frente a 40 ou 50 pessoas explicando a origem do mal. Eu fiquei observando e pensei: Ele entendeu! Vou levar aquela imagem comigo pelo resto da vida.” “As aldeias em que Jean tem

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dos produtos agrícolas até o mercado. Os homens fazem os trabalhos mais pesados na lavoura, como arar a terra, mas as mulheres ajudam a plantar, colher e a processar o alimento. Elas também transportam a madeira e a água e cuidam das múltiplas tarefas domésticas. As mulheres receberam igualdade legal em 1977, mas, na prática, isso é muitas vezes ignorado. Cerca de 24% das mulheres são analfabetas. A maior parte dos casamentos são arranjados pelas famílias, mas está se tornando mais comum as pessoas escolherem seus cônjuges. A poligamia continua a ser uma prática aceitável. Cerca de 27% da população é cristã (maioria católica romana), 25% é muçulmana, e o restante segue as crenças nativas nas quais após a morte, os ancestrais são considerados parte da comunidade. Entretanto, naquela região, tanto as crenças muçulmanas como as cristãs, estão misturadas, em algum grau, com o animismo.* *Esse texto foi baseado em informações obtidas nas páginas http://www.beninembassy.us/ about-benin.html, http://www.everyculture.com/A-Bo/Benin.html, e http://www.iexplore.com/ articles/travel-guides/africa/benin/history-and-culture.

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Acima: ENSINANDO AS CRIANÇAS: Um evangelista leigo local chamado Daniel, ensina as histórias bíblicas às crianças, usando um rolo de gravuras. trabalhado por cerca de um ano têm sido resistentes a outras religiões além da deles”, observa Uli. “As igrejas que outras denominações religiosas tentaram estabelecer ali, foram fechadas ou abandonadas. As pessoas predisseram que as reuniões do Jean não durariam por mais de uns poucos meses, mas um ano depois elas ainda continuam fortes. O Senhor, definitivamente, o está abençoando.”

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Começando com os chefes

O conhecimento que os evangelistas locais têm da cultura e a criatividade ajudaram a abrir as portas quando começaram a entrar nas aldeias para pregar o evangelho. Primeiro abordaram o chefe da aldeia para pedir permissão. “Disseram: ‘Podemos apresentar algo para a sua aldeia? Há algo que gostaríamos de dizer ao povo’”, explica Jason. “Os

O que é animismo?

antropologista inglês Edward B. Tylor introduziu o termo animismo ao uso comum, em 1873. Ele o definiu como “doutrina de seres espirituais” e escreveu que, “no geral, é a crença em almas em um estado futuro, que controla divindades e subordina espíritos [. . .] resultando em um tipo de adoração ativa.”1 Esses seres espirituais podem ser de ancestrais que continuam em uma existência consciente após a morte, e outros espíritos que podem ser classificados como tão elevados quanto as divindades. Os animistas creem que esses espíritos habitam objetos e seres vivos, e que “tudo tem consciência e possui uma alma.”2 O animismo também é descrito como “a crença em que seres espirituais pessoais e forças espirituais impessoais têm poder sobre as questões humanas. Consequentemente, devem descobrir quais seres e forças os estão afetando para que as ações futuras sejam determinadas e, frequentemente, manipular o poder deles.”3 Em outras palavras, os animistas creem que o espírito de um ancestral pode arruinar uma colheita, adoecer uma pessoa, tornar alguém rico, ou reduzir sua renda. Os animistas vivem com medo desses poderes e tentam pacificar os espíritos. Quando acontece alguma coisa “má”, os “intermediários” espirituais são procura-

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chefes deram permissão e, de acordo com a Palavra de Deus, os evangelistas explicaram como a maldição pode ser quebrada. Assim, eles realmente mantiveram um público cativo. Ninguém pode dizer: ‘Não faça isso em nossa aldeia’, porque o chefe aceitou e participa das reuniões. “No início, houve certa resistência porque os aldeãos estavam com medo de que os evangelistas estivessem lá

BREVE RESUMO

dos para revelar a causa do problema e sugerir os remédios. São usados vários métodos — entre eles, o presságio, a astrologia e sonhos — para determinar que poder está envolvido. Os animistas não desenvolvem um relacionamento pessoal com os poderes espirituais, ao contrário, é baseado na tentativa de manipulá-los para fazer a vontade da pessoa, como amaldiçoar alguém a quem consideram inimigo. Fazem isso por meio de ritos animistas, como sacrifícios, amuletos de boa sorte e talismãs. Não são apenas as tribos remotas da África que praticam o animismo. Está crescendo o número de pessoas, mesmo nos países do Ocidente, que simpatizam com as práticas animistas. “Os que conferem seu horóscopo, fazem leitura da mão ou procuram videntes, estão buscando na prática animista, respostas para sua vida.”4 Algumas estimativas indicam que 40% da população do mundo é animista.5 1 http://missiology.org/old/folkreligion/chapter1.htm 2 http://www.newworldencyclopedia.org/entry/Animism 3 http://missiology.org/old/folkreligion/chapter1.htm 4 www.marketfaith.org/animism-in-todays-world-2/ 5 Ibid.


para destruir a cultura deles”, acrescenta Jason. “Mas Hyacinthe teve muito tato e disse: ‘Não queremos destruir o que é bom em sua cultura. E não vamos forçar ninguém a fazer nada. Não vamos quebrar nenhum altar. Damos a todos a liberdade de escolha. Estamos apenas apresentando a mensagem; e a escolha se aceitam ou não é de vocês.’ Então, eles se acalmaram.” Falando de Religião

Abordar o tema religião entre os Otammari não é muito difícil, diz Uli. Ela descreve o povo como “aberto, amigo e alegre”, e diz que é raro encontrar ateus na África. “Até as pessoas que não são cristãs sabem que Deus está lá”, diz ela. “É um povo muito religioso. Em Benin, algumas pessoas são muçulmanas, outras cristãs, mas a maioria é animista. Muitos misturam suas crenças com seu próprio sistema. Portanto, não é difícil falar sobre fé. Mas quando se trata das doutrinas bíblicas adventistas, há certas questões de estilo de vida que são extremamente difíceis de ser adotadas pelo povo. Um exemplo é não consumir bebidas alcoólicas. O álcool é um grande problema em Benin. O animismo é muito enraizado na região, explica Uli, porque os otammaris acreditam que tudo ao seu redor possui alma vivente – não apenas as pessoas e os animais, mas os lugares, rochas e tudo na natureza. Eles dizem que quando uma pessoa morre, a F O T O :

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alma continua viva e, de certa forma, influencia a vida diária. “Quando alguém fica doente, quando alguém morre, quando a colheita é fraca – tudo o que acontece tem uma razão no mundo espiritual ou invisível”, diz Uli. “É necessário descobrir o que há de errado no mundo espiritual e que está causando a doença ou o fracasso no trabalho deles. Assim, consultam um adivinho, que é o intermediário espiritual. Essa pessoa irá consultar os espíritos e descobrir qual dos espíritos ancestrais está aborrecido, qual a razão, qual sacrifício e que cerimônia precisa ser realizada para remediar a situação. É obviamente muito diferente do cristianismo.” Entretanto, Uli crê que, a despeito das diferenças nas crenças religiosas, o Senhor está abençoando os esforços dos membros da equipe da AFM e que eles estão fazendo a diferença. “Quando os missionários da AFM vão para um país, devem primeiro viver entre o povo e observá-lo; estudar seu idioma, a cultura, as tradições e a religião”, diz ela. “Depois de conseguir esse conhecimento e de construir amizades e confiança, busca-se encontrar a melhor maneira de tocar o coração das pessoas.” Avançando

Uli diz que o projeto da AFM, em Benin, está quase completo e provavelmente vai ser eliminado gradualmente nos próximos dois anos. Os evangelistas

de tempo integral continuarão, supervisionados por um pastor local e pela sede da missão. Mas Uli e seu esposo continuarão na África. “Apaixonei-me pela África, pelo povo daqui e por um africano”, diz Uli. “Toussaint e eu decidimos que vamos continuar a usar nossos talentos para trabalhar com as crianças e os jovens, em Natitingou.” Seu objetivo é construir, em um terreno próprio, um lar para órfãos e crianças abandonadas em um terreno próprio. Suzi também se casou com um beninês, Fidel, e os dois se mudaram de Natitingou para Tanguiéta, em 2014, quando iniciaram um novo projeto da AFM. Após serem entrevistados para este artigo, Jason e sua família também deixaram Benin e se mudaram para a Noruega, onde estão se preparando para retornar em breve, para outra região da África Ocidental. No entanto, para eles, esta não foi uma decisão fácil de ser tomada. “Poderíamos permanecer aqui para sempre, mas como o trabalho está terminando, escolhemos seguir em frente”, explica Jason. “Não é pelo desejo de sair daqui; é simplesmente porque chegou a hora de deixar o trabalho com outros.” No entanto, Jason e Maggi oram para que o Senhor continue abençoando o povo de Benin, e que Sua mensagem de amor toque o coração daquele povo. “O que mais podemos fazer além de deixar tudo nas mãos do Senhor e do Espírito Santo?” diz ele. “À medida que os obreiros e o povo continuem a buscar ao Senhor, e a buscar a Jesus, oro para que Ele seja revelado de tal forma, que eles nunca se esqueçam.” n

Sandra Blackmer é editora assistente da Adventist World. Este artigo foi baseado em entrevistas realizadas por Blackmer, além das imagens de vídeo e entrevistas realizadas por Henry Stober, cinegrafista e fotógrafo profissional, que mora na Alemanha. Outubro 2016 | Adventist World

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V I D A

A D V E N T I S T A

N

o dia 6 de abril de 2013, recebemos o tipo de telefonema que os pais nunca esperam receber na vida. Nosso único filho, Andrew Oey Kuntaraf, foi morto em um trágico acidente de motocicleta. O relatório da polícia constatava que nosso filho estava respeitando a lei, não excedendo a velocidade, mas o outro motorista, que não conseguiu parar, causou a desastrosa casualidade. Ficamos absolutamente chocados e devastados. Choramos até secarem as lágrimas. Andrew tinha 33 anos de idade e estava no auge da sua vida. Ele havia servido como diretor associado do SunPlus Adventist Accounting Software (software de contabilidade) da Associação Geral (AG), uma função que requeria viagens para várias partes do mundo, trabalhando com tesoureiros das Divisões, Uniões e Associações. Aos 32 anos, foi nomeado diretor do Software de Controle do Número de Membros da AG, trabalhando de perto com os secretários das Divisões em todo mundo. Temos muito orgulho do Andrew. Ele cresceu e se tornou alguém muito equilibrado. Possuía várias habilidades de liderança e oratória, falava várias línguas e dialetos, e tinha o talento para tocar vários instrumentos musicais. Acima de tudo, ele amava a Deus e usava todas essas habilidades para louvar o Senhor, pregando e fazendo música onde quer que fosse convidado. Andrew também era um filho querido, atencioso e amoroso. Nós nos abraçávamos sempre que nos encontrávamos. Reconhecemos que a morte pode chegar a qualquer um, a qualquer momento e em qualquer lugar, mas a realidade da morte dele foi avassaladora. A tristeza pela morte de queridos é um processo que pode levar anos, e talvez até a vida toda. Entretanto, cremos que o Senhor realizou em nós o milagre da restauração. Sua restauração veio por meio da divina Palavra que Ele nos oferece, pelas pessoas que Ele usa para nos apoiar, e pela oportunidade de que um evento trágico como esse ainda possa ser uma bênção para outros. A divina Palavra de Deus nos ajuda a atravessar os períodos escuros da vida

Por meio da leitura da Sua Palavra, meditação e oração, Deus continua nos revelando que Suas promessas são verdadeiras e que Sua fidelidade se renova a cada manhã. A Bíblia nos levanta e nos fortalece. Ao reconhecer que este mundo não é nosso lar e que Jesus está voltando, somos lembrados de que a morte do Andrew é apenas temporária. Também somos lembrados de que a vida é um presente de Deus. Como lemos em Jó 1:21: “O Senhor o deu, o Senhor o levou.” Andrew foi um presente de Deus, e louvamos ao Senhor porque ele foi confiado a nós por 25

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Deus restaura Pais compartilham sua jornada de anos, até que se casou. Louvamos a Deus pelos seus 33 anos e sete meses de vida, pois ele era uma fonte de alegria para nós. Temos saudades de seus abraços e esperamos pela vinda de Jesus, quando poderemos abraçá-lo outra vez e dizer: “Eu te amo, Andrew”. Nunca mais nos separaremos. Sim, a esperança pela segunda vinda de Jesus realmente alivia nossa dor. A restauração vem com a ajuda da comunidade de crentes em Deus

O Senhor usou muitas pessoas do povo de Deus para nos confortar em nosso período de profunda dor. Recebemos muito amor e a empatia do mundo todo por meio de milhares de mensagens e cartões de condolências, e-mails, mensagens de texto, telefonemas e Facebook. Muitas pessoas vieram de várias partes do mundo para o funeral do Andrew. Mais


A família Kuntara em tempos mais felizes.

Kathleen e Jonathan Kuntaraf

corações aflitos restauração após a morte do filho. tarde, o Pr. Israel Leito, presidente da Divisão Interamericana, disse-nos: “Essa é uma perda não apenas para a família, mas para a igreja mundial, também.” Apreciamos todas as orações e fomos confortados porque outros também choraram conosco a perda do nosso filho. Os membros da igreja são as mãos de Deus; essa comunidade nos envolve e nos ajuda em nossa recuperação. A restauração vem quando a tragédia é usada para abençoar a outros

Descobrimos que até em um evento trágico como a morte é uma oportunidade para encorajar outros a se aproximarem de Cristo. Hebreus 11:4 diz: “Pela fé Abel ofereceu a Deus um sacrifício superior ao de Caim”, e “embora esteja morto, por meio da fé ainda fala.” Abel ainda fala a nós por meio de sua vida de obediência a Deus.

É confortador saber que o Senhor usou o Andrew para tocar a vida de tanta gente! Muitas pessoas nos contaram como o espírito do nosso filho, as coisas que fez e as palavras que disse, encorajou-os e causou mudanças tangíveis na vida deles que ainda são visíveis hoje, após sua morte. Foram realizadas várias cerimônias em homenagem ao Andrew. Essas cerimônias se tornaram uma plataforma de reconciliação, perdão e priorização na vida das pessoas. Louvamos a Deus porque a vida do Andrew, e mesmo sua morte, tornaram-se catalizadores para aproximar as pessoas e aproximá-las de Deus. Quando uma tragédia nos atinge, muitas vezes nos perguntamos: “Que benefício pode resultar disso?” Se estivermos abertos ao Espírito Santo, reconheceremos que Deus ainda nos fala em meio à tragédia e que ela pode ser usada como um modo de testemunhar para Deus e ser uma bênção para outros. A morte do Andrew nos estimulou a criar um fundo para bolsas de estudo, em sua homenagem. Usamos as doações monetárias generosas entregues nas várias cerimônias em sua memória, para ajudar muitos órfãos, crianças necessitadas e moços e moças que querem cursar uma faculdade, na Indonésia. Louvamos a Deus que outros jovens podem ser inspirados a seguir o exemplo e a visão do Andrew, de ministrar a outros. Usar uma tragédia para se conectar com pessoas e ajudá-las, promove a restauração no período de tristeza. Deus realmente tem o poder de restaurar nosso coração aflito por meio da Sua Palavra, pelas pessoas de fé que nos fortalecem e pelas oportunidades de ser uma bênção, mesmo em meio à tragédia. Ainda sentimos profundamente a falta do Andrew, não passamos um dia sequer sem que, por algum motivo, pensemos nele. Recebemos a restauração pessoal ao abrir mão das coisas que não podemos mudar, ao perdoar o motorista negligente, e ao reconhecermos coisas que não perdemos. Guardamos com carinho as doces memórias que temos do Andrew, mas também estimamos os membros vivos da nossa família – nossa filha, genro e netos – que sempre nos consolam. Ganhamos uma profunda apreciação pela vida e pelas oportunidades de ministrar a outros enquanto ainda estamos vivos. Aguardamos pela segunda vinda de Jesus, quando nunca mais seremos separados dos nossos queridos. n

Kathleen Kuntaraf, aposentada recentemente, serviu como diretora associada do Departamento de Saúde da Associação Geral.

Jonathan Kuntaraf, também aposentado recentemente, foi

diretor do Departamento de Escola Sabatina e Ministério Pessoal da Associação Geral.

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A S S U N T O

A T U A L

O que há de novo sobre a Merling Alomía

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ivemos num mundo em que, diariamente, temos que enfrentar doença, aflição e a inevitável tragédia da morte. O dilúvio de lágrimas por nossa dor e tristeza é tão grande quanto o dilúvio devastador dos dias de Noé. O mundo está cheio de sofrimento, choro, funerais, que nos lembram do destino de morte que espera por todos nós no fim de nossos dias. Mas, o que é morte? E por que ela tem que fazer parte de nossa existência? Há alguma esperança desse flagelo finalmente se transformar em um final feliz? A velha mentira do inimigo

Nossa triste situação atual começou quando nossos primeiros pais, Adão e Eva, desconfiaram da bondade do Criador, abandonaram a fé na Palavra divina, abertamente rejeitaram Sua autoridade, e escolheram acreditar no pai da mentira e segui-lo. Eles comeram o que Deus havia proibido comer (Gn 3:6), crendo na mentira do “homicida” e “pai da mentira” (Jo 8:44), que garantiu a eles: “Certamente não morrerão”(Gn 3:4). Naquele exato momento começou a tragédia humana. Seus olhos se abriram para apreender a miséria sem limites que resultaria de sua desobediência. Seu encontro diário com o Criador se tornou triste e trágico. Novas emoções e reações de vergonha, medo, mentiras e autojustificação agora dominavam seu comportamento e sentimentos, enquanto

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morte? Ela ainda é morte?

eram forçados a enfrentar a nova e terrível realidade do pecado e suas consequências. Ao rejeitar a bênção inicial da vida eterna oferecida por Deus, eles escolheram aceitar o presente do enganador: um destino de dor e morte. Foram forçados a deixar seu lar no Éden como meros pecadores mortais, e a ouvir sua sentença de condenação: “Maldita é a terra por sua causa; com sofrimento você se alimentará dela todos os dias da sua vida. […] Com o suor do seu rosto você comerá o seu pão, até que volte à terra, visto que dela foi tirado; porque você é pó, e ao pó voltará” (v. 17, 19). Posteriormente, como resultado do pecado da humanidade, a vida aqui na terra foi carimbada, para sempre, com a tragédia da morte. Tempos novos, mentira velha

Ao longo dos séculos, essa maldição não perdeu sua força. Nem as falsidades de Satanás. Ele conseguiu introduzir a crença na imortalidade natural da alma nas culturas de todos os lugares. Tanto entre os povos primitivos como entre as filosofias dos povos educados, a revelação divina é rejeitada e mais uma vez a mentira é aceita: “Certamente não morrerão.” Nosso novo milênio não é uma exceção a essa tendência rebelde. Sob o pretexto da modernidade sofisticada, a humanidade se agarra a essa falsidade sob as bênçãos no movimento Nova Era. É intrigante perceber que esse F O T O :

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movimento é nada mais do que uma reengenharia sofisticada do velho espiritismo, instituído pela primeira vez no Jardim do Éden, e reformulado nos tempos modernos. Desde meados do século dezenove, a mentira tem sido exibida sob mil sutilezas, promessas e imagens. Os adeptos da Nova Era denominaram o novo milênio como Idade de Aquários. Desde os anos 1960, os apóstolos da Nova Era têm usado efetivamente o cinema, TV, a imprensa, e uma infinidade de livros e revistas, além das chamadas descobertas científicas, para espalhar as doutrinas espiritualistas. A indústria do filme se estabeleceu como principal porta-voz da mentira da Nova Era. Inúmeros filmes, seminários, técnicas, exercícios, música, ecologia mística, conferências, milagres, turismo exotérico, meditação transcendental, energia, feitiçaria, etc., têm sido usados para espalhar os princípios do movimento. Mais e mais as igrejas abrem suas portas ao oculto sob o pretexto de apreciar as experiências místicas e a oração transcendental. Quem vive neles é o “Cristo Cósmico”, não o “Cristo do Calvário”. Expor a mentira

Enquanto Satanás espalha sua mentira, é bom levar em conta a advertência do apóstolo Paulo sobre esse grande engano: “O Espírito diz claramente que nos últimos tempos alguns abandonarão a fé e seguirão espíritos enganadores e doutrinas de demônios” (1Tm 4:1). Forças satânicas multiplicarão suas atividades enganadoras enquanto tentam introduzir a apostasia dentro das fileiras do povo de Deus. Ao mesmo tempo, Jesus nos exorta, que pouco antes de Sua vinda, haverá a manifestação de falsos cristos e profetas do engano agindo em conjunto, para “se possível enganar até os eleitos” (Mt 24:24). O apóstolo João predisse que o exército de Satanás, chamado Babilônia, se tornará “habitação de

demônios e antro de todo espírito imundo” (Ap 18:2). João mostra que o espiritismo vai mergulhar o mundo no engano e angústia final enquanto planeja com os líderes das nações (v. 3). No fim dos tempos, Satanás usará seu primeiro engano, a mentira da “imortalidade da alma”, para confundir a humanidade sob sua rede diabólica.1 Sua ação culminante será usar o espiritismo, em tríplice aliança com a besta romana e o falso profeta americano para procurar enterrar o mundo no caos final.2 Os ensinos da Nova Era sobre a alma são diretamente opostos à mensagem salvífica do evangelho de Jesus Cristo. Ao contrastarmos as duas, temos um resumo dessa verdade perturbadora. Salvo para sempre

O evangelho eterno é parte da tríplice mensagem angélica, o clímax da proclamação pela igreja remanescente. É uma mensagem que deve ser proclamada enquanto desfrutamos de liberdade e da graça oferecida pelo santuário. Jesus Cristo veio ao nosso mundo para “destruir as obras do diabo” (1Jo 3:8) e libertar os cativos do engano da sua prisão na morte. Ele veio para nos salvar e nos dar vida eterna. Ele nos lembra: “Porque a vontade de Meu Pai é que todo aquele que olhar para o Filho e nEle crer tenha a vida eterna, e Eu o ressuscitarei no último dia” (Jo 6:40). n 1 Ellen

G. White, O Grande Conflito (Casa Publicadora Brasileira), p. 588.

2 Ibid.

Merling Alomía, é educador e administrador aposentado, que por muitos anos serviu na Universidad Peruana Unión, perto da cidade de Lima, Peru.

A Bíblia e seu Evangelho

Nova Era e o Espiritismo

O ser humano ou alma é mortal.

O ser humano possui uma alma imortal. Nós não morremos.

A morte é nossa inimiga.

A morte é nossa amiga.

Quando morremos, perdemos todo o contato com a vida.

Após a morte, os mortos podem se comunicar com os vivos.

Somente Cristo pode nos dar vida eterna.

A vida eterna em Cristo é um mito.

A única maneira de retornar à vida é por meio da ressurreição que nos concede imortalidade sob a mesma identidade que temos agora.

Quando morremos, reencarnamos em outro corpo e identidade (até em animal, inseto, animal de quatro patas ou pássaro), para nos manter vivos.

A ressurreição é um evento único, não repetitivo; quando ressuscitarmos, receberemos um corpo perfeito, incorruptível e imortalidade eterna, sem defeitos físicos ou morais.

A reencarnação é repetitiva, pois a pessoa morta pode se reencarnar milhões de vezes, repetindo suas falhas e defeitos morais.

O objetivo é que toda pessoa seja salva por meio de Jesus Cristo, que nos garante ser a “ressurreição e a vida” e que irá ressuscitar todo o que nEle crer e em Sua segunda vinda.

O objetivo é que cada pessoa se perca por acreditar na mentira da imortalidade da alma planejada por Satanás, a quem Jesus chama de “homicida” e “pai da mentira” (Jo 8:44).

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R E S P O S T A S

A

P E R G U N T A S

B Í B L I C A S

O que Jesus Jesus disse ao ladrão na cruz que sua alma sobreviveria à sua morte? (Lc 23:42, 43)

disse ao ladrão

A história do ladrão na cruz expressa a disposição de Cristo de Se submeter ao plano que Deus tinha para Sua vida na Terra e para o Seu poder de salvar. Enquanto a multidão O acusava de não poder salvar-Se, Jesus estava pronto para salvar o ladrão. Isso foi possível porque Ele não queria salvar a Si mesmo. Infelizmente essa passagem tem sido utilizada para defender a crença de que ao morrer as pessoas boas vão para o paraíso. 1. Paraíso: O lugar ou destino tanto do ladrão como de Jesus é chamado “paraíso”, originalmente uma palavra persa que significa “terreno cercado, parque, jardim”. A versão grega de Gênesis 2:8-10, 16, usa a mesma palavra (paradeisos) para Jardim do Éden. Essa palavra é encontrada duas vezes no Novo Testamento. Em 2 Coríntios 12:2 Paulo diz que foi levado em visão ao terceiro céu, que ele denomina “paraíso” (v. 4), o lugar em que Deus habita. Em Apocalipse 2:7 “paraíso” é o lugar em que a árvore da vida está localizada. Os vencedores terão acesso a esse lugar e à árvore da vida. Em nenhum lugar da Bíblia o “paraíso” é o lugar para onde os justos vão imediatamente após a morte. Nitidamente esse é um lugar em que os justos ressurretos irão para estar com Cristo e o Pai, no qual terão acesso à árvore da vida. 2. Jesus e o fariseu: Segundo os registros bíblicos, Jesus não foi para o paraíso após Sua morte (At 2:31; Mt 12:40). Jesus foi enterrado e permaneceu na tumba até a Sua ressurreição, e foi quando apareceu para Maria declarando “ainda não voltei para o Pai”, mas disse, agora “Subo para Meu Pai e vosso Pai, para Meu Deus e vosso Deus” (Jo 20:17; cf. 28:9). A conclusão óbvia é que Ele não pode ter prometido ao ladrão que estaria com ele no paraíso, na sexta-feira. Além disso, Jesus e o ladrão não morreram ao mesmo tempo. O registro bíblico indica que Jesus morreu sexta-feira, antes do pôr do sol (Jo 19:33). Quando Jesus morreu o ladrão ainda estava vivo e teve as pernas quebradas. Muitas vezes, as pessoas crucificadas demoravam vários dias para morrer.

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Consequentemente, ao dizer “hoje” Jesus não podia estar Se referindo àquela sexta-feira, e o ladrão não poderia estar com Cristo no paraíso naquele mesmo dia. 3. O significado do “hoje”: Em geral, a interpretação desse texto está relacionada à questão da vírgula: Ela deveria ter sido colocada antes do “hoje” (“em verdade te digo que hoje estarás comigo no paraíso), ou após o “hoje” (em verdade te digo “hoje”, estarás comigo no paraíso). A primeira versão é a mais comum entre os intérpretes que acreditam na imortalidade da alma. A ideia é que, imediatamente após sua morte, a alma do ladrão estaria com Cristo no paraíso. Uma vez que as vírgulas só foram acrescentadas ao texto em grego no século quinze d.C., Lucas não usou vírgula. Portanto, provavelmente ele quis dizer “em verdade te digo hoje, estarás comigo no paraíso”. Essa sugestão condiz com um uso semelhante do termo “hoje” no Antigo Testamento, no contexto de promessas solenes: “que hoje te ordeno” (Dt 30:16); “hoje, te declaro que certamente perecerás”(30:18). “Hoje” é a introdução de uma declaração solene. Isso se encaixa com o fato de que Jesus não foi para o paraíso imediatamente após Sua morte. Ele estava prometendo solenemente ao ladrão que ele desfrutará da salvação com Cristo, no paraíso, após a ressurreição. Essa interpretação também flui do uso do advérbio “hoje” no evangelho de Lucas. Jesus o usava para indicar que a salvação já está disponível por meio de Cristo hoje (2:11; 4:21; 5:26; 19:9). Esse é o “hoje” da salvação. Naquele caso, Jesus estava dizendo ao ladrão que o momento da cruz é o momento de salvação, e que ele irá participar dela no paraíso. De maneira nenhuma o texto se refere a um estado intermediário, mas ao poder salvador da cruz. n

Agora aposentado, Ángel Manuel Rodríguez serviu como pastor, professor e teólogo.


E S T U D O

B Í B L I C O

Questões de

vida e morte Mark A. Finley

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a parábola do homem rico e Lázaro (Lucas 16:19-31), o homem rico vai imediatamente para o inferno e Lázaro vai para o céu (seio de Abraão). Como o senhor explica essa parábola se os que morrem descansam inconscientes até o retorno do Senhor?

É importante notar que esta é uma parábola, a quinta de uma série de parábolas: a ovelha perdida, a moeda perdida, o filho perdido (Lucas 15), e o mordomo injusto (Lucas 16:1-11). As parábolas são destinadas a ensinar um grande princípio moral. O objetivo não é que cada aspecto da parábola seja aceito literalmente. Por exemplo, mesmo que o Pastor tenha que procurar por nós, não temos lã e quatro patas como a ovelha. Não somos de metal como a moeda. A pergunta que precisamos fazer sobre cada parábola é: Qual é a grande lição moral dessa história? Estaremos encrencados se tentarmos entender literalmente cada detalhe da parábola em vez de perceber a lição que Jesus está tentando ensinar. Vamos assumir que a parábola do homem rico e Lázaro deva ser tomada literalmente. É possível manter uma conversa entre o Céu e a Terra? As pessoas no Céu podem ver as que estão queimando no inferno? Podem ouvir seu tormento? Abraão deve ter um seio enorme para caber todas as pessoas que vão para lá? Tentar compreender a parábola literalmente é criar grandes problemas. O Céu seria um lugar terrível se pudéssemos ver o sofrimento constante de nossos queridos e amigos.

1 Por que Jesus usou essa história? Que lição Ele estava tentando ensinar? Os judeus tinham a tradição de descrever a morte como uma passagem pelo vale de trevas, onde se arrisca à perdição e à destruição eternas para encontrar segurança no seio de Abraão.

2 Que três lições Jesus intentava comunicar nessa história? Primeira, os judeus acreditavam que riqueza era um sinal do favor de Deus, e pobreza um sinal do Seu descontentamento. Na história, o homem rico a quem os judeus consideravam abençoado por Deus, acaba no inferno e o homem A R T E :

J O H N

E V E R E T T

M I L L A I S

W W W. H A R VA R D A R T M U S E U M . O R G

pobre no céu. Jesus reverteu o resultado esperado, demonstrando que a riqueza resultante da ganância, desonestidade ou opressão não é um sinal do favor de Deus. Segunda, a parábola descreve um grande abismo. Jesus comunica claramente que não há uma segunda chance após a morte. As decisões tomadas durante a vida determinam o destino eterno. Terceira, Jesus salienta que se o fariseu rejeitar os claros ensinos da Palavra de Deus em relação à salvação, também rejeita um milagre espetacular e sobrenatural como alguém ressuscitar da morte.

3 Os judeus sempre pediam um sinal a Jesus. Que sinal do Seu poder Jesus deu a eles pouco tempo depois? Leia João 11:11-14, 43, 44. Como resultado da ressurreição de Lázaro, o irmão de Maria e Marta, os judeus o ameaçaram de morte (Jo 12:10). Eles estavam tão enganados que conspiraram para destruir Jesus também. Eles liam a Bíblia com um véu sobre os olhos (2Co 3:14-16). Eles falharam em compreender que as Escrituras testificam de Jesus (Jo 5:39). Quando Jesus ressuscitou Lázaro dos mortos, eles não acreditaram. As palavras proféticas de Jesus: “Se não ouvem a Moisés e aos Profetas, tampouco se deixarão convencer, ainda que ressuscite alguém dentre os mortos” (Lc 16:31). Que apelo! Que advertência urgente! As Escrituras são nossa autoridade final. Jesus usou a tradição popular judaica para ilustrar Sua verdade poderosa. A Bíblia inteira se harmoniza maravilhosamente. n

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TROCA DE IDEIAS

Profundamente tocado

Cartas

Admiração pela Adventist World

Sou jornalista, natural de Papua-Nova Guiné. Alguém me deu uma das suas revistas para me distrair quando estava entediado. Mas a revista acabou me tocando tanto, que compreendi o amor de Deus, amor que tocou a tantas pessoas como eu, em todo mundo. Sou cristão porque meu país acredita no Deus de Abraão, Isaque e Jacó, mas estou longe de ter um relacionamento pessoal com Deus. Gostaria de receber sua revista pois ela me inspirou muito. Que Deus continue abençoando o trabalho que estão realizando para Ele. Omae Koake Papua-Nova Guiné

OraçãoW

Fui profundamente tocado pelo inspirado ministério de Leonardo Asoy (“Presidente de Divisão sucumbe a doença rara”, março de 2016). Participei de um evento nacional, em outubro de 2015, no Mountain View College. Nossa empresa estava quase falindo e decidimos nos encontrar com o Pr. Ted Wilson, mas ele já tinha viajado. Então, fomos falar com o Pr. Asoy. Foi muito emocionante ouvi-lo orar por nós. Aparentemente, ele nem percebeu a multidão ao nosso redor. Muito obrigado. John-Eric Taburada Cebu City, Filipinas Lindos testemunhos

Aprecio muito ler a Adventist World. Gosto especialmente dos lindos testemunhos que falam do poder de Deus agindo na vida dos Seus filhos fiéis, em todo mundo. Mireya Lopez Alaña Guayaquil, Equador

Leonardo Asoy

Foi muito emocionante ouvi-lo orar por nós. Aparentemente, ele nem percebeu a multidão ao nosso redor. – J ohn-Eric Taburada Cebu City, Filipinas

De capa a capa

Recentemente li um exemplar da Adventist World. Fiquei tão impressionado que li de capa a capa. Scott Carmell Tennessee, Estados Unidos

Como enviar cartas: letters@ adventist world.org. As cartas devem ser escritas com clareza, contendo, no máximo, 100 palavras. Inclua na carta o nome do artigo e a data da publicação. Coloque também seu nome, cidade, estado e país de onde você está escrevendo. As cartas serão editadas por questão de espaço e clareza. Nem todas as cartas enviadas serão publicadas.

GRATIDÃO

Por favor, ore por meu país que está em guerra, para que haja paz permanente. B yayi, República Democrática do Congo Estou lutando para conseguir um emprego que me proporcione o sábado livre. Shemfred, Quênia

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Ore por mim, pois vou entrar no ministério pastoral. Que Deus me sustente nessa nobre tarefa como fez durante os meus estudos. Elie, Camarões Por favor ore para que meus filhos recebam Jesus no coração. Mederie, Martinique

Por favor, una-se comigo em oração pela saúde de minha esposa. Ela passou por um procedimento há dois anos, mas ainda não está curada. Ela sente dor constantemente. Godfrey, Quênia


É de ! a c o a b r e h c n e “Taumatawhakatangihangakoauauotamateaturipukakapikimaungahoronukupokaiwhenuakitanatahu” é considerado o nome mais longo de um lugar do mundo. Esse é o nome de uma colina na Nova Zelândia, que significa: “Topo da colina onde Tamatea de joelhos grandes, conquistador de montanhas, comedor de terras, viajante sobre terras e mares, tocou sua flauta para sua amada.” Fonte: Hemispheres

água limpa é essencial A para manter nosso corpo limpo, por dentro e por fora. Mas em muitas partes do mundo, o acesso à água limpa é um desafio. E m todo o mundo, uma em cada dez pessoas não tem acesso à água potável. ma em cada três U pessoas não tem acesso a sanitários. ais pessoas têm acesso M a um telefone celular do que a um banheiro.

Sou estudante do terceiro ano de Farmácia. Por favor, ore para que eu seja dispensado das aulas aos sábados. Ore para que Deus fortaleça a minha fé e a de minha família, e para que meu irmão retorne para a igreja. Teereinah, Papua-Nova Guiné

cada 90 segundos A uma criança morre por doença relacionada com a água. m terço das escolas U não tem acesso à água potável e a saneamento adequado. E m muitos lugares, mulheres e meninas passam até seis horas, todos os dias, coletando água (isso representa 125 milhões de horas por dia).

Por favor, ore para que minha família aceite a Jesus, e para que meu neto seja curado da depressão. Sarah, Estados Unidos Necessito de suas orações e apoio urgentemente, para entrar na universidade. Andrew, Uganda

ada dólar investido C em água e saneamento, resulta em um retorno econômico de quatro dólares. participação de A mulheres nos projetos de água pode torná-los de seis a sete vezes mais efetivos. Fonte: Water.org I M A G E M :

P I X E L S Q U I D

Oração & Gratidão: Envie seus pedidos de oração ou agradecimentos (gratidão por orações respondidas) para prayer@adventistworld.org. As participações devem ser curtas e concisas, de no máximo 50 palavras. Os textos poderão ser editados por questão de espaço e clareza. Nem todas as participações serão publicadas. Por favor, inclua seu nome e o nome do seu país. Os pedidos também podem ser enviados por fax para o número: 1-301-680-6638; ou por carta para Adventist World, 12501 Old Columbia Pike, Silver Spring, MD 20904-6600, EUA.

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TROCA DE IDEIAS G. F. Jones

Cecile F. Guiot

91anos

N

o dia 23 de outubro de 1925, o capitão G. F. Jones e sua esposa, navegaram de Sidney, Austrália, a Nouméa, Nova Caledônia, como os primeiros missionários adventistas a trabalhar no arquipélago de Nova Caledônia e Loyalty. Mais tarde, os Jones receberam a ajuda de C. F. Guiot, membro leigo francês que chegou à Nova Caledônia, em 30 de novembro de 1926, e 12 meses mais tarde, foi nomeado obreiro bíblico, pela União Australasiana. Em 1926, Jones visitou as Ilhas Loyalty e distribuiu literatura em francês. O primeiro indígena a se converter foi uma mulher chamada Sarah, membro da família do chefe. Após sua conversão, Sarah apresentou Jones a Ada Peyras, na Nova Caledônia, a quem ele deu estudos bíblicos. Como resultado, Peyras se uniu à igreja e se tornou a primeira adventista convertida na Nova Caledônia. Após várias famílias protestantes de influência terem abraçado a mensagem adventista, os oponentes descobriram que a Igreja Adventista não estava registrada no território. Jones deixou a região, em 1927, deixando 10 membros batizados e 25 membros da Escola Sabatina. Guiot, cidadão francês, serviu como missionário da Nova Caledônia por mais de 20 anos, até a igreja ser legalizada.

os

três mais

Os três idiomas mais estudados por turistas são:

2

Espanhol 24%

3 Italiano 17%

1 Inglês 37%

(Outras) 22%

Fonte: USA Today I M A G E M :

Seja breve

Os líderes da Escola Sabatina dos Primários estão discutindo como será o programa da semana seguinte, pois a apresentação especial para a classe dos adultos, reduzirá o tempo normal do programa. “ Qual é a história da Bíblia da semana que vem?” alguém perguntou. “De Zaqueu” foi a resposta. “Que bom, pelo menos a história é pequena.”

– Scott Wegener, Igreja de Castle Hill, New South Wales, Austrália

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P I X E L S Q U I D

Participe conosco O Intercâmbio de Ideias da Adventist World está em busca de participações. Para que o extenso mundo dos adventistas do sétimo dia seja conhecido, envie: n Fotos em alta resolução (com legendas e crédito da foto) n Experiências profundas ou humorísticas n Lições espirituais breves n Poemas curtos n Frases que valham a pena ser repetidas. Envie para Letters@AdventistWorld.org. Coloque no assunto “Idea Exchange”.


“Eis que cedo venho…”

Testemunho de dois minutos

T

enho lutado contra um câncer de pulmão, há dois anos. Meu esposo, com 62 anos de idade, ainda trabalha em meio período. Muitas vezes fico sozinha, pois nossa família mora há centenas de quilômetros e é muito ocupada. Às vezes estou tão mal, sentindo dor e deprimida, que sou tentada a desistir. Um dia em que eu estava passando por um período difícil, clamei a Deus: “Se o Senhor me ama e Se importa comigo, por favor faça que alguém ligue para mim, nos próximos minutos.” Logo meu esposo chegou em casa e me perguntou se alguém havia batido na porta. Eu estava descansando perto da porta, mas não ouvi nada. Então, imagine nossa surpresa quando ele pegou uma sacola de compras, grande e bonita, que havia sido deixada em nossa porta. Dentro da sacola havia todo tipo de fruta – abacaxi, morangos, peras – e um lindo vaso de orquídeas. Havia também um cartão muito tocante, assinado por duas amigas (mãe e filha) com quem eu não falava havia meses. Liguei para elas, imediatamente, e contei entre lágrimas, que elas foram a resposta à minha oração. Elas disseram que não bateram na porta porque estavam atrasadas para um compromisso. No momento em que eu estava orando a Deus, elas estavam fazendo compras para mim. Nunca sabemos quando podemos ser a resposta à oração de alguém. – Anônimo

A

Nossa missão é exaltar a Jesus Cristo, unindo os adventistas do sétimo dia de todo o mundo numa só crença, missão, estilo de vida e esperança. Editor Adventist World é uma publicação internacional da Igreja Adventista do Sétimo Dia, editada pela Associação Geral e pela Divisão do Pacífico Norte-Asiático. Editor Administrativo e Editor-Chefe Bill Knott Editor Associado Gerente Internacional de Publicação Pyung Duk Chun Comissão Editorial Ted N. C. Wilson, presidente; Benjamin D. Schoun, vice-presidente; Bill Knott, secretário; Lisa Beardsley-Hardy; Daniel R. Jackson; Robert Lemon; Geoffrey Mbwana; G. T. Ng; Daisy Orion; Juan Prestol; Michael Ryan; Ella Simmons; Mark Thomas; Karnik Doukmetzian, assessor legal.  Comissão Coordenadora da Adventist World Jairyong Lee, chair; Yutaka Inada, German Lust, Pyung Duk Chun, Suk Hee Han Editores em Silver Spring, Maryland, EUA André Brink, Lael Caesar, Gerald A. Klingbeil (editores assistentes), Sandra Blackmer, Stephen Chavez, Wilona Karimabadi, Andrew McChesney Editores em Seul, Coreia do Sul Pyung Duk Chun, Jae Man Park, Hyo Jun Kim Gerente de Operações Merle Poirier Colaboradores Mark A. Finley, John M. Fowler Conselheiro E. Edward Zinke Administradora Financeira Kimberly Brown Assistente Administrativa Marvene Thorpe-Baptiste Comissão Administrativa Jairyong Lee, presidente; Bill Knott, secretário; Chun, Pyung Duk; Karnik Doukmetzian; Han, Suk Hee; Yutaka Inada; German Lust; Ray Wahlen; Ex-officio: Juan Prestol-Puesán; G. T. Ng; Ted N. C. Wilson Diretor de Arte e Diagramação Jeff Dever, Brett Meliti

limpa nosso ar As árvores absorvem

% da emissão de carbono.

Consultores Ted N. C. Wilson, Juan Prestol-Puesán, G. T. Ng, Leonardo R. Asoy, Guillermo E. Biaggi, Mario Brito, Abner De Los Santos, Dan Jackson, Raafat A. Kamal, Michael F. Kaminskiy, Erton C. Köhler, Ezras Lakra, Jairyong Lee, Israel Leito, Thomas L. Lemon, Geoffrey G. Mbwana, Paul S. Ratsara, Blasious M. Ruguri, Saw Samuel, Ella Simmons, Artur A. Stele, Glenn Townend, Elie Weick-Dido Aos colaboradores: São bem-vindos artigos enviados voluntariamente. Toda correspondência editorial deve ser enviada para: 12501 Old Columbia Pike, Silver Spring MD 20904-6600, EUA. Escritórios da Redação: (301) 680-6638 E-mail: worldeditor@gc.adventist.org Website: www.adventistworld.org Adventist World é uma revista mensal editada simultaneamente na Coreia do Sul, Brasil, Argentina, Indonésia, Austrália, Alemanha, Áustria, México e nos Estados Unidos.

V. 12, nº- 10

Fonte: The Nature Conservancy I M A G E M :

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