ENFIM
PARA CONTINUAR SENDO RELEVANTE, O CRISTIANISMO NÃO PODE PERDER SEUS TRAÇOS DISTINTIVOS TIAGO DIAS DE SOUZA
A
palavra “sucesso” faz parte do cotidiano do mundo ocidental. Desde crianças somos ensinados que o sucesso e a felicidade andam de mãos dadas, o que sugere que para ser feliz é necessário ter êxito. Para a sociedade, a pessoa de sucesso é aquela que realizou algum tipo de conquista, que sempre vence, nunca perde. Ela sempre está em evidência, realiza grandes feitos e é reconhecida pelas pessoas ao seu redor. É alguém que tem destaque e visibilidade. Igualmente, no âmbito institucional, ter sucesso é sinônimo de crescimento empresarial, sempre comparado ao do ano ou mês anterior. O mundo contemporâ neo não suporta o fracasso nem a derrota. Acontece que, para manter o padrão de sucesso, conforme pregado pelo marketing midiático, é preciso sempre inovar, e quem não inova se torna irrelevante. O pior é que as instituições religiosas não estão livres dessa 50
O SIMPLES DESEJO DE SE TORNAR RELEVANTE PODE LEVAR A IGREJA A SE APROXIMAR TANTO DA CULTURA ATUAL A PONTO DE SE TORNAR IRRELEVANTE tentação. É preciso ter sucesso a todo custo, tudo em nome de Deus. No entanto, a fixação pelo sucesso nos torna alienados de nós mesmos, dos outros e de Deus, o que nos leva a um caminho sem volta. Quando isso ocorre, nos apegamos a algum tipo de modismo, seja ele filosófico, sociológico ou até mesmo religioso. Em certos círculos eclesiásticos, a onda atual é como ser relevante
TIAGO DIAS DE SOUZA é pastor distrital na Missão do Tocantins e doutorando em Teologia
R e v i s t a A d ve n t i s t a // Junho 2019
Foto: Adobe Stock
A IRRELEVÂNCIA DA MERA RELEVÂNCIA
para o mundo. Acontece que, para ser relevante, muitas vezes a igreja precisa ser politicamente correta em suas afirmações, o que Jesus nunca foi. Ele nunca moldou Sua mensagem à cultura de Seu tempo. Rosino Gibellini comenta sobre isso no livro A Teologia do Século XX (Loyola, 2012, p. 309, 310): “o cristianismo no mundo moderno e contemporâneo perdeu em grande parte o ‘caráter óbvio’ que tinha para as culturas precedentes; suas definições da realidade perderam plausibilidade”. Por isso, ele “se encontra diante de um dilema: se quer ser relevante para a sociedade, deve adaptar-se a ela”, mas “assim se seculariza inevitavelmente”. Por outro lado, “se quer ocupar um lugar importante na sociedade moderna, então é preciso renunciar amplamente aos conteúdos religiosos tradicionais, porque justamente eles é que são ‘irrelevantes’ na situação hodierna”. E conclui: “Decisivo para a sobrevivência do cristianismo é que ele conserve seus traços, ainda que ele seja obrigado a viver sociologicamente como seita.” O mesmo dilema do cristianismo é o das igrejas protestantes como um todo: querem ser relevantes no mundo e para o mundo, mas não querem perder sua identidade, o que acaba acontecendo uma hora ou outra. Relevância era a palavra mágica para o protestantismo liberal de algumas décadas atrás, porém o resultado não foi bom. Como bem afirma o teólogo e historiador adventista George R. Knight no livro A Visão Apocalíptica e a Neutralização do Adventismo (Casa Publicadora Brasileira, 2010, p. 20), “não há nada de errado em ser relevante do ponto de vista bíblico, mas a mera relevância é o caminho para se aculturar ou ser absorvido pela cultura predominante”. ]